ECONOMIA BRASILEIRA: UMA PERSPECTIVA REGIONAL DOS GOVERNOS FERNANDO HENRIQUE E LULA Rauer Ferreira Borges1; Walber Carrilho da Costa2 1 Bolsista PBIC/UEG, graduando do Curso de Ciências Econômicas, UnU Itumbiara – UEG. 2 Orientador, docente do Curso de Ciências Econômicas, UnU Itumbiara – UEG. RESUMO Muito se tem discutido sobre a economia brasileira. Porém, o país apresenta uma diversidade muito grande, sendo necessário, para se compreender a nossa economia, estudos que busquem incorporar essa realidade. O presente trabalho analisou da evolução da economia brasileira, no período de 1995 a 2005, abrangendo os dois governos de Fernando Henrique Cardoso e o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. As categorias de análises utilizadas foram os principais indicadores macroeconômicos (produto, emprego, exportações, importações, finanças públicas e desenvolvimento humano) agregados por grandes Regiões Geográficas do país (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte) e divididas em suas diversas Unidades da Federação. Sendo assim, esse estudo buscou contribuir para se compreender a economia nacional recente a partir de sua diversidade regional. Palavras-chave: Economia Brasileira, Economia Regional, Crescimento Econômico e Desenvolvimento. Introdução A partir da crise dos anos 70, com o fim do sistema de câmbio fixo, os dois choques do preço do petróleo, a perda de hegemonia norte-americana e outros, a concorrência intercapitalista acirra-se, levando as empresas a uma necessidade de transformação em seu modo de valorização do capital; que se encontrava, naquele momento, em dificuldades. Foram tais necessidades que induziram às significativas mudanças nos padrões de produção vigentes. Alteram-se também as orientações de políticas econômicas, privilegiando preceitos neoliberais de economia de mercado; de abertura comercial; de desregulamentação e de menor intervenção dos Estados (através de mecanismos, entre outros, de privatização). 1 Assim, instaurou-se um processo de reestruturação industrial, capitaneado pelas grandes corporações, cujas principais características estão na busca por uma maior integração e flexibilidade no processo produtivo, (oferecendo respostas mais rápidas às variações do mercado) e um novo paradigma produtivo baseado, fundamentalmente, na microeletrônica, na biotecnologia e nos novos materiais. Tais processos estruturam (interna e externamente) as grandes empresas de maneira diferente dos padrões anteriores, trazendo, por via de conseqüência, novas tecnologias e novos métodos organizacionais. Estes dois fenômenos (políticas neoliberais e reestruturação produtiva), juntamente com outros inter-relacionados (globalização produtiva e financeira e formação de blocos econômicos) implicaram transformações na organização e nos processos produtivos, gerando impactos sobre os diferentes mercados, que, passaram por mudanças quantitativas e qualitativas. Tais mudanças se expressam, basicamente, no mercado de trabalho (desemprego, informalidade, mudanças do perfil da demanda de trabalhadores pelas empresas, crescimento das formas de trabalho parcial etc.); nas novas formas de organização das empresas nos mercados de bens e serviços, tais como as empresas rede; e, na intensificação dos mercados internacionais com a abertura comercial. Neste cenário tem-se como hipótese básica que, apesar das crescentes dificuldades enfrentadas pelas economias (principalmente para aquelas subdesenvolvidas e em desenvolvimento), estas são resultado de um conjunto de fatores de ordem política, econômica, cultural e institucional, que se apresentam de diferentes maneiras entre os vários países, regiões e setores. Esse processo de transformação produtiva passou a fazer parte da realidade da economia brasileira, de forma mais contundente e conduzido por algumas empresas líderes, a partir dos anos de 1990. De acordo com LEITE (1994: 125), a introdução da tecnologia informatizada no Brasil ocorreu “(...) com mais de duas décadas de atraso em relação aos países desenvolvidos”. Foi também a partir desse período, pressionando, inclusive, o próprio processo de reestruturação produtiva, que se implantou no país uma ampla liberalização comercial e privatização, com vistas à modernização da estrutura produtiva nacional. Aliado a todos esses processos, em meados dos anos de 1990 o Plano Real, com a estabilização monetária, introduziu novas pressões às mudanças na estrutura produtiva e financeira do país. Assim, essa pesquisa buscou cobrir essa lacuna na literatura sobre a economia do país, tendo como objetivo contribuir para o debate dos caminhos a serem encontrados para o desenvolvimento da economia brasileira. Isso, com base no fato de que o país apresenta uma enorme disparidade em sua estrutura econômica, se observado a partir de diversos indicadores 2 que conseguem captar as diferenças do desempenho econômico das várias unidades da federação. Assim, foi possível compreender, de forma mais regionalizada, os limites e as tendências de todas essas mudanças. Assim sendo, essa proposta de trabalho teve como objetivo geral estudar as configurações da economia brasileira, a partir do primeiro governo Fernando Henrique (1995) até o final do primeiro governo Lula (2006), sob uma perspectiva regional, ou seja, considerando as diferenças econômico-regionais no país; a partir de indicadores macroeconômicos desagregados por unidades da federação. A partir dessas informações foi possível elaborar um quadro quantitativo da economia do país, tendo como foco a diversidade regional. Por outro lado, foi possível observar também até que ponto tais diversidades regionais são realidades que fazem parte de um dinamismo local, ou estão inseridas em uma lógica da economia capitalista brasileira. Dessa maneira, além de procurar entender a dinâmica recente da economia das diversas unidades da federação no Brasil, objetivou-se compreender ao mesmo tempo quais as tendências gerais para a economia nacional. Nesse último aspecto o que se tem em foco é descobrir se, apesar de estruturas e patamares econômicos diferenciados, houve tendências que possam ser generalizadas para a economia nacional. Material e Métodos Este projeto de pesquisa enfatiza fundamentalmente métodos quantitativos de análise, utilizando para isto dados secundários. A pesquisa procurou identificar o comportamento da economia brasileira, por grandes regiões geográficas, desagregado por unidades da federação, levando em consideração alguns dos principais indicadores macroeconômicos: • O produto e a renda: indicadores sobre o mercado de bens e serviços da economia. • O emprego: indicadores sobre o mercado de trabalho. • As finanças públicas: indicador sobre as receitas e despesas dos governos • O comércio exterior: indicador sobre o setor externo da economia (Balança comercial). • Indicadores de desenvolvimento humano: indicadores sobre renda per capita, a educação e a longevidade da sociedade. Este estudo foi empreendido por meio de informações estatísticas padronizadas, desagregadas para o âmbito das unidades da federação, que podem ser adquiridas por meio 3 eletrônico, nos sites dos principais órgãos oficiais dos governos federal, estadual e do Distrito Federal. Assim, foi possível obter as informações para uma análise compreensiva das principais transformações que vem ocorrendo na economia nacional e seus impactos sobre as diversas regiões do país. Por meio desse acompanhamento alcançou-se os objetivos pretendidos de obter informações referentes à economia nacional e as diferentes variáveis que a influenciaram nos anos recentes de estabilização monetária, abertura comercial, reestruturação produtiva, implementação de políticas neoliberais e menor participação direta do Estado nos mercados. O período escolhido para a análise de 1995 a 2005 abrange os resultados econômicos da mudança do modelo de desenvolvimento do país a partir dos anos de 1990. Estes anos são de grande importância, primeiramente por abarcar todo o período após a implantação do Plano Real (em 1994), ou seja, a estabilização monetária do país; e também por ter sido a partir da década de 1990 que vêm sendo observado, de forma mais ampla, as grandes transformações produtivas, com a introdução de novas tecnologias e métodos organizacionais, e político-econômicas, no país. Resultados e Discussão Este trabalho apresentou uma análise das disparidades regionais do país. Pode-se observar, em termos das variáveis relacionadas, que o desempenho econômico das grandes Regiões Geográficas e das Unidades da Federação foi no período analisado e em alguns casos, significativamente heterogêneo (ver tabela 1). Tabela 1. Consolidação dos resultados por grandes Regiões Geográficas Unidade Ano Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul R$ bilhões 2004 93,42 248,45 132,73 970,25 316,74 PIB per capita Anual R$ mil 2004 6,5 4,93 10,48 12,54 11,89 Taxa de Desemprego % 2005 8,62 8,92 9,77 10,56 5,88 Resultado Primário % do PIB 2004 0,94% 1,08% 0,86% 0,75% 0,44% Balança Comercial US$ milhões 2005 1.731,70 4.253,40 4.225,60 20.070,10 12.652,50 - 2000 0,73 0,68 0,78 0,80 0,81 PIB IDHM Fonte: Elaboração dos autores Os dados apresentados na Tabela 1 procuram sintetizar estas diferenças regionais por grandes Regiões Geográficas. Enquanto o Norte apresentou um PIB de R$ 93,42 bilhões, no ano de 2004, o PIB do Sudeste foi de R$ 970,25 bilhões. Mesmo em termos de PIB per capita anual, neste mesmo ano, a Região Norte obteve um valor de R$ 6,5 mil e o Sudeste um valor 4 de R$ 12,54 mil. Em oposição à taxa de desemprego, para o ano de 2005 do Sudeste foi de 12,54% e a do Norte foi de apenas 6,5. Um contraste ainda maior pode ser observado pela Região Sul, que apresentou um PIB superior ao das Regiões Norte e Nordeste e um PIB per capita anual superior ao das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, mas com a menor taxa de desemprego entre as regiões para o ano de 2005. O Sudeste é sem dúvida o maior Estado em termo econômicos do país, e por isso apresentou no ano de 2005 um saldo da balança comercial bem superior ao das demais Regiões. Novamente o Sudeste e o Sul apresentaram um desempenho superior aos do Norte e Nordeste em termos de IDHM. Assim, Enquanto as Regiões Sudeste e Sul parecem apresentar uma posição mais favorável em termos econômicos e sociais, o Norte o Nordeste apresentaram-se em situação inferior, ficando o Centro-Oeste numa posição intermediária. Conclusões O que foi possível observar neste trabalho é que as disparidades regionais não estão apenas no nível das grandes Regiões Geográficas, mas também no que tange às Unidades da Federação. Estas, mesmo inseridas dentro de uma mesma Região, apresentaram-se em situações bastante diversas em termos de desempenho econômico e social. Inclusive, com situações onde os desempenhos de determinados Estados caminharam em sentido oposto ao desempenho nacional. Uma última questão importante, que pode também ser ressaltada, está nas análises das variações percentuais. Em alguns casos, as menores variações foram apresentadas principalmente por aqueles Estados que se apresentavam em melhor situação, enquanto que as maiores variações foram observadas naqueles Estados com as piores situações. Tal fato pode estar denotando as dificuldades encontradas pela sociedade em aumentar e melhorar suas condições sócio-econômicas a partir de um determinado nível, relativamente superior. Referências Bibliográficas BANCO CENTRAL, Boletim Regional do Banco Central do Brasil. Vários anos. BRITO, Paulo (2004). Economia brasileira: planos econômicos e políticas econômicas básicas. 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