FENOLOGIA DA CROTON URUCURANA BAILL EM ÁREA DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DA UNIVAP – SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Ferreira, Paulo C.; Azevedo, Cláudia P.M.F.; Pasin, Liliana A.A.P. UNIVAP/Ciências Biológicas, [email protected] Resumo - Este trabalho objetivou estudar a fenologia de Croton urucurana Baill, em uma área de recuperação por reflorestamento em cavas de areia abandonadas. As visitas foram feitas semanalmente em horário matinal, entre as oito e nove horas, e foram anotadas as características fenológicas referentes à floração, frutificação, brotação foliar, abscisão foliar e interações de polinizadores e invasores, no período de Fevereiro/2009 a julho/2009. Verificou-se que a floração dos exemplares utilizados ocorreu entre os meses de fevereiro a março, a frutificação iniciou-se no final de março. A brotação e abscisão foliar foram observadas durante todo o período de estudo. Verificou-se alta densidade de insetos nos exemplares estudados, observou-se também que o aumento de insetos predadores no período de floração é proporcional ao aumento de insetos polinizadores, que é intenso nessa época. Conclui-se que os padrões fenológicos variaram entre os indivíduos observados, sendo que algumas ocorrências mais frequentes estavam relacionadas, com a sazonalidade da condição climática. Palavras-chave: fenologia, polinização, floração, frutificação, Croton urucurana Área do Conhecimento: Botânica Introdução “A fenologia é a parte da botânica que estuda vários fenômenos periódicos das plantas, como a brotação, a floração e a frutificação, marcandolhes as épocas e os caracteres, relações dos processos biológicos periódicos como o clima e a influência das mudanças sazonais na vida das plantas, assim como a interação dessas mudanças com as interferências bióticas e abióticas”. (Odum e Barrett, 2007). A observação das atividades do ciclo de vida de plantas ao longo de um período permite compreender a dinâmica de seu desenvolvimento relacionado a fatores bióticos e abióticos, pois conhecer e compreender os padrões fenológicos de espécies arbóreas nos ecossistemas naturais é de interesse básico nos estudos sobre a biodiversidade, organização das comunidades e sobre as interações das plantas com a fauna ali presente. Estes estudos e dados fornecidos, tornase de grande importância em programas de conservação, principalmente de recursos genéticos, e direcionamento de manejo florestal, planificação de áreas silvestres e revegetação de áreas degradadas. (Mooney et al.,1980; Camacho & Orozco, 1998). A Croton urucurana também conhecida como sangra d’água, urucurana, lucurana, sangue-da-água, é uma planta decídua, heliófita, higrófita pertence à família Euforbiáceas, apresenta árvores adultas com variante de 07 a 14.m de altura, tronco variando entre 25 a 35.cm de diâmetro DAP em média, possui casca fina e ritidoma lenticelado. As folhas apresentam formas espiraladas, simples, ovaladas com base arredondada a subcordada com nervuras secundárias e terciárias proeminentes na face abaxial e quando velhas adquirem coloração alaranjado forte. Possuem botões e inflorescências denso-pubescente e flores pequenas branco-esverdeada em racemos terminais, florescendo nos meses de dezembro a junho, a antese da flor feminina é noturna, apesar de se observar, mesmo que em poucas, mas com freqüência, flores com antese diurna e a flor masculina foi observado antese sempre diurna, e as flores podem durar em média três dias e a frutificação é simultânea, são consideradas melíferas e sua seiva é utilizada como medicinal para estancar hemorragias e sangramentos, acelerar cicatrizações e evitar infecções. (Lorenzi, 2008). É uma planta pioneira e adaptada a solos úmidos e de brejo, é ótima para plantio misto em áreas degradadas principalmente ciliares também denominadas ripárias ou de galeria (Mariano et al.,1982). Segundo Cordeiro (1985), a Croton urucurana é uma espécie arbórea nativa e plenamente adaptada em áreas ripárias, seja por alagamentos temporários ou não, e apresenta ampla distribuição por todo o Brasil. Outra característica da Croton urucurana, é seu uso em interesse farmacológico por apresentar atividade antibacteriana, cicratizante e de interesse industrial, e por ser apícola (Nilsson, 1989). Sua importância medicinal deve-se à resina e casca que são utilizadas para estancar sangramento, acelerar a cicatrização e evitar infecções. A planta apresenta também propriedades antibactericida, antihemorrágica, XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 antiviral e antioxidante sendo utilizada para combater úlceras no estômago e no intestino (Lorenzi & Matos, 2002). A espécie apresenta uma grande produção de sementes entre os meados de março e abril, o que a torna uma ótima espécie com uma grande fonte de disseminação de sementes com a finalidade de revegetar áreas degradadas. Trabalhos que investigam a fenologia de Croton urucurana em área degradada por extração de areia são ainda incipientes, desta forma, este estudo objetiva descrever a fenologia reprodutiva da espécie utilizada em revegetação em área com alto grau de degradação. Os espécimes da fauna, tanto polinizadores quanto invasores, foram coletados para posterior identificação (Figura 1). Metodologia Figura 1: Insetos coletados O estudo foi conduzido em uma área de recuperação de cavas de areia abandonadas da Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, situado no bairro Urbanova, São José dos Campos – SP, no limite com o município de Jacareí, no período de 12 de fevereiro a 31 de julho de 2009. O Campus da UNIVAP encontra-se entre as Serras do Mar e da Mantiqueira, sendo definido pelas coordenadas 23º14’ de latitude sul e 45º51’ de longitude W. (Ministério da Aeronáutica – Serviço de Climatologia – CTA, 1997), com altitude de 650 m, apresentando topografia acidentada (Kurkdjian, 1992). O clima da região de São José dos Campos, de acordo com a classificação de Köppen é do tipo AW – clima de pradaria tropical, segundo o Laboratório de Metereologia da UNIVAP (1998). Foram escolhidas aleatoriamente 6 espécimes de Croton urucurana (Sangra d’água). As visitas foram feitas semanalmente no período compreendido entre fevereiro a julho de 2009, geralmente no período da manhã, entre às 8:00 e 09:00 h e uma vez por mês uma visita no horário entre 13:00 e 15:00 h. A identificação do padrão fenológico foi realizada através de observações semanais durante todo o período de estudo As visitas ocorreram em geral no período da manhã, entre às 8:00 e 10:00 h e mensalmente era feita uma visita no horário entre 13:00 e 15:00 h. Os exemplares marcados foram avaliados quanto à floração, frutificação, brotação, abscisão foliar e interações de polinizadores e invasores. Observaram–se agentes polinizadores, herbívoros e predadores encontrados nos exemplares avaliados. Resultados Na tabela 1 evidencia as fenofases de Croton urucurana em área degradada pela extração de areia. Tabela 1 – Fenofases observadas em Croton urucurana Fenofases Fev Mar Abr Mai JUN Jul Floração Frutificação Brotação foliar Abscisão foliar Polinizadores Invasores Notou-se que o pico da floração ocorreu nos meses de fevereiro até o início de abril, onde se pode observar uma grande quantidade de hastes floridas e com isso o aparecimento de muitos polinizadores e invasores, principalmente percevejos que utilizavam suas folhas para colocar os ovos e desenvolver suas larvas (Figura 2) e aranhas que predavam a Apis melífera (Figura 3). XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 A brotação foliar foi constante e se estendeu de fevereiro a julho, com um pico maior no mês de fevereiro preconizando o inicio da floração (Figura 5). Figura 2: Percevejos juvenis em desenvolvimento Figura 5: Brotação foliar A abscisão foliar ocorreu durante todo período de estudo, entretanto em baixa densidade, o que caracteriza a espécie como perenifólia (Figura 6). Figura 3: Aranha predando Apis melífera Muitos insetos que não foram identificados praticavam herbivoria desde o inicio das observações até a presente data (Figura 4). Figura 6: Abscisão foliar constante Discussão Figura 4: Herbívora de insetos A frutificação ocorreu no inicio de março até o final de abril, com grande carga. Os frutos da espécie são deiscentes lançando as sementes ao solo. Não foi observado nenhum dispersor em potencial, entretanto, foram observados alguns psitacídeos (Maitacas) se alimentando, mas estas aves não são consideradas dispersores de sementes. Segundo Lorenzi (2008), a Croton urucarana produz anualmente grande quantidade de sementes viáveis, caracterizando uma ótima espécie com uma grande fonte de disseminação, sendo propícia para plantio com a finalidade de revegetar uma área degradada corroborando para as observações realizadas. Segundo Pires, et al (2004) a antese das flores femininas inicia-se no período noturno, por volta das 23h, estendendo até às 4h, não corroborando com as observações feitas durante o acompanhamento dos exemplares selecionados onde foram observadas anteses diurnas, principalmente no período da manhã e com certa constância (Figura 7). XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 Figura 7: Detalhe da flor Feminina (antese diurna) Figura 8: Herbivoria de larvas não identificadas Assad-Ludewigs et al. (1989), evidenciam que espécies observadas em regeneração natural, apresentam dispersão através de deiscência explosiva dos frutos caracterizando síndrome de dispersão autocórica. O tipo de dispersão observada para a espécie C. urucurana indica que a planta apresenta alto potencial para utilização em áreas em alto nível de degradação, em função da efetividade de dispersão de sementes. Para Jackson (1978), este comportamento é uma estratégia vantajosa em ambientes sujeitos à baixa sazonalidade. A queda foliar e brotamento contínuo permitem que a folha velha seja mantida na árvore até ser realizada a translocação de nutrientes, que possibilita manter a taxa fotossintética o ano todo, este dado também corrobora para as observações realizadas no presente estudo. Ainda segundo (Morellato, 1995), o padrão de abscisão foliar com frequência está associado à sazonalidade ambiental da região, locais com uma estação seca bem definida costumam apresentar desfolha concentrada nesta época do ano. Quanto aos visitantes florais foram observados diariamente insetos das ordens Diptera, Odonata, Lepidoptera, Hemíptera (percevejos em abundância) e Hymenoptera (Apidae e Vespidae), onde a Apis mellifera foi a espécie observada com maior freqüência e quantidade caracterizando o principal vetor de polinização. Foi verificado também alta densidade de percevejos que predavam principalmente a Apis mellifera. Observou-se alguns representantes da ordem Díptera que utilizavam as folhas da planta para ovipositar. Verificou-se alto índice de herbivoria nas folhas, entretanto não foi possível identificar o agente causal, sendo necessário mais estudos para obter resultados conclusivos. (Figura 8) Conclusão Com os resultados obtidos é possível concluir que os padrões fenológicos variaram entre os indivíduos observados, sendo que algumas ocorrências mais frequentes estavam relacionadas, com a sazonalidade da condição climática. Em meses mais frios e secos, as perdas das folhas tornaram-se mais constantes e acentuadas, e o brotamento, na maioria dos indivíduos estudados, foi simultâneo à queda das folhas e/ou coincidiu com a elevação da temperatura e o início das chuvas. Como a Croton urucurana é uma grande produtora de sementes, a torna uma ótima espécie com uma grande fonte de disseminação, sendo propícia para plantio com a finalidade de revegetar uma área degradada ou para recolonizar matas ripárias. Referências ASSAD-LUDEWIGS, I. Y. et al. Propagação, crescimento e aspectos ecofisiológicos em Croton urucurana Baill. (Euphorbiaceae), arbórea nativa pioneira de mata ciliar. In: SIMPÓSIO SOBRE MATA CILIAR, 1989, Campinas. Anais... Campinas: Fundação Cargil, 1989. p. 284-298. CAMACHO, M.; OROZCO, L. Patrones fenológicos de doce espécies arbóreas del bosque montano de la cordillera de Talamanca, Costa Rica. Revista de Biologia Tropicale, v. 46, n. 3, p. 533- 542, 1998. KANASHIRO, S. Propagação, crescimento e aspectos ecofisiológicos em Croton urucurana Baill. Simpósio sobre mata ciliar. Anais... Campinas: Fundação Cargill,1989. p.284298. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 4 CORDEIRO, I. A família Euphorbiaceae na Serra do Cipó, MG, Brasil. São Paulo: IB/USP, 1985. 261p. (Dissertação de Mestrado). JACKSON, J. F. Seasonality of flowering and leaffall in brazilian subtropical lower montane moist forest. Biotropica, v. 10, p. 38-42. 1978. Kurdjian, M.L.N.O., et al., 1992 Macrozoneamento da Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte do Estado de São Paulo. São José dos Campos: Instituto de Pesquisas Espaciais – INPE. 176p. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 2008. p. 114. LORENZI, H.; MATOS F.J.A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora LTDA, 2002. p. 544. MARIANO, M.C.; FURTADO, J.S. & VUONO, Y.S. Glossário de termos usuais em ecologia. São Paulo: ACIESP, 1980. 159p. NILSSON, T. T. Levantamento do potencial econômico da mata ciliar e sugestões quanto ao seu aproveitamentoracional. In: SIMPÓSIO SOBRE MATA CILIAR, 1989, Campinas. Anais... Campinas: Fundação Cargil, 1989. p. 144. Odum, E.P.; Barrett, G.W., 2007 Fundamentos de Ecologia. 5. Ed. São Paulo:Thomson Learning. 612p PIRES, M. M. Y. et al. Biologia floral de Croton urucurana Baill. (Euphorbiaceae) ocorrente em vegetação ripária da ilha Porto Rico, Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil. Acta Scientiarum. Biological Sciences Maringá, v. 26, no. 2, p. 209-215, 2004 RAVEN, P.H.; EVERT, R.F.; EICHHORN, S.E. Biologia vegetal. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. Rev. biociência.,Taubaté, v.9, n.2, p.17-25, abr-jun 2003. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 5