XV CISO Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste PRÉ-ALAS BRASIL MINI-CURSOS 1 JUSTIÇA E EQUIDADE NO PENSAMENTO SOCIAL E POLÍTICO BRASILEIRO: JOSÉ BONIFÁCIO, JOAQUIM NABUCO E FLORESTAN FERNANDES Prof. Dr. José Henrique Artigas de Godoy - UFPB Ementa O Supremo Tribunal Federal está prestes a julgar a constitucionalidade de políticas públicas voltadas para a redução de desigualdades históricas. A garantia de direito de propriedade para as comunidades negras rurais, os quilombolas, assim como as políticas inclusivas expressas nas cotas para afrodescendentes nas Universidades remetem a um longo debate sobre a importância das políticas afirmativas e compensatórias como meio de promoção de equidade e isonomia. Desde o início do século XIX, alguns pensadores propuseram a integração da população afrodescendente por meio de estímulos e incentivos à autonomia do cidadão. José Bonifácio, Joaquim Nabuco e Florestan Fernandes, em tempos diversos, defenderam, no parlamento e fora dele, uma ação afirmativa do Estado no sentido da garantia dos fundamentos para a cidadania. A plataforma de Bonifácio incluía a emancipação dos escravos com a sua incorporação por meio da garantia de terra e apoio financeiro para que, uma vez livres, pudessem se tornar autônomos e preparados para a vida civil e o exercício da cidadania. Nas teses professadas por Nabuco, sobressai o argumento de que a abolição seria apenas o primeiro passo para superar um conjunto de preconceitos e desigualdades construídos durante séculos, a “obra da escravidão”. A tese de Florestan recompõe os argumentos de Nabuco e Bonifácio, indicando que a construção da cidadania só poderia advir da integração do negro na sociedade de classes. Desde o início da formação do Estado nacional, propõe-se a promoção de políticas compensatórias que reconheçam a desigualdade como fundamento para a promoção de políticas de equidade. Justificativa O retorno aos clássicos do pensamento social e político brasileiro justifica-se na medida em que eles ainda auxiliam na tarefa de reflexão sobre a justiça, a cidadania e a equidade no país. O debate que levou às primeiras políticas compensatórias assumidas pelo Estado brasileiro, na década de 1990, tornou-se central na agenda social e política brasileira a partir da virada para o século XXI. Este debate abarcou as organizações sociais, o Congresso Nacional e hoje é um dos temas principais da agenda do Supremo Tribunal Federal. Antes de ideias fora do lugar, as políticas de equidade foram debatidas e propostas no Parlamento brasileiro desde a Assembleia Constituinte de 1823. Embora a temática tenha sido retomada em meio à campanha abolicionista, somente após a redemocratização, na década de 1980, é que as forças democráticas puderam recolocar a questão no centro do debate político e parlamentar, redundando na criação de um conjunto de ações e instituições responsáveis pela implementação de programas de equidade. O esforço de “pensar o pensamento” de Bonifácio, Nabuco e Florestan não é tarefa que se resuma a arrolar nomes, textos e argumentos considerados relevantes. Passa pela reflexão sobre o conteúdo das obras, sua relação com as trajetórias de seus autores e com os ambientes intelectuais e históricos nos quais se inseriram, assim como também pelas formas de organização e construção dos argumentos, suas referências e a fonte de suas influências. Mas “pensar o pensamento” é também verificar como ocorre a recepção dos argumentos dos pensadores, sua amplitude e longevidade, sua capacidade histórica de explicação da realidade social e política, sua influência na definição dos temas e nos conteúdos da reflexão e da práxis de suas e das gerações posteriores. Referências ALONSO, Angela. Joaquim Nabuco. São Paulo: Cia. das Letras, 2007. BRANDÃO, Gildo Marçal. Linhagens do pensamento político brasileiro. São Paulo: Hucitec, 2007. CALDEIRA, Jorge (Org.). José Bonifácio de Andrada e Silva. São Paulo: Ed. 34, 2002 (coleção Formadores do Brasil). FERNANDES, Florestan. A integração do negro à sociedade de classes. São Paulo. Tese apresentada ao concurso da Cadeira de Sociologia I da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP). ______. O negro no mundo dos brancos. 2. ed. São Paulo: Global, 2007. ______. Brancos e Negros em São Paulo. 4. ed. São Paulo: Global, 2008. ______. O negro e a democracia. 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