1 HISTÓRIA DE SANTA CATARINA Prof. Miro I – PERÍODO PRÉ-COLONIAL 1. Pré-História a) b) c) povos coletores do litoral (sambaquis); povos caçadores coletores do interior (habitantes de sítios abertos à margem de rios ou em grutas), conhecidos pelos vestígios que deixaram: inscrições em paredes de pedra, pontas de flecha, machados polidos, etc.; povos coletores agricultores, mais recentes cronologicamente (são os grupos indígenas da época do “descobrimento”): – tupi-guaranis: habitavam o litoral os carijós; – nos vales litorâneos, nas encostas do planalto e no planalto os do grupo Jê ou Xókleng e Kaigang; 2. Reconhecimento de nosso litoral Pontos que correspondem ao litoral catarinense aparecem em mapas desde o início do século XVI (navegadores de vários países): – Juan de La Cosa (piloto do navegador espanhol Alonso Ojeda); – João Dias Solis (denominou baía dos “perdidos” – entre a ilha e o continente) (1515); – Sebastião Caboto (italiano a serviço da Espanha – 1526); – D. Alvar Nuñez Cabeza de Vaca (1541) – recebe do rei espanhol o título de governador de “Santa Catarina”. 3. A denominação de “SANTA CATARINA” a) “Alguns autores atribuem a Sebastião Caboto que fizera a denominação em homenagem à sua esposa Catarina Medrano. Outros querem que tenha sido em homenagem a Santa Catarina de Alexandria, festejada pela Igreja a 25 de novembro”. (PIAZZA, Walter F. e HÜBENER, Laura M. Santa Catarina: História da Gente. Ed. Lunardelli. 4a ed. Fpolis, 1997. p. 23.) b) “ „Em 25 de novembro, no dia de Santa Catarina, (1526) estava pronto o estaleiro e bateuse a quilha da galeota. Em conseqüência da data em que o trabalho teve princípio, foi dado o nome de Santa, não só ao nome do barco, mas , ainda, à Ilha em que os itinerantes se encontravam‟ (carta do espanhol Luiz Ramirez). Sebastião Caboto era casado com Catarina Medrano, mulher de gênio irascível; apesar disso, em sua homenagem e à Santa, batizou com seu nome o barco e a ilha de Meiembipe”. (LUZ, Aujor Ávila da. Santa Catarina: Quatro séculos de História – XVI ao XIX. Florianópolis: Insular. 2000. p. 25.) II – PERÍODO COLONIAL 1. O povoamento europeu de Santa Catarina Os primeiros povoadores europeus de nossas terras foram desterrados, náufragos (como alguns de uma embarcação de João Dias Solis) e sacerdotes. Um povoamento mais organizado deveria iniciar-se com a criação das Capitanias Hereditárias (por D. João III – 1534). Cabe a Pero Lopes de Souza a Capitania de Santo Amaro e as Terras de Sant‟ana; São Vicente, Santo Amaro e Sant‟ana pertenciam a Martim Afonso de Souza e Pero Lopes de Souza, respectivamente (nunca se preocuparam muito com a questão das fronteiras – limites entre SC e SP e depois entre SC e PR => Contestado). A) Povoamento vicentista1 A expansão do povoamento do litoral sul-brasileiro partiu da Capitania de São Vicente em função da ação dos bandeirantes (reconhecimento destas terras) e da política do “uti possidetis” (povoar para garantir a posse) e, ao findar-se o século XVII, já existiam três núcleos básicos de povoamento em território catarinense: Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco (São Francisco do Sul) – 1658: Núcleo fundado por Manoel Lourenço de Andrade através de uma procuração recebida de um herdeiro de Pero Lopes de Souza. Nossa Senhora do Desterro (Florianópolis) – 1672: Núcleo fundado por Francisco Dias Velho. “(...) parece que o que trouxe os Dias Velho para o Sul foi, primeiro, a procura de minas, e depois a decisão de Portugal de fundar uma colônia na margem oriental do grande rio platino. E é a colônia do Sacramento que vai valorizar a posição estratégica da Ilha de Santa Catarina e dar início ao seu povoamento”.2 Santo Antônio dos Anjos da Laguna (Laguna) – 1684: Deve-se a Domingos de Brito Peixoto a fundação deste povoado. A fundação deste povoado, assim como o povoamento 1 Sobre as datas de fundação das diversas vilas existem uma série de controvérsias entre os historiadores. Portanto podem aparecer em outras fontes com datas diferentes. 2 LUZ, Aujor Ávila da. Santa Catarina: Quatro séculos de História – XVI ao XIX. Florianópolis: Insular. 2000. p. 35. 1 2 do litoral do atual Rio Grande do Sul ocorre em virtude da necessidade de apoio à Colônia do Sacramento (fundada em 1680) e de estabelecer ligação entre a costa e as estâncias do interior (avanço para os campos de Viamão). B) E) Criação da Capitania de Santa Catarina Criada por Provisão Régia em 11 de agosto de 1738. Com esta medida Santa Catarina desvincula-se da jurisdição de São Paulo e fica subordinada diretamente aos vice-Reis do Brasil (RJ); Primeiro governante: Brigadeiro José da Silva Paes => construção das fortalezas Anhatomirim, Ratones, São José da Ponta Grossa e Nossa Senhora da Conceição da Barra do Sul; C) Povoamento açoriano-madeirense Invasão espanhola em 1777 Situação dos Açores: a) terremotos; b) excedente populacional; Necessidade de povoar Santa Catarina: “... não bastam fortificações sem haver gente que as guarneça, e juntamente povoe, e cultive as terras...” (Carta de José da Silva Paes a rei português em 1742). Os açorianos se fixaram por todo o litoral catarinense, penetrando também no “Continente do Rio Grande de São Pedro” (atual Rio Grande do Sul). Foram responsáveis pelo surgimento das freguesias de: – Nossa Senhora da Conceição da Lagoa (1750); – São Miguel da Terra Firme (1750); – Nossa Senhora do Rosário de Enseada do Brito (1750); – São José da Terra Firme (1751); – Nossa Senhora das Necessidades e Santo Antônio (1755), entre outras. F) Em 1762 tropas espanholas sob o comando do Governador de Buenos Aires, Cevallos, invadem a Colônia do Sacramento e regiões do atual Rio Grande do Sul; Tratado de Paris – espanhóis devolvem Sacramento, mas permanecem no Rio Grande do Sul; Governo português prepara ofensiva a partir da Ilha de Santa Catarina; Em fevereiro de 1777, antecipando-se aos portugueses, os espanhóis invadem e conquistam a Ilha de Santa Catarina através da enseada de Canasvieiras; Tratado de Santo Ildefonso (1777) – Portugal recebe de volta a Ilha (1778) e fica com grande parte do que hoje é o RS; Espanha fica com Sacramento e Sete Povos das Missões. A pesca da baleia e as armações O interesse era, principalmente, em virtude do óleo destinado à iluminação; A exploração passa a ser feita mediante concessões reais; Heranças culturais: boi-na-vara, o carro-de-bois, a olaria decorativa e utilitária, o bilro, os “pão-por-Deus”, danças, festividades religiosas (Festa do Divino), linguagem, etc. D) A abertura do “Caminho do Sul” e o povoamento do planalto Em 1720, Bartolomeu Paes de Abreu, sertanista, sugeriu ao rei de Portugal a abertura de um caminho que ligasse São Paulo ao atual Rio Grande do Sul. Motivos: a) interesse econômico de abastecer as regiões de mineração com alimento e animal de transporte; b) meio de defesa e apoio à Colônia do Sacramento. Os tropeiros que constantemente, através do “Caminho do Sul”, chegavam aos campos de Viamão estabeleceram “pousos”, locais onde, mais tarde, vão surgir povoamentos como: – Nossa Senhora dos Prazeres “das Lagens” (Lages), fundada pelo tropeiro Antônio Corrêa Pinto, em 1770. Foi mandado construir um caminho que ligasse Laguna a Lages (mais ou menos o traçado da atual estrada do Rio do Rastro); – Curitibanos (1869); – São Joaquim (1886); – Campos Novos (1881); – Mafra (1870), entre outros. Guerra dos Sete Anos (Portugal/Inglaterra X Espanha/França); Durante a União Ibérica (1580-1640) a coroa espanhola concedeu privilégio exclusivo aos seus súditos na pesca da baleia em águas brasileiras; O primeiro núcleo baleeiro em Santa Catarina é estabelecido pelo português Tomé Gomes Moreira (em meados de 1738) e localizava-se no continente fronteiro à ponta norte da Ilha de Santa Catarina, com a denominação de “Armação Grande” ou “Nossa Senhora da Piedade” (atual Armação da Piedade); A pesca da baleia só desapareceu quando o óleo foi sendo substituído, na iluminação, pelo querosene a partir do carvão de pedra, ou, depois, pelo petróleo; A mão-de-obra era formada pelo elemento branco e por um grande número de escravos africanos. III – PERÍODO IMPERIAL O primeiro presidente da agora Província de Santa Catarina foi o Dr. João Antônio Rodrigues de Carvalho (1824-25) seguido pelo Brigadeiro Francisco de Albuquerque Mello (1825-1830); outros presidentes: Miguel de Souza Mello e Alvim; Major Francisco Luis do Livramento; Feliciano Nunes Pires; José Mariano de Albuquerque Cavalcanti. 1o Reinado: Durante este período a ação colonizadora foi vista mais como fins de defesa da terra do que de povoamento; 2 3 – – – houve um movimento migratório espontâneo originário das Ilhas Canárias, principalmente da Ilha Lanzarote, para Santa Catarina, dando origem a Colônia de Nova Ericeira, na enseada das Garoupas (atual Porto Belo); com o objetivo de solucionar o vazio populacional entre o litoral e o planalto, a partir de 1829, colonos europeus foram sendo locados às margens da antiga estrada do Desterro a Lages; São Pedro de Alcântara (1828), a primeira colônia alemã em Santa Catarina, formada com alemães provenientes de Bremen e outros da chamada “Legião Alemã”, soldados mercenários que serviram no Rio de Janeiro. Como diretor da colônia é escolhido Silvestre José dos Passos. Problemas como discórdia entre os colonos a respeito da localização da colônia, atraso do pagamento a que tinham direito, má distribuição de terras, má qualidade das terras, etc., fizeram com que muitos colonos fossem em busca de outras áreas da Província (como a Colônia de Vargem Grande – 1837- fundada durante o período regencial, que também dará origem a localidade de Löffelscheidt); Período Regencial: Giuseppe Garibaldi (comandante das forças de mar) e por Davi Canabarro (comandante das forças de terra). Merece destaque neste movimento a figura de Ana de Jesus Ribeiro (Anita Garibaldi) que se envolveu nas lutas liberais tanto em terras brasileiras quanto em terras italianas, daí ser denominada “Heroína dos dois mundos”. Em 1841 vai para o Uruguai, onde luta junto com Garibaldi em favor da preservação da república uruguaia na chamada “Legião Italiana de Montevideo”. Em 1848 acompanha seu marido na viagem para a Itália, onde irá lutar pelas causas republicanas e de unificação naquelas terras. É mesmo ano que falece. Em março de 1840 desaparece a efêmera República em Santa Catarina. 2o Reinado: É neste período que o processo colonizador do Brasil terá maior impulso. A lei n.º 514, de 1848, determinava: “A cada uma das Províncias do Império ficam concedidas no mesmo, ou em diferentes lugares de seu território, seis léguas em quadra de terras devolutas, as quais serão exclusivamente destinadas à colonização, e não poderão ser arroteadas por braços escravos”. Somado à política imperial problemas sociais e econômicos europeus favoreceram este surto migratório. Caracterizou-se pela aversão ao elemento estrangeiro. Por isso, de maneira geral, foi inexpressiva a imigração neste período. Desenvolvia-se também, na Europa, uma campanha contrária à imigração para o Brasil. – O regente Pe. Diogo Antônio Feijó autorizou Governos Provinciais a fundarem estabelecimentos coloniais por conta própria. É aprovada outra lei que permitiu a colonização por empresa ou companhia nacional ou estrangeira. – Colônia Nova Itália (1836 – atual São João Batista) fundada pela empresa colonizadora “Demaria e Schutel”. Os colonos eram originários, na sua maioria, da Ilha da Sardenha, ora sob domínio espanhol, ora sob domínio francês. Foi localizada às margens do rio Tijucas, no então município de São Miguel. A colônia teve maior desenvolvimento durante o período em que esteve sob a direção do suíço Luc Montandon Boiteux. – Colônia de Itajaí (1835) – lei Provincial n.º 11 permite estabelecer duas colônias compostas de elementos nacionais e estrangeiros no município de Porto Belo. Uma à margem do rio Itajaí-Açu, na localidade de “Pocinho” e outra próxima ao rio Itajaí-Mirim, no lugar chamado “Tabuleiro”. – Colônia de Vargem Grande (1837), às margens do rio dos Bugres e da estrada que ligava o litoral ao planalto. Constituída por colonos alemães provenientes da colônia de São Pedro de Alcântara. Em 1847 cria-se a localidade de Löffelscheidt (atual município de Águas Mornas); Em 1835 estoura a Revolução Farroupilha (1835-1845) na Província de Rio Grande de São Pedro e vai estender-se para a província de Santa Catarina. As idéias liberais propagadas pelos farrapos vai alcançar Santa Catarina através das publicações de Jerônimo Coelho e das atividades da “Sociedade Patriótica”, fundada por ele. Em Lages merece destaque a figura do Pe. João Vicente Fernandes, grande apoiador das idéias liberais. A tomada de Laguna pelos farroupilhas (22 de julho de 1839) e a instauração da República Catarinense (ou República Juliana) deve-se a receptividade quanto aos ideais liberais e ao fato de ser local abastecedor das tropas e por ser um porto de mar à disposição, já que estavam sem saída para o mar no Rio Grande do Sul. A tomada de Laguna foi feita por Colônia Industrial do Saí: em 1840 o médico francês Dr. Joseph Mure conseguiu junto ao governo autorização para criar uma colônia nas terras devolutas da Península do Saí, junto a São Francisco. Em 1841 é assinado um contrato para “o estabelecimento de uma colônia industrial”, com proibição do trabalho escravo. A colônia era organizada segundo as idéias do socialismo utópico de Charle Fourier: criação de um Falanstério, onde os encargos seriam de acordo com a vocação de cada um; o lucro seria dividido entre a população. Sendo uma colônia onde predominavam artesãos e operários especializados faltou-lhe base agrícola para a subsistência e mercado satisfatória para suas habilidades profissionais. Além de ter sido instalada em área de difícil desbravamento. Em 1843 sua população já era mínima. A Sociedade Belgo-Brasileira de Colonização: em 1841 é criada a “Societé Belge-Brasilienne de Colonisation”, idealizada por Charles Van Lede, para o transporte de colonos belgas à Província de Santa Catarina, bem como mineradores de carvão e ferro. A primeira leva de imigrantes belgas chega a Santa Catarina em 1844. Van Lede compra terras devolutas à margem direita do rio Itajaí-Açu, no local denominado Ilhota. Neste período desenvolvem-se também outras colônias, no entanto sem grande desenvolvimento econômico: uma formada por colonos alemães na “Armação da Piedade”; Santa Izabel, junto ao rio Cubatão, que acaba dando origem a outras como Rancho Queimado, Rio Bonito, Serra Chata, Bugres e Ribeirão Schaff. A GRANDE COLONIZAÇÃO: A grande colonização alemã: Alguns fatores colaboraram para a vinda de alemães para o Brasil neste período: a) excedente populacional na região; b) grande concentração de terras nas mãos da aristocracia; c) o absolutismo e d) o mito sobre fabulosas riquezas aqui existentes. Os alemães acabaram encontrando alguns problemas de adaptação e convivência o que acabou por prejudicar a política de imigração do Brasil na Europa, principalmente na a) 3 4 Alemanha. Foi então criada a “Sociedade de Proteção aos Emigrantes Alemães”. Esta associação envia para o Brasil o jovem Hermann Bruno Otto Blumenau para fiscalizara a situação dos alemães aqui instalados (1846). deste passaram a trabalhar por conta própria ou para o empresário Carlos Renaux. b) Colônia de Blumenau (1850): Hermann Blumenau associa-se ao comerciante Fernando Hackradt formando uma companhia colonizadora. Estabelecem a colônia na região banhada pelo rio Itajaí-Açu em 2 de setembro de 1850. Houve um cuidado por parte de Hermann Blumenau ao escolher os colonos, no sentido de haver uma diversificação profissional: havia agrimensor, carpinteiro, merceneiro, charuteiro, funileiro, ferreiros e dois lavradores. Entre os imigrantes ilustres que ingressam posteriormente em Blumenau destaca-se o naturalista Fritz Müller. Por volta de 1859 já era significativo o número de engenhos de farinha, de açúcar, assim como a existência de alambiques, moinhos de milho, serrarias, fábricas de vinagre, de cerveja e olaria. Em 1860 a colônia deixa de ser particular e passa às mãos do governo Imperial, embora Hermann Blumenau permaneça como diretor da mesma. Em 1875 é favorecida com a chegada de imigrantes italianos originários da região do Trentino. Em 1882, quando é eleita a primeira Câmara Municipal (presidente José Henrique Flores Filho) o município contava com, aproximadamente, 16.380 habitantes, 61,5% luteranos. Colônia Dona Francisca: as terras onde se desenvolve esta colônia pertenciam ao dote da princesa Francisca, filha de D. Pedro I, casada com o Príncipe de Joinville, filho de Luiz Felipe, rei da França. Exilados na Inglaterra em virtude da Revolução de 1848 (depôs Luiz Felipe instaurando-se uma república) o casal decide aproveitar economicamente o território. Para este objetivo é assinado contrato com a “Sociedade Colonizadora de Hamburgo”, organizada pelo Senador Christiano Mathias Schroeder. Na colônia proibia-se a mão-de-obra escrava, assegurava-se liberdade de culto e o direito de naturalização após dois anos de residência aos que adquirissem terras na colônia. Os primeiro colonos chegam de Hamburgo em 1851 no navio “Colon”. A maioria era de colonos suíços. No entanto havia também noruegueses com profissões variadas: marceneiros, padeiros, ferreiros e lavradores. O contingente imigratório aumentava constantemente, trazendo uma diversidade étnico-cultural: suíços, noruegueses, alemães, dinamarqueses. O crescimento populacional fez surgir nova frente de colonização com a abertura da estrada em direção ao planalto norte-catarinense (1865), aos campos de São Miguel e ao vale do rio São Bento. Em 1866 Joinville passar a ser município e desliga-se de São Francisco. Colônia Itajaí – Brusque: o primeiro diretor foi o Barão Maximiliano de Schneeburg. Em 1860 chegam os primeiro colonos alemães, que já encontram alguns moradores na região. O nome oficial da colônia era Itajaí, mas a população passou a chamar de Colônia Brusque, em homenagem ao Presidente da Província, Francisco Carlos de Araújo Brusque. Além dos alemães, chegam em 1875, italianos e franceses. Surgem assim variadas profissões: alfaiates, sapateiros, tecelões, carpinteiros, ferreiros, etc. A colônia Brusque acabou incorporando a colônia vizinha “Príncipe D. Pedro”. Em 1881 é criado o município de São Luiz Gonzaga, desmembrado de Itajaí e, a partir de 1890, passa a chamar-se oficialmente de Brusque. A tradição tecelã, já existente desde 1862, ampliou-se com a chegada de tecelões poloneses de língua alemã. Muitos A grande colonização italiana: Em quantidade, a imigração italiana, superou os demais grupos imigratórios. Colaborou para a vinda destes italianos ao Brasil: a) dificuldades econômicas na Itália; b) concentração de terras nas mãos de poucos; c) instabilidade política decorrente do processo de unificação italiana e d) a esperança de enriquecer na América. Em 1874 foi assinado um contrato entre o Governo Imperial e o Comendador Caetano Pinto Júnior. Através deste contrato Caetano Pinto comprometia-se a trazer para o Brasil cem mil imigrantes italianos, num prazo de dez anos. A passagem seria paga pelo governo, teriam liberdade de se estabelecer onde desejassem e o lote seria pago de forma parcelada. As colônias do Vale do Itajaí-açu: em 1875 chegaram a Blumenau quase trinta famílias provenientes da região de Trento, dirigindo-se para a região do vale do Rio dos Cedros, onde se fixaram. Nascia a localidade de Pomeranos Santo Antônio. Outros imigrantes, também de origem trentina, estabeleceram-se na “picada” de Rodeio (1875). Em 1876 surge outra colônia, Ascurra. Apiúna (na encosta da Serra Geral) e Luís Alves (fundada pelo engenheiro Júlio Grothe) fundada em 1877, foram outros exemplos de colônias fundadas pelos italianos. As colônias do vale do Itajaí- mirim e vale do Tijucas: dentro da colônia Itajaí-Brusque foi criado do distrito colonial de Porto Franco que acabou isolando-se em virtude da região montanhosa. A colônia de Nova Trento, fundada em 1875, no vale do rio do Braço desenvolveu-se mais. O Sul Catarinense: preocupado com o escasso povoamento no sul de Santa Catarina o governo Imperial designa comissão para demarcar terras para imigração na região do vale do rio Tubarão e de seus afluentes, o Capivari e Braço do Norte. Em 1877 é fundada a colônia de Azambuja. A partir de então chegam novos colonos dando origem a novas colônias como Pedras Grandes, Treze de Maio, Acioli de Vasconcelos (hoje Cocal) e Criciúma. Contribuição cultural e econômica dos colonos alemães e italianos: Os alemães contribuíram com a introdução de seus hábitos e costumes alimentares: carne defumada, lingüiças e queijos dos mais variados tipos. Na arquitetura as casas típicas alemãs: tijolos à vista, telhado em ângulo agudo, a existência do sótão, cortinas nas janelas e os belos jardins. Na economia a introdução de atividades econômicas tais como: o moinho, serrarias, curtumes, fábricas de ferramentas, cervejarias, laticínios, etc. Além das festas populares, danças e crenças religiosas. Os italianos, localizados geralmente na periferia das sedes das colônias alemãs, acabaram destacando-se na produção agrícola: milho, arroz, uva, amoreira, bicho-da-seda, fumo. O estilo arquitetônico de casas de madeira, sem varanda, altas, com largos porões onde eram guardadas as carretas. Nos locais onde se fabricava o vinho os porões eram usados como adegas. Assim como os alemães, os italianos também muito contribuíram nos costumes, festas e culinária (polenta, macarrão, etc.). c) d) A colonização polonesa: A Polônia passava por inúmeras dificuldades políticas em virtude da constante partilha de seus territórios pelos países vizinhos. Alia-se a isto o regime de trabalho rural, servidão, e a propaganda do governo brasileiro. Em 1869 temos o 4 5 primeiro grupo localizado em Brusque, muitos se transferem, posteriormente, para o Paraná. A partir de 1882, através do contrato firmado com Caetano Pinto, ocorre a fixação de poloneses em várias áreas da Província, geralmente nas áreas periféricas das colônias já existentes. Uma destas colônias é a de Pinheirinho (atual município de Jacinto Machado), no sul catarinense. No entanto, o grande fluxo ocorre em 1889 no que ficou conhecido como “febre brasileira”. Na Província de Santa Catarina vão fixar-se, inicialmente, nos vales do Urussanga, do Tubarão, do Mãe Luzia e do Araranguá; depois nos vales do Itajaí e do Itapocu até chegarem a São Bento e adjacências. Os poloneses que chegam pelo porte de Paranaguá são enviados para a vila de Rio Negro e daí para a colônia de Lucena (atual Itaiópolis). Novos contingentes virão antes e depois da Primeira Guerra Mundial espalhando-se por várias regiões. e) A colonização árabe: Tradicionalmente chamados de “turcos árabes” (principalmente de Sírios) estes imigrantes chegaram ao Brasil a partir da década de 1870, sendo que na década de 1910 eram a quinta força migratória. Eram originários, principalmente, do Líbano e da Síria, e fixaram-se nas áreas portuário-marítimas (São Francisco do Sul, Porto Belo, Tijucas, Florianópolis, Itajaí, Laguna, e regiões de anteportos como Joinville) ou em áreas servidas pelas ferrovias (Blumenau, Jaraguá do Sul, Mafra, Porto União, Caçador, Canoinhas, tubarão, Criciúma, Araranguá), já que suas atividades eram geralmente ligadas ao comércio. O processo imigratório desta gente tem início no período Imperial, mas intensificou-se durante o período Republicano em virtude das duas guerras Mundiais. f) A colonização grega: No ano de 1889 o comandante de navio Savas Nicolau Savas aporta na ilha de Santa Catarina com seus pais e irmãos. É o início da colonização grega, principalmente da Ilha de Kastelorizon. Em 1912 havia, aproximadamente, 30 famílias. Dentre os destaques está o descendente de colonos gregos Jorge Lacerda (governador de Santa Catarina) de sobrenome Lakerdís (abrasileirado para Lacerda). g) Outras colônias do período: Colônia Militar Santa Tereza (1853): necessidade de guarnecer a estrada que ligava Desterro a Lages, face aos constantes ataques indígenas. Localizada nas margens do rio Itajaí do Sul, cerca de dezoito léguas da vila de São José, composta por dezenove praças e seus familiares sob o comando do Major Afonso d‟Albuquerque e Melo. Por ser uma colônia militar e por sua localização geográfica apresentou insignificante crescimento populacional e econômico, no entanto deu relativa segurança aos tropeiros. Foi estabelecido na colônia um posto de cobrança de impostos. Colônia Teresópolis: em 1860 foi instalada às margens do rio do Cedro, afluente do Cubatão. Esta colônia espalhou-se por regiões denominadas de Cubatão, Rio Novo, Cedro, São Miguel, Salto e Capivari. Colônia Nacional de Angelina: o presidente da Província, Francisco Carlos de Araújo Brusque, recebeu autorização de fundar uma colônia cujo objetivo principal era utilizar a mão-de-obra nacional, tendo em vista o excesso populacional das áreas litorâneas, sem posse territorial. Assim, em 1860, foi criada esta colônia, cujo nome é homenagem ao então presidente do Conselho de Ministros, Ângelo Muniz da Silva Ferraz. Foi estabelecida às margens do ribeirão Mundéus e próxima a antiga estrada São José – Lages. O primeiro h) diretor da colônia foi o engenheiro Carlos Othon Schlappal. O destaque econômico da região passou a ser a agricultura. A presença de estrangeiros numa colônia essencialmente nacional deve-se ao fato da proximidade com a colônia Santa Izabel, de origem germânica, da qual alguns se retiraram e se instalaram em Angelina. Campos de Palmas: os Campos de Palmas, no oeste catarinense, surgem em decorrência das novas “frentes pastoris”, isto é, dos movimentos de tropas provenientes no norte (Campos de Guarapuava), do leste (Campos de Lages, Curitibanos e Campos Novos) e do sul (pampa gaúcho). Em 1840 já possuía um número expressivo de fazendas de gado. Apesar de bastante extensa era pouco povoada, o que ocasiona sua marginalização no processo de integração social, econômica e política, aspecto que contribuiu para a chamada Questão do Contestado entre as Províncias de Santa Catarina e Paraná. Colônia militar de Chapecó: foi fundada em 1880 com o objetivo de garantir a posse daquelas terras em virtude das disputas de fronteira com a Argentina. Sua fundação fica ao encargo do Capitão José Bernardino Bormann, que a instala na colina que margeia o rio Xanxerê. Ao contrário da colônia Militar de Santa Tereza, a de Chapecó não foi um mero posto avançado da soberania nacional nem um mero posto militar. Teve importância na missão povoadora daquela região, pois famílias instaladas na periferia foram convidadas a se integraram aquele núcleo militar. Foi aquela colônia militar que forneceu as bases para a expressiva comunidade dos dias atuais. Colônia Grão - Pará: a Princesa Izabel, filha de D. Pedro II, também obteve dote em terras devolutas, ao casar-se com o Conde d‟Eu, Príncipe Gastão de Orleans. Este dote compunha-se de terras na Província de Santa Catarina e Sergipe. Em Santa Catarina as terras correspondiam a uma região do vale do rio Tubarão e alguns de seus tributários, o rio Oratório e Braço do Norte. A colonização desta região ficou ao encargo do engenheiro Charles Mitchel S. Leslie. O relatório sobre a situação das terras e suas possibilidades foi enviado para análise do Comendador Joaquim Caetano Pinto Júnior e de Le Coq de Oliveira, procurador do Comendador Joaquim. Surge então o contrato entre o Conde d‟Eu e o Comendador, que se compromete em trazer 50 famílias de colonos por anos, durante dez anos. O ano de 1882 é o início oficial da Colônia do Grão-Pará, com a chegada de colonos vindos de Gênova. Seu crescimento permitiu à elevação de distrito do município de Tubarão em 1888. Com a proclamação da República e a expulsão da família imperial os Conde d‟Eu venderam estas terras para a Empresa Industrial e Colonizadora do Brasil. Colônia Jaraguá: também teve origem em terras que pertenciam ao casal Conde d‟Eu, na região do vale do rio Itapocu. Foi colonizada por elementos de origem germânica vindos via colônia D. Francisca e por elementos de origem italiana, quer reimigraram dos núcleos da Colônia de Blumenau. A urbanização e industrialização de Santa Catarina: A partir da fundação das colônias de imigrantes a população catarinense cresceu a olhos vistos. O Recenseamento Geral do Império realizado em 1872 apresentou o seguinte dado: a 5 6 Província de Santa Catarina possuía 158.531 habitantes, dos quais 142.166 eram homens livres e 16.347 escravos (era proibida a mão-de-obra escravas nas áreas de colonização). O processo de industrialização de Santa Catarina está intimamente ligado à vinda de imigrantes das regiões européias onde a Revolução Industrial já havia acontecido há mais tempo. Uma das primeiras indústrias a despontar foi a têxtil, em 1880 surge a primeira em Blumenau, iniciada como artesanato familiar pelos irmãos Hering. Posteriormente surgiram outras que deram origem à Cia. Têxtil Karsten e à Empresa Industrial Garcia. A 1 a Guerra Mundial estimulou a industrialização no Brasil e, em Santa Catarina, estimulou principalmente a indústria alimentícia, sendo o pioneiro Heinrich Hemmer, em 1915. A guerra também incentivou a vinda de outros imigrantes que deram origem a novas indústrias: chocolate (Saturno), chapéus (Nelsa), gaitas (Hering), etc. Nesta mesma época instala-se em Brusque uma tecelagem cujo desenvolvimento vai dar origem a Buettner e Cia. (1922). Ainda em Brusque vão surgir, no ramo têxtil as empresas fundadas pelos empresários Carlos Renaux, Gustavo Schlösser e Rodolfo Tietzmann. O processo de industrialização se estende para o norte do Estado. Na colônia D. Francisca (Joinville), graças à capitalização gerada pela comercialização da erva-mate, a indústria também se desenvolve dando origem, por exemplo, a firma Döhler e Cia. Em Desterro, embora fosse uma cidade eminentemente administrativa, vai despontar a figura de Carl Hoepcke, pioneiro da industrialização nesta cidade: Carl Hoepcke e Cia. – 1885 (comércio de importação e exportação), Empresa Nacional de Navegação Hoepcke, Estaleiro Arataca, Fábrica de Pontas Rita Maria, em 1896, (fábrica de pregos), a Fábrica de Gelo e, em 1917, adquire uma fábrica de rendas e bordados (criada por Ricardo Ebel). i) j) 3 Transportes e comunicação: Novamente o desenvolvimento destes setores recebe impulso com a imigração. A necessidade de comunicação entre as diversas colônias e entre os territórios catarinenses se mostra urgente. Temos assim, em 1874, a criação, em Desterro, da Cia. Catarinense de Navegação, com linha regular entre Desterro e Gaspar. Em 1887 foi criada uma empresa de transporte fluvial que atendia a região do vale do Itajaí, servindo principalmente à Colônia de Blumenau. O crescimento deste leva a criação de uma companhia maior, a Sociedade de Navegação Fluvial. Além da via fluvial havia a necessidade de uma via terrestre. Sob o comando do próprio Herman Blumenau abriu-se uma estrada, ao longo do Itajaí-açu, ligando Blumenau ao litoral. A necessidade de escoar os produtos coloniais levou a Sociedade Colonizadora Hanseática, com apoio de bancos alemães, a criar a Estrada de Ferro Santa Catarina S.A. Em 1909 era inaugurado um trecho que ia de Blumenau à estação de Hansa (atual Ibirama). Com a 1 a Guerra Mundial esta estrada de ferro passou à administração do Governo Federal que arrendou ao governo catarinense em 1922. Posteriormente esta estrada de ferro foi estendida até Rio do Sul e Barra do Trombudo e, depois da 2a Guerra, foi concluído o trecho Blumenau – Itajaí, hoje desativado. A escravidão negra: Embora também houvesse escravidão negra em Santa Catarina o número era bastante reduzido se comparado ao total da população. Segundo o censo de 1872 a população escrava representava 8,9% da população, mulatos e caboclos 15% e brancos 70%, aproximadamente. Isto se deve ao próprio estilo de colonização deste Estado, baseado principalmente, na propriedade familiar. “Santa Catarina foi sempre uma Província pobre e por isso de fraca população negra, pois seus senhores não dispunham de bastante dinheiro para comprar os escravos necessários” 3. Mesmo assim temos LUZ, Aujor Ávila da. Santa Catarina: Quatro séculos de História – XVI ao XIX. Florianópolis: Insular. 2000. p. 227. notícias de quilombos na Lagoa da Conceição, na Ilha de Santa Catarina, e outro na Enseada do Brito, no continente. Mesmo sendo reduzido o número de escravos em Santa Catarina desenvolveu-se aqui também um movimento pró-abolição. São exemplos diversos jornais, tais como: “O Argos” (1856), “O Despertador”, “A Regeneração”, “O Abolicionista” – na capital; “A Verdade” – em Laguna; “A União” – em Joinville; “O Democrata” – em São Francisco; “O Lageano” – em Lages. Surgiram também vários clubes abolicionistas, como a “Sociedade Abolicionista do Desterro” (1883), o “Clube Abolicionista”, fundado nos salões do Clube Doze de Agosto. Um dos grandes nomes nesta luta em Santa Catarina foi Manoel Joaquim da Silveira Bittencourt, sapateiro, mais conhecido como o “Artista Bittencourt”. A participação de Santa Catarina na Guerra do Paraguai: Desde o período colonial Santa Catarina era vista como uma fortaleza, um ponto de apoio na defesa dos interesses portugueses no Sul. Sendo assim, com a Guerra do Paraguai, no 1o Reinado, Santa Catarina torna-se importante ponto de apoio. Chegou-se a formar duas Companhias compostas por imigrantes alemães. Santa Catarina participou com 1.500 homens, que foram homenageados com uma coluna erguida no centro da Praça XV de Novembro, em Florianópolis. A mais importante conseqüência da Guerra do Paraguai em Santa Catarina foi no setor de comunicação. Durante a guerra surge o telégrafo elétrico. Em 1867 são feitas as primeiras comunicações entre Desterro e Laguna e depois entre Desterro e Rio Grande do Sul. Em 1872 tem início a construção de um cabo submarino entre a Ilha de Santa Catarina e o litoral do Rio Grande do Sul pela “Brazilian Telegraph Limited”, cuja estação de despachos é inaugurada em Desterro no ano de 1874. A necessidade de fontes combustíveis fez com que o governo autorizasse a criação da “The Tubarão Brazilian Coal Mining Co. Ltda”, de capital inglês, em 1883. O governo Provincial autoriza a construção de uma estrada de ferro na região carbonífera. Surge em Londres a “Dona Tereza Christina Rilway Co.” Em 1881 foi concluído o primeiro trecho Imbituba – Laguna. k) A vida cultural de Santa Catarina no século XIX: A vida cultural na cidade de Desterro ganha mais força com a criação do Teatro Santa Isabel (atualmente Álvaro de Carvalho), em 1857. Nas colônias de língua alemã e italiana também se desenvolve a literatura. Durante o governo de Francisco Luis da Gama Rosa vai haver um incentivo maior à literatura. A partir daí desenvolve-se um forte movimento literário tendo como destaques os nomes de Virgílio Várzea, na prosa, Luiz Delfino dos Santos, Cruz e Souza, Juvêncio de Araújo Figuiredo, Delminda Silveira de Souza e Eduardo Nunes Pires, na poesia. Merece destaque também a pintura de caráter histórico de Victor Meirelles de Lima. O aparecimento da imprensa catarinense deve-se a Jerônimo Francisco Coelho, fundador do primeiro jornal catarinense, “O Catharinense”, editado em Desterro a partir de julho de 1831. O açoriano Francisco Manoel Raposo d‟Almeida é responsável pela criação de outros jornais: “O Cruzeiro do Sul” (1858), “A Estrela” (1861) e “O Mercantil” (1862). Na área de colonização alemã, em Joinville, surgiu um jornal inicialmente manuscrito e depois impresso, graças a colaboração do Dr. Ottokar Doerffel: o “Kolonie-Zeitung” (1864). Circularam também uma série de periódicos. l) IV – O PERÍDO REPUBLICANO 6 7 A) A República Velha ou República Café-com-leite Em Santa Catarina a defesa das idéias republicanas se deu através de jornais: “Voz do Povo” (Desterro), “O Independente” (Tijucas), “A Folha Livre” (Joinville), “BlumenauerZeitung” (Blumenau), entre outros; através de clubes republicanos: “Clube de Camboriú”, “Clube Republicano Federalista” (Joinville), “Clube Republicano Esteves Jr.” (Desterro). Como defensores da República despontam os nomes de Raulino Júlio Adolfo Oto Horn, Gustavo Richard, Esteves Jr., entre outros. Com o recebimento da notícia da Proclamação da República o “Clube Republicano” do Desterro aclamam um triunvirato para assumir provisoriamente o governo catarinense: Raulino Horn, Coronel João Batista de Rego Barros e Dr. Alexandre Marcelino Bayma. A transição se dá de forma pacífica. São Bento do Sul já possuía uma Câmara Municipal totalmente republicana mesmo antes da proclamação da República. Do Rio de Janeiro é enviado o primeiro governador de Santa Catarina (nomeado pelo governo federal), o tenente Lauro Severiano Müller. Escolhido para participar da Assembléia Nacional Constituinte, Lauro Müller passa o governo a Gustavo Richard. Em 1891 Santa Catarina também tem sua primeira Constituição e logo após é eleito o primeiro governador: Lauro Müller - (1891-94): tinha como primeiro e segundo vices, Raulino Horn e Gustavo Richard. Não completou o mandato em virtude da renúncia de Deodoro (apoiou Deodoro e estrepou). Assume o tenente Lopes Rego que transmite o poder a uma Junta Provisória que governa até 1o de março de 1892 quando assume, como emissário do próprio Floriano, o tenente mineiro Manoel Joaquim Machado. Este fica no poder até romper com Floriano em 24/04/1893 – assume o vice Eliseu Guilherme. Hercílio Pedro da Luz - (1894- 98): depois de vencida a Revolução Federalista Desterro passa a chamar-se Florianópolis (em homenagem a Floriano Peixoto). Felipe Schmidt – (1898-1902): preocupação com a melhoria da rede viária estadual, instrução pública e situação financeira do Estado. Foi deputado Federal na Constituinte (1891), duas vezes Senador e reeleito governador. Lauro Müller – (1902-06): não chega a cumprir seu mandato – é convidado a ser Ministro da Viação e Obras Públicas no governo de Rodrigues Alves. O governo fica com Vidal José de Oliveira Ramos. Caracterizou-se pela expansão da rede telegráfica, ligações rodoviárias entre litoral e planalto, harmonia política com a fusão dos partidos Republicano e Federalista. Gustavo Richard – (1906-1910): instala-se em Florianópolis o serviço telefônico, serviço de abastecimento público de água e iluminação pública. Vidal Ramos – (1910-14): ocorre o Contestado, reforma do ensino primário estadual (sob direção do professor paulista Orestes Guimarães – nacionalizar as população de cultura não portuguesa). Felipe Schmidt – (1914-18): acerto dos limites entre PR e SC. É instalada na capital a rede de esgotos, obras rodoviárias nas estradas Brusque – Itajaí e Joinville – São Bento do Sul. Lauro Müller – (1918-22): acaba assumindo Felipe Schmidt (vice) e posteriormente Raulino Horn (Pres. do Legislativo) e em seguida João da Silva Medeiros Filho (Pres. do Tribunal de Justiça). Hercílio Luz – (1922-26): é inaugurada a ponte metálica, então denominada “Ponte da Independência” (atual Ponte Hercílio Luz). Adolfo Konder – (1926-130): melhoria dos portos, inclusão do mate como produto de comercialização organizada, legislação sobre reflorestamento. Fúlvio Aducci – (1930): com menos de um mês de governo é deposto pela Revolução de 30. As agitações da República Oligárquica em Santa Catarina a) b) c) Revolta da Armada: (1893) iniciado no RJ por Custódio de Melo estende-se para SC quando estes, vencidos, unem no Sul aos federalistas, já em revolta no RS. Revolução Federalista: (1893) inicia-se no RS – maragatos (federalistas – Silveira Martins) e pica-paus (centralismo do poder – Júlio de Castilhos). Em SC Hercílio Luz (florianista) é aclamado governador em Blumenau. Os combates entre “federalistas” e “legalistas” se estende em Desterro até que é enviado para cá o coronel paulista Moreira César, “o deus vingador da legalidade” (mais ou menos 185 pessoas serão executadas na ilha de Anhatomirim). Vencida a revolta Moreira César convoca eleições: sai vitorioso, coincidentemente, Hercílio Luz (1894). O Contestado: (1912-1915) Por que Contestado? Porque a revolta vai ocorrer numa região “contestada” entre PR e SC, localizada no planalto meridional entre os rios do Peixe e Peperiguaçu, estendendo-se aos territórios de Curitibanos e Campos Novos. A questão vem de longos tempos. Sem solução parte-se para disputa judicial. O jurista Dr. Manoel da Silva Mafra – o Conselheiro Mafra – é contratado pelo governo de SC. Em 1904, 1909 e 1910 o Supremo Tribunal Federal vai dar ganho de causa a SC, mas os paranaenses não aceitam. Quais as causas? A) Uma grande massa de marginalizados: posseiros e peões, operários da estrada de ferro. B) O messianismo e os “monges”: João Maria de Agostini (italiano), 1844; João Maria, 1894; vários outros até que surge José Maria, exsoldado do exército chamado Miguel Lucena de Boaventura, curandeiro que nada aceitava em troca. José Maria morre na batalha de Irani, contra tropas paranaenses. C) O contrato e a construção da Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande pela Brazil Raiway Co.. Como se deu o fim da revolta? Os caboclos eram atacados ora por forças paranaenses, ora por forças catarinenses. Quando em território “paranaense”, estes diziam que era um plano dos catarinenses de tomas as terras contestadas. Depois de inúmeras derrotas sofridas pelos exércitos estaduais e federais vem a batalha decisiva: os redutos de Santa Maria, São Miguel e São Pedro são destruídos por uma força de 7.000 homens (6.000 soldados e 1.000 vaqueanos, conhecedores da região). “O avião foi usado como ferramenta militar pela primeira vez na América do Sul. O general Setembrino de Carvalho trouxe à região duas aeronaves. Uma caiu. A outra realizou vôos, mas não fez nenhum bombardeio”.4 Para os caboclos que sobreviveram, restou trabalhar nas fazendas dos coronéis. Em 1916 SC e PR fazem um acordo sobre a questão das fronteiras (presidente Venceslau Brás e governador Felipe Schmidt). Dessa forma nascem novos municípios em Santa Catarina: Mafra, Porto União, Cruzeiro (Joaçaba) e Chapecó. A colonização durante a República Oligárquica 4 SUPERINTERESSANTE. A guerra que o Brasil esqueceu. Ed. Abril : São Paulo. Maio de 2000, p. 49. 7 8 – Colônia Lucena – atual município de Itaiópolis, 1891. Colônia de poloneses, foi fundada pelo governo federal em território paranaense, na época (passou para SC depois do “Acordo” de 1916 – depois da Guerra do Contestado). Colônia Nova Veneza – fundada em 1891 através de um acordo entre o governo e a Companhia Metropolitana. Constituída de italianos ocupava extensa área de parte dos atuas municípios de Araranguá, Tubarão, Urussanga e Orleans. Humboldt-Hansa – localizado no vale do rio Itapocu, hoje corresponde ao município de Corupá. Predominantemente alemã. Também poloneses e russos. Hamônia – no vale do Itajaí norte, correspondendo atualmente aos municípios de Ibirama, Presidente Getúlio, Witmarsum e Dona Ema. Também, predominantemente, alemã. Embora tivesse também poloneses e russos. Núcleos coloniais de “Barão do Rio Branco”, “Senador Esteves Júnior” e “Anitápolis”- fundados pelo governo federal através da Diretoria Geral do Serviço de Povoamento. O núcleo colonial “Barão do Rio Branco” (1913) foi fundado no município de Joinville e o “Senador Esteves Júnior” (1910) em Nova Trento. Bom Retiro – povoado por alemães do RS, surgiu em torno da estação férrea do mesmo nome, no local da atual cidade de Joaçaba. Colonização feita pela “Brazil Development and Colonization”, subsidiária da “Brazil Railway Co.” (empresa norte americana, do empresário Percival Farqhar, construtora da estrada de ferro São Paulo – Rio Grande). Da mesma forma surgirão outros núcleos como “Barra Fria”, “Capinzal” e “Videira”. A Primeira Guerra Mundial e sua influência em Santa Catarina O fato de o Brasil ter-se colocado ao lado da Tríplice Entente, contra a Alemanha, criou um clima desagradável com os colonos de origem alemã; Alguns nacionais mais exaltados afirmavam: “Quem nasce no Brasil, ou é brasileiro, ou é traidor”. Atitude de desconfiança tanto por parte dos imigrantes como por parte dos “brasileiros”. B) A revolução de 30 e o fim da República Velha – – – – Representando o contexto nacional, Santa Catarina também estava dividida em dois grupos: o Partido Republicano Catarinense, que apoiava Júlio Prestes (Adolfo Konder, Victor Konder, Marcos Konder, Fúlvio Aducci, Othon da Gama d‟Eça, etc.); e a Aliança Liberal, que apoiava Getúlio Vargas (Nereu Ramos, Gustavo Neves, Francisco Barreiros Filho e Oswaldo Mello). Quando estoura a “Revolução de 30” o governador Fúlvio Aducci mantém-se fiel a Washington Luis – invasão de Santa Catarina por tropas revolucionárias vindas do RS. Sob a liderança do general gaúcho Ptolomeu de Assis Brasil os revoltosos tomam Florianópolis e instala-se um Governo Provisório. No planalto catarinense o grande apoiador da revolta foi o coronel Aristiliano Ramos. Em 1932 Assis Brasil renuncia ao cargo de Governador de Santa Catarina. É nomeado como interventor o Major Rui Zobaram. Os catarinenses que apoiaram a revolução ficam descontentes por mais um interventor gaúcho. O Major acaba sendo substituído por Aristiliano Ramos, catarinense. – – – – Em 1934 surge a AIB (Ação Integralista Brasileira), com maior aceitação nas áreas de colonização européia, não portuguesa. Um dos apoiadores catarinenses foi Othon Gama d‟Eça. Em 1935 a Assembléia Legislativa Estadual escolhe Nereu Ramos como governador de Santa Catarina. Mas já em 1937, em virtude do golpe de Estado dado por Vargas (Estado Novo), Nereu Ramos deixa de ser governador e passa a ser interventor, até 1945. É desta época a criação da “Colônia Santa Teresa”, para hansenianos, e da “Colônia Sant‟Ana”, para doentes mentais. Destaca-se também o processo de nacionalização do ensino, com o fechamento das escolas dos imigrantes. Chegou à presidência da República em 1955, quando era vicepresidente do Senado. Com a queda de Nereu Ramos foi nomeado o catarinense Luis Gallotti, como governo provisório, até 1946. Na seqüência Udo Deeke é nomeado Governador de Santa Catarina entre o período da posse de Dutra e a convocação das eleições estaduais. Entre março e abril de 1945, formaram-se os partidos que disputaram o jogo político até o golpe militar de 1964: Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido Social Democrático (PSD) e a União Democrática Nacional (UDN). Aderbal Ramos da Silva (PSD): (23/03/1947 – 31/01/1951) eleito nas eleições convocadas por Dutra, por várias vezes afasta-se do cargo por questões de saúde. Assume o presidente da Assembléia Legislativa, José Boabaid. Na seqüência, até o Golpe Militar de 64 teremos como governadores: Irineu Bornhausen (UDN+PTB), (31/01/1951 – 31/01/1956) que organiza o primeiro plano governamental de Santa Catarina, o POE (Plano de Obras e Equipamentos), como objetivo de atingir o desenvolvimento através da construção de estradas de rodagem, energia elétrica, agricultura (cria a Secretaria da Agricultura), educação (doação dos terrenos que hoje compõe o Campus da UFSC, na Trindade) e saúde. Em 1955 é criado o Tribunal de Contas do Estado e em 30 de janeiro de 1956, penúltimo dia de seu governo é constituída a Centrais Elétricas de Santa Catarina – CELES. Jorge Lacerda (UDN+PRP – Partido de Representação Popular - + PDC – Partido Democrata Cristão), (31/01/1956 – 16/06/1958) que estimulou o aproveitamento do carvão, estabelecendo as bases da implantação da Usina Termoelétrica do Capivari – Sotelca, hoje Usina Jorge Lacerda. Deu início ao asfaltamento de rodovias estaduais, como a ItajaíBrusque. Faleceu em acidente de avião, juntamente com Nereu Ramos, Leoberto Leal, sendo substituído por Heriberto Hülse, que governa até janeiro de 1961. Depois teremos Celso Ramos, (31/01/1961 – 31/01/1966) eleito através da aliança PSD e PTB. Este criou o PLAMEG (Plano de Metas do Governo) que se dividia em três grandes temas: “O homem”, “O meio” e “Expansão econômica”. Entre suas obras destaca-se a estruturação e funcionamento da UDESC e criação e instalação do Banco do Estado de Santa Catarina, o BESC. Ivo Silveira (PSD+PTB) que, mesmo governando no período em que ocorre o Golpe de 64 permanece no poder (31/01/1966 – 15/03/1971). Apenas seu vice, Francisco Dall‟Igna, ligado a Jango e filiado ao PTB tem seus direitos políticos cassados. Durante seu governo é criado o PLAMEG II, também dividido em quatro pontos: “melhoria dos meios administrativos”, “valorização dos recursos humanos”, “expansão econômica” e “melhoria das condições sociais”. É também implantada a Companhia Telefônica de Santa Catarina, COTESC, posteriormente denominada de TELESC, Telecomunicações de Santa Catarina. 8 9 Depois da extinção dos partidos políticos e o estabelecimento do bipartidarismo através do AI-2 (ARENA – formada basicamente pela antiga UDN, por boa parte de PSD e uns poucos do PTB - e MDB – a maior parte do PTB, um menor grupo do PSD e uns poucos da UDN) e da eleição indireta para governador ocorrem muitas mudanças. É neste novo contexto que será eleito, em 1971, Colombo Machado Salles (ARENA) (15/03/1971 – 15/03/1975) que realizará uma administração técnica baseada no “Programa Catarinense de Desenvolvimento”. Como obra marcante de sua gestão ressalta a construção da segunda ponte ligando a ilha ao continente, ponte que hoje leva seu nome. A este sucede Antônio Carlos Konder Reis (ARENA), que assume de 15/03/1975 a 15/03/1979). Seu lema “Governar é encurtar distâncias” propiciou significativas realizações no campo educacional, rodoviário, tecnológico, energético e agrícola. Ainda indiretamente é eleito Jorge Konder Bornhausen (ARENA), que governa de 15/03/1979 a 15/03/1983. Foi um dos fundadores da ARENA e em 1980 participou da fundação do PDS, rompendo com este partido em 1984 ajuda a criar o PFL. É durante seu governo que ocorre a famosa “Novembrada”, episódio envolvendo o presidente Figueiredo. Consegue fazer seu sucessor, o então secretário dos Transportes, Esperidião Amim Helou Filho (PDS), este por via direta (15/03/1983 – 15/03/1987). Amim disputou a eleição contra o candidato da oposição Jayson Barreto (PMDB), eleição disputadíssima. Foram 838.150 votos para Amim, 825.500 para Jayson Barreto, 6803 para Eurides Mescolloto, do PT, 4.572 para Lígia Doutel de Andrade, do PDT e 2.281 votos para Osmar Cunha, do PTB. Com o fim da Ditadura Militar (1964-1985) temos a eleição de Pedro Ivo Figueiredo de Campos, do PMDB, que representava a oposição à situação dominante na política catarinense durante os anos da ditadura. Pedro Ivo disputou a eleição contra Amílcar Gazaniga, candidato do PDS. Inicia a construção da terceira ligação ilha-continente, obra que não será concluída em seu mandato em virtude de seu falecimento. Assume o vice, Casildo Maldaner que termina a construção da ponte nomeando-a de “Ponte Pedro Ivo Campos”. Depois teremos Wilson Kleinubing (PFL+PPB), que entre outras obras destacou-se pela construção do Museu Nacional do Mar, em São Francisco do Sul. Eleito para o senado entrega o cargo para o vice, Antônio Carlos Konder Reis. Paulo Afonso (PMDB+PFL) elege-se governador vencendo Ângela Amim no segundo turno. Tenta reeleger-se, mas é derrotado por Esperidião Amim (PPB+PFL). Nas eleições, 2002, Amim é derrotado, em 2° turno, por Luiz Henrique da Silveira (PMDB+PSDB+DEM+vários outros partidos). Este é reeleito em 2006 (pela mesma coligação), também em 2º turno. Renuncia ao mandato em 2010 para concorrer a uma vaga no Senado, deixando o governo para o vice, Leonel Pavan (PSDB). BIBLIOGRAFIA CABRAL, Oswaldo Rodrigues. História de Santa Catarina. 4ª edição. Florianópolis: Lunardelli, 1994. COSTA, Luís César Amad e MELLO, Leonel Itaussu A. de. História do Brasil. São Paulo: Scipione. 1999. PHILIPPI, Aderbal João. São Pedro de Alcântara: a primeira colônia alemã em Santa Catarina. Florianópolis: Edição do Autor. 1995. PIAZZA, Walter e HÜBENER, Laura Machado. Santa Catarina: história da gente. Florianópolis: Ed. Lunardelli. 1997. LUZ, Aujor Ávila da. Santa Catarina, quatro séculos de história. Florianópolis: Insular. 2000. VIEIRA Filho, Damo. Santa Catarina 500: terra do Brasil. Florianópolis: A NOTÍCIA, 2001. 9