Entrevista com Joaquim Ferreira
Joaquim Ferreira dos Santos é jornalista e escritor.
Você conheceu Rubem Braga pessoalmente, depois foi leitor de seus livros e agora é curador
desta homenagem ao escritor. Como foi mergulhar no universo fascinante do cronista?
Conheci o Rubem Braga em 1984, na festa de aniversário do psicanalista Hélio Pellegrino. Na
época, eu era repórter do Jornal do Brasil e o escritor Fernando Sabino me apresentou a ele.
Ele estava num canto, sozinho. Perguntei a ele sobre o que achava do aniversariante e ele
disse que ele era um grande maluco. Apenas isso! Rubem Braga era muito fechado, e até o fim
da festa, continuou no mesmo canto. Depois eu me tornei amigo do filho dele e passei a
frequentar a mítica cobertura onde eles moravam em Ipanema. O mergulho na vida dele foi
como mergulhar na vida do seu ídolo, “futucando” a casa dele, falando com os amigos dele e
tentando descobrir novos textos. Eu descobri alguns pouco conhecidos e que estão na mostra.
Eu não sabia, por exemplo, que Rubem Braga desenhava, e ele era ótimo desenhista. Ele
gostava de fazer autocaricaturas e também de amigos, e fazia isso com muita graça. Ele tinha
uma sofisticação visual muito boa. Rubem Braga era também um ótimo fotógrafo.
Você é jornalista e cronista. Rubem Braga teve ou tem alguma influência no seu trabalho?
Ele foi a minha maior influência porque também escrevo crônicas e acho que foi o autor que
eu mais li. Rubem Braga inventou a crônica moderna, com humor, a prosa coloquial, a
valorização das pequenas cenas cotidianas. A crônica “A Borboleta Amarela” é um bom
exemplo. Ele está no centro da cidade e vê uma borboleta amarela, vai acompanhando o
movimento dela e percebe nisso um acontecimento, uma filosofia, uma sabedoria, com muito
humor.
Você acredita que a crônica pode ser a porta de entrada dos jovens para o mundo literário?
A exposição é para isso. Com a ideia de que o Rubem Braga é o texto mais prazeroso dentre os
grandes escritores; porque é fácil, simples e escreve sobre cenas corriqueiras. O jovem, ao ter
contato com todo esse material, vai despertar para uma vida de leitor e querer exercitar a
escrita. Se formarmos um leitor e alguém que goste de exercer a função da escrita, já
cumprimos o nosso objetivo.
Utilizar a crônica em sala de aula pode ser uma maneira de o professor estimular nos alunos
o gosto pela leitura?
É o melhor material didático que existe. São textos curtos de referências, acontecimentos que
o estudante conhece, histórias de rua, de namoros realizados e fracassados, assuntos
próximos do jovem e que não têm aquela pose da alta literatura. O professor pode fazer vários
tipos de exercícios, como pedir que o aluno escreva a partir daquela aula...
Quais são os livros de Rubem Braga que você recomenda?
Recomendo alguns como “Ai de Ti, Copacabana”, “A Traição das Elegantes, e especialmente,
“O Conde e o Passarinho”, cuja crônica do título é bem oportuna para este momento em que
vive o Brasil. É uma crônica mais politizada, mas que não tem discurso. Ela foi publicada em
1936, fala sobre a luta de classes e é muito atual.
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