Semana Santa e a Luz Entre as trevas Novela em sete capítulos Baseada na obra Assim Ouvi do Mestre de Joaquim José de Andrade Neto Capítulo III Segunda parte Terça-feira Santa: o anúncio do Julgamento Certamente essa visão das horas dramáticas durante as quais Israel, entre cenas de terror, seria julgada no futuro que o Cristo previa e profetizava nesse exato momento, levou Jesus a evocar os momentos de um outro julgamento bem diferente, em que o mundo inteiro será pesado nas balanças eternas, chamado comumente de Juízo Final, no qual é Ele próprio o Grande Juiz. Seus discípulos fizeram essa analogia interrogando-O sobre esse futuro escatológico e inexorável. E qual foi a resposta de Jesus? © “Da mesma forma que o relâmpago se produz no Oriente e projeta o seu brilho até às zonas do Ocidente, assim sucederá com a vinda do Filho do Homem”. – “Senhor – perguntaram os Apóstolos. - Onde acontecerá isso?”... – “Em toda a parte onde jaz um corpo, pairam os abutres”... Resposta, pouco explícita, mas em que, no entanto, faísca como que um clarão milagroso – uma das frases mais impregnadas de poesia, de todo o Evangelho. O abutre (aetos, em grego, significa abutre) sabe muito bem descobrir os cadáveres, seu alimento; assim, os justos saberão ir ter com o Salvador. Ou ainda: por toda a parte onde se encontrar o pecado, corpo de podridão, a justiça de Deus há de cair sobre ele análogo a ave de rapina. © “Imediatamente após as atribulações destes dias, haverá prodígios no céu. Obscurecer-se-á o firmamento; a lua deixará de dar claridade; as estrelas cairão; e as virtudes dos céus serão abaladas. No mundo inteiro, tremerão os povos, sem o fragor confuso do mar e suas ondas; os homens mirrar-se-ão de pavor, na perspectiva das ameaças universais. “Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem. Todas as tribos da Terra uivarão de dor. Vê-Lo-ão chegar sobre as nuvens do firmamento, em toda a sua força e majestade. E Ele mandará os seus anjos com uma trombeta sonorosa, os quais reunirão os eleitos dos quatro pontos cardeais, até aos limites do horizonte.” Como devem ter calado profundamente tais palavras no espírito dos discípulos que escutavam Jesus! As imagens de que Ele se servia eram aquelas às quais o Apocalíptico (tão em voga havia quase três séculos), e os Profetas haviam habituado o espírito dos judeus. Não predissera Isaías que “a queda de Babilônia e a punição de Edom seriam anunciadas por presságios semelhantes? Não falara deles Jeremias a respeito de Jerusalém, assim como Ezequiel acerca do Egito e principalmente Joel, quase pelos mesmos termos de Jesus, ao profetizar, como este, o dia do Eterno? E quanto ao anúncio da chegada em glória do Messias, qualquer israelita, ao ouvi-lo dos lábios de Jesus, deveria ter presente no espírito as célebres palavras de um outro Profeta: “Perscrutava os segredos da noite quando, sobre as nuvens, apareceu como que um Filho do Homem...”. Por isso, que temor não devia ser o deles?! Teriam, acaso, repetido a pergunta que já tinham formulado, a mesma que todo o homem tem nos lábios, quando pensa nesse momento terrível... © Quando? Jesus responde-lhes. Os sinais que acabara de lhes indicar não seriam suficientes para poderem reconhecer o momento fatídico? Apesar disso, não lhes era possível conhecer com precisão a hora e o instante! Só o Pai está de posse de tal segredo. Os homens comiam, bebiam e casavam-se, na véspera do Dilúvio; e em Sodoma levava-se vida descuidada, quando o fogo e o enxofre estavam já prontos para caírem sobre a cidade maldita. Assim há de suceder no dia do Filho do Homem. Tudo aparecerá de súbito e tudo parecerá incompreensível. Mas será puramente a manifestação da Justiça Divina. Dessas duas mulheres que se preparam para moer, acionando à mão o moinho caseiro, dando-lhe, cada uma delas, meia volta, uma será apanhada enquanto a outra ficará ilesa. Desses dois campônios que lavram lado a lado, um perder-se-á, e o outro será salvo. © Então? Apenas uma conclusão se nos impõe: “Lembra-te como recebeste e ouviste a palavra, apega-te a ela e arrepende-te. Se não vigiares, virei a ti como um ladrão, e não saberás a que horas virei” diz o Messias no Apocalipse de São João – “Cuidado, pois; é preciso estar alerta, e não deixar que o bandido perfure a parede da vossa morada. Não se deve ser como o servo negligente que, na ausência do patrão, se embriaga e se deixa surpreender adormecido! Vigiai e orai, sem descanso, a fim de serdes julgados dignos de escapar a todas essas desgraças!”. © Com estes conselhos termina o Apocalipse de terça-feira santa que se encontra nos três Sinóticos de Matheus, Marcos e Lucas. São Matheus acrescentou mais duas parábolas que lhes contou o Divino Mestre. O Juízo é novamente o assunto evocado pela segunda: a parábola dos dez talentos. Deus dá a todos os homens oportunidades e faculdades: um dia chegará em que seja necessário prestar contas. Aos que tiverem recebido muito, muito será pedido. De acordo com a justiça dos homens, nesse caso? Não apenas segundo essa justiça. Na ordem espiritual, quem tiver sabido adquirir grandes tesouros de sabedoria, receberá ainda mais; mas àquele que os não tiver adquirido sabedoria, ou seja, o ignorante, tirar-se-á a ignorância. Com palavras impressionantes Jesus descreve nesse instante este dia do Juízo: © “Quando o Filho do homem vier na sua glória, cercálo-ão todos, os anjos. Ele assentar-se-á no seu trono magnífico. Todas as nações se reunirão na Sua frente. Ele separá-los-á uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos bodes. Ovelhas à direita, bodes à esquerda... Então o Rei dirá aos da direita: – Vinde, ó abençoados por meu Pai; tomai posse do Reino que, desde o princípio do mundo, vos está preparado... E aos da esquerda, Ele dirá: Afastai-vos de mim, malditos, e ide para o fogo eterno, aceso pelo diabo e seus demônios...” Não era essa a vez primeira que o Mestre anunciava assim o Juízo supremo: por várias vezes predissera aquela divisão da humanidade em duas categorias – a dos maus e a dos bons – uma que teria o privilégio de ver Deus diretamente, face a face, e outra onde arderiam, num fogo insuportável, os intendentes infiéis, as virgens insanas, o convidado que não vestiu o fato nupcial, os vinhateiros assassinos, e o joio separado do bom grão! Nessa tarde de terça-feira santa, aquela profecia era ainda mais dramática por ter sido precedida pela evocação de uma catástrofe, cuja lembrança bastaria para esmagar um coração israelita. E, mais ainda em relação aos cristãos, ela toma um sentido terrível por se antecipar de tão poucas horas à injustiça suprema, e por ser a última profecia pronunciada por Jesus. © É, pois, com uma lição terrível, talvez a mais apavorante de todas, que Jesus encerra aquele dia. A cena teria qualquer coisa de quase intolerável e a imagem do “Bom Jesus” ficaria, por isso, em suspenso, se Matheus, nos últimos parágrafos daquele capítulo, não tivesse referido algumas palavras singularmente emocionantes. No dia do Juízo, também Cristo dirá aos bemaventurados: © “Eu tive fome e vós alimentastesme; eu tive sede, e vós dessedentastes-me; eu estava sem teto, e vós destes-me abrigo; sem vestuário, e vós vestistes-me; doente, e vós visitastes-me; cativo, e vós viestes até mim!” – Mas, quê, Senhor, exclamarão, então, os Justos, quando foi que nós fizemos tudo isso? Vós não tivestes nem fome, nem sede, nem estivestes sem teto, nem sem manto!” E Ele responderá: “ Em verdade vos digo: de cada vez que fizestes isso a qualquer destes pobres, a qualquer destes humildes que são meus irmãos, foi como se o tivésseis feito a mim mesmo!” Portanto entre aquelas promessas ameaçadoras, foi ainda o Amor que fez vibrar a Sua voz, a bondade divinal que constitui verdadeiramente a essência da Mensagem de Jesus e a consolação dos corações que O escutam. Eis os verdadeiros Eleitos: os homens bons! Amanhã Se Deus quiser tem mais... Semana Santa e a Luz Entre as trevas Uma produção Sama Multimídia Educação e Arte Uma empresa a serviço da evolução do homem Tel: (19) 3758 – 8222 www.samamultimidia.com.br [email protected]