Revista do Hospital Universitário UFMA REVISTA QUADRIMESTRAL VOLUME 1 (1/2) JAN-ABR / MAIO-AGO, 2003 SÃO LUIÍS/MA ISSN 1677-4647 UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO FERNANDO ANTONIO GUIMARÃES RAMOS Reitor JOSÉ AMÉRICO DA COSTA BARROQUEIRO Vice-Reitor ELIZABETH DE SOUSA BARCELOS BARROQUEIRO Presidente do Conselho de Administração do Hospital NATALINO SALGADO FILHO Diretor Geral do Hospital Universitário NAIR PORTELA SILVA COUTINHO Diretora Adjunta de Ensino, Pesquisa e Extensão CÉLIO GITAHY VAZ SARDINHA Diretor Adjunto de Administração JOSÉ MÁRCIO SOARES LEITE Diretor Adjunto de Planejamento ROSE MARIE DE JESUS JÁCOME CASTELO BRANCO Diretora Adjunta de Serviço Assistencial ARLENE DE JESUS MENDES CALDAS Editora Responsável Revista do Hospital Universitário/UFMA - periódico bio-médico de divulgação científica do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão Redação e Administração Rua Barão de Itapary, 227 - Centro - CEP. 65.020-070 - São Luis - MA - Brasil Telefone: (0**98)219-1084 - E-mail: [email protected] 2 EDITORES ASSOCIADOS Aldina Maria Prado Barral / UFBA Alcimar Nunes Pinheiro / UFMA Antonio Rafael da Silva / UFMA Antonio Augusto Moura da Silva / UFMA Fernando Antonio Guimarães Ramos / UFMA Gutemberg Fernandes de Araújo / UFMA Jackson Maurício Lopes Costa / FIOCRUZ - BA Marilia da Glória Martins / UFMA Natalino Salgado Filho / UFMA Orlando Jorge Martins Torres / UFMA CONSELHO EDITORIAL Elba Gomide Mochel / UFMA Feliciana Santos Pinheiro / UFMA Fernando Lamy Filho / UFMA José Wanderley Vasconcelos / UFMA Luciane Maria de Oliveira Brito / UFMA Manuel Santos Faria / UFMA Raimundo Antonio da Silva / UFMA Sirliane Sousa Paiva / UFMA Zeni de Carvalho Lamy / UFMA SECRETÁRIA Ana Luzia de Sá Magalhães (Bibliotecária) PROGRAMAÇÃO VISUAL/DIAGRAMAÇÃO Ricardo José Carvalho de Holanda REVISÃO DE TEXTO Lourdes Barroqueiro NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA Ana Luzia de Sá Magalhães Telma Maria Santana Amaral CAPA Ricardo Silva de Oliveira IMPRESSÃO E FOTOLITO Gráfica XXXXXXXXX 3 SUMÁRIO EDITORIAL RESIDÊNCIA EM ENFERMAGEM ....................................................................................................................................... 7 ARTIGOS Análise da Evolução do Encurtamento do Membro Inferior na Ausência Congênita da Fíbula ................................. 9 José Wanderley Vasconcelos, Sebastião Vieira de Morais Análise de mutações do gene CFTR em indivíduos com sinais clínicos sugestivos de Fibrose Cística .................. 13 Andréya Márcya de Holanda Viana, Emygdia Rosa Leal Mesquita Anemia ferropriva: prevalência e fatores de risco associados .................................................................................. 21 Francisca Georgina Macedo de Sousa, Thelma Leite de Araújo, Silvio Gomes Monteiro Diagnósticos de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca valvar .............................................. 29 Líscia Divana Pachêco Carvalho, Thelma Leite de Araújo Epidemiologia de malformações congênitas em recém-nascidos nativivos do Hospital Universitário-Unidade Materno Infantil de São Luis-Maranhão, Brasil .............................................................................................................. 34 Cristina de Andrade Monteiro , Luis Fernando Carvalho Costa ESCALA DE BRADEN: avaliação dos fatores de risco para úlcera de pressão em pacientes internados em uma Unidade de Terapia Intensiva ......................................................................................................................................... 39 Janaina Monteles Aguiar , Sirliane de Souza Paiva Fatores que interferem no processo ensino aprendizagem do aluno no estágio supervisionado de centro cirúrgico ........................................................................................................................................................................... 45 Elza Lima da Silva, Glória da Conceição Mesquita Leitão Marcadores de cromossomopatias no primeiro trimestre da gestação ................................................................... 50 Lívia Teresa Moreira Rios, Rosy Ane Araújo Barros, Tarcisio Mota Coelho, Marilia da Glória Martins Perfil fitoquímico e cromatográfico de sementes de Luffa operculata (L.) Cogn. Coletadas em diferentes regiões do Estado do Maranhão .................................................................................................................................................. 55 Elizabeth Regina de Castro Borba, Crisálida Machado Vilanova, Terezinha de Jesus Almeida Silva Rêgo, José de Ribamar Santos Gonçalves, Antonio Benedito de Oliveira PRÉ-NATAL: conhecimento e reflexão sobre a consulta de enfermagem como um espaço para a educação em saúde ................................................................................................................................................................................ 60 Claudia Teresa Frias Rios, Neiva Franceleny Cunha Vieira Prevalência de carcinoma incidental de vesícula biliar no Hospital Universitário Presidente Dutra em São Luís – Maranhão ......................................................................................................................................................................... 66 José Carlos Ribeiro de Araújo, Alcimar Nunes Pinheiro, Orlando Jorge Martins Torres Prevenção de DST e HIV/AIDS: refletindo influências do feminino e do masculino ................................................... 70 Bianca Rafaelle Vieira Serra, Marly de Jesus Sá Dias Pink e cérebro em auschwitz-birkenau: Tópicos filosóficos sobre o vegetarianismo e o especismo à luz da bioética ............................................................................................................................................................................. 74 Wildoberto B. Gurgel Quando a gravidez chega cedo: motivos pelos quais algumas adolescentes engravidam ...................................... 82 Lília de Cassia Piedade Santiago, Rita da Graça Carvalhal Frazão Correa, Cláudia Teresa Frias Rios, Lena Maria Barros RELATO DE CASO Gemelidade imperfeita: relato de caso .......................................................................................................................... 86 Marília da Glória Martins, Lívia Teresa Moreira Rios, Andréa de Neiva Granja, Alessandra Cavalcante Morais Veras, Maria Carlete Silva Diniz 4 OPINIÃO Possibilidades e vantagens do programa terapêutico ocupacional em hospitais .................................................... 89 Leidismar Fernandes Nalasco RESUMOS Monografias de Conclusão do Curso de Especialização em Enfermagem Clínico-Cirúrgica na Modalidade de Residência da UFMA ........................................................................................................................................................ 91 Turma (2001-2003) NORMAS REDATORIAIS 5 RESIDÊNCIA EM ENFERMAGEM A residência de Enfermagem é uma modalidade de ensino a nível de pós-graduação “Lato Sensu”, centrada em atividades práticas, atendendo aos vários níveis de prevenção, integrando os aspectos de assistência, administração e pesquisa. Foi no cenário da expansão da residência médica que surgiu, no Brasil, o primeiro programa de residência de enfermagem em 1961, no Hospital Infantil do Morumbi, da Legião Brasileira de Assistência – LBA, Seção São Paulo, com finalidade de aperfeiçoar enfermeiros na área da enfermagem pediátrica. A residência de enfermagem evoluiu lentamente. Assim, somente na década de 70 é que foram criados outros programas, intensificando nas décadas de 80 a 90 em todo o país, em instituições públicas e privadas, principalmente na área hospitalar. No Hospital Universitário/UFMA, o Curso de Especialização em Enfermagem clínico-cirúrgica na modalidade de residência foi criado em 1999, pelo Departamento de Enfermagem/UFMA em parceria com o Hospital Universitário. Hoje, encontra-se na sexta turma de residentes. A residência de enfermagem sendo uma modalidade de ensino/ aprendizagem/trabalho prepara os enfermeiros para o desenvolvimento de ações técnico-científico, cultural e político, bem como promove o amadurecimento profissional dos recém-graduados para o mercado de trabalho. Acreditar. Esta é a palavra de otimismo que desejamos transmitir a todos que fazem a Residência de Enfermagem do HU/UFMA, como um prenúncio para consolidação de projetos pessoais e profissionais. Arlene de Jesus Mendes Caldas Editora responsável 6 7 Revista do Hospital Universitário/UFMA Artigo Análise da Evolução do Encurtamento do Membro Inferior na Ausência Congênita da Fíbula Congenital absence of the fíbula: an analysis of the evolution of limb shortening José Wanderley Vasconcelos¹, Sebastião Vieira de Morais² RESUMO: O objetivo do estudo é avaliar a evolução, com o crescimento, do encurtamento do membro inferior na ausência congênita da fíbula. Foram avaliados 23 pacientes portadores de ausência congênita da fíbula com seguimento mínimo de 3 anos e máximo de 10, sendo a média de 6 anos e 8 meses. Dez pacientes eram do sexo feminino e treze do masculino. A classificação utilizada foi a de Coventry e Johnson. Três pacientes eram do tipo I, doze do tipo II e oito do tipo III. Avaliou-se o encurtamento final em centímetros e a evolução do percentual de encurtamento do membro inferior afetado em relação ao membro sadio. O encurtamento médio quantitativo na avaliação final foi de 15,2 cm, sendo mais grave no tipo III. O percentual de encurtamento manteve-se constante com o crescimento. O encurtamento do membro inferior demonstrou ser grave na ausência congênita da fíbula, atingindo valores elevados com o desenvolvimento. O percentual de encurtamento, entretanto, mantém-se constante com o crescimento, podendo ser calculado a discrepância entre os membros na idade adulta, facilitando o planejamento operatório precoce. Descritores: Ausência congênita da fíbula; deformidade; agenesia. ABSTRACT: The objective of the study is to evaluate the limb shortening in the congenital absence of the fibula. Twenty three patients with congenital absence of the fibula were evaluated. Mean follow-up time was 6 years and 8 months (range: three – 10 years). Thirteen were male and ten female. The patients were classified by Coventry and Johnson’s criteria. Three patients were of type I, twelve of type II and eight of type III. The final shortening in centimeters and the evolution of the shortening percentage of the affected limb in relation to the healthy limb were evaluated. The quantitative medium shortening in the final evaluation was of 15,2 cm, being more serious in the type III. The shortening percentage was kept constant during the growth. The shortening of the limb demonstrated to be serious in the congenital absence of the fibula, reaching high values with the development. The shortening percentage, however, is kept constant, could be calculated the discrepancy among the limbs in the adult age, facilitating early operative planning. Key words: Congenital absence ot the fibula; deformity; agenesis. INTRODUÇÃO A fíbula é relatada como sendo o osso que mais freqüentemente encontra-se ausente ao nascimento1,2,3, seguindo-se em ordem decrescente de freqüência o rádio, fêmur, tíbia, ulna e úmero 2,4. Trata-se, segundo a classificação de Frantz e O’Rahilly4, de uma hemimelia longitudinal, paraxial, podendo ser completa ou incompleta, terminal ou intercalar. Caracteriza-se por um espectro de anomalias, que consiste na ausência total ou parcial da fíbula, angulação ântero-lateral da tíbia, deformidades do pé e tornozelo, ausência de um ou mais raios metatársicos, coalizões tarsais, encurtamento do membro e muitas vezes alterações morfológicas do fêmur 5. São relatadas ainda má formações a nível muscular, nervoso e vascular 6, sindactilia 7,8, hipoplasia patelar ou dos côndilos femorais 8, especialmente do ¹ Doutor em Ortopedia, Docente da UFMA. ² Médico. Membro Titular SBOT. 8 côndilo femoral lateral 6,7,9,10,11,12, luxação congênita do quadril 6,13,14, além de alterações em outros órgãos e sistemas, como malformações testiculares 6, cranianas 15 , renais e cardíacas 9. Casos bilaterais são raros 16. Há, na literatura mundial, excelentes relatos sobre a ausência congênita da fíbula, sua etiologia, patologia e aspectos clínicos, além do tratamento. Poucos, porém, avaliam o comportamento das deformidades do membro. Um estudo neste sentido é importante para o estabelecimento de uma rotina de tratamento na criança ou recém-nascido portador desta condição patológica. Foi avaliada, neste estudo, a evolução do encurtamento do membro inferior, tanto quantitativo quanto percentual, na ausência congênita da fíbula em 23 pacientes. Vasconcelos, J. W. MÉTODOS Foram avaliados 23 pacientes com 23 membros acometidos. Dez eram do sexo feminino e treze do masculino. O acompanhamento mínimo foi de 3 anos e o máximo 10 anos, sendo a média 6 anos e 8 meses. A média de idade na primeira consulta foi de 3 anos e 3 meses, sendo a mínima 21 dias e a máxima 10 anos e 10 meses. Quando da última revisão o paciente mais novo tinha 4 anos e 2 meses e o mais velho 19 anos e 7 meses, sendo a média 9 anos e 1 mês. Nenhum caso foi bilateral. Foram excluídos os casos sindrômicos. O lado direito foi acometido 14 vezes e o esquerdo nove. A classificação utilizada seguiu os critérios de Coventry e Johnson 1 (Quadro 1). Três pacientes (13%) eram do tipo I, 12 (52,2%) do tipo II e 08 (34,8%) do tipo III. Todos os pacientes, na última revisão, utilizavam próteses de compensação para o membro inferior, com exceção de um paciente do tipo I que utilizava compensação na palmilha e salto do sapato. As amputações foram realizadas quando o pé dificultava a utilização de prótese, feitas em 4 pacientes. Outras intervenções cirúrgicas realizadas foram: três artrodeses de joelho, uma osteotomia corretora de tíbia, uma osteotomia valgizante subtrocantérica do fêmur e duas fusões iliofemorais. Foi realizada uma avaliação clínica e radiológica dos pacientes em intervalos anuais. O encurtamento do membro foi medido através de exame radiológico da totalidade dos membros inferiores em AP. Foi determinada a discrepância quantitativa em centímetros, o percentual de encurtamento total, bem como a participação do fêmur e da tíbia. Foram considerados, para efeito de comparação, os valores da primeira e última avaliação de cada caso. Foi utilizado o teste estatístico de Fisher na análise dos resultados. QUADRO 1. Classificação da ausência congênita da fíbula segundo Coventry e Johnson1 Tipo I - Ausência parcial unilateral da fíbula Angulação tibial discreta ou inexistente Encurtamento discreto do membro Ausência de deformidade grosseira do pé Ausência de anomalias em outros sistemas Tipo II - Ausência total ou quase total da fíbula Angulação ântero-medial da tíbia Presença de deformidade do pé Encurtamento marcado do membro Às vezes encurtamento femoral Tipo III - Tipo I ou II associado a outra deformidade congênita importante - Casos bilaterais RESULTADOS Discrepância quantitativa - Tomada na avaliação final de cada paciente foi em média 15,2 cm. Sua distribuição conforme a classificação é exposta na tabela 1. Discrepância percentual - Não ocorreram alterações importantes entre os percentuais da avaliação inicial e final, sendo a variação máxima 6,4%. O percentual de encurtamento se manteve constante em todos os casos (Fig. 1a, b e c). A variação da média dos percentuais inicial e final foi de 0,1%, com índice de significância menor que 0,02 (tabela 2). Tabela 1. Distribuição da média de encurtamento do membro afetado segundo a classificação de Coventry e Johnson1 Tip o E nc u rtam e nto m é dio q ua ntitativo (em c m .) I II III M é dia n os 2 3 p ac ien te s 6 ,0 cm 1 2,1 cm 2 7,5 cm 1 5,2 cm Fonte: INTO-HTO/HU-UFMA 9 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 9-12, jan - abr / maio - ago, 2003. Tabela 2. Distribuição dos percentuais de encurtamento na avaliação inicial e final dos pacientes segundo a classificação de Coventry e Johnson1 Avalia ção In icial D iscrep ância Fêm ur Tíbia To tal Idade Avalia ção final D iscrep ância Fêm ur Tíbia To tal 2a2m 8a6m 4a 21d 10m 1ano 6m 4m 1a2m 1a8m 1a6m 4a 1ano 7m 2a 10a1 0m 5a3m 10a 1a10 m 2a1m 4a5m 2a3m 3a 8,2% 0,0% 0,0% 0,0% 2,0% 3,9% 0,0% 3,2% 3,0% 10,3% 2,1% 2,0% 7,1% 6,9% 0,0% 24,5% 36,7% 38,2% 47,2% 24,0% 22,7% 15,8% 24,3% 13,8% 23,6% 14,2% 24,9% 21,5% 15,7% 11,2% 17,3% 15,5% 8,7% 20,9% 10,0% 6,6% 6,7% 12,0% 16,8% 14,1% 17,0% 4,6% 6,0% 11,2% 3,3% 13,2% 22,0% 23,6% 14,2% 24,9% 23,5% 19,6% 11,2% 20,5% 18,5% 19,0% 23,0% 12,0% 13,7% 13,6% 12,0% 41,3% 50,8% 55,2% 51,8% 30,0% 33,9% 19,1% 37,5% 11a 11a 3m 9a8m 4a2m 11a 4m 10a7 m 7a6m 8a 6a8m 6a2m 6a1m 7a1m 6a4m 4a9m 10a 15a1 m 15a7 m 19a7 m 7a 6a8m 5a6m 7a11m 7a7m 8,1% 0,0% 0,0% 0,0% 2,9% 3,9% 0,0% 5,2% 3,2% 9,8% 3,6% 2,7% 7,6% 7,0% 0,0% Artrod ese Artrod ese Artrod ese 47,1% 23,7% 22,9% 15,0% 24,8% 13,6% 22,0% 14,2% 28,3% 22,8% 13,0% 13,0% 15,2% 14,0% 8,4% 21,4% 8,8% 7,2% 5,9% 12,3% Joelho Joelho Joelho 3,8% 5,6% 11,2% 3,3% 13,2% 21,7% 22,0% 14,2% 28,3% 25,7% 16,9% 13,0% 20,4% 17,2% 18,2% 25,0% 11,5% 14,8% 12,9% 12,3% 47,7% 50,0% 55,6% 50,9% 29,3% 34,1% 18,3% 38,0% 3a3m 12,2% 12,9% 25,1% 9a1m 9,3% 12,7% 25,2% Pa c Tipo Idade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 I I I II II II II II II II II II II II II III III III III III III III III M édias DISCUSSÃO A ausência congênita da fíbula trata-se de uma enfermidade que vai desde uma lesão mínima, havendo somente hipoplasia fibular, até uma grave má-formação do membro, com alterações morfológicas, encurtamento, angulações tibiais, deformidade do pé, da coxa e de outras estruturas. Neste estudo, foram avaliados 23 pacientes com seguimento médio de 6 anos e 8 meses procurando-se determinar a evolução do encurtamento do membro, sua avaliação final e o percentual de encurtamento em relação ao membro contra-lateral. A discrepância entre os membros inferiores é uma das alterações mais graves da ausência congênita da fíbula. Ocorreu na perna e muitas vezes da coxa, mesmo no tipo I. Somente cinco pacientes deste estudo apresentaram os fêmures do mesmo comprimento. Em nenhum as tíbias foram iguais. A discrepância quantitativa, nos casos estudados, foi em média 15,2 cm, sendo muito grave nos tipos II e III. Nem todos os pacientes avaliados tinham completado seu desenvolvimento estatural, e esta média deve aumentar em grupos de pacientes mais velhos. A discrepância percentual não variou, significativamente, nos casos apresentados, dando evidências da veracidade da proposição de outros autores9,17,18,19 que o crescimento do membro afetado é proporcional ao do membro sadio. A tíbia foi, percentualmente, mais curta no tipo II, e a participação do fêmur semelhante nos tipos I e II. O tratamento para o encurtamento do membro afetado pode se basear na previsão do encurtamento total ao final da fase de desenvolvimento ósseo. Utilizam-se os métodos de Anderson et al.20 ou Tanner et al.21 para calcular o comprimento final do membro sadio na idade adulta e daí subtrai-se o percentual de encurtamento, que é constante, e ter-se-á o valor da discrepância total. Pode-se traçar, assim, uma rotina de tratamento para o encurtamento do membro, como alongamentos ósseos, que dependendo do percentual e discrepância total pode ser programado em um, duas ou mais etapas. CONCLUSÃO O encurtamento do membro inferior demonstrou ser grave na ausência congênita da fíbula, atingindo valores elevados com o desenvolvimento. O percentual de encurtamento, entretanto, mantém-se constante com 10 o crescimento, podendo ser calculado a discrepância entre os membros na idade adulta, facilitando o planejamento operatório precoce. Vasconcelos, J. W. REFERÊNCIAS 1. Coventry MB, Johnson EW. Congenital absence of the fibula. J Bone Joint Surg (Am), 1952, 34: 941-955. 2. Kruger LM, Talbott RD. Amputation and prosthesis as definitive treatment in congenital absence of the fibula. J Bone Joint Surg(Am), 1961, 43: 625-642. absence of the anterior cruciate ligament: a common component of knee dysplasia. J Bone Joint Surg(Br), 1985, 67: 572-575. 13. Epps Jr. CH, Schneider PL. Treatment of hemimelias of the lower extremity. J Bone Joint Surg(Am), 1989, 71: 273-2777. 3. Ollerenshaw, R. Congenital defects of the long bones of the lower limb: a contribution to the study of their causes, effects, and treatment. J Bone Joint Surg, 1925, 7: 528552. 14. Heyman CH, Herndon CH. Congenital posterior angulation of the tibia. J Bone Joint Surg(Am), 1949, 31: 571-580. 4. Frantz CH, O´Rahilly R. Congenital skeletal limb deficiencies. J Bone Joint Surg(Am), 1961, 43: 12021224. 15. Perçin EF, Perçin S. A new combination: short stature, congenital unilateral absence of the fibula, oligodactyly and trigonocephaly. Clin Dysmorphol, 1999, 8:67-68. 5. Sorge G, Ardito S, Genuardi et al. Proximal femoral focal deficiency and fibular a/hypoplasia: a model of a development field defect. Am J Med Genet, 1995, 55: 427-432. 16. Gupta AK, Berry M, Verma IC. Congenital absence of both fibulae in four siblings. Pediatr Radiol, 1994, 24: 220-221. 6. Lapasset, C. Absence congenitale du péroné. Rev d’Orthop, 1935, 22: 110-122. 7. Bedouelle J. Aplasies congenitales du péroné. Enc Med Chir - Appareil Locomoteur , 1989, 15206 B 10: 43-46. 8. Corner, E. M. The clinical picture of congenital absence of the fibula. The British J Surg, 1913, 1: 203-206. 9. Achterman C, Kalamchi A. Congenital deficiency of the fibula. 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Standards from birth to maturity for height, weight, height velocity, and weight velocity: british children, 1965. Arch Dis Childh , 1966, 41: 454-471. (Part I) 12. Thomas NP, Jackson AM, Aichroth, PM. Congenital ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Av. Holandeses, Qd 19, Residencial Monet, apto 1202, Cep – 65075-180 – São Luís – MA Fone – (98) 248-6319 / Celular (98) 9131-3335 e-mail – [email protected] 11 Revista do Hospital Universitário/UFMA Artigo Análise de mutações do gene CFTR em indivíduos com sinais clínicos sugestivos de Fibrose Cística Analysis of CFTR mutations gene in patients with clinical signs of Cystic Fibrosis Andréya Márcya de Holanda Viana¹, Emygdia Rosa Leal Mesquita² RESUMO: Amostras de 14 indivíduos com sinais clínicos sugestivos de fibrose cística de São Luís – MA foram analisadas para as seis mutações mais freqüentes do gene CFTR. Após PCR e digestão com enzimas de restrição, o produto foi analisado em gel de poliacrilamida (PAGE) corado com nitrato de prata. Apenas um paciente apresentou a mutação DF508 em homozigose (7,1%) e as mutações G542X, G551D, N1303K, W1282X e R553X não foram detectadas na amostra. Foi realizada também a análise dessas mutações para parentes do afetado e oferecido o aconselhamento genético aos heterozigotos para a mutação DF508, quanto às probabilidades de transmitir o alelo mutante e possuir um outro filho afetado. A freqüência encontrada de 7,1% de DF508 pode estar diminuída, tanto em relação à população mundial (66%) quanto aos brasileiros com FC (48,8%), pelo alto grau de miscigenação da população maranhense, além dos subdiagnósticos e diagnósticos tardios. Faz-se necessário também, analisar os indivíduos para outras mutações do gene da FC, como também para outras desordens com fenótipos similares como a deficiência da alfa-1-antitripsina. Descritores: fibrose cística, mutações, aconselhamento genético. ABSTRACT: Samples from 14 individuals with sugestives clinical signs of cystic fibrosis from São Luís – MA were analyzed for the six most common CFTR mutations. After PCR and digestion with restriction enzymes, the product was analysed by electrophoresis in polyacrylamide gel (PAGE) silver stained. Only one patient carriet DF508 mutation in homozigozis (7,1%) and the G542X, G551D, N1303K, W1282X and R553X mutations were not detected in the sample. Analysis of those mutations was performed also to affected relatives and offered genetic counseling to the heterozygous for the DF508 mutation, as the probabilities to transmit the mutant allele and have another affected child. The frequency of 7,1% of DF508 might be reduced, as much global population (66%) as well Brazilians with CF (48,8%); this may be due to the high heterogeneous ethnic admixture in Maranhão and subdiagnostics and late dignosis. It is also necessary, to analyze the individuals for others mutations in FC gene and also to others disorders with similar phenotypes as the deficiency from alfa-1-antitripsina. Key-words: cystic fibrosis, mutations, genetic counseling. INTRODUÇÃO Desde a década de 1960, a Fibrose Cística (FC) ou Mucoviscidose tem sido uma das doenças genéticas humanas mais investigadas. É um distúrbio autossômico recessivo, geralmente grave, mais comum em crianças e adultos jovens de populações brancas, com incidência de 1/2500 caucasóides e uma freqüência de heterozigotos de 1/25 1. A disfunção da proteína CFTR (Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator) confere às células epiteliais, impermeabilidade ao cloro. A diminuição da secreção de cloro e o aumento excessivo da reabsorção do sódio são responsáveis pela alteração da composição do muco secretado pelas células epiteliais. Essa alteração da viscosidade do muco, principalmente no epitélio pulmonar e pancreático, causa obstrução nos ductos de ambos os órgãos, além de propiciar um ambiente favorável às infecções ¹ Graduada em Ciências Biológicas – UFMA ² Doutora em Biologia Molecular Humana - USP. Docente da UFMA. 12 pulmonares causadas principalmente por Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa 2. Os pulmões e vias aéreas superiores, o sistema digestivo, principalmente o pâncreas (cuja região produtora de enzimas é substituído por tecido fibroso característico com cistos 2) e os intestinos, e as glândulas sudoríparas são os três sistemas mais comumente afetados pela FC. Por isso, os sinais clínicos mais observados são infecções pulmonares e de vias aéreas superiores, íleo meconial, déficit pôndero-estatural, problemas gastrointestinais associados (insuficiência pancreática, esteatorréa), aumento na excreção de cloreto no suor e fertilidade reduzida 1, 2. A fibrose cística, pela grande heterogeneidade de seus sinais clínicos, deve ser confirmada pelo teste do suor (iontoforese), que consiste na quantificação Viana, A. M. H. dos íons cloro e sódio no suor, sugerindo FC, valores acima de 60mEq/l 3. O tratamento ainda restringe-se ao controle de infecções pulmonares, medidas dietéticas, uso de enzimas pancreáticas, reposição das vitaminas lipossolúveis e fisioterapia pulmonar com o objetivo de melhorar a capacidade pulmonar, permitindo melhor qualidade de vida ao paciente 2. O gene da FC está localizado no cromossomo 7 na banda q31, contém 27 exons e 250 Kb. O produto desse gene é uma proteína associada à membrana celular com 1480 aminoácidos, denominada CFTR, que funciona como canal clorídrico na superfície das células epiteliais 16. A mutação mais comum nesse gene é uma deleção de 3 nucleotídeos no exon 10, a qual resulta na ausência do aminoácido fenilalanina na posição 508 da cadeia polipeptídica. Daí o nome DF508 3, 4, 16. Já foram descritas cerca de 1200 mutações para o gene da FC, sendo as 6 mutações mais freqüentes: DF508, G542X, G551D, N1303K, W1282X e R553X, tendo suas prevalências variantes nas diferentes populações 5. Em Portugal, a freqüência da mutação DF508 é de 52,3% e das mutações G542X e N1303K são de 2% e 1,5%, respectivamente 5. Já em populações negras da África que não têm mistura racial com brancos, a FC é considerada rara 6. No Brasil, os estudos genéticos sobre a fibrose cística ou mucoviscidose tiveram início há mais de dez anos. Raskin 7 estudou pacientes nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul quanto à freqüência da mutação DF508, tendo encontrado, respectivamente, 51%, 29%, 21% e 56%. Apesar do alto grau de miscigenação da população brasileira, a mutação DF508 continua sendo a de maior ocorrência. Em uma análise genético-molecular com 97 pacientes brasileiros com FC, a freqüência da deleção DF508 foi de 48,8%, e das mutações G542X, N1303K, W1282X e R553X foram de 8,8%, 2,5%, 1,3% e 0,6%, respectivamente 8. Outros trabalhos realizados em alguns Estados brasileiros mostram uma significativa variação das freqüências dessas mutações ao longo do território brasileiro 9,10. Analisando a mutação DF508, Cabello 11 encontrou 30,68% da deleção, para uma amostra de 88 cromossomos no Rio de Janeiro. No Estado do Maranhão foi realizado um estudo da freqüência não só da mutação DF508, bem como das demais mutações tidas como as mais comuns na população mundial em indivíduos normais e em indivíduos com sinais clínicos de FC. A mutação DF508 ocorreu com uma freqüência de 0,8% para a população normal trí-hibrida, 5,4% para um isolado caucasóide normal, 7,1% para os suspeitos, e 0% das mutações DF508, G542X, G551D, N1303K, W1282X, e R553D para dois isolados negróides do Estado 12. O alto grau de miscigenação da população brasileira é conseqüência da variedade das correntes migratórias, cuja distribuição geográfica ocorreu de forma irregular. O Maranhão foi ocupado pelos franceses, primeiros europeus que tiveram contato com os nativos indígenas. Posteriormente os portugueses se instalaram na região com modo de colonização manufatureira e escrava, além de uma esporádica invasão holandesa. E a contribuição negra através da grande necessidade de escravos em São Luís, capital do Estado 13. Ferreira 14 analisou a mistura interétnica da população de São Luís através de cinco marcadores moleculares (VNTRs e STRs), encontrando uma contribuição de 40% de africanos, 34% de europeus e 26% de ameríndios. Considerando a grande miscigenação da população dessa região, faz-se necessário uma caracterização populacional em relação às doenças genéticas. Os avanços da biologia molecular têm possibilitado a identificação da origem de alterações moleculares responsáveis por muitas dessas doenças a partir da análise do DNA, possibilitando diagnósticos mais precisos e eficientes. Os diagnósticos moleculares têm grande importância quanto ao aconselhamento genético, que consiste na transmissão de informações sobre os distúrbios genéticos, em termos claros e compreensíveis, além de descrever opções médicas disponíveis para os pacientes e os membros não afetados da família 15. Considerando-se uma deficiência de origem genética, faz-se necessário um esclarecimento; por exemplo, aos indivíduos que sejam heterozigotos para uma doença, quanto ao risco de transmissão do distúrbio para sua prole. Tal esclarecimento é feito pelo aconselhamento genético. No Maranhão, têm-se até o momento apenas dois trabalhos sobre a base molecular de doenças genéticas, um relacionado à FC, no qual foi encontrada uma freqüência de 13,3% da principal mutação presente no gene CFTR entre indivíduos normais e afetados para a doença 12 e outro relacionado à deficiência da alfa-1antitripsina, cuja freqüência das mutações S e Z (mais comuns no gene) foram de 4,1% e 0,7%, respectivamente, em doadores de sangue do Hemocentro do Maranhão 16. Desta forma, o presente estudo propõe-se a identificar as mutações mais freqüentes no gene da FC, auxiliando assim em um diagnóstico precoce e mais preciso da doença, em um tratamento específico, no aconselhamento genético dos pacientes e de seus familiares, além do estabelecimento de políticas de saúde pública adequadas. 13 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 13-20, jan - abr / maio - ago, 2003. OBJETIVOS Geral Identificar as mutações mais freqüentes no gene que codifica a proteína CFTR em indivíduos de São Luís com sinais clínicos sugestivos da Fibrose Cística. Específicos Averiguar a freqüência de indivíduos homozigotos e/ou heterozigotos para as mutações mais freqüentes no gene da fibrose cística. Realizar o aconselhamento genético para os indivíduos portadores de mutações no gene CFTR. Analisar comparativamente os dados obtidos com os da literatura com base na freqüência dos alelos mutantes. MÉTODOS Amostragem Foi feita a análise de DNA para o gene CFTR em 14 indivíduos (12 com idade inferior a dez anos e dois adultos) com clínica sugestiva da FC, os quais foram encaminhados pelo Laboratório de Fitoterapia do Herbário Ático Seabra da UFMA, Hospital Universitário Presidente Dutra e Hospital Universitário Unidade Materno Infantil, além de Hospitais com atendimento em Gastroenterologia e Pneumologia. Mediante os indivíduos com sinais clínicos sugestivos de FC, fez-se também análise dos pais e, em alguns casos, dos irmãos para auxiliar no aconselhamento genético da família. Fizeram parte também da amostra de estudo, quatro indivíduos relacionados a um afetado por FC (ÄF508/ÄF508) anteriormente diagnosticado pela análise de DNA 12 . Os indivíduos ou responsáveis foram informados sobre os objetivos da pesquisa e, pós a assinatura de um termo de consentimento, foram incluídos no estudo. Procedeu-se, então, a anamnese e exame físico sumário. Em seguida, foi preenchido um questionário visando obter dados de identificação, elementos de consangüinidade e manifestações clínicas pertinentes a FC. O Processo de número 00889/02 contendo o Projeto de Pesquisa “Triagem das mutações mais freqüentes do gene que codifica a proteína CFTR em indivíduos com sinais clínicos sugestivos da síndrome da fibrose cística” obteve parecer favorável a sua realização sem restrição do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário da UFMA. Métodos Obtenção do DNA genômico. As amostras de DNA foram obtidas a partir de duas metodologias: Extração de DNA a partir de sangue periférico. Foram colhidos 5ml de sangue periférico utilizando o sistema a vácuo em tubos de Vacutainer 14 contendo EDTA (ácido etilenodiaminotetracético) como anticoagulante. Extração orgânica com Fenol/Clorofórmio 17 (com modificações): a) Lise das hemácias: - Transferir o sangue para tubos de centrífuga de 15 ml; - Adicionar a solução de lise das hemácias (bloodlysis ou lise I)***; - Colocar os tubos de centrífuga no gelo por pelo menos 30 minutos; - Centrifugar por 25 minutos a 3000 rpm. b) Lise dos núcleos dos linfócitos: - Descartar o sobrenadante e ressuspender o pellet com 900ml de solução de lise dos núcleos dos linfócitos (nucleolysis ou lise II)****; c) Retirada das proteínas: - Adicionar 200ml de SDS e 30ml de Proteinase K (10mg/ml); - Incubar em banho-maria ou estufa a 37ºC over-night; - Adicionar 1,5ml de fenol saturado, misturando suavemente; - Centrifugar durante 25 minutos a 3000 rpm; - Transferir o sobrenadante para tubos de centrífuga; - Adicionar 750ml de fenol e 750ml de clorofórmio; - Centrifugar durante 25 minutos a 3000 rpm; - Transferir o sobrenadante para tubos de centrífuga; - Adicionar 1,5 ml de clorofórmio (24 clorofórmio = 1 álcool isoamílico); - Centrifugar durante 25 minutos a 3000 rpm; d) Precipitação do DNA: - Transferir o sobrenadante para um recipiente; - Adicionar etanol e 250ml de NaAc (3M – ph Viana, A. M. H. 4,8-5,0); - Enrolar o DNA em um capilar (pescar o DNA). e) Diluição do DNA em TE (10 mM Tris-HCl ph 7,4; 1 mM EDTA ph 8,0): - Incubar a 65°C por 30 minutos em banhomaria e deixar overnight a temperatura ambiente. f) Armazenamento do DNA a 10°C. ***Bloodlysis para extração orgânica: - Sucrose 0,32M; Tris-HCl 10mM ph 7,5; MgCl2 5mM; Triton 1% ****Nucleolysis para extração orgânica: - NaCl 0,075M; EDTA 0,024M ph 8,0. Extração de DNA a partir de células da mucosa oral, segundo Richards 18: a) Com auxílio de hastes flexíveis de algodão (cotonete), fazer um esfregaço na parte interna da bochecha por cerca de 30 segundos; b) Colocar o cotonete em um Eppendorf contendo 600ml de 50mM NaOH; c) Passar 30 segundos em um agitador de tubos (Vórtex); d) Aquecer a 95°C por 5 minutos; e) Retirar o cotonete e adicionar 60ml de 1M Tris, ph 8,0; f) Centrifugar por cinco minutos e transferir o sobrenadante para um tubo de estoque; g) Estocar a –20°C. Detecção de mutações PCR Foi realizada a técnica de PCR (Polymerase Chain Reaction) 19 para identificação das mutações dos exons 10, 11, 20 e 21. Essas reações de PCR foram feitas em modelos GeneAmp / PCR System 9700, com volume total de 20ml e concentração do DNA genômico entre 100ng e 180ng. Os protocolos de PCR utilizados na amplificação dessas sequências de DNA estão descritos na Tabela 1. PAGE Após a amplificação do exon 10, o produto da PCR foi submetido à eletroforese vertical em gel de poliacrilamida (Polyacrylamide Gel Electrophoreses PAGE) 8%, utilizando-se TEB 10X (Tris 0,09M, EDTA dissódico 0,002M e Ácido Bórico 0,09M) como tampão de gel e TEB 1X como tampão da cuba. A visualização dos fragmentos (bandas) foi realizada pela coloração do gel com nitrato de prata. Entretanto, para os exons 11, 20 e 21, os produtos da PCR foram digeridos com enzimas de restrição e posterior PAGE, conforme descrição anterior. Análise estatística As freqüências gênicas foram estimadas de acordo com o método de estimativa de freqüências 20, 21 , dividindo-se o número total de alelos dos indivíduos da amostra (28) pelo número de alelos mutantes. RESULTADOS Freqüências das mutações ÄF508, G542X, G551D, N1303K, W1282X e R553X. Dentre um total de 14 indivíduos nascidos em São Luís-MA que apresentaram pelo menos uma característica fenotípica sugestiva de FC, a análise molecular identificou um indivíduo portador da mutação ÄF508 em homozigose. Desta forma, dos 28 alelos analisados, em dois foi detectada a mutação, obtendose assim uma freqüência de 7,1% desta deleção. Contudo as mutações G542X, G551D, N1303K, W1282X e R553X não foram detectadas na análise, dentre os indivíduos suspeitos de FC (Figuras 1 e 2). Dentre os indivíduos com sinais clínicos de FC, em alguns casos foi realizada a análise molecular também para seus parentes, como pais e irmãos, evidenciando a presença da mutação ÄF508 em heterozigose apenas para os pais do indivíduo homozigoto (Figura 3). Não foi verificada também ocorrência de acasalamento consangüíneo entre eles. A análise dos valores do teste do suor (iontoforese) dos indivíduos sugestivos de FC mostra apenas um indivíduo com resultado positivo para o íon cloro (75 mEq/l), estando de acordo com o diagnóstico genético. Dentre os quatro parentes do indivíduo fibrocístico descrito por Leal-Mesquita 12, verificou-se o seguinte: sua mãe confirmou ser heterozigota para ÄF508; sua tia materna e seu irmão também são portadores da mutação ÄF508 em heterozigose. O cônjuge da tia materna não mostrou nenhuma das seis principais mutações no gene CFTR (Figura 4). 15 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 13-20, jan - abr / maio - ago, 2003. Figura 1. Gel de poliacrilamida corado com nitrato de prata mostrando indivíduos normais e heterozigotos para ?F508. O indivíduo 1 é um controle heterozigoto; 2, 3 e 4 são homozigotos normais para ?F508 (50pb/ 50pb); 5 e 6 são heterozigotos (50pb/47pb) e o indivíduo 7 é homozigoto afetado (47pb/47pb). 1 2 3 4 5 6 7 Figura 2. Análise das mutações G542X, G551D, R553X, N1303K e W1282X em gel de poliacrilamida corado com nitrato de prata. a) o indivíduo 1 é um controle não digerido para G542X (114pb/114pb) e 2, 3, 4 e 5 são homozigotos normais (90pb/90pb); b) o indivíduo 1 é um controle digerido para a mutação G551D e R553X (59pb-55pb/59pb-55pb), 2 é um controle não digerido (114pb/114pb), e 3, 4 e 5 são indivíduos normais (59pb-55pb/59pb-55pb); c) o indivíduo 5 é um controle digerido para a mutação N1303K (40pb/ 40pb), 4 é um controle não digerido (60pb/60pb), os indivíduos 1, 2 e 3 são homozigotos normais; d) o indivíduo 1 é um controle digerido para a mutação W1282X (178pb,172pb e 123pb), 2 é um controle não digerido (473pb/473pb) e 3, 4 e 5 são homozigotos normais para a mutação W1282X. b a 1 2 3 4 5 c 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 d 1 2 3 4 5 Figura 3. Análise da mutação ?F508em gel de poliacrilamida corado com nitrato de prata. Os indivíduos 1 e 2 são os pais heterozigotos (50pb/47pb) do indivíduo 3 (homozigoto afetado – 47pb/47pb). 1 16 2 3 Viana, A. M. H. Figura 4. Análise para a mutação ?F508 em gel de poliacrilamida corado com nitrato de prata. O indivíduo 3 é homozigoto afetado (47pb/47pb); 1, 2 e 4 são heterozigotos (50pb/47pb) e 5 é homozigoto normal (50pb/50pb). 1 2 3 4 5 Tabela 1. Protocolo das PCRs E x on (Mutação) 10 (DF 5 08 ) 11 (G5 4 2X , G55 1 D, R 5 5 3X ) 20 (W 1 28 2 X ) 21 (N1 3 03 K ) Águ a 9 ,65 ml 9 ,65 ml 9 ,65 ml 9 ,65 ml T am pão* DNT Ps MgCl 2 I niciador es T aq PCR -1 0 X 2 ,5 Mm 5 0 ng/ml 5 U /ml 2 ,0 ml 2 ,0 ml 2 ,0 ml 2 ,0 ml 2 ,0 ml 2 ,0 ml 2 ,0 ml 2 ,0 ml 1 ,2 1 ,2 1 ,2 1 ,2 1 ,5 ml 1 ,5 ml 1 ,5 ml 1 ,2 ml DNA Pr ogr am as Ciclos 1 0 0 n g/ml 0 ,15 ml 0 ,15 ml 0 ,15 ml 0 ,15 ml 2 ml 9 4°C/6 ’ 9 4°C/6 0” 5 0°C/6 0” 7 2°C/1 20 ” 7 2°C/7 ’ 2 ml 9 4°C/6 ’ 9 4°C/6 0” 5 0°C/6 0” 7 2°C/1 20 ” 7 2°C/7 ’ 2 ml 9 4°C/6 ’ 9 4°C/3 0” 5 5°C/3 0” 7 2°C/6 0” 7 2°C/7 ’ 2 ml 9 4°C/6 ’ 9 4°C/6 0” 5 0°C/4 5” 7 2°C/9 0” 7 2°C/7 ’ S eqüências dos inici ador es (Pr imer s F e R ; 5’- 3 ’) 35 F: GGC ACC AT T AAA GAA AAT AT C R : CT A T AT T CA T CA T AG GAA AC 35 - F: T GT AAA ACG ACG GCC AGT CT A AAA GT G ACT CT C R : T GT AAA ACG ACG GCC AGT AAA T GC T T G CT A GAC 35 F: GGT CAG GAT T GA AAG T GT GCA R : CT A T GA GAA AAC T GC ACT GGA 35 F: AGA AAG T AT T T A T T T T T T CT G GAA C R : CCA CT G T T C AT A GGG AT C CAG - DISCUSSÃO Os dados obtidos neste estudo estão de acordo com uma pesquisa anterior realizada no Estado do Maranhão, quanto à freqüência das mutações ÄF508, G542X, G551D, N1303K, W1282X e R553X em indivíduos com sinais clínicos de FC, em que a freqüência da ?F508 foi também de 7,1% e as demais mutações não sendo detectadas na amostra 12 . Entretanto, tais mutações estão presentes com freqüências maiores em outros Estados brasileiros, como 35% para ÄF508 em São Paulo; 38%, 8,3%, 1,6% e 0,8%, para as mutações ÄF508, G542X, N1303K e W1282X, respectivamente, em uma amostra dos Estados de São Paulo, Distrito Federal, Pernambuco e Bahia 9. No Espírito Santo, encontrou- 17 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 13-20, jan - abr / maio - ago, 2003. se 3%, 0,2%, 0,2% e 0,2%, para as mutações ÄF508, G542X, R553X e W1282X, respectivamente 10, enquanto que no Rio de Janeiro, encontrou-se uma freqüência de 30,68% para ?F508 11. A freqüência encontrada neste trabalho de 7,1% para ?F508 entre os indivíduos com sinais clínicos sugestivos de FC está diminuída tanto em relação à população mundial (66%), quanto à encontrada até então para os brasileiros com FC (48,8%; 8). A miscigenação que ocorre na população brasileira é resultado principalmente da mistura de três grupos étnicos: o europeu, o africano e o ameríndio. Por sua distribuição heterogênea ao longo do território brasileiro, encontramos contribuições quantitativamente diferentes dos colonizadores nos Estados, assim o alto grau de diversidade genética é principalmente um resultado da mistura de três etnias variando proporcionalmente nas diferentes regiões. O trabalho de Ferreira 14 caracteriza a contribuição genética dos três principais grupos étnicos para o Maranhão, sendo 40% de negros, 34% de europeus e 26% de ameríndios. Daí inferir-se que tais resultados podem ser devido a alguns fatores como a mistura interétnica da população, o subdiagnóstico ou diagnóstico clínico incorreto, além do diagnóstico tardio ou a sua falta, levando muitos dos afetados a óbito antes de serem analisados molecularmente. Verificou-se a presença da mutação DF508, característica de caucasóides, em indivíduos com características fenotípicas africanas, evidenciando a miscigenação étnica da população maranhense. Dos indivíduos analisados neste trabalho que possuíam pelo menos um dos sinais clínicos sugestivos de FC, apenas um teve diagnóstico clínico e bioquímico compatíveis com o genético. Entretanto, faz-se necessário a análise desses indivíduos para outras mutações do gene CFTR, como as mutações de origem africana. Em relação aos resultados observados na figura 4, pode ser oferecido o aconselhamento genético aos heterozigotos para a mutação DF508 da seguinte forma: há uma porcentagem de 2 a 5% do indivíduo 2 ser infértil, além de ter 50% de probabilidade de transmitir o alelo mutante para sua prole. Sendo necessário, portanto, a análise molecular e o aconselhamento genético também para sua futura cônjuge. O indivíduo 4 pode transmitir o alelo mutante para sua prole com 50% de probabilidade, embora a chance de possuir um filho afetado pela FC, juntamente com seu cônjuge 5, seja muito baixa. E o indivíduo 1 tem 50% de probabilidade de passar a mutação DF508. Estudos como este fornecem condições para um melhor diagnóstico diferencial de desordens com fenótipos similares, como o que ocorre com a deficiência da alfa-1-antitripsina, por exemplo, sugerindo-se então que os 13 indivíduos não portadores de FC sejam também analisados em relação às mutações da deficiência da alfa-1-antitripsina, além de contribuir para o aconselhamento genético dessas populações. REFERÊNCIAS 1. Boat TF; Welsh MJ; Beaudet AL. Cystic fibrosis. In: Scriver CR, Beaudet AL, Valle D. The metabolic basis of inherited disease. 6.ed. New York: Mc Grawhill; 1989. p. 26492680. 7. Raskin S; Philips III JA; Venencak-Jones C. Molecular heterogeneity and geografic diferences. In: brazilian cystic fibrosis FC alleles. 8º Congresso Internacional de Genética Humana, 8, Texas: 1991. 2. Harrys A; Super M. Cystic fibrosis: the facts. 3.ed. New York: Oxford University; 1995. 8. Bernadino ALF; Ferri A; Passos-Bueno MR et al. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Laboratório de Genética e Biologia Molecular - Departamento de Biologia – Universidade Federal do Maranhão – Av. dos Portugueses s/n. Campus Universitário do Bacanga – 65080-000, São Luís, MA, Brasil. (98) 217 8543 e-mail: [email protected]; [email protected] 19 Revista do Hospital Universitário/UFMA Artigo Anemia ferropriva: prevalência e fatores de risco associados Iron-deficiency anemia prevalence and associated risk factors SOUSA, Francisca Georgina Macedo de¹, ARAÚJO, Thelma Leite de², MONTEIRO, Silvio Gomes³ RESUMO: Trata-se de um estudo transversal, exploratório, descritivo e analítico da anemia por deficiência de ferro em comunidade rural maranhense. OBJETIVOS: identificar prevalência de problemas nutricionais por deficiência de ferro em crianças de seis a sessenta meses e os fatores associados à sua ocorrência. MÉTODOS: a população foi representada por crianças de seis a sessenta meses cadastradas no Programa Saúde da Família totalizando 371 crianças. Utilizou-se como referencial teórico para o estudo dos fatores de risco, o Modelo Campo de Saúde. Realizado exame de sangue, parasitológico de fezes e medidas antropométricas de todas as crianças, além de entrevista com os responsáveis. Os dados foram analisados pelos programas Epi-Info e Statistica. Consideradas portadoras de anemia ferropriva as crianças com hemoglobina < 11 g/dl e ferritina < 12 mg/ml, e, deficientes de ferro aquelas com hemoglobina = 12,0 mg/dl e ferritina < 12,0 mg/ml. RESULTADOS: a prevalência de problemas nutricionais por deficiência de ferro foi de 35,6%, sendo 24,0% anemia ferropriva e 11,6% ferrodeficiência. A associação da anemia foi significativa em relação à idade e às parasitoses intestinais (Elemento Biologia Humana), freqüência da dieta infantil (Elemento Estilo de Vida), números de cômodos da casa (Elemento Ambiente). CONCLUSÕES: evidencia-se a necessidade de atividades assistenciais de saúde e educação, subordinadas às necessidades ambientais, biológicas e de estilo de vida. Enfatiza-se a inclusão de ações curativas e o desenvolvimento de um modelo educativo consistente e contínuo de cuidado à criança portadora de carência nutricional de ferro. Descritores: anemia ferropriva; deficiência nutricional; anemia. ABSTRACT: It’s a transversal, exploratory and analytical study of iron-deficinay anemia in a rural community. OBJECTIVES: To identify the prevalence of nutritional problems caused iron deficiency in six-to-sixty months children and factors associated to its occurrence. METHODS: Study population was represented by children from six-to-sixty months registered in the Health Family Program for 371 children. Theoria referential for the study of the risk factors were the Health Field Model. It was realized blood sampling, parasitologia excrement examination and anthropometrics features; moreover, it was realized an intervencion with the responsible. Data was analyzed by Epi-Info and Statistica programs. Children with iron-deficiency anemia were considered who had presented hemoglobin < 11 g/dl and ferritin < 12 mg/ml and deficient of iron those with hemoglobin = 12 mg/dl and ferritin < 12 mg/ml. RESULTS: The prevalence of nutritional problems for iron deficiency was raised to 35,6% being 24,0% of cases of iron-deprive and 11,6% iron deficiency. The association of the anemia was significant for the age of the child and intestinal parasitism (Element Human Biology), frequency of the infantile diet (Element Lifestyle), number of rooms of the house (Element Environment). CONCLUSIONS: It’s proven the necessity of assistance activities of health and education, subordinated to the environment, biological necessities and lifestyle. It’s emphasized the inclusion of cure actions and the development of a consistent and continuous educative model for the carrying child of nutritional lack of iron. Key words: iron-deficiency anemia; nutritional deficiency; anemia. INTRODUÇÃO De maneira geral, as carências nutricionais, ocorrem quando a oferta, biodisponibilidade e a utilização dos nutrientes são insuficientes para promover o crescimento e o desenvolvimento das funções normais do organismo 1. Entre os problemas nutricionais destacam-se a desnutrição energético-protéica (DEP) e as anemias. Dentre estas, a anemia por deficiência de ferro é a de maior magnitude. Primeiro, porque representa 90% do total de casos no mundo2, segundo, pelas repercussões sobre o crescimento e ¹ Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Docente da UFMA ² Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Docente da UFC ³ Doutor, Biólogo, Docente da UFMA 20 desenvolvimento da criança, como conseqüência da resistência diminuída às infecções, e pela associação com a mortalidade infantil.3,4,5 Para Falcão e Callado,6 a anemia é uma manifestação tardia e insidiosa da carência de ferro, que surge quando as reservas orgânicas se esgotam em virtude de um balanço negativo, isto é, uma disparidade entre a disponibilidade e demanda do nutriente. Destaca-se o período da complementação alimentar (período de transição na vida da criança Sousa, F. G. M. durante o qual a dieta muda do aleitamento materno exclusivo, em torno do sexto mês, para o padrão habitual da alimentação familiar), como um período crítico para as doenças carenciais. O risco reside, justamente, porque é em torno do sexto mês que as reservas de ferro estão exaustas e a criança necessita de ingestão abundante de ferro na dieta1 . Os hábitos alimentares impróprios, representados por crenças e tabus alimentares, nutrição pobre em ferro, associados a uma baixa freqüência de refeições, são riscos apontados como determinantes para a deficiência de ferro7. Mesmo assim, as influências culturais não são as responsáveis pela maior parte dos casos de má nutrição, embora, contribuam para tanto. As diversas formas de privação, isto é, a falta de alimentos disponíveis ou dos recursos para obtê-los são geralmente responsáveis pela maioria dos casos de subnutrição8. Aos fatores de risco até aqui apresentados, enfatiza-se, ainda, o acesso precário aos serviços de saúde, educação e saneamento. A escassez e a má distribuição desses serviços determinam práticas alimentares inadequadas e infestações parasitárias freqüentes, além de doenças infecciosas de repetição5. Neste estudo, visualiza-se, a possibilidade de estudar o problema da anemia por deficiência de ferro não só na sua dimensão fisiológica, mas, também na sua dinâmica, enquanto uma questão social. As situações que envolvem as carências nutricionais e aqui, especificamente, a anemia por deficiência de ferro, exigem reflexões sobre a realidade das situações e condições que favoreçam o surgimento da mesma, determinando desafios para o enfrentamento do problema. OBJETIVOS Identificar a prevalência de anemia ferropriva e ferrodeficiência em crianças de seis a sessenta meses e relacionar os valores hematológicos encontrados com as variáveis do Modelo Campo de Saúde para identificar os fatores determinantes para anemia ferropriva na população estudada. MÉTODOS Trata-se de um estudo transversal, exploratório, realizado na comunidade rural do distrito de Vila São Pedro, Paço do Lumiar – MA, no período de maio a outubro de 2002. Definiu-se a abordagem multicausal baseada no Modelo Campo de Saúde,9 para realizar esta pesquisa. Na estrutura do Modelo, a saúde é determinada por um conjunto de fatores agrupáveis em quatro elementos: Biologia Humana, Ambiente, Estilo de Vida e Organização do Cuidado à Saúde. O Elemento Biologia Humana, do modelo Campo de Saúde, envolve todos os fatores que se manifestam como conseqüência da constituição orgânica do indivíduo. Para este estudo as variáveis que constituem o Elemento Biologia foram: idade materna, número de gestações, partos e abortos, número de filhos menores de cinco anos e mortalidade entre os filhos; idade da criança, sexo, posição de nascimento entre os irmãos, condições do nascimento, peso ao nascer, doenças apresentadas pela criança, história de internação, situação vacinal, avaliação nutricional, física e laboratorial da criança. As variáveis do Elemento Ambiente agrupam os fatores externos ao organismo, sobre os quais o individuo exerce pouco ou nenhum controle9. Para este elemento, as variáveis selecionadas foram: condições de moradia, saneamento e tamanho da família. O Estilo de Vida, no Modelo Campo de Saúde, consiste na agregação de decisões individuais que afetam a saúde dos indivíduos no que se refere, por exemplo, às praticas alimentares, sobre as quais se tem têm maior ou menor controle. A importância das decisões pessoais e maus hábitos, sobre o ponto de vista da saúde, criam riscos impostos a si próprios. As variáveis para este elemento constituíram-se da história alimentar da criança, alimentos usados na dieta da família, freqüência da alimentação infantil, conduta materna em caso de doença, pessoa que cuida da criança, escolaridade dos pais, ocupação dos pais, tipo de vinculo empregatício e renda familiar. O Elemento Organização do Cuidado de Saúde diz respeito à disponibilidade, quantidade e qualidade dos recursos destinados aos cuidados com a saúde. Para este estudo, as variáveis que correspondem a este elemento foram: existência de convênio de saúde, realização de pré-natal pelas mães, local do pré-natal, início e número de consultas durante a gestação, exames laboratoriais realizados, suplemento de ferro na gestação, orientação profissional para alimentação da criança e serviços de saúde procurados em casos de doença. A população foi constituída por todas as crianças na faixa etária de seis a sessenta meses, residentes e domiciliadas na Vila São Pedro e cadastradas pelo Programa Saúde da Família (PSF) totalizando 371 crianças. Para a coleta de dados inicialmente foi realizado contato com as mães em reuniões na comunidade para explicar os objetivos da pesquisa e obter o consentimento informado para a participação dos filhos. A fase seguinte correspondeu à coleta dos dados antropométricos representados pelo peso e altura, coleta de sangue venoso e de material para exame parasitológico de fezes. Para avaliação laboratorial, foram colhidos 5 ml de sangue venoso utilizando escalpes descartáveis, 21 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 21-28, jan - abr / maio - ago, 2003. sendo que deste total, 3 ml foram depositados em frasco com anticoagulante para realização do hemograma e 2 ml em frasco seco para dosagem de ferritina. Todos os exames foram realizados no Centro de Hematologia e Hemoterapia do Maranhão (HEMOMAR). O critério utilizado para a caracterização da anemia foi o proposto pelo Ministério da Saúde11, que admite hemoglobina < 11 g/dl como limite inferior da normalidade para a faixa etária estudada. Considerando que outras anemias, além da ferropriva, são acompanhadas por contagem diminuída da hemoglobina, decidiu-se incluir neste estudo a avaliação da ferritina como recurso laboratorial para o diagnóstico da anemia causada pela deficiência de ferro e definir os estágios de anemia ferropriva e ferrodeficiência. Foram considerados baixos os exames que apresentaram níveis de ferritina iguais ou inferiores a 12 mg/ml, como preconiza a maioria dos estudiosos 10, 11,12 . Foi realizada ainda, eletroforese da hemoglobina para descartar os casos de traço ou doença falciforme. As crianças foram distribuídas em quatro categorias, de acordo com os valores de hemoglobina e ferritina, como descritas a seguir: normais ou suficientes em ferro (hemoglobina > 11 g/dl e ferritina > 12 mg/ml); anêmica ferropriva (hemoglobina < 11 g/dl e ferriritina < 12 mg/ml); deficientes em ferro (hemoglobina > 11 g/dl e ferritina < 12 mg/ml); anemia não classificada (hemoglobina < 11 g/dl e ferriritina = 12 mg/ml). Quanto à severidade a anemia foi classificada considerando somente o valor da hemoglobina, tendo em vista que é este o critério utilizado para determinação da gravidade da anemia11. A anemia foi classificada como moderada quando os valores da hemoglobina estiveram entre 11 e 9,5 mg/dl e os inferiores a 9,5 mg/dl, como anemia severa. As amostras de fezes foram coletadas em recipientes descartáveis, tampados e preservadas em solução fixadora de MIF. O método utilizado para análise das fezes foi o de sedimentação de Hoffman. Nos casos em que os primeiros resultados foram negativos, os exames foram repetidos, e, somente considerados negativos para helmintos e protozoários após avaliação da segunda amostra de fezes. Os dados subjetivos foram obtidos em entrevista individual com cada mãe, utilizando-se um questionário baseado no modelo conceitual de Campo de Saúde, visando o alcance dos objetivos propostos. Para garantir a presença da mãe, as entrevistas foram realizadas aos sábados, nos dois turnos, no momento da entrega dos resultados dos exames e nos mesmos locais da coleta de sangue. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão – UFMA (protocolo nº 01162/02) em 28.02.02, em concordância com o que determina a Resolução nº 196 do Conselho Nacional de Saúde. Os dados coletados foram inicialmente digitados em planilha do Excel e, em seguida, analisados pelos programas estatísticos Epi-Info versão 6.01 e Statistica versão 4.3. Para análise estatística, foram utilizados o cálculo do risco relativo, o teste de associação do qui-quadrado e a razão de chances (odds ratio), para estimar as chances de ocorrência de problemas nutricionais por deficiência de ferro e expressar a associação entre as variáveis que compõem os quatro elementos do Modelo Campo de Saúde. Utilizou-se nível de significância de 5% para indicar uma associação estatisticamente significativa. RESULTADOS E DISCUSSÕES Estudo Descritivo Tabela 1. Faixa etária, em meses, das crianças pesquisadas na Vila São Pedro, Paço do Lumiar – MA, 2002. 22 I dade em m es es n % 6 – 11 25 6 ,7 12 – 17 34 9 ,2 18 – 23 43 1 1,6 24 – 29 39 1 0,5 30 – 35 32 8 ,6 36 – 41 49 1 3,2 42 – 47 38 1 0,2 48 – 53 41 1 1,1 54 – 60 70 1 8,9 T ot al 371 1 0 0 ,0 Sousa, F. G. M. Neste estudo, o maior percentual de crianças, foi encontrado na faixa etária de 54 a 60 meses, seguida pelas crianças de 36 a 41 meses com 13,2%. As crianças menores de 24 meses representaram 27,5%, sendo que o menor percentual ficou situado na faixa etária de menores de um ano (6 a 11 meses) com 6,7% do total das crianças estudadas. (Tabela 1) Figura 1. Situação nutricional de ferro em crianças de seis a sessenta meses, Vila São Pedro, Paço do Lumiar - MA, 2002. As crianças portadoras de anemia ferropriva alcançaram percentual de 24,0%, e as ferrodeficientes 11,6%, totalizando 35,6% de crianças com problemas nutricionais por deficiência de ferro. Para o Ministério da Saúde13 a metodologia utilizada para definir anemia ferropriva é o nível de hemoglobina igual ou inferior a 11g/dl sem relacionar com a ferritina, o que pode superestimar a prevalência desta deficiência. Neste estudo, considerando somente o valor da hemoglobina seria estimada uma prevalência de 47,7 de anemia. (Figura 1) Tabela 2. Prevalência de anemia nas crianças de seis a sessenta meses, segundo o nível de hemoglobina, Vila São Pedro, Paço do Lumiar – MA, 2002. H b m g/ dl n % > 11 194 5 2 ,3 9 ,5 – 1 1 138 3 7,2 < 9 ,5 39 1 0 ,5 371 1 0 0 ,0 T ot al Do total de crianças 52,3% apresentaram níveis normais de hemoglobina ( = 11 mg/dl). Das 371 crianças, 37,2% apresentaram anemia moderada (Hb 9,5 - 11 mg/dl), enquanto que, 10,5% anemia grave (Hb <9,5 mg/dl). Adicionando-se os quadros de anemia moderada e grave, totalizam 177 crianças portadoras de anemia o que corresponde a 47,7% como já mostrado anteriormente. 23 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 21-28, jan - abr / maio - ago, 2003. Figura 2. Situação nutricional de ferro, segundo sexo, em crianças pesquisadas, Vila São Pedro, Paço do Lumiar – MA, 2002. 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% A. F er r . E ut r óf i co F er r odef . D . Agu do Do total de 371 crianças 57,1% eram eutróficas (n = 212) e 42,9% (n = 159) apresentaram comprometimento nutricional entre desnutrição aguda, pregressa e crônica. Das crianças classificadas como eutróficas, 23,6% eram portadoras de anemia ferropriva e 11,3% delas, ferrodeficientes. Entre as classificadas na categoria desnutrido agudo 25,0% eram anêmicas ferroprivas e 9,1% ferrodeficientes. Dentre as classificadas como desnutrido pregresso 26,5% eram portadoras de anemia ferropriva e 9,6% ferrodeficientes. Na categoria desnutrido crônico, 18,7% das crianças eram anêmicas ferroprivas e 22,0% ferrodeficientes. A freqüência de crianças que apresentaram comprometimento de ferro nutricional foi maior entre as classificadas com desnutrição crônica, totalizando 40,7%, seguida pelas crianças com desnutrição pregressa com 36,2% e, entre as crianças com desnutrição aguda, o percentual foi de 34,1%. Vale ressaltar que mesmo entre as crianças eutróficas o percentual de carência de ferro é alto, correspondendo a 34,9%. Estudo Analítico A associação da anemia ferropriva e ferrodeficiência com as variáveis do Elemento Ambiente não se fizeram significativas, com exceção à variável total de cômodos da casa (p< 0,05). As crianças que residiam em casa com três cômodos ou menos apresentaram risco 2,8 vezes maior de apresentar anemia do que as que residiam em casa com mais de três cômodos. Em trabalhos já publicados, como o de Rodrigues et al.14 evidenciou-se a aglomeração de pessoas associada ao aumento de infecções e maior possibilidade na relação destas com a anemia ferropriva. Acredita-se que o número de cômodos da 24 A. não clas s if . D . P r egr es s o N ão anem . D . Cr ônico casa interfira negativamente na saúde da criança. Para Ferreira, Brito e Bezerra 15 as famílias que residem em casa com poucos cômodos são as mais pobres, as crianças adoecem mais facilmente, há menor nível de instrução básica e apresentam maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde. Ainda em relação ao Elemento Ambiente, vale ressaltar que a análise química e bacteriológica da água utilizada para consumo pelas famílias da comunidade da Vila São Pedro foi adequada, no entanto, poderá sofrer modificações considerando-se a forma domiciliar de armazenamento. Em 87,3% dos domicílios a água é coletada fora de casa, em torneiras na área externa da casa, chafarizes e na vizinhança e, depois, mantidas em depósitos, que podem não atender às exigências para manutenção qualitativa da água. As demais variáveis do Elemento Ambiente apesar de indiscutivelmente, desempenharem papel importante na saúde da criança, não tiveram significado estatístico na associação com os problemas nutricionais por deficiência de ferro. Não se mostraram como fatores de risco para a anemia, as variáveis do Elemento Biologia, relacionadas ao sexo, ordem de nascimento, antecedentes de saúde materna e reprodutiva (idade materna, realização de pré-natal, número de gestação e paridade), assim como em relação a óbitos entre os filhos menores de cinco anos. Fato constatado de forma similar por Neumann et al. 16 e Rodrigues et al. 14 ao estudarem anemia na população infantil. Do Elemento Biologia, a idade da criança foi a variável de associação mais significativa (p = 0,00). As crianças menores de dois anos apresentaram risco 6,4 vezes maior de terem anemia do que as maiores. A explicação para o fato é a maior velocidade de crescimento nessa faixa etária, alta prevalência de desmame precoce, atraso na Sousa, F. G. M. introdução de alimentos ricos em ferro na dieta da criança e pela maior prevalência de doenças diarréicas e infecções respiratórias nos primeiros anos de vida 17. Apesar de observada, neste estudo, prevalência de 42,8% de crianças com problemas nutricionais considerando os parâmetros A/I e P/A, variando entre desnutrido agudo, pregresso e crônico, não houve associação significativa com a anemia ferropriva. No entanto, a vigilância nutricional mantémse, para as ações básicas de saúde infantil, excelente estratégia de controle e acompanhamento. Ainda em relação ao Elemento Biologia, a segunda variável significativa na associação com a anemia foi o poliparasitismo, representado pela associação de helmintos e protozoários (p < 0,05). As crianças que apresentaram enteroparasitoses causadas pela associação de helmintos e protozoários têm o risco 4,41 vezes maior de ter anemia do que as parasitadas com espécies isoladas. Martinez 1 refere que o mecanismo pelo qual estas infecções afetam o estado nutricional de ferro é a perda de sangue secundária à colite, redução do apetite e da absorção intestinal dos nutrientes. As variáveis, que aqui compõem o Elemento Estilo de Vida (estado civil, escolaridade materna, escolaridade paterna, trabalho remunerado, tipo de vínculo e renda familiar), não apresentaram associação significativa (p > 0,05) com a carência de ferro. Resultados semelhantes, em outras populações, foram encontrados nos estudos de Brunken et al.,17 Neumann et al.,16 Osório 18. Ainda ao analisar o Elemento Estilo de Vida, não foi encontrada associação entre anemia e o tempo de aleitamento materno, idade de introdução do leite artificial, introdução de mingau de cereal, introdução de sopa, frutas e refeição da família (p > 0,05). O aleitamento materno nos primeiros seis meses de vida è, sem dúvida, fator de proteção para a anemia, principalmente se exclusivo. No presente estudo não houve associação entre tempo de aleitamento materno e anemia (p > 0,05). Silva, Giugliani e Aerts17 destacam que o efeito protetor do aleitamento materno exclusivo com a anemia, não invalida o fato, já bastante comprovado, de que o leite materno presente na alimentação do lactente é fundamental para atender às necessidades de ferro. Encontrou-se correlação significativa entre anemia e freqüência com que a criança é alimentada (p < 0,05). As crianças com baixa freqüência alimentar (< 5 refeições diárias) apresentaram risco 2,88 vezes maior de ter anemia do que as que receberam alimentos com maior freqüência. As crianças menores de um ano devem receber oito refeições diárias e, entre um e cinco anos, cinco ou seis refeições diárias, incluindo duas de sal complementadas por lanches nutritivos20. Segundo Tontisirin et al.7 para garantir um consumo adequado de alimentos, a freqüência na ingestão dos mesmos é um fator importante que poderá afetar positivamente ou negativamente o estado nutricional de ferro. Para Martorell 4 as crianças têm uma capacidade gástrica relativamente pequena e, por isso, necessitam de refeições freqüentes e ricas em energia e nutrientes. No tocante ao Elemento Cuidado de Saúde, considera-se que a falta de assistência adequada ficou evidenciada neste estudo, considerando que 12,1% das mães não realizaram pré-natal; 55,0% das que realizaram o fizeram fora da Vila, sendo a falta e rotatividade dos profissionais o principal motivo (39,7%); 42,3% realizaram menos de seis consultas pré-natais; 32,5% não realizaram exames laboratoriais; 43,7% usaram inadequadamente a suplementação com ferro oral e 77,9% das mães não receberam apoio para o aleitamento materno. A assistência pré-natal e ao parto devem ser eficientes no sentido de evitar, minimizar e corrigir os problemas relacionados à saúde e nutrição da gestante, o que poderá aumentar as chances de nascimento de crianças saudáveis. Por outro lado, Martorell4 enfatiza que a proximidade, interação e comunicação entre os profissionais de saúde e as mães são elementos necessários para habilitá-las a fornecer melhores cuidados e nutrição para suas crianças. No entanto, as variáveis do Elemento Cuidado de Saúde não apresentaram associação significativa com a anemia ferropriva. CONCLUSÃO Tendo em vista os resultados apresentados, sugere-se a implantação de medidas urgentes de tratamento, acompanhamento e prevenção dos problemas nutricionais por carência de ferro. A urgência se faz, em especial no grupo etário de maior risco (seis a 23 meses) considerando, entre outras situações, as baixas condições socioeconômicas das famílias, que, poderá dificultar o acesso a uma dieta equilibrada e rica em ferro, importante para o tratamento e prevenção da carência nutricional de ferro. Esta situação impõe, ainda, condições de vida que tornam as crianças mais vulneráveis às doenças diarréicas, respiratórias e às parasitoses intestinais, podendo comprometer, além do consumo de alimentos, a absorção de nutrientes. Neste sentido, cabe aos profissionais compreender a dimensão de educar/cuidar, como instrumento transformador da prática de saúde, envolvendo tudo o que se torna indispensável no sentido de diminuir riscos sociais, ambientais e de estilos de vida, visando manter e estimular a qualidade de vida da criança e de sua família. A Atenção Básica, atualmente assentada no Programa Saúde da Família, pressupõe a saúde como direito de cidadania, exige serviços resolutivos, integrais 25 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 21-28, jan - abr / maio - ago, 2003. e humanizados, elegem a família como núcleo para abordagem à saúde e intervenção sobre os fatores de risco aos quais a população está exposta. Dessa forma, a assistência deve ter como objetivos contribuir para a melhoria de vida, educar o indíviduo e a família para o autocuidado, levando-os a assumirem atitudes de promoção para a saúde. Nesse sentido, a intervenção, no que diz respeito aos problemas nutricionais de ferro deve estar subordinada às necessidades ambientais, biológicas e de estilo de vida da população infantil da Vila São Pedro assentadas na educação, visando o alcance da transformação social. Ressalta-se, ainda, que as ações terapêuticas de controle e prevenção, não devem se ater apenas ao tratamento dos casos existentes, mas, também, em aplicar medidas que visem, primordialmente, a promoção da saúde, garantindo-se que as crianças não anêmicas (52,3%), submetidas às mesmas condições ambientais, biológicas e de estilo de vida não sejam, em um futuro próximo, também crianças anêmicas ou ferrodeficientes. Faz-se necessário que sejam melhoradas as ações preventivas e educativas, ao mesmo tempo em que seja realizado, com certa periodicidade, diagnóstico laboratorial da anemia, assim como, a disponibilidade de ferro medicamentoso nos estoques das Unidades de Saúde. A melhoria da qualidade do acompanhamento pré-natal deve incluir a garantia de estoques de ferro na gestante e ampliar os conhecimentos maternos no que se referem aos cuidados com a criança. Essas medidas colaboram para a melhoria da saúde da criança, apesar de não resolver definitivamente o problema da anemia por deficiência de ferro, em função de outros determinantes já definidos neste estudo. Os fatores que contribuem para o estabelecimento da anemia ferropriva, mesmo aqueles em que a associação estatística não foi significativa, e os não pesquisados, certamente não atuam de forma isolada, mas interagem uns com os outros, tornandose muitas vezes difícies de serem mensurados. Apesar da utilização de um referencial teórico abrangente – o Modelo Campo de Saúde – não se conseguiu abranger a pluralidade de fatores que permeiam a ocorrência dos problemas nutricionais por deficiência de ferro. Por outro lado, não se ousa aqui esgotar as relações multicausais e, sim, estabelecer possibilidades para que outros estudos sejam realizados, a fim de definir estratégias de controle e prevenção da anemia ferropriva na população infantil. REFERÊNCIAS 1. Martinez, H. Aspectos clínicos e tratamento. In: Má nutrição protéica-energética, Anais Nestlé, 2001; 61: 11 – 18. 9. Lalonde, M. A new perspective on the health of canadians: a working document. Ottawa: Minister of National Health and Welfare; 1974. 2. UNICEF. Situação mundial da infância. Brasília: 1998. 10. Almeida, TV. Hematologia. In: Moura, R A et al. Técnicas de laboratório. 3. ed. São Paulo: Atheneu; 1998. p. 333 - 337. 3. Gómez, HGD, et al. 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Módulo 2. 27 Revista do Hospital Universitário/UFMA Artigo Diagnósticos de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca valvar* Diagnosis of nursing of surgery heart valvar in the transoperatory period Líscia Divana Pachêco Carvalho1, Thelma Leite de Araújo2 Resumo: O estudo tem como objetivo identificar os diagnósticos de enfermagem, sua freqüência e significância estatística em 23 pacientes adultos no período perioperatório de cirurgia cardíaca valvar. Foi realizado no Hospital Universitário de São Luís-MA. O instrumento de coleta de dados utilizado foi baseado em modelo construído e validado por Galdeano; Rossi (2000), fundamentado no modelo conceitual de Wanda Horta. Foram encontradas um total de 34 categorias diagnósticas e identificados 633 diagnósticos de enfermagem. Foi utilizado o teste estatístico de McNemar associado ao teste binomial. Foram observadas alterações nas necessidades básicas com predominância nas necessidades psicobiológicas (63,5%) Os diagnósticos identificados neste estudo contribuíram para a implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem do Hospital Universitário, especificamente na Unidade Pós-operatória (UTI-CÁRDIO). Descritores: Diagnósticos de Enfermagem, Cirurgia Cardíaca Valvar. ABSTRACT: The study has the objective of identifying nursing diagnosis, its frequency and statistical signifance in 23 patients adult in transoperatory period of surgery heart valvar. It was used in the University Hospital was based in Wanda Horta conceptual model. They were found a total of 34 categories and 633 nursing diagnostics. It was used McNemar. Is test there were observed in the basic needs with predominance in the needs psicobiologicas (63%). The identified diagnosis in the study contributed to the implantation of Sistematizion of the Nursing Attendance of University Hospital, specifically in the Postoperative Unit (CARDIAC-ICU). Word-key: Nursing Diagnosis, Heart Surgery Valvar INTRODUÇÃO O quadro epidemiológico das doenças cardiovasculares ainda é crescente, a cardiopatia coronariana representa a principal causa de mortalidade; em terceiro lugar entre as etiologias cardíacas mais comuns temos valvulopatias 1. Para uma assistência perioperatória, com qualidade e responsabilidade, a equipe multiprofissional deve estar integrada, organizada e consciente de suas ações, agindo com profundidade científica e habilidade técnica. Destacamos nessa equipe, a enfermeira, que tem papel de fundamental importância, se fazendo presente desde a visita pré-operatória até o planejamento de atividades aos períodos transoperatório e pós-operatório cardíaco, no estabelecimento de intervenções específicas. A base do pensamento crítico é o Processo de Enfermagem que consiste na aplicação do método científico ao trabalho 2. Esse processo constitui-se num instrumento valioso para direcionar a assistência de enfermagem, buscando alcançar a finalidade de cuidar do ser humano, aperfeiçoando a prática assistencial, gerencial ou de ensino 3. Reportando à minha experiência, após retorno do Mestrado constato que o processo de Enfermagem não está implantado no Hospital Universitário, então reflito a necessidade de qualificar o cuidado prestado. O objetivo deste estudo foi elaborar os diagnósticos de enfermagem apresentados, por pacientes adultos, durante o período perioperatório de cirurgia cardíaca valvar. Como objetivos específicos: descrever os diagnósticos de enfermagem significantes e verificar as necessidades básicas alteradas no período perioperatório. O referencial teórico metodológico utilizado foi o de Wanda Aguiar Horta4, associado à Taxonomia Diagnóstica da North American Nursing Diagnostic Association5. MÉTODOS O estudo foi realizado no Serviço de Cirurgia Cardíaca do Hospital Universitário Presidente Dutra entre os meses de março a junho de 2002. A população foi constituída por pacientes adultos que foram admitidos na fase pré-operatória no mínimo de 12 horas submetidos à cirurgia cardíaca pela primeira vez e que aceitaram participar de pesquisa. A amostra foi representada por 23 pacientes. O instrumento de coleta * Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Nível Mestrado da Universidade Federal do Ceará 1 Enfermeira, Mestra do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará. 2 Coordenadora do Mestrado Interinstitucional (UFC-UFMA) do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. 28 Carvalho, L. D. P. de dados foi baseado em modelo construído e validado por Galdeano; Rossi6. A fase pré-operatória aconteceu na enfermaria, através de entrevista, exame físico e consulta ao prontuário. Na fase transoperatória, coletouse dados do prontuário. Na fase pós-operatória, avaliouse o paciente a cada hora, perfazendo seis horas iniciais. Realizou-se um resumo criterioso dos conteúdos de cada instrumento, elaborando uma tabela onde deveriam ser registradas as características definidoras, os fatores relacionados e os diagnósticos de enfermagem. Os 23 instrumentos de coleta de dados foram submetidos à apreciação de mais dois juízes experts além da autora e orientadora que formularam separadamente os diagnósticos. Para testar a significância estatística foi realizado o teste não paramétrico de McNemar7. RESULTADOS Tabela 1. Características do grupo segundo variáveis demográficas e de diagnóstico médico. São Luís, 2002. D AD OS D EM O G RÁFIC O S Nº % S exo M a sculin o F em in ino 15 08 65 ,2 34 ,8 Id ade 20 27 34 41 48 55 27 34 41 48 55 62 04 02 04 03 06 04 17 ,4 8,7 17 ,4 13 ,0 26 ,1 17 ,4 C or B ra nca P arda N eg ra 12 07 04 52 ,2 30 ,4 17 ,4 N atura lid ade C ap ital In terio r O u tro Es tado 10 12 01 43 ,5 52 ,2 4,3 E stad o C ivil S olte iro C as ado V iúvo D ivorc iado 07 14 01 01 30 ,5 60 ,9 4,3 4,3 E scola rida de A lfab etizad o 1ºG rau Inc om ple to 1ºG rau C om ple to 2º G rau Inc om ple to 2º G rau C om ple to 02 10 05 03 03 8,7 43 ,5 21 ,8 13 ,0 13 ,0 P ro fis são D o lar La vrad or M o torista O u tras * 08 03 04 08 34 ,8 13 ,0 17 ,4 34 ,4 D iagnós tic o M édico E sten ose m itral In suficiên cia a órtica In suficiên cia m itral E sten ose aórtica D up la lesã o 08 05 03 03 04 34 ,8 21 ,8 13 ,0 13 ,0 17 ,4 - Mais da metade dos pacientes foi procedente do interior, 12 (52,2%) e a idade média foi de 42 anos. A profissão masculina que mais se destacou foi a de motorista. O diagnóstico médico mais freqüente foi o de estenose mitral. (Tabela 1) 29 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 29-33, jan - abr / maio - ago, 2003. Diagnósticos formulados mostra a estatística descritiva referente a essa freqüência encontrada. As análises dos diagnósticos identificados no período perioperatório, permitiram identificar 633 diagnósticos distribuídos em 34 categorias. A Tabela 2 Tabela 2. Estatística descritiva dos diagnósticos e categorias identificadas no período perioperatório. São Luís, 2002. Fase operatória Variáveis Pré Trans Pós Total To ta l M é dia 1 26 5 ,4 2 45 1 0,7 2 62 11,4 6 33 2 7,5 To ta l 22 13 16 51 Diagnósticos Foram formuladas, no conjunto das fases pré, trans e pós-operatória, 34 categorias diagnósticas. Na fase pré-operatória houve 22 categorias diferentes, na trans-operatória, 13 e na fase pós-operatória, 16 categorias. Tabela 3. Freqüência das categorias diagnósticas para os 23 pacientes, segundo operíodo perioperatório de cirurgia cardíaca valvar, agrupados em Padrões de acordo com a Taxonomia II da NANDA (n=23). São Luís, 2002. PA DR Õ E S D IA G N Ó ST IC O S N = 23 N = 23 N = 23 In te g rid a de tissu la r p reju d icad a Ve n tila çã o e sp o n tâ n e a p re ju dica d a E lim in a çã o u riná ria p re jud icad a R isco p a ra a sp ira çã o R isco p a ra in fe c çã o R isco p a ra trau m a R isco p a ra q u e d a R isco p a ra vo lu m e d e líqu id o s de ficie nte s R isco p a ra te m p e ra tu ra c orp o ra l d e se q u ilibra d a D é b ito ca rd ía co d im in u íd o H ipo te rm ia P ad rão re sp ira tó rio in e fica z D e n tiç ão p re ju d ica d a C o n stipa çã o D e so b stru çã o in e fic a z d e vias a é rea s N u triçã o d e se q u ilib ra d a : m e n o s d o q u e a s n e ce ssid a de s c o rpo ra is Vo lu m e d e líq u id o s e xce ssivo R isco p a ra in c o ntin ê n cia u rin á ria d e im p u ls o P ro te çã o ine fic a z P erfu sã o tiss u la r p e rifé rica in e fic a z P erfu sã o tiss u la r ren a l ine fic a z 07 00 00 00 00 00 00 00 00 23 23 23 23 23 23 23 22 17 23 23 23 23 23 23 23 22 17 00 00 11 06 04 00 03 15 06 00 00 00 00 00 18 06 00 00 00 04 00 01 02 01 01 01 01 00 00 00 00 01 00 00 02 00 M o ve r M o b ilid a d e físic a p re ju dica d a P ad rão d e so n o p e rtu rba d o In to le râ n cia à ativida d e 00 18 09 23 00 00 23 00 00 S en tir M edo Dor A ns ie d a d e 14 02 07 00 00 00 00 08 00 C o n h e ce r C o n h e cim en to d e ficie nte 19 00 00 R e la c io n ar D isfu n çã o se xua l 11 00 00 P erce b e r B aixa a u to -e stim a s itu acio n a l P erce p çã o se n s o ria l au ditiva p e rturb a d a P erce p çã o se n s o ria l visu a l p e rturb a d a 03 02 01 00 00 00 00 00 00 E sco lh e r A da p ta çã o p re ju d ica d a 02 00 00 C o m un ica r C o m un ica ção v erb a l p re ju dica d a 01 00 00 126 245 262 Troca r TO TA L 30 FA S E O P ER ATÓ R IA T RAN S PÓS PRÉ Carvalho, L. D. P. Observou-se na Tabela 3 que das 34 categorias diagnósticas, as que obtiveram maior freqüência foram: Integridade tissular prejudicada, com 53 diagnósticos. Tabela 4. Categorias diagnósticas com os respectivos valores de p obtidos pelo teste de McNemar. São Luís, 2002. PADRÕES Troca r Valores de p McNem ar DIAGNÓSTICOS Integridad e tiss ular p rejud icada * Ve ntilaç ão es pon tâ nea p reju dica da* E lim in açã o urin ária prejud icada * R isc o para asp iração* R isc o para in fe cção* R isc o para trau m a* R isc o para que da* R isc o para volum e d e líqu id os de ficie ntes* R isc o para te m peratura corpo ra l de seq uilibrada * D éb ito ca rd ía co dim inuído * H ipoterm ia* P ad rã o re spiratório ine fica z* D en tiçã o prejudicada* C on stip aç ão D es obs truç ão ineficaz d e vias a ére as N utriç ão de seq uilib rad a: m e nos d o que a s nece ssida des c orporais Vo lu m e de líq uidos e xce ssivo R isc o para in con tinê nc ia u rinária de im pulso P roteçã o in efic az P erfusã o tiss ular periférica ineficaz P erfusã o tiss ular ren al ine fica z 0,00 02 0,00 00 0,00 00 0,00 00 0,00 00 0,00 00 0,00 00 0,00 00 0,00 01 0,00 01 0,04 12 0,00 26 0,02 3 0,13 36 0,13 36 0,24 82 0,500 0 0,47 95 1,00 00 0,37 50 1,00 00 M ov er M ob ilidad e física pre ju dica da* P ad rã o de so no pe rturbado * Intolerânc ia à a tivida de* 0,00 00 0,00 01 0,00 77 S en tir M edo * D or A ns ieda de * 0,00 05 0,47 95 0,02 33 C on hec er C on hec im e nto deficiente* 0,00 00 R elac iona r D isfunç ão s exu al* 0,00 26 P erce ber B aix a auto-estim a situ acion al P erce pçã o sen sorial a uditiva pe rturbad a P erce pçã o sen sorial v isua l pe rturbad a 0,24 82 0,47 95 1,00 00 E s colhe r A da ptaçã o prejudica da 0,47 95 C om u nicar C om u nicaç ão ve rbal p re ju dicada 1,00 00 Diagnóstico de enfermagem significante foi aquele cujo valor de p foi menor que 0,05 Tabela 5. Distribuição das Necessidades Básicas Alteradas entre as fases operatórias. São Luís, 2002. Fa ses o pera tó ria s N ece ssida des B ás ic as P ré Tra ns P ós % % % P sico bioló gicas 63 ,5 10 0 10 0 P sico ssoc iais 36 ,5 00 00 00 00 00 A lterada s P sico esp iritua is 31 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 29-33, jan - abr / maio - ago, 2003. Dos 126 diagnósticos identificados na fase préoperatória, 63,5% corresponderam a alterações das necessidades psicobiológicas e 36,5% corresponderam a alterações das necessidades psicossociais. Nas fases trans-operatória e pós-operatória dos 507 diagnósticos identificados, todos corresponderam a alterações das necessidades psicobiológicas. Observou-se que não foram identificadas alterações nas necessidades psicoespirituais. DISCUSSÃO A principal responsabilidade da enfermeira é manter o paciente no mais elevado padrão de cuidados, criando um ambiente próprio para o seu bem estar. Obtiveram-se as médias de 5,4 diagnósticos de enfermagem por paciente na fase pré-operatória, 10, 7 diagnósticos na fase trans-operatória e 11,4 na fase pós-operatória. Percebeu-se que na fase pré-operatória as categorias foram superiores quando comparadas às fases trans e pós-operatória comparando-se ao estudo realizado por Fontes 8, que em estudo sobre os diagnósticos de enfermagem, em fissuras lábiopalatais, observou-se uma mudança na variação de 4,7 diagnósticos por paciente na fase pré-operatória a 6,7 diagnósticos na fase pós-operatória, indicando um aumento da demanda de necessidades de cuidados de enfermagem, na última fase, sugerindo maior atenção de enfermagem. CONCLUSÃO Foram formuladas em todo o período perioperatório 34 categorias diagnósticas, apresentando um total de 633 diagnósticos, distribuídos em 126 diagnósticos na fase pré-operatória, 245 na fase trans e 262 na fase pós-operatória. Os diagnósticos foram distribuídos nos diversos Padrões de Respostas Humanas e apenas o padrão Valorizar não obteve indicação diagnóstica. Os diagnósticos de enfermagem que foram considerados, estatisticamente, significantes foram aqueles com valores de p < 0,05 pelo teste de McNemar e confirmados pelo teste binomial . Na fase pré-operatória, 63,5% dos diagnósticos estavam relacionados com as necessidades psicobiológicas e 36,5% com as necessidades psicossociais. Nas fases trans e pós-operatória todos os 507 diagnósticos corresponderam às alterações nas necessidades psicobiológicas e não foi identificada alteração nas necessidades psicoespirituais. Os diagnósticos de enfermagem identificados neste estudo foram o “alicerce” que faltava para a implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) do Hospital Universitário. Foi realizada a confecção do impresso de evoluçãoprescrição de enfermagem da unidade, constando de diagnósticos considerados Padrões Mínimos de Enfermagem. REFERÊNCIAS 1. Julian, DG; Cowan, JC. Cardiologia. 6 ed. São Paulo: Santos; 2000. 2. Silva, AGI. Ensinando e cuidando com o processo diagnóstico em enfermagem. Belém: Smith; 2001. 128p. 3. Alfaro-LeFevre. Pensamento crítico em enfermagem: um enfoque prático. Porto Alegre: Artes Médicas; 1996. 4. Horta, WA. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU; 1979. 5. Nanda. Diagnósticos de enfermagem: definições e classificação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul; 2002. 32 184p. 6. Galdeano, LE; Rossi, LA. Construção e validação de instrumentos de coleta de dados para o período perioperatório de cirurgia cardíaca [Dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto. 2000. 7. Moroco, J ; Bispo, R. Texto de apoio de estatística II. 3. ed. São Paulo: 2000. 8. Fontes, CMB. Fissuras lábio palatais: diagnósticos de enfermagem no pré e pós-operatório [Dissertação]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 2001. 135p. Revista do Hospital Universitário/UFMA Artigo Epidemiologia de malformações congênitas em recém-nascidos nativivos do Hospital Universitário-Unidade Materno Infantil de São Luis-Maranhão, Brasil Epidemiology of congenital malformations in liveborns at the University Hospital Materno Infantil unit of São Luis- Maranhão, Brazil Cristina de Andrade Monteiro1 , Luis Fernando Carvalho Costa2 Resumo: Monitorou-se o nascimento de 2663 recém-nascidos nativivos, ocorrido no Hospital Universitário Unidade Materno Infantil de São Luis (Ma), durante o período de 04 de outubro de 2000 a 04 de abril de 2001, enfocandose a incidência de malformações congênitas e a descrição de determinadas variáveis como sexo, peso ao nascimento, número de gestações, idade materna, tipo de malformação etc. Encontrou-se uma incidência de 1,43% de malformações, o que representa uma estimativa mínima decorrente da dificuldade no diagnóstico de algumas malformações internas, de manifestação tardia e a precocidade na liberação de pacientes com malformações menores. Do total de malformações diagnosticadas, 52,63% ocorreram isoladas e as mais freqüentes foram a polidactilia (7 casos) e Síndrome de Down (6 casos). Do total 65,7 % das mães tinham entre 18 e 26 anos, 52,83% eram pardas, 50% primíparas, 46,65% sofreram algum tipo de infecção durante a gravidez e 30% afirmaram ter tentado abortar aquela gestação. Com base nos dados obtidos neste trabalho sugere-se que seja dada a necessária importância para os defeitos congênitos, uma vez que à medida que a mortalidade peri e pósnatal, devida a fatores sócio-econômicos, diminua, freqüentemente, as malformações assumem as primeiras posições nesse ranking. Descritores: Epidemiologia, malformações congênitas, nativivos. Abstract: The birth of 2663 liveborns at University Hospital Materno Infantil Unit of São Luis (Ma) was monitored, from October 04/2000 up to April 04 /2001, focusing the incidence of congenital malformations and the description of some variables such as sex, birth weight, number of gestations, mother‘s age, type of malformation etc. It was found a congenital malformation incidence of 1.43%, that represents a minimum estimative because of the difficulty in the diagnosis of some internal or delayed manifestation malformations and the precocity in the release of patients with minor malformations. From all the diagnosed malformations, 52.63% occurred isolated and the most frequent ones were polydactyly (7 cases) and Down‘s Syndrome (6 cases), 65.7 % had 18-26 years, 52.83% were brown, 50% were in the first pregnancy, 46.65% had suffered some type of infection during the pregnancy and 30% had tried to abort that gestation. Based on data of the mothers this study, we suggest that the tried for congenital defects should be an important mother, once that as soon as peri and pos-natal mortality, due to social-economic causes, diminishes, frequently, malformations assume the first positions in this ranking. Key-words: Epidemiology, congenital malformations, liveborns. INTRODUÇÃO Malformação congênita (MC) é um defeito morfológico que resulta de um processo de desenvolvimento embrionário intrinsecamente anormal, presente ao nascimento1. Atualmente constitui a principal causa de morte no período neonatal dos países desenvolvidos2. Observa-se que com a redução da mortalidade infantil, relacionada a fatores sócio-econômicos, as malformações congênitas, freqüentemente, assumem a primeira posição no ranking da mortalidade peri e pós-natal3. Estudos4 têm mostrado que houve um declínio de 68,8%, em média, na mortalidade infantil. Entretanto mortalidade infantil decorrente de malformações congênitas diminuiu em apenas 33,4%, embora tenha aumentado em outros países, principalmente, da América Latina. O estudo epidemiológico é uma poderosa ferramenta de saúde pública preventiva, capaz de medir o impacto dos defeitos congênitos em uma população, identificar suas possíveis causas, traçar estratégias a serem desenvolvidas e monitorar sua eficiência5. No Brasil, os múltiplos aspectos dos defeitos congênitos, do ponto de vista epidemiológico, não são conhecidos. O Estado do Maranhão tem total carência em relação ao estudo das malformações que se torna, deste modo, necessário visto à grande etnia presente ¹ Doutora em Genética Humana pela USP/Rib. Preto(SP). Professora de Genética do CEFET/MA. ² Biólogo graduado pela UFMA. 33 Monteiro, C. A. na população maranhense. O objetivo deste estudo foi analisar a incidência e os principais tipos de malformações presentes ao nascimento em nativivos, por um período de 6 meses, na maternidade do Hospital Universitário de São Luís. MÉTODO Monitorou-se o nascimento de 2663 nativivos, de 04 de outubro de 2000 a 04 de abril de 2001, no Hospital Universitário - Unidade Materno Infantil. Rotineiramente, os recém-nascidos (RNs) foram avaliados através de exames físicos, realizados pelos pediatras, para verificação de possíveis anormalidades congênitas internas ou externas. Foi considerada malformação congênita toda alteração morfológica, interna ou externa, clinicamente diagnosticada com grau de certeza aceitável antes da alta hospitalar em todos os recém nascidos vivos. Comprovada a existência da malformação, a obtenção de dados era feita através de análise de prontuários e aplicação de questionários, com consentimento das pacientes, onde as seguintes variáveis foram investigadas: nome, idade e grupo racial da mãe; número de gestações anteriores; presença de outros filhos e/ou parentes com defeitos congênitos; utilização de drogas, psicotrópicos ou outros agentes químicos durante a gestação; acometimento por infecções; tentativas de aborto; abortamentos espontâneos em gestações anteriores; natimortos em gestações anteriores; sexo, peso e estatura da criança; tipo de gravidez; idade gestacional. O estudo foi realizado com aprovação da Comissão de Ética da instituição. RESULTADOS Dos 2663 recém-nascidos monitorados, foram detectadas 38 crianças portadoras de malformações congênitas, o que equivale a 1,43% de incidência (Tabela I). Os dados obtidos através de questionários e análise de prontuários estão resumidos na Tabela I, onde se obteve as seguintes informações: • O peso médio das crianças malformadas foi de 2823,51 g (s = 607,26) e 21,62% do total apresentaram baixo peso ao nascimento (<= 2500 gramas); • A razão sexual masculina foi de 0,72:1; • 52,64 % dos recém-nascidos necessitaram dos cuidados da UTI neonatal; • Idade gestacional adequada para 84,22% das pacientes e 63,15% dos partos foram normais; • A idade média das mães foi de 23 anos (s =5), sendo que 34% delas tinha 20 anos ou menos e que a amplitude de variação estava entre 16 e 40 anos, com uma predominância para a faixa de 18 a 26 anos (65,7 %); • 50% das pacientes eram primíparas; • Não foi registrado o nascimento de 34 gêmeos com malformações; • 46,65% das mães sofreram algum tipo de infecção durante a gestação; • 30 % das pacientes revelaram tentativa de aborto; • 19,35 % declararam a existência de natimortos em gestações anteriores; Os tipos de malformações congênitas diagnosticadas estão na Figura 1, sendo que 52,63% destas ocorreram isoladas, ou seja, não estavam associadas com outras malformações. Polidactilia, isolada ou associada, foi a mais freqüente (23,68%) e também a que mais claramente mostrou etiologia genética, uma vez que 87,5% das pacientes relataram outros casos da malformação em suas famílias. Síndrome de Down, isolada ou associada, afetou 21% das crianças, resultando numa incidência de 2,63 por mil. A idade média dessas mães foi de 23 anos, sendo que a mais nova possuía 16 e a mais velha, 40 anos. Pé torto congênito, isolado ou associado, representou 15,78% dos casos, sendo também uma das malformações mais freqüentes. Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 34-38, jan - abr / maio - ago, 2003. Figura 1. Malformações congênitas diagnosticadas no período do estudo e suas respectivas ocorrências. Polidactilia 7 S índr om e de Down H idr ocefalia + Anencefalia Pétar ta congênita Meningam ielocele Pétar ta + polidactilia Polidactilia + malfor m ação nas m ãos Pétar ta + am putação congênita da m ão es quer da Dedos do pé ligados Genitália am bígua Am putação congênita de braço e antebraço Apêndice aur icular 6 1 1 1 1 1 1 1 S . Dow n + Cardiopatia Congênita H idr ocefalia Malfor m ação em m em bros infer ior es 1 1 1 S índr om e não identificada Car diopatia Congênita E xoftalm ia + micr ocefalia + fenda palatina + lábio lepor ino Dentição pr ecoce H idr ocefalia + m eningom ielocele S . Dow n + hiper tr ofia do clitór is H idr ocefalia + fenda palatina Meningom ielocele + pétarta + m alfor m ação nas per nas H ipos pádia 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 0 2 4 6 8 Tabela 1. Características demográficas da população hospitalar estudada. Variáveis in vestigadas N ativivos N ativivos m alform ados G e m elaridad e M C isoladas M C a ssocia das R azão sexu al m as culina Peso <= 2500 gram as Internaçã o em U TI Idade m aterna < = 35 anos Prim íparas M ultíp aras >= 4 Idade gesta cional<= 35 s em an as G rup o étnico N eg ras Brancas Pardas Infecç ões Tipo de parto C esariana N orm al Ten tativa de aborto N atim ortalidade anterior N % 2625 38 0 20 18 16 8 18 37 19 2 6 _ 1,43 0 65,78 34,22 43,24 21 47,36 97,37 50 5,26 15,78 7 10 19 14 19,4 27,77 52,83 46,65 14 24 9 6 36,85 63,15 30 19,35 35 Monteiro, C. A. DISCUSSÃO A incidência global das malformações congênitas varia de uma boa pesquisa para outra, devido à variação dos métodos de averiguação, dos critérios de observação e de classificação. Além disso, os dados são colhidos em populações diferentes6. A definição e o conhecimento exato da freqüência de MC, em uma população, têm importância dentro de vários pontos de vista, não só por definir a existência ou não de uma situação particular da população em relação ao problema, mas também para precisar as características do mesmo em ocasiões muito diferentes das reportadas na literatura mundial para outras populações. O conhecimento destas características permite definir as medidas que poderiam ser tomadas a fim de minimizar o problema. Por outro lado, a introdução quase que diariamente de novos medicamentos e drogas de uso nas atividades industriais e agropecuárias eleva o risco permanente de efeitos teratogênicos, difíceis de se descobrir a tempo, senão através de extensos programas de vigilância epidemiológica, nos quais se realiza uma avaliação permanente da freqüência de MC, na busca de fortes alterações de suas freqüências de base. Observou-se que incidência de malformações congênitas (1,43%) obtida neste estudo é relativamente menor do que as da maioria da literatura consultada9,10. No entanto é próxima à taxa obtida por outros autores11,6 cujos trabalhos enfocavam a incidência de defeitos congênitos em nativivos. A incidência de malformações em natimortos pode ser até cinco vezes superior se comparada com a incidência em nativivos12. Assim, deve-se compreender que a taxa de incidência obtida neste trabalho representa somente uma estimativa mínima e não a verdadeira freqüência de malformações congênitas na referida instituição pelas seguintes razões: dificuldade em comparar freqüências originadas a partir de diferentes metodologias; precocidade na liberação dos pacientes; dificuldade no diagnóstico de algumas malformações (principalmente as menores); malformações internas não diagnosticadas antes da alta hospitalar e malformações de manifestação tardia. Um dos fatores mais discutidos com relação à influência nas MC é idade materna. Alguns autores13 afirmam que não há nenhuma influência dessa variável com o surgimento de malformações congênitas. Outros2,11 afirmam que há maior incidência de defeitos congênitos entre as mães muito jovens ou muito velhas. A incidência de defeitos congênitos, obtida neste estudo, foi maior em mulheres pertencentes à faixa etária de 18 a 26 anos (65,7% das mães), portanto jovens. Outra variável tradicionalmente relacionada às 36 MC é o peso da criança ao nascimento. De acordo com a literatura13,15 e os dados obtidos pelo ECLAMC (Estudo colaborativo latino americano de malformações congênitas), há maior proporção de defeitos congênitos em crianças pesando 2.500 g ou menos (consideradas de baixo peso). Observou-se uma ocorrência de 21,62% de RNs malformados nesta condição. A primiparidade, encontrada em 50% das mães, corrobora com alguns trabalhos11,12, os quais sugerem que as malformações, em geral, são mais comuns no primeiro filho, do que no segundo e no terceiro filho. Não houve nenhum caso de malformação em gêmeos. Entretanto sabe-se há excesso de malformações em gêmeos, quando comparados com não gêmeos16 . A incidência para Síndrome de Down (2,63 por mil) aproxima-se de uma das taxas obtidas para populações brasileiras (2,69)17. De acordo com a literatura14,1 o risco de prole afetada aumenta com a idade materna. Portanto, a idade pode ter sido um fator importante para o surgimento da síndrome somente no caso da paciente de 40 anos. A malformação congênita com maior reincidência na família das crianças afetadas foi a polidactilia (87,5%) provavelmente porque essa anomalia é considerada um tipo de herança determinada por um gene dominante, com penetrância incompleta e expressividade variável14. De acordo com os dados obtidos, a maioria das malformações ocorrem isoladas e as mais freqüentes foram a polidactilia (isolada ou associada), Síndrome de Down (isolada ou associada) e pé torto congênito (isolado ou associado). Foram registrados 21 tipos diferentes de defeitos congênitos, desde malformações menores, como apêndice auricular, até anomalias graves como hidrocefalia e anencefalia. A importância deste tipo de estudo reside na possibilidade de servir como referência para estudos comparativos e para programas de vigilância epidemiológica, que constituem o eixo norteador na pesquisa da etiologia das MC. Este é um estudo epidemiológico do tipo coorte e portanto, em relação aos dados obtidos através de prontuários e entrevistas, constitui no máximo uma descrição parcial de uma realidade, cuja importância, como problema de saúde pública, vem sendo subestimada. Estudos de caso-controle posteriores podem ajudar a desvelar ainda mais esta realidade, principalmente as relações existentes entre o uso de fármacos/fitoterápicos ou acometimento de infecções na gestação e o surgimento de malformações congênitas. Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 34-38, jan - abr / maio - ago, 2003. REFERÊNCIAS 1. Vogel F, Motulsky A. Genética Humana: problemas e abordagens. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. 2. Batista NA, Barletta HC, Brito DM, et al. Estudo epidemiológico de malformações congênitas em uma amostra do Hospital Escola Wladimir Arruda. Revista Iatros, 1985, 4(1): 17-20. 3. Miura E, Failace LH, Fiori H. Mortalidade perinatal e neonatal no Hospital das Clínicas de Porto Alegre. Rev. Assoc. Med. Bras., 1997, 43(1): 35-39. 4. Rosano A, Botto LD, Botting B, et al. Infant mortality and congenital anomalies from 1950 to 1994: an international perspective. J. Epidemiol. Community Health, 2000, 54(9): 660-666. 9. Nazer J, Cifuentes L, Catalan J, et al. Incidencia de malformaciones congénitas en mortinatos. Rev. Chil. de Pediatr., 1989, 60(4): 208-211. 10. Sanches O, Salazar A, Arreaza AB, et al. Epidemiologia de malformaciones Congenitas en el Hospital Ruiz Paez de Ciudad Bolivar: una experiencia de 10 años. Investigación clinica, 1989, 30(3): 159-172. 11. Ramos JL, Laurindo VM, Vaz FAC, et al. Malformações congênitas: estudo prospectivo de dois anos em três maternidades de São Paulo. Pediatria,1981, 3(1): 2028. 12. Ramos JLA. “Malformações”. In Marcondes E. Pediatria Básica. São Paulo: Sarver; 1995, pp. 282-287. 5. Cordero JF.“Registries of birth defects and genetic diseases”.In HALL JC (Org.).Pediatric Clinic of North America, 1992, 39(1): 67-77. 13.Mcintosh R, Menitt KK, Richards MR, et al. The incidence of congenital malformations: a study of 5.964 pregnancies. Pediatrics, 1954, 14: 505-522. 6. Stevenson AC, Johnston HA, Stewart MIP, et al. 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Revista Paulista de Medicina, 1977, 89: 42-49. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Cristina de Andrade Monteiro Avenida 01, quadra E, casa 01, Residencial Araras, COHAMA CEP: 65074-000 E-mail: [email protected] 37 Revista do Hospital Universitário/UFMA Artigo ESCALA DE BRADEN: avaliação dos fatores de risco para úlcera de pressão em pacientes internados em uma Unidade de Terapia Intensiva. BRADEN SCALE: evaluation of the risk factors for pressure ulcer in patients admitided Intensive Care Unit. Janaina Monteles Aguiar1 , Sirliane de Souza Paiva2 RESUMO: A úlcera de pressão é uma lesão que surge quando a área é suprimida do fornecimento de sangue, o que ocorre por diversas causas. Este é um estudo exploratório e descritivo desenvolvido em uma Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, que tem como objetivos avaliar o potencial de risco para desenvolvimento de úlcera de pressão, norteado pela escala de Braden; descrever os fatores de risco e classificar os pacientes conforme o grau de risco de acordo com a pontuação da escala de Braden. A coleta de dados foi realizada através de um instrumento contendo dados de identificação do paciente e a escala de Braden. A amostra constituiu-se de 27 pacientes. Após a avaliação dos dados, pôde-se constatar que os pacientes apresentaram moderado e alto risco para o desenvolvimento de úlcera de pressão. Descritores: Úlcera de pressão. Fatores de risco. Escala de Braden. Cuidado de Enfermagem. ABSTRACT: Pressure ulcer is an injury that appears when the area is suppressed by blood supply, which occurs for several causes. A exploratory and descriptive study in an Intensive Care Unit the of University Hospital of the Federal University of Maranhão, which aim to evaluate the potential of risk for development of pressure ulcer guided by Braden Scale; to describe the risk factors and to classify the patients according to the punctuation of the Braden Scale was carried through an instrument contaming identification of the patient and the Braden Scale Sample consisted of 27 patients. After evaluation data, it was shoun that the patients had presented moderate and high risk for the development of pressure ulcer. Key words: Pressure Ulcer. Risk Factors. Braden Scale. Nursing Care. INTRODUÇÃO A pele é o maior órgão do corpo humano e corresponde à aproximadamente 10% do seu peso. Funciona como a principal barreira de proteção do organismo1. Compõe-se de duas camadas de tecidos: a epiderme e a derme. O tecido subcutâneo embora não seja anatomicamente uma camada da pele é considerado como tal.¹ Qualquer lesão que leve à solução de continuidade da pele pode ser chamada de ferida2. Quando a pele é lesada, o organismo inicia um processo fisiológico que é denominado processo cicatricial. O processo cicatricial é sistêmico e dinâmico, estando diretamente relacionado às condições gerais do organismo3. Entre muitas alterações que a pele pode sofrer, destacamos a úlcera de pressão, devido ser um problema enfrentado no dia-a-dia do cuidado de enfermagem e por causar inúmeros danos tanto aos pacientes quanto aos familiares, além de aumentar os custos hospitalares e prolongar o período de internação. “As úlceras de pressão que também são denominadas de úlceras de compressão ou úlceras de decúbito são consideradas feridas crônicas, oriundas de áreas submetidas à constante processo isquêmico e conseqüente morte tecidual”4. 1 Enfermeira. Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica. 2 Doutora em Enfermagem. Docente da UFMA. 38 Os pacientes com risco para o aparecimento de úlcera de pressão são os que apresentam desidratação, diabetes mellitus, diminuição da sensibilidade, fraturas, uso freqüente de corticosteróides, imunossupressão, incontinência, má nutrição, paralisias, úlceras de pressão prévias, obesidade ou magreza significativas, déficit mental, coma, alteração do nível de consciência, sedação ou confusão mental4. A literatura cita várias escalas desenvolvidas para avaliar e identificar risco potencial para úlceras de pressão. Entre estes instrumentos de aferição de risco estão as escalas de Norton, Gosnell, Waterlow e Braden. A escala mais utilizada nos Estados Unidos é a de Braden pois demonstrou ter maior sensibilidade do que as outras escalas2. Acredita-se que, se houvesse o conhecimento e por sua vez a aplicação pelos enfermeiros dos instrumentos de avaliação de risco para desenvolvimento das úlceras de pressão, haveria a redução do número de casos. O estudo foi realizado em uma Unidade de Terapia Intensiva por ser um local que abriga pacientes necessitados de cuidados intensivos, pois, são Aguiar, J. M. indivíduos que em sua maioria possuem déficit total ou parcial das habilidades funcionais. O incentivo para a realização deste estudo deuse na vivência, enquanto enfermeira e residente, onde se observou um número significante de pacientes portadores de úlcera de pressão. Os objetivos da pesquisa são avaliar o potencial de risco para desenvolvimento de úlcera de pressão em pacientes internados em uma Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, utilizando a escala de Braden; descrever os fatores de risco para úlcera de pressão e classificar os pacientes internados na UTI conforme grau de risco de acordo com a pontuação da escala de Braden. MÉTODOS Trata-se de um estudo de caráter descritivoexploratório que foi realizado em uma Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão no município de São Luís. A amostra do estudo constitui-se de pacientes internados em uma Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, no período de 22 de maio a 22 de junho de 2003. Critérios de exclusão: pacientes internados em uma Unidade de Terapia Intensiva no referido período que já apresentassem úlcera de pressão. Para a coleta de dados, foi utilizado um instrumento composto por dados de identificação do paciente e a escala de Braden, que permite identificar os fatores propícios ao surgimento das úlceras de pressão. A escala de Braden encontra-se dividida em seis subescalas que apresentam escores variando de 1 (um) a 4 (quatro), que ao final são somados para a obtenção de um escore geral, que pode variar de 6 (seis) a 23 (vinte e três). Os pacientes que obtiverem escore igual ou maior que 16 (dezesseis) são considerados de pequeno risco para o desenvolvimento de úlceras de pressão; pacientes com escores entre 11 (onze) e 16 (dezesseis), indicam risco moderado e pacientes com escore abaixo de 11 (onze), indicam alto risco, pois os mesmos demonstram que houve uma diminuição funcional orgânica significativa que facilita o surgimento das úlceras de pressão4. Segundo a escala de Braden, a avaliação do paciente é feita considerando os seguintes pontos: a) Percepção sensorial: é avaliada a capacidade do paciente em reagir significativamente à pressão relacionada ao desconforto. Esse item contém os seguintes tópicos: ν Totalmente limitada (um ponto): o paciente não reage (não geme, não se segura a nada, não se esquiva), a estímulo doloroso, devido ao nível de consciência diminuído ou devido à sedação ou capacidade limitada de sentir dor na maior parte do corpo. ν Muito limitada (dois pontos): quando reage somente a estímulo doloroso, não é capaz de comunicar desconforto, ou possui alguma deficiência sensorial que limite a capacidade de sentir dor. ν Levemente limitada (três pontos): responde ao comando verbal, mas nem sempre comunica o desconforto. ν Nenhuma limitação (quatro pontos): responde a comandos verbais. Não tem déficit sensorial. b) Umidade: avalia a que nível a pele está exposta à umidade. ν Completamente molhada (um ponto): a pele é mantida molhada quase constantemente por transpiração, urina, etc. ν Muito molhada (dois pontos): a pele está freqüentemente molhada. ν Ocasionalmente molhada (três pontos): a pele fica ocasionalmente molhada. ν Raramente molhada (quatro pontos): a pele geralmente está seca. c) Atividade: avaliação do grau de atividade física do paciente. ν Acamado (um ponto): quando o paciente é confinado à cama. ν Confinado à cadeira (dois pontos): a capacidade de andar está severamente limitada ou nula. ν Anda ocasionalmente (três pontos): anda ocasionalmente durante o dia, mas passa a maior parte de cada turno na cama ou na cadeira. ν Anda freqüentemente (quatro pontos): anda fora do quarto pelo menos duas vezes por dia e dentro do quarto pelo menos uma vez a cada duas horas. d) Mobilidade: avaliação da capacidade de mudar e controlar a posição do corpo. ν Totalmente imóvel (um ponto): não faz nem mesmo pequenas mudanças na posição do corpo ou extremidades sem ajuda. ν Bastante limitado (dois pontos): faz pequenas mudanças ocasionais na posição do corpo, mas é incapaz de fazer mudanças freqüentes ou significantes sozinho. ν Levemente limitado (três pontos): faz freqüentes, embora pequenas, mudanças na posição do 39 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 39-44, jan - abr / maio - ago, 2003. corpo sem ajuda. ν Não apresenta limitações (quatro pontos): faz importantes e freqüentes mudanças de posição sem auxílio. ν Excelente (quatro pontos): come a maior parte e) Nutrição: avalia o padrão usual de consumo alimentar. ν Muito pobre (um ponto): o paciente nunca come uma refeição completa. Ingere pouco líquido. Não aceita suplemento alimentar. Ou é mantido em jejum e/ou mantido com dieta líquida ou Intravenosa por mais de cinco dias. ν Provavelmente inadequada (dois pontos): raramente come uma refeição completa. Ingestão de proteína inclui somente três porções de carne ou laticínios por dia. Ocasionalmente aceitará um suplemento alimentar, ou recebe abaixo da quantidade satisfatória de dieta líquida ou alimentação por sonda. ν Adequada (três pontos): come mais da metade das refeições. Come um total de quatro porções de alimento rico em proteína (carne ou laticínio) diariamente. Ocasionalmente recusará uma refeição. Ou é alimentado por sonda ou regime de nutrição Parenteral Total. f) Fricção e cisalhamento: avalia o grau de contato entre a pele do paciente e o lençol, de acordo com seu grau de mobilidade. ν Problema (um ponto): quando o paciente requer assistência de moderada a máxima para se mover. Há quase sempre atrito da pele com o lençol. Espasticidade, contratura ou agitação leva a quase constante fricção. ν Problema em potencial (dois pontos): move-se mas, sem vigor ou requer mínima assistência. Na maior parte do tempo mantém posição relativamente boa na cama ou cadeira, mas ocasionalmente escorrega. ν Nenhum problema (três pontos): move-se sozinho na cama ou cadeira e tem suficiente força muscular para erguer-se completamente durante o movimento. Os dados foram tabulados em uma planilha do Excel ®, tratados em percentual simples e apresentados sob forma de tabelas e gráfico. de cada refeição. Nunca recusa uma refeição. Come quatro ou mais porções de carne e laticínios. Não requer suplemento alimentar. RESULTADOS Na tabela 1 podemos observar que a faixa etária predominante foi a de mais de 61 anos (29,6%). O idoso é mais susceptível a adquirir úlcera de pressão devido aos fatores inerentes ao processo de envelhecimento5. Dos pacientes estudados, 33,3% pertenciam ao sexo masculino e 66,7% ao sexo feminino. Da amostra estudada, 12 (44,4%) pacientes eram provenientes da clínica cirúrgica. Através da tabela 2 pôde-se constatar que a Unidade de Terapia Intensiva do Hospital estudado admite predominantemente pacientes cirúrgicos, onde 14 (51,9%) pacientes encontravam-se em pósoperatório de cirurgia geral e 06 (22,2%) pacientes em pós-operatório de cirurgia neurológica. Pode-se observar na figura 1 que: ν Percepção sensorial - 09 (33,3%) pacientes apresentavam-se levemente limitados e 09 (33,3%) não manifestavam nenhuma limitação. Observa-se também que 03 (11,2%) pacientes eram muito limitados; ν Umidade - 16 (59,3%) pacientes apresentavam a pele ocasionalmente molhada e nenhum (0%) apresentou a pele completamente molhada; 40 ν Atividade física - 100% dos pacientes estudados encontravam-se confinados ao leito; ν Mobilidade - 09 (33,3%) pacientes eram bastante limitados, 09 (33,3%) eram levemente limitados e 02 (7,4%) pacientes não apresentavam limitações; ν Estado nutricional - 20 (74%) pacientes apresentaram estado nutricional muito pobre, isso devido estarem em dieta zero ou intravenosa por mais de cinco dias conforme preconiza a escala de Braden. Vimos também que nenhum (0%) paciente estudado apresentou nutrição excelente; ν Fricção e cisalhamento - 16 (59,3%) pacientes apresentavam problema em potencial e que 10 (37%) apresentavam problema no que se refere à necessidade de assistência para mover-se. Somente 1 (3,7%) não apresentou problema de fricção e cisalhamento pois se movia sozinho na cama e tinha força suficiente para erguer-se durante o movimento. Aguiar, J. M. Tabela 1. Distribuição dos resultados da avaliação dos pacientes internados na UTI não portadores de úlcera de pressão segundo idade, sexo e local de origem. São Luís, 2003. ID A D E (e m an os ) Nº % < 20 21 -3 0 31 -4 0 41 -5 0 51 -6 0 > 61 06 02 01 06 04 08 22 ,2 7,4 3,7 22 ,2 14 ,9 29 ,6 SEXO M ascu lino F em in ino 09 18 33 ,3 66 ,7 O RIG E M C lín ica cirúrgica ge ral C lín ica cirúrgica ne uro -o rto pé dica C lín ica m éd ica U n id ad e ren al C lín ica pe diá trica C lín ica ob sté trica O utros ho sp ita is (R ed e p rivad a ) 12 04 03 01 02 02 03 44 ,4 14 ,9 11 ,1 3,7 7,4 7,4 11 ,1 T O TA L 27 10 0,0 Tabela 2. Distribuição dos resultados da avaliação dos diagnósticos apresentados pelos pacientes internados na UTI que não apresentavam úlcera de pressão. São Luís, 2003. D IA G N Ó ST IC O Nº % P ós -op e ra tó rio (cirurgia g era l) 14 5 1 ,9 P ós -op e ra tó rio (cirurgia n eu ro lóg ica ) P ne um o n ia e ins uficiê n cia re s p ira tó ria C om a a es cla re ce r P ara pleg ia a esc la re cer 06 01 01 01 2 2 ,2 3 ,7 3 ,7 3 ,7 A sm a e H A S C om plica çõ es d e c orren te s d e h e m o d iá lise AVC -H 01 3 ,7 01 01 3 ,7 3 ,7 C ardio pa tia e in su ficiê n cia re sp ira tó ria 01 3 ,7 T O TA L 27 1 00 ,0 Figura 1. Instrumento de coleta de dados N om e: Prontuário: D ata da coleta: D ata da internação: Perce pção sens orial Idade: Sexo: C línica de O rigem: D iagnóstico: U m idade A tivid ade M obilidade N u trição Fricção ecisalham ento 1. totalm ente lim itado 1. com pletam ente m olha da 1. aca m ado 1. totalm ente im óvel 1. m uito pobre 2. M uito lim itad o 2. m uito mo lhada 2. con finado à cadeira 2. ba stante lim itado 2. P rova velm ente 2. problem a em Inadequa do potencial 3. levem ente lim itado 3. oca sionalm ente m olha da 3. levem ente 3. an da ocasionalm en te lim itado 4. ne nhum a lim itação 4. raram ente m olha da 4. nã o ap resen ta 4. an da 4. exce lente freqü entem en te lim itação 3. ad equado 1. problem a 3. ne nhum problem a TO TAL D E PO N TO S: DISCUSSÃO O estudo revelou que os pacientes estudados pertenciam à faixa etária de mais de 60 anos. Nos idosos, a pele torna-se mais seca devido à diminuição de glândulas sudoríparas e sebáceas e há alterações hemodinâmicas e atrofia muscular que torna as estruturas ósseas mais proeminentes4. Dados demográficos demonstram que as mulheres apresentam maior longevidade que os homens, o que 41 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 39-44, jan - abr / maio - ago, 2003. as leva a períodos mais longos de doenças crônicas5. Talvez isso justifique o resultado obtido, onde 66,7% da amostra pertencia ao sexo feminino. A maioria dos pacientes estudados eram provenientes da clínica cirúrgica, constatando que a Unidade de Terapia Intensiva do Hospital estudado admite predominantemente pacientes cirúrgicos. Em relação à percepção sensorial que se refere a capacidade de reagir à pressão relacionada ao desconforto, a maioria dos pacientes apresentaram nenhuma ou leve limitação. Isso mostra um ponto favorável na prevenção de úlcera de pressão, pelo fato do próprio paciente ajudar/contribuir nesse processo. A maior parte dos pacientes estudados apresentaram a pele ocasionalmente ou raramente molhada. A umidade a que a pele está exposta se refere à incontinência, perspirações e drenagens apresentadas pelo paciente5. O estudo nos mostrou que 100% dos pacientes estudados se encontravam restritos ao leito. Esse dado é preocupante, pois se sabe que o paciente acamado e gravemente enfermo é muito mais predisponente ao desenvolvimento de úlceras de pressão, necessitando de maior cuidado por parte da equipe que o assiste em relação à mudança de decúbito a cada duas horas, cuidados com a pele, uso de protetores nas proeminências ósseas e utilização de colchões especiais. No que diz respeito à mobilidade, a maior parte dos pacientes apresentaram-se bastante ou levemente limitados. A mobilidade prejudicada pode ser considerada como um dos principais fatores responsáveis pelo desenvolvimento de úlceras de pressão, por propiciar a presença de pressão nos locais de proeminências ósseas, fazendo com que haja destruição tecidual5. O estado nutricional reduzido prejudica a elasticidade da pele e a longo prazo, leva à anemia e a uma redução de oxigênio aos tecidos. E sabe-se que tudo isso favorece o surgimento de úlceras de pressão2 Na literatura, a fricção e cisalhamento são citados com fatores externos causadores das úlceras de pressão. A fricção ocorre quando duas superfícies são “esfregadas” uma na outra, removendo assim as camadas superiores de células epiteliais. Já o cisalhamento ocorre quando o paciente desliza na cama, onde o esqueleto e os tecidos mais próximos se movimentam e a pele das nádegas permanece imóvel2 A fricção e cisalhamento podem ser reduzidos com a utilização de técnicas de posicionamento, transferência e reposicionamento. O alívio de pressão é a principal conduta usada na prevenção das úlceras de pressão2 6. O resultado da avaliação para risco de úlcera de pressão, segundo a escala de Braden, mostrou que os pacientes da Unidade de Terapia Intensiva em estudo apresentaram alto e moderado risco para desenvolver úlcera de pressão. As subescalas que mais contribuem para a gravidade da situação são atividade física, nutrição e fricção e cisalhamento. As demais subescalas que são percepção sensorial, umidade e mobilidade, embora não tenham apresentado alto e moderado risco como prevalente, apresentaram resultados significantes de risco para o aparecimento de úlcera de pressão. CONCLUSÃO Por meio deste estudo, pôde-se observar que a escala de Braden é um instrumento bastante útil pois possibilitou identificar os fatores de risco para o surgimento das úlceras de pressão, em pacientes gravemente enfermos e confinados ao leito. Ao ser utilizada a escala de Braden, a totalização de pontos mostrou o seguinte resultado: 08 (29,6%) pacientes apresentaram baixo risco, 08(29,6%) risco moderado, 05 (18,5%) alto risco e 06 (22,2%) risco altíssimo. A pesquisa revelou que os pacientes estudados apresentavam em sua maioria, pouca ou nenhuma alteração na percepção sensorial, pele ocasionalmente ou raramente úmida, confinamento ao leito, mobilidade, bastante ou levemente limitada, estado nutricional muito pobre e problema em potencial com relação à fricção e cisalhamento. Os fatores que mais contribuem para o risco 42 de surgimento de úlcera de pressão, nos pacientes estudados, são os referentes ao grau de atividade física, nutrição e fricção e cisalhamento. A escala de Braden permite conhecer o perfil do paciente e possibilita ao enfermeiro direcionar um plano de cuidados, que inclui medidas preventivas ao surgimento de úlceras de pressão. É de fundamental importância que o enfermeiro conheça instrumentos que permitam avaliar o potencial de risco para úlceras de pressão, adequando-os à realidade em que vive e assim contribuindo para melhoria do bem estar e recuperação do paciente, satisfação da família, diminuição dos gastos hospitalares e do período de internação. De acordo com os resultados analisados, pôde-se constatar que a implementação das atividades de enfermagem podem contribuir para a diminuição do grau de risco para úlcera de pressão. Aguiar, J. M. REFERÊNCIAS 1. Universidade Estadual de Campinas. Hospital das Clínicas. Grupo de Estudos de Feridas. Manual de tratamento de feridas. Campinas, 1999. 2. Dealey, C. Cuidando de feridas: um guia para as enfermeiras. 2. ed. Rio de Janeiro: Atheneu; 2001. 3. Candido, L. C. Escalas para avaliação do risco para úlcera de pressão. 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Meneghin, P.; Lourenço, M T N Utilização da escala de 43 Revista do Hospital Universitário/UFMA Artigo Fatores que interferem no processo ensino aprendizagem do aluno no estágio supervisionado de centro cirúrgico Factors that interfere in the student´s teaching-learing process in apprenticeship Elza Lima da Silva¹, Glória da Conceição Mesquita Leitão² Resumo: Análise dos fatores intervenientes no processo de aprendizagem dos alunos do Estágio Supervisionado em Centro Cirúrgico da UFMA. Do Curso de Graduação em Enfermagem. Tem por objetivo descrever a situação vivenciada pelos alunos no campo de Estágio. A abordagem metodológica é analítica descritiva e o estudo tem como unidade de análise o Hospital Universitário. Participaram do estudo trinta e um alunos. Chegou-se a conclusão que o Centro Cirúrgico é contexto naturalmente estressante, que há falta de ritual facilitador do entrosamento dos alunos com a equipe do serviço. Que há jogo de poder do cirurgião como chefe da equipe, que falta maturidade aos alunos e, que apesar dos problemas iniciais os alunos terminaram o Estágio com certo grau de satisfação. Descritores: estágio supervisionado, enfermagem, centro cirúrgico. Abstract: Analysis of the intervening factors in the learning process of the students of the nursing graduation course, Discipline Supervised at UFMA. Surgical Center. It aim the description of the situation lived the students in the field of the Apprenticeship. The methodological approach is analytic-descriptive and the design belongs to study case, having are of analysis the University Hospital. It took part in the study 31 students. They concludead that the Surgical Center is a naturally stressing context, which there is lack of facilitative ritual of the obstruction of the students with the service team. Which there is a power game of the surgeon as the shief of the team, a lack of maturity to the students and, despite the initial problems, the students was finished the apprenticeship with certain satisfaction degree. Key-Words: Supervised discipline, nursing, surgical center. INTRODUÇÃO O Estágio Curricular da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) é uma atividade obrigatória a todos alunos de graduação e tem como objetivo integrar as ações de Ensino, Pesquisa e Extensão e de propiciar ao aluno o desenvolvimento de suas habilidades profissionais visando à inserção no mercado de trabalho.O Estágio Curricular Supervisionado é uma atividade prática realizada pelo aluno em empresas, instituições, entidades públicas ou privadas com a finalidade de complementar sua formação profissional, sob a coordenação e responsabilidade de uma Instituição de Ensino Superior. O estágio curricular é a fase de aplicação do conhecimento reflexivo e/ou do aperfeiçoamento de habilidades. É o momento da junção do saber com o fazer, que conduz a um agir profissional mais consciente crítico e reflexivo¹. O estágio curricular deve ser visto como um procedimento didático que leva o aluno a observar e a aplicar, de maneira criteriosa, os princípios referenciais, teóricos e práticos, assimilados no curso. O seu planejamento é importante, devendo ser fundamentado num campo de experiências que reflita o modelo profissional que se deseja formar. No Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o estágio curricular é realizado no último ano do curso. Divide-se ¹ Mestre em Enfermagem. Docente da UFMA. ² Doutora em Enfermagem. Docente da UFC. 44 em Estágio Curricular I e Estágio Curricular II. No Estágio Curricular I, está inserido o Estágio Supervisionado em Centro Cirúrgico. A escolha do tema decorreu da observação empírica e da verificação, na literatura, de que o estágio provoca medo e ansiedade nos alunos por causa do tipo de entrosamento efetivado no Centro Cirúrgico. A ansiedade do aluno, no início de cada estágio, é fator interveniente no desempenho. Decorre do medo do novo e do desconhecido, porque os alunos, naquela fase, não estão familiarizados com o setor, os funcionários, os pacientes e o instrumental¹. A autora ressaltou, também, que a necessidade de aprender permeia e intensifica o aparecimento da ansiedade e, à medida que esta necessidade é suprimida, a ansiedade se reduz.¹ Sobre esse óbice, Silva² afirma que os alunos encontram maior dificuldade na instrumentação cirúrgica quando estão no estágio de Centro Cirúrgico, pela falta de destreza, o que acarreta medo, insegurança e ansiedade. Como pesquisadora e docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão tem-se a mesma compreensão dessa dificuldade, observada na vivência da supervisão do estágio. Exercendo-se a atividade docente no Estágio Silva, E. L. Curricular I, subárea Enfermagem em Centro Cirúrgico, percebe-se a ansiedade e a angústia pela qual passam os acadêmicos ao adentrarem no ambiente do centro cirúrgico. Este fato vem se repetindo a cada semestre sem justificativa convincente. Daí, o nosso interesse em desenvolver esta pesquisa. O assunto é relevante e preocupante pelo processo de aprendizagem e pela natureza dos procedimentos técnico-científicos do processo cirúrgico, objeto da disciplina, exigindo a revisão de alguns conceitos para adequação do planejamento da disciplina às necessidades de aprendizagem dos alunos, considerando a preocupação dos docentes do Estágio Curricular I, subárea Enfermagem em Centro Cirúrgico. Nesse sentido, é que este trabalho busca respostas às seguintes indagações: • Por que os alunos sentem tanta ansiedade no Estágio Curricular I, subárea Enfermagem em Centro Cirúrgico? • Que fatores interferem no processo de aprendizagem dos alunos do Estágio Supervisionado em Centro Cirúrgico? • Que estratégias podem ser utilizadas para amenizar essas ansiedades? • Para responder a essas questões, estabeleceu-se os seguintes objetivos: • Descrever a situação vivenciada pelos alunos no campo de estágio em centro Cirúrgico. • Levantar as expectativas e experiências anteriores dos alunos matriculados na disciplina Estágio Curricular, subárea de Enfermagem em Centro Cirúrgico; • Identificar possíveis causas da ansiedade dos alunos do Curso de Graduação em Enfermagem no Estágio Curricular I, subárea Enfermagem em Centro Cirúrgico; • Identificar os fatores que interferem no processo de aprendizagem dos alunos no Estágio Supervisionado em Centro Cirúrgico. MÉTODOS Realizou-se um estudo analítico descritivo com abordagem qualitativa que busca compreender a experiência dos alunos do quinto semestre do Curso de Graduação em Enfermagem na disciplina Estágio Curricular Supervisionado em Centro Cirúrgico e sua relação com os profissionais que trabalham no Centro Cirúrgico do Hospital Universitário. Tendo em vista a natureza do problema pesquisado adotou-se a abordagem qualitativa uma vez que esta considera a existência de uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito. O sujeito observador faz parte do processo do conhecimento, interpreta os fenômenos de acordo com seus valores e crenças, dando-lhes um significado.³ O projeto do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). O seu desenvolvimento ocorreu após a explicação dos propósitos do estudo e assinatura do consentimento livre e informado pelos participantes, tendo sido assegurado o anonimato das informações obtidas.O estudo foi realizado com trinta e um alunos regularmente matriculados no sétimo semestre do Curso de Graduação em Enfermagem da UFMA, na disciplina Estágio Supervisionado em Centro Cirúrgico no primeiro semestre de 2002. Foi trabalhado o universo total dessa turma de alunos. A coleta das informações foi realizada em por meio de um questionário semi-estruturado que foi preenchido pelos alunos em reunião que antecedeu o Estágio, realizada no departamento de Enfermagem da UFMA. Para análise e interpretação dos dados desta pesquisa, ancorou-se na técnica de análise temática proposta por Bardin4. MINAYO5 diz que a análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença signifique alguma coisa para o objetivo analítico visado. De acordo com Gomes6, além de buscar respostas para as questões, com essa técnica podese caminhar na direção da “descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestados, indo além das aparências do que está sendo analisado”. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com a análise dos dados selecionouse as seguintes categorias temáticas. Relacionamento Interpessoal No relacionamento interpessoal, merece destaque a questão da comunicação que segundo Stefanelli7 é condição fundamental da vida humana abrangendo todos os procedimentos por meio dos quais um ser humano alcança o outro. A prática de enfermagem envolve necessariamente uma relação interpessoal, porquê o 45 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 45-49, jan - abr / maio - ago, 2003. enfermeiro é um profissional que provê cuidado específico a outros seres humanos com outros profissionais de saúde. Torna-se clara a importância da comunicação como instrumento básico, uma habilidade indispensável ao desempenho profissional. Alguns autores afirmam que a comunicação possibilita o relacionamento terapêutico.7, 8 Ensinar aos estudantes de enfermagem as habilidades de comunicação de modo consciente e eficaz tem sido um problema para os educadores, uma vez que é a observação de como esses profissionais se comunicam que serve para introjeção de modelos de comunicação para esses alunos. Os alunos percebem que há dificuldade de comunicação entre a equipe cirúrgica e os alunos. Isso fica evidente no relato descrito a seguir: “Nesse ambiente não existe comunicação. As pessoas trabalham como se fossem máquinas, são individualistas, não atuam como equipe”. Ou ainda: “Tenho um comportamento rancoroso e sentimento de angústia contra o profissional médico do Centro Cirúrgico pela forma de comunicar-se com o aluno”. Os estagiários de Enfermagem demonstraram sentimento, até certo ponto, de revolta, porque esperavam receber da equipe cirúrgica cooperação, troca de experiência e transmissão de conhecimentos. Todavia, a falta de apoio por parte de alguns profissionais deixou o aluno desestimulado. É lamentável que o aluno se depare com locais e pessoas despreparadas para recebê-lo. A gravidade da situação faz resgatar a assertiva de Rodrigues9, quando afirma que a unidade hospitalar, juntamente com a equipe como um todo, deve estar preparada para receber o aluno e atender às suas expectativas. Ambiente do Centro Cirúrgico Verifica-se por meio das respostas dos alunos que suas percepções em relação a esse setor revelam ser este um ambiente estressante. Acredita-se que seja devido à falta de segurança do aluno e à hostilidade nas relações interpessoais da equipe cirúrgica /aluno. O Centro Cirúrgico é uma das unidades mais complexas do hospital pela sua especificidade, pelo estresse constante e possibilidade de riscos à saúde a que os pacientes estão sujeitos ao serem submetidos à intervenção cirúrgica. A literatura registra que existem ambientes altamente estressantes na educação em enfermagem o que é confirmado por Mckey10, Thyer e Bazeley¹¹. No Brasil a pesquisa de Schamarczeck¹² comprovou este fato. “O centro cirúrgico é um ambiente assustador e gerador de conflitos”. Ou ainda: “A equipe médica é extremamente estressada”. 46 Maturidade emocional dos alunos Observou-se que durante o estágio o aluno apresenta insegurança, medo e ansiedade, o que se confirma pelas expressões abaixo descritas: “Me sentia inseguro frente à equipe do Centro Cirúrgico para desenvolver as atividades”. Ou ainda: “Eu me sentia ansioso e com medo de realizar algum procedimento errado. Na aula prática do Centro Cirúrgico ficávamos dispersos sem saber o que fazer”. A ansiedade é uma usual e esperada ocorrência entre alunos de enfermagem, afirma Simukonda e Rappsilber¹³. Acredita-se que as fontes mais comuns da ansiedade apresentada pelo aluno são o medo de haver falhas de conhecimento, insegurança e medo de críticas. Altos níveis de ansiedade interferem negativamente no desempenho do aluno, cujo aprendizado representa a aquisição de habilidades complexas que envolvem o aprimoramento da coordenação motora, firmeza e precisão de movimentos musculares, bem como um alto nível de atenção e concentração.¹³, 14, 15 Experiência dos professores na prática do Centro Cirúrgico dos alunos do 5° período “A prática foi deficitária. Tínhamos uma professora inexperiente em Centro Cirúrgico”. Ou ainda: “A professora, além de assumir várias atividades não gostava de Centro de Material e nem de cirurgia geral”. Essa percepção dos alunos talvez possa ser explicada pela insuficiência numérica de professores e para suprir esta deficiência o Departamento de Enfermagem remaneja professores de outras disciplinas para ministrar a disciplina Centro Cirúrgico. Entretanto, a falta de habilidade prática daqueles em desenvolver atividades na referida área influi no processo de ensino. Relação de poder dos médicos no Centro Cirúrgico Com relação à equipe cirúrgica, os alunos afirmam que o cirurgião coloca-se como “dono do saber”. Acha-se autoridade máxima do Centro Cirúrgico. As repostas dos alunos registram, com clareza, a atitude de superioridade dos cirurgiões sobre os demais membros da equipe. Esquecem que o Hospital Universitário é um campo de ensino – aprendizagem da Universidade e que a formação de futuros profissionais da saúde é um dos objetivos deste. “Odiava instrumentar e circular na sala pela maneira desrespeitosa com que o cirurgião me tratava, pensavam que estávamos ali à disposição deles”. Silva, E. L. Os alunos concebem os cirurgiões como um “todo poderoso” na equipe cirúrgica, entretanto, esperam deles uma atitude de competência, compreensão, ética e de bom senso. No dia-a-dia deparam-se com profissionais indiferentes, pouco cordiais, algumas vezes grosseiros na forma de dirigirse a eles. Estas atitudes agravam o sentimento de medo e ansiedade, dificultando o processo de aprendizagem. Expectativa dos alunos quanto ao Estágio Curricular I Os alunos expressaram o desejo de aprimorar seus conhecimentos teórico-práticos na disciplina, adquiridos no quinto período do curso, e refletem o desejo de superar a insegurança que sentem em relação à prática. “Tenho expectativa de adquirir mais e melhores conhecimentos sobre a disciplina”. “Espero compensar as deficiências da disciplina”. “Espero que o professor deixe os alunos mais soltos e com mais autonomia para praticar a instrumentação cirúrgica”. “Que o estágio possa me proporcionar autosuficiência para administrar, de maneira correta, um centro cirúrgico”. “Espero superar as frustrações que tive no quinto período”. “Que haja interação entre a equipe profissional e o grupo”. “Sugiro a criação de um laboratório no Departamento de Enfermagem para que possamos ter mais contato com o instrumental. Conseqüentemente, diminuiria o nervosismo e a ansiedade do aluno no momento da instrumentação cirúrgica”. Silva16 postula que as dificuldades dos alunos no desempenho da instrumentação durante o estágio deve-se, principalmente, à falta de destreza, o que por sua vez acarreta medo, insegurança e ansiedade. A falta de habilidade é definida como ato ou atividade que requer movimento e deve ser adquirido e ou aprendido a fim de que seja realizada corretamente.¹7 A aprendizagem de uma técnica de enfermagem envolve vários aspectos, alguns dependentes do próprio estudante, como a capacidade psicomotora e traços de personalidade; outros como aulas expositivas, dependendo do professor. Cook e Hill18 afirmaram que ao desenvolver as técnicas em um ambiente seguro e controlado como um laboratório, em que ocorre a simulação da realidade, o aluno realiza os procedimentos técnicos com mais tranqüilidade e menos medo. Um laboratório de Enfermagem, certamente, ajudaria o aluno a aproximar a sala de aula da realidade profissional. Vale a pena também citar algumas declarações dos alunos que mostram a percepção destes sobre o profissional enfermeiro e seu trabalho: “Tive maior percepção do trabalho do enfermeiro e sua autonomia administrativa dentro do Centro Cirúrgico”. “É evidente a atuação do enfermeiro no cuidado direto ao paciente”. Convém lembrar que os alunos necessitam refletir sobre a prática da enfermagem de maneira comprometida com o atendimento das necessidades do cliente e sua família e não para simplesmente constatar que muito precisa ser feito para a melhoria do desempenho profissional dos enfermeiros dos locais onde estagiam. CONCLUSÕES Com esta pesquisa concluiu-se que: a) Realmente a ansiedade é fator interveniente na aprendizagem e adaptação do aluno no Estágio Curricular I, de Enfermagem em Centro Cirúrgico no Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão; b) O medo do novo, do desconhecido e a imaturidade emocional dos alunos, bem como a falta de experiência anterior, permeia suas expectativas; c) As dificuldades iniciais de adaptação influem na percepção, levando-os a maximizar e a retraírem-se em vez de buscarem interação com as equipes que ali atuam; d) O apoio, a presença e a experiência da professora no campo são elemento integrador nas equipes; e) Com o passar do tempo e superadas a dificuldades iniciais, os alunos aprendem e tiram proveito do Estágio Curricular I de Enfermagem em Centro Cirúrgico; f) Os alunos também perceberam que o ato cirúrgico exige muito física, psicológica e emocionalmente das equipes por implicar na assistência e sobrevivência dos seres humanos sobre seus cuidados, portanto o ambiente é naturalmente estressante; g) Os alunos, todavia, pensam que algumas medidas adotadas pela Disciplina Estágio Curricular I podem amenizar ou diminuir a ansiedade deles, tal como aulas prévias em laboratório e prática de Centro Cirúrgico. Ressalta-se que este estudo não se esgota com a realização desta pesquisa, pois muito há que 47 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 45-49, jan - abr / maio - ago, 2003. ser analisado e aplicado na prática do discente a fim de reduzir a ansiedade do aluno no Estágio. Espera-se que a contribuição deste estudo vá além dos limites desta dissertação, no sentido de sugerir a outros pesquisadores o aprofundamento do assunto e a proposição de opções de redução de ansiedade do aluno no campo da prática. REFERÊNCIAS 1 Andrade, MN, Araújo, LCA. Estágio curricular: avaliação de experiência. Rev. Bras. Enf. Brasília, 1989, (1/4):2741. 2 Silva, MDA. A aprendizagem em enfermagem em centro cirúrgico: dificuldades mais comuns expressadas pelo aluno de graduação em Enfermagem. In: Jornada de Enfermagem em Centro Cirúrgico, 4.ed. São José do Rio Preto: 1990. p. 229-244. 3 Minayo, MC. O desafio do conhecimento: pesquisa quantitativa em saúde. 2.ed. São Paulo: HUCITEC; 1994. 4 Bardin, L. Análise de Conteúdo. 70.ed. Lisboa: 1977. 6 Minayo, MAS. et al. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 4 ed. Petrópolis: Vozes; 2002. 6 Gomes, R. A Análise de dados em pesquisa qualitativa. Petrópolis: Vozes; 1994. 7 Stefanelli, MC. Ensino de técnicas de comunicação terapêutica enfermeiro paciente. [tese]. São Paulo (SP): Escola de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo: 1995. 163p. 8 Horta, WA. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU; 1979. 99p. 9 Rodrigues, RA, Souza, FAEF. O trabalho da enfermeira em centro cirúrgico: análise de depoimentos. Rev. Latino-americana, 1993; 2(1):21-34. education programs. J. Nurse Forum, 1978; 17(4):37693. 11 Thyer, SE, Bazeley, P. Stressors to student nurses beginning tertiary education: an Australian study. Nurse Educ. Today, 1993; 13:336-342. 12 Schmarczek, M. A situação ensino-aprendizagem como fator de ansiedade em alunos de Enfermagem. 1988. [Tese]. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RG: 1988. 13 Simukonda, FS, Rappsilber, C. Anxiety in male nursing students at Kamazu college of nursing. Nurse Educ. Today, 1989; 9(3):180-185. 14 Barnes, RG. Test anxiety in master’s students: a comparative study. J. Nurs. Educ, 1987; 26(1):2-9. 15 Phillips, AP. Reducing students’ anxiety level and increasing retention of materials. J. Nurs. Educ, 1988; 27(1):35-41. 16 Silva, MDAA, Rodrigues, AL, Cesaretti, IUR. Enfermagem na unidade de centro cirúrgico. São Paulo: EPU; 1997. 17 Fleiman, EA. Structure and measurement of physical fitness. New York: Prentice-Hall; 1964. c.2, p.8-27. 18 Cook, JW, Hill, PM. The impact laboratory system on the teaching of nursing skills. J. Nurs. Educ, 1985; 24(8):344-6. 10 Mckay, SRA. Review of student stress in nursing ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Profª Elza Lima da Silva Rua 21, Quadra 37, Casa 16 Conjunto Bequimão. São Luís-MA - CEP: 65061-020 E-mail: [email protected] 48 Revista do Hospital Universitário/UFMA Artigo Marcadores de cromossomopatias no primeiro trimestre da gestação First trimester screening for chromosomal abnormalities by ultrasonography Lívia Teresa Moreira Rios¹, Rosy Ane Araújo Barros², Tarcisio Mota Coelho³, Marilia da Glória Martins4 RESUMO: O rastreamento pré-natal das cromossomopatias inclui o estudo ultra-sonográfico de marcadores no período entre 11-14 semanas de gestação. Destacando-se a espessura da translucência nucal, o traçado do duto venoso e o comprimento do osso nasal. A translucência nucal aumentada é o marcador de maior acuidade, quando associada à idade materna. O traçado da onda do fluxo do duto venoso, ao apresentar onda de contração atrial (onda A) nula ou reversa, melhora a capacidade preditiva dos defeitos cardíacos maiores. Mais recentemente a ausência ou a hipoplasia do osso nasal têm se revelado um excelente e promissor marcador. Descritores: Cromossomopatias, Marcadores Ultra-sonográficos, Malformações congênitas. ABSTRACT: Prenatal screening for chromosomal defects includes ultrasound markers at 11-14 weeks’ gestation. The most effective methods are nuchal translucency (NT) thickness, ductus venosus blood flow and nasal bone. The increase of nuchal translucency (NT) in combination with maternal age shows a higher accuracy. The ductus venosus blood flow with the absence or reverse of atrial contraction(A-wave) improves the predictive capacity for an underlying major congenital heart defects. More recently nasal bone absence or hipoplasia has been revealing an excellent and promising marker. Key words: Chromosomal abnormalities, Markers, Congenital malformation, Ultrasonography. INTRODUÇÃO Atualmente a Obstetrícia é considerada a mais completa das especialidades médicas como provam as possibilidades dos estudos detalhados da fisiologia e morfologia fetal, apanágio da Medicina Fetal. A ultrasonografia, como método propedêutico, tem lugar destacado nesta conquista. O aperfeiçoamento da tecnologia surge perene, com tecnologia de qualidade e inimaginável complexidade a nos possibilitar a aproximação dos diagnósticos até então discutíveis. A Medicina Fetal ancora-se na ultra-sonografia e aprofunda cada vez mais o estudo da fisiologia e morfologia fetal, facilitando o diagnóstico das malformações congênitas, síndromes cromossômicas e gênicas. O rastreamento ultra-sonográfico no primeiro trimestre da gestação, entre 11 e 14 semanas, através dos marcadores de aneuploidias, facilita a seleção de pacientes de alto risco. A mensuração da Translucência Nucal (TN), método iniciado nos idos dos anos 90, considerado por muitos pesquisadores, como o primeiro marcador ultra-sonográfico para rastreamento de cromossomopatias, tem valor prognóstico considerável na identificação de aproximadamente 75% dos casos quando associado à idade materna1. Outros métodos propedêuticos associados à medida da TN incluem as dosagens séricas da gonadotrofina coriônica e da proteína-A plasmática associada à gestação(PAPP-A). A fração livre aumentada da primeira e a diminuição dos níveis séricos da segunda , entre 11 e 14 semanas, aumentam a taxa de resultados positivos para 90% com falso-positivo de 5% 2. Montenegro et al.3 descreveram o duto venoso (DV) como marcador de aneuploidias através da dopplervelocimetria dos vasos responsáveis pelo retorno venoso cardíaco e relataram os sinais de insuficiência cardíaca em conceptos com TN aumentada e cariótipo anormal. Murta4 enfatiza a modificação do padrão de fluxo da onda de contração atrial, que se torna nula ou reversa, em caso de comprometimento cardíaco, possibilitando a identificação de conceptos com risco para anomalias cromossômicas e/ou falência miocárdica. O outro marcador ultra-sonográfico é a medida do osso nasal no período de 11-14 semanas de gestação, cuja ausência foi observada em 73% dos conceptos portadores de Trissomia do 21 e em menos de 1% dos conceptos normais 5. ¹ Médica Especialista em Ultra-sonografia – Hospital Universitário Unidade Materno Infantil. ² Médica e docente da UFMA. ³ Médico e docente da UFMA. 4 Doutora em Obstetrícia - EPM - UNFESP. Docente da UFMA. 49 Rios, L. T. M. TRANSLUCÊNCIA NUCAL A medida da TN deve ser feita no plano sagital, o mesmo utilizado para o comprimento cabeça-nádega (CCN), com a coluna do concepto em posição posterior. (Figuras 1 e 2). Figura 1. Concepto com acúmulo de líquido posterior ao pescoço (adaptado de Nicolaides et al., 1999). Figura 2. Imagem ultra-sonográfica de concepto em posição sagital, coluna posterior, mostrando TN (1,6 mm). Figura 3. Imagem ultra-sonográfica de TN de 2,5 em concepto portador de Trissomia 21. 50 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 50-54, jan - abr / maio - ago, 2003. DUTO VENOSO O duto venoso (DV) é um segmento venoso curto e estreito que leva sangue oxigenado com alto teor de O2 diretamente ao átrio direito e forame oval, privilegiando o cérebro do concepto. O duto venoso é avaliado através das técnicas transabdominal e/ou endovaginal. O equipamento deve dispor de Doppler colorido e o exame realizado com pouca ou nenhuma movimentação fetal e insonação em posição sagital. O traçado da onda de fluxo do duto venoso é caracterizado pelas ondas S (sístole ventricular), onda D (diástole ventricular) e onda A (contração atrial). A onda A deve ser sempre positiva (Figura 4). Sua anormalidade ocorre quando se torna nula ou reversa (Figura 5). Algumas vezes o traçado é contaminado com fluxo de vasos próximos como a veia cava inferior (VCI) e a veia hepática média (Figura 6). Figura 4. Traçado normal do duto venoso. Onda A positiva Figura 5. Traçado alterado do duto venoso. Onda A reversa S D A A Figura 6. Contaminação do traçado do duto venoso pelo traçado da VCI, dificultando análise da onda A 51 Rios, L. T. M. OSSO NASAL 7 e 8). O osso nasal deve ser avaliado em corte sagital com alinhamento do osso frontal, nariz e queixo (Figuras Figura 7. Mensuração do osso nasal (2,9 mm). Concepto com 11 semanas e 4 dias. Figura 8. Concepto de 13 semanas com TN de 0,9 mm e osso nasal de 2,9 mm. Pele Cartilagem Osso nasal O marcador ultra-sonográfico deve ser valorizado em caso da ausência do osso nasal ou hipoplasia( Figura 9). Figura 9. Ausência do osso nasal e TN de 8,2 mm em concepto portador de Trissomia 21 TN CONCLUSÃO Os marcadores ultra-sonográficos de cromossomopatias no primeiro trimestre da gestação avaliados entre 11 e 14 semanas vem modificando condutas obstétricas ao longo dos anos. À medida da Translucência Nucal somada à verificação do duto 52 venoso e do osso nasal, abrem um largo leque de possibilidades para desenvolvimento de pesquisa no que tange á melhoria da qualidade de vida das futuras gerações. Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 50-54, jan - abr / maio - ago, 2003. REFERÊNCIAS 1. Nicolaides K H, Sebire, N J, Snijders R J M. The 11-14 week scan: the diagnosis of fetal abnormalities, Carnforth, UK. The Parthenon Publishing Group Inc; 1999. 194p. 2.Bindra R, Heath V, Liao A, Spencer K, Nicolaides K. One stop clinic for assessment of risk for trisomy 21 at 1114 weeks: a prospective study of 15030 pregnancies. Ultrasound Obstet Gynecol 2002; 20: 219-225. 3. Montenegro N, Matias A, Areias J C, Castelo S, Barros H. Increased fetal nuchal translucency:possible involvement of early cardiac failure. Ultrasound Obstet Gynecol 1997; 10: 265-8. 4. Murta,C G V. Doppler do duto venoso na detecção da síndrome de Down: ênfase na detecção da Síndrome de Down. Vitória: Espírito Santo; 2002. p. 85-111. 5. Cicero S, Curcio P, Papageorghiou A, Sonek KJ, Nicolaides K. Absence of nasal bone. In: fetuses with trisomy 21 at 11-14 weeks of gestation: an observational study. The Lancet 2001, 358:1666-67. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Av. do Vale, L. 10, Q. 35, Ed. Costa Rica, Apto. 801 – Jardim Renascença, CEP 65075-820. São Luís/MA. E-mail: [email protected] 53 Revista do Hospital Universitário/UFMA Artigo Perfil fitoquímico e cromatográfico de sementes de Luffa operculata (L.) Cogn. Coletadas em diferentes regiões do Estado do Maranhão* Phytochemical and cromatographic profile of Luffa operculata (L.) Cogn seeds collected in different regions of the state of the Maranhão. Elizabeth Regina de Castro Borba1 , Crisálida Machado Vilanova1, Terezinha de Jesus Almeida Silva Rêgo2, José de Ribamar Santos Gonçalves 2, Antonio Benedito de Oliveira2 RESUMO: Luffa operculata (L.) Cogn., da família Cucurbitaceae, é vulgarmente conhecida como cabacinha e paulista. Os seus frutos, desprovidos das sementes, constituem a única parte do vegetal usada no tratamento de sinusite pela população. Este fato motivou a escolha das sementes para a realização deste estudo, com o intuito de acrescentar informações confiáveis no que diz respeito ao uso desta espécie, determinando-se um melhor conhecimento dos perfis fitoquímico e cromatográfico de amostras de sementes coletadas em diferentes localidades do Estado do Maranhão. Preparou-se uma série extrativa com amostras obtidas nos municípios de Buriti Bravo, Colinas, Coelho Neto, Cajari e Itapecuru-Mirim, utilizando os solventes hexano, acetato de etila e metanol. Selecionou-se a maceração como processo extrativo, aplicando-se testes fitoquímicos e cromatografia em camada delgada como métodos de identificação e separação. Os resultados demonstraram a presença apenas de substâncias das classes de resinas e triterpenos em todas as amostras. Observaram-se no perfil cromatográfico, duas possíveis frações triterpênicas de Rf 0.84 e Rf 0.75, comuns a todas as amostras. Houve uma variação qualitativa e quantitativa significativa dos metabólitos secundários nas amostras de sementes coletadas em diferentes localidades do Maranhão. O estudo permitiu ainda a justificativa da exclusão das sementes durante o emprego tradicional da Luffa operculata (L.) Cogniaux na medicina popular. Descritores: Luffa operculata (L.) Cogniaux; perfil fitoquímico; perfil cromatográfico. ABSTRACT: Luffa operculata (L.) Cogn., of the Cucurbitaceae family, it is vulgarly of known as cabacinha and paulista. Its fruits, unprovided from seeds, constitute the unique part used the vegetable in the treatment of sinusitis by population. This fact motivated the choice of the seeds for the accomplishment of this study, with the purpose of add trustworthy information what concenis to the use of this species, determining a better knowledge of phytochemical and chromatographic profiles of seeds collected in different localities of the State of Maranhão. It was prepared a extracts series with samples collected in the municipalites of Buriti Bravo, Colinas, Coelho Neto, Cajari and Itapecuru-Mirim, using hexane, acetate of etila and methanol solvents. It was selected maceration as extractives process, applying phytochemical tests and thin layer chromatography as methods of identification and separation. The results had demonstrated to the substance presence only of the clases of resins and triterpenes in all samples. It was observed in the chromatographic profile, two possible triterpenes fractions with Rf 0,84 and 0,75. There were significant a qualitative and quantitative range of the secondary metabolites in the samples of seeds collected in different localities of the Maranhão. The study allowed exclusion of the seeds during the traditional use of the Luffa operculata (L.) Cogniaux in popular medicine. Key-words: Luffa operculata (L.) Cogniaux; phytochemical profile; chromatographic profile. INTRODUÇÃO A família Cucurbitaceae inclui aproximadamente 119 gêneros, com 775 espécies. No Brasil, a família possui 30 gêneros, com cerca de 200 espécies, dentre as quais destaca-se por sua importância farmacológica Luffa operculata (L.) Cogniaux1. Luffa operculata (L.) Cogniaux é uma planta trepadeira caracterizada por caule herbáceo e fino, guarnecido por gavinhas, ramos, folhas, pêlos e flores. É vulgarmente conhecida pelos nomes de cabacinha, paulista, buchinha, purga-dos-frades-da-companhia, purga-de-joão-paes, dentre outros2. Trata-se de um * Trabalho realizado no Departamento de Farmácia da Universidade Federal do Maranhão – UFMA ¹ Mestra em Saúde e Ambiente – UFMA ² Docente da UFMA. Departamento de Farmácia. 54 Borba, E. R. C. vegetal de clima tropical com preferência por solos argilo-arenosos, férteis e com baixa acidez, predominando no Estado do Maranhão na região do cerrado3. O fruto maduro desta espécie é utilizado na preparação de medicamentos fitoterápicos principalmente no tratamento de sinusites. Tendo sido relatada uma melhora do quadro clínico em 81% dos pacientes com sinusite aguda submetidos a tratamento com preparações homeopáticas3,4. Estudos a partir de extratos brutos das sementes em acetato de etila e hexano, demonstraram o bloqueio da evolução externa de ancilostomídeos, apresentando nítida ação larvicida sobre larvas rabditóides (L-1)2 . Investigações feitas com óleos extraídos de sementes de plantas da família Cucurbitaceae registraram um maior percentual total de ácidos graxos saturados (34, 2%) no óleo de sementes de cabacinha quando comparadas com os óleos de sementes das demais espécies5. A observação do grande uso pela população apenas dos frutos da Luffa operculata (L.) Cogn., motivou o estudo fitoquímico e cromatográfico comparativo das sementes desta espécie, obtidas em diferentes localidades do Maranhão, a fim de se acrescentar informações confiáveis em relação ao uso popular deste vegetal. MÉTODOS O estudo da espécie Luffa operculata (L.) Cogn. deu-se com amostras coletadas nos municípios de: Cajari, Itapecuru-Mirim, Colinas, Coelho Neto e Buriti Bravo. Os espécimens vegetais foram coletados no período de 11 a 15 de dezembro de 2001, obedecendose às normas preconizadas pelas fontes consultadas6,7. Uma excicata de cada amostra vegetal foi enviada ao Herbário João Murça Pires do Museu Paraense Emílio Goeldi – Belém, Pará, que as identificou como Luffa operculata (L.) Cogn. Foram conduzidas também excicatas de cada exemplar ao Herbário Ático Seabra, da Faculdade de Farmácia, da UFMA, onde foi confirmada a espécie e catalogada sob o no 1130. As amostras dos frutos coletadas foram levadas ao Laboratório de Fitofármacos, do Departamento de Farmácia, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), para seleção, limpeza, secagem, acondicionamento e preparo dos extratos. As sementes após serem retiradas dos frutos, foram submetidas a secagem em estufa com circulação de ar com temperatura regulada em 500C, trituradas em moinho e acondicionadas em sacos plásticos impermeáveis e identificadas de acordo com o local de origem. Pesaram-se 60g de sementes pulverizadas correspondentes a cada município, submetendo-as à maceração, na proporção de 1:2, com hexano, acetato de etila e metanol em ordem crescente de polaridade. Os extratos em hexano, acetato de etila e metanol, referentes a cada amostra coletada, foram submetidos ao testes fitoquímicos, conforme literatura especializada8, e ao estudo cromatográfico. No estudo cromatográfico utilizou-se o procedimento ascendente unidimensional em placas pré-aquecidas de pronto uso de sílica gel 60 F254 (10 x 20 cm, MERCK), segundo metodologia proposta pela literatura9,10,11. Pesaram-se 20 mg de cada resíduo seco dos extratos e diluiu-se em 2 mL dos respectivos solventes. As aplicações das amostras foram padronizadas em um spot de 5 µL a uma distância de 3 cm da borda inferior da placa cromatográfica. Em seguida, as placas foram eluídas com hexano : acetato de etila (3.5:6.5, v/v), removidas após duas horas, secas a temperatura ambiente e reveladas pela solução aquosa de ácido sulfúrico a 50%. A ausência dos metabólitos secundários e o grau de intensidade desses constituintes quando presentes, analisados conforme a ocorrência de precipitado, mudança de coloração e formação de espuma, foram expressos da seguinte maneira: (3) reação fortemente positiva, (2) reação moderadamente positiva, (1) reação fracamente positiva, (-) traço, (0) reação negativa e (f) teste não realizado. RESULTADOS As amostras das sementes da espécie Luffa operculata (L.) Cogn., coletadas em diferentes localidades do Estado do Maranhão, foram submetidas à investigação fitoquímica e cromatográfica dos seus metabólitos secundários, obtendo-se variações em alguns deles. Nos testes de identificação de resinas as amostras correspondentes aos municípios de Coelho Neto e Colinas apresentaram resultados moderadamente positivos, visualizando-se resultados fracos nas amostras de Buriti Bravo e apenas vestígios nas amostras de Itapecuru-Mirim e Cajari (Tabela 01). As classes de fenóis, taninos, alcalóides, cumarinas, flavonóides e saponinas não foram detectadas nas amostras analisadas. O mesmo ocorrendo em relação as substâncias da classe esteroidal (Tabelas 01 e 02). As substâncias triterpênicas apresentaram-se 55 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 55-59, jan - abr / maio - ago, 2003. fortemente positivas apenas para as amostras dos municípios de Cajari, Coelho Neto, Buriti Bravo e Colinas, no extrato hexânico, e moderadamente positivas no extrato em acetato de etila. A amostra de Itapecuru-Mirim apresentou-se fracamente positiva nos extratos hexânico e acetato de etila. Foram observados apenas traços destes metabólitos em todas as amostras em extrato metanólico (Tabela 02). Pelo estudo cromatográfico das amostras em extrato hexânico e acetato de etila, visualizaram-se duas manchas comuns a todas as amostras de Rf 0.84 e 0.75. Nas amostras de Itapecuru-Mirim, Cajari e Colinas detectou-se ainda uma fração de Rf 0.36 e nas de Coelho Neto e Buriti Bravo outras de Rf 0.19 e Rf 0.21, respectivamente. As amostras em extrato metanólico apresentaram ainda duas manchas com Rfs 0.09 e 0.12 (Figura 01) Tabela 1. Testes de identificação de resinas e saponinas na série extrativa das sementes de Luffa operculata (L.) Cogn. coletadas em regiões distintas do Estado do Maranhão. Extratos A cetato de etila H exano M unicípios R es ina S ap on in a R es ina M etanol S ap on in a R es ina S ap on in a 0 Itap ec uru -M irim φ φ φ 0 - C aja ri φ φ φ 0 - 0 C oe lho N eto φ φ φ 0 2 0 B uriti B ra vo φ φ φ 0 1 0 C olina s φ φ φ 0 2 0 φ 0 1 2 = teste não realizado = reação negativa = traço = reação fracamente positiva = reação moderadamente positiva Tabela 2. Testes de identificação de esteróides e triterpenos na série extrativa das sementes de Luffa operculata (L.) Cogn. coletadas em regiões distintas do Estado do Maranhão. M etanol E ste ró ide s Triterpe no s E ste ró ide s Triterpe no s E ste ró ide s Triterpe no s Itap ec uru -M irim 0 1 0 1 0 - C aja ri 0 3 0 2 0 - C oe lho N eto 0 3 0 2 0 - B uriti B ra vo 0 3 0 2 0 - C olina s 0 3 0 2 0 - 0 1 2 3 56 Extratos A cetato de etila H exano M unicípios = reação negativa = traço = reação fracamente positiva = reação moderadamente positiva = reação fortemente positiva Borba, E. R. C. FIGURA 01. Cromatografia em camada delgada para substâncias terpênicas realizada na série extrativa das sementes de amostras de Luffa operculata (L.) Cogn. coletadas em regiões distintas do Estado do Maranhão. H E XAN O ACE T AT O D E E T I L A 5 6 R f5 0 , 8 4 4 R f6 0 , 8 4 R f4 0 ,7 5 3 2 1 IT M E T AN OL CJ CN R f3 0 , 3 6 CO R f2 0 , 1 2 R f1 0 , 0 9 2 R f2 0 , 2 1 R f1 0 , 1 9 BB 5 4 3 IT CJ CN BB CO IT R f5 0 , 3 6 R f4 0 , 2 1 R f3 0 , 1 9 CJ CN BB CO Eluente: hexano:acetato de etila (3.5:6.5, v/v) Revelador: ácido sulfúrico 50% Placa pré-aquecida de pronto uso, sílica gel 60 F254 , 10 x 20 (MERCK) Distância percorrida:15,3 cm Tempo de separação: 1 hora DISCUSSÃO Luffa operculata (L.) Cogniaux (Cucurbitaceae) é uma planta trepadeira de clima tropical, predominando no Estado do Maranhão na região do cerrado. Apresenta diversos nomes populares, sendo no Maranhão mais conhecida como paulista e cabacinha. A parte do vegetal mais utilizada são os frutos, principalmente no tratamento de sinusites, onde a população tem o cuidado de retirar as sementes antes de fazer uso do fruto3. Diante desta peculiaridade no uso popular da Luffa operculata (L.) Cogn., considerou-se importante avaliar o perfil fitoquímico e cromatográfico das suas sementes, no sentido de contribuir para o maior conhecimento a cerca do uso desta espécie. O estudo foi realizado de modo comparativo com amostras obtidas em diferentes localidades do Maranhão, a fim de se observar também possíveis alterações no teor dos metabólitos secundários nas sementes em função da variabilidade do local de coleta. Foram selecionados os municípios de Cajari, pertencente à Microrregião da Baixada Maranhense (caracterizada por uma vegetação de campos e gramíneas), Itapecuru-Mirim, pertencente à Microrregião de Itapecuru-Mirim (área de vegetação de cocais), e Colinas, Coelho Neto e Buriti Bravo (região de cerrado maranhense com maior ocorrência da espécie)12. Os frutos foram coletados no mês de dezembro de 2001, conforme às normas estabelecidas na literatura especializada6,7, sendo as sementes retiradas dos frutos manualmente e submetidas a maceração, empregando-se técnica de polaridade crescente de solventes. Na seqüência, realizou-se o perfil fitoquímico nos extratos em hexano, acetato de etila e metanol das amostras de sementes obtidas em diferentes localidades do Estado do Maranhão, com base nos testes descritos nas fontes pesquisadas8. As substâncias triterpênicas apresentaram-se fortemente positivas para as amostras dos municípios de Cajari, Coelho Neto, Buriti Bravo e Colinas, com exceção apenas da amostra de Itapecuru-Mirim, no extrato hexânico. No extrato de acetato de etila, com exceção da amostra proveniente do município de Itapecuru-Mirim que manteve a mesma intensidade, as demais continuaram proporcionais só que em intensidade moderada, enquanto que no extrato metanólico foram observados apenas traços destes metabólitos em todas as amostras (Tabela 02). Considerou-se a classe de substâncias esteroidais como não detectada durante a pesquisa, devido a dificuldade da visualização dessas substâncias 57 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 55-59, jan - abr / maio - ago, 2003. em razão da predominância das substâncias triterpênicas. Nos testes de identificação de resinas, realizados somente nos extratos metanólicos, em função da polaridade do solvente e do metabólico secundário investigado, detectou-se a presença desta classe apenas em algumas das amostras. Os espécimens correspondentes aos municípios de Coelho Neto e Colinas apresentaram resultados moderadamente positivos, visualizando-se resultados fracos nas amostras de Buriti Bravo e apenas vestígios nas amostras dos municípios de Itapecuru-Mirim e Cajari (Tabela 01). As classes de fenóis, taninos, alcalóides, cumarinas, flavonóides, esteróides e saponinas não foram detectadas nas amostras analisadas. Em função destes resultados, decidiu-se realizar o estudo cromatográfico em camada delgada das substâncias terpênicas, usando-se como eluente hexano : acetato de etila (3.5:6.5, v/v) e como revelador ácido sulfúrico 50% aquoso, por meio de metodologia proposta pela literatura especializada9,10,11. Este estudo mostrou um perfil composto por possíveis frações triterpênicas de coloração parda, no extrato hexânico, sendo detectadas duas manchas comuns a todas as amostras, de Rf 0.84 e 0.75. Nas amostras correspondentes aos municípios de ItapecuruMirim, Cajari e Colinas, detectou-se uma fração com Rf 0.36 e ainda outras duas diferentes, sendo a primeira na amostra do município de Coelho Neto com Rf 0.19 e a segunda na amostra de Buriti Bravo com Rf 0.21. Comportamento semelhante apresentou o cromatograma das amostras em extratos de acetato de etila, porém com intensidade inferior, obtendo-se também, em extrato metanólico, resultados semelhantes, porém em baixa intensidade, diferenciando-se apenas por possibilitar a visualização de duas manchas em posição mais próxima à origem com Rfs 0.09 e 0.12 (Figura 01). Estudos fitoquímicos e cromatográficos com sementes de Luffa operculata (L.) Cogn. não foram localizados durante o levantamento bibliográfico, o que impossibilitou a comparação com outras pesquisas a fim de se conhecer melhor o perfil fitoquímico desta parte do vegetal. No entanto, os resultados obtidos demonstraram a influência que os metabólitos secundários das sementes de Luffa operculata (L.) Cogn. sofreram em função da alteração do local de coleta. E considerando-se as características ambientais distintas das regiões onde as amostras foram coletas, percebe-se que as variações ocorridas podem ter sido influenciadas principalmente pelo tipo de solo e clima. Além disso, devido a não detecção das saponinas, justifica-se a exclusão das sementes durante o emprego tradicional da Luffa operculata (L.) Cogniaux na medicina popular, pois alguns estudos13, consideram tal classe de substância como a responsável pelas atividades terapêuticas deste vegetal. REFERÊNCIAS 1. Di Stasi, LCl; Hiruma-Lima, CA. Plantas medicinais na Amazônia e na Mata Atlântica. 2.ed. rev. ampl. São Paulo - Ed. UNESP, 2002. 7. Simões CM, Schenkel EP, Gosman G et. al. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 2. ed. rev. Porto Alegre: EDUFRS; 2000. 2. Vasques, VCA. Revisão farmacognóstica da cabacinha (Luffa operculata Cogn.). A Folha Médica. 1986; 93(3):185-187. 8. Matos FJ de A. Introdução à fitoquímica experimental. Fortaleza: EUFC; 1997. 3. Rego, TJAS. Fitogeografia das plantas medicinais no Maranhão. 2. ed. São Luís: EDUFMA; 1995. 4. Wiesenauer M. Efficiency of homeopathica preparation combinations in sinusites: results of a randomized double blind study with general practitioners. Arzneimittelforschung, 1989; 39(5):620-625. 5. Costa AFT. Caracterização dos olhos de sementes de Luffa operculata, Luffa cilíndrica, Lasenária vulgaris e Cucúrbita pepo e sua ação tóxica e bacteriológica [Dissertação]. João Pessoa (PB): Universidade Federal da Paraíba. 2001. 6. Oliveira F, Akisue G, Akisue MK. Farmacognosia. Rio de Janeiro: Atheneu; 1996. 58 9. Collins CH, Braga GL, Bonato BS et. al. Introdução a métodos cromatográficos. 5.ed. São Paulo: UNICAMP; 1993. 10. Ikan R. Natural Products: a laboratory guide. 2. ed. New York: Academic Press; 1991. 11. Harborne JB. Phytochemical methods. 3.ed. New York: Chapman and Hall; 1998. 12. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Zoneamento geoambiental do Estado do Maranhão: diretrizes gerais para a ordenação territorial. Salvador; 1997. 13. Pagotto CLAC, Kaplan MAC, Gottlieb OR. Curcubitacinas: fármacos ou toxinas?. Rev. Bras. Farm. 1996; 77(2):113-124. Revista do Hospital Universitário/UFMA Artigo PRÉ-NATAL: conhecimento e reflexão sobre a consulta de enfermagem como um espaço para a educação em saúde. PRENATAL: knowledge and reflection about nursing consulation as a space for health education. Claudia Teresa Frias Rios¹, Neiva Franceleny Cunha Vieira² RESUMO: Na busca de novos caminhos que melhor refletissem sobre a consulta de enfermagem, como um espaço para a educação em saúde no pré-natal, realizamos um estudo reflexivo através de uma avaliação qualitativa, onde a participação dos sujeitos envolvidos foi um fator preponderante. Para a coleta de dados realizamos entrevista com as cinco enfermeiras que atuam no ambulatório do Hospital Universitário, local escolhido para a pesquisa. Frente aos resultados encontrados, a ação educativa realizada pela enfermeira durante a consulta do pré-natal caracteriza-se como uma ação rotineira, pouco participativa, com predominância informativa apesar da existência do objetivo e bom propósito de educar, onde questões relacionadas ao modelo assistencial, estrutural e organizacional da Instituição emergiram como obstáculos para a realização da educação em saúde, como tendência libertadora, crítico-social e transformadora. O estudo aponta para a reorientação do serviço de enfermagem na atenção à gestante do Hospital Universitário; a criação de um ambiente físico adequado para o atendimento da consulta de enfermagem e a participação da gestante em grupos. Descritores: Consulta de Enfermagem; Pré-natal; Educação em Saúde. ABSTRACT: In the search for new ways that best reflect about the nursing consulation as a space for health education in the prenatal, we realized a reflexive study through a qualitative evaluation where the participation of the involved subjects was an important factor. For data collection an interview with to five nurses that act at the clinic of the University Hospital, chosen place for the research. Towards consultation the results educational action accomplished by the nurse during prenatal is characterized as an action routine, little share, with informative predominance in spite of the existence of the objective and good purpose of educating, where subjects related to the assistance, structural and organizational model of the Institution emerged as obstacles for the accomplishment of the health frety, critical-social and transforming tendency. Those generating ideas appear for the reorientation of the nursing service in the attention to the pregnant woman in University Hospital; the creation of an appropriate physical atmosphere for the nursing consultation and the pregnant women participation in groups. Keywords: Nursing consultation; Prenatal; Health Education. INTRODUÇÃO A realização de ações educativas no decorrer de todas as etapas do ciclo grávido-puerperal é muito importante, mas é no pré-natal que a mulher deve ser melhor orientada para que possa viver o parto de forma positiva, ter menos riscos de complicações no puerpério e mais sucesso na amamentação. Considerando a gestação e o nascimento como momentos únicos para cada mulher e uma experiência especial no universo feminino, os profissionais de saúde devem assumir a postura de educadores que compartilham saberes, buscando devolver à mulher sua autoconfiança para viver a gestação, o parto e o puerpério. O período pré-natal é uma época de preparação física e psicológica para o parto e para a maternidade e, como tal, é um momento de intenso aprendizado e uma oportunidade para os profissionais da equipe de saúde desenvolverem a educação como dimensão do processo de cuidar1. Vários trabalhos sobre a importância do prénatal ou, especificamente, sobre as ações educativas no pré-natal, mostram em seus resultados que mesmo tendo realizado as consultas, as gestantes demonstram insatisfação com relação às orientações sobre parto, puerpério e cuidados com os recémnascidos2 3 4. Aparentemente, está havendo uma falha nas ações educativas durante o pré-natal, pois parece ¹ Enfermeira, Mestra, docente da UFMA. ² Enfermeira, doutora, docente da UFC. 59 Rios, C. T. F. paradoxal que a mulher, ao passar por uma gestação sem complicação e freqüentando o pré-natal, chegue ao último mês, demonstrando falta de conhecimento com relação às alterações advindas da gravidez e sobre os sinais do parto, culminando com o despreparo para vivenciar o nascimento5. Diante do exposto, este estudo tem por objetivos identificar o conhecimento da(o) enfermeira(o) sobre educação em saúde no pré-natal e fazer uma reflexão sobre esta ação durante a consulta de enfermagem no pré-natal, entendendo que a ação educativa deva envolver o processo de ensinoaprendizagem como fortalecimento das gestantes no cuidado da sua saúde. REFERENCIAL TEÓRICO De acordo com a Lei do Exercício Profissional da Enfermagem – Decreto n.º 94.406/87 e o Ministério da Saúde, o pré-natal de baixo risco pode ser inteiramente acompanhado pela enfermeira. Como descrito na Lei n.º 7.498 de 25 de julho de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício de Enfermagem, cabe à enfermeira: Realizar consulta de enfermagem e prescrição da assistência de enfermagem, como integrante da equipe de saúde: prescrever medicamentos, desde que estabelecidos em Programas de Saúde Pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde; oferecer assistência de enfermagem à gestante, parturiente e puérpera e realizar atividades de educação em saúde3. Para Penna 6 a(o) enfermeira(o) deve desenvolver suas atividades baseadas em práticas educativas, que não exclua o modelo tradicional (modelo biomédico), mas o supere, associando a ele práticas assistenciais/educativas que valorizem realmente o saber popular, as reais necessidades da cliente, a fim de que sejam assistidas de forma integral, valorizando seu corpo e não somente examinando-o, relativizando assim o poder do profissional através do saber. Dilly e Jesus7 ressaltam que a enfermeira através da educação em saúde deve fazer com que as pessoas considerem a saúde como um valor, deve incentivar a utilização dos serviços de saúde e estimular as pessoas a conseguirem saúde através de seus próprios esforços e ações. A análise de educação em saúde no pré-natal aponta para a importância de se considerar às ambigüidades, valores e crenças presentes na vida das gestantes, proporcionando troca de experiências enriquecedoras para o bem-estar das mesmas. Nesta relação a comunicação e o diálogo são “armas macias” do cuidar libertador. O processo educativo nesse espaço do prénatal deve seguir as orientações de Freire8, ou seja, deve propiciar o fortalecimento pessoal dos seres humanos com quem interagem. O importante é ajudar o ser humano a ajudar-se. A prática educativa deve, portanto, oportunizar estratégias que desvelem as forças sociais que emperram a construção de uma nova ordem social sem oprimidos e opressores e que promovam vida e saúde9. MÉTODOS A escolha de um tema de pesquisa não emerge espontaneamente, da mesma forma que o conhecimento não é espontâneo, ela surge de interesses e circunstâncias fruto de determinada inserção no real e nele encontrando suas razões e seus objetivos. Com relação à metodologia não é diferente, ela vai sendo delineada a partir da construção do objeto e dos objetivos da pesquisa. A opção pela metodologia da pesquisa depende da natureza do problema que preocupa o investigador, ou do objeto que se deseja conhecer ou estudar10 11 12. Portanto este é um estudo definido como qualitativo descritivo. Os sujeitos da pesquisa foram cinco enfermeiras que trabalham no ambulatório de um hospital universitário da cidade de São Luís-MA, ou seja, 100% das profissionais que realizam a consulta de enfermagem no pré-natal. A coleta de dados ocorreu nos meses de maio 60 e junho de 2002. Para alcançarmos nossos objetivos, optamos como instrumento para esta coleta a entrevista semi-estruturada as quais foram gravadas. Após esclarecimento sobre a pesquisa e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelos sujeitos deste estudo, conforme previsto na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, foi garantido a eles o anonimato e atribuído nomes fictícios. Para a análise dos dados, primeiramente levamos em consideração palavras ou frases utilizadas repetidamente, respostas dadas em função do conhecimento e experiências pessoais, idéias principais do grupo e concordâncias entre opiniões para posterior classificação, categorização, análise e discussão a luz da fundamentação teórica12. Os dados foram organizados em categorias, as quais serão apresentadas a seguir. Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 60-65, jan - abr / maio - ago, 2003. RESULTADOS: análise e discussão Neste capítulo apresentaremos os resultados conforme tratamento especificado na metodologia. Categoria n.1 – Conhecimento sobre educação em saúde no pré-natal Ao examinarmos a percepção das enfermeiras sobre a educação em saúde, como componente da consulta de enfermagem no pré-natal, três subcategorias emergiram Conhecimento, Aprendizagem e Prevenção. Somente uma enfermeira referiu a processos mais interativos ressaltando a Interação e o Diálogo. As falas a seguir exemplificam o exposto: Conhecimento Educar a mulher para que a partir de suas condições e conhecimentos básicos, ela tenha saúde (Maria da Concepção). São formas de transmissão de conhecimento com o objetivo de despertar na mulher medidas que preservem sua saúde e minimizem suas angústias em relação à gestação (Ana Nery). Aprendizado São meios utilizados para facilitar o aprendizado da gestante sobre como cuidar da sua saúde e a do seu filho (Naticidade). Prevenção São ações de grande importância para a saúde do binômio mãe e filho, pois previnem os agravos. Educar é uma das atividades da enfermeira com o objetivo de concretizar a promoção à saúde desse binômio (Maria do Bom Parto). Interação e o diálogo É qualquer tipo de ação que vise uma interação, um diálogo para o aprendizado da gestante (Paula Freire). Todas estas categorias são requisitos necessários, para o desenvolvimento de práticas educativas, constituindo um conjunto o ato de ajudar outra pessoa a aprender, a autocuidar-se por meio da aquisição de conhecimentos, atitudes ou habilidades tornando-se uma pessoa pró-ativa no processo. A Organização Mundial da Saúde destaca a importância da função educativa da(o) enfermeira(o) na área materno-infantil e considera que a identificação das necessidades de aprendizado, o planejamento, desenvolvimento e avaliação dos programas educativos como essenciais neste tipo de atenção13. Desta forma, as atividades educativas, como função do enfermeiro, constituem responsabilidade social e profissional de suma importância. Para Costa e Fuscella14, em uma perspectiva mais ampla, pode-se concluir que a Educação e a Saúde devem ser entendidas como áreas do conhecimento humano, que devem se integrar, para reforçar o exercício da cidadania “pois a socialização do saber é indispensável para a luta pelo direito social à saúde e por melhores condições de vida”. Vale ressaltar que para a atividade educativa em saúde vir a alcançar o objetivo desejado, ou seja, a mudança de comportamento, o aprendizado requer o envolvimento ativo dos atores sociais envolvidos, educando e educador, de forma que possibilite trocas, diálogos e escolhas significativas no contexto do educando. A partir do momento em que palavras como diálogo, participação, trabalho em equipe..., forem usadas com os seus reais significados pelas pessoas e profissionais na sua vivência diária, a ação educativa vai alcançar de forma mais fácil o seu objetivo que é a transformação da sociedade na busca de um mundo mais justo, solidário e humano 14. Categoria n.2 – A consulta de enfermagem no pré-natal como espaço para a educação em saúde De acordo com os depoimentos as enfermeiras do HU reconhecem a importância das ações educativas no momento da consulta, porém percebem a diferença entre passar informações e a educação em saúde. Eu acho importante que se aproveite o momento da consulta para orientar as mães. Aqui nós passamos as informações necessárias para a cliente de acordo com o seu trimestre gestacional, mas na maioria das vezes não sabemos se a gestante ficou com dúvidas, o que prejudica o processo ensino – aprendizagem porque ela só escuta sem participar, o que seria o tipo de uma educação bancária (Ana Nery). O fato de não saber quantas gestantes de primeira vez tem no dia para serem atendidas, dificulta o serviço, se eu soubesse eu dividiria melhor o meu tempo. Às vezes eu estimulo o diálogo com as primeiras e quando eu vejo mais prontuários chegando eu começo a falar mais rápido, mas eu sei que o ideal é a troca e não adianta tanta informação de uma só vez, ou seja, apesar de saber, por falta de tempo eu acabo não fazendo (Natividade). Bem, nós só conseguimos mesmo durante a consulta é passar informações, raramente nós conseguimos fazer a educação em saúde como deveria ser feita (Maria da Concepção). Eu, por exemplo, com medo da cliente não voltar para outra consulta, que a gente sabe que acontece, quero logo é ir falando para ela tudo que acho importante, quer dizer, pensado em fazer o ‘bem’ estou longe de fazer uma educação em saúde (Paula 61 Rios, C. T. F. Freire). Categoria n.3 – Dificuldades para a realização da educação em saúde Ao analisarmos esta categoria, observamos como principais dificuldades apontadas pelas enfermeiras para a realização da educação em saúde no pré-natal, a falta de participação dos médicos no processo de educação em saúde; a inadequação do espaço físico da consulta de enfermagem e o excesso de burocracia que diminui o tempo de atendimento. Falta de participação dos médicos no processo de educação em saúde Acho que não só enfermeiras, mas também os médicos, deviam participar de cursos que não visualizassem somente a questão assistencialista, mas de estratégias de promoção à saúde, ou melhor, educação em saúde (Maria do Bom Parto). É notório que os médicos não assumem esse papel de educador apesar da ação educativa ser importante para a promoção da saúde. Às vezes os médicos nem falam para as gestantes, por exemplo, que devem tomar a vacina contra o tétano, para que, e quando tomar, fazendo parecer que isso só cabe à enfermeira (Paula Freire). Cruz15 afirma que a orientação oportuna e clara é decisiva para a compreensão da gestante e para que o aprendizado se realize. Durante a sua pesquisa a autora observou o cartão de 64 gestantes e em 87,5% destes constavam as três doses da vacina antitetânica, porém ao solicitar que as gestantes falassem a respeito da vacina, poucas referiram algum conhecimento exceto às que haviam passado mais vezes com a enfermeira, como demonstra a fala de uma das suas entrevistadas: “‘Prá proteger contra o tétano quando cortam o umbigo do neném. A enfermeira diz isso todas as vezes que manda a gente tomar a vacina”. A assistência pré-natal constitui um conjunto de procedimentos clínicos e educativos com o objetivo de promover a saúde e identificar precocemente problemas que possam resultar em risco para a saúde da gestante e do concepto16. Portanto, não cabe apenas a(o) enfermeira(o) desenvolver a ação educativa durante o pré-natal já que esta atividade faz parte da assistência voltada para esse período, como também ressaltam outros autores, como exemplo: O conceito da assistência integral compreende que todo e qualquer serviço prestado à gestante deve ser realizado em benefício da promoção da saúde e estar contido em todas as ações dessa natureza, como por exemplo, a ação educativa. Contudo, para que essa atenção seja integral é preciso nova postura de trabalho em equipe e que todos os profissionais percebam que a clientela vem buscar nas unidades hospitalares não só consultas, remédios e exames, mas orientação, informação e apoio17. 62 O eixo norteador das ações programáticas do Programa de Assistência Integral a Saúde da Mulher (PAISM), que elege o pré-natal como um lugar adequado para o desenvolvimento de um trabalho educativo, precisa ser permeado pela importância que o profissional de saúde engajado possui nesse processo, pelo seu compromisso com o programa, com o projeto de socialização de conhecimento e de “libertação” do ser humano e com a “relação de troca” que deve se estabelecer no processo ensino-aprendizagem. Na assistência pré-natal, as mulheres se deparam com um atendimento onde a consulta médica é prática hegemônica e é basicamente voltada para as queixas, condutas e realização de exames. Não existe tempo nem espaço para a fala e/ou questionamento das mulheres, uma visão apenas biológica e fragmentada17 . Inadequação do espaço físico da consulta de enfermagem Importante ressaltar que a consulta de enfermagem vem sendo realizada nesta unidade em uma sala comum por duas enfermeiras que atendem no pré-natal, gerando algumas dificuldades para o processo de trabalho da enfermeira, tais como: o ruído da comunicação, pelas falas das enfermeiras simultaneamente; interrupções, ora pela auxiliar que traz os prontuários, ora por gestante querendo ser atendida “só para tomar a vacina”, além da entrada de outros profissionais com problemas administrativos para que uma das enfermeiras, que também responde pela chefia do ambulatório, fosse resolvê-los; ausência de privacidade das gestantes e descontinuidade do ritmo da consulta. Aqui os médicos não costumam informar para as gestantes como elas devem fazer para consultar com a enfermagem e para tomarem a vacina, apenas dizem para procurar a enfermeira, aí elas entram de qualquer jeito na nossa sala para quererem tomar a vacina, e quando nós as esclarecemos elas ficam com vergonha de terem interrompido o nosso atendimento (Paula Freire). O espaço físico é inadequado para que se desenvolva alguma técnica de ensino. Às vezes quando a colega não está atendendo eu coloco duas ou três gestantes que estão no mesmo trimestre de gestação e dou as orientações de uma só vez para aproveitar o tempo, mas também por causa das constantes interrupções não dá para elas se sentirem à vontade e interagirem além de dificultar o andamento da ação (Maria da Concepção). Segundo o Ministério da Saúde18, entre as demais condições básicas para a organização da assistência pré-natal, faz-se necessário uma área física adequada e a privacidade como um fator essencial nas consultas e exames clínicos ou ginecológicos. O que evidenciamos neste estudo não corresponde as normalizações oficiais. Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 60-65, jan - abr / maio - ago, 2003. A inadequação do espaço físico, principalmente, no que se refere à não garantia da privacidade da gestante, também foi evidenciada por Oba17 em sua pesquisa realizada em duas unidades de saúde que prestam atendimento de pré-natal no município de Ribeirão Preto-SP. Para a autora, esta falta de privacidade leva à gestante, na maioria das vezes, a ter dificuldade de falar sobre questões mais intimas que deseje tirar dúvidas ou de escutar as informações dadas a ela pela enfermeira. Nesse contexto, damos ênfase à comunicação por ser um veículo facilitador para compreender e compartilhar mensagens enviadas e recebidas. E nas circunstâncias em que elas se dão no serviço de enfermagem, evidenciamos barreiras que precisam ser superadas. É importante, que o modo como se dá este intercâmbio influencie no comportamento das pessoas nele envolvidas a curto, médio e longo prazo. Excesso de burocracia que diminui o tempo de atendimento Eu tento passar todas as informações necessárias para a cliente de acordo com o seu trimestre gestacional, mas como o tempo é curto para a demanda atendida e há o excesso de burocracia (registro e anotações) não sei se a gestante ficou com dúvidas e em geral ela só escuta sem participar (Natividade). Ás vezes eu começo a fazer as consultas com poucos prontuários sobre a mesa, nesse momento eu consigo ouvir mais as gestantes e posso dar as orientações com calma. De repente, a auxiliar traz vários outros prontuários e aí automaticamente eu começo a me preocupar com o tempo da consulta, principalmente se houver muitas gestantes de primeira vez (Paula Freire). Parece que para a Instituição, como se trabalha por produtividade, o importante é a quantidade. Sendo assim, o tempo da consulta será sempre um empecilho para a realização da ação educativa como ela realmente deveria acontecer (Ana Nery). Tanaka19 já chamava atenção para este fato retratado por Ana Nery, ao dizer: A necessidade de maior produtividade causou um estrangulamento no atendimento e a qualidade tão alardeada, anda na contra-mão. A nova ordem é atender o maior número de clientes no menor espaço de tempo e a clientela passou a ser mais um número para o sistema de cobrança 19. Em síntese, diante da descrição da realidade do serviço, inferimos que as condições nas quais as enfermeiras realizam a consulta de enfermagem têm alcance limitado para envidar estratégias educativas em saúde, para o fortalecimento individual e/ou coletivo das gestantes. CONSIDERAÇÕES FINAIS O que vimos neste estudo nos levou, pesquisadora e enfermeiras sujeitos da pesquisa, a apontar as dificuldades de adotar uma prática de educação em saúde que possibilite às clientes conhecimentos, reflexões críticas, habilidades e atitudes de mudanças, mesmo a de caráter individual.Portanto a consulta de enfermagem como espaço para a educação em saúde não reflete as idéias que foram objetos de avanço na década de 80 com o PAISM, como por exemplo, a participação da mulher na conquista da sua cidadania. A ação educativa realizada pela enfermeira durante a consulta do pré-natal caracteriza-se como uma ação rotineira, pouco participativa, com predominância informativa apesar da existência do objetivo e bom propósito de educar, onde questões relacionadas ao modelo assistencial, estrutural e organizacional da Instituição emergiram como obstáculos para a realização da educação em saúde, como uma tendência libertadora, crítico-social e transformadora. A pesquisa aponta para a reorientação do serviço de enfermagem na atenção à gestante do Hospital Universitário e a criação de um ambiente físico adequado para o atendimento da consulta de enfermagem. Por fim, este estudo ressalta que se faz necessário a persistência dos profissionais de enfermagem no sentido de que sejam implementadas atividades que visem à melhoria das ações educativas e que o enfermeiro tenha seu papel reconhecido nesse contexto. REFERÊNCIAS 1. Sancovsk, M. Consulta pré-natal. In: Zugaib, M. O prénatal. 2. ed. 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Revista do Hospital Universitário/UFMA Artigo Prevalência de carcinoma incidental de vesícula biliar no Hospital Universitário Presidente Dutra em São Luís – Maranhão. Prevalency of incidental gallbladder in Presidente Dutra University Hospital in São Luís-Maranhão. José Carlos Ribeiro de Araújo¹, Alcimar Nunes Pinheiro², Orlando Jorge Martins Torres² RESUMO: Objetivo: Analisar o carcinoma incidental da vesícula biliar e sua relação com a colelitíase em pacientes submetidos à colecistectomia no Hospital Universitário Presidente Dutra da Universidade Federal do Maranhão em São Luís. Método: Foram analisados 1279 prontuários, 235 do sexo masculino (18,4%) e 1044 do sexo feminino (81,6%) com média de idade de 48,5 anos, operados no período de janeiro de 1998 a dezembro de 2001. Os dados foram coletados preenchendo-se uma ficha protocolo de cada prontuário no que se refere à idade, sexo, diagnóstico pré-operatório e diagnóstico pós-operatório. Resultados: A prevalência de carcinoma da vesícula biliar foi de 2,0% (25 pacientes). Vinte pacientes (80%) apresentaram idade superior a 50 anos, com predominância do sexo feminino de 4:1,3. Conclusão: A colecistectomia eletiva deve ser considerada em pacientes com colelitíase na faixa etária acima de 50 anos. Descritores: Câncer de vesícula biliar, colelitíase, prevalência. ABSTRACT : A ims: To analyze the incidental carcinoma of the gallbladder and its relation with patient undergone to cholecystectomy in University Hospital Presidente Dutra of the Federal University of Maranhão, in São Luís.Method: 1279 records were analysed, 1044 were female (81.6%) and 235 male (18.4%) with average of 48.5 years, operated in the period of January of 1998 to December of 2001. Data were collected being with a record protocol with the from follouring variables the age, sex, pré-operative and postoperative diagnosis. Results: The prevalence of cancer of the gallbladder was of 2.0% (25 patients). Twenty patients (80%) had the age than 50 years, with predominance of the feminine sex of 4:1,3. Conclusion: Elective cholecystectomy should be considered in patients with gallstones above 50 years. Key-words: Prevalence, cholelithiasis, gallblader cancer. INTRODUÇÃO A litíase biliar apresenta-se como o fator mais frequente na etiopatogênese do carcinoma da vesícula biliar¹. Sua concomitância varia entre 50 a 100 % dos casos , incidindo predominantemente no sexo feminino com mais de 50 anos, acompanhando a distribuição da litíase biliar ². Com a utilização da ultra – sonografia de abdomen , essa associação tem sido cada vez mais reconhecida; e por ocasião das intervenções cirúrgicas de colecistectomias é encontrada em torno de 1 a 2 % dos pacientes. O câncer da vesícula biliar , tido como raro , apresenta 3 a 4 % dos tumores malignos que afetam o homem, o quinto carcinoma mais frequente do trato gastrointestinal, e é reconhecido como a neoplasia maligna mais frequente da árvore biliar³ 4 5 6. Seu prognóstico permanece desalentador , pois, em apenas um quarto dos pacientes com tumor maligno da vesícula biliar , o diagnóstico é suspeitado antes do procedimento cirúrgico ser realizado , enquanto os três quartos restantes só são diagnosticados durante o ato cirúrgico ou pelo resultado do exame anatomopatológico da peça7. Ainda não se dispõe de um método efetivo para detectar o câncer precoce da vesícula biliar, devido às características clínicas inespecíficas e métodos propedêuticos ineficazes, o diagnóstico só é possível em 90 % dos casos quando encontram-se em estágios avançados quando o prognóstico é reservado , com índice de sobrevida em cinco anos de apenas 5 %8. Considerando-se que as informações específicas sobre o câncer da vesícula biliar na colelitíase são poucas , sua frequência varia conforme a região , situação socioeconômica , idade,etc.; sendo o resultado de seu tratamento diretamente relacionado com o estadiamento e como a maior parte dos tumores diagnosticados em estadios precoces são àqueles achados incidentalmente em colecistectomias , tornase indispensável que o cirurgião conheça a prevalência regional do câncer incidental da vesícula biliar , para identificar quais os pacientes portadores de colelitíase que estão mais propenso a desenvolver carcinoma9. O objetivo deste estudo foi conhecer a prevalência de carcinoma incidental da vesícula biliar em pacientes submetidos à colecistectomia por colelitíase e estabeler relação com sexo e idade. ¹ Professor Assistente, Mestre e docente da UFMA ² Professor Doutor, docente da UFMA 65 Araújo, J. C. R. MÉTODOS Foram analisados 1279 prontuários de pacientes submetidos à colecistectomia no Serviço de Clínica Cirúrgica do Hospital Universitário Presidente Dutra da Universidade Federal do Maranhão, no período de janeiro de 1998 a dezembro de 2001. Os dados foram coletados preenchendo-se uma ficha protocolo de cada paciente, no que se refere à idade, sexo, diagnóstico pré-operatório e diagnóstico pós-operatório. Foram utilizados, para este estudo, apenas prontuários de pacientes com diagnóstico préoperatório de colelitíase, sendo excluídos todos os prontuários de pacientes com suspeita de neoplasia benigna ou maligna no pré-operatório ou falta de algum item da ficha protocolo. Em todos os pacientes, o diagnóstico préoperatório de colelitíase foi feito através da ultrasonografia, o diagnóstico pós-operatório foi confirmado pela presença do(s) cálculo(s) na vesícula biliar descrito pelo cirurgião que realizou a colecistectomia e reexame de todos laudos histopatológicos para confirmação diagnótica. Todos os exames anatomopatológicos foram realizados pelo Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Universitário Presidente Dutra e deles constam os seguintes passos: 1. A vesícula biliar foi submetida a exame macroscópico e dividida em três partes: porção proximal, medial e distal do órgão em relação ao ducto cístico. 2. Cada segmento era cortado em toda sua extensão em tiras de 5mm de espessura embebido em parafina, cortado e corado com hematoxilina – eosina e submetida a exame de microscópico óptico. RESULTADOS A análise dos 1279 prontuários de pacientes submetidos à colecistectomias por colelitíase no Hospital Universitário Presidente Dutra em São Luís – Maranhão, demonstram que 1199 (93,7%) apresentavam colecistite crônica, (onde foram encontrados todos os casos de carcinoma), 56 (4,3%) colecistite aguda e 25 (2,0%) eram de câncer incidental da vesícula biliar (TABELA 1). TABELA 1. Prevalência de colecistite crônica, colecistite aguda e de carcinoma incidental da vesícula biliar em pacientes submetidos à colecistectomia por colelitíase no Hospital Universitário Presidente Dutra, em São Luís – Ma, entre 1998 e 2001. D iagn óstico Nº % C o lecistite crônica C o lecistite aguda 119 9 56 93,7 4,3 C â ncer inciden tal 25 2,0 Total 1279 100 Em relação à distribuição, conforme o sexo (TABELA 2), a amostra revela predomínio do sexo feminino com 1044 casos (81,6%) sobre o sexo masculino, com 235 (18,4%). No que diz respeito especificamente ao nosso objetivo, câncer incidental da vesícula biliar, encontramos 25 casos, correspondendo a 2% da amostra como um todo, sendo 6 casos (24%) do sexo masculino e 19 casos (76%) do sexo feminino. Não houve significância estatística nos casos positivos, com relação ao sexo. TABELA 2. Prevalência de carcinoma incidental da vesícula biliar em relação ao sexo em pacientes submetidos à colecistectomia por colelitíase no Hospital Universitário Presidente Dutra, em São Luís – Ma, entre 1998 e 2001 Prese nte C â ncer d a ve sícu la biliar A u sente To tal M asculino Fem in ino 6 (24 % ) 19 (7 6% ) 229 (15,8 % ) 1025 (73,8% ) 235 (18,4 % ) 1044 (81,6% ) Total 25 (2 % ) 1254 (98% ) 1279 (100% ) Sex o 66 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 66-69, jan - abr / maio - ago, 2003. Analisando-se a distribuição dos pacientes por idade os resultados mostram média de idade igual a 48,5 anos, variando de 13 a 95 anos. No que diz respeito à distribuição por faixa etária (TABELA 3), dentre os casos positivos para câncer incidental de vesícula biliar, a média de idade foi de 60,3 anos, variando de 23 a 88 anos. Foi observado que houve aumento dos casos de carcinoma incidental, paralelo ao aumento da idade dos pacientes. TABELA 3. Distribuição de carcinoma incidental da vesícula biliar por faixa etária em pacientes submetidos à colecistectomia por colelitíase no Hospital Universitário Presidente Dutra, em São Luís – Ma, entre 1998 e 2001 Faixa etária (anos) < 20 20 a 30 a 40 a 50 a 60 a 70 a 29 39 49 59 69 m ais Total N º de caso s N º de caso s pos itiv os p ara c âncer % 26 132 266 264 230 216 145 2 3 5 8 7 1,5 1,1 2,27 3,7 4,8 1279 25 100 DISCUSSÃO O carcinoma da vesícula biliar é a doença maligna mais freqüente do trato biliar, apresenta como fator de risco mais freqüente na sua etiologia a litíase biliar, incidindo com mais freqüência no sexo feminino e os pacientes mais freqüentemente acometidos pertencem ao grupo etário da quinta e sexta décadas, sendo de 60,3 anos a idade média observada em nossos pacientes6 10. A concomitância da colelitíase com o carcinoma da vesícula biliar varia entre 50 a 100% dos pacientes, particularmente os de colesterol, e cerca de 1 a 2% dos pacientes submetidos à colecistectomia por colelitíase apresentam carcinoma incidental da vesícula biliar11.Hart et al8 observaram que a grande maioria dos pacientes com câncer da vesícula biliar apresenta colelitíase e sofre da doença por um período considerável antes do diagnóstico do câncer da vesícula biliar. O mecanismo pelo qual a colecistolitíase predispõe ao carcinoma da vesícula biliar ainda é especulativa. As teorias mais aceitas são a irritação mecânica crônica da mucosa vesicular pelo cálculo e a carcinogênese por elementos específicos do cálculo ou da bile litogênica12. Em nossa casuística o carcinoma incidental de vesícula biliar ocorreu em 25 casos, correspondendo a 2,0% do estudo. Entretanto esta prevalência pode variar se consideramos diferentes países e regiões, assim como, num mesmo país, grupos socioeconômicos e etários diferentes. Faz-se dependente também da sagacidade do patologista ou da existência de protocolos de estudo para esses pacientes 13. Em relação ao sexo a freqüência de carcinoma incidental de vesícula biliar incide com maior freqüência no sexo feminino em proporção variável de 4 a 5/1, acompanhando a freqüência da litíase biliar que é três vezes mais frequente na mulher, onde ocorre mais cedo que no homem. No mesmo ano, Nervi et al. afirmaram que pacientes com colelitíase têm risco de carcinoma vesicular sete vezes maior do que aqueles sem càlculo, ocorrendo predominantemente em mulheres4 14 15. Em nosso estudo os resultados são coincidentes com os referidos na literatura, em 25 casos de carcinoma da vesícula biliar, 19 casos (76%) eram do sexo feminino e 6 casos (24%) eram do sexo masculino, numa proporção de 4/1,3. Dos fatores estudados, a idade foi o que mais fortemente se correlacionou com o carcinoma incidental da vesícula biliar, aumentando progressivamente com a faixa etária16. Glen, Hays assinalaram que 10% dos pacientes maiores de 65 anos submetidos a colecistectomia por litíase podem ser portadores de carcinoma vesicular17. No Uruguai e no Chile, Bragette encontrou em 9% dos pacientes com mais de 80 anos e em 30% na mesma faixa etária respectivamente18. Csendes et al.19 verificaram que a idade média dos pacientes submetidos a colecistectomia com doença benigna era de 42 anos, ao passo que os doentes com carcinoma incidental da vesícula biliar apresentavam uma média de idade de 67 anos. No presente estudo, pacientes submetidos à colecistectomias com colelitíase, e que foi encontrado carcinoma incidental na vesícula biliar a média de idade foi de 60,3 anos; para uma média global de 48,5 anos de todos os pacientes operados. Este mesmo estudo mostrou ainda que 75,45% dos pacientes com carcinoma biliar apresentavam idade superior a 50 anos, a prevalência da população estudada, positiva para câncer, foi de 2,0%, subiu para 2,27% nos pacientes acima dos 50 anos, 3,7% nos acima de 60 anos e 4,8% nos acima de 70 anos (TABELA 3). Jukemura et al.19, estudando 67 Araújo, J. C. R. colelitíase e o risco de carcinoma , encontraram uma incidência de 1,68% na população geral que se elevou para 3,96% nos pacientes acima de 50 anos, 4,16% para aqueles acima de 55 anos e 5,71% em pacientes acima de 70 anos. Assim, com base nos resultados de nosso trabalho e na análise da literatura, podemos dizer que a colecistectomia eletiva deve ser sempre considerada naqueles pacientes a partir dos 50 anos de idade, com boas condições clínicas, mesmo que assintomáticos. REFERÊNCIAS 1. Salviano Filho P. Carcinoma de vesícula biliar: estudo de 62 casos. Rev Bras Med, 33 : 1, 1976. (Revisão da literatura brasileira). 2. 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Prevenção ABSTRACT: Analysis of the influence of male and female roles in the preventive aspects of STD (Sexually Transmitted Diseases) and HIV/Aids. It’s tried to identify how the CTA users deal in their everyday lives with such roles concerning to its sexuality and, more specifically, to of STD´s and HIV/Aids prevencion. Keywords: Social Roles. Sexuality. Prevention INTRODUÇÃO Neste texto apresentamos alguns resultados obtidos no trabalho de conclusão de curso de Serviço Social intitulado “Revisitando velhos conceitos: o masculino e o feminino na prevenção das DST e HIV/ Aids”. O interesse por esta temática surgiu durante a inserção no estágio curricular supervisionado no CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento), instituição que integra em âmbito nacional e local o programa de prevenção e controle de DST e HIV/Aids. Entre outros serviços, o CTA oferece aconselhamento coletivo e individual, teste Anti-HIV e distribuição de preservativos. Foi durante a realização de aconselhamento coletivo (pré-teste) e, principalmente, durante o aconselhamento individual (pós-teste) realizado no ato da entrega do resultado do teste Anti-HIV, que se constatou nas falas dos usuários e usuárias que a questão da prevenção das DST e HIV/ Aids não é vivenciada de forma igualitária pelo homem e pela mulher. A partir dessa constatação buscamos analisar como os papéis sociais de masculino e feminino influenciam no âmbito da prevenção das DST e HIV/ Aids. Para tanto, adotamos um referencial teóricometodológico histórico-crítico, que permitiu visualizar a realidade estudada enquanto totalidade, contraditória e em constante movimento. Para concretização deste estudo, realizamos pesquisa bibliográfica e documental com vistas a maior aproximação e apropriação da temática, além de pesquisa de campo, realizada junto aos usuários do CTA. SER MULHER E SER HOMEM: natural ou social? Neste trabalho partimos da premissa de que ser homem e ser mulher, ou seja, desempenhar o papel masculino e o feminino, não é algo natural; mas tratase de papéis sociais construídos historicamente, que sofrem modificações de uma sociedade para outra. Na construção destes papéis, iniciada desde a infância em nossa família (socialização primária) e posteriormente nos outros grupos em que nos inserimos (socialização secundária), estão presentes interesses de várias ordens: políticos, econômicos, culturais, religiosos, ideológicos.¹ É inegável a existência de diferenças anatômicas entre as mulheres e os homens, mas estas diferenças não determinam, por si só, um “lugar natural” para elas e para eles. Esses lugares são construções histórico-sociais que estão intrinsecamente ligados às características de cada sociedade.² A divisão entre os sexos parece normal, natural, inevitável, presente em todo o mundo social e, como esquema de percepção, pensamento e ação. Essa experiência apreende o mundo social e suas divisões arbitrárias como naturais, adquirindo um reconhecimento de legitimação.³ A diferença biológica não é, pois, justificativa para a desigualdade entre os sexos. Esta conversão, de diferença biológica em desigualdade social, não é natural, mas resultado da naturalização de um processo social. Assim, as desigualdades entre o masculino e o ¹ Assistente Social ² Mestre. Assistente Social. Orientadora da pesquisa. 69 Serra, B. R. V. feminino verificadas em nossa sociedade são frutos de uma construção social (baseada em princípios androcêntricos) que por firmar-se arbitrariamente sobre o biológico tem uma aparência de naturalidade.4 Nossa sociedade tem historicamente se organizado com base em uma espécie de hierarquia sexual ², em que o masculino representa o pólo superior e o feminino o pólo inferior e dependente em relação ao primeiro. A forma de expressão da sexualidade vincula-se estreitamente aos papéis sociais desempenhados por homens e mulheres, o que tem como conseqüência a instalação de relacionamentos assimétricos entre o masculino e o feminino.5 Essa assimetria verificada, de modo mais amplo, no âmbito da sexualidade, exerce também influência sobre o desenvolvimento de atitudes preventivas em relação às DST e HIV/Aids. De maneira que as mulheres têm tido muitas dificuldades para adotar e/ou negociar com seus parceiros práticas sexuais mais seguras. O aumento do índice de mulheres infectadas com o vírus HIV que vem ocorrendo em todo o mundo, um fenômeno que vem sendo denominado de feminização do HIV, confirma esta situação vivenciada por boa parte das mulheres e mostra-nos que os papéis sociais que desempenhamos possuem real concretude em nossas vidas.6 A USUÁRIA E O USUÁRIO DO CTA E A PREVENÇÃO DAS DST E HIV/AIDS: alguns resultados Um dos objetivos deste estudo foi identificar como os usuários e usuárias do CTA vivenciam em seu cotidiano a divisão de papéis sociais entre homens e mulheres no que se refere à sexualidade e mais especificamente à prevenção das DST e HIV/Aids. Para tanto aplicamos questionários junto aos usuários da referida instituição, sendo o universo feminino formado por 50 mulheres e o masculino por 25 homens, num total de 75 participantes. A faixa etária das usuárias variou dos 16 até os 55 anos, enquanto a dos pesquisados foi de 16 até 57 anos de idade. Quanto ao estado civil obtivemos os resultados expressos na Tabela 1: Tabela 1. Estado civil MULHERES ESPECIFICAÇÃO HOMENS Nº % Nº % C as ad o(a) 26 52 ,0 10 40 ,0 S olteiro (a) 20 40 ,0 12 48 ,0 D iv orciad o(a )/S ep ara do (a ) 02 4,0 03 12 ,0 Viúvo (a) 02 4,0 - - TO TAL 50 10 0 25 10 0 De acordo com a tabela acima, podemos verificar que a maior parte das mulheres pesquisadas era casada (52%) e solteira (40%). Dentre as casadas, (26 usuárias), 11 (o equivalente a 42,3%) enfatizaram que só moravam junto com o companheiro, ou seja, mantinham relação de convivência não oficializada juridicamente. Observa-se que o percentual de solteiras é elevado, o que contribui para desmistificar o velho tabu da virgindade, segundo o qual as mulheres devem se guardar para os seus maridos, já que todas as pesquisadas possuíam vida sexual ativa. No estado civil masculino também há predominância dos casados e dos solteiros, embora aqui o percentual de solteiros (48%) tenha superado o dos casados (40%). Dos usuários casados, (um total de 10), 04 (ou seja, 40%) apontaram que apenas convivem com as companheiras. Tabela 2. Medida ideal para evitar DST e HIV/Aids ESPECIFICA ÇÃO 70 MULHERES Nº A bsoluto HOM ENS % Nº A bsoluto % U sar cam isin ha 41 82,0 21 84,0 F ide lidade 05 10,0 04 16,0 F aze r exam e s perio dicam en te 03 6,0 - - C on fiança no outro 01 2,0 - - TO TA L 50 100 25 100 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 70-73, jan - abr / maio - ago, 2003. No início da epidemia de Aids, considerava-se que apenas alguns grupos eram propícios a adquiri-la, os chamados grupos de risco: homossexuais, profissionais do sexo, usuários de drogas injetáveis. Com o passar do tempo, o avanço das pesquisas científicas e o alastramento do HIV em praticamente todos os grupos sociais, percebeu-se o equívoco inicial. A terminologia grupo de risco, apesar de muito difundida por toda a sociedade, caiu em descrédito nos meios científicos. Atualmente, utiliza-se o termo vulnerabilidade para denominar as populações submetidas a certas situações que independem muitas vezes de suas ações e que as deixam em condições mais propícias à infecção pelo HIV. Assim, são considerados vulneráveis os profissionais do sexo, as populações confinadas (os presidiários, por exemplo), as pessoas cujas profissões as obriga a permanecer longos períodos longe dos parceiros(as), os adolescentes entre outros. Considerando que um dos principais meios de transmissão do HIV em todos os lugares do mundo é o sexual, pode-se afirmar que todas as pessoas sexualmente ativas são, em maior ou menor grau, vulneráveis a contraírem o vírus HIV. Lembrando também que não existe nenhuma vacina que evite ou remédio que cure a infecção pelo HIV, resta apenas a adoção de medidas que possam preveni-la, das quais a que tem se apresentado mais eficaz tem sido o uso do condom ou preservativo, popularmente chamado de “camisinha”.6 Verifica-se que a maior parte das usuárias e usuários está ciente dessa discussão sobre o HIV/Aids, pois quando perguntados sobre a medida ideal para preveni-lo e às demais DST, 82% das mulheres e 84% dos homens afirmam que é usando a camisinha.6 Nota-se, entretanto, que 10% das respondentes e 16% dos respondentes apontam a fidelidade como medida ideal de prevenção. Opiniões que têm sido largamente postas em xeque pelas recentes pesquisas e levantamentos que apontam o aumento da infecção pelo HIV em pessoas com parceiro fixo, principalmente, as do sexo feminino. Tabela 3. Medida preventiva adotada na relação sexual E S PE C IFICA ÇÃ O M U LH ER E S N º Absoluto H O M EN S % N º Absoluto % C a m isin h a 23 4 6 ,0 17 6 8 ,0 N enhum a 20 4 0 ,0 08 3 2 ,0 C a m isin h a e a n tico n ce p cio n a l 03 6 ,0 - - C a m isin h a e re d uç ã o d e p a rce iro s 01 2 ,0 - - C a m isin h a e h ig ie n e ín tim a (a sse io ) 01 2 ,0 - - A n tico n ce p cio na l e co ito in te rro m p id o 01 2 ,0 - - H ig ie n e ín tim a (a sse io ) 01 2 ,0 - - TO TA L 50 100 25 100 Na Tabela 2 pudemos observar que a maior parte das usuárias e usuários aponta a camisinha como o método mais eficaz de prevenção contra as DST e HIV/Aids. Esta posição é ratificada na Tabela 3, ao ver que 46% das mulheres e 68% dos homens afirmam fazer uso do preservativo durante as relações sexuais. Há, ainda, no universo pesquisado, mulheres que afirmam complementar o uso do preservativo com outras medidas como o uso de anticoncepcional oral ou injetável (6%), redução do número de parceiros sexuais (2%) e higiene dos órgãos genitais (2%). As informações acima se tornam, entretanto, bem paradoxais ao verificarmos que 40% do universo feminino e 32% do masculino afirmam deliberadamente não fazer uso de nenhuma medida preventiva. Estes dados demonstram que o fato de ter conhecimento sobre os riscos de transmissão das DTS e HIV/Aids não implica diretamente na tomada de atitudes para evitá-las. É que neste campo existe uma série de outros elementos que precisam ser levados em conta: o homem que não aceita usar preservativo, pois acha que com a “sua” mulher não é necessário (mesmo quando ele tem outras parceiras e não usa preservativo com elas); a mulher que desconfia que o seu parceiro mantém relações sexuais com outras pessoas, mas não quer usar o preservativo pois isto seria admitir a traição; a mulher que quer fazer uso do preservativo e que o parceiro não aceita e vice-versa; o medo da reação do outro, os desentendimentos e acusações de traição que somente a sugestão do preservativo pode desencadear. Essas são apenas algumas situações que mostram a complexidade de questões que envolvem o processo de prevenção das DST e HIV/Aids e que geram dificuldades tanto para os homens como para as mulheres. Tais dificuldades, entretanto, não são vivenciadas de forma igualitária, visto que homens e mulheres ocupam posições desiguais, em que as 71 Serra, B. R. V. mulheres sofrem maiores restrições nos papéis sociais que desempenham. Estes papéis materializados no âmbito da prevenção das DST e HIV/Aids têm contribuído para uma maior vulnerabilidade feminina.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste texto buscamos evidenciar que homens e mulheres desempenham papéis sociais diferenciados, mas que estes não são naturais e sim resultado de construções socioculturais. Em nossa sociedade, os esquemas de pensamento e ação dominantes baseiam-se na precedência do masculino sobre o feminino, o que gera desigualdades, que se fazem presentes nas mais variadas esferas da vida, inclusive no exercício da sexualidade. Essas desigualdades são negativas para mulheres e homens, pois tolhem possibilidades de relacionamentos baseados na igualdade e respeito mútuo. São, entretanto, mais restritivas à mulher, a quem o exercício da sexualidade tem sido tradicionalmente reduzido (maternidade/procriação), secundarizado (ao do homem/esposa) e mesmo negado. O exercício de papéis tradicionais dificulta às mulheres o conhecimento do próprio corpo, dificultando por conseguinte a prevenção, como vimos aqui no caso das DST e HIV/Aids. Desta forma, vemos a necessidade de que as ações direcionadas à saúde, sejam públicas ou privadas, atentem para as relações de poder erigidas entre homens e mulheres, questionando-as, concebendo ambos como seres integrais, estimulando, enfim, a promoção da autonomia da mulher em relação ao seu corpo e a sua sexualidade. REFERÊNCIAS 1 Berger, PL, Luckman, T. A construção social da realidade. 18. ed. Petrópolis: Vozes; 1985. 2 Beauvoir, S de. O segundo sexo. 4. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1949. 3 Bourdieu, P. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 1999. 4 Saffioti, HIB. O poder do macho. 9. ed. São Paulo: Moderna, 1987. 5 Arrazola, LS. Duque. Participação política de mulheres 72 e relações de gênero. In: Encontro Nacional de pesquisadores em serviço social. Anais... Brasília: ABEPSS, 2000. (4):169-178. 7 Serra, BRV. Revisitando velhos conceitos: o masculino e o feminino na prevenção das DST e HIV/Aids. [Monografia]. Universidade Federal do Maranhão, São Luís(MA): 2003. 6 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Coordenação Nacional de DST e Aids. Aconselhamento em DST, HIV e Aids: diretrizes e procedimentos básicos. Brasília: 1997. Revista do Hospital Universitário/UFMA Artigo Pink e cérebro em auschwitz-birkenau: Tópicos filosóficos sobre o vegetarianismo e o especismo à luz da bioética. Pink and brain in auschwitz-birkenau: Philosophicals topics about vegetarianism and specism based on considerations from Bioethics. Wildoberto B. Gurgel* Resumo: Trata-se de introduzir a questão dos direitos animais à luz das reflexões da Bioética. Para tanto, apresentam-se os argumentos favoráveis e contra os direitos animais, passando pelo vegetarianismo e o especismo, nas teses de Peter Singer, Tom Regan e Carl Cohen. Pretende-se fornecer subsídios claros para a elaboração da questão junto à sociedade contemporânea. Descritores: Bioética, Vegetarianismo, Especismo, Direitos Animais. Abstract: This paper introduces the subject of animal rights based on considerations from Bioethics. For this, arguments pro and against animal rights are presented, including vegetarianism and specism, in Peter Singer’s, Tom Regan’s and Carl Cohen’s views. It is intended to provide clear resources to the elaboration of the matter in contemporary society. Keywords: Bioethics, Vegetarianism, Specism, Animal Rights. INTRODUÇÃO O que os personagens de Spielberg, Pink e Cérebro, têm com Auschwitz? O que os animais de laboratório têm em comum com o nazismo? O que há em comum entre o vegetarianismo, a filosofia e o meu cachorro de estimação? O que distingue uma campanha contra a fome do argumento da preservação absoluta da vida? O que resulta da afirmação de que a vida deve ser protegida em qualquer parte do planeta? Qual o alcance de proposições do tipo: “um ser humano é sempre um ser humano, onde e como estiver”? Estas questões parecem desconexas e de pouca importância – ou mesmo de pura obscuridade, tal como o título deste artigo. No entanto, há um nexo decisivo entre elas, como se pretende mostrar a seguir. Durante a Segunda Guerra Mundial, no ano de 1942, numa conferência realizada em Wansee (Berlim), os nazistas adotaram uma solução “científica” para a “praga” que contaminava a Alemanha (judeus, comunistas, ciganos, religiosos pacifistas e eslavos): os campos de concentração (ou melhor, campos de extermínio). Dentre estes campos alguns mereceram destaque devido ao grande número de populações que foram ali exterminadas: Auschwitz-Birkenau, Treblinka e Sobibor, sustentados por empresas como Bayer, BMW e Telefunken, conforme observamos em Brener1. O pretenso caráter científico não era sustentado só por uma determinada concepção de ciência da época, como pela presença física de profissionais das áreas científicas mais respeitadas pela comunidade. Para dar esse respaldo, alguns médicos recebiam todas as pessoas, que chegavam em duas filas e faziam uma “triagem”: velhos, doentes e crianças iam para as câmaras de gás; adultos com possibilidade de aproveitamento como mão-de-obra tinham algumas chances de sobreviver. Os sobreviventes à primeira triagem podiam perfeitamente compor o número daqueles que seriam utilizados para experimentos científicos, em especial, experimentos com novos fármacos, como nos mostra Brener1 através de uma carta enviada pelo laboratório Bayer a Auschwitz: Solicitamos que seja posto à disposição um certo número de mulheres, para testes que pretendemos realizar com um novo narcótico. Não oferecemos mais que 170 marcos por cabeça. Depois que as experiências forem feitas, todas as pessoas serão mortas. Com isto, a prática do nazismo nos campos de extermínio reforçava um forte (e brutal) argumento que ainda hoje influencia algumas das práticas políticas e científicas em nossa sociedade contemporânea. O argumento é fundamentado na seguinte hipótese: “o poder tem razão e os fortes podem fazer o que quiserem com aqueles que se encontram sob o seu domínio”.¹ Vamos simplificar e nomeá-lo de argumento do poder. O que queremos a seguir é mostrar que existe um paralelo entre o argumento do poder e as questões que abriram este texto. Para isto, dividimos nosso * Mestre em Filosofia. Docente da UFMA. 73 Gurgel, W. B. trabalho em duas seções: a primeira procura apresentar a relação entre o argumento do poder e os preceitos da filosofia em geral com relação aos “direitos animais” (o que resulta em saber se esta é uma questão pertinente à filosofia ou não). A segunda seção apresenta os argumentos expostos em The Animal Rights Debate (onde Tom Regan e Carl Cohen2 debatem sobre o direito à experimentação com animais) e sua relação com o argumento do poder para defender ou contrariar as práticas científicas envolvendo experimentação com animais. As duas se completam entre si com o objetivo de trazer à luz em nossa comunidade uma discussão que ocupa boas páginas de obras importantes por outras partes do mundo e desafia a nossa prática científica e o nosso modo de vida. OS ANIMAIS E A FILOSOFIA Em 2000 Coetzee3 organizou e publicou uma obra intitulada A Vida dos Animais, na qual Peter Singer4 escreveu um artigo intitulado Os animais e a filosofia. O artigo ganhou tanta popularidade que imediatamente apareceram vários comentadores e críticos sobre a questão, ganhando rapidamente as páginas da internet. Este artigo, escrito na forma de diálogo fictício, interage com outro de 1995, intitulado vegetarianism, publicado na obra Oxford Companion to Philosophy, e completa algumas de sua idéias já apresentadas em 1991, por ocasião da organização de A Companion to Ethics. Singer5, em Vegetarainism, nos lembra que não é de hoje que a filosofia tem se debruçado sobre a questão dos animais. É bem verdade que nem sempre teve a clareza da questão como hoje ela é formulada. No passado filosófico esta questão estava mesclada aos mitos e às formas de representação do mundo e da sociedade, especialmente, às formas de representação religiosa. Por exemplo, os pitagóricos se abstinham de todo cardápio cuja feitura incluísse algum animal. Tal abstinência era devido à crença de que homens e animais partilham a mesma alma; além de que, como testemunha Filolau6, acreditava-se que a alma estava presa ao corpo, e quanto mais o corpo se comportasse como os animais, menos ela se elevaria e maior seria sua punição. Empédocles 7 também partilha dessa concepção. Seus versos deixam clara a idéia de que a nossa alma se confunde com a alma dos animais: no fragmento 26 ele apresenta que há ciclos entre a vida humana e a vida animal nos quais ora nos encarnamos como homens, ora como animais. E, no fragmento 61 apresenta a idéia de seres antropozoomórficos primitivos, tais como as representações das divindades egípcias. Ainda na antiguidade temos nomes como Plutarco, Porfírio, além de Plotino e, em várias passagens, também Platão. Em linhas gerais, a idéia do vegetarianismo está ligada diretamente à idéia da imortalidade da alma e da responsabilidade que temos para com ela nesta vida. No entanto não se resume a isto, em Plutarco8, por exemplo, aparece claramente a idéia de uma justiça para com os animais em seu tratado Sobre o Comer Carne, no qual o consumir carne implicava um ato selvagem que passava, necessariamente, por um 74 sacrifício da vida. Singer4 nos lembra que os antigos filósofos não estão isolados com esta questão. Já por volta do ano 1000 aC, a doutrina da reminiscência (nos Upanishades e em Buda) ensinava um amor a qualquer ser vivo dotado de sensação. Assim, os monges budistas estavam proibidos de matar animais e comer carne. A maior tradição religiosa ocidental, a judaico-cristã, também teve a sua fase vegetariana. O primeiro livro da Bíblia (o Gênesis) sugere que a permissão para o homem comer carne só veio após o dilúvio. No próprio cristianismo, a ceia é celebrada com pão e vinho (sem o peixe). Singer5 nos lembra que, apesar destas referências, não há muita confiança na doutrina judaicocristã, ou no islamismo, para fundamentar um vegetarianismo. Isto porque, se por um lado há a possibilidade de formular uma premissa que diga: o amor cristão se espalha por toda a terra, fazendo de todas as criaturas irmãs (ao modo franciscano, por exemplo); há também o argumento que diz: nada que entra pela boca torna impuro, mas o que dela sai. Premissas contrárias de uma mesma fonte de fé. E, para refutar o argumento do poder é necessário algo mais forte que os postulados da fé. Em busca de refutar o argumento do poder na sua versão carnívora (O argumento do poder está sendo agora formulado da seguinte maneira: o homem é mais forte que os animais, logo ele pode comê-los.) e defender o vegetarianismo, o século XIX trouxe de volta a questão da abstinência da carne ligada à saúde e ao tratamento humanizado dos animais. Naquele século se escreveu a primeira obra tratando explicitamente do assunto: The Animals Rights, por Henry Salt. Além deste, Percy Shelley, George Shaw e Artur Schopenhauer defendiam “certas” razões éticas para a prática do vegetarianismo. O século XX alargou a discussão e o tema não era mais resultado de alguns postulados religiosos ou filosóficos; tornou-se uma questão de saúde, ecologia e direito dos animais (em especial frente à extinção de alguns animais, cuja carne era uma cobiçada iguaria que ameaçava à fauna). Assim, o argumento do poder encontrou um adversário à altura: o argumento da praticidade, que questiona se é prático comer carne. O argumento da praticidade pode ser assim resumido: Para alimentar o planeta com carne animal é necessária Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 74-81, jan - abr / maio - ago, 2003. uma produção em larga escala de animais para abate. Esta produção ocupa um duplo espaço: o espaço para a criação dos animais e o espaço para o plantio de ração que alimentará tais animais. Boa parte da produção de grãos irá se perder entre o cultivo e a engorda. As riquezas nutritivas dos grãos não são repassadas pela carne dos animais, gerando um desperdício maior que se fossem consumidos diretamente. São necessárias também grandes quantidades de energia e infra-estrutura para manter a quantidade e a qualidade da carne para o consumo humano. Os riscos de infecções e epidemias não são totalmente descartados, o que podem prejudicar completamente altos investimentos e longos anos de trabalho. O resultado final não será suficiente para alimentar o planeta. Assim, ou o consumo de carne será minimizado (caso não seja possível elimina-lo) ou não será possível combater a fome no mundo. Deste modo, por razões práticas e éticas, o consumo de carne deve ser redimensionado. Se o consumo dos animais deve ser redimensionado, muito mais deve ser o uso dos animais para fins de pesquisa, de competições, de arte, de trabalho, de lazer. Desde a década de 70 do século XX que isto vem sendo debatido no mundo inteiro, e de tal modo, o vegetarianismo e uma militância pelos direitos animais têm crescido simultaneamente contra o argumento do poder. Peter Singer5 resume este momento em Vegetarianism: Se os animais têm direitos ou se é apropriado que os seus interesses recebam a mesma consideração que nossos interesses, é fácil ver que há dificuldades em afirmar que estamos autorizados a comer animais não-humanos (mas não, presumivelmente, seres humanos, mesmo se em razão de algum acidente estes se encontrarem em uma condição mental semelhante à dos animais que comemos). Estes argumentos éticos em defesa do vegetarianismo podem basear-se na perspectiva de que violamos os direitos dos animais quando os matamos para nos alimentar ou, em fundamentos mais utilitaristas, segundo os quais criar animais para nos servir de alimento causa-lhes mais sofrimento do que o benefício obtido com o consumo de sua carne. Além de não ser prático criar animais com o intuito de alimentar o planeta (uma vez que, de antemão, se mostra um programa falido), tal cultura é sustentada unicamente por três razões falaciosas: a primeira é a dos lobistas da indústria de gêneros alimentícios à base de carne que defendem a existência de retorno econômico na forma de empregos, desenvolvimento tecnológico, aumento da qualidade de vida e maiores opções de consumo. O argumento dos lobistas tem o poder de decidir a criação, aprovação e rejeição de leis que regulamentam a questão. A segunda falácia é a de que o consumo de carne é necessário à saúde humana (Schopenhauer, que alegava razões éticas para evitar o consumo de carne, acreditava que no norte este consumo era necessário). A terceira falácia é derivada da idéia de que o possível é permitido: se pudermos comer animais, por que não faze-lo? As três falácias são derivadas do argumento do poder: a primeira diz que aquele que tem o poder (os lobistas, no caso) decide o que deve ou não ser feito e o que devemos ou não comer, bem como, quem deve ou não comer. A segunda diz que aquele que tem o poder (as agências fomentadoras de pesquisas e os cientistas comprometidos com elas) decide que tipo de verdade deve ser divulgado ou não – decide o que é verdadeiro ou falso. A terceira diz que aquele que tem o poder de comando decide o que deve ser feito sobre o comandado. Há, portanto, como denuncia Singer4, uma analogia entre as práticas da alimentação carnívora e as de pesquisa científica envolvendo animais com as práticas nazistas desenvolvidas em AuschwitzBirkenau. Em seu artigo Os animais e a filosofia, ele denuncia que muitas pesquisas científicas envolvendo animais, mesmo em laboratório, além de não terem alcançado resultados satisfatórios, têm uma prática análoga aos médicos nazistas (senão pior). Singer4 não está criando uma relação de identidade entre o nazismo e as práticas da alimentação carnívora e da pesquisa científica envolvendo animais, está elaborando, por analogia, uma hipótese comum a ambas: há um crime nestes três casos, e o crime é algo igualmente mau. E se não interpretamos a carnifagia como algo criminoso é porque também os nazistas defendiam a cientificidade do Holocausto. No entanto, o fato de não haver uma relação de identidade entre a carnifagia e o Holocausto (assim como não há entre o racismo e o especismo), não enfraquece a relação de analogia nem a invalida como uma crítica forte a favor dos direitos animais, assim como a analogia entre racismo e especismo é suficiente para se por a favor dos direitos humanos. Em não havendo uma identidade entre a carnifagia e o Holocausto, nem entre o racismo e o especismo, não podemos dizer que Singer seja adepto do igualitarismo. A postura do igualitarismo defende que há uma perfeita igualdade entre os homens e os animais, seja em termos de direitos, de sensações, de interesses, de formas de organização social, etc. E não é esta a postura de Singer. Para ele, o uso do termo igual é restrito à hipótese de que os animais têm direitos a um reconhecimento igual dos seus interesses, sejam eles quais forem. Mas isto não quer dizer que todos os animais tenham os mesmos interesses, nem que haja um absolutismo moral que não permita em qualquer circunstância uma alternativa à norma, bem como, que entre os animais não humanos e os animais humanos não encontremos alguma diferença significativa. O que não podemos é simplesmente arbitrar que a qualidade do ser racional, por exemplo, é suficiente para colocar o humano no topo de uma cadeia alimentar altamente canibalesca. Arbitrar que o raciocínio, ou qualidades como planejar o futuro, ter consciência de si mesmo, etc, são as 75 Gurgel, W. B. características mais valiosas que os animais possam ter, é um tipo de especismo. Pois, justamente estas características são as que identificam o humano (no caso, aquele que decidiu por tais características). Por que não decidir que características como ter um olfato mais desenvolvido, ou uma visão mais acurada, são mais importantes? Todas as vezes que as características de uma espécie são elevadas à condição de paradigma da espécie em geral, ou as características de determinados indivíduos são elevadas à categoria de paradigma da própria espécie à qual pertencem estes indivíduos, temos um tipo de especismo. E isto acontece com muita freqüência no argumento do poder: com os nazistas algumas das características arianas foram elevadas à condição de raça, com o carnifagismo as características do animal humano são eleitas como a perfeição da evolução animal, com as práticas de pesquisa científica envolvendo animais as características sociais humanas são eleitas como sinônimo de sociedade. Assim, em especial por esta última, só é possível falar em direito como um atributo humano. No entanto, será que não é possível sustentar um argumento que defenda a existência de direitos animais? É o que pretendemos examinar na seção seguinte. DIREITOS ANIMAIS Nesta seção pretendemos apresentar dois argumentos contrários sobre os direitos animais: primeiro o argumento de Tom Regan2 defendendo a existência de direitos morais para os animais e, em seguida, o argumento de Carl Cohen2 que defende a prática de pesquisas científicas experimentais envolvendo animais. Ambos argumentos estão expostos em The Animal Rights Debate. Cada um dos autores tenta decidir a questão em seu favor, o que não é nosso interesse, senão expô-la, trazê-la à ordem do dia. Comecemos pelo argumento de Regan: A argumentação de Regan2 se coloca dentro de um parâmetro maior: o das fronteiras da ética. Para este, as proposições éticas possuem um alcance universal, sendo portanto, objetivas (ou absolutas). Assim, todos aqueles que se encontram dentro destas fronteiras (animais humanos ou animais não humanos) têm os mesmos direitos morais. Para defender esta postura objetivista Regan2 recorre a um exame das posturas morais contratualistas e utilitaristas concluindo que existem valores morais no mundo, e que, portanto, as proposições morais são representativas de fatos do mundo. Entre estes valores morais objetivos estão a vida, a integridade corpórea e a liberdade. Ora, se existem tais valores no mundo, é decorrente que existam direitos morais ligados a estes valores: o direito à vida, o direito à integridade corpórea e o direito à liberdade. Deste modo, se os valores morais são objetivos, tais direitos morais também o são. Assim, a conclusão de Regan é do tipo jusnaturalista: estes direitos morais fundamentais são inalienáveis. Tal como a postura jusnaturalista, a postura de Regan defende a tese de que os direitos morais são uma realidade individual e intransferível. Assim, um indivíduo tem direito moral em virtude daquilo que é enquanto indivíduo. Estes direitos morais, portanto, não são meras criações sociais, mas o resultado de uma condição inata ao indivíduo. Deste modo, para que um determinado indivíduo tenha direito à vida, a sua 76 condição inata e imediata é estar vivo. Esta postura é nomeada por Pedro Galvão9 de “individualismo moral”. Regan2, no entanto se diferencia do jusnaturalismo clássico ao universalizar as propriedades primárias do indivíduo. Se o jusnaturalismo clássico prega o individualismo moral, restringe-o àqueles que estão em condições de fazer o pacto social. Isto faz com que a postura do jusnaturalismo clássico seja a de que somente os sujeitos racionais estão nas mesmas condições de igualdade absoluta (ou na mesma condição de pactuarem entre si). Já para Regan, o individualismo moral se estende a todo e qualquer um que tenha as mesmas propriedades primárias de gênero. Assim, se dois indivíduos (um homem e um cão, por exemplo) têm as mesmas propriedades de gênero (ser vivo), ambos desfrutam da mesma condição moral (o direito à vida). Não é a propriedade secundária individual (o fato de ser um homem ou um cão), mas a propriedade primária (ser um ser vivo) que garante o direito inalienável da condição do indivíduo. Eis por que se diz “todo animal tem direito à vida” ao invés de “Todo animal tem direito à vida se e somente se for um animal humano”. O gênero, e não a espécie, determina o valor do indivíduo. Esta postura, de acordo com Galvão9 recebe o nome de “igualitarismo radical”. O argumento do igualitarismo radical é a de que todos os indivíduos de um mesmo gênero têm exatamente o mesmo estatuto moral. Conforme Regan2, isto fica assim: Aceitar este igualitarismo é pensar que todos os sujeitos de uma vida têm exatamente o mesmo estatuto moral: a vida de uma pessoa adulta tem tanto valor ou merece tanto respeito como a vida de qualquer outro ser que possua direitos, seja ele um cão, um recém-nascido humano, um chimpanzé ou um rato. Entre os que estão dentro das fronteiras da ética, não há quaisquer discriminações a fazer. Assim, o argumento de Regan, fundamentase em três aspectos: o objetivismo moral, o individualismo moral e o igualitarismo radical. O primeiro acredita na existência de valores morais no mundo (e Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 74-81, jan - abr / maio - ago, 2003. portanto, em direitos morais decorrentes desses valores); o segundo defende que o valor moral é algo do próprio indivíduo (existe por propriedade e não por atribuição); e, o terceiro, que todos os indivíduos que estiverem sob o mesmo gênero e partilharem as mesmas propriedades primárias estão protegidos pelo mesmo estatuto moral. Sua conclusão é a de que não devemos utilizar animais em pesquisas experimentais sob o risco de cometermos especismo (inverter a ordem, privilegiando a espécie e não o gênero). Contrário ao argumento de Regan se encontra o argumento de Cohen2. Cohen não é contrário à crença da existência de valores morais, e portanto de direitos morais. No entanto, ele não acredita que existam direitos morais indiscriminadamente no mundo. Há, para ele, uma seleção destes direitos: só (e todos) os seres humanos os possuem. Assim, a condição de desfrutar determinados direitos é uma condição especista (ser de uma determinada espécie, no caso, a humana). Para Cohen2: “os direitos são universalmente humanos, surgem na esfera humana, aplicam-se ao seres humanos em geral”. Leia-se, aplicam-se somente aos seres humanos. Deste modo, quando falamos em direitos animais não estamos nos referindo a uma condição individual dos animais. Estamos, na verdade, nos referindo a uma obrigação nossa para com os animais. Trata-se de uma conduta moral do homem para com os animais. Esta conduta pode ser resumida na prescrição moral: “não se deve fazer os animais sofrerem injustificadamente”.² O que vem a ser este injustificadamente é decidido pelos benefícios que a pesquisa experimental envolvendo animais possa trazer para os seres humanos. Não podemos aplicar aos animais o mesmo peso que aplicamos ao sofrimento humano, de modo que, se for necessário o sacrifício de alguns animais para que possamos salvar vidas humanas posteriormente, isto pode ser moralmente feito. Esta postura é tipicamente especista: apenas os homens podem verdadeiramente possuir direitos, uma vez que a própria noção de direito é algo intrínseco à comunidade humana. Os animais possuem direitos obrigações morais, de algum apego emocional de nossa parte para com eles ou por projeção, mas nunca por sua condição natural. Desde modo, para Cohen2 a noção de direito e o direito não são duas coisas desassociadas: Os animais não podem ser portadores de direitos porque o conceito de direito é essencialmente humano; está enraizado no mundo moral humano e só tem força e aplicabilidade nesse mundo. O seu argumento equaciona a racionalidade como a forma superior de vida, o que faz deste uma variante do argumento do poder: se razão é poder, aquele que tem a razão pode. No entanto, ele é muito mais enfático quando procura identificar a propriedade de conceber direitos com a propriedade de ter direitos. Em seu artigo Do animals have rights?, Cohen10 sentencia: direito e concepção de direitos se identificam, de modo que só a comunidade humana pode ter direitos, uma vez que só ela possui a concepção de direitos: Supõem erradamente que os direitos estão ligados a certas capacidades ou sensibilidades individuais identificáveis, e não conseguem ver que os direitos surgem apenas numa comunidade de seres morais, e que por isso há esferas em que os direitos se aplicam e esferas em que não se aplicam O direito moral é, portanto, resultado de uma comunidade moral e só tem efeito para os membros desta comunidade. Os animais, por sua vez, vivem em uma comunidade amoral, para a qual a norma moral não possui efeito. Deste modo, a não ser por algum artefato de projeção, piedade, transferência ou obrigação moral da comunidade humana, não há como encontrar a norma moral do direito animal. Ora, se não há direitos animais, não há direitos animais que possamos desrespeitar. Cohen10 não considera a amoralidade por si só um empecilho à atribuição de direitos morais, pois reconhece que as crianças recém-nascidas não têm consciência moral e, no entanto, possuem direitos morais. O seu argumento não é o de uma identificação entre a amoralidade e ausência de direitos morais, mas o da identificação entre pertencer a uma comunidade de determinada espécie de animais e possuir as características determinantes desta espécie. De modo que, não são as propriedades do indivíduo e as propriedades da espécie que estão sendo verificadas, mas as identidades de certas espécies entre si. Assim, a relação de identidade que Cohen2 procura estabelecer não é uma identidade de propriedades, mas uma identidade de tipos, como ele assinala: A capacidade de fazer juízos morais que distingue os seres humanos dos animais não é um teste a ser administrado aos seres humanos um por um. As pessoas que, por causa de uma deficiência, são incapazes de desempenhar todas as funções morais naturais nos seres humanos não são por essa razão excluídas da comunidade moral. A distinção crucial é de tipo. Por serem seres de um certo tipo os seres humanos têm direitos que lhes pertencem enquanto seres humanos; os seres humanos vivem vidas que serão, foram ou permanecem essencialmente morais. É disparatado supor que os direitos humanos podem flutuar em função da saúde do indivíduo ou dissipar-se com o seu declínio. Os direitos em questão são direitos humanos. Por outro lado, os direitos nunca pertencem aos animais em virtude de estes serem seres de um certo tipo; aquilo que os seres humanos preservam mesmo quando ficam incapacitados, os ratos nunca chegam a possuir. Este modelo de identidade é um especismo, uma vez que se sustenta sobre a tese de que as características específicas de um determinado tipo são as características deste mesmo tipo em geral. E tais 77 Gurgel, W. B. características (e não a simples pertença à comunidade que as possui) são relevantes para determinar o modo como os indivíduos que pertencem a esta comunidade devam ser tratados, de modo que o individuo não é tratado de acordo com as suas características isoladas (a criança ser tratada como ser amoral), mas com as características que são relevantes para a determinação da espécie. O argumento de Cohen2 é, portanto, a favor da prática experimental científica envolvendo animais, isto sem falar, é claro, na possibilidade de usa-los na nossa alimentação. Nenhuma destas atitudes são contrárias aos direitos animais, e isto por uma razão simples: não há direitos animais!. No entanto, isto não quer dizer que Cohen defenda um uso arbitrário e indiscriminado dos animais, ao contrário, ele defende uma obrigação moral de nossa parte para com eles, que, como já foi dito, consiste em não fazê-los sofre injustificadamente. As duas posturas se debatem numa arena onde a vida é o principal tema. Cada uma procura juntar argumentos, leis e práticas, em meio a muita falácia e cifras astronômicas, que freqüentam desde os cofres de Hollywood aos grandes centros de pesquisa. Enquanto nada disso é decidido, há muito Auschwitz por aí. CONCLUSÃO Acreditamos que já está na hora de falarmos das nossas perguntas iniciais, que, na nossa perspectiva foram colocadas a partir de um momento específico, quando o mundo discute os direitos dos animais. Discute-os não só relativos à experimentação científica, mas em seu uso doméstico, em cativeiro, em competições, em lazer, em arte, e, por que não, na alimentação. Enquanto os dois camundongos de Spielberg todas as noites bolam planos para conquistar o mundo, em cada discussão, cada vez mais, a questão dos direitos animais ganha o mundo. Desde os antigos pitagóricos que a filosofia é desafiada a pensá-la, embora não seja uma questão restrita à filosofia. E a tem pensado desde então. Algumas fases são obscuras, outras claras, mas nenhuma é tão fértil e clara quanto os últimos tempos, desde a publicação de The Animals Rights, por Henry Salt. Nesta época se destacam filósofos como Peter Singer, Tom Regan e Carl Cohen, entre outros. Aqui nos limitamos a estes três. Os três são desafiados por um argumento oculto por muitos anos na prática social, mas que veio tão claramente à tona com os campos de extermínio nazistas. Nomeamos este de argumento do poder, e procuramos, com Singer e Regan, uma contraargumentação e com Cohen uma provável defesa. Para isto, percorremos o tema do vegetarianismo e do especismo. Quanto ao vegetarianismo ficou demonstrado que a criação de animais com o intuito de alimentar o planeta não é algo prático. E se há uma insistência nestes programas isto está muito mais direcionado por práticas lobistas que por senso crítico. Pois, não é verdade que o combate à fome no mundo tenha que passar pelo consumo de carne. Aliás, o argumento de Regan proíbe que sejam criados animais para consumo, mesmo que tenha um fim nobre como o combate à fome. Também não está decidida a necessidade do consumo de carne por animais humanos. Se, por um lado, encontramos defensores entre os nossos cientistas deste consumo, por outro lado encontramos 78 opositores. E, como não é praxe da filosofia dar a última palavra à ciência (que se contradiz aos berros), em vias de dúvidas científicas, recorre-se a algo não científico: aos valores morais. No entanto, o apelo a valores morais não ajuda muito a resolver o problema, apenas desloca-o para outro campo, o da ética. Ou, mais precisamente, o da bioética. Mesmo neste campo não há consenso. Pois, se encontramos argumentos como o de Singer que traça uma analogia entre a alimentação carnívora e as de pesquisa científica envolvendo animais com as práticas nazistas desenvolvidas em AuschwitzBirkenau; e argumentos como os de Regan, que acreditam na universalidade do gênero sobre a espécie; existem também argumentos como o de Cohen que acreditam na determinação das características da espécie sobre as do gênero, sendo taxativo: os animais não têm direitos. O primeiro argumento, o de Singer, sendo fundamentado sobre a analogia não tem a força lógica que exigimos dos argumentos, mas talvez seja o suficiente para colocar a questão dos direitos animais. Em especial quando a analogia se transforma na crítica de um modelo de tipificação das espécies, cujos paradigmas adotam as características humanas como superiores (o que é legislar em causa própria). Com isto, Singer não quer dizer que não existam diferenças substanciais entre animais humanos e animais não humanos; elas existem e são importantes. No entanto, não precisamos do igualitarismo radical para fundamentar os direitos animais; basta não adotar o argumento do poder, verificar a utilidade da criação de animais para o consumo e examinar as conseqüências do canibalismo: se for certo de que podemos comer animais não humanos porque eles têm determinadas propriedades ou porque nos encontramos em determinadas situações, por que não faze-lo quando estivermos em situação idêntica diante de um animal humano que tenha as mesmas propriedades do animal não humano? O argumento de Singer recebe reforço de Regan. Como para este as propriedades do gênero são Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 74-81, jan - abr / maio - ago, 2003. dominantes sobre as propriedades da espécie, bastam que dois indivíduos tenham as mesmas propriedades primitivas para que tenham também os benefícios decorrentes destas propriedades. Deste modo, sua postura é radicalmente oposta a tudo aquilo que produz dor, mal estar ou coloca a vida do animal em perigo. Quanto a isto ele não quer saber se algumas culturas possuem o hábito de comer carne ou usam vestuário de origem animal. Não importa qual seja o benefício, a morte propositada de um animal é sempre algo moralmente errado. Como também não é favorável aos discursos caritativos que pregam o combate à fome no mundo utilizando para isto alimentos de origem animal. O radicalismo de Regan pode chegar ao boicote de produtos e fármacos que tenham utilizado animais como cobaias em algum momento do processo de produção ou testes finais. Tudo isto leva a repensar a nossa prática industrial e científica, uma vez que esta se encontra tão dependente dos experimentos com animais (humanos e não humanos) que chega a imaginar uma catástrofe o mundo e a ciência sem este recurso, assim como os nobres ingleses perderiam o sentido das suas existências sem a caça à raposa nos bosques. O argumento de Cohen, contrário aos dois anteriores, defende a utilização de animais não humanos com fins de experimentos científicos como também para o consumo humano. Isto não o torna um completo imoral ou amoral. Ao contrário, Cohen acredita na existência de direitos morais, e bem ao tipo objetivista. No entanto, ele não acredita que existam direitos morais fora da comunidade humana. Pois, só os homens possuem a noção de direito, e só há direito se houver esta noção. Os animais não humanos não a têm, logo os animais não humanos não os têm. Se falamos em direitos animais, de acordo com Cohen, isto é creditado ou a uma piedade com os animais não humanos, ou a alguma projeção, ou a algum dever moral nosso para com eles. Por este último aspecto, Cohen está defendendo de que os animais não humanos não precisam ter direitos animais para que possam ser tratados com algum zelo, carinho e dignidade moral. No entanto, esta é uma obrigação nossa, não um direito que lhes é próprio. Assim, a postura de Cohen é especista, uma vez que dá mais importância às características da espécie que às do gênero e que adota as características de uma determinada espécie como a condição criteriosa para julgar e valorar as outras espécies. Portanto, a amoralidade dos animais não humanos seria suficiente para justificar o nosso canibalismo; a organização do modo de vida dos animais não humanos totalmente diferente da dos animais humanos seria suficiente para dizer que ela não existe ou que é primitiva. Isto tudo se sustenta por sua relação de identidade entre o conceber valores e ter valores. No entanto, a relação de identidade entre conceber uma determinada realidade e possuir esta realidade é muito forte e estraga o argumento de Cohen. Podemos conceber realidades que não as temos como também podemos conceber realidades que os animais não humanos também tenham. Por exemplo, não somos animais ruminantes mas podemos concebê-los; e o fato de concebermos não nos torna em animais ruminantes. Concebemos os genes e isto não significa que os animais não humanos não tenham genes porque não os concebem. Como também, o argumento da amoralidade dos animais não humanos é bastante comprometedor. Uma vez que a amoralidade dos animais não humanos é suficiente para justificar a carnifagia, por que não nos alimentarmos de nossas crianças recém-nascidas, que são igualmente animais amorais, ou ainda dos loucos? Ora, a amoralidade serve para o animal não humano e para a criança. E, mesmo que Cohen procure se safar dizendo que a relação não é de identidade entre as propriedades, mas entre tipos, por que, então, ficamos felizes quando comemos uma galinha ao molho pardo e ficamos tristes quando o crocodilo come o bebê humano que caiu no rio? Ao que nos parece, a questão ainda não está resolvida, há muito ainda a se discutir e argumentos a examinar. Isto não é motivo para suspendê-la, ao contrário, é motivo para traze-la à ordem do dia, afinal, se os animais não humanos não têm direitos porque não os concebe, também não teriam deveres, já que não os concebe do mesmo modo. Assim como, se não temos obrigações com os animais não humanos, também não temos direitos sobre eles. REFERÊNCIAS 1 Brener, J. A Segunda Guerra Mundial: O Planeta em Chamas. São Paulo: Ática; 1997. p.43-4. (Retrospectiva do Século XX). 4 Singer, P. Os Animais e a Filosofia. In: Coetzee, JM. As Vidas dos Animais. Tradução de Maria de Fátima St. Aubyn. Portugal: 2000 (Temas e Debates). 2 Cohen, C, Regan, T. The Animal Rights Debate. Lanham, Rowman & Littlefield Publishers; 2001. p.2-37. 5 Singer, P. Vegetarianism. In: Honderich, T. Oxford Companion to Philosophy. Oxford: Oxford University Press; 1995. 3 Coetzee, JM. As Vidas dos Animais tradução de Maria de Fátima St. Aubyn. Portugal: 2000. (Temas e Debates). 6 Filolau. Fragmento 14. In: Pré-Socráticos. São Paulo: 79 Gurgel, W. B. Nova Cultural; 2000. (Coleção Os Pensadores). 7 Empédocles. In: Pré-Socráticos. São Paulo: Nova Cultural; 2000. (Coleção Os Pensadores). sobre o Estatuto Moral dos Animais. Lisboa: Universidade de Lisboa; 2002. (Comunicação apresentada no colóquio “A Ética e a Defesa dos Animais não Humanos”). 8 Plutarco. In: Pré-Socráticos. São Paulo: Nova Cultural; 2000. (Coleção Os Pensadores). 10 Cohen, C. Do Animals Have Rights? In: Ethics and Behavior, (7):2, p.94-5. 9 Galvão, P. As Fronteiras da Ética: O Debate Cohen/Regan 80 Revista do Hospital Universitário/UFMA Artigo Quando a gravidez chega cedo: motivos pelos quais algumas adolescentes engravidam When pregnancy arrives early: reasons why some teenagers get pregnant Lília de Cassia Piedade Santiago¹, Rita da Graça Carvalhal Frazão Correa2 , Cláudia Teresa Frias Rios3 , Lena Maria Barros4 RESUMO: Quando a gravidez chega cedo, representa um estudo que aborda relatos de algumas adolescentes sobre como engravidaram mesmo sendo conhecedoras de métodos contraceptivos. A finalidade foi conhecer esses motivos e identificar onde estas adolescentes tiveram informações sobre métodos contraceptivos. Os sujeitos da pesquisa foram cinco adolescentes grávidas pela primeira vez, na faixa etária de 16 a 19 anos, residentes em um bairro de zona urbana do município de São Luís-MA. Utilizou-se a abordagem qualitativa, com a técnica da história oral. O instrumento foi a entrevista semi estruturada e a gravação dos relatos. Para a análise, recorreu-se ao uso de categorias. Os resultados mostraram que os motivos que levaram as adolescentes a engravidar foram: a realização pessoal, a resistência ao uso dos métodos e o pensamento de que a gravidez não aconteceria. Quanto a obtenção de informações sobre os métodos, encontrou-se a igreja, a mídia, a escola, o parceiro e a mãe. Conclui-se que as adolescentes embora conheçam os métodos contraceptivos, ainda desconhecem a adequação do uso ou engravidam por opção. Descritores: Adolescência. Gravidez. ABSTRACT: When pregnancy arrives early, is study that approaches stories of some adolescents about now they got pregnant even though considered informed about contraceptive methods. The purpose was to know these reasons and to identify where these adolescents had had information on contraceptive methods. The citizens of the research had been five pregnant adolescents for the first time, in the age range from to 16 the 19 years, habitants from a quarter of urban zone of the city of São Luís-MA. It was used qualitative boarding, with the technique of verbal history. The instrument was a half structuralized interview and the writing of the stories. For the analysis, the use of categories was appealed to it. The results had shown that the reasons that had taken the adolescents to engraved had been: the personal accomplishment, the resistance to the use of the methods and the thought of that the pregnancy would not happen. About the attainment of information about the methods, church, media, the school, the partner and the mother. It concludes that the adolescents of wengh know it contraceptive methods, they are sure of the adequacy of the use or get pregnant by option. Keywords: Adolescence. Pregnancy. INTRODUÇÃO Estima-se que cerca de 21,7% da população brasileira tenha entre 10 e 19 anos de idade. As estatísticas nacionais também revelam que, nos últimos anos, o número absoluto e relativo de gestações em adolescentes vem aumentando especialmente na faixa etária entre 10 e 14 anos1. Pesquisas divulgadas pelo Ministério da Saúde e pela Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional – USAID, mostram dados alarmantes sobre o comportamento dos adolescentes: no tocante a precocidade das relações sexuais, entre 1986 e 1996 dobrou o número de jovens que teve sua primeira relação sexual entre 15 e 19 anos. São mais de 700 mil partos de adolescentes no Brasil por ano, e algo em torno de 500 mil abortos clandestinos e ilegais, uma vez que nossa legislação os proibe2. A gravidez na adolescência é de modo geral enfrentada com muita dificuldade. É preciso entender que a adolescente não pode assumir sozinha o risco social de uma gravidez não planejada, já que a gravidez significa uma rápida passagem da situação de filha para a de mãe, do “querer colo” para o “dar colo”. Nesta transição do seu papel de mulher ainda em formação para o de mulher-mãe, vive uma situação conflituosa e, em grande parte dos casos, penosa3. Muitos estudos associam a gravidez na adolescência a: assistência pré-natal deficiente; maior incidência de patologias durante e após a gestação; maior risco de morbimortalidade para o concepto e maior risco psicossocial para a adolescente1. Outras pesquisas descrevem como menos favoráveis somente ¹ Enfermeira do PSF do Município de São Luís-MA. ² Mestre em Ciências da Saúde. Docente da UFMA. ³ Mestre em Enfermagem. Docente da UFMA. 81 Santiago, L. C. P. no grupo de adolescentes de 12 a 15 anos de idade, e sugerem que a intervenção de programas de assistência pré-natal abrangentes, teria o potencial de diminuir o risco de muitas dessas complicações4. A gravidez na adolescência é considerada como um problema de âmbito social por implicar simultaneamente em dois fenômenos do desenvolvimento humano: adolescência e gestação. A maioria assume uma gestação em um processo total de desconhecimento levando fantasias, medos e temores que são reforçados de geração à geração, ocorrendo muitas vezes em trabalho de parto difícil, com sofrimento. Uma atitude negativa leva a pouca colaboração e consequentemente prejudica a relação mãe e filho5. Diante da possibilidade de reprodução e de uma nova experimentação da sexualidade, as adolescentes requerem um amplo suporte dos setores sociais, políticos, recursos e trabalhos intersetoriais, disciplinares e participativos, em que se disponibilize uma atenção integral, específica e apropriada ao cuidado de suas vidas, mediante ações básicas encaminhadas em diferentes espaços, com a participação das próprias adolescentes e das diversas áreas profissionais.6. As organizações governamentais através de programas especiais tem implementado o Núcleo de Atenção à Saúde do Adolescente, com equipes multidisciplinar com atendimento específico à adolescente grávida. Diante dessas informações questiona-se: por que tem crescido a gravidez na adolescência mesmo com tanta informação e preocupação da sociedade? Por que, mesmo com conhecimento sobre os métodos contraceptivos, as adolescentes ainda engravidam? Com base nesta problemática buscamos conhecer experiências individuais de algumas adolescentes grávidas, analisando os motivos apresentados para que ficassem grávidas. MÉTODOS A abordagem escolhida foi a qualitativa, por permitir que sejam extraídos resultados como opiniões, atitudes, sentimentos e expectativas e que não podem ser quantificados. A pesquisa foi realizada em um bairro na área urbana de São Luís-MA, no mês de fevereiro de 2003. Para a coleta de dados, utilizou-se a técnica de história oral através de entrevista semi-estuturada e gravação dos relatos. Os princípios éticos foram respeitados e na fase exploratória solicitou-se parecer à Comissão de Ética do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão. E para contar com a participação da adolescente na pesquisa foi apresentado o termo de consentimento livre e esclarecido. Fizeram parte deste estudo cinco adolescentes, grávidas pela primeira vez, na faixa etária de 16 a 19 anos, escolhidas aleatoriamente, uma vez que não se desejava caracterizar um grupo, mas enfocar o indivíduo e sua experiência. Para melhor compreensão das falas, as adolescentes foram identificadas com o nome de flores. Para análise e interpretação, utilizou-se o método hermenêutico-diáletico, que discute, dando sentido e importância a linguagem. As estruturas transcritas foram agrupadas em “núcleos de sentidos”, e as categorias relacionadas aos motivos da gravidez e local de informação sobre o método. RESULTADOS Os motivos da gravidez são revelados em seus relatos como: a realização pessoal, a resistência ao uso do método e a confiança incondicional no método. “Engravidei porque quis” “Estou grávida porque eu e ele quisemos, [...]. A gente usava camisinha, mas depois quando eu quis engravidar eu engravidei. Foi tudo planejado”. Margarida. Observa-se aqui, a plena satisfação de um fato conquistado. A gravidez chega para Margarida como algo previamente acertado e que denota, de certa forma, a confirmação da independência quando ela refere: “[...] quando eu quis engravidar, eu engravidei”. Santos Júnior salienta que a gravidez na adolescência pode ser considerada um obstáculo e um problema para algumas jovens, entretanto para outra pode vir a ser um projeto de vida8. “Achei eu nunca ia acontecer comigo”. 82 “Eu sabia sobre todos os meios de prevenção e achava que nunca ia acontecer comigo, [...]. Eu tinha relação com camisinha mas, tive uma sem camisinha, um descuido e assim eu engravidei”. Jasmim O relato de Jasmim revela uma característica fundamental da mentalidade do adolescente: acreditar que as coisas só acontecem com os outros. Esse pensamento mágico colabora para que os adolescentes venham a se descuidar e esquecer de usar um método contraceptivo, pois acreditam ser totalmente invulneráveis. “Ele não quis usar” [...] mas eu nunca usei nenhum desses métodos. Sei que quando a mulher está no período fértil ela pode engravidar na hora, pedi para ele colocar a camisinha. A culpa também foi minha ... eu não soube exigir”. Lírio Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 82-85, jan - abr / maio - ago, 2003. Observa-se aqui a dificuldade de diálogo e negociação dos parceiros na prática do sexo seguro. Segundo Mandú as práticas sexuais clandestinas e não planejadas, a delegação ao outro do cuidado com a própria vida, a submissão aos desejos do outro, a inibição para conversar e negociar com o parceiro, freqüentemente implicam no cuidado com a prevenção6. Engravidei por falha do método.... “Meu namorado não usava camisinha, era eu quem usava injeção, eu tomava todo mês, mas a doutora disse que eu devo ter errado na data, só que, continuei tomando injeção”. Orquidea. O desconhecimento da maneira correta de utilizar os métodos é responsável por uma boa parcela das “falhas” que lhes são atribuidas9. Na construção da categoria de onde obtiveram informações sobre os métodos contraceptivos, foram encontrados: a escola, mídia, consultórios, igrejas, amigos, parceiros e a mãe. “Eu aprendi na escola, com minhas colegas...” Jasmim A educação sexual na escola se torna fundamental para que os jovens tenham um espaço para debater, questionar sobre a sua sexualidade, entretanto não tem sido essa a prática de conhecimento dos jovens, mas sim o espaço de aprendizagem entre colegas, como refere Jasmim. De acordo com Suplicy, a escola deve prestar informações sobre sexualidade, esclarecendo e corrigindo as distorções que possam ter. A escola não tem condições de prover o que só a família pode dar10. “Eu conhecia os métodos de prevenção pela TV, [...] eu lia muitas revistas [...] Orquídea. Os meios de comunicação tem tido, praticamente, duas atuações neste contexto, pois enquanto eles podem ser grandes aliados no tocante ao processo educativo informativo, também podem ser perniciosos quando tratam a sexualidade de forma irresponsável e muitas das vezes puramente comercial. Insistem em afirmar: sexo uma coisa natural. Normal. Como chupar sorvete11. “Eu aprendi em palestras na Igreja ... Jasmin. A igreja tem postura bastante questionada pela sociedade quando condena o uso de camisinha e outros métodos contraceptivos, pois acredita que o incentivo ao uso destes vai de encontro ao que vem de Deus. Mas esta mesma igreja católica também é procurada pelos seus adolescentes e pais congregados, que buscam orientação sobre sexo e fecundidade. Muitos pais católicos voltam-se para a igreja a fim de que esta se encarregue de dar orientação para a educação dos filhos, sobretudo na infância e na adolescência. Mas a igreja sempre afirmou que os pais tem o dever e o direito de serem os primeiros e os principais educadores de seus filhos12. “... conversava com outras pessoas...”. Lirio “Eu tive informações sobre os métodos anticoncepcionais com meu namorado”. Margarida “[...] por minha mãe, ela é agente de saúde...” Violeta Os adolescentes tentam adquirir informações para se orientar, mas muitas vezes estas são conseguidas nas ruas, com amigos e amigas, de uma maneira distorcida e incompleta. Torna-se portanto imprescindível a participação da família neste processo. Os pais não devem delegar de forma alguma, este papel a outrem. O número de revistas, entrevistas e programas acerca da “obrigação” dos pais em dar uma educação sexual aos filhos faz com que a maioria se tornasse consciente dessa responsabilidade. Ao mesmo tempo gera uma preocupação, poucos pais se sentem preparados para exercer essa tarefa10. CONSIDERAÇÕES FINAIS A gestação na adolescência é um tema de preocupação e hoje constitui um desafio social, onde essa gama de fatores que a determinam precisam ser encarados com maior interatividade, domínio de situação e responsabilidade dos vários setores da sociedade. Os motivos que levam as adolescentes a engravidarem são muitos e devem ser ouvidos e discutidos. Compreender e apoiar adolescentes grávidas se faz necessário; é preciso criar condições para que esse processo não resulte em problemas físicos, psíquicos e sociais. Sabe-se não ser esta uma questão simples, pois exige a participação de vários setores da sociedade (escola, igreja, profissionais de saúde, governantes). Acredita-se ainda que, o esforço de um trabalho preventivo dessas partes em conjunto, trará resultados positivos, pois muitas adolescentes engravidaram mesmo tendo conhecimento dos métodos, revelando que a gravidez foi resultado de uma opção consciente ou da falta de orientação quanto ao uso dos métodos por eles conhecidos. Aos profissionais de saúde, é preciso assumir com maior firmeza o compromisso de: orientar, informar, escutar, e acolher essas adolescentes; é importante desenvolver atividades educativas que forneçam informações sobre comportamento sexual e métodos contraceptivos no desafio de procurar alterar esse quadro. Pois embora aqueles que trabalham com jovens grávidas atribuam maior importância a gravidez um amplo leque de repercussões biológicas, ficam perplexos diante da realidade apresentada por essas jovens. Isso ocorre provavelmente por escapar aos profissionais a importância do significado que essa clientela especial expressa através de suas histórias. 83 Santiago, L. C. P. REFERÊNCIAS 1. Cunha AA, Monteiro DLM, Reis AFF. Fatores de risco da gravidez na adolescência. In: Monteiro DLM, Cunha AA, Bastos AC editores. Gravidez na adolescência. Rio de Janeiro: 1998. p. 43-56. 2. Reis AO, Ribeiro MAA. Gravidez na adolescência. [capturado 2002 dez 30]; Disponível em: http:// www.unicamp.br 3. Gravidez na adolescência. [capturado 2001 dez 19]; Disponível em: http//:www.planeta.terra.com.br . 4. Costa COM. Fecundidade na adolescência: perspectiva histórica e atual. J. Sediatr 1998; 74:87-90. 5. Siqueira, MJ. Adolescência e gravidez. [capturado 2002 ago. 13]; Disponível em: http://www.unicamp.br 6. Mandú, ENT. Adolescência: saúde, sexualidade e reprodução. In: Associação Brasileira de Enfermagem. Adolescer: compreender, atuar, acolher. Brasília: 2001. p. 61-76. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Rita da Graça Carvalhal Frazão Corrêa Rua Barão de Grajaú, Q45, C-05 Jardim Eldorado - TURU / 65.48-150 / São Luís-MA e-mail: [email protected] 84 7. Minayo, MCS et al. Pesquisa social e criatividade. Petrópolis: Vozes; 1994. 8. Santos Júnior, JD. Fatores etiológicos relacionados à gravidez na adolescência: vulnerabilidade à maternidade. In: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Cadernos Juventude e Desenvolvimento. Brasília: 1999. p. 223-229. 9. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Cadernos Juventude e Desenvolvimento. Brasília: 1999. v. 1. 10. Suplicy, M. Conversando sobre sexo. 21. ed. Petrópolis: Vozes; 2002. 11. Cavalcante, AM. Psiquiatria: outros olhares. [capturado 2001 fev. 06]; Disponível em: http//:www.polbr.med.br . 12. Sexualidade humana: verdade e significado, orientações educativas para a familia [capturado 2003 fev 23]; Disponível em: http//:www.vilabo.com.br. Revista do Hospital Universitário/UFMA Relato de Caso Gemelidade imperfeita: relato de caso Imperfect twinning: case report Marília da Glória Martins¹, Lívia Teresa Moreira Rios², Andréa de Neiva Granja², Alessandra Cavalcante Morais Veras4, Maria Carlete Silva Diniz4 RESUMO: Os gêmeos acolados são raros e constituem um desafio para a equipe médica. O estudo pré-natal é essencial para a definição da fusão anatômica e de outras anormalidades associadas, visando o adequado planejamento cirúrgico e a avaliação do prognóstico fetal. Os autores apresentam os achados clínicos e de imagem de um caso de gêmeos toraconfalópagos em uma paciente com catorze anos de idade. Descritores: gemelidade, gêmeos acolados, gemelidade imperfeita. ABSTRACT: Conjoined twins are rare malformations and a challenge for physicians. Antenatal evaluation is essential for the identification of anatomic fusions and other associated abnormalities, which will enable an adequate surgical planning and the assessment of fetal prognosis. The authors present the clinical and imaging findings of thoraconfalopagus twins in a fourteen year old pacient. Key-words: pregnancy twins, conjoined twins, imperfect twinning. INTRODUÇÃO Os gêmeos unidos representam uma rara anomalia, com prevalência de 1 em 50.000 a 100.000 nascimentos e ocorre, necessariamente, apenas na gravidez monocoriônica monoaminiótica1. Sendo que 70 % dos gêmeos conjugados, são do sexo feminino2. A etiologia permanece obscura, porém, alguns autores acreditam que diversos fatores, agindo entre o 13° e o 15° dia após a fecundação, induziriam a uma divisão tardia e incompleta do disco embrionário monozigótico, podendo levar a múltiplas formas de fusão, inclusive com compartilhamento de órgãos internos3, 4. Existem várias classificações sobre gêmeos conjugados e a clinicamente mais óbvia é uma adaptação da proposta de Potter. São aqueles identificados pelo mais proeminente local de conexão mais a raiz grega pagus, que quer dizer “onde está fixado”, conseqüentemente, são classificados em toracópagos (tórax), onfalópagos (abdome), isquiópagos (pelve), pygopagos (sacro) e craniópagus (crânio) 5. Os gêmeos toracópagos são os mais freqüentes, ocorrendo em 40% dos casos de gemelidade imperfeita. Alguns são toraconfalópagos, correspondendo a 73% das incidências reportadas 6. DESCRIÇÃO DO CASO L.M.R., 14 anos, solteira, estudante, G I P 0 A , com idade gestacional de 34 semanas, encaminhada 0 ao Hospital Universitário Materno Infantil com diagnóstico de gemelidade imperfeita. Em 7 de junho de 2003, o exame ultra-sonográfico visibilizou gêmeos com idade gestacional de 18 semanas e 3 dias e fusão da região torácica e abdominal anterior. (FIGURAS 1, 2, 3, 4, ) Figura 1 Figura 2 ¹ Doutora em Obstetrícia. Docente da UFMA. ² Médica e docente da UFMA. 4 Médica Residente do Serviço de Tocoginecologia do HU - UFMA. 85 Martins, M. G. Figura 3 Figura 4 Ao exame clínico obstétrico verificamos altura de fundo uterino de 42 cm, bcf positivo ao Sonar Doppler. Nega doenças infectocontagiosas, hereditárias e familiares, assim como, tabagismo, etilismo, drogas terapêuticas e/ou ilícitas. Procedeu-se a internação da paciente na enfermaria da clínica obstétrica, para programação da interrupção prematura da gravidez. A ultra-sonografia obstétrica realizada neste período mostrou fusão torácica e abdominal com compartilhamento das câmaras cardíacas direitas (átrio e ventrículo direitos únicos), do sistema portal e porção anterior do fígado. Achados que configuram os gêmeos toraconfalópagos. (FIGURAS 1, 2, 3, 4, ) De posse dos resultados dos exames, foi realizada mesa redonda com equipe multidisciplinar e a comissão de ética e concluíram que a realização de cirurgia para separação dos gêmeos seria inviável, posto que, há compartilhamento dos órgãos vitais, coração e fígado. O parto cesáreo foi programado e realizado com 36 semanas e 4 dias, com extração de fetos toraconfalópagos, vivos, sexo feminino, pesando em conjunto 4.395 g, (FIGURAS 5, 6,) com Apgar 8/10 no 1º minuto e 9/9 no 2º minuto respectivamente. Figura 5 Figura 6 Na UTI - Neonatal as pacientes recém-nascidas evoluíram com síndrome do desconforto respiratório e infecção pulmonar, culminando com o óbito após por 50º dias. 86 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 86-88, jan - abr / maio - ago, 2003. DISCUSSÃO Os gêmeos acolados são raros e constituem um desafio para a equipe médica. O estudo pré-natal é essencial para a definição da fusão anatômica e de outras anormalidades associadas, visando ao adequado planejamento cirúrgico e à avaliação do prognóstico fetal. O diagnóstico da anomalia é facilmente obtido através do exame ultra-sonográfico e confirmado pela ressonância magnética. A resolução da gestação é realizada no momento oportuno, devendo ser adotada a via alta como procedimento de escolha7. Apenas 25 % dos casos são passíveis de correção cirúrgica, uma vez que grande parte dos fetos evolui espontaneamente para óbito, ou não sobrevivem às primeiras vinte e quatro horas8. Somente os fetos que apresentam órgãos vitais intactos e distintos, assim como seus territórios vasculares independentes, são submetidos a tratamento cirúrgico9. No caso em pauta, há compartilhamento de órgãos como coração, fígado e sistema portal, o que inviabilizou qualquer tentativa de separação das gêmeas, sem que houvesse sacrifício de uma delas. REFERÊNCIAS 1. Tessen JÁ., Zlatnik FJ. Monoamniotic twins: a retrospective controlled study. Obster Gynecol, 1991; 7:832. 6. Mauad FF, Molinari MB, Ferreira AC. Gemelaridade Imperfeita. In: Mauad FF, Morais EN. Medicina Materna e Perinatal. Revinter; 2000. p.391-394. 2. Edmons LD, Layde PM. Conjoined twins in the United States 1970-1977 teratology, 1982; 25:301. 7. Isfer EV, Marcos A. Gestação Gemelar e Medicina Fetal. In: Isfer EV, Sanchez RC, Saito M. Medicina Fetal: Diagnóstico Pré-natal e Conduta. Revinter; 1996. p.619-633. 3. Potter EL, Braig JM. Pathology of the fetus and the infant. 3.ed. Chicago: Year Book Medical Publishers; 1975. 4. Teixeira AC. Gemelidade imperfeita: avaliação pelos métodos de imagem. Rev Bras Radiologia, 2003; 1:36. 8. Rezende J, Montenegro CAB. Prenhez gemelar. In: Obstetrícia Fundamental. Guanabara Koogan; 1999. p.317-334. 5. Potter EL. Pathology of the fetus and the infant. 2.ed. Chicago:Year Book Medical Publishers;1961. p.216-233. 9. Martins MG. A propósito de um caso de gemelidade imperfeita. J. bras. Ginec, 1980; 89 (5): 303-304. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Marília da Glória Martins Av. 01 – Qd.E – Casa 21 Jd. Coelho Neto - Calhau e-mail: [email protected] 65066-240 - São Luis-MA 87 Revista do Hospital Universitário/UFMA Opinião Possibilidades e vantagens do programa terapêutico ocupacional em hospitais Possibilities and advantages of the ocupational therapeutic program in hospitals Leidismar Fernandes Nalasco* A HOSPITALIZAÇÃO é necessária para sanar os sintomas e a evolução de uma doença. Recorre-se assim, aos recursos médicos tecnológicos da instituição para a cura, embora estes, muitas vezes, sejam traumáticos, invasivos e dolorosos. As soluções para a enfermidade instalada, geralmente, não aparecem à curto prazo, e portanto, podem surgir agravantes devido ao tempo de internação ou mesmo, evolução e prognóstico desfavoráveis da doença. O paciente vive então, situações de estresse físico e emocional no âmbito hospitalar, por causa do próprio ambiente, dos sintomas específicos da doença, da dependência total ou relativa em relação as atividades da vida diária, da insegurança e dúvida sobre o seu completo restabelecimento. Tudo isso contribui para aumentar as tensões psicológicas que podem agravar o estado clínico geral, já bastante fragilizado da pessoa adoecida. Na realidade o adoecer e os procedimentos hospitalares causam uma transformação total no modo de ser do indivíduo. O cotidiano da internação hospitalar causa a impossibilidade quase completa do indivíduo ser participante de seu processo de tratamento. Daí a denominação paciente. Os sintomas da própria enfermidade associados à sentimentos de apatia e estranheza diante desta nova condição, dificultam então, a sua recuperação. A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA OCUPACIONAL busca motivar o paciente a manter-se ativo, e isto acontece então, através da indicação e prescrição de atividades como forma de tratamento. As atividades são criteriosamente propostas observando a historicidade do paciente antes do adoecer, suas experiências e preferências de atividades em geral, adaptadas ao ambiente hospitalar e a situação de leito, com intuito de favorecer ao paciente a consciência de suas potencialidades, resgatando a motivação e o interesse pela vida. De acordo com a relação terapêutica e a participação efetiva do paciente, as atividades indicadas, se realizam respeitando os limites e a capacidade funcional de cada um. Nesse contexto a família e/ou acompanhante participam de todo o processo, além de receberem orientações sobre o manuseio e cuidados com o paciente em relação as atividades da vida diária. A TERAPIA OCUPACIONAL É uma profissão da área da saúde que utiliza como instrumento terapêutico as atividades do cotidiano para prevenir, tratar e reabilitar o ser humano. O uso específico das atividades em hospitais tem como objetivo estimular a capacidade funcional dos pacientes internados para tratamento especializado ou cirúrgico, Através de Técnicas como: Relaxamento, Eutonia, Dinâmica de Grupo, Expressão Corporal, Cinesioatividade e Atividades: Laborativas, Lúdicas, Sociais, Expressivas e da Vida Diária (vestuário, alimentação, higiene e locomoção). O TERAPEUTA OCUPACIONAL FACILITA E PROMOVE ATRAVÉS DAS ATIVIDADES: 1. Estimulação da função motora geral através de posicionamentos, mudanças de decúbito, coordenações e variadas formas de preensões; 2. Estimulação das funções mentais que ocorre através da dinâmica da atividade, permitindo ao paciente criar, modificar e transformar materiais, mantendo as funções percepto-cognitivas (raciocínio, linguagem e memória); 3. Alívio do stress, geralmente causado pela doença e período de internação. AS ATIVIDADES TERAPÊUTICAS OCUPACIONAIS SÃO REALIZADAS de acordo com a capacidade do paciente e suas potencialidades. Estas, são adaptadas como dissemos à situação do leito, o ambiente das enfermarias e a alta hospitalar. Cientificamente o uso destas atividades na situação de hospitalização, trás consigo uma proposta inovadora de possibilitar experiências confortadoras, semelhantes ao do cotidiano normal, modificando a rotina hospitalar e permitindo que os indivíduos mesmo em processo de adoecimento, sofrimento e agonia mantenham o equilíbrio psico-físico pelo restabelecimento das capacidades remanescentes. A experiência de estar realizando atividades como: pintura, música, desenho, costura, bordado, tapeçaria, canto, poesia, entre outras, facilita e promove no indivíduo despersonalizado, o resgate de sua imagem corporal e cidadã. “ O ajuste emocional do paciente deve ser a primeira consideração ao se implementar a terapia planejada, de modo que o mesmo possa atingir seu maior potencial”. (TROMBLY, 1989). AS VANTAGENS DA PROPOSTA HUMANIZADA E HOLÍSTICA EM TERAPIA OCUPACIONAL NO HOSPITAL registram-se nos * Terapeuta Ocupacional, Professora da Faculdade Santa Terezinha- CEST, Mestre em Educação em Saúde. 88 Nalasco, L. F. benefícios diretos á saúde e bem-estar dos pacientes internados que ao serem estimulados através das atividades reduzem seus sofrimentos sintomáticos específicos e gerais devido a doença, a espera do diagnóstico, procedimento cirúrgico ou o remédio milagroso. Além disso, o fato de estarem sempre com a mente e o corpo ocupados com tarefas que tem um objetivo terapêutico específico mantendo assim, a organização mental e o estado emocional ajustado para o enfrentamento das dificuldades devido a doença e ao período de hospitalização. O fato de serem atendidos de uma forma afetuosa, humana e diferenciada do cuidado médico e de enfermagem, as famílias, acompanhantes e os próprios pacientes apresentam um estado de satisfação geral pois se sentem apoiados e cercados por um tratamento especializado e personificado o que auxilia na melhoria das relações com a equipe, num melhor entendimento do adoecimento e suas consequências. “O terapeuta deve estabelecer objetivos realistas de tratamento para cada paciente e metas a curto prazo, de modo que as pequenas melhoras possam ser reconhecidas.” (TROMBLY, 1989). Enfim, a utilização das atividades como instrumento terapêutico ocupacional favorece nos pacientes a exteriorização de seus sentimentos melhorando sua auto-estima, auto-confiança, autocontrole, neutralizando em muito as reações de ansiedade, irritabilidade e depressão, estimulando o resgate do sentido da vida. 89 Resumos das Monografias de Conclusão do Curso de Especialização em Enfermagem Clínico-Cirúrgica na Modalidade de Residência 90 91 Revista do Hospital Universitário/UFMA Artigo RODRIGUES, Érika Wilma Luciana Leite Fortes. Diagnósticos de enfermagem em pacientes com lesão medular. UFMA, 2001. [Monografia] Orientadora: Rosilda Silva Dias RESUMO: Trata-se de um estudo de caso que busca identificar os diagnósticos de enfermagem em pacientes com lesão medular, realizado na clínica neuro-ortopédica do Hospital Universitário-UFMA em São Luís-MA, no período de novembro e dezembro de 2000 a janeiro de 2001. O enfoque do estudo teve por referência as Necessidades Humanas Básicas de Wanda de Aguiar Horta e as categorias diagnósticas identificadas tiveram como base a Taxonomia I NANDA (North American Nursing Diagnosis Association) relacionadas com os Padrões de Resposta Humana. Foram identificados 41 diagnósticos de enfermagem e regressivamente nos seguintes Padrões de Resposta Humana(PRH): trocar(29,3%), mover(24,4%), relacionar(12,2%), sentir(12,3%), perceber(12,2%), comunicar(2,4%), valorizar(2,4%) e escolher(2,5%). O trabalho aponta a necessidade de superação de dificuldades com os problemas específicos do paciente tendo base exame físico neurológico pela teorista bem como, informar e orientar a família e os sistemas de apoio comunitários para estimular o paciente a readquirir sua independência a partir de sua capacidade física residual, e o preparo dos enfermeiros para assistir com eficiência e eficácia. Os diagnósticos apontados com maior freqüência foram: risco para infecção, constipação, risco para integridade da pele prejudicada, disfunção sexual, mobilidade física prejudicada, distúrbio no padrão do sono, déficit no auto-cuidado para alimentação,para banho e higiene e para vestir-se e arrumar-se, distúrbio da imagem corporal, distúrbio na auto-estima, desesperança, impotência, ansiedade e medo. VASCONCELOS, Gerusa de Arruda. Estudo bacteriológico de cateteres de duplo lúmen inseridos no setor de hemodiálise. UFMA, 2002. [Monografia] Orientadora: Rosângela Cipriano Monteiro RESUMO: Cateteres duplo-lúmen utilizados em hemodiálise são sítios freqüentes de infecção nosocomial. Foi realizado um estudo bacteriológico, quantitativo e retrospectivo, em cateteres duplo lúmen em paciente submetidos à hemodiálise em um hospital universitário da rede pública. Foram estudados 41 pacientes e 59 cateteres. Dezoito cateteres foram perdidos. Dos 41 cateteres submetidos à análise,18 apresentaram culturas positivas e 23 culturas negativas. Dos 18 cateteres com culturas positivas, um apresentou crescimento de dois tipos de bactérias, os demais apresentaram crescimento de um só tipo. O microorganismo mais freqüente foi o Staphylococcus aureus, seguido do Enterobacter aerogenes. MOREIRA, Gyovanna de Sousa. Dor: estratégias de avaliação utilizadas por médicos e enfermeiros de clínica cirúrgica ortopédica . UFMA, 2002. [Monografia] Orientadora: Dra. Sirliane Paiva RESUMO: Avaliar e mensurar a dor pós-operatória tem sido um grande desafio para os profissionais de saúde. Este trabalho tem por objetivo identificar se os médicos e enfermeiros da clínica cirúrgica orotpédica utilizam instrumentos para avaliação da dor, descrever o significado da dor para esse profissionais e citar os métodos utilizados pelos mesmos. O estudo foi realizado em um Hospital universitário e a amostra foi constituída por sete médicos e nove enfermeiros. A categoria médica definiu dor como sensação desagradável acompanhada de repercussões psicológicas e orgânicas enquanto que os enfermeiros definiram como incômodo para o paciente, algo subjetivo. Observou-se que para quatro médicos e seis enfermeiros a queixa álgica acontece em todos os casos. As categorias estudadas atribuem a queixa de dor no pós operatório ao trauma cirúrgico. Cinco médicos avaliam a dor pós-operatória somente algumas vezes enquanto seis enfermeiros sempre avaliam. Os médicos e enfermeiros avaliam a dor através da informação do paciente. Somente um médico utiliza instrumento utiliza instrumentos de avaliação da dor. Cinco médicos conhecem algum tipo de instrumento de avaliação da dor. Os enfermeiros escolheram como critério de avaliação da dor mais importante a queixa do paciente e os médicos indicaram o tamanho da lesão tecidual. A confirmação da interferência da dor aguda na evolução do paciente foi unânime para as duas categorias sendo que par os médicos é ocasionada pela limitação dos movimentos. 92 Revista do Hospital Universtiário/UFMA, 1(1/2), 95-99, jan - abr / maio - ago, 2003. AGUIAR, Janaína Monteles. Escala de Braden: avaliação dos fatores de risco para úlcera de pressão em pacientes internados em uma Unidade de Terapia Intensiva . UFMA, 2003. [Monografia] Orientadora: Dra. Sirliane Paiva RESUMO: A úlcera de pressão é uma lesão que surge quando a área é suprimida do fornecimento de sangue, o que ocorre por diversas causas. Este é um estudo exploratório e descritivo desenvolvido em uma Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Universitário do Estado do Maranhão, que tem como objetivos avaliar o potencial de risco para desenvolvimento de úlcera de pressão, norteado pela escala de Braden; descrever os fatores de risco e classificar os pacientes conforme o grau de risco de acordo com a pontuação da escala de Braden. A coleta de dados foi realizada através de um instrumento contendo dados de identificação do paciente e a escala de Braden. A amostra constitui-se de 27 pacientes. Após a avaliação dos dados, pôde-se constatar que os pacientes apresentaram moderado e alto risco para o desenvolvimento de úlcera de pressão. SOUSA, Kátia Marques. Diagnósticos de Enfermagem em pacientes submetidos à artroplastia total de quadril. UFMA, 2003. [Monografia] Orientadora: Profª Ms. Santana de Maria Alves de Sousa RESUMO: trata-se de um estudo de caso com o objetivo de identificar diagnósticos de enfermagem em paciente submetido a artroplastia total de quadril, na clinica ortopédica do Hospital Universitário presidente Dutra/São LuísMA, nos meses de julho e julho de 2002. O estudo foi desenvolvido baseando-se nas Necessidades Humanas Básicas (NHB) de Wanda de Aguiar Horta e nos Padrões de Resposta Humana (PRH) da Taxonomia I da NANDA (North American Nursing Diaagnosis Association). Utilizamos como ponto de partida um instrumento que contempla anamnese, exame fisíco geral e ortopético e as NHB. Foram identificados 21 diagnósticos de enfermagem inseridos nos seguintes PRH: TROCAR (38,09%), SENTIR (14,29%), MOVER (14,29%), PERCEBER (9,25%), RELACIONAR (9,52%), VALORIZAR (4,76%), ESCOLHER (4,76%) e COLHER (4,76%). O propósito é de a partir dos dados obtidos propiciar uma assistência organizada e eficiente na prestação de serviços, levando o indivíduo a ser também um agente participante na sua recuperação. SERRA, Raimunda Araújo. Implicações sociais no portador adulto de anemia falciforme. UFMA, 2003. [Monografia] Orientadora: Profª Ms. Santana Maria Alves de Sousa RESUMO: Este trabalho tem por objetivo analisar as implicações sociais e culturas do portador de anemia falciforme através das histórias de vida dos sujeitos pesquisadores. Esses sujeitos foram indicados através do Serviço Social do Centro de Hematlogia e Hemoterapia do Estado do Maranhão (HEMOMAR), sendo um total de quatro, cada história tem um título escolhido pelos narradores e o tom vital que é parte essencial das histórias. As implicações sociais analisadas foram: dificuldades para diagnosticar a patologia, limitações na infância, interrrupção no ciclo escolar, dependência dos serviços públicos, comprometimento dos recursos financeiros, contínuas transfusões, força de trabalho prejudicada. Essas implicações evidenciam a premente necessidade da instituição de programa no Sistema Único de Saúde (SUS) que possibilitem o atendimento integral a essa clientela, bem como profissionais capacitados e sensibilizados para o diagnóstico precoce d anemia falciforme, minimizando os custos sociais para esses portadores. CARVALHO, Maria de Lourdes. A Teoria de OREM do autocuidado aos portadores de insuficiência renal crônica em tratamento de hemodiálise . UFMA, 2003. [Monografia] Orientadora: Profª Ms. Rosilda Silva Dias RESUMO: Abordou-se a teoria do Autocuidado para os portadores de Insuficiência Renal Crônica em tratamento de hemodiálise, no Hospital Universitário Presidente Dutra, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2002, com o objetivo de desenvolve uma proposta de Autocuidado para esses pacientes, elaborando u manual de orientação em Autocuidado, oportunizando-lhes a utilização deste manual. Foi realizado um estudo exploratório descritivo com abordagem quantitativa por meio de observação não sistematizada, tendo como referencial teórico a Teoria do Autocuidado de Dorothea E. Orem. Concluiu-se que os pacientes em tratamento dialítico passam por grandes transformações em seu estilo da vida. No entanto, essas transformações podem ser adaptadas a uma nova realidade a partir da aceitação e adoção das orientações de autocuidado. 93 Revista do Hospital Universitário/UFMA Artigo RODRIGUES, Galbia Nelma Silva. Proposta de sistematização para o cuidado do paciente portador de aneurisma intracraniano. UFMA, 2003. [Monografia] Professora-orientadora: Profª. Dra. Sirliane de Souza Paiva RESUMO: Os objetivos deste trabalho foram: 1– Elaborar sistematizando o cuidado de enfermagem ao portador de aneurisma intracraniano no pré e pós-operatório fundamentado na literatura; 2– Classificar segundo a literatura os problemas de enfermagem a partir das necessidades humanas básicas afetadas em pacientes portadores de aneurisma intracraniano; 3– Propor a implementação de sistematização do cuidado de enfermagem na clinica neurocirúrgica. O estudo foi desenvolvido após o levantamento no SAME para registro das causas que levam a internação dos pacientes na clinica neurocirúrgica do HUPD–UFMA, que prosseguimos com pesquisas referentes ás publicações relativas ao tema e em livros específicos na área de enfermagem. OS objetivos foram alcançados tendo em vista a elaboração do cuidado de enfermagem ao portador de aneurisma intracraniano, com o levantamento dos problemas de enfermagem, as necessidades básicas afetadas e a justificativa conforme recomendação de Wanda Horta. PINHEIRO, Renata Martins Gomes. A experiência do familiar frente à reabilitação do cliente submetido à neurocirurgia. UFMA, 2003. [Monografia] Professora-orientadora: Santana de Maria Alves de Sousa RESUMO: Trata-se de uma investigação sobre a experiência do cuidador principal, frente ao familiar submetido à neurocirurgia no processo de reabilitação. Utilizando a fenomenologia, a pesquisadora busca emergir nos significados do vivenciar do cuidador. A vivência do familiar, cuidador principal, é desvelada através dos depoimentos, relatando as dificuldades, as reações e as atividades desenvolvidas. AMORIM, Nilgicy Maria de Jesus. Conhecimentos dos auxiliares e técnicos de enfermagem sobre calculo de dosagem e administração de medicamentos. UFMA, 2003. [Monografia] Professora-orientadora: Waldney Costa Araújo Wadie RESUMO: Estudo exploratório de caráter quantitativo, envolvendo os auxiliares e técnicos de enfermagem do serviço das Clinicas Medica e Cirúrgica do Hospital Universitário –UFMA em São Luís-MA, no período de janeiro a maio de 2001. Usa-se o referencial teórico de PRADO e GIOVANI. Os objetivos abordam: os conhecimentos teóricos-práticos dos auxiliares e técnicos de enfermagem sobre dosagem e administração dos medicamentos; identificação das prováveis dificuldades enfrentadas por esses profissionais e suas atitudes na resolução dessas dificuldades; observação da Lei dos Exercícios Profissionais, além de propor estratégias teóricos-praticas a partir dos resultados. O procedimento metodológico, após definição do tema e exploração de literatura, constou de questionário com questões abertas e fechadas, com dados relacionados à identificação, tempo de serviço, treinamentos, conhecimento de administração de medicamentos e atitudes éticas. O resultado do trabalho aponta o déficit de conhecimentos dos auxiliares e técnicos de enfermagem em relação à dosagem de medicamentos, a inobservância de aspectos da Lei do Exercícios Profissionais pertinentes ao estudo e falta de cursos de capacitação e treinamentos oferecidos pela instituição para esses profissionais de enfermagem relativos aos aspectos técnicos e éticos do exercício profissional. 94 REVISTA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ÓRGÃO OFICIAL DE DIVULGAÇÃO CIENTIFICA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO NORMAS REDATORIAIS INSTRUÇÕES AOS COLABORADORES A Revista do Hospital Universitário/UFMA órgão oficial do Hospital Universitário é publicada quadrimestralmente, e se propõe à divulgação de artigos concernentes à área da saúde que contribuam para o seu ensino e desenvolvimento. A Revista do Hospital Universitário/UFMA passa a seguir o “Uniform Requeriments for Manuscripts Submitted to Bio Medical Periodical Journals” elaborado pelo “International Committee of Medical Journal Editors” (ICMJE), conhecido como “Convenção de Vancouver”. É utilizada a 5ª Edição de 1997 publicada no New Engl J Med, 1997, 336(4): 309-315. Os originais dos artigos deverão ser entregues no NUPEC - 5º andar HUUPD - Rua Barão de Itapary, 227 - Centro. CEP. 65.020-070, São Luís-MA. Brasil / Tel.: (0**98)219.1084 / e-mail: [email protected] INFORMAÇÕES GERAIS Os artigos apresentados para publicação devem ser inéditos, impressos em computador, espaço duplo, papel branco nos formatos de 210 mm x 297 mm ou A4, em páginas separadas, devidamente numeradas e com margens de 2,5 cm acompanhadas de disquete contendo o respectivo material,digitados no programa Word for Windows 6.0 ou o mais recente, letra arial, tamanho 12. O(s) autor(es) deverá(ao) enviar duas cópias do trabalho (inclusive das ilustrações) ao editor chefe da revista acompanhadas de carta assinada pelo autor e todos os co-autores autorizando a publicação. Se houver dúvida, o autor deverá consultar diretamente o editor chefe. FORMA E ESTILO Os artigos devem ser concisos e redigidos em português no máximo em 15 páginas. As abreviações devem ser limitadas aos termos mencionados repetitivamente,desde que não alterem o entendimento do texto, e devem ser definidas a partir da sua primeira utilização. Cada parte do artigo deve ser impressa em páginas separadas na seguinte ordem: 1) Página de Títulos; 2) Resumo e Descritores; 3) Texto; 4) Abstract e Key Words; 5) Referências; 6) Endereço completo do autor e e-mail, para a correspondência; 7) Ilustrações e legendas; 8) Tabelas; 9) Outras informações. CATEGORIA DOS ARTIGOS Artigo Original: Deve ser constituído de Resumo, Abstract, Introdução, Método, Resultados, Discussão e Referências. Recomenda-se cuidadosa seleção das referências, limitando-se em cerca de vinte permitindo-se um máximo de seis autores. Artigo de Atualização e Revisão: Deve ser publicação de matéria de grande interesse da comunidade científica. O formato é semelhante ao artigo original (Resumo, Abstract, Introdução, Conclusão). Número de autor: dois. Relato de Caso: Deve ser restrito a casos relevantes que necessitem de divulgação científica. Nota Prévia: Observação clínica original, ou descrição de inovações técnicas, apresentadas de maneira breve, não excedendo a quinhentas palavras, cinco referências e duas ilustrações. ORGANIZAÇÃO DOS ARTIGOS A) Página de Título: O título deve ser redigido em português e em inglês. Deve conter o máximo de informação e o mínimo de palavras. Não deve conter fórmulas, abreviações e interrogações. Deve ser acompanhado do(s) nome(s) completo(s) do autor(es) seguido de seus títulos profissionais e do nome da Instituição onde o trabalho foi realizado. Para Artigos Originais admite-se até seis autores e, nos Relatos de Casos e Notas Prévias, apenas três. B) Resumo: Deve conter no máximo duzentos e cinqüenta palavras, em caso de Artigo Original e de Atualização e, cem para Relato de Caso e Nota Prévia. Deve ser informativo, contendo o objetivo, os procedimentos, os resultados com sua significância estatística e as conclusões. Deve ser compreensível, evitando-se informações vagas e que não estejam no texto, para poderem ser utilizadas amplamente deve conter: 1. Objetivo: com o propósito do trabalho 2. Método: descrição do material dos pacientes e do método. 3. Resultados: descrição dos achados principais com dados estatísticos, se possível com significado. 4. Conclusões. C) Descritores: De acordo com a lista do Index Medicus. Podendo ser citados até 3 (Três). D) Abstract: Deverá ser estruturado da seguinte maneira: 1. Background: O propósito do trabalho ou investigação. 2. Methods: Descrição do material e método. 3. Results: Descrição dos achados principais com dados estatísticos, se possível seu significado. 4. Conclusions: 5. Key Words: De acordo com o index Medicus. E) Introdução: Deve indicar o objetivo do trabalho e a hipótese formulada. Informações que situem o problema na literatura e suscitem o interesse do leitor podem ser mencionadas. Devem-se evitar extensas revisões bibliográficas, histórico, bases anatômicas e excesso de nomes de autores. F) Ética: Toda pesquisa que envolve seres humanos e animais deve ter aprovação prévia da Comissão de Ética em Pesquisa, de acordo com as recomendações da Declaração de Helsinki e as Normas Internacionais de Proteção aos Animais e a resolução nº 196/96 do Ministério da Saúde sobre pesquisa 95 envolvendo seres humanos. O artigo deve ser encaminhado juntamente com o parecer do Comité de Ética em Pesquisa (CÉP). G) Métodos:(inclui o item antes denominado pacientes ou material e método): O texto deve ser preciso, mas breve, evitando-se extensas descrições de procedimentos usuais. É necessário identificar precisamente todas as drogas, aparelhos, fios, substâncias químicas, métodos de dosagem, etc., mas não se deve utilizar nomes comerciais, nomes ou iniciais de pacientes, nem seus números de registro no Hospital. A descrição do método deve possibilitar a reprodução dos mesmos por outros autores. H) Resultados: Devem ser apresentados em seqüência lógica no texto, e exclusivamente neste item, de maneira concisa, fazendo, quando necessário, referências apropriadas a tabelas que sintetizem achados experimentais ou figuras que ilustrem pontos importantes. Não fazer comentários nesta sessão reservando-os para o capitulo Discussão. I) Discussão: Deve incluir os principais achados, a validade e o significado do trabalho, correlacionando-o com outras publicações sobre o assunto. Deve ser clara e sucinta evitando-se extensa revisão da literatura, bem como hipóteses e generalizações sem suporte nos dados obtidos no trabalho. Neste item devem ser incluídas as conclusões do trabalho. J) Referências: Devem ser no máximo de 20 e predominantemente de trabalhos publicados nos cinco últimos anos, restringindo-se aos trabalhos referidos no texto, em ordem de citação, numeradas consecutivamente e apresentadas conforme as Normas do Index Medicus. As citações devem ser referidas no texto pelos respectivos números, acima da palavra correspondente sem vírgula e sem parêntese. Observações não publicadas ou referências a “Summaries” de Congressos e comunicações pessoais devem ser citadas no texto, entre parênteses. Ex.: (Attie AD, et al: Hepatology, 1981, I:492, Summary). Mencionar todos os autores, quando até três, citando apenas os três primeiros, seguidas de et al., quando existirem mais de três autores. Exemplos de formas de referências: 1. em Revista: Autor. Título do artigo. Título da Revista. Ano mês dia; volume (número): páginas. Jordan PH, Thonrby J. Twenty years after parietall cell vagotomy antrectomy for treatment of duodenal ulcer. Ann Surg, 1994; 220(3): 283-296. 2. em Livro: Autor. Título. Edição. Local de Publicação: Editora; data da publicação. Bogossian L. Choque séptico: recentes avanços de fisiopatologia e do tratamento. Rio de Janeiro: Atheneu; 1992. 3. em Capitulo de Livro: Autor do capítulo. Título do capítulo. In: Autor do livro. Título do livro. Edição. Local de publicação: Editora; data de publicação. páginas. Barroso FL, Souza JAG. Perfurações pépticas gástricas e duodenais. In Barroso FL, Vieira OM, editores. Abdome agudo não traumático: Novas propostas. 2. ed. Rio de Janeiro: Robe; 1995. p. 201220. 4. em Monografia/Dissertação/Tese. Autor. Título [Dissertação]. Local (Estado): Universidade; Ano. 96 páginas. Chinelli A. Colecistectomia laparoscópica: estudo de 35 casos. [Dissertação]. Niterói(RJ): Universidade Federal Fluminense; 1992. 71 p. 5. em Material eletrônico: A) Artigo: Autor. Título do artigo. Título do periódico [Tipo de material] Ano Mês [capturado ano mês dia]; volume (número); [número de telas] Disponível em: endereço eletrônico. Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg I infect diseases [serial online] 1995 Jan/mar [capturado 1996 jun 5]; 2 (2): [24 telas] Disponível em: http:// www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. B) Arquivo de Computador: Título [tipo de arquivo]. Versão. Local (Estado) Editora; ano. Descrição física. Hemodynamics III: The ups and downs of hemodynamics [computer program]. Version 2.2 Orlando (FL): Computerezid Educational Systems; 1993. C) Monografia em formato eletrônico: Título [tipo de material], Responsável. Editor. Edição. Versão. Local: Editora; ano: CDI, Clinical dermatology illustrated [monograph on CD-ROM]. Reeves JTR, Mailbach H. CMEA Multimedia Group, producers. 2nd ed. Version 2.0. San Diego: CMEA; 1965. Notas: Todas as notas do título, dos autores ou do texto devem ser indicadas por algarismos arábicos, e ser impressas em páginas separadas. TABELAS Devem ser numeradas com algarismos arábicos encabeçadas por suas legendas e explicações dos símbolos no rodapé e digitadas separadamente, uma por pagina. Cite as tabelas no texto em ordem numérica incluindo apenas dados necessários à compreensão de pontos importantes do texto. Os dados apresentados em tabelas não devem ser repetidos em gráficos. A montagem das tabelas deve seguir as Normas de Apresentação Tabular, estabelecidas pelo Conselho Nacional de Estatísticas (Rev. Bras. Est., 24: 42-60, 1963. As tabelas deverão ser elaboradas no programa Microsoft Word. ILUSTRAÇÕES São fotografias, gráficos, desenhos, etc., que não devem ser escaneadas e de preferência em preto e branco, medindo 127 mmx178mm. As ilustrações, em branco e preto serão reproduzidas sem ônus para o(s) autor(es), mas lembramos que devido o seu alto custo para a Revista, devem ser limitadas a seis (6) para artigos originais e três (3) para relatos de casos, e utilizadas quando estritamente necessárias. Todas as figuras devem ser referidas no texto, sendo numeradas consecutivamente por algarismo arábico. Cada figura deve ser acompanhada de uma legenda que a torne inteligível sem referencia ao texto. Deve ser identificada no verso, através de uma etiqueta, com o nome do autor, número e orientação da mesma. Os desenhos e gráficos podem ser feitos em papel vegetal com tinta nanquim, sendo as letras desenhadas com normógrafo ou sob forma de letra “set” montadas, ou ainda, utilizando impressora jato de tinta ou laser, com boa qualidade, e nunca manuscritas.