Anais do I Seminário PIBID/FPA 2014. FPA. Vol I, nº 1. São Paulo, 2014. 1
Artes no Ensino formal
O novo educador sonoro e o ensino de música em escolas
públicas
Cristina Marques da Silva Turriani Siqueira1
Mais do que nunca a humanidade terá
necessidade, nestes momentos de reconstrução
social, da reeducação do indivíduo.
Jacques Dalcroze
Resumo
O presente artigo traz uma reflexão sobre a importância do educador musical
dentro das escolas públicas, como se dá sua formação acadêmica e como ela
conversa com a realidade escolar. Defende, também, o Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID – CAPES) como uma grande
ferramenta para o estudante de licenciatura em Música, no que diz respeito à
sua formação como educador e compreensão do campo educacional.
Abstract
This paper brings a reflection about the importance of music educator in public
schools, how is his academic training and how it relates to the school reality.
Also defends the Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
(PIBID – CAPES) as a great tool for the student degree in Music (licenciate
degree), in regards to his training as educator.
Palavras-chave: Educador Musical, Professor de Música, Escola Pública,
Formação Acadêmica, Licenciatura em Música, Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID – CAPES), Estágio.
Introdução
Este artigo é fruto da parceria entre a Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES) através do Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID, a Faculdade Paulista de Arte (FPA) e
a Escola Municipal de Ensino Fundamental EMEF Celso Leite Ribeiro Filho,
Aluna da Faculdade Paulista de Artes, cursando o quarto semestre de Licenciatura em Música
e bolsista do PIBID. [email protected]
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Este trabalho contou com o apoio do Programa PIBID vinculado a CAPES/MEC
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onde foram criadas oficinas abertas de música, fora do período regular de aula,
como forma alternativa de promover a educação musical.
Depois de anos, as aulas de música retornaram ao currículo pleno das
escolas de educação básica. Neste momento histórico para o ensino da música
no país, o educador musical precisa ter consciência da importância de seu
papel, e deve, mais do que nunca, assumir seu lugar no ensino escolar.
Em plena era digital e mundo globalizado (ou utilizando um termo mais
real, pasteurizado), a definição sobre “o que é música” tornou-se difícil. Somase a isso uma enorme variedade cultural e nos deparamos com a dificuldade
em definir como seria uma educação musical íntegra e qual é a sua finalidade.
Nos últimos anos, a educação musical adquiriu ares inter e
multidisciplinares, muitas vezes servindo como ferramenta para auxiliar a
transmissão do conteúdo de outras disciplinas, o que não é ruim ou errado,
mas suas especificidades devem ser sempre valorizadas enquanto forma única
de manifestação artística.
Frente a isso, o maior desafio do educador musical será fazer com que a
música torne-se significativa e tenha sentido para a vida do aluno, promovendo
uma educação musical capaz de transformar critérios e ideias artísticas em
uma nova realidade, palpável aos alunos, e os fazendo compreender que as
manifestações artísticas são resultantes de mudanças sociais.
Um modelo de ensino de música que tem como objetivo medir e
desenvolver o talento musical do aluno não cabe dentro do ambiente escolar. A
educação musical escolar atua como instrumento para que o aluno possa ter
condições de adquirir percepção, sensibilidade musical e desenvolver
capacidades que vão muito além da música.
Para que tudo isso se torne possível, o educador musical põe-se diante
do segundo desafio, que é adaptar as técnicas pedagógicas a cada realidade,
pois essa é a única maneira de trazer à tona o conteúdo humano e social da
música. Somente dessa forma o ensino musical passará a ser respeitado e
valorizado, e sua importância para a formação integral do ser humano,
reconhecida.
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Esse artigo levanta, justamente, questões sobre o papel do ensino de
música nas escolas, sua realidade atual e como os educadores musicais se
preparam para assumir função.
Histórico do ensino da música nas escolas
Através do Decreto nº 19 890/31 a disciplina Música (Canto Orfeônico)
foi incluída no currículo da escola brasileira em 1931 e permaneceu até 1971,
quando foi substituída por Educação Artística.
A partir dessa data, e por muitos anos, aprender música era privilégio
reservado às classes abastadas ou às pessoas com um suposto dom musical,
em conservatórios ou escolas de música.
É imperativo tornar claro que a educação musical que forma um
instrumentista, cantor, compositor ou regente não é a que deve ser aplicada em
escolas básicas. O que se deve ter em mente é que o ouvido musical não é
algo inato. Tampouco é demonstrável uma disposição biológica para a música,
uma aptidão musical congênita. Todos os indivíduos podem se desenvolver
musicalmente, desde que a eles seja dada oportunidade para tal. Infelizmente,
o que ocorre, muitas vezes, é o oposto: a questão do talento coloca-se como
impedimento na realização das atividades musicais em diversos contextos,
inclusive no escolar.
Em 18 de Agosto de 2008, o Governo Federal, através do Ministério da
Educação, sancionou a Lei nº 11.769 que alterou a Lei nº 9.394, de 20 de
Dezembro de 1996, LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor
sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica. Em seu art.
26, § 6º, a LDB definiu que “A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas
não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2º deste artigo". O
prazo estipulado na Lei para as escolas adaptarem-se às exigências
estabelecidas no artigo 1º da referida Lei venceu em 18 de Agosto de 2011.
O retorno da obrigatoriedade do ensino de música nas escolas traz uma
série de preocupações sobre as condições e desafios, para que esse retorno
tenha sentido e legitimidade. Portanto, o grande desafio agora é construir um
discurso sobre o ensino e a aprendizagem de música nas escolas de todo o
país, públicas ou privadas, compreender como o aluno concebe a própria
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escola e a música e o quanto e como elas são importantes para sua formação
e sua vida em sociedade.
Afinal, o que é o ensino de música?
Musicalização convencionalmente é um termo aplicado à educação
musical infantil. Talvez isso aconteça devido à semelhança subjetiva com o
termo alfabetização. Existem algumas ideias que procuram definir o termo
musicalização. Uma conceituação completa e de fácil compreensão é a de
Vera Bréscia (2003): musicalização é um processo de construção do
conhecimento musical, com o objetivo de despertar e desenvolver o gosto
musical, contribuindo e estimulando a formação global do indivíduo.
Musicalização diz respeito ao relacionamento do aprendiz com a essência da
música. Trata-se da forma como é vivenciada a experiência musical,
independente de execução ou teorização. É, ou deveria ser, o objetivo mais
básico de cada proposta educacional.
Em seu livro “De Tramas e Fios”, Marisa Fonterrada (2008) diz:
O que Dalcroze entende como educação musical ultrapassa o
conceito comumente atribuído a essa expressão, de ensino de
música para crianças. Para ele, toda ação artística é um ato
educativo e o sujeito a que se destina essa educação é o
cidadão, seja ele criança, jovem ou adulto (p. 128).
Portanto, musicalizar implica em contribuir de forma objetiva e concreta
para o conhecimento musical do indivíduo (seja ele um bebê, uma criança, um
adolescente, um adulto), utilizando métodos que possam gerar resultados que
respeitem cada um como ser único.
Murray Schafer (2011), educador musical e compositor canadense,
descarta os antigos moldes da educação musical tradicional, principalmente no
que diz respeito à atuação do professor de música como "transmissor" de
conhecimentos. Também descarta uma pedagogia dirigida especialmente a
alunos dotados e capazes de se tornarem virtuoses.
A aula de música é sempre uma sociedade em microcosmo [...]
Nela deve haver um lugar, no currículo, para a expressão
individual; porém currículos organizados previamente não
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concedem oportunidade para isso, pelo fato de seu objetivo ser
o treinamento de virtuoses, e, nesse caso, geralmente falha. O
principal objetivo de meu trabalho tem sido o fazer musical
criativo, e embora seja distinto das principais vertentes da
educação,
concentradas
sobretudo
nas
habilidades
de
execução de jovens músicos, nenhuma dessas atividades pode
ser considerada substituta da outra. (pp. 279-280)
O autor propõe que o professor, ao invés de se fechar atrás de sua
máscara de sabe-tudo e daquele que tem todas as respostas, procure mostrar
aos alunos que a música é uma descoberta diária dos sons (ou do silêncio) que
o meio ambiente produz e se faça também de aprendiz, deixando que a
curiosidade musical brote nos alunos, sem ser algo imposto. Ou, conforme ele
diz: "numa classe programada para a criação não há professores: há somente
uma comunidade de aprendizes." (p. 286).
O aprendizado através do trabalho, ou seja, através da atividade e da
criação, proporciona o contato intenso e organizado com os conteúdos e
elementos culturais da linguagem musical. Trata-se de um fazer musical com
intencionalidade, expressivo, acessível a todos, leigos ou não, que através de
um conjunto de atividades de improvisação, expressão vocal, corporal e
instrumental, leva o aluno a integrar em sua experiência todos aqueles
aspectos da arte musical.
O ensino conceitual, como a leitura e a escrita musical, é um processo
posterior à aquisição dos elementos musicais, frutos das práticas musicais
vivenciadas, ou seja, a compreensão deve vir depois da experiência - esta sim,
a base do processo. Por isso, o educador deve ter como propósito integrar os
ortodoxos
estudos
da
música
(solfejo,
métrica,
intervalos,
duração,
contraponto, harmonia) com a expressão do corpo, experimentado em sua
inteireza e cultivar os ritmos naturais, pois compreende a importância
psicológica do movimento como suporte dos fenômenos intelectuais e
auditivos.
Pois o importante, nunca será demasiado repetir, é que a
criança aprenda a sentir a música, acolhendo-a e integrando-a
ao corpo e à alma... aprendendo a escutar não apenas com os
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ouvidos, mas mais ainda com a inteireza do seu ser
(DALCROZE apud MADUREIRA, 2007, p. 271).
Além da educação musical e da necessidade de ligar estreitamente
música, escuta e movimento corporal, o pedagogo musical Jacques Dalcroze
levantou outra preocupação em seu trabalho, que deve ser também uma
preocupação do novo educador: buscar soluções para as questões do novo
século e promover a educação das massas através da arte, mais
especificamente, da música. Para tal, defendia a presença da música na
escola, com mestres inteligentes e capazes. O ideal de Dalcroze era a união
dos indivíduos caminhando em direção ao coletivo, através da arte como
elemento aglutinador.
A música fará o milagre de ordenar a massa, agrupá-la de
acordo com determinada ordem, apaziguá-la, instrumentaliza-la
e orquestra-la, segundo os princípios dos ritmos naturais, pois
a musica é a emanação de aspirações e vontades.
(DALCROZE apud FONTERRADA, 2008, p.124).
Problemas: a falta de profissionais, tempo, material e a pedagogia “como
eu aprendi”
Com o retorno das aulas de música na educação básica, a demanda por
profissionais que sejam capazes de ocupar o cargo de educadores musicais é
enorme, e, na falta destes, muitas aulas de música são ministrada por
profissionais de outras áreas, sem formação ou conhecimento musical. E para
tornar o quadro ainda mais preocupante, a “aula de música” em verdade não
existe, pois está dentro da aula de artes, dividindo espaço ainda com artes
visuais, dança e teatro.
É claro que se pode, e se deve, ter uma visão integrada das artes, pois
os sentidos humanos não são fragmentados e no dia-a-dia as artes não estão
desgarradas da experiência humana, mas o estudo específico de uma
determinada arte deve ser visto em suas peculiaridades.
Ana Mae Barbosa (1989) fala sobre o despreparo do arte-educador
brasileiro:
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O currículo de Licenciatura em Arte Educação na universidade
pretende preparar um professor de arte que seja capaz de
lecionar música, teatro, artes visuais, desenho, dança e desenho
geométrico, tudo ao mesmo tempo, da 1 a 8 série, e, em alguns
casos, até o 2 grau (p.178).
Schafer (2011) também recomenda o ensino da música feito por
profissionais, pois, embora qualquer um possa fazer descobertas musicais, a
música não se limita a isso, sendo que as questões teóricas e práticas de um
instrumento específico devem e só podem ser repassadas por um profissional
da música, sob pena, entre outras coisas, de danos irreparáveis no corpo do
aprendiz (pregas vocais do cantor, mãos do pianista, e assim por diante).
Porém, mesmo que todo professor de música atuante nas escolas fosse
realmente um educador musical, ainda restam muitas questões. É possível
ensinar música, em aulas que acontecem uma vez ou duas vezes por mês em,
com sorte, 45 minutos? O que ensinar? Que conteúdo é possível desenvolver
com a falta de recursos em, praticamente, todas as escolas do sistema
público? Como lidar com as diferenças sociais, culturais, intelectuais? Como
atender os alunos especiais?
E mais. O que transmitir na aula em grupo? Como ministrar aulas em
grupo? Que material usar? Qual o melhor número de alunos para cada grupo?
Para qual faixa etária o ensino em grupo é mais adequado? Para que nível é
mais adequado? Essas dúvidas são verdadeiros obstáculos para o ensino
musical verdadeiro, íntegro, amplo e de qualidade.
Frequentemente pergunto aos meus colegas que métodos eles aplicam
em suas aulas de música. E a resposta padrão é: o método pelo qual eu
aprendi. Acredito que essa repetição de metodologias não seja exclusiva da
educação musical, e até encontro algo de boa intencionalidade nisso. Afinal,
parece lógico um educador pensar que se determinado método foi eficiente
para o seu próprio processo de aprendizagem, também o será para os seus
alunos. Além disso, ele conseguirá aplicar esse método com facilidade. Mas
este pensamento é um grande equivoco. O que funciona para um não
necessariamente funcionará pra todos.
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Ao entrar em sala de aula, o educador deve considerar todos os
aspectos da realidade de cada aluno e então avaliar quais serão as ações
pedagógicas mais efetivas para aquela sala de aula. E então, se depara com a
grande questão envolvendo a formação desse educador: como uma instituição
de nível superior pode preparar os alunos para compreenderem as tantas faces
da realidade sociocultural brasileira?
A importância do PIBID
Com a ausência do ensino de música nas escolas básicas, formar
professores de música para o ensino regular não era uma preocupação dentro
dos cursos superiores de música. Com o retorno das aulas de música dentro
do período regular de aula, as instituições de ensino superior estão adaptando,
testando, reformulando sua grade curricular para atender à demanda
educacional.
Porém, por mais que exista um real esforço das instituições, as questões
acerca do ensino como um todo, especificamente o de música, e acerca das
escolas, não são suficientes para preparar o futuro educador. Tampouco os
estágios supervisionados conseguem dar conta disso, porque, em geral, o
aluno faz apenas estágio de observação, ministrando pouquíssimas ou
nenhuma aula.
O ponto central do PIBID, no entanto, é a formação do docente,
viabilizando uma relação entre a instituição de ensino superior e as escolas de
educação básica. Isso possibilita uma real vivência no espaço escolar, e assim,
o futuro professor (bolsista PIBID) constrói seu conhecimento através da
experiência, que nenhuma teoria, curso ou instituição de ensino superior pode
oferecer.
Além da prática em sala de aula, o aluno/bolsista entra em contato com
a dinâmica escolar, com professores de outras áreas, com o professor que
coordena o PIBID dentro da escola e que trará seus pontos de vista, ideias e
propostas pedagógicas, com a direção da escola e com tudo que diz respeito
ao dia a dia escolar. Essa vivência é enriquecedora por possibilitar que o
aluno/bolsista exercite o diálogo entre as propostas da escola e o seu próprio
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desejo de experimentar outras possibilidades e então seja agente ativo de sua
formação.
A relação entre instituição e escola é única em cada caso, pois o acordo
entre elas dependerá das demandas da escola e do que a instituição pode
oferecer. As possibilidades são muitas, o que torna a experiência ainda mais
rica, pois o aluno/bolsista poderá ter que desenvolver material didático,
oficinas, planejar atividades, etc., tendo como foco os alunos com quem se
relacionará, ou seja, a sua realidade. Ele poderá então por em prática e
desenvolver seus projetos, elaborados para disciplinas da instituição em que
estuda só em nível teórico, sem possibilidade de aplicação.
As oficinas de música
A natureza humana não é dada ao homem, mas é por ele
produzida
sobre
a
base
da
natureza
biofísica.
Consequentemente, o trabalho educativo é o ato de produzir,
direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a
humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo
conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz
respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais
que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie
humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e
concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas
para atingir esse objetivo (SAVIANI, 2003, p.13).
Norteadas pelas premissas apontadas aqui, estão sendo desenvolvidas,
em parceria com Carlos Franco Drummond, oficinas de musicalização com
crianças, jovens e adultos, que acontecem fora do período regular de aula. A
participação dos alunos da EMEF Celso Leite é voluntária e todos são bem
vindos.
As oficinas são inspiradas na Proposta Triangular, da arte-educadora
Ana Mae Barbosa e apoiadas em métodos como a Rítmica de Jacques
Dalcroze, o Orff-Schulwerk de Carl Orff e as propostas pedagógicas de Murray
Schafer.
Sempre propomos o desenvolvimento de um trabalho que privilegia o
lúdico, o orgânico, aquilo que é agradável e natural para os alunos, afinal, o ser
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humano é naturalmente musical. Acreditamos que cada um dos alunos, ao seu
tempo e ao seu modo, é capaz de se desenvolver musicalmente, mas
priorizamos o trabalho grupal, e não o individual.
Além de tornar os alunos sensíveis aos elementos musicais,
principalmente ao ritmo, o foco é o fazer musical, que por ora está sendo
vivenciado através do canto em grupo.
Entendemos que do aspecto da prática musical, o ensino coletivo de
instrumento musical é uma importante ferramenta para o processo de
socialização do ensino musical, democratizando o acesso do cidadão à
formação musical. Infelizmente, ainda não existe uma estrutura que torne essa
prática possível.
Palavras finais
Se, como diz Schafer, o professor deve se fazer aprendiz, o professor de
música brasileiro teria que aprender, no contato com seus alunos, novas
filosofias de ensino musical que se aplicassem à realidade social brasileira,
visando despertar neles a criatividade, a descoberta de nosso modo musical de
ser e a valorização da cultura nacional.
O rico universo de sons à nossa volta pode ser o objeto de um novo tipo
de estudos musicais. Os licenciandos em música, ativos, futuros professores,
mergulhando mais a fundo no campo da ciência, da ciência social e da arte,
são capazes de recriar os princípios de trabalho de uma nova teoria da música,
passo a passo com o salto imaginativo dos artistas, que estão hoje carregando
a música com ousadia.
O novo educador deverá promover a coordenação entre olhos, ouvidos,
mente e corpo dos alunos, e compreender que o primeiro instrumento musical
que deve ser treinado é o corpo. Ele deve ser uma força propulsora do estado
de arte inerente a toda criatura humana. A nova abordagem da educação
musical deve ser voltada para a produção e vivência musical, saindo apenas do
enfoque teórico. A construção do conhecimento através do “fazer musical”
coloca o aluno em contato direto com a música. Conhecer pela vivência, por
meio de um “sentir” de intensa carga física e emocional, cria bases sólidas para
um pensar mais elaborado.
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O ensino coletivo de instrumento musical poderá chegar ao contexto
escolar caso os educadores musicais e as administrações escolares percebam
sua importância e seus benefícios, sistematizando metodologias adequadas
para a realidade de cada escola e investindo na capacitação de professores
especializados para sua implementação.
Assim, os impactos das práticas musicais nas escolas públicas seriam
capazes de exercer sensíveis mudanças tanto no aspecto particular quanto no
aspecto social da música. Tais aspectos, sob uma perspectiva puramente
educacional, sem levar em conta a especificidade musical, lembram o ideário
defendido no Brasil por Paulo Freire, que também propôs novas posturas para
professores e novas filosofias de ensino tanto em escolas públicas quanto nas
particulares.
Isso porque a educação musical é um meio para que os alunos
desenvolvam grandes qualidades, a personalidade com um todo e também um
meio de despertar faculdades indispensáveis ao profissional de qualquer área
de
atividade,
como
a
percepção,
a
comunicação,
a
concentração
(autodisciplina), trabalho em equipe, ou seja, a subordinação dos interesses
pessoais aos do grupo, o discernimento, capacidade de análise e síntese,
desembaraço e autoconfiança, o desenvolvimento da criatividade, do senso
crítico, do senso de responsabilidade, da sensibilidade de valores qualitativos e
da
memória,
e
principalmente,
o
desenvolvimento
do
processo
de
conscientização do todo, base essencial do raciocínio e da reflexão.
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