CIÊNCIA EQUATORIAL Artigo Original ISSN 2179-9563 Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 ANALISE PRELIMINAR QUALITATIVA FITOQUÍMICA E DO POTENCIAL ANTIMICROBIANO DO EXTRATO BRUTO HIDROALCOÓLICO DE CASCA DE Bertholletia excelsa HUMB. & BOMPLE (LECYTHIDACEAE) FRENTE A MICRORGANISMOS GRAM-POSITIVO Anderson Luiz Pena da Costa 1; Marília Bastos Campos2; Larissa Paula Jardim de Lima Barbosa3; Roberto Messias Bezerra4; Flávio Henrique Ferreira Barbosa5 RESUMO Este trabalho teve como objetivo realizar a pesquisa fitoquímica das classes de metabolitos secundários presentes no extrato bruto hidroalcoólico de casca de Bertholletia excelsa, assim como analisar pelo método de difusão em disco se há atividade antimicrobiana no extrato bruto, sendo detectados nele a presença de ácidos orgânicos, açucares redutores, fenóis e taninos, heterosídeos antociânicos, depsídeos e depsidonas. Havendo significante atividade antimicrobiana, na qual dos microrganismos testados, o mais susceptível ao extrato foi o Staphylococcus aureus ATCC 6538, seguido pelo Enterococcus faecalis ATCC 29212, sendo o menos susceptível o Staphylococcus epidermidis ATCC 12228. Palavras-chave: Bertholletia excelsa, Análise fitoquímica, Antimicrobiano. PRELIMINARY PHYTOCHEMICAL AND QUALITATIVE ANALYSIS OF ANTIMICROBIAL ACTIVITY OF BARK HYDROALCOHOLIC TINCTURE OF Bertholletia excelsa HUMB. & BOMPLE (LECYTIDACEAE) AGAINST TO GRAM-POSITIVE MICROORGANISMS ABSTRACT This study aimed to search phytochemical classes of secondary metabolites present in the hydroalcoholic extract of Bertholletia excelsa bark, as addressed by the disk diffusion method is the existence of antimicrobial activity. Being detected in hydroalcoholic the presence of organic acids, reducing sugars, phenols and tannins, antocianic heterosides, and depsides depsidones. And having significant antimicrobial activity, in which the microorganisms tested, the extract was more susceptible Staphylococcus aureus ATCC 6538, followed by Enterococcus faecalis ATCC 29212 being less susceptible Staphylococcus epidermidis ATCC 12228. Keywords: Bertholletia excelsa, Phytochemistry analysis, Antimicrobial. INTRODUÇÃO O desenvolvimento de fármacos eficientes no combate a infecções bacterianas revolucionou o tratamento medico, ocasionando em uma redução significativa das taxas de morbidade e mortalidade, permitindo grandes progressos na medicina. Entretanto o mau uso desses fármacos leva ao aparecimento de bactérias resistentes, que acumulam se e disseminam se, aumentando as complicações clínicas e o tempo de estadia hospitalar e custos, impondo grandes limitações às opções para o tratamento de infecções bacterianas (CM., MS., 2004). Representando uma grande ameaça a saúde pública, pois atualmente a questão das bactérias multirresistentes é crescente em todo o mundo, sendo esta resistência observada desde a introdução dos antibióticos de uso clínico, na qual as bactérias têm desenvolvido meios de proteção através de diferentes mecanismos de resistência (UENE, M.; JORGE, A.O.C., 2002). Podendo essa proliferar se rapidamente através de transferência genética, afetando outros microrganismos, principalmente bactérias gram positivas como Enterococcus spp, Staphylococcus spp e Streptococcus spp (SILVEIRA, G.P.; NOME, F.; GESSER, J.C.; SÁ, M.M.; TERENZI, H., 2006). Sendo a pesquisa e desenvolvimento de novos antimicrobianos um processo lento e muitas vezes sem resultado garantido. Porém uma das formas mais antigas de pratica medicinal da humanidade é o uso de extratos vegetais, na qual a comunidade cientifica vem direcionando esforços a estudos de atividades biológicas de diversas plantas medicinais, devido à descoberta de substâncias ativas, que, seja em seu estado natural ou após sofrem processos de transformação química, apresentam interessantes atividades biológicas, que muitas vezes já são confirmadas por meio do uso popular e comprovadas cientificamente posteriormente (FERREIRA, F.S.; SANTOS, S.C.; BARROS, T.F.; ROSSI-ALVA, J.C.; FERNANDES, L.G, 2011) na qual as Ciência Equatorial, Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 espécies vegetais para o uso medicinal possuem não só importância biológica, mas também cultural, onde não só as populações tradicionais utilizam esses vegetais como recurso terapêutico, mas também as populações urbanas, sendo essas plantas comercializadas em feiras livres, mercados populares e ou cultivadas em fundo de quintal. Representando para o Brasil, um país com uma grande extensão territorial que abriga uma variedade enorme de biomas e ecossistemas com muitas peculiaridades, a pesquisa de tal natureza essencial, devido ao grande potencial genético e também para o desenvolvimento de novas drogas, assim como fonte de recursos financeiros, através da sua comercialização para o resgate e fortalecimento da identidade cultural e como acesso primário à saúde de muitas comunidades (FERREIRA et al, 2011; DA SILVA, 2006; COUTINHO, 2004). Com a finalidade de pesquisar novas substâncias com atividade antimicrobiana, nesta pesquisa foram utilizadas cascas do fuste da Bertholletia excelsa, que é um membro de grande porte da família Lecythidaceae, que ocorre nos Estados brasileiros do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Roraima, e Rondônia, assim como em boa parte do Maranhão, Tocantins e do Mato Grosso e parte da Amazônia internacional. No que se refere à produção de frutos, a castanheira do brasil tem grande importância social na região amazônica, já que a quase totalidade da produção é exportada, tendo como principais consumidores os Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra, enquanto que o mercado doméstico é um percentual muito pequeno do mercado consumidor total influenciado pelos preços internacionais e níveis de renda local. (FELBERG, I., et al, 2004; DIAS, J.S.A.; PINTO, P.V.S.; COSTA, A.L.P.; RODRIGUES, W.C.; RAMOS, R.S. 2011). Possui um grande valor nutricional, devido ao alto teor de ácidos graxos insaturados, monoinsaturados e polinsaturados. Representando também uma fonte de proteínas e aminoácidos, principalmente os sulfurados (aminoácidos Página 27 essenciais) como a metionina que apresenta uma concentração alta na castanha do Brasil, assim como vitaminas e minerais, não sendo encontradas concentrações significativas de carboidratos (FELBERG, I., et al, 2004). Sendo a parte botânica analisada portadora de um grande potencial antimicrobiano que precisa ser analisado mais amplamente. MATERIAL E MÉTODOS Preparo do Extrato O extrato hidroalcoólico de casca de Bertholletia excelsa foi cedido pelo laboratório de Absorção Atômica e Bioprospecção da Universidade Federal do Amapá, já preparado, macerado em etanol e filtrado. Sendo a metodologia utilizada pelo laboratório a mesma utilizada por Gonçalves (2007): Inicialmente foi feita a triagem das cascas que foram utilizadas para preparar o extrato, que foram limpas com água destilada estérea e depois desidratadas em estufa a 50°C até obter se uma umidade padrão de 20%, procedendo com a trituração e em seguida maceração do material que foi misturado a um volume de 1000 mL de etanol (C2H5OH) 70% em uma titulação de 20% (p/v), sendo esta solução estocada à temperatura ambiente por 25 dias e depois filtrada, e então a partir dela o extrato bruto foi produzido, com a utilização do rota evaporador a 50°C, que eliminou o solvente e concentrou o extrato utilizado no screening fitoquímico e nas analises antimicrobianas armazenado em frascos âmbar em geladeira à aproximadamente 10°C até que se iniciassem os ensaios seguintes Pesquisa de Metabolitos Secundários A metodologia utilizada na pesquisa de metabolitos secundários seguiu o protocolo proposto por Barbosa et al (2001) e a metodologia adotada por Carvalho et al (2008). Ácidos Organicos Ciência Equatorial, Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 Para a detecção de ácidos orgânicos, dissolveu se alguns miligramas do extrato seco em 5 mL de água destilada e em seguida filtrou se a solução. Sendo adicionado ao filtrado 2 mL do reativo de Fehling A e gotas do reativo de Reativo de Pascová. Sendo a descoloração do reativo indicativo de reação positiva. Açucares Redutores Na pesquisa de açucares redutores no extrato hidroalcoólico de casca de Bertholletia excelsa, dissolveu se alguns miligramas do extrato seco em 5 mL de água destilada, filtrando se a solução e em seguida adicionando a o filtrado 2 mL do reativo de Fehling A e 2mL do reativo de Fehling B, sendo a solução aquecida em banho Maria por 5 minutos. A reação é positiva se houver a formação de um precipitado de cor vermelho tijolo, o que indica a presença de açúcares redutores. Polissacarídeos Polissacarídeos podem ser detectados com uso de lugol, que possui a capacidade de formar complexos com as molecular de polissacarídeos, sendo adicionado ao extrato seco solubilizado em 5 mL de água destilada gotas de lugol, que indicam a presença desse grupo de macromoléculas com o aparecimento de uma coloração azul intensa. Fenóis e Taninos Na detecção dessa classe de compostos, utilizou se algumas gotas de solução alcoólica de FeCl3 a 1% adicionadas a alguns miligramas do extrato solubilizado em água destilada. Sendo o indicativo de reação positiva o surgimento de coloração entre o azul e o vermelho (indica presença de fenóis) e precipitados de tonalidade azul (presença de taninos pirogálicos) e verde (presença de taninos catéquicos). Flavonóides Para analise da presença de flavonoides, dissolveu se alguns miligramas do extrato seco em 10 mL de metanol, sendo Página 28 esta solução filtrada e adicionado ao filtrado 15 gotas de HCl concentrado e em seguida alguns miligramas de oxido de magnésio. Sendo o ensaio positivo quando ocorre o surgimento de coloração rósea na solução. Alcalóides Alguns miligramas do extrato seco foram solubilizados em 5 mL de HCl a 5%, sendo separados em seguida 1 mL da solução acima em 4 tubos de ensaio. Sendo adicionado no primeiro tubo o reativo de Bouchardat, que indica a presença de alcaloides caso ocorra a formação de precipitado laranja avermelhado. Ao segundo tubo de ensaio foi adicionado o reativo de Drangendorff, sendo a reação positiva para alcaloides se houver formação de um precipitado vermelho tijolo. No terceiro tubo foi adicionado o reativo de Mayer e no quarto o reativo de Bertrand, sendo ambos de reação positiva a formação de precipitado de cor branca. Purinas Na pesquisa para detecção de purinas, utilizou se um capsula de porcelana, onde foi depositado alguns miligramas do extrato seco e adicionado em seguida 3 gotas de HCl 6N e duas gotas de H2O2 30%, sendo em seguida evaporado em banho Maria e devendo formar um resíduo corado de vermelho, a qual é adicionado 3 gotas de NH4OH 6N. Sendo a reação positiva caso surja uma coloração violeta. Esteroides e Triterpenoides Para a detecção de esteroides e triterpenóides, utilizou se alguns miligramas do extrato seco, que foi solubilizado em 10 mL de clorofórmio, filtrado sobre carvão ativado, e ao filtrado adicionado 1 mL de anidrido acético, agitado suavemente e em seguida adicionado três gotas de H2SO4, agitado novamente e depois observado se houve um rápido desenvolvimento de cores variantes entre o azul evanescente e o verde persistente, que indicam reação positiva. Ciência Equatorial, Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 Depsídeos e Depsidonas Na detecção dessas classes de metabolitos secundários, dissolveu se alguns miligramas do extrato seco em 5 mL de éter etílico, que foi evaporado em banho Maria e em seguida adicionado 3 mL de metanol, juntamente com 3 gotas de FeCl3. A formação de coloração azul, verde, ou cinza caracteriza reação positiva. Antraquinonas Para a detecção de antraquinonas, dissolveu se alguns miligramas do extrato seco em 5 mL de tolueno, que foi filtrada e em seguida adicionado 2 mL de solução de NH4OH a 10%. Sendo o surgimento de coloração rósea, vermelha ou violeta na fase aquosa indicativo de reação positiva. Heterosídeos Antocianicos Na detecção desta classe de metabolitos secundários, foi solubilizado alguns miligramas do extrato seco em 5 mL de água destilada e colocados em tubos de ensaio (3), na qual o primeiro foi acidificado com ácido sulfúrico até atingir o pH 1, o segundo alcalinizado com hidróxido de amônia até o pH 10 e o terceiro neutralizado. Sendo o aparecimento de diferentes colorações indicativo de heterosídeos antociânicos. Heterosídeos Saponicos Para a análise de heterosídeos saponicos, foram utilizados os mesmos tubos de ensaio utilizados na analise de heterosídeos antociânicos, sendo estes agitados energicamente por 5 minutos e deixados em repouso por 30 minutos. Sendo a presença de saponinas confirmadas se houver a formação de espuma maior ou igual a um centímetro. Teste de Atividade Antimicrobiana Para a realização do teste foram preparadas diluições três diluições (25 mg/mL, 50 mg/mL e 100 mg/mL) do extrato hidroalcoólico a partir de uma solução inicial com concentração de 1g/mL em DMSO, sendo essas diluições transferidas com o uso Página 29 de pipetas para placas de Petri contendo discos de papel filtro estéreos com 6 mm de diâmetro, que foram impregnados com 10µL das diferentes concentrações do extrato. Os microrganismos que foram utilizados para avaliar a ação antimicrobiana do extrato bruto foram Staphylococcus aureus (ATCC 6538), Enterococcus faecalis (ATCC 29212) e Staphylococcus epidermidis (ATCC 12228). Todos cocos gram positivos, inoculados inicialmente em ágar sangue de carneiro para obtenção de células novas, com a qual foi preparada suspensões microbianas calibradas em 0,5 na escala McFarland contendo aproximadamente 108 unidades formadoras de colônia, que foi inoculada em ágar Mueller Hinton de forma a obter se um inoculo uniforme com o uso de swabs estéreos, sendo colocado sobre o meio três discos impregnados com as concentrações testes, um controle negativo (DMSO) e os controles positivos (Vancomicina e Oxacilina) com uma distancia de aproximadamente um centímetro da parede da placa (150 mm contendo 40 mL de Agar Müeller Hinton), com cuidado para não danificar o meio, Sendo em seguida as placas incubadas em estufa bacteriológica a 35ºC durante 24 horas. Sendo esta técnica empregada para analisar qualitativamente a atividade antimicrobiana de substâncias e ou compostos a serem testados, desenvolvida por Bauer (1966) e padronizada pela National Comittee for Clinical Laboratory Standart (2003), conforme SOUZA, L.B.F.C.; SOARES, A.D.; COSTA, J.G.Ç MEDEIROS, K.S.; MELO, M.C.N. 2012; BIASI, B.; GRAZZIOTIN, N.A.; HOFMANN-JR, A., 2009 e VICTORIA, F.N.; PERIN, G.; JACOB, R.; LENARDÃO, E.J.; SILVA, W.P.; GOLDEBECK, J.C., 2009. RESULTADOS Os ensaios fitoquímicos realizados indicaram a presença de quatro classes de metabolitos secundários no extrato bruto hidroalcoólico de casca de Bertholletia excelsa, sendo os resultados positivos para Ciência Equatorial, Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 ácidos orgânicos, açucares redutores, fenóis e taninos, heterosídeos antociânicos e depsídeos e depsidonas, conforme os itens mostrados na tabela 1 as outras classes de metabolitos pesquisados. Tabela 1. Resultados da triagem fitoquímica Classe de Metabolito Secundário Resultado + Ácidos Orgânicos + Açucares Redutores Polissacarídeos + Fenóis e Taninos Flavonóides Alcalóides Purinas Esteroides e Triterpenoides + Depsídeos e Depsidonas Antraquinonas Saponinas Espumídicas + Heterosídeos Antociânicos Nas analises de atividade antimicrobiana feitas com o extrato bruto hidroalcoólico de casca de Bertholletia excelsa pelo método de difusão em discos, os dados obtidos foram submetidos ao t-teste pelo programa estatístico BioEstat 3.0®, na qual os ensaios demonstraram atividade bacteriostática e bactericida em todas as concentrações, uma vez que formaram se halos de inibição microbiana, na qual percebeu se que o desenvolvimento de bactérias ao redor do halo mais novas que as que se desenvolveram mais afastadas dos discos impregnados com o extrato e dos controles positivos, possuindo também ação bactericida em concentrações mais elevadas, sendo esta constatada devido a presença de um halo de inibição total dos microrganismos ao redor dos discos, continuado pelo halo onde notou se a ação bacteriostática do extrato. Com relação aos controles positivos, um antibiótico pertencente a classe dos glicopeptídeos e outro dos beta lactâmicos, respectivamente vancomicina e oxacilina, observou se uma grande resistência quando testado contra Enterococcus faecalis (ATCC 29212), diferentemente dos outros microrganismos testados, sendo estes: Staphylococcus epidermidis (ATCC 12228) e Página 30 Staphylococcus aureus (ATCC 6538), na qual os halos com maiores diâmetros obtidos foram os do Staphylococcus aureus. Tabela 2. Valores de diâmetros de zonas de inibição (mm) dos antibióticos diante de microrganismos gram positivo Antibiótico E. S. S. aureus faecalis - epidermidis 6538 29212 12228 Van Oxa 0,0 0,0 19,50 19,75 21,44 26,70 E dentre microrganismos testados com o extrato bruto, o mais susceptível ao extrato foi o Staphylococcus aureus ATCC 6538 (figura 3), seguido pelo Enterococcus faecalis ATCC 29212 (figura 1), na qual o Staphylococcus epidermidis ATCC 12228 (figura 2) foi o que apresentou os menores halos de inibição microbiana. Sendo que todas as concentrações testadas contra Enterococcus faecalis mostraram atividade superior aos controles positivos (Vancomicina e Oxacilina). Os valores de diâmetros obtidos no teste de atividade antimicrobiana com o extrato bruto hidroalcoólico de casca de Bertholletia excelsa são mostrados na tabela 3 abaixo. Figura 2. Teste de difusão em Staphylococcus epidermidis ATCC12228 Figura 3. Teste de difusão em Staphylococcus aureus ATCC 6538 Figura 1. Teste de difusão em Enterococcus faecalis ATCC 29212 disco com com Ciência Equatorial, Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 disco Página 31 Tabela 3. Valores de diâmetros de zonas de inibição das concentrações do extrato diante de microrganismos gram positivos Concentração E. faecalis – ATCC 29212 S. epidermidis –ATCC 12228 S. aureus - ATCC 6538 MA DP 13,05 0,8 25mg/mL 19,13 0,2 50mg/mL 18,82 0,8 100mg/mL MA Média aritmética; DP Desvio Padrão MA 9,77 10,70 12,98 DISCUSSÃO Dos microrganismos testados, os do gênero Staphylococcus spp apresentaram alguma sensibilidade aos antibióticos, enquanto a cepa de Enterococcus faecalis (29212) apresentou se extremamente resistente tanto a vancomicina quanto a oxacilina, sendo essa resistência uma capacidade adquirida pela bactéria, por mutação e pressão seletiva, uma vez que na literatura não conta que esse gênero ou espécie apresente resistência primaria de cepas não mutantes especificamente contra as classes de drogas testadas. Fenômeno que ocorre naturalmente e tem se tornado muito interessante à comunidade cientifica, uma vez que se trata de um sério problema de saúde pública que dificulta tratamentos médicos, aumenta o tempo de internação de pacientes, aumentando também consequentemente os índices de mortalidade e morbidade, assim como um maior risco de infecções dentro de comunidades (CM., MS, 2004). O extrato bruto hidroalcoólico de casca de Bertholletia excelsa apresentou uma significativa atividade antimicrobiana contra os microrganismos testados, sendo esta atividade provavelmente relacionada com a presença de substâncias fenólicas no extrato, que segundo a literatura, possuem a capacidade de complexar se a proteínas extracelulares da membrana bacteriana, provocando sua morte. Sendo a presença de tais substâncias evidenciada pelo screening fitoquímico realizado. Ressaltando a presença de fenóis e taninos, que são compostos com considerável toxicidade, que segundo estudos anteriores, demonstram que várias bactérias são sensíveis a polifenóis como taninos, uma vez que possuem uma grande afinidade por Ciência Equatorial, Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 DP 0,8 0,4 0,2 MA 17,47 18,90 23,14 DP 0,5 0,6 0,6 proteínas que desempenham importantes atividades, como enzimas tornando as inativas, impedindo dessa forma o crescimento de alguns microrganismos ocorra, possuindo também a capacidade de formar complexos metálicos com o ferro, vanádio, magnésio, alumínio e cálcio, resultando em uma menor disponibilidade de íons para o metabolismo microbiano. Sendo a inibição do crescimento dos microrganismos testados constatada no ensaio de difusão em discos, na qual houve tanto atividade bactericida quanto bacteriostática. Não devendo ser descartada a atividade antimicrobiana como decorrência da presença de outras classes de metabolitos, umas vez são pouco relatados o estudo que demonstrem essa atividade como em flavonoides, catequinas e terpenos (SERAFIN, C.; NART.V.; MALHEIROS, A.; GETTE, M.A.; ZACCINO, S.; FILHO, V.C, 2007; JESUS, R.P.F.S.; COSTA, M.R.M.; BASTOS, I.V.; COUTO,G.B.L.; VIEIRA, P.; SOUZA, I.A., 2010; FERREIRA, F.S.; SANTOS, S.C.; BARROS, T.F.; ROSSI-ALVA, J.C.; FERNANDES, L.G, 2011). Há também a possibilidade de outras substâncias presentes na planta, que não foram analisadas, ou mesmo das classes que foram identificadas serem responsável pela atividade observada atuando em sinergismo, onde um ou mais componentes do extrato com propriedade antimicrobiana pode ter se agregado a um elemento químico do extrato, beneficiando ou inibindo metabolicamente o crescimento bacteriano, ou inibindo a ação antimicrobiana da molécula (FERREIRA, F.S.; SANTOS, S.C.; BARROS, T.F.; ROSSI-ALVA, J.C.; FERNANDES, L.G, 2011). Entretanto essa é uma possibilidade que precisa ser analisada mais afundo, uma vez que os tamanhos dos halos de inibição observados aumentavam de Página 32 acordo com o aumento da concentração, não havendo formação de halos maiores em concentrações menores ou de tamanho muito discrepante variando entre as concentrações. Frente ao grande problema que a resistência bacteriana representa para a saúde pública, a pesquisa de novos agentes antimicrobianos eficazes para o tratamento de infecções se faz extremamente necessária. Sendo a casca da Bertholletia excelsa portadora de diversas substâncias com potencial para uma futura aplicação clínica farmacológica humana ou veterinária caso estudos pré-clínicos provem o contrario. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FERREIRA, F.S.; SANTOS, S.C.; BARROS, T.F.; ROSSI-ALVA, J.C.; FERNANDES, L.G, Atividade Antimicrobiana in vitro de extratos de Rhizophora mangle l. Rev. Bras. PL, Med., Botucatu, v. 13, n.3, p. 305−310, 2011. JESUS, R.P.F.S.; COSTA, M.R.M.; BASTOS, I.V.; COUTO,G.B.L.; VIEIRA, P.; SOUZA, I.A., Ação Antibacteriana e antiaderente de Pithecellobium cochliocarpum (Gomez) macbr Sobre Microrganismos Orais, Odontol. Clín., Recife, 9 (4) 331-335, out/dez., 2010. BIASI, B.; GRAZZIOTIN, N.A.; HOFMANN-JR, A., Atividade Antimicrobiana dos Extratos de Folhas e Ramos da Hex paraguarienses A. St.-Hil., Aquifoliaceae, Revista Brasileira de Farmacognosia, 19 (2B) 582-585., Abr/Jun. 2009. SOUZA, L.B.F.C.; SOARES, A.D.; COSTA, J.G.Ç MEDEIROS, K.S.; MELO, M.C.N.; FERNANDES, M.J.B.C., Avaliação da Atividade Antimicrobiana do Extrato do Sanativo® Em Bactérias Gram positivas e Gram Negativas, 62° Reunião Anual do SBPC, 2012. VICTORIA, F.N.; PERIN, G.; JACOB, R.; LENARDÃO, E.J.; SILVA, W.P.; GOLDEBECK, J.C., Atividade Antimicrobiana de tio-derivados do citronelal e citral frente à bactérias patogênicas em Ciência Equatorial, Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 alimentos. In: XI Encontro de PósGraduação Universidade Federal de Pelotas, 2009, Pelotas. XVIII Congresso de Iniciação Científica XI Encontro de PósGraduação I Mostra de Iniciação Científica, 2009. SERAFIN, C.; NART.V.; MALHEIROS, A.; GETTE, M.A.; ZACCINO, S.; FILHO, V.C., Avaliação do Potencial Antimicrobiano de Plinia glomerata (Myrtaceae), Revista Brasileira de Farmacognosia, 17(4): 578582, Out/Dez., 2007. CM., MS.; Resistência aos Antibióticos: O uso inadequado dos antibióticos na prática clínica, Ver. O.F.I.L., 14; 1:45-68, 2004. COUTINHO, H.D.M. et al. Atividade Antimicrobiana de Produtos Naturais. Revista Conceitos, v.77, p.77-85, 2004. DA SILVA, M.S. Uso e Avaliação farmacológica de plantas medicinais utilizadas na Medicina Popular do Povoado Colônia Treze em Lagarto /SE, 2006. FERREIRA, F.S.; SANTOS, S.C.; BARROS, T.F.; ROSSI-ALVA, J.C.; FERNANDES, L.G, Atividade Antimicrobiana in vitro de extratos de Rhizophora mangle l. Ver. Bras. PL, Med., Botucatu, v. 13, n.3, p. 305−310, 2011. CARVALHO, J.L.S., et al, Screening Fitoquímico do Nasturtrium officinale R. Br.: Controle de Qualidade. BARBOSA, W.L.R., et al., Manual Para Análise Fitoquímica e Cromatográfica de Extratos Vegetais, Revista Científica da UFPA, 2001. GONÇALVEZ, A.L., Estudo da Atividade Antimicrobiana de Algumas Árvores Medicinais Com Potencial de Conservação/Recuperação de Florestas Tropicais, Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Rio Claro, São Paulo, 2007. BAUER, A.; KIRB, W.M.M; SHIVES, J.C.; TURCK, M., Antibiotic Susceptibility Testing Página 33 By Standardzed Sigle Disk Methodol, Amer J. Clin. Pathol., v. 45, p 493-496, 1996. NATIONAL COMMITTEE FOR CLINICAL LABORATORY STANDARTS, Padronização dos Testes de Sensibilidade a Antimicrobianos por Disco-Difusão: Norma Aprovada – Oitava Edição, V 23., n 1., 2003. DIAS, J.S.A.; PINTO, P.V.S.; COSTA, A.L.P.; RODRIGUES, W.C.; RAMOS, R.S., Livro de Resumos do 2º Congresso Amapaense de Iniciação Científica da UEAP, UNIFAP,IEPA e Embrapa Amapá, 6ª Mostra de TCC’s e 2ª Exposição de Pesquisa Científica,realizados em Macapá-AP, Espécies fúngicas associadas à castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa Humb.& Bompl) em área de transição de cerrado na Reserva xtrativista do Rio Cajari, AP, p 238, 2011. _____________________________________________ 1 – Anderson Luiz Pena da Costa, Acadêmico do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da UNIFAP. 2 – Marília Bastos Campos, Acadêmico do Curso de Bacharelado em Ciências Farmacêuticas da UNIFAP. 3 – Larissa Paula Jardim de Lima Barbosa, BSc, Bióloga / Especialista Real Biológica Ltda. 4 – Prof. Roberto Messias Bezerra, PhD Químico / Professor Adjunto I Colegiado Ciências Farmacêuticas Universidade Federal do Amapá – UNIFAP 5 – Prof. Flávio Henrique Ferreira Barbosa, PhD Biólogo / Professor Adjunto I Colegiado Ciências Farmacêuticas Universidade Federal do Amapá – UNIFAP [email protected] SILVEIRA, G.P.; NOME, F.; GESSER, J.C.; SÁ, M.M.; TERENZI, H., Estratégias Utilizadas no Combate à Resistência Bacteriana, Quím. Nova, vol. 29, No. 4, p. 844-855, 2006. UENE, M.; JORGE, A.O.C., Comparação de Técnicas Moleculares de Análise de DNA Cromossomal de Staphylococcus aureus Resistentes a Meticilina, Ver. Biociênc., Taubaté, v. 8, n.2, PP. 43-50, jul-dez, 2002. FELBERG, I., et al, Bebida Mista de Extrato de Soja Integral e Castanha-do-Brasil: Caracterização Físico-Química, Nutricional e Aceitabilidade do Consumidor, Alim. Nutr., Araraquara, v. 15, n. 2, p. 163-174, 2004 Ciência Equatorial, Volume 2 - Número 1 - 1º Semestre 2012 Página 34