O Desenvolvimento da Sociologia Brasileira
Introdução
A gênese da Sociologia brasileira ocorre nas últimas décadas do século XIX influenciada pelo positivismo de Comte.
Essa tendência pode ser identificada em algumas obras, como: A escravatura no Brasil, autoria de Francisco de Antônio
Brandão Júnior e em obras de Sílvio Romero, como Etnologia Selvagem (1872) e Etnografia Brasileira (1888).
No século XX, no início da década de 1920 a Sociologia inicia a sua trajetória no ensino médio em escolas de São
Paulo e Rio de Janeiro. A institucionalização da Sociologia ocorre com a criação de escolas e universidades nas quais a
disciplina de Sociologia passa a ganhar espaço e formar sociólogos.
A partir da década de 1930, algumas preocupações gerais nortearam a intelectualidade brasileira. Em primeiro lugar,
o interesse pela descoberta do Brasil “verdadeiro”, em oposição ao Brasil colonizado e estudado sob a visão etnocêntrica
europeia. Em segundo lugar, o desenvolvimento do nacionalismo, como elemento capaz de unir as diversas camadas sociais
em torno de questões internas à nação. A valorização do cientificismo e um grande anseio por modernizar a estrutura social
brasileira estavam também presentes nesses estudos. Nessa época ocorre a fundação da Escola Livre de Sociologia e
Política, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em São Paulo, e da Ação Integralista Brasileira (1932), bem como do
movimento regionalista promovido por Gilberto Freyre, todos tentando concretizar, a seu modo, as aspirações intelectuais
do momento. Também foi nesse período que a reforma de ensino, proposta pelo então Ministro Milton Campos, introduz
a disciplina de sociologia no ensino médio (1931). Despontam nesse período os intelectuais da chamada geração de 1930,
cujos expoentes foram Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Fernando de Azevedo.
A fundação da Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP), em 1933, na cidade de São Paulo, respondia à necessidade
de formar técnicos, assessores e consultores capazes de produzir conhecimento científico sobre a realidade brasileira e,
principalmente, que aliassem esse conhecimento a tomada de decisões por parte do Estado.
Em 1934 é fundada a Universidade de São Paulo (USP) e em 1935 a Universidade do Distrito Federal (UDF): Ambas
contribuíram para formação de professores destinados ao ensino médio e formação de técnicos para as estruturas
governamentais.
O desenvolvimento inicial da Sociologia no Brasil foi potencializado com a importação de professores estrangeiros
como Radcliff Brown, Claude Levi-Strauss, Georges Gurvitch, Roger Bastide, entre outros, o que garantiu uma ampliação
significativa da produção científica e a consolidação da das Ciências Sociais no Brasil. Como reflexo desse esforço, surgiu
uma nova geração de pesquisadores que iriam definir claramente as diretrizes dessa nova área do conhecimento. Os
trabalhos de Florestan Fernandes, Antônio Candido, Aziz Simão, Maria Izaura de Queiroz, em São Paulo, e de Alberto Ramos,
Luiz da Costa Pinto e Hélio Jaguaribe, no Rio de Janeiro, promoveram um efeito multiplicador em todo o território nacional.
A partir das décadas de 1950/60 disseminam-se no Brasil cursos superiores na área das ciências humanas, o que
contribuiu para valorização da Sociologia, fosse pela abertura de novos cursos de sociologia, ou através da inclusão dessa
disciplina no currículo acadêmico desses novos cursos.
Entre as décadas de 1960/70 passaram a ter suas obras reconhecidas autores como Octávio Ianni, Fernando
Henrique Cardoso, Francisco Weffort, Francisco de Oliveira, José de Souza Martins, Mauricio Tratenberg, entre outros.
Nas últimas décadas do século XX, os cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado) em Ciências Sociais e em
Sociologia apresentaram forte expansão, o que elevou o nível das pesquisas e do ensino de Sociologia, tanto nos aspectos
quantitativos, como qualitativos.
Com o fim do regime autoritário e a redemocratização do país, após uma década de embates, a sociologia
retornou oficialmente aos currículos em todo o país, a partir de 2007, por meio de uma resolução do Conselho Nacional
de Educação (Resolução n.º4, publicada em 21 de agosto de 2006).
Os Principais sociólogos brasileiros
Síntese do Pensamento de Gilberto Freyre
A razão principal da originalidade da obra de Gilberto Freyre foi sua capacidade de
interpretar a realidade brasileira a partir de uma perspectiva incomum, que ao afastar-se da
ótica eurocêntrica mais convencional e seu caráter naturalmente etnocêntrico, como vários
estudiosos já o haviam feito, ele apontou para uma perspectiva capaz de vislumbrar um país
que resultara da mistura de três raças, com características próprias e que se miscigenaram.
Em sua obra principal, Casa Grande & Senzala, Gilberto Freyre analisou o negro e sua
condição como escravo, o trabalho na casa-grande e a sua influência na vida cotidiana da
sociedade colonial, além de valorizar a miscigenação e a morenidade. Também foram
valorizadas as relações de adaptação do colonizador ao meio ambiente, na construção de
habitações, na alimentação, absorvendo hábitos alimentares de negros e indígenas, nas
relações familiares em que o chefe de família, o senhor de engenho, exercia um poder discricionário sobre a mulher, os
filhos, os escravos e os agregados, extravasando esse poder para fora de suas propriedades, nas relações de sexo e nas
relações com as autoridades governamentais e eclesiásticas.
Gilberto Freyre defendeu as vantagens da miscigenação e sua relação com a modernidade, salientando a existência
de um Brasil mestiço e não de um Brasil branco.
No ciclo regional ou regionalista e patriarcal analisou o desmoronamento da sociedade açucareira patriarcal e a
substituição, bastante traumática, do pequeno engenho (banguê) pela usina. Neste processo, Gilberto Freyre ressaltou os
efeitos da abolição da escravatura, como o aumento da concentração de terras, a partir da absorção, pela usina, de
numerosos engenhos, como também o problema do absenteísmo, uma vez que o usineiro vivia na cidade, geralmente na
capital, e não tinha contato com os trabalhadores que construíam sua riqueza.
Várias foram as consequência da concentração fundiária como o estreitamento na pirâmide social e o
desaparecimento do patrimônio histórico, com também o abandono de casas-grandes e de capelas rurais, além de provocar
a destruição das relações patriarcais entre senhores e escravos, agora empregados, assalariados, foreiros, moradores, etc.
Outro impacto analisado foi o ecológico, com a implantação de grandes destilarias de álcool, substituindo as
primitivas destilações de aguardente, a usina passava a despejar nos rios e riachos resíduos, o vinhoto, que ao contaminar
as águas e reduzir a disponibilidade de oxigênio nas águas provocava a morte dos peixes, além do mau odor.
O desenvolvimento do transporte ferroviário e o crescimento do número de padarias nas vilas e cidades iriam
provocar ou intensificar o desmatamento e a destruição das florestas. Desmatamento que era também intensificado pela
necessidade de expansão das áreas cultivadas com cana-de-açúcar.
Outro problema enfocado refere-se ao uso das drogas, quando considera que os proprietários rurais, por
necessitarem de maior utilização da força de trabalho na época da moagem da cana, não davam importância à utilização
da maconha por parte dos trabalhadores, na entressafra, uma vez que, drogados, eles perdiam a capacidade reivindicativa.
Isso em uma região em que sempre houve certa resistência ao domínio dos empresários rurais.
A partir do problema regional, ele passou a analisar a questão nacional, neste contexto, propôs uma unidade cultural
brasileira, a partir do que identificara como cultura luso-brasileira. Baseado na ideia de que os portugueses, vivendo em
uma região de clima subtropical e ligados à África pela influência moura e pela proximidade mediterrânea, teriam maior
facilidade de adaptação e de convivência social com os povos tropicais.
Os paradoxos do crescimento urbano, a um só tempo, modernizante e tradicional, os problemas criados pelo
crescimento desordenado das cidades, o aumento da população devido à migração desordenada, sem que estas cidades
estivessem preparadas para absorver esse fluxo crescente e contínuo de população muito acima das possibilidades de
absorção, fosse do mercado de trabalho, como também da infraestrutura urbana. Em estudo sobre o tema, Gilberto Freire
afirmou que as nossas cidades não cresciam, “inchavam”.
A questão da habitação popular foi outro objeto de análise, na qual uma de suas preocupações fora o combater a
transferência dos moradores das favelas, mocambos e palafitas para vilas populares construídas sobre aterros. Gilberto
Freyre demonstrara que não se poderiam construir conjuntos habitacionais na proporção suficiente para absorver a
população dos mocambos, mesmo porque os migrantes continuariam a chegar e a construir novos mocambos, já que não
tinham condições econômicas de se manter nas casas integrantes desses conjuntos habitacionais; defendeu uma política
de higienização e de urbanização dos mocambos, tendo escrito um livro a respeito desse tipo de habitação.
Finalmente Gilberto Freyre avaliou os problemas da modernidade e da globalização e o possível futuro para o
homem, neste caso, afirmava a impossibilidade de mudanças lineares e homogêneas, tanto em escala mundial como em
escala nacional, uma vez que essas mudanças estariam sempre ligadas às tradições, à cultura e às aspirações nacionais e
regionais. Ele entendia a modernidade, dialeticamente, como pluralidade e não como homogeneidade.
Síntese do Pensamento de Caio Prado Júnior
Caio Prado Júnior, formou-se em direito pela faculdade do Largo de São Francisco e como
outros importantes intelectuais de sua época se tornou um pensador de orientação marxista e um
comunista militante, razão pela qual foi preso algumas vezes e também exilado. Como integrante
do Partido Comunista foi eleito deputado federal e membro da Assembleia Constituinte de 1946.
Foi também o primeiro sociólogo a utilizar o método marxista no estudo da formação social
brasileira.
Em Formação do Brasil Contemporâneo, sua principal obra, Caio Prado Jr. concentrou a
análise nos mecanismos de dominação externa aos quais a economia brasileira esteve
submetida durante o processo de colonização e a situação de dependência em relação às forças
instaladas no exterior.
A finalidade do sistema colonial português montado no Brasil nos séculos XVI e XVII era
obter lucros através da contenção de despesas, reflexo da incapacidade econômica em realizar os
grandes investimentos exigidos pela produção agrícola de exportação. A forma adotada para
distribuir as terras destinadas à produção mercantil foi semelhante à de épocas anteriores,
aplicadas em outras regiões: as sesmarias, condição que garantia a posse plena de quantidades
expressivas de terras aos colonos, que por sua vez entravam com os recursos e bens necessários para o cultivo agrícola.
Foram essas características da produção agrícola colonial que inviabilizaram a pequena propriedade e o trabalho livre no
contexto do processo de colonização portuguesa no Brasil.
A relação escravista de produção foi outro componente importante para definir a sociedade e entender o poder
político. Se por um lado a grande propriedade foi a base na exploração da terra, por outro, o escravismo caracterizou a
sociedade colonial e, por isso, a vida política e social da colônia foram desdobramentos dos interesses econômicos da
metrópole. Entretanto, com as restrições impostas ao tráfico escravo a partir da segunda metade do século XIX, como
consequência da Lei Eusébio de Queiróz, o preço da força de trabalho sofrera grande elevação. Com o propósito de
enfrentar este problema, os grandes produtores rurais, especialmente da província de São Paulo iniciaram a contratação
de imigrantes para trabalharem nas lavouras de café em regime de parceria. Esse sistema de trabalho, no entanto, limitava
a possibilidade de maior lucratividade, na medida em que os colonos em sua maioria acabavam não se dedicando tanto às
roças de café, quanto as plantações de gêneros alimentares destinadas a sua subsistência, condição esta, que integrava as
relações de trabalho presentes no sistema de parceria.
O crescimento da rentabilidade da grande exploração agropecuária e sua consequente prosperidade determinava a
ampliação e absorção do máximo de extensão territorial e força de trabalho destinada a essa atividade, o que por sua vez
resultava em menos espaço e tempo disponíveis aos trabalhadores para cuidarem de outras atividades. Inversamente, na
medida em que se deteriorava o negócio que a grande exploração realizava, essa atividade tornava-se menos exigente em
relação ao trabalho a ser dispendido, e por isso, pressionada a fazer maiores concessões àquelas atividades secundárias
destinadas ao complemento da remuneração dos colonos.
Caio Prado Jr. distinguiu a remuneração do trabalho rural em três formas diferentes, as quais se combinavam de
maneira variável conforme a região e as circunstancias do momento. Na lavoura cafeeira de São Paulo, o trabalhador
residente na fazenda, o colono, recebia um salário fixo anual, pago em parcelas mensais, para cuidar de um determinado
número de pés de café; recebia mais outro pagamento em relação à quantidade colhida. O colono também tinha o direito
de cultivar alguns gêneros necessários a sua alimentação.
A insuficiência de mão-de-obra ao prejudicar os interesses dos grandes proprietários e empregadores foi a
responsável pela origem de certas formas de escravidão disfarçada, como a retenção de trabalhadores por dívidas
contratuais junto ao empregador.
A grande leva de imigrantes que caracterizou o período entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras décadas
do século XX possibilitou aos produtores rurais um maior controle sobre os trabalhadores e, consequentemente, um maior
lucro. A existência de um excedente de trabalhadores rurais garantia aos produtores rurais a imediata reposição dos
trabalhadores “indisciplinados”. Portanto, a política imigratória brasileira desenvolvida a partir da segunda metade do
século XIX foi orientada fundamentalmente para proporcionar mão-de-obra para a grande lavoura ou garantir a ocupação
de territórios cuja posse estivesse ainda indefinida. O acentuado grau de concentração fundiária que caracteriza a estrutura
agrária brasileira é reflexo da natureza dessa economia nos primórdios da colonização, situação que se perpetuaria em suas
linhas gerais e fundamentais até recentemente.
Caio Prado Jr. ao criticar os intelectuais que consideravam a presença de “resquícios feudais” nas relações de
produção desenvolvidas em determinadas regiões rurais brasileiras, como no caso do sistema de parceria, que caracterizou
a expansão da lavoura cafeeira no interior de São Paulo. Neste sistema, segundo Caio Prado Jr. a divisão do produto e a
reversão de parte dele, ao trabalhador, como remuneração pelo trabalho realizado equivaleria ao pagamento em salário.
Nessas circunstâncias, tal regime de trabalho não poderia ser considerado como uma fase de transição do trabalho livre
para o escravo. O sistema de parceria foi fundamental na experiência agrícola brasileira, especialmente paulista. Com ele,
os produtores rurais estabeleceram pela primeira vez, contato com o trabalho livre, Foi ela responsável por dar a base das
relações de trabalho assalariada que vieram a substituir o trabalho escravo.
Algumas considerações de Caio Prado Jr. foram objeto de crítica: Para ele, os escravos e índios não poderiam ser
considerados sujeitos históricos, porque não teriam protagonizado nenhuma transformação em relação à realidade na qual
estiveram inseridos. Nesta perspectiva, o escravo considerado incapaz de promover qualquer tipo de resistência a sua
condição, seria, portanto, um sujeito passivo.
Outra crítica esta relacionada à desvalorização em relação à contribuição cultural do negro e do índio no processo
de formação da sociedade brasileira, como também, em relação ao processo de independência, sobre o qual teria
considerado que o peso da herança colonial teria constrangido fortemente as possibilidades de formação de uma unidade
nacional, situação que teria perdurado para além da emancipação.
Livre da visão ortodoxa que caracterizara muitos pensadores marxistas, Caio Prado abordou várias questões que
permearam o fim do período colonial, como a dependência do comércio interno, a aquisição de terras e a escravidão.
Mesmo questionando a maneira como estes temas foram abordados, muitos autores consideram sua importância por ter
tocado e dado muita relevância em pontos tão importantes para a compreensão da história do Brasil.
Síntese do Pensamento de Sérgio Buarque de Holanda
Sérgio Buarque de Holanda iniciou as pesquisas que forneceram os fundamentos para sua principal obra, Raízes do
Brasil, a partir do contato com os métodos propostos por pensadores como Max Weber e Georg Simmel.
Sua análise fundamentou-se nas noções de tipos ideais e de patrimonialismo, definidas por Max Weber; como
também no conceito de interações sociais, que seriam resultantes de relações conflituosas e sua importância no
desenvolvimento da consciência individual, como nos pares conceituais – tradição X modernidade, urbano X rural, público
X privado, propostos por Georg Simmel. Outra contribuição importante para as formulações de Sérgio Buarque de Holanda
pode ser identificada no historicismo de Wilhelm Dilthey, e a interpretação do Brasil a
partir da colonização do território brasileiro pelos portugueses e seus desdobramentos
futuros.
O aspecto inovador das proposições apresentadas por Sérgio Buarque de Holanda
foi a realização de uma análise referente ao passado colonial brasileiro que permitiu
construir um diagnóstico da nacionalidade brasileira livre dos modelos estrangeiros.
Nas análises comparativas, primeiro contrapõe o tipo trabalhador – identificado
nos povos anglo-saxões do noroeste da Europa, região marcada pelos efeitos da Reforma
Protestante entre os quais, uma moral do trabalho, condição que exigira a necessidade de
harmonização dos interesses e de associação entre os indivíduos; tais homens seriam
caracteristicamente industriosos, econômicos, metódicos, racionais – ao tipo aventureiro
– identificado nos povos da Península Ibérica, fortemente marcados pelo “personalismo”
e a forte presença da moral católica; cujos desdobramentos seriam: a valorização da
ociosidade, uma certa desordem social, e a preferência por atividades que
proporcionassem lucros rápidos com o menor esforço.
Na segunda análise comparativa contrapõem os dois grupos existentes no tipo
aventureiro: No primeiro caso, o ladrilhador, característico da colonização espanhola na América, no qual se destaca o
comportamento preventivo em relação às situações futuras; o que explicaria a formação de grandes núcleos de
povoamento estável, e a preferência por fixar-se no interior e nos planaltos de clima mais ameno. No segundo caso, o
semeador, na qual se enquadra a colonização portuguesa; nela devido à falta de planejamento, os problemas cotidianos
eram enfrentados na medida em que se apresentavam e, por isso, o caráter de feitorização, típico de suas colônias, nas
quais predominaram os poderes regionais e uma distribuição desigual e irregular da população concentrada quase que
exclusivamente na região litorânea. No caso da colonização portuguesa, a mentalidade “semeadora” seria decorrente da
existência de condições “materiais”, em terras portuguesas na América, através “da possibilidade de importar negros”; “da
abundância de terras férteis”; e do fato “da Europa ser um mercado para os gêneros tropicais”.
Ao contrário do que preconizava a moral puritana na vida moderna, com a valorização da rotina, do esforço metódico
e da disciplina ascética, o universo colonial português representava o reino da aventura. Nele, o colonizador não pretendia
a aquisição da estabilidade, mas a conquista de uma riqueza auferida com o mínimo de dispêndio de energia. O espírito do
colono não visava os meios necessários à configuração de uma ordem sistêmica, que lhe garantisse o provimento de
compensações futuras; inclinava-se mais à satisfação imediata de seus primeiros fins.
Provavelmente por esta razão o colonizador ibérico tenha se apropriado das técnicas nativas rudimentares, tal como elas
se davam entre os ameríndios, seja no cultivo da terra, seja na incursão pelo interior.
Esse traço da colonização portuguesa foi um elemento determinante para que as terras brasileiras não chegassem
a configurar um sistema agrícola em sua acepção mais precisa. As práticas no meio rural pareciam se orientar ao sabor das
facilidades que o meio lhe oferecia, em detrimento de uma intervenção sistemática do homem sobre a natureza, cujo
propósito seria o de obter a maior produção. Para Sérgio Buarque de Holanda, o Brasil foi uma civilização de raízes rurais,
na qual, cada engenho de açúcar era uma unidade autossuficiente e distante da interferência das cidades.
A partir dos modelos urbanos da antiguidade e do período Renascentista, Sergio Buarque de Holanda destacou o
caráter espontâneo tanto na origem, como no desenvolvimento das cidades brasileiras e não como resultado de uma ação
racional e planejada. Como consequência o traçado irregular das cidades brasileiras, que na maior parte das vezes se
adequaram à silhueta da paisagem local, o que evidenciava o caráter de plasticidade do português em seu processo de
fixação topográfica. No caso espanhol destacava-se a ligação entre o homem e a arte, de onde se extraíam as noções de
harmonia e de simetria. Assim, enquanto o espanhol impingia à cidade o traçado retilíneo de sua geometria, o português
deixava-se reger pelas sinuosidades de sua geografia curvilínea. Esse crescimento espontâneo das cidades brasileiras
reforçava o argumento sobre o qual preponderou entre os portugueses um procedimento pouco sistemático de ocupação
territorial.
Segundo a concepção de Sergio Buarque de Holanda a identidade dos povos latino-americanos resultaria da
convivência e do entrelaçamento do homem ibérico com os diversos grupos indígenas do continente. Por isso, a verdadeira
identidade latino-americana repele a ideia de uma pureza étnica, ao contrário, destaca a contribuição desses grupos
primitivos na sua convivência com o homem ibérico; da mesma forma que não considera a ideia de um homem ibérico
puro. Portanto, foi a fusão desse homem ibérico com os outros povos que convergiram para essas terras, que resultou uma
“identidade americana”, produto de uma cultura e de uma intuição virgem – o homem cordial.
O conceito de homem cordial apresentaria uma série de características inerentes ao brasileiro e que, de maneira
geral, permanecem até os dias atuais. Diferentemente do mundo da impessoalidade e civilidade norte-americano, a
sociedade brasileira seria marcada pela afetividade e barbárie, e por isso, a possibilidade permanente de instauração de
regimes ditatoriais e arbitrários. Essa ideia de cordialidade remete a total falta de compromisso com normas sociais
objetivas e pragmáticas, como também a subversão das regras em nome de interesses individuais mais imediatos –
comportamentos em total sincronia para o ambiente em que prevaleceria o personalismo. No entanto, a noção equivocada
da “cordialidade brasileira” acarretou uma interpretação reducionista, segundo a qual essa “cordialidade”, representaria
necessariamente uma carga negativa. Para Sergio Buarque de Holanda, tanto a “cordialidade” quanto o “legado ibérico”
não seriam obstáculos a serem superados.
Sergio Buarque de Holanda identificou características positivas nesta “Cordialidade”:
I. a repulsa dos povos latino-americanos, descendentes dos colonizadores e da população indígena, por toda hierarquia
racional, por qualquer composição da sociedade que se tornasse obstáculo grave à autonomia do indivíduo;
II. a impossibilidade de uma resistência eficaz a certas influências novas, como por exemplo, o primado da vida urbana, o
cosmopolitismo, que, pelo menos até recentemente, foram aliadas naturais das ideias democrático-liberais;
III. a relativa inconsistência dos preconceitos de raça e de cor.
São essas características que estariam, segundo Sérgio Buarque de Holanda, disponíveis como ferramentas para
construção de um futuro mais plural, democrático e autêntico.
O fenômeno do homem cordial não apresenta apenas uma dimensão negativa. Ele comportava também a face viva
de sua contribuição à civilização. Fruto de uma reação à polidez e ao ritualismo social imposto pelos padrões de civilidade
europeia, o brasileiro forjou uma nova maneira de relacionamento entre os homens ao procurar aproximá-los por meio da
quebra de convenções. A minimização das distâncias tencionava abolir diversas formas de hierarquia entre os indivíduos,
mediante compartilhamento de valores de fundo emotivo. Esta característica estava presente de modo especial no universo
da vida cotidiana, seja na linguagem seja nas práticas religiosas. O sufixo inho, presente na fala corrente, era uma
demonstração clara da tendência em trazer ao nível da intimidade, pessoas que poderiam estar separadas por classes
sociais ou por escalas de poder. Quanto à religião, Sérgio Buarque de Holanda observava de que maneira os rígidos cânones
da liturgia católica se atenuavam em solo tropical. Graças a uma relação de menor reverência formal à sua divindade, o fiel
tratava de expressar sua adoração a santos através de uma série de festividades. Nelas, a atração pela música e pela dança
acabava por sobrepujar a solenidade e liturgia dos cultos.
Essa cordialidade resume um conjunto de elementos que se integraram ao longo de séculos e que se manifestavam
agora no caráter do brasileiro. A prevalência da emoção sobre a razão presente nas relações sociais e políticas no Brasil. As
relações pessoais e afetivas que diluíram a oposição e a distância entre família e Estado. O prestígio pessoal que prevalece,
na prática, ao princípio da isonomia e da cidadania. A incapacidade de separar o bem público do bem particular estava na
base de uma psicologia social do brasileiro, o que constitui grande empecilho para o estabelecimento da cooperação interna
nacional.
Sérgio Buarque de Holanda, em sua análise quase sempre relaciona as características “torpes” de nossa identidade
nacional como típicas da elite, enquanto qualquer coisa de motivador se poderia certamente encontrar entre a nossa massa
trabalhadora; nossos males, encarados desta maneira, apareceriam todos como decorrentes de um completo desencontro
entre os grupos dominantes, se negando a dar voz aos interesses e expectativas dos setores populares. Esses grupos
dominantes estariam sempre querendo impor modelos culturais importados, que por sua vez, não se enquadravam
adequadamente aos nossos interesses mais genuínos.
A origem dessa subordinação a pensamentos estrangeiros estava presente desde o processo de independência das
nações ibero-americanas, com a adoção dos ideais da Revolução Francesa. Era uma importação que ficava ao nível da
superfície política, sem atingir a base da sociedade. O exemplo mais concreto era o liberalismo, cujo princípio de
impessoalidade encontrava sérios obstáculos para sua consolidação na América Latina e que se personificava na figura
antípoda do liberal: o caudilho. A democracia no Brasil só seria possível a partir de um novo equilíbrio de forças que evitasse
o abismo entre a política e a sociedade e que permitisse ao país trilhar um caminho próprio entre as nações civilizadas.
A modernização da sociedade brasileira, embora se apresentasse como ruptura com as práticas personalistas, na
realidade encobriram problemas que continuaram reais e efetivos. Assim, ao mesmo tempo em que se processara uma
separação racionalizada e impessoal entre a classe trabalhadora e a classe proprietária, condição que contribuía para a
desresponsabilização das elites em relação às mazelas sociais que atingem o grosso da população Nessas circunstâncias
manteve-se intacta, na mentalidade “nacional”, a tradicional intercessão entre os domínios público e privado.
O argumento central de Sergio Buarque de Holanda é o de que o Brasil atravessava desde o século XIX uma
prolongada crise de transição de uma ordem tradicional para uma ordem moderna. Tratava-se de uma revolução lenta, a
partir da superação de um modelo agrário, rural e patriarcal, na direção de um novo modelo – industrial, urbano e
democrático. A dificuldade de ultrapassagem de uma fase para outra, se originava de uma série de entraves que a estrutura
colonial havia legado, e que se manifestava desde então, no modo de ser do brasileiro. Pressionado pelos novos imperativos
da civilização ocidental e os condicionantes arcaicos da sua formação histórica, o Brasil assistia a um impasse na definição
de seu destino. O país oscilava entre seus vícios e virtudes, intercambiáveis entre si, conforme a circunstância.
Síntese do Pensamento de Celso Furtado
Celso Furtado nasceu em Pombal, na Paraíba, em 26 de julho de 1920. No Nordeste concluiu seus estudos primários,
ginasiais e secundários. Contudo, a singularidade da produção científica de Celso Furtado decorre em grande parte do
caráter autodidata de sua formação intelectual, o que lhe permitiu escapar da rigidez acadêmica, e desta forma combinar
algumas das maiores influências do pensamento brasileiro: o positivismo, o marxismo e a antropologia norte-americana,
selecionando alguns de seus aspectos mais relevantes: a crença no conhecimento científico, do positivismo; a consciência
da historicidade dos fenômenos econômicos e sociais, do marxismo; a atenção, desde a leitura de Gilberto Freyre, à cultura,
da antropologia. Esse ecletismo permitiu uma das mais sofisticadas formulações teóricas elaboradas sobre a América Latina.
Essas três linhas de análise citadas anteriormente, se entrelaçaram e foram
aprimoradas nos anos de formação em direito na Universidade do Brasil no Rio de Janeiro e
no doutorado em Paris entre 1946 e 1948. Durante o período de graduação ampliou seu
conhecimento no campo da sociologia alemã: Max Weber, Tönnies, Hans Freyer, Simmel e
Karl Mannheim.
A obra de Celso Furtado segue a tradição de outros autores de sua época, cujo foco
principal era captar as especificidades da sociedade brasileira, como parte do processo de
formação econômica, política e social da América Latina. Cabe ressaltar, que sua análise,
assim como a de outros pensadores brasileiros de sua época, destacou-se pela abordagem
genuína, ao diferenciarem a realidade brasileira dos casos "clássicos", europeus e norteamericano.
O pensamento de Celso Furtado pode ser melhor compreendido, sobretudo a partir
das formulações da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) da Organização das
Nações Unidas (ONU), a qual, desde o "Manifesto latino-americano" (1949), elaborado pelo
seu primeiro diretor, o argentino Raúl Prebisch, chamara a atenção para o "falso senso de universalidade" da teoria
econômica elaborada nos países desenvolvidos. Ao contrário do que sugeria a tese das “vantagens comparativas”
decorrentes da divisão internacional do trabalho, proposta por David Ricardo, o progresso técnico não se difundira de
maneira linear no "centro" e na "periferia" da economia mundial. Segundo as análises realizadas pela CEPAL, o que de fato
ocorrera e continuava caracterizando a relação “centro-periferia” era uma crescente "deterioração dos termos de
intercâmbio", entre as matérias-primas, produzidas na periferia, e as manufaturas, originárias do centro. Desta forma, o
desenvolvimento não seria um processo único e inevitável, mas desigual. A contribuição particular de Celso Furtado ao que
ficou conhecido como teoria estruturalista da Cepal foi sua historicização, o que permitiu explicitar se estabeleceu, ao longo
do tempo, a relação entre colônias e metrópoles, países desenvolvidos e subdesenvolvidos, centro e periferia.
Celso Furtado e Roberto Simonsen foram percussores de uma linha de interpretação da realidade brasileira, que
diferente de outros autores, não se limitou à análise dos fatores internos responsáveis pela formação da sociedade
brasileira. Assim como Caio Prado Jr., Celso Furtado interpretara a colonização da América como parte integrante da
expansão ultramarina europeia, e a partir dessa relação desenvolveu uma análise comparativa entre o processo de
colonização de povoamento, que prevalecera na região temperada do continente americano, e colônias de exploração,
dominantes na região tropical. Nesta análise destaca o êxito inicial do segundo tipo de colonização, melhor integrada ao
mercado europeu, e as dificuldades que este modelo acarretaria para superação da situação colonial e sua contribuição
decisiva para o subdesenvolvimento desta região. Ao contrário das dificuldades iniciais enfrentadas nas colônias de
povoamento, menos integradas à economia mundial, que, entretanto, com o tempo lhes trouxeram possibilidades
bloqueadas na zona tropical.
Celso Furtado contribuiu como poucos, para mudar a concepção de organização do Estado no Brasil, a partir das
novas circunstâncias políticas possibilitadas pela redemocratização de 1945. Até aquele momento a ideia de Estado estivera
impregnada por uma visão autoritária como reflexo do Estado Novo, regime totalitário que vigorara entre 1937/45, época
em que obteve seu primeiro emprego como funcionário do Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp).
Durante as décadas de 50/60, Celso Furtado assumiria outras funções na estrutura do Estado, como Diretor Presidente da
SUDENE e Ministro do Planejamento no governo Goulart.
Síntese do pensamento de Florestan Fernandes
Fundador da denominada “sociologia crítica” no país, Florestan Fernandes inaugurou
uma nova época na sociologia brasileira ao desenvolver uma nova perspectiva de
interpretação do Brasil, fundamentada na hipótese de transformação da realidade do país, a
partir de uma revolução burguesa.
A Revolução Burguesa Brasileira
A análise da Revolução Burguesa no Brasil realizada por Florestan Fernandes revelou
especificidades de caráter de dependente do desenvolvimento do capitalismo no Brasil:
I. a influência do passado colonial na formação da sociedade brasileira;
II. o descompasso histórico entre as transformações internas e as imposições da economia
mundial, que implica um processo de sobreposição de estruturas políticas, econômicas e
institucionais inacabadas;
III. os constrangimentos impostos a uma economia duplamente articulada, com o setor externo e o setor arcaico interno,
indicando o caráter heteronômico da economia nacional;
IV. a falta de interesse político, mais do que incapacidade, das elites locais transbordarem os benefícios da ordem social
competitiva para o conjunto da população, sob a forma de equalização de oportunidades e redistribuição de renda e poder;
V. o caráter híbrido, heterogêneo e polarizado de uma economia subdesenvolvida, no qual, a simbiose entre o arcaico e o
moderno irrompe o plano econômico e determina o perfil do político tradicionalista brasileiro;
VI. a apropriação do Estado por uma elite particularista e classista, que não transcende o individual e que tem por finalidade
definir e perpetuar os ganhadores (poucos) e perdedores (a maioria) na sociedade;
VII. o caráter dialético das relações sociais, econômicas e políticas engendradas pela condição de capitalismo dependente,
que colocou às claras os verdadeiros “donos do poder” em 1964: quando a “revolução dentro da ordem” passou a se
mostrar insuficiente para articular as diferentes classes em prol de um interesse minimamente coletivo, as forças
conservadoras logo trabalharam no sentido de tolher o movimento, sob a forma de opressão e violência, impondo o
exercício autocrático e armado do poder.
Florestan Fernandes ao realizar um mapeamento das classes sociais no Brasil colocou em evidência a completa
desarticulação, enquanto classe, os setores menos favorecidos, o que, consequentemente, os transformaram em massa de
manobra e vítimas da extração máxima de sua capacidade produtiva.
Como consequência dessas relações de classe, Florestan Fernandes identificou o caráter exclusivista das elites e o
monopólio do poder de decisão, que por sua vez, afetam o conjunto da população. Também aponta para o comportamento
imediatista, que ao se identificarem com símbolos, valores e políticas que não atendem os seus reais interesses de classe,
essa mesma elite nega-se enquanto classe social. No capitalismo dependente brasileiro, o regime de classes dificultou o
exercício de suas funções construtivas, como a de possibilitar um mínimo de homogeneidade aos indivíduos no processo
de valorização via mercado, suporte a partir do qual se pode construir uma estratificação social de fundamentos
estritamente econômicos.
Florestan Fernandes também ressaltou as estratégias e resultados dos expedientes utilizados pelas elites e
instrumentalizados pelo Estado para amenizar as pressões vindas dos estratos inferiores da sociedade, como programas
assistenciais, a utilização da mídia enquanto vetor de alienação social, entre outros mecanismos de controle social, colocase como objeto para estudos futuros.
Os limites externos à retomada do crescimento sustentado, fruto da subordinação da economia brasileira à mundial,
bem como o entendimento da “democracia burguesa” como instrumento de manejo dos interesses de uma pequena
minoria efetivamente inserida na ordem social competitiva, constituem suportes indispensáveis para o entendimento do
crescente processo de desarticulação social que ainda prevalece no Brasil, bem como aa ações do Estado movidas por
interesses exclusivamente particularistas.
EXERCÍCIOS
01. (UNICENTRO) O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do
litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o
desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. [...]
Entretanto, toda essa aparência de cansaço ilude. Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso.
Naquela organização combalida, operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer
incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos
relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se lhe, alta, sobre os ombros possantes aclarada pelo olhar
desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento
habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã
acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.
(CUNHA, Euclides. Os Sertões: campanha de Canudos. 2. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. Adaptado.)
Sobre a obra da qual foi extraído o fragmento em evidência, muito conhecida pela análise histórica que faz sobre a Guerra
de Canudos (1897), mas que realiza um grande exame sobre a terra e o homem do Nordeste, através de uma ótica
permeada pelo positivismo, é correto afirmar:
a) Tratou da relação entre o privado e o público como uma peculiaridade do modo de ser brasileiro.
b) Fez, nesse trecho, uma alusão à obra de Sérgio Buarque de Holanda — “Raízes do Brasil”.
c) Analisou a unidade nacional, baseando-se em diferenças regionais, culturais e éticas.
d) Enfatizou a miscigenação como uma novidade cultural da colonização portuguesa.
e) Construiu um perfil psicológico do brasileiro baseado na força dos sertanejos.
02. (UEL) Leia o texto a seguir.
“Na verdade, a ideologia impessoal do liberalismo democrático jamais se naturalizou entre nós. Só assimilamos
efetivamente esses princípios até onde coincidiram com a negação pura e simples de uma autoridade incômoda,
confirmando nosso instintivo horror às hierarquias e permitindo tratar com familiaridade os governantes.”
(HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 160.)
O trecho de Raízes do Brasil ilustra a interpretação de Sérgio Buarque de Holanda sobre a tradição política brasileira.
A esse respeito, considere as afirmativas a seguir.
I. As mudanças políticas no Brasil ocorreram conservando elementos patrimonialistas e paternalistas que dificultam a
consolidação democrática.
II. A política brasileira é tradicionalmente voltada para a recusa das relações hierárquicas, as quais são incompatíveis com
regimes democráticos.
III. As relações pessoais entre governantes e governados inviabilizaram a instauração do fenômeno democrático no país
com a mesma solidez verificada nas nações que adotaram o liberalismo clássico.
IV. A cordialidade, princípio da democracia, possibilitou que se enraizassem, no país, práticas sociais opostas aos princípios
do clientelismo político.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e III são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
03. (UEM) “O quadro familiar torna-se, assim, tão poderoso e exigente, que sua sombra persegue os indivíduos mesmo
fora do recinto doméstico. A entidade privada precede sempre, neles, a entidade pública. A nostalgia dessa organização
compacta, única e intransferível, onde prevalecem necessariamente as preferências fundadas em laços afetivos, não podia
deixar de marcar nossa sociedade, nossa vida pública, todas as nossas atividades. Representando, como já se notou acima,
o único setor onde o princípio de autoridade é indisputado, a família colonial fornecia a ideia mais normal de poder, da
respeitabilidade, da obediência e da coesão entre os homens. O resultado era predominarem, em toda a vida social,
sentimentos próprios à comunidade doméstica, naturalmente particularista e antipolítica, uma invasão do público pelo
privado, do Estado pela família.”
(HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1992, p. 50.)
Considerando o texto acima e o tema instituições sociais, assinale o que for correto.
(01) O texto trata das relações que os indivíduos estabelecem com uma instituição social específica, o Estado.
(02) No processo de formação da sociedade brasileira, os interesses privados interferem na conduta pública dos indivíduos.
(04) No Brasil, a comunidade doméstica promoveu um equilíbrio entre os interesses coletivos e privados, revelando sua
ação em defesa do que é público.
(08) O autor define que a família colonial é uma organização compacta, única e intransferível, que exerceu profunda
influência na formação social e cultural brasileira.
(16) O Estado brasileiro manteve-se livre dos particularismos, das visões antipolíticas e dos interesses privados.
04. (UNICENTRO) No Brasil, o pensamento sociológico se desenvolve a partir da década 30, do século passado, com a
fundação da Universidade de São Paulo e o crescimento da produção científica.
Sobre o desenvolvimento dessa ciência no Brasil, no século XX, é correto afirmar:
a) Os sociólogos desse período buscavam descrever o país por meio de estudos naturalistas.
b) Os grandes nomes desse período foram Euclides da Cunha, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda.
c) As duas preocupações dos sociólogos eram a aculturação indígena e a modernização do sistema político brasileiro.
d) A orientação das análises sociológicas estava voltada para as discussões mundiais ditadas por países, como França e
Inglaterra.
e) O interesse dos intelectuais desse período estava voltado para o conhecimento do Brasil real, do povo, em oposição às
análises etnocêntricas anteriores.
05. (UEL) Na primeira metade do século XX, o desenvolvimento social brasileiro foi marcado por intensos debates a respeito
do processo de modernização do País.
De acordo com esses debates:
I. O País era apresentado, por algumas correntes de pensamento, como sendo de vocação agrícola.
II. O desenvolvimento social e econômico do País passaria, necessariamente, pela modernização do campo.
III. O atraso brasileiro decorria de sua origem feudal, aqui reproduzida mediante a relação entre senhor e escravo.
IV. A expansão da economia capitalista no campo seria fundamental para eliminar os focos de pobreza e os movimentos
sociais de caráter agrário.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
06. (UNIOESTE) “Na segunda metade do século XX, a tendência à superação das ideias racistas permitiu que diferentes
povos e culturas fossem percebidos a partir de suas especificidades. Grupos de negros pressionaram pela adoção de
medidas legais que garantissem a eles igualdade de condições e combatessem a segregação racial. Chegamos então ao
ponto em que nos encontramos, tendo que tirar o atraso de décadas de descaso por assuntos referentes à África”.
(Marina de Mello e Souza. A descoberta da África. RHBN, ano 4, n. 38, novembro de 2008.)
A partir deste texto e do conhecimento da sociologia a respeito da questão racial em nosso país, é possível afirma que
a) autores como Gilberto Freyre, Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Darcy Ribeiro, entre outros tantos
autores, são importantes por chamarem a atenção do país para o papel dos negros na construção do Brasil e da brasilidade,
e as formas de exclusão explícitas e implícitas que sofreram.
b) apesar de relevante a luta contra o preconceito racial, o estudo da África só diria respeito ao conhecimento do passado,
do período do Descobrimento do Brasil até a abolição da escravidão entre nós.
c) estudar a África só nos indicaria a captura e a escravidão de diferentes povos africanos, tendo em vista que raça e o
racismo são categorias ideológicas as quais servem para encobrir as fortes tensões sociais existentes entre a imensa classe
de pobres e o seu oposto a dos ricos.
d) a autora quer dizer que devemos hoje operar cada vez mais com categorias tais como a especificidade da raça negra, da
raça branca, da raça amarela e outras mais.
e) nenhuma das alternativas está correta.
07. (UENP) No Brasil, podemos distinguir nitidamente, na evolução da Sociologia, dois períodos bem configurados (18801930 e depois de 1940), com uma importante fase intermédia de transição (1930-1940).
(Fragmento do texto A sociologia no Brasil de Antonio Cândido. Enciclopédia Delta-Larousse, 1959.)
Sobre o pensamento sociológico brasileiro, analise as afirmações abaixo.
I. A sociologia, no Brasil, se desenvolve a partir do pensamento de juristas que ocuparam um papel fundamental no século
XVIII, principalmente o de definir um modelo de Estado e interpretar as relações entre vida econômica e estrutura política.
II. A sociologia brasileira recebeu influências da biologia, principalmente do evolucionismo, desenvolvendo uma espécie de
obsessão por fatores naturais e uma preocupação com as fases históricas.
III. Diferente da sociologia europeia, a brasileira não se interessou pelos estudos raciais.
São corretas as afirmativas:
a) apenas I e II
b) apenas I e III
c) apenas II e III
d) Todas
e) Nenhuma
08. (UNIOESTE) Tendo por base o texto abaixo, do antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro, assinale o(s) item(s) que melhor
corresponde(m) as suas ideias.
“Nessa confluência, que se dá sob a regência dos portugueses, matrizes raciais díspares, tradições culturais distintas,
formações sociais defasadas se enfrentam e se fundem para dar lugar a um povo novo (...), num novo modelo de
estruturação societária. Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes
formadoras, fortemente mestiçada, dinamizada por uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços
culturais dela oriundos. Também novo porque se vê a si mesmo e é visto como uma gente nova, um novo gênero humano
diferente de quantos existem (...)”
“A confluência de tantas e tão variadas matrizes formadoras poderia ter resultado numa sociedade multiétnica, dilacerada
pela oposição de componentes diferenciados e imiscíveis. Ocorreu justamente o contrário, uma vez que, apesar de
sobreviverem na fisionomia somática e no espírito dos brasileiros os signos de sua múltipla ancestralidade, não se
diferenciaram em antagônicas minorias raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades étnicas próprias e disputantes
de autonomia frente à nação”
(RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, 19-20 [1995]).
I. O Brasil é um país fundamentalmente multicultural, evidenciando-se no cotidiano o antagonismo entre os diferentes
povos que migraram para cá e os povos nativos.
II. O povo brasileiro na realidade é uma ficção, pois sob a aparência de um apaziguamento de etnias e culturas diferentes,
o que se tem são etnias minoritárias em luta para sobreviverem.
III. A teoria da miscigenação, que o autor compõe, expressa que, apesar dos vários e acentuados embates que as diferentes
etnias experimentaram, surgiu uma nova realidade cultural, na qual as culturas e povos foram misturados de forma única
e inseparável, originando os atuais brasileiros.
IV. Quaisquer das práticas de distinção entre os brasileiros, seja por “raça”, “regionalismo”, “origem”, bem como práticas
como ações afirmativas para grupos étnicos minoritários, corresponderiam às características próprias do modo de ser do
povo brasileiro.
V. O povo brasileiro, em seus tipos regionais, expressaria modos de ser que têm suas raízes no encontro de índios, negros
e brancos, e, posteriormente, nas novas etnias migrantes, sem contudo perder a sua unidade e especificidade ou deixar de
ser uma única gente.
Assinale a alternativa correta.
a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
b) Apenas as afirmativas III e IV estão corretas.
c) Apenas as afirmativas III e V estão corretas.
d) Apenas a afirmativa IV está correta.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
09. (UNIOESTE) Observando o parágrafo abaixo e as afirmações que se seguem, seria correto dizer que
Em Casa Grande & Senzala Gilberto Freyre refuta as teses que atribuem o “atraso” da sociedade brasileira à miscigenação,
o que é por muitos considerado um ponto de vista inovador.
I. Suas concepções podem assim mesmo ser consideradas conservadoras por enfatizar a harmonia das relações entre as
etnias constitutivas da sociedade brasileiras, sobretudo entre brancos e negros.
II. Freyre faz, no livro citado acima, um elogio à colonização portuguesa no Brasil. Decorrem desse fato as críticas que recebe
por parte daqueles que vêm justamente no tipo de colonização que tivemos a origem do atraso nacional.
III. Adotando pontos de vista e procedimentos muito distintos em relação aos de Freyre, Florestan Fernandes foi um dos
autores que, na busca de explicações para aspectos da sociedade brasileira, enfatizou muito mais as mudanças sociais do
que equilíbrio.
IV. O principal ponto de convergência entre Freyre e Florestan é que com a progressiva industrialização da sociedade
brasileira os negros não ocupam, necessariamente, um lugar marginal.
a) Todas as afirmativas estão corretas.
b) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
c) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
d) Apenas as afirmativas III e IV estão corretas.
e) Apenas a afirmativa I está correta.
10. (UEM) Sobre a formação das classes sociais no Brasil, no período de transição do trabalho escravo para o livre, assinale
o que for correto.
(01) A produção do café para exportação contou com o emprego de uma mão de obra livre, a dos colonos, mas não
necessariamente assalariada.
(02) A expansão da cafeicultura estimulou o crescimento de cidades como São Paulo, que demandavam alimentos
ofertados, principalmente, pelas lavouras dos colonos, trabalhadores livres que, paulatinamente, substituíram o trabalho
escravo.
(04) Durante o período em que vigorou a escravidão, o mercado consumidor de produtos localmente manufaturados era
grande, tornando possível identificar uma produção industrial intensa e, portanto, uma classe operária constituída.
(08) Nos cafezais em formação, o colono tinha permissão para cultivar alimentos entre os pés de café, sendo essa prática
uma das principais características do regime de colonato, um estágio tido como transitório pelo colono e por sua família.
(16) A construção acelerada das estradas de ferro nas últimas décadas do século XIX, a elevação de tarifas aduaneiras e a
substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre foram medidas que inviabilizaram um modelo de desenvolvimento
econômico que conduziria à consolidação de duas classes sociais no Brasil: a burguesia e o proletariado.
Total:____
11. (UNIOESTE) Leia o texto a seguir:
“O coronel, antes de ser um líder político, é um líder econômico, não necessariamente, como se diz sempre, o fazendeiro
que manda nos seus agregados, empregados ou dependentes. O vínculo não obedece a linhas tão simples, que se
traduziriam no mero prolongamento do poder privado na ordem pública. Segundo esse esquema, o homem rico – o rico
por excelência, na sociedade agrária, o fazendeiro, dono da terra – exerce poder político, num mecanismo em que o
governo será o reflexo do patrimônio pessoal.”
(FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder: formação do patronato político brasileiro. Vol. 2, SP: Globo, 2000, p. 242).
Com base no texto de Faoro assinale a alternativa que não corresponde aos fenômenos políticos referenciados acima.
a) Relaciona-se ao coronelismo, fenômeno típico da República Velha, que se manifesta na troca de proveitos entre o chefe
político local e o governo estadual.
b) Relaciona-se ao patrimonialismo, que se amplia nos municípios com o uso indevido do poder público para fins
particulares. Nesse caso, não há distinção entre o que é público e o que é privado.
c) Relaciona-se ao mandonismo, característica da política tradicional, que se refere à existência de estruturas oligárquicas
e personalizadas de poder.
d) Relaciona-se ao clientelismo, fenômeno que perpassa toda a história política do Brasil, que indica um tipo de relação
entre atores políticos e sociais envolvendo a concessão de benefícios públicos em troca de apoio político, sobretudo na
forma de voto.
e) Trata-se do nepotismo, fenômeno político que caracteriza-se pela contratação de parentes em cargos públicos, e que
recentemente (agosto/2008) foi proibido pelo Supremo Tribunal Federal nos três poderes.
12. (UEL) Analise a tabela a seguir:
Os dados sobre a pobreza e a indigência segundo a cor ilustram os argumentos dos estudos
a) de Gilberto Freyre sobre a natural integração dos negros na sociedade brasileira, que desenvolveu a democracia racial.
b) de Caio Prado Junior sobre a formação igualitária da sociedade brasileira, que desenvolveu o liberalismo racial.
c) de Sérgio Buarque de Holanda sobre a cordialidade entre as raças que formam a nação brasileira: os negros, os índios e
os brancos.
d) de Euclides da Cunha sobre a passividade do povo brasileiro, ordeiro e disciplinado, que desenvolveu a igualdade de
oportunidades para todas as raças.
e) de Florestan Fernandes sobre a não integração dos negros no mercado de trabalho cem anos após a abolição da
escravidão.
13. (UEL) Em relação ao processo de formação social no Brasil, o sociólogo Florestan Fernandes escreveu: “Lembremo-nos
de que da vinda da Família Real, em 1808, da abertura dos portos e da Independência, à Abolição em 1888, à Proclamação
da República e à “revolução liberal”, em 1930, decorrem 122 anos, um processo de longa duração, que atesta claramente
como as coisas se passaram. Esse quadro sugere, desde logo, a resposta à pergunta: a quem beneficia a mudança social?”
(Fonte: FERNANDES, F. As Mudanças Sociais no Brasil. In IANNI, Octavio (org) Florestan Fernandes: coleção grandes cientistas sociais. São
Paulo: Ática, 1986.)
De acordo com o texto e os conhecimentos sobre o tema, em relação à indagação feita pelo autor, é correto afirmar que a
mudança social beneficiou:
a) Fundamentalmente os trabalhadores, uma vez que as liberdades políticas e as novas formas de trabalho aumentaram a
renda.
b) Os grupos sociais que dispunham de capacidade econômica e poder político para absorver os efeitos construtivos das
alterações ocorridas na estrutura social.
c) A elite monárquica, pois ao monopolizar o poder político impediu que outros grupos sociais pudessem surgir e ter acesso
aos efeitos construtivos das alterações na estrutura social.
d) Os grupos sociais marginalizados ou excluídos, pois, em decorrência deste processo, passaram a fazer parte do processo
produtivo.
e) A população negra, uma vez que a alteração na estrutura da sociedade criou novas oportunidades de inserção social.
14. (UEL) “No passado, quando se falava em redistribuição de renda, sempre se argumentava que os pobres, com o
crescimento de sua renda, tenderiam a consumir mais e, portanto, a taxa de poupança cairia. Hoje, o paradoxo é que os
ricos brasileiros é que têm uma altíssima propensão a consumir. A renda não se concentra para aumentar a taxa de
poupança, e sim para aumentar o consumo dos mais ricos. É escandalosa a distância, no Brasil, entre o consumidor popular
e o consumidor médio e rico.
Sem lugar à dúvida, essa defasagem é das maiores do mundo. Na Índia, os 20% mais ricos têm em média uma renda
quatro vezes maior que a dos 20% mais pobres; no Brasil essa relação é de um para trinta e três vezes. Por outro lado, o
abuso do consumo contamina as classes mais pobres, que gastam em produtos nem sempre necessários.”
(Fonte: FURTADO, C.. Em Busca de Novo Modelo – reflexões sobre a crise contemporânea. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 2ª edição.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre desigualdade social no Brasil, é correto afirmar que:
a) Na última década, o índice de desigualdade vem crescendo constantemente no Brasil.
b) Na última década observa-se, no Brasil, um aumento constante da taxa de crescimento econômico impulsionado pelo
aumento do índice de desigualdade.
c) Apesar de permanecer entre os mais altos do mundo, nos últimos 15 anos observa-se, no Brasil, uma queda do índice de
desigualdade.
d) Nas duas últimas décadas o índice de desigualdade no Brasil permanece rigorosamente igual.
e) Existe uma correlação estreita entre taxa de crescimento econômico e distribuição de riqueza.
15. (UEL) “A falta de coesão em nossa vida social não representa, assim, um fenômeno moderno. E é por isso que erram
profundamente aqueles que imaginam na volta à tradição, a certa tradição, a única defesa possível contra nossa desordem.
Os mandamentos e as ordenações que elaboraram esses eruditos são, em verdade, criações engenhosas de espírito,
destacadas do mundo e contrárias a ele. Nossa anarquia, nossa incapacidade de organização sólida não representam, a seu
ver, mais do que uma ausência da única ordem que lhes parece necessária e eficaz. Se a considerarmos bem, a hierarquia
que exaltam é que precisa de tal anarquia para se justificar e ganhar prestígio”.
(HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 33.)
Caio Prado Junior, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda são intelectuais da chamada “Geração de 30”, primeiro
momento da sociologia no Brasil como atividade autônoma, voltada para o conhecimento sistemático e metódico da
sociedade. Sobre as preocupações características dessa geração, considere as afirmativas a seguir.
I. Critica o processo de modernização e defende a preservação das raízes rurais como o caminho mais desejável para a
ordem e o progresso da sociedade brasileira.
II. Promove a desmistificação da retórica liberal vigente e a denúncia da visão hierárquica e autoritária das elites brasileiras.
III. Exalta a produção intelectual erudita e escolástica dos bacharéis como instrumento de transformação social.
IV. Faz a defesa do cientificismo como instrumento de compreensão e explicação da sociedade brasileira.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e III.
b) I e IV.
c) II e IV.
d) I, II e III.
e) II, III e IV.
16. (UFU) "Calculo que o Brasil, no seu fazimento, gastou cerca de 12 milhões de negros, desgastados como a principal
força de trabalho de tudo o que se produziu aqui e de tudo que aqui se edificou. Ao fim do período colonial, constituía uma
das maiores massas negras do mundo moderno. Sua abolição, a mais tardia da história, foi a causa principal da queda do
Império e da proclamação da República. Mas as classes dominantes reestruturaram eficazmente seu sistema de
recrutamento da força de trabalho, substituindo a mão de obra escrava por imigrantes importados da Europa, cuja
população se tornara excedente e exportável a baixo preço."
(RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1995, p.220-221.)
Considerando o texto acima, pode-se afirmar que
I. a escravidão foi a base de desenvolvimento econômico do Brasil, ao longo da colônia e do Império.
II. a escravidão teve papel importante na formação étnica do país.
III. o escravo contribuiu para moldar o trabalho e a sociedade no Brasil através de técnicas próprias, pelo seu modo de ser
e cultura, pela culinária, pela dimensão religiosa, linguística e artística.
IV. do ponto de vista da diversidade étnico-cultural brasileira, o negro não sofre preconceito social.
Selecione a alternativa correta.
a) II, III e IV estão corretas.
b) I e IV estão corretas.
c) I, II e III estão corretas.
d) III e IV estão corretas.
17. (FEI) A chamada "sociedade patriarcal", característica do Brasil Colonial, assentava-se em dois elementos essenciais,
que eram:
a) livre comércio e isenção de taxas;
b) mão-de-obra assalariada e monocultura;
c) pequena propriedade e exportação;
d) senhores e escravos;
e) comércio e lavoura.
18. (FUVEST) A sociedade colonial brasileira "herdou concepções clássicas e medievais de organização e hierarquia, mas
acrescentou-lhe sistemas de graduação que se originaram da diferenciação das ocupações, raça, cor e condição social. (...)
As distinções essenciais entre fidalgos e plebeus tenderam a nivelar-se, pois o mar de indígenas que cercava os colonizadores
portugueses tornava todo europeu, de fato, um gentil-homem em potencial. A disponibilidade de índios como escravos ou
trabalhadores possibilitava aos imigrantes concretizar seus sonhos de nobreza. (...) Com índios, podia desfrutar de uma vida
verdadeiramente nobre. O gentio transformou-se em um substituto do campesinato, um novo estado, que permitiu uma
reorganização de categorias tradicionais. Contudo, o fato de serem aborígenes e, mais tarde, os africanos, diferentes étnica,
religiosa e fenotipicamente dos europeus, criou oportunidades para novas distinções e hierarquias baseadas na cultura e na
cor."
(Stuart B. Schwartz, SEGREDOS INTERNOS)
A partir do texto pode-se concluir que:
a) a diferenciação clássica e medieval entre clero, nobreza e campesinato, existente na Europa, foi transferida para o Brasil
por intermédio de Portugal e se constituiu no elemento fundamental da sociedade brasileira colonial.
b) a presença de índios e negros na sociedade brasileira levou ao surgimento de instituições como a escravidão,
completamente desconhecida da sociedade europeia nos séculos XV e XVI.
c) os índios do Brasil, por serem em pequena quantidade e terem sido facilmente dominados, não tiveram nenhum tipo de
influência sobre a constituição da sociedade colonial.
d) a diferenciação de raças, culturas e condição social entre brancos e índios, brancos e negros, tendeu a diluir a distinção
clássica e medieval entre fidalgos e plebeus europeus na sociedade colonial.
e) a existência de uma realidade diferente no Brasil, como a escravidão em larga escala de negros, não alterou em nenhum
aspecto as concepções medievais dos portugueses durante os séculos XVI e XVII.
19. (UNIFESP) Estima-se que, no fim do período colonial, cerca de 42% da população negra ou mulata era constituída por
africanos ou afro-brasileiros livres ou libertos. Sobre esse expressivo contingente, é correto afirmar que
a) era o responsável pela criação de gado e pela indústria do couro destinada à exportação.
b) vivia, em sua maior parte, em quilombos, que tanto marcaram a paisagem social da época.
c) possuía todos os direitos, inclusive o de participar das Câmaras e das irmandades leigas.
d) tinha uma situação ambígua, pois não estava livre de recair, arbitrariamente, na escravidão.
e) formava a mão-de-obra livre assalariada nas pequenas propriedades que abasteciam as cidades.
20. (UNIFESP) De acordo com um estudo recente, na Bahia, entre 1680 e 1797, de 160 filhas nascidas em 53 famílias de
destaque, mais de 77% foram enviadas a conventos, 5% permaneceram solteiras e apenas 14 se casaram. Tendo em vista
que, no período colonial, mesmo entre pessoas livres, a população masculina era maior que a feminina, esses dados
sugerem que
a) os senhores-de-engenho não deixavam suas filhas casarem com pessoas de nível social e econômico inferior.
b) entre as mulheres ricas, a devoção religiosa era mais intensa e fervorosa do que entre as mulheres pobres.
c) os homens brancos preferiam manter sua liberdade sexual a se submeterem ao despotismo dos senhores-de-engenho.
d) a vida na colônia era tão insuportável para as mulheres que elas preferiam vestir o hábito de freiras na Metrópole.
e) a sociedade colonial se pautava por padrões morais que privilegiavam o sexo e a beleza e não o status e a riqueza.
GABARITO
01: E
02: B
03: 01 + 02 + 08 = 11.
04: E
05: D
06: D
07: A
08: C
09: A
10: 01 + 02 + 08 = 11.
11: E
12: E
13: B
14: C
15: C
26: C
17: D
18: D
19: D
20: A
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O Desenvolvimento da Sociologia Brasileira Introdução A