sua escola | relacionamento sua escola | aprendizagem A engenhosa arte de criar vínculos de confiança Reprovação Escolar Desenvolver vínculos de confiança é um trabalho que requer constante aperfeiçoamento do ofício de educar na escola Como lidar com alunos repetentes por ‹diocsianne moura› 14 abril 2009 . tomar consciência não haverá mudança e a reprovação poderá acontecer”, complementa. Perfil Alunos repetentes, em geral, participam pouco do cotidiano da escola, não prestam atenção em sala de aula, não cumprem com as obrigações escolares, não possuem uma rotina de estudo e, muitas vezes, não tem um acompanhamento sistemático da família, baseado no diálogo e no comprometimento com a escola. Segundo Leonir, a participação dos pais em toda a trajetória da vida escolar dos alunos é fundamental e não deve se resumir a casos de repetência. “À medida que a criança avança na escolarização, os pais deixam de acompanhar os seus filhos e quando percebem perderam o controle sobre a educação deles”, lamenta. É necessário que a escola fique atenta a outra questão: alunos repentes que sofreram a reprovação por conta de alguma dificuldade de aprendizagem. “Temos alunos que possuem dificuldades de aprendizagem, que precisam ser identificadas pela escola e trabalhadas por uma equipe multidisciplinar, requerendo outras demandas da escola em relação ao processo de ensino e da avaliação”, salienta Leonir. A escola pode identificar quando há a necessidade de buscar apoio em serviços especializados como médicos e psicólogos para auxiliar no diagnóstico dos problemas de aprendizagem. “Muitas vezes escola e família não conseguem, isoladamente, resolver os problemas de aprendizagem dos alunos, requerendo o acompanhamento de equipes multidisciplinares”, diz. Se o aluno repetente demonstra desinteresse, as abordagens são diferenciadas. A escola e os professores devem analisar se a forma como os professores estão ensinando, e se os instrumentos que estão sendo utilizados nas avaliações são os mais condizentes na atualidade. “É necessário trabalhar com o aluno e com a sua família, objetivando identificar quais lacunas não foram contempladas e que contribuíram para o fraco desempenho escolar”, explica Leonir. “Também é importante que a escola oriente os alunos e as famílias a estabelecer uma rotina de estudos que inclua um tempo para o aluno interagir com as diferentes mídias, um período para as atividades físicas e culturais, mas que, essencialmente, tenha um espaço exclusivo e intenso para o estudo”, orienta. por ‹melissa castellano› © ilustrações: thais beltrame O ano letivo começou e alguns alunos estarão na mesma escola, com os mesmos professores, o mesmo conteúdo e com colegas de outra idade. Conhecido do estudante que sofreu repetência, esse cenário promete dar trabalho a professores, coordenadores e familiares. Todos deverão estar preparados para lidar com a reprovação e tudo que ela agrega: o preconceito dos colegas, a falta de ânimo e as dificuldades de aprendizagem dos alunos repetentes. Para o doutor em Educação e Tecnologia e coordenador regional pedagógico da Editora Positivo, Leonir Lorenzetti, a escola e os pais precisam saber lidar com a reprovação e, nesse cenário, o diálogo deve balizar tanto a educação escolar quanto a educação familiar. É importante conversar abertamente com o aluno e expor a sua situação, bem como as implicações que as suas atitudes, em relação aos estudos, podem afetar a sua vida estudantil. “É fundamental pontuar com o aluno reprovado quais foram os motivos que o levaram à reprovação, conscientizando-o e sinalizando para necessidade de mudança de comportamento”, afirma. “Ele precisa ser conscientizado da necessidade de mudança. Enquanto ele não “Confiança: segurança íntima de credenciamento. Crédito, fé.” A definição é clara e a sua existência entre professores e alunos, imperativa. Afinal, não há relação que se sustente ou aprendizado efetivo que se desenvolva sem sua presença. O encontro entre professor e aluno depende da qualidade da relação. É um encontro focado no ensino e na aprendizagem e, como toda relação, tem dois polos e depende de ambos. No entanto, cabe ao professor, como mediador dessa relação, a responsabilidade última pela qualidade das aprendizagens e, por conseguinte, pela busca de vínculos com seus alunos. Desenvolver vínculos de confiança em sala de aula – nessa configuração de mundo em que é necessário confrontar novas e diferentes orientações a todo instante – é um trabalho que requer constante aperfeiçoamento do ofício de educar na escola. “Nos dias de hoje, o aluno chega à escola com informações, conhecimentos e orientações das mais variadas fontes: família, escola, televisão, internet, igreja, círculos de amizades, entre outros. Quando o professor entra em sala de aula omitindo ou negando essa realidade e suas consequências no comportamento do aluno, ele está de olhos fechados para este novo sujeito histórico. Sem valorização, sem identificação e sem diálogo não há possibilidades de construir vínculos de confiança”, alerta Maria Beatriz Sandoval, pedagoga, mestre em educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e assessora pedagógica da Editora Positivo. Para ganhar a confiança dos alunos, destaca Maria Beatriz, é fundamental também que o professor domine os conteúdos da sua área de atuação. Mas isso apenas não basta. É necessário ainda que esse profissional desenvolva novas formas de mediar a aprendizagem do aluno, como as abordagens metodológicas interativas que possibilitam a ele a construção de sentidos desses conteúdos. “Para que os temas de estudos façam sentido para o aluno, precisam estar articulados aos seus interesses e vivências. Essa relação gera entendimento entre ambos; portanto, também possibilita a criação de vínculos de confiança”, explica. Diferentes tipos de vínculos O professor mediador, aberto ao diálogo e preparado para argumentar com o aluno crítico, inquiridor e reivindicador, dificilmente incorre na permissividade. Ele reconhece e valoriza os saberes dos seus alunos, mas não abdica de sua responsabilidade e autoridade como profissional da área. “O professor, além do intelectual, é um profissinal da relação, sabe escutar e está pronto para ser surpreendido pelo que o aluno diz”, salienta Maria Beatriz, reforçando que vínculos de confiança são construídos quando o aluno percebe e acredita que os educadores da sua escola estão explicitamente envolvidos e comprometidos com a sua formação. Como reconstruir a autoridade sem autoritarismo? A escola e sua equipe docente podem adotar medidas democráticas na construção de regras e tomada de decisões, como: a instituição de conselho de classe participativo, conselhos de sala, conselhos escolares, grêmios e associações. Em sala de aula, os professores negociadores e com vasto repertório metodológico são os que obtêm maior sucesso na disciplina de seus alunos. . abril 2009 15