CÉLIA VALANDRO O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR NA FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DO FUNDAMENTAL II Tijuca 2011 CÉLIA VALANDRO O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR NA FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DO FUNDAMENTAL II Monografia apresentada ao curso de Administração e Supervisão Escolar da Faculdade abordagem Professores, Candido Mendes, Formação para área de Continuada de um melhor aprimoramento para lidar com as ações cotidianas. Orientadora: Profª. Flavia Cavalcanti Tijuca 2011 Ao corpo docente do fundamental II Que constroem a cada dia a história no comprometimento com o momento sublime em sala de aula – a aprendizagem. AGRADECIMENTOS A realização deste trabalho foi possível graças à contribuição de muitas pessoas. Manifesto minha gratidão a todos elas e de forma particular: A profª Flavia Cavalcante, pelo empenho em ajudar-me diante das circunstância do processo desta monografia e por acolher minhas inquietações geradas nesta pesquisa; Aos profissionais da minha escola pela partilha e por estar juntos nesta oportunidade de socialização das idéias em relação ao tema em questão; Aos funcionários do departamento a vez do mestre pelos serviços prestados onde que muitas vezes os procurei para encaminhamentos da minha monografia; A Susana Gentil e Érica Araújo; As amigas de curso, pela troca de bibliografias; A toda minha família, pelo incentivo. resolver os O conhecimento que repercute na formação dos seres humanos continua sendo cultivado pelos clássicos de transmissão do conhecimento, principalmente pela escola, que se mantém num espaço privilegiado para trabalhar a cultura essencial (...) o conhecimento que se torna cultura é, por definição, descobrir das próprias realidades subjetivas e sócias. (...) (Gimeno Sacristán) RESUMO Este texto é resultado de uma pesquisa bibliográfica, O objetivo de refletir sobre a ressignificação da atuação da supervisão escolar a partir de uma concepção da escola como lócus de formação continuada e como reflexo da organização do tecido mais geral na sociedade contemporânea. As reflexões se fundamentaram nas abordagens entre outros autores de Candau (1996); Ibernón (2006); Nóvoa (1992) Christov (2002); Nascimento (1997). A sociedade contemporânea se apresenta como um desafio para os profissionais da educação, uma vez que traz como uma de suas principais características o acesso à informação de maneira fácil, rápida e atrativa. Os profissionais da educação agora necessitam considerar todas as nuances do quadro mais geral que vem se delineando, quadro que traz para o interior dos espaços escolares importantes elementos para discussão e reflexão, proporcionando a estes profissionais oportunidades de aprender com a discussão dos problemas surgidos nos próprios contextos onde atuam. Nesse sentido a escola passa a ser local de formação, mais especificamente de formação continuada, concretizada em contextos coletivos de estudo e reflexão, ressignificando a prática da supervisão escolar para esse fim. As demandas surgidas no lócus escolar passam a ser discutidas e encaminhadas possíveis intervenções para resolução das dificuldades. Configurando assim uma cisão progressiva com o modelo de racionalidade técnica cristalizado na formação e prática educativa institucional desde as primeiras décadas do século passado, fazendo emergir a proposta de uma nova racionalidade, a racionalidade prático-reflexiva. O presente trabalho trata ainda através de estudo a implementação de um plano de ação Programa Franciscano de formação Continuada (Proffoco) voltado ao estudo da avaliação escolar, na perspectiva da formação continuada, com foco na postura do professor em sua prática avaliativa. Buscou-se, em última instância, contribuir para a revisão e o aprimoramento do processo avaliativo no âmbito de uma escola da rede particular de Duque de Caxias/RJ. Não obstante os limites deste trabalho faz-se fundamental o aprofundamento da compreensão das relações inerentes à avaliação escolar no contexto da organização do trabalho pedagógico, o que revela a necessidade de continuar o estudo, para que haja uma perspectiva transformadora da escola como fator de transformação da própria sociedade. Sumário INTRODUÇÃO 13 1- FORMAÇÃO CONTINUADA 16 1.1- CONCEITUANDO FORMAÇÃO CONTINUADA 16 2- NOVOS SIGNIFICADOS DA SUPERVISÃO NA ESCOLA CONTEMPORÂNEA 21 3- SUPERVISOR ESCOLAR, PRESENÇA IMPORTANTE NA EQUIPE DIRETIVA DA ESCOLA 27 4- REFLETINDO A RELAÇÃO DA ESCOLA COM A FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL EM SERVIÇO 32 5- CONTRIBUIÇÃO DA SUPERVISÃO NA AÇÃO DOCENTE 42 CONSIDERAÇÕES FINAIS 48 BIBLIOGRAFIA 50 Introdução “A formação deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que forneça aos professores os meios de um pensamento autônomo e que facilite as dinâmicas de auto formação participada.” (Nóvoa, 1992, p.25) Estamos vivendo em um mundo que se transforma constantemente. A evolução tecnológica, científica, social, a quantidade de informações e inovações que se apresentam desvelam situações inusitadas, surpreendentes, que exigem preparo, perspicácia, sabedoria para que possamos lidar com elas. Remetendo esta reflexão ao ambiente escolar, gestores e professores, igualmente, deparam-se diariamente com situações que precisam ser resolvidas, muitas vezes, colocando em jogo conhecimentos pré-estabelecidos, valores arraigados. Diretores, supervisores e orientadores educacionais, professores, e todos os envolvidos nas relações escolares são profissionais que lidam com o inusitado. Planejamentos, reuniões pedagógicas, planos de ação ou estudos nem sempre dão subsídios frente a determinadas situações que acabam por mobilizar, desestabilizar, colocando em questão determinados saberes. Em razão da importância do aprimoramento do monitoramento das atividades de ações estratégicas e pedagógicas, projetos e programas em vigência nos espaços educacionais, por meio de coleta de dados e informações para análise, encaminhamentos, questionário, análise de documentos coletando dados, observações de reuniões pedagógicas e intervenções inerentes ao processo educacional desenvolvido nas escolas, propõe-se a revitalização e a existência do trabalho de Supervisão Escolar nas Unidades Escolares. A função de Supervisor Escolar não deve ser mecanizada, apenas de caráter de constatação das rotinas burocráticas a despeito do que acontecia em todo o país nas décadas passadas, simplesmente como agente controlador da escola ou sala de aula. O trabalho desenvolvido pelo Supervisor Escolar deve centrar-se nas ações de reflexão, orientação, encaminhamento e intervenção do processo pedagógico, com vistas, à promoção da melhoria do ensino e da aprendizagem. A idéia de reestruturação e implementação da função de Supervisão Escolar, está baseada na melhoria dos processos de ensinar e de aprender, na prática reflexiva, na mediação entre o conhecer e o fazer e a partir destes, oferecer subsídios teórico-metodológicos para que a equipe gestora envolva-se na resolução dos problemas existentes nas Unidades Escolares. Por entender que o “Supervisor Escolar é aquele profissional que atua na articulação do trabalho coletivo integrando os profissionais no processo educativo (Christov, 2002), é que esta função se faz necessária, visto que o profissional que nela atua visualiza a escola de forma global, podendo contribuir significativamente para a melhoria da mesma. Nesse contexto, todos os agentes educativos presentes na escola, respaldam o trabalho do Supervisor Escolar, abre espaços e indica o objeto de ação-reflexão-ação das políticas educacionais vigentes para que o desenvolvimento da ação supervisora tenha sucesso, e hoje requer que este profissional desenvolva um trabalho de articulação com a formação docente. Sendo assim, percebe-se que a formação docente é uma necessidade que vai além da formação acadêmica obtida pelos professores. A formação continuada, especialmente na sociedade atual, configura-se como uma demanda frente ao processo de formação onde ocorre a aquisição de novos conhecimentos sendo dinâmico indo ao encontro da evolução da sociedade, pois sabemos que a escola já não supre as reais formas e necessidades de aprendizagens que o aluno busca. Sendo assim, surge o seguinte questionamento que norteia a presente pesquisa: como a supervisão escolar pode organizar os momentos de formação continuada dos professores em serviço? Tais questionamentos remeteram aos seguintes objetivos: - Demonstrar a importância da presença do supervisor escolar como parte da equipe diretiva da escola. - Apresentar os novos significados da Supervisão Escolar na escola contemporânea. - Conceituar Formação Continuada. - Analisar a relação da escola com a formação do profissional em serviço. - Perceber a contribuição da supervisão na ação docente. Para alcançar esses objetivos realizou-se esse trabalho a luz da pesquisa bibliográfica, conversas informais, sobre o trabalho que desenvolvem o supervisor nas escolas e por fim relato sobre as participações em projetos realizados um breve estudo de caso. Autores que deram sustentação teórica a esse trabalho foram: Ferreira (org.), (2002), Libâneo (2005), Revista Nova Escola (2006), Saviani (1985), Silva (1985), Vasconcellos (2002), Nóvoa (1992), Nascimento, M. G. (1997), Candau, V. M. (org.) (2005). Partindo desse conhecimento iniciou-se o texto sobre o papel do Supervisor escolar na Formação Continuada dos professores do Fundamental II, e encerram-se os textos percebendo a contribuição da supervisão na ação docente. 1. FORMAÇÃO CONTINUADA 1.1 Conceituando formação continuada A formação de professores é um processo que se estende ao longo da vida e da carreira dos educadores, independentemente de fases, etapas ou modalidades de sua execução. Mais especificamente, a Formação Continuada de Professores compreende processos planejados que visam agregar, a qualquer tempo, novas competências e habilidades pedagógicas e novos conteúdos curriculares aos professores em serviço, habilitados e não habilitados. Embora não se constitua objeto da presente abordagem, formação inicial, por sua vez, caracteriza-se por um período escolar definido, em que candidatos à docência na educação básica cursam programas de licenciatura, em nível de graduação. O conceito de Formação Continuada aqui adotado caracteriza-se por um processo de formação que associa diferentes tipos e modalidades de estudos, de forma que o professor possa, coletiva ou individualmente, adquirir novos conteúdos, competências e habilidades, organicamente desenvolvidas, levando-o à autoaprendizagem e à aprendizagem colaborativa, no âmbito escolar ou fora dele. A Formação Continuada visa ampliar e qualificar a aprendizagem dos estudantes por meio do aperfeiçoamento da formação e prática pedagógica do professor. Sabe-se que, em um ambiente educacional, a formação não abrange apenas o professor, mas também inclui os outros profissionais da educação, como os diretores, os orientadores educacionais, os supervisores pedagógicos e os administradores escolares. Contudo, nesta pesquisa, nos restringimos ao processo da Formação Continuada dos professores. Apesar de nos atermos aos espaços propiciados formalmente pelas administrações escolares e supervisores, sabemos que os professores para construírem sua profissão, buscam subsídios teóricos também em outros espaços. De modo geral, a formação em cursos de bacharelado não oferece condições suficientes referentes a didáticas específicas para o exercício do magistério. Desse modo, alguns professores adotam em seu trabalho de sala de aula uma prática didático-pedagógica de caráter empírico-intuitiva para exercer a profissão docente de modo satisfatório. Entende-se que a formação inicial se dá a partir da graduação e é base importante para o exercício da docência. Mas, sendo insuficiente, requer do professor uma atitude de busca de uma formação continuada, ao longo de todo o exercício profissional. Neste sentido, Nóvoa (1992) afirma que: “A formação não se constrói por acumulação de cursos, conhecimentos ou técnicas, mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir na pessoa e dar um estatuto de saber a experiência.” (1992. p. 25) Nesta perspectiva, esta formação não depende apenas e diretamente de cursos propostos pela instituição a qual o professor esteja vinculado. Tem-se que considerar outros fatores que interferem na formação do professor, seja de modo positivo (facilitando, colaborando), ou negativo – quando estes fatores dificultam o processo de formação. No dizer de Pimenta, (...) ser professor também se faz com a experiência socialmente acumulada, as mudanças históricas da profissão, o exercício profissional em diferentes escolas, a não valorização social e financeira dos Professores, as dificuldades de estar diante de turmas de crianças e jovens turbulentos, em escolas precárias (...) (Pimenta, 2001). Pode-se concluir, concordando com Pimenta (2001), que uma identidade profissional se constrói a partir da significação social da profissão; da revisão constante dos significados sociais da profissão; da revisão das tradições. A Formação Continuada tem, entre outros, o objetivo de propor discussões teóricas que possam colocar os profissionais atualizados em termos de novas metodologias de ensino e, com isto, contribuir para as mudanças que se fazem necessárias para a melhoria da ação pedagógica na escola e, consequentemente, da educação. Conforme dito anteriormente, conhecer novas teorias faz parte do processo de construção profissional, mas teorias não bastam. Faz-se necessário que estas mobilizem o professor a relacioná-las com seu conhecimento prático construído no seu dia-a-dia, com suas experiências. (NÓVOA, 1992; PERRENOUD, 2000). Se, por um lado, é importante a articulação dos conhecimentos específicos com os saberes pedagógicos e didáticos, por outro lado, o tornarse professor está condicionado à prática social de cada pessoa. Independente do êxito dos cursos de formação continuada, a história mostra que grande parte dos professores aprenderam a ensinar enquanto pesquisavam, preparavam e davam aulas. Questão esta tão evidenciada no nosso curso. Precisamos produzir conhecimento fundamentando as idéias para que nossa ação seja significativa. Discutindo as distorções da formação docente na educação básica, Mello (2001) afirma: “O único aspirante ao magistério que ingressa no ensino superior com opção clara pelo ofício de ensinar é o aluno dos cursos de magistério de primeira à quarta série do ensino fundamental. A estes, na maior parte dos cursos, não é oferecida a oportunidade de seguir aprendendo os conteúdos ou objetos de ensino que deverá ensinar no futuro. Apreende-se a prática do ensino, mas não a sua substância.” (Mello, 2001, p.4) Por outro lado, continua a autora: “Os especialistas ingressam no ensino superior com a expectativa de serem biólogos, geógrafos, matemáticos, linguistas, historiadores ou literatos, dificilmente professores de biologia, de geografia, de línguas ou de literatura.” (Mello, 2001, p.5) Pimenta (2001) considera que, a questão que se coloca é outra: “De um modo geral, têm a clareza de que serão professores (de conhecimentos específicos), e concordam que sem esses saberes dificilmente poderão ensinar (bem). No entanto, poucos já se perguntaram qual o significado que esses conhecimentos na sociedade contemporânea; qual a diferença entre esses conhecimentos e informações. “(Pimenta, 2001). Verifica-se uma convergência entre as idéias desses autores quando destacam algumas deficiências na formulação e implementação de programas voltados para a formação de professores. Essas questões são de grande interesse para o tema que se desenvolve com este breve estudo. Trata-se de compreender essa diversidade de questões relacionadas com a formação de professores. Assim, a formação de professores deveria considerar tanto a experiência pessoal do professor, quanto do aluno, na perspectiva de sua prática social, conforme colocado por Nóvoa (1992). Às vezes, as informações ofertadas em sala de aula não chegam a se transformar em conhecimento. Além disso, é freqüente a desarticulação entre os conteúdos específicos e as teorias e conceitos pedagógicos e didáticos. Há, enfim, a expectativa de que o prático profissional dos professores formados nesses programas venha a ser tão valorizada quanto o ensino, isto é, a sua formação como professor. A partir das observações dos autores citados foi possível verificar a importância da formação continuada de professores. Os professores precisam sensibilizar-se para as enormes carências de nossa formação, reconhecendo assim, que há necessidade de continuar investindo na formação profissional constantemente. Face ao exposto, com este nosso trabalho, almejamos contribuir para a reflexão sobre a Formação Contínua e encontrar subsídios que venham a construir propostas alternativas condizentes com a realidade escolar e, que estas possibilitem a (re)construção de uma prática pedagógica mais contextualizada e voltada às transformações e exigências do mundo contemporâneo. 2 - NOVOS SIGNIFICADOS DA SUPERVISÃO NA ESCOLA CONTEMPORÃNEA "O que se pode perguntar é: qual o objeto de conhecimento que interessa diretamente ao trabalho do supervisor? (...)" "Supervisar o que? Como supervisar? A favor de quem, contra quê/quem, o supervisor realiza suas ações?" (Paulo Freire) Essas frases de Paulo Freire demonstram a sua capacidade de reflexão sobre o papel do Educador Supervisor considerando que ele, em suas simples palavras, estava refletindo e escrevendo sobre sua própria experiência. Freire diz que não conseguiria refletir e escrever algo que não vivesse e internaliza-se que não fosse sua experiência. Que tipo de supervisor somos ou queremos ser, aquele supervisor autocrático, vigilante, fiscal (que olha a caderneta, a hora de chegada, as faltas, etc.), aquele que não sabe ouvir o professor, aquele que apenas reproduz este sistema dominante? (...). Este Supervisor, ou não conseguiu sua autonomia (Carlos Brandão) e não aprendeu o verdadeiro significado da reflexão questionando e interrogando a si mesmo e a sua prática (Marilena Chaui), ou então, ele simplesmente se acomodou aceitando ser objeto de imposição do sistema dominante que usa a educação como meio castrador, sendo o supervisor simples controlador dos educadores que são críticos de si e de sua prática em busca da mudança. É triste saber que ainda temos em grande escala este tipo de supervisor, porém, ao mesmo tempo podemos ficar felizes em saber que hoje existe o Supervisor Educador, considerado por Freire um transformador desta sociedade, começando por transformar-se a si mesmo sonhando um sonho possível. Ser um crítico, fazer análise fria baseada tão somente em nosso conhecimento intelectual, nos distancia do elemento da transformação de nós mesmos enquanto sujeitos em constante evolução, é preciso voltarmos à simplicidade das coisas da vida, o sorriso de uma criança, o prazer de ensinar e aprender, a beleza do olhar, o encanto da vida. Somente então, enquanto educadores sensíveis perceberão que o Supervisor não se preocupa apenas com coisas burocráticas, seu olhar vislumbra muito mais que cobrar, moldar, podar o educador por ele supervisionado. Este “novo” Supervisor reconhece que ser educador está diretamente relacionado a uma posição política, entre apenas reproduzir aquilo que a sociedade dominante quer (com o intuito de manter a sua hegemonia), sendo omisso a essa situação, ou então, a partir do seu novo olhar, partir corajosamente para a luta em busca do Supervisor Educador, libertador, formador de uma sociedade livre, justa e igualitária. Será este um sonho possível? Por que não? Provavelmente estas reflexões eram o desejo do educador Paulo Freire que sabia que um dia não muito distante o homem começará a compreender de fato o papel da educação e sua importância na vida de toda a sociedade. Ação Supervisora na Gestão Democrática Com o passar dos anos percebeu-se que a função do Supervisor Escolar passou por várias mudanças significativas para determinada época, resultando num perfil de Supervisor espontâneo, fiscalizador, controlador, até inspetor, hoje chegou a uma visão de parceiro, humano (Freire) e companheiro do trabalho pedagógico. Nesta transição de papéis, o trabalho de Supervisão Escolar designou muitas vezes na parte técnico-burocrático da escola, assumindo responsabilidades que porventura não lhe cabia a função. Encontramo-nos em uma época onde o papel do Supervisor Escolar tornouse um aliado, um mediador e colaborador das atividades educativas do diretor e do professor, como um agente responsável pela prática democrática envolvendo todos na unidade escolar. Medina (1995), afirma: “o objeto de trabalho do supervisor na escola é resultado da relação que ocorre entre o professor que ensina/aprende e o aluno que aprende / ensina.” Esta relação é essencial para as tomadas de decisões e para o avanço nos processos de mudanças. Nesta visão de novos significados do Supervisor Escolar na escola contemporânea percebemos que a Gestão Democrática, do Supervisor Escolar passa a ser aquele que orienta, aprende e ensina, tornando-se um parceiro no processo educativo. Este, contudo, procurará formas diferenciadas para auxiliar o professor em sua prática, participando e observando as vivências escolares. O Supervisor deixa de ser o facilitador para ser o problematizador, pesquisador e articulador, para que juntos possam construir um trabalho eficaz. É confiando neste trabalho eficaz, que o Supervisor Escolar se organiza e se desdobra para garantir a eficiência do ensino, através de ações desenvolvidas na escola, que orientam os professores em sua prática. O Supervisor Escolar que realmente desenvolve estas ações: de orientação, assessoria, acompanhamento e coordenação, além de observar os professores, analisar os livros didáticos, auxiliar na elaboração do planejamento e projetos, estará organizando momentos segundo Bruno (2000) para: “...a reflexão dos professores sobre as razões que justificam suas opções pedagógicas e sobre as dificuldades que encontram para desenvolver seu trabalho, o professorcoordenador está favorecendo a tomada de consciência dos professores sobre suas ações e o conhecimento sobre o contexto escolar em que atuam.” Neste contexto da escola contemporânea percebe-se a importância do Supervisor Escolar, ou seja, aquele que auxilia o processo, estimula, avalia junto com os professores todo o trabalho pedagógico, que lança olhares questionadores, que busca soluções com parceria da sua equipe, é aquele que está à frente possui o desafio de estar constantemente promovendo tomadas de decisões, reflexões para posterior mudanças na práxis. Para Rangel (2001), “...Para que tal intervenção aconteça,... a necessidade que os supervisores buscarem, constantemente, saberes e conhecimentos concernentes as várias formas de construir metodologias.” Para se confirmar novos significados a ao supervisor nos processos da escola atual percebe-se que é preciso a ação de um trabalho coerente que o Supervisor Escolar seja um entusiasta pelo serviço, otimista quanto à relação de entendimento as necessidades inerentes na escola, que goste do que faz, que tenha capacidade para compreender e aceitar as diferenças no grupo e acima de tudo esteja sempre motivado para que esta energia se espalhe pelo ambiente escolar. De acordo com Luck (2001): “... a motivação é o empurrão ou alavanca que estimula as pessoas agirem e a se superarem... é a chave que abre a porta para o desempenho com qualidade em qualquer situação, tanto no trabalho, como em atividades de lazer, e também atividades pessoais e sociais.” Esta motivação que deve permear constantemente dentro da escola, é fruto da parceria entre a parte administrativa, a supervisão, o corpo docente e discentes envolvidos no processo, resultando assim numa Gestão Escolar Democrática, sendo que esta gestão tem como essência: “... fazer a instituição operar com eficiência, a eficácia da gestão depende, em grande parte, do exercício efetivo da liderança.” (Andrade, 2004), na qual esta liderança é vista para o diretor gestor, que dá autonomia de trabalho, que estabelece responsabilidades para que todo o grupo participe das decisões, juntamente com a comunidade escolar para o sucesso da escola. Por isso o Supervisor Escolar considera a escola um projeto coletivo, assim somente o trabalho em conjunto concretiza os objetivos educacionais. A partir disso sua ação deverá constituir-se numa visão crítica clara, da proposta pedagógica da escola, posicionando-se com coragem, coerência e responsabilidade diante dos imperativos que se apresentam para encontrar soluções cabíveis, enfim torna-se sua ação reflexiva, com olhar diferenciado, resultando numa, “... reflexão com forma de desenvolver um conhecimento profissional contextualizado e sistematizado numa permanência dinâmica interativa entre a ação e o pensamento.” (Rangel, 2001) Nesta perspectiva o processo ensino-aprendizagem desenvolvido pelo professor deverá obter resultados mais significantes, com participação constante do supervisor competente, sob o ponto de vista político, humano e técnico, preocupando com a qualidade do ensino e com a postura dos educadores. Pode-se dizer que o trabalho do Supervisor Escolar é fundamentalmente um trabalho de formação continuada, pois são nos momentos de intervenções e reuniões que o supervisor como o professor, estabelece relações à sua práxis, refletindo sobre temas relevantes para o processo de ensinoaprendizagem, favorecendo uma prática pedagógica de qualidade, contribuindo para a superação de problemas inerentes ao processo. O Supervisor Escolar que assume os novos significados da supervisão contemporânea adquire o perfil de alguém que vê a educação como mola do crescimento da sociedade, e que para tanto está em constante mudança, tornando-o parceiro político-pedagógico do professor que deverá contribuir para integrar e desintegrar, organizar e desorganizar o pensamento do professor em um movimento de participação continuada, no qual os saberes e os conhecimentos se confrontam. Finalizo o capítulo no enfoque dado aos novos significados da supervisão na escola contemporânea onde percebe-se levando em conta duas outras dimensões: a relação entre os sujeitos, Supervisor – Professor, e o ensino-aprendizagem, objeto de trabalho desses profissionais, ultrapassando a simples execução de tarefas e a ‘fiscalização’ do trabalho realizado. Seguindo nesta linha, Alonso (2003, p. 175) afirma que a Supervisão, nesta perspectiva relacional e construída no cotidiano da escola, “(...) vai muito além de um trabalho meramente técnico-pedagógico, como é entendido com frequência, uma vez que implica uma ação planejada e organizada a partir de objetivos muito claros, assumidos por todo o pessoal escolar, com vistas ao fortalecimento do grupo e ao seu posicionamento responsável frente ao trabalho educativo.” Desvela-se, assim, a função do Supervisor enquanto responsável pelo trabalho pedagógico onde assume uma liderança, um papel de responsável pela articulação dos saberes dos professores e sua relação com a proposta de trabalho da escola. 3 - SUPERVISOR ESCOLAR PRESENÇA IMPORTANTE NA EQUIPE DIRETIVA DA ESCOLA AS POSSÍVEIS ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PEDAGOGO “O pedagogo não pode mais ser aquele elemento da escola que tem como única perspectiva promover a adaptação dos indivíduos, pois, ao permanecer nessa prática, simplesmente continua a valorizar o poder das estruturas dominantes e, consequentemente, a dominação do capital e a submissão ao trabalho.” (Urbanetz e Silva, pag.58) Inicio este Capítulo colocando em questão a visão que se tem do supervisor e do orientador educacional e a própria visão que eles têm de si mesmos. Muito tem se falado sobre trabalho coletivo e gestão democrática, o que sugere uma participação mais integrada, principalmente da chamada equipe diretiva de uma escola. Mais do que em outros tempos, o trabalho coletivo e integrado entre a supervisão escolar e a orientação educacional se faz presente, pois, hoje, educando, família e educadores carecem de intermediários que possam elucidar as transformações pelas quais a sociedade como um todo vem passando. Todos parecem sentir que seus papéis já não são mais os mesmos, quando de forma coletiva a equipe socializa as ações buscando as melhores soluções para as questões do processo e que conhecíamos há décadas atrás e, realmente se fazia de forma fragmentada e nesta função imperava o poder. Ainda nesse capitulo escrevo sobre a figura maestrina do supervisor educacional, como presença importante na equipe diretiva onde junto como o orientador escolar e o diretor buscam uma gestão mais democrática, participativa e de responsabilidades compartilhadas. No momento atual se fala em junção de setores de serviços, todos juntos formam a equipe pedagógica na instituição escolar na qual procuram trabalhar para obter sucesso no desempenho da multiplicidade de suas tarefas. Porém Libâneo (2005) ressalta que como em todas as profissões encontram-se vários dilemas e problemas a serem enfrentados como: a docência como base da identidade profissional do educador, a divisão do trabalho na escola, a separação conteúdos e métodos gerando certa fragmentação no estudo, a escola como local de trabalho. Integração da Prática dos Especialistas em Educação A integração nas ações dos especialistas em educação é importante para a inserção de propostas construtivas que permite à ação pedagógica o atingimento dos objetivos propostos. Através do acompanhamento da prática docente e prática discente, ambos os profissionais poderão dentro das suas atribuições agregarem valores quanto ao papel de supervisor escolar e orientador educacional na escola. Neste sentido, o supervisor escolar é também responsável pela leitura de sociedade e de mundo procurando ir além dos aspectos individuais que permeiam a sala de aula e todos os seus elementos conflituosos e o orientador educacional pela postura metodológica do professor. Ambos, supervisor escolar e orientador educacional, trabalham para o bom andamento do trabalho pedagógico, assim é fundamental que: * mantenham registros de acompanhamento da prática docente e discente de responsabilidade mútua que possam ser analisados visando à avaliação do cenário e tomada de decisões em conjunto; * realizem sessões de estudo que tratem de temas apropriados para a fundamentação da prática da equipe; * realizem visitas em sala de aula para acompanhamento da prática de ensino e aprendizagem; * elaborem o Plano de Ação anual e/ou semestral elencando os objetivos e ações tendo como suporte o desempenho acadêmico dos alunos, o perfil dos professores e da comunidade de pais e/ou responsáveis pelos alunos articulado com o Plano de Ação do gestor escolar. O supervisor escolar e/ou coordenador escolar precisa ser uma liderança para conduzir os professores onde sozinhos não poderiam chegar. Para isto ele deve apresentar organização no seu trabalho e dinamismo, ter como suporte o saber técnico e o comprometimento com as mudanças sociais e o rumo delas respondendo as expectativas da comunidade com que ela precisa e o que quer. A escola envolve diferentes segmentos de sujeitos que fazem a sua história, tecendo seu projeto educativo. Nesse contexto, está o Serviço de Supervisão Escolar, como parte da Coordenação Pedagógica da Escola que, juntamente com a Orientação Educacional, organiza, orienta e assessora o Corpo Docente a fim de que planeje a ação pedagógica a ser desenvolvida com os alunos e alunas na busca da construção das condições para que aconteça o processo de ensinar e aprender com qualidade. Planejar significa pensar o antes, o durante e o depois, no sentido de melhorar o fazer pedagógico. É nessa significação que deve atuar a Supervisão Escolar na Escola. Organizar reuniões de estudos, em que se aprofundam teorias que dão luz às práticas desenvolvidas é uma tarefa da supervisão. Para tanto, é necessário, também, estudar muito, ler e, principalmente, fazer a leitura do cotidiano das práticas, diálogos e apelos dos professores e professoras. Acompanhar o(a) professor(a) no seu planejamento, desde os projetos de ação junto às suas turmas até suas aulas, faz parte do trabalho do supervisor como um apoio, indicando caminhos para a ação-reflexão-ação do professor, da professora. É da prática do supervisor escolar, na Escola, criar espaços de fala para o(a) professor(a), para que possa pensar sua ação pedagógica, na perspectiva de buscar sempre melhores condições de aprendizagem para todos os alunos e alunas. O Serviço de Supervisão Escolar tem como parâmetro para sua ação, o seu Plano de Ação, por isso esse é o seu foco de atuação, desde a elaboração, retomada, aplicação, execução e avaliação, primando pelo envolvimento e participação de todos os envolvidos na Escola. É de grande importância o envolvimento da supervisão nos Conselhos de Classe, nas Reuniões de Pais e na articulação da Equipe Diretiva no que diz respeito às questões pedagógicas. Tem, pois, a supervisão Escolar, no contexto da Escola, o compromisso de fazer acontecer a integração entre diferentes segmentos e setores, assessorando o trabalho para a efetivação do Projeto Político Pedagógico da Escola. São atribuições que nesta reflexão cabe ao supervisor escolar: 1. Promover reuniões para integração, através da sensibilização para o trabalho em equipe; 2. Realizar sessões de estudos da proposta pedagógica; 3. Promover reuniões e/ou encontros para troca de experiências e conhecimentos; 4. Acompanhar, coordenar e avaliar as reuniões. 5. Realizar encontros individuais com professores; 6. Acompanhar a prática do professor. “O Supervisor escolar como parte da equipe diretiva (direção, supervisão, coordenação pedagógica, orientação educacional) tem um importante papel, dada sua influencia na criação de um clima organizacional favorável.” (VASCONCELLOS, Coordenação do Trabalho Pedagógico. 51 2002.). Desta forma, o supervisor junto com o orientar e o diretor vão construir seu espaço e definir sua verdadeira função desenvolvendo uma gestão democrática que tem como concepção a participação intensa e constante dos diferentes segmentos sociais nos processos decisórios, no compartilhar as responsabilidades, na articulação de interesses, na transparência das ações, em mobilização e compromisso social, em controle coletivo. 4 - A RELAÇAO DA ESCOLA COM A FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL EM SERVIÇO. "Como professores, educadores, nós temos que estar engajados num palco de luta permanente, que é a luta pela superação que nós mesmos aceitamos. É preciso estarmos abertos constantemente ao novo e ao diferente, para poder crescer e aprender." (Paulo Freire,1996) A formação continuada no espaço escolar possui merecida importância, uma vez que fomenta questões que vão das dúvidas individuais às dificuldades do todo. O processo de atualização e troca de experiências, merece atenção especial no cenário educacional, através de estudos e metodologias: a teoria a serviço da prática. Em momentos, voltados à formação continuada de profissionais da educação, nos deparamos com experiências e perspectivas diversas, que nos proporcionam importantes momentos de reflexão e de aprendizado, além de fornecer ferramentas significativas, que contribuem para o desenvolvimento de competências que alimentam nosso universo e currículo pessoal e profissional. Tempo, planejamento de horários para trabalhos coletivos, conhecimento, domínio de comunicação e capacidade de mudanças a favor da prática pedagógica, fazem parte do que chamamos de formação continuada e funcionam muito bem quando exercitada no próprio espaço institucional e sob o comando e orientação de um bom supervisor educacional. O desafio de acompanhar a demanda da escola e enfrentar diferentes dificuldades do corpo docente, exige um profissional em constante aperfeiçoamento e atualização, levando assim o Supervisor a se preocupar com a própria formação e a adotar hábitos tais como: boas leituras, visitas a sites, participações em seminários, aprofundamento no processo de alfabetização e nas dificuldades específicas e peculiares dos professores. Porém, diante da rotina do complexo ambiente escolar, o supervisor, acaba por assumir diversas funções como: resolver questões de indisciplina do corpo discente e atacar questões burocráticas, prejudicando os encontros de aperfeiçoamento dos profissionais. Contudo, a formação continuada em serviço, tem como meta a reflexão da prática pedagógica de professores do Ensino Fundamental II como proposta de estudo tendo em vista as necessidades e desafios que a realidade escolar coloca para seus profissionais. O objetivo é estimular, através da formação continuada em serviço, práticas e reflexões sobre os processos de ensino e aprendizagem que tomam como referência o aluno, as práticas pedagógicas significativas e as dificuldades de se lidar no contexto do processo de como preparar uma boa avaliação. Para desenvolver o tema em questão partilho da experiência que foi desenvolvido dentro do Programa Franciscano de Formação Continuada para a equipe diretiva e os professores de uma escola da rede particular de Duque de Caxias/RJ, que iniciou no período de 2007, voltado ao tema da avaliação da aprendizagem em sua relação com a formação continuada dos profissionais da educação com o objetivo de contribuir para a revisão da prática já existente e o aprimoramento da prática avaliativa participando de um estudo de como elaborar boas questões para uma avaliação de qualidade , levando os educadores a reflexão de sua prática em sala de aula. Todo o ano de 2007 a 2009 destinou-se ao aprofundamento das questões teóricas com o apoio de uma equipe de assessoria que tinha como proposta através do processo de Formação Continuada capacitar a equipe diretiva e alguns professores que representavam todos os seguimentos. Esta equipe após três anos de formação continuada recebeu a missão de ser multiplicadores da proposta através do Programa Franciscano de Formação Continuada assumido pela escola. Hoje a relação da escola com a formação continuada dos profissionais em serviço se dá a cerca da avaliação escolar e da formação continuada, por meio da participação em seminários, encontros de orientação, e pretendemos construir um embasamento teórico que venha de encontro às necessidades postas pela prática pedagógica e que subsidie a formulação de um plano de ação a ser implementado na referida escola. Hoje a escola conta com todos os professores mais aqui me atenho a experiência dos profissionais em serviço do fundamental II. O ano de 2009 e 2010 destinou-se à implementação do referido programa como mediação no processo de aprimoramento do trabalho pedagógico escolar pela via da formação continuada em serviço junto aos professores. A avaliação da aprendizagem escolar tem sido um dos pontos de maior destaque no campo da pesquisa educacional. Muito se têm ampliado as discussões a partir das contradições postas na prática, as quais apelam para a necessidade de mudanças na cultura avaliativa desenvolvida no cotidiano escolar, em especial por sua relação com a questão política do fracasso escolar. Pela categoria da contradição observa-se a avaliação numa perspectiva de movimento: ao mesmo tempo em que a concepção de avaliação presente no discurso da maior parte dos professores está vinculada à avaliação diagnóstica, percebe-se na prática pedagógica de muitos docentes uma avaliação classificatória. A avaliação diagnóstica tem por princípio o acompanhamento do desenvolvimento escolar do aluno, como sujeito deste processo que analisa continuamente a aprendizagem, com o objetivo de redimensionar a prática pedagógica, na intenção de garantir qualidade de educação para todos os alunos. Para Luckesi: "a avaliação deverá ser assumida como um instrumento de compreensão do estágio da aprendizagem em que se encontra o aluno, tendo em vista tomar decisões suficientes e satisfatórias para que possa avançar no seu processo de aprendizagem. Se é importante aprender aquilo que se ensina na escola, a função da avaliação será possibilitar ao educador condições de compreensão do estágio em que o aluno se encontra, tendo em vista poder trabalhar com ele para que saia do estágio defasado em que se encontra e possa avançar em termos de conhecimentos necessários. Desse modo, a avaliação não seria tão-somente um instrumento para a aprovação ou reprovação dos alunos, mas sim um instrumento de diagnóstico de sua situação, tendo em vista a definição de encaminhamentos adequados para a sua aprendizagem. Se um aluno está defasado não há que, pura e simplesmente, reprová-lo e mantê-lo nesta situação." (Luckesi,1995,p.81) Contraditoriamente, a concepção de avaliação observada na prática pedagógica de muitos professores na atual organização do trabalho pedagógico é de caráter excludente, na qual o professor avalia para selecionar, classificar e controlar, pressupondo que todos os alunos aprendem da mesma forma, desconsiderando os fatores que produzem diferentes formas de viver e de aprender. Raramente o aluno é efetivamente inserido como sujeito do processo avaliativo. O professor avalia com fins burocráticos, pretendendo quantificar o que o aluno sabe, determinando sua aprovação ou não. E o foco da reflexão quando falo do Programa Franciscano de Formação continuada de uma escola da rede particular de Duque de Caxias/RJ, inclui ainda aquilo que chamamos de pegadinha o professor deseja com o instrumento que tem nas mãos a avaliação “ferrar o aluno”, ele elabora questões descontextualizada em relação o que ensinou e o resultado deste processo é o fracasso na avaliação. Este tipo de avaliação reforça uma proposta pedagógica inoperante do ponto de vista do significado sócio-político da escola como fator de uma proposta de qualidade. Nestes termos, a avaliação da aprendizagem tem ficado restrita a exames e provas, reproduzindo um quadro de exclusão observado também na sociedade. Outra necessidade presente no âmbito do ensino de uma escola da rede particular de Duque de Caxias/RJ é a prática avaliativa dos profissionais da educação em relação ao aporte teórico dado à avaliação no processo de formação continuada. Conquanto nestes processos tenha predominado uma abordagem de avaliação inserida no contexto mais amplo do Projeto PolíticoPedagógico e da Proposta Curricular, parte-se do pressuposto de que os docentes possuem um domínio teórico das concepções de avaliação que referenciem sua prática, o que, em muitos casos, não ocorre e o trabalho com a avaliação permanece distante das reais necessidades educacionais dos estudantes. Segundo Lima Veiga: “a escola exige dos educadores uma vigilância permanente em relação a sua qualificação e atualização na formação continuada, já que uma prática pedagógica consciente e conscientizadora requerem profissionalização (formação adequada e atualização), para que se criem as possibilidades de: compreensão das políticas mais amplas com ingerência nas singularidades locais; estabelecimento de relações; domínio da estrutura básica dos conteúdos escolares que permita ao professor selecionar e abordar adequadamente os conhecimentos mais significativos, organização e condução de projetos pedagógicos contextualizados e consequentes.” (Veiga, 1995). Investigar a avaliação da aprendizagem no contexto da formação continuada dos profissionais da educação adquire relevância social, na medida em que o ato educativo nasce da prática social ao mesmo tempo em que a direciona. A prática avaliativa é condicionada pelo processo histórico-social, mas dialeticamente também é condicionante desse processo; daí a importância de se desenvolver uma cultura avaliativa comprometida com a perspectiva transformadora. Este trabalho tema desenvolvido neste capítulo teve o objetivo de intervir na realidade da escola, pretendendo a construção e implementação de uma metodologia de análise da concepção (conteúdo) e da prática (forma) da avaliação da aprendizagem escolar, buscando consolidar uma cultura avaliativa compatível com as atuais necessidades educacionais do aluno, a partir da formação continuada dos professores e a equipe diretiva da escola. A implementação da proposta de intervenção na escola se deu por meio da articulação, por parte da equipe de multiplicadores, de um processo de formação continuada, em serviço, dos docentes, incluindo, de forma sistemática, a construção de um sólido referencial teórico, propiciado por palestras, leituras, reflexões e discussões coletivas, tarefas reflexivas visando o desvelamento da cultura avaliativa predominante no interior da referida escola; das variáveis que interferem no processo de ensino e aprendizagem; bem como das possibilidades de superação rumo à prática de uma avaliação emancipadora e libertadora e de qualidade. Esta fase do plano de ação ocorreu ao longo do primeiro semestre de 2009 e 2010, durante as horas-atividade dos professores das diferentes disciplinas, reuniões pedagógicas semanais (enquanto os alunos fazem provas os professores tinham um substituto para supervisionar a prova e os professores participam da reunião), dias destinados à formação continuada dos profissionais da educação, Conselhos de Classe, compreendendo estes momentos como espaços onde acontece o processo de formação continuada em serviço. A execução deste trabalho integrou a formação continuada em serviço dos profissionais da educação, subdividido em etapas: quatro grandes encontros de formação Continuada durante o ano com a equipe de multiplicadores para os professores do fundamental II, uma hora do Conselho de Classe do 1ª etapa, meia hora nas reuniões semanais e a utilização de, em média, duas horas-atividade mensais de cada professor, totalizando três e meia horas-atividade de estudo e discussões. A proposta do programa partiu da preocupação com uma avaliação qualitativa que abre espaço para o aluno ser produtor de conhecimento. Nesse processo, a dúvida é estímulo e o erro ganha importância na construção do conhecimento. O professor é mediador do conhecimento acumulado historicamente, zelando para que os alunos cresçam em autonomia. A avaliação, assim, serve para ajudar o aluno a aprender e o professor a ensinar. A avaliação emancipadora surge como uma forma pedagógica e filosófica de se posicionar dialeticamente num processo crítico. A avaliação, assim, favorece a construção de um saber comprometido com a sociedade que se está construindo. Vários autores, ao acentuar os aspectos políticos e histórico-sociais da avaliação, propõem a concepção emancipatória dentro de um paradigma dialético, como uma das possíveis e desejáveis práticas avaliativas. Dentre eles encontra-se Pedro Demo que busca caracterizar o compromisso educativo da avaliação escolar e a define como um processo permanente de acompanhamento do aluno. Tendo como referência o paradigma da comunicação, coloca a “discutibilidade" como critério essencial da cientificidade, que tem a ver com a avaliação, tanto no que diz respeito aos procedimentos que fazem parte da sua lógica intrínseca, quanto no que se refere à apreciação da qualidade. Para Demo: “O aluno que não aprende não pode ser empurrado, mas bem cuidado, de tal forma que possa resgatar suas oportunidades. [...] Cuidar do aluno significa cuidar que aprenda, não apenas que passe de ano. Entende-se, por certo, que este professor possa estar preocupado com o aluno, à medida que já não aceite reprová-lo. Mas isto não pode ser feito às custas da aprendizagem, pois vai coincidir mais propriamente com “descuidar”. (Demo, 2004, p.28) O processo de avaliação é um recurso pedagógico essencial para auxiliar o educador e o educando na busca e construção do conhecimento. Pedro Demo ainda coloca que: “[...] para cuidar da aprendizagem, é preciso avaliar sempre, como rotina escolar”. Quem cuida não perde de vista. (DEMO, 2004, p.80). Após uma longa discussão constatou-se a fragilidade das concepções propaladas no discurso da maioria dos professores em relação à postura que adotam frente à prática avaliativa. A maior parte do corpo docente declarou uma grande resistência em relação a proposta por que foi necessário uma desconstrução de teorias com verdades estaques. Durante a discussão vários mitos da cultura avaliativa vieram à tona e a perspectiva da culpabilização do aluno pela sua não aprendizagem aparenta ser uma idéia arraigada. Alguns professores elaboram os instrumentos abordando questões de forma diferenciada da utilizada no dia-a-dia, cobram os conhecimentos de forma objetiva, mas exigindo interpretação, compreensão e síntese dos conhecimentos, como por exemplo, a elaboração de quadro-síntese, a resolução de uma questão através de somatória, inclusive utilizando questões retiradas de algum caderno de vestibular, então as dificuldades técnicas contribuem para agravar o quadro, por vezes inviabilizando a demonstração do domínio do conteúdo. Segundo Vascocellos: "A discussão sobre o instrumento preparado pelo professor tem se revelado um bom caminho de formação em avaliação, uma vez que possibilita a reflexão a respeito do que ele quer (ajuda a clarear as finalidades do ensino) e sobre o que realmente está exigindo dos alunos (se é o essencial, se a formulação está apropriada, etc.)." (Vasconcellos, 2003) Por outro lado, a escola quando cria espaços de formação do profissional em serviço das possibilidades significativas para a conquista de uma possível mudança na prática avaliativa está relacionada com a articulação entre os pedagogos e professores, buscando uma relação dialógica, através do processo de ação-reflexão-ação que supere práticas pedagógicas acríticas e excludentes. A reflexão coletiva sobre a prática avaliativa e a investigação dessa prática refletida, pressupõe a busca de elementos teóricos que viabilizem sua compreensão e/ou a possibilidade de mudança, que constitui um modo de formação continuada em serviço, uma outra possibilidade para a análise e revisão crítica das práticas avaliativas recorrentes no cotidiano escolar. O pedagogo com sua equipe tornam articuladores do processo de ensino e da aprendizagem na perspectiva da organização do trabalho escolar, torna-se um elemento importante para a transformação da prática avaliativa no interior da escola, contribuindo para a construção de uma ação educativa emancipadora de todos os segmentos da comunidade escolar. A equipe também tem sido atribuída a responsabilidade de execução de propostas de formação continuada em serviço junto aos demais profissionais da educação, durante as horas-atividade, reuniões pedagógicas, Conselhos de Classe e dias específicos de formação continuada previstos em calendário. O último encontro do programa franciscano de formação continuada ocorreu na Jornada Pedagógica de Janeiro de 2011, todos os professores receberam o texto: "Texto: A avaliação como componente do ensino e da aprendizagem" (Sylvia Garcia Rodrigues)1. No texto, a autora abordou a avaliação Considerando sua decisão pela Matriz Interação Indivíduo e Sociedade, e destaca, também, algumas outras questões relativas a essa avaliação no âmbito escolar. A avaliação nessa perspectiva precisa cumprir funções: função diagnóstica, função formativa e função somativa. Elas não se excluem e não se esgotam. É necessário que o docente realize avaliações considerando essas três funções. A avaliação diagnóstica e a formativa ocorrem em diferentes momentos em uma etapa escolar, como por exemplo em trimestres, semestres ou em projetos extensos. Já a avaliação somativa ocorre ao final de uma etapa, de um projeto ou do trabalho mais complexo em torno de um tema. A concepção de avaliação formativa supõe uma ação do avaliador em direção ao desenvolvimento e crescimento do avaliado. Diversos autores têm enfocado a avaliação formativa como possibilidade de melhoria do desempenho. O conceito de avaliação formativa se opõe à avaliação somativa enfatizando a importância do processo e não do produto. Perrenoud define como formativa “toda prática de avaliação contínua que pretenda contribuir para melhorar as aprendizagens em curso, qualquer que seja o quadro e qualquer que seja a extensão concreta da diferenciação do ensino.” (PERRENOUD, 1999, p.78). Desta forma, a avaliação deve centrar-se nas aprendizagens do aluno de forma direta e imediata inserindo-se no processo de ensino e aprendizagem que acontece na escola diariamente, e não em momentos estanques, preparados cuidadosamente para este fim. Neste sentido, ela é contínua, embora nem toda avaliação contínua seja formativa, já que nem todas possuem a finalidade de contribuir para a progressão da aprendizagem. 1 Assessora que acompanhou a equipe de Formação Continuada PROFFOCO em uma escola particular do município de Duque de Caxias/RJ. Discutiu-se também a questão da concepção de avaliação ligada à ideia de fracasso escolar, trabalhada por Maria Teresa Esteban, a qual destaca o erro como fonte de aprendizagem, propondo a construção de uma perspectiva de avaliação voltada ao sucesso escolar, indo além da constatação da nãoaprendizagem. "A análise da prática pedagógica mostra claramente que a avaliação como prática construída a partir da classificação das respostas do aluno e alunas em erros ou acertos impede que o processo ensinoaprendizagem incorpore a riqueza presente nas propostas escolares, o que seria valorizar a diversidade de conhecimentos e do processo de sua construção e socialização. A avaliação funciona como instrumento de controle e de limitação das atuações (alunos/professores) no contexto escolar." (Esteban, 2003, p.16) O trabalho com o texto a avaliação como componente do ensino e da aprendizagem" viabilizou a reflexão sobre alguns limites e possibilidades da prática avaliativa na construção coletiva de um saber-fazer pedagógico voltado para democratização do conhecimento e das relações pedagógicas, no interior das escolas. Permitiu ainda a reflexão sobre uma prática avaliativa mais democrática, favorecendo o desenvolvimento da capacidade do aluno de apropriar-se de conhecimentos. Neste capítulo Partilho da minha experiência positiva e transformadora no plano de formação Continuada de uma escola da rede particular de Duque de Caxias/RJ, e acrescento a importância de criar espaços de Formação continuada na escola para trabalhar a avaliação da aprendizagem relacionada as questões do planejamento constitui uma das necessidades da prática pedagógica hoje. Objetivos, conteúdos, procedimentos metodológicos, avaliação são componentes curriculares, os quais requerem decisões que transcendem a natureza técnica e tem implicação nas formas de conceber a sociedade, a escola, o conhecimento. Não obstante os limites deste trabalho, faz-se fundamental o aprofundamento da compreensão das relações inerentes à avaliação escolar num todo e principalmente o foco dado ao tema deste capítulo e o estudo de caso (PROFFOCO). 5 - CONTRIBUIÇÃO DA SUPERVISÃO NA AÇÃO DOCENTE “A palavra supervisão é formada pelos vocábulos super (sobre) e visão (ação de ver). Indica a atitude de ver com mais clareza uma ação qualquer” (ANDRADE, 1976, p.9). A supervisão moderna caracteriza-se como orientação, coordenação, ajuda, diferenciando-se da ideia de supervisão como inspeção ou fiscalização (ANDRADE, 1976), visto que, “(...) o supervisor é o sujeito que faz a leitura da escola na sua totalidade” (MEDINA, 1997, p.18). Neste sentido, a supervisão escolar precisa (...) despir-se do autoritarismo que a caracterizou em épocas passadas e assumir seu verdadeiro papel de estimuladora e organizadora de um projeto de mudança necessária que envolva, de forma responsável, toda a comunidade escolar (ALONSO, 2000, p.180). Conforme Ronca e Gonçalves (1988), a contribuição do supervisor é construir o coletivo, auxiliar na qualificação e valorização do professor, superando a visão tradicional da supervisão, que envolvia apenas a cobrança de planos, estratégias, objetivos, buscando alternativas de ação que possibilitem ao professor a reflexão sobre a prática, analisando-a e revendo-a. A supervisão escolar é a atividade de estimular, orientar e coordenar o desenvolvimento contínuo do professor para desempenhar todas as suas funções sempre orientadas para o desenvolvimento do educando, “(...) a fim de que este possa tornar-se cada vez mais consciente, eficiente e responsável em função de sua realidade pessoal e social” (NERICI, 1986, p.28). Assume o supervisor a contribuição na ação docente de articular tudo o que ocorre no universo escolar, orientar a formação continuada dos professores (MIZIARA, 2005b), propiciando momentos de estudos com os educadores dentro do ambiente escolar. Neste trabalho de formação continuada, o supervisor precisa conhecer qual o entendimento dos professores acerca do que é educação e como ocorre o processo de formação do conhecimento pelo aluno, visto que esta base epistemológica do professor é o que dará suporte para suas ações pedagógicas (MIZIARA, 2005b). Outra contribuição do supervisor é manter as relações interpessoais entre direção, corpo docente, corpo discente e pais de alunos, estabelecendo a parceria e a cooperação entre todos, visando a promoção de uma educação mais eficiente, que possibilite a formação de uma sociedade mais justa e igualitária (MIZIARA, 2005b). Outra tarefa muito importante do supervisor é a elaboração do projeto político pedagógico da escola em conjunto com a direção, corpo docente, corpo discente e comunidade (MIZIARA, 2005a). Além destas, tem-se como funções do supervisor a coordenação do trabalho coletivo, a integração dos planos com as ações, o encaminhamento de estudos, estimulando a consciência crítica e ampliando o entendimento dos princípios e projetos educacionais (RANGEL, 1997). Diante de todas estas tarefas, percebe-se a supervisão “(...) como a prática profissional do educador comprometido com o significado e as implicações sociopolíticas da educação“ (RANGEL, 1997, p.148). Mas, para que isto aconteça, o supervisor tem que pensar e refletir sobre o seu fazer cotidiano, ser um supervisor/pesquisador, para que possa traçar com os professores o conhecimento da realidade na qual irão atuar, para selecionar meios e estratégias de intervenção, procurando melhorar a realidade que hoje se encontra nas escolas (BALZAN, 1988). Precisa estimular o professor-planejador, não aquele que só fabrica planos para serem arquivados, mas aquele que pesquisa a realidade, reflete sobre ela e busca alternativas pedagógicas para dar conta da grandeza do processo educativo. Espera-se que o supervisor “(...) seja um elemento criativo, com iniciativa, dinâmico, a fim de encontrar os momentos adequados para agir e provocar o trabalho cooperativo dos professores” (FERNANDES, 1997, p.117). Mas será que os supervisores têm formação para desempenhar esses novos papéis? Silva Júnior (1984) ressalta que a formação deve constituir-se num processo de autoformação, que envolve a construção de uma consciência pessoal e de uma consciência política. Essa consciência deverá favorecer a compreensão e dinamização de sua relação com os outros e com o mundo. Para que consiga auxiliar os professores a também refletirem sobre a atuação em sala de aula, é necessário que o supervisor reflita, discuta, analise sua própria prática, vivenciando a práxis (SILVA Jr, 1997). Desta forma, cabe ao supervisor se atualizar constantemente, ler materiais referentes a área educacional, para não agir com base no “achismo”, pois nem sempre a sua formação inicial contempla todos os atributos necessários a sua atuação na escola. A supervisão precisa deixar de ser apenas técnica “para se tornar um fator político, passando a se preocupar com o sentido e os efeitos da ação que desencadeia mais do que com os resultados imediatos do trabalho escolar”. Porém, “essa dimensão política da supervisão somente se torna efetiva quando (...) altera o ambiente escolar, tornando-o mais compatível com as novas exigências, portanto, mais aberto a mudanças” (ALONSO, 2000, p.175). Vasconcellos (2003) discute a necessidade de mudanças na educação e menciona que a mudança exige intervenção, atuação consciente, planejada, organizada. Quando o supervisor faz um apontamento ao trabalho do professor, pode ajudá-lo a tomar consciência do seu fazer, para que problematize a ação, utilizando a teoria para provocar e suscitar ações da prática. Se o professor, ao invés de apenas ser criticado ou de receber “receitas”, “manuais” prontos for (...) solicitado a refletir sobre sua prática, a fundamentá-la, a buscar as suas alternativas (...)” (VASCONCELLOS, 2003, p.68), terá melhores condições para se constituir autor da ação educativa. Nisto consiste a tarefa do supervisor, pois as contradições do trabalho pedagógico dificilmente são percebidas pelo próprio professor, em vista dele estar mergulhado na ação. Desta forma, é importante encontrar no supervisor, alguém que o provoca, que o auxilia a problematizar sua ação pedagógica, para poder tomar consciência das contradições que perpassam seu fazer, buscando meios de superá-las. Muitas vezes se imagina que o professor, quando adentra na sala de aula, deve dominar todas as técnicas, deter todos os saberes, ser exímio conhecedor da didática para “ter domínio da classe”. Este foi o ideal de professor que por muito tempo se teve (e talvez ainda se tenha) nas escolas. O próprio professor acreditava que, enquanto professor, precisava dominar todos estes aspectos. Dificilmente o docente se colocava na condição de aprendiz, que precisa de auxílio para se construir como professor, que carece de referenciais teórico-práticos, que precisa discutir, problematizar, socializar os seus problemas para então procurar recursos e caminhos para solucioná-los. O professor ficava isolado em sua sala de aula, sem contato com os demais segmentos da escola, precisando dar conta de uma gama de problemas que, muitas vezes, ultrapassavam as paredes da sala. Sabe-se hoje da importância da socialização dos saberes, de se discutir, no coletivo da escola, todas as questões pertinentes a educação. Vasconcellos (2003) sinaliza esta urgente necessidade de refletir, problematizar o fazer docente. Apesar deste autor focar sua análise na atuação do professor, entende-se que é responsabilidade também do supervisor engajar-se neste processo, auxiliando os professores a problematizarem o trabalho pedagógico. Neste sentido, Ronca e Gonçalves (1988, p.31) colocam que, (...) compete ao supervisor criar condições para que os educadores (...) possam rever a sua atuação; não só constatar que a escola vai mal, mas principalmente, perceber o seu papel neste contexto e o que fazer para melhorar a situação. Para isto, é importante que além dos conhecimentos pedagógicos, o supervisor conheça um pouco sobre as disciplinas e conteúdos que compõe o currículo da escola na qual trabalha, para que possa dialogar com os professores sobre estratégias e recursos a serem adotados (BALZAN, 1988). Também é oportuno conhecimento de outras áreas, tais como antropologia, filosofia, lingüística, sociologia e aprofundamento em temas como agressividade, sexualidade, raça e gênero (MEDINA, 1997). O supervisor deve orientar as atividades educativas que acontecem na escola, orientações estas que se constituem em apoio aos professores para que desenvolvam suas atividades em sala de aula, sugerindo e propondo atividades diferentes, com a utilização de materiais adequados, visando o aperfeiçoamento do trabalho do professor e, consequentemente, sua relação com os alunos (MIZIARA, 2005b). Para assumir tais desafios, o supervisor necessita “(...) desfazer-se e refazer-se todos os dias, repensando sua própria prática e a teoria que a embasa, revendo sua opção política (...), analisando-se enquanto educador e agente transformador (...)” (MIZIARA, 2005b, p.13). Com este entendimento, (...) o supervisor não é mais aquele sujeito que possui um „superpoder‟ de assessorar, acompanhar, controlar e avaliar o trabalho que os professores realizam nas escolas, mas aquele que constrói com os professores seu trabalho diário (MEDINA, 1997, p.21). O supervisor deve ser parceiro do professor, para que juntos consigam procurar subsídios, instrumentos, alternativas metodológicas capazes de responder as exigências do contexto escolar e social. Vasconcellos (2003) menciona que não há um ponto para iniciar a mudança, mas que é preciso iniciá-la de alguma forma. Portanto, tem-se aí muitos roteiros possíveis para o caminhar do supervisor. Cabe a ele identificar as necessidades do contexto no qual está inserido, buscando traçar os caminhos mais viáveis para atuar junto aos professores, auxiliando-os no trabalho pedagógico, em busca de uma escola mais humana, mais sintonizada com os novos paradigmas do século XXI. Contudo, a contribuição da supervisão na ação docente está voltada para o conhecimento, competência profissional, formação continuada onde o supervisor, entendido aqui como articulador da proposta pedagógica da escola, precisa estar ciente das mudanças que se processam no mundo e na escola para poder auxiliar os educadores neste processo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Historicamente a atuação do supervisor escolar tem sofrido mudanças, principalmente em relação ao acompanhamento do processo ensinoaprendizagem. Se na década de sessenta o supervisor era visto apenas como aquele que tinha uma super visão em relação ao trabalho do professor em sala de aula, hoje lhe são atribuídas novas funções e responsabilidades no sentido de colaborar com o bom andamento da escola em que atua, bem como a busca por ações que atenda toda comunidade escolar e que favoreça a participação de todos. Ao longo das discussões teóricas e legislativas realizadas durante este trabalho e ao mesmo tempo, as reflexões proporcionadas perante a atuação do supervisor escolar em seu cotidiano, nos dão a possibilidade de acreditar no avanço, ao que se refere a sua profissionalidade. A partir das ações do cotidiano de uma escola particular de Duque de Caxias , com supervisores escolares podemos refletir a cerca da qualidade de seu trabalho. Mesmo sendo preocupada com o fazer de sua função, existe o outro lado, com fatores que sobrepõe a este fazer, ou seja, o supervisor tem conhecimento de suas verdadeiras atribuições, porém muitas vezes, encontrase limitado para exercê-las em sua totalidade. Para provocar mudanças em situações já arraigadas na escola o supervisor escolar necessitará de pleno domínio dos conhecimentos pertinentes a sua função e disposição interna para lidar com a diversidade de situações que se apresentam em seu ambiente de trabalho. Além disso, necessário se faz uma relação dialética entre todos da equipe proporcionando um bom relacionamento interpessoal e um bom espírito de liderança, capazes de legitimar a sua atuação e conquistar seu espaço, sempre em uma perspectiva crítico participativa. São muitos os desafios a serem vencidos pelos supervisores escolares dentro de seu local de trabalho, mas é emergente que eles se afirmem enquanto profissionais da educação para recuperarem o seu espaço que é de fato e de direito. E neste trabalho pudemos refletir sobre suas contribuições na perspectiva de criar um plano de formação continuada e capacitar profissionais em serviço para que na atuação da função possa suprir as reais formas e necessidades de aprendizagens que o aluno busca. Bibliografia – Monografia ALONSO, Myrtes. A supervisão e o desenvolvimento profissional do professor. In: FERREIRA, Naura Syria Carapeto (org.). Supervisão Educacional para uma escola de qualidade. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2000. p.167-181. 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