ADENDAS À HISTÓRIA DA ROSEIRA Benedicto Lourenço Barbosa Certamente, o atual Município de Roseira não teve este nome quando da ocupação efetiva da região valeparaibana a partir de 1630 a 1650. Os primeiros proprietários, dos quais se tem registro, das terras hoje correspondentes ao atual município de Roseira e ao bairro Itaguaçu, em Aparecida, foram o Capitão Braz Esteves Leme e seu genro Antonio Zouro de Oliveira. O Capitão Braz Esteves Leme recebeu uma sesmaria, em 1647, medindo uma légua por légua e meia ou, aproximadamente, seis quilômetros de testada por nove quilômetros mato a dentro, a partir das margens do Rio Paraíba, no local denominado Itaguaçutiba. Antonio Zouro de Oliveira recebeu um quinhão menor: meia légua (três quilômetros). As terras envolviam os bairros roseirenses do Pedro Leme, Pirapitingui e Pindaitiba, avançando até a região dos Motas. As descrições suscintas que aparecem nos processos e inventários dificultam a localização precisa das terras. Outra dificuldade, em razão do desaparecimento de documentos cartoriais relativos ao registro de imóveis, é determinar os herdeiros proprietários de terras e moradores do atual município de Roseira por um longo tempo. Mas algumas incursões são possíveis. A FAMÍLIA SILVA BARROS ABREU A partir de 1789, há informações seguras de que veio e ocupou terras próximas ao Rio Pirapitingui o então Alferes Francisco da Silva Barros Abreu, nascido em Parati-RJ, em 1752, e que possuía terras na Serra de Quebra Cangalha. Sua primeira esposa, Maria Pereira Rangel ou Fialho de Jesus (falecida em 1799, deixando seis filhos), era da região e filha de Manoel Pereira Fialho e Maria Madalena de Jesus, neta materna de Margarida Nunes Rangel, doadora do Morro dos Coqueiros, onde foi levantada a Capela de Aparecida inaugurada a 26/07/1745. Em 1792, já com a patente de Tenente, tinha prosperado com engenho para produção de açúcar e aguardente e lavoura diversificada vindo a possuir escravos. Assim participava da vida política da Vila de Guaratinguetá, sendo eleito vereador. Escolhido para Presidente da Câmara, em 1796, tornou-se Juiz Ordinário, autoridade maior da Vila. Francisco da Silva Barros Abreu representava Roseira na administração da Vila e voltoria a ocupar os mesmos cargos, já com a patente de Capitão, em 1809. Em 1818, foi reformado como Sargento-Mor (equivalente a Major). Tetravô do autor deste texto, o Sargento-Mor faleceu, em 1821, com 69 anos. Do seu primeiro casamento nasceram os filhos: 1. Maria Fialho de Jesus, nascida por 1782 e casada com o Alferes Máximo do Rego Rangel, nascido em 1778. Cafeicultor em Aparecida, o Alferes era filho de Gonçalo do Rego Barbosa, senhor de engenho e de Margarida Nunes Rangel (neta). 2. Capitão João de Barros Abreu (1787-1831) casado com Francisca da Cunha Bueno, filha de Manuel Cubas do Prado e Margarida Bueno de Araújo, falecida em 1858, que foi importante fazendeira/cafeicultora nas Taipas-Roseira. 2.1. Major Vitoriano Pereira de Barros, nascido em Roseira, em 1818, e falecido em Guaratinguetá em 1893. Casado, em 1858, com Maria Jacinta França, falecida aos 13.12.1890, filha de Antonio Jacinto Guimarães e de Francisca Lescura França. Pais de, entre outros: 2.1.1. Antonio Pereira de Barros (1860-1901), fazendeiro em Roseira. 2.1.2. Major Francisco Pereira de Barros (1861-1804), fazendeiro em Roseira. 2.1.3. Francisca Pereira de Barros. 3. Tenente Joaquim da Silva Barros, nascido por 1790, casado com Ana Leite de Toledo ou Ana Joaquina de Toledo. 4. Alferes José da Silva Barros, nascido por 1791. 5. Anna Pereira Rangel, nascida por 1792, casada com Claro José de Gusmão, filho do Capitão João Peres de Gusmão e de Catharina Maria de Jesus. 6. Manoel da Silva Ramos ou Pereira de Barros, nascido por 1794 e falecido antes de 1824. Em 1800, o Sargento-Mor, em segundas núpcias, casou-se, na Vila de Guaratinguetá, com Antonia Maria Rangel, nascida 1782, viúva do Capitão Manoel José da Silva Reis, filha de Gonçalo do Rego Barbosa e de Margarida Rangel (neta). Pais de: 1. Capitão Francisco da Silva Barros (1802-1837), senhor de engenho no Pirapitingui, Roseira. Casado, em 1821, com Anacleta Policena dos Santos (trisavôs do autor) – 1802-1878 –, filha do Sargento-Mor Antonio dos Santos Silva, senhor de engenho no bairro dos Motas, e de Margarida Pereira Rangel ou Fialho Rangel. Deste mesmo tronco dos Barros Abreu descendem, entre outros, Capitão Manoel Pereira de Barros (1812-1884), fazendeiro em Roseira, e seu irmão Sargento-Mor/Major Vitoriano Pereira de Barros (18181893) que teve filhos fazendeiros e um médico. Dentre seus descendentes, um campeão sul-americano de hipismo, o Tenente Coronel da Força Pública, Rodopiano de Barros, dois Coronéis e um General. Alfredo de Barros Santos que deu no-me a um Colégio em Guaratinguetá e o Professor Doutor Oswaldo de Barros Santos, Professor de Psicologia da USP e escritor. O Major Vitoriano, com uma fortuna considerável, em 1874, hospedou o Conde d’Eu, esposo da Princesa Izabel em sua propriedade rural, quando lhe foi oferecido o título de Barão de Roseira. Mas o Major estava realmente interessado em uma Estação Ferroviária, o que poderia alavancar o progresso de Roseira e isto só foi possível graças a doação que fez de grande faixa de terras de sua propriedade. Também foi por sua influência que, em 1890, foi criada a Sub-delegacia de Polícia de Roseira. Do mesmo tronco descende Maria das Dores Cristina dos Santos (1826-1882), considerada, dada sua beleza, o sol de Guaratinguetá. Na sua viuvez teve, com o Visconde de Guaratinguetá, também viúvo, três filhas. Uma delas, Maria Francisca de Assis casou-se com o Capitão José Francisco Guimarães França, “O Capitão Roseira”. A FAMÍLIA PAULA SANTOS O Sargento-Mor Máximo dos Santos Souza (1770-1841) nascido na Freguesia do Facão, depois Vila de Cunha, filho do Sargento-Mor Vitoriano dos Santos Souza e de Isabel Maria dos Santos, casou-se com Ana Policena Angélica de Jesus (1772-1837), filha de José de Sá e de Francisca Maria de Jesus. Foi proprietário de terras próximo ao Ribeirão de Pirapitingui – Roseira, no final do século XVIII. Atuando na política, foi Vereador e Juiz Ordinário/Presidente da Câmara da Vila de Guaratinguetá em 1812 e 1816. Do seu casamento nasceram: 1. Maria Francisca dos Santos, casada com o Alferes Mariano Xavier de Castro, por sua vez, pais do Dr. José Manuel de Castro Santos, (1822-1872) médico, Deputado Provincial (1864-1865), Oficial da Ordem da Rosa pelo Governo Imperial e Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno pela Igreja e Cavaleiro da Ordem de Cristo pelo Governo Português. Casado com Pórcia Francisca dos Santos, por sua vez, pais do Dr. Licurgo de Castro Santos (1853-1893) médico com estágio em Viena e Paris, escrevia para os jornais O Atalaia, O Cinco de Janeiro e o Norte de São Paulo. 2. Alferes José Monteiro dos Santos (1799-depois de 1870). Fez parte da Guarda de Honra que acompanhou o Príncipe D. Pedro, Regente do Brasil, em agosto de 1822, rumo à São Paulo e Santos e certamente presenciou a proclamação de Independência. Foi Vereador à Câmara da Vila de Guaratinguetá (1837-1840). Teve Fazenda de Café e herdou de seus sogros a Fazenda Pau-Grande. Em 1834, casou-se com Anacleta Delminda de Jesus, filha do Tenente Francisco José Nogueira e Madalena Teresa de Jesus. O casal deixou grande descendência. 3. Major Máximo Monteiro dos Santos (1803-1871), fazendeiro em Roseira, com intensa atividade política na Vila de Guaratinguetá, onde foi Vereador. Casado, em primeiras núpcias, em 1832, com Benedita Francisca de Miranda, neta do Capitão-Mor Jerônimo Francisco Guimarães. Do casal nasceu: 3.1. Antonio Marques dos Santos, falecido em 1873, fazendeiro em Roseira. Casado, em 1856, com Maria Gertrudes Galvão de França (1836-1899), por sua vez, pais do Coronel Antonio Marques dos Santos (1857-1950), fazendeiro em Roseira, com grande descendência. 4. Capitão Francisco de Paula Santos (1807-1872), fazendeiro em Roseira, casado, em 1826, com Maria da Silva Rangel, filha do Alferes Máximo do Rego Rangel e de Maria Fialho de Jesus. Pais de: 4.1. Francisco de Paula Santos, fazendeiro em Roseira, casado com Maria Rita de Camargo, por sua vez, pais de: Francisco de Paula Santos, Coronel Antonio Augusto de Paula Santos e Coronel Benedito de Paula Santos. 4.2. Anacleta Maria dos Santos casada com Capitão Francisco Vieira de Novaes. 4.3. Ana Francisca dos Santos casada com Tenente José Monteiro dos Santos Júnior. 4.4. Capitão Máximo de Paula Santos, fazendeiro em Roseira, co-fundador do Partido Republicano e membro da Junta Governativa em Guaratinguetá quando da Proclamação da República. Casado com Francisca Ludovina de Moura. Pais de: Francisco de Paula Santos (18601950), dentre outros. ADENDAS À HISTÓRIA DE ROSEIRA II De acordo com as Atas da Câmara da Vila de Guaratinguetá Moura, em seu livro “Os Galvão de França no povoamento de Santo Antonio de Guaratinguetá”, à página 67, por determinação do Presidente da Província Paulista, Rafael Tobias de Aguiar, em Ofício à Câmara datado de 01.12.1832 e a Vila de Guaratinguetá foi dividido em dez districtos, sendo um deles o Distrito de Roseira que compreendia o bairro de Pirapitinguy e Itaguassú com cento e trinta e três fogos (133) e o Distrito de Capela de Aparecida com cento e vinte e um fogos (121). O Presidente da nova Câmara Antonio Clemente dos Santos, em 1833, propôs e a Câmara aprovou a divisão do termo de Vila em apenas dois distritos: o da Vila e o da Capela de Nossa Senhora Aparecida, que compreendia a Capela, Roseira e Potim até o alto da Serra da Mantiqueira. Com os novos Distritos foram nomeados pela Câmara três juizes da Paz para o Distrito da Capela e um deles era de Roseira, o Capitão João Galvão de França, proprietário da Fazenda Boa Vista e cafeicultor. E para o mesmo Distrito foram nomeados Inspetores de Quarteirões e dentre eles: Máximo Monteiro dos Santos, do Alto das Pedras até o Rio do Pedro Leme; Antonio Jacinto Guimarães do Rio do Pedro Leme até os limites de Pindamonhangaba e Gaspar Corrêa Leite – de Santa Cruz até o Ribeirão dos Mottas. Em 1936 o 2º Distrito da Capela foi suprimido. Quando da ereção da Freguesia de Aparecida, em 1842, José Monteiro dos Santos, de Roseira, foi nomeado Sub-Delegado de Polícia, em 1843. No abaixo-assinado para ereção e permanência da Freguesia de Aparecida, em 1842/3, muitos habitantes de Roseira assinaram favoravelmente, entre eles: José Galvão de França, Alexandre Galvão de França, João Galvão de França – Co-mandante Policial, Antonio Jacinto Guimarães, Maximo Monteiro dos Santos, Francisco de Paula Santos, Francisco Galvão de França, José Galvão de França Junior, João Euzébio de Souza, Manoel Pereira de Barros, Francisco de Paula Santos Junior. No movimento idêntico, entre 1872 e 1880, participaram também roseirenses das famílias: Paula Santos, França Guimarães, Galvão de França e Pereira de Barros dentre outras. Em ata da Câmara de Guaratinguetá de 05 de julho de 1894, há informação da construção pelos irmãos de São Benedito do Cemitério de Roseira Velha. Uma das seções eleitorais (6ª) em 1892 foi instalada na Capela da Estação de Roseira e a mesa receptora de votos composta por: Tenente Francisco Moreira de Souza, Francisco Pereira de Barros, José Candido Machado, José Antonio Calmon, Antonio Pereira de Barros Abreu, Francisco de Paula Santos, Francisco Augusto Rodrigues Alves e Francisco Antonio das Chagas Pereira. Em 1894 Roseira possuía 137 eleitores. Em 1896 é autorizada a instalação de oito lampiões em Roseira. Os membros da seção eleitoral de Roseira em 1896 são: Major Francisco Pereira de Barros, Francisco Antonio das Chagas Pereira e Major Francisco Moreira de Souza. Outros Dados 1796 e 1809 – Tenente Francisco da Silva Barros Abreu – Juiz Ordinário. 1812 e 1816 – Capitão Máximo dos Santos Souza – Juiz Ordinário da Vila de Guaratinguetá. 1816/7 – Cap. Francisco da Silva Barros Abreu, oriundo de Parati-RJ chegou em Pirapitingui (Roseira) em 1789. 1826 – Salvador Fernandes – protetor da Capela de Nossa da Piedade de Roseira-SP, faz prestação de contas. (Processo no Arquivo Judiciário do Museu Frei Galvão). 1828 – bairro denominado Roseira – maço 27/1828 (Arquivo Judiciário do Museu Frei Galvão). Final do século XIX e início do século XX há registros de familiares italianos em Roseira: os Fázzeri, os Caltabiano, os Giovanelli. BI-CAMPEÃO MUNDIAL DE FUTEBOL José Ely Miranda, nascido aos 08. 08.1932 na Estação de Roseira – Município de Aparecida, filho de Joaquim Miranda, negociante, e de Jandyra Barcellos Miranda, naturais de Barra Mansa e Jatahy do Norte. Avós paternos: Benedicto da Silva Miranda e Maria de Andrade Miranda, naturais de Guaratinguetá-SP e maternos: José Antonio Barcellos e Olívia Pimentel Barcellos, naturais de Franca-SP e Macahé-RJ. ECONOMIA DE ROSEIRA No final do século XVIII e início do século XIX a economia sustentava-se na agricultura de subsistência (arroz, feijão, milho, mandioca) e ainda caça, pesca e criação de animais para consumo e ainda na produção de cana-de-açúcar, açúcar e aguardente, com um grupo de fazendeiros, senhores de engenho. A partir das décadas de 1830/1840 até 1930, os fazendeiros e sitiantes, além das produções anteriores vão dedicar-se a lavoura cafeeira, quando há um certo acúmulo de capital e ostentação de riqueza. A partir de 1930, a produção leiteira assume papel preponderante com a criação de cooperativas e melhoria do plantel de gado. INSPETORES DE QUARTEIRÃO EM ROSEIRA 1893 Joaquim Antonio de Miranda Antonio Marques dos Santos Francisco José das Chagas Marcelino de Paula Oliveira Paulino Corrêa Leite 1897 Ambrósio Augusto Santos Velho Antonio Marques dos Santos João Miguel da Silva Antonio Ignácio de Gusmão Data ? João Amâncio dos Reis Manoel Alves do Couto Antonio Ignácio de Gusmão Data ? Antonio dos Santos Rangel Avelino Rodrigues Barbosa João Miguel da Silva João Amâncio dos Reis. SUB-DELEGADOS DA POLÍCIA DE ROSEIRA / DISTRITO POLICIAL DE ROSEIRA 1891 – Máximo de Paula Santos 1900 – Francisco Moreira / Antonio Rangel de Barros França 1907 – Bonifácio Pereira de Campos Silva 1925 – Benedito Miguel da Silva SUB-PREFEITOS DE ROSEIRA-SP 1. Joaquim Miranda 2. Antonio Fazzeri 3. Célio David Bustamante Reis DISTRITO DE PAZ DE ROSEIRA-SP 1892/3 – Distrito de Paz de Aparecida e Roseira Em 1946, Roseira é elevada a condição de Distrito, tendo Cartório de Registro Civil com o Oficial Sebastião Torquato da Silva Valle. PROFESSORES 1. José Monteiro de Meireles Leite, professor público para a cadeira de Primeiras Letras, sexo masculino, do bairro de Roseira – 1870. 2. José de Paula dos Santos Silva, professor com residência em Pindaitiba – 1876. 3. Francisco Antonio das Chagas Pereira – 1892. 4. Francisco de Paula Santos – 1893. 5. Luiza de Paula Santos – 1893. 6. José Antonio Calmon – 1894. 7. Adelaide Nunes Calmon – 1894. 8. Escolas Reunidas da Estação de Roseira – 1º Diretor: Antonio Vieira Filho, genro do Professor José Antonio Calmon – 1922. Benedicto Lourenço Barbosa é autor do livro Nossas Origens - três séculos de história de Aparecida.