Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 ESTUDO DAS CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS E DE DURABILIDADE DO CONCRETO COM BORRACHA Ruy José Aun Faculdade de Engenharia Civil CEATEC [email protected] Resumo: Devido à grande demanda no mercado de materiais recicláveis em prol do meio ambiente, alunos e cientistas gradativamente pesquisam à respeito do uso de fibras de borracha para participarem na composição do concreto armado. Grande parte das fibras de borracha é proveniente de pneus gastos de veículos de rodagem. Como a borracha dos pneus seria inutilizada, pesquisadores adicionaram-na no concreto convencional e iniciaram uma série de testes de resistência desse novo concreto. A borracha no concreto pode alterar suas características de resistência, limitando o seu uso em outros tipos de estruturas. O objetivo do projeto é conduzir essa borracha no concreto de maneira que possa ser utilizado em estruturas de grande porte. Palavras-chave: concreto, borracha, resistência, pneus. Área do Conhecimento: Engenharias – Engenharia Civil – Construção Civil – CNPq. 1. INTRODUÇÃO Com a publicação no Diário Oficial da Resolução no 258, de 26 de agosto de 1999 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) ficou regulamentado que, a indústria fabricante de pneus é obrigada a dar destinação final ambientalmente correta aos pneumáticos inservíveis. É considerado pneu ou pneumático todo artefato inflável, constituído basicamente por borracha e materiais de reforço utilizado para rodagem em veículos, e inservível aquele que não mais se presta a processo de reforma que permite condição adicional. A Resolução 416 de 30 de setembro de 2009 mudou a proporção da destinação final que as indústrias de pneus devem dar aos seus produtos inservíveis, mas continua firme no propósito de preservar a natureza. Os pneus inservíveis estão sendo descartados na natureza indiscriminadamente. Por esse motivo, busca-se dar uma destinação mais nobre a esse ma- Ana Elisabete Paganelli Guimarães de Ávila Jacintho Tecnologia do ambiente construído CEATEC [email protected] terial, e uma de suas utilizações é a confecção de concreto com borracha para uso em diversas frentes de construção, inclusive no concreto armado. Neste trabalho pretendeu-se estudar a influência da granulometria da borracha em propriedades do concreto fresco e endurecido, bem como em propriedades de resistências mecânicas e de durabilidade do concreto. Nessa pesquisa, foram realizados seis tipos de ensaios, referentes à resistência do concreto com adição de borracha. Ensaio de resistência à compressão simples, ensaio de resistência à compressão diametral, ensaio de módulo de elasticidade, ensaio de tenacidade, ensaio de resistência à tração na flexão e ensaio de resistência a impacto. Na figura 1, é mostrado o equipamento da PUCCampinas que realiza ensaios de resistência à compressão simples e à compressão diametral. Já na figura 2, é apresentado o equipamento que realiza ensaios de módulo de elasticidade, tenacidade e resistência a tração na flexão. E na figura 3 temos o equipamento que realiza ensaios de resistência a impacto. Figura 1 – Prensa Hidráulica para ensaios de resistências Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 uma estrutura de concreto é fundamental que ela atenda às exigências mecânicas e que tenha uma vida útil adequada. Desta forma, a durabilidade dos materiais constituintes de uma estrutura é um aspecto tão importante quanto a sua resistência. Essa preocupação torna-se ainda mais forte quando se utilizam materiais alternativos na composição do concreto, principalmente resíduos, sendo de suma importância o estudo a respeito das propriedades que afetam a durabilidade e da sua suscetibilidade aos agentes agressivos, bem como as eventuais formas de neutralizar ou minorar os fenômenos de degradação. 3. MATERIAIS E MÉTODOS Para que os ensaios fossem realizados, foram utilizados os seguintes materiais para produção do concreto. Figura 2 – Prensa Hidráulica com controle de deslocamento - cimento: tipo CP-V Alta Resistência Inicial Plus - água: da rede de abastecimento da cidade de Campinas - areia: tipo quartzosa; - pó de pedra; - brita: tipo basalto; - borracha: de pneu inservível triturada; Durante a pesquisa, foram realizadas três concretagens, sendo a primeira para a formação de um concreto referencial, a segunda para a formação de um concreto com adição de 15% de borracha e uma terceira para a formação de um concreto com 20% de adição de borracha. Figura 3 – Equipamento para ensaio de impacto 2. DURABILIDADE DO CONCRETO COM BORRACHA Para verificar a viabilidade de uso dos concretos com partículas de borracha, foram realizados ensaios que permitissem caracterizar sua durabilidade. Sabe-se que, para obter um bom desempenho de Foram utilizados 18 moldes de 10x20cm referentes a ensaios de compressão simples (6 un.), compressão diametral (6 un.) e módulo de elasticidade (6 un.). Para moldagem de corpos de prova de ensaios de tração na flexão, foram utilizados 6 moldes de 15x15x50cm. Para ensaios de tenacidade, foram utilizados 6 moldes de 10x10x40cm e para ensaios de impacto, foram utilizados 6 moldes de 25x35x5cm. Todas as moldagens citadas são referentes à uma concretagem. Para a fabricação das três concretagens, foram utilizados os traços das tabelas 1, 2 e 3. Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 Tabela 1 - Traço do concreto Referência Materiais M.C.C. (kg/m³) `Betonada (kg) Cimento 300 64,5 Areia 432 92,88 Pó de pedra 432 92,88 Brita 1 742 159,53 Água 240 51,6 Borracha - - za a determinação da resistência à tração na flexão em corpos-de-prova prismáticos. Os resultados da caracterização com relação à granulometria dos agregados (borracha, areia e brita são mostrados nas figuras 4, 5 e 6). Tabela 2 - Traço do concreto com 15% de borracha Materiais M.C.C. (kg/m³) `Betonada (kg) Cimento 300 64,5 Areia 432 92,88 Pó de pedra 432 92,88 Brita 1 742 159,53 Água 240 51,6 Borracha 45 9,68 Figura 4 – Curva Granulométrica da Borracha Tabela 3 - Traço do concreto com 20% de borracha Materiais M.C.C. (kg/m³) `Betonada (kg) Cimento 300 64,5 Areia 432 92,88 Pó de pedra 432 92,88 Brita 1 742 159,53 Água 240 51,6 Borracha 60 12,9 Também foram estudadas algumas normas da ABNT relacionadas à construção civil, a fim de aprimorar o conhecimento sobre o tema. Até o momento foram estudadas as normas NBR5738 que normatiza o procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova, NBR5739 que normatiza o ensaio de compressão de corpos-de-prova cilíndricos de concreto, NBR7222 que normatiza a determinação da resistência à tração por compressão diametral de corpos-de-prova cilíndricos, NBR12142 que normati- Figura 5 – Curva Granulométrica da Areia Figura 6 – Curva Granulométrica da Brita Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 As características físicas (massa específica e peso unitário) dos materiais borracha, areia e brita podem ser vistas na tabela 4. Tabela 4 - Características dos materiais Massa Específi- Peso Unitáca rio Material 3 (g/cm ) (Kg/L) Borracha 1,45 0,40 Areia 2,62 1,51 Brita 2,95 1,59 ga aplicada horizontalmente até o momento de sua ruptura. Para ensaios de módulo de elasticidade, o corpo-deprova de 10x20cm era submetido a uma carga aplicada vertical, e hastes sensoriais presas nas laterais do mesmo coletava o quanto o corpo-de-prova se deformava. A figura 8 mostra como o ensaio foi realizado. Logo após a moldagem, os corpos-de-prova foram submetidos a repouso de 24 horas. Terminando esse repouso, os corpos-de-prova foram desmoldados e colocados à cura em água na câmara fria. Os corpos-de-prova somente eram tirados da cura um dia antes de realizar o ensaio, para que toda água absorvida pelo concreto pudesse evaporar, e com isso, obter resultados mais precisos. 4. PROCEDIMENTOS DOS ENSAIOS Os ensaios dos corpos-de-prova foram realizados com sete dias e 28 dias de idade. Para ensaios de resistência a compressão simples, foram utilizados corpos-de-prova de 10x20cm e colocados na vertical sobre a prensa. O corpo-deprova era submetido a uma força aplicada verticalmente até o momento de sua ruptura, como mostra a figura 7. Figura 7 – Ensaio de Compressão Simples Para ensaios de resistência a compressão diametral, também foram utilizados corpos-de-prova de 10x20cm, e colocados na posição horizontal sobre a prensa. O corpo-de-prova era submetido a uma car- Figura 8 – Ensaio de Módulo de Elasticidade Para os ensaios de tenacidade, foram utilizados corpos-de-prova de 10x10x40cm. O ensaio de tenacidade mede a capacidade de absorver carga mesmo sofrendo deformações, ou seja, com este parâmetro importante podemos quantificar a influência do tipo de fibra e dosagem no comportamento estrutural do compósito com fibras. A figura 9 mostra como é realizado o ensaio. Figura 9 – Ensaio de Tenacidade Para os ensaios de resistência a tração na flexão, foram utilizados corpos-de-prova de 15x15x50cm. O corpo-de-prova é apoiado em duas extremidades e submetido a uma carga em dois pontos equidistantes dos apoios, como mostra a figura 10. Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 Figura 10 – Ensaio de tração na flexão Para os ensaios de impacto, foram utilizados corposde-prova de 25x35x5cm. O corpo-de-prova é submetido a uma ou mais cargas em queda livre, até o mesmo se romper ou fissurar. A figura 11 mostra corpos-de-prova fissurados após os ensaios. Gráfico 2 – Compressão Diametral Figura 11 – Corpos-de-prova fissurados 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES Com a coleta dos dados, podemos observar nos gráficos 1, 2, 3, 4, 5 e 6 os resultados dos ensaios a resistência a compressão simples, compressão diametral, módulo de elasticidade, tenacidade, tração na flexão e impacto, respectivamente. Gráfico 3 – Módulo de elasticidade 25000 Força (N) 20000 7dias-ref 28dias-ref 7dias-15% 28dias-15% 7dias-20% 28dias-20% 15000 10000 5000 0 0,0 0,5 1,0 Deslocamento (mm) Gráfico 1 – Compressão Axial Gráfico 4 – Tenacidade 1,5 Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 REFERÊNCIAS AMERICAN STANDARD OF TESTING MATERIALS C 1399-07, Test Method for Obtaining Average Residual-Strength of FiberReinforced Concrete, 1998. Associação Brasileira de Normas Técnicas (1994). NBR7222 – Argamassa e concreto – Determinação da resistência à tração por compressão diametral de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro. 3p. Gráfico 5 – Tração na Flexão Associação Brasileira de Normas Técnicas (1994). NBR5739 – Ensaio de compressão de corpos-de-prova cilíndricos de concreto. Rio de Janeiro. 4p. Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003). NBR5738 – Concreto – Procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova. Rio de Janeiro. 6p. Associação Brasileira de Normas Técnicas (1991). NBR12142 – Concreto – Determinação da resistência à tração na flexão em corpos-deprova prismáticos – método de ensaio. Rio de Janeiro. 3p. Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003). NBR 8522 – Concreto: Determinação dos módulos estáticos de elasticidade e de deformação e da curva tensão-deformação. Rio de Janeiro. 9p. Gráfico 6 – Impacto 6. CONCLUSÕES De acordo com os resultados analisados durante o período de pesquisa, pode-se dizer que a adição de borracha no concreto convencional interfere diretamente em sua resistência, fazendo com que o mesmo diminua. Analisando os dados dos ensaios de tenacidade, especificamente, podemos observar que com a adição de borracha no concreto com idade de 28 dias, o mesmo se tornou mais tenaz. Ou seja, sua superfície se tornou mais aderente. AGRADECIMENTOS À FAPESP pela concessão de auxílio regular à pesquisa através do processo 2010/18044-6, e pela bolsa de iniciação científica através do processo 2011/17950-6. Aos técnicos do Laboratório de Materiais de Construção e Estruturas da PUC-Campinas. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Dispõe sobre a disposição ambientalmente correta de pneus inservíveis. Resolução nº 258, de 23 de agosto de 1999. Diário Oficial (da República Federativa do Brasil), Brasília, 03 de dezembro de 1999. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Dispõe sobre a preservação à degradação ambiental causada por pneus inservíveis e sua destinação ambientalmente adequada, e dá outras providências. Resolução nº 416, de 30 de setembro de 2009. Diário Oficial (da República Federativa do Brasil), Brasília, 01 de outubro de 2009.