UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – CCSA DEPARTAMENTO DE ECONOMIA – DEPEC FÁBIO SANTOS NASCIMENTO A EVOLUÇÃO DA ENERGIA EÓLICA NO BRASIL NO CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (2004-2012) NATAL – RN 2012 FÁBIO SANTOS NASCIMENTO A EVOLUÇÃO DA ENERGIA EÓLICA NO BRASIL NO CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (2004-2012) Monografia apresentada como exigência para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientador: Prof. Dr. Denílson da Silva Araújo NATAL – RN 2012 Seção de Informação e Referência Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede Nascimento, Fábio Santos A evolução da energia eólica no Brasil no contexto do desenvolvimento sustentável (2004-2012) / Fábio Santos Nascimento. – Natal, RN, 2012. 148 f. : il. Orientador: Denílson da Silva Araújo. Monografia (Bacharelado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Economia. Curso de Graduação em Economia. 1. Energia Eólica – Monografia. 2. Desenvolvimento Sustentável – Monografia. 3. Fontes Renováveis de Energia – Monografia. I. Araújo, Denílson da Silva. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 621.548 FÁBIO SANTOS NASCIMENTO A EVOLUÇÃO DA ENERGIA EÓLICA NO BRASIL NO CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (2004-2012) Monografia apresentada como exigência para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Aprovada em: _____/ _____/ ______ Banca Examinadora: __________________________________ Prof. Dr. Denílson da Silva Araújo Orientador – UFRN ___________________________________ Prof. Dr. Marconi Gomes da Silva Examinador – UFRN A meus pais, Beuva e Francisco: amor, esforço e empenho na formação de quem sou. AGRADECIMENTOS Agradecer sempre é um momento complicado. Exige da nossa memória a lembrança de todos que passaram na nossa vida e a criação de hierarquia (muitas vezes injusta) nos relacionamentos. Como nem sempre cumprimos a contento, vou citar apenas alguns mais próximos: À minha querida Layanne, por dedicar amor e carinho a nós e, nos últimos meses, paciência e compreensão comigo; A meus pais, Beuva e Francisco, por ser manterem presentes mesmo à distância, motivandome e acreditando sempre no meu potencial; À minha irmã, a jornalista Valéria Nascimento, pelo incomparável apoio moral e afetivo e, ainda, pela revisão textual deste trabalho; Aos meus grandes amigos, Joe e Mateus, por estarem presentes em todos os momentos especiais da minha vida (mesmo à distância); Ao amigo e orientador, Denílson Araújo, verdadeiro mestre no sentido mais nobre do termo, pelo incentivo e pela confiança. Sua dedicação e sua paciência no ensinamento dos mais variados assuntos ultrapassam as linhas desta monografia; Ao professor Marconi Gomes da Silva, por contribuir no aprimoramento desta pesquisa e dedicar parte de seu precioso tempo na participação da banca examinadora; Aos companheiros do curso de Ciências Econômicas, especialmente Bruna, Cristina, Iúlius, Ramílson e Túlio, por compartilharem momentos bons de aprendizado; Aos professores do Departamento de Economia, por partilharem conhecimento e experiências. E, ainda, toda compreensão com as minhas ausências durante alguns momentos do curso; A familiares e amigos, somente com muito carinho e amizade para compreender todas as minhas ausências. “O desenvolvimento não é apenas um processo de acumulação e de aumento de produtividade macroeconômica, mas principalmente o caminho de acesso a formas sociais mais aptas a estimular a criatividade humana e responder às aspirações da coletividade”. (Celso Furtado, 1920-2004) NASCIMENTO, Fábio Santos. A evolução da Energia Eólica no Brasil no contexto do Desenvolvimento Sustentável (2004-2012). Monografia (Bacharel) – Curso de Ciências Econômicas, Departamento de Economia, UFRN. Natal, 2012. RESUMO Diante das discussões sobre mudanças climáticas e eficiência energética, a importância das energias renováveis ganha destaque no debate internacional. Atualmente, vários países vêm investindo para ampliar a participação das fontes renováveis na composição das suas matrizes energéticas. No Brasil, dado o seu grande potencial eólico, a geração de energia elétrica a partir do vento tem se destacado entre as fontes alternativas de energia. A introdução de inovações no setor, bem como o aumento da participação de empreendedores privados, tem contribuído para o rápido crescimento da atividade eólica no Brasil. No entanto, a adoção de políticas de fomento, muitas vezes baseadas em subsídios, levou à discussão dos benefícios sociais e econômicos decorrentes dessa tecnologia. Desse modo, este trabalho analisa o papel da Energia Eólica na expansão do setor elétrico brasileiro e a contribuição dessa tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável do país. Para cumprir com os objetivos propostos, utiliza-se como metodologia a pesquisa qualitativa do tipo exploratória, através de pesquisa bibliográfica e documental, com o uso de dados secundários. Como resultado, verificou-se que a utilização dessa fonte energética, em detrimento das fontes tradicionais de geração de energia elétrica, acarreta em benefícios socioeconômicos e ambientais. Por fim, conclui-se que o aproveitamento do grande potencial eólico nacional é crucial para a manutenção de uma matriz elétrica limpa e renovável, que possibilite o Desenvolvimento Sustentável do país e garanta a sua segurança energética. Palavras-chaves: Energia Eólica; Desenvolvimento Sustentável; Fontes Renováveis de Energia. NASCIMENTO, Fábio Santos. A evolução da Energia Eólica no Brasil no contexto do Desenvolvimento Sustentável (2004-2012). Monografia (Bacharel) – Curso de Ciências Econômicas, Departamento de Economia, UFRN. Natal, 2012. ABSTRACT Given the discussions on climate change and energy efficiency, the importance of renewable energy gained prominence in the international debate. Currently, several countries have been investing to expand the share of renewables in its energy matrix composition. In Brazil, given its huge wind potential, the generation of electricity from wind has emerged among the alternative sources of energy. The introduction of innovations in the sector, as well as increased participation of private entrepreneurs has contributed to the rapid growth of wind activity in Brazil. However, the adoption of policies encouraging, often based on subsidies, led to a discussion of the social and economic benefits resulting from this technology. Thus, this paper analyzes the role of wind energy expansion in the Brazilian electric sector and the contribution of this technology for the sustainable development of the country. To meet its objectives, it is used as a qualitative research methodology of the exploratory type, through a literature review and documentary, using secondary data. As a result, it was found that the use of this energy source, rather than traditional sources of electricity generation, leads to socioeconomic and environmental benefits. Finally, it is concluded that the use of large national wind potential is crucial for maintaining a clean and renewable energy matrix, enabling the sustainable development of the country and ensure its energy security. Keywords: Wind Power; Sustainable Development; Renewable Energy Sources. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Extração de recursos e lançamento de dejetos pelo sistema econômico.................46 Figura 2 – Fluxos de matéria e energia pelo sistema econômico..............................................55 Figura 3 – O efeito estufa..........................................................................................................64 Figura 4 – Esquema simplificado de um gerador eólico...........................................................75 Figura 5 – Diferentes tamanhos de aerogeradores e suas principais aplicações.......................76 Figura 6 – Economia da energia eólica.....................................................................................86 Figura 7 – Mapa eólico brasileiro.............................................................................................98 Figura 8 – Distribuição estadual da capacidade eólica instalada no Brasil (2012).................108 Figura 9 – Distribuição estadual da indústria eólica no Brasil (2012)....................................112 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Oferta interna de energia – Brasil (1940-2010).....................................................70 Gráfico 2 – Oferta interna de energia elétrica por fonte – Brasil (2010)..................................71 Gráfico 3 – Capacidade instalada de geração eólica no mundo (1996-2011)...........................80 Gráfico 4 – As dez maiores capacidades instaladas no mundo em 2011..................................81 Gráfico 5 – Evolução dos aerogeradores (1985-2010).............................................................82 Gráfico 6 – Previsão do mercado de energia eólica no mundo (2012-2016)............................83 Gráfico 7 – Distribuição do custo de capital em um sistema de geração eólica.......................85 Gráfico 8 – Custos da geração eólica em relação à velocidade do vento e à taxa de retorno de capital....................................................................................................................87 Gráfico 9 – Preço da eletricidade no Reino Unido para diferentes fontes (2012)....................88 Gráfico 10 – Custos de geração de eletricidade na União Europeia em 2015 e 2030..............90 Gráfico 11 – Exemplo ilustrativo do custo social da energia...................................................91 Gráfico 12 – Desenvolvimento das tecnologias de energia renovável.....................................92 Gráfico 13 – “Sazonalidade inversa” da energia eólica no Nordeste......................................100 Gráfico 14 – Fator de capacidade médio da geração eólica para países selecionados em 2009 (%) ....................................................................................................................101 Gráfico 15 – Evolução da capacidade instalada de energia eólica no Brasil (2005-2012)....102 Gráfico 16 – Perspectiva de crescimento da energia eólica no Brasil....................................106 Gráfico 17 – Distribuição estadual dos parques eólicos no Brasil (2012)..............................109 Gráfico 18 – Participação de mercado das empresas produtoras de Energia Eólica (2012)...110 Gráfico 19 – Histórico de preços da energia eólica no Brasil: PROINFA x Leilões..............114 Gráfico 20 – Custo da energia eólica – LCOE (R$/MWh) ....................................................115 Gráfico 21 – Custo Marginal de Operação médio dos principais subsistemas para o Brasil.............................................................................................................117 Gráfico 22 – Estimativa da redução de emissões de CO2 a partir da energia eólica no Brasil...............................................................................................................130 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – A energia eólica é a fonte mais econômica entre as energias renováveis..............93 LISTA DE SIGLAS ABEEólica – Associação Brasileira de Energia Eólica ACL – Ambiente de Contratação Livre APA – Área de Proteção Ambiental BEN – Balanço Energético Nacional BM&F – Bolsa de Mercadorias e Futuros BNB – Banco do Nordeste CBEE – Centro Brasileiro de Energia Eólica CCGT – Combined Cycle Gas Turbines CCX – Chicago Climate Exchange CDE – Conta de Desenvolvimento Energético CDM – Clean Development Mechanism CELPE – Companhia Energética de Pernambuco CEPAL – Comissão Econômica para América Latina e Caribe CEPEL – Centro de Pesquisa de Energia Elétrica CER - Certified Emission Reduction CMMAD – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento CMO – Custo Marginal de Operação COP – Conference of Parts CRESESB – Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito CVU – Custo Variável Unitário DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes DS – Desenvolvimento Sustentável ECX – European Climate Exchange EE – Economia Ecológica EPE – Empresa de Pesquisa Energética EWEA – European Wind Energy Association FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos GEE – Gases de Efeito Estufa GIZ – Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GWEC – Global Wind Energy Council GWP – Global Warming Potential IDEMA – Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte IDH – Índice de Desenvolvimento Humano IEA – International Energy Agency INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo IPCC – Intergovernamental Panel on Climate Change IPTU – Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana IRENA - International Renewable Energy Agency ISEE – International Society for Ecological Economics ISS – Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza IUCN – International Union for Conservation of Nature Kh – Capital humano Kn – Capital natural Kp – Capital produzido Ks – Capital social LCOE – Levelised Cost of Energy LER – Leilão de Energia Reserva LFA – Leilão de Fontes Alternativas MceX – Montréal Climate Exchange MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo MEB – Matriz Energética Brasileira MMA – Ministério do Meio Ambiente dos Recursos Hídricos e da Amazonas Legal MME – Ministério de Minas e Energia O&M – Operação e Manutenção OECD – Organisation for Economic Co-operation and Development OIE – Oferta Interna de Energia ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico ONU – Organização das Nações Unidas P&D – Pesquisa e Desenvolvimento PCH – Pequena Central Hidrelétrica PIA – Produtor Independente Autônomo PIB – Produto Interno Bruto PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PROEÓLICA – Programa Emergencial de Energia Eólica PROINFA – Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica RCE – Reduções Certificadas de Emissões SECTEC – Secretaria de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente do estado de Pernambuco SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Sfra – Sustentabilidade fraca Sfor – Sustentabilidade forte SPE – Sociedades de Propósito Específico SIN – Sistema Interligado Nacional TCX – Tianjin Climate Exchange TJRN – Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte UFPE – Universidade Federal de Pernambuco UNCED – United Nations Conference on Environment and Development UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organisation UNFCCC – United Nations Framework Convention on Climate Change UNEP – United Nations Environment Programme VET – Valor Econômico Total WANEB – Wind Atlas for the Northeast of Brazil WTP – Willingness-To-Pay LISTA DE SÍMBOLOS CH4 – Metano CO2 – Dióxido de Carbono N2O – Óxido Nitroso O3 – Ozônio LISTA DE UNIDADES GW – Gigawatt kW – Quilowatt m²/GWh – Metros quadrados por Gigawatt-hora MtCO2e – Milhões de Tonelada Métrica de Dióxido de Carbono Equivalente M€ – Milhões de Euros MW – Megawatt Tep – Tonelada equivalente de petróleo TWh – Terawatt-hora SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16 2 NO BERÇO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .......................................... 24 2.1 A Construção do Conceito de Desenvolvimento ........................................................ 24 2.2 Discussões sobre a temática da Sustentabilidade ....................................................... 30 2.3 A Economia Ambiental Neoclássica: Reminiscências do Passado no Tempo Presente .......................................................................................................................... 34 2.3.1 A Economia da Poluição: uma nova Roupagem Neoclássica na discussão do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Econômico ............................................. 35 2.3.2 A Economia dos Recursos Naturais: uma Tentativa de Desvencilhamento dos Postulados Ortodoxos ............................................................................................ 37 2.3.3 Critérios Neoclássicos de Sustentabilidade .......................................................... 40 2.4 A Economia Ecológica: antítese aos Postulados Ortodoxos no tratamento do binômio Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico........................................... 42 2.5 Desenvolvimento Sustentável: algumas considerações complementares sobre a temática .......................................................................................................................... 47 3 ENERGIA, DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE .......................................... 49 3.1 Energia e Desenvolvimento .......................................................................................... 49 3.2 Energia e Meio Ambiente ............................................................................................. 51 3.3 O Protocolo de Quioto e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo: a Agenda Internacional.................................................................................................................. 54 3.4 A Matriz Energética Brasileira (1940-2010)............................................................... 57 3.5 Energia Eólica: aumento da capacidade de Oferta de Energia Limpa ................... 61 3.5.1 Energia Eólica: Fatos e Mitos ............................................................................... 64 3.6 Panorama Mundial da geração de Energia Eólica .................................................... 67 3.7 A Energia Eólica posta em xeque ................................................................................ 72 4 A ENERGIA EÓLICA NO BRASIL ................................................................................. 82 4.1 A Gênese e o Potencial do Setor .................................................................................. 82 4.2 A capacidade instalada de Energia Eólica em Operação .......................................... 88 4.3 Programas de Incentivo à Produção e os Leilões de Energia Eólica no Brasil ....... 90 4.4 Desenvolvimento do Setor Eólico no Brasil: Diversificação das Fontes Energéticas ......................................................................................................................................... 94 4.5 O Custo da Energia Eólica no Brasil ........................................................................ 101 4.6 O Mercado de Créditos de Carbono ......................................................................... 104 4.7 O Desenvolvimento Sustentável no Brasil ................................................................ 107 4.7.1 Dimensão Econômica e Social do assim chamado Desenvolvimento Sustentável ................................................................................................................................ 108 4.7.2 Dimensão Ambiental do Desenvolvimento Sustentável no Brasil.................... 116 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 121 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 125 16 1 INTRODUÇÃO A Revolução Industrial, no final do século XVIII, marcou o início de uma nova era para a maioria das nações. Em decorrência da referida Revolução, ocorreram um crescimento acelerado da população e um intenso processo de urbanização das cidades, que causaram um grande aumento da demanda por serviços energéticos. Ademais, a modernização das cidades e a própria expectativa de elevação nos padrões de vida e no conforto levaram a uma maior pressão para a utilização dos recursos energéticos. Seja pelo aumento das necessidades de transporte ou pela maior demanda de serviços industriais e comerciais, a demanda global por energia seguiu, desde então, em ritmo acelerado de crescimento. Nas sociedades modernas, o desenvolvimento econômico esteve sempre mais associado à produção de riqueza do que à sua distribuição. O padrão de riqueza, até então adotado, ficou marcado pelo consumo material desregrado e pelo uso intensivo das fontes energéticas, sobretudo daquelas oriundas de recursos fósseis. Convém ressaltar que o aumento da demanda energética fóssil acarreta em alterações climáticas do planeta, em virtude da emissão de gases de efeito estufa, com efeitos prejudiciais à saúde humana, ao meio ambiente, à agricultura e aos recursos hídricos. Ao final da década de 1960, o debate sobre a incompatibilidade entre desenvolvimento e meio ambiente se acirrava na comunidade internacional. A utilização irracional de recursos não-renováveis seria responsável por uma inevitável degradação ambiental com proporções catastróficas e rápida debilitação das condições de vida na biosfera. Desse modo, muitos pesquisadores e estudiosos defendiam a tese de que o planeta entraria em colapso caso os países em desenvolvimento seguissem os passos dos países desenvolvidos no consumo desenfreado dos recursos do planeta. Nesse contexto, a Organização das Nações Unidas (ONU) reuniu um grupo de especialistas na Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (correspondente em inglês a UNCED) para propor uma nova forma de se pensar o desenvolvimento. Assim, surgiu o conceito de Desenvolvimento Sustentável, publicado pela primeira vez no relatório dessa Comissão intitulado “Nosso Futuro Comum” que representava a capacidade de se desenvolver no presente sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Portanto, Desenvolvimento Sustentável significa equilibrar as três componentes do meio ambiente: o natural/ecológico, o social e o econômico. Um dos principais temas discutido na Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável realizada este ano (2012) no Brasil, foi a prosperidade 17 econômica com proteção ao meio ambiente e inclusão social. Nesse sentido, o debate sobre produção energética e fontes renováveis de energia foi o grande destaque da Conferência, pois energia é um atributo fundamental para o desenvolvimento de uma nação. Para Ferreira & Ferreira (1992), a insustentabilidade da sociedade contemporânea decorre de quatro fatores principais: o primeiro é o crescimento populacional e a concentração espacial da população vivenciada nos últimos anos; o segundo fator é a redução do suporte aos recursos naturais; o terceiro refere-se à utilização de sistemas produtivos que utilizam tecnologias poluentes e de baixa eficiência energética; o último fator é a adoção de um sistema de valores que propicia a expansão ilimitada do consumo material. Dessa maneira, para que o almejado Desenvolvimento Sustentável possa ser alcançado, é necessária a adoção de políticas que reduzam o uso de combustíveis fósseis, ampliem a utilização de fontes renováveis de energia e aumentem a eficiência na utilização dos recursos e na conservação de energia. Logo, qualquer ação que venha a promover uma dessas componentes é um passo importante rumo a uma sociedade verdadeiramente desenvolvida. Ferreira & Ferreira (1992) mostraram que, para os países periféricos, é muito difícil falar em desenvolvimento ecologicamente correto, pois, nesses países, o produto da exploração intensiva dos recursos naturais visa saldar compromissos financeiros internacionais. Desse modo, segundo os referidos autores, o modelo de desenvolvimento na América Latina não é sustentável sob o ponto de vista ecológico, social ou ambiental, pois seus efeitos são destrutivos tanto para os sistemas naturais quanto para a sociedade. Diante dessa situação, os países periféricos deveriam seguir um modelo de Desenvolvimento Sustentável com enfoque num paradigma endógeno. Somente assim, seria possível alcançar um desenvolvimento sustentado, planejado de modo participativo e que mobilizasse, ao máximo, os recursos potenciais das economias regionais (CALVANCANTI, 1995). Segundo Gvces & Iedi (2010), o caminho da sociedade global rumo a um modelo de Desenvolvimento Sustentável passa pela transição para uma economia mais inclusiva do ponto de vista social e mais eficiente na sua relação com o meio ambiente. Nesse processo de transição, um conceito-chave refere-se às inovações. A inovação sustentável é aquela que gera, ao mesmo tempo, resultados econômicos, sociais e ambientais positivos. A inovação sustentável é a introdução (produção, assimilação ou exploração) de produtos, processos produtivos, métodos de gestão ou negócios, novos ou significativamente melhorados para a organização e que traz benefícios econômicos, sociais e ambientais 18 comparados com alternativas pertinentes. Nessa concepção, é necessário avançar em benefícios líquidos e não somente reduzir impactos negativos. Além disso, a condição “comparação com alternativas pertinentes” é essencial ao conceito de inovação sustentável, pois os benefícios esperados devem ser significativos, ou não negligenciáveis, nas três dimensões da Sustentabilidade. Contudo, dados da Agência Internacional de Energia (correspondente em inglês a IEA) mostraram que as principais fontes de energia ainda são de origem fóssil, não renovável e poluente como o petróleo, o carvão e o gás natural. Em 2009, cerca de dois terços da energia consumida no mundo foi proveniente de tais fontes. Desse modo, o atual modelo de produção e consumo de energia mostra-se incompatível com o Desenvolvimento Sustentável das nações. Para reverter esse quadro, muitos países têm investido em fontes renováveis de energia para geração elétrica não-poluente de maneira a reduzir os impactos ambientais e ampliar a oferta de energia. Nesse aspecto, o crescimento verificado, nos últimos anos, é notável, porém a participação dessas fontes na oferta total de energia ainda é muito reduzida. Apesar da prioridade do debate internacional sobre energias renováveis, a transição para uma matriz energética global mais renovável não ocorrerá de forma abrupta, pois a dinâmica que sustenta o modelo energético atual é difícil de ser revertida. Os principais motivos são o elevado nível de consumo material e energético tanto nos países centrais quanto nos periféricos (nesses em menor escala); a infraestrutura energética não-renovável já se encontra estabelecida, planejada para o longo prazo e com uma intensa inversão de capital; a crescente demanda global por serviços energéticos e o crescimento populacional. De acordo com Sachs (2007), a História da humanidade é marcada por revoluções energéticas sucessivas, que ditam o ritmo da produção e da alocação do excedente econômico. Nenhuma dessas grandes revoluções aconteceu por esgotamento do recurso energético, mas, devido à identificação de uma nova fonte de energia com qualidades superiores e custos inferiores, isto é, que fossem mais eficientes e mais baratas. Nos últimos anos, a utilização de recursos renováveis procedentes de diversos ciclos da natureza tem se destacado em virtude dos efeitos do aquecimento global e de conflitos geopolíticos envolvendo fontes fósseis. No Brasil, aproximadamente três quartos da Oferta Interna de Energia Elétrica provêm de hidrelétricas. Entretanto, o país enfrenta sérias dificuldades com a expansão hidroelétrica atualmente. Como a maior parte das opções existentes para novas hidrelétricas está localizada na Amazônia, sua utilização enfrenta elevados custos de produção e distribuição, além de forte oposição dos grupos ambientalistas. Assim, dada à perspectiva de crescimento da 19 demanda energética nacional, os combustíveis fósseis devem aumentar sua participação na matriz elétrica brasileira, resultando num aumento das emissões de gases de efeito estufa do país. Nesse contexto, as fontes renováveis de energia desempenham um papel muito importante, especialmente no atendimento aos objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Entretanto, para alcançar um padrão energético compatível com esse novo modelo de desenvolvimento, é necessária a ação do Estado para acelerar o progresso de novas tecnologias ao longo da cadeia de inovação de energia. Dutra (2007) sinalizou que, para o desenvolvimento de fontes alternativas no mercado de energia elétrica, são necessárias políticas específicas para superar as diversas barreiras ao amadurecimento tecnológico dessas fontes e à sua inserção no mercado convencional. O desenvolvimento das energias renováveis não se limita ao atendimento de aspirações ambientalistas. Através da ampliação do uso dessas fontes, o país poderá diversificar a sua matriz energética e reduzir a dependência de combustíveis fósseis, “altamente influenciados” por um cenário político internacional cada vez mais instável. Desse modo, o desenvolvimento de fontes renováveis de energia contribui para a segurança energética do país. Entre as energias renováveis, a Energia Eólica se destaca por possuir vantagens comparativas em relação às demais fontes; seu principal recurso (o vento) é gratuito e ilimitado, sua produção não gera resíduos e o tempo de instalação de uma usina eólica é relativamente pequeno; além disso, é mais barata do que a energia solar, seu principal concorrente, especialmente nas aplicações em áreas remotas que não podem ser interligadas à rede elétrica. A Energia Eólica também apresenta vantagens adicionais devido às externalidades positivas geradas. A expansão desse setor possibilita o desenvolvimento de uma indústria eólica no país com desdobramentos para outros setores da economia. Além disso, a implantação de parques eólicos em regiões não-urbanizadas requerem obras de infraestrutura, que resultam em melhorias significativas para a comunidade local. A adoção de políticas nacionais para o desenvolvimento da Energia Eólica no país pode introduzir inovações no setor que permitirão a redução dos custos de implantação dos parques eólicos e tornarão essa fonte ainda mais competitiva diante das outras fontes de geração de energia. A tecnologia de inovação é o principal vetor para o desenvolvimento do setor eólico mundial. Assim, a Energia Eólica surge como alternativa energética limpa e 20 renovável que possibilita o desenvolvimento de novas tecnologias no país e a redução de diferenças regionais em relação ao acesso à eletricidade. A existência de uma legislação específica para o desenvolvimento das fontes alternativas de energia é crucial para que o uso dessas tecnologias se dissemine. Segundo Barroso Neto (2010), os custos da energia elétrica gerada por fontes eólicas têm apresentado redução nos últimos anos devido a basicamente quatro fatores: introdução de técnicas mais eficazes, aquisição de aprendizado, economia de escala e redução dos custos de financiamento. Nessa conjuntura, alguns programas governamentais foram instituídos para incentivar a Energia Eólica no Brasil. Criado em resposta à crise de Energia Elétrica em 2001, o Programa Emergencial de Energia Eólica (PROEÓLICA) previu a implantação de 1.050 megawatts (MW) até dezembro de 2003. Em seguida, o Ministério de Minas e Energia (MME) instituiu o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), que incentivava não apenas a fonte eólica, mas também as pequenas centrais hidrelétricas e as térmicas à biomassa. A partir do PROINFA, o Brasil conseguiu ampliar a participação da Energia Eólica na matriz elétrica nacional e multiplicar a capacidade instalada dessa fonte no país. Os últimos empreendimentos contratados pelo Programa entraram em operação no fim de 2011. Ao total, foram implantados 41 projetos de Energia Eólica, que juntos adicionaram quase 1.200 MW à capacidade instalada brasileira (ELETROBRAS, 2011). Os resultados dos programas governamentais de fomento à Energia Eólica podem ser medidos não apenas pela ampliação da capacidade instalada do país, mas também pela queda dos preços dessa energia no mercado interno. De acordo com o relatório “Tendências Globais em Energia Sustentável”, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o Brasil possui hoje a menor tarifa do mercado para a Energia Eólica do mundo que coloca essa fonte de energia em concorrência direta com as fontes tradicionais. Para o diretor-executivo do PNUMA, Achim Steiner, o governo brasileiro tem grande capacidade de desenvolver programas de incentivo à energia limpa e competir no mercado internacional (O GLOBO, 2012). Diante desse cenário, o problema de pesquisa que se pretende enfrentar refere-se à abordagem teórica do Desenvolvimento Sustentável mediante a utilização das fontes de energia renovável. Para tanto, procurar-se-á responder a seguinte pergunta de pesquisa: De que maneira a Energia Eólica contribui para o Desenvolvimento Sustentável no Brasil? 21 Desse modo, o objetivo geral deste trabalho é analisar o papel da Energia Eólica na expansão do setor elétrico brasileiro e a contribuição dessa tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável no país. Além do objetivo principal, procura-se esclarecer o tema tendo como guia os seguintes objetivos específicos: a) apresentar as concepções sobre Desenvolvimento e Sustentabilidade à luz das diferentes Escolas do Pensamento Econômico; b) contextualizar as mudanças no modelo de consumo energético, justificando a importância da utilização das energias renováveis, entre elas a eólica; c) apresentar a evolução da Matriz Energética Brasileira e as perspectivas futuras sobre a participação da Energia Eólica; d) descrever as políticas nacionais de fomento à utilização da Energia Eólica; e) analisar a evolução dos custos da Energia Eólica no Brasil bem como sua competitividade diante de outras fontes energéticas; f) avaliar os efeitos do Desenvolvimento do Setor Eólico no país sob a Ótica do Desenvolvimento Sustentável. Com base nos fundamentos da Economia Ecológica, a hipótese fundamental deste trabalho é que a Energia Eólica pode contribuir de maneira significativa para o atendimento aos objetivos nacionais sobre o Desenvolvimento Sustentável. Para alcançar esse fim, são necessários incentivos à produção e medidas para atração de investimentos no setor tanto na geração de energia quanto na fabricação de equipamentos. A criação de um ambiente de mercado favorável para a expansão do setor eólico poderá atrair indústrias para o país. O desenvolvimento da indústria eólica nacional poderá atender tanto o abastecimento do mercado interno quanto a demanda de outros mercados, especialmente a América Latina, região na qual o Brasil já lidera a produção de Energia Eólica. O uso da Energia Eólica como fonte alternativa renovável acarreta em benefícios energéticos sob o ponto de vista da diversificação da Matriz Elétrica Nacional, além de trazer benefícios econômicos quanto ao aproveitamento dos recursos naturais para um desenvolvimento sustentado da indústria local. Além dos benefícios citados, há o desenvolvimento sob o aspecto social em virtude da geração de empregos e novos profissionais envolvidos nas mais diversas áreas de abrangência da Energia Eólica. Sob essa perspectiva, a justificativa deste trabalho encontra-se na necessidade de reunir as informações mais recentes sobre o atual estado da arte da Energia Eólica no Brasil. Por se tratar de um setor incipiente no país e ao mesmo tempo muito dinâmico, alguns poucos 22 trabalhos anteriormente elaborados encontravam-se desatualizados em virtude dos recentes desenvolvimentos experimentados pelo setor. Além disso, é preciso a realização de estudos que avaliem os impactos da Energia Eólica à luz das modernas teorias da Economia Ecológica e do Desenvolvimento Sustentável, temas centrais nas discussões internacionais sobre o desenvolvimento no século XXI. É importante também que sejam analisados os efeitos da Energia Eólica sobre as economias regionais, pois aquela pode se tornar um novo elemento dinâmico para essas economias. A metodologia utilizada neste trabalho foi a pesquisa qualitativa do tipo exploratória, através de pesquisa bibliográfica e documental com a utilização de dados secundários. Segundo Creswell (2007), o propósito de utilizar a pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, é a investigação de um tópico quando suas variáveis e bases teóricas são desconhecidas. Para tanto, os instrumentos utilizados neste trabalho foram as pesquisas do tipo bibliográfica e do tipo documental. A diferença entre os dois tipos de pesquisa refere-se à origem das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica utiliza-se de material já elaborado por outros autores, a pesquisa documental utiliza-se de materiais que ainda não receberam tratamento analítico ou que já foram processados, mas podem receber outras interpretações como tabelas, relatórios de empresas etc. (GIL, 2002). A pesquisa bibliográfica foi realizada através de consulta a livros e artigos técnicos e científicos. Justifica-se essa escolha pela necessidade de agrupamento dos elementos teóricos sobre o tema através das contribuições de alguns autores na área de estudo especificada. A pesquisa documental, por sua vez, foi realizada através da análise de relatórios, tabelas e gráficos fornecidos por instituições renomadas de caráter nacional ou internacional. Para o método de pesquisa, foi escolhido o dedutivo, o referencial teórico e analítico construído para ampliar o entendimento sobre o tema e responder a problemática levantada. O trabalho está divido em cinco capítulos, incluindo esta introdução enumerada como capítulo um. O capítulo dois apresenta a fundamentação teórica do trabalho a partir da exposição dos conceitos de Desenvolvimento, Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável sob a ótica de diferentes Escolas do Pensamento Econômico. Nesse capítulo, ainda são apresentadas as duas principais correntes ambientais dentro da Ciência Econômica, a saber: a Economia Ambiental Neoclássica e a Economia Ecológica. O terceiro capítulo mostra a relação entre Energia e Desenvolvimento, bem como os impactos da produção de energia sobre o Meio Ambiente. A discussão recente sobre o Protocolo de Quioto e o Mercado de Carbono também estão incluídas nesta seção, além de 23 uma breve discussão sobre a Matriz Energética Brasileira. O capítulo se encerra com a exposição da tecnologia eólica – as vantagens e os desafios, o panorama mundial e as perspectivas de crescimento do setor. No quarto capítulo, é apresentado o setor eólico brasileiro: o surgimento do setor; o potencial dessa tecnologia no país; a evolução da capacidade instalada e a queda dos preços; os programas de fomento e o novo marco regulatório; a composição da indústria eólica nacional. No final do capítulo, é feita uma análise sobre os impactos do desenvolvimento desse setor sob a perspectiva das teorias de Desenvolvimento Sustentável. Ao término, as considerações finais são apresentadas com base no referencial teórico adotado e utilizando-se de toda a abordagem anterior acerca da temática do Desenvolvimento Sustentável a partir da utilização da fonte eólica. 24 2 NO BERÇO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 2.1 A Construção do Conceito de Desenvolvimento A preocupação com o Desenvolvimento tem suas raízes mais profundas na gênese da Ciência Econômica. Ainda que, de maneira preliminar, a referida preocupação pode ser encontrada nos escritos clássicos de Adam Smith, David Ricardo, Thomas Malthus e Karl Marx. Nessa literatura, o desenvolvimento era uma questão fundamental, em que pese o fato deste ponto, na Teoria do Desenvolvimento Econômico, ancorar significativa polêmica1. Essas representam as chamadas “teorias clássicas do desenvolvimento” (MANTEGA & REGO, 2002). Para a Escola Clássica, Desenvolvimento é visto como sinônimo de crescimento econômico. Baseado no método idealista-racionalista, essa corrente acredita que o bem estar da sociedade seria alcançado a partir da soma do bem estar dos seus indivíduos, que seriam guiados pelo egoísmo existente em cada um. Em Smith, o Desenvolvimento Econômico das nações ocorreria de forma natural, quando o governo não intervisse, a partir do constante aumento da produtividade das manufaturas, do comércio exterior e da agricultura. Observe-se que o positivismo comteano cimentava de forma expressiva, à exceção de Karl Marx, as correntes clássicas do pensamento econômico. Nos trabalhos de Malthus e Ricardo, o Desenvolvimento da sociedade está relacionado com o aumento da produção e da renda nacional que seriam obtidos a partir dos investimentos feitos pelos capitalistas. O crescimento da população seria um segundo determinante para o desenvolvimento da nação, pois, aquele está relacionado com a taxa de crescimento do investimento e o nível dos salários dos trabalhadores. Assim, a taxa de crescimento da população deveria ser menor que a taxa de crescimento da produção. Nas obras de Stuart Mill e Marshall, eles ampliaram a ideia de Desenvolvimento. Pela primeira vez, no pensamento econômico, o Desenvolvimento da nação não estava ligado somente ao crescimento da produção, mas possuía um caráter social. Nesse novo aspecto, a educação tem um papel fundamental. Essa permitiria um aumento da eficiência do trabalho que impactaria na poupança, elevando os investimentos e a riqueza do país. Além disso, influenciam o Desenvolvimento desse capital humano, o tamanho e a qualidade de vida da 1 Quanto à polêmica que se faz referência ver, com atenção, Furtado (2009). 25 população. Portanto, algumas variáveis não econômicas também deveriam ser objetivos das políticas de Desenvolvimento Econômico. Para Marx, o desenvolvimento está associado à sucessão de etapas históricas bem definidas. Nessa visão, a História humana é apresentada como uma sucessão de modos de produção, movida pelas contradições que se estabelecem entre forças produtivas e relações de produção ou entre base econômica e superestrutura, cujo último estágio seria o comunismo. Portanto, o Desenvolvimento seria um caminho natural após a superação dessas fases. Nos termos de Marx (MARX, 2002, p. 16-18 apud BONENTE, 2011, p. 3-4): [...] ‘o país desenvolvido não faz mais do que representar a imagem futura do menos desenvolvido’, ou mesmo, ‘uma nação deve e pode aprender de outra. [...] não pode ela suprimir, por saltos ou por decreto, as fases naturais de seu desenvolvimento’. Schumpeter (1997), por sua vez, vai divergir de Marx ao elaborar uma Teoria do Desenvolvimento focada nas atividades do empresário, o empreendedor inovador. Em sua teoria, o conceito de Desenvolvimento Econômico está associado à ideia de inovação tecnológica e rompimento do fluxo circular. Esse autor definiu um papel essencial para os fatores técnicos e sociais (de organização social) na dinâmica da economia. Nesse sentido, o crescimento da produção dependeria das mudanças verificadas nos fatores de produção, na tecnologia e no ambiente sociocultural. Schumpeter também critica a posição dos economistas clássicos e neoclássicos, que consideravam o desenvolvimento econômico determinado exclusivamente por fatores ligados à produção. Para esses autores, o ritmo de desenvolvimento dependeria do grau de utilização e da taxa de aumento dos diversos tipos de fatores produtivos, não avaliando o impacto de forças sociais e políticas (SCHMIDT FILHO, 2011). A função de produção schumpeteriana pode ser escrita da seguinte forma: Y = f (K, N, L, S, U), onde Y representa a produção; K, os meios de produção; N, os recursos naturais; L, a força de trabalho; S, o fundo de conhecimento da sociedade; U, o meio ambiente sociocultural. Os três primeiros fatores seriam os componentes de crescimento, que apresentam uma variação lenta e gradual, enquanto que os dois últimos seriam responsáveis pelo desenvolvimento, isto é, por “saltos” e descontinuidades verificados no sistema econômico. Portanto, “S” e “U” são os fatores mais importantes na concepção schumpeteriana de Desenvolvimento Econômico (ADELMAN, 1972). Fica evidente aqui a distinção feita por Schumpeter entre Desenvolvimento e o simples Crescimento Econômico. Enquanto o Crescimento estava associado ao aumento da renda per capita, o Desenvolvimento envolvia transformações sociais e políticas. O Desenvolvimento é 26 um fenômeno distinto, “é uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo, perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente” (SCHUMPETER, 1997, p. 75). Além disso, segundo o mesmo autor: “as causas e [...] a explicação do desenvolvimento devem ser procuradas fora do grupo de fatos que são descritos pela teoria econômica” (Idem). Com o fim da II Guerra Mundial e a crise do colonialismo, inicia um período de grande expansão do sistema econômico capitalista, que ficou conhecido como the Golden Age of Capitalism (os Anos Dourados do Capitalismo). O período ficou marcado pela excepcional prosperidade das economias capitalistas avançadas e por um grande otimismo referente às possibilidades de superação do atraso econômico dos países subdesenvolvidos. Nesse cenário, acreditava-se que os benefícios econômicos da divisão internacional do trabalho seriam estendidos a todas as nações e que os países subdesenvolvidos de produção primária seriam contemplados mediante o intercâmbio internacional. No entanto, Prebisch (2000) mostrou que o mainstream econômico da época estava errado, pois, baseava-se na falsa premissa que o fruto do progresso técnico tenderia a se distribuir de forma equitativa por toda a coletividade através da queda dos preços e do consequente aumento da renda. Durante os “Anos Dourados”, a modernidade da civilização ocidental passa a ser encarada como um fenômeno universal, um estágio social que todas as nações deveriam atingir, pois correspondia ao pleno desenvolvimento da sociedade democrática que uma parte dos vitoriosos identificava com o liberalismo norte-americano e inglês e, outra parte, com o socialismo russo. Assim, surgem vários trabalhos dedicados à análise destes temas sob o título de “Teoria do Desenvolvimento” (SANTOS, 2002). A principal característica desses trabalhos era a concepção de Desenvolvimento como a adoção de normas de comportamento, atitudes e valores identificados com a racionalidade econômica moderna. Essa racionalidade caracterizava-se pela busca da produtividade máxima, pela geração de poupança e pela criação de investimentos que levassem à acumulação permanente da riqueza dos indivíduos e, consequentemente, de cada nação (SANTOS, 2002). Em 1960, a Teoria do Desenvolvimento alcançou seu ponto mais radical com a publicação da obra de Rostow intitulada “Etapas do Crescimento Econômico”. Nesse trabalho, Rostow define todas as sociedades pré-capitalistas como tradicionais. Para ele, as maiores causas do retardo econômico estariam nos baixos níveis de poupança e na ausência de uma classe empresarial dinâmica em alguns países (MANTEGA & REGO, 2002). 27 Sob essa perspectiva, um país entraria na fase de Desenvolvimento quando ocorresse um brusco aumento da taxa de investimento na difusão do sistema de produção baseado na fábrica moderna. Esse fenômeno ficou conhecido, na literatura, como take-off (a decolagem) de Rostow. Assim, a questão do Desenvolvimento tornou-se um modelo ideal de ações econômicas, sociais e políticas interligadas, que ocorreriam em determinados países sempre que se dessem as condições ideais à sua “decolagem” (MANTEGA & REGO, 2002; SANTOS, 2002). Uma característica compartilhada entre todos os autores citados é a visão do Subdesenvolvimento como uma ausência de Desenvolvimento. O atraso dos países subdesenvolvidos era explicado a partir dos obstáculos existentes a seu pleno Desenvolvimento ou sua Modernização. No entanto, essas teorias enfraquecem com a incapacidade do capitalismo de reproduzir experiências bem-sucedidas de desenvolvimento em suas ex-colônias. Mesmo países com taxas de crescimento econômico elevadas como os latino-americanos estavam limitados pela profundidade da sua dependência política e econômica no cenário internacional. Em oposição à visão dominante, surge uma nova corrente de pensamento de caráter heterodoxo e oriunda dos países do sul. As novas ideias surgem da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) que desenvolve uma Teoria Desenvolvimentista Estruturalista. Os trabalhos da CEPAL, coordenados por Raul Prebisch, tinham um enfoque tanto holístico quanto histórico, analisando as disparidades nos termos de troca e as diferentes formas de dependência entre os países do centro e da periferia. A abordagem da CEPAL focava um desequilíbrio fundamental no relacionamento entre centro e periferia e as implicações disso para a capacidade de acumulação de capital da região. Enquanto os países centrais exportavam bens manufaturados, a América Latina tornava-se exportadora de commodities, com uma taxa de crescimento da produtividade muito inferior à indústria manufatureira. Desse modo, tende a ocorrer uma deterioração dos termos de intercâmbio em detrimento das commodities produzidas na periferia do sistema capitalista. Para os cepalinos, a alternativa para os países da periferia seria uma estratégia de desenvolvimento conduzida pelo Estado, que promovesse a industrialização através da política de substituição de importações (MELLO, 2006). A crítica à visão cepalina é feita pela Escola da Dependência, que propôs novos diagnósticos e novas medidas de Desenvolvimento sob uma perspectiva mais política e sociológica. Conforme mostrou Santos (2002), podem se distinguir três correntes nessa Escola: os estruturalistas, os neomarxistas e os interdependentes. 28 O primeiro grupo é formado por cientistas sociais ligados à CEPAL, que fazem uma autocrítica relacionada às limitações de um projeto de Desenvolvimento Nacional Autônomo. Nesse grupo, incluem-se os trabalhos de Oswaldo Sunkel, Aníbal Pinto, os contemporâneos de Celso Furtado e a obra final de Raul Prebisch (“O Capitalismo Periférico”). Para essa corrente, o Desenvolvimento não diminuía os vínculos de dependência, pois a cadeia produtiva dos países periféricos continuava com defasagem tecnológica e os rumos políticos ainda refletiam um processo histórico de consolidação dos interesses das elites conservadoras. A corrente neomarxista afirma que Desenvolvimento e Dependência resultam de uma dinâmica internacional desigual, própria do funcionamento do modo de produção capitalista que, nesta corrente, é por natureza desigual e combinado2. Nessa perspectiva, o Desenvolvimento Capitalista ocorre à custa da subordinação das economias nacionais dependentes. Logo, o subdesenvolvimento resultaria diretamente da natureza das relações espaciais dentro do sistema capitalista global. Compõem esse grupo, entre outros, os seguintes autores: André Gunder Frank, Rui Mauro Maurini, Theotônio dos Santos e Vânia Bambirra. O terceiro grupo, formado por Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, apresentam-se numa corrente marxista mais heterodoxa, pois aceitam o papel positivo do Desenvolvimento Capitalista, não sendo necessário o socialismo para alcançar o Desenvolvimento. Esta corrente defende que Desenvolvimento e Dependência deveriam ser analisados sob a ótica da estrutura social de cada nação, resultado da integração entre grupos e classes sociais. Para esses autores, é possível corrigir a rota do desenvolvimento-dependente através de uma reorientação na esfera política, pois, dessa maneira, a ação de novos agentes no mercado interno permite impulsionar o processo de desenvolvimento de forma menos desigual. Na década de 1990, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) lança o “Índice de Desenvolvimento Humano” (IDH) para evitar o uso exclusivo da supremacia econômica como critério de medição do desenvolvimento das nações. Assim, para oferecer um contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) per capita, foi criado o IDH para avaliar o progresso das nações em três dimensões básicas do Desenvolvimento Humano: Renda, Saúde e Educação. Portanto, sob a ótica do PNUD, Desenvolvimento está relacionado com a possibilidade de as pessoas viverem uma vida longa e saudável com acesso a educação e um padrão decente de vida. O Desenvolvimento, inclusive, vai além da esfera econômica, 2 Sobre o assunto consultar Fernandes (1975). 29 incluindo também a ação política como a proteção dos direitos humanos e o aprofundamento da democracia (PNUD, 2012). Besserman (2005) fez uma ressalva sobre o IDH, pois, como todo indicador, possui grandes limitações. Para ele, o IDH não considera muitas variáveis importantes e combina medidas que podem mudar rápido – como frequência escolar e renda per capita – com medidas que exigem maior tempo para mudanças – como analfabetismo e esperança de vida. Segundo esse autor, esta é uma das razões que explicam as duras críticas feitas ao IDH. Veiga (2008) mostrou que o IDH sinaliza uma perspectiva de algumas dimensões básicas do Desenvolvimento, porém este indicador deve ser completado por meio da análise de dados de outros indicadores subjacentes. Conforme pôde ser visto até aqui, não há um consenso sobre o conceito de Desenvolvimento, o seu significado ou como esse pode ser medido. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (correspondente em inglês a UNESCO), inclusive, no Relatório da Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade, relatou que esse é um dos fatores do agravamento da situação da vida do planeta. O próprio Furtado (1974, p. 75-76) faz um alerta sobre isso ao afirmar que: [...] a ideia de desenvolvimento econômico é um simples mito. Graças a ela tem sido possível desviar as atenções da tarefa básica de identificação das necessidades fundamentais da coletividade e das possibilidades que abre ao homem o avanço da ciência, para concentrá-lo em objetivos abstratos, como são os investimentos, as exportações e o crescimento. Veiga (2008, p. 56) afirmou que “ninguém duvida de que o crescimento econômico é um fator muito importante para o desenvolvimento”. No entanto, o autor chama atenção que, no Crescimento, a mudança é quantitativa; enquanto, no Desenvolvimento, ela é qualitativa. Apesar de intimamente ligados, os dois termos não são a mesma coisa, podendo, até se manifestarem de forma completamente independentes. Observe-se que existem pesquisas que apontam com significativa força científica para a possibilidade empírica (casos estilizados) de ambos os fenômenos se apresentarem de forma completamente independentes. Conforme mostrou Romeiro (1999), as constatações reveladas pela crise dos anos 1980 derrubaram a ideia de que crescimento econômico era condição necessária e suficiente para o Desenvolvimento Socioeconômico. O Brasil também se mostrou como um caso paradigmático no qual o Crescimento Econômico por si só poderia ser terrivelmente excludente. Por fim, será apresentada a visão de Desenvolvimento que será utilizada neste trabalho. A abordagem escolhida é de um dos autores que mais se dedicou ao assunto ao 30 longo das últimas seis décadas, o economista Ignacy Sachs. Na compreensão do supracitado cientista social, o Crescimento não traz automaticamente o Desenvolvimento tampouco a felicidade. Ao contrário, a situação mais comum é a do Crescimento pela desigualdade com efeitos sociais perversos: a acumulação de riqueza nas mãos de uma minoria com a simultânea produção de pobreza maciça e deterioração das condições de vida. Nos casos extremos, ter-se-ia a presença de “crescimento com desdesenvolvimento” (SACHS, 2001). Segundo o referido autor, não se trata de uma oposição entre Crescimento e Desenvolvimento. Pelo contrário, o Crescimento Econômico continua sendo uma condição necessária para o Desenvolvimento. No entanto, aquele deve ser repensado para que se adeque aos objetivos socialmente desejáveis e que minimize os impactos ambientais negativos. Somente através de taxas mais elevadas de crescimento econômico será possível acelerar a reabilitação social, pois, numa economia periférica, é mais fácil operar nos acréscimos do produto nacional do que na distribuição de bens e renda. 2.2 Discussões sobre a temática da Sustentabilidade Até meados do século XX, os impactos ambientais resultantes da atividade econômica não pareciam constituir, pelo menos em termos globais, uma ameaça ao bem-estar da humanidade. A disponibilidade de recursos naturais do planeta não era considerada como um fator limitante à expansão da economia mundial. Mueller (2007) sinalizou que não era considerada a hipótese de que o meio ambiente pudesse constranger o funcionamento do sistema econômico. Pelo contrário, admitia-se que a natureza estaria sempre disponível para fornecer à humanidade seus recursos naturais gratuitos. No entanto, a partir do final da década de 1960, surgiam na comunidade internacional, as discussões sobre a incompatibilidade entre Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente. As principais críticas dos ambientalistas se concentravam no padrão de Desenvolvimento Socioeconômico vigente que se baseava na utilização intensiva de recursos naturais e fontes energéticas não-renováveis. Diversos livros e conferências apontavam para um cenário de catástrofe no qual a exaustão dos recursos naturais estabeleceria limites à continuidade do crescimento econômico, levantando a tese do “crescimento zero” (ALMEIDA, 2002; AMAZONAS, 2001). Em contrapartida à posição anterior, que ficou conhecida por “neomalthusiana”, um grupo de países em desenvolvimento reivindica seu “direito ao crescimento” na Conferência de Estocolmo (1972) promovida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente 31 (correspondente em inglês a UNEP). O debate, então, polarizou-se entre posições de “crescimento zero” dos ambientalistas e de “direito ao crescimento”, baseadas na visão neoclássica do mainstream econômico. Sob uma perspectiva conceitual, o debate ocorreu entra a visão pessimista dos ambientalistas na qual o Desenvolvimento Econômico e tecnológico implicaria na exaustão dos recursos naturais, sendo esses limitantes físicos ao Crescimento Econômico e a visão otimista dos “desenvolvimentistas” na qual o Desenvolvimento Econômico e Tecnológico traria a superação dos limites impostos pelas restrições ambientais. Portanto, se, para os ambientalistas, os critérios ambientais de Sustentabilidade deveriam controlar a atividade econômica; para o mainstream, os danos ambientais deviam ser considerados externalidades, sendo necessária a valoração destas para internalizá-las nos custos econômicos dos agentes (AMAZONAS, 2001). A preocupação com a preservação do meio ambiente combinada com a melhoria das condições socioeconômicas da população fez surgir o conceito de Ecodesenvolvimento que, posteriormente, seria substituído pelo de Desenvolvimento Sustentável. A concepção do conceito de Ecodesenvolvimento parte da crítica à visão economicista e ao desenvolvimentismo3, tratando-os como reducionismo econômico e principais causadores dos problemas sociais e ambientais (MUELLER, 2007). O termo Ecodesenvolvimento foi formulado por Maurice Strong, secretário-geral da Conferência de Estocolmo-72, e largamente difundido por Ignacy Sachs a partir de 1974 (MONTIBELLER-FILHO, 2008). Nessa visão, um efetivo Desenvolvimento só era possível se o Desenvolvimento Econômico ocorresse compativelmente à preservação ambiental. A tese do Ecodesenvolvimento constitui um marco do avanço da visão ambientalista, pois, a preocupação ambiental deixa de ser vista como obstáculo e passa a fazer parte do Desenvolvimento Econômico (AMAZONAS, 2001). Montibeller-Filho (2008) mostrou que essa nova concepção significa o Desenvolvimento Endógeno, baseado em suas próprias potencialidades, sem criar dependência externa e tendo por finalidade “responder a problemática da harmonização dos objetivos sociais e econômicos do desenvolvimento com uma gestão ecologicamente prudente dos recursos e do meio” (SACHS apud MONTIBELLER-FILHO, 2008, p. 51). 3 O economicismo, sendo uma visão unilateral da realidade, não considera as demais visões da sociedade, enfocando somente a produção e a produtividade econômica. No plano prático, a visão economicista implica na concepção de políticas de desenvolvimento embasadas apenas no crescimento da economia – não levando em conta os aspectos sociais e ambientais – chamada aqui de desenvolvimentismo (MONTIBELLER-FILHO, 2008, p. 49). 32 Essa definição torna clara a preocupação com aspectos sociais e ambientais, no mesmo nível dos econômicos. Assim, o Desenvolvimento seria voltado para as necessidades sociais mais presentes referentes à melhoria da qualidade de vida de toda a população com o cuidado de preservar o meio ambiente e as possibilidades de reprodução da vida com qualidade para as gerações que sucederão. Na citação de Sachs (apud MONTIBELLER-FILHO, 2008, p. 52): “trata-se de gerir a natureza de forma a assegurar aos homens de nossa geração e das gerações futuras a possibilidade de se desenvolver”. Portanto, o Ecodesenvolvimento é um projeto de civilização na medida em que evoca um novo estilo de vida com valores próprios, um conjunto de objetivos definidos socialmente e visão de futuro. A partir dessa configuração geral, Sachs desenvolve o que chama de as “cinco dimensões de Sustentabilidade do Ecodesenvolvimento”: Sustentabilidade Social, Econômica, Ecológica, Espacial E Sustentabilidade Cultural (MONTIBELLER-FILHO, 2008). Posteriormente, como uma derivação do Ecodesenvolvimento, surge o conceito de Desenvolvimento Sustentável (DS). Utilizado, primeiramente, pela União Internacional pela Conservação da Natureza (correspondente em inglês a IUCN), o conceito Desenvolvimento Sustentável e Equitativo foi colocado como um novo paradigma, tendo como princípios: integrar conservação da natureza e Desenvolvimento; satisfazer as necessidades humanas fundamentais; perseguir equidade e justiça social; buscar a autodeterminação social e respeitar a diversidade cultural; manter a integridade ecológica (MONTIBELLER-FILHO, 2008). Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) retomou o conceito de DS no relatório “Nosso Futuro Comum”, dando-lhe a seguinte definição: O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades. Ele contém dois conceitos-chave: o conceito de “necessidades”, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que devem receber a máxima prioridade; a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras (CMMAD, 1991, p. 46). Portanto, sob essa perspectiva, para que o Desenvolvimento Econômico seja efetivo, é necessário o equilíbrio sobre o tripé Crescimento Econômico – Ecologia – Equidade Social, não sendo possível que aquele ocorra somente em um país ou que se desconsidere as fortes assimetrias internacionais. No entanto, alguns autores como Haavelmo e Hansen (1991 apud MONTIBELLERFILHO, 2008, p. 57) apontaram contradições na tese do Desenvolvimento Sustentável da 33 maneira como é apresentada no relatório Nosso Futuro Comum. Para esses autores, a proposta básica de “produzir mais com menos” implicaria em aceitar que o padrão de consumo vigente no mundo industrializado pode ser mantido, expandido e difundido globalmente; que prevalece o status do consumidor e que a tecnologia será capaz de produzir cada vez mais utilizando menos recursos (otimismo tecnológico). Esse otimismo tecnológico implicaria em assumir que as restrições naturais impostas pelo meio ambiente poderiam sempre ser superadas pela tecnologia. Sob essa perspectiva, no limite, o aumento da produtividade proporcionaria a economia absoluta de recursos através da substituição artificial de recursos naturais e a eliminação de qualquer resíduo oriundo da produção. Maimon (1992 apud MONTIBELLER-FILHO, 2008, p. 57) apontou algumas diferenças entre os conceitos Ecodesenvolvimento e DS. O primeiro foca o atendimento das necessidades básicas da população através da utilização de tecnologias apropriadas a cada ambiente e partindo do mais simples ao mais complexo; enquanto que o DS enfatiza a política ambiental, a responsabilidade com gerações futuras e a responsabilidade comum com os problemas globais. Mueller (2007) relatou que a noção de DS estaria muito próxima do critério de eficiência de Pareto, pois, nesse sentido, é admitido que muitos podem ganhar, porém exige que ninguém perca – sejam os atuais ricos, os atuais pobres ou as gerações futuras. No entanto, cabe ressaltar que se trata de uma equação dificilmente solucionada através do capitalismo liberal adotado atualmente. De uma maneira geral, pode-se considerar que a ideia de DS está associada à motivação natural no desejo de perpetuação da humanidade e da vida em geral. Apesar das diferentes conceituações de Sustentabilidade, Ecodesenvolvimento e DS, há um requisito ético de perpetuação que unifica essas concepções. Sob essa perspectiva, isso significa uma utilização ética dos recursos ambientais; uma ética de perpetuação denominada “uso sustentável” (AMAZONAS, 2002). Com o avanço e a consolidação da temática ambiental, o DS passa a fazer parte da agenda de formuladores e gestores de políticas, dos movimentos ambientalistas e dos meios científicos e acadêmicos. Desse modo, há um consenso sobre a necessidade de intervenção e direcionamento do processo de Desenvolvimento Econômico de maneira a conciliar eficiência econômica, desejabilidade social e prudência ecológica. Ocorrem divergências, entretanto, sobre os mecanismos de intervenção, sobretudo, em relação ao entendimento do inevitável trade-off entre Crescimento Econômico e meio ambiente. Assim, surgem as duas principais 34 correntes ambientais dentro da Ciência Econômica4: a Economia Ambiental Neoclássica, representada pelo mainstream econômico, e a Economia Ecológica, formada por pesquisadores de diversos ramos da ciência. 2.3 A Economia Ambiental Neoclássica: Reminiscências do Passado no Tempo Presente A Economia Neoclássica fundamenta-se nos princípios de individualismo metodológico, utilitarismo e equilíbrio, entendendo o Bem-Estar (Welfare Economics) como finalidade última das relações econômicas. Nessa abordagem, o sistema econômico é compreendido em função de uma racionalidade de maximização das utilidades individuais que determinam o uso ótimo ou eficiente dos recursos em equilíbrio. Contudo, a racionalidade neoclássica não guarda compromisso com a racionalidade associada à ideia de Sustentabilidade. Enquanto o “uso ótimo” atende a critérios de eficiência, o “uso sustentável” refere-se a critérios de equidade (AMAZONAS, 2002). Conforme visto anteriormente, até fins da década de 1960, o mainstream econômico, de tradição neoclássica, não reconhecia que problemas ambientais pudessem interferir sistematicamente no funcionamento eficiente de mercado. Mueller (2007) mostrou que essa postura se justificava enquanto era reduzida a escala da economia, contudo, a partir dessa década, ficou evidente que externalidades ambientais são parte normal e inevitável dos processos econômicos. O conceito de Externalidades foi criado por Pigou, no início do século XX, para expressar falhas produzidas pelo funcionamento do mercado. Além do conceito, esse autor propôs um método pelo qual se pudesse corrigir ou compensar essas externalidades. O conceito de Externalidades é o que fundamenta o pensamento neoclássico nas questões relacionadas à problemática ambiental (MONTIBELLER-FILHO, 2008). Como resposta às pressões para incorporar a problemática ambiental em seu esquema analítico, a Economia Neoclássica elaborou duas diferentes abordagens para tratar dessas questões: a Economia dos Recursos Naturais e a Economia da Poluição. Enquanto a primeira analisa o meio ambiente como provedor de recursos, a segunda considera os recursos ambientais como receptor de rejeitos. Nesse contexto, é possível observar a relação do sistema econômico com o meio ambiente a partir da Figura 1. 4 Existem ainda outras correntes de pensamento como o Ecomarxismo e a abordagem Institucional apresentada por Amazonas (2001); contudo, dado o enfoque deste trabalho, serão mostradas aqui somente as teorias principais sobre o tema. 35 Figura 1 – Extração de recursos e lançamento de dejetos pelo sistema econômico Fonte: Cavalcanti (2012, p. 41) 2.3.1 A Economia da Poluição: uma nova Roupagem Neoclássica na discussão do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Econômico A Economia da Poluição surgiu como um desdobramento direto da Teoria Neoclássica do Bem Estar e dos Bens Públicos, elaborada por Pigou em 1920. O foco dessa teoria é a distinção entre custos privados e sociais, isto é, no fato de que a atividade econômica privada pode gerar custos ou benefícios transferidos socialmente a terceiros. Essa abordagem foca o meio ambiente na sua função de receptor de resíduos dos processos produtivos, definindo os danos ambientais (poluição) como externalidades negativas. O caráter de bem público dos bens naturais permite que o agente causador do dano (o “poluidor”) não internalize em suas obrigações esses custos sociais ambientais. Assim, os custos sociais marginais diferem dos custos privados marginais, levando a uma distinção entre a quantidade socialmente ótima e a quantidade privada ótima. Essa situação configura-se como uma falha de (não falha do) mercado cuja solução, sob a ótica neoclássica, é a criação de mecanismos institucionais de controle capazes de promover a internalização desses custos no cálculo econômico dos agentes. Exemplos desses instrumentos de controle são a taxação e as licenças de poluição (AMAZONAS, 2002; ANDRADE, 2010). Basicamente, em suas linhas gerais, essa é a formulação padrão da Economia da Poluição. No entanto, Amazonas (2001) chamou atenção para alguns aspectos dessa visão geral no que se refere à Sustentabilidade. O primeiro aspecto é o fato de essa teoria associar as externalidades somente aos casos de poluição, isto é, os recursos ambientais como receptores de outputs indesejáveis dos processos produtivos. O uso dos recursos ambientais como matérias-primas (inputs para a produção) também significam custos sociais, dada à possibilidade de exaustão desses recursos e o decorrente comprometimento da 36 Sustentabilidade. Esse mesmo autor denominou esses custos como “custos sociais de oportunidade”, pois são custos sociais dispersos intertemporalmente para as gerações futuras. O segundo aspecto trata-se dessa abordagem ser fundamentalmente estática, não tratando o problema intertemporalmente. Como a questão da Sustentabilidade é inerentemente intertemporal, tem-se um problema já na gênese dessa teoria. Em síntese, a questão é que essa abordagem não foi construída a partir do critério de Sustentabilidade para a determinação do uso adequado dos recursos ambientais. O último aspecto é apresentado como a questão mais fundamental: refere-se à determinação dos valores dos custos e dos benefícios ambientais. A crítica feita é que, nos modelos neoclássicos, todos os valores econômicos são expressões das preferências dos indivíduos que não se constituiriam a base adequada para o tratamento da problemática ambiental e da Sustentabilidade. O referido autor argumentou que: [..] os indivíduos da geração corrente não possuem conhecimento suficiente e não necessariamente possuem um comportamento de desejo altruísta suficiente para manifestar em suas preferências valores que efetivamente correspondem ao atendimento da Sustentabilidade ambiental e a justiça para com as gerações futuras (AMAZONAS, 2001, p. 22) Nesse ponto, deve ser observado que o espaço, ou seja, o meio ambiente, na leitura neoclássica, é uma “instituição” totalmente passiva, apenas receptáculo de iniciativas individuais ou coletivas onde deve automaticamente se adaptar5. Sobre esse aspecto Mueller (2007) reforçou a crítica a essa teoria e afirmou que a Economia Ambiental Neoclássica se apoia numa “hipótese ambiental tênue”. Essa corrente de pensamento trata o sistema econômico como um meio externo passivo o qual se pode poluir em maior ou menor grau, com reações previsíveis e reversíveis. Com isso, chegar-se-ia em um nível ótimo de poluição que seria ambientalmente sustentável mesmo num horizonte temporal mais extenso. No entanto, Mueller (2007, p. 326) destacou que: [...] não parece plausível supor que os indivíduos sabem avaliar fria e calculadamente as consequências de suas escolhas na determinação de níveis ótimos de poluição. É difícil imaginar que os agentes econômicos conheçam os intricados impactos da poluição sobre o meio ambiente, especialmente se considerado um horizonte temporal mais extenso. Esse autor também registrou que a Economia Ambiental Neoclássica, em seus estudos de problemas da poluição, está basicamente voltada aos problemas de economias com 5 Sobre a não estaticidade espacial consulte-se Coraggio (1987). 37 mercados relativamente desenvolvidos. Nessa perspectiva, supõe-se que as atividades potencialmente poluidoras continuarão a se restringir aos poucos países desenvolvidos, nos quais esse fenômeno poderia ser mantido constante. Em face ao exposto, verifique-se que a Economia Ambiental Neoclássica supõe a manutenção do status quo atual no qual a expansão econômica está restrita aos países capitalistas avançados e a uns poucos recém-chegados. Somente, nesse contexto, seria possível sustentar o paradigma da poluição ótima no qual os instrumentos de política poderiam ser eficientes para se manter a poluição sob controle. No entanto, como visto anteriormente, um dos requisitos básicos para o DS é a redução nas disparidades distributivas entre os países do Terceiro e do Primeiro Mundo. Nesse sentido, houve poucos avanços nas discussões da Economia Ambiental Neoclássica e, portanto, este referencial teórico mostra-se inadequado aos objetivos propostos neste trabalho. 2.3.2 A Economia dos Recursos Naturais: uma Tentativa de Desvencilhamento dos Postulados Ortodoxos A segunda abordagem neoclássica, a Economia dos Recursos Naturais, considera o meio ambiente sob a ótica de provedor de recursos para os processos produtivos. Nessa abordagem, busca-se responder algumas questões como: qual o padrão ótimo de uso desses recursos? Qual o manejo adequado dos recursos renováveis? Qual a taxa ótima de depleção de um recurso não-renovável? Como manejar adequadamente um recurso renovável que pode ser exaurido por extração excessiva? Além disso, procura-se verificar se a disponibilidade limitada de alguns desses recursos tornar-se-á um obstáculo à expansão do sistema econômico. Como o estoque de recurso natural pode ser extraído hoje ou preservado para extração futura, sob a ótica da Economia dos Recursos Naturais, a questão da utilização dos recursos naturais é um problema de alocação intertemporal de sua extração. Essa alocação poderia ser obtida através da maximização do valor presente dos ganhos obtidos com a extração do recurso ao longo do tempo. Assim, ao utilizar os conceitos de Custo de Oportunidade E Procedimento de Desconto, seria determinado o nível ótimo ou a taxa ótima de extração. Através desse procedimento, argumenta-se que um recurso exaurível terá sido utilizado ao longo do tempo da melhor forma socialmente possível, isto é, de forma “socialmente ótima”. No caso dos recursos renováveis, inclui-se, no modelo, um fator de reposição do recurso seja esse fator natural ou devido à reciclagem (AMAZONAS, 2002; ANDRADE, 2010). 38 A formulação básica da Economia dos Recursos Naturais provém da proposição de Hotelling, em seu artigo de 1931 The Economics of Exhaustible Resources, na qual diz que, em equilíbrio, o valor de uma reserva de determinado recurso deve crescer a uma taxa igual à taxa de juros. Assim, Solow (1974 apud AMAZONAS, 2001, p. 29) descreveu essa proposição: A única maneira pela qual um depósito de recurso deixado no solo pode produzir um retorno corrente para seu proprietário é por sua apreciação em valor. [...]. Como os depósitos de recursos naturais possuem a propriedade peculiar de não render dividendos enquanto estiverem no solo, em equilíbrio o valor do depósito de um recurso deve estar crescendo a uma taxa igual à taxa de juros. Como o valor de um depósito é também o valor presente de suas vendas futuras, após a dedução dos custos de extração os proprietários do recurso devem esperar que o preço líquido do minério cresça exponencialmente a uma taxa igual à taxa de juros. Se a indústria mineradora é competitiva, o preço líquido é o preço de mercado menos o custo marginal de extração. [...]. Se a indústria é mais ou menos monopolista, como é frequentemente o caso na indústria extrativa, será o lucro marginal - receita marginal menos custo marginal - que deverá estar crescendo, e esperando crescer, proporcionalmente à taxa de juros. Portanto, o aumento progressivo da escassez de um recurso faz aumentar seu preço. Se se espera que o valor do estoque desse recurso cresça, haverá então uma motivação para que este não seja extraído agora, mas num momento posterior. Esse custo de oportunidade intertemporal é chamado de renda de escassez. Matematicamente, desconto ou taxa de juros, = onde r = taxa de = variação de preço e p = preço (AMAZONAS, 2001). Um elemento importante presente nessa teoria é o papel da tecnologia em gerar substitutos aos recursos exauríveis. Sob esse prisma, o recurso deixará de ser extraído quando a tecnologia de substituição tornar-se viável devido ao aumento do preço do recurso exaurível. Assim, não há uma preocupação com as diferenças de natureza dos recursos naturais, pois a relação desses com o capital produzido pelo homem é de substituibilidade; não, de complementaridade, o que, a rigor, faz com que problemas ligados à exaustão do capital natural sejam irrelevantes (AMAZONAS, 2001; ANDRADE, 2010). A teoria básica fundada na regra de Hotelling apresenta limitações referentes à dimensão do problema do uso dos recursos naturais. Amazonas (2001) destacou duas ordens de fatores para que essa regra não promova uma utilização sustentável desses recursos: insuficiência/inexistência de conhecimento e informação acerca do presente e do futuro; existência de assimetrias privado/social, isto é, externalidades, que constituem “valores ambientais” não incorporados. Portanto, a Regra de Hotelling contribui para a discussão da formação de preços de mercado dos recursos naturais, mas não possibilita alcançar o objetivo da Sustentabilidade e da justiça com as gerações futuras. Por essa razão, não rompe com os 39 postulados mais ortodoxos, mas lhe dão apenas um maior grau de sofisticação na apresentação do problema: Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico. Note-se que não atinge a discussão de equidade social. Dessa forma, não coopera para o desenvolvimento da Teoria do Desenvolvimento Sustentável. Dadas as limitações da formulação básica de Hotelling para o uso socialmente ótimo dos recursos naturais, autores neoclássicos propuseram alterações no modelo anteriormente exposto de maneira a equacionar as assimetrias sociais entre gerações existentes no uso desses recursos. Os principais mecanismos utilizados foram o ajuste das taxas de desconto e a inclusão das externalidades. Segundo Amazonas (2001), a própria Economia Neoclássica reconhece que as taxas de desconto utilizadas nas decisões privadas correntes não se adequam a uma utilização social intergeracionalmente justa dos recursos naturais. Contudo, não há consenso entre os teóricos se poderia haver alguma taxa de desconto social ou se o desconto simplesmente não se aplica às decisões sociais. O referido autor afirmou que a assimetria entre custos privados e custos sociais pode se entendida como um caso de externalidade negativa. Nas palavras do autor: Quanto maior a taxa de desconto, é porque maior é o custo em não realizar o consumo de dado capital no presente e deixá-lo para o futuro, Bem, se há indicação de que as taxas de desconto sociais são menores que as taxas de desconto privadas, e se o que se utiliza são estas últimas, isto significa que, do ponto de vista social, os custos de não se realizar o consumo dos recursos no presente e deixá-los para um consumo futuro estão sendo sobrestimados. Isso significa portanto que, ao se realizar o desconto para cobrir esses custos, efetivamente se esta transferindo custos sociais para o futuro, ou seja, estão sendo geradas externalidades para as gerações futuras (AMAZONAS, 2001, p. 35, grifo do autor). Assim, a inclusão das externalidades ou “valores ambientais” pode ser vista como a mais importante modificação do modelo intertemporal básico, visando o uso socialmente adequado dos recursos. Amazonas (2001) citou que isso representa uma convergência entre a Economia dos Recursos Naturais e a Economia da Poluição em função do problema da Sustentabilidade. A valoração ambiental neoclássica baseia-se na expressão em termos monetários de um dano (ou benefício) ambiental em termos da utilidade, bem-estar ou preferências individuais a esse associado. Como não há preços de mercado para a maioria dos bens ambientais, essa valoração baseia-se no conceito de “Disposição-a-Pagar” (Willingness-ToPay – WTP). Para os bens ambientais, a WTP corresponde ao valor monetário que o indivíduo estaria disposto a pagar para garantir um benefício ou para prevenir um dano ambiental. 40 Nesse contexto, Pearce e Turner (1990, p. 129-137 apud AMAZONAS, 2001, p. 23) apresentaram o importante conceito de Valor Econômico Total (VET). Para esses autores, o VET de um bem ou serviço ambiental deve incorporar o valor de uso atual; o valor de uso futuro (valor de opção) e o valor de existência. Esse último é um valor intrínseco presente na natureza, não sendo associado a nenhum uso atual ou futuro e representa a utilidade obtida pelo indivíduo advinda apenas do desejo que certo recurso ambiental exista. Como o VET não pode ser mensurado a partir das relações de mercado, a Economia Neoclássica desenvolveu várias técnicas na tentativa de se encontrar valores apropriados aos bens e serviços ambientais, objetivando subsidiar a adoção de medidas e formulação de políticas. Não obstante, na maior parte das vezes, não é possível estimar separadamente as parcelas correspondentes a valor de uso, valor de opção e valor de existência. Isso devido à dificuldade em operacionalizar os conceitos de modo a identificá-los em separado (MARQUES & COMUNE, 2001). Amazonas (2001) criticou o modelo intertemporal com a inclusão dos valores ambientais, argumentando que, a rigor, não faz sentido falar-se em Sustentabilidade nesse modelo. Nada garante que o “ótimo social”, resultante da maximização das utilidades dos agentes da geração corrente, implique em que as utilidades das gerações futuras serão mantidas sustentavelmente. Fica claro que os preceitos básicos neoclássicos de individualismo e utilitarismo são insuficientes para determinar uma utilização sustentável dos recursos ambientais. Dessa forma, a questão da Sustentabilidade deve ser vista por outros critérios, externos aos procedimentos de otimização. 2.3.3 Critérios Neoclássicos de Sustentabilidade Não obstante a inclusão de externalidades determinadas pelas preferências individuais, os procedimentos de otimização intertemporal não bastam para estabelecer um uso sustentável dos recursos naturais. Logo, a Economia Neoclássica adotou critérios adicionais (exógenos) para estabelecer algum tipo de constância intergerações. Esses critérios, conhecidos como critérios de Sustentabilidade, apresentam-se como restrições nos procedimentos de otimização intertemporal. Antes disso, é necessária a distinção das diferentes categorias que compõem o capital total. O capital produzido (Kp) é o capital físico gerado e acumulado pelo sistema econômico; compreende as máquinas e os equipamentos que uma sociedade dispõe em determinado momento do tempo. O capital humano (Kh) envolve a capacitação e as habilidades da força 41 de trabalho da sociedade em dado momento do tempo. O capital social (Ks) inclui a base institucional da sociedade em dado momento do tempo. O capital natural (Kn) inclui tanto os estoques de energia de baixa entropia e de materiais que a natureza coloca a disposição da humanidade quanto os estados biofísicos existentes no meio ambiente em determinado momento do tempo (MUELLER, 2007). Existem diferentes hipóteses sobre o grau de substituibilidade entre os diferentes tipos de capital, sendo essas hipóteses que determinam os critérios de Sustentabilidade conhecidos como Sustentabilidade Fraca (Sfra) e Sustentabilidade Forte (Sfor). As divergências entre esses dois critérios referem-se, em especial, à importância dada ao capital natural para o Desenvolvimento Sustentável. A visão da Sustentabilidade Fraca supõe que o capital total e o produto podem crescer de forma quase ilimitada através da substituibilidade entre Kp e Kn. Se o capital natural tornar-se escasso ao longo do processo de expansão econômica, o preço relativo dos seus serviços aumentará, ocorrendo sua substituição pelo capital produzido. Para que ocorra essa substituição entre os capitais, é necessário que os mercados funcionem bem e sinalizem a necessidade da substituição. Além disso, o progresso técnico exerce papel importante nessa substituição (MUELLER, 2007). O adjetivo fraca que acompanha esse critério de Sustentabilidade refere-se à admissão que o estoque de Kn pode ser declinante ou mesmo exaurido desde que este declínio seja contrabalanceado pelo acréscimo do estoque de Kp. Logo, o elemento a ser sustentado e que deverá ser transmitido às gerações futuras é a capacidade de produzir da economia e não qualquer componente específico do capital. Portanto, nessa visão, “uma economia sustentável é uma economia que cresce economicamente” (AMAZONAS, 2001, p. 45, grifo do autor). O critério de Sustentabilidade Forte apresenta-se nos trabalhos dos autores da chamada Escola de Londres (London School) como Pearce, Barbier e Markandya (AMAZONAS, 2001). Essa visão centra-se na ideia de que a substituibilidade entre Kp e Kn é limitada e que o estoque de recursos naturais que deve ser constante no tempo. Para Pearce e Turner, Sustentabilidade refere-se a “como deveríamos tratar os ambientes naturais de modo a que eles possam realizar seu papel em sustentar a economia como fonte de um padrão de vida aprimorado” (1990, p.43 apud AMAZONAS, 2001, p. 46, grifos no original). Assim, para que se possa manter constante o Kn, os autores propõem duas regras: a taxa de extração dos recursos renováveis deve ser menor que sua taxa de regeneração; a produção de resíduos deve se manter abaixo da capacidade de assimilação do ambiente. Essas regras servem como critério geral, mas não se aplicam aos recursos exauríveis; nesse caso, as 42 duas regras sofrem as seguintes alterações: a redução dos estoques de recursos exauríveis deve ser compensada por um aumento de recursos renováveis; um mesmo padrão de vida deve ser assegurado mesmo com a redução dos estoques de exauríveis pelo aumento da eficiência no uso destes (AMAZONAS, 2001). Com efeito, os recursos exauríveis não podem ter seus estoques mantidos se são utilizados. No entanto, a Sustentabilidade Forte pode assumir a possibilidade de substituição interiormente ao Kn, dentre recursos exauríveis e renováveis. Nesse aspecto, a manutenção do capital natural supõe a perfeita substituição entre Kn exaurível e Kn renovável. Barbier e Markandya (1990 apud AMAZONAS, 2001) propuseram um modelo de otimização intertemporal no qual “os recursos exauríveis são extraídos à taxa em que os renováveis podem substituí-los (o que no longo prazo implica uma taxa de exaustão zero do recurso ‘composto’)” (Idem, p. 48, grifos do autor). Por fim, Amazonas (2001) expôs sua crítica à incompatibilidade dos critérios de Sustentabilidade Forte com a otimização neoclássica. A ideia de se manter Kn constante leva a uma incompatibilização entre estoque “ótimo” e estoque “sustentável”. No caso dos recursos renováveis, é possível manter o Kn constante através de uma taxa de extração ótima que maximizará a utilidade desses bens ambientais. Entretanto, para os recursos exauríveis, Kn constante implica que o estoque a ser mantido é o existente, não havendo espaço para a determinação de algum estoque ótimo baseado nas preferencias individuais. 2.4 A Economia Ecológica: antítese aos Postulados Ortodoxos no tratamento do binômio Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico A Economia Ecológica (EE) é uma corrente de pensamento contemporânea estruturada formalmente, em 1989, com a fundação da International Society for Ecological Economics (ISEE) e o periódico Ecological Economics (ANDRADE, 2010). No entanto, suas ideias fundamentais se originam nos trabalhos de Kenneth Boulding, Herman Daly e Georgescu-Roegen ainda nas décadas de 1960 e 1970 (AMAZONAS, 2009). Uma das principais características da EE é o seu caráter transdisciplinar, analisando de forma integrada os sistemas econômico e ecológico. Por ser a Economia um processo físico, os autores dessa corrente fundamentam-se nas duas primeiras leis da Termodinâmica – Lei de Conservação e Lei de Entropia – e nos fluxos materiais e energéticos (throughput) para a análise de suas implicações e consequências na dinâmica do sistema econômico. Essas Leis 43 implicariam na escassez, considerada o principal problema da Economia, logo recursos escassos, matéria e energia deveriam ser alvos das análises econômicas. Sob essa ótica, a Economia é percebida como um subsistema de um ecossistema maior – finito e materialmente fechado, mas aberto ao fluxo de energia solar – que impõe limites à expansão da Economia. Entretanto, se, por definição, um subsistema não pode ser maior que o sistema que o contém, seu tamanho em relação ao todo não tem por limite máximo o sistema, mas sua capacidade de carga (carrying capacity) dada por limiares de resiliência ecossistêmica6. Fica evidenciada aqui a Primeira Lei da Termodinâmica (Conservação) que estabelece as quantidades de matéria e energia do Universo como constantes, não podendo ser criadas ou destruídas. Logo, a base material sobre a qual a Economia se reproduz é finita, não sendo possível a sua expansão contínua (ANDRADE, 2010; ROMEIRO, 2012). O ponto de partida para essa discussão é o trabalho de Boulding (1966 apud AMAZONAS, 2009) no qual ele destaca a moderna economia caracterizada cada vez mais pela redução das fronteiras abertas dos recursos materiais (“Economia Cowboy”) e aproximando-se de uma situação de um sistema fechado e circular em termos materiais “Economia Espaçonave”. Romeiro reproduziu a analogia feita por Boulding da “Economia Cowboy” e da “Economia Espaçonave”: Na primeira, o subsistema econômico – o cowboy nas grandes planícies – não tem massa crítica o suficiente para provocar algum impacto ecossistêmico irreversível importante; na segunda, o tamanho do subsistema econômico – a tripulação da espaçonave – é suficientemente grande para colocar em risco a sua própria sobrevivência se os recursos disponíveis não forem manejados cuidadosamente (2012, p. 78, grifo no original). Herman Daly (1996 apud ROMEIRO, 2012), principal seguidor de Boulding (1966 apud ROMEIRO, 2012), propôs uma Economia em estado estacionário (steady-state economy), caracterizada não pela estagnação, mas por um processo de desenvolvimento marcado pela redução progressiva do crescimento material mediante um avanço tecnológico que traria uma geração de serviços econômicos cada vez maior com uma utilização de recursos naturais exauríveis cada vez menor. Os resíduos totais gerados pela exploração dos recursos naturais, num dado período de tempo, não poderiam ultrapassar a capacidade de carga da Terra, sendo o crescimento zero a única maneira de impedir que isso aconteça. Para Daly (1996 apud ROMEIRO, 2012), a humanidade caminha para uma situação em que o problema central do Desenvolvimento será o abandono do Crescimento Econômico em troca 6 Em Ecologia, resiliência é a capacidade de recuperação de um sistema após o sofrimento de um distúrbio. 44 do Desenvolvimento da Qualidade de Vida, o que implica, mais uma vez, na possibilidade de abandonar o associativismo automático aos fenômenos de Crescimento e Desenvolvimento Econômico (AMAZONAS, 2009). Assim, nessa perspectiva, não há como substituir serviços ecossistêmicos essenciais por capital, pois os recursos naturais são complementares ao capital e/ou trabalho. O progresso técnico é visto como essencial para aumentar a eficiência na utilização dos recursos naturais, elevando radicalmente a produtividade no uso desses recursos e reduzindo significativamente a geração de resíduos. O clássico trabalho de Georgescu-Roegen (1971 apud ANDRADE, 2010) inspira-se na Segunda Lei da Termodinâmica (Entropia) para chamar atenção que todo o processo produtivo é a transformação de energia e matérias de baixa entropia para alta entropia, isto é, a energia dissipada não é mais disponível para a realização de trabalho útil. Esse autor sinalizou que o sistema econômico sofre necessariamente um processo de aumento de entropia, pois o uso de energia de baixa entropia fornecida pelo Sol deve ser acrescido do emprego do capital energético da Terra (energia na forma de combustível fóssil acumulada na crosta terrestre). Desse modo, a natureza entrópica dos fenômenos evidenciaria a inevitabilidade da escassez dos recursos, em especial numa perspectiva de longo a longuíssimo prazo (NASCIMENTO, 2012). Na figura 2, é possível observar a relação do sistema econômico com o ecossistema global, extraindo baixa entropia, usando-a e devolvendo alta entropia. Figura 2 – Fluxos de matéria e energia pelo sistema econômico Fonte: Ayres & Nair (1984 apud FUKS, 2012, p. 106). 45 A Economia Ecológica não se opõe ao uso de recursos do capital energético à disposição da humanidade, a crítica é feita ao uso irresponsável desses recursos e a desconsideração dos limites da base física que sustenta o sistema econômico. Godard (1992 apud ROMEIRO, 2012, p. 80-81) observou que o ponto de equilíbrio neoclássico, dado pela “poluição ótima”, não é um ponto de equilíbrio ecológico, pois a capacidade de assimilação do meio é ultrapassada (em virtude da permanência da poluição). Assim, poderia haver uma “destruição líquida”, não considerada pelos agentes, porque aquela não afeta o bem-estar no curto prazo. No mecanismo de ajuste da Economia Ambiental Neoclássica, a tecnologia e as preferências são tomadas como parâmetros não físicos que determinam uma posição de equilíbrio onde se ajustam as variáveis físicas das quantidades de bens e serviços ambientais usados (a escala). A EE propõe uma alteração nesse processo de maneira que as variáveis de ajuste (quantidade de bens e serviços ecossistêmicos a serem utilizados) tornem-se parâmetros físicos de Sustentabilidade Ecológica que determinam variáveis não físicas como a tecnologia e as preferências. Portanto, dada à tecnologia, as preferências dos agentes passam a ser limitadas pela escala (ROMEIRO, 2012). Segundo Daly (1993 apud ANDRADE, 2010, p. 17), uma escala ecologicamente sustentável é aquela em que o fluxo de throughput está dentro da carrying capacity e a escala ótima é aquela que maximiza a diferença entre wealt (os estoques de benefícios) e illth (malefícios) acumulados através do crescimento ou iguala os benefícios marginais e os malefícios marginais do crescimento econômico. No entanto, a determinação de uma escala considerada sustentável só pode ser realizada através de processos coletivos de tomada de decisão, tendo em perspectiva a aplicação do Princípio da Precaução7. Constanza et al. (1997, p.79 apud FUKS, 2012, p. 110-111) fez um resumo dos quatro pontos de consenso da Economia Ecológica. A saber: a) o planeta é um sistema termodinamicamente fechado, que não cresce do ponto de vista da matéria. O sistema econômico é um subsistema do ecossistema global, portanto há um limite na magnitude de transumo que podemos obter e lançar no meio ambiente; 7 O Princípio da Precaução é a garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda identificados. Este Princípio afirma que, na ausência da certeza científica formal, a existência de um risco de um dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que possam prever este dano (GOLDIM, 2002). 46 b) respeitar os limites citados na alínea anterior, há perspectiva de um futuro sustentável para o planeta, com alta qualidade de vida para todos, tanto seres humanos como de outras espécies; c) na análise de sistemas complexos como a Terra, em qualquer escala no tempo e no espaço, a incerteza é grande e irreduzível, sendo certos processos irreversíveis. Consequentemente, é necessário adotar uma postura de precaução; d) as instituições e o gerenciamento devem ser proativos, resultando em políticas adaptativas e de implementação simples, baseadas numa sofisticada compreensão dos sistemas aos quais se referem e reconhecendo plenamente as incertezas subjacentes. Em relação à Sustentabilidade, essa é o componente central da preocupação e da motivação da Economia Ecológica. Com efeito, alguns autores a denominam como Economia da Sustentabilidade ou Economia da Sobrevivência em virtude do seu foco na preservação das oportunidades das gerações futuras (MUELLER, 2007). Enquanto a Economia Ambiental Neoclássica tenta incorporar o conceito de DS em sua estrutura analítica, a EE evolui a partir da própria concepção de Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade EconômicoAmbiental. No entanto, as avaliações da EE sobre o futuro da humanidade tendem a ser pessimistas. Essa corrente acredita que os estilos de desenvolvimento ora prevalecentes podem vir a sacrificar de várias maneiras a capacidade das gerações futuras de atender às suas necessidades. Assim, o funcionamento atual da economia global não seria sustentável e a adoção de trajetória sustentável exigiria mudanças profundas nos estilos de Desenvolvimento. Diante do exposto, pode-se concluir que o DS trata-se de um processo de melhoria do bem-estar humano baseado numa produção material que garante o conforto da sociedade e que seja compatível com os limites termodinâmicos do planeta. Nessa perspectiva, como mostrou Romeiro (2012), é necessário alcançar um Estado Estacionário no qual o crescimento do consumo de bens materiais como fator de emulação social é substituído pelo crescimento cultural, psicológico e espiritual. Essa é a visão da Economia Ecológica sobre o desenvolvimento. Um processo de desenvolvimento como liberdade, tal como definido por Sen (1999 apud ROMEIRO, 2012), que envolve melhorias permanentes das condições necessárias para a realização plena da capacidade que as pessoas têm de florescer. 47 2.5 Desenvolvimento Sustentável: algumas considerações complementares sobre a temática Foi visto até aqui que não há consenso entre as diferentes correntes de pensamento sobre os conceitos de Desenvolvimento, Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável. Em relação ao futuro da sociedade e à exploração dos recursos naturais, as posições vão desde o “otimismo tecnológico” dos neoclássicos ao “pessimismo cético” dos ecológicos. Este trabalho, contudo, fundamentar-se-á na abordagem proposta por Ignacy Sachs, mais coerente com o tema proposto. Sobre esse autor, Veiga (2008, p. 171) afirmou ser “[...] quem melhor soube evitar simultaneamente o ambientalismo pueril que pouco se preocupa com pobrezas e desigualdades e o desenvolvimento anacrônico que pouco se preocupa com as gerações futuras”. Sachs (2004 apud VEIGA, 2008, p.172) propôs a busca de soluções triplamente vencedoras, em termos sociais, econômicos e ecológicos, eliminando o crescimento selvagem obtido ao custo de elevadas externalidades negativas tanto sociais quanto ambientais. Alguns autores como Romeiro (2012) apontaram soluções de como alcançar o crescimento sem gerar uma crise socioeconômica. Deveria ser adotada uma “macroeconomia ambiental” que enfrentasse o problema do emprego, da desigualdade e do estímulo às inovações tecnológicas. Algumas medidas propostas, já adotadas para as economias canadense e britânica, são as variações nas proporções entre investimento e consumo; as mudanças na natureza e nas condições do investimento; o maior investimento público; as maiores restrições ambientais; o aumento do emprego mediante a redução da jornada de trabalho; a reforma tributária neutra que penaliza o uso intensivo de recursos naturais. Nesse sentido, uma das maneiras de minimizar os impactos ambientais sobre as gerações futuras é a utilização de fontes de energia renováveis. O Relatório “O futuro que queremos”, publicado pela Conferência Rio+20, propôs a iniciativa “Energia Sustentável Para Todos” com a meta de oferecer acesso universal a um nível mínimo de serviços de energia moderna. Outra proposta, feita nessa conferência, foi dobrar a participação da energia renovável na matriz energética global até 2030 através da promoção do desenvolvimento e do uso de fontes e tecnologias de energia renovável em todos os países (ONU, 2012). A preocupação com a utilização de fontes de energia renovável não se dá pela escassez das fontes fósseis num horizonte de médio/longo prazo, mas sim pela insustentabilidade dos níveis de poluição gerados a partir dessas fontes. SACHS (2007) propôs que seja feita com máxima urgência uma política voluntarista e rigorosa de redução do consumo das energias 48 fósseis para evitar mudanças climáticas deletérias e irreversíveis, causadas pela emissão excessiva de gases de efeito estufa. A Conferência Rio+20 reforçou a ideia de que cada país deve se esforçar para obter um desenvolvimento com baixo consumo de carbono. Sobre a escassez das fontes de energia fóssil, Sachs (2007, p.22) afirmou que: [...] nenhuma das transições energéticas do passado se fez por causa do esgotamento físico de uma fonte de energia. A história da humanidade pode ser sintetizada como a história da produção e alocação do excedente econômico, ritmada por revoluções energéticas sucessivas. Todas elas ocorreram graças à identificação de uma nova fonte de energia com qualidades superiores e custos inferiores. Assim aconteceu com a passagem da energia de biomassa ao carvão e deste ao petróleo e gás natural. Uma ressalva a ser feita sobre a contribuição das fontes de energia renovável é que só se chegará a um desenvolvimento realmente sustentável se o número de pessoas com acesso à energia elétrica for realmente ampliado de maneira a reduzir as desigualdades sociais existentes no país. Não se pode permitir que a utilização das energias renováveis sirva apenas como “eco-marketing”, sendo direcionada somente para ampliar o consumismo desenfreado de uma restrita elite nacional que vislumbra o modelo norte-americano de desenvolvimento como o ideal. Vale destacar também a importância das fontes renováveis para ampliação da oferta de energia destinada à indústria. Nesse sentido, o país poderá criar uma cadeia de “empregos verdes”, atraindo para o país novas indústrias que procuram o rótulo de “ecologicamente sustentável” e oferecendo novas oportunidades para a sua população, de maneira a melhorar a qualidade de vida dos residentes e talvez reduzir a dependência dos países ricos. 49 3 ENERGIA, DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE 3.1 Energia e Desenvolvimento A energia constitui um dos itens básicos de infraestrutura necessária para o desenvolvimento humano, além de água, saneamento, transportes e telecomunicações. Do ponto de vista econômico, a energia é essencial para a organização econômica e social de todos os países, definindo estratégias empresariais e políticas governamentais. Conforme salientaram Tolmasquim; Guerreiro; Gorini (2007, p. 68): “a disponibilidade de energia nas condições de quantidade e qualidade adequadas, a custos competitivos, tem-se constituído em um dos mais importantes pré-requisitos para o desenvolvimento econômico das nações”. Apesar de uma aparente relação direta e indissolúvel entre Crescimento Econômico e consumo de energia, é possível desacoplar esses dois fenômenos. Com os dois choques do petróleo manifestados na década de 1970, os países desenvolvidos montaram, forçadamente, estratégias que permitiram elevar suas taxas de crescimento sem grandes incrementos no consumo de energia. Desse modo, esses países reduziram parte de seu consumo de combustíveis fósseis através dos efeitos de saturação no consumo de certos bens. A intensidade energética de um determinado país é a medida da sua eficiência energética e é obtida pela razão entre o seu consumo de energia e o seu produto econômico. Em geral, pode-se afirmar que a eficiência energética aumenta quando é possível produzir um bem (ou realizar um serviço) com uma quantidade de energia inferior a que era consumida anteriormente. Igualmente, a eficiência no uso da energia aumenta quando é possível se obter o mesmo nível de bem-estar, utilizando menor quantidade de energia. Para obter esses resultados, faz-se necessária a adoção de algumas medidas como a melhoria das técnicas produtivas, a alteração das estruturas setoriais da economia ou as mudanças comportamentais da sociedade. A evolução histórica da intensidade energética dos países industrializados mostrou um aumento da intensidade energética à medida que a infraestrutura e a indústria pesada se desenvolviam até o alcance de um pico, seguido por um declínio progressivo. Para os países retardatários no processo de industrialização, como o Japão, a intensidade energética seguiu a mesma tendência. No entanto, o pico de intensidade energética, apresentado por esses países, foi menor que seus predecessores, indicando a adoção de processos industriais e tecnologias inovadoras, energeticamente mais eficientes (GOLDEMBERG & LUCON, 2008). 50 No caso dos países em desenvolvimento, esses possuem intensidades energéticas mais altas, culminando no caso dos países que exportam energia indireta (embutida em seus produtos). Goldemberg e Lucon (2008) mostraram que, na medida em que um país se desenvolve, sua intensidade energética cresce devido ao maior consumo e a maior presença de indústria de bens primários para exportação como os minérios e os metais. Após essa fase, predominam as indústrias de bens de capital, como as de máquinas e equipamentos e a petroquímica. Por último, chegam as indústrias mais especializadas como as de softwares, a petroquímica fina e o setor de serviços que consomem menos energia e geram um maior produto econômico. Contudo, Pinto JR et tal (2007) afirmaram que somente esse deslocamento industrial não é suficiente para explicar a redução das intensidades energéticas nos países industrializados após os choques do petróleo. O fator preponderante para essa mudança esteve relacionado diretamente às inovações tecnológicas, que permitiram um grande aumento na eficácia da utilização dos recursos energéticos. Esse aumento da eficácia refletiu na redução do conteúdo energético dos produtos semi-industrializados, tais como: aço, cimento, soda cáustica, amoníaco, polietileno, entre outros. Até o final da década de 1980, o modelo de planejamento energético mundial adotava estratégias orientadas pela oferta. Os recursos energéticos, até então abundantes, estavam à disposição para satisfazer o conforto e o luxo das elites dos países desenvolvidos e em desenvolvimento em detrimento das necessidades dos mais pobres. Desse modo, foram implantados grandes projetos de desenvolvimento fortemente intensivos em capital e ambientalmente indesejáveis. Reis; Fadigas; Carvalho (2005) citaram o exemplo do setor elétrico brasileiro que fez enormes investimentos em grandes obras de geração de energia a partir de usinas elétricas no início da década de 1980 e deixou o país com sobra de energia elétrica por alguns anos. Para cobrir os investimentos feitos pelas empresas estatais de energia, várias políticas de incentivos tarifários foram implantadas para estimular as indústrias a investirem em eletrotermia8. Desse modo, a crença de que a energia elétrica era ilimitada, aliada as baixas tarifas praticadas, conduziram o país a grandes níveis de desperdício que culminou com o apagão energético em 2001. Apesar da sobra de energia verificada no Brasil em períodos anteriores, um enorme contingente de pessoas continuou sem acesso a esse precioso bem. Reis; Fadigas; Carvalho 8 Produção de calor através da eletricidade. 51 (2005) mostraram que, em pleno século XXI, aproximadamente 12% da população brasileira ainda não possui eletricidade em casa e está privada de serviços essenciais ao bem-estar social. Em nível global, estima-se que 30% da população não tenha acesso à eletricidade. Ao analisar a história da relação entre energia e desenvolvimento, Reis; Fadigas; Carvalho (2005) verificaram o crescimento autônomo de alguns setores e países em detrimento de outros que resultou em disparidades sociais entre países e também internas a um único país. Segundo os supracitados autores, esses problemas resultaram em elevados níveis de dependência, desarticulação entre setores energéticos, políticas centralizadoras baseadas unicamente na oferta de energia, inadequação às necessidades fundamentais e danos causados ao meio ambiente. Sobre os níveis de dependência entre países, esses derivam da não disponibilidade de um recurso energético por parte de um país ou falta de domínio tecnológico e condições financeiras para explorar um recurso existente. Desse modo, esse país é submetido a utilizar a energia de maneira ineficiente e a distribuir de forma desigual esse precioso insumo. Igualmente, o domínio dos sistemas energéticos por empresas multinacionais – em especial a infraestrutura do petróleo – aliado aos preços exorbitantes atrelados à variação cambial levam uma considerável parcela da população à exclusão social, pois esta não possui renda suficiente para adquirir os serviços de eletricidade bem como os diversos bens de consumo disponíveis no mercado. 3.2 Energia e Meio Ambiente Desde a Revolução Industrial, no final do século XVIII, os países vêm apresentando taxas cada vez maiores de crescimento populacional, urbanização e renda per capita. À medida que as sociedades vão se modernizando, surgem novas e crescentes demandas por serviços de energia, seja pelo aumento das necessidades de transporte ou pela maior demanda de serviços industriais e comerciais. Historicamente, o consumo de energia tem sido a principal origem de grande parte dos impactos ambientais, seja em escala micro, como as doenças respiratórias causadas pelo uso primitivo de lenha, ou em nível macro, como as emissões de gases de efeito estufa que intensificam as mudanças climáticas, afetando diretamente a qualidade de vida da população. Entre os problemas ambientais causados pela energia (diretamente ou indiretamente), têm-se a poluição do ar, a chuva ácida, o aquecimento global, a perda de biodiversidade, a 52 desertificação, etc., que se registre de passagem, são causadores de fortes impactos negativos na reprodução física de vastas populações, sobretudo em territorialidades subdesenvolvidas. Um dos principais problemas ambientais do século XXI refere-se às mudanças climáticas em nível global. Sobre esse aspecto, tem sido atribuído ao fenômeno efeito estufa a principal causa dessas mudanças. Apesar de o efeito estufa ser um fenômeno natural e imprescindível à vida na Terra, sua intensificação acarreta em problemas ambientais graves já percebidos atualmente, tais como derretimento de geleiras, elevação do nível dos oceanos, alteração no suprimento de água doce, maior número de ciclones, tempestades de chuva e neve fortes (mais frequentes) e forte e rápido ressecamento do solo. Sobre esse fenômeno, o esquema da Figura 3 ilustra: Figura 3 – O efeito estufa Fonte: http://www.rudzerhost.com/ambiente/estufa.htm. Acesso em: 12 set. 2012. O efeito estufa resulta da concentração dos chamados gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera como o dióxido de carbono (CO2), o ozônio (O3), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O). Desses gases, o CO2 tem recebido atenção prioritária pela comunidade internacional, pois o volume de suas emissões para a atmosfera representa aproximadamente 55% do total das emissões de GEE e o tempo de sua permanência na atmosfera é de pelo menos 10 décadas (BRASIL, 1999b). 53 Apesar de o dióxido de carbono ser o principal GEE, o metano também contribui significativamente para o aquecimento global, pois, o seu potencial de efeito estufa (correspondente em inglês a GWP) é 21 vezes maior que o do CO2. Dados do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (correspondente em inglês a IPCC) mostraram que a concentração de CO2 aumentou de 280 partes por milhão (ppm) na época pré-industrial para 383 ppm em 2005, enquanto que a concentração média de CH4 saltou de 715 partes por bilhão (ppb) para 1.774 ppb naquele ano. As principais fontes de emissão de CO2 são a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento de florestas nativas enquanto que as emissões de CH4 ocorrem pela queima incompleta de combustíveis (IPCC, 2007 apud Goldemberg e Lucon, 2008) A produção de eletricidade é considerada uma das principais fontes de poluição mundiais, principalmente devido à predominância dos combustíveis fósseis como fonte de geração. Dados de IEA (2011a; 2011b) mostraram que, em 2009, a produção de eletricidade foi responsável por 17,3% do consumo de energia primária mundial9 enquanto que as emissões de CO2 desse setor foram equivalentes a 41% do total. Além dos poluentes emitidos, devem-se considerar também os efluentes líquidos e os resíduos sólidos oriundos das usinas de geração de eletricidade. Desses, os mais importantes são os resíduos ácidos de minas de carvão, os vazamentos de petróleo e os rejeitos radiativos. Os resíduos de biomassa também poderiam se constituir em problema; no entanto, têm-se reaproveitado esses resíduos para geração de energia (Ex: bagaço da cana-de-açúcar). Goldemberg e Lucon (2008) também sinalizaram outros problemas relacionados com a geração de eletricidade através de usinas termelétricas. Essas usinas impactam os cursos d’água devido ao uso consuntivo10 para resfriamento das turbinas e também à poluição térmica gerada pelos efluentes devolvidos ao corpo d’água com temperaturas elevadas que afetam diretamente diversas espécies de peixes. Atualmente, as principais fontes de energia ainda são de origem fóssil, não-renováveis e poluentes como petróleo, carvão, gás natural etc. Dados de IEA (2011b) mostraram que do total de energia primária produzida no mundo, em 2009, quase 81% era de origem fóssil. Não é possível a manutenção desse modelo energético por diversas razões, entre elas; destacam-se os limites nas reservas disponíveis de fontes não renováveis, os impactos ambientais, em 9 As fontes de energia primária são aquelas obtidas diretamente da natureza ou a partir de subprodutos, de resíduos naturais ou de processos industriais, tais como: petróleo, gás natural, carvão mineral, biomassa, eólica, etc. 10 O uso consuntivo da água ocorre quando parte da água retirada é consumida durante seu uso. Neste caso, não há reposição ao corpo d’água devido às perdas por evaporação. 54 especial, as mudanças climáticas, os conflitos regionais resultantes da disputa pelo controle de reservas de petróleo e o endividamento de países periféricos que necessitam importar derivados de petróleo. 3.3 O Protocolo de Quioto e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo: a Agenda Internacional Diante das evidências científicas sobre o vínculo do efeito estufa com as mudanças climáticas, a Organização Meteorológica Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estabeleceram, em 1988, o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC). A publicação do primeiro relatório de avaliação do IPCC em 1990 teve grande repercussão na comunidade internacional e resultou na adoção da Convenção do Clima (United Nations Framework Convention on Climate Change – UNFCCC) em 1992. A Convenção do Clima tinha o objetivo explícito de estabilizar as concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa e propor medidas de redução às ameaças e aos efeitos danosos das mudanças climáticas. Além disso, essa Convenção buscou fortalecer o trabalho do IPCC e iniciou um processo regular de reuniões dos países signatários dessa, visando a implementação dessas medidas – reuniões conhecidas por Conference of Parts – COP (CEBDS, 2012). Na terceira Conferência das Partes (COP-3), realizada no Japão, em dezembro de 1997, o Protocolo de Quioto foi apresentado para a aprovação dos países signatários. Nessa proposta, dividiram-se os países em dois grupos e atribuíram-se as responsabilidades comuns, porém diferenciadas desses países. Os países industrializados, Partes do Anexo I do referido Protocolo, foram os que mais contribuíram para o impacto sobre o clima e, portanto, deveriam assumir compromissos de redução de emissões de GEE. Para os países em desenvolvimento, Partes não-Anexo I, os prazos de adequação seriam maiores com menores exigências e sem metas obrigatórias de redução de emissão. De acordo com o Protocolo de Quioto, os países do Anexo I comprometiam-se com metas individuais e com vinculação legal de mitigação de suas emissões de GEE no período de 2008 a 2012. As metas variavam de acordo com o país, mas, conjuntamente, visavam reduzir em, pelo menos, 5% os níveis de emissões de 1990 (GOLDEMBERG e LUCON, 2008). Os demais países (não-Anexo I) não possuíam metas obrigatórias, pelo menos, até 2012. 55 Para que o Protocolo de Quioto entrasse em vigor, era necessária a ratificação de, pelo menos, 55% dos países signatários e também de países que representassem, pelo menos, 55% das emissões globais do ano-base de 1990. Apesar das discussões difíceis e complexas e de deixar vários artigos e decisões para COPs posteriores, o Protocolo de Quioto foi aprovado. Entretanto, os Estados Unidos, responsáveis por 23% das emissões mundiais em 1990, não ratificaram o acordo justificando perda de competitividade econômica (CEBDS, 2012; GOLDEMBERG e LUCON, 2008; IEA, 2011a). Com a proposta de reduzir os custos de mitigação de emissões, o Protocolo de Quioto estabeleceu a criação de mecanismos comerciais, chamados de Mecanismos de Flexibilização, que possibilitariam aos países do Anexo I e às suas empresas o cumprimento de suas metas de redução. Esses mecanismos foram: o Comércio de Emissões (Emissions Trading), a Implementação Conjunta (Joint Implementation) e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)11 conhecido originalmente por Clean Development Mechanism (CDM). Os dois primeiros mecanismos são instrumentos pelos quais um país industrializado pode contabilizar, inclusive através de operações de compra e venda, reduções realizadas em outro país do Anexo I. O MDL, por sua vez, permite aos países do Anexo I financiar projetos de mitigação ou comprar os volumes de redução de emissões resultantes de iniciativas desenvolvidas em países não-Anexo I. A criação do MDL permitiu que países sem teto de emissões pudessem desenvolver projetos de mitigação, receber créditos e comercializar esses créditos no mercado internacional. Deste modo, foi criado um valor de mercado para o carbono e, consequentemente, o chamado Mercado de Carbono que surge como resultado desses esforços para mitigação das mudanças climáticas. Young et tal (2000) afirmaram que, em geral, as oportunidades de redução de emissões são mais baratas em países em desenvolvimento, o que aumenta a eficiência econômica para o alcance das metas iniciais de redução de emissões de GEE. Como o impacto das mudanças climáticas é global, o efeito da redução das emissões é o mesmo, independente de onde elas ocorram. Os países em desenvolvimento, por sua vez, se beneficiam não apenas pelo aumento do fluxo de investimentos, mas também pela promoção aos objetivos do Desenvolvimento Sustentável. 11 O MDL foi desenvolvido a partir de uma proposta brasileira que previa a criação de um Fundo de Desenvolvimento Limpo, constituído pelo aporte financeiro dos países desenvolvidos que não cumprissem suas metas de redução, de acordo com o princípio do Poluidor Pagador (CEBDS, 2012). 56 A redução de emissões de GEE, obtida através de projetos do MDL, originam as unidades de Reduções Certificadas de Emissões (RCE)12. As RCE’s, geradas por esses projetos, podem ser usadas pelos países do Anexo I, por governos ou por empreendedores privados, para que esses países atinjam suas metas de redução de emissões desde que seja respeitado o objetivo de promoção ao Desenvolvimento Sustentável dos países hospedeiros. Entre os principais projetos do MDL, destacam-se aqueles relacionados com aterros sanitários, eficiência energética, uso de fontes e combustíveis renováveis, inovações no setor de transportes e nos processos produtivos, uso do solo e das florestas. O MDL apresenta-se como uma ótima oportunidade para a difusão e a aquisição de tecnologias mais produtivas e limpas, que, em outro contexto, poderiam acarretar em custos de transferência e aquisição bem mais altos. Por agregar valor comercial aos resultados de mitigação, o MDL confere maior competitividade às práticas de conservação e ao uso de fontes renováveis de energia. Em relação ao Brasil, Young et tal (2000) salientaram que esse mecanismo envolve co-geração industrial com muitos impactos secundários positivos. Esses autores ainda destacaram que os créditos do MDL fornecem uma oportunidade para viabilizar as opções alternativas e retardar a adoção em larga escala da termoeletricidade. Entre essas alternativas, destaca-se a Energia Eólica, dado o seu grande potencial de benefícios ambientais e de desenvolvimento para o Brasil. Sobre os projetos do MDL desenvolvidos atualmente, o Brasil ocupa a terceira posição em número de atividades de projeto com 440 projetos (7%). A China ocupa a primeira posição com 2.197 projetos (37%), seguida da Índia com 1.575 projetos (27%). Em relação aos países com maiores reduções anuais de emissões de GEE, o Brasil ocupa o terceiro lugar com uma redução de 6% do total mundial. A China encontra-se em primeiro lugar com redução de 51%, seguida pela Índia com 19% de redução do total mundial. No Brasil, o maior número de projetos do MDL é desenvolvido na área de geração de energia. Os projetos em energia renovável representam 49,3% das atividades de projeto que acarretam numa redução anual de emissão de 38,6% (BRASIL, 2010). O prazo estipulado para vigência do Protocolo de Quioto expira ao final de 2012. Entretanto, na COP-17 realizada em dezembro de 2011 em Durban (África do Sul), ficou acertado que o referido Protocolo será estendido até 2017. Trinta países ratificaram o acordo, porém Japão, Rússia, Canadá e Estados Unidos ficaram de fora (UOL, 2011). A citada Conferência também lançou a base para um futuro acordo contra as emissões de GEE que 12 No original: Certified Emission Reduction (CER) 57 envolverá metas para todos os países após 2020 inclusive para Estados Unidos e China – os dois maiores emissores atuais. Esse novo acordo prevê a criação de um protocolo (outro instrumento legal ou um resultado acordado com força legal) em 2015 e que possa entrar em vigor até 2020 (FOLHA DE S. PAULO, 2011). 3.4 A Matriz Energética Brasileira (1940-2010) A matriz energética de um país é definida como sendo sua oferta interna de energia discriminada quanto às fontes e aos setores de consumo. Aquela pode ser vista como um instrumento técnico que permite ao país acompanhar os resultados das suas políticas e as estratégias setoriais implantadas. A partir desse instrumento, é possível reajustar o processo de planejamento do setor elétrico de maneira que a matriz energética expresse os interesses da sociedade e reflita as políticas e as estratégias setoriais em andamento (IPEA, 2011). Ainda sob essa perspectiva, a matriz energética permite acompanhar a evolução da utilização das diferentes fontes de energia, de maneira a subsidiar a tomada de decisões nesse setor. Conforme sinalizaram Tolmasquim; Guerreiro; Gorini (2007), em um mercado global, onde as preocupações com o meio ambiente são crescentes, os países que adaptarem suas matrizes para a utilização de recursos energéticos de baixo custo e baixo impacto ambiental obtêm importantes vantagens comparativas. Nesse aspecto, segundo os referidos autores, o “Brasil dispõe de condições especialíssimas de recursos energéticos renováveis e de tecnologia para transformar suas riquezas naturais em energia e, dessa forma, agregar valor à sua produção de riqueza” (Idem, p. 47). A Matriz Energética Brasileira (MEB) se destaca, no cenário internacional, devido à participação significativa de fontes renováveis. No Brasil, essas fontes representaram 44,1% da Oferta Interna de Energia (OIE13) em 2011; enquanto que, no mundo, a participação de renováveis foi de somente 13,2% em 2010. Ao considerar somente os países pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (correspondente em inglês a OECD14), esse percentual foi de apenas 8,6% em 2011 (BRASIL, 2012; IEA, 2012). 13 A OIE é a quantidade de energia que se coloca à disposição para ser submetida aos processos de transformação e/ou consumo final. Aquela é dada pela soma do consumo final de energia, das perdas na distribuição e na armazenagem e das perdas nos processos de transformação de todos os tipos de energia empregados no país (BRASIL, 2011b). 14 A OECD é uma organização internacional que reúne os países mais industrializados e alguns emergentes como México, Chile e Turquia. Atualmente composta por 34 membros (o Brasil não faz parte), a OECD visa promover “políticas que melhorem o desenvolvimento econômico e o bem-estar das pessoas em todo o mundo”. Disponível em: <http://www.oecd.org/about>. Aceso em: 10 out. 2012. 58 Ao longo do século XX, especialmente a partir da II Guerra Mundial, a demanda de energia primária no Brasil cresceu de maneira elevada. Entre os fatores que contribuíram para essa forte expansão, destacam-se o expressivo crescimento demográfico, a acelerada urbanização, o processo de industrialização e a construção de uma infraestrutura de transporte rodoviário caracterizada pela alta intensidade energética. Apesar da demanda energética crescente, o consumo per capita de energia no Brasil sempre foi muito baixo, sinalizando uma forte tendência de concentração da renda nacional. Estima-se que, em 2030, o consumo per capita de energia no país seja de 2.330 tonelada equivalente de petróleo (tep) por mil habitantes, valor ainda inferior ao consumo atual de países como Portugal, Hong Kong ou África do Sul e comparável ao consumo atual de venezuelanos e malaios (TOLMASQUIM; GUERREIRO; GORINI, 2007). Dados do Balanço Energético Nacional (BEN) 2011 mostraram que, de 1940 até o início da década de 1970, a maior parte da energia produzida no país era proveniente da lenha e do carvão vegetal, que já sinalizava um perfil de consumo energético de baixa emissão de carbono. Apesar da liderança durante todo o período, a energia renovável reduziu sua participação na MEB, indo de 87,2% em 1940 para 57,8% em 1970. A partir deste ano, sobretudo, ocorreu uma expansão da oferta de petróleo e derivados – além de outros combustíveis fósseis – e os recursos não-renováveis tornaram-se maioria na matriz energética, chegando a 54,3% em 1980 (BRASIL, 2011b). O Gráfico 1 mostra a evolução da estrutura da oferta de energia no Brasil no período de 1940 a 2010. Gráfico 1 – Oferta Interna de Energia – Brasil (1940-2010) Fonte: Brasil (2011b). 59 Cabe ainda destacar que a MEB apresenta uma clara tendência à diversificação das suas fontes primárias. Enquanto que, em 1970, apenas duas fontes – petróleo, lenha e carvão vegetal15 – respondiam por 85% da oferta de energia, em 2000, três fontes – petróleo, lenha e energia hidráulica – correspondiam a 73% da energia ofertada (BRASIL, 2011b). Tolmasquim; Guerreiro; Gorini (2007) estimaram que, para 2030, serão necessárias quatro fontes primárias para atender a 77% da demanda energética do país. Além do petróleo e da energia hidráulica, esses autores ressaltaram a importância da cana-de-açúcar e do gás natural com redução da importância relativa da lenha e do carvão vegetal. Sobre o setor elétrico brasileiro, devido a um conjunto de fatores econômicos e geográficos, o país investiu fortemente na geração hidráulica. Tanto pela crise do petróleo na década de 1970, quanto pelo alto potencial energético das suas bacias hidrográficas, o Brasil fez grandes inversões em usinas hidrelétricas e, atualmente, possui uma capacidade instalada de 119.424,96 megawatt (MW)16 da qual 65,31% provêm da fonte hidráulica (ANEEL, 2012). Em 2010, o Brasil produziu 509,2 terawatt-hora (TWh) de energia elétrica, o equivalente a 2,4% da produção mundial e importou 35,9 TWh que, somadas à geração interna, permitiram uma oferta interna de energia elétrica de 545,1 TWh. Desse montante, a geração interna hidráulica correspondeu a 74% da oferta total (BRASIL, 2011b; IEA, 2012). Através do Gráfico 2 é possível entender a Oferta Interna de Energia Elétrica no Brasil, de acordo com a fonte, no ano de 2010. Gráfico 2 – Oferta Interna de Energia Elétrica por Fonte – Brasil (2010) Fonte: Brasil (2011b). 15 O carvão vegetal é produzido a partir da lenha pelo processo de carbonização, por isso, esses dois energéticos são considerados uma única fonte de energia primária (BRASIL, 2011b). 16 Não inclui importação (BRASIL, 2011b). 60 Dados de IEA (2012) mostraram que o Brasil ocupa a segunda posição mundial em relação à participação da hidroeletricidade na oferta total de energia, ficando atrás somente da Noruega. Por ser uma fonte de energia renovável e, supostamente, com baixa emissão de carbono, a grande contribuição da hidroeletricidade tem sido apontada como um dos principais sinalizadores da Sustentabilidade da Matriz Elétrica Brasileira. Entretanto, é necessário ressaltar que o uso da energia hidrelétrica acarreta numa série de impactos negativos tanto ambientais quanto socioeconômicos. Goldemberg e Lucon (2008) mostraram que as hidrelétricas, principalmente as grandes com capacidade instalada acima de 500 MW interferem no meio ambiente devido à construção de grandes represas e a formação de lagos que impactam sobre os fluxos dos rios e migração de peixes. No caso brasileiro, cerca de 20% das usinas hidrelétricas são consideradas grandes e juntas correspondem a 80% da capacidade instalada de hidroeletricidade (ANEEL, 2012). Fearnside (2004) também alertou que as hidrelétricas emitem quantidades significativas de gases de efeito estufa – CO2 e CH4. A liberação do dióxido de carbono ocorre devido à decomposição aeróbica de biomassa de floresta morta nos reservatórios das usinas. O metano, por sua vez, origina-se na decomposição anaeróbica de matéria nãolignificada17, sendo a maior parte emitida através da água que passa pelas turbinas e pelo vertedouro. O autor fez um alerta que as emissões pela superfície da represa, que atualmente é o único componente de impacto avaliado nas estimativas oficiais, respondem por uma parte relativamente pequena do impacto total. Para a hidrelétrica de Tucuruí em 1991, o referido autor estimou que a quantidade total de emissões18 foi de 7,0 a 10,1 × 106 toneladas de carbono de CO2 equivalentes – emissão equivalente ao carbono liberado pelos combustíveis fósseis na cidade de São Paulo. Além dos problemas ambientais citados, as grandes hidrelétricas também causam uma série de impactos socioeconômicos. Goldemberg e Lucon (2008) listaram alguns desses problemas, entre eles estão a realocação das populações (inclusive as indígenas tradicionais) devido ao alagamento de grandes extensões territoriais, a alteração no regime dos rios à jusante da barragem, o assoreamento à montante da barragem, as barreiras à migração de peixes, a proliferação de águas (Eutrofização), aguapés e mosquitos, a extinção de espécies 17 18 Plantas herbáceas das zonas de despalacamento e macrófitas (FEARNSIDE, 2004). Inclui as emissões de superfície de metano e as emissões da biomassa acima da água de metano e de gás carbônico (FEARNSIDE, 2004). 61 endêmicas e a perda de patrimônio histórico, arqueológico e turístico. Também devem ser considerados os riscos associados ao rompimento das barragens. Diante do exposto, conclui-se que a geração de eletricidade através de grandes usinas hidrelétricas não é tão sustentável quanto parece à primeira vista. Ademais, estudos mostraram que o consumo de eletricidade na rede brasileira deverá sofrer um aumento de aproximadamente 52% nos próximos dez anos, chegando ao patamar de 656 TWh em 2021 (BRASIL, 2011a). Para Tolmasquim; Guerreiro; Gorini (2007), o consumo de energia elétrica no Brasil excederá o patamar de 1.080 TWh em 2030. Os referidos autores também mostraram que, aproximadamente, 60% do potencial hidroelétrico a ser aproveitado concentra-se na Amazônia e, em sua maioria, em áreas de reservas florestais, parques nacionais e terras indígenas, que envolveriam projetos de alta complexidade ambiental. Assim, em virtude dessas restrições à expansão hidrelétrica, os autores afirmam que a geração térmica convencional (nuclear, gás natural e carvão mineral) ampliará sua participação na matriz elétrica nacional, causando um aumento significativo no nível de emissões de GEE na geração de energia elétrica no país. Nesse contexto, quais as opções disponíveis ao Brasil para expandir sua oferta de energia elétrica com Sustentabilidade Ambiental e garantindo o atendimento da sua crescente demanda energética? A proposta apresentada neste trabalho é aproveitar o alto potencial da Energia Eólica no país para expandir sua oferta interna de eletricidade, de maneira socialmente includente e ambientalmente sustentável. Na próxima seção serão apresentadas maiores informações sobre essa fonte de energia renovável e como ela poderá contribuir para o Desenvolvimento Sustentável do país no médio/longo prazo. 3.5 Energia Eólica: aumento da capacidade de Oferta de Energia Limpa A Energia Eólica é definida como a energia cinética contida no vento. O vento é gerado pelo aquecimento das massas de ar na superfície não uniforme da terra. Devido ao aquecimento do ar nas regiões equatoriais, ele se torna mais leve e começa a subir; no polo Norte, o efeito é inverso: o ar frio começa a descer, criando, assim, as correntes de vento. Estima-se que, aproximadamente, 2% da energia solar absorvida pela Terra é convertida em energia cinética do vento. Apesar de parecer pequeno, esse percentual é muito maior que a potência anual instalada nas centrais elétricas do mundo (DUTRA, 2007). O aproveitamento dessa energia contida no vento é feito através da conversão da energia cinética de translação em energia cinética de rotação. Para a realização de trabalhos 62 mecânicos, como o bombeamento de água ou a moagem de trigo, utilizam-se cata-ventos. Para a produção de energia elétrica, utilizam-se turbinas eólicas também conhecidas como aerogeradores. Quando se considera a utilização da Energia Eólica para a geração de eletricidade, a característica mais importante a ser considerada é a velocidade do vento. O potencial de geração disponível é função do cubo da velocidade; de maneira que pequenas alterações, na velocidade do vento, podem gerar grandes mudanças no desempenho econômico de um parque eólico. A Associação de Energia Eólica Europeia (correspondente em inglês a EWEA) mostrou que, se a velocidade média do vento aumentar de 6 m/s para 10 m/s, a produção de eletricidade aumentará em 134% (EWEA, 2009a). Assim, o regime do vento é fator crucial para determinar a viabilidade técnico-econômica da produção de energia elétrica a partir da fonte eólica. As primeiras experiências para geração de eletricidade a partir do vento surgiram, no final do século XIX, com a instalação dos primeiros geradores e das redes de transmissão de eletricidade. Nesse mesmo período, ocorreu o desenvolvimento e a fabricação em série dos motores de combustão interna de ciclos Otto e Diesel que, aliados à descoberta de grandes reservas de petróleo, tornaram esse combustível a força motriz mais poderosa do mundo (FRANCELINO, 2008). Entretanto, com a crise mundial do petróleo, na década de 1970, as principais economias capitalistas buscaram fontes alternativas de energia na tentativa de reduzir a dependência do petróleo e do carvão mineral. Desse modo, em 1976, a primeira turbina eólica comercial foi ligada à rede elétrica pública na Dinamarca. As preocupações com a segurança energética e com as questões ambientais envolvidas na geração de energia elétrica ganharam destaque mundial somente na segunda metade do século XX após os acidentes nucleares nos reatores de Three Mile Island nos Estados Unidos, em 1979, e na cidade de Chernobyl, na ex-União Soviética, em 1986. Além disso, a busca pela redução da emissão de gases de efeito estufa impulsionou o desenvolvimento de novas soluções para o fornecimento de energia elétrica através de fontes de energia renováveis, em especial a Energia Eólica. Apesar da sua aparência simples (ver Figura 4), a tecnologia eólica é altamente sofisticada com destaque para as áreas de controle, aerodinâmica e de materiais. Variações na velocidade e nas direções do rotor e pás com diferentes ângulos de “ataque” permitem o aumento da produção de energia com menos fadiga do material e menores custos de manutenção. O desenvolvimento de materiais mais leves e resistentes possibilita a instalação 63 de grandes sistemas em mar aberto (offshore wind farms19), aumentando consideravelmente a energia produzida e reduzindo possíveis restrições ambientais. Figura 4 – Esquema simplificado de um gerador eólico Fonte: http://www.eia.gov/energyexplained/index.cfm?page=wind_types_of_turbines (adaptado). Acesso em: 10 out. 2012. O sistema de geração eólica pode ser utilizado através de três aplicações distintas: os sistemas isolados, os sistemas híbridos e os sistemas interligados à rede. De acordo com a finalidade do projeto, determinar-se-á o tamanho do gerador e sua capacidade de geração. Os sistemas isolados são utilizados em aplicações de pequeno porte e, geralmente, utilizam alguma forma de armazenamento de energia. Os sistemas híbridos são aqueles que, desconectados da rede convencional, apresentam várias fontes de geração de energia como turbinas eólicas, geração diesel e módulos fotovoltaicos. Esses sistemas são utilizados em aplicações de médio à grande porte e destinam-se ao atendimento de um maior número de usuários. Os sistemas interligados à rede, por sua vez, são utilizados em aplicações de grande porte e possuem um elevado número de aerogeradores. Nesse caso, não se faz necessário ter sistemas de armazenamento de energia, pois toda a geração é entregue diretamente à rede elétrica. Na Figura 5, são apresentadas algumas aplicações dos aerogeradores. 19 Os parques eólicos offshore são aqueles instalados em mar aberto em contraste aos parques onshore instalados na costa. 64 Figura 5 – Diferentes tamanhos de aerogeradores e suas principais aplicações Fonte: Dutra (2008). 3.5.1 Energia Eólica: Fatos e Mitos Entre as energias renováveis, a Energia Eólica vem se consolidando como uma das principais fontes do século XXI, graças a algumas vantagens competitivas. Em primeiro lugar, seu principal recurso (o vento) é gratuito e abundante em diversas regiões, além de ser uma fonte inesgotável; em segundo, as modernas turbinas utilizadas na geração não emitem GEE durante sua operação e não demandam água para resfriamento; em terceiro, o tempo de construção de parques de aerogeradores é relativamente pequeno quando comparado com outras fontes renováveis como as hidrelétricas. Do ponto de vista ambiental, a não-emissão de dióxido de carbono na atmosfera é o benefício mais importante da geração eólica. Dados de EWEA (2009a) mostraram que a moderna tecnologia eólica apresenta um balanço energético extremamente favorável e as emissões de CO2 relacionadas com a fabricação, instalação e serviço, durante todo o ciclo de vida do aerogerador, são “recuperadas” entre três e seis meses após sua entrada em operação. Entretanto, alguns autores sinalizam que existem impactos ambientais negativos relacionados com a geração eólica. Esses impactos estariam relacionados com a fauna e a ocupação da terra na região, interferências eletromagnéticas e, principalmente, impactos 65 sonoros e visuais. Nos próximos parágrafos, analisar-se-á cada um desses aspectos para se verificar a validade desses questionamentos. Os impactos sonoros relatados são devidos ao ruído das turbinas que podem ser de origem mecânica ou aerodinâmica. Como solução, é utilizado um gerador elétrico multipolo conectado diretamente ao eixo das pás que dispensa o uso de engrenagens e reduz consideravelmente esse tipo de ruído. Nos últimos anos, ocorreram muitos avanços no desenvolvimento tecnológico da aerodinâmica das pás e das partes mecânicas críticas, tornando possível uma significativa redução dos níveis de ruído nas turbinas modernas. A EWEA (2009a) mostrou que as modernas turbinas eólicas são muito silenciosas, sendo o ruído produzido por um parque eólico operacional, a uma distância de 230 a 300 metros, equivalente ao de uma geladeira na cozinha. Sobre os impactos visuais, esses decorrem do agrupamento de torres e aerogeradores num mesmo local, os chamados parques eólicos ou fazendas eólicas. Esses impactos podem variar bastante, dados os diferentes locais de instalação, o arranjo das torres e as especificações da turbina. Cabe destacar que, diferentemente dos impactos sonoros, os efeitos sobre a paisagem e os impactos visuais não podem ser medidos ou calculados e medidas de mitigação são limitadas. Entretanto, a EWEA (2009a) relatou algumas medidas de mitigação para prevenir e/ou minimizar os impactos visuais das fazendas eólicas: a) projeto do parque eólico de acordo com as peculiaridades do local e a sensibilidade para a paisagem em volta; b) localização do parque eólico, pelo menos a certa distância das habitações; c) seleção de cor neutra e pintura anti-refletiva para torres e pás; d) cabos subterrâneos; e) luzes para voos de baixa altitude somente para as torres mais expostas. Estudo realizado pelo governo escocês, em 2008, analisou os impactos dos parques eólicos na indústria do turismo e revisou 40 estudos da Europa, dos Estados Unidos e da Austrália (EWEA, 2009a). Nesse estudo, os autores concluíram que a oposição mais forte aos parques eólicos ocorre na fase de planejamento e com o tempo, após comissionamento e operação, a aceitabilidade é maior; um número significativo de pessoas acha que há perda de valor cênico quando um parque eólico é instalado, porém, para outras pessoas, os parques eólicos melhoram a beleza da área; em linhas gerais, não há evidências que surgiram impactos negativos sérios sobre o turismo. 66 Alguns estudos empíricos têm sido realizados para verificar os impactos das turbinas eólicas sobre as paisagens naturais e seu turismo potencial. Ao analisar a experiência de duas localidades na República Checa, Frantál & Kunc (2011) verificaram que o desenvolvimento da Energia Eólica, não mais do que outros setores energéticos, acarretou em alguns impactos negativos sobre a vida familiar de residentes locais. Entretanto, ao contrário da indústria energética tradicional, as turbinas eólicas não produzem qualquer resíduo e são construções temporárias, com fácil remoção e reciclagem das suas partes ao fim da sua vida útil de operação. Desse modo, esses autores concluem que é difícil, talvez impossível para as pessoas não projetarem suas próprias preferências subjetivas ao avaliar o equilíbrio entre os impactos locais sobre a paisagem e o ambiente e os benefícios para a comunidade local e sem impactos para mudanças climáticas globais. Em que pese o fato de os benefícios qualitativos gerados não serem provados através de modelos econométricos, pode-se identificá-los in loco através da elevação da qualidade de vida das comunidades locais. Sobre o uso da terra para a implantação das turbinas eólicas, geralmente, 99% da área de um parque eólico típico mantém-se inalterada após sua instalação. Apesar de as fundações das turbinas possuírem 10 m de diâmetro, essas ficam enterradas, permitindo qualquer atividade agrícola existente ser mantida até próxima à base da torre. Os espaçamentos entre as turbinas são a única restrição a ser feita, pois devem ser de 5 a 10 vezes a altura da torre de modo a evitar a perturbação causada no escoamento do vento entre uma unidade e outra. Outro impacto ambiental, associado à geração eólica, refere-se à mortalidade de aves e morcegos nos parques eólicos. Devido à dificuldade de visualização, quando em movimento, alguns pássaros poderiam colidir com as pás das turbinas e virem a óbito. Entretanto, o impacto global da Energia Eólica sobre os pássaros é muito pequeno. Erickson et al. (2005 apud EWEA, 2009a) realizaram um estudo comparativo sobre a mortalidade de aves por causas antrópicas e mostraram que apenas 0,003% da mortalidade de aves causadas por atividades humanas pode ser atribuída ao desenvolvimento da Energia Eólica. Portanto, as afirmações que as turbinas eólicas causam sérios impactos ambientais, devido à mortalidade de pássaros, trata-se de um mito. Por fim, outro impacto negativo associado à geração eólica é a possibilidade de interferências eletromagnéticas que podem ocorrer quando a turbina eólica é instalada entre receptores e transmissores de ondas de rádio, televisão e micro-ondas. A torre, as pás das turbinas e/ou o gerador podem refletir parte da radiação eletromagnética numa direção de modo que a onda refletida interfira no sinal obtido por um receptor próximo às torres. 67 Atualmente, para atenuar esse problema, os fabricantes estão utilizando materiais sintéticos que causam um impacto mínimo sobre a transmissão da radiação eletromagnética. O sistema elétrico também não é um problema para as telecomunicações, pois as interferências podem ser eliminadas com um isolamento adequado da nacelle20 e boa manutenção. As interferências nos serviços de rádio móvel também são normalmente insignificantes. Entretanto, a EWEA (2009a) revelou que há interferências significativas nos sinas de televisão quando são instaladas muitas turbinas próximas de habitações. A solução é a adoção de medidas de mitigação dessas interferências durante as fases de planejamento e implantação da turbina sob a ótica da estação transmissora. Caso o parque eólico já esteja em operação, algumas medidas podem ser tomadas, tais como relocação da antena, instalação de uma antena de maior qualidade ou direcional, instalação de um amplificador, instalação de TV via satélite ou a cabo, ou construção de uma nova estação repetidora caso a área afetada seja muito grande. Desse modo, a Associação concluiu que a interferência nos sistemas de comunicação é insignificante, pois, pode ser evitada através de um projeto cuidadoso dos novos parques eólicos ou pela adoção de medidas simples a um custo relativamente baixo nos parques já em operação. 3.6 Panorama Mundial da geração de Energia Eólica O mercado de geração eólica tem crescido substancialmente nos últimos anos. A capacidade instalada no mundo que, em 1990, era inferior a 2 gigawatt (GW) chegou a aproximadamente 238 GW no final do ano passado. Somente em 2011, houve um acréscimo da capacidade eólica mundial de aproximadamente 40 GW. Isso representou um aumento de 20% sobre a capacidade eólica do ano anterior, percentual muito acima do que qualquer outra tecnologia renovável (GWEC, 2012a). No Gráfico 3, é apresentada a evolução da capacidade instalada da Energia Eólica no mundo. 20 Estrutura montada sobre a torre que abriga os equipamentos de produção de energia – gerador, caixa de velocidades, transmissão etc. 68 Gráfico 3 – Capacidade instalada de geração eólica no mundo (1996-2011) Fonte: REN21 (2012). Uma tendência verificada nos últimos anos é o crescimento da participação dos países em desenvolvimento na capacidade instalada mundial. Como destacou o Conselho Global de Energia Eólica (correspondente em inglês a GWEC), a maioria das novas instalações de Energia Eólica está localizada, fora da OECD, em mercados emergentes. Entre esses países, os principais motores do crescimento mundial da Energia Eólica são China e Índia. Somente em 2011, esses países responderam por 50% da capacidade eólica adicionada (GWEC, 2012a). Desde o ano de 2010, a China lidera o mercado mundial de Energia Eólica, ultrapassando países tradicionais nesse tipo de geração como Alemanha e Estados Unidos. Em 2011, a China se consolidou na primeira posição e alcançou a marca de 62.364 MW de capacidade total instalada, o que representou, aproximadamente, 26% do total naquele ano. Atualmente, a Índia ocupa a quinta posição em termos de participação de mercado, mas estima-se que, até 2013, ela supere a Espanha e ocupe a quarta posição (GWEC, 2012a). No Gráfico 4, são apresentados os dez primeiros países em capacidade instalada de Energia Eólica. A capacidade instalada, adicionada anualmente, também cresce a taxas expressivas. Enquanto que, em 1996, a capacidade eólica global adicionada foi de 1.280 MW, em 2011, ultrapassou o valor de 40.500 MW. Em 2011, a China apresentou mais uma vez um crescimento surpreendente, adicionando à sua capacidade eólica quase 18.000 MW. Esse 69 valor foi equivalente a 43% da capacidade eólica total, adicionada naquele ano (GWEC, 2012a). Gráfico 4 – As dez maiores capacidades instaladas no mundo em 2011 Fonte: REN21 (2012). Um dos fatores que possibilitou a expansão da Energia Eólica no mundo foi o rápido desenvolvimento tecnológico das turbinas eólicas. Enquanto que, em 1985, o diâmetro médio do rotor era de 15m – equivalente a uma capacidade de 0,05MW – em 2010, o tamanho do rotor chegou a 126m, disponibilizando uma capacidade de 7,5MW (IRENA, 2012). Estima-se que, em 2020, o diâmetro do rotor chegue a 252m com uma capacidade de produção entre 10 e 20MW (EWEA, 2009b). Além da expansão da capacidade de geração, o aumento do tamanho das turbinas permite que um número menor de aerogeradores seja instalado no mesmo local, acarretando em benefícios econômicos e ambientais. A EWEA (2009b) mostrou que, para turbinas eólicas de pequeno porte, o custo por kW é muito mais caro do que para turbinas maiores, especialmente se a função principal é produzir eletricidade de qualidade interligada à rede. Em parte, isso ocorre devido à necessidade das torres serem maiores em proporção ao diâmetro para eliminar obstáculos ao fluxo de vento e escapar das piores condições de turbulência e cisalhamento do vento próximo à superfície da terra. Ademais, para turbinas menores, os controles, a conexão elétrica à rede e a manutenção formam uma proporção muito maior do valor de capital do sistema. Portanto, quanto maior a potência unitária da turbina eólica, melhor será o aproveitamento da infraestrutura elétrica e de construção civil, produzindo ainda mais energia. 70 Igualmente, a redução do número de rotores em movimento diminui o possível impacto visual causado pelos parques eólicos. O Gráfico 5 apresenta o crescimento do tamanho das turbinas eólicas desde 1985. Gráfico 5 – Evolução dos aerogeradores (1985-2010) Fonte: IRENA (2012). O fator-chave para o desenvolvimento do setor de turbinas eólicas e que propiciou a busca contínua por aerogeradores de grande porte, na escala de multi-megawatt, foi o desenvolvimento de um mercado offshore. Nesse tipo de aplicação, são requeridas turbinas com maiores capacidades unitárias de maneira a compensar os maiores custos de infraestrutura (fundação, coleta de energia elétrica e transmissão subaquática), reduzindo os custos no número de unidades de acesso. A possibilidade de instalação de centrais eólicas no mar abriu novas oportunidades para a Energia Eólica, em especial para aqueles países onde não há terras em abundância para a instalação de novos parques. A indústria eólica tem feito grandes investimentos no desenvolvimento tecnológico desses parques offshore na tentativa de reduzir seus custos de instalação e operação. Em 2011, a capacidade total instalada das instalações offshore representou cerca de 2% da capacidade global instalada. Estima-se que, em 2020, esse percentual chegará a 10%. Atualmente, os três maiores produtores de Energia Eólica no mar são Inglaterra, Dinamarca e China com 2.093,7MW, 857,3MW e 258,4MW de capacidade instalada, respectivamente (GWEC, 2012a). 71 As previsões do mercado de Energia Eólica, feitas pelo GWEC (2012a) para os próximos anos, são um pouco sombrias quando comparadas aos anos anteriores. A crise financeira recente atingiu os fabricantes de aerogeradores, através do excesso de oferta, que pressionou os preços para baixo e reduziu drasticamente as margens de lucro. Além disso, há grandes incertezas sobre o apoio federal futuro para a Energia Eólica nos Estados Unidos. Igualmente, outras incertezas afetam o desenvolvimento global da Energia Eólica como questões relacionadas à rede de transmissão na China, mudanças no código tributário indiano, o ritmo de desenvolvimento offshore na Europa, problemas políticos no Oriente Médio, entre outros. No entanto, mesmo diante dessas adversidades, espera-se que a taxa média de crescimento da capacidade instalada anualmente seja de, aproximadamente, 8% para os próximos cinco anos com um forte crescimento em 2012 e um substancial decréscimo em 2013. No período de 2012 a 2016, as novas instalações deverão adicionar cerca de 255GW à capacidade instalada mundial com uma taxa de crescimento da capacidade acumulada de aproximadamente 16%. Esse valor é muito abaixo da média de 28% verificada nos últimos quinzes anos, porém é substancial em tempos difíceis onde o quantum de investimento produtivo tem sido notadamente reduzido (GWEC, 2012a). O Gráfico 6 mostra a expectativa de crescimento da Energia Eólica no mundo para os próximos anos. Gráfico 6 – Previsão do mercado de Energia Eólica no mundo (2012-2016) Fonte: GWEC (2012a). Conforme apresentado no Gráfico 6, estima-se que a capacidade total acumulada até o final de 2016 seja um pouco abaixo de 500GW, com uma capacidade adicionada de cerca de 72 60GW. O maior impulso para a expansão da Energia Eólica nos próximos anos deverá vir de novos mercados “emergentes” como China, Índia, Leste Europeu, África, Canadá, Austrália, Brasil e México. 3.7 A Energia Eólica posta em xeque Quando se discute a geração de energia elétrica a partir da fonte eólica, muitas informações têm sido vinculadas sem o devido embasamento teórico. Especialmente, àquelas referentes aos custos envolvidos nesse tipo de geração e às políticas de incentivo para esse tipo tecnologia. Nesta seção, serão apresentados dados e informações recentes visando complementar essa discussão. Um mercado totalmente livre onde todas as fontes geradoras de eletricidade competem em um mesmo nível, não existe em lugar algum. Em cada país, o preço da eletricidade não depende exclusivamente dos custos de geração, mas também de diversos fatores que afetam o mercado como os subsídios à energia e os impostos. De maneira geral, o custo de geração de energia elétrica é composto por custos de capital (custo de construção da planta geradora e conexão à rede), custos de funcionamento (aquisição de combustível e operação e manutenção) e custo do financiamento (como o custo de capital é reembolsado) (BWEA, 2012). Ao analisar os custos da Energia Eólica, a Agência Internacional de Energia Renovável (correspondente em inglês a IRENA) selecionou os três principais indicadores: custo dos equipamentos; custo total do projeto instalado; custo nivelado de eletricidade (Levelised Cost of Energy21 – LCOE). Embora, diferentes medidas de custos sejam úteis em diferentes situações, o LCOE das energias renováveis é uma medida amplamente utilizada e que pode ser avaliada para a construção de modelos ou políticas de desenvolvimento (IRENA, 2012). O custo de instalação de um projeto de Energia Eólica é dominado pelo custo de capital inicial para as turbinas eólicas que, em alguns casos, pode chegar a 84% do custo total de instalação. Os custos de capital de um projeto de geração eólica podem ser divididos em: custos da turbina – pás, torre e transformador; custos de construção – preparação do local e fundações para as torres; custos de interligação à rede – conexão para a distribuição local ou 21 O LCOE indica qual o nível de preços necessários para que a receita se iguale aos custos durante toda a vida útil da planta. Ele é calculado como o valor presente do custo total do ciclo de vida de uma planta dividido pela quantidade de energia produzida por toda vida útil da planta (IRENA, 2012). 73 transmissão em rede; entre outros custos. No Gráfico 7, são apresentados os diferentes custos de uma típica instalação de geração eólica (onshore). Distribuição dos Custos da Turbina Gráfico 7 – Distribuição do custo de capital em um sistema de geração eólica Fonte: Adaptado de Blanco (2009 apud IRENA, 2012). Os custos de capital instalado para sistemas de Energia Eólica variam significativamente de acordo com a maturidade do mercado e a estrutura de custos local. Dados da IRENA (2012) mostraram que, em 2010, China e Dinamarca possuíram o menor custo de capital para novos projetos, ficando entre US$ 1300/kW e US$ 1384/kW. Outros países como Grécia, Índia e Portugal também apresentaram baixos custos no ano considerado. Entre os países analisados, o Japão foi o que possuiu o maior custo de capital para novos projetos, chegando a US$ 3024/kW em 2010. Uma análise detalhada do mercado dos Estados Unidos mostrou que o custo de instalação de projetos de Energia Eólica diminuiu de forma constante a partir de 1980 até 2001. A partir de então, os custos subiram em virtude do aumento dos preços de matériasprimas e de outras commodities, juntamente com sistemas de Energia Eólica mais sofisticados e limitações da cadeia de suprimentos que aumentaram os custos das turbinas eólicas. No entanto, a IRENA (2012) mostrou que esses custos parecem ter chegado a um pico. Para o ano de 2010, os custos de instalação de projetos eólicos naquele país foram de US$ 2155/kW, apenas 0,5% superior ao ano anterior. Além disso, os dados iniciais, para 2011, sugeriram uma pequena redução nos custos de instalação, impulsionada pelo menor preço das turbinas. 74 O LCOE da Energia Eólica é dado pela soma de todos os custos de um sistema totalmente operacional ao longo da vida útil do projeto, descontados os fluxos financeiros de um ano comum. Os principais componentes do LCOE para a Energia Eólica incluem os custos de capital, os custos de operação e manutenção e a produção anual de energia esperada. Para avaliar o custo de um sistema de Energia Eólica, é necessário analisar criteriosamente todos esses componentes durante o tempo de vida do projeto. A Figura 6 apresenta como é formado o LCOE para um sistema de Energia Eólica. Figura 6 – Economia da Energia Eólica Fonte: Adaptado de IRENA (2012). O LCOE da Energia Eólica (onshore) caiu fortemente desde a instalação dos primeiros parques eólicos comerciais. Nos Estados Unidos, o custo da eletricidade gerada a partir do vento caiu de aproximadamente US$ 0,30/kWh, em 1984, para cerca de US$ 0,055/kWh em 2005. Uma tendência semelhante ocorreu na Europa onde o LCOE da Energia Eólica reduziu 40% entre 1987 e 2006 para os parques eólicos onshore (IRENA, 2012). Em escala global, a IRENA (2012) mostrou que, no ano de 2010, o preço da Energia Eólica variou de US$ 0,05 a US$ 0,085/kWh, excluindo os impostos locais e estaduais e dependendo do local da instalação – fatores específicos, como a velocidade do vento e o tamanho da turbina, influenciam o nível de desenvolvimento e os custos de instalação. Para 75 projetos desenvolvidos em áreas com elevados recursos eólicos como Estados Unidos, Brasil, Suécia e México, o LCOE já é inferior a US$ 0,068/kWh, valor comparável aos custos médios atuais de US$ 0,067/kWh para a geração a carvão e US$ 0,056/kWh para as termelétricas. As autoridades públicas e os planejadores energéticos tendem a avaliar diferentes fontes de energia com base no LCOE. Nesses cálculos, não se consideram variáveis como inflação ou sistema de tributação. No entanto, a perspectiva de investidores privados é diferente e considera as variáveis introduzidas pelas políticas governamentais e as mudanças nos mercados financeiros e cambiais. Para esses investidores, o processo de tomada de decisões do projeto deve considerar as variáveis fluxo de caixa e tempo de retorno. Enquanto os entes públicos calculam o capital requerido ao longo da vida técnica da turbina eólica, aproximadamente 20 anos, o investidor privado tenta recuperar o custo das turbinas durante o período do financiamento bancário. Desse modo, a rapidez com que os investidores desejam reembolsar os seus empréstimos aliado à taxa de retorno necessária afeta diretamente a viabilidade de um projeto de Energia Eólica. Para um período de reembolso curto e uma alta taxa de retorno, o preço da eletricidade gerada eleva-se conforme apresentado no Gráfico 8. Gráfico 8 – Custos da geração eólica em relação à velocidade do vento e à taxa de retorno de capital Fonte: EWEA (2009b). Frequentemente, os custos da geração eólica têm sido comparados aos custos de outras fontes energéticas sejam essas renováveis ou não. Contudo, para realizar este tipo de 76 comparação, deve-se inicialmente analisar todos os custos enfrentados pela indústria elétrica convencional de origem fóssil e não-renovável, incluindo os custos sociais associados. Segundo a EWEA (2009a), os custos da produção convencional de eletricidade são determinados por quatro componentes: custo do combustível, custos das emissões de CO2, custos de operação e manutenção (O&M) e custo de capital. Dessa maneira, os benefícios de substituição da energia convencional por Energia Eólica vão depender da participação de cada um desses componentes sobre os custos da fonte energética comparada. Em geral, aceita-se que os custos de O&M da Energia Eólica são bastante reduzidos, principalmente quando comparados aos enfrentados pelas usinas convencionais. Entretanto, alguns benefícios da Energia Eólica como a não-emissão de poluição e o combustível infinito não têm um preço universalmente aceito, o que dificulta bastante a comparação dessa fonte com outras de origem fóssil e não-renovável. A BWEA (2012) baseou-se nos preços da Energia Eólica em 2004 para o Reino Unido, através dos leilões da Non-Fossil Fuel Obligation22, para comparar essa fonte com outros tipos de combustíveis. O estudo comparou os preços da eletricidade gerada a partir de novas usinas com diferentes tecnologias: Central Térmica de Ciclo Combinado a Gás Natural (correspondente em inglês a CCGT); Termelétricas à Carvão; Energia Nuclear e Energia Eólica – onshore e offshore. O Gráfico 9 apresenta o resultado desse estudo e mostra o preço da eletricidade em penny – p (centavo de libra esterlina) por kWh. Gráfico 9 – Preço da eletricidade no Reino Unido para diferentes fontes (2012) Fonte: Adaptado de BWEA (2012). 22 Non-Fossil Fuel Obligation refere-se a um conjunto de exigências feitas aos operadores da rede de distribuição elétrica na Inglaterra e no País de Gales para compra de energia elétrica a partir da energia nuclear e de energias renováveis (BWEA, 2012). 77 Verifica-se a partir do Gráfico 9 que, mesmo quando os custos de emissões são ignorados, a Energia Eólica onshore ainda se mostra bastante competitiva diante das demais. Cabe ainda destacar que os custos da Energia Eólica apresentam uma tendência de queda para os próximos anos em diversos países enquanto que o preço do gás natural no mercado futuro continua a subir desde a comparação feita pela BWEA. Isso implicaria em maiores custos de geração para as centrais a gás CCGT. Apesar dos altos custos iniciais, uma vez construído o parque eólico, não há incertezas relativas ao futuro dos preços do seu combustível como ocorre com os combustíveis fósseis. Awerbuch (2003 apud EWEA 2009a) mostrou que essas incertezas implicam num considerável risco para os custos de geração futura das usinas convencionais enquanto que os custos por kWh gerado pela Energia Eólica são praticamente constantes ao longo da vida útil da turbina. Desse modo, embora a Energia Eólica possa ser atualmente mais cara por kWh, essa tecnologia pode compartilhar o portfólio das usinas de energia, assumindo o papel de cobertura contra aumentos inesperados dos preços futuros de combustíveis fósseis. Portanto, a constância dos custos da Energia Eólica justifica um custo relativamente maior por kWh em comparação com os riscos dos custos futuros da energia convencional. Na edição de 2008 do relatório World Energy Outlook, a IEA revisou suas suposições sobre os preços do combustível e o custo de construção de novas usinas, aumentando esses custos em suas novas estimativas. Para a União Europeia, a IEA assumiu o preço do carbono de US$ 30 por tonelada de CO2 que acrescenta US$ 30/MWh ao custo de geração à carvão e US$ 15/MWh ao custo de geração das centrais CCGT (EWEA, 2009b). O Gráfico 10 mostra as estimativas da IEA sobre o custo de geração futura para carvão, gás e Energia Eólica na União Europeia em 2015 e 2030. Sob essa perspectiva, a Energia Eólica pode se tornar mais barata que carvão e gás natural em 2015 e 2030. 78 Gráfico 10 – Custos de geração de eletricidade na União Europeia em 2015 e 2030 Fonte: IEA World Energy Outlook 2008 (apud EWEA, 2009b). Para se determinar os verdadeiros custos de geração da energia elétrica, o custo da poluição e outros custos externos devem ser incluídos nos cálculos. Os custos externos são os custos para a saúde humana e o meio ambiente que não estão refletidos nos preços de mercado da energia elétrica. Assim, para estabelecer uma comparação justa entre as diferentes atividades de geração de eletricidade, os custos internos e externos para a sociedade precisam ser levados em conta. Por essa razão, é importante identificar os efeitos externos de diferentes sistemas de produção de energia, contabilizando seus custos. Em seguida, deve-se analisar o impacto sobre a situação competitiva dessas diferentes tecnologias quando essas externalidades forem incluídas nos preços. Todavia, ainda há o problema de como se determinar o preço da poluição, pois ainda não existe um método universalmente aceito. Dessa maneira, diferentes estudos têm sido realizados visando contabilizar os custos sociais da produção de eletricidade. O resultado desses estudos é apresentado no Gráfico 11. 79 Gráfico 11 – Exemplo Ilustrativo do Custo Social da Energia Fonte: EWEA (2009a). A partir do Gráfico 11, é possível perceber que a inclusão dos custos externos dos sistemas de energia convencionais tornam essas tecnologias menos competitivas em comparação com a Energia Eólica. Quando essas externalidades são internalizadas, verifica-se que o custo social da produção de energia dos sistemas convencionais é muito alto. Em contrapartida, o custo interno da Energia Eólica é praticamente inalterado quando se incluem as externalidades. Quando se compara a Energia Eólica com as energias renováveis modernas, mais uma vez aquela se destaca devido aos seus custos mais baixos de geração. Um das razões que explica esse fato é o alto nível de desenvolvimento que a tecnologia eólica encontra-se atualmente. A Energia Eólica está difundida mundialmente e sua produção de eletricidade ocorre em todos os continentes do planeta. Enquanto isso, outras fontes renováveis ainda estão em estágios iniciais de desenvolvimento ou sua tecnologia ainda é restrita a um seleto grupo de países. Uma importante ferramenta de previsão para analisar a redução de custos das tecnologias de geração de energia renovável são as curvas de aprendizado (ou Curva Grubb). Em estágios iniciais de concepção da tecnologia, os custos tendem a ser subestimados. Ao chegar ao ponto de comercialização e implantação, os custos tendem a aumentar a partir das avaliações de engenharia e da implementação no mundo real (HEARPS & MCCONNELL, 2011). Após o ponto de comercialização, os custos tendem a reduzir devido a uma combinação de fatores. Contudo, as taxas de redução de custos podem, eventualmente, reduzir como nas tecnologias maduras. Desse modo, diferentes tecnologias podem ser mapeadas em 80 diferentes segmentos da curva. O Gráfico 12 apresenta a curva de aprendizado para as principais tecnologias de geração de energia renovável. Gráfico 12 – Desenvolvimento das tecnologias de energia renovável Fonte: Hearps & Mcconnell (2011). A Alliance Bernstein (2009) publicou um estudo comparando os custos de geração de eletricidade a partir de diversas fontes energéticas, convencionais e renováveis para os Estados Unidos. Nesse estudo, foram incluídos os custos fixos – construção da instalação e interligação com a rede – e os custos variáveis – operação e manutenção. A conclusão obtida é que a geração a partir da construção de novos parques eolicos não consegue competir com as plantas existentes, pois, os custos fixos já foram amortizados e pagos pelos contribuintes ou consumidores de energia elétrica. No entanto, quando se compara a Energia Eólica com outras tecnologias em novas construções, aquela torna-se bastante competitiva, seja com ou sem subsídios. Com subsídios governamentais, o LCOE da Energia Eólica onshore foi de, aproximadamente, US$ 59 por MWh nos Estados Unidos que classifica essa tecnologia como a mais econômica entre as fontes renováveis e muito competitiva diante do carvão, gás natural e nuclear (ALLIANCE BERNSTEIN, 2009). O Quadro 1 mostra um comparativo dos custos de geração de eletricidade para os Estados Unidos. 81 Quadro 1 – A Energia Eólica é a fonte mais econômica entre as energias renováveis Fonte: Alliance Bernstein (2009). Diante do exposto, pode-se concluir que a Energia Eólica apresenta fortes vantagens competitivas para ampliar sua participação na matriz energética dos país. A partir dessa tecnologia, é possível ampliar a oferta de energia do país sem impactos significativos sobre o meio ambiente. Quanto aos custos associados a este tipo de geração, atualmente, a Energia Eólica se mostra competitiva em diversos países, além de possuir uma tendência de redução desses custos nos próximos anos. Dessa maneira, será abordada no próximo capítulo, a experiência brasileira com a Energia Eólica e a contribuição dessa para o Desenvolvimento Sustentável do país. 82 4 A ENERGIA EÓLICA NO BRASIL 4.1 A Gênese e o Potencial do Setor O interesse por fontes alternativas para a geração de energia elétrica surgiu no Brasil no início da década de 1990 após a Conferência do Rio de Janeiro – ECO 92. Esse evento possibilitou o início de vários projetos-pilotos no Brasil através de parcerias e acordos firmados com Alemanha, Dinamarca e Estados Unidos. Esses projetos experimentais – que contaram com a participação de concessionárias de energia elétrica, governos estaduais, universidades e centros de pesquisas brasileiros – permitiram ao Brasil um grande crescimento no aprendizado e na aplicação dessas tecnologias no contexto nacional. Dessa maneira, no ano de 1992, foi instalado, no Brasil, o primeiro aerogerador da América Latina, localizado no arquipélago de Fernando de Noronha/PE. O projeto foi resultado de uma parceria entre o Centro Brasileiro de Energia Eólica (CBEE) e a Companhia Energética de Pernambuco (CELPE) com financiamento do instituto de pesquisa dinamarquês Folkecenter. Com potência de 75kW, a turbina eólica, instalada na ilha, chegou a fornecer 10% da eletricidade consumida, economizando cerca de 70.000 litros de diesel por ano (SIMAS, 2012). Nos anos seguintes, foram realizados vários encontros pelo país, visando promover o desenvolvimento das energias renováveis, em especial a eólica e a solar. No primeiro encontro, realizado em abril de 1994, em Belo Horizonte/MG, foram criadas as diretrizes para o desenvolvimento dessas fontes energéticas que pretendiam desenvolver tecnologia, estimular a indústria e atrair investimentos de capital nacional e estrangeiro. Já, em 1996, foi realizado o III Encontro para o Desenvolvimento de Energias Renováveis que teve como objetivo apresentar o Plano Nacional de Ação para o Desenvolvimento de Energias Renováveis. Conforme mostrou Dutra (2001), foi prevista a realização de oito grandes projetos nacionais para a fonte eólica com necessidade de recursos da ordem de R$ 150 milhões23. Os projetos desenvolvidos a partir desse Plano Nacional abordaram os seguintes programas: Programa Nacional para Levantamento Eólico – Atlas Eólico do Brasil; geração de eletricidade através de sistemas híbridos eólico/diesel de grande porte em regiões isoladas do Brasil (ilhas e vilas); aplicações produtivas de bombeamento e dessalinização d’água; 23 Em valores de 1996 (DUTRA, 2001). 83 sistemas híbridos eólico/solar destinados à eletrificação rural; desenvolvimento de turbinas eólicas adaptadas às condições de vento do Brasil; desenvolvimento de programas computacionais e instrumentação aplicados ao projeto de sistemas e componentes; implantação de centros e laboratórios para desenvolvimento, testes e normalização de turbinas eólicas e seus componentes; incentivo à educação e à divulgação. Desde o primeiro encontro ocorrido em Belo Horizonte, apontou-se a necessidade de criação de um Centro de Referência de Energia Solar e Eólica que seria responsável pela divulgação do desenvolvimento tecnológico. Em janeiro de 1995, o Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito (CRESESB) iniciou suas atividades nas dependências do Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (CEPEL). O CRESESB tem recebido apoio de recursos humanos e laboratoriais do CEPEL e aportes financeiros do Ministério de Minas e Energia (MME). O CRESESB tem publicado diversos livros, informes e periódicos, visando disseminar as fontes de Energia Eólica e solar no Brasil e ampliar os conhecimentos tecnológicos do setor. Entre esses trabalhos, destaca-se o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro publicado em 2001. Além disso, o Centro frequentemente organiza seminários, cursos básicos e avançados sobre temas relacionados e divulga várias informações na Internet através do seu site24 (DUTRA, 2001). Para a implantação de projetos de Energia Eólica no país e, especialmente de fábricas locais de aerogeradores, é necessário um grande esforço em pesquisa e desenvolvimento de máquinas e componentes adaptados às condições brasileiras. Desse modo, a partir de uma parceria entre a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), o Ministério do Meio Ambiente dos Recursos Hídricos e da Amazonas Legal (MMA), a Secretaria de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente do estado de Pernambuco (SECTEC) e o Banco do Nordeste (BNB), foi inaugurado, em Olinda/PE, em março de 1996, o Centro Brasileiro de Energia Eólica (CBEE) (DUTRA, 2001). Dutra (2001) destacou os principais objetivos e as metas estipuladas no plano de trabalho do CBEE: pesquisar e desenvolver turbinas eólicas adaptadas às condições do Brasil; servir de foco para os testes de campo e trabalhos a ser desenvolvidos por universidades e outros órgãos ligados à área de Energia Eólica; fornecer dados e parâmetros para elaboração de normas técnicas e padronizações para turbinas eólicas; testar o desempenho de turbinas eólicas em condições reais de funcionamento; determinar as principais forças atuantes em 24 http://www.cresesb.cepel.br 84 turbinas eólicas em função das condições de vento do Brasil; validar modelos teóricos computacionais através da análise experimental de turbinas eólicas. Um dos projetos de maior destaque do CBEE é a caracterização dos recursos eólicos da região Nordeste através do Atlas Eólico do Nordeste do Brasil (Wind Atlas for the Northeast of Brazil – WANEB). Após a primeira versão desse trabalho, o Centro Brasileiro de Energia Eólica tem se esforçado para elaborar o Atlas Eólico do Brasil, com dados do potencial eólico para todo o território nacional. Para se determinar a viabilidade da utilização da Energia Eólica no Brasil, diversos estudos têm sido realizados nos últimos anos. Em 1988, um convênio entre a Eletrobras e a Fundação Padre Leonel Franca (instituição ligada à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) possibilitou a publicação do primeiro Atlas do Potencial Eólico Nacional. Esse trabalho foi o primeiro esforço para se agrupar o maior número possível de informações sobre o potencial eólico nacional, visando diversas aplicações como a eletrificação rural através de aerogeradores e o bombeamento de água para sistemas de irrigação e salinas (DUTRA, 2001). Em 2001, o CRESESB publicou o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro, estimando em 143.500MW a potência tecnicamente aproveitável do país. Essa potência total seria capaz de produzir uma energia anual de 272,2TWh. Atualmente, as usinas eólicas em operação possuem uma potência total instalada de apenas 1.795MW que indica o quanto o Brasil ainda tem a expandir na geração eólica (ANEEL, 2012; CRESESB, 2001). A Figura 7 apresenta o mapa eólico do Brasil, considerando a velocidade média anual do vento a 50 metros de altura. Conforme dados do Atlas, as principais regiões para o aproveitamento da fonte eólica são o Nordeste, o Sudeste e o Sul, que juntos correspondem a cerca de 90% de todo o potencial eólico nacional. Somente a região Nordeste, participa com 53% do potencial eólico estimado com destaque para os estados de Ceará e Rio Grande do Norte que possuem o maior potencial. 85 Figura 7 – Mapa eólico brasileiro Fonte: CRESESB (2001, p.27). Entretanto, conforme mostrou o CRESESB (2010), o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro apresenta uma série de incertezas para algumas regiões do Brasil devido às limitações técnicas dos modelos disponíveis na época em que foi lançado. Além disso, a estimativa do potencial eólico foi feita considerando a tecnologia comercial da época que envolvia medições da velocidade do vento a alturas de 50m. O mercado de aerogeradores, por sua vez, evoluiu bastante nos últimos anos e aumentou significativamente a capacidade das turbinas eólicas. Enquanto que, em 2001, o diâmetro dos rotores era de aproximadamente 50m – com capacidade de 1,3MW de potência – em 2010, os rotores chegaram a 126m de diâmetro, com capacidade de 7,5MW de potência. Cabe ressaltar que a velocidade do vento aumenta com a altura de medição e, conforme visto anteriormente, o potencial de geração do aerogerador é função do cubo da velocidade (EWEA, 2009b; IRENA, 2012). Dessa maneira, é necessária a atualização do Atlas de forma a aumentar a resolução do mapeamento e contemplar alturas superiores a 100m, considerando os modernos 86 aerogeradores com potência acima de 8 MW. Igualmente, é necessário incluir o potencial eólico offshore do Brasil que se constitui numa possibilidade futura de expansão do setor no país. Nesse sentido, além de possuir mais de 7 mil quilômetros de litoral, o Brasil domina a avançada tecnologia de prospecção, exploração e produção offshore de petróleo e gás natural. Diante do exposto, foi celebrado um convênio entre o CEPEL e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) para o desenvolvimento de um Atlas Dinâmico do Potencial Eólico Brasileiro. A partir de uma plataforma de alto desempenho, o novo projeto será capaz de monitorar e atualizar os ventos em tempo real com uma antecedência de até 72 horas. Os dados estarão disponíveis para a sociedade através da internet (CRESESB, 2010). No entanto, a prometida atualização do Atlas Eólico Brasileiro está atrasada e sem previsão de publicação do material. Apesar de o documento já possuir verba liberada desde 2009, houve atrasos na execução do projeto devido à dificuldade na obtenção dos dados. Para o diretor geral do CEPEL, Albert Melo, o sucesso do setor eólico no Brasil causou o atraso na publicação do documento. Segundo Melo, com o sucesso da fonte, as empresas não querem mais fornecer seus dados “nem para balizar nossos estudos” (JORNAL DA ENERGIA, 2011; idem, 2012a). A alternativa encontrada pelo CEPEL foi a realização de acordos institucionais. Um convênio entre o Centro e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) foi celebrado no primeiro semestre do corrente ano (2012) com uma expectativa de publicação da atualização do referido Atlas até 2014. Cabe ainda destacar uma característica importante da geração eólica no Brasil, especialmente no Nordeste. Nessa região, a fonte eólica apresenta-se como complementar a hidroeletricidade, sendo o período com maior regime de vento coincidente com o período de menor precipitação de chuvas. Essa sazonalidade inversa da Energia Eólica representa um aumento virtual da capacidade de armazenamento das hidrelétricas. No Gráfico 13, é apresentada a capacidade de armazenamento da Bacia do Rio São Francisco e a produção eólica do PROINFA (ABEEÓLICA, 2012a). 87 Gráfico 13 – “Sazonalidade inversa” da Energia Eólica no Nordeste Fonte: ABEEólica (2012a). Portanto, a geração de Energia Eólica é totalmente compatível e complementar à matriz elétrica nacional onde predomina a hidroeletricidade. Como a produção máxima de Energia Eólica ocorre nos períodos de menor capacidade das hidroelétricas, não é necessária, pelo menos no curto prazo, a expansão da rede de distribuição de energia elétrica brasileira, reduzindo, assim, os custos de instalação da nova tecnologia. No entanto, sobre esse aspecto, deve ser feita uma ressalva. Como a maior parte da produção de Energia Eólica está localizada na região Nordeste, uma região que historicamente sempre importou energia elétrica, são necessários investimentos para expandir a rede de transmissão num horizonte de médio/longo prazo. Dessa maneira, incertezas quanto às limitações técnicas futuras a expansão do setor eólico poderão ser reduzidas, possibilitando que novos investimentos sejam atraídos para a região. Outro ponto que merece ser destacado é o uso da Energia Eólica em detrimento das usinas termelétricas. Atualmente, a matriz elétrica nacional depende fortemente do regime de chuvas. Nos períodos de baixa dos reservatórios hídricos, as termelétricas movidas a combustíveis fósseis são acionadas de maneira a garantir a oferta de energia no período. Como a produção eólica é mais intensa justamente nesses meses, sua utilização evita a emissão de GEE e o alto custo de operação das termelétricas. Ainda sobre o potencial eólico do Nordeste, a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) mostrou que essa região apresenta características físicas relevantes que garantiram uma trajetória de sucesso da Energia Eólica no Brasil. A conjunção de parâmetros 88 básicos de vento – pouca rajada e baixa turbulência – permitem o uso de rotores maiores, que ampliam a área de alcance e produzem maiores fatores de capacidade25. Desse modo, a geração eólica brasileira se destaca no cenário internacional por possuir um fator de capacidade superior à média de outros países (ABEEÓLICA, 2012b). No Gráfico 14, é apresentada uma comparação do fator de capacidade médio da Energia Eólica no Brasil com o de alguns países da Europa. Gráfico 14 – Fator de Capacidade Médio da Geração Eólica para países selecionados em 200926 (%) Fonte: Adaptado de ABEEólica (2012b). 4.2 A capacidade instalada de Energia Eólica em Operação A Energia Eólica se desenvolveu bastante nos últimos anos no Brasil. Se, em 2005, o país possuía uma capacidade instalada em operação de apenas 29MW, em 2011, esse valor ultrapassou a marca de 1.500MW. As razões para esse rápido crescimento do setor serão abordadas na próxima sessão deste trabalho quando serão discutidos os programas de incentivo às fontes de energia renovável, em especial a eólica. Como pode ser visto no Gráfico 15, somente em 2011, o Brasil adicionou 583MW à sua capacidade instalada, que representou um aumento de aproximadamente 63% em relação ao ano anterior. Com essa expressiva marca alcançada, o Brasil lidera com folga a produção 25 O fator de capacidade de uma usina de geração de energia elétrica é a razão entre a produção efetiva da usina em um período de tempo pela capacidade total máxima neste mesmo período. 26 Valores estimados para o Brasil e absolutos para os demais países (ABEEólica, 2012b). 89 de Energia Eólica na América Latina27. Em segundo lugar, ficou Honduras, país ingressante nesse segmento, que iniciou sua produção, em 2011, com 102MW de capacidade instalada (GWEC, 2012a). A GWEC (2012a) destacou a expansão do mercado eólico na Argentina de aproximadamente 79MW em 2011. Esse crescimento representou um aumento de mais de 100% da capacidade instalada total naquele país. Entretanto, apesar de possuir excelentes recursos eólicos, o país ainda é um risco para os investidores internacionais que procuram mercados com estabilidade e regras claras e definidas como acontece no Brasil. Gráfico 15 – Evolução da capacidade instalada de Energia Eólica no Brasil (2005-2012) 1600 700 1400 600 1200 500 1000 400 800 300 600 400 200 200 100 0 0 Até 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Capacidade Acumulada (MW) 29 237 247 341 606 927 1509 Capacidade Adicionada (MW) 29 208 10 94 265 321 583 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados de GWEC (2012a). Ao considerar a capacidade total acumulada, o Brasil ainda ocupa a primeira posição na América Latina com uma capacidade instalada quase três vezes superior à do México, segundo colocado na região. Desse modo, o Brasil se confirma como grande líder no mercado eólico latino-americano e assim deve continuar durante os próximos anos. Espera-se que, até 2016, a capacidade instalada da região chegue a quase 11.000MW, sendo o Brasil o maior responsável por novas instalações que deverão contribuir com cerca de três quartos da capacidade instalada adicional (GWEC, 2012a). Sobre o mercado global de Energia Eólica, o Brasil alcançou a décima primeira posição em capacidade adicionada em 2011, representando aproximadamente 1,44% do total mundial. Em relação ao total acumulado, o Brasil encontra-se na vigésima posição com uma 27 A GWEC considera o México como parte integrante da América do Norte, porém, neste trabalho, as análises foram feitas considerando aquele país como membro da América Latina (observação do autor). 90 participação de apenas 0,63% sobre a capacidade mundial. A expectativa é que, até 2016, o Brasil amplie sua participação no mercado mundial, chegando a quase 2% da capacidade eólica instalada no mundo (GWEC, 2012a). 4.3 Programas de Incentivo à Produção e os Leilões de Energia Eólica no Brasil Diante da necessidade de promoção a inovações e de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), muitos países adotaram políticas públicas de incentivo à produção de Energia Eólica. No Brasil, o primeiro programa de larga escala para incentivo ao desenvolvimento da Energia Eólica foi o PROEÓLICA criado em 2001. O referido Programa tinha como objetivo alcançar a produção de 1.050MW de energia a partir da geração eólica com o prazo máximo para a entrada em operação em dezembro de 2003. O Programa determinava a garantia de compra pela Eletrobras de toda energia elétrica gerada por um período de quinzes anos. Segundo Dutra (2007), o PROEÓLICA não atingiu os objetivos propostos em razão da falta de regulamentação de curto prazo para sua aplicação e do consequente desinteresse dos investidores. Após o insucesso do PROELÓLICA, foi criado o PROINFA em abril de 2002. O objetivo desse Programa era a diversificação da Matriz Energética Brasileira através da promoção às fontes alternativas de geração de energia elétrica, permitindo a valorização das características e das potencialidades regionais e locais. O Programa, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), foi estipulado para ser implementado em duas fases. A primeira fase do Programa garantia uma contratação de 3.300MW em projetos de biomassa, fontes eólicas e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH’s), sendo 1.100MW de cada fonte. Até a implantação do PROINFA, a Energia Eólica possuía uma potência instalada de 28MW, portanto, nesta primeira fase do programa, a fonte eólica ganhou grande impulso com a previsão de contratação de 1422MW. Em sua segunda fase, atingida a meta de 3.300MW, o PROINFA previu que as fontes eólicas, as PCH’s e a biomassa atenderiam a 10% da demanda anual de energia elétrica no Brasil num prazo máximo de vinte anos. Ao considerar que a data inicialmente prevista, para início de operação dos projetos, foi dezembro de 2006, esta meta seria alcançada até o final de 2026 (DUTRA, 2007). Para essa fase, o Programa incluiu um novo agente no setor: o Produtor Independente Autônomo – PIA. Este novo agente é caracterizado como: 91 [...] aquele cuja sociedade não é controlada ou coligada de concessionária de geração, transmissão ou distribuição de energia elétrica, nem de seus controladores ou de outra sociedade controlada ou coligada com o controlador comum (DUTRA, 2007, p.184-185). A participação dos demais agentes não enquadrados, na classificação PIA, era restringida a 25% dos projetos de PCH e Biomassa e a 50% dos projetos eólicos. Nos contratos celebrados pela Eletrobras, o preço pago pela energia teria como base o custo médio ponderado de geração de novos aproveitamentos hidráulicos com potência superior a 30.000kW e centrais termelétricas a gás natural. A diferença entre o valor econômico correspondente ao custo de geração das fontes eólica, PCH e biomassa, e o preço da energia convencional calculada pelo Poder Executivo, seria paga ao produtor independente como forma de subsídio com recursos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Para o sucesso do PROINFA, o governo pretendia reduzir os custos de geração das fontes alternativas de energia através da implementação completa da primeira fase do Programa. Contudo, isso efetivamente não ocorreu devido às prorrogações ocorridas para o início do funcionamento dos empreendimentos contratados. O Programa também objetivava o desenvolvimento do parque industrial no Brasil e, para isso, estabeleceu índices de nacionalização dos equipamentos que seriam utilizados nos projetos. Durante a primeira fase, o índice de nacionalização era de, no mínimo, 60% em valor. Na segunda fase do Programa, esse índice cresceu para 90%, pois havia a previsão de um grande volume de projetos em longo prazo nas três tecnologias participantes (MME, 2012). Segundo dados da ANEEL (2012), até setembro de 2012, o Brasil possuía 82 parques eólicos em operação que correspondiam a uma capacidade instalada de 1.747MW. A maioria desses parques em operação foi inserida na matriz elétrica nacional através do PROINFA. No entanto, dados da ABEEólica (2011) mostraram que, até agosto de 2011, cerca de 20% dos 54 parques eólicos contratados ainda estavam em construção. Quando começarem a produzir, esses novos parques aumentarão a capacidade eólica instalada em 422MW. Esse atraso no cronograma de construção dos parques eólicos é atribuído a algumas dificuldades enfrentadas pelos novos produtores. Entre essas dificuldades, destacam-se os altos custos e a burocracia para a obtenção ou a renovação das licenças ambientais dos projetos; a demora na obtenção de Declaração de Utilidade Pública dos projetos; os obstáculos na interligação à rede em particular na região Centro-Oeste; a capacidade insuficiente da indústria nacional para atender a demanda de aerogeradores (GWEC, 2011). 92 Após muitos atrasos, os últimos empreendimentos, contratados pelo PROINFA, entraram em operação no final de 2011. Ao total, foram implantados 41 projetos de Energia Eólica, que juntos adicionaram quase 1.200MW à capacidade instalada brasileira. Desse modo, o PROINFA se tornou o maior programa do mundo de incentivo às fontes alternativas de energia elétrica, tornando-se um importante instrumento de fomento à expansão da Energia Eólica no país (ELETROBRAS, 2011; MME, 2012). Do ponto de vista econômico, a Energia Eólica caracteriza-se pelo elevado investimento inicial e pelo baixo custo operacional. Desse modo, a inciativa privada só apostará no setor quando houver um equilíbrio entre a expectativa de retorno financeiro e a percepção dos riscos. Enquanto que a garantia de tempo para a recuperação do capital e o acesso a financiamentos influenciam as expectativas de retorno, a modalidade de contratação da Energia Eólica influencia decisivamente a percepção dos riscos. Para reduzir esses riscos, pode ser adotada uma forma de contratação que considere a produção média de energia ao longo dos anos. Uma dessas formas é o mecanismo de leilão de energia, que tende a estabelecer um valor adequado ao equilíbrio do preço com a percepção do risco. Desse modo, através da lei federal nº 10.848/2004, foi definido que a contratação de energia elétrica para cobertura do consumo no ambiente regulado28 e a formação de lastro de reserva deverão ser realizadas por meio de leilões específicos. Ainda segundo a referida lei, a contratação de energia poderia ser feita pela modalidade quantidade ou disponibilidade. No primeiro caso, o vendedor do contrato se compromete a fornecer uma determinada quantidade de energia elétrica e assume os riscos e os custos variáveis de produção. Na última modalidade, a unidade geradora se compromete a disponibilizar uma determinada capacidade com uma receita garantida pela distribuidora que assume os custos variáveis daquelas usinas. O decreto nº 5.163/2004 regulamentou a lei nº 10.848/2004 e qualificou os tipos de leilões de energia elétrica. Esses leilões ocorrem com periodicidade anual e dividem-se em leilões de energia existente e leilões de energia nova. Os leilões de energia existente são classificados como tipo A-1, possuem vigência entre 5 e 15 anos e objetivam a venda de energia de empreendimentos cujo investimento inicial já tenha sido plenamente amortizado. Os leilões de energia nova, por sua vez, são organizados sob a formatação do tipo A-3 e A-5, 28 No Ambiente de Contratação Regulada, os agentes de distribuição adquirem a energia elétrica para atender seu mercado (consumidores cativos). No Ambiente de Contratação Livre, por sua vez, os agentes geradores, produtores independente de energia, auto-produtores, comercializadores e importadores de energia negociam livremente a contratação de energia elétrica por meio de contratos bilaterais com consumidores livres e especiais. 93 possuem vigência entre 10 e 30 (de acordo com a fonte) e objetivam permitir a contratação antecipada de energia pelos distribuidores para atendimento pleno de sua demanda estimada de três a cinco anos à frente (C. S. SILVA, 2011). Apesar de os ambientes de comercialização de energia elétrica terem sido estabelecidos em 2004, somente em 2009 foi realizado o primeiro leilão exclusivo de Energia Eólica – 2º Leilão de Energia Reserva (LER 2009). Nesse leilão, foram contratados 71 empreendimentos na modalidade quantidade de energia, que corresponderam a 1.805,7MW de potência instalada. Os contratos de compra e venda de energia terão duração de 20 anos com início de suprimento a partir de 1º de julho de 2012 (BRASIL, 2009). Em 2010, o Leilão de Fontes Alternativas (LFA 2010) e o Leilão de Energia Reserva (LER 2010) contrataram 70 projetos de Energia Eólica com uma potência total instalada de 2.047,8MW. Em volume de energia, essa capacidade correspondeu a 899MW médios. No ano seguinte, a expansão de Energia Eólica continuou através de três novos leilões: A-3 2011, LER 2011 e A-5 2011. Os dois primeiros contrataram 1.928,8MW de potência instalada em 78 projetos de parques eólicos enquanto que o último resultou na contratação de 39 projetos de geração eólica com capacidade instalada total de 976,5MW (BRASIL, 2011c; idem, 2011d; idem, 2011e). No Gráfico 16, é apresentada a expectativa quanto ao crescimento da Energia Eólica baseada nos leilões já realizados no país. Gráfico 16 – Perspectiva de Crescimento da Energia Eólica no Brasil Fonte: Simas (2012). 94 Os leilões de Energia Eólica de 2009, 2010 e 2011 contrataram 258 novos parques eólicos que juntos totalizaram mais de 6.700MW de capacidade instalada. A nova capacidade adicionada àquela já em operação elevarão a capacidade instalada em Energia Eólica total do país para cerca de 8.000MW até o fim de 2016. A estimativa da EPE é que, até o final de 2020, a capacidade eólica instalada chegue a 11.532 MW, representando cerca de 7% da oferta total de eletricidade no país (BRASIL, 2011f). Cabe destacar também as novas oportunidades que estão surgindo para a Energia Eólica no Ambiente de Contratação Livre (ACL), segmento de mercado até então desconhecidos desse setor. Como mostrou GWEC (2012a), o aumento da competitividade e a redução dos preços por MWh (que serão vistos nas próximas sessões) motivaram um grupo de investidores privados a construir 18 novos parques eólicos, com capacidade total de 546MW, para operação exclusiva no ACL. Desde 2011, já se encontra em operação no Rio Grande do Norte, um parque eólico com capacidade instalada de 14,4MW operando no segmento do ACL. No entanto, os riscos associados no âmbito do ACL ainda são muito altos dada a sazonalidade e a intermitência da geração eólica. Para mitigar esses riscos, é necessário que se definam regras para a verificação de garantia física das usinas eólicas. Para tanto, a expansão da geração eólica no ACL constitui-se num dos maiores desafios do setor no horizonte de curto/médio prazo (ABEEÓLICA, 2012a). 4.4 Desenvolvimento do Setor Eólico no Brasil: Diversificação das Fontes Energéticas De acordo com o exposto anteriormente, a geração de Energia Eólica no Brasil cresceu consideravelmente nos últimos anos, especialmente após a implantação do PROINFA. Se antes deste Programa o país possuía uma produção pouco expressiva, hoje, a Energia Eólica já é uma realidade na matriz elétrica nacional. O novo marco regulatório da Energia Eólica, composto por leilões regulares e contratos de longo prazo, possibilitou o aumento da dinâmica do mercado com a atração de novas indústrias para o setor. Diante desse cenário, alguns estados saíram na frente e já despontaram como os grandes produtores de Energia Eólica no país, entre esses estados destacam-se Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina que concentram cerca de 94% da capacidade instalada já em operação no país. A região Nordeste, além de estar bem à frente na produção de Energia Eólica, é a mais promissora quando se consideram os parques já contratados e que ainda não iniciaram sua construção. Espera-se que, até 2016, quando 95 entrarem em operação os empreendimentos contratados nos leilões de 2011, a região Nordeste possua uma capacidade instalada de aproximadamente 7.007MW que representará cerca de 80% da capacidade instalada de Energia Eólica do país. Verifica-se a partir da Figura 8 como a capacidade instalada de Energia Eólica se distribui pelos estados brasileiros (ABEEÓLICA, 2012c). Figura 8 – Distribuição estadual da capacidade eólica instalada no Brasil (2012)29 Fonte: ABEEólica (2012c). Em relação ao número de parques eólicos, o Ceará atualmente lidera com 18 parques em operação. No entanto, logo essa situação se reverterá quando os novos parques em construção no Rio Grande do Norte iniciarem sua produção. Nos leilões de Energia Eólica já ocorridos, esse estado vem se destacando e sempre lidera no número de projetos contratados. Enquanto que no leilão de 2009, o Rio Grande do Norte respondeu por cerca de 36% da capacidade instalada contratada, em 2010, esse percentual chegou a 52%. Nos leilões realizados em 2011, a participação desse estado reduziu para 27%, mesmo assim, o estado manteve-se na liderança da capacidade instalada contratada (CHAVES-SCHWINTECK & NEDDERMANN, 2012). O Gráfico 17 apresenta como estão distribuídos os parques eólicos no Brasil. 29 Atualizado até 31 de agosto de 2012. 96 Gráfico 17 – Distribuição estadual dos parques eólicos no Brasil (2012)30 120 100 80 60 40 20 0 RN CE Contratado 60 54 RS 41 BA MA SC 34 15 1 PB 0 PE 3 PI 4 RJ 1 PR 0 SE 0 Construção 41 11 5 19 0 0 0 0 0 0 0 0 Operação 18 12 3 0 13 13 5 1 1 2 1 13 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados de ANEEL (2012). O novo formato de contratação da Energia Eólica, através dos leilões de energia, dinamizou o mercado brasileiro. Esses leilões estimularam a concorrência entre os produtores aqui instalados e atraíram novas empresas internacionais. O resultado obtido foi um mercado diversificado com forte presença do capital internacional. Dados de ABEEólica (apud GWEC, 2012b) confirmaram que, após os leilões de 2009 e 2010, o número de empreendedores de parques eólicos se diversificou bastante. A empresa brasileira Renova lidera o mercado com 11% dos projetos contratados nesses leilões. Em seguida, estão as empresas Energimp (brasileira31) e Iberdrola (espanhola) com 7% dos projetos cada uma. O Gráfico 18 mostra a distribuição das empresas vencedoras dos referidos leilões e suas respectivas participações de mercado. Em relação aos parques eólicos em operação, as 82 usinas atuais distribuem-se entre cerca de cinquenta empresas. A empresa com maior capacidade instalada é a Bons Ventos Geradora de Energia (brasileira) que possui quatro parques eólicos em operação no Ceará e representa quase 9% da capacidade instalada nacional. Em segundo lugar, encontra-se a empresa Ventos do Sul Energia, pertencente ao grupo espanhol Enerfín, com três parques em operação no Rio Grande do Sul e que representam 8,6% da capacidade instalada total (ANEEL, 2012). 30 31 Atualizado até 10 de outubro de 2012. Apesar de ser uma empresa nacional, a Energimp é controlada pelo grupo argentino Impsa. 97 Gráfico 18 – Participação de mercado das empresas produtoras de Energia Eólica (2012) Fonte: GWEC (2012a). Diante do exposto, observa-se que o mercado de geração eólica mostra-se cada vez mais concorrido com empresas de diferentes nacionalidades, disputando espaço no mercado brasileiro. Além disso, cabe destacar que nenhuma empresa lidera isoladamente esse setor altamente competitivo e que seus respectivos market share32 são disputados acirradamente a cada leilão de energia. O crescimento expressivo da Energia Eólica, verificado nos últimos anos no Brasil, tem despertado o interesse de muitas indústrias que compõem a cadeia de fornecimento desse setor seja para a fabricação de aerogeradores, torres ou pás de rotores (hélices). A perspectiva do crescimento contínuo do setor eólico no país atrai novas empresas que buscam expandir seus mercados e fugir da crise internacional recente. Nos primeiros anos do PROINFA, existiam no país somente quatro fabricantes de aerogeradores: a alemã Wobben e a argentina Impsa, os primeiros a se instalar em território brasileiro, além da indiana Suzlon e da dinamarquesa Vestas. Essas indústrias foram responsáveis por atender toda capacidade instalada em operação, bem como os novos parques eólicos em construção durante o período. Contudo, com a demanda crescente surgida após os leilões de Energia Eólica, diversas indústrias se instalaram no Brasil ou projetaram a construção de novas plantas. Atualmente, o país possui oito fábricas em operação, duas em construção e duas em fase de planejamento. Inclusive, o maior produtor de aerogeradores da China e quarto maior do mundo, o fabricante Sinovel já opera comercialmente no Brasil desde o ano passado (ABEEÓLICA, 2011; idem, 2012c). 32 O termo market share (“quota de mercado” – tradução literal do inglês) refere-se à fatia de mercado que uma organização detém. Sua medida quantifica, em percentual, a quantidade do mercado dominado por essa empresa. 98 A capacidade de produção dos primeiros fabricantes de aerogeradores aqui instalados era de 1.100MW/ano. No entanto, com a entrada em operação das novas indústrias em construção, a expectativa é que essa capacidade chegue a 2.000MW/ano. Além disso, com a consolidação dos planos de investimentos em Energia Eólica, a expectativa é que a Embraer ou um estaleiro nacional surjam no mercado como um grande fabricante nacional de aerogeradores (GWEC, 2011). Atualmente, não se fabricam, no Brasil, apenas as turbinas eólicas. A fabricação de pás de rotores também é destaque com uma capacidade total de fabricação de 2.100MW/ano. O país possui quatro indústrias em operação, instaladas em São Paulo e no Ceará, e mais duas previstas para construção na Bahia e em Pernambuco. Nesse segmento, cabe ainda destacar a participação da empresa brasileira Tecsis, segunda maior fabricante independente de hélices do mundo que, em 2006, atendeu mais de 10% do mercado mundial (GWEC, 2011; idem, 2012b). Em relação à fabricação de torres, o país possui atualmente sete indústrias capazes de produzir acima de 810 torres por ano, o equivalente a uma capacidade de fabricação de 1.600MW/ano. Além das indústrias já instaladas, há uma nova fábrica em construção na Bahia e outra em fase de planejamento na cidade de Santa Isabel/SP (ABEEÓLICA, 2012c; GWEC, 2012b). A partir da Figura 9, é possível observar como está distribuída a indústria eólica no Brasil. Nota-se uma forte presença do capital internacional, sobretudo, nos segmentos de maior densidade tecnológica, como a fabricação de aerogeradores. Nesse sentido, a participação da indústria nacional ainda é bastante limitada e restringe-se, com algumas exceções, à fabricação de torres e fundições, segmentos com menor densidade tecnológica. No entanto, cabe ressaltar que a indústria eólica nacional vem se desenvolvendo e incorporando tecnologia através de parcerias com o capital internacional; como exemplo, pode ser citado o caso da indústria brasileira Aeris Energy que possui uma fábrica de pás eólicas em operação no estado do Ceará. A instalação dessa fábrica foi viabilizada a partir de um acordo comercial com a empresa indiana Suzlon, que é um dos maiores fornecedores de aerogeradores no Brasil. Após essa experiência bem-sucedida, a Aeris Energy já planeja a construção de outra fábrica, localizada no estado da Bahia e independente de outras parcerias comerciais. 99 Figura 9 – Distribuição Estadual da Indústria Eólica no Brasil (2012)33 Fonte: Adaptado de ABEEólica (2012c). Sobre a distribuição da indústria eólica entre os estados brasileiros, é importante destacar alguns aspectos. Em primeiro lugar, nota-se que o maior número de fabricantes está localizado no estado de São Paulo que não possui nenhuma produção de Energia Eólica. Nesse sentido, verifica-se como a indústria nacional ainda está fortemente concentrada nesse estado inclusive no segmento eólico que possui componentes de grandes dimensões e que envolvem altos custos de transporte. Outro aspecto refere-se à importância de políticas estaduais no desenvolvimento da indústria eólica no país. O estado do Ceará, por exemplo, fez investimentos em infraestrutura, como a ampliação de portos e rodovias e adotou uma política de atração de investimentos privados que possibilitaram o desenvolvimento nesse estado do que se pode considerar um polo industrial eólico. Esse é único estado brasileiro produtor de Energia Eólica que fabrica praticamente todos os componentes necessários à implantação de um parque eólico. Em relação à localização de novas indústrias, o estado da Bahia tem se destacado graças às políticas de incentivo desenvolvidas por esse estado. Apesar de possuir somente três 33 Incluem somente os fabricantes associados à ABEEólica (ABEEólica, 2012c). 100 parques eólicos em operação, o estado possui grandes perspectivas de crescimento na geração de Energia Eólica, pois possui mais de cinquenta projetos contratados através dos últimos leilões de energia. Além disso, cabe ressaltar que o estado possui uma estrutura industrial já bastante desenvolvida. Na contramão do setor, encontra-se o Rio Grande do Norte que adotou uma postura diferente daqueles estados citados. Apesar de o estado possuir o maior potencial eólico do Brasil e contar com o maior número de projetos contratados nos leilões, há somente uma indústria em operação, localizada na cidade de Parazinho que é responsável pela fabricação de torres eólicas. Não há perspectivas quanto à instalação de novas indústrias no estado. Como mostrou S. C. A. da Silva (2011), os principais entraves para o desenvolvimento da indústria eólica no Rio Grande do Norte estão relacionados com a deficiência em infraestrutura e logística, além da falta de incentivos fiscais. Desse modo, para que o estado possa atrair novas indústrias, é necessária a adoção de políticas públicas estaduais que eliminem esses problemas, de maneira a reduzir as incertezas futuras para os novos investimentos e adicionar vantagens comparativas diante dos outros estados. Sobre o desenvolvimento recente do setor eólico brasileiro, cabe destacar também a participação da indústria nacional na cadeia produtiva do setor. Foi o desenvolvimento da indústria nacional um dos responsáveis pelas alterações experimentadas pela indústria eólica no Brasil, especialmente a fabricação de aerogeradores. Como mostraram Hamilton & PettersStanley (2012), o desenvolvimento desse setor proporcionou a expansão de uma cadeia local de produtores de peças e componentes utilizados na fabricação desses aerogeradores. Por fim, outro aspecto que deve ser mencionado sobre a expansão do setor eólico brasileiro é o aumento da participação direta de fabricantes de aerogeradores em Sociedades de Propósito Específico (SPE34) de novos parques eólicos. Essa participação possibilita o aumento da capacidade de financiamento dos projetos com capital próprio, reduzindo, assim, a dependência de fontes externas de financiamento. As experiências de outros países mostraram que a redução da dependência de capital externo é uma das condições necessárias para reduzir gradativamente os custos de implementação dos empreendimentos e, consequentemente, os custos finais de energia (HAMILTON & PETTERS-STANLEY, 2012). 34 A SPE surgiu juntamente com a Lei de Parceria Público Privada (lei nº 11.079/2004) e constitui-se num instrumento utilizado pelo Estado para orientar a alocação de recursos particulares na consecução de interesses públicos (FÉRES, 2005). 101 4.5 O Custo da Energia Eólica no Brasil Conforme mostrou a ABEEólica (2012b), o custo da Energia Eólica no Brasil foi reduzido consideravelmente nos últimos anos. Se, em 2004, durante a implantação do PROINFA, o preço da Energia Eólica ainda não era competitivo, essa situação se inverteu após o LER 2009. Esse Leilão marcou profundamente o setor eólico no país, pois, após as suas contratações, o setor conseguiu ampliar sua escala e os preços tornaram-se competitivos. Os novos parques eólicos contratados, após o referido Leilão, ampliaram significativamente seus fatores de capacidade. Enquanto que nos empreendimentos contratados pelo PROINFA, o fator de capacidade médio era de 32%, nos projetos aprovados no LER 2009, chegaram a 43%. Nesse sentido, verificou-se ainda um crescimento expressivo do fator de capacidade médio nos leilões subsequentes, chegando a um pico de 51% no LER 2010. No último leilão de energia realizado (A-5 2011), o fator de capacidade médio foi de 49% (ABEEÓLICA, 2012a). Em relação aos preços dos contratos estabelecidos, os resultados dos leilões demonstraram uma rápida curva de aprendizagem no setor eólico. Quando comparados o preço médio dos contratos do PROINFA com os resultantes do leilão A-5 2011, esses tiveram uma redução de aproximadamente 66% em relação àqueles. No Gráfico 19, é feito um comparativo entre os preços da Energia Eólica no PROINFA e nos leilões bem como os fatores de capacidade obtidos. Gráfico 19 – Histórico de Preços da Energia Eólica no Brasil: PROINFA x Leilões 350 60% 308,5 300 250 200 150 51% 43% 32% 167,4 45% 43% 147,2 49% 50% 50% 40% 30% 134,2 101,3 101,3 105,5 100 20% 10% 50 0 0% PROINFA LER 2009 LER 2010 LFA 2010 LER 2011 A-3 2011 A-5 2011 Preço médio (R$/MWh) Fator capacidade médio Fonte: Elaboração própria a partir dos dados de ABEEólica (2012a). 102 Ao considerar os dados de geração de Energia Eólica em diversos países, o Brasil se destaca por possuir um dos menores preços por MWh no mundo. Na América Latina, o preço da Energia Eólica brasileira está abaixo de diversos países como Argentina, Uruguai e Peru. Quando se compara o LCOE da Energia Eólica no Brasil com o de outros países tradicionais nesse segmento, mais uma vez o Brasil se mostra competitivo, tendo um custo inferior ao desses países atualmente (ABEEÓLICA, 2012b; GWEC, 2011). No Gráfico 20, foi realizada uma comparação do LCOE da Energia Eólica para diversos países. Gráfico 20 – Custo da Energia Eólica – LCOE (R$/MWh)35 Fonte: Adaptado de ABEEólica (2012b). São diversas as razões que explicam o desenvolvimento do setor eólico no país e sua consequente redução nos preços praticados. Em primeiro lugar, destaca-se o desenvolvimento tecnológico do setor que permitiu ampliar a escala de produção através de torres e aerogeradores maiores, com consequente redução dos custos de produção. As condições favoráveis de vento no Brasil também merecem destaque. Conforme mostrou ABEEólica (2012a), as características de vento no país são muito superiores às encontradas na Europa e nos Estados Unidos e isso permitiu que se obtivessem por aqui fatores de capacidade mais elevados. Outro fator que favoreceu a expansão do setor eólico no país foi o modelo de contratação adotado pelo Brasil. Os leilões de energia realizados bianualmente com contratos de vinte anos e correções através do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA36), 35 36 Considerem-se as seguintes taxas de câmbio: 2,3 BRL / EUR, e 1,8 BRL / USD (ABEEólica, 2012b) O IPCA, calculado pelo IBGE, é o índice oficial do Governo Federal para medição das metas inflacionárias (elaboração do autor). 103 geraram confiança nos agentes do setor, possibilitando a redução dos riscos dos investidores privados. Além disso, o modelo de leilão adotado estimula a competição entre as empresas do setor, através da comparação direta dos seus custos de produção, e incentiva o barateamento do processo produtivo. Não obstante, com a Europa e os Estado Unidos em crise, China, Índia e Brasil são praticamente os únicos países investindo em Energia Eólica atualmente. Como China e Índia possuem sua própria indústria e o Brasil importa cerca de 40% dos bens de capital do setor, o setor eólico brasileiro tornou-se o único lócus de investimento no segmento, atraindo atenções internacionais e grande disposição de investimentos estrangeiros (ABEEÓLICA, 2012a). Diante desse cenário, é esperado que as condições de competitividade do mercado brasileiro estimulem a formação de consórcios para concorrer aos leilões. Dessa maneira, será possível o desenvolvimento de grandes operadores energéticos no país com menores custos financeiros, melhor acesso a financiamentos, com ganhos significativos em economias de escala e preços finais mais baixos (GWEC, 2012b). Por fim, deve-se ressaltar ainda o efeito redutor da Energia Eólica sobre os preços de mercado da eletricidade. A entrada da nova capacidade eólica instalada desloca a curva de oferta de mercado e tende a reduzir os preços da eletricidade. Esse efeito foi estudado pelos pesquisadores Gonzalo Sáenz de Miera, Pablo del Río e Ignacio Vizcaíno para o caso da Espanha. Esses autores estimaram, em 2007, uma redução de preços no mercado de geração de eletricidade na ordem de 1.300 milhões de Euros (M€), valor muito superior aos incentivos diretos recebidos pelo setor que foram de 400 M€ (GWEC, 2011). No Brasil, a Consultoria Excelência Energética (2011) elaborou um estudo visando verificar esse efeito redutor da Energia Eólica sobre os preços da eletricidade. Nesse estudo, a quantificação desse efeito é realizada comparando os níveis de preços que poderiam ser gerados no mercado caso a nova geração eólica não estivesse em operação. Através de análise das séries geradas pelo software Newave37, esses autores concluíram que o Custo Marginal de Operação (CMO) é reduzido substancialmente quando se considera a operação dos novos parques eólicos, como pode ser observado no Gráfico 21. A partir da referida figura, observa-se uma redução significativa do CMO ao longo dos anos, especialmente, a partir de 2012, quando se inicia a operação comercial das usinas eólicas contratadas nos leilões de 2010. Como mostrou Excelência Energética (2011), o que permite reduzir o custo de operação ao longo do horizonte de planejamento é a utilização de 37 O software Newave, desenvolvido pelo CEPEL, é um dos programas adotados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para planejamento de operações no Sistema Interligado Nacional (SIN). 104 mais usinas com Custo Variável Unitário (CVU38) nulo. Ao se optar por usinas eólicas ao invés de termelétricas (as mais caras do sistema), o custo marginal de operação é reduzido inclusive nas séries geradas pelo Newave. Gráfico 21 – Custo Marginal de Operação médio dos Principais Subsistemas para o Brasil Fonte: Excelência Energética (2011). Os resultados desse estudo mostraram como a sociedade pode se beneficiar da redução do CMO do sistema elétrico nacional, tomando-se, como exemplo, o ano de 2014, o CMO reduziu-se de R$ 107,00/MWh para R$ 86,5/MWh – uma queda de 19% ou R$ 20,5/MWh. Observa-se essa mesma tendência não somente no referido ano, mas também nos anos subsequentes. Portanto, essa redução beneficiará os consumidores de energia, que poderão pagar tarifas menores (EXCELÊNCIA ENERGÉTICA, 2011). 4.6 O Mercado de Créditos de Carbono Atualmente, existem alguns mercados voluntários que comercializam créditos de carbono. Esse mercado voluntário de carbono compreende todas as transações de crédito de carbono que não se regem por uma obrigação regulatória de cumprimento de uma meta de redução de emissões de GEEs. Os mercados voluntários possibilitam a entidades sem 38 O CVU é o custo decorrente do despacho de 1 MWh de energia gerada por determinada usina. Em algumas usinas termelétricas esse custo pode chegar a R$ 1 mil/MWh enquanto que, nas eólicas, esse valor é nulo (EXCELÊNCIA ENERGÉTICA, 2011). 105 compromisso de redução de emissões compensarem total ou parcialmente a pegada de carbono39 associada com suas operações diárias através de créditos de carbono de projetos altamente sustentáveis (FINANZAS CARBONO, 2012). O mercado voluntário de carbono é mais flexível que o mercado regulado, não possuindo prazos nem padronização como exige o mercado regulado, que possibilita menores custos de transação e viabiliza projetos de menor escala. Entretanto, os riscos envolvidos no mercado voluntário são maiores, implicando num preço menor pago pela redução de emissão, pois o preço é função da credibilidade ou da integridade dos padrões (ROCHA, 2009). A Bolsa do Clima de Chicago (Chicago Climate Exchange – CCX) foi a primeira do mundo a negociar as RCE’s e tornou-se modelo para outros mercados de trocas voluntárias de carbono. Além dessa, destacam-se também: a Bolsa do Clima Europeia (European Climate Exchange – ECX); a Nord Pool Spot na Noruega; a Bolsa do Clima de Montreal (Montréal Climate Exchange – MceX); a Bolsa do Clima de Tianjin (Tianjin Climate Exchange – TCX) e a BM&F Bovespa no Brasil. Dados de Ecosystem Marketplace e Bloomberg New Energy Finance (apud FINANZAS CARBONO, 2012) mostraram que, em 2011, os projetos de energia renovável responderam por 45% das transações no mercado voluntário de carbono, o equivalente a 35 milhões de tonelada métrica de dióxido de carbono equivalente (MtCO2e). Desse volume, aproximadamente 23,5 MtCO2e foram provenientes de projetos eólicos, cerca de 30% do total de créditos negociados. A participação do Brasil no mercado voluntário de carbono merece ser destacada. O país é o único da América Latina a sediar empresas que originam um volume significativo de compensações. Em 2011, quinze empresas aqui localizadas negociaram, no mercado voluntário de carbono, o equivalente a 1,3 MtCO2e. Apesar de parecer pouco, o Brasil ocupa a quinta posição mundial em número de companhias e também em volume de emissões evitadas (HAMILTON & PETTERS-STANLEY, 2012). Sobre o potencial de redução de emissões da Energia Eólica no Brasil, Rocha (2009) estimou que, considerando a potência eólica contratada na primeira fase do PROINFA, evitarse-iam as emissões de aproximadamente 14,5 MtCO2e durante os 20 anos de vigência dos contratos. Ao se admitir o preço do RCE em US$ 15 e o dólar em R$ 2,20, a receita de créditos de carbono seria cerca de 24 milhões de reais anualmente e de aproximadamente 480 milhões de reais no total de 20 anos. 39 A pegada de carbono é a medida do impacto das atividades humanas sobre as emissões de gases do efeito estufa. 106 Diante desse cenário, havia o interesse pela titularidade dos créditos de carbono tanto pelos produtores de Energia Eólica quanto pela Eletrobras. No entanto, a partir do decreto no 5.025/04, ficou subentendido que a Eletrobras poderia ser coparticipante de projetos de MDL e que também possuiria direitos às receitas oriundas da venda de RCE’s, pois aquela concedia garantia de compra da energia gerada pelos projetos. Além disso, o artigo 16 desse decreto criou a conta PROINFA, administrada pela Eletrobras e composta, entre outras receitas, de eventuais benefícios financeiros provenientes do MDL. Para esclarecer definitivamente o entendimento sobre a titularidade dos créditos de carbono gerados pelos empreendimentos do PROINFA, foi publicado o decreto no 5.882/06 que modificava o decreto no 5.025/04. O novo decreto concedia à Eletrobras o direito de comercializar os créditos de carbono, sendo essa também responsável pela validação e pela emissão de RCE’s. Além disso, os produtores que auferiram benefícios com a geração e a comercialização de créditos no período anterior à publicação do decreto deveriam repassar os direitos adquiridos para conta do PROINFA. Em 2012, a Eletrobras solicitou junto à UNFCCC, órgão da ONU responsável pela concessão de créditos de carbono, a obtenção de créditos de carbono referente a 32 empreendimentos incluídos no PROINFA, desse total, 15 projetos são referentes à produção de Energia Eólica. Após a obtenção dos créditos e sua subsequente negociação, os valores serão revertidos para a conta do PROINFA que reduzirá o custo do encargo cobrado nas tarifas de energia elétrica dos consumidores brasileiros (ELETROBRAS, 2012). Por sua vez, as empresas responsáveis pela construção e pela operação dos novos parques eólicos contratados nos leilões poderão vender seus créditos de carbono diretamente no mercado voluntário, auferindo assim uma receita adicional sobre a energia gerada. Diferentemente das usinas do PROINFA, os novos empreendimentos possuem o direito de transacionar os créditos de carbono por eles gerados, podendo antecipar a sua comercialização junto a instituições financeiras e, assim, reduzir os custos de financiamento dos projetos. Entretanto, os valores recebidos por esses empreendimentos referentes à venda de créditos de carbono ainda são uma incógnita. Quando possível, as empresas mantêm em sigilo essa informação na tentativa de enlear seus futuros concorrentes. Contudo, quando se trata de empresas de capital aberto, não é possível ocultar essas informações dos seus investidores. Como mostrou reportagem do Jornal da Energia (2012b), a Renova Energia estabeleceu um contrato com o banco alemão Deutsche Bank para venda de créditos de carbono referentes aos seus projetos eólicos do leilão de 2010. Apesar de o negócio ter sido 107 firmado em agosto de 2011, a transação só foi divulgada ao mercado em 25 de julho de 2012 quando a empresa comunicou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre a operação. Segundo a Renova, o valor a ser creditado pelo banco é formado por uma parte préfixada e por um percentual do preço de mercado spot40. Caso as usinas produzam a mesma quantidade contratada, a empresa deverá receber aproximadamente R$ 2,2 milhões de receita adicional por ano. No caso dos empreendimentos resultados do LER 2009, a receita oriunda da venda dos 365 mil créditos de carbono poderá render R$ 2,7 milhões à companhia. A Renova também deverá negociar os créditos referentes às usinas que participaram dos leilões de 2011. Nesse caso, estima-se que essa comercialização poderá resultar para a empresa uma receita adicional de R$ 1,9 milhões por ano (JORNAL DA ENERGIA, 2012b). 4.7 O Desenvolvimento Sustentável no Brasil Nesta seção, será discutido de que maneira a Energia Eólica pode contribuir para o Desenvolvimento Sustentável do país. Como visto no capítulo 1 deste trabalho, para que uma nação se desenvolva de forma sustentável, é necessário que haja um Crescimento Econômico sustentado, com respeito ao meio ambiente e que seja socialmente includente. Essas três componentes são o tripé de sustentação do Desenvolvimento Sustentável no século XXI, hoje não apenas um conceito, mas um item de discussão na agenda internacional de todos os países. Quando se trata de avaliar o Desenvolvimento Sustentável dos países, alguns autores utilizam os chamados “índices de Sustentabilidade” para avaliar as diferenças nos comportamentos das nações em relação ao seu desenvolvimento. Esses índices procuram quantificar as mudanças ocorridas no país e referenciá-las ao nível das variáveis obtidas em 1991, ano base do Protocolo de Quioto. No entanto, como o setor eólico ainda é muito incipiente no Brasil, carece de uma base de dados suficiente para uma análise quantitativa precisa. Desse modo, será feita, neste trabalho, uma análise qualitativa da evolução do setor eólico no Brasil e o impacto dessa no desenvolvimento do país, sempre considerando o desenvolvimento em seus três aspectos – econômico, ambiental e social. Para isso, serão analisados alguns trabalhos desenvolvidos por outros autores que estudaram aspectos específicos sobre os desdobramentos do desenvolvimento do setor eólico no país. 40 Mercado de commodities em que os negócios são realizados com pagamento à vista e entrega imediata de mercadorias. 108 4.7.1 Dimensão Econômica e Social do assim chamado Desenvolvimento Sustentável Em geral, novos investimentos produtivos em uma região acarretam efeitos diretos e indiretos sobre as economias local e regional. Com a Energia Eólica, não seria diferente. A implantação de um novo projeto eólico afeta diretamente o local de instalação, através da compra de bens e serviços, pela geração de renda sobre o uso da terra, impostos e empregos. Existem ainda os efeitos indiretos, mais difíceis de serem quantificados, mas que se podem incluir o aumento do poder de compra na região e sua consequente dinamização da economia local. O primeiro efeito direto a ser destacado refere-se à renda obtida pelas famílias proprietárias de terras que arrendam parte de seu terreno para a instalação de parques eólicos. Para instalar as turbinas eólicas em um terreno, os empreendedores necessitam comprá-lo ou arrendá-lo. Em geral, opta-se pela última opção, tendo em vista a redução do investimento inicial, algo muito significativo nos projetos eólicos que são naturalmente intensivos em capital. Para os PIAs, em especial, o arrendamento beneficia o fluxo de caixa do projeto. Como os pagamentos aos proprietários da terra (royalties) são distribuídos ao longo do projeto, a fase inicial desse não se torna excessivamente onerosa, o que poderia causar sua inviabilidade econômica. Além disso, o pagamento fracionado equilibra os retornos financeiros do projeto, incorporando-se aos custos fixos de produção de energia. O fato de as turbinas eólicas ocuparem somente uma pequena área do terreno evidencia que é desnecessária a compra do terreno. Como mostrou ADECE (2009), as turbinas eólicas ocupam, no máximo, 4% das áreas requeridas para um projeto de Energia Eólica. Além disso, as estruturas físicas e as estradas ocupam somente uma fração do terreno, sendo compatíveis com outras atividades anteriormente desenvolvidas no local como a agricultura, a pecuária e o lazer. Para os produtores de Energia Eólica, sejam concessionárias ou PIAs, não há o interesse em expandir seus negócios para finalidades agrícolas. Desse modo, não é necessário comprar todo o terreno para o desenvolvimento de um projeto de Energia Eólica e o arrendamento torna-se benéfico para ambas as partes. Estima-se que, no Brasil, cada torre renderá aos proprietários de terra entre R$ 5 mil e R$ 8 mil por ano, através de contratos de arrendamento de 25 a 35 anos, prorrogáveis por igual período (VALOR ECONÔMICO, 2011). 109 A renda extra auferida pelas famílias, resultado dos royalties dos parques eólicos, beneficia não somente os proprietários de terra, mas toda a comunidade local em virtude dos efeitos multiplicadores proporcionados pelo aumento de renda desses proprietários. Além desses efeitos multiplicadores, existem aqueles associados aos empregos diretos gerados e à receita fiscal obtida pelos governos municipais. Juntos, esses efeitos atuam como um novo elemento dinâmico da economia local, propiciando novas oportunidades para toda a comunidade. Em relação à receita fiscal obtida pelos municípios, trata-se basicamente do recebimento de dois tributos: o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) e o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS). Em muitas localidades, os empreendimentos eólicos são aqueles que mais contribuem para a arrecadação do município. Esse aumento significativo no recolhimento de impostos poderá ser revertido em benefícios para a comunidade como escolas, hospitais, creches, entre outros. Quanto aos empregos diretos gerados pela Energia Eólica, esses podem ser agrupados em três categorias de acordo com o volume de empregos gerados, a natureza temporal e o nível de especialização. A primeira categoria é a de Desenvolvimento Tecnológico e abrange as etapas de P&D e fabricação de equipamentos. A segunda categoria é a de instalação e descomissionamento de usinas que inclui as etapas de planejamento, gestão de projetos, transporte e construção de usinas. A última categoria é a de Operação e Manutenção (O&M) e inclui, além dessas, a geração e a distribuição de energia (SIMAS, 2012). A primeira categoria, em geral, apresenta um volume de empregos médio quando comparada com as demais, mas de natureza estável e com o nível de especialização muito alto. Sobre os empregos em P&D relacionados com a Energia Eólica, não há muita literatura a respeito. No entanto, como a indústria eólica no Brasil caracteriza-se basicamente como montadora de projetos desenvolvidos por suas matrizes internacionais, essa etapa não é muito significativa para a geração de empregos no país. Porém, como alertou a ABEEólica (2012a), são necessários investimentos em P&D, no Brasil, para desenvolver tecnologias adaptadas às condições meteorológicas e ambientais do país. Além disso, a construção de uma rede de pesquisa em Energia Eólica, com diversos centros integrados, possibilitará a certificação de aerogeradores, a implantação de campos de testes de aerogeradores e a consolidação da indústria eólica brasileira através de inovação tecnológica. A produção de equipamentos, por sua vez, já apresenta diversos estudos abordando a temática do emprego. Essa etapa exige uma qualificação alta, mas não há tanta dificuldade 110 para contratação. A maior demanda é por técnicos na área industrial com especialidade em mecânica, elétrica e eletrônica, que recebem treinamento adicional dentro da própria empresa. Atualmente, a indústria eólica possui mais de 12 mil postos de trabalho na fabricação de aerogeradores (ABEEÓLICA, 2012c; SIMAS, 2012). As atividades que compõem a segunda categoria são normalmente de curto prazo ao longo do projeto, contudo são aquelas que geram o maior volume de empregos. A etapa de desenvolvimento de projetos, por exemplo, demanda profissionais especializados de diversas áreas, pois se trata de um processo interdisciplinar que envolve aspectos técnicos, econômicos, legais e ambientais. Os empregos gerados nessa etapa normalmente se localizam juntos aos grandes centros e distantes da localização das usinas. Por sua vez, a etapa de construção de um parque eólico é a que gera o maior número de empregos para as comunidades locais. Nessa etapa, diversos postos de trabalho são criados para trabalhadores da construção civil, eletricistas, técnicos de instalação de aerogeradores, operadores de máquinas pesadas, profissionais de segurança do trabalho, supervisores e coordenadores de obra. O número de vagas ocupadas pela comunidade local varia de acordo com o nível de qualificação da população residente. A construção de parques eólicos envolve ainda as seguintes atividades: transporte e armazenamento dos equipamentos utilizados – pás, torres e nacelles; abertura de rodovias e construção de infraestrutura; montagem de aerogeradores; cabeamento e interligação à rede elétrica. O transporte dos equipamentos da fábrica até as usinas é feito normalmente através do meio rodoviário com empresas especializadas nesse tipo de transporte41. Para atender a demanda anual esperada de 2GW, serão necessários cerca de 1.000 turbinas, 1.000 torres e 3.000 pás eólicas. equipamentos, serão necessárias Estima-se que, para transportar todos esses aproximadamente 10.000 viagens rodoviárias (ABEEÓLICA, 2012c). No estado do Ceará, a ADECE (2009) estimou que um projeto eólico de 50MW gera entre 800 e 1.200 empregos ao longo da sua fase de construção que dura, em média, 6 anos. A expectativa da ABEEólica (2012c) é que, até 2016, serão criados cerca de vinte mil empregos diretos na construção de parques eólicos. Sobre a categoria de O&M, além dessas atividades, estão incluídas a geração e a distribuição de energia. Os empregos gerados são os únicos de caráter permanente, mas, num volume abaixo do apresentado pelas outras categorias. O número de pessoas empregadas 41 A resolução nº 11/2004 do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) regulamenta o uso de rodovias federais e exige que o transporte de cargas com dimensões de largura, comprimento ou peso que excedam os limites permitidos deve ser feito por viaturas e escoltas credenciadas. 111 dependerá do tamanho do projeto, da sua estrutura administrativa e das práticas trabalhistas do país. Como mostrou a ADECE (2009), nos países em desenvolvimento, o volume de empregos de O&M gerados nos projetos eólicos é superior àqueles alcançados pelos países desenvolvidos. A razão disso é o baixo custo da mão de obra e os recursos limitados dos meios de comunicação naqueles países que resulta numa operação mais intensiva em mão de obra. Enquanto que, nos Estados Unidos, cerca de um emprego em tempo integral é criado para cada 5MW de capacidade instalada; no Brasil, essa relação é de aproximadamente 1 (um) emprego para cada 0,6MW. As atividades de O&M podem ser realizadas diretamente no parque (in situ) ou remotamente (ex situ) quando executadas a partir de um centro de operações. As atividades in situ empregam predominantemente mão de obra local, geralmente de baixa qualificação, em atividades como monitoramento local, inspeção geral dos parques e aerogeradores e atividades de apoio – segurança, limpeza e cozinha. As atividades ex situ abrangem o monitoramento da operação e a disponibilidade dos aerogeradores à distância e a realização de manutenção corretiva e de emergência. A manutenção do parque é realizada pelos fabricantes dos aerogeradores durante os cinco primeiros anos subsequentes ao início de operação da usina. Após esse período, o proprietário do parque decide pela contratação dos serviços do próprio fabricante ou de uma empresa especializada. O setor eólico brasileiro, porém ainda carece de mão de obra especializada. Para mitigar esse problema, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) assinou um acordo com a Cooperação Alemã para o Desenvolvimento (correspondente em alemão a GIZ) com o objetivo de capacitar mão-de-obra para trabalhar nesse setor. A expectativa é formar 500 profissionais até 2014 nas áreas de planejamento, instalação, construção, operação e manutenção de parques eólicos. O SENAI e a GIZ pretendem investir cerca de US$ 2 milhões no projeto que será oferecido em nove estados do país: Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Cataria e São Paulo (SENAI, 2011). Em relação aos efeitos indiretos decorrentes do desenvolvimento da Energia Eólica em uma região, podem-se destacar a geração de empregos indiretos e de empregos induzidos. Os empregos indiretos são aqueles gerados por outras atividades ligadas à cadeia de suprimento de bens e serviços. Os efeitos induzidos, por sua vez, surgem, na economia, a partir do efeito- 112 renda que aumenta o poder de compra da comunidade local, diversifica sua economia e amplia o uso de recursos nativos. Simas (2012) estimou o quantitativo de empregos gerados nos setores que fornecem os insumos consumidos na fabricação de equipamentos e na construção de parques eólicos. Os principais insumos utilizados nessas etapas são brita, areia, cimento, aço, resina, fibra de carbono, ferro, cobre, plástico e alumínio. A referida autora concluiu que, ao longo do ciclo de vida da Energia Eólica, o número de empregos-ano42 indiretos por MW gerados é de cerca de 3,0 para as torres de aço e de, aproximadamente, 3,5 para torres de concreto. Sobre os empregos induzidos, esses são mais difíceis de ser quantificados. Todavia, é notório que a instalação e a operação de um projeto eólico demandam bens e serviços locais, tais como equipamentos e materiais de construção; ferramentas e suprimentos de manutenção; alimentação e vestuário para os trabalhadores. Outros serviços de apoio como contabilidade, bancos e assistência jurídica também são necessários. A ADECE (2009) estimou que projetos de Energia Eólica, desenvolvidos no Ceará, pagam anualmente R$ 8 mil por turbina eólica para as empresas locais, referente ao consumo desses bens e serviços. Entretanto, vale ressaltar que a demanda por bens e serviços locais não provêm unicamente dos empreendimentos eólicos. As famílias também ampliam seu consumo devido ao aumento da renda proveniente dos empregos adicionais e da receita dos arrendamentos. O faturamento dos cartórios também aumenta como resultado dos registros dos empreendimentos no município. Todos esses agentes estimulam os ciclos de gastos no município que têm efeitos positivos e multiplicadores sobre a renda da comunidade local. Por fim, deve-se destacar que a diversificação incrementada na base econômica do município garante maior estabilidade à economia local. A maioria dos parques eólicos brasileiros está localizada em municípios com uma economia pouco dinâmica ou de dimensão única. Desse modo, essa diversificação reduz os efeitos associados aos ciclos econômicos, produzidos por uma indústria específica, localizada na região, pela agricultura ou pelo turismo. Quanto aos impactos sociais, observou-se que a implantação de um projeto de Energia Eólica e o desenvolvimento da indústria associada ocasionam diversos impactos sociais para o país e, principalmente, para a comunidade local. Como será visto adiante, diversas externalidades positivas podem ser associadas ao desenvolvimento da Energia Eólica no 42 Empregos-ano é uma medida sinalizadora do número de postos de trabalho ocupados para a atividade durante o período de um ano. Essa abordagem é muitas vezes utilizada para empregos temporários (SIMAS, 2012). 113 Brasil. Essas externalidades possibilitaram melhorias significativas nas comunidades onde foram instalados parques eólicos. A extensão desses potenciais impactos dependerá do tipo de indústria a ser instalada e das dimensões do projeto eólico. Para a comunidade local, os principais impactos sociais se refletem na cultura e nos costumes locais, no uso da terra, na infraestrutura e nos sistemas de emergência e de educação. Além disso, como a maioria dos parques eólicos brasileiros está localizada em áreas rurais, esses impactos podem ser ainda mais significativos. Os impactos sobre a cultura e os costumes locais são difíceis de ser quantificados, porém algumas considerações precisam ser feitas. Em geral, as populações rurais tendem a ser mais homogêneas que as residentes em áreas urbanas. Desse modo, quando um parque eólico é instalado numa área rural, a mão de obra qualificada empregada (externa à comunidade) traz costumes e práticas sociais diferentes que podem vir a chocar com os padrões estabelecidos pela comunidade local. Além disso, a migração de grandes contingentes de trabalhadores para pequenos municípios pode acarretar num aumento da violência e da prostituição na região. Todavia, esses aspectos negativos, contrários à implantação de parques eólicos na região, são contornados através de medidas de fácil adoção. Em primeiro lugar, cabe destacar que a construção de projetos de Energia Eólica tem duração média de apenas seis meses e que as atividades de operação e manutenção podem ser realizadas por mão de obra local. Desse modo, os impactos do estresse cultural sobre qual a população local é submetida são temporários e de alcance bastante limitado. Em segundo lugar, ainda não há notícias sobre o aumento da violência e da prostituição nos municípios que receberam empreendimentos eólicos, em que pese o fato de não se ter estatísticas que permitam analisar profundamente a ocorrência desses transtornos. No entanto, dada às condições de pobreza e baixa escolaridade vivenciada por alguns desses municípios, é necessária a atenção das instituições, sobretudo as governamentais e a adoção de políticas públicas para prevenir possíveis impactos sociais negativos. Desse modo, avalia-se de forma positiva o balanço dos impactos culturais do desenvolvimento da Energia Eólica junto a essas comunidades. Como mostrou Bergman et al. (2006 apud SIMAS, 2012) em estudo feito na Escócia, a população rural tem maior percepção dos benefícios sociais das energias renováveis do que a população urbana. Nesse aspecto, convém registrar o posicionamento do Senhor Cláudio Francisco Dourado, lavrador e morador de Sumidouro – município baiano contemplado com projetos de Energia Eólica – em entrevista ao informativo Bahia Oportunidades (BAHIA, 2011, p. 7): “aprendi muita coisa com a vinda da empresa. Hoje, sei conversar, pois nem isso a gente sabia”. 114 Sobre o uso da terra, a instalação de parques eólicos causa diversos impactos sociais que merecem ser discutidos. O primeiro impacto negativo, apontado por alguns críticos, refere-se à especulação imobiliária causada pela súbita valorização das terras. Um dos fatores que mais contribuiram para o aumento da especulação imobiliária nesses municípios foram as exigências feitas pelo governo federal para habilitar produtores a participar dos leilões de energia. Para participar desses leilões, o produtor interessado deve ter realizado medições do potencial eólico do local pretendido durante 12 meses. Desse modo, as propriedades, localizadas numa região com perspectiva de geração de Energia Eólica, tendem a se valorizar bastante mesmo antes da instalação de qualquer empreendimento. Isso é um fato inquestionável, contudo algumas ressalvas devem ser feitas. Em geral, as populações rurais não têm pretensões de sair das suas residências no campo e ir para outras localidades, exceto quando se veem forçadas a isso por questão de sobrevivência da sua família. A situação do rural brasileiro verificada nos últimos anos mostra uma realidade parecida na qual os pequenos produtores enfrentam grandes dificuldades em competir num mercado dominado pelo agronegócio. Essa situação dificulta bastante a sobrevivência dos pequenos produtores no campo junto com suas famílias, além disso existe a pressão cada vez maior dos latifundiários para que esses produtores vendam suas terras. Dessa maneira, o que resta para esses pequenos produtores é entregarem suas terras por valores irrisórios e migrarem para as cidades em busca de novas oportunidades de reprodução social. Portanto, o desenvolvimento da Energia Eólica representa uma nova oportunidade para os pequenos produtores. Como a escolha do local de instalação dos parques eólicos é feita a partir de critérios técnicos, os pequenos produtores também são beneficiados. Além disso, o pagamento do arrendamento da terra e dos royalties da produção é feito diretamente ao proprietário da terra. Desse modo, os pequenos produtores podem se manter no campo e sustentar suas famílias com dignidade, graças a essa renda extra obtida. Ainda sobre o uso da terra, cabe destacar como o desenvolvimento da Energia Eólica pode promover a regularização fundiária em algumas regiões. Para atrair novos empreendimentos eólicos, alguns estados têm procurado regularizar suas áreas nãodocumentadas, pois essa é uma exigência para os empreendimentos participarem dos leilões. 115 Somente na Bahia, a Coordenação de Desenvolvimento Agrário desse estado afirmou que existem mais de 300 processos de regularização fundiária de terra devoluta43 (BAHIA, 2011). Uma possível crítica ao recebimento desses royalties refere-se à possibilidade de os agricultores abandonarem sua produção e tornarem-se rentistas. Sobre esse aspecto, a experiência já mostrou que, de fato, isso não acontece. Como mostrou a reportagem do Valor Econômico (2011), uma das principais preocupações dos pequenos agricultores, antes da assinatura dos contratos de arrendamento, é saber se ficarão impedidos de cultivar a terra. Sobre isso, não há impedimentos, pois a geração eólica, como mencionada anteriormente, convive harmonicamente com outras atividades anteriormente estabelecidas no local como a agricultura, a pecuária e o lazer. A instalação de parques eólicos também afeta, de maneira significativa, a infraestrutura da região e das comunidades locais. Sob uma perspectiva macro, o desenvolvimento da Energia Eólica requer investimentos em infraestrutura e na ampliação de portos, estradas e rodovias. Destarte, pode ser citado, como exemplo o Terminal de Contêiner de Salvador que investiu R$ 180 milhões na sua expansão com a aquisição de novos equipamentos, reforço e dragagem do cais, além de obras de pavimentação e edificações. Essas ações visaram incrementar a capacidade operacional do Terminal Portuário, de maneira a atender plenamente os 52 novos parques eólicos previstos para serem instalados no estado da Bahia (BAHIA, 2011). Sob uma perspectiva micro, os impactos sociais para as comunidades locais se refletem sobre o uso da água, saneamento, estradas, habitação e coleta de lixo. Para essas comunidades, o desenvolvimento da infraestrutura local resulta em mudanças permanentes em seu habitat natural. Em geral, essas mudanças são vistas de maneira positiva pela população local. Em virtude do uso de concreto na construção dos parques eólicos, esses projetos demandam uma grande quantidade de água. Na maioria das vezes, a solução encontrada é a abertura de poços para a captação da água necessária ao empreendimento. Destarte, em regiões semiáridas como o interior do Nordeste, esses poços abertos durante a fase de construção podem ser aproveitados para o consumo da população local. Como mostrou Simas (2012), em João Câmara/RN, o poço aberto para a construção do Parque Eólico Morro dos Ventos será disponibilizado para a comunidade local que poderá utilizá-lo mediante a administração da Prefeitura. 43 Propriedades públicas que nunca pertenceram a um particular, mesmo estando ocupadas. 116 A necessidade de transporte de máquinas e equipamentos, bem como o aumento do tráfego de veículos durante a fase de construção de um parque eólico, exige a abertura de novas estradas e/ou o alargamento e a pavimentação de outras já existentes. Os efeitos positivos dessas obras são evidentes, pois a abertura de novos caminhos ou a pavimentação de estradas antigas possibilita desenvolvimentos futuros para a região, além disso uma estrada mais larga pode tornar a viagem mais segura para motoristas e pedestres. Contudo, alguns moradores que residem às margens dessas estradas podem não querer melhorias nas mesmas, pois temem um aumento no tráfego local. Essas preocupações dos moradores são válidas e, por isso, faz-se necessária a realização de estudos sobre o comportamento do tráfego local antes e depois da instalação do empreendimento. Quando necessário, medidas mitigadoras devem fazer parte do processo de desenvolvimento do projeto. Atualmente, os empreendedores responsáveis pela construção dos parques eólicos têm adotado práticas inovadoras do ponto de vista do relacionamento com a comunidade. Como mostrou ABEEólica (2012a), diversos programas de bem-estar social são continuamente realizados durante a construção do parque. Entre esses programas, cabe elencar os seguintes: campanhas de vacinação, educação ambiental, atendimento médico e odontológico, medicina preventiva e qualificação profissional. No interior da Bahia, uma parceria entre a prefeitura e a empresa Desenvix, responsável pela implantação de um complexo eólico no município de Brotas de Macaúbas, possibilitou que a população adquirisse carteiras de identidade e de trabalho, além disso a empresa pretende incentivar o arranjo produtivo no município de maneira a melhorar o plantio da mandioca – principal atividade local. O objetivo é a construção de uma casa de farinha onde a mandioca possa ser beneficiada e as famílias possam trabalhar (BAHIA, 2011). 4.7.2 Dimensão Ambiental do Desenvolvimento Sustentável no Brasil Sob a perspectiva ambiental, diversos efeitos positivos podem ser relacionados como resultado do desenvolvimento da Energia Eólica no Brasil. Entre esses, o mais importante se refere à redução de emissões de GEE. Como mostrou Rocha (2009), para os projetos de geração de energia elétrica através de fontes renováveis, a questão central é determinar os níveis de emissões evitadas. Em geral, essa redução das emissões pode ocorrer tanto na construção – quando se substitui uma instalação que, de outra forma, teria sido construída – quanto na operação – quando afeta a operação de usinas atuais e/ou futuras. 117 Como visto anteriormente, a geração de eletricidade a partir da fonte eólica em substituição às poluentes termelétricas possibilita uma significativa redução das emissões de CO2. Enquanto que a operação dos parques eólicos não apresenta emissões de GEE, as atividades de produção e transporte de pás e torres geram apenas 9g de CO2 equivalente por kWh. Isso representa somente 1% das emissões médias de uma usina térmica a carvão (MOREIRA, 2012). Em estudo feito pela Consultoria Engenho (2012 apud ABEEÓLICA, 2012d), algumas simulações foram realizadas sobre as emissões de CO2, a partir da geração de energia elétrica, de acordo com as previsões do Plano Decenal de Expansão de Energia. Num primeiro cenário, estimam-se as emissões de CO2 sem a operação das usinas eólicas. Posteriormente, as estimativas são feitas substituindo-se as usinas térmicas a carvão pelas centrais eólicas. O resultado obtido é apresentado no Gráfico 22 e mostra uma redução média anual de 17Mton de CO2 equivalente. Destarte, fica evidente como a participação da Energia Eólica é crucial para a redução de emissões do setor elétrico brasileiro. Gráfico 22 – Estimativa da Redução de Emissões de CO2 a partir da Energia Eólica no Brasil Fonte: ABEEólica (2012d). Sobre a ocupação espacial dos parques eólicos, como citado anteriormente, somente uma pequena fração do terreno é requerida para a instalação das torres. Por sua vez, a área ocupada pela fundação de cada torre varia entre 13 e 20m². Entretanto, como as fundações 118 ficam normalmente enterradas, as atividades agrícolas e a vegetação nativa do local podem ser mantidas até próximo à área da base da torre (MOREIRA, 2012). Quando se compara a Energia Eólica com outras tecnologias, em relação ao uso da terra, deve se considerar o ciclo de combustível total em cada caso. Nessa perspectiva, a Energia Eólica ainda é a que requer um menor espaço para produzir a mesma quantidade de eletricidade. Como mostrou Terciote (2002), a terra requerida em 30 anos pela Energia Eólica varia entre 800 e 1.335 metros quadrados por gigawatt-hora (m²/GWh). Enquanto isso, outras tecnologias como a solar e a carvão estão acima de 3.500m²/GWh. Em relação aos impactos sobre a flora, qualquer novo empreendimento instalado numa região não urbanizada acarretará em supressão da vegetação nativa. No caso da Energia Eólica, esse impacto é menor e ocorre, somente durante a implantação dos parques, nos locais onde ficam localizados os canteiros de obras e as aberturas de acesso e sondagens. Para mitigar esse impacto, os órgãos estaduais fiscalizadores (autarquias ligadas às Secretarias de Estado do Meio Ambiente) impõem certas exigências para a concessão das licenças ambientais. Em geral, esses órgãos exigem que seja feito o resgate da flora da região após a execução dos serviços de instalação dos parques eólicos. Dessa maneira, a empresa responsável pela instalação, retira as plântulas44 do local, realiza o cultivo em viveiros e faz o replantio nos locais afetados após a conclusão dos serviços. Entretanto, como não é possível resgatar todos os indivíduos de todas as espécies das áreas impactadas, a recuperação da flora é realizada com base no resgate dos recursos genéticos e não de toda diversidade vegetal da área (RENOVA ENERGIA, 2012). Os impactos sobre a fauna das regiões onde há produção de Energia Eólica é relativamente pequeno. Nesse aspecto, os principais danos estão relacionados com a mortandade de aves e morcegos tanto migratórios quanto residentes. Entretanto, estudo, realizado por Sovernigo (2009), mostrou que, apenas nos parques eólicos de Osório/RS, foram verificadas mortes de morcegos insetívoros (durante os meses quentes) e, em menor escala, de aves residentes que colidiram com a linha de transmissão dos parques. Atualmente, os órgãos ambientais realizam estudos aprofundados durante as fases de localização e implantação e o monitoramento do parque após a entrada em operação. O objetivo desses estudos é evitar que os parques eólicos se instalem nas rotas de aves migratórias, reduzindo, assim, os já escassos impactos negativos dessa tecnologia. 44 Plântula é a condição do embrião vegetal já desenvolvido (após a germinação) e ainda contido na semente. 119 Para mitigar os efeitos sobre os morcegos, alguns parques eólicos, localizados no interior da Bahia, já adotaram práticas inovadoras. Estudos mostraram que os voos dos morcegos acontecem no entardecer e pouco antes do amanhecer, pois é nesse horário que a presença do seu alimento (insetos) é maior. Desse modo, os operadores dos parques eólicos optaram por reduzir em 15% a velocidade dos aerogeradores nesses horários, possibilitando aos morcegos a capacidade de evitar um choque com as hélices (O ECO, 2012). Por fim, deve ser feita uma última ressalva sobre a localização dos parques eólicos e os possíveis impactos ambientais resultantes. Os órgãos ambientais estaduais devem estar atentos aos projetos que possam interferir em áreas de preservação ambiental ou afetar negativamente as populações locais, como exemplo, podem ser citados os polêmicos projetos localizados nas proximidades da Chapada Diamantina na Bahia e na cidade de Galinhos no Rio Grande do Norte. No primeiro caso, os projetos estão localizados na região do Boqueirão da Onça, região de caatinga e no Parque Estadual do Morro do Chapéu, região serrana. Os ambientalistas defendem que seja criado, na região do Boqueirão da Onça, um parque nacional para a preservação deste bioma, que é exclusivamente brasileiro. Enquanto isso, na área do Morro do Chapéu, um decreto teria extinguido o parque estadual que perderia sua condição de unidade de preservação. A decisão de extinção do parque foi revogada somente após a ação do Ministério Público Estadual que solicitou a manutenção do parque e a redefinição das unidades de conservação. Atualmente, o debate está na criação de uma Área de Proteção Ambiental (APA) e na nova poligonal do parque estadual que possibilitará o uso pacífico dos recursos naturais e a convivência das torres eólicas com o turismo ecológico (O ECO, 2012). No município de Galinhos, por sua vez, os moradores protestam contra a instalação de um parque eólico sobre as dunas da região. A cidade que vive do turismo, da pesca e da extração do sal, está dividida sobre a instalação dos aerogeradores. Moradores, ligados a atividades turísticas, reivindicam que os aerogeradores não sejam instalados nas dunas e que a área seja preservada e transformada numa APA. O parque eólico, por sua vez, deveria ser transferido para outra área (UOL, 2012a). O Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA) autorizou a instalação do parque eólico, mas uma ação civil pública impetrada pelo Ministério Público Estadual suspendeu as obras sob a alegação de irregularidades na concessão das licenças. Entretanto, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN) revogou a suspensão e autorizou a continuidade das obras de instalação do parque eólico. 120 Para a magistrada do TJRN, que prolatou a sentença, a obra teria um impacto ambiental pequeno e os parques eólicos poderiam ser instalados em região de dunas, como ocorreu no Ceará. Segundo a decisão, o estudo de impacto ambiental apontou a área escolhida como a mais propícia para a instalação do parque eólico. Além disso, a paralisação do empreendimento estaria gerando elevados prejuízos para a empresa (TRIBUNA DO NORTE, 2012). Diante do exposto, verifica-se a necessidade de ampliar o debate acerca da localização dos parques eólicos. Antes de emitida a licença ambiental prévia, audiências públicas deveriam ser realizadas com os empreendedores responsáveis, os órgãos ambientais e a comunidade local para que a decisão de localização fosse tomada a partir de um acordo entre as partes. Dessa maneira, evitar-se-iam prejuízos para ambas as partes: os empreendedores não teriam suas obras paralisadas e seu planejamento atrasado e a comunidade seria comunicada a tempo de discutir medidas mitigadoras. 121 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho buscou analisar o desenvolvimento recente da Energia Eólica no Brasil, que vivenciou um rápido crescimento nos últimos anos. A tecnologia eólica evoluiu bastante no país e destacou-se entre as fontes renováveis não hidráulicas. A partir de políticas governamentais de fomento e condições favoráveis de mercado, essa tecnologia tornou-se uma das fontes mais competitivas do país quando se trata de novos empreendimentos energéticos. Em virtude da recente crise financeira que abalou o setor eólico mundial, grandes empresas do setor buscaram novos mercados emergentes com o intuito de diversificar seus investimentos e assegurar os seus lucros. Nesse sentido, muitos investimentos estrangeiros foram direcionados para o Brasil. Isso possibilitou o surgimento de uma indústria eólica no país com um grande potencial em se tornar líder e exportadora para toda a América Latina. Desse modo, o setor eólico brasileiro vivenciou um crescimento expressivo nos últimos anos. Com a criação do PROINFA e, posteriormente, com os leilões de energia, a tecnologia eólica amadureceu no Brasil e tornou-se competitiva diante de outras fontes energéticas. Inclusive, quando comparado com alguns países, o custo da Energia Eólica no Brasil é relativamente menor. Diante desse cenário, buscou-se analisar de que maneira a Energia Eólica contribui para atender os objetivos do Desenvolvimento Sustentável do país. Para tanto, utilizou-se a abordagem teórica da Economia Ecológica por ser considerada a mais adequada à temática proposta. Como visto neste trabalho, não é possível vislumbrar o Desenvolvimento Sustentável exclusivamente a partir da internalização das externalidades, tal como definido pela economia neoclássica. Não se pode adjudicar o tratamento dos custos sociais da produção de energia às preferências dos indivíduos e aos automatismos de mercado, pois a otimização de custos e benefícios não significa Sustentabilidade. A interação entre sistema econômico e meio ambiente envolve relações muito mais complexa, cujos valores não tem possibilidade de serem quantificados a partir de um sistema de preços dado pelas preferências individuais dos agentes econômicos. A Economia Ecológica, por sua vez, mostra-se como alternativa ao paradigma de desenvolvimento tradicional. Nessa perspectiva, o Desenvolvimento Sustentável é visto como a forma de se promover o bem-estar da sociedade sem causar danos permanentes ao meio ambiente. Para tanto, equidade social e prudência ecológica devem fazer parte da análise 122 econômica, selecionando as atividades que atendem aos requisitos ambientais e econômicos em conjunto e promovem o Desenvolvimento genuíno. Desse modo, o Desenvolvimento Sustentável deve enfrentar o problema do emprego, da desigualdade social e do estímulo às inovações tecnológicas. Em consonância com a fundamentação teórica da Economia Ecológica, o desenvolvimento da Energia Eólica no país mostra-se como uma solução triplamente vencedora, em termos sociais, econômicos e ecológicos. Quando utilizada essa tecnologia em alternativa às fontes energéticas convencionais fósseis e poluentes, evita-se o consumo predatório dos recursos naturais que geram elevadas externalidades negativas tanto sociais quanto ambientais. Sob a perspectiva do Desenvolvimento Sustentável, foi mostrado que a Energia Eólica, se não é a mais correta, é a opção mais viável dentro dos limites de uma economia periférica. Para alcançar o almejado Desenvolvimento Social, com redução das desigualdades e ampliação do número de pessoas com acesso aos bens mais primários, como alimentação, saúde e educação, é necessário que o Brasil persiga um Crescimento Econômico Sustentado. Diante desse cenário, a demanda energética nacional deverá aumentar nos próximos anos, sendo que a melhor opção para suprir essa demanda, é a utilização da Energia Eólica. A importância da Energia Eólica no cenário energético brasileiro revela-se também em relação à segurança energética do país. Enquanto que a matriz elétrica nacional ainda depende fortemente do regime de chuvas, essas se tornaram cada vez mais instáveis dadas às mudanças climáticas ocorridas no planeta. Desse modo, quando o nível dos reservatórios é insuficiente ou quando há riscos no atendimento à demanda nacional, as usinas termelétricas precisam ser acionadas para assegurar a oferta de eletricidade no país. Além de consumir combustíveis fósseis e ser extremamente poluente, o acionamento emergencial das termelétricas encarece bastante os custos da energia gerada. A Energia Eólica, por sua vez, apresenta um caráter totalmente compatível e complementar à geração hidráulica no Brasil. Durante os meses de menor capacidade das hidroelétricas, a produção da energia elétrica a partir da fonte eólica é máxima. Portanto, a geração de eletricidade, através da fonte eólica, apresenta-se como uma excelente alternativa à expansão do setor elétrico nacional em detrimento ao uso das usinas termelétricas. Além disso, a utilização da fonte eólica possibilita que o uso de combustíveis nãorenováveis e poluentes – como o carvão mineral, o óleo diesel e o gás natural – sejam postergados para um cenário futuro. Dessa maneira, há uma preservação desses recursos para as gerações futuras que poderão ter alcançado um estágio superior de Desenvolvimento 123 Tecnológico no qual essas fontes já não terão tanto impacto do ponto de vista socioambiental, quanto ainda são atualmente. Verificou-se também como o desenvolvimento da Energia Eólica possibilitou o surgimento de externalidades positivas em outros setores da Economia. Sob a perspectiva do Desenvolvimento Sustentável, foram analisados os impactos dessa tecnologia sob as dimensões econômica, social e ambiental. Apesar do saldo positivo apresentado, alguns efeitos negativos foram constatados e, por isso, foram relacionadas algumas medidas mitigadoras desses efeitos. Do ponto de vista econômico, a instalação de parques eólicos gera empregos diretos, indiretos e induzidos, principalmente durante a fase de implantação. Após essa fase inicial, a demanda por mão de obra local é reduzida e, em alguns casos, chega a ser não significativa. Entretanto, o principal efeito positivo da geração eólica sobre a economia regional está relacionado com o efeito-renda. Com a elevação da renda da comunidade, em virtude do recebimento de royalties e de impostos pelos governos municipais, há um aumento do poder de compra da população e uma diversificação da economia que juntos provocam uma maior demanda por recursos nativos. Como a maioria dos parques eólicos encontra-se em pequenos municípios com pouca expressão econômica, esse aumento nos ciclos de gastos pode gerar grandes efeitos multiplicadores e criar um novo elemento dinâmico para essas economias. Sob a perspectiva social, o desenvolvimento da Energia Eólica apresenta um balanço positivo em relação aos impactos sobre as comunidades locais. O desenvolvimento da infraestrutura da região, necessário para a implantação dos parques eólicos, resulta em benefícios para a população que se refletem no uso da água, saneamento, estradas, habitação e coleta de lixo. Além disso, a renda extra auferida pelos pequenos produtores, em virtude do arrendamento das suas terras, permite que eles se mantenham no campo reproduzindo suas famílias. Desse modo, a Energia Eólica manifesta-se como um potencial setor econômico que contribui decididamente como redutor de migrações da zona rural. Do ponto de vista ambiental, o principal benefício resultado do desenvolvimento da Energia Eólica refere-se à redução de emissões de gases de efeito estufa. Quando se utiliza essa fonte para a geração de eletricidade, a redução de emissões em relação às poluentes termelétricas ultrapassa noventa por cento. Sobre os efeitos negativos constatados, as principais controvérsias se referem à localização dos parques eólicos. Algumas comunidades impactadas não concordaram com o local escolhido pelos empreendedores e exigiram a relocação desses parques. Os empreendedores, por sua vez, alegaram que os estudos de impacto ambiental realizados 124 apontaram o local como a melhor escolha possível e, por isso, as licenças ambientais foram obtidas. Dessa maneira, verifica-se a necessidade de ampliar o debate entre comunidade, órgãos ambientais e empreendedores antes da definição sobre essa localização. Seja por fatores técnicos ou socioambientais, o desenvolvimento de parques eólicos offshore representa uma nova oportunidade para o Brasil. Do ponto de vista técnico, a constância e a velocidade do vento marítimo favorecem a geração de eletricidade. Enquanto que a distribuição de energia é favorecida pela distância relativamente pequena dos parques eólicos à costa quando comparada com as enfrentadas pelas grandes hidrelétricas a ser instaladas na região Norte do país. Do ponto de vista socioambiental, esse tipo de instalação não ocupa regiões habitadas, não causa deslocamentos populacionais e não destrói áreas de preservação ambiental. Contudo, diversos fatores ainda limitam bastante a exploração do potencial eólico brasileiro offshore. Entre esses fatores, destacam-se àqueles relacionados com os altos custos de implantação dos parques eólicos marítimos, as maiores dificuldades de manutenção e o grande potencial ainda existente para instalação de eólicas em terra cuja implementação é bem menos complexa. Cabe ainda destacar um aspecto social importante, resultado do desenvolvimento do setor eólico no país: com a expansão do uso dessa tecnologia, a tendência é que a indústria eólica nacional se desenvolva cada vez mais e os preços dos principais equipamentos se reduzam devido à ampliação da oferta interna. Desse modo, a tecnologia eólica ficará mais acessível e seu uso poderá ser ampliado de maneira a contemplar comunidades distantes, sem acesso à eletricidade, através de sistemas isolados. O desenvolvimento da Energia Eólica no Brasil também insere o país no debate internacional sobre energias renováveis. Atualmente, Brasil, China e Índia respondem por 1/4 da capacidade mundial de energias renováveis não hidráulicas. Num momento em que o país procura se estabelecer como líder entre os países emergentes, o fortalecimento do setor eólico brasileiro é o primeiro passo rumo a uma Economia Verde, de baixo carbono e alinhada com o cenário político-ambiental do século XXI. Portanto, o aproveitamento do grande potencial eólico nacional é crucial para a manutenção de uma matriz elétrica limpa e renovável que possibilite o Desenvolvimento Sustentável do país e garanta a sua segurança energética. 125 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABEEÓLICA – Associação Brasileira de Energia Eólica. Com a força dos ventos a gente vai mais longe. Apresentação. 2011. Disponível em: <http://www.porthuseventos.com.br/eventobioenergia/2011/congresso/br/Auditorio_Mario_d e_Mari/dia17/tarde/Pedro_Perrelli.pdf>. Acesso em: 10 out. 2012. __________. Mercado de Energia no Brasil: Desafios e Oportunidades. Apresentação. 2012a. Disponível em: <http://www.cogen.com.br/workshop/2012/Elbia_Melo_Abeeolica_01032012.pdf>. 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