CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM
AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO
COMPOSIÇÃO DE LIBÉLULAS (ODONATA) EM DIFERENTES
AMBIENTES DA FLORESTA NACIONAL DE SÃO FRANCISCO DE
PAULA, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
Samuel Renner
Lajeado, Novembro de 2014
Samuel Renner
COMPOSIÇÃO DE LIBÉLULAS (ODONATA) EM DIFERENTES
AMBIENTES DA FLORESTA NACIONAL DE SÃO FRANCISCO DE
PAULA, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Ambiente e Desenvolvimento do
Centro Universitário Univates como requisito parcial
para a obtenção de título de Mestre em Ambiente e
Desenvolvimento.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Périco
Lajeado, Novembro de 2014
Samuel Renner
COMPOSIÇÃO DE LIBÉLULAS (ODONATA) EM DIFERENTES
AMBIENTES DA FLORESTA NACIONAL DE SÃO FRANCISCO DE
PAULA, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
A banca examinadora abaixo aprova a Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Ambiente e Desenvolvimento, do Centro Universitário Univates,
como parte da exigência para a obtenção do grau de Mestre em Ambiente e
Desenvolvimento, da área de concentração Ecologia:
Prof. Dr. Eduardo Périco - Orientador
Centro Universitário Univates
Prof. Dr. Noeli Juarez Ferla
Centro Universitário Univates
Dra. Samantha Alves Seixas
(Bolsista
PNPD/CAPES)
Univates
Dra. Eliane Fraga da Silveira
ULBRA - RS
Lajeado, Novembro de 2014
Centro
Universitário
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu pai e à toda minha família pelo apoio que me foi dado.
À minha namorada Denise, pelo auxílio nos trabalhos em campo, na coleta de
dados, coleta de espécimes, apoio logístico e moral.
Sou grato ao meu Orientador Prof. Dr. Eduardo Périco, pela ampla contribuição e
apoio ao trabalho desenvolvido, bem como ao Dr. Göran Sahlén pelas valiosas
orientações.
Agradeço aos meus colegas do Laboratório de Ecologia e Sensoriamento Remoto,
pela colaboração tanto em trabalhos de campo como nos trabalhos internos no
laboratório.
Agradeço a concessão de bolsa integral pela CAPES (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior).
RESUMO
A fragmentação dos ambientes causada pelo desenvolvimento humano, trás consigo
muitas consequências, sendo a principal delas o desequilíbrio ecológico, perda de
biodiversidade e degradação dos ambientes aquáticos. Um dos mais ricos biomas
do nosso planeta é a Floresta Atlântica, o qual ainda é pouco conhecido para
determinados grupos animais, um exemplo disso é a ordem Odonata. Este bioma
encontra-se atualmente fragmentado, recebendo todo o tipo de pressão. A formação
florestal encontrada no sul do Brasil, é a Floresta Ombrófila Mista (FOM), uma
formação florestal pertencente ao Bioma Mata Atlântica. No Estado do Rio Grande
do Sul, o bioma Mata Atlântica ocupava as regiões mais altas e de encosta, cobrindo
praticamente toda metade norte do estado. A FOM é caracterizada principalmente
pela presença da Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze (Araucariaceae).
Atualmente os fragmentos remanescentes da FOM encontram-se dispersos em
matriz de campo, agricultura ou áreas urbanas. Neste contexto o inventariamento de
espécies desempenha um valioso papel na conservação destes remanescentes
florestais. O presente trabalho foi desenvolvido em um grande fragmento de floresta,
o qual contempla uma reserva ecológica: a Floresta Nacional de São Francisco de
Paula/RS. Foi desenvolvido um inventariamento de espécies de Odonata, utilizandose 30 pontos de amostragem, distribuídos entre quatro tipos de vegetação e três
tipos de sistemas aquáticos. Foram registradas 47 espécies, distribuídas entre oito
famílias. A composição da assembleia de Odonata foi comparada entre diferentes
tipos de ambientes aquáticos: rios, lagos e banhados, e diferentes tipos de
formações vegetais: mata nativa (FOM), araucária plantada, Pinus e campos. Foi
encontrada maior riqueza de espécies em florestas de pinus, sendo esta composta
principalmente por espécies generalistas. Foi utilizada e adaptada uma metodologia
de seleção de espécies indicadoras de qualidade ambiental. Assim aprofundou-se o
escasso conhecimento sobre esta ordem na Floresta Atlântica/FOM, gerando uma
contribuição para medidas futuras de conservação e definição de áreas de proteção
ambiental.
Palavras-chave: Floresta Ombrófila Mista, Odonata, ecologia, conservação.
ABSTRACT
The human development brings several consequences to the environment, being the
most remarkable the fragmentation of natural systems, resulting in ecological
imbalance, biodiversity loss and degradation of the watershed. One of the richest
biomes of this planet is the Atlantic Forest, which still poorly known in many animal
groups, one example is the Odonata order. Actually this biome remains, under
pressure in a fragmented mosaic. The forest formation occurring in the South of
Brazil is the Mixed Ombrophilous Forest (MOF), a subtype of the Atlantic Forest. In
the state of Rio Grande do Sul, this biome covered the high regions and the slopes of
the Atlantic Ocean, occurring mostly in the northern half of the state. The MOF is
remarkable by the presence of the Brazilian Pine (Araucaria angustifolia). Nowadays
the remnants of the MOF are disperse in open fields, agriculture or urban matrix. In
this context, the species inventory can play a key role in the conservation of these
forest remnants. The present study was developed in a big forest fragment, in which
exists an ecologic reserve: the Floresta Nacional de São Francisco de Paula, RS.
The dragonfly species inventory was performed by sampling 30 aquatic sources
distributed in four vegetation types and three types of aquatic systems. Were
registered 47 species scattered in eight families. The Odonata assemblages found in
all the types of water (rivers, lakes and swamps) and vegetation types (MOF,
araucaria forest, pinus forest and open fields) were statistically compared. In the
pinus areas was found the richest assemblage, being composed mainly by generalist
species. Was applied and adapted a known methodology for the selection of
potential indicator species. The poor knowledge of the Odonata order was improved
in the Atlantic Forest/MOF, contributing for future conservation measures and
definition of priority protection areas.
Keywords: Mixed Ombrophilous Forest, Odonata, ecology, conservation.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localização do município de São Francisco de Paula, no estado do Rio
Grande do Sul e no Bioma Mata Atlântica.................................................................24
Figura 2 - Uso e ocupação do solo na Floresta Nacional de São Francisco de Paula,
Unidade de Conservação de Uso Sustentável...........................................................26
Figura 3 - Pontos de amostragem de Odonata, na FLONA-SFP, RS........................29
Figura 4 - Percentual encontrado das famílias das Subordens Zygoptera e
Anisoptera, encontradas na FLONA - SFP, RS.........................................................33
Figura 5 - Registros de espécies das subordens de Odonata nos ambientes
aquáticos com seus respectivos ambientes conforme seu tipo de vegetação e tipo de
ambiente aquático, na FLONA - SFP, RS. Siglas: RA = Rio/Araucária Plantada; SA =
Banhado/Araucária Plantada; LA = Lago/Araucária Plantada; RN = Rio/Floresta
Nativa; SN = Banhado/Floresta Nativa; SP = Banhado/Pinus; LP = Lago/Pinus; LO =
Lago/Campo e RO = Rio/Campo...............................................................................36
Figura 6 - Curva do coletor, com os respectivos desvios padrão para cada localidade
de coleta, na FLONA - SFP, RS, indicando riqueza estimada (Chao 1)....................37
Figura 7 - NMDS da riqueza de Odonata em todas as áreas amostradas na FLONA SFP, RS, separadas pelas classificações ambientais: RA = Rio/Araucária Plantada;
SA = Banhado/Araucária Plantada; LA = Lago/Araucária Plantada; RN = Rio/Floresta
Nativa; SN = Banhado/Floresta Nativa; SP = Banhado/Pinus; LP = Lago/Pinus; LO =
Lago/Campo e RO = Rio/Campo...............................................................................38
Figura 8 - Riqueza média e desvio padrão entre os tipos de formações vegetais das
localidades amostradas na FLONA - FSP, RS..........................................................41
Figura 9 - NMDS da riqueza de espécies nas quatro formações vegetais amostradas
na FLONA - SFP, RS.................................................................................................42
Figura 10 - Média e desvio padrão da riqueza de Odonata, conforme o tipo de
ambiente aquático encontrado nas localidades de amostragem na FLONA - SFP,
RS...............................................................................................................................43
Figura 11 - NMDS da riqueza de espécies de Odonata entre os tipos de ambientes
aquáticos encontrados nas localidades de amostragem na FLONA - SFP,
RS...............................................................................................................................44
Figura 12 - Média e desvio padrão da riqueza de espécies nas três estações em que
foram realizadas coletas, na FLONA - SFP, RS, no ano de 2014.............................45
Figura 13 - NMDS da riqueza de espécies encontrada por estações do ano
amostradas na FLONA - SFP, RS..............................................................................47
Figura 14 - Matriz gerada pelo programa NTCP, agrupando as espécies por padrões
de ocorrência. No eixo y estão representados os 30 pontos de amostragem, no eixo
X as espécies amostradas. Em verde, espécies da subordem Zygoptera e em rosa,
espécies da subordem Anisopteptera........................................................................48
Figura 15 - As 27 espécies destacadas como possíveis indicadoras, seguindo o
mesmo critério aplicado em Sahlén e Ekestubbe (2001)...........................................49
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Pontos de coleta, coordenadas, tipo de ambiente aquático e tipo de
vegetação, inseridos na FLONA - SFP, RS...............................................................28
Tabela 2 - Espécies identificadas nos 30 pontos de coleta divididos por tipo de
vegetação. Siglas: RA = Rio/Araucária Plantada; SA = Banhado/Araucária Plantada;
LA = Lago/Araucária Plantada; RN = Rio/Floresta Nativa; SN = Banhado/Floresta
Nativa; SP = Banhado/Pinus; LP = Lago/Pinus; LO = Lago/Campo e RO =
Rio/Campo)................................................................................................................35
Tabela 3 - Seleção final de espécies consideradas potenciais indicadoras de riqueza
de espécies e qualidade ambiental. Estações: V = Verão; O = Outono e P =
Primavera...................................................................................................................50
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................12
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................15
2.1 Fragmentação e a Floresta Atlântica................................................................15
2.2 Ambientes aquáticos e a conservação da biodiversidade.............................17
2.3 Ordem Odonata..................................................................................................18
3 OBJETIVOS............................................................................................................23
3.1 Objetivo geral......................................................................................................22
3.2 Objetivos específicos.........................................................................................22
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...............................................................24
4.1 Caracterização da paisagem.............................................................................24
4.2 Áreas de estudo / localidades de amostragem...............................................27
4.3 Coleta de dados..................................................................................................30
4.4 Inventariamento de espécies............................................................................31
4.5 Análise dos dados..............................................................................................31
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................33
5.1 Inventariamento de espécies............................................................................33
5.2 Suficiência amostral...........................................................................................38
5.3 Composição da assembleia de Odonata por tipo de ambiente florestal
amostrado.................................................................................................................40
11
5.4 Composição da assembleia de Odonata por tipo de ambiente aquático
amostrado.................................................................................................................42
5.5 Sazonalidade.......................................................................................................45
5.6 Espécies generalistas, especialistas e potenciais indicadores....................48
6 CONCLUSÕES.......................................................................................................52
REFERÊNCIAS..........................................................................................................53
12
1 INTRODUÇÃO
Todos os sistemas biológicos vêm, há milhares de anos, sendo impactados
pelo crescimento da população humana sobre a Terra. As demandas desta
crescente população acabam por pressionar e alterar muitos dos ecossistemas, os
quais muitas vezes acabam por perder o seu equilíbrio e a sua diversidade,
adquiridos ao longo de milhões de anos.
A Floresta Atlântica é o berço de um dos mais ricos ecossistemas de todo o
planeta (SICK, 1982) e, atualmente um dos mais fragmentados ambientes devido às
atividades humanas. Menos de 7% da Mata Atlântica original persiste em um
sistema altamente fragmentado, que originalmente cobria aproximadamente 15% de
toda área do Brasil (GOERCK, 1997). Dentro deste bioma encontra-se a Floresta
Ombrófila Mista (FOM), uma formação caracterizada pela presença de Araucaria
angustifolia (Bertol.) Kuntze (Araucariaceae), a qual apresenta toda uma gama de
interações ecológicas importantes dentro deste sistema.
No Rio Grande do Sul e na Região Sul do Brasil, em geral, a Floresta
Ombrófila Mista encontra-se no limiar de seu desaparecimento, devido à exploração
e ampliação da agricultura ocorrida nos últimos séculos, persistindo em pequenos
remanescentes que ocorrem em propriedades particulares ou em unidades de
conservação (BACKES, 2001).
Neste
mesmo
contexto,
os
ambientes
aquáticos
inseridos
nestes
remanescentes florestais, acabam por sofrer toda a carga de pressões decorrentes
13
das perdas e alterações que vêm sendo impostas pelo desenvolvimento humano,
assim respondendo de diversas formas a estes impactos, sendo a mais notável a
perda de diversidade (CORBET, 1999).
O maior problema para a conservação das florestas tropicais é a escassez de
informações que permitam o estabelecimento de prioridades e medidas de
conservação, convertendo-as em ações práticas. Isto se deve principalmente à
pequena disponibilidade de inventariamentos faunísticos, limitando o conhecimento
da distribuição e abundância das espécies. Pesquisas faunísticas são uma excelente
ferramenta para a conservação, gerenciamento de ecossistemas e proteção
ambiental, não sendo somente representações de biodiversidade, pois servem
também como indicadores de condições ambientais, uma vez que muitas espécies
apresentam restrições bióticas e abióticas para que seja possível a sua ocorrência
em determinados ambientes (OERTLI, 2008; SAMWAYS, 1996; MOORE, 1984).
Nos sistemas aquáticos que estão sobre extrema pressão, libélulas e
libelinhas (Odonata) geralmente estão entre os mais significantes organismos
(SAMWAYS, 1999), sendo de grande importância na conservação contemporânea.
Libélulas são particularmente abundantes em águas quentes de áreas baixas nas
regiões tropicais e subtropicais. Ao longo dos últimos trinta anos esta Ordem tem
sido uma das mais estudadas no hemisfério Norte, porém estes estudos continuam
escassos na região Neotropical (GARRISON; VON ELLENRIEDER; LOUTON,
2010). Apenas 29% do território brasileiro apresenta dados sobre riqueza de
espécies de Odonata (DE MARCO; VIANNA. 2005).
Conhecendo a diversidade de insetos da Ordem Odonata, é possível que se
tenha uma percepção dos níveis de preservação das áreas avaliadas, pois muitas
espécies desta ordem apresentam restrições ecológicas as quais ocasionam, ou
não, a ocorrência destas espécies, fazendo assim, com que estas atuem como
potenciais indicadores de qualidade e de riqueza de espécies (RENNER; PÉRICO;
SAHLÉN, 2013; SAHLÉN; EKESTUBBE, 2001).
Com o desenvolvimento de inventariamento de uma área é possível obter a
análise da composição regional das espécies, dos padrões de distribuição ao longo
14
das estações do ano e a definição com base nestes dados de um grupo de espécies
consideradas potenciais indicadoras de riqueza (LEWIS, 2006).
O presente estudo foi desenvolvido em diversas áreas de florestais ocorrentes
na Floresta Nacional de São Francisco de Paula, na região nordeste do Rio Grande
do Sul. O objetivo do presente estudo consistiu na comparação de riqueza e
diversidade de insetos da Ordem Odonata, em diversos ambientes aquáticos
inseridos dentro da reserva.
A análise de riqueza foi alimentada por dados coletados em campo
sazonalmente, oriundos de diversos tipos de ambientes aquáticos, como rios, lagos,
banhados, todos inseridos em Mata Nativa (FOM), áreas de reflorestamento com
Araucaria angustifólia (plantada), áreas plantadas com Pinus eliotti Engelm.
(Pinaceae) e áreas de campo aberto, sendo todas inseridas dentro da Floresta
Nacional de São Francisco de Paula (RS).
A partir do conhecimento dos padrões de ocorrência, riqueza e diversidade foi
possível uma análise comparativa destes diversos ambientes, destacando-se
potenciais espécies indicadoras de qualidade ambiental. Ampliou-se o conhecimento
da ordem Odonata na região, contribuindo assim, para medidas de conservação e
preservação das espécies ocorrentes no bioma Mata Atlântica.
15
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Fragmentação e a Floresta Atlântica
A alteração da paisagem nos ecossistemas terrestres tem sido o principal
efeito do crescimento da população humana e dos avanços tecnológicos. São várias
as transformações de sistemas naturais que estão diretamente relacionadas às
atividades humanas. Habitats que no passado ocupavam grandes extensões, agora
são modificados pelas monoculturas, agropecuária, cidades, estradas e tantas
outras ações humanas, formando fragmentos de diversas formas e tamanhos
(SAUNDERS; HOBBS; MARGULES, 1996; WIENS, 1989; TURNER, 1996;
PRIMACK; RODRIGUES, 2001).
A fragmentação é um processo onde um habitat é parcialmente ou totalmente
removido, alterando a sua configuração original. Há a remoção da vegetação nativa
e os remanescentes são fragmentos dispostos na paisagem, com uma matriz
diferente da original. Consequentemente há a redução da área total de habitat
disponível e o seu isolamento (SAUNDERS; HOBBS; MARGULES, 1996; TURNER,
1996; GIMENES; ANJOS, 2003). Assim, a fragmentação acaba por gerar uma
paisagem alterada, onde os remanescentes florestais ficam imersos em matriz de
agricultura,
vegetação
secundária,
solo
degradado
ou
áreas
urbanizadas
(KRAEMER, 1997).
Entre as consequências destas alterações, o efeito de borda também é
considerado um dos efeitos da fragmentação, ocorrendo nas regiões onde os
16
fragmentos florestais ficam expostos ou em contato com matriz diferenciada,
expondo os elementos bióticos ali presentes a diferentes condições de umidade,
temperatura, luminosidade e vento. Condições que por si só, já podem ocasionar a
morte ou migração de espécies restritas e pior ainda, atrair espécies oportunistas
que antes não ocupavam aquela área, gerando ainda mais desequilíbrio ecológico
(KRAEMER, 1997).
A destruição de habitat e a fragmentação são as maiores ameaças à
biodiversidade (MYERS, 2000; PIMM; RAVEN, 2000). A fragmentação de habitats
reduz a diversidade de espécies e o tamanho populacional, mas nem todas as
espécies são igualmente afetadas. Segundo a teoria, são as espécies de níveis
tróficos superiores as mais afetadas pelo processo de fragmentação (HOLT et al.
2013), seguidas por, espécies especializadas em seus habitats ou em seus recursos
alimentares (LEGENDRE; LEGENDRE, 1998), espécies com pouca dispersão
(STOKS; MCPEEK, 2003), espécies com amplitude geográfica restrita (LEGENDRE;
LEGENDRE, 1998), espécies com baixa densidade populacional e espécies com
flutuações populacionais.
A Floresta Atlântica é conhecida por abrigar uma das maiores biodiversidades
do planeta, sendo um dos biomas mais ricos existentes (SICK, 1982). Porém, este
bioma encontra-se muito ameaçado, devido ao progresso humano, o qual ocasionou
a fragmentação destas matas que originalmente cobriam 15% do território brasileiro.
Restam atualmente menos de 7% da Floresta Atlântica original na forma de
fragmentos florestais de diversas formas e tamanhos (GOERCK, 1997).
A redução da área da Floresta Atlântica é inevitável frente ao crescimento da
pecuária e agricultura, aumentando assim a fragmentação dos habitats e tornando a
continuidade deste bioma num dos maiores desafios para os programas de
conservação (BACKES, 2001).
Entre as formações florestais do Estado do Rio Grande do Sul, encontra-se a
FOM, uma formação florestal pertencente ao bioma Floresta Atlântica, sendo
composta por espécies vegetais de origem austral-andina e afro-brasileira
(VELOSO; RANGEL FILHO; LIMA, 1991). A presença de A. angustifolia com grande
abundância caracteriza um aspecto fitofisionômico próprio desta formação. Esta
17
floresta ocorre de forma intercalada com áreas savânicas e estépicas, formando um
sistema de mosaico, característico da Região dos Campos de cima da Serra, no Rio
Grande do Sul (BACKES, 2001).
A região nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, onde insere-se o
município de São Francisco de Paula, tem sido ao longo dos dois últimos séculos,
alvo do avanço da agricultura e pecuária. Além disso, a ampla exploração da
Araucária ocasionou e ainda ocasiona mais desmatamento, dada a extrema
qualidade de sua madeira, que oferece uma ampla gama de aplicações desde a
construção civil até a produção naval (HUECK, 1972).
2.2 Ambientes aquáticos e a conservação da biodiversidade
Os recursos aquáticos situados nos remanescentes florestais encontram-se
sob pressão, bem como as espécies que deles dependem para sobreviver
(CORBET, 1999). Diante desta realidade, o gerenciamento dos habitats aquáticos e
bacias hidrográficas requerem o desenvolvimento de uma avaliação compreensiva e
métodos de monitoramento (OERTLI, 2008). Os efeitos da fragmentação florestal
sobre a fauna têm sido focados principalmente em pássaros e mamíferos (DE
VILLIERS 2009; PIRATELLI et al. 2008), existindo relativamente poucos trabalhos
com insetos (PIMM; RAVEN, 2000; FRANK; MATA, 2004). Grupos taxonômicos
como quirópteros (CUNTO; BERNARD, 2012), mamíferos florestais (SEBASTIÃO;
GRELLE, 2009), plantas em geral ou espécies-alvo específicas são muito restritas
(KESSLER; BACH, 1999), para a obtenção de uma visão geral de suas
composições.
Os poucos trabalhos publicados com invertebrados envolvem Lepidópteros
(BECCALONI; GASTON, 1995) e macro invertebrados bentônicos (FENOGLIO;
BADINO; BONA, 2002), provendo uma pequena gama de indicadores úteis, além
disso, ainda hoje existem amplos ecossistemas onde ainda não foram propostos
bioindicadores, pelo menos não para todos os tipos ambientes inseridos neste.
18
O maior problema para a conservação das florestas tropicais é a escassez de
informações que permitam o estabelecimento de prioridades e medidas de
conservação em ações práticas. Isto se deve principalmente à pequena
disponibilidade de inventariamentos faunísticos, limitando o conhecimento da
distribuição e abundância das espécies. Pesquisas faunísticas são uma excelente
ferramenta para direcionar as estratégias para a conservação, gerenciamento de
ecossistemas e proteção ambiental, não sendo somente representações de
biodiversidade, pois servem também como indicadores de condições ambientais.
Apesar dos recentes esforços, os estudos sobre a fauna e flora Neotropical
foram publicados ou estão em processo de publicação, porém, esta região continua
muito longe do nível de conhecimento alcançado na Europa e no hemisfério norte.
Na América Latina ainda existem regiões onde pode-se fazer a pergunta: “Quantas
espécies existem aqui?” (MAY, 1998; SCOTLAND; WORTLEY, 2003). Informações
sobre diversidade adquirem mais relevância a cada dia, visto que dados de
ocorrência, distribuição e riqueza de espécies podem prover valiosas ferramentas no
estudo dos impactos humanos sobre os ambientes (LEWIS, 2006). Para a definição
e priorização de áreas em consideração para a preservação, biólogos e órgãos de
gerenciamento necessitam de informações concisas sobre as riqueza e abundância
de espécies, especialmente em ambientes ameaçados (KERR; SUGAR; PACKER,
2000).
Selecionar indicadores a partir de uma lista completa de espécies parece ser
uma tarefa difícil, dada a amplitude de táxons ocorrentes nas zonas tropicais, assim
a seleção de um táxon alvo é uma alternativa de indicação da atual condição
ambiental de uma determinada região (PALMER, 1995). Os critérios para a escolha
de um táxon alvo são o potencial de resposta que este apresenta diante de
modificações ambientais, e a facilidade de monitoramento do mesmo (KREMEN et
al. 1993).
2.3 Ordem Odonata
19
Um grupo bem conhecido por prover indicações no campo da biologia da
conservação são os representantes da Ordem Odonata (SAHLÉN; EKESTUBBE,
2001), a qual tem sido utilizada como fonte de espécies indicadoras por diversos
autores (ex.: CARLE, 1979; CASTELLA, 1987; CLARK; SAMWAYS, 1996; MOORE,
1984; SCHMIDT, 1985).
Um exemplo vindo dos trópicos é o estudo desenvolvido por Machado
(2001) no Brasil, onde espécies generalistas com ampla distribuição geográfica se
mostraram predominantes em campos abertos e locais antropizados, enquanto as
espécies com distribuição mais restrita foram predominantes nos ambientes
florestais. De acordo com Samways e Seytler (1995) e Stewart e Samways (1998),
as comunidades de Odonata em ambientes perturbados muitas vezes apresentam
uma baixa riqueza de espécies, consistindo basicamente em espécies generalistas.
A presença ou ausência de determinadas espécies é o reflexo das atividades
humanas ocorrentes nas vizinhanças dos ambientes aquáticos (RITH-NARAJAN,
1998; SAHLÉN, 1999) bem como nos componentes estruturais bióticos dos
remanescentes florestais pesquisados. É possível que se estabeleçam relações
diretas entre fatores ambientais (bióticos e abióticos) e a composição de espécies,
sendo estes fatores os determinantes para a ocorrência ou ausência de algumas
espécies, dadas as suas restrições e necessidades ecológicas (PAULSON, 2006;
JUEN; CABETTE, DE MARCO, 2007)
Organismos da Ordem Odonata geralmente estão entre os mais significantes
insetos nos sistemas que estão sob pressão (SAMWAYS, 1999), sendo importantes
organismos foco na conservação contemporânea. Libélulas são particularmente
abundantes em águas quentes de áreas baixas nas regiões tropicais e subtropicais.
Ao longo dos últimos trinta anos esta Ordem tem sido uma das mais estudadas pelo
mundo, porém
estes estudos continuam
escassos na
região
Neotropical
(GARRISON; VON ELLENRIEDER; LOUTON, 2010). Apenas cerca de 29% do
território brasileiro apresenta algum tipo de inventário de riqueza de espécies de
Odonata (DE MARCO; VIANNA, 2005).
Dunkle (2000), constatou que libélulas (Anisoptera) e libelinhas (Zygoptera)
estão entre os mais visíveis indicadores de diversidade e saúde dos ambientes
20
aquáticos, e a composição das espécies permite o monitoramento de mudanças das
condições ambientais. Devido às variações específicas que estes insetos
apresentam quanto à tolerância de certas circunstâncias ambientais, estes são
amplamente utilizados como indicadores, sendo uma ferramenta confiável de
monitoramento ambiental (BARBOUR et al. 1999).
Espécies restritas a certas condições ambientais, são melhores indicadoras
do que espécies generalistas, estas devem ser seletivas não somente quanto aos
locais de reprodução, mas também serem comuns o suficiente para serem
detectadas em um breve inventário (SAMWAYS; CALDWELL; OSBORN, 1996).
No estágio larval as libélulas são melhores indicadores do que no estágio
adulto, entretanto, este trabalho foi realizado utilizando-se de espécimes adultos
devido à escassez de informações sobre larvas (chaves de determinação), a maioria
das espécies neotropicais pode apenas ser identificada através dos adultos ao invés
de larvas, que continuam pouco conhecidas e que em sua maioria ainda não foram
descritas (GARRISON; VON ELLENRIDER; LOUTON, 2006; SAHLÉN, 1999).
Carvalho et al. (2013), sugerem que indicadores da Ordem Odonata em
trabalhos de avaliação ambiental em relação à composição de espécies, deve ser
considerada em nível de Subordem. Devido às diferenças da forma e tamanho
corporal, as quais afetam o processo de termorregulação, é esperado que
representantes da Subordem Anisoptera sejam mais abundantes em áreas abertas,
pois estes requerem mais exposição à luz solar (energia solar) para se aquecerem e
tornarem-se ativas (CORBET; MAY, 2008). No cenário oposto, os representantes da
Subordem Zygoptera são esperados de ocorrer mais com mais frequência em áreas
com vegetação abundante, e cobertura arbórea.
Outro fator importante a ser considerado é a sazonalidade, pois tem influência
direta sobre a regulação do ciclo de vida destes insetos: os insetos da ordem
Odonata são regidos por restrições ambientais (JOHANSSON; ROWE, 1999). As
estações do ano, por meio das variações de temperatura e fotoperíodo, agem como
fatores que guiam a regulação dos ciclos de vida em todos organismos, afetando
diretamente as estratégias e padrões de crescimento, tempo de emergência, bem
como o comportamento e assimilação de metabólitos (NORLING, 1984; STOKS;
21
CORDOBA-AGUILAR, 2012). Os fatores elementares da sazonalidade em
comunidades aquáticas neotropicais, são ainda menos conhecidos do que as
próprias comunidades, sendo possível o acesso a poucas informações básicas em
CORBET; SUHLING; SOENDGERATH (2006), que sugerem que pelo menos 75%
das espécies subtropicais são univoltinas, ou seja, apresentam ciclo de vida de um
ano ou menos, diferentemente das espécies de regiões temperadas, cujo ciclo de
vida demanda mais de um ano para ser completado.
Dentre os reflexos já conhecidos das restrições ambientais e condições de
estresse, muitos podem se enquadrar na teoria da história de vida, segundo o qual
constata-se que eventos como padrões de crescimento larval, idade e tamanho de
maturação, maturação sexual e reprodução são resultados de decisões estratégicas
sobre o ciclo de vida dos organismos (STEARNS, 1992; MC NAMARA; HOUSTON,
1996). A teoria da história de vida também explica como a seleção natural esculpiu
estes aspectos adaptativos em relação aos fatores ambientais, fazendo com que os
organismos atendam certos requerimentos para que seja possível a sua ocorrência
em ambientes novos (NYLIN; GOTTHARD, 1998). Isto ocorre devido ao fato de toda
e qualquer das características mencionadas, sejam comportamentais, fisiológicas ou
imunológicas, afetam o sucesso das espécies na colonização de novos ambientes,
estando estes então, de certa forma sofrendo algum processo de seleção natural
(GOTTHARD, 2001). As consequências destes ajustes podem ser detectadas
através de experimentos comparando populações com diferentes distribuições
geográficas em diferentes gradientes de temperatura (SCHMITZ, 2013).
Dado o pouco conhecimento que se tem sobre as espécies ocorrentes na
região Sul do Brasil e do amplo grau de distúrbios ocasionados pelas atividades
humanas ocorrentes nessa região, foi despertado o interesse de se pesquisar
através do inventariamento de espécies e seleção de potenciais espécies
indicadoras
de
riqueza
em
Floresta
Atlântica
(FOM),
comparando-se
as
comunidades com diferentes formações vegetais, o que já foi previamente e
amplamente explorado no hemisfério norte (SAHLÉN; EKESTUBBE, 2001).
Desenvolvendo um inventariamento tornou-se possível a análise estatística
da composição regional de espécies nos diferentes ambientes da Floresta Nacional
de São Francisco de Paula, RS. A produção de uma visão geral dos padrões de
22
distribuição ao longo das estações do ano e a definição com base nestes dados, de
um grupo de espécies consideradas potenciais indicadoras de riqueza de espécies.
Como consequência foi possível
Odonatologia na região Neotropical.
o aprofundamento do conhecimento da
23
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Identificar e comparar a diversidade e riqueza de espécies de Odonata na
Floresta Nacional de São Francisco de Paula, RS, relacionando os diferentes
ambientes aquáticos e formações vegetais encontradas na área.
3.2 Objetivos Específicos
- Analisar a composição e riqueza de espécies de Odonata nos quatro tipos
de vegetação encontrada nos locais de amostragem: Mata Nativa (FOM), Floresta
de Araucária, Floresta de Pinus e Campos;
- Analisar a composição e riqueza de espécies de Odonata em relação aos
tipos de ambientes aquáticos encontrados nos locais de amostragem: Rios, Lagos e
Banhados;
- Analisar de forma geral a distribuição sazonal das espécies agrupando odos
os tipos de ambientes;
- Determinar potenciais espécies indicadoras de qualidade ambiental para
esta região.
24
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 Caracterização da paisagem
As áreas de estudo se localizam sob o domínio do bioma Mata Atlântica, no
município de São Francisco de Paula, na bacia do Rio dos Sinos, Rio Grande do
Sul, Brasil (Figura 1).
Figura 1 - Localização do município de São Francisco de Paula, no estado do Rio
Grande do Sul e no Bioma Mata Atlântica.
Fonte: Elaborado por Daniel Martins dos Santos, Setor de Ecologia e Sensoriamento Remoto (MCN Univates).
25
A Floresta Nacional de São Francisco de Paula (FLONA – SFP, RS) (29°
25’22,4’’S;
50°23’11,2’’W),
administrada
pelo
Instituto
Chico
Mendes
de
Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), constitui-se em uma Unidade de
Conservação de Uso Sustentável (UC’s), caracterizando-se como uma área com
cobertura florestal de espécies predominantemente nativas. O objetivo básico das
Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da natureza com o uso
sustentável de parcela dos seus recursos naturais (Lei 9.985/2000). A FLONA é
caracterizada pelos Campos de Cima da Serra (Estepe) e pelas matas com
araucária (Floresta Ombrófila Mista ou Floresta Atlântica – lato sensu).
O clima da região é do tipo Cfb no sistema de Köppen, mesotérmico, úmido,
com precipitação uniformemente distribuída durante o ano e verão brando. A região
é uma das mais úmidas do estado, com pluviosidade superior a 2.000mm e
temperatura média anual de aproximadamente 14,5° C. Temperaturas negativas
podem ocorrer de abril a novembro, as geadas são frequentes e nos invernos mais
rigorosos ocorrendo formação de neve (NIMER, 1990; FERNANDES; BACKES,
1998).
A FLONA-SFP tem uma área de 1.606 ha (Figura 2), com altitudes superiores
a 900 metros, apresentando uma variação altitudinal de 300 metros. Esta Unidade é
parte da área abrangida pela Reserva da Biosfera da Mata Atlântica como Área
Núcleo, sendo considerada uma região de alta prioridade para a conservação pelo
Ministério do Meio Ambiente (MMA, 1999). Ela está estrategicamente inserida no
Corredor Ecológico do Rio dos Sinos, entre os Corredores Ecológicos dos Rios Caí
e Tainhas (Patrimônio Natural da Região das Hortênsias, Projeto Hortênsia,
METROPLAN e CPRM, 1995). O conjunto de várias UC’s estabelecidas ou em
processo de implantação (áreas públicas: Parques Nacionais de Aparados da Serra
e da Serra Geral, Reserva Biológica da Serra Geral, Estação Ecológica de Aratinga,
Florestas Nacionais de SFP e de Canela, Parque Estadual do Caracol, Parque
Estadual do Tainhas, Área de Proteção Ambiental da Rota do Sol, Reserva Biológica
da Mata Paludosa, Parque Natural Municipal da Ronda; área particular: CPCN PróMata - PUCRS) abrangidas em um raio de 60 km, formam um grande arco e
corredor de biodiversidade ao longo das escarpas do planalto.
26
Figura 2 - Uso e ocupação do solo na Floresta Nacional de São Francisco de Paula,
RS, Unidade de Conservação de Uso Sustentável.
Fonte: Soligo e Caetano, 2012.
27
A Bacia Hidrográfica do Rio Sinos está inserida em remanescentes do Bioma
Mata Atlântica, e que em função da alta fragmentação, é um dos biomas mais
ameaçados da América do Sul (STOTZ; FITZPATRICK; PARKER, 1996). Dentro
deste bioma encontra-se a formação Floresta Ombrófila Mista, o qual correspondia
aproximadamente a 177.600 km² e até 1990 restavam cerca de 20.000km²
(TEIXEIRA, 1986). No Rio Grande do Sul, a superfície original era de 21.123km²,
cerca de 7,83% do território (TEIXEIRA, 1986).
O elemento principal desta floresta é A. angustifolia, a espécie arbórea que
emerge no dossel desta formação. No estrato superior se encontram espécies de
Lauraceae, Aquifoliaceae e Sapindaceae, que representam entre 60 a 70% deste
estrato. O estrato inferior compõe-se de Myrtaceae, Podocarpaceae e Leguminosae
(QUADROS; PATA PILLAR, 2002). A madeira de araucária destaca-se pela sua
qualidade, o que levou a uma indiscriminada exploração, chegando a níveis
populacionais críticos (HUECK, 1972; REITZ; KLEIN; REIS, 1988).
4.2 Áreas de estudo / localidades de amostragem
Foram definidos 30 ambientes providos de recursos aquáticos, classificados
entre rios, lagos e banhados (Tabela 1). Sendo estes distribuídos nos diversos tipos
de vegetação que ocorrem dentro da Floresta Nacional de São Francisco de Paula.
Para a avaliação e inventariamento de espécies de Odonata foram divididos
diversos setores da UC, conforme a sua cobertura vegetal, sendo eles: Mata Nativa
(floresta ombrófila mista primária), floresta plantada de A. angustifolia, floresta
plantada de P. elliotti e área aberta/campo (Figura 3).
28
Tabela 1 - Pontos de coleta, coordenadas, tipo de ambiente aquático e tipo de
vegetação, inseridos na FLONA - SFP, RS.
Ponto
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
Coordenadas
S 29°25'832'' W 050°22'535''
S 29°25'880'' W 050°22'418''
S 29°25'927'' W 050°22'456''
S 29°25'953'' W 050°22'379''
S 29°26'088'' W 050°22'472''
S 29°26'275'' W 050°22'383''
S 29°26'083'' W 050°23'192''
S 29°25'729'' W 050°23'533''
S 29°25'669'' W 050°23'922''
S 29°25'657'' W 050°23'899''
S 29°25'568'' W 050°23'933''
S 29°25'055'' W 050°23'700''
S 29°25'155'' W 050°23'670''
S 29°25'223'' W 050°23'664''
S 29°25'565'' W 050°23'633''
S 29°25'265'' W 050°23'709''
S 29°25'295'' W 050°23'716''
S 29°26'089'' W 050°23'745''
S 29°25'937'' W 050°23'499''
S 29°25'594'' W 050°23'286''
S 29°25'393'' W 050°23'232''
S 29°25'092'' W 050°23'176''
S 29°24'700'' W 050°23'604''
S 29°24'638'' W 050°23'655''
S 29°24'165'' W 050°23'267''
S 29°24'209'' W 050°23'376''
S 29°24'642'' W 050°23'196''
S 29°23'516'' W 050°23'264''
S 29°23'225'' W 050°23'220''
S 29°23'371'' W 050°24'516''
Fonte: elaborado pelo autor.
Ambiente Aquático
Rio
Rio
Rio
Rio
Rio
Rio
Banhado
Banhado
Banhado
Banhado
Rio
Rio
Banhado
Rio
Banhado
Rio
Rio
Banhado
Rio
Lago
Lago
Lago
Banhado
Banhado
Rio
Lago
Lago
Lago
Lago
Rio
Vegetação
Araucária
Araucária
Nativa
Nativa
Nativa
Araucária
Araucária
Araucária
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Araucária
Araucária
Araucária
Pinus
Pinus
Pinus
Pinus
Campo
Campo
Pinus
Pinus
Campo
Campo
29
Figura 3 - Pontos de amostragem de Odonata, na FLONA-SFP, RS.
Fonte: Elaborado por Daniel Martins dos Santos, Setor de Ecologia e Sensoriamento Remoto (MCN Univates).
30
4.3 Coleta de dados
Todas as localidades foram visitadas pelo menos quatro vezes ao longo de
um ano, sendo a primeira visita para a definição do nível de preservação e coleta de
dados: coordenadas geográficas e avaliação de recursos bióticos e abióticos. As
demais visitas foram realizadas com o objetivo de coletar espécimes adultos de
Odonata (sob a Licença de Coleta SISBio Nº 38928-2), sendo uma a cada estação
do ano excluindo-se a estação fria (inverno) devido à ausência da atividade de
espécimes adultos destes animais.
O método de coleta de espécimes consistiu na utilização de redes
entomológicas, por uma equipe de campo, composta de duas pessoas, realizandose unicamente em dias ensolarados, nos horários das 10:00 às 16:00 horas, pico de
atividade de libélulas e libelinhas.
O tempo de esforço amostral utilizado foi de 30 minutos por localidade de
amostragem, e foi coletado pelo menos 01 espécime de Odonata de cada espécie
presente avistada no local.
Os espécimes capturados foram imediatamente fixados em álcool 96%,
preservando-os para a posterior determinação em laboratório. Em campo, nos dias
de coleta também foram registrados em planilhas, dados de meteorologia,
vegetação aquática e condições da água no recurso hídrico.
A determinação das espécies foi realizada no Laboratório de Ecologia e
Sensoriamento remoto da UNIVATES, com o auxílio de estereomicroscópio e
chaves de identificação de adultos de Odonata da região Neotropical: Garrison, Von
Ellenrieder e Louton (2006); Garrison, Von Ellenrieder e Louton (2010); Heckman,
(2008); Heckman (2010); Lencioni (2005) e Lencioni (2006).
Os dados obtidos foram registrados em planilhas do Microsoft Excel®, para a
análise e o posterior processamento estatístico.
31
4.4 Inventariamento de espécies
Os espécimes coletados e registrados geraram uma lista da composição de
espécies de Odonata para a Floresta Nacional de São Francisco de Paula. Os
espécimes coletados serão tombados na coleção científica de invertebrados do
MCNU (Museu de Ciências Naturais da Univates).
Os registros serão utilizados futuramente em periódicos especializados,
contribuindo para o conhecimento sobre as comunidades e distribuição geográfica
das espécies de Odonata no RS.
4.5 Análise dos dados
A riqueza total e a riqueza média foram calculadas considerando todos os
pontos de amostragens e, agrupando as áreas de vegetação (Mata Nativa (FOM),
Araucária plantada, Pinus e Campos), agrupando os ambientes aquáticos (rios,
lagos e banhados) e as estações (verão, outono e primavera). Os dados de riqueza
em cada agrupamento foram testados pelo teste de Kruskal-Wallis e, quando
ocorreu diferença, foi utilizado o teste de Dunn. O nível de significância utilizado foi
p<0,05.
A curva de amostragem estimada foi calculada no programa Estimates versão
9.1 (GOTELLI; COLWELL, 2011), foi utilizado como estimador o Chao 1, que melhor
se adaptou aos dados reais.
Foi utilizado o método de ordenação por Análise de Escalonamento
Multidimensional Não-métrico (NMDS) para verificar a distribuição espacial da
riqueza em relação ao conjunto total de dados agrupados, aos dados de vegetação,
aos dados de ambientes aquáticos e aos dados de sazonalidade. A análise de
NMDS foi realizada no programa Past, versão 2.04 (HAMMER et al., 2001)
empregando como medida de similaridade a distância euclidiana. O grau de
adequação do NMDS em relação à matriz original de similaridade entre as amostras
32
foi medido pelo estresse, no qual valores iguais ou abaixo de 0,2 são considerados
aceitáveis e abaixo de 0,1 excelentes, indicando ausência de interferência na
ordenação (CLARKE, 1993).
A seleção de indicadores de qualidade ambiental e de riqueza de espécies foi
determinada com o uso do programa NTCP - Nestedness Temperature Calculator
Program (PATTERSON; ATMAR, 1986), o qual gera matrizes de acordo com os
padrões de ocorrência de espécies por localidade. As temperaturas obtidas nas
matrizes, determinam o grau de potencial de indicação que a comunidade de
espécies estudadas apresentou.
As espécies contidas nas matrizes NTCP foram avaliadas e selecionadas
conforme os seus padrões de ocorrência, o critério de seleção das espécies
potenciais indicadoras foi ocorrência inferior a 40% e superior a 2 localidades de
amostragem, conforme Sahlén e Ekestubbe (2001). Destas potenciais espécies
indicadoras foi realizada uma discussão para cada espécie baseada na literatura,
sobre a sua ecologia.
33
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Inventariamento de espécies
Foram identificadas 47 espécies de Odonata (25 espécies de Zygoptera e 22
de Anisoptera), distribuídas em oito famílias: Calopterygidae, Coenagrionidae,
Lestidae, Megapodagrionidae, Protoneuridae, Aeshnidae, Gomphidae e Libellulidae.
As famílias que apresentaram maior riqueza foram Coenagrionidae e Libellulidae,
ambas com 15 espécies (Figura 4).
Figura - 4: Percentual encontrado das famílias das Subordens Zygoptera e
Anisoptera, encontradas na FLONA - SFP, RS.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Dentre os gêneros identificados, Erytrodiplax e Oxyagrion foram os mais
abundantes, ocorrendo na grande maioria dos ambientes amostrados. As espécies
34
com menor número de registros foram Macrothemis marmorata, Dasythemis mincki
mincki e Peristicta gauchae.
A lista de registros de Odonata para a Floresta
Nacional de São Francisco de Paula, dividida pelas Subordens (Zygoptera e
Anisoptera) e suas respectivas famílias, segue conforme a Tabela 2.
35
Tabela 2 - Espécies identificadas nos 30 pontos de coleta divididos por tipo de
vegetação. Siglas: RA = Rio/Araucária Plantada; SA = Banhado/Araucária Plantada;
LA = Lago/Araucária Plantada; RN = Rio/Floresta Nativa; SN = Banhado/Floresta
Nativa; SP = Banhado/Pinus; LP = Lago/Pinus; LO = Lago/Campo e RO =
Rio/Campo.
Espécies / Tipo de Vegetação
Percentual de espécies (%)
RA SA LA RN SN SP LP LO RO
19 25 19 40 23 32 45 34 19
ZYGOPTERA:
CALOPTERYGIDAE
Hetaerina longipes Hagen in Selys, 1853
Hetaerina rosea Selys, 1853
Mnesarete borchgravii Selys, 1869
Mnesarete pruinosa Hagen in Selys, 1853
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
COENAGRIONIDAE
Acanthagrion gracile Rambur, 1842
Acanthagrion lancea Selys, 1876
Acanthagrion sp.
Argentagrion ambiguum Ris, 1904
Argia indocilis Navás, 1934
Argia sp.
Homeoura chelifera Selys, 1876
Ischnura capreolus Hagen, 1861
Ischnura fluviatilis Selys, 1876
Ischnura ramburii Selys, 1850
Oxyagrion hempeli Calvert, 1909
Oxyagrion microstigma Selys, 1876
Oxyagrion terminale Selys, 1876
Oxyagrion sp.
Telebasis theodori Navás, 1934
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
LESTIDAE
Lestes auritus Hagen in Selys, 1862
Lestes bipupillatus Calvert, 1909
Lestes paulistus Calvert, 1909
Lestes pictus Hagen in Selys, 1862
x
x
x
x
x
x
x
MEGAPODAGRIONIDAE
Heteragrion luizfelipei Machado, 2006
x
x
PROTONEURIDAE
Peristicta gauchae Santos, 1968
x
36
ANISOPTERA:
AESHNIDAE
Castoraeschna sp.
Limnetron debile Karsch, 1891
x
x
x
Rhionaeschna brasiliensis von Ellenrieder e Costa, 2002
Rhionaeschna diffinis Rambur, 1842
Rhionaeschna planaltica Calvert, 1952
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
GOMPHIDAE
Phillogomphoides regularis Selys, 1873
Progomphus gracilis Hagen in Selys, 1854
x
x
x
x
LIBELLULIDAE
Dasythemis mincki mincki Karsch, 1890
Erythrodiplax atroterminata Ris, 1911
Erythrodiplax diversa Navás, 1916
Erythrodiplax fusca Rambur, 1842
Erythrodiplax hyalina Förster, 1907
Erythrodiplax media Borror, 1942
Erythrodiplax sp.
Libellula croceipennis Selys, 1868
Libellula herculea Karsch, 1889
Macrothemis marmorata Hagen, 1868
Micrathyria artemis Ris, 1911
Oligoclada laetitia Ris, 1911
Orthemis discolor Burmeister, 1839
Perithemis icteroptera Selys in Sagra, 1857
Perithemis mooma Kirby, 1889
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Fonte: elaborado pelo autor.
O número de espécies (47) identificadas na FLONA - SFP se enquadra dentro
do que é esperado para as regiões neotropicais já estudadas, corroborando com o
que foi encontrado em estudos como, por exemplo, o de De Marco et al. (2014), que
identificou 56 espécies, durante a amostragem em 71 ambientes aquáticos na região
central do Brasil. Já Monteiro-Junior et al. (2013), obteve o registro de 32 espécies
em apenas oito seções de rio amostradas em uma região de Manaus (AM), no Rio
Amazonas. Em áreas altamente fragmentadas de Floresta Atlântica Subtropical, no
Rio Grande do Sul, foi registrado o número de 34 espécies em apenas 15
localidades de coleta (RENNER; PÉRICO; SAHLÉN, 2013).
37
É possível, ainda, de que alguma espécie rara tenha ocorrência na FLONA SFP, e não tenha sido registrada, mas ainda assim é possível afirmar que o número
de espécies encontradas está corretamente estimado.
Os diversos ambientes florestais com seus respectivos tipos de ambientes
aquáticos, foram analisados de forma separada quanto à riqueza de espécies das
subordens Zygoptera e Anisoptera (Figura 5).
Figura 5 - Registros de espécies das subordens de Odonata nos ambientes
aquáticos com seus respectivos ambientes conforme seu tipo de vegetação e tipo de
ambiente aquático, na FLONA - SFP, RS. Siglas: RA = Rio/Araucária Plantada; SA =
Banhado/Araucária Plantada; LA = Lago/Araucária Plantada; RN = Rio/Floresta
Nativa; SN = Banhado/Floresta Nativa; SP = Banhado/Pinus; LP = Lago/Pinus; LO =
Lago/Campo e RO = Rio/Campo.
12
11
10
10
10
10
10
9
Riqueza
8
8
6
6
5
5
4
6
5
5
4
5
4
4
4
2
0
RA
SA
LA
RN
SN
SP
LP
LO
RO
Ambientes amostrados
Zygoptera
Anisoptera
Fonte: Elaborado pelo autor.
O fato de ocorrer a maior riqueza em áreas de Pinus demonstra o quanto
capazes são as espécies generalistas de ocuparem nichos alterados pelo homem.
Nestas localidades foram registradas muitas espécies que são conhecidamente
classificadas como espécies ocorrentes em áreas abertas como, por exemplo,
espécimes dos gêneros Erythrodiplax (Anisoptera), Acanthagrion, Oxyagrion e
Ischnura (Zygoptera), as quais são apontadas como generalistas em estudos
desenvolvidos na região neotropical (MONTEIRO-JUNIOR; JUEN; HAMADA, 2014;
MACHADO, 2001).
38
Na comparação da riqueza de espécies, a subordem Zygoptera foi maior nas
áreas em que não existe mais vegetação nativa ou Araucária, ou seja, em áreas
muito modificadas pela ação humana: Pinus e Campos. Este fato, inicialmente
contraria algumas expectativas do trabalho, que era de encontrar maior riqueza de
Zygoptera nas áreas mais preservadas. No entanto, se comparados os gêneros
ocorrentes entre si, é possível identificar muitos generalistas em meio aos
registrados nas áreas alteradas, enquanto os gêneros de espécies florestais são
compostos na sua maioria por especialistas, como por exemplo Hetaerina,
Heteragrion e Argia, gêneros de espécies apontadas como indicadoras de qualidade
ambiental por Monteiro-Junior, Juen e Hamada (2014).
5.2 Suficiência amostral
Foi construída uma curva de suficiência amostral, utilizando-se todos os
registros de espécies agrupados. Para isto foi utilizado o índice Chao 1, que
apresentou valores estimados mais próximos dos observados (85% do total
estimado) através do software Estimates 9.1. A curva demonstrou uma tendência à
estabilização de suficiência amostral (Figura 6).
Riqueza estimada (Chao 1)
Figura - 6: Curva do coletor, com os respectivos desvios padrão para cada
localidade de coleta, na FLONA - SFP, RS, indicando riqueza estimada (Chao 1).
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 101112131415161718192021222324252627282930
Pontos de amostragem
Fonte: elaborado pelo autor.
A análise de NMDS (Figura 7) utilizando a riqueza de espécies de todas as
áreas demonstrou a semelhança da composição de espécies dos tipos de
39
localidades amostradas, sendo que alguns ambientes, de fato, se destacaram por
apresentarem composição de espécies diferenciada. O estresse obtido nesta análise
foi de 0,07821 (<0,1), considerado excelente segundo Clarke (1993).
Figura - 7: NMDS da riqueza de Odonata em todas as áreas amostradas na FLONA
- SFP, RS, separadas pelas classificações ambientais: RA = Rio/Araucária Plantada;
SA = Banhado/Araucária Plantada; LA = Lago/Araucária Plantada; RN = Rio/Floresta
Nativa; SN = Banhado/Floresta Nativa; SP = Banhado/Pinus; LP = Lago/Pinus; LO =
Lago/Campo e RO = Rio/Campo.
27_LP
20_LA
4_RN
25_RO
0.12
30_RO
5_RN
0.06
21_LP
Coordinate 2
-0.24
2_RA
19_RA
16_RN
17_RN
7_SA
9_SN
15_SN
1_RA10_SN
12_RN
11_RN
-0.16
-0.08
0.08
14_RN
3_RN8_SA 13_SN
6_RA
-0.06
-0.12
24_SP
22_LP
0.16
0.24 26_LO
0.32
0.40
18_SA
29_LO
23_SP
-0.18
-0.24
-0.30
28_LP
-0.36
Coordinate 1
Fonte: elaborado pelo autor.
Pode-se observar maior concentração nas localidades classificadas como RA
(Rio/Araucária) e RN (Rio/Nativa), fato que demonstra similaridade entre as suas
composições de espécies (Figura 7). Os pontos que ficaram mais dispersos,
constituem-se em sua maioria LP (Lago/Pinus) e LO (Lago/Campo), justamente os
que são considerados mais alterados pela ação humana, e apresentam menor
similaridade entre as suas composições de espécies.
40
5.3 Composição da assembleia de Odonata por tipo de ambiente florestal
amostrado
A análise separada dos tipos florestais e dos tipos de ambientes aquáticos
visa uma interpretação mais clara da relação entre a composição de espécies de
Odonata com as condições bióticas e abióticas em questão, atribuindo-se assim, as
respectivas relevâncias de cada um destes no ecossistema em geral.
A riqueza total observada em ambos ambientes de Mata Nativa e Araucária
plantada foi de 46,8% (22) das espécies, enquanto nas áreas plantadas com Pinus
foram registradas 55,3% (26) das espécies, e por último, as áreas de Campo,
apresentaram 31,9% (15) das espécies. Foi observada diferença significativa entre a
riqueza média nas quatro formações vegetais amostradas (H = 14,8421; p = 0,0020).
A Mata Nativa e Araucária plantada apresentaram menor riqueza média de Odonata
que a Floresta de Pinus (p<0,05), mas não diferem entre si, nem de áreas de campo,
enquanto áreas de Pinus são relativamente diferentes de áreas de campos.
A Figura 8 apresenta a riqueza média e o desvio padrão das áreas, divididas
pelos tipos de formações vegetais encontradas. Notou-se a maior riqueza
justamente nas áreas mais impactadas pela ação humana (Campo e Pinus), cujas
assembleias de Odonata são constituídas principalmente por espécies generalistas,
as quais tem mais tolerância às alterações ambientais.
41
Riqueza média e desvio padrão
Figura - 8: Riqueza média e desvio padrão entre os tipos de formações vegetais das
localidades amostradas na FLONA – FSP, RS.
16,0
14,0
12,0
10,0
8,0
6,0
4,0
2,0
0,0
Araucária
Mata Nativa
Pinus
Campo
Formação vegetal
Fonte: elaborado pelo autor.
Foi executada uma análise de NMDS (Figura 9) conforme os tipos de
vegetação existentes nos locais amostrados. Observa-se uma clara similaridade
entre as riquezas encontradas em ambientes com mata Nativa e floresta de
Araucária. Os pontos que se encontram dispersos no gráfico são na maioria
referentes aos ambientes de Pinus e Campos, comprovando novamente a ampla
ocorrência de espécies generalistas nestes tipos de ambientes. O estresse obtido
nesta análise foi de 0,08725 (<0,1), considerado excelente por Clarke (1993).
42
Figura - 9: NMDS da riqueza de espécies nas quatro formações vegetais
amostradas na FLONA - SFP, RS.
Pinus
Araucária
Campo
Nativa
0.12
Campo
Nativa
0.06
Pinus
-0.16
Pinus
0.16
0.24 Campo
0.32
0.40
Araucária -0.06
Coordinate 2
-0.24
Araucária
Araucária
Nativa
Nativa
Araucária
Nativa
Nativa
Nativa
Araucária
Nativa
Nativa
-0.08
0.08
Nativa
Araucária
Nativa
Nativa
-0.12
Pinus
Araucária
Campo
Pinus
-0.18
-0.24
-0.30
Pinus
-0.36
Coordinate 1
Fonte: elaborado pelo autor.
O estudo de Samways e Steytler (1995) determinou que as comunidades de
Odonata em ambientes degradados tendem a ser compostas em grande parte por
generalistas, de ampla distribuição. Assim, se consideradas áreas com Pinus e
áreas abertas (Campos) como áreas perturbadas, pode-se confirmar esta
determinação, exatamente como apresentado no NMDS (Figura 9).
5.4 Composição da assembleia de Odonata por tipo de ambiente aquático
A riqueza de espécies foi agrupada e comparada utilizando-se como critério o
tipo de ambiente aquático encontrado nos locais de amostragem: Rio, Lago ou
Banhado (Figura 10). Os ambientes de Lago e Rio demonstraram maior diversidade
43
de espécies, ambos com 53,2% (25) das espécies, enquanto em Banhados
ocorreram 44,7% (21) das espécies.
Foi observada diferença significativa entre a riqueza média nos ambientes
aquáticos amostrados (H = 13,9507; p = 0,0009). Áreas de lagos apresentam o
dobro da riqueza média de rios e banhados, diferindo significativamente de ambos
(p<0,05). Rios e banhados não tiveram diferença significativa entre suas riquezas.
Riqueza média e desvio padrão
Figura - 10: Média e desvio padrão da riqueza de Odonata, conforme o tipo de
ambiente aquático encontrado nas localidades de amostragem na FLONA - SFP,
RS.
16,0
14,0
12,0
10,0
8,0
6,0
4,0
2,0
0,0
Rio
Lago
Banhado
Tipo de ambiente
Fonte: elaborado pelo autor.
Observa-se a similaridade entre as riquezas de espécies ocorrentes em
banhados e rios, porém o desvio padrão ocorrente em rios é relativamente menor, o
que demonstra que as espécies ocorrentes em rios têm mais especificidade com
este tipo de ambiente, ao contrário, em banhados observa-se uma maior
heterogeneidade. Este fato pode ser explicado pela predominância da ocorrência de
espécies de Calopterygidae em ambientes de rio, pois estas são restritas aos
ambientes
de
águas
correntes,
com
alta
oxigenação
(GARRISON;
VON
ELLENRIEDER; LOUTON, 2010).
A análise por NMDS entre os tipos de ambientes aquáticos encontrados nos
locais de amostragem (Figura 11), demonstrou a proximidade entre os ambientes de
rio e banhado, já os ambientes de lagos, ficaram descentralizados, como
demonstrado também na Figura 10. O estresse obtido nesta análise foi 0,08726
(<0,1) sendo considerado excelente, de acordo com Clarke (1993).
44
Figura - 11: NMDS da riqueza de espécies de Odonata entre os tipos de ambientes
aquáticos encontrados nas localidades de amostragem na FLONA – SFP, RS.
0.36
0.30
Lago
0.24
0.18
Coordinate 2
Banhado
Lago
0.12
BanhadoBanhado
0.06
RIO
-0.24
-0.16
Banhado
RIO Banhado
RIORIO
-0.08 RIO
0.08
RIO Banhado
Banhado
Banhado
Banhado
RIO
RIO
RIO
RIO
-0.06
RIO
RIO
Lago
0.16
0.24
0.32
0.40
Lago
Lago
RIO
-0.12
RIO
Lago
Lago
-0.18
Coordinate 1
Fonte: elaborado pelo autor.
A dispersão espacial observada no NMDS (Figura 11), pode ser explicada
pelo fato de que os ambientes de lago amostrados, foram praticamente todos
localizados em áreas de Pinus (4) e Campos (2), sendo apenas um localizado em
área de Araucária plantada, coincidindo com a distribuição observada no NMDS
obtido para as formações vegetais (Figura 9). Pode-se atribuir esta dispersão,
também à ocorrência de espécies generalistas nestas áreas, enquanto que nas
áreas de Rio e Banhado ocorre uma maior fidelidade na composição de espécies,
como acima citado sobre as espécies de Calopterygidae. Além disso, as espécies
ocorrentes em ambientes de banhado normalmente apresentam restrições
ambientais em relação à riqueza de vegetação aquática como por exemplo Ischnura
e Acanthagrion, as quais requerem densa vegetação aquática para a sua ocorrência
(GARRISON; VON ELLENRIEDER; LOUTON, 2010).
45
5.5 Sazonalidade
Os dados de riqueza foram analisados conforme a sazonalidade. A estação
Inverno foi excluída devido à ausência de adultos de Odonata, dadas as baixas
temperaturas ocorrentes na região onde foi desenvolvido o estudo. Este fato foi
comprovado em visita aos locais de amostragem durante o Inverno, onde não foi
observado nenhum espécime adulto em atividade. Do total de 47 espécies
encontradas, 80,9% (38) foram registradas no Verão, 63,8% (30) foram registradas
na Primavera e 36,2% (17) foram registradas no Outono.
Foi observada diferença significativa entre a riqueza média relacionada a
sazonalidade
(H
=
27,9186;
p<0,0001).
No
verão
a
riqueza
média
é
significativamente maior que no outono e na primavera (p<0,05). A primavera e o
outono não diferiram significativamente entre si.
Durante o verão foram registradas a maioria das espécies, fato que pode-se
atribuir às altas temperaturas, combinadas com o maior fotoperíodo e a maior
intensidade de luz solar nos ambientes (Figura 13).
Figura - 12: Média e desvio padrão da riqueza de espécies nas três estações em
que foram realizadas coletas, na FLONA - SFP, RS, no ano de 2014.
Média e desvio padrão
7,0
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
Verão
Outono
Primavera
Estações
Fonte: elaborado pelo autor.
Durante as três estações foram registradas espécies que ocorreram em
somente uma delas, demonstrando forte sazonalidade. A maioria destas ocorrências
46
se deu no verão, o que pode ser explicado pelo tipo de clima encontrado nesta
região. Na região dos campos de cima da serra, devido à altitude (900m a 1000m,
na FLONA – SFP, RS), mesmo durante o verão as temperaturas raramente
ultrapassam os 30°C. As espécies que tiveram ocorrência única no verão foram:
Heteragrion luizfelipei, Perithemis mooma, Oxyagrion hempeli, Acanthagrion gracile
e Lestes paulistus. Nas outras estações ocorreram também registros únicos, como
por exemplo Limnetron debile, Lestes pictus e Lestes bipupillatus, que ocorram
somente no Outono, bem como alguns registros de espécies que só ocorreram na
Primavera: Libellula herculea e Argentagrion ambiguum.
A análise por NMDS dos valores de riqueza de espécies encontradas nas três
estações amostradas demonstrou similaridade entre elas, sendo os pontos
dispersos no gráfico, possivelmente atribuídos a diferentes condições bióticas e
abióticas encontradas nos locais de amostragem, bem como a regulação sazonal da
ocorrência de diversas espécies (Figura 14). Esta análise resultou num índice de
stress de 0,1316 (<0,2), sendo classificado como confiável, de acordo com Clarke
(1993).
47
Figura - 13: NMDS da riqueza de espécies encontrada por estações do ano
amostradas na FLONA - SFP, RS.
Outono
0.24
Primavera
0.18
Coordinate 2
Verão
0.12 Primavera
Verão
Verão
-0.24
-0.16
Verão
Verão
0.06 Primavera
Primavera
Outono
Primavera
Primavera
Primavera
Primavera
Verão
Primavera
Verão
Verão
Primavera
Primavera
OutonoPrimavera
Verão Primavera
Primavera
Primavera
Outono
Primavera
Primavera
Outono
Verão
Outono
Primavera
Outono
Outono
Outono
Verão
Outono
-0.08
Verão Primavera
Verão
Verão
Outono
0.08 Outono
0.16
0.24 Verão0.32
Primavera
Outono
Primavera
Outono
Verão
Primavera
Verão
Verão
Outono
Verão
Primavera
Primavera
Verão
Verão
Primavera
Outono
Verão
Verão
Verão
-0.06
Primavera
Verão
Verão
-0.12
Verão
Verão
-0.18
Verão
Primavera
Verão
-0.24
-0.30
Coordinate 1
Fonte: elaborado pelo autor.
Na análise por NMDS, os pontos dispersos também podem ser atribuídos às
espécies que ocorrem em somente uma das estações amostradas, enquanto que a
concentração maior de pontos compreende às espécies que ocorrem nas três
estações amostradas.
As variações na composição sazonal encontradas neste estudo comprovam a
influência que o clima exerce sobre as espécies. As espécies de Odonata ocorrentes
na região subtropical apresentam um padrão sazonal já conhecido, regulado
principalmente pelos regimes de chuva, variações de temperatura e fotoperíodo
(CARVALHO et al. 2013), diferenciando-se consideravelmente das espécies
tropicais, que na sua maioria ocorrem nas quatro estações.
48
5.6 Espécies generalistas, especialistas e potencias indicadoras
Utilizando-se do programa NTCP – Nestedness Temperature Calculator
Program (PATTERSON; ATMAR, 1986), foi possível a elaboração de uma matriz de
presença e ausência (Figura 15), com os padrões de ocorrência de todas as
espécies, nas três estações amostradas. A temperatura obtida foi de 21,31°,
preenchendo 14,6% da matriz, sendo significantemente mais baixa (p<0,0001) que a
temperatura padrão de simulação de 58,78°. Demonstrando assim, que os registros
possuem alto potencial de indicação de riqueza de espécies.
Figura - 14: Matriz gerada pelo programa NTCP, agrupando as espécies por padrões
de ocorrência. No eixo Y estão representados os 30 pontos de amostragem, no eixo
X as espécies amostradas. Em verde, espécies da subordem Zygoptera e em rosa,
espécies da subordem Anisopteptera.
Fonte: elaborado pelo autor.
Foi feita uma determinação prévia de espécies generalistas (registradas em
mais de 40% das localidades amostradas), espécies potenciais indicadoras de
qualidade ambiental (ocorrentes entre menos de 40% das localidades e pelo menos
49
duas localidades) e espécies raras, que ocorreram em apenas uma localidade
(SAHLÉN; EKESTUBBE, 2001). A análise sugere 27 espécies como possíveis
indicadoras de qualidade ambiental (Figura 16).
Figura - 15: As 27 espécies destacadas como possíveis indicadoras, seguindo o
mesmo critério aplicado em Sahlén e Ekestubbe (2001).
Fonte: elaborado pelo autor.
As espécies selecionadas são passíveis de uma discussão baseada na
literatura sobre sua ecologia e preferências ambientais, determinando-as como
espécies indicadoras ou acarretando na sua exclusão da seleção.
Algumas espécies presentes na seleção foram excluídas dado seu conhecido
padrão de ocorrência generalista, assim espécies dos gêneros Rhionaeschna e
Erythrodiplax, foram excluídas. Decidiu-se excluir também as espécies dos gêneros
Limnetron, Heteragrion e Lestes, pois demonstraram forte sazonalidade, ocorrendo
somente em uma das estações amostradas, sendo assim não atendem à aplicação
da proposta de indicadores de fácil observação e registro. As espécies presentes na
seleção, que foram somente identificadas até gênero (identificadas como sp.), são
constituídas
basicamente
por
espécimes
fêmeas
ou
espécimes
juvenis,
50
impossibilitando determinação, decidindo-se assim por também excluí-las da
seleção. Após a aplicação de mais este critério de seleção de espécies obteve-se
uma lista menor, composta por 16 espécies (Tabela 3).
Tabela - 3: Seleção final de espécies consideradas potenciais indicadoras de riqueza
de espécies. Estações: V = Verão; O = Outono e P = Primavera.
Espécies
Estações
Localidades
%
Acanthagrion lancea
VOP
8
26,6
Argia indocilis
VOP
8
26,6
VP
4
13,3
Homeoura chelifera
VOP
5
16,6
Ischnura capreolus
VOP
4
13,3
Ischnura fluviatilis
VOP
4
13,3
Libellula croceipennis
VP
2
6,6
Mnesarete borchgravii
VP
6
20
VOP
5
16,6
Oligoclada laetitia
VP
6
20
Oxyagrion microstigma
VP
3
10
Perithemis icteroptera
VP
2
6,6
Phyllogomphoides regularis
OP
2
6,6
Progomphus gracilis
VP
6
20
Telebasis theodori
VP
5
16,6
Hetaerina rosea
Mnesarete pruinosa
Fonte: elaborado pelo autor.
As informações sobre a ecologia das espécies selecionadas ainda são
escassas, limitando a discussão sobre o potencial de cada uma delas. Porém,
algumas podem ser discutidas, como por exemplo os representantes dos gêneros
Ischnura (I. fluviatilis e I. capreolus) e Homeoura (H. chelifera), os quais são
conhecidamente restritos quanto aos seus habitats de reprodução, requerendo
densa vegetação aquática (VON ELLENRIEDER, 2002). Argia indocilis, se
considerado em nível de gênero, pode ser avaliado como um bom indicador de
qualidade ambiental, pois normalmente é encontrado em áreas sombreadas e com
vegetação arbórea nas proximidades dos corpos d’água, porém a ampla distribuição
e número de espécies deste gênero (111) requer uma avaliação específica, a qual
ainda é inexistente (LENCIONI, 2006).
51
Os demais representantes da família Coenagrionidae (A. lancea, O.
microstigma e T. theodori), requerem também estudos específicos e maior
aprofundamento no conhecimento de sua ecologia. A principal característica que se
conhece sobre estas espécies (amplamente distribuídos na região Neotropical), é
que estes ocorrem majoritariamente em ambientes aquáticos lênticos, fato que pode
fazer com que estes tenham menos versatilidade como indicadores (LENCIONI,
2006; COSTA, 1978)
As espécies da família Calopterygidae (H. rosea, M. borchgravii e M.
pruinosa), são conhecidas por ocorrer somente em águas correntes cristalinas
(GARRISON; VON ELLENRIEDER; LOUTON, 2010), podendo-se assim atribuir
certo valor de indicação de qualidade ambiental à estas. O mesmo pode ser
afirmado das espécies da família Gomphidae (P. gracilis e P. regularis), porém
variando os habitats de ocorrência, sendo sua restrição principal relacionada ao tipo
de fundo dos corpos aquáticos, o qual deve ser arenoso (GARRISON; VON
ELLENRIEDER; LOUTON, 2006).
Dentre as espécies de Libellulidae, P. icteroptera é uma das espécies mais
conhecidas, sendo as espécies amplamente estudadas principalmente sobre suas
preferências de habitat, comportamento e territorialidade. Dentre suas exigências
ambientais pode-se citar a presença de vegetação aquática densa e flutuante
(SWITZER, 1997). O. laetitia, é uma espécie que também carece de estudos
aprofundados, porém as espécies são conhecidas por ocorrer em ambientes de
grande flutuação do nível d’água e até mesmo em ambientes aquáticos artificiais,
sendo assim considerado como um fraco indicador (FLECK, 2003).
Libbellula croceipenis, registrada neste trabalho pela primeira vez no estado
do Rio Grande do Sul. Os registros desta espécie marcam ocorrência desde a
América do Norte até o estado do Paraná, o que faz deste registro uma ampliação
na sua distribuição geográfica. Em determinados ambientes esta espécie é comum,
como
por
exemplo,
banhados
com
água
lamacenta
(GARRISON;
VON
ELLENRIEDER; LOUTON, 2006). Porém o fato desta espécie estar ocorrendo além
do seu limite de distribuição, pode fazer com que seja um indicador de qualidade
ambiental em nível regional.
52
6 CONCLUSÕES
O estudo desenvolvido na FLONA - SFP, RS, obteve o registro de 47
espécies de libélulas (Odonata), em diferentes ambientes aquáticos compostos por
rios, lagos e banhados, distribuídos em diferentes formações vegetais: Mata Nativa
(FOM), Araucária plantada, Pinus e Campos.
Foi encontrada maior riqueza em ambientes de Pinus e Lagos, sendo esta
composta em sua maioria por espécies generalistas. Desta forma o estudo
comprovou como espécies generalistas e oportunistas acabam por ocupar
ambientes alterados pelo homem.
A ocorrência de determinadas espécies em determinadas estações, se
demonstrou amplamente presente na assembleia de espécies registrada. O verão
apresentou a maior riqueza de espécies, podendo-se atribuir isto a condições
climáticas e geográficas (altitude) específicas da localidade de coleta.
Foi estabelecida uma lista de potenciais espécies indicadoras de riqueza e
qualidade ambiental. Sendo possível a seleção de 16 espécies indicadoras, das 47
registradas.
Este trabalho foi pioneiro nesta região, e vem a contribuir para futuras
avaliações ambientais, definição de áreas de prioridade e gerenciamento ambiental,
além de ampliar o conhecimento da fauna de Odonata em Floresta Ombrófila Mista
e nos demais ambientes amostrados.
53
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COMPOSIÇÃO DE LIBÉLULAS (ODONATA) EM