PANORAMA MUNDIAL DO AGRONEGÓCIO DA MAMONA
Robério Ferreira dos Santos e Joffre Kouri
Embrapa Algodão, [email protected], [email protected].
RESUMO - Tendo como referência os dados publicados pela Food and Agriculture Organization (FAO)
(2006), buscou-se traçar um panorama do agronegócio da mamona em nível mundial. Identificaram-se
os países que apresentam maiores participações na área colhida, produção, importação e exportação
de mamona em baga e na produção, importação e exportação de óleo de mamona. No período
compreendido entre 1978 a 2005 a Índia, a China e o Brasil vêm se mantendo como principais
produtores mundiais de mamona em baga, tanto em termos de área colhida como na quantidade
produzida. Em relação ao óleo de mamona, a Índia, o Brasil e a China são também, em média, os
maiores produtores mundiais de óleo em todo o período considerado. Verificou-se que o mercado
mundial de óleo de mamona atinge cifras significantes em todo o período analisado. De forma geral, o
óleo é consumido em todos os países, sendo o consumo concentrado nos países mais industrializados.
A França é o principal país comprador seguido pela Alemanha, Estados Unidos da América, Japão e
China. Com relação às exportações mundiais de óleo de mamona, verifica-se que a Índia ocupa, desde
o período 1988/1992, a posição de maior exportador mundial.
INTRODUÇÃO
A mamoneira (Ricinus communis L.) é uma oleaginosa de considerável importância econômica
e social, de cujas sementes se extrai um óleo de excelentes propriedades industriais.
A comercialização da mamona pode ser feita tanto na forma bruta e de pouco valor agregado
(mamona em baga),quanto em formas intermediárias (óleo bruto ou refinado) ou através da exploração
de seus derivados de alto valor agregado (ácido graxo destilado de óleo de mamona desidratado, óleo
de mamona hidrogenado, óleo de mamona sulfuricinado, ácido 12-hidróxido esteárico e outros, com
usos diferenciados como poliuretanos, resinas plásticas, etc). No mercado internacional, o óleo é o
principal produto comercializado, constituindo-se em matéria-prima industrial utilizada para obtenção de
inúmeros produtos. De forma geral, o óleo é consumido em todos os países do mundo, sendo contudo
o consumo concentrado nos países mais industrializados. O panorama atual demonstra que a
demanda por óleo não é muito grande, pois o principal consumidor tem sido a indústria química fina
(ricinoquímica) que utiliza este produto para fabricação de nylon 11, poliuretanos, vidros especiais à
prova de bala, lentes de contato, plásticos de elevada resistência, biolubrificantes para reatores, e
outros.
Diante da importância da cultura para a economia de vários países e do considerável
desenvolvimento social que a organização da cadeia produtiva pode proporcionar, objetivou-se neste
trabalho traçar um panorama do agronegócio da mamona em nível mundial.
MATERIAL E MÉTODOS
A partir de dados básicos publicados pela Food and Agriculture Organization (FAO) (2006)
buscou-se traçar um panorama do agronegócio da mamona em nível mundial. Identificaram-se os
países que apresentam maiores participações na área colhida, produção, importação e exportação de
mamona em baga e na produção, importação e exportação de óleo de mamona. Para atender aos
objetivos propostos, foram consideradas as médias qüinqüenais 1978/1982, 1983/1987, 1988/1992,
1993/1997, 1998/2002 e os dados anuais de 2003, 2004 e 2005.
Por haver grandes discrepâncias entre os dados publicados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) (2006) e os publicados pela FAO, referentes a área colhida e produção
de mamona em baga no Brasil nos anos de 2000 e 2002, foram feitos alguns ajustes visando minimizar
possíveis distorções. Portanto, as médias qüinqüenais 1998/2002, no Brasil e mundo, divergem das
médias calculadas a partir dos dados divulgados pela FAO.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período compreendido entre 1978 a 2005 a Índia, a China e o Brasil vêm se mantendo
como principais produtores mundiais de mamona em baga, tanto em termos de área colhida como na
quantidade produzida. A participação desses países na área total mundial no período 1978/1982 foi
em média de 74%, mantendo-se em crescimento até a última safra analisada, quando esta participação
foi da ordem de 91%. No quinqüênio 1978/1982 estes países produziram 65% do total produzido
mundialmente, sendo este percentual crescente no decorrer dos anos e alcançando a escala dos 94%
na safra de 2005 (Tab. 1).
O Brasil teve, em média, a segunda maior área colhida de mamona em baga, em nível
mundial, nos períodos 1978/1982 e 1983/1987, quando respondia por 28% e 24% da área total,
respectivamente. A partir do período 1983/1987 houve um declínio na área colhida no Brasil que
atingiu seu ponto mais baixo no período 1993/1997 (10% da área total). A despeito deste panorama, o
país ocupava a terceira posição em área colhida do mundo. Nos anos 2004 e 2005 observa-se um
incremento na área colhida com a cultura da mamona no Brasil, quando o país respondeu por 14% e
15% da área total colhida mundialmente, respectivamente.
Em termos de produção, o Brasil já ocupou a primeira posição mundial, no período 1978/1982,
quando contribuía com 32% do montante produzido. Todavia, o país perdeu esta posição no período
1983/1987. Nas safras 2004 e 2005, apesar da recuperação observada, o país foi responsável por
apenas 11% e 13% do montante produzido, respectivamente, ocupando a terceira posição.
Dados da safra de 2005 demonstram que no cenário mundial a Índia e a China são os
principais produtores de mamona em baga e respondem por 76% da área colhida e 82% da quantidade
produzida mundialmente (Tab. 1).
Observa-se, na Tabela 1, que em todo o período de análise, o mercado mundial de mamona
em baga mostrou-se muito reduzido, estando restrito a poucos países. Vale ressaltar que em 2004 o
volume de transações realizadas no mercado internacional (exportações) movimentou apenas 24.225
toneladas de mamona em baga, algo que correspondeu a aproximadamente 2% da produção mundial.
Nesta mesma safra, o Paraguai foi o principal país exportador, respondendo por 39% das exportações
mundiais. Observa-se ainda que em 2004 o Brasil importou 9.644 toneladas de mamona em baga
(41% das importações mundiais) sendo grande parte desta proveniente do Paraguai e destinada ao
processamento por indústrias localizadas principalmente no Estado de São Paulo. Em 2004, o
Paraguai exportou 82% de sua produção (Tab. 1).
Na Tabela 2 são apresentados os dados mundiais de produção, importação e exportação de
óleo de mamona. A Índia, o Brasil e a China são também, em média, os maiores produtores mundiais
de óleo em todo o período considerado. A participação conjunta desses países na produção mundial de
óleo foi, em média, no período 1978/1982, de 76%. Esta participação foi aumentando ao longo dos
anos e atingiu em 2003 a escala dos 93% da produção mundial de óleo. No período 1978/1982 o
Brasil ocupou a primeira posição na produção mundial de óleo de mamona, sendo esta perdida para a
Índia a partir do período 1983/1987. No período 1988/1992 a China passou a ser o segundo maior
produtor mundial, posição que foi também ocupada pelo Brasil no período 1983/1987. No ano de 2003
a Índia foi responsável por 51% da produção mundial de óleo de mamona, a China por 35% e o Brasil
por apenas 7%.
Diferentemente do mercado mundial de mamona em baga, o mercado mundial de óleo de
mamona atinge cifras significantes em todo o período analisado. De forma geral, o óleo é consumido
em todos os países, sendo o consumo concentrado nos países mais industrializados. Em 2003, o
volume das importações atingiu 48% do total da produção mundial de óleo, sendo a França o principal
país comprador seguido pela Alemanha, Estados Unidos da América, Japão e China que, juntos, foram
responsáveis por 61% das importações mundiais (Tab. 2). Em 2004 esses países mantiveram a
posição de maiores compradores de óleo (63% das importações mundiais). Ressalta-se ainda que em
2004 houve um aumento de, aproximadamente, 31% nas importações mundiais. As importações
brasileiras de óleo de mamona foram muito pequenas no período analisado, correspondendo, em 2004,
a apenas 0,5% das importações mundiais. Em alguns momentos específicos, houve importação de
óleo em maior quantidade em regime de draw-back e esta matéria-prima foi utilizada para
processamento na indústria nacional visando atender aos contratos externos para fornecimento de
derivados.
Com relação às exportações mundiais de óleo de mamona, verifica-se que a Índia ocupa,
desde o período 1988/1992, a posição de maior exportador mundial. Em 2004, esse país foi
responsável por 85% do total das transações realizadas no mercado internacional. O Brasil, que já foi,
em média, o maior exportador mundial de óleo nos períodos de 1978/1982 e 1983/1987, reduziu
significativamente a comercialização de óleo no decorrer dos anos, chegando em 2004 a contribuir com
apenas 0,3% das exportações mundiais. Atualmente, o principal produto exportado pelo Brasil é o óleo
de mamona hidrogenado e não mais o óleo bruto ou refinado, como verificado em safras anteriores.
Destaca-se ainda, na Tabela 2, a crescente participação dos Países Baixos no mercado
mundial de óleo de mamona. Em 2004, esses Países importaram, em regime de draw-back, 29 mil
toneladas (aproximadamente 10% das importações mundiais) e exportaram 21,5 mil toneladas
(aproximadamente 8% das exportações mundiais).
CONCLUSÕES
Preconiza-se que a mamona será uma das mais importantes matérias-prima que poderá ser
utilizada para compor a tecnologia da matriz energética deste século. Além disso a exploração da
mamona pode representar um mecanismo de proteção ambiental, em uma época em que se prevê a
escassez natural das reservas de petróleo e o agravamento do efeito estufa pela emissão de CO2.
A mamona, uma das fontes renováveis para produção de energia, poderá se tornar o suporte
de projetos para Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), envolvendo a fixação de carbono ou a
redução de sua emissão e de outros gases poluentes considerados como fontes do aumento da
temperatura do planeta. Diante desse cenário, a perspectiva é de que, no futuro, deverá haver grande
ampliação da produção de mamona em nível mundial.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Disponível em: http://www.fao.0rg/.
Acesso em: 30 jun. 2006.
IBGE. Produção Agrícola Municipal. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/. Acesso em: 30 jun.
2006.
Tabela 1. Área colhida, produção, importação e exportação de mamona em baga nos principais países,
qüinqüênios 1978/1982 a 1998/2002 e anos 2003, 2004 e 2005.
Principais países
e total mundial
1978/1982
Área (ha)
Índia
504.520
China
196.000
Brasil*
414.967
Étiópia
11.600
Paraguay
21.240
Mundo*
1.506.707
Produção (t)
Índia
163.140
China
123.892
Brasil*
281.376
Etiópia
11.600
Paraguai
20.580
Mundo*
875.367
Importação (t)
Alemanha
25.883
Brasil
10.286
Tailândia
7
Japão1
29.567
Mundo
82.474
Exportação (t)
Paraguai
17.640
Índia
15
Paquistão
9.200
China
14.800
Mundo
82.140
Fonte: FAO (2006).
1
Incluído por ter sido, em média,
importador no período 1988/1992.
(- ) Dados não disponíveis.
(*) Dados corrigidos.
Médias qüinqüenais
1983/1987 1988/1992 1993/1997 1998/2002
2003
Anos
2004
2005
597.540
235.400
379.809
12.000
22.260
1.571.695
703.000
267.000
247.473
13.040
16.958
1.484.514
726.880
769.120
222.400
333.600
119.361
133.880
13.900
14.500
11.587
8.890
1.218.902 1.366.497
625.000 650.000 800.000
280.000 270.000 270.000
130.230 165.430 214.751
14.500
14.500
14.500
8.000
11.000
10.000
1.162.735 1.216.035 1.409.793
321.600
238.000
235.960
12.000
23.572
1.008.113
569.760
292.000
130.546
13.040
18.961
1.149.896
798.160
712.780
216.000
334.600
53.833
67.758
14.060
15.100
15.972
11.439
1.162.820 1.366.497
580.000 804.000 870.000
400.000 275.000 268.000
86.888 149.099 176.763
15.000
15.000
15.000
10.000
13.000
11.500
1.144.318 1.311.679 1.393.812
36.062
33.047
2.216
38.080
125.682
32.187
23.077
18.401
27.497
112.535
23.094
4.550
13.515
2.986
45.242
15.592
914
6.227
6
23.993
6.000
9.332
2.395
0
20.076
53
9.644
8.009
2
23.397
-
15.272
7
7.983
81.157
126.895
14.631
0
4.752
85.487
116.943
2.622
21.040
3.410
16.088
45.797
1.137
12.625
1.056
154
17.079
8.803
1.917
885
49
13.930
9.456
1.339
6.620
56
24.225
-
o principal importador nos períodos de 1978/1982 e 1983/1987 e o segundo maior
Tabela 2. Produção, importação e exportação de óleo de mamona nos principais países, qüinqüênios
1978/1982 a 1998/2002 e anos de 2003 e 2004.
Principais países e total
mundial
Produção (t)
Índia
China
Brasil*
Mundo*
Importação (t)
França
EUA
Alemanha
China
Países Baixos
Japão
Brasil
Mundo
1978/1982
Médias qüinqüenais
1983/1987 1988/1992 1993/1997
1998/2002
Anos
2003
2004
82.800
45.360
136.880
348.334
125.800
64.130
106.660
401.955
178.000
85.637
73.460
427.740
278.200
84.185
28.180
440.515
267.200
141.432
32.120
477.634
247.500
169.715
34.500
483.189
-
39.379
42.688
15.949
409
2.596
5.708
0
187.581
44.783
37.306
9.949
476
2.870
3.523
10
170.505
45.990
34.157
15.495
1.326
6.074
6.933
1.825
177.218
50.942
41.738
22.180
22.076
7.106
19.390
23.684
251.454
57.355
42.725
31.556
25.917
15.774
19.161
2.815
260.090
41.764
26.702
35.395
14.800
18.535
22.805
150
231.226
48.707
40.669
38.476
43.600
29.000
21.051
1.456
303.234
Exportação (t)
Índia
Brasil
Países Baixos
Alemanha
Mundo
Fonte: FAO (2006).
(- ) Dados não disponíveis.
(*) Dados corrigidos.
49.600
112.331
1.354
3.661
188.808
64.900
76.210
1.437
4.459
177.158
88.840
42.314
2.165
5.792
174.103
192.694
6.394
5.742
5.446
228.898
202.525
10.496
8.013
6.445
239.592
136.509
1.980
17.005
6.987
175.165
239.218
824
21.492
5.512
281.528
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