UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS JERN´s: A EDUCAÇÃO E O ESPORTE NAS ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES DA CIDADE DO NATAL/RN PRISCILA BEZERRA DE MELO NATAL/RN 2009 PRISCILA BEZERRA DE MELO JERN´s: A EDUCAÇÃO E O ESPORTE NAS ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES DA CIDADE DO NATAL/RN Monografia de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de bacharelado em Ciências Sociais. Orientador(a): Profª Drª Norma Missae Takeuti Natal/RN 2009 PRISCILA BEZERRA DE MELO JERN´s: A EDUCAÇÃO E O ESPORTE NAS ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES DA CIDADE DO NATAL/RN Monografia de Conclusão de Curso apresentado a banca designada pela Coordenação do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, ____/____/ 2009. Banca Examinadora: _____________________________________________ Profª Drª Norma Missae Takeuti Orientadora _____________________________________________ Profª Drª Maria Isabel Brandão de Souza Mendes 2° Examinadora _____________________________________________ Profª Ms. Julimar da Silva Gonçalves 3° Examinadora Dedico este trabalho a minha mãe, Francisca Bezerra de Melo, que esteve sempre comigo, incentivando a começar, a prosseguir e concluir este estudo. AGRADECIMENTOS Dedico meus sinceros agradecimentos `aqueles que de forma direta ou indiretamente contribuíram para a conclusão desta monografia e do referido curso. Em especial aos meus familiares pelo incentivo e apoio durante toda essa caminhada. Em particular, quero agradecer à Prof. Dr. Norma Missae Takeuti, orientadora deste trabalho, pelos seus conhecimentos, sua atenção e sua boa vontade. Aos professores e coordenadores das escolas estudadas pela prestação das valiosas informações que serviram de estudo para o caminhar desta pesquisa. Aos funcionários da Coordenadoria de Desporto do Rio Grande do Norte (CODESP-RN) pela atenção e cordialidade com que me receberam em seus setores. A todos meus colegas de turma e professores que fizeram parte desse processo de aprendizagem. A Virgínia, Thiago, Pamela, Jociara e Paulo Ricardo amigos que compartilharam as horas boas e ruins da vida acadêmica. A todos aqueles que porventura tenha esquecido e que de alguma forma estiveram presentes nesta caminhada. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 09 2 Conceito de esporte ................................................................................................. 12 3 História dos JERN´s................................................................................................ 15 4 Significado do esporte............................................................................................. 19 4.1 Para escola particular.............................................................................................. 19 4.2 Para escola pública................................................................................................. 23 5 Esporte rendimento X esporte escolar................................................................... 28 6 Considerações finais................................................................................................ 37 7 Referências ............................................................................................................... 40 8 Anexos....................................................................................................................... 42 RESUMO O universo desta pesquisa é o esporte praticado no âmbito escolar. Para esta investigação elegemos como campo de estudo duas escolas da cidade do Natal/RN, uma pertencente à rede pública e a outra à rede particular de ensino. Para escolher tais escolas, tivemos como base a classificação geral dos Jogos Escolares do Rio Grande do Norte (JERN´s), no ano de 2008. Nosso objetivo principal é analisar por que tais escolas têm desempenhos tão distintos nos JERN´s, tendo em vista, que desde a década de 1980, as escolas particulares de Natal-RN estão no topo da classificação final desses jogos e as escolas públicas na parte inferior. A partir dos relatos de experiência colhidos em campo, por meio de entrevista semi-aberta e gravada em formato MP3, realizada com docentes de Educação Física e um gestor dos JERN´s, efetuamos análises do esporte escolar, procurando descobrir como essas distintas instituições de ensino trabalham a questão esportiva, como tal trabalho influencia nos resultados finais dos JERN´s e como se articulam as dimensões esporte e estudo no âmbito do campo educacional. Constatamos que as escolas não oferecem a iniciação esportiva como educação física, enquanto disciplina curricular aos alunos, mas como esporte de rendimento, principalmente nas escolas particulares que investem no treino dos atletas, devido ao recurso financeiro disponível nessa instituição, o que não ocorre na escola pública. Tal ensino do esporte com vistas ao rendimento gera a exclusão dos ―piores‖ (atletas das escolas públicas) em favor dos ―melhores‖ (atletas das escolas particulares). Verificamos também uma desconexão na relação esporte-estudo. Podemos concluir que, existe nas escolas uma elevada valorização do esporte rendimento em detrimento do esporte para fins pedagógicos. Palavras-chave: esporte, escola, esporte rendimento, esporte pedagógico. ABSTRACT The universe of this research is the sport practiced in the school ambit. For this investigation we chose as field of study two schools of the city of Natal/RN, a belonging to the public net and the other to the net peculiar of teaching. To choose such schools, we had as base the general classification of the Jogos Escolares do Rio Grande do Norte (JERN´s), in the year of 2008. Our main objective is to analyze why such schools they have such different actings in JERN´s, tends in view, that since the decade of 1980, the schools peculiar of Natal-RN they are at the top of the final classification of those games and the public schools in the inferior part. Starting from the reports of experience picked in field, through half-open interview and recorded in format MP3, accomplished with physical education teachers and a manager of JERN´s, we made analyses of the school sport, trying to discover as those different teaching institutions works the sporting subject, as such a work it influences in the results ends of JERN´s and as they pronounce the dimensions sport and study in the ambit of the educational field. We verified that the schools don't offer the sporting initiation as physical education, while it disciplines curricular to the students, but as revenue sport, mainly in the private schools that invest in the athletes' training, due to the available financial resource in that institution, what doesn't happen at the public school. Such teaching of the sport with views to the revenue generates the exclusion of the ―worse‖ (athletes of the public schools) in favor of the ―better‖ (athletes of the private schools). We also verified a disconnection in the relationship sport-study. We can conclude that, it exists at the schools a high valorization of the sport revenue in detriment of the sport for pedagogic ends. Key-words: sport, school, sport revenue, pedagogic sport. 9 1-INTRODUÇÃO Sabe-se que o tema esporte, nas Ciências Sociais, foi por muito tempo considerado pela ―dignidade científica‖, menor ou insignificante. Porém, esse comportamento ou preconceito diante do esporte foi frontalmente repudiado por Nobert Elias (1992) que junto com seu aluno, o sociólogo inglês Eric Dunning (1992), passou a tratar o esporte como tema sociológico, inaugurando dessa forma a sociologia do esporte. Elias e Dunning (1992a, p. 39), declaram que as investigações sociológicas realizadas acerca do desporto têm como tarefa sanar alguns de seus aspectos que não eram ainda, ou eram vagamente conhecidos. Percebe-se, nesse ponto, que havia uma grande necessidade em mostrar o desporto como um fator contributivo para a sociedade, para que deixasse de ser tratado como um objeto de estudo vulgar. Nos últimos tempos, estudos envolvendo esporte e sociedade têm sido temas constantes em pesquisas científicas, muito provavelmente em razão da relevância que o esporte vem alcançando como um fenômeno gerador de importantes dinâmicas sociais e por ser um campo de significativas e diversificadas formas de sociabilidade. Considerado como ―fenômeno sociocultural‖, o esporte incorpora valores sociais, culturais e econômicos de uma dada sociedade historicamente organizada, sendo realizado em diferentes espaços sociais, e a escola é um desses espaços de realização e de apropriação da prática cultural do esporte. Para muitos, a importância de ter o esporte presente no âmbito educacional está na afirmativa de que o ―esporte educa‖, uma vez que ele ensina a criança e o jovem a conviver com a vitória e a derrota, a respeitar as regras do jogo, a vencer através do esforço individual ou pela cooperação, a competir, além de fixar a idéia de que todos são iguais e, portanto, todos têm a oportunidade de vencer. Dessa forma, atualmente no contexto escolar podemos perceber o uso do esporte vinculado à competição, à seleção, à comparação, à busca da vitória a qualquer custo, despertando nos jovens atletas valores que levam a excluir, a discriminar, os mais fracos e não à solidariedade, à cooperação, ao convívio com as diferenças. Tendo a clareza de tal realidade, na qual o esporte escolar se inscreve na contemporaneidade, esperamos, a partir desse trabalho, contribuir aos profissionais de Educação Física nos debates atuais, questionando os aspectos referentes aos 10 significados da prática esportiva no âmbito escolar, de uma nova ação pedagógica do esporte. Além disso, direcionaremos a discussão para a construção de uma relação harmoniosa entre a prática esportiva e o aprendizado escolar do aluno (relação entre o esporte e o estudo). O interesse em desenvolver esta pesquisa partiu da implicação do próprio sujeito pesquisador no campo do esporte escolar: uma ex-atleta da rede particular de ensino, participante de algumas edições dos Jogos Escolares do Rio Grande do Norte (JERN´s), competição onde vivenciamos alegrias, tristezas e criamos vários vínculos de amizades. Desde a infância, tivemos uma ligação muito forte com o esporte e não demorou muito para, que na escola, iniciássemos no mundo das competições esportivas. Posteriormente, quando ingressamos na Universidade, no curso de Ciências Sociais, já estava germinado o desejo de fazermos essa ligação entre o esporte e as análises sociológicas de modo que intentamos o projeto de pesquisa nesse campo que nos é familiar e caro. A familiaridade com essa competição, fez com que retornássemos a esse contexto não mais como atleta, mas como pesquisadora, com um olhar mais distanciado, mais imparcial, porém sem deixar de lado as experiências e as lembranças de situações que nos deixaram alguns questionamentos. Sendo os JERN´s uma competição que abarca tanto as escolas da capital quanto do interior, para a realização dessa pesquisa, o esporte praticado no âmbito escolar, elegemos como campo de estudo escolas públicas e particulares da cidade do Natal/RN da educação infantil ao ensino médio. Para efeito de entrevistas com responsáveis das escolas e docentes, focamos duas escolas: a Escola Estadual Floriano Cavalcante (FLOCA), pertencente à rede pública e o Complexo Educacional Contemporâneo pertencente à rede particular de ensino. Escolhemos tais escolas, com base à classificação1 geral dos Jogos Escolares do Rio Grande do Norte (JERN´s), no ano de 2008, jogos esses que existem desde 1970, e que se tornou o maior evento escolar do país. Nosso objetivo principal é analisar porque que tais escolas têm desempenhos tão distintos nos JERN´s, tendo em vista, que desde a década de 1980, as escolas particulares de Natal/RN estão no topo da classificação final desses jogos e as escolas públicas na parte inferior. A partir desse objetivo geral, delineamos os objetivos específicos, por meio dos quais nos propomos: a) a descobrir como essas distintas 1 Ver classificação geral dos JERN´s no ano de 2008 em anexo 11 instituições de ensino tratam à questão esportiva; b) como tal tratamento influencia nos resultados finais dos JERN´s; c) e como se articulam as dimensões esporte e estudo no âmbito do campo educacional. As entrevistas foram colhidas através de gravação em formato MP3. Utilizamos a técnica da entrevista semi-estruturada, de modo que o próprio entrevistado pudesse privilegiar conteúdos dentro do tema abordado e que o entrevistador pudesse acrescentar perguntas não estabelecidas previamente. Além disso, tomamos como dados empíricos, também, o ―material‖ de observação participante da época em que estivemos implicados nos JERN‘s, enquanto aluna. Um último esclarecimento relativo aos dados de campo convém deixar, aqui, explicitado: as entrevistas foram direcionadas unicamente para docentes de Educação Física e um gestor dos JERN‘s, não contemplando, nesta esta etapa de nosso estudo, uma coleta mais sistematizada do ponto de vista e da vivência dos próprios alunos engajados em competições esportivas, na medida em que essa coleta nos demandaria um prazo maior de execução que ultrapassa o âmbito da defesa da monografia. No intuito de organizarmos a análise do fenômeno, no recorte definido, dividimos este trabalho em quatro capítulos. No primeiro, trataremos as considerações existentes acerca da gênese e evolução do esporte. No segundo capítulo, faremos um resgate histórico dos Jogos Escolares do Rio Grande do Norte (JERN´s). No terceiro, apresentaremos os dados colhidos no campo empírico, a fim de descobrir qual o significado do esporte para as instituições particulares e públicas de ensino e sua relação com a competição JERN´s. E finalmente, no quarto capítulo, faremos uma reflexão a respeito da relação escola e esporte, focalizando as implicações do esporte rendimento no âmbito escolar. 12 2-CONCEITO DE ESPORTE Tornou-se uma tarefa muito complexa, tanto para estudiosos da Educação Física quanto das Ciências Sociais, encontrar uma definição precisa para a expressão esporte. Por se tratar de um fenômeno sociocultural multifacetado, atualmente, existem vários significados e compreensões do termo. Para Bourdieu (1983, p. 137), essa imprecisão, quanto à conceituação da palavra esporte, só pode ser encerrada quando houver a produção de uma história social do campo do esporte, e assim entender a partir de que momento se pode verdadeiramente falar de esporte ―em oposição ao simples jogo‖. Somente ela pode responder a esta questão - que nada tem a ver com uma questão acadêmica de definição - de saber a partir de que momento (não se trata de uma data precisa) se pode falar em esporte, isto é, a partir de quando se constitui um campo de concorrência no interior do qual o esporte apareceu definido como prática específica, irredutível a um simples jogo ritual ou ao divertimento festivo. Como tal precisão de conceito não acontece, o autor utilizando como base o pensamento de Norbert Elias (op. cit.), se mostra descontente com comparações que levam os jogos primitivos a serem considerados como práticas pré-esportivas e esclarece: Isto leva ao questionamento de todos os estudos que por um anacronismo essencial, aproximam os jogos das sociedades pré-capitalistas européias ou não, tratados erroneamente como práticas pré-esportivas, aos esportes propriamente ditos cuja aparição é contemporânea à constituição de um campo de produção de ―produtos esportivos‖. Esta comparação só tem fundamento quando indo exatamente na direção inversa da busca das ―origens‖, tem como objetivo, como em Norbert Elias, apreender a especificidade da prática propriamente esportiva, ou mais precisamente, de determinar como alguns exercícios físicos pré-existentes passaram a receber um significado e uma função radicalmente novos...(p.138) Nesse caminho, várias são as divergências quanto às origens do que conhecemos hoje como esporte. Bracht (1997) resume esse debate em duas teses que ele chamou de continuidade e descontinuidade. A primeira vê o esporte como natureza essencial, há idéia de que ele sempre existiu em todas as culturas (apenas se atualiza em diferentes contextos e momentos históricos) já, a segunda vê o esporte como natureza histórico-social, como um fenômeno datado, surgindo no século XVIII na Inglaterra, por meio de uma ruptura com as outras atividades físico-competitivas. 13 Os jogos existentes anteriormente à formação dos Estados Modernos, dada à ausência de controles estáveis e centralizados, eram considerados menos ―civilizados‖ por serem mais sujeitos as práticas de violência. Desses jogos ao esporte moderno teria ocorrido um processo de ―civilização‖ que, através da criação de regras específicas, aumentavam a tensão, mas também diminuía a prática da violência nas atividades físicas. Para Elias e Dunning (1992b), a teoria do ―processo civilizador‖ trata do processo de ―cortenização‖ e/ou parlamentarização dos guerreiros medievais, onde a violência imbricada no cotidiano dos guerreiros dá lugar ao debate e ao refinamento das atitudes dos cortesãos. Esse era um processo ―cego‖, não planejado, que foi conseqüência do crescimento da economia e do estabelecimento do Estado. Um exemplo que explica bem essa passagem é a caça à raposa, um tradicional passatempo inglês que para atender as exigências do processo civilizatório sofreu mudanças, assim ao invés de só matar a raposa foram criadas regras para prolongar a atividade e excitar os participantes. Já segundo Hobsbawm (1984), o esporte moderno teve surgimento na Inglaterra, junto com as profundas mudanças ocorridas na conjuntura econômica, social e política desse país. Para ele esse esporte se insere no que ele chamou de ―tradição inventada‖, colaborando para a tese da descontinuidade ou da ruptura. Dessa forma, o desenvolvimento e expansão do esporte aconteceram tendo como pano de fundo o processo de modernização dos séculos XIX e XX, processo que compreende industrialização, urbanização, tecnologização dos meios de transporte e comunicação, aumento do tempo livre, surgimento dos sistemas nacionais de ensino etc. Nesse contexto, não demora muito a surgir, principalmente, na Inglaterra, organizações que congregam grupos de clube, as federações, como a de futebol, que promoviam competições em nível regional e nacional, propiciando o surgimento de novos esportes, ou seja, ―esportivizam-se‖ uma série de práticas corporais e, logo, aproveitando-se a possibilidade de explorar comercialmente os eventos esportivos, fazendo surgir o ―profissionalismo‖. Bracht (op.cit., p.100) destaca que na base da questão do profissionalismo/amadorismo está presente o ―conflito social básico da sociedade capitalista‖, o conflito capital X trabalho: 14 As classes dominantes (burguesia aristocracia) fizeram da apologia ao ―amadorismo‖ uma estratégia de distinção social; nele, no amadorismo, estava presente o ethos aristocrático - atividade realizada pelo simples prazer de realizá-la, sem fins úteis, desinteressada, arte pela arte. Ou seja, o ideário amadorista, associada à elite burguesa, do esporte como atividade desinteressada era um ideal que confrontava os interesses dos trabalhadores, que viam, muitas vezes, no esporte um meio de ascensão social, o profissionalismo. Assim, o ideário amadorista acabava sendo um instrumento de distinção de classe. Podemos captar que muitos elementos característicos da sociedade moderna, no caso capitalista industrial, vão ser incorporados e/ou estão presentes no esporte: o rendimento e a competição, a cientifização do treinamento, a quantificação, os recordes a especialização de papéis, entre outros. Dessa forma, Brohm (apud PRONI, 2002, p.39) acredita que a essência do esporte moderno ―é a ideologia democrática típica de uma sociedade que precisa cultivar um ideal humanitário (liberdade, igualdade, fraternidade) e, ao mesmo tempo, velar sua estrutura de classe e seus mecanismos de dominação‖. Bourdieu (1983, p.141) complementa essa idéia ao associar o esporte moderno a um ethos ligado a segmentos sociais dominantes em sociedades capitalistas: [...] sem dúvida não poderíamos esquecer que a definição moderna do esporte, freqüentemente associada ao nome de Coubertin 2, é parte integrante de uma ―idéia moral‖, isto é, de um ethos das frações dominantes da classe dominante realizado através das grandes instituições de ensino privado, destinado a prioritariamente aos filhos dos dirigentes da indústria privada [...]. Valorizar a educação contra a instrução, o caráter ou a vontade contra a inteligência, o esporte contra a cultura, é afirmar, no interior mesmo do mundo escolar, a existência de uma hierarquia irredutível à hierarquia propriamente escola (que privilegia o segundo termo destas oposições) Vê-se que as competições esportivas, principalmente as praticadas no âmbito escolar, têm como suporte a ―ideologia da igualdade de oportunidades‖, que tem como discurso a idéia de que todos os competidores têm a mesma chance de vitória. Entretanto, há algumas realidades escolares que parecem estar longe desse patamar ideal. Passaremos, portanto, a partir do capítulo seguinte, a uma análise que busca verificar como se dá, na prática, o investimento e o processo de preparação, dos diferentes competidores, alunos pertencentes à rede privada e pública, tendo como foco de atenção os JERN‘s. 2 Pierre de Coubertin pedagogo francês, presidente do Comitê Olímpico Internacional; fundou os Jogos Olímpicos da era moderna. 15 3. História dos JERN´s3 Os Jogos Escolares do Rio Grande do Norte (JERN´s) tornaram-se o maior campeonato estudantil do Brasil, entrando no ano de 2008 na sua 38ª edição. A competição é uma promoção do Governo do Estado, através da Coordenadoria de Desporto do Rio Grande do Norte (CODESP-RN) da Secretaria Estadual da Educação e da Cultura. Esses jogos tiveram seu início em 1970 denominado ―Jogos Estudantis‖, inspirados numa competição anterior, os antigos Jogos Ginásio - Colegiais, realizados nas décadas de 1950 e 1960. A década de 1970 foi marcada pela disputa de duas escolas da rede pública de Educação, o Atheneu Norte-Rio-Grandense e a Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (ETFRN), hoje Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). A primeira edição contou com dezoito escolas participantes - Escola Doméstica, Atheneu Norte-Rio-Grandense, Instituto Padre Miguelinho, ETFRN, Ginásio Augusto Severo, Colégio 7 de Setembro, Salesiano, Ginásio Reis Magos, Imaculada, Neves, Auxiliadora, Ginásio São Luiz, Sagrada Família, Ginásio Batista, Colégio Pré-Universitário, Colégio Municipal João XXIII e Senac. Eram dois mil atletas que iriam se envolver, naquele ano, em nove modalidades do dia 2 ao dia 13 de setembro: basquete, vôlei, futebol de salão, natação, atletismo, tênis de mesa, futebol, xadrez (até aqui, todas "herdadas" dos Jogos GinásioColegiais) e handebol, que foi a novidade na época. Os locais de competição eram nos ginásios Sylvio Pedroza, Palácio dos Esportes, São Luiz e Escola Doméstica, para as modalidades de quadra; o América (para a natação); a AABB (para o tênis de mesa); o Clube de Xadrez de Natal, o 16.o Regimento (hoje Batalhão) de Infantaria (para o atletismo); e o Estádio Juvenal Lamartine. Antes das competições realizava-se a abertura, sendo o evento algo inusitado para a cidade do Natal/RN de 1970. O desfile de abertura - ao som de "A Banda", de Chico Buarque - começava nas ruas da cidade e o destino final sendo o Estádio Juvenal Lamartine, com a participação do então Governador do estado, Monsenhor Walfredo Gurgel; o fogo simbólico sendo carregado por Aurino Fonseca (ETFRN), e o Juramento 3 Informações sobre história dos Jern´s colhidas no site: http://br.geocities.com/rtblau2002/Jerns/hjerns.html. 16 do Atleta foi de Maria Antônia de Melo (CPU). À noite, teve mais solenidade no Palácio dos Esportes. Logo depois, essa cerimônia de abertura, com os ritos necessários ao campo esportivo (o desfile dos atletas, o fogo simbólico, o juramento do atleta, a presença de autoridades estaduais que legitimam o evento) entrou no calendário da cidade, embora hoje não esteja mais sendo realizada nas ruas. O evento esportivo integrava-se, de maneira permanente, ao ritmo social da cidade, através de sua visibilidade. Para DaMatta (1981, p.56), esses eventos que escapam da rotina na vida diária, teria um forte caráter aglutinador de pessoas, grupos e categorias sociais, e ―os ritos seriam momentos especiais construídos pela sociedade. São situações que surgem sob a égide e o controle do sistema social, sendo por eles programados‖. A escola campeã geral desse primeiro ano, considerando-se o número de categorias conquistadas e divulgadas nos jornais, foi a ETFRN, por ter vencido em nove categorias; o vice-campeonato ficou com a Escola Doméstica oito categorias e dividindo o terceiro lugar ficaram o Atheneu, o CPU e o e Winston Churchill, com três categorias cada. Em uma revista comemorativa dos 35 anos dos JERN´s, lançada no ano de 2005, foram entrevistadas várias personalidades que contribuíram para a consolidação dessa competição, entre elas Sebastião Cunha, criador desses jogos. Ele declara ter tido dificuldades quando começou a coordenar os JERN´s, como a falta de recursos financeiros, de estrutura física de materiais e o ―amadorismo‖, mas a competição foi se consolidando. ―Além de mirim, infantil e juvenil, tínhamos ainda a categoria adulto, para quem havia ultrapassado a idade. Eles disputavam e também nos ajudavam‖ (JERN´s, 2005, p. 5). Segundo Maxwell Albuquerque, que dirigiu a Sub-coordenadoria de Esportes do estado de 1975 a 1977, foi ―um privilégio coordenar os JERN´s numa época em que o amor à camisa dos colégios fazia toda a diferença dentro das quadras, campos e pistas; os competidores tinham de ser super-homens, disputavam várias modalidades, sempre em honra dos colégios onde estudavam‖ (JERN´s, op.cit). Apesar de essa competição ter se iniciado em 1970, só na década de 1980 é que ela passou a ser mais conhecida. Foi nessa década que as vitórias deslocaram-se da rede pública e o destaque passou a ser o Colégio Marista pertencente à rede particular de ensino, com a queda do Atheneu e da ETFRN. Para alguns professores de Educação Física, em entrevista dada a revista comemorativa dos JERN´s, o Atheneu e a ETFRN 17 decaíram bastante quando foram extintas as respectivas oitavas séries primárias, normalmente usadas como base para as equipes infantis, que se mantinham unidas durante o Segundo Grau - consequentemente mantinham-se unidas quando passavam a Juvenis, o que proporcionava um entrosamento maior entre as equipe, convertendo-se em bons resultados nos JERN´s. Por sua vez, a atual coordenação dos JERN´s considera que a passagem das constantes vitórias da rede pública para a rede particular foi motivada pela especialização das modalidades esportivas nessa época, devido à concorrência e o número de participantes que aumentavam a cada edição, o que fez com que os atletas passassem a competir em uma única modalidade e não mais em várias delas. Somandose a isso, há a questão da proliferação de escolas particulares (em 1979 eram setes escolas participando e em 1986 já eram quase 80 escolas). Os anos 1980 também presenciaram a importante emergência do esporte escolar no interior do estado. Em 1986, dos 14 Núcleos Regionais de Educação, os NURES, nove já estavam envolvidos em competições. A participação nos jogos, porém, dependia de recursos próprios, devido à falta de apoios financeiros. Com a criação da Coordenadoria de Desportos da Secretaria Estadual de Educação, em 1995, os JERN´s ganharam atenção especial. Sob o comando de Jamilson Martins, até 2002, algumas iniciativas de caráter inovador parecem ter sido promovidas. A primeira dizia respeito ao número de modalidades, que passou de vinte e uma para trinta e duas. ―O pensamento era que quanto mais modalidades fossem incluídas, maior o leque de campo de trabalho para os profissionais de Educação Física e maior a participação dos estudantes‖, comenta o ex-coordenador (JERN´s 2005, p. 8), citando que, nesse período, entraram na programação dos jogos o bodyboarding, o beach handbol, o beach soccer, o futebol society, o mountain bike, a pesca, o pólo aquático, o squash, o taekowondo e o vôlei de praia, além da maratona cultural. ―Também fizemos experiências validas com a vaquejada e com o Kart‖, recorda o mesmo. É nesse período que os JERN´s passaram a ser a maior competição estudantil do Brasil. As estatísticas apontam que em oito anos as cifras aumentaram significativamente: em 1994, participaram cento e setenta e quatro escolas e nove mil atletas e, em 2002, a participação passou para trezentos e quatorze colégios e quinze mil e quinhentos atletas. No período de 1995-2002, novos incentivos surgiram nesse campo esportivo como, por exemplo, a premiação do Atleta-Ouro, até hoje mantida pela CODESP-RN, e 18 a construção da Pousada do Atleta, localizada no CAIC Esportivo de Lagoa Nova. ―O Atleta-Ouro é uma homenagem aos melhores atletas de cada categoria e que serve de estimulo para que cresçam no esporte‖, conforme depoimento do ex-coordenador da CODESP-RN. Quanto à Pousada, a iniciativa partira da necessidade de abrigar as equipes que se deslocam do interior do estado para disputar os JERN´s na capital. Sem dúvida, os JERN‘s tiveram uma verdadeira explosão no número de participantes a partir de 1996. Nesse ano, estiveram inscritos aproximadamente doze mil alunos-atletas. Em 1997, exatos quinze mil e seiscentos e sessenta e seis atletas; em dezessete mil e setecentos e dez atletas. Nesse momento, os JERN‘s já despontavam como o maior evento esportivo estudantil do país, exclusivamente com estudantes; em 1999, o número de participantes passou para vinte e um mil; em 2000, a participação sendo de vinte mil atletas. Já em 2001, alcançou-se a marca de vinte e cinco mil participantes, número, aliás, que fora projetado desde 1999. No ano de 2008, ano em que essa pesquisa tomou a classificação final da competição como base na análise das escolas, o evento teve um número recorde de escolas participantes. Na capital do estado foram quatrocentos e dezessete escolas inscritas, entre elas estaduais, municipais, particulares e federais, com quatorze mil e quinhentos atletas competindo em trinta e três modalidades esportivas, nas categorias mirim, infantil e juvenil, no masculino e feminino. Devido o número recorde de inscrições em todo o estado (nesse ano foram 964 escolas e mais de 33.700 atletas em todas as etapas) foram criadas fases regionais em dez municípios do estado (João Câmara, Santa Cruz, Umarizal, Apodi, Pau dos Ferros, Assu, Caicó, Currais Novos, Nova Cruz, Mossoró e a fase de Natal) de modo a reduzir o número de atletas inscritos que participariam da etapa final na capital do estado. Para a atual coordenação dos JERN´s, os jogos têm como finalidade proporcionar ―uma interação entre os atletas das diferentes escolas, promovendo autosuperação e o senso de cooperação como forma de desenvolvimento integral, usando como meio a prática esportiva e o conhecimento intelectual‖. 19 4. Significado do esporte para escola Neste capítulo, mostraremos, a partir dos dados colhidos no campo empírico, como as escolas tratam a questão esportiva e a posição das mesmas na competição JERN´s. 4.1. Escola particular Durante a nossa conversa com o coordenador/professor de esporte do Colégio Contemporâneo, da rede particular de ensino, acerca dos esportes na escola – conversa realizada em uma das unidades esportivas da escola, numa sala em que milhares de troféus são cultuados como verdadeiras relíquias – ouvimos, em todo o momento, a ênfase que se dava à questão do esporte como uma prática pedagógica, como uma ferramenta de formação integral do aluno. Segundo ele, é através do esporte que o aluno vivencia, na prática, a ética e a disciplina. O rigor seria aplicado na mesma medida, tanto em sala de aula como no treinamento esportivo: da mesma forma que o aluno é cobrado na sala de aula, ele é cobrado na sua atividade esportiva, uma vez que o atleta tem que aprender as regras, cumprir o regulamento das competições, assim como as orientações do professor. E complementa: ―A escola sabe que o caminho para complementar a parte acadêmica do aluno é o esporte‖. O coordenador/professor nos explicita sobre o processo de desenvolvimento das competências esportivas do aluno, desde a tenra idade, quando o aluno realiza o seu primeiro contato com o esporte,: Há um trabalho de base com os alunos desde o mirim, os garotos de educação infantil e do primeiro e segundo ano trabalham com o professor de desenvolvimento motor, trabalho voltado para o equilíbrio e para o domínio através do balé e das artes marciais; fechando esse cerco vem o trabalho com o xadrez... xadrez ciência que trabalha o desenvolvimento do raciocínio rápido e lógico, isso tudo sem pegar em bola, só no quarto e quinto ano o aluno tem o contato com quatro esportes diferentes, chega no sexto ano já trabalhado o desenvolvimento motor, ele já tem um préconhecimento de vários esportes com disciplina e raciocínio lógico. A 20 receita de sucesso é essa. Quando o aluno vem de outra escola ele sente essa diferença, ele não foi trabalhado dessa forma, muitas vezes anteciparam, competiram cedo. (grifos nossos) Percebe-se, assim, que o aluno, desde muito cedo, na escola particular, passa por vários processos, trabalhando seu desenvolvimento físico-motor, para que só mais tarde, o contato com o esporte escolhido seja bem sucedido. Todo esse processo é realizado de modo a que, futuramente nas competições, ele possa obter resultado desejado, ―a vitória‖, para sua escola. Para o coordenador/professor, os JERN´S não seriam uma competição justa, admitindo existir disparidades entre as escolas no tocante aos recursos disponíveis: A disputa entre as escolas é desleal, se pára para observar, verá que alguns profissionais ensinam nas duas instituições o que modifica é a estrutura, os professores não têm condições de trabalhar, eles só têm o aluno; não tem material, quadras cobertas; por isso nos últimos quinze anos só dá escolas particulares. (grifos nossos) Na entrevista, o coordenador/professor mostrou-se muito preocupado com a tentativa de modificação do regulamento dos jogos, nos próximos anos. Segundo ele, certas escolas particulares da capital, na tentativa de retirar a invencibilidade de sua escola (que se encontra na condição de pentacampeã consecutiva, por exemplo) estariam arquitetando a modificação do regulamento das competições: As escolas que se diziam tradicionais se acomodaram, pararam de trabalhar, perderam seus espaços, e estão tentando ganhar os jogos pela modificação do regulamento e não pelo trabalho. Eles não querem que tenham campeão geral... aqui o trabalho foi gradativo, investimos no espaço físico e nos professores. (grifo nosso) O motivo maior dessa rivalidade entre as escolas, principalmente entre as escolas particulares da capital, estaria no fato de que – além de poder se afirmar como ―a melhor‖ nos esportes, dentre as 500 ou mais instituições de ensino representadas nos JERN´S – a campeã geral desses jogos transforma esse título em peça de marketing, a partir da valorização dos seus alunos, seus profissionais e sua própria imagem. A lógica da competição aliada à lógica dos resultados empresariais estaria levando os gestores das escolas particulares a contratar dirigentes e técnicos com competências de garantir melhores resultados nas competições, a oferecer bolsas a atletas (provenientes de escolas públicas, inclusive) e passar, também, a elaborar 21 planejamentos de longo prazo, pensando os próximos jogos com quase um ano de antecedência. Isso traria alguns deslocamentos na própria visão de pedagogia escolar relacionada aos esportes. O meio tornar-se-ia um fim em si. Desse modo, é comum entre as escolas particulares, desejosas de formar equipes vencedoras, recorrerem aos atletas que se destacam em escolas públicas, oferecendo-lhes bolsas de estudos para que eles participem dos jogos e obtenham troféus para elas, isto é, para que elas possam assegurar uma boa posição no campo de competição esportiva e obter lucros simbólicos e econômicos. Quando perguntado como é feito esse procedimento, de oferecer bolsa para atletas de outras escolas, o coordenador/professor explica: O aluno é recebido por uma ação social, ele recebe um acompanhamento pedagógico privilegiado, damos preferência a alunos carentes e não de outras escolas particulares. Esse aluno passa por uma entrevista, e é visto sua nota. O professor do esporte acompanha as notas de todos, sem exceção. (grifos nossos) Contudo, no depoimento da coordenação dos JERN´s, observa-se que nem sempre a ―ação social‖ é priorizada na prática, pois haveria o privilégio da preparação para a competição esportiva em detrimento dos estudos do referido aluno que foi recebido por sua competência esportiva: Não é só esporte, tem que ver o estudo. É justamente isso que nos preocupa, os atletas das escolas públicas são levados para escola particular e não há uma preocupação, um acompanhamento na sala de aula, só se preocupa com atleta com o aluno não; quando chega no último ano, e esse aluno se depara sem o esporte e chega na sala e ver que perdeu o ano; há uma desmotivação, fica sem perspectiva, perdido. Mas o contrário também acontece, alunos das escolas públicas se saem muito bem nas particulares, se esforçam, pois vê ali uma oportunidade de crescer, aprender, de ter um ensino melhor, coisa que não acontece estando na escola pública. (grifos nossos) Haveria, entretanto, nesse campo educacional, a preocupação em se manter a relação esporte-estudo, embora a prática usual oriente-se privilegiadamente para o esporte de rendimento. Por exemplo, segundo a coordenação a obrigatoriedade nos JERN´s dessa relação esporte-estudo é verificável no momento da nomeação do ―melhor atleta‖ em cada modalidade, o conhecido ―atleta ouro‖. Esse reconhecimento só será concedido ao aluno que tiver melhor nota: ―pegamos os quatro melhores atletas e escolhemos o da melhor nota‖. 22 Há nos JERN´s, algumas modalidades consideradas ―elitistas‖ como o hipismo, o squash, o pólo aquático, o tênis de campo que para as escolas da rede pública se tornam impraticáveis, por necessitar de uma estrutura física e outros recursos adequados. Quando perguntamos ao coordenador de esportes, da escola particular, o que ele achava das competições terem modalidades, tidas como ―elitistas‖ das quais as escolas públicas não podem participar, obtivemos uma resposta deslocada em relação à nossa questão: Alguns questionamentos feitos a CODESP foi o Contemporâneo quem fez, porque a competição estava longa, eram quinze dias de competição, o que atrapalhava a parte acadêmica dos alunos, principalmente os alunos do terceiro ano (pré-vestibular), algumas modalidades tinham que acabar para desafogar. Também a questão dos esportes duais, surfe, boadboard, ciclismo e mountain bike apesar de nossa escola se destacar nelas tem que tirar uma, assim como os vários futebóis. A preocupação é o prejuízo pedagógico.(grifo nosso) Sem nenhuma intenção de generalização, a partir de uma única resposta dessa natureza, podemos, ao menos, indagar sobre o interesse ou desinteresse do docente de uma escola particular em relação à participação de escolas públicas no campo de competição esportiva escolar, ou seja, quanto às desigualdades em jogo (no aspecto cultural esportivo e econômico) entre competidores jovens. Segundo ele, os esportes em que a sua escola mais se destaca são basket, ciclismo, xadrez, natação, vôlei, nado sincronizado, squash, sendo que em esportes como futebol, a escola não tem tanta ―tradição‖. Fica bem evidenciada a sua preocupação quanto ao rendimento escolar em sua correlação com a duração da competição, que pode afetar a parte pedagógica de sua escola. 23 4.2. Escola pública Dando continuidade à nossa pesquisa nas escolas, partimos para entrevistar um coordenador ou professor de esportes em uma escola da rede pública da cidade do Natal/RN participante dos JERN´s. Escolhemos, então, a Escola Estadual Floriano Cavalcante, mais conhecida como FLOCA, pelo fato de ser uma escola que sempre se sobressaiu nas competições entres as escolas da rede pública, e pelo fato, um tanto curioso, de no ano da realização de nossa pesquisa ter tido um dos piores desempenhos de sua participação. A investigação empírica realizada nessa escola foi um pouco difícil, devido às longas horas de espera até encontrarmos alguém que se disponibilizasse para a entrevista. A conversa realizada com o professor foi realizada durante a sua aula de karatê, o que nos proporcionou uma visualização mais concreta da relação entre o aluno dessa instituição com o esporte. Pelo fato do professor não ter um horário livre para que conversássemos com mais tranqüilidade (segundo ele, após aquela aula tinha que ―sair correndo‖ para dar aulas em outras escolas), ele nos solicitou que ouvíssemos também o professor substituto, que o acompanha em todos os treinos, e um ex-aluno da escola. E foi dessa forma, nessas múltiplas vozes, que se realizou a nossa conversa. Finalmente, o acaso nos possibilitou ter depoimentos e visões diversificadas e melhor detalhadas em certos aspectos. Para o professor titular, os JERN´s são ―um modo de incentivo maior ao aluno, que tem que treinar para mostrar o que aprendeu‖. Entretanto, segundo ele, a procura pelo esporte não parte do aluno; geralmente, são os professores que tomam a iniciativa, passando nas salas de aula, incitando os alunos a participarem dos treinos esportivos, e dependendo do interesse desse aluno ele comparece no dia comunicado pelo professor. Sabemos, de antemão, que há poucos atrativos, nessa área, para os alunos, tendo em vista as precárias estruturas físicas para a prática de esportes diversificados. 24 As sessões de preparação física e mental, que vimos, anteriormente, ser realizadas em escolas particulares, começando em tenra idade, inexistem nessa escola, a preparação ocorre somente antes dos JERN´s de maneira tópica: As mudanças que acontecem são nos treinos, são mais puxados um mês antes de alguma competição, se intensificam os treinos, para ficar mais preparado, puxa pra não cansar rápido, pra ter resistência na hora da luta. (grifo nosso) Poucas possibilidades ou nenhuma de um planejamento antecipado, apenas um preparo prévio intenso dos alunos visando às competições, um pouco tempo antes das datas das competições. Durante a conversa, comentamos sobre os resultados ruins que a escola pública tem tido em competições, e notamos na fala do professor-substituto alguns temas que nos parecem ser recorrentes (referimos aos dados de observação que possuímos desde quando participávamos da competição dos JERN‘s), quais sejam, os de frustração e decepção diante do ―livre arbítrio dos juízes‖, de relações de forças desiguais dos competidores, da segregação social e o da ―corrida pelo lucro‖: As competições nos JERN´S são muito desiguais, geralmente eles excluem, quem é pública é pública, quem é particular é particular, é lado A é lado B, só misturam em tempo de JERN´S, fora isso não, eles visam muito dinheiro. Tem diferença, tem desigualdade sim, porque eles [os árbitros] puxam mais para o lado particular do que para o lado humilde, eles não respeitam nem eles e nem os atletas que estão presentes.(grifo nosso) O ex-aluno manifesta sentimento de revolta, no momento em que toca no assunto da discriminação que sofrem alunos competidores de escolas públicas, durante as competições, em virtude de sua pertença escolar. Sobre essa discriminação social, o professor titular comenta que atitudes de desprezo pelas escolas públicas, como também reações de desconfiança e de rejeição perante alunos ―pobres‖ não se manifestam apenas ao nível dos discentes, mas também ao nível do corpo docente: Não fale de JERN´s pelo amor de Deus não. Os JERN´s foi feito para as escolas particulares, há muita discriminação com a escola pública, um professor de um colégio chamou os alunos de favelado e imundice. Eles não têm direito de discriminar a escola pública não, só porque ensina em escola particular; a escola tem vários campeões dos JERN´s, no Norte-Nordeste, do estado... então pra mim eu nunca mais participo 25 dos JERN´s pela discriminação, discriminação da escola particular pela pública. Se você vem da particular e tiver conversando com outro e chegar um menino desse (aponta para o aluno treinando) eles saem de perto com medo de roubar.... na final de uma competição uns tiraram os materiais de perto da gente pensando que nos iríamos roubá-los... perdi a vontade. Eu participei muito dos JERN´s mais a gente perde a vontade. Não quero esquentar a cabeça com JERN´s não. Se o Karatê for vai ficar jogado lá. A escola não quer mais participar não... (grifos nossos) Embora haja, segundo o professor-substituto, uma espécie de ―exclusão‖ da escola pública do campo de competição esportiva, quando um atleta de alguma instituição pública consegue se destacar, há mudanças de atitude vis-à-vis do aluno (―já muda o olhar‖), há uma aproximação em direção ao referido aluno com potencial de campeão, pois as escolas particulares vêem nesses atletas uma ―fonte de renda‖. Segundo o professor titular, muitos de seus alunos já foram levados para a rede particular de ensino, com bolsas de estudo: Muitos, muitos... Eles (escola particular) usam os JERN´s como olheiro, pra levar os melhores alunos daqui, oferecem mil e uma coisa pra ele disputar por eles, eles vêem como uma fonte de renda. Geralmente eles vêem que os meninos têm futuro, e já muda o olhar, já muda o conceito. (grifos nossos) Justamente, interessante notar que na entrevista com a coordenação dos JERN´s, o tema das desigualdades nos jogos, reaparece sob a forma de ―inclusão‖ dos alunos da escola pública, permanecendo velada a questão da ―inclusão‖ ou da distinção da própria escola na classificação geral dos JERN‘s que, por sua vez, remete para a questão da competitividade econômica entre as escolas particulares. É aí que ele aparece, é como futebol, quando você joga com um time de fora de São Paulo, você não tem a técnica, mas a raça, a vontade faz você superar. É uma vitrine, você querer aparecer naquele momento; os JERN´s é uma maneira de fazer eles aparecerem; ou até ganhar uma bolsa”. (grifos nossos) Quer dizer que dependendo da ―raça e vontade‖ do aluno ele poderá vencer, inclusive, sair de sua condição social e fazer uma mobilidade social via trajetória escolar numa ―boa‖ escola particular? Nas entrelinhas, pode-se entender que os JERN‘s funcionariam como um campo de chances e probabilidades para aqueles adolescentes pobres e desejosos de mudar seu ―destino social‖? 26 De toda forma, o esporte, dentro dessa visão de competição e de alguns valores veiculados nesse próprio campo, parece se orientar pela idéia de se fazer esporte contra o outro, um adversário a ser vencido, muitas vezes a qualquer custo, sabendo-se que só um vence. Em razão disso, sempre haverá a presença de um derrotado, fora o fato de que, essa ânsia em buscar ser o melhor, pode fazer aflorar nesses ―atletas‖ o desejo de discriminar o outro, de menosprezar o mais ―fraco‖. O ―mais fraco‖ está evidentemente posicionado num lugar no qual inexistem praticamente recursos materiais e financeiros e estrutura física esportiva. Quando perguntamos se a estrutura física esportiva faz diferença nas competições, o ex-aluno afirmando que sim, comentou: Os alunos das escolas particulares são bons, a gente não tá querendo dizer que eles não sejam, mas muitos aqui podem ser melhor, que podem não, que são melhores, só que não estudam num colégio particular, e sim num estadual ou municipal. (grifo nosso) Sobre isso, a coordenação dos JERN´s reconhece que a falta de uma estrutura esportiva satisfatória nas escolas públicas corrobora para a saída do aluno dessa instituição para a escola particular de modo que, qualquer tentativa de intervenção no sentido de dotação de melhores recursos seria inócua: Há um trabalho bom nas escolas públicas, o que não há é uma continuidade, pois se um aluno se destaca já é retirado, levado para a particular, às vezes se perde até três atletas de uma vez. Isso não é interessante para gente que é gestora do Estado, a gente gostaria de dar condições melhores para que ele continuasse na escola pública, mas infelizmente não dá para impedir, as escolas particulares têm mais estrutura. O aluno da escola pública tem muito mais vigor, muita mais vontade, o que falta é uma estrutura esportiva melhor; no atletismo em que eles dependem só deles as escolas vencem.(grifos nossos) Embora em teoria o esporte se baseie na igualdade formal de chances, na prática as desigualdades estão na base da preparação esportiva. Basta observar as enormes diferenças de estrutura para o treinamento presentes nos dois tipos de instituições de ensino. Evidentemente, são as escolas da rede pública quem mais sentem essas desigualdades durante as competições. É manifesto o descontentamento do docente em face dessas desigualdades que afetam o ensino como um todo. Em relação aos esportes, tidos como elitistas nos jogos, 27 principalmente pela escola pública que não possui estrutura física e financeira para treinar seus alunos nessas modalidades, o professor desabafa: Esses esportes, hipismo não têm em escola pública, nem na particular têm! Natação! Não tem uma escola pública que tenha, a não ser no CAIC. Nossa escola se destaca no karatê, as outras modalidades são mais passivas. Aqui (no karatê) a gente somos ignorantes e a gente rala pra isso: pra eles não passarem por cima da gente nem a gente deles, deixar sempre igual. (grifos nossos) Segundo a coordenadora dos JERN´s, não houve uma mudança por parte da CODESP-RN para produzir maior igualdade às competições, no sentido de mudar regulamento, o que existe é um trabalho para melhorar os professores, um trabalho de capacitação, implantado desde 2003: Já houve uma melhora nesse sentido, os professores estarem passando todo o ritual que envolve os jogos, os alunos não sabiam como entrar em quadra, como pedir tempo, etc. Há um trabalho de capacitação que envolve todos os professores do Estado, no interior e também é realizado um fórum na capital com todos eles. O Estado está distribuindo material, não existe material, não existe quadra, não existe espaço físico.(grifo nosso) Esse trecho da entrevista revela outro aspecto da competição: além da competência técnica no esporte, o aluno necessita possuir competência cultural (no sentido que Bourdieu (1998) argumenta referindo-se a qualquer campo específico (religioso, político, universitário, artístico etc.), isto é, todo campo possui linguagens e signos próprios que se traduzem em rituais, condutas e discursos que devem ser apropriados por todo agente que deseja adentrar no campo em questão. Ora, o aluno competidor, além de conhecer as normas técnicas específicas de como jogar na modalidade de sua especialidade, ele precisa conhecer as regras sociais do campo esportivo (como por exemplo, ―como entrar na quadra, como pedir tempo‖), caso contrário a sua ―técnica‖ pode ser desclassificada pelo não cumprimento da regra social. 28 5. Esporte escolar X esporte de rendimento A partir dos relatos dos entrevistados e das reflexões oriundas do referencial teórico, desenvolveremos nesse capítulo, a questão do ensino do esporte no âmbito escolar, assim como a relação entre o esporte e o estudo. Em sua obra Educação Física e aprendizagem social (1992), Bracht afirma que a Educação Física nasce junto com os sistemas nacionais de ensino, típicos da sociedade burguesa emergente dos séculos XVIII-XIX, e que será ela como prática pedagógica, que introduzirá a temática do movimento corporal no interior da instituição educacional. Ainda segundo Bracht, foram inicialmente os filantropos como Guths Muths (1759-1839) e Pestalozzi (1746-1827) que buscaram introduzir as atividades corporais no currículo escolar, porém a influência destes pedagogos na Educação Física brasileira foi superada pela influência da instituição militar. Assim os métodos inicialmente adotados foram de caráter militar, tendo os ―instrutores‖ como os principais ―aplicadores‖ desses métodos. Nesse caso, a instituição escola passa a ser palco de uma ação ―pedagógica‖ que se assemelha à preparação militar, que tem como base um exercício corporal com o objetivo de desenvolver a aptidão física e a ―formação do caráter‖ (a autodisciplina, hábitos higiênicos, capacidade de suportar a dor, coragem, respeito à hierarquia). Após a II Guerra Mundial, que coincide com o fim da Ditadura do Estado Novo, os exercícios corporais praticados no âmbito escolar sofrerão influência de outra instituição, a esportiva. (Bracht.op.cit,p.19) Portanto, para Bracht, a Educação física, como prática pedagógica, nunca se regeu por princípios e códigos próprios, ao contrário, manteve-se ―subordinada‖ numa relação histórica com instituições como a militar e a esportiva, embora o início da década de 1980 marque o momento em que a visão hegemônica descrita anteriormente, para buscar legitimidade na escola, começa a sofrer os primeiros abalos. Foi o início de uma crise, que proporcionou várias reflexões sobre a disciplina, enfatizando as dimensões psicológica, cultural, social, cognitiva e afetiva dos alunos. 29 Para Bourdieu (1983, p.139) a passagem do jogo ao esporte acontece primeiramente no interior da escola, nas grandes escolas reservadas às ―elites‖ da sociedade burguesa: ―onde os filhos das famílias da aristocracia ou da grande burguesia retomaram alguns jogos populares, isto é, vulgares, impondo-lhes uma mudança de significado e de função[...]‖. Mais adiante ele afirma que é na escola: Onde as práticas dotadas de funções sociais e integradas no calendário coletivo são convertidas em exercícios corporais, atividades que constituem fins em si mesmas, espécie de arte pela arte corporal, submetidas a regras especificas, cada vez mais irredutíveis a qualquer necessidade funcional, e inseridas num calendário específico (Bourdieu, 1983, p.139) Dessa forma, verificamos que essa visão do esporte como uma prática de tempo livre da aristocracia, atualmente encontra-se transformado e adequado à sociedade como um todo, e principalmente regida pelo modo de produção capitalista. Nesse sentido, percebemos que o esporte escolar, estimulado por esse modelo característico da sociedade capitalista, incorporou valores que estão calcados justamente em seus princípios: a competição, a seleção, a comparação, o máximo de rendimento, a busca da vitória a qualquer custo. Anteriormente, já tivemos ocasião de apontar, brevemente, a presença, senão a dominância, da lógica do lucro norteando a gestão e o planejamento das atividades esportivas no âmbito privado escolar. Bracht (op.cit.), aborda a escola não como um ―sistema‖ autônomo, mas como um lugar de transmissão de um conhecimento produzido sempre fora dela, por um outro sistema ―mais poderoso‖: A instituição educacional é produto de um processo de complexificação da sociedade — produzido fundamentalmente pelo desenvolvimento das forças produtivas — que determinou uma diferenciação de sistemas, os quais cumprem, no conjunto das relações sociais, determinadas funções: a transmissão do saber social acumulado exigiu o surgimento de uma instituição para cumprir tal tarefa — o sistema educacional (ibid., p.19). Como a escola passa a ser vista como uma reprodutora de ações determinadas por outro ―sistema‖, consequentemente, a Educação Física, por se realizar no interior do sistema educacional, ―assume os códigos de uma outra instituição‖ mais poderosa: a instituição esportiva. Bracht (op.cit., p. 22) explicita: É importante citar que o desenvolvimento da instituição esportiva não se dá independentemente do da Educação Física: condicionam-se 30 mutuamente. A esta é colocada a tarefa de fornecer "a base" para o esporte de rendimento. A escola é a base da pirâmide esportiva. É o local onde o talento vai ser descoberto. Esta relação, portanto, não é simétrica. Ou seja, embora o esporte e a Educação Física se condicionem mutuamente, a Educação física na escola estará subordinada aos códigos do sistema esportivo, portanto teremos não o ―esporte da escola‖ e sim o ―esporte na escola‖, visando revelar os talentos para o esporte de rendimento. No capítulo anterior, quando o coordenador esportivo da escola particular afirma que desde a educação infantil, o aluno passa por processos de desenvolvimento motor, para desenvolver o raciocínio rápido, lógico e assim obter êxito nas competições futuras, ele estaria justamente indicando essa busca do máximo de rendimento que um determinado atleta deve demonstrar futuramente nas competições escolares. Segundo Huizinga (1996, p.221), estamos enfrentando na contemporaneidade a perda do lúdico para o esporte sistematizado e regulamentado. Na sua concepção, ―temos uma atividade nominalmente classificada como jogo, mas levada a um grau tal de organização técnica e de complexidade científica que o verdadeiro espírito lúdico se encontra ameaçado de desaparecimento‖. Observa-se que, a Educação Física presente nas escolas está sempre voltada para práticas desportivas, onde o professor opta por uma prática sistematizada e direcionada para o esporte de movimento, sem muita ênfase do lúdico. Sobre essa questão Korsakas (2002, p.85) afirma: Não são raras as vezes em que a grande preocupação de ter equipes competitivas nas escolas sobrepõe-se a intenção de ensinar o esporte para os alunos. Assim, qualquer proposta pedagógica é facilmente substituída por um determinado número de bolsas de estudos oferecidas a alguns poucos talentos, e as aulas de educação física transformam-se em celeiros. Assim como acontece nos demais setores da sociedade capitalista, mais particularmente no mundo empresarial, a escola também se inscreve numa produção de valores pautados em princípios e significados de um esporte que seleciona, que discrimina e que confere ―distinções‖ apenas aos vitoriosos, aos ―excelentes‖, aos ―the Best‖, típicos códigos e valores capitalistas de organização social. Justamente, Germano (ano 1994, p.93) observa que no Brasil, ―na área educacional, apesar das reformas, o Estado se descomprometeu gradativamente de 31 financiar a educação pública; os recursos estavam comprometidos com o capital privado, repassando, ainda sim, verbas para as escolas particulares‖. Mais adianta, o autor reforça a tese de que ―o que está em jogo realmente, na política educacional, é a manutenção da estrutura da desigualdade social, na medida em que procura estabelecer uma relação direta e imediatamente interessada com a produção capitalista‖ (GERMANO, ibid., p.181) Os relatos do ex-atleta e do professor da escola pública, anteriormente citados, exemplificam bem essas afirmações, quando eles comentam que haveria uma exclusão dos atletas das escolas públicas nas competições, e que são constantes as discriminações que partem tanto de determinados professores de escolas particulares (sendo que um deles, numa ocasião de competição, teria chamado os alunos de ―favelados‖ e ―imundice‖) quanto dos alunos que procuram ficar distantes de seus colegas de escolas públicas com receio de roubo de seus materiais. Processos de segregação e discriminação sociais, tais como analisados por Takeuti (2002), encontram-se, igualmente, presentes num espaço social que, a priori, espera-se a promoção de relações de solidariedade e de reciprocidade. As contradições e os conflitos inerentes às relações sociais da sociedade capitalista – muitas vezes, manifestando-se pelo ódio, raiva, desprezo, menosprezo, estigmatização do outro – atravessam o campo das relações educativas, relações que, por sua vez, permeando um campo específico (esportivo) e interferindo nas relações grupais e individuais. Sobre essas relações, tivemos experiência própria na condição de uma exatleta de uma escola particular: como participante de algumas edições dos JERN´s, pudemos observar e vivenciar algumas experiências, sob modo negativo, nos encontros com colegas e professores de escolas públicas. Num dado evento, como de costume, ao término de nossa competição numa dada modalidade esportiva, nós e as colegas da mesma equipe permanecemos na escola para assistirmos a alguns jogos. Um dos jogos envolvia uma escola da rede pública (localizada na zona norte) e outra escola da rede particular (localizada na zona sul) que, por sinal, jogava ―em casa‖, o que lhe garantia, sem sombras de dúvida, incentivo uma torcida que, como sempre, encontrava-se em grande número no ginásio. No decorrer do jogo, ouviam-se clamores e gritos, os chamados ―gritos de guerra‖, vindo dessa torcida num tom de menosprezo: ―Ela, ela, ela volta para favela!‖. O fato de a escola ser da rede pública e estar localizada na Zona Norte da cidade, a torcida associa-a à ―favela‖, e de 32 modo inclemente dispensam todos os que a ela pertencem ou se associam, inclusive pedindo a sua retirada daquele ambiente. Esse incidente ilustra bem aquilo que Bourdieu, (2001, p.159) observa relativamente a divisões e distinções do espaço social e a caracterização de cada indivíduo ou grupo segundo a sua posição social: ―Não existe ninguém que não seja caracterizado pelo lugar em que está situado de maneira mais ou menos permanente‖. Mais adiante, ele completa: O espaço social tende a se retraduzir, de maneira mais ou menos deformada, no espaço físico, sob a forma de um certo arranjo de agentes e propriedades. Por conseguinte, quaisquer divisões e distinções do espaço social (alto/baixo, esquerdo/direita) se exprimem real e simbolicamente no espaço físico apropriado como espaço social reificado (por exemplo, na oposição entre os bairros elegantes, [...] e os bairros populares ou os subúrbios)‖, isto é, somos sempre caracterizados pelo lugar que ocupamos. Com isso queremos introduzir mais um aspecto no rol de problemas enfrentados pelas escolas públicas e seus membros (docentes e discentes). Acrescentese, então, todo esse processo de estigmatização e segregação sociais à lista de dificuldades e obstáculos interpostos à escola pública no tocante à precariedade de recursos materiais e financeiros e de estrutura física de treinos no seu empenho para participar das competições. Além disso, há a perda de alunos, que se sobressaem no esporte, para as escolas particulares, o que não é nenhum atrativo para docentes que se empenham junto aos seus alunos. Percebemos isso, no capítulo anterior, onde o professor da escola pública, afirma que os alunos dessa escola que se destacam nos JERN´s, logo são levados pelas escolas particulares, através de bolsas de estudo. Dessa forma, o aluno levado da escola pública para a escola particular, terá como missão retribuir essa bolsa de estudo ―trazendo resultados positivos‖ nas competições para a sua atual escola. Esse fato caracteriza bem a lógica do lucro, já o comentamos: seleciona-se o melhor atleta da escola pública, inserindo-o na escola particular de modo que receba um treinamento nunca obtido antes, um aprendizado composto de - várias técnicas, e toda uma estrutura para desenvolver suas habilidades que nos jogos que, aliás, precisam ser traduzidos em vitórias. Fora o fato da alta visibilidade das escolas em programas de TV, durante os JERN´s, é comum também, elas colocarem, ao final dos jogos, faixas na porta de entrada da escola com nomes das modalidades em que foram campeãs, assim como 33 nome dos atletas que se destacaram ou foram ―atleta-ouro‖. Tudo isso reforça a idéia do marketing esportivo que, especificamente, as escolas particulares realizam durante e depois dos JERN´s. Isso vem corroborar com a idéia do esporte escolar exercer a função, referendada na sociedade capitalista, de supressão dos mais fracos pelos mais fortes, como afirma Romera (1999, p.78), ressaltando o importante papel do esporte na sua Função de agente selecionador, onde os mais fortes, ágeis e velozes terão sempre mais oportunidades e ascendência sobre aqueles que, por ventura, não possuem, ou ainda não desenvolveram essas ‗valiosas‘ habilidades, que se requer no mundo esportivo. Já registramos anteriormente que a ―perda‖ de alunos para a escola particular é vista pela atual coordenação dos JERN´s como uma espécie de inclusão social e oportunidade para que certos jovens das camadas pobres possam também vir a fazer parte do mundo da excelência e dos ―mais fortes‖. Inclusive, haveria total descrença na estrutura do ensino público na medida em que afirma: ―uma oportunidade de crescer, aprender, de ter um ensino melhor, coisa que não acontece estando na escola pública‖. Esse gestor não participaria, então, da função que Romera (idem) designa de ―agente selecionador‖? Parece haver ambigüidades referentes à dita inclusão social do aluno ―carente‖. Primeiramente, o que garante aos alunos da rede pública de ensino, em sua maioria, pertencentes às classes populares e médias, o ―privilégio‖ de estudar em uma escola particular é a sua condição de atleta potencial campeão. Segundo, não se trata de um programa de ―ação social‖ do setor privado visando apoiar segmentos pobres, pois a dita ―inclusão social‖ constitui-se em, um meio de inclusão baseado na individualidade e atinge uma porção mínima do conjunto de alunos que participam das competições esportivas: nem todos se destacam nos jogos. Terceiro aspecto: nem sempre o êxito no campo esportivo se traduz em competências semelhantes em sala de aula; haveria, uma desconexão entre esporteestudo, muitas vezes, o aluno passa a ser mais cobrado nos treinos do que nos estudos. Em vista da exigência de obtenção de um alto desempenho esportivo, o aluno necessita seguir algumas regras precisas como: não faltar treinos, viajar para competir em campeonatos fora da cidade, ou seja, cumprir certas ―obrigações‖ para que permaneça 34 com a bolsa concedida a ele. Nem sempre parecem ser conciliáveis as exigências de um desportista e um aluno em seu aprendizado escolar. Por último: o aluno pertencente à escola pública ao chegar nessa nova escola, se depara também com conteúdos de ensino, métodos, técnicas de transmissão, e principalmente critérios de avaliação, totalmente contrários ao da sua escola anterior, o que prejudica seu aprendizado. Sobre essa diferença de cultura escolar, Bourdieu (apud Nogueira e Catani, 1998, p.55) observa que: A cultura da elite é tão próximo da cultura escolar que as crianças originárias de um meio pequeno burguês (ou, a fortiori, camponês e operário), não podem adquirir, senão penosamente, o que é herdado pelos filhos das classes cultivadas[...]. Então, não haveria aí algumas contradições? A retirada do aluno que estuda na rede pública para a rede particular de ensino, seria efetivamente o caminho para que ele obtenha melhores condições de estudo? O que interessa à escola privada não é o aluno que aí adentra, mas sim a sua condição de atleta. Verifica-se nos JERN´s uma grande quantidade de modalidades esportivas que muitas vezes estão muitos distantes da realidade das escolas públicas, se aproximando mais das escolas particulares onde seus atletas podem ter um contato maior quando freqüentam clubes, escolinha, como o hipismo e o tênis de campo, considerados por muitos como esportes elitistas. Percebe-se que as escolas da rede pública, freqüentada em sua maioria pelas ―classes populares‖, têm melhores resultados nos esportes tidos como ―populares‖, como é o caso do futebol, assim como nos esportes individuais que não necessitam de uma estrutura física para ser praticado, como o karatê.4 Os alunos da rede pública se destacam efetivamente em modalidades que exigem uma mínima estrutura física nos próprios. Disso, estão conscientes os nossos entrevistados: ―o aluno da escola pública tem muito mais vigor, muita mais vontade, o que falta é uma estrutura esportiva melhor; no atletismo em que eles dependem só deles as escolas vencem‖; e ―nossa escola se destaca no karatê, as outras modalidades são mais passivas‖. Boltanski (2004, p.160) nota que esportes populares, como o futebol, são mais praticados pelas classes populares porque não exigem dos que praticam uma ―aprendizagem racional de movimentos especiais‖, enquanto que os mais frequentemente praticados pelas classes superiores como natação, tênis, requerem uma ―educação sistemática dos movimentos‖. Essa tese não pode ser generalizada se 4 Ver em anexo a tabela de classificação de algumas modalidades dos JERN´s 2008. 35 tomarmos o destaque dos alunos, conforme afirma o professor depoente, na modalidade esportiva karatê, que é uma arte marcial que parece exigir a educação sistemática dos movimentos, ou ainda mais. È verdade que como campo que possui suas próprias regras, o campo esportivo requer dos seus atletas um habitus, um ―senso prático‖, para que possa ter competência, tanto técnica quanto cultural. Vimos anteriormente, a atual coordenação dos JERN´S explicar que para produzir maior igualdade às competições está-se realizando um trabalho de capacitação dos professores, onde esses ficam encarregados em transmitir aos atletas da escola pública e do interior, instruções necessárias para que possam se comportar de forma adequada nos jogos, uma vez que, ―os alunos não sabem entrar em quadra‖, não sabem ―como pedir tempo‖, ou seja, eles devem estar cientes de todos os rituais que os jogos possuem. Se o objetivo dos JERN´s é provocar o encontro entre as escolas, ele conseguiu atingi-lo, porém o que ocorre durante esse contato é o que nos mobiliza a compreender inscrevendo o fenômeno no campo das relações sociais. Se encontro há, não está havendo uma interação, uma vez que as relações são marcadas por conflitos entre grupos distintos por sua posição social. Tais conflitos se manifestam em atitudes de discriminação contra o ―aluno pobre‖ suspeito por ―roubos‖ e outros atos delinqüentes. Isso tem por efeito produzir nos atletas das escolas da rede pública o desânimo, desinteresse e apatia em participar dessa competição. Ao realizar estudos a respeito do jogo e do esporte, Bruhns (1993, p.46) constata que há uma negação da Dimensão educativa da atividade lúdica, utilizando-se unicamente do esporte, em que os mais ‗poderosos‘ merecem atenção e os inimigos abatidos traduzem-se em pontos ganhos transformando-se nos fracos inúteis ‗naturalmente eliminados‘. Como foram percebidos em nossa pesquisa, os JERN´S são uma competição desigual, e não existe no âmbito da Coordenadoria dos Desportos do Rio Grande do Norte (CODESP-RN), organizadora desses jogos, ―o espaço para a discussão de estratégias que permitam a participação de todos os alunos com as mesmas oportunidades‖ e que não privilegie apenas ―os que apresentam melhor rendimento‖ (Bracht 1992, p.63/64). 36 Constatamos, então, a necessidade de se pensar, com maior acuidade, envolvendo diversos responsáveis e interessados na questão dos desportos, o esporte enquanto Educação, sendo esta mesma pensada como uma paidéia: ―daquele ideal de ‗formação de uma humanidade superior‘ nutrida de cultura e de civilização, que atribui ao homem sobretudo uma identidade cultural e histórica‖. (Cambi, 1999, p.87). Dessa forma, construir a idéia de um esporte que privilegie valores que contemplem princípios do coletivismo e do lúdico, da solidariedade esportiva, da participação, do respeito à diferença, e não valores para uma formação específica, que vise unicamente à obtenção de títulos ou preparar os jovens para uma vida adulta orientada simplesmente para a lógica competitiva. 37 6-Considerações finais Ao problematizarmos sobre a relação das práticas esportivas na instituição escolar, tivemos a pretensão de descobrir os motivos pelos quais estava havendo uma predominância, há quase três décadas, das escolas particulares da cidade do Natal/RN no topo da classificação final dos Jogos Escolares do Rio Grande do Norte, deixando sempre as escolas da rede pública em uma posição inferior. Para descobrirmos tais motivos, estabelecemos objetivos específicos a fim de podermos nortear os caminhos da pesquisa e orientamo-nos por algumas indagações, como as distintas instituições de ensino trabalhavam a questão esportiva e como esse trabalho poderia interferir nos resultados finais desses jogos, e por nesse caminho saber como se articulavam as dimensões esporte e estudo, no âmbito educacional. Dessa forma, para entendermos essa relação, que envolve o campo escolar e o campo esportivo, recorremos aos aportes teóricos de vários autores, em especial as obras de Bracht e Bourdieu. O primeiro trouxe-nos reflexões no que concerne ao papel da Educação Física/práticas esportivas no sistema educacional; o segundo nos ajudou a entendermos o contexto do surgimento do esporte moderno e a relação do esporte com as distintas classes sociais. Podemos afirmar após esse estudo que os motivos que geram tanta discrepância entre as escolas públicas e particulares participantes dos JERN´s têm como base o fato das práticas esportivas nessas instituições estarem pautadas no esporte de alto rendimento, principalmente as escolas particulares, levando a idéia de que o esporte é basicamente a competição. Vimos que as instituições particulares de ensino vêem no esporte uma forma de adquirir prestígio, e para isso existe a necessidade de que vençam as competições, e para tal resultado suas equipes devem ser fortemente treinadas. Essa lógica da competição, como percebemos no estudo, passa a se aliar à lógica dos resultados empresariais, porquanto essas escolas passam a elaborar planejamento a longo prazo, contratando dirigentes, técnicos e oferecendo bolsas, por meio de uma dita ―ação social‖ direcionada aos melhores atletas da rede pública. Diferentemente, seguindo essa predominância do esporte de alto rendimento, constatamos que as escolas da rede pública de ensino sofrem em vários aspectos: processos de estigmatização e segregação sociais aos quais seus alunos estão 38 submetidos durante as competições; a precariedade de recursos materiais e financeiros e de estrutura física de treinos; além disso, a perda de alunos, que se sobressaem no esporte, para as escolas particulares, impedindo um trabalho de continuidade e desmantelando as motivações do conjunto dos alunos em sua empreitada coletiva. Ao apresentarmos os relatos dos entrevistados, pudemos constatar que o que garante aos alunos da rede pública de ensino, em sua maioria, pertencentes às classes populares e médias, o ―privilégio‖ de estudar em uma escola particular é a sua competência esportiva individual, entretanto, nem sempre o seu êxito no campo esportivo se traduzirá em competências semelhantes em sala de aula, gerando uma desconexão na relação esporte-estudo. Muitas vezes, o aluno passa a ser mais cobrado nos treinos do que nos estudos, uma vez que, ele deve ter um alto desempenho esportivo e cumprir certas ―obrigações‖ para que permaneça com a bolsa concedida a ele. Somando-se a isso, identificamos que o aluno pertencente à escola pública ao chegar à escola particular, se depara com técnicas de transmissão e critérios de avaliação totalmente contrários aos da sua escola anterior, o que afeta, sem dúvida, no seu processo de aprendizado. Como verificamos, a competição esportiva tem como suporte a idéia de que todos os competidores têm a mesma chance de vitórias, a ―ideologia da igualdade de oportunidades‖, porém como pudemos verificar nos JERN´s, essa idéia só se aplica quando se leva em consideração as condições imediatas à competição e não as condições sociais e econômicas dos atletas. Basta atentarmos para o fato de que as modalidades ―elitistas‖ nesses jogos são mais próximas das escolas particulares o que faz com que seus alunos tenham mais vantagens do que os da rede pública. No nosso entendimento, a competição é desejável na medida em que os competidores encarem seus opositores como companheiros de jogo; torna-se indesejável na medida em que os competidores percebam seus oponentes como rivais, inimigos e que precisam ser vencidos a todo custo. As escolas públicas não aparecem no topo da classificação, mas aparecem para ―servir‖, através dos seus melhores atletas, às escolas particulares. Esse é um ―ciclo‖ que se repete a cada edição dos JERN´s, por isso a diferença na classificação final, levando ao desinteresse do aluno da rede pública em praticar esportes e, consequentemente, em participar dos JERN´s. Será essa a tendência das escolas públicas, a não participação nesses jogos? Diante desse contexto, é premente a necessidade de se introduzir uma nova visão do ensino do esporte no âmbito escolar, que por sinal já se realiza em algumas 39 escolas brasileiras, um ensino que não transmita unicamente os gestos técnicos ou regras esportivas, e de competitividade agressiva, mas que leve em consideração os interesses e as realidades sociais, econômicas e culturais dos ―jovens atletas‖. Chegamos, ao final deste trabalho, cientes de que não demos conta da totalidade de tal realidade, que trata da relação esporte e escola, um universo extremamente complexo e dinâmico com vários aspectos a serem pesquisados. Deixamos, pois, em aberto a possibilidade para que outros trabalhos acadêmicos, inclusive um nosso, venham detalhar mais sobre o assunto, assim como tomem como lócus de estudo o universo dos JERN´s, de maneira mais complexa e para outros fins. 40 Referências BOLTANSKY, Luc. As classes sociais e o corpo. Rio de Janeiro: Graal, 2004. BOURDIEU, Pierre.O Poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. ______________.Como é possível ser esportivo? In: BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero Limitada, 1983. ______________.Algumas propriedades dos campos. In: BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero Limitada, 1983. ______________.Meditações Pascalinas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. BRACHT, Valter. Educação Física e aprendizagem social. Porto Alegre Magister,1992. ______________.Sociologia crítica do esporte: uma introdução: Vitória: UFES, 1997. BRUHNS, Heloísa T. O corpo parceiro e o corpo adversário. 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CASTRICIANO MARISTA NEVES AUXILIADORA SALESIANO SAGRADA MUNDIAL MARISTA CHAMPANGNAT CONTEMP. C. VERDE - PAR CELM - PAR MARIE JOST CDF CENTRO CIC O MESTRE ENCANTO SANTARÉM CESA EM J. AYRES - T EE W. GURGEL CDF SUL EE A. DANTAS CEFET - NAT CAP/HIP. Z. SUL EM A. LIRA - MAC ED OBJETIVO BEREIANO IMPACTO EE D. MARIZ EE ATHENEU APLICADAS EM 4º CENTENÁRIO MARISTELLA POSITIVO EE B. FAGUNDES CCT - C. N EE J. F. MACHADO PONTOS 526 498 404 325 325 299 294 270 83 80 79 73 70 65 65 62 53 53 46 44 39 37 34 34 33 31 31 31 31 29 28 28 26 26 25 23 23 22 21 FONTE: CODESP-RN