A produção de energia eólica nos estudos do engenheiro Catullo Branco
Maria Blassioli Moraes
O engenheiro Catullo Branco (1900-1987), desde o princípio, destacou a necessidade de o
Estado desenvolver a produção, transmissão e distribuição de energia, uma vez que este
serviço era percebido como básico e que, portanto, não poderia ser entendido como produto de
consumo e nem poderia ser regulamentado por empresas privadas nacionais ou estrangeiras.
Esta crítica esteve presente em todo o discurso de Catullo Branco e era também compartilhada
por outros engenheiros e companheiros do Partido Comunista do Brasil. Catullo Branco
destacava o curso ministrado por Luiz de Anhaia Mello no Instituto de Engenharia e sobre os
serviços de utilidade pública, no qual apresentava especificidades técnico-jurídicas dos
serviços públicos. O curso despertou Catullo para a crítica ao monopólio do fornecimento de
energia que desta forma não permitia a concorrência entre empresas diferentes e tão pouco
permitia a regulamentação do setor.
Uma vez dentro da Inspetoria de Serviços Públicos (ISP), Catullo Branco começou cedo seus
estudos sobre produção de energia eólica. Ou seja, não era somente o desenvolvimento da
produção da energia pelo Estado que ele defendia, mas estava também interessado em
encontrar alternativas para a necessidade energética e estas opções deveriam estar
compreendidas dentro da realidade climática e geográfica do país.
Em 1933, Catullo Branco estudou a produção de energia elétrica através de instalações
eólicas, sendo que o resultado parcial de sua pesquisa foi publicado no Boletim do Instituto de
Engenharia.
No início do ano seguinte, desenvolveu suas experiências com as instalações eólicas, sempre
contando com poucos recursos financeiros, com falta de estrutura e muitas vezes com
condições inapropriadas para os estudos. Inicialmente fez o teste com uma torre de 5 metros,
sendo que os equipamentos foram construídos nas dependências da própria Secretaria.
Catullo afirmou que:
“A operação de determinar a potência em função da velocidade do vento, é mais ou menos
impraticável em uma torre de 5 metros e em lugar cercado por obstáculos, diante da rápida
variação dos ventos.”
Depois dessa primeira experiência, e ainda em 1934, foi construída uma torre de 13 metros e
instalada em lugar com condições mais favoráveis para a análise. O local encontrado para a
instalação foi a área da Estrada de Ferro Campos do Jordão e as rodas e pás foram
construídas nas oficinas da Repartição de Águas e Esgotos. Desta vez Catullo Branco fez a
estrutura da torre com longarinas (uma barra do chassi) de caminhão Chevrolet adquiridos em
ferros velhos. Foram usadas quatro hélices diferentes nos experimentos: uma hélice com duas
pás fixas, uma hélice com duas pás móveis, uma hélice com três pás móveis e uma hélice com
quartro pás móveis. A roda de madeira para as hélices possuía 6 metros de diâmetro. Destas
Artigo publicado na seção "Memória" da newsletter "Fique Ligado" - Ano 2 nº04/2010
experiências e dos estudos realizados, Catullo Branco publicou, em 1935, um livro intitulado
Instalações eolianas para produção de energia elétrica.
O engenheiro apontou, no livro, a ausência de estudos, no Brasil, sobre a produção de energia
eólica e para tanto, levantou, em suas pesquisas, as iniciativas realizadas na Alemanha,
Inglaterra, Estados Unidos da América e na Rússia.
Segundo Catullo, “existem regiões mesmo no Estado de São Paulo, que sendo fortemente
batidas pelos ventos, apresentam ótimos campos de aplicação para este tipo de produção de
energia. Refiro-me não somente ao litoral, como também a estas cidades novas da noroeste da
Sorocabana e da noroeste da Paulista, que por serem localizadas nos espigões, são varridas
por ventos mais fortes e mais frequentes. Presentemente já existem nestas localidades
inúmeras pequenas rodas eolianas destinadas à elevação da água.”
Assim, seu livro constituiu-se num manual sobre estudo de energia eólica, no qual apresentou
tanto as experiências realizadas em outros países, como os procedimentos que deveriam ser
adotados para o desenvolvimento destas instalações.
Catullo destacou em seu trabalho: “Até a presente data os ventos têm sido estudados para fins
especiais de meteorologia, isto é, fins climatológicos, tais como: aproximação de chuvas, ondas
frias, etc. Para o objetivo do aproveitamento das energias eolianas os resultados apresentados
em geral não servem. Para se projetar uma instalação eoliana, é indispensável conhecer-se a
curva de variação da intensidade dos ventos durante o ano. Deverá este dado ser
acompanhado de uma descrição da situação topográfica em que foi colocado o aparelho
registrador.”
Uma vez que é permanente a preocupação com o custo da produção da energia, Catullo
justifica que as instalações eólicas possuem mecanismos simples e automáticos, dispensando
pessoal. O fato negativo é o da instabilidade dos ventos, sendo necessárias instalações de
reserva que podem ser obtidas através de baterias de acumulação ou instalações térmicas.
Dessa forma, Catullo Branco manifestava a preocupação em desenvolver projetos que
estivessem inseridos nas condições climatológicas do local, o que também resultaria em menor
custo para a instalação do projeto, para o custo do consumo e resultaria em menores
transformações no meio ambiente.
Artigo publicado na seção "Memória" da newsletter "Fique Ligado" - Ano 2 nº04/2010
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