RESUMO DO TEXTO BASE CF 2015 INTRODUÇÃO A CF 2015 terá como foco principal a CAMPANHA MUNDIAL CONTRA A FOME, proposta pelo Papa Francisco. Também a Campanha da Fraternidade quer motivar os cristãos a serem verdadeiros construtores de uma sociedade justa e fraterna. O Objetivo Geral da CF 2015 expressa este desejo: “Aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a Sociedade, propostos pelo Concílio Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de Deus”. O Lema da Campanha da Fraternidade 2015 é “Eu vim para servir” (Marcos 10,45). Leia a letra do hino da CF 2015. HINO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 1- Em meio às angustias, vitórias e lidas, no palco do mun-do onde a história se faz, sonhei uma Igreja a serviço da vida. Eu fiz do meu povo os atores da paz. REFRÃO = Quero uma Igreja solidária, servidora e mis-sionária, que anuncia e saiba ouvir. A lutar por dignida-de, por justiça e igualdade, pois eu vim para servir (Mc 10,45) 2- Os grandes oprimem, exploram o povo, mas enter vocês bem diverso há de ser. Quem quer ser o grande se faça de servo. Deus ama o pequeno e despreza o poder (Mc 10,42-45) 3- Preciso de gente que cure feridas, que saiba escutar, acolher, visitar. Eu quero uma Igreja em constante saída, de portas abertas sem medo de amar. 4- O meu mandamento é antigo e tão novo: Amar e servir como faço a vocês. Sou Mestre que escuta e cuida seu povo, um Deus que se inclina e que lava seus pés (cf Jo 13). Para que a Igreja preste o serviço à sociedade, é necessário entender como está organizada. Este entendimento leva ao discernimento daquilo que é sinal de Deus ou sinal do pecado na humanidade. Então a Igreja decide reforçar o que é bom e lutar contra o que é ruim. Como fazer este serviço? A quem servir? O texto da CF, juntamente com a narrativa do Evangelho de Marcos nos dão estas respostas. CF 2015: Tema – FRATERNIDADE, IGREJA E SOCIEDADE Lema – “Eu vim para servir” (Marcos 10,45) INTRODUÇÃO A CF 2015 “Fraternidade, Igreja e Sociedade”, quer, no tempo da quaresma recordar o mandato missionário de Jesus (Ide… Mateus 28,19-20). Em sua essência, a Igreja é, antes de tudo, uma comunidade em saída (missão). A Missão é ir, sem medo, ao encontro dos excluídos e convidá-los para seguir o Jesus. O missionário encurta distâncias, abaixa-se e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Os setores missionários são o ambiente aonde a caridade se torna anúncio vivo. É nos setores que podemos dizer que os cristãos são presença do Evangelho na sociedade e podem colaborar na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária, preservando-a de ser excludente. A Campanha da Fraternidade deste ano – Fraternidade, Igreja e Sociedade -, além do objetivo geral já citado no início, assume também os seguintes objetivos específicos: – Fazer memória do caminho percorrido pela Igreja com a sociedade, identificar e compreender os principais desafios da situação atual. – Apresentar os valores do Reino de Deus e da doutrina Social da Igreja como elementos autenticamente humanizantes. – Identificar as questões desafiadoras na evangelização da sociedade e estabelecer parâmetros e indicadores para a ação pastoral. – Aprofundar a compreensão da dignidade da pessoa, da integridade da criação, da cultura da paz, do espírito e do diálogo inter-religioso e intercultural, para superar as relações desumanas e violentas. – Buscar novos métodos, atitudes e linguagens na missão da Igreja de Cristo de levar a Boa Nova a cada pessoa, família e sociedade. – Atuar profeticamente à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para o desenvolvimento integral da pessoa e na construção de uma sociedade justa e solidária. PRIMEIRA PARTE CONHECENDO MELHOR A REALIDADE As origens do Cristianismo estão na vida, pregação, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ele assumiu e viveu a cultura do seu povo, participando ativamente dos problemas daquela sociedade. As primeiras comunidades cristãs foram perseguidas. O exemplo dos mártires tornava-as mais unidas. O Cristianismo fortalecido por este testemunho se espalhou pelo mundo daquela época. Hoje, nós, cristãos, temos o desafio de estabelecer uma relação com a sociedade que provoque respostas positivas aos inúmeros desafios que as pessoas mais simples enfrentam. A ATUAL REALIDADE Hoje, a população brasileira passa dos 200 milhões de habitantes. A expectativa de vida do brasileiro, em 2012, chegou a 74 anos. Com o aumento da expectativa de vida e a diminuição dos nascimentos (em 1960 cada mulher tinha média de seis filhos e. em 2010 caiu para 1,8), logo o Brasil terá mais anciãos que jovens. Isto acarretará para as famílias um custo adicional para o cuidado com os idosos. Outro dado preocupante dos dias atuais é o aumento da população urbana: 85% dos brasileiros vivem nas cidades. Isso gerou o surgimento de favelas, faltam de transporte púbico, vagas em creches, etc. Mais de 50% dos domicílios no Brasil não tem coleta de esgoto. Um grave problema é o aumento do lixo. Hoje são 273 mil toneladas por dia de resíduos, a grande maioria sem um destino adequado. Somente para sanar o déficit do saneamento básico seriam necessários investimentos da ordem de 12 bilhões por ano, durante 20 anos consecutivos. É certo que algumas políticas econômicas de inclusão geraram avanços sociais, tais como “bolsa família”, que atende 14 milhões de famílias. Após 10 anos este programa contribuiu para a diminuição da pobreza extrema da população de 9,7% pra 4,3%. Diminuiu também a mortalidade de crianças de até 05 anos, que passou de 53,7, em 1990, para 17,7, em 2011 de mortes por mil nascidos. Houve também, nos últimos 20 anos estabilidade econômica, que gerou empregos, aumento de renda, inflando a classe média, hoje estimada em mais de 100 milhões de pessoas. Esta classe média passou a consumir produtos antes restritos à classe alta: planos de saúde, escolas particulares, viagens aéreas etc. Apesar deste grande desenvolvimento, há ainda situações de extrema pobreza preocupantes como os grupos indígenas, quilombolas, pescadores e pessoas invisíveis nas cidades, moradoras de cortiços ou pequenos cômodos isolados nos fundos de residências. São pessoas com rosto sofrido, que precisam ser retiradas do silêncio imposto pela vergonha do não ter. A VIOLÊNCIA A violência é um fenômeno que não para de crescer. São 50 mil mortes violentas por ano. Isso representa a oitava pior marca entre 100 nações com estatísticas confiáveis sobre o tema. O índice de assassinatos esclarecidos é baixo, o que contribui para a sensação de impunidade. Mesmo assim, mais de 500 mil brasileiros estão detidos, grande parte por tráfico de drogas, a maioria composta por jovens, negros e pobres, com poucas oportunidades de reintegração social. O aumento da violência provocam debates como a diminuição da menoridade penal e até a aplicação da pena de morte. O comércio das drogas aumente vertiginosamente, chegando mesmo às cidades mais afastadas dos grandes centros. A CULTURA DO DESCARTÁVEL A Igreja no Brasil denuncia o processo social em que as pessoas são vistas apenas sob o prisma da produção e do consumo. Quando não se prestam a estas funções, são descartadas e passam a compor a massa sobrante da sociedade. SINAIS DOS NOVOS TEMPOS Em contraposição à cultura do descartável, do relativismo, preconceito religioso e materialismo, encontram-se também os sinais da formação de uma nova cultura em muitos homens e mulheres, crentes ou não, que se empenham em construir uma cultura que permita uma maior realização humana, que respeite e ajude a desenvolver a plural dimensionalidade da pessoa humana, sua autonomia e abertura ao outro e a Deus. Características desta nova cultura são: 1 - Respeito à consciência de cada um; 2- abertura à diferença e multiculturalidade. 3solidariedade como todo criado; 4- rejeição às injustiças; 4- sensibilidade para com os pobres. ESPERANÇA DIANTE DOS DESAFIOS O Papa Francisco exortou todos os cristãos a não assumirem uma posição pessimista diante das dificuldades presentes, nem uma posição meramente reativa ou pior, de resistência e isolamento. Ele os chamou a unir forças com os homens e mulheres de boa vontade, crentes ou não, mas que desejam agir na construção do desenvolvimento humano integral. A Igreja, partindo de Jesus Cristo, propõe-se a servir, neste contexto desafiador, com uma mensagem salvadora que cura as feridas, ilumina e descortina um horizonte para além dessas realidades. Ao chegar ao coração de cada homem e de cada mulher, a Boa Nova e a esperança da Ressurreição podem mostrar-lhes quanto são animados por Deus e capazes de contribuir para uma nova e renovada humanidade. Uma parte das novas gerações, movida pela esperança e pelo desejo de construir um mundo melhor, não aceita a indiferença, a violência e a exclusão. Esse movimento busca construir sínteses novas e criativas entre razão e sensibilidade, indivíduo e comunidade, global e local. SEGUNDA PARTE O que os Bispos esperam de nós A Missão da Igreja é colocar à disposição do gênero humano as forças salvadoras que ela recebe de Cristo. Propõe salvar a pessoa humana integralmente e restaurar a sociedade humana no que se refere à sua finalidade mais autêntica: o desenvolvimento integral a partir do bem comum. Para a Igreja, a sociedade humana foi criada por um desígnio amoroso de Deus Criador e está por Ele designada a alcançar sua própria realização: a vida plena no amor por meio da participação na vida divina. A Igreja, perita em humanidades, iluminada pela Palavra de Deus, reconhece a família e a sociedade política como indispensáveis ao progresso da humanidade. A missão específica da Igreja é de cunho religioso, e não propriamente político, econômico ou social. Ela, a Igreja, contudo não apenas colabora com a sociedade, mas também é ajudada pela sociedade. Esses dois aspectos se tornam referência tanto para a valorização das realidades terrestres – o trabalho, a ciência, a política, a economia, etc. – quanto para incentivar a inserção dos cristãos na realidade social, sendo eles próprios semeadores da Boa Nova na sociedade. Em sua missão de anunciar o Cristo, a Igreja necessita conhecer e preparar o terreno onde lançar a semente do Evangelho. Ou seja, deve estar atenta à realidade e suas mudanças, suas inquietações e seus clamores. Para que exista a inculturação (inserção dialogal da Boa Nova na sociedade), é necessário que a Igreja leve em conta os desafios ou apelos de cada tempo e espaço. Os novos areópagos (espaços de convivência humana) que a Igreja deve estar presente são: mundo das comunicações sociais, relações internacionais, desenvolvimento e libertação dos povos, principalmente das minorias, a promoção da mulher, do jovem, da criança, a proteção da natureza e outros. OPÇÃO PELO SER HUMANO E PREFERENCIALMENTE PELOS POBRES São João XXIII, ao convocar o Concílio Vaticano II para que a Igreja pudesse compreender o mundo que a cercava naquela época, usou a expressão sinais dos tempos para mostrar a relevância dos pobres, das mulheres e dos operários na sociedade do seu tempo. Desde o Concílio Vaticano II houve transição da Igreja comprometida com o poder para uma Igreja solidária com os pobres. O Concílio indicou a necessidade de aproximar a Igreja dos pobres, não apenas no sentido da compaixão, como fizera nos séculos passados, mas também no sentido de real identificação entre Igreja e pobres. Os fiéis seguem seu Senhor que se fez pobre, não buscam glórias terrenas, mas a humildade e a abnegação. São João Paulo II colocou a opção pelos pobres como critério do seguimento de Jesus Cristo para a Igreja (Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte n.49). O papa Bento XVI elevou a opção pelos pobres à categoria teológica ao dizer que: “Nossa fé proclama que “Jesus Cristo é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem” (Documento de Aparecida (DA) n.218). Por isso, “a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza” (DA 219). Esta opção nasce de nossa fé em Jesus Cristo, o Deus feito homem, que se fez nosso irmão (cf. Hb 2,11-12) (DA 392). O Papa Francisco propôs no início do seu pontificado o empenho por uma Igreja pobre para os pobres. E pediu, no lançamento da Campanha Mundial contra a Fome e a Pobreza, que todos os cristãos ajudem nesta Campanha liderada pela Caritas em garantir alimento para todos. TERCEIRA PARTE PARÓQUIA DE SANTO ANTONIO E NOSSA SENHORA APARECIDA E A SOCIEDADE ITATIBENSE: SERVIÇO, DIÁLOGO E COOPERAÇÃO Para a Igreja, os cristãos devem ir às raízes da pobreza social, estimulando os pobres a se conscientizarem de sua situação e a assumirem a iniciativa de sua libertação. A dignidade da pessoa humana, o bem comum e a justiça social são os critérios que a Igreja discerne a oportunidade e o estilo de seu diálogo e de sua colaboração com a sociedade. No Brasil alguns direitos básicos ainda carecem de avanços para serem disponibilizados para toda a população: 1- direito à água limpa e potável; 2- direito à alimentação; 3- direito à moradia; 4- direito à liberdade e manifestação política; 5- direito à educação; 6- direito à manifestação religiosa publicamente. O fundamento de todos estes direitos é o direito à vida, desde a sua concepção até o fim natural. A luta pelos direitos básicos da pessoa humana ainda não se traduziu, no Brasil, em melhorias nas condições básicas da população, sobretudo dos necessitados. O SERVIÇO DAS DIMENSÕES CATEQUÉTICO /MISSIONÁRIO DA PARÓQUIA À SOCIEDADE O Papa Francisco chama todos os batizados a uma conversão missionária. Em Mateus 28,19-20 Jesus Cristo pede uma Igreja em saída para testemunhar a alegria do Evangelho. Fazendo referência às pessoas que experimentam desorientação e vazio interior na sociedade que primazia o descartável, o consumismo, individualismo, o Papa Francisco pede: 1- Igreja que não tenha medo de entrar na noite destas pessoas; 2- Igreja capaz de encontrá-las em seu caminho; 3- Igreja capaz de inserir em suas conversas; 4- Igreja que saiba dialogar com aqueles que vagam sem meta, com desencanto, desilusão, até mesmo do cristianismo; 5- Igreja capaz de acompanhar o regresso a Jerusalém (felicidade). Para o Papa Francisco trata-se de estudar os sinais dos tempos ou de ver o que Deus pede de nós. SUGESTÕES CONCRETAS PARA AS DIMENSÕES MISSIONÁRIA E CATEQUÉTICA: – Refletir nas famílias sobre o que edifica a vida e o que não é gerador de vida e estratégias para soluções. – Promover momentos para exercer o discernimento a partir da Palavra de Deus acerca do que ocorre na comunidade, bairro, cidade e identificar as ameaças à vida. – Pensar formas de contribuir para a resolução de tais situações, considerando as capacitações requeridas para as ações de enfrentamento da realidade identificada. O SERVIÇO DA DIMENSÃO SOCIAL DA PARÓQUIA À SOCIEDADE A Igreja Católica participa efetivamente da sociedade através das pastorais sociais que atuam junto às pessoas em situação de marginalização. Estas pastorais agem em defesa da vida e dos direitos dos necessitados. O Papa Francisco tem feito apelo em prol daqueles que são descartados na sociedade. Ele pede que as comunidades católicas se abram a este chamado, identifiquem estes grupos no ambiente paroquial e ajam através das pastorais sociais. Na sociedade civil encontramos muitas entidades e instituições que propõem boas iniciativas, visando atender as necessidades da população carente. A Igreja declara querer ajudar e promover todas estas instituições, na medida em que isso dependa dela e seja compatível com a sua própria missão. Este diálogo também abrange o diálogo ecumênico e inter-religioso. SUGESTÕES CONCRETAS PARA A DIMENSÃO SOCIAL -Repensar a própria responsabilidade em relação à sociedade em temas catequéticos como: sustentabilidade, respeito aos direitos dos outros, liberdade religiosa, educação para a solidariedade, cuidado com os bens públicos. – Criar serviços a partir das características da paróquia e capacitação dos paroquianos (reforço escolar, biblioteca comunitária, capacitação informática, mutirões de ajuda, etc.). – Esclarecer a comunidade sobre a importância da participação nos conselhos Paritários – Obter informações sobre os Conselhos Paritários constituídos no Município – Escolher e preparar pessoas na comunidade para participarem em nome da Igreja nos Conselhos Paritário (Conselhos Municipais). O SERVIÇO DA DIMENSÃO LITÚRGICA DA PARÓQUIA À SOCIEDADE SUGESTÕES CONCRETAS – A comunidade insira o tema da paz em sua liturgia e orações – Articular com outros grupos religiosos momentos de oração pela paz em lugares simbólicos – Conhecer realidades próximas da Comunidade que apresentem conflitos e refletir sobre soluções possíveis – Acompanhar famílias, jovens, gangues, escolas com incidência de conflitos em vista de superá-los. Apoiar as iniciativas da sociedade organizada e de organizações não governamentais que visem a cultura da paz. O SERVIÇO DA DIMENSÃO PARTICIPATIVA DA PARÓQUIA À SOCIEDADE PARTICIPAÇÃO NA REFORMA POLÍTICA A reforma política proposta pela Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, da qual a Igreja também faz parte, propõe: Proibição de financiamento de candidatos por empresas Adoção do sistema eleitoral chamado voto transparente, proporcional em dois turnos pelo qual o eleitor inicialmente vota num programa partidário e posteriormente escolhe um dos nomes da lista ordenada no partido, com participação de seus filiados e acompanhamento da Justiça Eleitoral e do Ministério Público. A promoção da alternância de homens e mulheres nas listas de candidatos dos partidos, porque o Brasil, onde as mulheres representam 51% dos eleitores, é um país onde a representação feminina conta com apenas 9% de mulheres na política. SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A DIMENSÃO PARTICIPATIVA – Que a comunidade cristã não fique alheia aos processos políticos na sociedade – Convidar pessoas para debater, traçar metas e estratégias de mobilização em vista da contribuição à necessária reforma política. CONCLUSÃO CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2015 Solidária à Campanha Mundial Contra a Fome: Diante dos desafios da modernidade, que fragiliza as relações sociais e desvaloriza o caráter transcendental do ser humano através da cultura do descartável, a Igreja tem uma palavra a dizer sobre isto. A vocação missionária, pautada na opção preferencial pelos pobres, leva a Igreja a ir ao encontro daqueles que ninguém precisa, que ninguém emprega, que ninguém cuida, que tem fome de comida, de justiça, de educação, de lazer, etc. O Papa Francisco diz: “Vocês, queridos irmãos, não tenham medo de oferecer esta contribuição da Igreja que é para o bem da sociedade inteira, de oferecer esta palavra encarnada também com o testemunho” (Encontro do Papa com o Episcopado Brasileiro durante a JMJ 2013). Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa, nos ensine a caminhar pelas estradas da vida como testemunhas do amor revelado em Jesus Cristo. Nele, como discípulos missionários, testemunhemos a beleza do Reino de Deus. A coleta da quaresma/2105 destina-se também a combater a fome no mundo por meio de uma ação promovida pela Caritas, com o lema: “Uma família humana, pão e justiça para todas as pessoas”. Num primeiro momento, através do texto do Evangelho de Marcos, vamos olhar como a sociedade era organizada no tempo de Jesus. E veremos como nosso Senhor agiu para servir às pessoas do seu tempo e qual foi sua atitude diante dos pecados daquele tempo. A RELAÇÃO IGREJA – SOCIEDADE À LUZ DA PALAVRA DE DEUS As Escrituras testemunham a fidelidade de Deus a seu amor pelos seres humanos, com suas intervenções na história e propostas de alianças com os homens e mulheres. Chamou Abraão e lhe fez uma promessa que se estendia à sua descendência (Gn 12,3) O POVO DE ISRAEL CHAMADO A SER SINAL PARA TODOS A liberdade é a grande busca do povo de Deus. Primeiro a libertação da fome, quando se mudam para o Egito. Depois, a libertação da escravidão, quando se aventuram pelo deserto em busca da terra prometida. O deserto é o ambiente da pedagogia da construção de uma nova cultura fraterna e estrutura justa (Êxodo 20,117; 23,10-13; Levítico 25,12-13. 35-54). A POSTURA DE SERVIÇO DO FILHO DE DEUS Jesus realizou a sua missão em meio aos problemas e injustiças da sociedade do seu tempo. Ele demonstrou amor e cuidado pelos pequenos e marginalizados (Mc 10,13-16; Lucas 8,1-3; Lucas 7,37; Mateus 21,31). Jesus não se omitiu em censurar as autoridades do seu tempo (Mateus 23,4; 28). Também estava atento à fome física, assim como à fome de formação do seu povo (Marcos 6,34). O Filho de Deus sempre se apresentou como servidor (Mateus 11, 28-29), bem como valorizou aos humildes (Mateus 5, 3; 11,25). Quando os discípulos se perguntavam quem seria o maior dentre eles (Marcos 9,32-34), Jesus responde: “Sabeis que os que são considerados chefes das nações as dominam e os seus grandes fazem sentir o seu poder. Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal; E qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Marcos 10,42-45). O serviço nós o vemos expresso na última ceia, durante o lava-pés (João 13, 1-8). Para assumir a missão de Jesus, o discípulo precisa estar tomado pelo espírito de serviço (Marcos 8,35). A SOCIEDADE NA ÉPOCA DE JESUS Naquela época, o povo era explorado por meio da cobrança abusiva de impostos. Essa situação gerou muitas revoltas, principalmente na Galileia. O sistema de fiscalização de impostos, implantado por Herodes era muito rígido. Qualquer manifestação contra era violentamente sufocada. Isso lembra as manifestações do ano passado no Brasil. O cenário de doença e escravidão era uma realidade ampla (Mc 12,15-17). Muitas pessoas empobrecidas perambulavam pelas praças e mercados, sem terra e sem emprego (cf. Mt 20,1-9). A situação dos pobres se complicou ainda mais por causa da cultura e religião da época. De acordo com a mentalidade grega, os pobres eram considerados vagabundos ou pessoas que não foram agraciadas pelas divindades. Ser pobre significava não ter existência social. A situação de opressão e escravidão deu origem a vários movimentos proféticos e messiânicos, especialmente na Galileia, região que fornecia trigo, vinho, óleo, carne e peixe, e que, por isso mesmo, foi o território mais explorado e devastado. Entre os vários movimentos, podemos situar o de Jesus. A sua proposta de Reino de Deus atraiu homens e mulheres que perderam suas terras e se encontravam sem reino. Por isso, Jesus proclama: “Felizes vós, os pobres” (Lc 6,20; Mt 5,3). CATECISMO SOBRE O SEGUIMENTO DE JESUS “Tome a sua cruz e siga-me”. O seguimento de Jesus é o caminho da cruz, que está na contramão da sociedade organizada pelas relações humanas baseadas no levar vantagens, no poder e em privilégios. A comunidade cristã de Marcos, que professa Jesus de Nazaré como “Cristo”, não deve reproduzir as relações de poder na vida cotidiana, mas estabelecer relações de serviço e de comunhão. Após o primeiro anúncio da paixão, a comunidade de Marcos descreve, em seu evangelho, as instruções sobre as relações internas da comunidade, introduzidas pelo segundo (Mc 9,30-32) e terceiro anúncios (Mc 10,32-34): 1) “E chegaram a Cafarnaum. Em casa, ele lhes perguntou: ‘Sobre que discutíeis no caminho?. Ficaram em silêncio, porque pelo caminho vinham discutindo sobre qual era o maior. Então ele sentou, chamou os Doze e disse: ‘Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos’” (Mc 9,33-35). Quem é o maior? Os discípulos ainda idealizam sociedade de poder, riqueza e de privilégio que produz a segregação social. O caminho da cruz deve ser reproduzido nas relações humanas da comunidade, baseada na vida de serviço sem interesse. 2) “Disse-lhe João: ‘Mestre, vimos alguém que não nos segue expulsando demônios em teu nome, e o impedimos porque não nos seguia’. Jesus, porém, disse: ‘Não o impeçais, pois não há ninguém que faça milagre em meu nome e logo depois possa falar mal de mim. Porque quem não é contra nós é por nós’ (Mc 9,38-40). Mais uma vez, deparamo-nos com a concepção dos discípulos de uma sociedade segregacionista de poder. Eles não estão dispostos a partilhar o poder e o privilégio. Querem o monopólio e exclusividade no mistério da salvação. Hoje se compreende que a prática missionária não é condenatória nem marcada por sectarismo. O cerne da missão é a promoção da justiça, liberdade e vida em todos os povos. 3) “Traziam-lhe crianças para que as tocasse, mas os discípulos as repreendiam. Vendo isso, Jesus ficou indignado e disse: ‘Deixai as crianças virem a mim. Não as impeçais, pois delas é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele’. Então, abraçando-as, abençoou-as, impondo as mãos sobre elas” (Mc 10,13-16). No mundo greco-romano de produção e de ganho, a criança e o ancião são considerados inúteis (cf. Sb 2,5-11) e representam o grupo marginalizado. Mas o Reino, do ponto de vista de Jesus de Nazaré, é gratuidade de Deus, e nele as pessoas marginalizadas, que não são consideradas, são acolhidas. 4) “Então Jesus, olhando em torno, disse a seus discípulos: ‘Como é difícil a quem tem riquezas entrar no Reino de Deus!’. Os discípulos ficaram admirados com essas palavras. Jesus, porém, continuou a dizer: ‘Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo fundo da agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!’ (Mc 10,23-25). A riqueza no Império Romano é fruto da acumulação de bens por meio da injustiça: fraudação, espoliação e violência (Ap 13; 18). Ao entrar no Reino de Deus, a comunhão com o Deus da vida é preciso sair e combater essa sociedade de ambição e injustiça,que explora o próximo e a natureza. É necessário entrar no caminho da cruz de servir e de partilhar a vida. 5) “Tiago e João, filhos de Zebedeu, foram até ele e disseram-lhe: “Concede-nos, na tua glória, sentarmo-nos, um à tua direita, outro à tua esquerda” […]. Ouvindo isso, os dez começaram a indignar-se contra Tiago e João. Chamando-os, Jesus lhes disse: ‘Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam. Entre vós não será assim: ao contrário, aquele que dentre vós quiser ser grande, seja o vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos’” (Mc 10,35-44). O projeto de Jesus não é ser servido, mas servir ao próximo. Assim, é rejeitada, definitivamente, a aspiração dos discípulos ao reino messiânico davídico no qual Jesus seria ungido como rei e assumiria o poder em Jerusalém. Essa rejeição é também da comunidade de Marcos por volta do ano 70 d.C. Ela rejeita juntar-se às revoltas armadas dos vários líderes messiânicos e suas lutas por poder e privilégios. Marcos registra três anúncios da paixão com o catecismo sobre o seguimento de Jesus na vida cotidiana da comunidade. Ao anunciar o catecismo do “caminho da cruz”, Jesus combate e corrige os discípulos que aspiram a poder e privilégio. No caminho do seguimento de Jesus, ela deve empenhar-se em examinar sempre a natureza de sua missão no mundo. A comunidade, como o cego Bartimeu (Mc 10,46-52), deve abrir os olhos, deixar o manto do “Filho de Davi”, messias como rei poderoso, e seguir o caminho da cruz do Jesus servo sofredor. Deve despojar-se de tudo o que o mundo de ambição ao poder, riqueza e fama, prega e busca: “Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45).