I Simpósio de Iniciação Científica - SICFIC' 2013 AVALIAÇÃO BIOCLIMÁTICA E NÍVEIS DE VIBRAÇÃO NO TRANSPORTE DE EQUINOS CABRELON, M.A.F. (IC)1; NAZARENO, A.C.(C)2; SILVA,, I.J.O.(O)3 1. Acadêmica de Medicina Veterinária – UNIFEOB, São João da Boa Vista – SP. e-mai: [email protected] 2. Doutora, Depto. de Engenharia de Biossistemas, NUPEA-ESALQ/USP, Piracicaba – SP. 3. Prof. Doutor, Depto. de Engenharia de Biossistemas, NUPEA-ESALQ/USP, Piracicaba - SP RESUMO: A utilização dos equinos no Brasil é fundamentada em diferentes atividades como: no esporte, trabalho, diversão e lazer. A pesquisa foi conduzida em uma empresa de fabricação de trailer, localizado no município de São João da Boa Vista no Estado de São Paulo, por meio do acompanhamento de oito percursos no mês de outubro de 2012. Foi utilizado um reboque (caminhonete + trailer), com capacidade para dois cavalos. A avaliação bioclimática do trailer foi realizada por meio do registro temperatura (°C), umidade relativa (%) e entalpia específica (kJ.kg de ar seco-1). Foram instalados três dataloggers da marca Hobo® na parte central do trailer. Foram avaliadas as variáveis fisiológicas, frequência respiratória e cardíaca (FR e FC) e temperatura retal (TR). As avaliações dos níveis de vibração (m.s-2) nas estradas de terra e asfalto foram registradas por meio de três acelerômetros da marca Hobo®. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente aleatorizado com esquema fatorial 2 x 2. Com os resultados, verificou-se que apenas a temperatura do trailer esteve dentro das faixas ideais. As variáveis fisiológicas FC e TR estiveram dentro das faixas ideais. As duas cargas (individual e dupla) obtiveram os níveis de vibração acima do ideal. A carga dupla obteve os maiores níveis de vibração. A estrada de asfalto apresentou os maiores níveis de vibração durante o transporte de equinos. INTRODUÇÃO: Um dos aspectos importantes na utilização dos animais é tratá-los e conduzi-los dentro dos preceitos do bem-estar. Com relação ao transporte dos animais para os diferentes destinos existe um gargalo tecnológico, no que diz respeito às informações necessárias ao seu bemestar e a redução de danos durante essa operação e a inexistência das mesmas. Baseando-se nessas premissas percebe-se que há a necessidade de maiores investigações relacionadas à caracterização dos transportes de equinos, tipos de sistemas transportadores, e seus principais problemas, níveis de conforto térmico e bioclimático, e consequências no bem-estar dos animais transportados. O objetivo do presente trabalho foi avaliar as condições bioclimáticas em trailer de transporte de cavalos, com diferentes cargas e a sua relação com os possíveis níveis de vibração e condições fisiológicas durante o transporte. MATERIAL E MÉTODOS: O trabalho foi conduzido em uma empresa de fabricação de trailer, localizado no município de São João da Boa Vista no Estado de São Paulo. O período experimental ocorreu no mês de outubro de 2012, durante a primavera, acompanhando oito percursos sequenciais no período de 9h ás 13h, sendo cada viagem com duração de 10 minutos. O trajeto percorrido foi de 4 km em estrada de terra e 6 km em estrada de asfalto, com velocidade média de 24 km/h e 36 km/h, respectivamente. Para caracterização do ambiente térmico foi realizada pelo registro das variáveis: temperatura de bulbo seco (ambiente - T;°C) e umidade relativa (UR;%), por meio de três dataloggers da marca Hobo, acoplados na parte central da carroceria. Os registros de dados foram realizados em intervalos de um minuto, o que permitiu caracterizar o microclima onde os cavalos foram transportados. Para caracterização da quantidade de calor existente no ambiente interno do trailer, -1 utilizou-se a grandeza psicrométrica entalpia específica (h; kJ.kg de ar seco ), baseando-se nas -2 variáveis climáticas registradas. O nível de vibração (m.s ) do trailer foi realizado durante o transporte dos animais, cujos registradores, foram localizados nas três extremidades da carroceria (frente direita, traseira direita e esquerda) do trailer. Essas medidas foram registradas por meio de três acelerômetros triaxiais e dataloggers da marca (Hobo Pendant G Acceleration datalogger), parafusado na parte interna das paredes a uma altura de 1,90 m no trailer, de acordo com as recomendações dos autores Berardinelli et al. (2003a, 2003b). O registro de dados iniciava a partir do fechamento das portas do trailer, onde foi quantificado o tempo de permanência do mesmo nas I Simpósio de Iniciação Científica - SICFIC' 2013 diferentes estradas. Para a avaliação fisiológica dos cavalos durante o transporte no trailer, foram utilizados dois cavalos da raça quarto de milha, com massa corpórea de 400 kg. Antes do embarque e após o desembarque dos animais no trailer foram realizados os registros de dados da frequência -1 -1 respiratória (FR; mov.min ), frequência cardíaca (FC; bat.min ) e temperatura retal (TR; °C), para cada animal e viagem realizada. O delineamento da pesquisa foi realizado com 04 tratamentos distribuídos em 08 percursos de 10 minutos distribuídos em entradas de terra e asfalto, com a carga de 01 e 02 animais. Para a avaliação estatística foi utilizado um delineamento experimental com estrutura de parcela do tipo inteiramente aleatorizada e, como estrutura de tratamento, o esquema fatorial de 2 x 2, que representavam as duas cargas e dois tipos de estradas. RESULTADOS: Quanto as variáveis bioclimáticas, não houve diferença estatística entre os dois tipos de cargas (individual e dupla) para as variáveis microclimáticas temperatura e entalpia específica no ambiente do trailer de transporte. Porém, foi possível observar que, a variável umidade relativa apresentou diferença estatística entre os dois tipos de cargas durante o transporte de cavalos. Com relação à umidade relativa dentro do trailer verificou-se que, os maiores valores médios ocorreram com a carga individual que apresentou 75%, em virtude da precipitação local. De acordo com os resultados desse experimento, pode-se dizer que, a quantidade da carga (individual e dupla) não influenciou nas condições microclimáticas no ambiente do trailer, durante o transporte de cavalos, mesmo entendendo que as taxas de sudação poderiam ser maiores se o tempo de percurso fosse maior. De modo geral, observa-se que as duas cargas estiveram acima das faixas ideais, o autor Stull (1997) relata que, quando o cavalo encontra-se dentro da zona de conforto térmico (-1 a 24 °C), o animal promove o seu máximo desempenho com o mínimo de estresse. Porém, apenas o carregamento individual a variável temperatura esteve dentro das faixas ideais. Pode-se observar que, à temperatura da carga individual esteve dentro das faixas ideais de temperatura, com 22,0°C. Entretanto, com a presença dos dois animais no trailer, observou-se que, a temperatura interna do ambiente do trailer esteve acima das faixas ideais, com média de 25,4°C. Visto que, a alteração foi pequena (0,4°C), considerando-se que a carga estava dentro das faixas ideais. Deve-se entender também que quando aumenta-se a carga, tem-se a elevação da quantidade de calor latente dentro do ambiente, pois níveis de respiração, sudação e o calor emitido pelo próprio animal alteram as condições microclimáticas do meio. Mesmo com essas considerações verificou-se que não houve diferenças, provavelmente pelo pequeno intervalo dos percursos. Verificou-se que, não houve diferença estatística entre os dois carregamentos para os parâmetros fisiológicos temperatura retal, frequência respiratória e cardíaca durante o transporte de cavalos. Observa-se que, houve diferença estatística entre os carregamentos para todos os níveis de vibração (RMS X, RMS Y e RMS Z) e aceleração geral (RSS) durante o transporte de cavalos. De modo geral, verificou-se que o trailer com a carga dupla apresentou o maior nível de vibração, ao contrario do que era esperado.Pode-se verificar, na tabela 1, que, no geral a estrada de terra apresentou uma pequena tendência de maiores médias para os níveis de vibração (deslocamento da carga para RMS X, RMS Y, RMS Z e RSS) no reboque, em relação à carga individual. Para a carga dupla a tendência de maiores médias dos níveis de vibração (deslocamento da carga para RMS X, RMS Y, RMS Z e RSS) no reboque ocorreu na estrada de asfalto. Tabela 1 - Valores médios dos níveis de vibração do trailer para as diferentes estradas durante o transporte de cavalos Estrada Vazio em Terra Terra Vazio em Asfalto Asfalto Teste F -2 RMS X (m.s ) 1,58 1,53 A 1,63 1,73 A 4,27NS -2 RMS Y (m.s ) 10,48 10,13 B 8,99 12,15 A 6,49* -2 RMS Z (m.s ) 2,25 2,87 A 2,56 2,75 A 1,00NS -2 RSS (m.s ) 10,84 10,65 B 9,49 12,57 A 5,87* Médias com letras diferentes maiúsculas diferem entre si a nível de 5% de probabilidade pelo teste F. NS – não significativo, * – significativo a 5% (P < 0,05) O nível de vibração no transporte de animais vai depender do motorista, do tipo e quantidade da carga, da qualidade da estrada, velocidade (constante, aceleração ou frenagem), da distância, do tipo I Simpósio de Iniciação Científica - SICFIC' 2013 de suspensão e números de eixos do caminhão, da calibragem de pneus e do tipo de amortecedores (Singh, 1991; Pierce et al., 1992; Randall et al., 1993; Berardinelli et al., 2003, Nazareno, 2012).Este nível de vibração pode influenciar de maneira direta no transporte de cavalos. Existem algumas pesquisas que avaliaram o comportamento do corpo humano quando expostos à vibração mecânica, porém, existem poucas pesquisas relacionadas ao transporte de equinos. Segundo a norma ISO 2631-1 (1997); Walber e Tamagna (2010) que classifica como níveis de vibração de desconforto para humanos os valores médios maiores de 0,315 m.s-2. Gebresenbet et al. (2011) avaliaram o nível de vibração no caminhão e nos bovinos, esses propuseram uma faixa ideal do nível de vibração de 0,5 a 1,15 m.s-2, para um período de 8 horas de transporte. Baseando-se nos dados dessa pesquisa os maiores valores médios dos deslocamentos das cargas no sentido vertical (RMS Y) e RSS -2 -2 (aceleração geral) foi observado na estrada de asfalto, com 12,15 m.s e 12,57 m.s , e os menores -2 -2 valores foram verificados na estrada de terra 10,13 m.s e 10,65 m.s . Vale enfatizar que, os valores médios dos níveis de vibração RMS X, RMS Y, RMS Z e RSS do trailer vazio para estrada de terra foram de 1,58 m.s-2; 10,48 m.s-2, 2,25 m.s-2 e 10,84 m.s-2, para a estrada de asfalto os valores médios -2 -2 -2 -2 foram de 1,63 m.s ; 8,99 m.s , 2,56 m.s e 9,49 m.s . CONCLUSÕES: De acordo com os resultados obtidos nesta pesquisa, pode-se concluir que, apenas a temperatura do trailer esteve dentro das faixas ideais para as duas carga de cavalos, porém, a umidade relativa e entalpia especifica estiveram acima das faixas ideais. O carregamento individual obteve a maior média de umidade relativa. Em se tratando de parâmetros fisiológicos, apenas a frequência respiratória dos cavalos esteve fora das faixas ideais. O carregamento duplo apresentou os maiores niveis de vibração. E em relação as estradas a estrada de asfalto apresentou os maiores niveis de vibração para o transporte de cavalos. Os carregamentos estudados apresentaram valores médios de vibração acima da faixas ideais durante o transporte de equinos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - BERARDINELLI, A.; DONATI, V.; GIUNCHI, A.; GUARNIERI, A.; RAGNI, L.; Effects of transport vibrations on quality índices of shell eggs. Biosystems Engineering, London, v. 86, n. 4, p. 495-502, 2003a. -BERARDINELLI, A.; DONATI, V.; GIUNCHI, A.; GUARNIERI, A.; RAGNI, L.; Effects of sinusoidal vibration on quality indices of shell eggs. Biosystems Engineering, London, v. 86, n. 3, p, 347-353, 2003b. -GEBRESENBET, G.; ARADOM, S.; BULITTA, F. S.; HJERPE E. Vibration levels and frequencies on vehicle and animals during transport. Biosystems Engineering, Sweden, v.110, p, 10-19, 2011. -NAZARENO, A. C, Ambiência pré-porteira: avaliação das condições bioclimáticas e das operações pré-eclosões na qualidade de pintos de corte. 2012, 208 f. Tese (Doutorado em Física do Ambiente Agrícola). Escola Superior de Ensino “Luiz de Queiroz”. Universidade de São Paulo. Piracicaba. 2012. -PIERCE, C.D., SHIGH,S.P., BURGESS,G. A comparison of leafspring with air-cushion trailer suspension en the transport environment. Packaging Technology and Science, London, v.5, p. 11-15, 1992. -RANDALL, J.M.; STREAADER, W.V.; MEEHAN, A.M.; Vibration on poultry transporters. British Poultry Science, Abingdon, v.34, p.635-642, 1993 -SINGH, S.P. Vibration levels in commercial truck shipments. St Joseph: ASAE, 1991. (ASAE Paper, 91). -STULL, C.L, Physiology, Balance, and Management of Horses During Transportation, 1997. Disponível em: <http://www.vetmed.ucdavis.edu/vetext/inf-an/inf-an_horstranspt.html>. Acesso em: 07/08/2012. -WALBER, M., TAMAGNA, A; Avaliação dos níveis de vibração existentes em passageiros de ônibus rodoviários intermunicipais, analise e modificação projetual. Revista Liberato,Novo Hamburgo, v. 11, n. 15, p. 1-88, 2010.