a música entre os grei
E ' b e m e s t r a n h o p e n s a r - s e q u e , entre
os g r e g o s , e n q u a n t o a poesia, a p i n t u r a , a
escultura e a a r q u i t e c t u r a tinham atingido
os m a i s altos c u m e s , a música estava ainda
na infância.
N ã o conheciam a h a r m o n i a n e m m e s m o
a melodia tal como a c o n c e b e m o s ; todo o
i n t e r e s s e musical residia, p a r a e l e s , n a s
c o m b i n a ç õ e s r í t m i c a s e sua concordância
com a prosódia; a música era a humilde
s e r v a da p o e s i a ; antes u m a espécie d e dicção r i t m a d a e s a l m ó d i c a q u e devia combinar-se b e m c o m a imobilidade da fisionomia
da m á s c a r a trágica. Q u a n t o aos instrumentos, o seu único p a p e l e r a guiar e s u s t e n t a r
a voz d o d e c l a m a d o r , dar-lhe o t o m e acentuar formas r í t m i c a s .
N a G r é c i a , a música nunca estava separ a d a da poesia e e r a quási s e m p r e a c o m p a n h a d a d a d a n s a ; a b e m dizer, as três artes
r e u n i d a s faziam a p e n a s u m a , d e g r a n d e intensidade de e x p r e s s ã o . O s m e s m o s p e r s o n a gens q u e f o r m a v a m o coro c a n t a v a m c o m
p a l a v r a s r i t m a d a s e d a n s a v a m simultaneam e n t e . E r a a este conjunro q u e c h a m a v a m
música, a A r t e d a s M u s a s .
P a r e c e e x t r a o r d i n á r i o q u e povos q u e
p o s s u í a m flautas duplas, t r o m b e t a s duplas,
h a r p a s e liras com numerosas cordas, n u n c a
t i v e s s e m p e n s a d o e m fazer ouvir dois sons
ao m e s m o t e m p o e q u e n ã o tivessem d e s c o b e r t o a h a r m o n i a , n e m s e q u e r p o r acaso,
t e n d o d e r e s t o o sentido artístico tão desenvolvido. A este r e s p e i t o l e v a n t a r a m - s e numerosas controvérsias.
O r a n e n h u m texto faz m e n ç ã o d o e m p r e g o p o r eles d e sons simultâneos e, coisa
ainda mais c o n c l u d e n t e , o s orientais d o s
nossos dias, e m b o r a p o s s u i n d o , eles tamb é m , i n s t r u m e n t o s capazes de p r o d u z i r acord e s , t e n d o , pelo contacto c o m a civilização
e u r o p e i a , o e x e m p l o d o nosso s i s t e m a , cont i n u a m a p e g a d o s à música s i m p l e s m e n t e
m e l ó d i c a e r i t m a d a . E ' n e c e s s á r i o , pois,
a d m i t i r q u e o s gregos p r a t i c a v a m exclusivam e n t e a homofonia q u e b a s t a v a à s s u a s
n e c e s s i d a d e s , verificando-se, u m a vez m a i s ,
q u e a v e r d a d e n e m s e m p r e é o verosímil.
E ' p o r escritos de filósofos como P i t á -
g o r a s (540 a. G . ) , Platão (43o a. C.)>
A r i s t ó t e l e s e Aristóxene ( s é c u l o i v ) q u e
t e m o s u m a vaga noção d o q u e podia s e r
a m ú s i c a d o s g r e g o s ; o q u e é certo é q u e
eles conheciam o s e m i t o m , o t o m , dizem
alguns q u e o q u a r t o de t o m e possuíam
três s i s t e m a s : diatónico, c r o m á t i c o e s u b - h a r m ó n i c o . A e x t e n s ã o d a sua escala geral
e r a d e cerca de três o i t a v a s , c o r r e s p o n d e n d o
aos limites da voz h u m a n a . T i n h a m n u m e rosos modos; cada u m constituía u m a escala
diversa q u e dividiam e m duas m e t a d e s cha-
m a d a s tetracórdios.
A sua d e n o m i n a ç ã o e
m e s m o o n ú m e r o , varia s e g u n d o o s a u t o r e s ;
eis a lista d o s modos s e g u n d o A l y p i u s ( s é culo i x ) :
-o
q
Hipo-dório
Hipo-jónio
Hipo-fríyio
Hipo-eòlio
Hipo-lidio
Dòrio
Jónio
Frigio
Eólio
Lídio
o
<
Iliper-dório
Hiper-jònio
Hiper-frigio
Hiper-eòlio
Hiper-lidio
S a b e m o s t a m b é m o n ú m e r o d a s cordas
da l i r a ; a série seguinte c o r r e s p o n d e a u m a
escala d e s c e n d e n t e :
Mi.
Ré.
Dó.
Si,
Neta
Paraneta
Trita
Paramesa
La.
Sol.
Fa.
Mi.
Ré.
Mesa ( s o m c e n t r a l ) 1
Lichanos
( i.° T e t r a c ó r d i o
Parhipata
1
Hipata
J.
P r o s l a m b a n ó m e n a , a corda acrescentada.
0
2. T e t r a c ó r d i o
P a r a o solfejo e m p r e g a v a m as sílabas
té, ta, té, to, q u e se aplicavam indiferentem e n t e a todos o s t e t r a c ó r d i o s .
Emfim p o s s u í a m u m sistema m u i t o complexo de n o t a ç ã o , formado com letras d o seu
alfabeto modificadas, d e i t a d a s , i n v e r t i d a s e
que v a r i a v a m conforme se tratava da voz
ou d e i n s t r u m e n t o s . F o i assim q u e chegar a m a t é n ó s alguns r a r o s hinos ou fragmentos cuja t r a d u ç ã o , n o e s t a d o actual dos nossos
c o n h e c i m e n t o s , é infelizmente d a s m a i s incertas.
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Síntese N8, 1940_25