editorial Bom exemplo Na indústria mineira, a economia no uso de energia e a busca permanente de eficiência na sua utilização começam em casa. A nova sede da Fiemg, recém-inaugurada, é o primeiro prédio comercial de Minas Gerais com o selo Procel-Edifica, criado pela Eletrobras para destacar projetos que promovem o uso racional de energia elétrica. Mostra, igualmente, o avanço, elogiável, da indústria da construção civil em direção à sustentabilidade. Na verdade, mais que necessários, investimentos que visam à eficientização energética são fundamentais. Este é o tema da reportagem de capa desta edição da Revista Indústria de Minas. Práticas sustentáveis, bem como a busca incessante de fontes alternativas de energia, constituem plataformas essenciais para sustentar o ciclo de crescimento que o Brasil quer atingir. É preciso, sem dúvida, garantir oferta de energia suficiente para elevar a competitividade da indústria brasileira e atrair investimentos. Temos um longo caminho pela frente, como alerta o superintendente de Novos Negócios da Cemig, Álvaro Assis, entrevistado de Indústria de Minas. Ele nos informa que países como França e Canadá investem anualmente, em média, 17% do PIB em geração de energia, enquanto no Brasil esse índice é de menos de 6%. Na própria Cemig, uma empresa exemplar e vanguardista, 99% da geração de energia elétrica ainda provém de fontes hidroelétricas. É preciso acelerar o passo, de olho no fato, irreversível, de que o consumo energético vem aumentando em todo o mundo - estudos apontam que, até 2030, a demanda por energia praticamente irá dobrar. O Brasil tem iniciativas importantes, como o PROINFA – Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica. De sua parte, a Eletrobras se dispõe a comprar, durante 20 anos, eletricidade produzida por usinas eólicas, de biomassa e pequenas centrais hidrelétricas. Também nos setores privados desenvolvem-se ações importantes, com presença na geração e distribuição de energia. Diante da importância do tema, Indústria de Minas dá sua colaboração ao entendimento do assunto. Olavo Machado Junior Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais - FIEMG Sistema Fiemg Presidente: Olavo Machado Junior Conselho Fiscal: Leonídio Pontes Fonseca – Efetivo, Marcone Reis Fagundes - Efetivo, Luiz Carlos Xavier Carneiro - Efetivo, Ralph Luiz Perrupato - Suplente, Fábio Alexandre Sacioto - Suplente, Romeu Scarioli Júnior - Suplente. Delegado junto à CNI: Robson Braga de Andrade - Efetivo, Olavo Machado Junior - Efetivo, Aguinaldo Diniz Filho - Suplente, Edwaldo Almada de Abreu - Suplente. Crédito e capitalização: Petronio Machado Zica - Vice-Presidente, Ariovaldo de Melo Filho - Vice-Presidente Regional - Norte, Cláudio Arnaldo Lambertucci - 1º Diretor Financeiro, Francisco Sérgio Silvestre - Diretor, Ricardo Vinhas Corrêa da Silva - Diretor, Paulo César Rodrigues da Costa - Diretor Adjunto, Rodrigo Velloso de Almeida - Diretor Adjunto. Mercados: Luiz Fernando Pires - Vice-Presidente, Luciano José de Araújo - Vice-Presidente Regional - Vale do Aço, Adelmo Pércope Gonçalves - Diretor, Domingos Costa - Diretor, René Wakil Júnior - Diretor, Eduardo Caram Patrus - Diretor Adjunto, Jeferson Bachour Coelho - Diretor Adjunto, Marcelo Luiz Moreira Veneroso - Diretor Adjunto. Assuntos Tributários: Edwaldo Almada de Abreu - Vice-Presidente, Altamir de Araújo Rôso Filho - Vice-Presidente Regional - Vale do Rio Grande, Flávio Roscoe Nogueira - 3º Diretor Secretário, Lincoln Gonçalves Fernandes - 3º Diretor Financeiro, André Luiz Martins Gesualdi - Diretor, Heveraldo Lima de Castro - Diretor, Amadeus Antônio de Souza - Diretor Adjunto, Luiz Raul Aleixo Barcelos - Diretor Adjunto. Assuntos Legislativos: José Fernando Coura - Vice-Presidente, Luiz Custódio Cotta Martins - Vice-Presidente, Haylton Ary Novaes - Vice-Presidente Regional Sul, Pedro José Lacerda do Nascimento - Vice-Presidente Regional - Vale do Paranaíba, Luiz Augusto de Barros - 2º Diretor Secretário, Michel Aburachid - Diretor, Rômulo Rodrigues Rocha - Diretor, Carlos Lúcio Gonçalves - Diretor Adjunto, Sésyom Horeb Cerqueira - Diretor Adjunto. Relações Trabalhistas: Aguinaldo Diniz Filho - Vice-Presidente, Marco Antônio Soares da Cunha Castello Branco - Vice-Presidente, Teodomiro Diniz Camargos - Vice-Presidente, Adson Marinho - Vice-Presidente Regional - Pontal do Triângulo, Marcos Lopes Farias - Diretor, Paulo Roberto Achcar Resende Ribeiro - Diretor, Alexandra Pereira de Souza Maciel - Diretora Adjunta, José Flávio Zago - Diretor Adjunto. Sustentabilidade: Francisco Sérgio Soares Cavalieri - Vice-Presidente, Romeu Scarioli - Vice-Presidente, João Batista Nunes Nogueira - Vice-Presidente Regional - Alto Paranaíba, Getúlio Vargas Alvares Guimarães - Diretor, José Tadeu Feu Filgueiras - Diretor, Antônio Eduardo Baggio - Diretor Adjunto, Irma Ribeiro Santos - Diretora Adjunta. Educação e capacitação: José Maria Meireles Junqueira - Vice-Presidente, Edson Gonçalves de Sales - 1º Diretor Secretário, José Batista de Oliveira - 2º Diretor Financeiro, Júnior César Silva - Diretor, Scheilla Nery de Souza Queiroz - Diretora, Alba Lima Pereira - Diretora Adjunta, José Roberto Schincariol - Diretor Adjunto, Odorico Pereira de Araújo - Diretor Adjunto. Meio Ambiente: Alberto José Salum - Vice-Presidente, Bruno Melo Lima - Vice-Presidente, Francisco José Campolina Martins Nogueira - Vice-Presidente Regional - Zona da Mata, Rozâni Maria Rocha de Azevedo - Vice-Presidente Regional - Rio Doce, Adauto Marques Batista - Diretor, Roberto Revelino Silva - Diretor, Antônio de Araújo Rodrigues Filho - Diretor Adjunto, Everton Magalhães Siqueira - Diretor Adjunto. Inovação e Tecnologia: Luiz Carlos Dias Oliveira - Vice-Presidente, Valentino Rizzioli - Vice-Presidente, Afonso Gonzaga - Vice-Presidente Regional - Centro-Oeste, Giana Marcellini - Diretora, Leomar Pereira Delgado - Diretor, Roberto de Souza Pinto - Diretor, Márcio Danilo Costa - Diretor Adjunto, Michel Henrique Pires - Diretor Adjunto, Sebastião Rogério Teixeira - Diretor Adjunto. 06 14 18 38 Gerência de Imprensa do Sistema Fiemg Indústria de Minas - Revista mensal do Sistema Fiemg Produção e reportagem: FSB Comunicações Colaboraram nesta edição Textos: Lucas Buzatti, Marco Antônio Corteleti, Maurício Angelo, Pedro Grossi e Wagner Concha. Fotos: José Paulo Lacerda, Sebastião Jacinto Jr. Capa e ilustrações: Cláudio Duarte Diagramação: New 360 Fale com a redação: [email protected] Distribuição gratuita. Tiragem 25.000 exemplares. 10 22 06 10 CNI Novo presidente Robson Andrade defende reformas estruturais e país mais competitivo e sustentável MTP Salão de Negócios une grifes consagradas e marcas novas que atendem cada vez mais o mercado nacional 14 ENTREVISTA 18 MERCADO Aguinaldo Diniz Filho alerta para riscos de desindustrialização e cobra competição mais justa Ouro atinge valorização histórica no mercado mundial, viabilizando a expansão das mineradoras no Brasil 22 CAPA 28 BENCHMARKING 38 CULTURA & TURISMO Nova sede da Fiemg conquista selo de eficiência energética e chama a atenção para práticas sustentáveis Atuação fortalecida do polo moveleiro de Turmalina é resultado das ações do Sindimov-MG e da Fiemg Prática de esportes náuticos em lagos e rios mineiros impulsiona mercado de barcos e lanchas Ministro do Sudão visita Fiemg O ministro das Relações Internacionais do Sudão, Ali Ahmed Karti, e o embaixador do Sudão no Brasil, Abd Elghani Elnaim Awad Elkarim, visitaram a sede da Fiemg no dia 25 de novembro. A comitiva sudanesa foi recebida pelo vice-presidente da Fiemg, Romeu Scarioli. A passagem das autoridades sudanesas pelo país visa estreitar as relações comerciais com o Brasil. “Colocamos a Fiemg à disposição do governo. Acredito que podemos ser o elo que vai facilitar o diálogo entre Minas e o Sudão”, afirmou Scarioli durante o encontro. Foto: Portal Espalhe Minas/ SETUR-MG Index expande número de empresas A Fiemg quer ampliar o número de empresas participantes da pesquisa Indicadores Industriais (Index), que demonstra mensalmente o desempenho da indústria mineira, com resultado de todo o estado, por regiões e setores. “Existem hoje no Brasil poucas informações que subsidiem o empresário no acompanhamento da sua atividade industrial”, explica o gerente de Economia e Finanças da Fiemg, Guilherme Veloso Leão. Ele afirma que a pesquisa já é reconhecida no estado, mas que o desafio agora é elevar a amostra mensal de empresas respondentes para, com isso, monitorar com maior precisão os diferentes grupos industriais. Em Minas, os resultados são divulgados para 15 setores diferentes, com dados globais do estado, por segmento e de forma regionalizada (por Regionais Fiemg). As empresas que participam da pesquisa recebem ainda o resultado da sua empresa e a comparação com o seu segmento e com os dados globais da economia do estado. Participar da pesquisa e receber os resultados não tem qualquer custo para as empresas. Para fazer a adesão à pesquisa ou saber mais sobre a metodologia, contate a gerência de Economia e Finanças da Fiemg pelo telefone (31) 3263-4388 ou e-mail [email protected] Atleta Sesi conquista Brasileiro de natação Jéssica Geovanna Borges Matos, de 13 anos, atleta do Sesi-MG, conquistou em novembro o Campeonato Brasileiro Infantil de Natação – Troféu Maurício Beckenn. O evento foi realizado no Parque Náutico Atlético Cearense, em Fortaleza, e reuniu 535 atletas-mirins de 109 clubes de todo o país. Jéssica sagrou-se campeã na modalidade 200m borboleta, com o tempo de 2 minutos, 30 segundos e 34 centésimos. Foto: José Paulo Lacerda Prêmio IEL As melhores práticas de estágio foram premiadas na quarta edição do Prêmio IEL de Estágio, realizado em Brasília. Ao todo, 218 programas participaram das etapas seletivas realizadas em 17 estados nas categorias grande, média e pequena empresa, em nível técnico e superior. Os melhores trabalhos e empresas classificadas de cada região foram escolhidos pelos Núcleos Estaduais do IEL e se credenciaram para a disputa nacional. Participaram da premiação empresas que possuem contrato de concessão de estágio com um núcleo IEL no estado de origem. Representantes de companhias e instituições de ensino receberam troféus e certificados de primeiro, segundo e terceiro lugares. O estagiário classificado em primeiro recebeu um notebook, enquanto os demais ganharam um netbook. Uma das representantes de Minas, a Uberlândia Refrescos Ltda, franqueada do Sistema Coca-Cola, ficou com o terceiro lugar na categoria grande empresa. Semana Mineira de Redução de Resíduos O Sistema Fiemg marcou presença na Semana Mineira de Redução de Resíduos apresentando suas iniciativas junto à indústria para a redução de resíduos, como o Programa Mineiro de Simbiose Industrial (PMSI), que utiliza a metodologia do programa inglês National Industrial Symbiosis Programme (Nisp). A ideia é promover a simbiose de resíduos e recursos como energia, água, matéria-prima, mão de obra e equipamentos ociosos, bem como capacidade técnica entre as empresas participantes. De 2009 pra cá, 95 mil toneladas de resíduos deixaram de ter como destino final os aterros sanitários e mais de 82 mil toneladas de CO 2 deixaram de ser emitidas na atmosfera. Houve também uma redução de custos das empresas participantes da ordem de R$ 7 milhões. O evento foi promovido pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) no Centro Mineiro de Referência em Resíduos. Bolsa de Recicláveis integra SIBR A Bolsa de Recicláveis da Fiemg agora faz parte do Sistema Integrado de Bolsa de Resíduos (SIBR), uma iniciativa da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) que eleva as transações de resíduos a nível nacional. “O SIBR é a união das diversas Bolsas de Resíduos existentes no Brasil em um só ambiente virtual. A empresa cadastrada poderá utilizar toda a base das informações das Federações das Indústrias participantes, possibilitando o aumento nas oportunidades de transações – seja de compra, troca ou venda”, explica Cláudia Schanen Stancioli, analista ambiental da gerência de Meio Ambiente da Fiemg. Para as empresas que já participam da Bolsa de Recicláveis da Fiemg e lá possuem cadastro, mudou apenas o acesso, que passa a ser feito pelo site do SIBR, com o mesmo login e senha cadastrados. O banco de dados do sistema da Fiemg foi migrado automaticamente para o novo sistema. Outras informações pelo telefone (31) 3263-4511 ou pelo e-mail [email protected]. CNI Pela redução do custo Brasil Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade defende a construção de um Brasil mais competitivo, sustentável e com justiça social R obson Braga de Andrade tomou posse no dia 17 de novembro na presidência da Confederação Nacional da Indústria (CNI) com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge, governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia, ministros, parlamentares, membros do Poder Judiciário, todos os presidentes de federações de indústria do país e empresários dos diversos setores produtivos. Ele recebeu o cargo do ex-presidente da CNI e senador eleito por Pernambuco, Armando Monteiro Neto. O presidente da Fiemg, Olavo Machado Junior tomou posse como diretor da confederação, reeleito para o período 2010/2014. Em seu pronunciamento, Robson Braga de Andrade defendeu a necessidade de um regime de urgência na adoção de reformas estruturais. “Pagamos um alto preço por postergar a realização das reformas estruturais no passado um pouco mais distante; pagamos preço elevado por fazê-las apenas parcialmente no passado recente; pagaremos um preço ainda mais alto se não as fizermos agora”, enfatizou Andrade para uma plateia de mais de mil convidados no Centro de Convenções Brasil XXI. Alinhou “quatro pilares fundamentais” na agenda 6 indústria de minas - novembro 2010 das reformas a ser cumprida no próximo governo: imposição de limites à expansão dos gastos correntes; revisão do sistema de vinculação de despesas; implantação de critérios de eficiência aos programas governamentais e adoção de um sistema previdenciário adequado à elevação da expectativa de vida da população. O presidente da CNI apontou a reforma tributária como a principal prioridade, com o objetivo de desonerar completamente os investimentos e as exportações e simplificar e reduzir a burocracia do sistema tributário. A reforma trabalhista, na sua visão, é necessária para eliminar incertezas legais, reduzir os custos do trabalho e estimular a criação de empregos. A reforma política, por sua vez, de acordo com Robson Braga de Andrade, “é essencial diante da constatação de que a qualidade da governança pública e do sistema de decisões políticas é crucial para o adequado funcionamento da economia e da sociedade”. “Fazer o que precisa ser feito, com coragem e determinação, eliminando obstáculos muitas vezes endêmicos na vida política e econômica do nosso país é a melhor forma de ampliar a nossa competitividade”, destacou o presidente da CNI. Ao passar o cargo a Robson Braga de Andrade, o ex-presidente da CNI Armando Monteiro Neto advertiu Foto: José Paulo Lacerda “Temos um compromisso inadiável e urgente com as reformas estruturais”, destaca Andrade que a continuidade da valorização cambial restringe o crescimento da indústria e da economia. Conforme seu diagnóstico, a apreciação do real impõe duplo ônus à competitividade dos produtos industriais. “Mantém não apenas o custo de capital elevado, como permite preços favorecidos aos produtos estrangeiros nos mercados internacionais, prejudicando nossas exportações e crescentemente o mercado doméstico”, enfatizou. Monteiro Neto propôs a adoção de uma meta de superávit primário ousada, citando o déficit público nominal zero, como alternativa “para reduzir drasticamente as necessidades de financiamento público e abrir espaço para a queda dos juros, contendo o processo de valorização do real”. Fotos: Miguel Ângelo e Sebastião Jacinto Júnior 8 indústria de minas - novembro 2010 Leia, a seguir, os principais trechos do discurso do presidente da CNI, Robson Braga de Andrade: - A competitividade é o grande desafio que o Brasil e a sociedade brasileira têm diante de si neste momento. Enfrentá-lo corajosamente, e superá-lo, é a missão das lideranças nacionais – na política, no mundo empresarial, em todos os segmentos representativos do povo brasileiro. - A agenda positiva da indústria brasileira é a agenda do desenvolvimento sustentável, do crescimento, da geração e justa distribuição da riqueza e da renda nacional, da criação de empregos, da inserção consistente do país na cena econômica mundial. A agenda da indústria é muito mais que apenas a agenda das empresas e dos empresários: sem corporativismo, comprometida com o desenvolvimento do país, é a agenda da sociedade brasileira. • Por que conviver, ad eternum, com uma das mais altas cargas tributárias do mundo e ostentar o recorde de país campeão em elevadas taxas de juros? • Por que conviver com uma legislação trabalhista arcaica, da década de 40 do século passado, que inibe a geração de empregos? • Por que nos submetermos a uma burocracia que, tal como uma hidra insaciável, resistente e sorrateira, está sempre à espreita, conspirando contra o crescimento econômico e o desenvolvimento social do país? • Por que postergar indefinidamente a aprovação de marcos regulatórios indispensáveis à atração de investimentos produtivos? Por que conviver com uma infraestrutura precária, que onera os produtos brasileiros, subtraindo-lhes a competitividade no mercado interno e nos grandes mercados mundiais? • Por que transformar o meio ambiente em uma arena dominada por interesses sectários que oneram, atrasam e, no extremo, podem até inviabilizar projetos estratégicos para o país? • Por que conviver com uma estrutura de comércio internacional e uma política de exportações que reduzem as possibilidades do Brasil de participar do mercado global de forma isonômica e competitiva nos setores de alta intensidade tecnológica? • Por que não conseguimos equilibrar arrecadação de tributos e gastos públicos, aumentando a dívida pública, pressionando a inflação e provocando a elevação das taxas de juros? • Por que insistimos em manter um sistema de previdência pública que ignora as mais óbvias transformações demográficas que ocorrem no Brasil? • Por que não fazemos a reforma política, pondo fim ao sistema vigente, eivado de vícios e deficiências que só contribuem para elevar o custo da tomada de decisões que afetam o ambiente de negócios e as relações entre agentes econômicos e sociais, gerando incertezas e impondo limitações ao crescimento? - Nosso país tem um compromisso inadiável e urgente com as reformas estruturais que vêm sendo postergadas ao longo de muitas décadas. A reforma tributária é a principal prioridade – e o seu foco, o seu norte e a nossa obsessão devem ser a busca da competitividade. O objetivo deve ser a desoneração completa dos investimentos e das exportações, a simplificação e a redução da burocracia do sistema. No âmbito da reforma fiscal e da previdência, três são os objetivos principais: eficiência do Estado e melhoria da gestão pública; aumento da capacidade de poupança pública e a sustentabilidade do sistema previdenciário. - A agenda a ser cumprida explicita quatro pilares fundamentais: imposição de limites à expansão dos gastos correntes; a revisão do sistema de vinculação de despesas; a implantação de critérios de eficiência aos programas governamentais; e a adoção do sistema de benefícios da previdência compatíveis com a estrutura etária da população. - A agenda da reforma das relações do trabalho explicita dois objetivos principais: garantir proteção ao trabalhador e ao emprego; ampliar a competitividade do sistema produtivo nacional e, por essa via, elevar a geração de emprego. - A reforma política, essencial diante da constatação de que a qualidade da governança pública e do sistema de decisões políticas é crucial para o adequado funcionamento da economia e da sociedade. - O documento A Indústria e o Brasil – Uma agenda para crescer mais e melhor, diz, com assertividade, que a indústria deve estar no centro da estratégia nacional em razão direta de seus efeitos sobre a produtividade e sobre a inovação das demais atividades da economia. - A diversificação da nossa indústria é um ativo valioso. Também aqui o conjunto é maior que a soma das partes: abdicar de ter uma indústria de bens de capital forte reduz a nossa capacidade de inovação, na exata medida em que há um importante processo de aprendizagem na relação entre empresas e fornecedores. Da mesma forma, precisamos ter uma indústria forte nos setores de produtos de alta intensidade tecnológica e de elevado valor agregado. - Manter e ampliar a capacidade de diversificação da indústria é importante e estratégico: gera interações com impactos na produtividade e na inovação; reduz riscos de dependência excessiva a produtos de outros países; garante a soberania nacional e abre possibilidades reais de participação no comércio internacional. Por todas essas razões, o foco na isonomia competitiva e na redução do custo Brasil é a grande prioridade da indústria nacional. MTP Muito além das passarelas Salão de Negócios oferece oportunidades para grifes consagradas e marcas novas, que focam o mercado interno. Real valorizado ainda é entrave para exportações A s atenções do Minas Trend Preview não estiveram voltadas apenas para as modelos que desfilaram pelas passarelas. Durante quatro dias, quase 200 expositores de vestuário, joias, bijuterias, calçados e bolsas mostraram a compradores nacionais e internacionais que visitaram o Salão de Negócios o que será moda nas próximas estações. Natália Pessoa, sócia-proprietária da Faven, participou de todas as edições do MTP e ressalta a expansão do evento, tanto na geração de negócios quanto na organização. “A primeira edição foi bem peque- 10 indústria de minas - novembro 2010 na e acanhada, mas hoje percebemos que o MTP está mais organizado e profissional”, compara. Segundo ela, a expectativa da grife, que completa 14 anos e mescla roupas com tricô e tecidos planos, é que haja um crescimento entre 30% e 40% nas vendas em relação à última edição. Natália conta que já trabalhou com exportações, mas o momento atual não é favorável. “A valorização do real é um entrave, já que o nosso produto fica mais caro. Apesar disso, o mercado interno está bastante aquecido.” A Kowro Bag’s, de Uberaba, no Triângulo Mineiro, também está presente desde o início do MTP. Nesta edição, a empresa comercializou quase 700 bolsas Fotos: Sebastião Jacinto Júnior Quase 200 expositores de joias, vestuário, calçados e bolsas participaram do Salão de Negócios do MTP e 1,8 mil carteiras, totalizando R$ 160 mil – um aumento de mais de 15% em relação à edição passada. Para Alexandra Pereira, proprietária da Kowro Bag’s e presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados de Uberaba (Sindicau), o evento provocou uma grande mudança na indústria. “É uma feira que tem nos ajudado na questão da sazonalidade que havia dentro do setor. Agora, temos uma linha mais retilínea de produção”, explica. Segundo ela, a proposta do Minas Trend Preview de antecipar tendências é positiva, já que o setor consegue oferecer aos lojistas prévias para as próximas estações. Dessa forma, as fábricas tra- balham praticamente durante todo o ano. “Aqui antecipamos negócios e vendemos para janeiro e fevereiro, o que nos dá um resultado melhor”, conta a presidente do Sindicau, que representa 60 empresas do segundo polo produtor de artigos em couro do estado – atrás apenas de Nova Serrana. Internacionalização – Alexandra afirma que o foco atual do setor é o mercado interno, mas algumas empresas já estão exportando pequenos volumes. Segundo ela, que fez contatos com compradores da Polônia durante o MTP, a internacionalização é um trabalho contínuo. “É como a conquista 11 MTP evita hiato na produção entre as principais estações: o verão e o inverno de um cliente: não é um processo mágico ou de uma hora para outra”. Além disso, a presidente do Sindicau afirma que a exportação ajudará na melhoria da qualidade dos produtos. Mary Figueiredo, proprietária da grife de joias Mary Design, de Belo Horizonte, concorda com Alexandra, ao afirmar que o MTP veio dar continuidade à produção, evitando um hiato entre as duas principais estações do ano: o verão e o inverno. “A maioria das empresas tinha um vazio muito grande. Havia uma descapitalização nesse período, que gerava demissões”, ressalta. “A valorização do real é um entrave, já que o nosso produto fica mais caro. Apesar disso, o mercado interno está bastante aquecido” – Natália Pessoa, da Faven. A Mary Design, que produz entre 10 mil e 15 mil peças por mês, também participa desde o primeiro MTP. A proprietária Mary Figueiredo lembra das dificuldades encaradas para a consolidação do conceito de antecipação de tendências. “Tivemos que ensinar para os clientes o que era um preview. Eles tinham resistência em fazer pedidos para o verão em pleno inverno.” Outro importante papel do evento, na opinião de Mary, é dar visibilidade para novas marcas. “Para muitos expositores, a única forma de se sobressaírem no mercado fora de Minas Gerais é participar dessa vitrine que o Minas Trend Preview oferece.” É o caso da recém-criada Jardin. Fundada na capital mineira em fevereiro deste ano, a grife conseguiu em seu evento de estreia fazer contatos e fechar encomendas. “Independentemente de concretizar negócios ou não, os contatos que fiz foram ótimos, pois é muito difícil para uma marca nova entrar no mercado”, destaca a estilista Bhárbara Renault. “Ainda não tenho condições de bancar um estande, por isso achei excelente a oportunidade de participar de um espaço coletivo com outras marcas”, completa. Para Joana Paula Rodrigues, proprietária da Joana Paula Bijoux, fabricante de bijuterias e acessórios com renda renascença, artesanato característico da região de Caruaru (PE), o MTP ajuda na projeção da marca e serve como estímulo para melhorar ainda mais os produtos. Joana conta que fabrica cerca de 1,5 mil peças por mês – entre brincos, pulseiras, tiaras, arcos, colares e broches – e tem planos de exportar após a estruturação da empresa, criada em 2004. “O MTP está sendo de extrema importância para o lançamento da nossa coleção de inverno”, diz a empresária, que participa pela segunda vez do evento e conseguiu, nesta edição, pedidos de compradores que estiveram na edição de verão do MTP. “É uma feira que tem nos ajudado na questão da sazonalidade que havia dentro do setor”, diz Alexandra Pereira, do Sindicau. O momento é favorável para o setor de bijuterias, joias e pérolas, avalia Douglas Neves, vice-presidente da área de gemas do Sindicato das Indústrias de Joalherias, Ourivesarias, Lapidações e Obras de Pedras Preciosas, Relojoarias, Folheados de Metais Preciosos e Bijuterias no Estado de Minas Gerais (Sindijoias). Segundo ele, o setor tem exportado bastante, mas poderia fazer ainda mais. “O real valorizado prejudica nossa exportação, já que encarece o nosso produto em relação à concorrência chinesa”, finaliza. 13 e n t r e v i s ta Aguinaldo Diniz Filho Em defesa de uma competição mais justa Presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) alerta para os riscos da desindustrialização, um efeito cascata que atinge toda a cadeia por Nonon nonon O setor têxtil e de confecção gera 1,75 milhão de empregos diretos em todo o país, além de sete milhões de indiretos. Na opinião de Aguinaldo Diniz Filho, presidente da associação brasileira do setor, o processo de desindustrialização pelo qual o Brasil está passando corresponde a “entregar de mão beijada todo esse mercado a países que não competem de forma isonômica com a industrial nacional”. “A desindustrialização não é um raio, mas vai paulatinamente atingindo todas as esferas da produção”, ressalta Diniz Filho, que também é diretor-presidente da Cedro Cachoeira, uma das maiores empresas têxteis no Brasil. Em entrevista exclusiva à Indústria de Minas, o presidente da ABIT afirma que a situação irá se complicar caso haja uma diminuição do consumo interno, que hoje aborve 97% da produção. “Precisamos desonerar investimentos, diminuir imediatamente o custo Brasil nas reformas e criar formas de resolver a situação do câmbio”, defende. 14 indústria de minas - novembro 2010 Fotos: Sebastião Jacinto Júnior “Queremos uma situação de competição igualitária, uma isonomia”, ressalta Diniz Filho Quais as grandes prioridades do setor têxtil para combater o processo de desindustrialização? Nossas demandas são semelhantes às de outros setores produtivos. É difícil falar em controlar o câmbio e o valor do dólar, pois sou favorável ao câmbio flutuante. Mas a cesta de moedas do mundo está 35% desvalorizada em relação ao real. Isso torna muito difícil a competitividade da indústria brasileira. Temos que pensar em soluções como mexer no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), para que tenhamos uma defesa comercial frente ao que está acontecendo na China e nos Estados Unidos. A indústria têxtil precisa de acordos bilaterais, fortalecer a defesa comercial, enfrentar a entrada de mercadorias no Brasil de todas as formas, combater o subfaturamento e trabalhar a inovação. Para enfrentarmos esse princípio de desindustrialização, precisamos pensar em reformas, como a trabalhista, para desonerarmos a folha de pagamentos. A indústria têxtil é uma grande geradora de empregos e não pode pagar o pato do que está acontecendo no mundo. Quais os riscos iminentes dos reflexos da guerra cambial? O reflexo do câmbio é muito forte, haja vista que o setor têxtil este ano terá um déficit nominal na balança comercial de US$ 3,5 bilhões. Fomos superavitários até 2005. Será que esquecemos como se produz, como se trabalha? Absolutamente. O câmbio tem que ser verificado. A China tem subsídio na moeda, que é desvalorizada em mais de 30% em relação ao real. Assim, os produtos ficam muito mais baratos para entrar aqui. 15 Isso é altamente danoso. Apesar de toda a conjuntura adversa, estamos investindo e apostando. Qual o nível de competitividade da indústria nacional? Dentro das quatro paredes a indústria brasileira é competitiva, mas o chamado custo Brasil é que complica. Precisamos melhorar isso para não entrarmos no processo de desindustrialização. O Brasil é 85% urbano, e quem segura o emprego é a indústria. O setor de serviços tem ainda que melhorar muito para absorver esse processo na hipótese de uma desindustrialização. Precisamos fortalecer a indústria. Nós não queremos nenhum favor, não queremos dinheiro a fundo perdido, não queremos financiamento irresponsável. A única coisa que a indústria têxtil brasileira quer é uma situação de competição igualitária. Uma isonomia, que nós não temos. Quais mecanismos propiciariam essa isonomia? Precisamos desonerar investimentos, desonerar a folha, diminuir imediatamente o custo Brasil nessas reformas, criar uma forma de combater melhor a situação do câmbio. Além disso, precisamos aumentar a competitividade da fábrica para que ela não seja prejudicada a partir do momento que emite a primeira nota fiscal. 16 Como o atual governo previu isso e que medidas está tomando para enfrentar esse quadro? 25%. Se amanhã o consumo interno, que hoje é responsável por 97% da nossa produção, diminuir, a situação se complica. A indústria têxtil teve um contato muito bom com o governo que está saindo, não posso negar isso. Sempre fomos recebidos e tivemos diálogo com os ministros da Fazenda e da Indústria. Agora precisamos de resultados mais rápidos, implantar o senso de urgência na indústria têxtil e brasileira como um todo. A desindustrialização tem um efeito cascata, afetando toda a cadeia, gerando redução de renda e piorando a condição social. A desindustrialização não é um raio, mas vai paulatinamente atingindo todas as esferas da produção. Como reconquistar essa margem de exportação que a indústria possuía? O senhor acredita em recessão generalizada? A indústria é responsável por 16% do PIB brasileiro, mas emprega muito mais gente que 16%. O setor têxtil, por exemplo, emprega quase 10% dos postos de trabalho gerados na indústria de transformação. Se esse problema continuar, podemos ter uma crise na própria indústria, interrompendo o crescimento e a geração de renda no país. Vamos investir US$ 2 bilhões no ano que vem, o que no nosso setor é muito dinheiro. Estamos acreditando, mas hoje exportamos apenas 3% do que produzimos – esse índice já foi de até indústria de minas - novembro 2010 A Cedro Cachoeira, por exemplo, exportava 15%, enquanto hoje esse índice é de apenas 5%. Esses 10% que perdemos não são recuperados tão cedo. Para reconquistar os clientes é muito difícil. O Brasil só tem acordos bilaterais com o Egito e Israel. Nada contra esses países, mas a corrente de comércio com eles é pequena. Já fomos ao Itamaraty para mostrarmos esse problema. Existem no mundo 350 acordos bilaterais. Para entrar nos Estados Unidos, um produto têxtil paga 28% de alíquota. Meu concorrente, que tem câmbio melhor, não paga esse imposto. Aí está a perda de competitividade clara. Qual a maior força do mercado brasileiro, diante desse cenário? O maior ativo que o Brasil tem hoje se chama mercado interno, que foi conquistado com o controle da inflação e a melhoria da renda, fazendo com que tivéssemos um mercado interno forte. Não podemos entregá-lo para os países da Ásia, que estão vindo para cá com a Europa e os Estados Unidos em crise. A Cedro Cachoeira tem 3,3 mil empregados, mais de 130 anos investindo e produz 168 milhões de metros quadrados de tecidos por ano. Não somos contra a importação, afinal estamos em um mundo globalizado, mas queremos isonomia competitiva. Qual a previsão para a balança comercial em 2011? Vamos terminar este ano com US$ 3,5 bilhões de déficit comercial. Vamos importar US$ 5 bilhões e exportar US$ 1,5 bilhão. Acredito que em 2011 o déficit deve ficar entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões. A previsão é de piora. Como o setor têxtil está trabalhando a inovação? Estamos buscando desenvolver novos produtos, mas não temos pretensão de abarcar todo o portfólio da indústria têxtil. O Minas Trend Preview é uma iniciativa fantástica, um exemplo que Minas Gerais ofe- rece. Lá mostramos como está o produto, a inovação, a modernidade na gestão. O Brasil é autossuficiente em algodão e nossa matéria-prima é de muito boa qualidade. A cotonicultura brasileira é uma heroína, mas Minas Gerais precisa plantar mais algodão. As indústrias têxteis daqui consomem 150 mil toneladas de algodão por ano, mas produzimos só 25 toneladas. Temos um caminho enorme ainda a percorrer. De que forma o setor está enfrentando a escassez da mão de obra? A escassez tem pontos positivos e negativos. O lado bom é que aumentou a demanda, e acho favorável termos que gerar emprego em função disso. Mas não tivemos investimentos em escolas técnicas, universidades, formação de técnicos e engenheiros no passado. Estamos sofrendo com isso agora. Tomara que esse “apagão” da mão de obra sirva de exemplo para nós, enquanto país, para que possamos crescer, melhorar e investir, porque este é o maior recurso que as empresas têm: as pessoas. Precisamos de recursos humanos qualificados, as empresas precisam investir maciçamente em treinamento. Como envolver o trabalhador nesse processo de combate à desindustrialização? Precisamos mostrar aos empregados que estamos todos no mesmo barco. Eu não faço nada sozinho. Eu já trabalhei no chão de fábrica durante 22 anos. A união do capital e do trabalho é fundamental. Do chão de fábrica ao presidente. Temos que conviver com eles, mostrar que estamos juntos, que eles não podem ser prejudicados por essa competição desleal. Vamos levar o sindicato a Brasília em março para formar nossa frente parlamentar. 17 MERCADO O caminho ascendente do ouro Com a maior valorização da história, metal é porto seguro para investimentos e estimula a expansão de mineradoras no Brasil Foto: Divulgação Sindiextra A cotação do ouro atravessa um momento histórico de alta, viabilizando investimentos na área de mineração. Em novembro de 2010, o metal atingiu o recorde absoluto de US$ 1.403 por onça-troy (31,1035 gramas) na Comex, divisão de metais da Bolsa Mercantil de Nova Iorque. Na avaliação de José Fernando Coura, presidente do Sindicato da Indústria Mineral de Minas Gerais (Sindiextra), o quadro nunca foi tão bom para o setor de mineração aurífera. “Estamos passando pela maior cotação histórica do ouro e o mais importante: em Minas, depois de 300 anos, ainda estamos descobrindo reservas de ouro no Quadrilátero Ferrífero”, afirma. Segundo Coura, os investimentos envolvem prospecção, pesquisa mineral, sondagem, reavaliação de ativos, jazidas e projetos de expansão em todo o estado. “Pela cotação atual, depósitos que até então eram considerados antieconômicos passaram a ter a exploração viável. O Quadrilátero Ferrífero e o noroeste de Minas têm um potencial fantástico ainda a ser descoberto”, explica o presidente do Sindiextra. “Novas prospecções e pesquisas estão em estágio avançado. Temos investimentos recentes em Santa Bárbara, Caeté e Sabará e novas empresas estão chegando. Essa faixa de preço torna atrativo e rentável todos os negócios”, completa. Para José Inácio Franco, presidente da Associação Nacional do Ouro (Anoro) e diretor do Grupo Fitta, o metal não era item de investimento, mas passou a fazer parte do portfólio de aplicações financeiras em virtude das mudanças econômicas ocorridas nos últimos quatro anos. “Os principais gestores de fortuna estão recomendando que entre 5% e 10% do portfólio dos clientes seja de ouro. Essa nova demanda contribuiu muito para o aumento”, explica. De acordo com ele, a expectativa de analistas de mercado é que o valor alcance entre US$ 1,5 mil e US$ 2 mil a onça-troy. Entretanto, Franco lembra que a onça-troy já chegou a apenas US$ 300 no passado. “A tendência é positiva e ela só se reverterá quando o juro real no mundo deixar de ser negativo”, avalia. Os números em Minas Gerais colaboram para uma expectativa positiva: o estado é responsável por 60% da produção aurífera brasileira e 50% das exportações. A alta na exportação em 2010 já é de 52%, chegando a US$ 746,5 milhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Co- mércio Exterior (MDIC). A evolução da produção anual do Brasil também é significativa, passando de 47 toneladas em 2004 para 61 toneladas em 2010. Em Minas, uma das principais mineradoras é a canadense Kinross Gold Corporation, que iniciou suas operações em 1987 em Paracatu, no noroeste do estado. A mina a céu aberto Morro do Ouro, apesar do baixo teor aurífero – o menor do mundo, com 0,40 grama por tonelada de minério –, produz 15 toneladas por ano. Foram investidos US$ 570 milhões de 2006 até hoje no projeto de expansão, que elevou a produção de cinco às atuais 15 toneladas, além da extensão da vida útil da mina até 2040. A empresa ainda tem operações em Crixás (GO), em parceria com a AngloGold Ashanti, que receberam investimentos de R$ 100 milhões e gera 75 mil onças-troy por ano. A sul-africana AngloGold Ashanti, por sua vez, opera nos municípios de Nova Lima, Sabará e Santa Bárbara, no Quadrilátero Ferrífero. A atuação no país, que completa 11 anos em 2010, é responsável por 9% da produção mundial do grupo. São 406 mil onças-troy (13 toneladas) extraídas pela AngloGold Ashanti no Brasil, sendo 329 mil onças-troy produzidas nas operações em Minas Gerais e 77 mil onças-troy em Goiás. Terceira maior produtora de ouro do mundo, a empresa tem 21 operações em dez países, com produção total de 143 toneladas. A canadense Yamana Gold completa a tríade das principais mineradoras presentes no Brasil, com 25% da produção do mercado, ao lado da Kinross (25%) e da AngloGold Ashanti (27%). Fundada em 2003, a Yamana tem presença em vários países da América Latina, como Chile, Argentina, México e Colômbia. No Brasil, a Yamana explora três minas, uma em Goiás e duas na Bahia, com previsão total estimada em 2010 de 365 mil onças-troy. Além destas, a Yamana desenvolve pesquisas em estágios avançados em mais quatro minas na Bahia, Mato Grosso e Goiás. Coura, do Sindiextra: “Ainda estamos descobrindo reservas de ouro no Quadrilátero Ferrífero” Foto: Divulgação Yamana Mina subterrânea Fazenda Brasileiro, da Yamana, em Barrocas (BA) Cenário favorável – As minas na Ainda de acordo com Portugal, a Ya- ro de Mineração (IBRAM), o avanço Bahia e em Mato Grosso já tiveram mana aposta no crescimento do setor do setor é enorme, apesar das disseus estudos de viabilidade aprova- e, por isso, investe em novas minas e cussões sobre um novo código de dos e devem gerar um incremento de expansões. “Acreditamos no com- mineração – já que o atual remonta a 204 mil onças-troy na produção. A promisso da manutenção das re- década de 1940 – e dos gargalos em exploração deve começar em 2012. gras regulatórias na área de mi- pesquisa mineral, infraestrutura de Arão Portugal, vice-presidente de ad- neração, que darão maior tran- transportes e déficit de engenheiros. ministração e country “No setor de mineração, es“No setor de mineração, estão previstos manager local da Yamatão previstos US$ 62 bilhões US$ 62 bilhões em investimentos nos na, revela os planos da em investimentos nos próxipróximos cinco anos” – Antônio empresa. “Entendemos mos cinco anos. É uma cifra Lannes, do IBRAM como ponto positivo as recorde. Só em ouro tereestabilidades política, mos US$ 2 bilhões nesse econômica e do sistema financeiro quilidade para a manutenção do período, sendo que Minas Gerais brasileiro, além da tendência de um nível de investimento no país.” concentra aproximadamente 70% cenário macroeconômico favorável Para Antônio Lannes, gerente de da- dessa cifra. Nunca se viu tanto inpara a valorização do ouro.” dos econômicos do Instituto Brasilei- vestimento em um setor no país.” 21 CAPA A energia para o país não estacionar Recém-inaugurada, nova sede da Fiemg recebe selo Procel de eficiência energética e chama a atenção para a importância de práticas sustentáveis e para investimentos na geração de energias alternativas E m tempos onde sustentabilidade é a palavra de ordem, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) acaba de se mudar para o primeiro prédio comercial de grande porte em Minas certificado com o selo Procel de eficiência energética. A nova sede da Fiemg, que fica na avenida do Contorno, número 4.456, em Belo Horizonte, passa a abrigar toda a estrutura administrativa da Federação. A exemplo do que já ocorre com eletrodomésticos, o Selo Procel-Edifica certifica projetos que promovem a economia e o uso racional de energia elétrica em edificações. São analisados o sistema de iluminação, de condicionamento de ar e a envoltória dos edifícios (cobertura, áreas de vidro, janelas, entre outros). A professora de arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Roberta Gonçalves, afirma que o objetivo da certificação é justamente fazer com que o selo se torne uma referência para o consumidor, como se dá com os eletrodomésticos. “Quando as geladeiras passaram a ter etiqueta, as pessoas começaram a valorizar não só a aparência do produto, mas também o seu consumo. Acreditamos que o mesmo vá acontecer com os edifícios comerciais e residências”, diz. Teodomiro Diniz Camargos, vice-presidente da Fiemg e construtor da nova sede, explica que o prédio foi projetado com uma metodologia moderna de construção que envolve, além do sistema inteligente de controle de consumo de energia e de água, programas avançados de comuni- 23 Foto: Divulgação Cemig Cemig investe na participação acionária de três parques eólicos no Ceará cação interna e externa e de segurança. “Não nos preocupamos com luxo, mas sim em abrigar a sede em um edifício moderno, que trouxesse agilidade, qualidade, funcionalidade, eficiência e economia”, afirma o engenheiro. Sobre os requisitos determinantes para o prédio receber o selo, Diniz Camargos destaca o sistema de ar-condicionado que permite a saída de ar-refrigerado do piso, ao contrário dos modelos tradicionais, em que o ar sai do teto e despende mais pressão e, consequentemente, energia. 24 “Esse sistema permite ainda que o ar frio circule internamente por mais tempo, o que é sinônimo de economia”, explica. Os vidros também são outro diferencial importante porque permitem uma entrada maior de luminosidade no ambiente, reduzindo a iluminação artificial e isolando a entrada de calor. “Esses benefícios, somados ao sistema de ar-condicionado, proporcionam uma economia entre 25% e 30% nos gastos com energia elétrica”, destaca. Já a redução no consumo de água chega a 58% com a utilização de indústria de minas - novembro 2010 temporizadores nas torneiras e o sistema de válvula de descarga com dispositivo para líquido e sólido, além da captação de água de chuva, que é armazenada e reutilizada. “Essa economia considerável de água nos rendeu um ponto de bonificação na somatória de notas que nos conferiram o selo”, ressalta Diniz Camargos. Aliam-se a isso outros detalhes, entre eles o teto pintado em cor clara e o pilotis gramado, que também auxiliam na redução do aquecimento interno e nos gastos energéticos. “Imagine, em dez anos, o quan- to um prédio do porte da sede da Fiemg pode poupar”, calcula o vice-presidente da Fiemg. “A sustentabilidade, já há algum tempo, tem sido pauta obrigatória nas discussões e o setor da construção está engajado nessa questão”, complementa. Fontes alternativas – Em 2003, o Governo Federal criou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA) para diversificar as fontes energéticas disponíveis e estimular a entrada no mercado de produtores autônomos. A Eletrobras se dispôs a comprar, duConsumo – Minas Gerais demanrante um período de 20 anos, a da hoje 13,5% de toda a energia eletricidade produzida por usinas produzida no Brasil, com um coneólicas, de biomassa e pequenas sumo de aproximadamente 35 micentrais hidrelétricas (PCHs). lhões de tEP (toneladas equivalenDesde 1995 também existe no tes de petróleo) ao ano. Desse topaís o mercado livre de energia tal, quase 60% (20,1 milhões de elétrica. Por meio de lei federal, tEP) tem de ser importado, devido ficou definido que os consumidoà grande dependência por petróres de energia com demanda leo e seus derivados – insumos igual ou superior a 10.000 kW seque não são produzidos riam considerados con“Os números deste ano representam no estado. A demanda sumidores “potencialum crescimento real de menos de 3%. por energia derivada do mente livres”, que podeTodo o resto é só o que recuperamos petróleo representa riam escolher um fornedo que foi perdido com a crise mundial” 33,1% do consumo em cedor alternativo. Essa - Raimundo Neto, da Enecel Minas, enquanto a enermesma lei já definia gia hidrelétrica, por exemplo, res- gia e que fuja da estrutura que, após cinco anos (a partir de ponde por apenas 13,7%. “O atual monopolizada”, opina Leroy. 2000), o limite de 10.000 kW seperfil energético do estado é mui- Países como França e Canadá ria automaticamente reduzido to dependente de fatores e cota- investem anualmente, em mé- para 3.000 kW. ções externas”, diz o professor do dia, 17% do PIB em geração de Na prática, essa medida possibilitou Ibmec-MG Felipe Leroy. “Os inves- energia, enquanto no Brasil a criação de um novo mercado de timentos necessários não serão esse índice é de menos de 6%. produção e consumo de energia eléfeitos pela iniciativa privada, mas Com o aumento mundial do trica. De um lado, empresários e inpelo Estado”, pondera. consumo energético, a expec- dustriais em busca de energia e, de Nos nove primeiros meses do tativa é que, em 2030, a de- outro, empresas de médio porte traano, o consumo de energia no manda por energia praticamen- balhando na geração e comercialiBrasil apresentou um cresci- te dobre. Ao menos que se di- zação de energia. Os preços são demento de 9% em relação ao versifiquem as fontes utiliza- terminados por regras de mercado, mesmo período de 2009. Se- das, o mundo não será capaz ao invés de fatores externos, como o gundo os últimos dados da de alimentar esse crescimento. valor internacional do petróleo. Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, a expectativa é que 2010 feche com um consumo 8,1% maior do que no ano passado, sustentado por um crescimento da economia estimado em 8%. O desafio que se impõe ao país é, portanto, elementar: garantir oferta de energia suficiente para atrair investimentos, sustentar o ciclo de crescimento que se pretende impor ao Brasil e elevar a competitividade da indústria. “Para isso, é fundamental o investimento em fontes alternativas de ener- 25 Foto: Lúcia Sebe/ SECOM-MG Pequenas Centrais Hidrelétricas tornam-se fontes alternativas de energia Raimundo de Paula Neto, superintendente geral da Enecel, empresa privada que atua no mercado livre de energia, diz que o peso da participação privada na estrutura de geração e distribuição no Brasil é suficiente para atender a um aumento da demanda. “Com os contratos já garantidos para os próximos anos, o Brasil é capaz de aguentar um crescimento no consumo de até 6% ao ano, o que representa um crescimento do PIB acima de 7%”, diz. Raimundo pondera que o aumento de 9% no consumo de 2010, em relação a 2009, se explica pelos baixos patamares em que o país se encontrava. “Os números deste ano representam um crescimento real de menos de 3%. Todo o resto é só o que recuperamos do que foi perdido com a crise mundial.” A participação privada se dá também via leilões, em parceria com setores regulados (estatais) para distribuição e geração de energia 26 para o mercado cativo (consumidores comuns). Essa participação, segundo Raimundo, “é responsável por, no mínimo, 51% de toda a energia que é gerada hoje no Brasil. Quanto ao consumo, podemos dizer que 26% é negociado por meio de participações privadas.” Mas, na própria estrutura estatal, também começa a existir a preocupação em diversificar a forma de produção e distribuição de energia elétrica. Segundo o superintendente de Novos Negócios da Cemig, Álvaro Assis, a empresa tem se esforçado para encontrar novas formas de negócio. “A Cemig tem em seu portfólio de análise de investimentos diversas fontes de geração de energia alternativa, como as PCHs, a energia eólica e a biomassa. No ano passado, a empresa investiu na participação acionária de três parques eólicos no Ceará, com potencial produtivo de 99,6 MW”, diz. indústria de minas - novembro 2010 Apesar disso, Assis reforça que a geração de energia da Cemig continua sendo majoritariamente hidrelétrica, e que o caminho das novas energias ainda é longo. “As fontes alternativas ainda têm pouca representatividade no mercado de geração de energia elétrica da Cemig. Cabe ressaltar que 99% da geração provém de fontes hidroelétricas, que são energias renováveis”, reforça. Gás em residências – A Cemig também possui um braço para comercialização de gás natural. A Gasmig já transporta o insumo para o Vale do Aço, na região leste, e também para a região sul de Minas. Apenas no gasoduto do Vale do Aço foram investidos cerca de R$ 700 milhões. O gasoduto vai até Belo Oriente, mas já há projeto para expandi-lo até Governador Valadares. Diariamente são transportados cerca de 1,9 milhão de metros cúbicos de gás que atendem, sobretudo, às grandes siderúrgicas da região, possibilitando a substituição do óleo combustível. O gerente de Relações Institucionais da Gasmig, Frederico Cordeiro, adianta os planos para os próximos anos. “Em até quatro anos já teremos como disponibilizar o gasoduto para atender consumidores residenciais. Num primeiro momento, em alguns bairros de Belo Horizonte e Poços de Caldas, mas com projetos para atendermos todo o estado.” Estímulo à indústria de bens de capital Segundo estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a indústria brasileira de máquinas e equipamentos para o setor elétrico depende de uma ação indutora do Estado para ampliar suas vendas no mercado interno. O diagnóstico é que houve um esvaziamento da indústria de bens de capital brasileira nos anos 1990, motivado pelo fraco desempenho da economia e pela excessiva abertura comercial. O resultado foi o aumento das importações. Na área de máquinas, aparelhos e materiais elétricos, por exemplo, o índice passou de 22% para 45% de 1996 para 2001. Ou seja, quase metade do consumo passou a ser importada. Para tentar minimizar o problema, a intenção do BNDES é levar para as licitações do setor de energia elétrica a modalidade já praticada nas licitações para exploração de petróleo: atribuir pontos para empresas que tenham maior percentual de participação no mercado doméstico. Demanda de energia por fonte e por setor • Minas Gerais • 2008 mil tEP % Setor Lenha e derivados Energia hidráulica Petróleo, gás natural e derivados Carvão mineral e derivados Derivados de cana-deaçúcar Outras fontes Total Industrial 6.724 75,4 2.573 54,5 3.814 33,5 4.735 100 2.954 74,7 623 95,0 21.424 62,4 Residencial 2.026 22,7 651 13,8 844 7,4 - - 33 5,0 3.553 10,3 Transportes - 4 0,1 6.099 53,6 - 991 25,1 - 7.094 20,6 Agropecuário 43 0,5 207 4,4 582 5,1 - - - 832 2,4 Comercial e Público 16 0,2 658 13,9 39 0,3 - - - 713 2,1 Perdas 108 1,2 625 13,2 - - 9 0,2 - 742 2,2 Total 8.917 26,0 4.718 13,7 11.378 33,1 4.735 13,8 3.954 11,5 655 1,9 34.358 100 Fonte: Cemig 27 B E N C H M AR K I N G A força do trabalho conjunto Polo moveleiro de Turmalina tem atuação fortalecida por meio de ações em parceria com o Sindimov-MG e com entidades do Sistema FIEMG O município de Turmalina, localizado no Vale do Jequitinhonha, fica a 520 quilômetros de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A distância que separa as duas cidades não tem sido empecilho para o desenvolvimento de um trabalho conjunto, responsável por impulsionar o setor em Turmalina. Há mais de uma década, o Sindicato das Indústrias do Mobiliário e Artefatos de Madeira no Estado de Minas Gerais (Sindimov -MG), por meio de sua delegacia regional, põe em prática uma série de ações e projetos que visam fortalecer o polo moveleiro da cidade. Formado por cerca de 30 empresas, a maioria delas micro e pequenas, o polo emprega, hoje, boa parte da mão de obra do próprio município. “A delegacia de Turmalina é nossa menina dos olhos, pois aquela é uma região muito promissora”, ressalta o presidente do Sindimov-MG, Carlos Alberto Homem. O argumento justifica-se pelo fato de a região abrigar grandes plantações de eucalipto, garantindo uma produção sustentável e ecologicamente correta. 28 indústria de minas - novembro 2010 Apesar de o polo não ter tido um aumento significativo no número de empresas nos últimos anos, o presidente do Sindimov-MG chama a atenção para a profissionalização e modernização das fábricas já existentes. “Há dez anos, o que havia em Turmalina era apenas um aglomerado de empresas. Hoje elas estão estruturadas, trabalhando com maquinário e materiais de primeira linha”, avalia. Educação profissional – Para impulsionar ainda mais o desenvolvimento do polo moveleiro de Turmalina e das cidades do entorno, como Capelinha, Minas Novas e Carbonita, várias ações estão em fase de planejamento e execução. Uma delas é a abertura do primeiro curso de aprendizagem industrial em marcenaria, coordenado pelo Senai de Turmalina. Serão 20 vagas por semestre, para jovens entre 16 e 24 anos, com início já em 2011. A experiência dá conta de que a parceria entre indústria e escola gera grandes resultados. Inaugurado em 2005 para atender as demandas do polo moveleiro de Contagem, o Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Madeira e do Mobiliário Petrônio Foto: Divulgação Conjunto de mesa e cadeiras para creche da Godinho Móveis, de Turmalina Machado Zica (Cedetem Senai) já taca Carlos Alberto Homem, do ao Cedetem para uma capacitase tornou referência em formação Sindimov-MG. “Quase 100% dos ção mais específica. “A missão de mão de obra para o setor. “O Ce- profissionais que se formam no do Centro Tecnológico não é detem tem empenhado esforços Cedetem já saem empregados”, apenas ser referência para as para suprir as diversas necessida- complementa. Funcionando no indústrias moveleiras em Mides e demandas técnicas das in- limite de sua capacidade, devi- nas, mas também para as indúsdústrias moveleiras não somente do à grande procura, o Centro trias moveleiras em todo o Brana capital, mas também no interior Tecnológico já tem um plano de sil”, destaca Pinheiro. do estado. Por meio do nosso tra- expansão pronto para sair do Em parceria com o Instituto Eubalho, as pequenas e médias mar- papel. A ideia é que o Cedetem valdo Lodi (IEL-MG), o Sindimov cenarias mineiras são contempla- possa funcionar como um cen- também planeja realizar um das por atividades tais “Temos uma escola modelo, reconheci- grande diagnóstico das como capacitação técnida por sua excelência” – Carlos Alberto empresas do polo moca, consultorias, assessoveleiro de Turmalina. A Homem, presidente do Sindimov-MG rias, serviços de design e proposta é fazer um leinformação tecnológica para em- tro de referência, enquanto as vantamento detalhado do núpresários e profissionais do setor, unidades do interior ficariam mero de fábricas, mão de obra promovendo a contínua melhoria e encarregadas de oferecer cur- empregada, faturamento e geo aperfeiçoamento tecnológico”, sos de formação mais básica. ração de renda. Com esse estuafirma o coordenador do Cedetem, Dessa forma, seriam criadas do em mãos, seria traçado um Álamo Chaves de Oliveira Pinheiro. oportunidades para que alunos plano de ações mais direciona“Temos uma escola modelo, reco- que se destacassem em seus do, que possa alavancar ainda nhecida por sua excelência”, des- cursos fossem encaminhados mais a economia da região. 29 Caderno dita tendências do mobiliário em 2011 Com investimentos em maquinário e mão de obra qualificada, o polo moveleiro de Turmalina deu um salto de qualidade nos últimos anos. Preocupar apenas em produzir, entretanto, sem levar em conta tendências e preferências do consumidor, pode ser uma estratégia infrutífera. Foi ciente da importância de se promover e estimular a inovação e a criatividade dos empresários locais que o Cedetem Senai e o Sindimov-MG promoveram o lançamento do caderno Referências em Mobiliário 2011 em Turmalina. O evento foi realizado no Senai local no dia 5 de novembro. Essa é a primeira vez que a publicação é lançada fora da Região Metropolitana. Além de Turmalina, o lançamento também ocorreu em Belo Horizonte (na sede da Fiemg e na Uemg), Carmo do Cajuru, Uberlândia, Uberaba e Governador Valadares. O caderno Referências em Mobiliário 2011 é um guia para esti- 30 indústria de minas - novembro 2010 Homem, do Sindimov-MG: “O móvel precisa ter cheiro e um toque agradável” mular a sensibilização e percepção do uso do design pelas empresas do setor moveleiro. O caderno é elaborado pelo Departamento Nacional do Senai, em parceria com os departamentos regionais de 11 estados. O tema da publicação de 2011 é “Acabamentos e Sensações”, que descreve os cinco sentidos aplicados aos acabamentos para móveis e as sensações às quais eles remetem. “O móvel precisa ter cheiro, precisa ter um toque agradável. Se ele não despertar boas sensações no consumidor, ele não irá comprá-lo”, avalia o presidente do Sindimov-MG, Carlos Alberto Homem. O evento de lançamento do caderno em Turmalina contou com a participação de renomados profissionais ligados ao setor de design. O professor José Nunes, da Universidade do Estado de Minas Gerais, apresentou uma abordagem sobre as raízes da pesquisa de conteúdo para elaboração do caderno. Já o designer Marcelo Manhago, coordenador do Núcleo de Design do Cedetem, falou sobre o tema do caderno. Estiveram presentes designers, marceneiros, empresários, profissionais do setor moveleiro e estudantes. A cerimônia contou, ainda, com a presença do chefe de gabinete e assessor de Relações Sindicais do Sistema Fiemg, Antonio Marum, e da gerente do Senai local, Maria Etelvina Andrade Camara. Carmo do Cajuru Além dos polos de Contagem e Turmalina, a base territorial do Sindimov-MG abarca, ainda, outro importante centro de produção de móveis do estado: o polo de Carmo do Cajuru. Localizado na região Centro-Oeste do estado, o polo se desenvolveu com a criação de pequenas empresas prestadoras de serviço da Líder Mobiliadora e hoje conta com cerca de 90 empresas. ATIT U DE S U STE N T Á VEL A meta agora é verde Empresas miram o desenvolvimento sustentável ao adotarem ações ambientais e projetos voltados para as comunidades locais A s empresas têm adotado, progressivamente, métodos de produção menos impactantes ao meio ambiente, com vistas ao desenvolvimento sustentável. Minas Gerais, estado que abriga o terceiro maior parque industrial do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), está no foco dessa questão. Para Ronaldo Simão, superintendente do Prêmio Mineiro de Gestão Ambiental (PMGA), que promove a melhoria da qualidade da gestão ambiental e o aumento da competitividade das organizações, não restam dúvidas de que a consciência 32 indústria de minas - novembro 2010 ambiental vem sendo absorvida pela sociedade e pelas empresas, seja em razão da ameaça das mudanças climáticas, seja pela cobertura dos seus efeitos na mídia. “Esses fatores imprimiram na sociedade um grau de amadurecimento, cujo resultado se traduz em um nível crescente de exigência, indutor do processo de melhoria da conformidade ambiental das organizações.” Essas exigências, segundo ele, são percebidas não só pelo comportamento dos consumidores, mas pelo crescente rigor das legislações ambientais e dos agentes de fiscalização. A utilização da sustentabilidade como requisito de acesso a novos mercados, financiamentos de projetos, bônus de Foto: Agência Vale Política de Desenvolvimento Sustentável norteia as ações ambientais da Vale seguros e incentivos e compensações externas focados na minimização e reabilitação de áreas também são fatores que têm contribuído para uma mineradas. Dentre os programas, destaca-se o valorização da gestão ambiental. Vale Florestar, que visa a promover o reflorestaPara aliar produção à mento de áreas degra“Sustentabilidade é palavra de ordem sustentabilidade, gigandadas com espécies naem nosso negócio, uma vez que atuates como a Vale têm intivas e exóticas. mos em um setor cuja matéria-prima cluído diversas ações Desde 2007, quando foi vem da natureza” – Jucelino Sousa, da ambientais em sua criado o programa, já foALE Combustíveis agenda. Atualmente, a ram arrendadas 64 fazenempresa conta com uma Política de Desenvolvimen- das, totalizando uma área de 95 mil hectares. Desse to Sustentável, que norteia a condução ambiental- montante, 59,5 mil hectares são destinados à proteção mente racional dos processos da mineração. e recuperação de florestas nativas, 32 mil hectares à Na esteira da gestão ambiental, a empresa tam- criação de florestas industriais e o restante à implanbém investe em programas de sustentabilidade tação da infraestrutura necessária ao plantio. 33 Foto: Agência Vale Programa Vale Florestar refloresta áreas degradadas com espécies exóticas e nativas Segundo Júlio Nery, gerente de Licenciamen- consultorias contratadas para traçar planos esto Ambiental da Vale no estado, a gestão tratégicos de diversificação econômica. ambiental engloba o negócio da empresa. “Podemos perceber um crescimento substancial “Minimizar os impactos das operações, criar desse tipo de posicionamento. Este processo, estruturas e processos adequados e reabili- além de irreversível, é a única forma de uma ortar áreas mineradas são partes integrantes ganização investir concretamente no fortalecido processo operacional da Vale”, ressalta. mento de sua posição, na melhoria de sua imaAlém da preocupação gem perante os seus “Não é mais possível praticar a gestão ambiental, a mineradora diversos stakeholde qualquer tipo de negócio ignorando busca colaborar com as ders e na perpetuaas questões ambientais” – Ronaldo Sicomunidades onde está ção da sua marca”, mão, superintendente do PMGA inserida. “O objetivo é explica o superintentransformar recursos minerais em riqueza e de- dente do PMGA, Ronaldo Simão. senvolvimento sustentável para todas as partes No setor de combustíveis, a mineira ALE Combusinteressadas, principalmente nas comunidades”, tíveis também tem se destacado com relação às afirma Nery. As ações voltadas para o desenvol- iniciativas sustentáveis. Quarta maior distribuivimento local vão desde a capacitação dos mora- dora de combustíveis do Brasil em número de dores e dos fornecedores da região até oferecer postos, a empresa prima por manter seus pontos 34 indústria de minas - novembro 2010 “Selo verde” – O vice-presidente da ALE espera que a participação de produtos como o álcool hidratado e biodiesel represente 14% das vendas orçadas para este exercício. Visando minimizar o consumo de energia elétrica, Sousa conta que a base da empresa, que está em construção em Guamaré (RN), será apta a receber o “selo verde” por dispor de uma série de inovações de cunho sustentável, como energia solar e o tratamento dos efluentes. Além da importância de as empresas adotarem atitudes sustentáveis, Ronaldo Simão acredita que a percepção do significado de “gestão ambiental” também contribui para uma nova forma de gerir corporações. “Já há a consciência de que não é mais possível praticar a gestão de qualquer tipo de negócio ignorando as questões ambientais.” Na visão do superintendente do PMGA, o valor de uma empresa aumenta na mesma proporção Foto: Marcus Desimoni/ Nitro de venda em dia com o meio ambiente. “Sustentabilidade é palavra de ordem em nosso negócio, uma vez que atuamos em um setor cuja matéria-prima vem da natureza. Temos a certificação ambiental ISO 14000 e somos pioneiros na distribuição do biodiesel no Brasil”, conta o vice-presidente da empresa, Jucelino Sousa. Desde a sua criação, em 1996, a ALE faz um levantamento de todos os aspectos e impactos ambientais de suas operações, com o objetivo de alinhar as unidades operacionais à total conformidade com a legislação ambiental vigente e com as normas do Sistema de Gestão Integrada (SGI). De acordo com Sousa, a preocupação com a sustentabilidade está presente em toda a organização da companhia. “Acreditamos que o incentivo ao uso de combustíveis renováveis, como o biodiesel e o etanol, representam uma grande contribuição para a redução do aquecimento global”, argumenta. ALE Combustível é pioneira na distribuição do biodiesel no Brasil em que crescem seus indicadores de sustentabilidade, voltados ao ecossistema da qual faz parte. “As empresas do século XXI priorizam as relações de confiança e de qualidade com todas as partes interessadas. Trabalhando com a sustentabilidade, as companhias passam a desempenhar o seu real papel na organização cidadã, gerando lucratividade a partir da economia de recursos naturais, redução de desperdícios, resíduos, efluentes e emissões”, conclui. 35 LE G ISLA Ç Ã O Justiça mais perto Em tramitação no Congresso Nacional, criação do TRF em Belo Horizonte reduziria o tempo de julgamento dos processos e os custos para as empresas A Uma iniciativa que pode lo de processos em Brasília. Seriam mais proporcionar maior agili- quatro Tribunais Regionais Federais (TRFs) dade no julgamento dos no país para desafogar a demanda dos cinco recursos, trazendo impac- hoje existentes. to direto na diminuição do A iniciativa para a criação do TRF-MG está custo Brasil e aprimorando o acesso do cida- na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dão à justiça está monº 544, apresenta“Gastos com passagens, hospedagem e bilizando entidades da da em 2002 pelo alimentação seriam evitados, gerando sociedade civil entre ex-senador Arlindo grande economia para todos”, explica o elas a Federação das Porto. De lá para juiz Evaldo de Oliveira Fernandes Filho, Indústrias do Estado de cá, a PEC já foi da 14ª Vara Federal de Minas Gerais Minas Gerais (Fiemg). aprovada pelo SeTrata-se da criação do Tribunal Regional Fe- nado Federal e pela Comissão de Constituição e deral (TRF) em Minas Gerais, que agilizaria o Justiça da Câmara dos Deputados, mas ainda trabalho da Justiça, que sofre com o acúmu- não foi levada à votação no plenário da Casa. 36 indústria de minas - novembro 2010 “É uma batalha difícil, pois, como emenda constitucional, a matéria exige aprovação de maioria qualificada dos deputados (três quintos) em duas votações. O fato é que a PEC está pronta para ir a plenário, mas constantemente é obstruída pelo Executivo, que se justifica dizendo que um novo TRF aumentaria as despesas da União”, explica o juiz Evaldo de Oliveira Fernandes Filho, titular de 14ª Vara Federal de Minas Gerais. O reflexo imediato da criação e consequente instalação do TRF em Belo Horizonte seria uma brutal redução de custos para as empresas e pessoas físicas, que hoje têm que se deslocar até Brasília para acompanhar seus processos. “Gastos com passagens, hospedagem e alimentação seriam evitados, gerando grande economia para todos”, afirma Fernandes. O TRF exclusivo para Minas, segundo o juiz, aumentaria a facilidade de acesso à Justiça Federal por parte da população, sem contar o tempo de tramitação dos processos, que cairia pela metade. “Hoje, há ações ajuizadas que estão tramitando há dez anos esperando a sentença definitiva. Isso porque os desembargadores do TRF da 1ª Região, do qual Minas faz parte, têm sob sua responsabilidade uma média de dez mil processos – metade dos quais com origem aqui –, o que é absurdo e desumano”, protesta Fernandes Filho. Além de Minas, outros 12 estados e o Distrito Federal fazem parte do 1º TRF. Desses, Bahia, Paraná e Amazonas também pleiteiam a criação dos seus tribunais federais. Par a o adv ogado A m aur y S oier, es pec ialis t a em dir eit o c om er c ial, a ques t ão ger a im pac t os dir et am ent e no c ham ado C us t o B r as il. “ A nec es s idade de ac om panhar os pr oc es s os em B r as ília ac ar r et a em c us t os adv oc at íc ios m ais c ar os par a as em pr es as ” , af ir m a. 37 C U LT U RA & T U RIS M O Já que Minas não tem mar... Foto: Divulgação Setor de barcos e lanchas é impulsionado pela prática de esportes náuticos em lagos e rios do interior do estado Três Marias é destino para os praticantes da pesca esportiva O mercado de barcos e lanchas está em franca expansão em Minas Gerais. A notícia pode soar um pouco absurda, já que o estado não é banhado por mar, mas rios, lagos e represas são cada vez mais procurados pelos mineiros para a prática de esportes náuticos e pesca. Prova desse crescimento do setor é a loja Piscina, Náutica & Companhia, de Varginha, na região sul. O proprietário Gilberto Miranda decidiu expandir seus negócios em 2006, quando, além de piscinas, passou a comercializar barcos e lanchas. Para ele, engana-se quem pensa que um barco é luxo inacessível para a maioria. “Existem no mercado produtos para todo tipo de consumidor. Como o carro 0 km, que se tornou realidade na vida de muitas pessoas, o lazer náutico também está acessível”, afirma. Os reflexos positivos também foram notados por Walker Faria, dono da Náutica Barão, única representante do segmento em Belo Horizonte. Apaixonado por barcos, Faria largou o emprego de bancário para se dedicar à fabricação de embarcações exclusivas para pesca. E garante: não se arrepende de nada. Faria ressalta que a liberação de crédito do Governo Federal para o pescador profissional ajudou a acelerar o aquecimento do setor. “O aparecimento de tucunarés na represa de Três Marias também tem estimulado bastante a pesca esportiva”, completa. Para Francisco de Carvalho, dono da Chiquinho Náutica, de Capitólio, os mineiros estão investindo em “qualidade de vida e diversão”. Localizado às margens do Lago de Furnas, Capitólio é sede do Clube Náutico Escarpas do Lago e do badalado condomínio Escarpas do Lago, principal destino dos amantes de embarcações em Minas Gerais. Caixa d’água brasileira – Além dos fatores econômicos, o setor sofreu impacto positivo no estado em razão de Minas ser considerada a “caixa d’água” brasileira e oferecer diversos destinos para o turismo náutico. “Minas é privilegiada por Foto: Edgar Rodrigues Escarpas do Lago, em Capitólio, recebe amantes de barcos e lanchas sua imensa bacia hidrográfica, no sul, represas como Funil, Camar- Pampulha, fator que afasta a cacom rotas como o Lago de Fur- gos e Cajuru, dentre outras no norte pital mineira dos destinos do tunas, Três Marias, Rio São Fran- e no Triângulo Mineiro.” rismo náutico. “Em BH, não tecisco, Paraopeba e Rio das Ve- Na Região Metropolitana de BH, o mos onde andar de barco. Brasília lhas, além de outros de menor cenário é um pouco mais restrito. também não tem mar, mas lá porte”, enumera Eduardo Bahia, Segundo Faria, a Lagoa dos Ingle- existe o Lago Paranoá. Se tivéssedono do Estaleiro Malloy, locali- ses, em Nova Lima, não permite bar- mos uma Lagoa da Pampulha limzado em Pedro Leopoldo, na cos com motores a gasolina, em ra- pa, poderíamos até esquiar, como Grande BH. Segundo ele, fazíamos antigamente”. “No que depender dos esforços do as vendas de embarcaNo entanto, nem de lonsetor náutico e das águas de Minas ções cresceram cerca de ge o fato interfere negaGerais, em breve todo mineiro terá a 30% em 2010, na compativamente nas expectasua lanchinha” – Eduardo Bahia, do ração com o ano passado. tivas do setor. “Acho Estaleiro Malloy Os rios Doce e Grande tamque a economia brasibém são lembrados por Faria, da zão da poluição que causam, limi- leira está em pleno crescimento, e Náutica Barão, como boas opções tando a área somente para embar- cabe a nós acompanhar essa toapara quem busca a pesca esportiva. cações a vela. “Essa é outra preocu- da”, afirma Bahia. “A formação Já Miranda, da Piscina, Náutica & pação do mercado: diminuir a emis- de novos consumidores é um Companhia, faz questão de mencio- são de poluentes. Os fabricantes de dos nossos desafios. No que nar a importância das represas. motor estão cada vez mais focados depender dos esforços do setor “Além de Furnas, que tem períme- nesse objetivo”, conta. náutico e das águas de Minas tro equivalente à metade da área O empresário atesta, ainda, para Gerais, em breve todo mineiro costeira brasileira, podemos citar, a atual situação da Lagoa da terá a sua lanchinha”, finaliza. 40 indústria de minas - novembro 2010 Sonho de consumo “Ele é cabinado, branco e amarelo, com 9,10 metros de comprimento, boca de 2,50 metros, calado de 10 a 15 centímetros, casco de alumínio e tudo o mais. Por dentro, é revestido em compensado de MDF, seis camas, cozinha com pia, banheiro com chuveiro, rádio, televisão, DVD, videogame. Tem de tudo”, relata o contador Roberto Demétrio, 59 anos, ao descrever o Sonho Dourado. O nome do barco demonstra a importância da nova aquisição para Demétrio. “Ter um barco era o que eu mais queria, estou muito entusiasmado. Posso me jogar no rio na sexta-feira, com minha família, e só voltar no domingo”, empolga-se. Assim como diversos mineiros que adquiriram barcos nos últimos anos, Demétrio costuma passear por afluentes dos rios Paraopeba, das Velhas ou do São Francisco. Satisfeito com o barco, o contador já fez diversas viagens com a família e garante que pesca pelo menos duas vezes por mês. “Meus filhos jogam videogame ou assistem a filmes, enquanto pesco com as visitas”, explica. Três Marias quer se tornar capital do turismo náutico “Nosso objetivo é sermos, até 2012, a capital do turismo náutico e de pesca em Minas Gerais”. As palavras de Elias de Assis Oliveira, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Esporte e Turismo de Três Marias, demonstram a importância da prática de esportes náuticos para a economia do município, localizado na região central do estado e às margens da represa homônima. “Temos 21 bilhões de metros cúbicos de água, o que corresponde a sete vezes a Baía de Guanabara”, acrescenta. Por conta disso, Três Marias sediou recentemente o Torneio Nacional de Pesca ao Tucunaré e o Campeonato Centro-Oeste de Regata Barco a Vela da Classe Laser. Também para 2012, a intenção é receber o Campeonato Brasileiro de Barco a Vela. A vocação do município para a prática de esportes náuticos resultou na criação, em março deste ano, da Escola de Barco a Vela. O projeto, que tem o apoio do Instituto Rumo Náutico, do velejador Lars Grael, é destinado a jovens da rede pública de ensino, que aprendem a nadar, remar e andar de barco a vela. Durante as aulas, os alunos passam por cursos de educação ambiental e profissionalizante em retífica de motores. Três Marias integra o programa de regionalização da atividade turística, promovido pelo Ministério do Turismo, e tem investido cada vez mais na qualificação de profissionais dos setores hoteleiro e gastronômico. “Queremos fomentar o turismo de forma a trazer o desenvolvimento socioeconômico para a nossa região”, ressalta Oliveira. C U LT U RA & T U RIS M O A economia da cultura Participantes do Festival Sesi Música comprovam que envolvimento com atividades culturais aumenta a produtividade nas empresas N o mundo globalizado, em que o dinheiro troca de lugar ao simples apertar de um botão e qualquer tecnologia pode ser copiada com facilidade, o capital humano é o principal patrimônio de uma empresa. Por isso, os investimentos no trabalhador, especialmente os que colocam as pessoas em contato com a cultura e estimulam a produção artística, têm retorno garantido para a expansão das empresas e o crescimento da economia dos países. A constatação é da economista Ana Carla Fonseca. “A cultura permite que as pessoas tenham um olhar diverso sobre a realidade e desenvolvam a criatividade. Isso cria um ambiente favorável à inovação”, disse Ana Carla, durante palestra realizada no Teatro Sesiminas, em Belo Horizonte. Ela mostrou os benefícios dos investimentos em cultura aos executivos das 26 empresas que foram homenageadas pelo Sesi no encerramento do festival. A economista explicou que o desenvolvimento dos indivíduos e da economia depende de três fatores fundamentais: o acesso à educação de qualidade, a inclusão digital e a proteção à propriedade intelectual. Ana Carla destacou ainda que as empresas que incentivam a cultura conseguem incorporar aos seus produtos características exclusivas e inovadoras, o que garante um maior faturamento. “É possível copiar uma camiseta, mas não é possível copiar a inspiração que fez a camiseta”, exemplificou. Executivos e trabalhadores que participaram da etapa nacional do Festival Sesi Música, em Belo Horizonte, confirmam que o envolvimento com a cultura faz a diferença. Na Comam Industrial, especializada em usinagem e montagem de componentes automotivos, instalada em Sete Lagoas, o envolvimento dos 150 empregados com o festival aumentou a produção. “Logo depois da final do festival de 2008, a produção passou de 250 para 270 peças por hora. Ou seja, de 2 mil peças por dia, passamos a produzir 2.160 peças”, diz o sócio da Comam Fabiano Henrique Nascimento Alves. A empresa, que fatura R$ 1 milhão mensais, foi vencedora da etapa nacional do festival em 2008 e 2009 na categoria Interpretação, com o operador de máquinas Gleison Juliano dos Reis, de 31 anos, que compartilhou a conquista com os colegas. “Mais motivado, Gleison teve ideias para reduzir custos e refugos e aumentar a produção”, relata Alves. Na ArcelorMittal Tubarão, que fica em Vitória (ES), também foram alcançados resultados satisfatórios. “As iniciativas culturais promovem a harmonia no ambiente de trabalho, melhoram a autoestima dos funcionários e criam um clima organizacional positivo”, diz o gerente de Comunicação, Responsabilidade Social e Relações Institucionais, Sidemberg Silva Rodrigues. Segundo ele, a cultura é um dos seis pilares do projeto de sustentabilida- 44 indústria de minas - novembro 2010 de adotado na empresa que integra um dos maiores grupos siderúrgicos do mundo, com presença em diversos países. A empresa adota desde 2003 o modelo nórdico de sustentabilidade, que vê o desenvolvimento nas dimensões econômica, ambiental, política, social, cultural e espiritual. Na área cultural, a unidade mantém programas como o Talentos na Companhia, um ônibus que exibe as obras de arte produzidas por funcionários e seus familiares. Todos os anos, durante seis meses, o ônibus circula pelos 17 restaurantes da empresa. Neste ano, só na primeira semana, o ônibus teve mais de duas mil visitas. Outras ações são o Festival de Música na empresa e a participação dos empregados no Festival Sesi Música. Os resultados desse modelo são visíveis. Com um investimento anual de R$ 2 milhões em iniciativas e campanhas que promovem a cultura, a saúde e o bem-estar dos 4,3 mil funcionários, a ArcelorMittal Tubarão reduziu o número de acidentes de trabalho de 0,40% em 2003 para 0,24% em 2010. Isso ocorreu no período em que a produção mais do que duplicou, passando de 3 milhões de toneladas em 2003 para 7,5 milhões de toneladas este ano. A saúde dos empregados também melhorou, acrescenta Sidemberg Rodrigues. Levantamento feito este ano indica que 88,6% dos empregados não apresentam problemas de saúde. Em 2003, esse número era de 65,6%. O mesmo ocorreu com a saúde bucal. Neste ano, 98,3% dos trabalhadores da empresa não tinham problemas odontológicos ou outras doenças na boca. Em 2003, esse número era de 47,4%. “O funcionário que participa do festival tem outro tipo de envolvimento com a empresa. Está sempre aberto e desenvolve novas ideias”, complementa Ioquio Ashibe, diretor administrativo da Panasonic do Brasil, localizada em Manaus, que também será homenageada pelo Sesi pelos investimentos feitos em cultura. Jaci Temóteo e Lene Oliveira foram os vencedores do festival Final nacional Sessenta e cinco funcionários de 55 empresas brasileiras participaram da etapa nacional da 3ª edição do Festival Sesi Música, realizada de 2 a 5 de novembro, no Teatro Sesiminas, em Belo Horizonte. Além de mostrar o talento musical dos trabalhadores, o festival motiva as equipes e melhora o clima no ambiente de trabalho, garantindo retorno para as empresas que investem em atividades culturais e de lazer dos empregados. Os benefícios são contabilizados na forma de queda da rotatividade, aumento da produção e do lucro. Os trabalhadores que concorreram nas categorias de música inédita e interpretação foram selecionados nas 27 etapas regionais que envolveram cerca de 700 empresas e mais de 1,6 mil empregados em todo o país. Categoria: Composição Inédita 1ºlugar: Jaci Temóteo, música Luz de Vela Petrobras 2ºlugar: Valdemar Szeskoski e Gilmar de Souza Pedroso (Ego e Gilmar), música Meu Pai Weg Equipamentos Elétricos 3ºlugar: Carlos Henrique Muniz Borges, música Arrego Eletrobras Furnas Centrais Elétricas Categoria: Interpretação 1ºlugar: Lene Oliveira, música Posso Clamar Anglo American (Amapá) 2ºlugar: Keila Barbosa da Silva, música Como Nossos Pais FMC Technologies do Brasil 3ºlugar: Jessana Silva Bessa, música Telegrama Eletronorte B E M - ESTAR Delegação campeã Atletas de Minas Gerais destacam-se dentro e fora das competições esportivas O s times mineiros vencedores da etapa sudeste dos Jogos Sesi são campeões dentro e fora das quadras e campos. Isso porque os esportistas reconhecem a importância do esporte, de seus valores para o dia a dia da empresa e para a vida pessoal. É o que acredita o técnico da equipe de voleibol feminino da Cenibra, campeã da modalidade, Peter Laranjo. Para ele, a competitividade e a garra demonstradas nas quadras são levadas pelas atletas para o ambiente de trabalho. “Todo treinamento esportivo é relacionado com as atividades profissionais das atletas. Dessa forma, elas compreendem com mais facilidade a relação entre esses dois ambientes”, garante. A assistente administrativa da Artrel Minas, de Itajubá, e atleta de vôlei de praia campeã da etapa sudeste, Marli de Souza, ressalta os benefícios da prática esportiva. “Quando jogamos pela empresa, nos sentimos mais valorizadas, nossa autoestima se eleva”, afirma. Marli irá participar pela terceira vez da etapa nacional da competição. Este ano, a atleta já disputou a fase internacional da competição, realizada na Estônia. Segundo Renato Nunes Ribeiro, capitão da equipe de futsal da rações Patense, de Patos de Minas, campeã dos Jogos Sesi, o torneio veio integrar, ainda mais, os trabalhadores da empresa, que já eram amigos antes mesmo da formação da equipe há seis meses. “Com o futebol, nos tornamos mais integrados. Essa união reflete no nosso trabalho e no ambiente da empresa”, afirma. artigo Tempo é dinheiro uma visão econômico-financeira dos custos e prazos de litígios Por Gilberto José Vaz e Pedro Augusto Gravatá Nicoli A solução de controvérsias é tema que deve ser avaliado do ponto de vista econômico-financeiro para que se possa aferir, com precisão, as vantagens de um método em decorrência de outro. Os litígios no campo dos negócios têm sempre uma expressão patrimonial última que demanda ferramentas para a apreensão daquele que será o instrumento mais vantajoso do ponto de vista de seu valor em dinheiro. Nesse sentido, influi de maneira direta o fator “tempo”, fazendo com que opere nesta reflexão a velha máxima do “tempo é dinheiro”. Qualquer empreendedor sabe o valor de ter um capital disponível no presente, de modo a possibilitar investimentos imediatos e retorno pela aplicação em seu empreendimento. Por esta razão, a longa duração de litígios — o que pode significar a indisponibilidade de significativas somas em dinheiro por extensos períodos de tempo — é algo a merecer uma análise à luz das repercussões patrimoniais que determina. Sabe-se, por constatação empírica, que a solução de litígios por meio de arbitragem tem duração substantivamente mais curta na comparação com o tempo médio consumido no Poder Judiciário. Esta é uma noção colhida na experiência fática, plenamente válida para a Justiça brasileira, sempre às voltas com o debate da morosidade de seus serviços. Quanto ao tema, não há maiores dissensos. Quanto aos custos envolvidos em processos judiciais e arbitrais, contudo, revela-se a outra face da moeda. Existem diversas dúvidas, distorções e meias-verdades que decorrem de uma visão descontextualizada do valor real do dinheiro, a construírem uma impressão quase generalizada (e, como se verá, equivocada) de que a arbitragem seria mais cara do que os processos judiciais. Neste contexto, a proposição básica deste breve ensaio é promover uma comparação entre os custos da arbitragem e de demandas judiciais numa perspectiva econômico-financeira, à luz do tempo médio de duração das disputas. Com este exercício, propõe-se uma desmistificação desta visão negativa dos custos da arbitragem, através da comparação de valores em disputa e custas, sob as mesmas condições de sucesso, na Justiça Estatal e no juízo arbitral. Como é sabido, nominalmente, as custas do Poder Judiciário são sensivelmente inferiores àquelas da arbitragem. Aliás, é este o substrato básico utilizado para o criticável argumento de que arbitragens seriam mais caras que processos judiciais. Tal constatação leva muitas disputas que potencialmente poderiam ser resolvidas em arbitragens para a Justiça Estatal, colocando-se como óbice considerável a um desenvolvimento ainda mais robusto do instituto da arbitragem no país. Contudo, para uma análise adequada do ponto de vista econômico-financeiro é necessário o manejo de alguns conceitos fundamentais de economia e finanças, apresentados, aqui, de maneira bastante simplificada. O Valor Presente Líquido (VPL), conceito muito recorrente no domínio dos negócios e finanças, consiste em uma técnica de avaliação de Projetos (empreendimentos) que mede matematicamente o valor do dinheiro no tempo. Pela técnica descontam-se os fluxos de caixa futuros de um Projeto a uma taxa de juros especificada. Equi- 47 vale a calcular o quanto vale hoje uma quantia a ser recebida ou paga em uma data futura. Já a noção de Taxa de Desconto consolida-se no custo de oportunidade (retorno) de se investir em um Projeto, ao invés de se aplicar o dinheiro no mercado financeiro. De uma maneira simplificada: a taxa de desconto é o prêmio que um investidor (emprestador) exigiria para adiantar hoje um valor futuro a receber. Para a comparação correta dos custos da arbitragem e do Poder Judiciário para os empreendedores, que não incorra nas distorções comparativas de dados meramente no- minais, há que se considerar a diferença de duração da demanda e os respectivos valores presentes líquidos das custas e dos valores globais em disputa, mediante a aplicação de uma taxa de desconto de mercado (ou do próprio negócio de cada uma das partes em litígio). Veja-se o exemplo a seguir de uma hipotética disputa de mesmo valor no Poder Judiciário e em arbitragem, consideradas as mesmas condições de sucesso da causa, à luz de projeções de duração média de litígios bastante verossímeis e uma taxa de desconto conservadora colhida na prática do mundo dos negócios. Poder Judiciário Arbitragem Determinação do Valor Presente da Condenação Determinação do Valor Presente da Condenação Valor inicial da lide: R$ 30.000.000,00 Valor inicial da lide: R$ 30.000.000,00 Duração da lide (anos até o trânsito em julgado) 12 Duração da lide (anos até o trânsito em julgado) 3 Taxa de correção da Justiça ao ano (correção mais 12%) 18% Taxa de correção da Justiça ao ano (igual à Justiça) 18% Taxa de Desconto de mercado – ano (custo de empréstimo para obtenção de capital) 24% Taxa de Desconto de mercado – ano (custo de empréstimo para obtenção de capital) 24% Valor custas processuais (MG) R$ 7.857,25 Valor das custas (CAMARB) R$ 145.000,00 Resultados (incluindo a dedução das custas) Resultados (incluindo a dedução das custas) Valor Futuro no Trânsito em Julgado (VF) (R$ 218.627.778,75) Valor Futuro no Trânsito em Julgado (VF) (R$ 49.290.960,00) Valor Presente Líquido para o vendedor (VPL) R$ 16.536.317,95 Valor Presente Líquido para o vendedor (VPL) R$ 25.707.480,61 Diferença a favor da arbitragem no caso: 56% Deste exercício pode-se depreender que apesar do valor futuro em demandas no Judiciário ser superior ao da arbitragem, decorrência do número elevado de anos gastos nos processos judiciais, verifica-se que o Valor Presente Líquido (valor equivalente em moeda atual) no caso da resolução de disputas em arbitragem é superior. Significa dizer que o montante de uma condenação a ser recebida dentro de três anos (tempo razoável de duração de um processo de arbitragem complexo) vale muito mais no presente do que aquele a ser recebido em doze anos (tempo estimado para o trânsito em jul- 48 indústria de minas - novembro 2010 1 2 gado de uma sentença judicial em um processo complexo). Assim, a diferença inicial das custas da arbitragem e do Poder Judiciário torna-se irrelevante diante do expressivo ganho no valor presente do montante em disputa em procedimentos de arbitragem. Desconstrói-se, portanto, a falsa impressão de que arbitragens seriam mais caras que processos judiciais. Do ponto de vista econômico-financeiro, que é o que interessa no mundo dos negócios, o que ocorre é justamente o contrário: o processo arbitral é extremamente mais vantajoso, justamente por ser mais célere. Formado em Direito e Engenharia Civil, pós-graduado em Economia. É diretor da Câmara de Arbitragem Empresarial Brasil – CAMARB e sócio de Gilberto José Vaz Advogados e Gilberto José Vaz Engenheiros Associados Ltda. Bacharel e mestrando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Advogado e sócio de Gilberto José Vaz Advogados.