A INSERÇÃO DA PAUTA LGBT ATRAVÉS DO MOVIMENTO ESTUDANTIL NA UESB. Adriano Cardim1 Agnes Prates2 Introdução O movimento LGBT 3 ganhou dimensão e deu visibilidade à luta por políticas públicas e pela inscrição de direitos que contemplem essa população. Suas ações são focadas no combate à violência, ao fazer denuncias, por meio das Paradas Gays e na atuação, na via institucional, para que o Estado crie medidas de enfrentamento às situações de indignidade sofridas por não heterossexuais. Isso evidencia o caráter nacional do debate sobre a homofobia e as reivindicações de direitos no campo da diversidade sexual. (MARINHO e SANTOS, 2012). Nesse artigo, partimos do pressuposto de que, como um dos avanços dessa luta, via Movimento Social organizado, observa-se nos últimos anos, aos poucos, a Universidade tem dado mais atenção a essas questões, sendo a discussão em torno dos Direitos Humanos um viés encontrado para socializar um debate que ainda tem custado caro à sociedade de modo geral4. Na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)5, campus de Vitória da Conquista/BA, a situação de risco a qual estão submetidos os homossexuais tem sido abordada pelo Movimento Estudantil, através das entidades representativas dos estudantes, e também por meio das discussões do grupo de Pesquisa em Diversidade Sexual6. 1 Estudante de Graduação em Geografia/Uesb, membro do Grupo de Pesquisa Urbanização e Produção de Cidades na Bahia/Bolsista CNPq. E-mail: [email protected]. 2 Estudante de Graduação em Direito/Uesb, membro do Grupo de Pesquisa em Diversidade Sexual da UESB. E-mail: [email protected]. 3 A sigla LGBT significa Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros. 4 “As denúncias do movimento LGBT constatam que os dados da violência contra homens e mulheres homossexuais são alarmantes, revelando, nos últimos anos, assassinatos de centenas de gays, travestis e lésbicas no país.” (MARINHO e SANTOS, 2012, p. 03). 5 Autarquia instituída pela Lei Delegada n.º 12, de 30 de dezembro de 1980. 6 Grupo de pesquisa vinculado ao Departamento de Filosofia e Ciências Humanas, coordenado pelo Professor Doutor João Diógenes Ferreira dos Santos. Por ser fruto da organização dos discentes em torno das questões de classe7, o Movimento Estudantil vincula-se à luta das ditas minorias por melhores condições de vida. Entre os anos de 1964 e 1968, participou diretamente da luta contra a ditadura militar no Brasil e foi um dos responsáveis pela abertura democrática no país (GONH, 1997). Na UESB, há um histórico de atuação dos estudantes, tanto no que tange as necessidades mais imediatas da classe estudantil (infraestrutura dos cursos, demandas de moradia, alimentação etc.), quanto no envolvimento em debates acerca das questões de ordem mais estrutural que são reflexo da forma de organização da economia mundial. Atualmente novas questões estão postas e se apresentam como limites para a organização dos estudantes, o que, concomitantemente vem acompanhado do aprofundamento de uma realidade de pouco engajamento dessa categoria em torno das causas sociais. Nessa pesquisa, nos debruçaremos sobre uma preocupação que surgiu a pouco tempo na realidade da Universidade com um todo, bem como, no âmbito da organização da categoria dos discentes. Para tanto, além da vivência8 nos espaços de organização dos discentes (reuniões, atos e o cotidiano da Universidade), entrevistamos sujeitos (militantes do Movimento Estudantil da UESB e da causa LGBT), realizamos discussões teóricas no Grupo de Pesquisa em Diversidade Sexual da UESB e por fim, pesquisa documental no Diretório Central dos Estudantes (DCE) da referida Universidade. O artigo 5º, inciso XLI, da Constituição Federal de 1988 do Brasil versa sobre os direitos e garantias fundamentais dos indivíduos afirmando que “qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdade fundamentais” é passível de punição e, sendo a sexualidade entendida como um direito fundamental, discutir essa questão está à ordem do dia num contexto em que as práticas homossexuais, no plano do concreto, não são respeitadas na sociedade capitalista. 7 8 Parte-se da discussão levantada por Marinho e Santos (2012), acerca da relação precípua entre classe, gênero, etnia e orientação sexual. Por vivências compreendemos aqui o processo de contato direto com o contexto da organização e luta dos movimentos sociais, de modo geral, contra as políticas hegemônicas empreendidas pelo Estado capitalista. Diversidade sexual, Direitos Humanos e Universidade Conforme alerta Torres (2010, p. 09), a ideia de diversidade propõe a existência de distintas demonstrações sexuais, a demanda de direitos para os sujeitos que expressam essas diferenças e o reconhecimento das sexualidades quando há uma abertura no plano fático, no cotidiano. Podemos compreender dessa forma que há um estranhamento em relação às variações sexuais, “pois mostram a sexualidade humana como algo mutável, inclusive no âmbito das práticas sexuais, contrariando alguns dos nossos saberes estabelecidos”. A primeira semente de uma organização que se debruçou sobre pensar a condição de sujeitos não heterossexuais no Brasil, segundo Okita H. (2007, p. 15), se deu no ano de 1977 quando os Universitários em São Paulo saíram as ruas gritando por liberdades democráticas. Convém ressaltar que esse foi um contexto marcado por respostas da classe trabalhadora aos ataques sofridos em decorrência das políticas empreendidas no Brasil pelos governos ditatoriais. Imbuídos por esse movimento de questionar e ir de encontro ao status quo, entram em cena os grupos feministas, o movimento negro e pequenos agrupamentos de sujeitos não heterossexuais, que em meio a um contexto turbulento9 ”[...] colocavam em discussão o problema da sua sexualidade e das restrições impostas aos homossexuais.” (OKITA, 2007 p. 15-16). O ano de 1980, sem dúvida se constituiu como um marco: aconteceu o I Encontro Brasileiro de Grupos homossexuais Organizados e um ato público contra a atuação repressiva da polícia, o que transformou o13 de junho no Dia Nacional da Luta Homossexual. (OKITA, 2007, p. 16). Naquele contexto de redemocratização do Brasil, os esforços empreendidos para a construção da Constituição, que seria promulgada em 1988, apelidada de “Constituição-cidadã”, refletiram uma tendência internacional mais ligada ao ocidente, de incorporar ao campo das relações sociais os direitos inerentes à condição humana 10 (PIOVESAN, 2010). 9 Sobre essa questão, Okita (2007, p. 18) afirma que o movimento homossexual no contexto pontuado se encontra prensado de um lado, “pela esquerda ortodoxa [...] que ridicularizava o movimento” e, por outro, pelos grupos homossexuais que não partilhavam da luta unificada com os outros segmentos da sociedade que eram excluídos. 10 Condição humana refere-se aqui ao fato de o Homem (ser social) considerado como o animal humano, dotado de racionalidade de modo a ser chamado de pessoa. Segundo Julian Rodrigues (2011, p. 25), essa é uma preocupação que se concretizou com a publicação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que surgiu em resposta a barbárie vivenciada na II Guerra Mundial. “A declaração de 1948 foi um mecanismo para estabelecer as condições mínimas de respeito a cada ser humano, em qualquer tempo e lugar” (RODRIGUES, p. 25). Paulo R. I. Vecchiatti (2011, p. 199) coloca que “o principio da dignidade da pessoa humana significa que todas as pessoas merecem tratamento igualmente digno pelo simples fato de serem pessoas humanas”, ou seja, há direitos que são intrínsecos ao ser humano, independente da condição a qual o sujeito de direito está submetido. Convém ressaltar, ainda com base em Paulo R. I. Vecchiatti (2011, p. 199), que os direitos humanos não possuem limites fixamente delimitados, eles funcionam, sobretudo, como uma “fórmula genérica apta a apurar violações da dignidade da pessoa humana nos casos concretos”. Os direitos pleiteados pelo Movimento LGBT são Direito Humanos (RODRIGUES, 2011, p. 26). Nessa mesma linha de pensamento Paulo R. I. Vecchiatti (2011) expõe, com base em Roger Raupp Rios11: Ventilar-se a possibilidade de desrespeito ou prejuízo a um ser humano em função de sua orientação sexual, significa dispensar tratamento indigno a um ser humano. Não se pode, simplesmente, ignorar a condição pessoal do indivíduo (na qual, sem sombra de dúvida, inclui-se a orientação sexual), como se tal aspecto não tivesse relação com a dignidade humana. (VECCHIATTI, 2011, p. 204). Rodrigues coloca um elemento importante para essa reflexão aqui elaborada: Embora a Declaração Universal dos Direitos Humanos e todos os seus desdobramentos posteriores, articulados no âmbito do direito internacional, sempre houvessem proclamado que nenhuma forma de discriminação é aceitável, a questão das ditas minorias sexuais não estavam nem ao menos esboçada. (RODRIGUES, 2011, p. 27) Ou seja, dar visibilidade a questão das discussões em torno da igualdade entre as pessoas de diferentes orientações sexuais é uma pauta que urge para garantir o pleno exercício e gozo de direitos dessas pessoas, inserindo-as de forma prática na 11 Autor do livro “A homossexualidade no direito” (2001). condição de cidadãose, desse modo, também contribuindo para o debate em torno dos direitos humanos no Brasil. Nesse sentido, é por isso mesmo que os espaços educacionais não devem ser compreendidos como “um castelo de mármore, isolado das redes societárias” (MARINHO e SANTOS, 2012, p. 05). Neles há a reorganização e reelaboração do fenômeno da homofobia, bem como da heteronormatividade, enquanto ideologia que consubstancia esse tipo de violência. Isso remonta a urgência de inserir a reflexão acerca dos Direitos Humanos no ambiente da educação formal, vez que o pleito por direitos no campo jurídico e legislativo não prescinde da reformulação da concepção sobre a sexualidade no cotidiano escolar e acadêmico. Daniel Borrillo (2010, p. 13), na introdução de seu livro, conceitua homofobia como “[...] atitude de hostilidade contra as/os homossexuais; portanto, homens ou mulheres”. Mais a frente o Autor alega ainda que No âmago desse tratamento discriminatório, a homofobia desempenha um papel importante na medida em que ela é uma forma de inferiorização, consequência direta da hierarquização das sexualidades, além de conferir um status superior à heterossexualidade, situando-a no plano do natural, do que é evidente. (BORRILLO, 2010, p. 15) Essa hierarquização é consequência direta da heteronormatividade e atinge graus extremos, ao constituir-se “[...] como um fenômeno social complexo e variado que pode se manifestar em uma simples piada ou até mesmo na morte matada” (MARINHO e SANTOS, 2012, p. 05). No decorrer do texto (p. 07-08), os Autores, ao estudarem a violência no espaço escolar, nos dão uma definição clara do que vem a ser o padrão heteronormativo: Há um modelo societário em que o “normal” é ser homem, branco, heterossexual, ocidental, oriundo das classes dominantes, provedor, viril e forte. Pode-se, então, afirmar que esse homem é considerado superior, que se encontra no cume da cadeia hierárquica, e, por sua vez, domina. (MARINHO e SANTOS, 2012, p. 06-07) Outrossim, concluímos que “a homofobia torna-se [...] a guardiã das fronteiras tanto sexuais (hetero/ homo) quanto de gênero (masculino / feminino)” (BORRILLO, 2010, p.16). Em tese, a Universidade brasileira reflete a forma de organização da sociedade, com todas as suas contradições: do mesmo modo que a homofobia e a heteronormatividade são reproduzidas nesses espaços, também a luta pelo reconhecimento dos direitos e pelo fim dessas opressões, paulatinamente, são aí inseridos. Prova disso é que, na UESB, por exemplo, desde o ano de 2011 há um Grupo de Pesquisa que se debruça sobre essa questão, tido como vanguarda no que tange a essa temática nessa Universidade. Além desse grupo, outras iniciativas, embora ainda insipientes, aparecem. Como é o caso do Congresso Nacional Diversidade, ética e Direitos Humanos, realizado desde o ano de 2010. Pontuamos também a realização do Seminário do Dia Mundial de Luta contra a Homofobia12 que, no ano de 2012 chega a sua quarta edição13. Esses esforços constituem as perspectivas da Universidade no sentido de prover uma educação que efetivamente forme cidadãos voltados para um fazer social outro. Esse papel da educação também está contemplado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9394/1996) quando essa estabelece em seus dispositivos art. 27, I14 e art. 43, I e VI15 princípios a serem almejados no âmbito da educação formal. Mas, assim como os Direitos humanos e os demais preceitos constitucionais, tais dispositivos da LDB são de conteúdo garantista e a despeito disso, ainda não gozam de concreta efetividade no Brasil. Movimento Estudantil da UESB e visibilidade à pauta LGBT O movimento estudantil organizado em torno de uma entidade que representa todos os estudantes da UESB, tem como marco inicial o ano de 1994 quando aconteceu o congresso de fundação do Diretório Central dos Estudantes, conforme cartaz de convocação para o referido evento16. Desde então, há registros da atuação do Movimento Estudantil em torno das demandas da categoria, o que o coloca como sujeito na constante construção da Universidade. 12 O seminário é organizado pelo Grupo LGBT SOL, da cidade de Jequié/BA. Os eventos citados foram e são organizados com o apoio da Pró-reitoria de Extensão (PROEX) da UESB. 14 Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes: I – a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática (BRASIL, 1996, p. 25). 15 Art. 43. A educação superior tem por finalidade: I – estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; VI – estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade (BRASIL, 1996, p. 35). 16 Todas as afirmações históricas pontuadas aqui podem ser confirmadas no arquivo do DCE/UESB, campus de Vitória da Conquista. 13 Em seu histórico de atuações destacamos o envolvimento direto com as questões políticas da Universidade através de diversas ações: realização de eventos acadêmicos e lúdico/festivos, participação ativa em boa parte das eleições para Reitoria, apoio às greves docentes, luta pela melhoria do transporte coletivo, pela Residência Universitária17 e por uma Política de Permanência Estudantil18. Desde o ano de 2011, quando o DCE se reorganizou após um hiato de três anos, a partir da campanha eleitoral de uma das chapas que pleiteou a gestão da referida entidade, a pauta LGBT vem sendo levantada no âmbito do Movimento Estudantil da UESB (campus de Vitória da Conquista). Essa luta aparece em diversos momentos: todas as campanhas eleitorais trouxeram essa questão explicita, via material de campanha de uma das chapas concorrentes19; nas calouradas unificadas20, via cartilhasdo-calouro e espaços de debate. Como destaque pontuamos o manifesto “por uma UESB de consciência multicolorida21” que, como expõe um dos entrevistados, “foi uma alternativa para colocar essa a pauta dos diversos Movimentos (Feminista, de Negros e de Homossexuais) de forma mais tênue para uma categoria que, como todas as outras [categorias] da universidade, é conservadora”. Ao dar visibilidade à pauta LGBT, o Movimento Estudantil contribui para a inserção de um debate que deveria estar mais presente no fazer pedagógico no âmbito da educação institucional como um todo e, que se constitui como o principal responsável por defender a diversidade sexual dentro da Universidade. A maneira como a Instituição (UESB) lida com debate em torno da Homofobia e seus desdobramentos revela que, quando a Universidade não é omissa, é 17 No ano de 2003, iniciou-se uma ocupação em uma edificação da Universidade, que duraria cerca de quatro anos, e conforme um ex-coordenador do DCE, foi a mais duradoura ocupação de um prédio público no país. 18 Essa luta culminou na criação, através da resolução nº 11/2008 do Conselho Superior Universitário, do Programa de assistência estudantil no âmbito da UESB. 19 O material de campanha da Chapa “Nada será como antes”, no ano de 2011, trazia em uma de suas consígneas o seguinte: “Contra toda e qualquer forma de opressão: o machismo, o racismo e a homofobia”. 20 Espaço de recepção e integração dos recém ingressos na Universidade com a comunidade acadêmica. Esse momento já constitui-se como um primeiro contato do “calouro” com as pautas do Movimento estudantil. 21 O referido manifesto, além de se fazer presente em formato de texto na “cartilha do calouro” 2011.2, apareceu em adesivos que foram distribuídos na Universidade. reprodutora da ideologia sexista22: Alguns entrevistados revelaram casos de homofobia em que os agressores eram funcionários, professores e colegas da Universidade23. Nesse contexto, o Movimento Estudantil tem se constituído como um ponto de acolhimento da população LGBT dentro da Universidade. Esse é um apoio que está gravado nas paredes da sede do DCE através de frases, tais como: “aqui não rola 24 homofobia”, ou então “sou travesti e mereço respeito”. A Coordenadora Geral da atual Gestão “Enquanto eu puder cantar” 2012/2013 do DCE, quando questionada sobre a inserção, o tratamento e as perspectivas da pauta LGBT no Movimento Estudantil afirmou: Pensamos na inserção dessa pauta desde o nosso primeiro evento enquanto DCE, por considerarmos de suma importância essa discussão com a “estudantada”. Essa importância não se dá apenas pelo fato de já haver muito preconceito em relação aos homossexuais, mas também pelo fato de vermos essa pauta como um modo de conscientização dentro da Universidade. Se os que saem daqui se tornarão formadores de opinião, nada mais justo do que eles saírem entendendo os diversos modos de opressões que existem na sociedade e sabendo como combatê-las em suas raízes. Fica evidente que a pauta LGBT,desse modo, desponta como uma demandaidentificada pelos militantes das entidades representativas, tanto pela necessidade de lutar por direitos ainda negados, quanto pelo entendimento de que a Academia deve possuir caráter crítico e questionador. Entretanto, os esforços do Movimento Estudantil esbarram nos limites impostos pela própria Instituição que,além de não tocar o debate, ainda dificulta a iniciativa dos militantes ao impor sobre esses uma lógica de não engajamento político.A lógica produtivista que norteia a organização da Universidade brasileira, no atual contexto,constitui-se como um óbice ao exercício da militância estudantil, que engloba, dentre outras questões, a pauta do Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros. 22 Segundo Borrillo (2010), sexismo é a ideia de que homens heterossexuais, de cor branca, membro das classes abastadas estão no “topo da cadeia hierárquica” das sexualidades. 23 Um dos militantes do Movimento Estudantil da UESB relatou em entrevista que comentários triviais de conteúdo discriminatório (“que viadagem!”, “coisa de viado”, “tu (você) é viado?” etc.) fazem parte do seu cotidiano no ambiente acadêmico, outro relata que, em uma das pichações espalhadas pela Universidade, representando dois sujeitos do sexo masculino (concepção biológica) beijando-se, alguém do comunidade interagiu com a figura manchando-a, numa demonstração de repúdio ao signo. 24 Termo usado para dizer que não acontece, ou não é cabível o fenômeno apontado na frase. Considerações finais Inserir a discussão dos diversos movimentos específicos (de gênero, sexualidade, a questão racial etc.) tem apontado luzes e, na UESB, se configurado como um espectro de reorganização da categoria dos estudantes. Estes se aproximam dos conflitos existentes nessa sociedade eivada de contradições e injustiças. A elaboração de material didático e a realização de encontros para debater a discriminação por orientação sexual e a construção social das sexualidades (identidades, sexos, corpos e condutas) colocam a questão da diversidade como algo intrínseco às expressões humanas. Reorganiza-se assim, um organismo político que se propõe a atuar no cotidiano da Universidade na defesa de novas diretrizes que contemplem indicações contidas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, e que, via de regra, permanecem negligenciadas pela comunidade acadêmica. Ao fazê-lo, pretende-se expandir o potencial da Universidade enquanto lugar de desenvolvimento das expressões sexuais de sujeitos que, sobretudo noutros locais, não possuem a segurança e a liberdade para viverem seus desejos. Referências BAHIA. UESB. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Resolução nº 11 do dia 17 de dezembro de 2008. Dispõe sobre o estabelecimento do Programa de Assistência Estudantil no âmbito da UESB e dá outras providências. Resolução CONSU nº 11/2008. Vitória da Conquista, 2008. Disponível em: http://www.uesb.br. Acesso em 06/11/2012. BORRILLO, Daniel. Homofobia: história e crítica de um preconceito.Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. BRASIL. [Lei Darcy Ribeiro (1996)]. LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. – 5. ed. – Brasília : Câmara dos Deputados, Coordenação Edições Câmara, 2010. ______, Constituição (1988). 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