terça BANCO DOS RÉUS 3B A GAZETA CUIABÁ, 29 DE NOVEMBRO DE 2011 Julgamento de Josino Guimarães começa hoje, às 9h, mais de 11 anos após a denúncia ter sido feita pelo Ministério Público Federal Justiça nega adiamento e a transferência do júri RAQUEL FERREIRA DA REDAÇÃO presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), desembargador Olindo Menezes, negou a suspensão do julgamento do empresário Josino Pereira Guimarães, 56, marcado para hoje. O réu é acusado de ser o mandante do assassinato do juiz Leopoldino Marques do Amaral, ocorrido há 12 anos. Desde que foi denunciado em 2000, Josino usa recursos judiciais para adiar o tribunal do júri. Logo em seguida, a defesa do empresário ingressou, em caráter de plantão, com recurso pedindo a suspensão do julgamento e o desaforamento do tribunal do júri (realização em outra cidade), alegando que a imprensa local veicula matérias apontando o empresário como autor do homicídio e que esta situação influenciaria os jurados, de forma que poderia interferir na parcialidade dos julgadores. O pedido foi negado e a sessão inicia às 9h de hoje, no auditório da Justiça Federal e será presidida pelo juiz da 7ª Vara Federal, Rafael Vasconcelos Porto. A previsão é que o julgamento dure 3 dias. O Ministério O Empresário é acusado de ser mandante da execução do juiz Leopoldino Marques do Amaral, que teve o corpo encontrado no Paraguai no dia 7 de setembro de 1999 Público Federal (MPF) será representado pelo procurador da República Douglas Santos Araújo e a defesa pelo advogado Waldir Caldas. A denúncia do MPF foi protocolada em agosto de 2000 e se baseia nos depoimentos da ex-escrevente Beatriz Árias, condenada a 12 anos de prisão pela co-autoria do homicídio; do irmão dela, Joamildo Barbosa; do sargento José Jesus de Freitas; e em interceptações telefônicas dos 2 últimos. A denúncia foi acatada pelo juiz Federal da 2ª Vara, Jeferson Schneider. Responsável por levar o juiz assassinado até o Paraguai, onde o corpo foi encontrado em 7 de setembro de 1999, Beatriz afirma que durante a viagem - em que Marcos Peralta também estava presente -, Leopoldino revelou ser constantemente ameaçado de morte por Josino, citado pelo magistrado como “corretor de sentenças” do Tribunal de Justiça em denúncias à imprensa nacional. Leopoldino revelou estar fugindo às pressas em virtude das ameaças feitas por telefone, bilhetes e até mesmo perseguições. A situação que fez o magistrado sair do seu apartamento foi a campana de um conhecido de Josino no entorno da residência. Em depoimento, Beatriz revelou ainda que na viagem chegou a ver alguns documentos que Leopoldino carregava. Entre eles, a cópia de um cheque de R$ 70 mil endossado por um desembargador, documentos de propriedades parcialmente queimados e fotografias de Josino ao lado de um avião e outra em sua casa em Chapada dos Guimarães. Os papéis teriam sido citados como “uma verdadeira bomba atômica”. Leopoldino teria revelado que buscaria novos documentos em Cáceres e no Paraguai contra magistrados do Estado. Beatriz afirma que o magistrado lhe confidenciou ter sido procurado por um emissário, a mando de Josino, afirmando que pagaria valores em troca do seu silêncio. A vítima teria comentando não aceitar negociar por ter em mãos quase todos os documentos que necessitava. Por esse motivo, Josino, conforme Beatriz, teria tentado contratar um pistoleiro por R$ 100 mil. situação não poderia ficar desse jeito, dando a entender ao sargento Jesus que tomasse alguma providência. O policial era conhecido como braço armado de João Arcanjo Ribeiro e tinha como prática prestação de serviços de pistolagem, sendo inclusive “convidado” anteriormente por Josino a dar um “arrocho” no dono de uma construtora. Embora afirmasse não ter recebido proposta direta para executar o magistrado, Jesus comentou com o delegado da Polícia Federal, Jorge Luiz Bezerra, e com o agente Alexandre Bustamante, que “Josino lhe perguntou se poderia da um jeito no juiz”. Interceptações telefônicas de uma linha pertencente ao policial mostrou a conversa de sua secretaria com o namorado. A mulher revela ao homem que Josino chamou Jesus para fazer o serviço (matar o juiz), mas o policial não aceitou. “Dependendo do que Jesus falar, Josino vai ser preso”. Jesus foi assassinado em abril e 2002, em uma emboscada montada por Célio Alves e Hércules Agostinho de Araújo. Josino foi condenado a 7 anos de reclusão e 2 anos de detenção por tentativa de fraude processual, no caso em que é apontado como mandante da execução de Leopoldino, em setembro deste ano Sargento Jesus - As informações de Beatriz são reforçadas por 2 depoimentos do sargento Jesus, que garantiu ter sido procurado por Josino em Chapada dos Guimarães. O acusado teria chamado o policial para uma conversa. Na ocasião, Jesus achou estranho o convite, uma vez que havia ligado para o acusado e não tinha sido atendido. Na conversa, Josino relatou que estava muito revoltado com o juiz, em razão das denúncias envolvendo desembargadores e o lobista. Josino teria relatado que os fatos atrapalhariam muito a sua vida e a Joamildo - Consta na denúncia que o acusado fez tudo para que seu nome não fosse ligado ao homicídio, contratando inclusive um advogado para ameaçar familiares de Beatriz Árias, o que motivou uma de suas prisões e a abertura de inquérito policial contra o advogado. Em depoimento, ele relata que recebeu diversas ligações informando que o réu estava disposto a pagar Beatriz para que não citasse seu nome nos depoimentos. Ligações que teriam cessado após a irmã prestar declarações à PF. As informações de Joamildo são confirmadas por meio de interceptações telefônicas. Tráfico - Depoimentos de acusados de envolvimento com roubos de cargas e narcotráfico internacional apontam o envolvimento de Josino com líderes de quadrilhas. Aryzoli Trindade Sobrinho, em depoimento prestado ao MPF, reconheceu o empresário como a pessoa que recepcionava o traficante Willian Sozza em Cuiabá. Em uma das estadias do traficante na Capital, Josino teria o levado até a região da “Pedra” e mostrado Jesus, mencionando que ele era PM e conhecido por ser “matador”, oferecendo seus serviços, caso precisasse. O depoente cita ainda envolvimento do bando com Fernandinho Beira-Mar, que teria estado em Chapada, em uma fazenda com Josino. Jorge Meres Alves de Almeida faz afirmações semelhantes a de Trindade e também comenta da intimidade de Josino com o criminoso Willian Sozza. Leopoldino revelou estar fugindo às pressas em virtude das ameaças feitas por telefone, bilhetes e até mesmo perseguições Testemunhas de defesa José Pinto de Luna - Ex-delegado da PF. Foi responsável pela conclusão do primeiro inquérito que apurou a morte do magistrado. Não identificou mandante e indiciou Beatriz Árias e Marcos Peralta como co-autora e autor, respectivamente, do assassinato. Atualmente mora em Maceió (AL), onde atua como secretário municipal. Daniel Ruiz Balde - Ex-policial federal. Atuou ao lado de Luna nas investigações. Hoje, vive em Santos (SP). Cláudio Rosa - Superintendente da PF em Mato Grosso à época da morte do juiz. César Augusto Martinez - delegado da PF que presidiu a segunda investigação do assassinato do magistrado. Atual superintendente no Estado. Testemunhas de acusação Beatriz Árias Paniaguá - Ex-escrevente do Fórum de Cuiabá e condenada a 12 anos pela morte de Leopoldino. Ela levou o magistrado até o Paraguai, em companhia do tio Marcos Peralta. Joamildo Aparecido Barbosa -Irmão de Beatriz Árias. Chegou a ser preso na época da morte do magistrado. Sua participação neste crime não foi confirmada. Alexandre Bustamante ou Jorge Luiz Bezerra da Silva - Atual secretário-adjunto de Segurança Pública de Mato Grosso e superintendente da PF em Mato Grosso na época das investigações da morte do juiz, respectivamente. Jorge Barbosa Caramuru - Diretor do IML. Acompanhou as 2 últimas exumações do corpo do magistrado. José Geraldo Palmeira - Ex-juiz. Escreveu um e-mail denunciando os possíveis envolvidos na execução de Leopoldino. Atualmente, mora em Maceió (AL). Otmar de Oliveira/Arquivo Chico Ferreira/Reprodução/Arquivo