Artigo de Pesquisa
Propriedades flexurais de pinos
diretos metálico e não - metálicos
Daniel Tozatti Mazzoccato*, Ronaldo Hirata**, Luiz Antônio G. Pires***,
Eduardo Mota****, Lourenço Farias de Moraes*****, Sandra Tozatti Mazzoccato******
Resumo
Com a evolução dos materiais restauradores, novas técnicas que buscam preservar ao máximo a estrutura dentária remanescente de dentes
tratados endodonticamente vêm
surgindo. O objetivo deste trabalho
foi comparar e medir a resistência
à flexão entre pinos pré-fabricados
direto metálicos (aço inoxidável) e
não metálicos (4 marcas comerciais
de pinos de fibra de vidro, 1 de fibra
de carbono e 1 marca de fibra de
quartzo). Estes pinos foram testados
em uma máquina de ensaio universal Pantec 500 (Panambra) de acordo com as especificações da ISO 178
para testes transversais de três pontos. Baseado na análise estatística
aplicada aos dados obtidos ao final
do estudo concluiu-se que: todos os
grupos tiveram valores médios do
módulo flexural superiores ao módulo da dentina relatado na literatura;
os pinos poliméricos reforçados por
fibras obtiveram resistência máxima
flexural superior ao pino metálico e
não houve diferenças significativas
entre os grupos em relação ao módulo flexural.
Palavras-chave: Palavras-chave: Pinos intra-radiculares. Módulo de elasticidade. Fibra de vidro. Fibra de carbono. Resistência flexural.
* Especialista em Dentística Restauradora pela Universidade Federal do Paraná -UFPR- Curitiba, PR.
** Mestre em Materiais Dentários pela Pontifícia Universidade Católica - PUC -Porto Alegre, RS;
doutorando em Dentística Restauradora pela UERJ, Rio de Janeiro, RJ.
*** Mestre em Prótese Dentária pela ULBRA, Canoas, RS; professor da disciplina de Materiais Dentários I e II
da ULBRA, campus Canoas, RS.
**** Mestre em Materiais Dentários pela Pontifícia Universidade Católica - PUC -Porto Alegre, RS;
professor da disciplina de Materiais Dentários I da ULBRA, campus Canoas, RS.
*****Cirurgião-dentista.
****** Aluna do curso de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, Porto Alegre, RS.
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R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 3, p. 000-000, jul./ago./set. 2006
Daniel Tozatti Mazzoccato, Ronaldo Hirata, Luiz Antônio G. Pires, Eduardo Mota, Lourenço Farias de Moraes, Sandra Tozatti Mazzoccato
Introdução
tanto, essa técnica de reconstrução apresen-
A restauração de dentes tratados endo-
tava alguns problemas como à dificuldade
donticamente ainda representa um desafio
para a remoção do pino, caso seja necessá-
à odontologia moderna. Esses dentes nor-
rio uma nova intervenção no canal radicu-
malmente são mais frágeis pela perda de es-
lar, a necessidade de um aporte laboratorial
trutura por lesão cariosa, preparo cavitário e
para sua confecção e a corrosão na interface
desvitalização pulpar. Isso favorece a desidra-
pino/paredes dentinárias7,17. Outra desvanta-
tação da dentina e conseqüentemente causa
gem é o elevado módulo de elasticidade que
perda de elasticidade tornando-os mais sus-
proporciona a concentração de tensões e a
cetíveis a fraturas .
transmissão das forças diretamente à estru-
3
Em um dente hígido, a distribuição das
forças oclusais ocorre de forma harmônica
tura radicular piorando o prognóstico da restauração3,7,15,17.
pela coroa, estrutura radicular e tecidos de
Com o passar dos anos surgiram técnicas
suporte dos dentes. As modificações estru-
diferenciadas que utilizam pinos pré-fabri-
turais pelo tratamento endodôntico, bem
cados que substituem os núcleos metálicos
como as forças laterais, podem levar a con-
fundidos convencionais. Através deles foi
centrações de tensões em um determinado
possível à racionalização de passos clínicos,
local da estrutura dentária podendo levar à
diminuição de custos, visto que este siste-
fratura radicular ou corono-radicular .
ma é de utilização imediata, não necessitan-
16
Dessa forma, o uso de retentores intra-
do de etapa laboratorial para sua confecção.
radiculares é recomendado para restaurar a
Também, com o uso dessa técnica é possível
estética e função de dentes tratados endo-
preservar a estrutura dental remanescente
donticamente. Um aspecto importante é que
através da confecção de um núcleo em resina
o uso de pinos intracanais deve ser indicado,
composta20.
quando existe a necessidade de confecção
A introdução no mercado de pinos pré-
de um núcleo que irá reter uma coroa proté-
fabricados reforçados por fibras determinou
tica visando o restabelecimento do sistema
uma mudança importante na reconstituição
estomatognático6. Outros fatores devem ser
coroa-raiz. A partir disso, buscou-se um ma-
observados antes da colocação de um pino
terial que se aproximasse, do ponto de vista
intra-radicular: a qualidade do tratamento
mecânico, às características do tecido dental
endodôntico, a presença de patologias no
perdido com a inclusão de fibras de carbono
ápice radicular, pois a necessidade de retra-
em uma matriz resinosa7.
tamento leva a uma delicada conduta clínica;
Dessa maneira, esse novo sistema de pinos pré-fabricado trouxe grandes avanços,
a remoção de pinos intracanais .
5
O processo de fundição dos metais pos-
principalmente nas propriedades mecânicas,
sibilitou um grande avanço na odontologia.
como a elevada resistência à flexão e o mó-
Durante vários anos, a restauração de dentes
dulo flexural próximo à estrutura dental. Ou-
desvitalizados com extensa perda coronária
tros aspectos importantes como volume, dis-
tinha como única alternativa para reter uma
posição e saturação da matriz resinosa pelas
coroa os núcleos metálicos fundidos . Entre-
fibras, a perfeita união através dos agentes
7
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Propriedades flexurais de pinos diretos metálico e não - metálicos
de ligação entre as fibras e a matriz e a den-
rados com esse sistema de pinos sendo pro-
sidade de acondicionamento dessas fibras
missor o seu uso em próteses parciais fixas
irão interferir no desempenho desses pinos
posteriores. Isso pelo fato de que os pinos
em testes laboratoriais e conseqüentemente
de fibra de vidro apresentaram resultados de
na prática clínica8,15. Outra vantagem dos pi-
módulo flexural inferior, quando comparados
nos à base de fibras é a facilidade de remoção
aos pinos de fibra de carbono/grafite e tam-
através de instrumentos rotatórios, facilitan-
bém muito próximos da dentina15,17.
do o acesso ao canal radicular em situações
Nos estudos de Maccari e colaboradores,
de retratamentos ou de fraturas, o que torna
os dentes restaurados com pinos de fibra de
esse procedimento simplificado .
vidro (Fibrekor Post, Jeneric/Pentron, USA)
17
Nos estudos de resistência flexural e mi-
tiveram os maiores valores de resistência
croscopia eletrônica, Drummond concluiu
em testes laboratoriais. Outra característi-
que os pinos FiberKor post (Jeneric/Pentron,
ca confirmada pelos testes é que esses pinos
USA) tiveram desempenho mecânico 3 vezes
apresentam um baixo módulo de elasticida-
superior que as barras FiberKor bars (Jene-
de, dessa forma quando incide uma carga so-
ric/Pentron, USA) . Nesses dois produtos, a
bre a estrutura radicular o estresse é minimi-
microestrutura e a técnica de processamen-
zado e também ocorre uma melhor absorção
to foram diferentes. Nas barras (fabricação
das tensões entre pino e raiz. Isso poderá ex-
manual) as fibras foram levemente saturadas
plicar a ausência de raízes e pinos fraturados
com partículas de resina reforçada, enquanto
nos testes17.
8
que, nos pinos existiu uma saturação maior,
Dentro desse panorama, e pelas inúmeras
ou seja, ocorre uma maior penetração da ma-
dúvidas que persistem em relação à restau-
triz resinosa nas fibras dos pinos. Outros fa-
ração de dentes tratados endodonticamente,
tores que devem ser levados em considera-
este trabalho tem como proposta determinar
ção, segundo o autor, para que isso ocorresse
e comparar a resistência flexural e o módulo
é que a resistência de flexão esta vinculada a
flexural de pinos diretos intra-radiculares.
proporção comprimento/diâmetro, carga e o
MATERIAIS E MÉTODO
ambiente de teste8.
O avanço das pesquisas ocasionou o sur-
Foram utilizados nesta pesquisa 6 marcas
gimento de um pino pré-fabricado que apre-
comerciais de pinos pré-fabricados diretos:
sentava fibra de vidro e/ou fibra de quartzo
U. M. Aestheti Plus (Bisco,USA), Reforpost
na sua composição. A introdução desse tipo
(Angelus,Br), Postec (Ivoclar/Vivadent, Lie), Fi-
de fibra na matriz resinosa resultou em um
brekor Post (Pentron, USA), Luscent Anchors
pino com características estéticas, pois se
(Dentatus, USA), Classic (Dentatus,USA). Seus
apresentam na cor branca ou translúcida po-
respectivos grupos, fabricantes, composi-
dendo ser utilizado em regiões que requerem
ções, diâmetros e número de amostras estão
uma maior demanda estética .
apresentados na tabela 1.
15
32
Do ponto de vista mecânico esse tipo
Foi confeccionada uma matriz metálica
de fibra melhorou a resistência à fratura de
retangular com dimensões de 12,3 x 5,6 x
dentes tratados endodonticamente e restau-
2,7 cm sendo a sua base plana e na extremi-
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Daniel Tozatti Mazzoccato, Ronaldo Hirata, Luiz Antônio G. Pires, Eduardo Mota, Lourenço Farias de Moraes, Sandra Tozatti Mazzoccato
Tabela 1 - Categoria dos pinos usados no teste mecânico.
Grupo
Marca
Fabricante
Composição
(Informações do Fabricante)
Nº de Amostras
Diâmetro
(mm)
1
Reforpost
Angelus, Br.
62% fibra de carbono e 38%
de resina epóxi
05
1,4
2
Postec
Ivoclar/Vivadet,
Liechtenstein.
61,5% de fibra de vidro,
25,9% de Resina BIS-GMA e
12,3% de Agente de carga
05
1,5
3
Fibrekor Post
Pentron USA.
42% de fibra de vidro, 29%
de Resina BIS-GMA e 29% de
Agente de carga
05
1,1
4
Reforpost
Angelus, Br.
57% de fibra de vidro e 43%
de Resina BIS-GMA e Agente
de carga
05
1,1
5
U. M. AESTHETI Plus
Bisco, USA
60% de fibra de quartzo e
40% de Resina Epóxi
05
1,3
6
Luscent Anchors
Dentatus, USA
70% de fibra de vidro e 30%
de resina BIS-GMA
05
1,5
7
Classic
Dentatus, USA
Aço inoxidável
05
1,3
Figura 1 - Pino em contato com a matriz metálica.
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Propriedades flexurais de pinos diretos metálico e não - metálicos
dade oposta a base, realizou-se um rebaixa-
tidos em relação à resistência flexural está
mento de aproximadamente 1,9 cm de pro-
apresentada na tabela 2. Diferentes valores
fundidade. Esse rebaixamento deixou uma
médios de resistência flexural máxima foi ob-
extremidade livre eqüidistante de 14 mm,
tido para os pinos diretos utilizados no tes-
determinação para propriedades flexurais de
te. O grupo da marca comercial Classic (Den-
materiais plásticos com secção circular para
tatus, USA) apresentou a menor resistência
testes transversais de três pontos12. As su-
flexural, os demais grupos apresentaram de-
perfícies de contato entre o corpo de prova,
sempenho semelhante, com exceção dos pi-
matriz metálica e braço fixo possuíam 2 mm
nos U.M. AESTHETI Plus (Bisco, USA), os quais
de espessura (Fig. 1).
tiveram desempenho superior a p< 0,05. Para
13
Essa matriz foi acoplada a uma Máquina
os grupos compostos por pinos poliméricos,
de Ensaio Universal Pantec 500 (Panambra,
pode-se verificar que não houve diferença
Br), com célula de carga de 500 N. Os pinos
estatística significativa (p < 0,05) em relação
foram dispostos horizontalmente em con-
ao módulo flexural (Tab. 3).
tato com a matriz e em seguida a máquina
foi acionada com uma velocidade de 0,5mm/
DISCUSSÃO
min (velocidade de carregamento). A porção
Buscar harmonia entre a forma, função e
móvel da máquina incidiu sob o braço fixo,
resistência de um dente tratado endodonti-
atingindo perpendicularmente os corpos de
camente é um grande desafio para a odonto-
prova na sua região central.
logia, pois o prognóstico de um dente hígido
A partir dos resultados de força e deflexão
é infinitamente melhor que de um dente res-
determinados pela máquina foi realizado o
taurado. Além disso, deve-se considerar que o
cálculo do módulo flexural e resistência má-
conteúdo da polpa é basicamente composto
xima flexural. O módulo flexural foi determi-
por tecido conjuntivo. Desta forma, quando
nado por meio da equação Ef= 4FL³ / 3πd4Y,
é feita a desvitalização pulpar e a posterior
onde F é a carga suportada pelo pino, L é à
substituição do tecido por um material mais
distância entre os suportes, d é o diâmetro
rígido, estaria indo ao encontro dos princí-
do pino testado e Y é a deflexão correspon-
pios naturais da estrutura dentária.
dente à carga F, onde o resultado será dado
Freqüentemente, fracassos clínicos ocor-
em MPA e transformado para GPA. A resistên-
rem com os sistemas tradicionais de recons-
cia máxima flexural foi calculada pela fórmu-
trução corono-radicular como as fraturas ra-
la σf= 8FL /πd³ com resultado em MPA.
diculares; outro aspecto importante é a baixa
As diferenças entre os vários grupos foram
demanda estética, principalmente quando
calculadas estatisticamente por meio do teste
são utilizados nos dentes anteriores7,17. O alto
de Análise de Variância (p< 0,05) complemen-
módulo de elasticidade dos pinos metálicos
tado pelo teste de Comparações Múltiplas de
causa um aumento do estresse na estrutu-
Tukey ao nível de significância de 5%.
ra radicular resultando em maiores chances
de fraturas. O sistema ideal seria aquele que
RESULTADOS
A análise estatística dos resultados ob-
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tivesse o pino com módulo de elasticidade
igual ou próximo da dentina8,17.
Daniel Tozatti Mazzoccato, Ronaldo Hirata, Luiz Antônio G. Pires, Eduardo Mota, Lourenço Farias de Moraes, Sandra Tozatti Mazzoccato
Tabela 2 - Média e desvio padrão da Resistência Flexural Máxima (MPA) nos diferentes grupos.
Grupo
Média
Desvio Padrão
7
568,23 a
500,93
3
1124,97 b
160,31
4
1153,41 b
287,76
6
1153,84 bc
163,78
1
1339,36 bc
137,11
2
1474,30 bc
72,45
5
1688,46 c
155,15
Médias seguidas de letras distintas diferem significativamente através da Análise de Variância complementada pelo teste de Comparações Múltiplas de
Tukey, ao nível de significância de 5%.
Tabela 3 - Média e desvio padrão do Módulo Flexural (GPA) nos diferentes grupos.
Grupo
Média
Desvio Padrão
1
26,49 ª
7,87
2
28,11 ª
8,23
3
26,93 ª
9,03
4
25,68 ª
12,95
5
36,76 ª
10,01
6
24,82 ª
3,79
Médias seguidas de letras distintas diferem significativamente através da Análise de Variância complementada pelo teste de Comparações Múltiplas de
Tukey, ao nível de significância de 5%.
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Propriedades flexurais de pinos diretos metálico e não - metálicos
Figura 2 - Microscopia eletrônica de uma fibra dos pinos reforçados.
Os primeiros pinos reforçados tinham as
de vidro e fibras de quartzo suprindo a deman-
fibras de carbono, que representa 64% da
da estética, pois se apresentam na cor trans-
estrutura total, com 8 µm de diâmetro apre-
parente ou branca. Em relação à sua composi-
sentando disposição longitudinal e unidire-
ção química, elas apresentam o vidro elétrico
cional. A matriz é uma resina epóxi que re-
(E-glass) que no seu estágio amorfo é uma
presenta os 36% restantes. A interface que
mistura de óxidos de silício, cálcio, alumínio
liga a matriz epóxi ao reforço de fibras, apre-
e bário e outros óxidos de metais alcalinos.
senta uma compatibilidade com ambos os
Algumas fibras de vidro apresentam na sua
materiais, assegurando uma perfeita coesão
composição o vidro elétrico (S-glass) de alta
entre fibra e matriz .
resistência, também amorfa, mas diferente na
7
Posteriormente surgiram os pinos de fibra
36
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composição. Os pinos de fibra de quartzo têm
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Figura 3 - Várias fibras paralelas e unidirecionais.
a sílica pura em forma cristalizada15.
ratorial. Através delas se conseguiu entender
A fibra é uma estrutura flexível, aproximada-
o desempenho mecânico e ao mesmo tem-
mente cilíndrica em sua forma, unidirecional e
po estabelecer relações entre a estruturação
4
que possui comprimento maior que o diâmetro
desses pinos e valores, tanto de resistência,
(Fig. 2, 3). Na figura 4 temos um corte transversal
quanto de módulo flexural conseguidos nos
ilustrativo do pino Reforpost (Ângelus, BR) que
testes laboratoriais. Na microscopia eletrôni-
apresenta na sua composição fibras de vidro.
ca realizada por Lassila e colaboradores con-
O direcionamento das pesquisas para um
cluiram que existia porosidade em todos os
melhor entendimento da microestrutura dos
pinos reforçados por fibras analisados e que
pinos reforçados por fibras refletiu direta-
a porosidade nos pinos SnowPost (Carbotech,
mente no sucesso da prática clínica e labo-
France) foi facilmente identificada.
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Propriedades flexurais de pinos diretos metálico e não - metálicos
Figura 4 - Corte transversal do pino Reforpost (fibra de vidro). As setas mostran a presença fibras circulares.
Essa porosidade explica a redução das
Em um aumento maior (Fig. 6) podemos ve-
propriedades mecânicas, ao contrário dos pi-
rificar a presença de porosidades. A longe-
nos EverStich (StichTech, Finland) que apre-
vidade das restaurações de dentes tratados
sentou uma estrutura sólida e compacta e
endodonticamente e restaurados com esse
a maior Resistência Flexural entre os pinos
sistema de pinos pode ficar comprometida
testados . Na figura 05 esta ilustrada o pino
em virtude desse aspecto pelo aumento das
composto por fibras de carbono, Reforpost
chances de fratura desses pinos.
15
38
(Ângelus, BR), diferentemente dos pinos com-
Em estudos de resistência e análise mi-
postos por fibras de vidro, (Reforpost, Ânge-
croscópica Drummond e Bapna 8 encontrou
lus, BR), não podemos observar as estruturas
valores de resistência à flexão diferente para
circulares e sim uma massa de carbono contínua.
as amostras testadas, entretanto os valores
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Figura 5 - Corte transversal do pino Reforpost (fibra de carbono).
de módulo flexural foram próximos. Apesar
croscopia eletrônica dos pinos Esthetic post
de pinos Carbon Post (Bisco, USA) e Light
(Bisco, USA) observamos um melhor padrão
Post (Bisco, USA) apresentarem o mesmo diâ-
de estruturação das fibras de quartzo dentro
metro e semelhante densidade de acondicio-
de uma massa de carbono (Fig. 7, 8). Pode-se
namento das fibras os valores de resistência
notar a presença de vãos na superfície das
à flexão dos pinos Light Post foram 50% me-
fibras mesmo resultado encontrado nas mi-
nor que os pinos Carbon Post. Fatores como
croscopias eletrônicas de Drummond e Bap-
o número de fibras introduzidas na matriz
na8.
resinosa, talvez, não seja determinante para
O módulo de elasticidade dos materiais res-
uma resistência flexural elevada e sim a li-
tauradores é, sem dúvida, uma das principais
gação entre fibra e matriz resinosa8. Na mi-
propriedades mecânicas que estes possuem,
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Propriedades flexurais de pinos diretos metálico e não - metálicos
Figura 6 - As setas mostram porosidades no pino Reforpost (fibra de carbono).
pois interfere diretamente no prognóstico
GPA). Todos apresentaram módulo de elasti-
do dente restaurado. Duret e colaboradores7
cidade superior ao da dentina determinado
determinaram o módulo de elasticidade de
por Ko 14. Nesse sentido, nossos resultados
pinos fundidos e pinos pré-fabricados metáli-
são semelhantes aos encontrados por Lassila
cos, encontrando valores que se aproximaram
e pesquisadores, os quais não encontraram
a 180 GPA, muito superiores aos da dentina,
diferenças nos valores de módulo flexural das
determinado por Ko , em 18,6 GPA.
amostras testadas15.
14
40
Analisando os resultados obtidos na tabela
Outra propriedade mecânica importante é
3 em relação ao módulo flexural, verificamos
a resistência flexural, que é a capacidade de
não haver diferença estatística significante
um determinado material suportar uma for-
entre os grupos (valores entre 24,82 e 36,76
ça até um determinado limite, sofrendo certa
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Figura 7 - Corte transversal de um pino Esthetic post (Bisco, USA).
flexão. Essa resistência flexural passa por um
5 (U.M.AESTHETI Plus, Bisco, USA) apresenta-
limite elástico, no qual as fibras estão sendo
ram valores de resistência máxima flexural
flexionadas e absorvendo as tensões até che-
superiores aos outros grupos de fibra e qua-
gar a uma resistência máxima. A partir desse
se 3x maior que o grupo composto por pino
momento ocorre o rompimento da fibra .
metálico, (Fig. 9).
11
Com relação à resistência flexural, os re-
Há diversas controvérsias em relação ao
sultados indicaram que os pinos poliméricos
aumento da resistência à fratura de dentes
de fibra de carbono, vidro e quartzo possuem
tratados endodonticamente através do uso
uma resistência flexural máxima superior ao
de pinos pré-fabricados diretos ou indiretos.
pino metálico (Classic, Dentatus, USA). Foi
McDonald e colaboradores 18 ao compararem
constatado também que os pinos do grupo
a resistência à fratura de dentes desvitali-
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Propriedades flexurais de pinos diretos metálico e não - metálicos
Figura 8 - Presença de vãos no interior das fibras.
42
zados restaurados com pino de aço, fibra de
do metálico, fio ortodôntico ou mesmo sem
carbono, resina composta e sem pino intra-
pino apresentando a mesma resistência à fra-
radicular não encontraram diferenças sig-
tura.
nificativas entre os grupos. Por outro lado,
Martinez-Insua19 e seu grupo de estudo
Albuquerque2 relatou que dentes desvitali-
avaliaram o desempenho em relação à resis-
zados reconstruídos com núcleo de resina
tência à fratura de dentes despolpados e res-
composta mostraram maior resistência à
taurados com pino-núcleo metálico fundido e
fratura quando comparados aos núcleos de
pinos de fibra de carbono e evidenciaram que
amálgama ou cimento de ionômero de vidro
o limiar de fratura dos pinos fundidos (fratu-
reforçados com prata; a esses dentes foram,
ra da parede radicular em 91% dos casos) foi
também, associados a um pino pré-fabrica-
significativamente maior que nos pinos de
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Figura 9 - Pino de fibra de quartzo (UM AESTHETI Plus, Bisco, USA) fraturado.
fibra de carbono (fratura da parede radicular
pinos de fibra de quatzo e fibra de vidro tive-
em 5% dos casos), confirmando que o módulo
ram a maior resistência à fratura e as fratu-
de elasticidade dos pinos de fibra foi próximo
ras que ocorreram foram favoráveis (fraturas
ao tecido dentinário, diminuindo com isso a
possíveis de serem restauradas).
possibilidade de fraturas radiculares.
Nos testes laboratoriais realizados por
Akkayan & Gülmez 1 encontraram fraturas
Maccari e colaboradores17, compararam pinos
desfavoráveis (fraturas que impossibilitam
de fibra de vidro, carbono e pinos cerâmicos.
uma nova restauração) nos sistemas de Ti-
Os pinos de fibra de vidro e carbono não apre-
tânio e em todos os grupos que apresenta-
sentaram diferenças estatísticas significantes
vam pinos de zircônia ocorreram fraturas dos
quanto à resistência à fratura e também não
pinos. Por outro lado, os grupos que tinham
houve a fratura de nenhum desses pinos; já os
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43
Propriedades flexurais de pinos diretos metálico e não - metálicos
pinos cerâmicos apresentaram 100% de fratu-
prazo. Que estas pesquisas possam, quem sabe
ras. Essas opiniões reforçam os resultados ob-
no futuro, trazer uma forma de reconstrução
tidos em nosso estudo de forma que concor-
mais satisfatória de dentes tratados endodon-
damos com Fernandes e Dessai9 que há uma
ticamente, consciente que nenhum material
correlação indiscutível entre o material do pino
ou técnica restauradora substitui tecido den-
intra-radicular e a fratura da raiz. Consideram
tal sadio.
as opiniões de Duret, Ferrari e Mannocci7 que
o ideal seria que o material do pino intra-radi-
CONCLUSÕES
cular apresentasse o mesmo módulo de elasti-
Baseados na análise estatística aplicada aos
cidade da dentina radicular para que a tensão
resultados e conforme as condições experimen-
das forças que interagem ao longo do pino e da
tais dessa pesquisa, conclui-se que:
raiz fosse distribuída de forma homogênea.
É importante ressaltar que os resultados
obtidos nos testes de flexão não significam,
1. Todos os grupos tiveram valores médios
de módulo flexural superiores ao módulo flexural da dentina encontrado na literatura;
necessariamente, que os pinos de fibra possam
2. O grupo composto por pinos pré-fabrica-
ter ou não um bom desempenho clínico, vis-
do metálico apresentou, em média, resistência
to que este também depende de uma série de
flexural máxima menor que os pinos de fibra de
outros fatores que devem ser avaliados e es-
carbono, vidro e quartzo;
tudados em conjunto com estudos in vitro e,
principalmente, avaliações clínicas em longo
3. Não houve diferenças significativas entre
os grupos em relação ao módulo flexural.
Flexural Properties of Direct Metallic
and Metal Free Posts
Abstract
With
the
restorative
materials
evolution,
500 (Panambra) following ISO 178 specifications
new techniques that look for preservation of
to three points flexural strength. Based upon
remaining dental structure from endodonticaly
results statistical analysis, we can conclude
treated tooth are coming. The aim of this study
that: all groups had flexural modulus medium
was compare flexural strength of metallic
values superior to dentin; polymeric posts
direct posts (stainless steel) and metal-free
reinforced with fiber showed maximum flexural
posts (4 trademarks of glass fiber, 1 of carbon
strength superior to metallic posts and was
fiber and 1 of quartz fiber). Those posts were
not difference significant at a relation flexural
tested in an Universal Testing Machine Pantec
modulus.
KEY WORDS: Intra-canal posts. Elasticity modulus. Glass fiber. Carbon fiber. Flexural strength.
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R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 3, p. 000-000, jul./ago./set. 2006
Daniel Tozatti Mazzoccato, Ronaldo Hirata, Luiz Antônio G. Pires, Eduardo Mota, Lourenço Farias de Moraes, Sandra Tozatti Mazzoccato
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Endereço para correspondência
Daniel Tozatti Mazzoccato
R. Sylvio Zeny 82/202, Portão
Curitiba, PR - CEP: 80320-190
E-mail: [email protected]
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Propriedades flexurais de pinos diretos metálico e não