8º Congresso de Pós-Graduação
FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA ATUAÇÃO EM LAZER: ALGUMAS REFLEXÕES
Autor(es)
ROSANA DE ALMEIDA E FERREIRA
Orientador(es)
CINTHIA LOPES DA SILVA
1. Introdução
O lazer é uma área que vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil e estudar a formação dos profissionais que trabalham com lazer
é de grande relevância, na tentativa de reverter a situação da formação de quadros para essa atuação. Se, por um lado, a discussão
sobre o lazer é vasta e rica, por outro, muitos profissionais que trabalham com lazer tem uma visão restrita desse fenômeno social, em
termos de conteúdos culturais, da ação de difusão e participação nesses conteúdos e no sentido de mediação de valores. Faz-se
necessário uma compreensão mais ampla das questões relativas ao lazer e de seu significado para o ser humano, uma vez que na
sociedade, o problema relacionado à qualificação profissional pode implicar na promoção do lazer centrado em uma concepção
funcionalista e, muitas vezes, reforçada pelo senso comum.
O lazer é um campo que abrange, no âmbito da sua atuação, profissionais das mais diversas áreas como: Educação Física, Turismo,
Hotelaria, Pedagogia, Terapeutas-Ocupacionais, Trabalhadores Sociais, entre outros.
De acordo com diversos autores que dedicam-se aos estudos da temática (MARCELLINO,2007; ISAYAMA, 2003; STOPPA &
ISAYAMA, 2001), a maior incidência de atuação no campo do lazer são de profissionais da área da Educação Física. Uma das
justificativas para essa afirmação a ser considerada é a difusão pela mídia de uma visão de lazer como promoção e busca da qualidade
de vida, apresentando assim grandes oportunidades de intervenção dos profissionais da Educação Física (WERNECK , 2003).
Portanto, o lazer é um tema de significativo interesse na Educação Física, com possibilidades de formação e aprofundamento de
conhecimentos em cursos de graduação, pós-graduação, cursos de especialização, a partir da participação em disciplinas específicas,
em eventos da temática, projetos de extensão e iniciação cientifica e várias outras ações oferecidas e concretizadas em diversas
instituições de ensino, superior ou não (WERNECK, 2003).
Dentro desse contexto, o profissional de Educação Física, na sua formação e pensando na sua atuação futura, tem um grande desafio,
de buscar responsabilidade nas suas ações profissionais, levando em consideração a participação social, a partir de um entendimento
ampliado das questões do lazer, pois, o mesmo não se restringe apenas brinquedos e brincadeiras, como é entendido no senso comum;
o lazer é muito mais amplo, abrange sete conteúdos culturais, sendo eles os: manuais, sociais, intelectuais, artísticos, físico-esportivos,
turísticos e virtuais (DUMAZEDIER, 1980; CAMARGO, 1986; SCHWARTZ, 2003), três gêneros: prática, informação,
assistência/espectador e três níveis: elementar, médio e crítico criativo, além do seu caráter de descanso, divertimento e o
desenvolvimento individual e social.
Porém, na área da Educação Física:
ainda prevalece um entendimento de que o profissional que atua com lazer deve levar as pessoas a esquecer seus problemas cotidianos
(...) neste contexto, sua atuação se restringe à organização de jogos e brincadeiras que incentivem o agrupamento das pessoas, ou na
animação de festas e bailes (ISAYAMA, 2003, p.64).
Esse é um grande desafio para a formação do profissional da área do lazer e pela incidência maior, principalmente do profissional da
Educação Física.
Esse entendimento restrito do lazer reforça a visão do mesmo como mera ocupação, estimulado pelo consumo alienado de bens
culturais. O direcionamento excessivo das atividades acaba deixando em segundo plano o papel pedagógico da animação, proposto
por Marcellino (2005), “contribuindo para reforçar os valores da ideologia dominante, encorajando práticas tradicionais que não
possibilitam um envolvimento crítico, criativo e consciente dos participantes” (Isayama, 2003, p.69).
Quando falamos em formação, considera-se que o curso de Educação Física deve ser responsável pela capacitação do profissional
para que essa seja sólida e consistente. Deve-se pensar nas possíveis intervenções pedagógicas proporcionadas pela animação
sócio-cultural, levando em conta as individualidades de cada um, bem como seus medos e escolhas.
Marcellino (2005) explica que a pedagogia de animação pode ser criadora de “ânimo”, contribuindo para o processo crítico criativo
dos sujeitos. O mesmo autor faz uma análise do lazer como espaço para a manifestação do lúdico na sociedade contemporânea, tendo
como objetivo propor uma alternativa educacional, a qual está sustentada em quatro aspectos: a escola como espaço de conhecimento
e re-conhecimento por meio da vivência do lúdico, a formação do educador, o reconhecimento da escola como espaço para a vivência
do lúdico pelo professor, interdependência entre o esforço e o prazer.
Sobretudo, quando não há uma formação adequada na área do lazer, o que acontece é a “profissionalização da personalidade”, que
somada às dificuldades de inserção no mercado, acaba contribuindo para uma baixa remuneração do profissional, que normalmente
trabalha como “free-lancer” sem garantia, direitos ou estabilidade (MARCELLINO et. al., 2007) .
Uma formação sólida do profissional da área do lazer tem por responsabilidade salientar diversos pontos os quais são indispensáveis
para sua atuação, que são os seguintes: dominar um conteúdo cultural; ter vontade de dividir esse domínio com outras pessoas,
devendo, para isso, possuir uma sólida cultural geral, que lhes dê possibilidade de perceber a interseção/ligação do seu conteúdo de
domínio com os demais; exercer quotidianamente a reflexão e a valoração, próprias da ação do educador, e que os diferenciará dos
“mercadores”, da grande maioria da indústria cultural e ter o compromisso político com a mudança da situação em que nos
encontramos. (MARCELLINO, 2001).
Nesse contexto, verifica-se que o processo da formação profissional encontra algumas barreiras a serem superadas, isso fica evidente
quando notamos no cotidiano que há a falta de capacidade técnica dos gestores, como vemos muitas vezes em instituições púbicas ou
privadas, o não aperfeiçoamento e a não atualização dos profissionais, a falta de elaboração de programas com base na participação
popular local, o não acompanhamento das ações, entre outros elementos.
Na busca de despertar nos profissionais uma atuação consciente, pois seu papel vai além da reprodução de movimentos ou apenas
transmissão de informação, é necessária uma compreensão mais ampla das questões relativas ao lazer e de seu significado para o ser
humano, visto que na sociedade contemporânea a manifestação do lazer é colocada como reivindicação social cada vez mais exigente
(MARCELLINO, 2001).
A capacitação adequada do profissional atuante no campo do lazer possibilita que sua atuação seja ativa na elaboração das
programações, tornando-o um componente fundamental para a equipe de planejamento participativo. Dependendo do nível da sua
capacitação e de seu conhecimento profissional, suas ações acabam extrapolando sua área de intervenção e passam a atingir os demais
aspectos que envolvem o lazer (MARCELLINO, 2001).
Um dos pontos da problemática do trabalho é o não entendimento dos profissionais sobre os conteúdos culturais do lazer, no qual há
uma expressiva variedade de conteúdos a serem vivenciados pela sociedade. Falar em lazer remete a um campo amplo de
possibilidades no qual Dumazedier (1980), distingue os conteúdos culturais em: físicos e práticos, artísticos, intelectuais e sociais.
Dos quais Camargo (1986) acrescenta a este o conteúdo turístico e, mais recente, Schwartz (2003) nos leva a reflexão para a inserção
de um novo conteúdo cultural do lazer, o virtual.
O conteúdo virtual, ainda é questionável por outros estudiosos do lazer e entendido como um espaço, onde os sujeitos podem ter
acesso aos demais conteúdos do lazer, porém as reflexões de Schwartz (2003) contribuem para o debate acerca das implicações do uso
do espaço virtual para o acesso ao lazer, as mudanças nos comportamentos e atitudes dos sujeitos.
É importante colocar, de acordo com as contribuições de Dumazedier (1980), que, na realização das atividades no campo do lazer,
esta última pode se dar de forma passiva ou ativa, em detrimento da atitude que o sujeito assumir com relação atividade:
A atitude ativa implica na participação consciente e voluntária na vida social e cultural; exige sempre progresso livre pela busca, na
utilização do tempo livre, de um equilíbrio pessoal, na medida do possível, entre o repouso, a distração e o desenvolvimento contínuo
e hamonioso da personalidade (DUMAZEDIER, 1980, p. 111).
Esse é mais um desafio da atuação do profissional do lazer, pois a partir das atividades desenvolvidas pode-se pensar a sociedade
atual com seus grupos, sua sociabilidade e seus conflitos, contribuindo para uma reflexão crítica acerca do status quo, com vistas a
mudanças.
Dentre os conteúdos já mencionados, se faz necessário uma explicação de cada um deles: o conteúdo físico-esportivo: não trata
apenas a prática dos exercícios físicos e esportes, mas uma participação voluntária nas atividades relacionadas a cultura física, com
um enfoque também para a assistência ao espetáculo. O conteúdo manual ou prático: pressupõe trabalhos manuais, individual e
desinteressado, com valor criador, por exemplo, o artesanato (bricolage). O conteúdo artístico: é o encantamento pelo estético, o
imaginário, abrangem todas as manifestações artísticas. Já os interesses intelectuais: são as atividades que possam trazer
conhecimento, na realização de um curso ou na leitura. O conteúdo social: boa parte desse interesse se contempla na relação com os
grupos familiares, pela participação às reuniões familiares, ou fora do grupo, pela participação à vida das associações, bares, bailes,
cafés e outros. Os conteúdos turísticos correspondem à busca dos sujeitos por novas paisagens, quebra da rotina, novas culturas, novas
pessoas, exemplo são as viagens e passeios. E, por fim, os conteúdos virtuais: “promovem impactos interacionais de diferentes
ordens, uma vez que estes meios facilitam a relação temporo-espacial, modificam a forma de ação das pessoas numa dimensão social,
em relação ao outro e em uma dimensão receptiva, ampliando a ‘geopolítica’ do que seja intimidade e padrão cultural, isto é,
conceito e comprometimento na relação com o mundo” (SCHWARTZ, 2003, p.26-27).
Os conteúdos culturais do lazer são estudados separadamente, porém, na sua realização acontecem juntos, ou deveriam acontecer,
muitas vezes, por falta de conhecimento os sujeitos acabam restringindo-se apenas a um conteúdo do lazer, não por opção, mas por
não terem o conhecimento dos outros; por exemplo, numa viagem, pode-se contemplar mais de um dos interesses do lazer: turísticos
pela vivência da contemplação de um novo espaço, o intelectual pelo conhecimento da cultura local, o artístico por ser espectador de
uma dança típica, o social pelo contato com outras pessoas e assim sucessivamente com os outros conteúdos.
2. Objetivos
O objetivo desse trabalho é fazer uma análise da formação profissional em lazer, tendo como base a produção acadêmica dos últimos
cinco anos referente a essa temática.
3. Desenvolvimento
Trata-se de um trabalho de pesquisa bibliográfica (SEVERINO, 2007), realizada no sistema de Biblioteca da UNIMEP e ferramentas
específicas da internet (livros, revistas, artigos, anais de Seminários/Congressos, sites da Internet, entre outros), utilizando os
temas-chave: Lazer, Educação Física, formação profissional e atuação profissional. Após o levantamento das obras relevantes ao
objeto de estudo, realizar-se-á as seguintes análises: textual, interpretativa e crítica.
4. Resultado e Discussão
A partir dos autores abordados, percebe-se que o “campo do lazer” é vasto para aqueles que se propuserem a realizar um trabalho
competente com uma comunidade específica, esteja esta em um clube, acampamento, hotel, colônia de férias, centros comunitários,
entre outros. Nota-se, também, que os futuros profissionais do lazer terão este espaço garantido ao reconhecerem maneiras de
influenciar positivamente a vida das pessoas, levando-as a consciência de seus atos e de seus próprios potenciais; mas, para tanto,
haverá a necessidade de atualização em relação às constantes mudanças na área específica do lazer, ou seja, não podem limitar-se ao
que se sabe, é necessário uma incessante busca de novos conhecimentos.
5. Considerações Finais
Nota-se que há um espaço vasto para atuação no campo do lazer, para tanto, há necessidade de contínuo processo de atualização por
parte dos profissionais que atuam nesse âmbito, tendo em vista as necessidades sociais e as transformações na sociedade atual.
Referências Bibliográficas
CAMARGO, Luiz Octávio de Lima. O que é lazer. São Paulo: Brasiliense, 1986.
ISAYAMA. Helder Ferreira. O profissional da educação física como intelectual:atuação no âmbito do lazer. In: MARCELLINO, N.C.
Formação e desenvolvimento de pessoal em lazer e esporte: para atuação em políticas públicas. Campinas: Papirus, 2003.
MARCELLINO, Nelson Carvalho, et. al. Políticas Públicas de Lazer – formação e desenvolvimento de pessoal. UNIMEP,
Governo/REDE CEDES, 2007.
MARCELLINO, Nelson Carvalho. Pedagogia da animação. Campinas, Papirus, 7ª.ed., 2005.
MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer & esporte: políticas públicas (Org.), Campinas: Autores Associados, 2ª ed., 2001.
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 23ª ed., 2007.
SCHWARTZ, Gisele. O conteúdo virtual do lazer: contemporizando Dumazedier, Licere, v.6, n.2, p.23-31, Belo Horizonte, 2003.
STOPPA, Edmur Antonio.; ISAYAMA, Helder Ferreira. Lazer, mercado de trabalho e atuação profissional. In: WERNWCK, C. L.
G.; STOPPA, E. A.; ISAYAMA, H. F. Lazer e mercado. Campinas: Papirus, 2001.
WERNECK, Christianne Luce Gomes. Recreação e Lazer: apontamentos históricos no contexto da educação física. In: WERNECK,
Christianne Luce Gomes; ISAYAMA, Helder Ferreira (Orgs). Lazer recreação e educação física, Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
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