REIMPLANTE TARDIO – RELATO DE CASO 310 REIMPLANTE DENTAL TARDIO RELATO DE CASO LATE TEETH REPLANTATION CASE REPORT José Lacet de LIMA JUNIOR * Kilma Keilla Honório DE GÓES ** Julierme FERREIRA ROCHA *** Evaldo Sales HONFI JÚNIOR *** Eduardo Dias RIBEIRO *** Clóvis MARZOLA **** __________________________________ * Cirurgião e Traumatologista BMF pela APCD Regional de Bauru, Cirurgião do Serviço de Cirurgia e Trauma BMF do Hospital de Trauma (HETSHL) de João Pessoa – PB e Mestrando em Clinica Odontológica – UNP (RN). ** Aluna do Curso de Especialização em Implantodontia pelo Núcleo de Ensino e Assistência Odontológica (NEAO) – João Pessoa – PB, Brasil. Estagiária do Serviço de Cirurgia e Traumatologia BMF do HETSHL. *** Graduandos em Odontologia pela UFPB e Estagiários do Serviço de Cirurgia e Trauma BMF do HETSHL – PB **** Professor Titular de Cirurgia da FOB-USP. Aposentado. Professor dos Cursos de Especialização e Residência de Bauru, São Paulo, Brasil. REIMPLANTE TARDIO – RELATO DE CASO 311 RESUMO O reimplante dental é a manobra de reinserir o dente no seu alvéolo, que foi removido de forma acidental ou intencional. No presente trabalho é relatado um caso de reimplante dental tardio, bem como enfatizadas as vantagens e, tudo que deve ser considerado para o sucesso do procedimento e, conseqüências do processo. Conclui-se que o reimplante dental é um procedimento conservador, haja vista que normalmente acomete crianças em período de crescimento e visa eliminar danos estéticos, psicológicos e sociais para o paciente, além de adiar a possível confecção de uma prótese. ABSTRACT The dental replant is the technique of reinserting the tooth, which was removed in way accidental or intentional. In the present paper it is told cases of late dental replant, emphasized the advantages and what should be considered for the success of the procedure and, consequences of the process. It is ended that the dental replantation is a conservative procedure, have seen that usually attacks children in growth period and it seeks to eliminate damages aesthetic, psychological and social for the patient, besides postponing the possible making of a prosthesis. UNITERMOS: reimplante dental; traumatismo dentoalveolar; avulsão dental. UNITERMS: Teeth replantation, dental traummatology, avulsed teeth. INTRODUÇÃO Reimplante dental é o procedimento de reinserção de um dente em seu alvéolo, avulsionado de forma intencional ou acidental (VASCONCELOS et al., 2001 e MARZOLA, 1997 e 2005). A compreensão e o controle dos eventos biológicos que se sucedem após a perda do elemento dental têm aprimorado à técnica, visando reduzir a ausência do elemento dentário e, preservando-o na cavidade bucal (SALINEIRO et al., 1997; SILVA; LEMES, 2001; PANZARINI et al., 2003 e MARZOLA, 2005). A avulsão dentária não ocorre com muita freqüência no traumatismo dentário, variando de 0,5 a 16% das lesões traumáticas na dentição permanente (ANDREASEN; ANDREASEN, 2001). A maior incidência das avulsões está localizada nos incisivos superiores em crianças de 7 a 12 anos de idade, em razão das características que acompanham nas atividades da infância e da adolescência, favorecendo mais freqüentemente a exposições a traumas dentais, aliado à menor quantidade de fibras do ligamento periodontal do dente recém-iruido. A sobressaliência com protusão nos incisivos e selamento insuficiente dos lábios são fatores predisponentes dos traumatismos dentários. (DEMARCHI et al., 1999; ISOLAN et al., 1994; SALINEIRO et al., 1997 e MARZOLA, 2005). Os principais fatores etiológicos que provocam este tipo de lesão são a prática de esportes e, acidentes automobilísticos na dentição permanente, além das quedas na dentição decídua (VASCONCELOS et al.,2001 e MARZOLA, 2005). Após a perda acidental do dente, ele deverá ser reinserido no alvéolo imediatamente para que o sucesso do reimplante seja maior. Caso contrário poderá ser conservado em algumas substâncias como a solução salina fisiológica, sangue, meios de culturas de tecido, leite e saliva (POI et al., 1999; ISOLAN et al., 1994 e REIMPLANTE TARDIO – RELATO DE CASO 312 MARZOLA, 2005). É importante que o meio de armazenagem seja de correta osmolaridade e pH e que as condições hipotônicas resultam em lise das células, portanto, armazenagem em água corrente é igualmente prejudicial a um meio seco. Pode-se, ainda utilizar soluções fluoretadas para retardar o processo de reabsorção radicular (MORGADO et al., 1992 e MARZOLA, 2005). O sucesso do reimplante dental, segundo alguns autores, depende da integridade do ligamento periodontal. Isso só é possível se o reimplante for efetuado durante um período extra-alveolar inferior a duas horas, antes que alterações irreversíveis ocorram. (POI et al., 1999; SOARES; SOARES, 1998 e MARZOLA, 2005). A remoção acidental de parte ou de todo ligamento determinará a anquilose do dente reimplantado (MORGADO et al., 1992 e MARZOLA, 2005). No que diz respeito ao fator tempo, quanto menor o tempo de permanência do dente fora do alvéolo, mais favorável será o prognóstico. Com o passar do tempo, as células do ligamento, aderidas ao dente, vão necrosando rapidamente e o percentual de sucesso diminui verticalmente (SOARES; SOARES, 1998 e MARZOLA, 2005). O reimplante tardio é caracterizado pela ausência de condições mínimas para sobrevivência das células, com a manutenção do dente em meios de estocagem que não atende às necessidades celulares de nutrição, osmolaridade, pH e temperatura. Quando o reimplante é realizado com ligamento periodontal, cujas células não apresentam vitalidade tem-se prognóstico biológico desfavorável (MORGADO et al., 1992; STÊVÃO et al., 1998 e MARZOLA, 2005). O hipoclorito de sódio tem sido a solução mais utilizada para a remoção dos restos do ligamento periodontal pela sua disponibilidade, suas propriedades antimicrobianas e capacidade de dissolução do tecido conjuntivo (POI et al., 2001 e MARZOLA, 2005). O reimplante dentário é o único tratamento não protético que se pode realizar frente a um caso de avulsão, apesar do percentual de sucesso está compreendido entre 4 a 50%, o mesmo deverá ser realizado sempre, pois a permanência do dente no alvéolo pode protelar a confecção de uma prótese. (ISOLAN et al., 1994; MOREIRA, 1998; POI et al., 1999; STÊVÃO et al., 1998 e MARZOLA, 2005). O reimplante deve ser feito imediatamente através da inserção vagarosa para permitir o escape dos fluidos do alvéolo, bem como, a pressão contínua durante 5 (cinco) a 10 (dez) minutos. Se a recolocação for abrupta, a pressão do fluido aprisionado possibilitará a extrusão do dente, tendo cuidado de não deixá-lo em contato prematuro (MOREIRA, 1998 e MARZOLA, 2005). Deve-se levar em consideração para a sua confecção entre outros, o aspecto psicológico do paciente, situação econômica, podendo ainda ser indicado em caso de uma extração acidental de um dente são, durante uma intervenção exodôntica. O reimplante dental é contra-indicado quando o estado geral do paciente não seja satisfatório, em caso de insuficiência das paredes alveolares, estado inflamatório ou infeccioso agudos locais (RIBEIRO; GOMES, 1983 e MARZOLA, 2005). Os fatores que podem alterar o prognóstico do reimplante podem ser a extensões do trauma, tempo de permanência extra-alveolar, meios de conservação, contaminação, maneira pela qual o dente é manipulado e condição do dente avulsionado. Estes fatores podem desencadear problemas como a inflamação periodontal, reabsorção radicular e anquilose alvéolo-dental, que interferem no sucesso dos reimplantes (ISOLAN et al., 1994 e MARZOLA, 2005). Baseado nas pesquisas realizadas nesse campo, a reabsorção radicular é a principal causa de perda destes dentes podendo ser classificadas em reabsorção de REIMPLANTE TARDIO – RELATO DE CASO 313 superfície, de substituição e inflamatória, podendo ser ativa, cessada ou reparada. Com o intuito de inibir ou retardar a reabsorção radicular externa, poderá ser feito o tratamento da superfície radicular externa com o uso de fluoretos (fluoreto estanhoso a 1%) associado à imersão em antibiótico (doxiciclina) (MORGADO et al., 1992; STÊVÃO et al., 1998 e MARZOLA, 2005). A estabilização de um dente avulsionado pode ser feita utilizando-se diversos materiais, como fios de aço, barras e splints. Uma técnica muito efetiva é o uso de resina composta com ataque ácido (MARZOLA, 2005 e PETERSON et al., 2005). Sempre com a possibilidade de poder melhor orientar nosso cirurgiãodentista e, também, nossos pacientes, faz-se a apresentação desse trabalho com relato desse caso clínico, justificando-se pela extrema importância em sempre procurar o esclarecimento com a finalidade de enaltecer o ser humano. RELATO DE CASO Paciente leucoderma, 12 anos de idade, gênero masculino, deu entrada no Serviço de Cirurgia BMF do Hospital Santa Isabel apresentando um traumatismo facial, vítima de queda de bicicleta, não relatando perda de consciência. Ao exame clínico extra-oral apresentava escoriações, edema na face e laceração no lábio inferior. Ao exame clínico intra-oral, apresentava mobilidade dental dos incisivos superiores e avulsão traumática do elemento 11, que estava acondicionado há aproximadamente 2 horas num copo com álcool (Fig. 1). Foi realizada também, a radiografia no hospital para se verificar a condição local (Fig. 2). Fig. 1 – Aspecto clínico do local no momento do acidente. Fig. 2 – Aspecto radiográfico do local no momento do acidente. REIMPLANTE TARDIO – RELATO DE CASO 314 Uma vez comprometida a integridade pulpar e ligamentar, optou-se pelo reimplante pelo protocolo do ligamento danificado (ANDREASEN; ANDREASEN, 2001 e MARZOLA, 2005): 1. Tratamento da superfície radicular com lavagem copiosa do elemento dental, raspagem dos remanescentes do ligamento periodontal com uma cureta periodontal afiada (Fig. 3). 2. Tratamento da superfície radicular com clorexidina a 2% para fazer a desinfecção e o uso do gel de fluoreto de sódio para agregação de íons fluoretos na superfície dentária (Fig. 4). Fig. 3 – Tratamento do ligamento periodontal. Fig. 4 – Tratamento da superfície radicular com clorexidina a 2% para fazer a desinfecção e o uso do gel de fluoreto de sódio para agregação de íons fluoretos na superfície dentária. Fig. 5 – Tratamento endodôntico com a obturação radicular. 3. Acesso endodôntico e extirpação da polpa com posterior obturação do canal com cimento de hidróxido de cálcio Sealer 26, extra-alveolar (Fig. 5). 4. Restauração do acesso endodôntico com resina fotopolimerizável posterior (Fig. 5). 5. Lavagem do alvéolo e reimplante dental com imobilização usando fio de aço numero zero e resina foto. 6. Contenção por seis semanas. REIMPLANTE TARDIO – RELATO DE CASO 315 Devido ao volume de atendimento do hospital o paciente perdeu o contato com o serviço. Após dois anos consegui-se localizar o paciente e realizou-se o acompanhamento radiográfico, onde foi observada uma anquilose e uma rarefação óssea no incisivo lateral (Figs. 6, 7, 8, 9 e 10). Fig. 6 – Aspecto do reimplante imediatamente após a contenção com resina. Fig. 7 – Aspecto radiográfico logo após o reimplante. Fig. 8 – Aspecto radiográfico do reimplante após 1 ano já com o dente anquilosado e com início de reabsorção. REIMPLANTE TARDIO – RELATO DE CASO 316 Fig. 9 – Aspecto clínico do reimplante ainda com resina após 2 anos do reimplante notando-se a característica da anquilose, quando o dente fica numa posição mais superior com relação aos outros. Fig. 10 – Aspecto clínico do reimplante após a eliminação da resina. DISCUSSÃO A avulsão dental é a completa separação de um dente do seu alvéolo em que ocorre rompimento das fibras do ligamento periodontal, permanecendo uma parte delas aderidas ao cemento do dente e a outra parte, ao osso alveolar (VASCONCELOS et al., 2001 e MARZOLA, 2005). A prática do reimplante dentário no que tudo indica vem desde os primórdios da civilização quando o homem pensava na possibilidade de recolocar um dente perdido em seu local de origem após um acidente (RIBEIRO; GOMES, 1983 e MARZOLA, 2005). O reimplante dentário é o único tratamento não protético que se pode realizar frente a um caso de avulsão, apesar do percentual de sucesso está compreendido entre 4 a 50%, o mesmo deverá ser realizado sempre, pois a permanência do dente no alvéolo pode protelar a confecção de uma prótese (ISOLAN et al., 1994; MOREIRA, 1998; POI et al., 1999; STÊVÃO et al., 1998 e MARZOLA, 2005). A técnica do reimplante, para ter êxito, necessita da observância de diversos fatores, como o tempo extrabucal, o meio de armazenamento e a viabilidade do ligamento periodontal (ANDREASEN; ANDREASEN, 2001 e MARZOLA, 2005). REIMPLANTE TARDIO – RELATO DE CASO 317 A demora para o reimplante, muitas vezes, está relacionada à falta de conhecimento do acidentado, familiares, ou de quem o atendeu (POI et al., 1999; STÊVÃO et al., 1998). Aproximadamente 82% da população não têm conhecimento sobre as condutas imediatas após traumas (POI et al., 1999 e MARZOLA, 2005). O conhecimento dos dentistas sobre o tratamento de emergência ao trauma dentoalveolar em crianças é inadequado (KOSTOPOULOU; DUGGAL, 2005 e MARZOLA, 2005) necessitando de muita coisa ainda ser feita para uma melhoria geral da população. Após a perda acidental do dente, ele deverá ser reinserido no alvéolo imediatamente para que o sucesso do reimplante seja maior. Caso contrário poderá ser conservado em algumas substâncias como a solução salina fisiológica, sangue, meios de culturas de tecido, leite e saliva (POI et al., 1999; ISOLAN et al., 1994 e MARZOLA, 2005). É importante que o meio de armazenagem seja de correta osmolaridade e pH. As condições hipotônicas resultam em lise das células, portanto, armazenagem em água corrente é igualmente prejudicial a um meio seco (MORGADO et al., 1992 e MARZOLA, 2005). Entretanto mais uma vez pode-se notar o desconhecimento da população e da maioria dos profissionais em não orientá-los, levando assim a acontecimentos muito tristes com a mutilação de jovens muito precocemente (MARZOLA, 2005). O meio mais adequado de armazenamento é a solução salina de Hanks e, essa solução parece reduzir a incidência da anquilose por melhorar a sobrevivência das células periodontais da superfície radicular. Não se pode esquecer nunca que o leite também pode agir de maneira muito eficaz, trazendo resultados maravilhosos quando usado adequadamente (MARZOLA, 2005). Também ajuda remover os debris da raiz e dissolver as bactérias (PETERSON et al., 2005). Quando não for possível o reimplante imediato e/ou o dente não for conservado adequadamente, pode ser feita tentativa de reimplante, por meio de procedimento denominado reimplante mediato ou tardio (ANDREASEN; ANDREASEN, 2001 e MARZOLA, 2005). Os resultados observados a partir dessa consideração podem ser muito bons, não devendo se abandonar o cliente porque o tempo fora do alvéolo passou de 2 ou 3 ou 4 horas. Tudo deve ser realizado para evitar-se a mutilação do jovem paciente (MARZOLA, 2005). O sucesso do reimplante dental depende da integridade do ligamento periodontal (MARZOLA, 1997; SOARES; SOARES, 1998; KANNO et al., 2000; ANDREASEN; ANDREASEN, 2001 e MARZOLA, 2005). Isso só é possível se o reimplante for efetuado durante um período extra-alveolar inferior a duas horas, antes que alterações irreversíveis ocorram (POI et al., 1999 e SOARES; SOARES, 1998). Entretanto pode-se observar que casos foram resolvidos de maneira muito satisfatória com um tempo bastante elevado no pós-operatório, devendo assim sempre ser realizado o reimplante e, muitas vezes mesmo sem o tratamento endodôntico que muitas vezes poderá inclusive levar a fracassos (MARZOLA, 2005). Para procedimentos de reimplante tardio, o tempo deixa de ser o fator mais importante, pois as fibras do ligamento periodontal aderidas ao dente estão inviáveis. Assim, deverão ser removidas antes de qualquer procedimento (ANDREASEN; ANDREASEN, 2001; VASCONCELOS et al., 2001; TROPE, 1996 e MARZOLA, 2005). O hipoclorito de sódio tem sido a solução mais utilizada para a remoção dos restos do ligamento periodontal pela sua disponibilidade, suas propriedades antimicrobianas e capacidade de dissolução do tecido conjuntivo (POI REIMPLANTE TARDIO – RELATO DE CASO 318 et al., 2001). Pode-se considerar, entretanto, que o leite é uma solução bastante eficaz para o sucesso de um reimplante tardio (MARZOLA, 2005). Os dentes com extensos períodos extra-alveolares, mantidos secos ou estocados em meio inadequado, tem diminuída a vitalidade do ligamento periodontal e aumento da probabilidade de reabsorção radicular (ANDREASEN; ANDREASEN, 2001 e MARZOLA, 2005). Com o intuito de inibir ou retardar a reabsorção radicular externa, poderá ser feito o tratamento da superfície radicular externa com o uso de fluoretos (fluoreto estanhoso a 1%) associado à imersão em antibiótico (doxiciclina) (MORGADO et al., 1992; STÊVÃO et al., 1998 e MARZOLA, 2005) ou ainda o leite (MARZOLA, 2005). Testes imunohistoquimicos, como o ELISA, podem identificar a reabsorção radicular de substituição, podendo permitir o diagnóstico da reabsorção dental antes do processo torna-se radiograficamente visível (HIDALGO et al., 2005). Além disso, alguns autores preconizam o tratamento endodôntico prévio ao reimplante após duas horas da avulsão (KRASNER; RANKOW, 1995) aspecto este que não julgamos de extrema importância (MARZOLA, 2005). A American Association of Endodontics o preconiza após uma hora fora do alvéolo, aspecto que pode ser relevado quando ainda podem-se encontrar casos resolvidos com extrema eficiência ainda depois de mais de 6 horas (MARZOLA, 2005). Alguns autores indicam a raspagem radicular (LINDSKOG et al., 1985 e HAMMARSTRÔM et al., 1985), visando eliminar todo tecido necrótico evitando assim uma possível infecção (BJORVATN et al., 1989). Ainda que alguns autores não venham a recomendar a utilização de antibióticos, o uso destes fármacos, em animais, tem reduzido de 20 a 40% o percentual de reabsorções. O fato de que as reabsorções inflamatórias estariam intimamente relacionadas com o grau de infecção pulpar, justificaria o emprego da medicação sistêmica (SOARES; SOARES, 1998). A avaliação médica é recomendada para determinar a profilaxia do tétano e sugere dosagens de analgésicos e antibióticos. Indica administração de penicilina ou similares 4 (quatro) vezes ao dia, durante 7 (sete) a 10 (dez) dias. Em casos de alergia à penicilina, pode-se utilizar como substituta a eritromicina ou cefalosporinas (MOREIRA, 1998). Analisando crianças que procuravam o Departamento de Odontologia Pediátrica da Faculdade de Odontologia da Universidade de Jordan foi verificado que a maioria dos danos traumáticos envolveu um dente (69.3%) e, os incisivos centrais superiores eram os dentes mais afetados (90.4%). Os meninos eram mais afetados (18.3%) que as meninas (10.1%), sendo que a maioria dos danos aconteceu em casa (63.2%) (RAJAB, 2003). Alguns critérios biológicos foram estabelecidos para se determinar o sucesso do reimplante, incluindo ausência de reabsorção radicular, reparação do ligamento periodontal sem ocorrência de anquilose e o restabelecimento da aderência epitelial ao nível da junção amelocementária ou próximo a ela (ANDREASEN, 1976). Apesar desse autor não considerar a anquilose um reparo ideal, ela proporciona estabilidade e retenção satisfatória ao elemento dental (SALINEIRO et al., 1997). Embora a anquilose seja um resultado longe do ideal, possibilita a permanência do elemento dental por muitos anos (KANNO et al., 2000). A estabilização de um dente avulsionado pode ser feita utilizando-se diversos materiais, como fios de aço, barras e splints. Uma técnica muito efetiva é o uso de resina composta com ataque ácido (PETERSON et al., 2005 e MARZOLA, 2005). Este tipo de contenção quando bem confeccionado é um excelente método e muito bem considerado (MARZOLA, 2005). REIMPLANTE TARDIO – RELATO DE CASO 319 O período de estabilização deve ser o mais breve possível para o dente torna-se refixado em seu alvéolo, normalmente de 7 a 10 dias. Estudos mostraram que quanto mais rígida e mais longa for a estabilização, maior reabsorção radicular poderá ser esperada (ANDREASEN, 1970; 1975). Essa afirmação pode ser contestada, pois podem ser encontrados casos em que essa contenção se prolonga por mais de um mês com excelentes resultados (MARZOLA, 2005). A tendência atual é fazer uma contenção leve e estabelecer imediatamente uma função oclusal que atuará como estímulo fisiológico no metabolismo dos tecidos periodontais (MOREIRA, 1998 e MARZOLA, 2005). Os movimentos fisiológicos do dente são indicados por promover a união fibrosa, em vez da união óssea da raiz ao osso alveolar (PETERSON et al., 2005). Uma vez utilizando o protocolo do ligamento danificado, deve-se manter o dente mais tempo contido (seis semanas) na intenção de formar uma anquilose fisiológica. Com isso pode-se conservar o alvéolo mais tempo para receber reabilitação protética (ANDREASEN; ANDREASEN, 2001 e MARZOLA, 2005). CONCLUSÕES Pode-se concluir que o reimplante dental é um procedimento conservador visando a manutenção alveolar, postergar a confecção de prótese, problemas estéticos e sociais para o paciente, visto que acomete geralmente crianças. Os cirurgiões-dentistas deveriam ter conhecimento do procedimento de reimplantar um dente, pois essa técnica é conservadora e visa reestabelecer a função do elemento dentário dentro do sistema estomatognático por um procedimento relativamente fácil de ser executado. REFERÊNCIAS * AMERICAN ASSOCIATION OF ENDODONTICS. Recommended guidelines for the treatment of avulsed tooth. Chicago, p. 2-3, 1994. ANDREASEN, J. O; ANDREASEN, F. M. Texto e atlas colorido de traumatismo dental. Porto Alegre: Artmed Editora; 2001. ANDREASEN, J. O. Etiology and pathogenesis of traumatic dental injuries. Scand. J. Dent. Res., v. 78, p. 339, 1970. 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