Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI
ISSN 1809-1636
COMPOSIÇÃO QUÍMICA E AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE FRENTE A Artemia salina
DAS SEMENTES E VAGENS DE Lupinus lanatus Benth
Chemical composition and toxicity assessment face to Artemia salina seeds and pods of Lupinus
lanatus Benth
Maiara LOPES1
Ana Cristina STEIN2
Carlos Eduardo Blanco LINARES3
Sandro Rogério GIACOMELLI4
RESUMO
Plantas pertencentes ao gênero Lupinus são caracterizadas pelo alto teor proteico em suas sementes,
o qual é considerado um grande atrativo para a realização de pesquisas, visando à utilização segura
na alimentação humana e animal. Desta forma a caracterização fitoquímica de espécies pertencentes
ao gênero Lupinus fez-se necessária, sendo assim possível inferir que nas sementes e vagens de L.
lanatus encontram-se metabólitos secundários como alcaloides, saponinas e triterpenos substituídos
em C3 por desoxioses e a presença de estruturas triterpênicas com possível anel lactônico
pentagonal, característico de heterosídeos cardiotônicos, foi observada apenas nas vagens desta
espécie. Na obtenção de constituintes voláteis, obteve-se 0,001% de rendimento das sementes de L.
lanatus, enquanto nas vagens de mesma espécie não foram encontrados constituintes voláteis. Os
teores de compostos fenólicos totais encontrados, foram de 31,33 ± 2,36 e 20,33 ± 1,33
µEAG/mgEB para sementes e vagens de L. lanatus, respectivamente. Na avaliação da atividade
antioxidante, fez-se possível a percepção da tendência que o percentual de inibição possui de
diminuir enquanto aumenta a concentração do extrato bruto. Para o teste de toxicidade frente a A.
salina encontraram-se valores de CL50 de 1712,912 µg/mL e 1352,976 µg/mL para sementes e
vagens de L. lanatus respectivamente. Os estudos realizados com as sementes e vagens de L.
lanatus contribuem significativamente para o conhecimento desta espécie, visto que a mesma é
nativa do Rio Grande do Sul e permanece sem utilização agrícola ou alimentícia.
Palavras chave: Lupinus; fitoquímica, citotoxidade.
1
Aluna de iniciação científica e acadêmica do curso de Química Industrial da Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões – Campus de Frederico Westphalen
2
Doutora em Ciências Farmacêuticas e Professora do Departamento de Ciências da Saúde da Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Frederico Westphalen
3
Doutor em Bioquímica e Professor do Departamento de Ciências da Saúde da Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões – Campus de Frederico Westphalen
4
Doutor em Química e Professor do Departamento de Ciências Exatas e da Terra da Universidade Regional Integrada
do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Frederico Westphalen
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ABSTRACT
Plants of the genus Lupinus are characterized by high protein content in the seeds, which is
considered a major draw for conducting research aiming at safe use in food and feed. Thus the
phytochemical characterization of species of the genus Lupinus was necessary, so it is possible to
infer that the seeds and L. lanatus pods are secondary metabolites such as alkaloids, saponins and
triterpenes replaced by C3 desoxioses and the presence of structures triterpenoidal possible with
pentagonal ring lactone, characteristic of cardiotonic glycosides, was observed only in the pods of
this species. In obtaining the volatile constituents yielded 0.001 % yield of seed L. lanatus while the
pods of the same kind volatile constituents were not found. The contents of total phenolic
compounds found were 31.33 ± 2.36 and 20.33 ± 1.33 µEAG/mgEB for seeds and pods of L.
lanatus, respectively. In the evaluation of antioxidant activity was made possible perception of the
trend that the inhibition percentage has to decrease while increasing the concentration of the crude
extract. To the front toxicity test to A. salina met CL50 values of 1712,912 µg/mL e 1352,976
µg/mL for seeds and pods L. lanatus respectively. Studies of the seeds and pods L. lanatus
contribute significantly to the knowledge of this species, since it is native to Rio Grande do Sul and
remains without food or agricultural use.
Keywords: Lupinus; phytochemical, cytotoxicity.
INTRODUÇÃO
Plantas medicinais são utilizadas pela humanidade para aliviar ou curar enfermidades
desde as mais antigas civilizações. Sendo muitos medicamentos utilizados hoje pela indústria
farmacêutica, desenvolvidos a partir das mesmas. A fitoterapia neste cenário apresenta grande
relevância, constituindo uma forma terapêutica que vem crescendo significativamente, sendo seu
mercado mundial avaliado em US$ 12,4 bilhões. (FERREIRA, 2006).
Este amplo mercado tem incentivado o interesse científico, a fim de desenvolver estudos
químicos e farmacológicos, que visam obter novos compostos que possam ser utilizados pela
terapêutica. Ressaltando que a biodiversidade brasileira merece destaque, uma vez que, cerca de 17
% das espécies vegetais da flora contém estudos em relação as suas propriedades medicinais
(GUERRA & NODARI, 2010). Surgindo assim, a oportunidade de identificação e estudo de
compostos bioativos possivelmente presentes em nossa região (BARREIRO, 2002).
O gênero Lupinus de ocorrência no Velho e Novo Mundo compreende cerca de 280
espécies de plantas herbáceas e arbustivas, multi e unifoliares. O mesmo desempenha importância
agrícola na Região Mediterrânea e África, sendo cultivado em áreas agrícolas inférteis para
recuperar do solo devido à capacidade de fixação de nitrogênio (LANÇAS, et. al, 1997). Plantas
pertencentes ao gênero são ainda caracterizadas pelo alto teor protéico em suas sementes o qual é
considerado um grande atrativo para a realização de pesquisas, visando à utilização segura na
alimentação humana e animal.
Estudos químicos realizados com várias espécies pertencentes ao gênero Lupinus relatam a
presença de alcaloides em elevadas concentrações, bem como saponinas, taninos, flavonoides,
diterpenos fenólicos, ácidos fenólicos e carotenóides. Segundo Wink & Witte (1995) o grande
grupo de alcaloides, é o único com clara função ecológica na defesa da planta, contra insetos e
herbívoros, micro-organismos (vírus, bactérias, fungos), fitopatógenos (nematóides, moluscos,
insetos, vertebrados) e função alelopática (competição com outras espécies de plantas). Sendo
atribuídas a estes várias atividades farmacológicas e toxicológicas, tais como, atividade antiviral,
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antibacteriana, anti-inflamatória, diurética, sedativa, depressora do Sistema Nervoso Central (SNC),
alucinógeno e mutagênica.
MATERIAIS E MÉTODOS
Coleta e preparo dos extratos brutos
O material botânico, vagens e sementes de L. lanatus, foram coletadas no mês outubro de
2013, as margens da BR-386, entre os municípios de Seberi/RS e Palmeira das Missões/RS. A
extração e preparação do extrato bruto foi feita segundo Hoelzel et al (2005) com modificações,
sendo assim, após serem secas, em estufa com circulação forçada de ar a 40 ºC, as partes
constituintes foram separadas e trituradas em moinho de facas e submetidas à extração sob-refluxo
por 5 horas durante 6 dias com MeOH (Vetec). A solução obtida foi filtrada e as fases orgânicas
foram reunidas, sendo o solvente removido em evaporador rotativo sob pressão reduzida, a
temperatura de 50 °C todos os dias a fim de concentrar o extrato bruto. Em seguida, o mesmo foi
liofilizado, obtendo-se assim o extrato bruto liofilizado para realização das análises propostas no
projeto.
Análises Fitoquímicas
As análises fitoquímicas foram realizadas conforme descrito por HARBORNE, 1998, para
detectar a presença das principais classes de metabólitos secundários das sementes e vagens da
espécie em estudo.
A detecção de alcaloides foi realizada utilizando-se os reagentes de Dragendroff, Mayer,
Bertrand, e Wagner. A presença de alcaloides foi considerada positiva quando ocorreu a imediata
formação de precipitado após a adição dos reagentes. A pesquisa de flavonoides realizada pelo
método de Cianidina, o qual baseia-se na formação de coloração vermelha após adição de ácido
clorídrico e magnésio metálico em soluções contendo flavonoides. Taninos e saponinas foram
analisados pelo método de complexação de proteínas e formação de espuma, respectivamente. Foi
analisada também a presença de cumarinas pelo método de observação da fluorescência do
sublimado em meio alcalino, assim como a pesquisa de antraquinonas realizada pelo
desenvolvimento de coloração em meio alcalino. Para o teste de cianogenéticos, transferiu-se para
um tubo de ensaio, cerca de 2 mL de CHCl3 e em seguida adicionou-se o material vegetal no tubo e
então o tubo de ensaio foi fechado com uma rolha contendo uma tira de papel filtro previamente
embebida e secada em solução de picrato de sódio e por fim, levado a banho-maria a 40 °C por dez
minutos.
Constituintes Voláteis
A obtenção dos constituintes voláteis das vagens e sementes de L. lanatus foi realizada por
arraste a vapor em aparelho de Clevenger, onde em um balão de fundo redondo de 1000 mL, foi
adicionado aproximadamente 100,0 g da amostra (sementes ou vagens) e acrescentado 500 mL de
água destilada. Em seguida, adaptou-se o aparelho de Clevenger ao balão, preencheu-se com água
fria a parte do tubo graduado e o tubo de retorno. O balão foi aquecido, com o auxílio de uma manta
térmica até a ebulição da água e mantida por aproximadamente 4 horas.
Determinação dos Compostos Fenólicos Totais
A determinação dos compostos fenólicos totais presentes nos extratos brutos das sementes
e vagens de L. lanatus foi determinada pelo método espectrofotométrico empregando o reagente de
Folin-Ciocalteu (Medi Química), conforme SINGLETON & ROSSI (1965) com modificações.
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Inicialmente, preparou-se soluções de 200 µg/mL de cada extrato bruto (sementes e vagens), em
seguida, adicionou-se 200 µL de solução e 200 µL do reagente de Folin-Ciocalteau em tubos de
ensaio envoltos por papel alumínio, para que ficassem protegidos da luz e cobriu-os com papel
filme, aguardando 5 minutos. Após, adicionou-se 3 mL de carbonato de sódio 2% (m/v), agitou-se
em agitador de tubos e recobriu-os. Após 30 minutos, determinou-se a absorbância em
espectrofotômetro UV-1600 Pró-análise em 760 nm. Todas as determinações foram realizadas em
triplicata. A curva de calibração foi obtida utilizando-se ácido gálico como padrão na faixa de
concentração de 50-300 µg/mL. Os resultados então foram expressos em equivalentes de ácido
gálico (EAG) por miligrama de extrato bruto.
Determinação da Capacidade Antioxidante
A capacidade antioxidante foi avaliada utilizando-se o método do sequestro de radicais
livres do DPPH (2,2 difenil-1-picrilhidrazil), segundo ALMEIDA (2006), com modificações, no
qual se baseia em um ensaio fotométrico onde o radical livre DPPH, que apresenta coloração roxa
intensa em solução alcoólica, se reduz em presença de moléculas antioxidantes, formando o 2,2
difenil-1-picrilhidrazil, que é incolor. Para isso, prepararam-se soluções de 25, 50, 100, 150 e 200
µg/mL das sementes e vagens de L. lanatus em MeOH (Vetec) e em seguida, transferiu-se 1 mL de
cada diluição para tubos de ensaio já identificados e adicionou-se 3 mL de DPPH 01 mM.
Aguardou-se 30 minutos e realizou-se a leitura em espectrofotômetro UV-1600 Pró-análise em 517
nm. Os cálculos foram efetuados com o auxílio da equação 1, onde Ab DPPH e Ab amostra,
significam respectivamente, absorbância do branco do DPPH e absorbância da amostra.
Ensaio de Toxicidade frente à Artemia salina
Os ensaios de toxicidade foram realizados de acordo com MCLAUGHLIN et al (1998).
Para a eclosão dos ovos preparou-se 3 L de água marinha artificial, sendo que, para cada litro de
água destilada adicionou-se 23 g NaCl; 11 g MgCl2.6H2O; 4 g Na2SO4; 1,3 g CaCl2.2H2O ou
CaCl2.6H2O; 0,7 g KCl (DALL´STELLA, 2008). Os ovos de A. salina (20 mg) foram adicionados
ao aquário para eclodir por 48 horas, sob aeração contínua e expostos a uma fonte de luz. A
temperatura foi mantida em 26±1 °C e o pH ajustado para aproximadamente 9,0 com Na2CO3 para
evitar a mortalidade das larvas por diminuição do pH durante a incubação. A diluição dos extratos
das sementes e vagens foi efetuada de modo a se obter concentrações de 10, 100 e 1000 µg/mL em
solução salina contendo 2 % de tween 80 (Polysorbate 80).
Para realização desse teste, foi transferido com pipeta de Pasteur 10 náupleos de A. salina,
em tubos de ensaio contendo as concentrações desejadas dos extratos das sementes e vagens de L.
lanatus. Após 24 horas, sob iluminação artificial foi realizada a contagem do número de náupleos
sobreviventes. Sendo assim calculada a concentração letal mediana (CL50). Como controle positivo
foi utilizado uma solução aquosa de K2Cr2O7, 60 µg/mL e como controle negativo foi utilizado a
solução salina com 2 % de tween 80 (Polysorbate 80).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caracterização fitoquímica
A caracterização fitoquímica é uma etapa fundamental no estudo de produtos naturais,
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sendo possível delinear estudos químicos, farmacológicos e bromatológicos com base nos
metabolitos secundários produzidos pela espécie em estudo. Neste sentido a investigação
fitoquímica de espécies pertencentes a gênero Lupinus fez-se necessária, sendo realizados testes
com as sementes e vagens de L. lanatus, para identificação dos principais grupos de metabólitos
secundários, tais como alcaloides, flavonoides, taninos, saponinas, antraquinonas, cumarinas e
glicosídeos cardiotônicos.
Para identificação de alcaloides foram realizados testes em meio ácido e em meio básico.
Foram testados os seguintes reativos gerais de alcaloides: Dragedorff, Mayer, Bertrand e
Bonchardat Wagner. Após, realizados os ensaios, foi possível inferir que sementes e vagens de L.
lanatus são positivas para alcaloides, devido à formação imediata de precipitado para ambos os
reativos. Na investigação de flavonoides realizada pelo método de Cianidina, as sementes foram
consideradas negativas, visto a não observação de coloração vermelha no meio reacional. (Figura
1).
Figura 1: Identificação de alcaloides e flavonoides: I) Formação de precipitado após a adição de
dos reativos A) Dragendroff, B) Bertrand, C) Meyer, D) Wagner; II) Análise de flavonoides pelo
método de Cianidina: A) Teste realizado com as vagens de Lupinus lanatus; B) Reação negativa
para flavonoides.
Na análise de saponinas do material vegetal, a persistência de espuma em meio ácido foi
inferida como positiva. O teor de saponinas foi determinado pelo índice afrosimétrico. Conforme
observado na figura 2, foi confirmada a presença de saponinas nas sementes e vagens de L. lanatus
que apresentou formação de espuma ácido persistente. A altura da espuma em todos os tubos no
índice afrosimétrico de espuma foi inferior a 1 cm, o que permite afirmar que o índice de espuma é
menor do que 100 (BRASIL, 2010).
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Figura 2: Identificação de Saponinas I) Teste de formação de espuma ácido persistente; II) Índice
afrosimétrico de espuma.
A investigação de glicosídeos cardiotônicos envolveu três etapas, a primeira investigou a
existência do núcleo triterpênico, pelo teste de Liebermann-Burchard, a segunda analisou a presença
do anel pentagonal lactônico através da Reação de Kedde, e a terceira investigou a presença de
desoxioses ligados na estrutura através da Reação de Keller-Kilian (Figura 3).
A detecção da presença de glicosídeos cardiotônicos no teste de Liebermann-Burchard foi
realizada pela observação da coloração na zona de contato entre o anidrido acético e o ácido
sulfúrico, sendo observado nesta região à formação de um halo com coloração avermelhado
indicando a existência provável de núcleo triterpênico (HARBORNE, 1998). A reação de Baljet,
realizada para constatar a presença de anel lactônico pentagonal, característico dos heterosídeos
cardiotônicos, é considerada positiva através da formação de composto com coloração alaranjada,
após adição dos reagentes. O teste de Keller-Kiliani é caracterizado positivo quando ocorre a
formação de coloração vermelho-acastanhada na zona de contato, entre os solvente, indicando
quando positivo a presença de 3 desoxiaçucares ligados a estrutura triterpênica. Com base nos
resultados obtidos foi possível observar a possível presença de glicosídeos cardiotônicos com
esqueleto triterpênico, nas vagens de L. lanatus. No teste realizado com as sementes a reação de
Baljet foi considerada negativa, visto a não observação de coloração alaranjada após a adição dos
reativos, sendo constatada positividade na reação de Liebermann-Burchard e Keller-Kiliani,
indicando a existência de estruturas triterpênica com substituição de desoxioses na posição na
hidroxila de C3.
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Figura 3: Identificação de cardiotônicos A) Reação de Liebermann-Burchard, com aparecimento de
coloração vermelha na zona de contato entre o ácido sulfúrico e o anidrido acético; B) Reação de
Baljet; C) Reação de Keller-Kiliani.
Através da análise da figura 4 é observado que o teste realizado para caracterização de
antraquinonas não alterou a coloração da fase aquosa, sendo ambos os constituintes vegetais
testados considerados negativos para esta classe de compostos. Da mesma forma os testes para
cumarinas (observação da fluorescência em meio alcalino) e taninos (precipitado de proteína) foram
considerados negativos para os materiais vegetais analisados.
Figura 4: Teste fitoquímicos de identificação de antraquinonas, cumarinas e taninos. A) Teste de
identificação de compostos antracênicos, não ocorreu alteração de coloração na camada aquosa, B)
Teste de identificação de cumarina, a observação da fluorescência foi realizada através da
comparação entre a amostra e o guaco (Mikania glomerata) caracterizado como positivo para
cumarinas; C) Teste de identificação de taninos pelo método de complexação de proteínas.
Para o teste de cianogenéticos (figura 5), foi considerado como reação positiva se o papel
impregnado com uma solução de picrato de sódio, inicialmente de coloração amarela, adquirisse
coloração vermelha, devido ao desprendimento de HCN. Após aguardar dez minutos, retirou-se o
papel-teste do banho-maria para observar a presença ou ausência de cianogenéticos. Como pode ser
observado na figura 5, não houve mudança de coloração, podendo-se concluir assim que as
sementes e vagens de L. lanatus não apresentam cianogenéticos.
Figura 5: Teste de cianogenéticos A: Papel-teste impregnado com uma solução de picrato de sódio
antes de ser colocado no banho-maria. B: Papel-teste impregnado com uma solução de picrato de
sódio após ser retirado do banho-maria.
A síntese dos resultados da caracterização fitoquímica das sementes e vagens de L. lanatus
encontra-se na tabela 1.
TABELA 1:
CARACTERIZAÇÃO FITOQUÍMICA DOS
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PRINCIPAIS
GRUPOS
DE
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METABÓLITOS SECUNDÁRIOS DAS SEMENTES E VAGENS DE L. lanatus
L. lanatus
Metabólito
Reativo
Sem.
Dragendorff, Bertrand,
Alcaloides
+
Mayer, Wagner
Flavonoides
Cianidina
Espuma ácido
Saponinas
+
persistente
Triterpenóides
Lieberman-Burchard
+
Gelatina, Acetato de
Taninos
Chumbo
Cumarinas
Fluorescência no UV
Coloração em meio
Antraquinonas
alcalino
Cianogenéticos
*Sementes (Sem.); Vagens (Vag.); Positivo (+); Negativo (-)
Vag.
+
+
+
-
Constituintes Voláteis
A partir da destilação por arraste a vapor em aparelho de Clevenger, foi possível averiguar
que as sementes de L. lanatus apresentam níveis muito baixos de constituintes voláteis (0,001 m/m),
quando comparamos o seu rendimento (0,001 %) com os rendimentos encontrados na literatura
(DUTRA, 2008) para outras sementes, como por exemplo as de Pterodon emarginatus Vogel (5,41
%), pertencente a família Leguminosae, que possui um rendimento consideravelmente alto.
Enquanto que nas vagens não foi detectada a presença de constituintes voláteis.
Compostos Fenólicos Totais
Os compostos fenólicos são substâncias amplamente distribuídas no reino vegetal, em
particular nas frutas e em outros vegetais. São conjuntos heterogêneos que apresentam em sua
estrutura vários grupos benzênicos característicos, substituídos por grupamentos hidroxilas
(HERNÁNDEZ & GONZÁLES,1999).
A quantificação espectrométrica de compostos fenólicos é realizada por meio de uma
variedade de técnicas, todavia, a que utiliza o reagente de Folin-Ciocalteu encontra-se entre as
amplamente utilizadas (VALKO, et al, 2004). Sendo assim, a partir da equação da reta obtida
através da curva padrão de ácido gálico feita dentre a faixa de concentração de 50-300 µg/mL, que
apresentou R2 = 0,9902, determinou-se o teor de compostos fenólicos totais presentes nas sementes
e vagens de L. lanatus. Os resultados obtidos na determinação dos compostos fenólicos totais pelo
método Folin– Ciocalteu, expressos como µg Equivalentes de Ácido Gálico (EAG) por miligrama
de Extrato Bruto (EB), são apresentados na Tabela 2.
TABELA 2: TEOR DE COMPOSTOS FENÓLICOS TOTAIS DOS EXTRATOS BRUTOS DAS
SEMENTES E VAGENS DE L. lanatus
Extrato Bruto
Teor de Compostos Fenólicos Totais
(µEAG/mgEB)*
Sementes
31,33 ± 2,36
Vagens
20,33 ± 1,33
Cada valor foi obtido por meio da média ± desvio padrão de pelo menos três replicatas
* µg Equivalentes de Ácido Gálico (EAG) por miligrama de Extrato Bruto (EB)
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Como se pode observar na tabela 2, existe uma diferença no teor de compostos fenólicos
totais entre os extratos brutos das sementes (31,33 ± 2,36 µEAG/mgEB) e vagens (20,33 ± 1,33
µEAG/mgEB) de L. lanatus, sendo esse teor maior nas sementes em relação as vagens de mesma
espécie. Confrontando os teores de compostos fenólicos totais obtidos para as sementes e vagens de
L. lanatus, com os teores encontrados na literatura (ROESLER, et al; 2007) para as sementes de
Annona crassiflora Mart (136,99 ± 7,565 µEAG/mgEB), detentora de altos teores de compostos
fenólicos, pode-se concluir que as sementes quanto as vagens de L. lanatus possuem baixos teores
de compostos fenólicos totais.
Capacidade Antioxidante
As metodologias largamente empregadas para se determinar a atividade antioxidante de
modo prático, rápido e sensível são as que envolvem um radical cromóforo, simulando as espécies
reativas de oxigênio (EROs), sendo o radical livre DPPH (1,1-difenil-2-picrilhidrazina) um dos
mais utilizados (ARNAO et al., 2000). O radical livre DPPH é um cromóforo muito estável, com
um pico de absorção no comprimento de onda de 517 nm, apresentando solução de coloração
violeta intensa (BLOIS; 1958; ARNAO et al., 2000). À medida que o DPPH sofre redução pelos
componentes presentes na solução teste, observa-se mudança da coloração da solução original de
violeta intensa para amarela, proporcional à concentração da substância com potencial antioxidante
presente, podendo ser medida espectrometricamente a 517 nm (BLOIS, 1958).
Com o auxílio da equação 1, foi determinado o percentual de inibição dos extratos das
sementes e vagens de L. lanatus (Tabela 3).
TABELA 3: PERCENTUAL DE INIBIÇÃO DOS EXTRATOS DAS SEMENTES E VAGENS
DE L. lanatus EM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES
% DPPHinibido* (Vagens)
Concentração
% DPPHinibido* (Sementes)
25 µg/mL
92,333 ± 0,46
95,300 ± 0,69
50 µg/mL
89,105 ± 0,39
88,975 ± 0,59
100 µg/mL
67,703 ± 1,40
78,858 ± 0,59
150 µg/mL
56,809 ± 1,03
71,465 ± 0,22
200 µg/mL
42,801 ± 0,78
61,089 ± 1,03
Cada valor foi obtido por meio da média ± desvio padrão de pelo menos três replicatas
* Percentual de Inibição
A partir dos valores de percentual de inibição de cada diluição dos extratos das sementes e
vagens de L. lanatus, pode-se observar que o percentual de inibição tende a diminuir enquanto
aumenta a concentração do extrato bruto por mL de solvente. Além disso, também sendo possível
verificar a diferença entre os percentuais de inibição de vagens e sementes. O percentual de inibição
obtido dos extratos das sementes é menor em relação aos resultados observados para os extratos das
vagens.
Toxicidade frente a Artemia salina
A avaliação da bioatividade de extratos de plantas, medida pela toxicidade frente A. salina,
pode fornecer informações valiosas ao trabalho de químicos de produtos naturais e farmacólogos,
indicando fontes vegetais com importantes atividades biológicas. Neste contexto, a utilização de
bioensaios para o monitoramento da bioatividade de extratos, frações e compostos isolados de
plantas vem crescendo consideravelmente nos laboratórios de pesquisa em nível mundial como
método alternativo para o uso de animais de laboratório. A. salina é um micro crustáceo
amplamente conhecido como indicador de toxicidade em um bioensaio, que utiliza a CL50
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(concentração letal média) como parâmetro de avaliação da atividade biológica (MCLAUGHLIN et
al., 1998).
Assim sendo, após a contagem do número de sobreviventes, determinou-se a concentração
letal média (CL50) e 95 % de intervalo de confiança do extrato bruto das sementes e vagens de L.
lanatus utilizando-se o método estatístico ACTION 2.2, e estes estão expressos na Tabela 4. Para a
citotoxidade foram considerados valores de CL50 menores que 1000 µg/mL (MCLAUGHLIN et al.,
1998).
TABELA 4: TESTE DE TOXICIDADE FRENTE A Artemia salina DOS EXTRATOS BRUTOS
DAS SEMENTES E VAGENS DE L. lanatus *
Extrato Bruto
CL50 (µg/mL)
Intervalo de
Confiança (95 %)
Sementes
1712,91
1622,89-1802,93
Vagens
1352,98
1318,91-1387,04
*Como controle positivo foi utilizado dicromato de potássio (60 µg/mL) e como controle
negativo foi utilizado solução salina com 2 % de tween 80
Segundo os resultados apresentados na tabela 4, as sementes (CL50 1712,91 µg/mL) quanto
as vagens (CL50 1352,98 µg/mL) de L. lanatus não apresentaram efeitos citotóxicos. Quando
comparados entre si, as sementes apresentam efeitos citotóxicos menores. Correlacionando os
resultados obtidos para as sementes e vagens de L. lanatus com os resultados encontrados na
literatura (NUNES, et al; 2008) para sementes de Mimosa paraibana Barneby (CL50 602,5 µg/mL),
gênero de leguminosas pantropical considerada citotóxica (CL50 < 1000 µg/mL), pode-se confirmar
a baixa citotoxidade das sementes e vagens de L. lanatus, sendo que esta pode ser considerada uma
característica interessante para utilização de extratos vegetais em ambientes naturais.
CONCLUSÃO
De acordo com os resultados obtidos é possível inferir que encontram-se nas vagens e
sementes de L. lanatus metabólitos secundários como alcaloides, saponinas e triterpenos
substituídos em C3 por desoxioses. A presença de estruturas triterpênicas com possível anel
lactônico pentagonal foi observada apenas nas vagens desta espécie. Não sendo observado a
presença de cumarinas, taninos, cianogenéticos e antraquinonas nos constituintes vegetais
analisados. Na obtenção de constituintes voláteis por arraste a vapor em aparelho de Clevenger, as
sementes de L. lanatus apresentaram níveis muito baixos de constituintes voláteis em comparado
com sementes de P. emarginatus e nas vagens de mesma espécie não foram encontrados
constituintes voláteis. Os teores de compostos fenólicos totais para as sementes e vagens de L.
lanatus foram considerados baixos quanto comparados com as sementes de A. crassiflora. Na
avaliação da atividade antioxidante, foi possível perceber a tendência que o percentual de inibição
tem de diminuir enquanto aumenta a concentração do extrato bruto. Por fim, no teste de toxicidade
frente a A. salina as sementes e vagens de L. lanatus não foram consideradas citotóxicas quando
comparado com sementes de M. paraibana.
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ISSN 1809-1636
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