CENTRO DE ESTUDOS FIRVAL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
- UNISAUDE
EDNA MARA MARCOLINO
ELAINE CRISTINA FERREIRA DOS SANTOS
SOLANGE KEIKO KOJIMA SAWAME
MEDICINA TRADICIONAL CHINESA NA
MELHORIA
DOS SINTOMAS E DA QUALIDADE DE VIDA
EM PACIENTES COM FIBROMIALGIA:
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
2014
CENTRO DE ESTUDOS FIRVAL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
- UNISAUDE
EDNA MARA MARCOLINO
ELAINE CRISTINA FERREIRA DOS SANTOS
SOLANGE KEIKO KOJIMA SAWAME
MEDICINA TRADICIONAL CHINESA NA
MELHORIA
DOS SINTOMAS E DA QUALIDADE DE VIDA
EM PACIENTES COM FIBROMIALGIA:
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Monografia apresentada à Faculdade
de Educação, Ciência e Tecnologia –
UNISAUDE
/
CENTRO
DE
ESTUDOS FIRVAL - como requisito
à conclusão do Curso de Formação
de Especialista em Acupuntura.
Orientadora: Profª Especialista em
Acupuntura Miriam de Fátima Leite
Kajiya.
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
2014
MARCOLINO, Edna Mara. SANTOS, Elaine Cristina Ferreira dos. SAWAME,
Solange Keiko Kojima.
Medicina Tradicional Chinesa na melhoria dos sintomas e da qualidade de vida em
pacientes com fibromialgia: revisão bibliográfica.
São José dos Campos, 2014.
78 p.
Registro nº...............
Orientadora: Profª Especialista em Acupuntura Miriam de Fátima Leite Kajiya.
Monografia (Especialização). Faculdade de Educação, Ciência e Tecnologia
UNISAUDE/CENTRO DE ESTUDOS FIRVAL. São José dos Campos - SP.
1 - Fibromialgia
2 - Acupuntura
3 - Qualidade de Vida
FOLHA DE APROVAÇÃO
A monografia
Medicina Tradicional Chinesa na melhoria dos sintomas e da qualidade de vida
em pacientes com fibromialgia: revisão bibliográfica.
Elaborada por
Edna Mara Marcolino, Elaine Cristina Ferreira dos Santos, Solange Keiko
Kojima Sawame.
Orientada por
Profª Especialista em Acupuntura Miriam de Fátima Leite Kajiya
(
) Aprovado
(
) Reprovado
Pelos membros da Banca Examinadora da Faculdade de Educação, Ciência e
Tecnologia – UNISAUDE/CEFIRVAL – com conceito ................
São José dos Campos, 25 de abril de 2014.
Nome:...........................................................................................
Titulação:......................................................................................
Assinatura....................................................................................
Nome:...........................................................................................
Titulação:......................................................................................
Assinatura....................................................................................
Dedicamos esta vitória a todas aquelas pessoas que fazem nosso
coração sorrir, que fizeram a diferença em nossas vidas, que quando
olhamos para trás sentimos muitas saudades e gratidão, que nos
acolheram quando nos sentimos sozinhos, às pessoas que admiramos.
Para nós, o que importa não é o que temos, e sim o que somos e a nossa
capacidade de agregar valores na vida de outras pessoas, numa troca de
experiências. É por estes e outros motivos que guardamos todos vocês,
pessoas especiais em nossas lembranças.
Dedicamos este trabalho aos nossos familiares, esposos, filhos e filhas.
A todos os professores em especial à Profª Miriam de Fátima Leite Kajiya
que sempre nos orientou com muita paciência e empenho transmitindo
suas experiências e seus conhecimentos.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos primeiramente a Deus, por iluminar nossos caminhos, nos
conceder forças para realizar mais uma etapa na vida.
De forma especial à Profª Miriam de Fátima Leite Kajiya, pela sua
disposição, empenho, paciência e incentivo, sempre acreditando em
nossa capacidade: o nosso muito obrigado e gratidão.
Para Augusto Hideo Sawame por sua ajuda na elaboração e formatação
deste trabalho.
Ao Prof. Marcelo de Oliveira e a Rozi Simões, sempre dispostos a nos
ajudar, transmitindo suas valiosas experiências, o nosso muito obrigado
e muita gratidão.
E nossos agradecimentos aos nossos esposos, filhos e filhas pela
compreensão e ajuda para o término de mais uma etapa em nossas vidas.
E nossos agradecimentos ao corpo docente da FIRVAL.
Nossa gratidão a todos que nos ajudaram em nosso crescimento pessoal
e nos auxiliaram nessa jornada.
“A inteligência não é um fator imprescindível para a
cura. Para curar, não precisamos ser inteligentes, não
precisamos ser bons e não precisamos merecer a
cura. Curar é puramente graça. Para curar,
precisamos de
honestidade.
Precisamos
ser
verdadeiros em relação a nós mesmos. Precisamos
possuir esses sentimentos para podermos superá-los,
para que assim possamos amadurecer como seres
humanos”.
Gilles Marin
(Os cinco elementos as seis condições)
“A família é um modelo universal para o viver. Ela é a
unidade de crescimento; de experiência; de sucesso e
fracasso. Ela é também a unidade da saúde e da
doença”.
Nathan W. Ackerman
(Psiquiatra americano)
“Parece que estamos lidando com duas realidades
simultâneas:
uma,
sobre
a
qual
cientistas
convencionais nos contaram; e outra, que é
transcendente e multidimensional – ou uma ciência
mais abrangente e mais sagrada, que realmente
representa o que nós realmente sabemos até este
ponto como cultura... O nada é alguma coisa. Esta é a
nossa ciência”.
PhD Brian O’Leary
(Miracle de void)
RESUMO
A fibromialgia (FM), quando comparada a outras enfermidades
reumatológicas, apresenta maiores índices de dor, incapacidade funcional e
estresse psicoafetivo. O objetivo desse estudo é revisar informações sobre a
FM e como o tratamento pela Medicina Tradicional Chinesa (MTC) pode
minimizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. Para tanto, realizou-se
pesquisa de literatura nas bases de dados PUBMED, MEDLINE, LILACS,
Scielo, Google Acadêmico, e os diversos periódicos e revistas virtuais
disponíveis na rede. A FM é caracterizada por dor musculoesquelética
associada à fadiga crônica, distúrbio do sono, rigidez muscular, parestesias,
cefaleia, síndrome do cólon irritável, fenômeno de Raynaud, e alguns distúrbios
psicológicos, principalmente a ansiedade e a depressão. Os sintomas pioram
com a umidade, o frio, a inatividade, a tensão e são aliviados por atividade
moderada, calor e relaxamento. A FM pode afetar consideravelmente a
qualidade de vida do paciente e a possibilidade de sucesso do tratamento
convencional com medicamentos e fisioterapia é bem pequena. Entre os
tratamentos disponíveis, as terapias alternativas e complementares são muito
utilizadas, com a procura chegando a 98% dos portadores em países
desenvolvidos. A MTC é um sistema que utiliza, em associação ou
isoladamente, uma variedade de terapias para o tratamento de FM como
Acupuntura, Moxaterapia, Auriculoterapia, Ventosaterapia, Tui Na, Meditação e
terapias em grupo, como Qi Gong e Tai Chi Chuan. Dentre os estudos
analisados sobre a utilização de terapias da MTC direcionadas para melhoria
dos sintomas e qualidade de vida dos pacientes com FM, foram encontrados
experimentos que comprovam que as abordagens da MTC (classificadas como
medicina alternativa e complementar) são seguras, úteis e eficazes; portanto,
pode-se concluir que tais abordagens são eficazes e benéficas no tratamento
de pacientes diagnosticados com a síndrome da FM e fornecem uma
contribuição útil quando utilizadas como complemento para o tratamento
médico convencional, por contribuírem com a melhora dos sintomas gerais
relatados pelos pacientes, tanto referentes às funções físicas como à
percepção da qualidade de vida. Diante da escassez de pesquisas sobre o
assunto sugerimos que futuros estudos comprovem a eficácia das técnicas de
MTC no tratamento da síndrome da FM.
Palavras-chaves: Fibromialgia, Acupuntura, Qualidade de Vida.
ABSTRACT
Fibromyalgia (FM), compared to other rheumatic diseases, has the
highest levels of pain, disability and psychological stress. The aim of this study
is to review the information about FM and how treatment by Traditional Chinese
Medicine (TCM) can minimize symptoms and improve quality of life. To do so, it
was performed literature search in PUBMED, MEDLINE, LILACS, SciELO,
Google Scholar, and the various journals and magazines available in the virtual
network data. The FM is characterized by musculoskeletal pain associated with
chronic fatigue, sleep disturbance, muscle stiffness, paresthesias, headache,
irritable bowel syndrome, Raynaud's phenomenon, and some psychological
disorders, particularly anxiety and depression. The symptoms worse with
moisture, cold, inactivity, stress and are relieved by moderate activity, heat and
relaxation. The FM can greatly affect the quality of life of patients and the
possibility of success of conventional medicine treatment and physiotherapy is
very small. Among the available treatments, complementary and alternative
therapies are widely used, with demand reaching 98 % of people in developed
countries. TCM is a system that uses, alone or in combination, a variety of
therapies for the treatment of FM as Acupuncture, Moxibustion,
Auriculotherapy, Cupping therapy, Tui Na, Meditation, and group therapies,
such as Qi Gong, Tai Chi Chuan. Among the researched studies about the use
of TCM therapies for the improvement of the symptoms and quality of life of
patients with FM, there are experiments that demonstrate that the approaches
of TCM (classified as alternative and complementary medicine) are safe,
effective and useful found; therefore, it can be concluded that such approaches
are effective and beneficial in the treatment of patients diagnosed with FM
syndrome and provide a useful contribution when used as a complement to
conventional medical treatment, for contributing to the improvement of general
symptoms reported by patients, both on the physical functions and perception of
the quality of life. Due to lack of research about the subject it is suggested that
future studies prove the effectiveness of TCM techniques in the treatment of FM
syndrome.
Keywords: Fibromyalgia, Acupuncture, Quality of Life.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Tender points definidos pelo ACR....................................................05
Figura 2 – Trigger points da parte frontal do corpo............................................07
Figura 3 – Trigger points da parte dorsal do corpo............................................08
Figura 4 – Tao ou TEI-GI...................................................................................15
Figura 5 – Ciclos de Geração e de Dominação..................................................18
Figura 6 – Ciclo de geração e dominação dos Órgãos......................................19
Figura 7 – Pentagrama dos Cinco Elementos e suas inter-relações.................22
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Os cinco elementos...........................................................................20
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
a.C. – antes de Cristo
ACR
–
American
College
of
Rheumatology
(Colégio
Americano
de
Reumatologia)
C5 – Quinta vértebra da coluna cervical
C6 – Sexta vértebra da coluna cervical
CAM – Complementary and Alternative Medicine (Medicina Alternativa e
Complementar)
EVA – Escala Visual Analógica
FIQ - Fibromyalgia Impact Questionnaire
FM – Fibromialgia
HAM-D - Hamilton Depression Rating Scale (Escala de Avaliação de
Depressão de Hamilton)
IASP – International Association for the Study of the Pain (Associação
Internacional para Estudo da Dor)
IM – índice miálgico
LLC – Limited Liability Company (sociedade por quotas com responsabilidade
limitada, ou simplesmente Sociedade Limitada, em inglês)
mHz – milihertz
MMT - Terapias de movimento de meditação
MPQ - McGill Pain Questionnaire (Questionário de Dor McGill)
MTC – Medicina Tradicional Chinesa
NPD – número de pontos dolorosos
OMS – Organização Mundial da Saúde
PG – Ponto(s) Gatilho
QV – Qualidade de vida
USP – Universidade de São Paulo
VAS - Visual Analogue Scale (Escala Analógica Visual)
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 01
2 FIBROMIALGIA ...................................................................................................... 03
2.1 Tender Points ........................................................................................... 04
2.2 Trigger Points ........................................................................................... 05
2.3 Epidemiologia ........................................................................................... 09
2.4 Sintomatologia .......................................................................................... 09
2.5 Etiologia e Etiopatogenia .......................................................................... 10
2.6 Fisiopatologia ............................................................................................ 11
3 MEDICINA TRADICIONAL CHINESA (MTC) ......................................................... 13
3.1 Teorias da MTC ........................................................................................ 14
3.1.1 Teoria Yin-Yang .......................................................................... 14
3.1.2 Teoria dos Cinco Elementos ....................................................... 16
3.1.3 Teoria dos Zang Fu (Órgãos e Vísceras) .................................... 19
3.2 Substâncias Vitais da MTC ....................................................................... 22
3.2.1 Qi (Energia) ................................................................................. 22
3.2.2 Jing (Essência) ............................................................................ 24
3.2.3 Shen (Espírito ou Consciência) ................................................... 24
3.2.4 Xue (Sangue) .............................................................................. 25
3.2.5 Jin Ye (Fluidos corpóreos)........................................................... 26
3.3 Sistema de Meridianos ............................................................................. 26
3.3.1 Meridianos Principais .................................................................. 27
3.3.2 Meridianos Extraordinários .......................................................... 28
3.3.3 Canais de Energia Divergentes ou Distintos ............................... 28
3.3.4 Canais Tendinomusculares ......................................................... 29
3.3.5 Canais de Energia de Conexão ................................................... 29
3.3.6 Zonas Cutâneas .......................................................................... 30
3.4 A Síndrome da Fibromialgia na MTC ........................................................ 31
3.5 Técnicas Terapêuticas da MTC ................................................................ 33
3.5.1 Acupuntura .................................................................................. 34
3.5.2 Moxabustão ................................................................................. 37
3.5.3 Auriculoterapia ............................................................................ 37
3.5.4 Ventosaterapia ............................................................................ 38
3.5.5 Tui Na .......................................................................................... 40
3.5.6 Qi Gong e Meditação................................................................... 41
3.5.7 Tai Chi Chuan ............................................................................. 42
4 TÉCNICAS TERAPÊUTICAS DA MTC APLICADAS À FIBROMIALGIA ............... 42
5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 61
6 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 64
1
1 INTRODUÇÃO
Em 1986 a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP)
conceituou dor como uma “experiência sensorial e emocional desagradável,
associada a lesões reais ou potenciais, ou descrita em termos de tais lesões”
(INADA, 2006). Em alguns casos crônicos, a dor perde sua função de alarme e
passa a ser a causa do problema, determinando importantes repercussões
emocionais, cognitivas e trabalhistas que implicam em uma série de
transtornos na vida do paciente (BRAZ et al., 2011). Além disso, a dor causa
fraqueza subjetiva e fadiga, levando à incapacidade laborativa, afetando a
renda familiar, diminuindo a qualidade de vida (SANTOS et al., 2006).
A fibromialgia (FM) é uma síndrome crônica que se caracteriza por
queixas dolorosas músculo-esqueléticas difusas e pela presença de pontos
dolorosos em regiões anatomicamente bem determinadas. (WEIDEBACH,
2002), e, quando comparada a doenças reumatológicas, a FM apresenta os
maiores índices de dor, incapacidade funcional e estresse psicoafetivo
(ARAUJO, 2007).
O objetivo dessa monografia é reunir e revisar as informações
publicadas sobre como o tratamento pela Medicina Tradicional Chinesa (MTC)
pode minimizar os sintomas apresentados pelos pacientes fibromiálgicos
(características
emocionais,
psicossomáticas,
fisiopatológicas
e
epidemiológicas), promovendo melhoria na qualidade de vida.
Para isto, foram incluídas nesta revisão de literatura as diversas
modalidades terapêuticas empregadas no tratamento da FM, enfatizando as
evidências do tratamento não farmacológico, associados ou não, com os
2
métodos da MTC com respostas promissoras na literatura. Para tanto, realizouse pesquisa de literatura nas bases de dados: PUBMED, MEDLINE, LILACS,
Scielo, Google Acadêmico, da Biblioteca Virtual UNISAÚDE, livros, diversos
periódicos e revistas virtuais disponíveis no período entre 2002 a 2014. Foi
selecionada toda a literatura que empregou técnicas da MTC em pacientes
com fibromialgia, sem distinção de sexo ou idade.
3
2 FIBROMIALGIA
A FM é definida como dores musculoesqueléticas difusas e crônicas
com origem no sistema nervoso central, sendo uma doença reumática não
inflamatória (BUENO et al., 2012).
O cirurgião inglês William Balfour (1815) descreveu a ocorrência de
nódulos musculares hipersensíveis chamados de tender points (“pontos
dolorosos”). Anos depois, o francês Valleix (1841) concebeu a definição de
trigger points (“pontos-gatilho”), revelando a presença de dor irradiada. O termo
fibrosite foi introduzido pela primeira vez por William Gowers (1904) e, no
mesmo ano, Stokman popularizou este termo demonstrando histologicamente
um processo inflamatório no tecido conjuntivo através de biópsias. Porém, essa
inflamação não foi evidenciada e, em 1940, Collins definiu a fibrosite como um
estado doloroso crônico, subagudo ou agudo dos músculos, ligamentos, tecido
subcutâneo, tendões e aponeuroses (SABATKE, 2011).
O termo fibromialgia (FM) foi proposto em 1976 por Hench (SILVA,
2004). Em 1977, Smythe e Moldofsky propuseram critérios para o diagnóstico
da FM introduzindo o conceito vigente, restringindo o uso da palavra fibrosite à
sintomatologia de pacientes que possuíam dores musculoesqueléticas difusas
seguidas de pontos dolorosos à pressão digital, distúrbios do sono e fadiga
(SILVA, 2004). A FM foi reconhecida como doença somente em 1990 e,
embora atualmente não exista um consenso com relação à sua etiologia e
manutenção (REIS; RABELO; 2010), foi incluído na Classificação Internacional
de
Doenças
(DATASUS).
-
CID
10,
com
o
código
M79.7,
desde
2004.
4
O Colégio Americano de Reumatologia (ACR) estabeleceu critérios
diagnósticos para a síndrome da FM, atualmente em vigor: dor com duração
superior a três meses, com características migratórias; dor à palpação presente
em pelo menos 11 dos 18 pontos estabelecidos pelo ACR denominados tender
points, entre outros (CAMARGO et al., 2009).
2.1 Tender Points (“pontos dolorosos”)
Os tender points, definidos pelo ACR em 1990 para a classificação
da FM, são descritos a seguir com as respectivas localizações anatômicas
(COLLATO, 2007) (Figura 1):
1.
Coluna cervical baixa (C5-C6);
2.
Segunda junção costocondral;
3.
Epicôndilo lateral do cotovelo;
4.
Coxim adiposo medial do joelho (junto ao tendão da pata de ganso);
5.
Inserção dos músculos occipitais;
6.
Músculo trapézio;
7.
Borda medial da espinha da escápula;
8.
Quadrantes externos superiores das nádegas;
9.
Proeminências dos trocânteres maiores do fêmur
5
Figura 1 - Pontos dolorosos (tender points) definidos pelo ACR. Fonte: DOMINGOS,
2010.
2.2 Trigger Points (Pontos Gatilho)
Os pontos gatilho (PG), também denominados trigger points, provocam dor à
distância ou dor irradiada quando submetidos à palpação, sendo as regiões
mais acometidas: a cintura escapular, esqueleto axial, articulação têmporomandibular, epicôndilos e cintura pélvica (BOM, 2011) (Figura 2 e 3).
Ainda segundo Bom (2011), os pacientes portadores dos PG podem
ser acometidos por fraqueza muscular subjetiva, restrição à movimentação na
articulação afetada e dor. Segundo Alves (2011), os pontos gatilhos podem ser
classificados em:

Central: que se encontra no centro das fibras musculares, ligado às
placas terminais disfuncionais.
6

De inserção: situado na junção musculotendínea e/ou na entese
muscular.

Ativo: causa dor espontânea e sensação de fraqueza, limitando o
alongamento do músculo e, ao ser pressionado, produz dor na sua
zona de referência.

Latente: não causa dor espontânea, mas sendo pressionado pode
gerar dor na sua zona de referência e/ou local, ou não.

Primário ou principal: normalmente ativado de forma direta por
sobrecarga aguda ou crônica ou por uso excessivo ou repetitivo.
Responsável pela ativação dos pontos-gatilho satélites.

Satélite: acionado pela ação do ponto gatilho primário por uma
ligação neurogênica, antagonismo a um músculo com tensão
aumentada ou sinérgico sobrecarregado.
7
Figura 2 – Trigger points da parte frontal do corpo
Copyright: Trigger Point Technologies, LLC. Baseado nas descobertas de Travell e Simons,
desenho feito por Julie Donnelly.
(Adaptado da página What are Trigger Points? Trigger point performance therapy.)
8
Figura 3 – Trigger points da parte dorsal do corpo
Copyright: Trigger Point Technologies, LLC. Baseado nas descobertas de Travell e Simons,
desenho feito por Julie Donnelly
(Adaptado da página What are Trigger Points? Trigger point performance therapy.)
9
2.3 Epidemiologia
Segundo Besset et al (2010), a incidência da FM é de 1,3% na
Europa, 2% nos Estados Unidos da América, dos quais quase 70% são
mulheres. Até 20% das consultas ao reumatologista referem-se à doença,
sendo que 10% das consultas são estimuladas pela dor. A ocorrência da FM
incide com maior prevalência na faixa etária entre 25 e 50 anos, sendo sua
incidência baixa em pessoas com mais de 70 anos, bem como em crianças e
adolescentes.
Em um estudo realizado no Brasil, em Montes Claros, a fibromialgia
foi a segunda doença reumatológica mais frequente, após a osteoartrite. Neste
estudo, observou-se prevalência de 2,5% na população, sendo a maioria do
sexo feminino, das quais 40,8% se encontravam entre 35 e 44 anos de idade
(SENNA et al. , 2004).
2.4 Sintomatologia
A FM é uma síndrome crônica caracterizada por queixa dolorosa
musculoesquelética espalhada por vários pontos em regiões anatomicamente
determinadas podendo apresentar fadiga crônica, distúrbio do sono, rigidez
muscular, parestesias, cefaleia, síndrome do cólon irritável, fenômeno de
Raynaud,
bem
como
presença
de
alguns
distúrbios
psicológicos,
principalmente a ansiedade, a depressão (DUTRA, 2007), e, segundo Matsuda
et al. (2010), perda de memória e tontura.
10
Os sintomas característicos da fibromialgia pioram com a umidade, o
frio, inatividade, tensão e são aliviados por atividade moderada, calor e
relaxamento sendo a dor, descrita pelos fibromiálgicos, como uma sensação de
queimação e que pode mudar de local, apresentando-se intensa nas partes
mais utilizadas do corpo (BUENO et al., 2012).
Porém, segundo Magalhães et al. (2007), há controvérsias porque
existem pacientes que não apresentam diferenças no exame fisiopatológico
que possam provar os sintomas da fibromialgia, podendo assim não serem
identificados como portadores da mesma, apesar de apresentar dor no sistema
musculoesquelético. Além disso, pode existir dificuldade em diferenciar a FM
de outras doenças de tecidos moles, que também têm caráter sistêmico, como
a síndrome da dor miofascial e a síndrome da fadiga crônica, influenciando na
escolha do melhor tratamento para os acometidos por esta enfermidade.
É importante citar que, embora os sintomas possam durar ao longo
dos anos, inexistem anormalidades bioquímicas, anatômicas ou imunológicas
que se mantenham constantes, a longo prazo, permitindo um diagnóstico mais
preciso (REIS et al., 2010).
2.5 Etiologia e Etiopatogenia
Em relação à etiologia da FM, sabe-se que vários fatores contribuem
para a sua ocorrência, mas não há um agente que possa ser responsabilizado
como causador, embora a dor presente seja bem caracterizada clinicamente
(GUI et al., 2010).
11
Apresentando um quadro clínico polimorfo, a FM deve ser avaliada
por uma minuciosa anamnese e exame físico detalhado, sendo o tratamento
focado no controle dos sintomas da doença (BUENO et al., 2012).
Na FM a depressão parece ser uma das graves consequências
desta doença além de dor profunda, sem evidência de doença inflamatória,
distrófica ou degenerativa, parestesia, dificuldade de memorização, palpitação,
fenômeno de Raynauld (desordem de vasoconstrição que causa descoloração
nas extremidades do corpo humano quando expostos a temperatura inferior ou
estresse), tontura, cefaleia crônica, ansiedade, depressão, irritabilidade,
zumbido, epigastralgia, dispneia, sensação de edema, dor torácica, náusea,
dificuldade de digestão, dismenorreia e síndrome do cólon irritável. (GUI et al.,
2010).
Pode ocorrer também fadiga generalizada, sensibilidade cutânea,
dor após esforço físico, anormalidades do sono (como sono intermitente e
sensação de cansaço ao acordar), retenção líquida, bexiga irritável, vertigens,
nervosismo, rigidez articular e sensação de inchaço nas mãos (LIMA et al.,
2008).
2.6 Fisiopatologia
Dentre os possíveis fatores que podem desencadear a FM estão
predisposição genética, alterações neuroendócrinas, psicossomáticas e do
sono. Outros fatores externos podem estar relacionados, como trauma, artrite
periférica e possível microtrauma muscular por descondicionamento, alterações
12
climáticas, grau de atividade física e estressores emocionais, podem influenciar
a sintomatologia (BRESSAN, 2008).
Um modelo de fisiopatologia que tem sido aceito recentemente
sugere que o distúrbio primário na FM seria uma mudança em algum
mecanismo central de controle da dor, que poderia resultar em disfunção de
neurotransmissores. Essa disfunção neuro-hormonal ocorreria devido à
deficiência de neurotransmissores inibitórios em níveis supraespinhais ou
espinhais (serotonina, norepinefrina, encefalina e outros), ou hiperatividade de
neurotransmissores excitatórios (substância P, bradicinina, glutamato e outros
peptídeos). Há também a possibilidade de ambas as condições estarem
presentes ou que essas disfunções seriam geneticamente predeterminadas e
desencadeadas por algum estresse não específico, como uma infecção viral,
um trauma físico ou estresse psicológico (JUNIOR et al., 2012).
Ainda segundo Junior et al. (2012), algum fator estressante agudo
poderia provocar o desenvolvimento de perturbação no eixo hipófisehipotálamo-adrenal por mecanismos desconhecidos que poderiam envolver o
sistema serotoninérgico e o sistema nervoso simpático e, por isso, esse eixo
pode executar um papel importante na mediação e perpetuação dos sintomas
da FM.
13
3. MEDICINA TRADICIONAL CHINESA (MTC)
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é considerada uma das mais
antigas formas de medicina oriental, e se fundamenta numa estrutura teórica
sistemática e abrangente, de natureza filosófica (LUCA, 2008). É focada na
observação dos fenômenos da Natureza e no estudo do entendimento dos
princípios que regem a harmonia nela existente (YAMAMURA, 2001).
O Taoismo é uma das mais sólidas filosofias que influenciaram a
MTC (JIA, 2004). Os chineses acreditavam na existência de uma realidade
última que é subjacente e que unifica todas as coisas e fatos que observamos.
Essa realidade é denominada o Tao, palavra que, originalmente, significava “o
Caminho”. É o caminho ou processo do universo, a ordem da natureza
(CERQUEIRA, 2004). E, conforme demonstrado pelos padrões da Natureza, o
Tao estabelece também o “caminho” ou “modo” através do qual a Humanidade
deve viver. O Taoísmo e o Naturalismo tinham a natureza como inspiração e
buscavam a melhor forma dos seres humanos estarem em sintonia com as leis
da Natureza (HICKS et al., 2007).
A ênfase no estudo da natureza levou ao fabuloso crescimento na
curiosidade intelectual e científica no período da dinastia Han e nas dinastias
posteriores. Tal curiosidade levou ao rápido progresso em todos os ramos da
ciência e tecnologia, principalmente na medicina (HICKS et al., 2007).
A MTC entende e descreve o funcionamento do corpo humano com
base na filosofia taoista que considera o homem como um aspecto da
natureza, dentre milhares de outros e, como tais são regidos pelas mesmas leis
naturais que comandam o universo (VASCONCELOS, 2012). Dessa maneira,
14
percebeu-se que os fenômenos que ocorrem na Natureza podem, por
semelhança, serem estendidos à fisiologia do corpo humano, porque nele
acontecem os mesmos fenômenos naturais (LUCA, 2008; YAMAMURA, 2001).
A natureza forneceu as metáforas vitais para a maioria dos conceitos
fundamentais da filosofia chinesa (HICKS et al., 2007), linhas de pensamento
que são estruturadas por elementos centrais divididos em teorias do Yin-Yang,
Cinco Elementos, Zang Fu (órgãos e vísceras), Substâncias Vitais e Jing Luo
(meridianos e colaterais) (ILKIU, 2010).
As inter-relações destes conceitos básicos permitem, a partir da
proposta holística, o entendimento das questões de saúde e doença
(VASCONCELOS, 2012).
3.1 Teorias da MTC
3.1.1 Teoria Yin-Yang
As primeiras observações na China antiga levaram a conclusão de
que os fenômenos da natureza poderiam ser classificados em dois polos
opostos: o Yin (negativo) e o Yang (positivo) (LUCA, 2008).
O Tao, ou TEI-GI, antigo diagrama chinês ilustrado em preto e
branco, simboliza o objetivo supremo da vida, que é o equilíbrio das
polaridades, dos opostos, do positivo e do negativo, do Yin e do Yang (LUCA,
2008). O Tai Chi representa a ‘unidade suprema’, o ‘princípio primeiro’ que rege
o universo e comanda a relação entre o Yin e Yang (SILVEIRA JÚNIOR;
CARDOSO, 2004).
15
Figura 4 - Tao ou TEI-GI (Adaptado de LUCA, 2008).
A Teoria Yin-Yang considera o mundo como um todo que é
resultado da unidade contraditória desses dois princípios. Os princípios YinYang estão presentes em todos os aspectos da teoria da MTC, sendo
utilizados para explicar a estrutura orgânica do corpo humano, suas funções
fisiológicas, as leis referentes à causa e à evolução das doenças, e para servir
de guia no diagnóstico e no tratamento clínico (LUCA, 2008).
A essência da teoria de Yin-Yang, que representam características
opostas, pode ser notada em todos os aspectos do dinamismo do corpo: no
sistema simpático (Yang) e parassimpático (Yin); no transporte ativo (Yang) e
passivo (Yin); na contratura (Yang) e no relaxamento (Yin); e assim
sucessivamente. Dessa maneira, a fisiologia da MTC retrata o dinamismo das
relações Yang-Yin do corpo, e a saúde é expressa por um equilíbrio ativo entre
esses aspectos Yang-Yin (YAMAMURA, 2001).
Yin e Yang devem coexistir em harmonia e se ocorre desequilíbrio
surge a doença (JIA, 2004). Entretanto, a doença não é considerada um agente
intruso, mas o resultado de um conjunto de causas que culminam em
desarmonia e desequilíbrio e essas flutuações entre equilíbrio e desequilíbrio
são vistas como um processo natural de todo o ciclo vital, e tanto a saúde
quanto a doença são consideradas parte de uma sequência contínua, como
16
aspectos do mesmo processo, em que o organismo muda continuamente em
relação ao meio ambiente inconstante (CERQUEIRA, 2004).
Yin e Yang, princípios opostos, mas também complementares estão
ligados à teoria das Cinco Transformações (MACIOCIA, 2005), e originam
água, fogo, madeira, metal e terra, e os cinco formam o Yin e Yang (JIA, 2004).
3.1.2 Teoria dos Cinco Elementos
A teoria dos cinco movimentos foi concebida pela mesma escola
filosófica que desenvolveu a teoria do Yin-Yang por volta de 1.000 a 770 a.C.
(JIA, 2004), e estabelece o segundo pilar na MTC (YAMAMURA, 2001).
Os aspectos próprios dos acontecimentos naturais podem ser
agrupados em cinco classes diferentes, que se encontram em incessante
movimento de geração e de dominância entre si, estabelecendo o que foi
designado de
Cinco
Movimentos ou Cinco
Elementos,
e
que está
fundamentado na evolução dos fenômenos naturais, bem como em incontáveis
aspectos que formam a Natureza (YAMAMURA, 2001).
A inter-relação entre os cinco elementos possibilita aos taoistas
explicarem desde o funcionamento das coisas mais simples da natureza, até a
complexidade do ser humano (JIA, 2004).
A medicina chinesa é baseada neles e na cura natural, pois todos os
fenômenos do universo estão relacionados à interação entre as cinco
substâncias - madeira, fogo, terra, metal e água - que estão sujeitas aos ciclos
de produção e controle, duas partes inseparáveis. Pois, sem a primeira não
haverá o movimento que muda as coisas. E, inexistindo a segunda, as coisas
17
jamais poderão manter a mudança e o desenvolvimento normais de uma
harmonia (SILVEIRA JÚNIOR; CARDOSO, 2004).
O caráter da madeira é crescer e florescer, o do fogo é estar quente
e ascender, a terra é dar origem a todas as coisas, o do metal é descender e
estar claro e, o da água é estar fria e fluir na direção descendente (ILKIU,
2010).
Na prática, os cinco elementos são representações abstratas das
cinco naturezas diferentes, que geram-se e controlam-se mutuamente,
compondo mecanismos de autorregulação, denominados Ciclos Fisiológicos, e
em condições patológicas, estados de excesso e deficiência, considerados
Ciclos Patológicos (LUCA, 2008).
O Ciclo Fisiológico de Geração refere-se ao processo de produzir,
crescer e promover (LUCA, 2008), e é expresso da seguinte forma: madeira
gera fogo, que gera terra, que gera metal, que gera água, que gera madeira
(SILVA et al., 2005).
O Ciclo de Dominação envolve o aspecto de restrição e controle
(LUCA, 2008).
Metaforicamente, este ciclo pode ser descrito como metal
domina a madeira, o machado feito de bronze corta e derruba as árvores. A
madeira domina a terra, as raízes vão tomando conta do solo e, portanto,
desalojando-o. A terra domina a água, usada para fazer barreiras e represar a
água. A água domina o fogo, apagando-o. O fogo domina o metal, pois o calor
derrete o metal (SILVA et al., 2005). Ambos os ciclos estão representados na
Figura 5.
18
Figura 5 - Ciclos de Geração e de Dominação (Adaptada de LUCA, 2008).
Os cinco movimentos ocorrem em todas as células e sistemas do
organismo. Correspondem à fisiologia humana, desde a formação mental até a
interação do homem com o meio que o cerca. Seu desequilíbrio inicia um
processo de adoecimento (JIA, 2004).
De acordo com estes princípios, cada órgão é representado por um
elemento da natureza que é responsável por determinadas estruturas
orgânicas e uma emoção (SILVA et al., 2005).
Uma vez que cada órgão controla a continuidade do fluxo de
energia, o bloqueio ou excesso desse fluxo acarreta um estado patológico
conhecido como energia perversa que, se não for restabelecida pela energia
correta, desencadeia o desequilíbrio sistêmico (SILVA et al., 2005). O sistema
de órgão mais afetado determinará o padrão de doenças e suas manifestações
físicas e mentais, desse modo, o diagnóstico e a escolha do método
terapêutico mais adequado para cada caso (JIA, 2004).
19
Figura 6 - Ciclo de geração e dominação dos Órgãos (Adaptada de LUCA, 2008)
A MTC interpreta a saúde e a doença com base na presença
equilibrada desses elementos num indivíduo, e o tratamento consiste em
estabelecer a homeostase do organismo (TORRES, 2011).
3.1.3 Teoria dos Zang Fu (Órgãos e Vísceras)
Os órgãos e as vísceras são distribuídos, de acordo com suas
funções, pelos Cinco Elementos. A interconexão de todos os órgãos do nosso
corpo, através dessa dinâmica de circulação energética recebe o nome de
Zang Fu, cujos sistemas, seguindo a linha filosófica do Yin e do Yang, são
divididos em dois grupos (ILKIU, 2010). Os órgãos Yin são conhecidos como
Zang, e as vísceras Yang, como Fu. Cada um dos seis órgãos Zang – Fígado,
Coração, Pericárdio, Baço-Pâncreas, Pulmão e Rins – tem vísceras Fu
correspondentes – Vesícula Biliar, Intestino Delgado, Triplo Aquecedor,
Estômago, Intestino Grosso e Bexiga, respectivamente (VASCONCELOS,
2012).
Os Zang Fu podem ser descritos como os sistemas de órgãos da
MTC, entretanto considera-se esse sistema de órgãos em termos das inter-
20
relações funcionais, mais do que de estruturas específicas, num aspecto que
não tem correspondência com os sistemas de órgãos da Medicina Ocidental
(ILKIU, 2010). A Medicina Ocidental vê cada órgão somente sob o aspecto
anatômico-material, enquanto a Medicina Chinesa os analisa como um sistema
complexo que inclui tanto o aspecto anatômico, emoções, tecidos, órgãos dos
sentidos, atividades mentais, cor, clima e demais correspondentes (ONETTA,
2005).
Tabela 1: Os cinco elementos (Adaptada de VASCONCELOS, 2012).
Existem trocas de energias e de matérias entre o corpo e o ambiente
externo, e os Zang Fu envolvem-se nesta troca externa, e também, dentro do
corpo, no metabolismo das substâncias básicas e no transporte delas,
principalmente via meridianos ou canais, (os quais detalharemos mais adiante)
para todas as partes do corpo, incluindo tecidos e os orifícios (ILKIU, 2010).
A integridade corporal é responsabilidade dos aspectos energéticos
do Zang Fu (Órgãos e Vísceras) que, estando em harmonia energética, fará
com que as funções psíquicas, bem como dos Zang Fu e das demais
estruturas, demonstre bom desempenho funcional, preservando-se dentro da
normalidade (YAMAMURA, 2001).
21
A MTC sustenta que, por um lado, normalmente existe um estado de
equilíbrio relativo entre os órgãos internos e os tecidos e, por outro lado, entre
o meio ambiente e o corpo humano. Este equilíbrio não é estático; é um estado
de constante autoajuste e, dessa maneira, é assegurada as atividades
fisiológicas normais do corpo. Porém, se o corpo estiver impossibilitado de se
ajustar às condições de mudanças, o equilíbrio dinâmico se perde e ocorrerão
os distúrbios (LIVRAMENTO; FRANCO; LIVRAMENTO, 2010).
As alterações de energia do Zang Fu, para mais (plenitude) ou para
menos (vazio), geram consequências, a princípio no Shen (energia mental), e,
em seguida, na coloração da pele, nas manifestações funcionais dos Zang Fu
e, por fim, mudanças orgânicas das estruturas do corpo (YAMAMURA, 2001).
Dada a interdependência destes sistemas, um padrão de desequilíbrio em
determinado órgão tem efeito profundo em todos os outros órgãos, o que, por
fim, pode levar à ocorrência de doenças (VASCONCELOS, 2012).
22
Figura 7 - Pentagrama dos Cinco Elementos e suas inter-relações (Adaptada de ILKIU, 2010).
3.2 Substâncias Vitais da MTC
A MTC entende as funções corporais e mentais como resultado da
influência mútua entre determinadas substâncias vitais (ILKIU, 2010). Essas
substâncias (Qi (Energia), Jing (Essência), Shen (Espírito ou Consciência), Xue
(Sangue) e Jin Ye (Fluídos Corpóreos), apresentam-se em incontáveis níveis
de “substancialidade”, de modo que algumas delas são totalmente imateriais e
outras rarefeitas (MACIOCIA, 1996).
3.2.1 Qi (Energia)
Para os chineses, da antiguidade, a energia Qi era a substância
mais básica e fundamental da constituição do universo e de que todos os
23
constituintes deste eram formados da movimentação e transformação da
energia. Esse conceito materialista foi gradualmente introduzido na MTC,
caracterizando-se sob a forma de um conceito teórico, onde a energia é
considerada a substância mais importante na constituição do corpo humano e
vital para a manutenção de suas atividades (ILKIU, 2010). Esse conceito básico
atribui ao Qi, energia vital presente em todo o corpo, equilíbrio e harmonia ou
desequilíbrio e doença (SILVA et al., 2005).
A estrutura de tudo é o Qi (energia), sendo que as outras
substâncias vitais são manifestações do Qi em vários graus de materialidade,
variando do completamente material, tal como fluidos corpóreos (Jin Ye), para
o imaterial, tal como a mente (Shen) (ILKIU, 2010).
Considera-se que apenas os seres humanos são providos dos
chamados San Bao (Três Tesouros) que são Qi (Energia), Jing (Essência), e
Shen (Espírito), portanto refletem o conceito de Céu, Humanidade e Terra, pois
a Humanidade era considerada especial entre todas as criaturas vivas. A
condição dos Três Tesouros determina a saúde do indivíduo (HICKS, 2007).
Filósofos e médicos chineses estudaram a ligação entre o universo e
os seres humanos, e consideram o Qi dos seres humanos como efeito da
interação do Qi do Céu e da Terra, sendo essa união designada ser humano.
Isto destaca a relação entre o Qi dos seres humanos e as causas naturais
(MACIOCIA, 1996).
É muito difícil traduzir a palavra Qi, que vem sendo usada como
“energia", "força material", "éter", "matéria", "matéria-energia", "força vital", "força da
vida", "poder vital", "poder de locomoção", porém nenhuma delas se aproxima da
Essência (Jing) exata do Qi. A razão dessa dificuldade consiste na natureza fluida
24
do Qi, pela qual pode assumir diferentes manifestações e ser diferentes coisas nas
mais variadas situações alterando sua condição de acordo com sua função e
localização Todos os tipos de Qi, todavia, são na verdade um único Qi, que
simplesmente se manifesta de diferentes formas (ROSS, 1994; MACIOCIA, 1996).
3.2.2 Jing (Essência)
O Qi pode se manifestar como essência (Jing) nascida com o
indivíduo e transformada (SILVA et al., 2005). O termo Jing é empregado em
três contextos diversos com conceitos levemente distintos (MACIOCIA, 1996):

Jing Pré-Celestial, herdado dos pais na hora da concepção,
prolonga-se na gestação e finda através do aleitamento materno;

Jing Pós-Celestial, obtida através da transformação e depuração
dos alimentos e líquidos ingeridos ao longo da vida;

Jing ou Shen Jing (Essência dos Rins), adquirido na concepção
Pré- Celestial, porém interage e é alimentado pelo Pós-Celestial.
3.2.3 Shen (Espírito ou Consciência)
A palavra Shen pode apresentar muitos significados e, na MTC é
usada em dois contextos diferentes: Shen corresponde à Mente, sendo
especificamente relacionado ao Coração e Shen indicando a esfera inteira dos
aspectos emocional, mental e espiritual do ser humano, o que inclui os
fenômenos dessa natureza de todos os sistemas (MACIOCIA, 1996).
25
Na MTC, o papel da mente e da consciência é considerado da maior
importância. Desde o princípio se afirma que existe uma consciência que está
relacionada com o corpo, e está implícito que ela influencia o corpo e viceversa (MACIOCIA, 2005). O Shen vitaliza o corpo e a consciência, e fornece a
força da personalidade (ONETTA, 2005).
O Jing e o Qi formam a base física para o Shen (mente) e, se ambos
estiverem florescendo, a mente será feliz e tranquila (MACIOCIA, 1996). A
corporificação do espírito é a manifestação física externa deste, expressa na
compleição física, musculatura, expressão facial, olhar, movimentos e reflexos
corporais. A normalidade desses aspectos significam o bom funcionamento de
órgãos e vísceras e de Qi, Xue, Yin e Yang, elementos importantes na
dinâmica vital da medicina chinesa (PACHECO; GRASSI, 2011).
3.2.4 Xue (Sangue)
Na MTC, o Sangue (Xue) carrega um significado diferente da medicina
ocidental, no sentido que Xue (Sangue) é em si mesmo uma forma de Qi (Energia),
muito denso e material. Qi concede vida ao Xue que origina-se em sua maior parte,
do Qi dos alimentos fornecidos pelo Baço-Pâncreas (Pi) (MACIOCIA, 1996).
Qi e Xue são dois elementos clássicos básicos de toda a atividade
fisiológica. O Xue circula dentro dos vasos sanguíneos por ação do Qi
(MARTINS et al., 2010). Qi denota função e auxilia na produção de sangue,
enquanto o sangue nutre os órgãos que produzem Qi. Portanto, eles
complementam um ao outro, e ao mesmo tempo são dependentes um do outro;
são diferentes entre si, embora sejam inseparáveis (MACIOCIA, 2007).
26
O sangue na MTC possui três funções primárias: nutrir, manter e
umedecer estruturas e com relação aos cinco elementos, diz-se que Água é
transformada em Qi e Fogo em Xue (MACIOCIA, 1996).
3.2.5 Jin Ye (Fluidos corpóreos)
O fluido corporal é um termo genérico para todos os fluidos
fisiológicos normais do organismo (ILKIU, 2010). Os fluidos Jin Ye podem ser
divididos em Jin, que são puros, claros e aquosos, circulando com o Qi
Defensivo, sobre a pele, movendo-se rapidamente, com a função de umedecer
e nutrir a pele e os músculos. São eliminados com o suor, manifestando-se
também como lágrimas, saliva e muco Os Ye são mais turvos, pesados e
densos, e circulam com o Qi Nutritivo no interior, movendo-se mais lentamente
e sua função consiste em umedecer as articulações, espinha, cérebro e medula
óssea, lubrificam os orifícios dos órgãos dos sentidos (olhos, orelhas, nariz e
boca) (ILKIU, 2010; MACIOCIA, 1996).
Os Jin Ye circulam pelo organismo fora e dentro dos Canais e
Colaterais (Jing Luo) e dos vasos sanguíneos (Xue Mai), para proporcionar
umidade e nutrir os tecidos e os Zang Fu (Órgãos e Vísceras) (ROSS, 1994).
3.3 Sistema de Meridianos
A MTC parte do princípio que tratar significa restituir ao indivíduo a
capacidade inata de adaptação e transformação orgânica diante dos estímulos
externos e internos, para reestabelecer a sua força antipatogênica natural, que
27
se expressa pelo Qi, e pelo equilíbrio dinâmico do Yin-Yang (LIVRAMENTO et
al., 2010) e esse equilíbrio se reflete nos ciclos fisiológicos que se processam
pela manutenção dos fluxos adequados de Qi (energia), sangue e fluídos
corpóreos, que ocorre através de meridianos e canais secundários (Jing Luo)
(LIVRAMENTO et al., 2010). Segundo seus conceitos, o Qi no organismo flui
por todos os órgãos e a comunicação entre estes ocorre pelos meridianos.
Alterações nesse fluxo manifestariam sintoma de acúmulo (Yang) ou
deficiência (Yin) de energia (TAFFAREL; FREITAS, 2009).
O sistema de meridianos forma uma rede de conexões entre as
partes mais superficiais do corpo e as mais profundas. Este sistema
compreende doze meridianos principais; oito meridianos extraordinários; doze
meridianos divergentes; doze meridianos tendinomusculares; canais colaterais
ou de conexão que são 16 grandes colaterais, com seus ramos longitudinal e
transversal, inumeráveis ramificações superficiais; e doze zonas cutâneas na
superfície (LIVRAMENTO et al., 2010).
3.3.1 Meridianos Principais
Os meridianos principais conectam-se ou originam-se de algum
órgão específico, do qual recebem o nome (ILKIU, 2010), tais como meridiano
do pulmão (P), intestino grosso (IG), fígado (F), vesícula biliar (VB), rim (R),
bexiga (B), coração (C), intestino delgado (ID), circulação e sexualidade (CS),
sendo que destes, três têm seus nomes derivados da linguagem figurada da
medicina tradicional chinesa que são o meridiano do triplo-aquecedor (TA),
vaso governador e vaso concepção (JOAQUIM, 2007; AGUIAR; COSTA,
28
2009). Os seis canais de energia principais Yin estão relacionados aos Órgãos
(Zang), e os seis canais de energia principais Yang estão relacionados às
Vísceras (Fu).
3.3.2 Meridianos Extraordinários
Existem ainda oito vasos maravilhosos ou canais psíquicos
(SILVEIRA JÚNIOR; CARDOSO, 2004), conhecidos também como meridianos
extraordinários, vasos extraordinários, vasos curiosos, vasos irregulares ou
vasos condutores simples (RIBEIRO; ALMEIDA, 2009), localizados nos braços,
pernas e tronco, podendo tanto armazenar como transmitir energia (SILVEIRA
JÚNIOR; CARDOSO, 2004).
A energia abundante dos meridianos principais é armazenada nos
meridianos extraordinários, permitindo que em momentos de deficiência essa
energia acumulada seja redirecionada para o meridiano com baixa energética
(RIBEIRO; ALMEIDA, 2009). Esses meridianos extraordinários levam o Qi a cada
célula do corpo (SILVEIRA JÚNIOR; CARDOSO, 2004), e irrigam os espaços
compreendidos entre os meridianos principais (RIBEIRO; ALMEIDA, 2009). O
transporte da energia pelos canais extraordinários chega aos meridianos principais
através dos canais de ligação (SILVEIRA JÚNIOR; CARDOSO, 2004).
3.3.3 Canais de Energia Divergentes ou Distintos
Os canais de energia divergentes ou distintos são em número de
doze e suas conexões com os canais de energia principais promovem ligações
29
do Zang Fu no interior, após penetrarem na cavidade toracoabdominal, e
distribuem o Qi e o Wei Qi para as estruturas internas (órgãos, vísceras,
cérebro, medula, etc). Formam pares ou confluências, constituídos por um
canal divergente de energia Yang e outro proveniente de energia Yin acoplado,
portanto, fazem a ligação exterior/interior, entre um hemicorpo e outro para
manter a harmonia entre o lado direito e esquerdo, entre o Yin e o Yang, entre
o Xue e o Qi, e também a união do Coração (Xin) com os Zang Fu
(YAMAMURA, 2001).
3.3.4 Canais Tendinomusculares
Os canais tendinomusculares são responsáveis pelo transporte da
energia defensiva. Estão ligados aos meridianos principais para garantir as
funções de proteção e nutrição das áreas percorridas em níveis mais
superficiais (SILVEIRA JÚNIOR; CARDOSO, 2004). Relacionam-se com
estruturas musculares, articulares e tendinosas, com a função de ligar o
esqueleto e manter a coesão e o conjunto do corpo (JIA, 2004).
3.3.5 Canais de Energia de Conexão
Yamamura (2001) cita os canais de energia de conexão (Luo) como
canais secundários que situam-se distalmente ao cotovelo e ao joelho, com
origem no ponto Luo dos canais de energia principais. Estes canais seguem
duas direções: uma transversal, que une o canal de energia principal a seu
acoplado; e outra longitudinal, em que acompanha o trajeto do canal de energia
30
principal, podendo ir diretamente às cavidades torácica e abdominal, onde se
une aos Zang Fu, ao crânio ou à face. E os canais Luo longitudinais ramificamse para a superfície do corpo, formando canais de energia Luo menores e os
Luo superficiais, denominados capilares. Os canais Luo transversais fazem
união dos canais de energia principais Yang com os canais Yin e vice-versa.
3.3.6 Zonas Cutâneas
As zonas cutâneas podem ser utilizadas para diagnóstico e para
tratamento, em virtude das alterações cutâneas serem consequentes à
manifestações dos distúrbios energéticos dos Zang Fu.
As alterações
energéticas dos Cinco Órgãos das Seis Vísceras, causadas pelos distúrbios de
Qi e de Xue (sangue), manifestam-se na pele com mudança de cor, sensação
de calor ou frio, prurido. A distribuição topográfica dessas alterações
correspondem ao trajeto dos Canais de Energia Principais, Canais de Energia
Secundários
Tendinomusculares
e
de
Conexão
Luo
Longitudinais.
(YAMAMURA, 2001).
Os meridianos formam uma malha de conexão entre todas as
estruturas do corpo, pois, além de seu trajeto superficial existem conexões
internas que comunicam os meridianos entre si, e com Órgãos e Vísceras. O
bloqueio energético implica em desequilíbrios que, em longo prazo, pode
determinar o início do processo de adoecimento, ou, de processo de
desencadeamento da dor. Em todos esses processos não se pode esquecer a
implicação da Mente (JIA, 2004). Os meridianos estão, cada um, em vinculação
direta com um respectivo sistema fisiológico e/ou mental da pessoa (CINTRA;
31
FIGUEIREDO, 2010). Na concepção da MTC, a Mente é uma manifestação do
funcionamento do Qi (JIA, 2004). Por isso, estimulando (tonificando) ou
pressionando (sedando/dispersando), altera-se a circulação de Qi e o fluxo de
Xue do organismo (FUNDAMENTOS, 1995).
3.4 A Síndrome da Fibromialgia na MTC
A FM é uma síndrome conhecida como uma afecção dolorosa do
aparelho músculo-esquelético-ligamentar, que se caracteriza pela ocorrência
de dor que acomete músculos, tendões, fáscias e ligamentos; ocorre também
aumento da tensão, fadiga e isquemia muscular localizada, consequência da
contração estática, repetições e posturas inadequadas em que estresses
emocionais parecem estar envolvidos em sua gênese (SILVA, 2004). Observase ainda a presença de alterações quantitativas e qualitativas do sono, fadiga,
cefaleias e alterações cognitivas, como perda de memória e dificuldade de
concentração, parestesias, disestesias, irritabilidade e, em cerca de um terço
dos casos, depressão (BRAGA, 2012).
A fibromialgia pode afetar consideravelmente a qualidade de vida do
paciente até um ponto nem sempre presente em outras dores crônicas. De
acordo com relatos de pacientes acometidos, a dor muscular é acentuada e
difusa, e a possibilidade de sucesso do tratamento convencional com
medicamentos e fisioterapia, é bem pequena (SILVA, 2004).
É consenso entre os autores que a causa da FM pode ser explicada
através de duas vertentes na MTC: a teoria dos cinco elementos e através dos
32
canais de energia curiosos (ROCHA, 2007; FREITAS FILHO et al., 2004;
MAGALHÃES; SANCHEZ et al., 2004; HIRAKUI, 2002).
De acordo com a teoria dos cinco elementos, os portadores da FM
possuem distúrbio energético no fígado, baço-pâncreas e rim. Esse raciocínio
está de acordo com a teoria de que o fígado é responsável pelos ligamentos,
nervos, cápsulas articulares e tendões; o baço-pâncreas é responsável pelo
ventre muscular e o rim relaciona-se ao estado geral de energia do indivíduo e
de como a mesma é utilizada (MAGALHÃES; ROCHA, 2007).
Quando a causa da FM é explicada através dos canais de energia
curiosos, pode ser de caráter Yang assim comprometendo o canal Yang Qiao
Mai ou de caráter Yin alterando o canal Yin Qiao Mai (HIRAKUI, 2002;
FREITAS FILHO et al., 2004; MAGALHÃES; ROCHA, 2007).
Devido os sintomas da FM se assemelhar com os sintomas da
disfunção desses canais, a fadiga persistente e a origem dos pontos dolorosos,
são explicados pela MTC como sendo manifestação do falso calor oriundo da
deficiência
do
rim (FREITAS
FILHO
et
al.,
2004;
HIRAKUI,
2002;
MAGALHÃES; ROCHA, 2007). A deficiência do Rim predispõe ao estado Yang
do sistema musculoesquelético que se manifesta como dor em diferentes
níveis (YAMAMURA, 2001). Caracteriza-se também pela fadiga persistente e a
piora das dores nas condições de frio e umidade, acompanhadas por sensação
de inchaço nas extremidades, além de outros sintomas de caráter Yang como
sono não reparador e ansiedade. O sono não reparador é provocado, segundo
a MTC, pelo excesso de Yang que atinge o canal curioso Yang Qiao Mai
(FREITAS FILHO et al., 2004; HIRAKUI, 2002; MAGALHÃES; ROCHA, 2007).
33
No caso da deficiência do canal curioso Yin Qiao Mai, provoca
deficiência de Yang no sistema musculoesquelético, gerando a plenitude de Yin
(frio), ocasionando dores nesse sistema. Além disso, faz com que o calor
orgânico não chegue adequadamente ao encéfalo levando a um estado de
sonolência e depressão (YAMAMURA, 2001).
A acupuntura tem sido indicada para o tratamento de diversas
condições dolorosas. Sua eficácia em relação à dor crônica muscular tem sido
satisfatória e comprovada. Os efeitos neurobiológicos da acupuntura atuam
também sobre os neurotransmissores relacionados com a dor e a depressão
(MAGALHÃES; ROCHA, 2007; SILVA, 2004). Quando realizada seguindo os
princípios da medicina tradicional chinesa, em que a aplicação respeita a
localização de pontos e meridianos, a acupuntura pode melhorar a dor e os
demais sintomas (TAKIGUCHI et al., 2008).
A MTC é todo um sistema que utiliza uma variedade de terapias
para o tratamento de FM, incluindo acupuntura, moxabustão, fitoterapia,
massagem, entre outras. Na teoria da MTC, o princípio do tratamento é regular
o Qi e Xue (sangue), combinando dispersão do frio e remoção de umidade
(CAO et al., 2010).
3.5 Técnicas Terapêuticas da MTC
Na atualidade, há uma grande procura por novas formas de
tratamentos, considerados alternativos, que complementam a medicina
ortodoxa. Há uma grande aceitação pela população do ocidente das formas de
tratamento proposto pela medicina tradicional chinesa (ARAÚJO et al, 2006).
34
A MTC engloba diversas técnicas terapêuticas que são usadas em
associação ou isoladamente no tratamento de doenças (CRUZ, 2008; CUNHA,
2001). Os métodos de tratamento da MTC são: Acupuntura, Moxaterapia,
Auriculoterapia, Ventosaterapia, Tui Na, Meditação e algumas terapias em
grupo, como Qi Gong, Tai Chi Chuan (CRUZ, 2008; CUNHA, 2001; SIERPINA;
FRENKEL, 2005).
3.5.1 Acupuntura
Conhecida como acupuntura no Ocidente, o Chen-Chui é um antigo
método terapêutico chinês que se fundamenta na estimulação de determinados
pontos usando Chen (agulha) ou Chui (Fogo) para restaurar e manter a saúde
(YAMAMURA, 2001).
A acupuntura originou-se na China cerca de quatro mil e quinhentos
anos atrás, utilizando agulhas ou moxas para suavizar a dor ou sintomas
provenientes de patologias (ARAUJO, 2007; MENEZES et al., 2010). A partir
do livro Canônico de Medicina do Imperador Amarelo, denominado também de
livro de Nei Jing, próximo do século 2 a.C., é que as agulhas de acupuntura
foram realmente reconhecidas (ARAUJO, 2007).
Em 1963, arqueólogos no interior na Mongólia acharam em
escavações objetos extremamente finos e pontiagudos, parecidas com agulhas
de pedra trabalhada e que foram catalogadas como agulhas de acupuntura.
Mais tarde, as agulhas de pedra foram substituídas por outras de materiais
mais nobres e apropriados como ferro, bronze, prata e ouro, devido à evolução
35
da forjaria. Atualmente utilizam-se agulhas finas descartáveis de aço inoxidável
(ARAUJO, 2007).
A acupuntura foi concebida dentro dos alicerces da filosofia do Tao e
dos conceitos fisiológicos e filosóficos que orientaram a MTC. A concepção dos
pontos de acupuntura (denominados acupontos) dos Canais de Energia, a
análise energética e o tratamento fundamentam-se nos ensinamentos YinYang, dos Cinco Movimentos, do Qi (Energia) e do Xue (Sangue)
(YAMAMURA, 2001; DORIA, 2010). Destaca-se, nesse modelo, o Nei Jing, o
Livro do Imperador Amarelo, nos quais foram sistematizados, num modelo
coerente, a Teoria dos Meridianos e dos Órgãos e Vísceras (Zang Fu) e a
teoria dos fatores patogênicos, a qual passa a ser a principal forma de explicar
o adoecimento na dimensão da doutrina médica - e a prática da acupuntura
aparece integrada a este modelo (CINTRA; FIGUEIREDO, 2010).
Os acupontos estão ligados intimamente com tendões, vasos
sanguíneos, nervos, cápsulas articulares e periósteos, que estão espalhados
ao longo de doze Meridianos, por onde as energias fluem (AZEVEDO, 2010).
A acupuntura tem a função de estabelecer a circulação de Qi
(Energia) nos Canais de Energia dos Órgãos e das Vísceras e, com isso,
harmonizar o corpo energética e materialmente ao ocasionar a circulação, a
mobilização e o fortalecimento das energias humanas, assim como a expulsão
das
Energias
Perversas,
que
desequilibram
a
saúde
do
indivíduo
(YAMAMURA, 2001; SILVA et al., 2005).
O desenvolvimento da acupuntura ocorreu de forma bastante lenta
até a década de 1970, pois sua prática era mal interpretada. Porém, em 1979,
a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a eficácia desta técnica
36
quando reuniu especialistas num Seminário Internacional em Genebra,
aconselhando seu uso na rede pública de saúde. Assim, foi divulgada uma lista
temporária de doenças que poderiam ser tratadas pela acupuntura: amidalite,
rinite, sinusite, gastrite, faringite, bronquite e conjuntivite agudas, duodenite
ulcerativa e colites agudas e crônicas (FERNANDES; BARROS; BARROS,
2012).
A acupuntura está entre as mais conhecidas terapias alternativas e
complementares (SIERPINA; FRENKEL, 2005). No Ocidente, é recomendada
devido sua grande efetividade no tratamento de condições dolorosas como:
espondilose cervical, dor aguda na coluna, dor lombar, ciática, no joelho,
cotovelo de tenista, periartite no ombro, fascíte na planta do pé, osteoartrite,
artrite reumatoide, gota/artrite, distensão muscular (OMS, 1979; VERCELINO;
CARVALHO, 2010). Considerada uma das situações mais incômodas que
acometem o homem, a dor crônica merece maior atenção da medicina
moderna, pois ela diminui a qualidade de vida, além de limitar a movimentação,
a agilidade, a atividade e o bem-estar das pessoas (MENEZES et al., 2010).
A
eficácia
da
acupuntura
no
tratamento
das
dores
musculoesqueléticas crônicas está comprovada em diversas situações (OMS,
1979), e seus efeitos neurobiológicos, que atuam também sobre os
neurotransmissores relacionados com a dor e a depressão, qualificam o
método como útil e adequado na terapêutica da dor crônica (MENEZES et al.,
2010). Verificou-se que quando o tecido local é estimulado pela acupuntura,
esta provoca alterações bioquímicas que acompanham a inflamação,
prolongando assim a estimulação ao redor do ponto que, mediado pelos nervos
e líquidos do corpo, previne e cura a doença (TAKIGUCHI, et al., 2008).
37
Constatou-se também que opióides são liberados durante a acupuntura, assim
como também ocorre um aumento da concentração de endorfinas e de
serotonina,
substâncias
que
provocam
a
sensação
de
bem-estar
e
tranquilidade para o organismo. Contudo, essa hipótese não pode explicar
completamente a base na qual a acupuntura opera (DORIA, 2010).
3.5.2 Moxabustão
Os pontos de acupuntura distribuídos pelo corpo podem ser
puncionados com agulhas ou aquecidos com o calor produzido pela queima da
erva Artemisia vulgaris, mais conhecida como moxaterapia ou moxabustão
(ONETTA, 2005; LEE et al., 2013).
A palavra “moxabustão” é uma combinação de duas letras: 久, que
significa “longo tempo”, e 火, que significa “fogo”. Portanto, moxabustão pode
ser entendido como “longo tempo de aplicação de fogo”, ou seja, quando se
realiza a aplicação de moxabustão em determinados pontos por um longo
tempo obtêm-se resultados notáveis, mesmo para casos crônicos ou agudos
(KIKUCHI, 1995).
A aplicação da moxabustão tem o propósito de aumentar o calor do
Qi (Energia) e Xue (Sangue) dos Canais de Energia Principais e Secundários,
gerando um aumento da velocidade na circulação energética desses Canais de
Energia, potencializando a atividade e a nutrição dos Zang Fu (Órgãos e
Vísceras) e das Vísceras Curiosas (YAMAMURA, 2001).
3.5.3 Auriculoterapia
38
A Acupuntura Auricular é uma técnica que visa harmonizar a função
dos Zang/Fu (Órgãos/Vísceras) por meio do estímulo de pontos no pavilhão
auricular (YAMAMURA, 2001)
O uso da acupuntura auricular como forma de tratamento reporta-se à
antiguidade, quando em 2500 a.C. as mulheres do antigo Egito usavam como
método contraceptivo e mais recentemente a auriculoterapia tem-se mostrado com
difusão maior que a acupuntura sistêmica, na Europa Antiga e Oriente Médio
(SOUZA, 2001).
A MTC explica que os efeitos benéficos da auriculoterapia
acontecem devido à estreita relação entre os pontos auriculares, que levam o
nome de partes do corpo (órgãos internos, vísceras e membros), e o Sistema
Nervoso Central através dos canais e meridianos que correm ao longo de todo
o corpo humano por onde flui o Qi (energia). A estimulação dos pontos
auriculares promoveria o equilíbrio do fluxo normal desta Qi (energia) e o
restabelecimento do estado de saúde (ARAÚJO et al., 2006).
Quando se relaciona a técnica de terapia auricular com acupuntura, há a
aceleração do processo de equilíbrio e da cura. A aplicação da auriculoterapia é
compatível com todas as demais técnicas de tratamento (SOUZA, 2001).
3.5.4 Ventosaterapia
A ventosaterapia pertence à herança da MTC. Os primeiros registros do
uso de ventosas estão no Bo Shu (um antigo livro escrito na seda), que foi descoberto
em um túmulo da Dinastia Han, em 1973. Alguns métodos terapêuticos de ventosa e
39
os registros de casos de tratamento também foram descritos em livros chineses
antigos (CAO et al., 2010).
A ventosa consiste em uma cúpula que é sobreposta à área
cutânea, após ter-se provocado um vácuo no interior do instrumento através de
uma chama, e, à medida que a cúpula esfria, forma-se uma pressão negativa
interna com propriedade de sucção. Atualmente, existem aparelhos projetados
para promover a pressão negativa de sucção, por meio de uma bomba
aspirante (YAMAMURA, 2001).
Quando a ventosa é aplicada nos pontos de acupuntura promove
hiperemia e homeostase local atuando na desintoxicação do organismo,
incentivando-o a separar do sangue os resíduos metabólicos e toxinas
residuais. Isso faz com que a pele, já purificada, capte mais oxigênio, o que
acaba facilitando o fluxo de fluidos naturais e uma melhor resistência às
enfermidades (CUNHA, 2001). A pressão negativa ocasionada tem função de
exteriorizar o Qi e o Xue (Sangue) estagnados, desbloqueando os Canais de
Energia, facilitando e promovendo o fluxo desses Canais (YAMAMURA, 2001).
A aplicação das ventosas regulariza o fluxo do Qi e do sangue e
ajuda a extrair e eliminar os fatores patogênicos como o vento, frio, umidade e
calor. O objetivo do tratamento é remover o agente patogênico externo do
corpo e restaurar a circulação do Qi, do sangue e dos fluidos e, desse modo,
promover saúde ao doente. A ventosaterapia pode ser bastante eficaz no
tratamento de patologias como a fibromialgia e em patologias relacionadas à
esta como a síndrome miofascial e a síndrome da fadiga crônica. (CARMO;
MOTTA; SOUZA, 2004).
40
3.5.5 Tui Na
O termo Tui Na vem do chinês: Tui significa “empurrar” e Na significa
“segurar com força” (CRUZ, 2008). É considerado um método de tratamento
que tem como finalidade preservar ou restituir o equilíbrio entre o Yin e Yang e
corrigir as disfunções orgânicas por meio da aplicação de técnicas manuais,
cujas manobras repercutem nos meridianos principais que propagam sua
influência aos órgãos internos, zang fu. Aplicada sobre a pele e fáscias, atua
nos meridianos tendinomusculares com influência sobre função imunológica do
organismo (JACQUES, 1997). Esta técnica é particularmente eficiente nas
dores musculares e articulares causadas pela tensão crônica, prática de
esportes, desgaste, bem como em doenças provocadas pelo estresse (CRUZ,
2008).
O Tui Na é um método terapêutico aplicado juntamente com outras
modalidades de tratamento da MTC, utilizando técnicas de massagem para
estimular ou sedar os pontos dos meridianos do paciente com o objetivo de
equilibrar o fluxo de energia que circula por estes canais (CRUZ, 2008).
Desenvolveu-se nas comunidades da China ao longo de milênios ao lado de
outros recursos terapêuticos como acupuntura, moxabustão e exercícios
físicos. Neste período a massagem terapêutica chinesa recebeu o nome de
Anmo, termo que ser traduz como “pressionar deslizando para a frente”. Na
dinastia Ming (1380 d.C. – 1750 d.C) o termo Anmo começou a ser substituído
por Tui Na. Em 1601 foi escrito o primeiro tratado sobre Tui Na infantil, Xiao Er
An Mo Jing (JACQUES, 1997).
41
3.5.6 Qi Gong e Meditação
Qi Gong, também chamado de Chi Kung, é uma expressão de
origem chinesa que se refere a exercícios físicos estáticos ou dinâmicos,
exercícios de respiração e meditação para cultivo de energia. Estes exercícios
tem a função de estimular e promover uma melhor circulação de Qi (Energia)
no corpo (CRUZ, 2008). O termo Qigong é usado por profissionais de saúde
para resumir todos os exercícios de energia desde os anos 1950 (CHEN et al,
2006). Qigong é o cultivo de energia através de exercícios, meditação,
respiração controle e auto-massagem com origem na MTC (KLEIN; VAN
HOOYDONK; KUTLESA, 2010). A teoria e a prática de exercícios e de
meditação voltados à saúde são muito antigos, podendo ser anteriores à
escrita. O Qi Gong é um desses exercícios, pois sua origem confunde-se com o
surgimento da civilização chinesa (SILVEIRA JÚNIOR; CARDOSO, 2004).
A sua prática visa aumentar o fluxo de energia, o chamado Qi, sendo
bem aceito nas sociedades ocidentais por exemplo, os EUA estimam que
500.000 indivíduos usam Qigong
para lidar
com doenças músculo-
esqueléticas, entorses graves, asma, ou até mesmo o câncer. Qigong provou
ser eficaz para as condições físicas e para o bem-estar psicológico, o que
poderia torná-lo uma opção valiosa de tratamento para pacientes com
fibromialgia, que sofrem de queixas físicas e psicológicas (LAUCHE et al.,
2013).
A respiração é o alicerce do Qi Gong e, com a prática, o movimento
respiratório passa do habitual torácico para o abdominal. Como consequência,
a capacidade pulmonar aumenta, melhorando a absorção de oxigênio e a
42
circulação sanguínea, assim como a digestão e a assimilação por efeito da
massagem nos órgãos internos. Essas mudanças fortalecem o corpo e
previnem as enfermidades (SILVEIRA JÚNIOR; CARDOSO, 2004).
3.5.7 Tai Chi Chuan
Tai Chi Chuan significa “punho supremo” (KNASTER, 1996). É uma arte
marcial sutil enraizada na filosofia taoista que tem a função de equilibrar o Qi
no corpo e o rejuvenescimento espiritual. É recomendado no alívio da pressão
arterial, insônia e ansiedade relacionados com o estresse, devido ao seu efeito
calmante e relaxante. (KLEIN; VAN HOOYDONK; KUTLESA, 2010)
O Tai Chi Chuan é uma prática de desbloqueio (CHAGAS, 1997),
fazendo com que o praticante flua com a energia ao redor e por dentro do
corpo; por isso é considerada uma forma de meditação em movimento (CRUZ,
2008).
4 TÉCNICAS TERAPÊUTICAS DA MTC APLICADAS À FIBROMIALGIA
Apesar de inúmeras pesquisas sobre sua relação com distúrbios
neurológicos e/ou químicos, a FM ainda é considerada de etiologia
desconhecida, com diagnóstico essencialmente clínico, sendo o tratamento
voltado ao controle dos sintomas e entre os tratamentos disponíveis, as
terapias alternativas e complementares são muito utilizadas, com a procura
chegando a 98% dos portadores em países desenvolvidos, como nos Estados
Unidos da América (TAKIGUCHI et al., 2008).
43
Estudo americano aponta que 46% dos pacientes tratados com
acupuntura relataram melhora de sintomas do que com qualquer outro tipo de
terapia que tinham recebido previamente, e 59% relataram que a acupuntura
era mais eficaz do que outro método terapêutico. Os resultados obtidos têm
evidenciado a eficácia da acupuntura em diversas condições clínicas, e
estudos controlados aleatorizados e não randomizados foram realizados para
estudar o efeito da acupuntura na fibromialgia (SANCHES et al., 2004).
Em outro estudo, Targino et al. (2008), buscaram avaliar a eficácia
da acupuntura para FM num experimento com cinquenta e oito mulheres. Os
sujeitos foram divididos em dois grupos. Um grupo com 34 mulheres recebeu
acupuntura junto com antidepressivos tricíclicos e exercícios, outro grupo com
24 mulheres recebeu acupuntura com antidepressivos tricíclicos ou somente
exercícios. As pacientes classificaram sua dor através da Escala Analógica
Visual (Visual Analogue Scale – VAS). Após vinte sessões, as pacientes que
receberam acupuntura foram significativamente melhores do que o grupo
controle em todas as medidas de dor. Após seis meses, o grupo que recebeu
acupuntura continuou mantendo as melhoras relatadas, mais que o grupo de
controle, em número de pontos dolorosos e pressão média do limiar de dor. E
após um ano, o grupo de acupuntura ainda mostrou significância nos
resultados avaliados. Porém, em dois anos, não havia diferenças significativas
em todas as medidas avaliadas. A conclusão dos pesquisadores foi que a
adição de acupuntura aos tratamentos habituais para fibromialgia pode ser
benéfica para a dor e qualidade de vida durante três meses após o fim do
tratamento (TARGINO et al., 2008).
44
Takiguchi e colaboradores. (2008), realizaram um ensaio clínico
randomizado para verificar a eficácia da acupuntura na melhora da dor, sono e
qualidade de vida em doze pacientes, com idade média de 44 anos, com
diagnóstico de fibromialgia, tratadas em um ambulatório de reumatologia. As
pacientes foram divididas em um dois grupos: grupo A, que recebeu
acupuntura segundo a MTC, com a escolha dos pontos seguindo o diagnóstico
próprio da técnica, baseada nas Síndromes dos Zang Fu, e grupo B, em que as
agulhas foram inseridas em tender points. Foram realizadas oito sessões de
acupuntura, uma vez por semana com duração de vinte e cinco minutos. A dor
foi avaliada pela Escala Visual Analógica de Dor, o sono pelo Inventário do
Sono; e a qualidade de vida pelo Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ). Os
autores concluíram que os resultados sugerem que a acupuntura mostrou-se
eficaz na melhora da dor, sono e qualidade de vida nos dois grupos de
pacientes, porém, com melhora significativa no grupo que recebeu acupuntura
nos tender points (TAKIGUCHI et al., 2008).
Deare e colaboradores. (2014) conduziram uma revisão sobre os
benefícios e a segurança do tratamento com acupuntura para FM. Os critérios
de seleção admitiam estudos que avaliaram qualquer tipo de acupuntura
invasiva para tratamento da FM diagnosticada de acordo com os critérios do
Colégio Americano de Reumatologia e que relatavam qualquer resultado nos
parâmetros de dor, funcionalidade, fadiga, sono, bem estar geral, enrijecimento
e eventos adversos. Nove estudos controlados randomizados foram incluídos
envolvendo 395 participantes. Três desses
estudos utilizaram eletro-
acupuntura e o restante usou acupuntura manual, sem estimulação elétrica.
45
Todos os estudos utilizaram pontos determinados de acupuntura, com exceção
de um, que usou pontos gatilho (DEARE e colaboradores, 2014).
Todos os estudos selecionados usavam um conjunto de pontos de
acupuntura pré-determinados, com seis estudos usando acupuntura manual e
três eletroacupuntura. Os autores classificaram os resultados como de baixa, e
moderada evidência. Evidências de baixa qualidade a partir de um estudo (13
participantes) apresentaram que a eletroacupuntura melhorou os sintomas sem
eventos adversos até um mês após o tratamento:

a média de dor no grupo controle não-tratamento foi de 70 pontos
em uma escala de 100 pontos; a eletroacupuntura reduziu a dor
em uma média de 22 pontos ou 22% de melhora absoluta.

O grupo controle de bem-estar geral obteve melhora de 66,5
pontos em uma escala de 100 pontos; eletroacupuntura melhorou
o bem-estar por uma média de 15 pontos.

O grupo controle da rigidez foi de 4,8 pontos numa escala de 0 a
10; eletroacupuntura reduziu a rigidez por uma média de 0,9
pontos.

A fadiga foi de 4,5 pontos (escala de 10 pontos), sem tratamento;
a eletroestimulação reduziu a fadiga por uma média de 1 ponto.

Não houve diferença na qualidade do sono (0,4 pontos numa
escala de 10 pontos) e na função física.
Evidência de qualidade moderada a partir de seis estudos (286
participantes) indicou que a acupuntura, aplicada na forma de eletroacupuntura
ou acupuntura manual, não foi melhor do que acupuntura placebo, com
46
exceção dos resultados na diminuição da rigidez, em até um mês (DEARE e
colaboradores, 2014).
A análise de subgrupo de dois estudos (104 participantes) indicaram
benefícios na diminuição da dor pelo uso da eletroacupuntura.

A média de dor foi de 70 pontos na escala de 0 a 100 pontos com
o tratamento placebo; a eletroacupuntura reduziu a dor em 13%.

O bem-estar geral foi de 5,2 pontos em uma escala de 10 pontos
com o tratamento placebo; a eletroacupuntura mostrou melhoria
do bem-estar de 11%; melhora do sono, a partir de 3 pontos em
uma escala de 0 a 10 pontos no grupo placebo.
Evidências de baixa qualidade a partir de um estudo sugeriram que, o
grupo que recebeu acupuntura manual teve resultado pobre na avaliação da
função física: função no grupo placebo foi 28 pontos (100 escala de pontos)
(DEARE e colaboradores, 2014).
Ainda segundo Deare e colaboradores (2014), evidências de baixa
qualidade a partir de três estudos (289 participantes) não sugeriram diferenças,
no quesito eventos adversos, entre a acupuntura real (9%) e placebo (35%).
Evidência moderada de um estudo (58 participantes) mostrou que
comparados com a terapia padrão sozinha (antidepressivos e exercícios), ao
associar com acupuntura, reduziu a dor mesmo um mês após o tratamento:
média de dor foi de 8 pontos em uma escala de 0 a 10 pontos na terapia
padrão grupo. Duas pessoas tratadas com acupuntura relataram eventos
adversos; nenhum deles estava no grupo de controle. Melhoras no bem-estar
geral, sono, fadiga e rigidez não foram relatadas nem resultados na função
física (DEARE e colaboradores, 2014).
47
Evidências de baixa qualidade a partir de um estudo com 38
participantes mostrou benefício de curto prazo da acupuntura sobre
antidepressivos no alívio da dor: média de dor foi de 29 pontos (escala de 0 a
100 pontos) no grupo de antidepressivo. Outros resultados ou eventos
adversos não foram relatados (DEARE e colaboradores, 2014).
Segundo Deare e colaboradores (2014), evidência de qualidade
moderada de um estudo (41 participantes) indicou que no fundo o
agulhamento, com ou sem deqi, não difere na melhoria dos parâmetros dor,
fadiga, função ou eventos adversos. Quatro estudos não relataram diferenças
entre a acupuntura ou outros tratamentos descritos em seis a sete meses de
acompanhamento. Nenhum evento adverso sério foi relatado, mas não houve
eventos adversos suficientes para definir se a técnica é segura ou não.
Deare e colaboradores (2014) concluíram que há evidências (de baixa a
moderada) que, em comparação com a ausência de tratamento e a terapia
padrão, a acupuntura melhora a dor e rigidez em pessoas com fibromialgia. Há
evidências de nível moderado que o efeito da acupuntura não é diferente da
acupuntura placebo na redução da dor ou cansaço, ou melhora do sono ou do
bem-estar global. A eletroacupuntura é provavelmente melhor do que a manual
para a dor, redução da rigidez e melhoria do bem-estar global, sono e fadiga. O
efeito dura até um mês, mas não é mantida em seis meses de seguimento. Os
autores sugerem que pessoas com fibromialgia podem considerar o uso de
eletroacupuntura sozinha ou associada com exercício e medicação. O pequeno
tamanho da amostra, a escassez de estudos para cada comparação, a falta de
uma acupuntura placebo ideal enfraqueceu o nível de evidência e suas
48
implicações
clínicas.
Maiores
estudos
são
necessários
(DEARE
e
colaboradores, 2014).
Langhorst et al. (2013), em pesquisa recente, incluíram sete ensaios
com um total de 385 participantes, com o objetivo de rever sistematicamente a
eficácia da acupuntura na síndrome da fibromialgia. As bases de dados
eletrônicas pesquisadas incluíam MEDLINE, PsycINFO, PUBMED, EMBASE,
CAMBASE, A Cochrane Central Register of Controlled Trials (Central) e
Biblioteca Cochrane Systematic Reviews, em que estudos originais e revisões
sistemáticas de ensaios controlados randomizados sobre acupuntura em FM
foram pesquisados no período até julho de 2009. Os autores da pesquisa
concluíram que havia fortes evidências para a redução da dor ao final do
tratamento com acupuntura, mas nenhuma evidência para melhora da fadiga,
distúrbios do sono ou funcionalidade. O efeito da redução de dor pela
acupuntura só foi encontrado nos ensaios classificados pelos autores como de
baixa qualidade, por isso, os mesmos concluíram que a acupuntura não pode
ser recomendada para o tratamento da fibromialgia (LANGHORST et al., 2013).
Zhao e Zhu (2009), num estudo realizado no Departamento de
Acupuntura do Hospital dos Trabalhadores na China, observaram o efeito
terapêutico da moxabustão combinada com medicamento, sobre a síndrome de
fibromialgia. Um grupo de observação com trinta casos foi tratado com a
administração oral do medicamento amitriptilina, e outro grupo de tratamento
com trinta casos com a administração oral de amitriptilina e moxabustão.
Depois de um mês foram observados os efeitos terapêuticos clínicos nas
mudanças dos escores de dor, avaliados pela Escala Analógica Visual (Visual
Analogue Scale – VAS), e de depressão, pela Escala de Avaliação de
49
Depressão de Hamilton (HAM-D). Após o tratamento, a nota de HAM-D e o
número de pontos de dor no grupo de tratamento foram significativamente
melhores do que no grupo de observação, e não houve diferença significativa
entre os dois grupos na pontuação de VAS. A conclusão dos autores foi que
moxabustão, combinada com medicamento, é uma terapia eficaz para a
síndrome de fibromialgia (ZHAO; ZHU, 2009).
Choi e colaboradores (2011) realizaram uma revisão com o objetivo
de avaliar criteriosamente os testes de ensaio para a eficácia da moxabustão
para as principais doenças reumáticas, até maio de 2010. Entre o total de
quatorze
ensaios
clínicos
aleatorizados
selecionados,
encontravam-se
pesquisas em que a moxabustão foi utilizada como único tratamento ou como
parte de uma terapia de combinação com fármacos convencionais para
doenças reumáticas.
A meta-análise de oito ensaios clínicos aleatorizados sugeriram
efeitos favoráveis da moxabustão sobre a taxa de resposta em comparação
com a terapia medicamentosa convencional. Os resultados da meta-análise de
seis
ensaios
clínicos
randomizados
sugeriram
efeitos
favoráveis
da
moxabustão associada à terapia de fármacos sobre a taxa de resposta, em
comparação com a terapia convencional com exclusiva administração de
drogas. Os pesquisadores concluíram que os ensaios clínicos randomizados
incluídos possuíam baixa qualidade metodológica e que a revisão sistemática
não forneceu provas conclusivas sobre a eficácia da moxabustão em
comparação com a terapia medicamentosa em condições reumáticas (CHOI et
al., 2011).
50
Asher e colaboradores (2010) conduziram uma revisão sistemática e
meta-análise de estudos avaliando auriculoterapia no tratamento da dor. Os
bancos de dados eletrônicos MEDLINE, ISI Web of Science, CINAHL, Amed e
Biblioteca Cochrane foram pesquisados durante o mês de dezembro de 2008.
Ensaios clínicos randomizados, publicados em inglês, comparando a
auriculoterapia, placebo ou controle padrão, que avaliam os resultados de dor
ou uso de medicamentos foram incluídos. Dezessete estudos preencheram os
critérios de inclusão. A auriculoterapia foi superior aos controles para os
estudos que avaliam a intensidade de dor. No caso de dor pós-operatória, a
auriculoterapia reduziu o uso de analgésico. Para a dor aguda e dor crônica, a
auriculoterapia reduziu a intensidade. Através dos resultados dos ensaios
considerados, os pesquisadores concluíram que a auriculoterapia pode ser
eficaz para o tratamento de uma variedade de tipos de dor, especialmente a
dor pós-operatória. Os autores concluíram que, a auriculoterapia pode ser uma
abordagem útil na administração da dor nessa síndrome.
A ventosaterapia é um tratamento simples e econômico que ainda
necessita de interpretação científica e pode vir a ser mais uma alternativa de
tratamento recomendada para muitas doenças que se manifestam por dor.
Revisando a literatura, esta sugere a ventosaterapia como uma terapia eficaz
para alívio da dor em doenças com diferentes etiologias e patogênese, como
hérnia de disco lombar, herpes zoster, espondilose cervical, artrite reumatoide,
braquialgia, artrite gotosa aguda, fibrosite, fibromialgia, dor lombar inespecífica
persistente, dor de garganta crônica não específica, crônica osteoartrite,
neuralgia trigeminal aguda, dor de cabeça e enxaqueca (EL SAYED et al.,
2013).
51
Cao e colaboradores (2011) submeteram um grupo de 30 pacientes
de um hospital em Pequim, a um estudo para avaliar o efeito terapêutico da
ventosaterapia tradicional no tratamento da fibromialgia. Os pacientes foram
diagnosticados de acordo com os critérios estabelecidos pelo Colégio
Americano de Reumatologia, e tratados com a ventosa tradicional feita com um
copo de bambu, fervida em decocção durante 5 minutos, aplicados aos pontos
Ashi durante 10 minutos, uma vez por dia durante 15 dias. A dor foi avaliada
através da escala visual analógica (VAS) e o número de pontos sensíveis
foram registrados no início do estudo, 5, 10, 15 dias e 2 semanas após o
tratamento final. Os escores de dor diminuíram durante o tratamento, assim
como o número de pontos dolorosos. Um total de 29 pacientes completaram o
acompanhamento de 2 semanas, e após o tratamento final, a avaliação sugeriu
redução da dor e o número de pontos sensíveis foi mantido. A conclusão dos
autores do estudo foi que a ventosaterapia medicinal está associada com uma
redução nos sintomas da FM para ambas as taxas, de dor e do número de
pontos dolorosos, e sugerem que os resultados dessa pesquisa sejam testados
em um ensaio clínico controlado (CAO et al., 2011).
Um experimento foi realizado por Jang e colaboradores (2010), para
avaliar o efeito clínico da combinação de acupuntura, ventosas e medicina
ocidental no tratamento da síndrome da fibromialgia. Foram divididos 186
casos aleatoriamente em:

grupo A: acupuntura combinada com ventosa e medicina
ocidental com administração oral de amitriptilina

grupo B: um grupo de acupuntura combinada com ventosas

grupo C: de medicina ocidental medicamentosa
52
Os grupos foram tratados continuamente durante quatro semanas. Os
escores de dor foram avaliados utilizando o Questionário de Dor McGill (MPQ);
a quantidade de tender points e o “tempo de efeito” foram comparados e os
efeitos terapêuticos avaliados através da Escala de Depressão de Hamilton
(HAM-D). Após o tratamento, as contagens de MPQ e HAM-D e a quantidade
de tender points haviam diminuído nos três grupos. Nas avaliações o grupo A
mostrou-se significativamente melhor do que o grupo B e o grupo C, e o tempo
de produção de efeitos no grupo A foi menor do que nos grupo B e C. Os
pesquisadores concluíram que o efeito terapêutico de combinação de
acupuntura, ventosas e medicina sobre a síndrome da FM é superior ao da
acupuntura simples combinado com ventosa ou o medicamento simples (JANG
et al., 2010).
Kalichman (2010) conduziu uma extensa revisão dos estudos
disponíveis, com ênfase em ensaios clínicos randomizados disponíveis nos
bancos de dados PubMed, PsychInfo, CINAHL, Pedro, ISI Web of Science, e
bases de dados Google Scholar, no período de dezembro de 2009, para
determinar se a massagem terapêutica pode ser um tratamento viável alívio
dos sintomas. Os efeitos da massagem sobre os sintomas da fibromialgia
foram examinados em dois estudos de braço único e seis ensaios clínicos
randomizados. Todos os estudos apontam benefícios de curto prazo de
massagem, e apenas um estudo de braço único demonstrou benefícios de
longo prazo. O autor determinou que a literatura existente oferece um modesto
apoio para uso de massagem terapêutica no tratamento da fibromialgia,
sugerindo uma necessária e rigorosa investigação adicional a fim de
estabelecer a massagem terapêutica como uma intervenção segura e eficaz
53
para a fibromialgia. Na terapêutica da fibromialgia, sugere também que a
massagem seja indolor, com intensidade aumentada gradualmente de uma
sessão para outra de acordo com os sintomas do paciente; e realizadas numa
frequência de pelo menos uma a duas vezes por semana (KALICHMAN, 2010)
Li e colaboradores (2014) realizaram uma revisão sistemática para
avaliar a eficácia da massagem terapêutica para a FM, uma vez que o papel da
massagem terapêutica, no tratamento da mesma, permanece controverso.
Bases de dados eletrônicas foram pesquisadas até junho de 2013, para
identificar estudos relevantes. As principais medidas de resultado consideradas
foram dor, ansiedade, depressão e distúrbios do sono. Nove ensaios clínicos
randomizados preencheram os critérios de inclusão, envolvendo 404 pacientes
com FM diagnosticada de acordo com critérios do American College of
Rheumatology, sem limitações na seleção por sexo ou idade. As meta-análises
mostraram que, a massagem terapêutica, com duração aproximada de cinco
semanas, melhorou significativamente a dor, a ansiedade e a depressão,
levando os pesquisadores a concluírem que seus efeitos benéficos
modificaram esses parâmetros, mas não os distúrbios do sono. Baseados
nessa pesquisa, os autores sugerem que a massagem terapêutica deve ser um
dos tratamentos complementares e alternativos viáveis para FM. Entretanto,
ressaltam que ensaios clínicos randomizados com longo período de
acompanhamento são recomendados para confirmar as descobertas do atual
estudo (LI et al., 2014).
Em busca de alívio mais abrangente e prolongado dos sintomas,
pacientes com FM têm adotado cada vez mais terapias de exercícios
complementares e alternativos como Qi Gong, Tai Chi, Yoga, e uma variedade
54
de terapias do movimento menos conhecidas. Qi Gong e Tai Chi possuem
origens nas artes marciais chinesas, e ambos envolvem o movimento físico
integrado com foco mental e respiração profunda, com o objetivo de cultivar e
equilibrar o Qi (MIST et al., 2013).
Langhorst e colaboradores (2013) publicaram recentemente uma
meta-análise de ensaios clínicos randomizados sobre terapias de movimento e
meditação tais como Qi Gong, Tai Chi e Yoga, na síndrome da FM. As bases
de dados consultadas foram Clinicaltrials.gov, Biblioteca Cochrane, PsycINFO,
PubMed e Scopus
no período até dezembro de 2010, nas seções de
referência dos estudos originais de terapias de movimento de meditação (MMT)
em FM. Ensaios clínicos randomizados comparando MMT aos controles foram
analisados e os resultados sobre sua eficácia na dor, sono, fadiga, depressão e
qualidade de saúde de vida foram comparados. Um total de 7 estudos com 362
sujeitos foram incluídos. Foram realizadas em média 12 sessões. MMT reduziu
distúrbios do sono, fadiga, depressão e limitações da qualidade de vida, mas
não a dor em relação aos controles no tratamento final. Os efeitos significativos
sobre distúrbios do sono e qualidade de vida foram mantidos após um intervalo
de 3 a 6 meses. Nas análises de subgrupo, apenas Yoga rendeu efeitos
significativos sobre a dor, fadiga, depressão e qualidade de vida no tratamento
final. A conclusão dos autores é que as MMT são seguras e eficazes para
tratamento dos sintomas da FM avaliados, com a necessidade de estudos de
alta qualidade com amostras maiores para confirmar os resultados obtidos
(LANGHORST et al., 2013).
Mist e colaboradores (2013) com o objetivo de estender o trabalho
de LANGHORST et al (2013), realizaram uma ampla revisão dos estudos que
55
utilizaram exercícios de solo na medicina complementar e alternativa para FM.
Bases de dados eletrônicas foram selecionados até outubro de 2012, incluindo
SciVerse Scopus, Cumulative Index to Nursing e Allied Health Literature
(CINAHL), PubMed/Medline, Cochrane Library e PsychInfo, sem limitações de
idioma, ano ou forma de estudo. Para inclusão nesta revisão, os estudos
tiveram que atender aos seguintes critérios: a intervenção do estudo deveria
referir-se às definições de exercícios de solo usados na medicina alternativa e
complementar (CAM); com participantes acima de 21 anos de idade, que
preencheram os critérios padronizados para o diagnóstico de FM de acordo
com o American College of Rheumatology (1990); e responderam ao
Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ) e à pontuação total ou escores da
escala numérica de classificação de dor. Um total de 832 pacientes com FM
incluídos em 16 estudos revisados, com 490 selecionados ao exercício
intervenções CAM, em que 81% dos pacientes completaram o estudo. Os
estudos revisados não indicam que qualquer tipo de intervenção é
consistentemente superior a outra, embora os efeitos mais expressivos se
refiram às modalidades de exercício Qi Gong e Tai Chi, com o maior número
de ensaios. Os autores encontraram dados consistentes em um relatório
rigoroso anterior, sobre terapias conscientes de movimento de meditação e que
essas terapias foram seguras e eficazes para reduzir os distúrbios do sono,
fadiga e depressão, e melhorar a qualidade de vida. E concluíram que as
terapias de exercícios baseados em CAM revisadas, se mostraram seguras. Os
dados sustentam algum grau de eficácia de algumas das intervenções de
exercício CAM na melhora dos sintomas gerais FM e funcionalidade, mas
corroboram que estes programas de exercícios foram pouco eficazes para a
56
dor na FM. Como a maioria dos estudos teve qualidade metodológica menor,
há necessidade de maiores e rigorosos estudos, tais como comparação entre
exercício aeróbio tradicional e exercício com base em CAM (MIST et al., 2013).
Um apoio adicional para o Qi Gong vem de uma avaliação excluída
desta análise feita por Mist et al., (2013). Um estudo piloto sobre FM pediátrica,
randomizado controlado foi realizado por Stephens e Colaboradores apud Mist
et al., (2013), com 30 crianças com o objetivo de avaliar a aplicação de
exercícios durante 12 semanas e explorar a eficácia do exercício aeróbico
sobre a aptidão física, função, dor, sintomas de FM e qualidade de vida (QV).
Trinta pacientes com FM, com idades entre 8 e18 anos participaram da
avaliação, em que apenas vinte e quatro pacientes completaram o programa.
Durante 12 semanas, em três sessões semanais, receberam intervenção de
exercícios aeróbicos ou Qi Gong. Foi constatada melhor aderência no grupo
aeróbico do que no grupo de Qi Gong. Melhorias significativas na função física,
nos sintomas da FM, na QV e na dor, foram demonstrados em ambos os
grupos de exercício; o grupo de aeróbica teve melhor desempenho em várias
medidas em comparação com o grupo de Qi Gong (STEPHENS et al., 2008;
ARTHRITIS RESEARCH UK, 2013). Esse estudo indica que o exercício com
intervenções CAM em crianças pode ser uma área de pesquisa promissora, já
que existem poucas intervenções que abordam FM pediátrica. Sugere também
que os exercícios mente-corpo podem ser uma opção terapêutica viável
através de uma ampla gama de estados de desenvolvimento (MIST et al.,
2013).
Dias e colaboradores. (2012), conduziram um estudo em 38 pacientes
com fibromialgia juvenil, diagnosticados segundo os critérios do Colégio
57
Americano de Reumatologia. Os pacientes foram submetidos a, pelo menos,
11 sessões semanais de acupuntura e foram acompanhados durante oito anos
consecutivos. Destes pacientes, treze foram avaliados por terem todas as
informações nos prontuários. As avaliações antes e após acupuntura incluíram
dados demográficos, características da dor musculoesquelética, número de
pontos dolorosos (NPD), escala visual analógica (EVA) de dor, algiometria e
índice miálgico (IM). Durante o estudo, os pacientes puderam usar analgésicos,
amitriptilina e foram orientados a praticar atividade física aeróbica. Do total de
pacientes apenas sete obtiveram melhora nos 03 parâmetros avaliados
(número de pontos dolorosos, EVA de dor e IM). Segundo os autores da
pesquisa as medianas do número de pontos dolorosos e da EVA de dor foram
significativamente maiores antes do tratamento quando comparados ao final do
tratamento com as sessões de acupuntura [14 (11-18) versus 10 (0-15),
p=0,005; 6 (2-10) versus 3 (0-10), p=0,045; respectivamente]; embora a
mediana do IM apresentar-se significativamente menor antes do tratamento
[3,4 (2,49-4,39) versus 4,2 (2,71-5,99), p=0,02]. Os resultados obtidos sugerem
que a acupuntura é uma modalidade de Medicina Tradicional Chinesa que
pode ser utilizada nos pacientes pediátricos com fibromialgia e os autores
recomendam que serão necessários futuros estudos controlados (DIAS e
colaboradores, 2012).
Haak e Scott (2008) avaliaram o efeito de uma intervenção de 07
semanas de exercícios de Qi Gong em indivíduos com FM. O estudo
randomizado controlado contou com cinquenta e sete indivíduos do sexo
feminino, que foram aleatoriamente designados para um grupo de intervenção
ou um grupo controle. Após a conclusão da parte experimental, o grupo
58
controle foi também submetido a sete semanas de exercícios de Qi Gong.
Durante a parte experimental do estudo, melhoras significativas foram
encontradas no grupo de intervenção e no pós-tratamento em relação a
diferentes aspectos da dor, saúde psicológica e angústia. Em 04 meses de
seguimento, a maioria destes resultados foi mantida ou melhorada. Os
resultados globais mostram que Qi Gong tem efeitos positivos e confiáveis
sobre a FM e sugerem que pode ser um complemento útil para o tratamento
médico dos pacientes (HAAK; SCOTT, 2008; ARTHRITIS RESEARCH UK,
2013).
Um estudo para avaliar a viabilidade de exercício de Qi Gong
domiciliar em pacientes com FM foi realizado por Liu e Colaboradores com 14
indivíduos divididos aleatoriamente em um grupo experimental e um grupo
controle. O grupo experimental submeteu-se a um programa de exercícios de
Qi Gong, envolvendo meditação, respiração profunda e movimentos corporais
rítmicos sincronizados por um período de seis semanas. O grupo controle
participou de um programa de exercícios de Qi Gong placebo usando os
mesmos movimentos corporais. também por seis semanas. As avaliações
clínicas realizadas no início e no final da intervenção foram o Questionário de
Dor McGill, Multidimensional Fatigue Inventory, Pittsburgh Sleep Quality Index
e Fibromialgia Impact Questionnaire. A conclusão dos autores sugere que o
exercício de Qi Gong pode potencialmente ser uma abordagem eficaz de
autogestão no controle dos sintomas de FM e também recomendam que
pesquisas futuras sejam feitas para determinar se tais benefícios podem ser
obtidos em uma amostra maior (LIU et al., 2012).
59
Pesquisa conduzida num experimento único-cego, aleatorizado, com 66
pacientes, avaliando os efeitos do estilo clássico de Tai Chi em comparação com
uma intervenção de controle constituído por educação de bem-estar e alongamento
para o tratamento da FM. Durante 12 semanas, sessões com 60 minutos de
duração cada, duas vezes por semana para cada grupo de estudo. Os 33 pacientes
no grupo de Tai Chi tiveram clinicamente melhorias importantes na pontuação total
do Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ) e qualidade de vida. As melhoras foram
mantidas em 24 semanas, sugerindo que Tai Chi pode ser um tratamento útil para a
fibromialgia e merece um estudo, a longo prazo, em populações maiores (WANG et
al., 2010).
Mist e colaboradores (2012) realizaram uma análise com o objetivo de
investigar os resultados de estudos anteriores e direcionar o foco na mobilidade
funcional, avaliando um grupo paralelo randomizado de FM utilizando um programa
modificado de Tai Chi estilo 8-forma a um grupo controle de educação. Os
participantes se reuniram em pequenos grupos duas vezes por semana por 90
minutos ao longo de 12 semanas. O ponto final primário foi a redução dos sintomas
e melhora na função física, medida pelo Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ).
Dos 101 indivíduos escolhidos aleatoriamente, os participantes do grupo de Tai Chi
em comparação com o grupo de educação demonstraram melhorias clinicamente e
estatisticamente significativas nos escores severidade da dor, dor de interferência, o
sono e autoeficácia para o controle da dor, variáveis de mobilidade funcional,
incluindo levantar e andar cronometrado, equilíbrio estático e equilíbrio dinâmico.
Concluiu-se que o Tai Chi demonstra ser uma modalidade segura e um exercício
aceitável e pode ser útil como terapia adjuvante no tratamento de pacientes com FM
(MIST et al., 2012).
60
Cao e colaboradores (2010) publicaram um estudo onde revisaram
os efeitos benéficos e prejudiciais de terapias da MTC para FM. Foram
incluídos todos os estudos encontrados com ventosas para todos os tipos de
doenças, até dezembro de 2008. As pesquisas foram realizadas nos seguintes
bancos de dados: China Network Knowledge Infrastructure (CNKI) (1911-1978,
1979-2008), Chinese Scientific Journal Database VIP (1989-2008), Wan Fang
Database (1985-2008), Chinese Biomedicine (CBM) (1978-2008), PubMed
(1966-2008) and the Cochrane Library (Issue 4, 2008) até Dezembro de 2008.
Os vinte e cinco ensaios clínicos randomizados relacionados, envolveram um
total de mil quinhentos e dezesseis pacientes com FM. Os participantes tinham
idades entre dezessete e setenta e sete anos, e com duração da doença entre
três
meses
a
vinte
anos.
As
intervenções
incluíram
acupuntura
(eletroacupuntura, acupuntura auricular), ventosa, fitoterapia (decocção,
cápsulas e externo preparações), massagem, moxabustão, e combinações de
acupuntura e ventosaterapia, ou acupuntura e fitoterapia. A conclusão
preliminar dos pesquisadores sugere que pacientes com FM podem beneficiarse do tratamento MTC, e recomenda que ensaios maiores sejam realizados
para demonstrarem a eficácia e o efeito, a longo prazo, das terapias da MTC
(CAO et al., 2010).
61
5. DISCUSSÃO
Dentre os estudos pesquisados sobre utilização de terapias da MTC
direcionadas para melhoria dos sintomas e qualidade de vida dos pacientes
com FM, foi possível encontrar alguns experimentos que não forneceram
resultados conclusivos sobre os benefícios da utilização das terapias de
acupuntura (LANGHORST et al., 2010), de moxabustão (CHOI et al., 2011), de
massagem (KALICHMAN, 2010), de terapias de movimento e Qi Gong (MIST
et al., 2013; STEPHENS et al., 2008), em que os autores justificaram tais
resultados devido à baixa qualidade metodológica dos estudos e/ou estudos
com número reduzido de amostras.
Para a técnica de auriculoterapia, não foi encontrado na pesquisa
qualquer estudo específico da utilização da mesma em pacientes com FM.
Apenas experimentos que buscavam comprovar os resultados da técnica como
recurso alternativo para o tratamento da dor (ASHER et al., 2010), que é o
principal sintoma da síndrome da FM e que determinaram que a auriculoterapia
é eficaz para esse objetivo.
A maioria dos estudos pesquisados sobre as várias técnicas da MTC
utilizadas em pacientes com FM como acupuntura (TARGINO et al., 2002;
TARGINO et al., 2008; TAKIGUCHI et al., 2008); a moxabustão (ZHAO; ZHU,
2009); ventosaterapia (CAO et al., 2011) e ventosa combinada à acupuntura
(JANG et al., 2010); massagem em geral (LI et al., 2014); terapias do
movimento como Qi Gong e Tai Chi (STEPHENS et al., 2008; HAAK; SCOTT,
2008; WANG et al., 2010; LIU et al., 2012; MIST et al., 2012) forneceram
resultados confirmando a melhoria de sintomas da síndrome da FM, como
62
diminuição da dor (TARGINO et al., 2002; TARGINO et al., 2008; TAKIGUCHI
et al., 2008; ASHER et al., 2010; CAO et al., 2011; LI et al., 2014) e melhoria da
qualidade de vida desses pacientes (TARGINO et al., 2002; STEPHENS et al.,
2008; TARGINO et al., 2008; TAKIGUCHI et al., 2008; ZHAO; ZHU, 2009;
WANG et al., 2010; MIST et al., 2013; LI et al., 2014) através dessas
abordagens terapêuticas que fazem parte da MTC. Alguns pesquisadores
concluíram que as abordagens de terapia alternativa e complementar são
seguras, úteis e eficazes aos pacientes com FM (HAAK; SCOTT, 2008; WANG
et al., 2010; LIU et al., 2012; LANGHORST et al., 2013; MIST et al., 2012; MIST
et al., 2013), sobretudo ao serem utilizadas como adjuvantes aos tratamentos
da medicina convencional (HAAK; SCOTT, 2008TARGINO et al., 2008; ZHAO;
ZHU, 2009; JANG et al., 2010; LANGHORST et al., 2013; MIST et al., 2013; LI
et al., 2014).
Um estudo abrangente foi encontrado durante a pesquisa sobre os
efeitos das diversas terapias da MTC, concluindo que as abordagens
terapêuticas pesquisadas como acupuntura, eletroacupuntura, acupuntura
auricular, ventosa, fitoterapia, massagem, moxabustão, e combinações de
acupuntura e ventosaterapia, ou acupuntura e fitoterapia, são benéficas no
tratamento de pacientes com fibromialgia (CAO et al., 2010).
Embora com resultados ainda divergentes, a Organização Mundial
de Saúde em 1979, editou uma lista com 41 doenças que apresentaram
resultados promissores com o tratamento de acupuntura e publicou o
documento Acupuncture: Review and analysis of reports on controlled clinical
trials, no qual a acupuntura é recomendada para o tratamento de doenças,
entre as quais, a FM, (OMS, 1979).
63
6 CONCLUSÃO
Diante destes estudos os resultados sugerem que as abordagens
terapêuticas usando as técnicas da MTC, classificadas como medicina
alternativa e complementar, são consideradas seguras, úteis, eficazes e
benéficas no tratamento de pacientes diagnosticados com a síndrome da
fibromialgia, por contribuírem com o alívio dos sintomas gerais relatados pelos
pacientes, tanto referentes às funções físicas como à percepção da qualidade
de vida. Principalmente, observou-se que tais terapias fornecem uma
contribuição útil quando utilizadas como complemento, ou seja, associadas ao
tratamento médico convencional dos pacientes com fibromialgia.
Entretanto, diante da escassez de estudos voltados a algumas
abordagens, e das ressalvas de vários autores quanto à baixa qualidade dos
experimentos e ao número reduzido de amostras que tornaram as pesquisas
inconclusivas,
sugerimos
que
futuros
estudos
sejam realizados para
comprovação da eficácia das técnicas de MTC no tratamento da síndrome da
fibromialgia.
64
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