Bienal do Livro do Rio de Janeiro 2015 – Argentina: país homenageado.
Relatório Editorial 2015
A respeito da indústria editorial: Argentina e América Latina:
A Argentina possui um mercado editorial pujante no contexto latino-americano, com
uma indústria inovadora e de grande crescimento que a posicionou como o quarto
editor no contexto ibero-americano, conseguindo a melhor relação por título editado
por habitante na América Latina.
O setor editorial está constituído por um heterogêneo conjunto de empresas no qual se
distinguem dois grupos: um majoritário, integrado por empresas pequenas –nacionais
e estrangeiras- e um reduzido número de empresas de maior tamanho, em sua
maioria, transnacionais. Ambos os grupos têm representação nas Câmaras do Livro
cujos relatórios especializados mostram que existem no país em torno de 350 editoras
do chamado Setor Editorial Comercial (SEC), das quais 80% se concentram na Capital
Federal e na província de Buenos Aires.
A Câmara Argentina do Livro, um dos entes representativos do setor, está integrada
por mais de 200 empresas entre as quais se encontram editores, distribuidores,
importadores e livreiros. O outro é a Câmara Argentina de Publicações (CAP), que tem
em torno de 70 sócios entre os quais também há editores, distribuidores e
importadores, porem não livrarias. Tanto umas quanto as outras participam dos
distintos segmentos do mercado, as empresas grandes, que costumam agrupar
várias editoras, concentram quase as três quartas partes do mercado e são as
que contribuem com 45% dos títulos publicados.
Por último, uma rápida segmentação do mercado de acordo com a temática
editada permite diferenciar quatro grandes aspectos:
•
De interesse geral: Literatura; Temas atuais e jornalísticos (ficção e não ficção)
•
Textos: Ensino fundamental, médio e ensino de idiomas
•
Científico / Técnico / Profissional: Ciências sociais; Economia, negócios,
administração, marketing; Informática, Internet e afins; Filosofia; Artes; Línguas;
Ciências médicas; Ciências puras; Tecnologia; Geografia, história; etc. Também inclui
livros universitários e de idioma não utilizados na educação básica
•
Religioso: Religião ocidental, Teologia, Orientalismo, etc.
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Preço uniforme de venda para o público:
Outra característica destacável que apresenta esta indústria é que as editoras e/ou os
importadores que fixam o preço de venda para o público (PVP). O referido preço é
único para todo o país, com pouquíssimas exceções. Esta determinação foi
disposta em 2001 através da chamada Lei de Defesa de Atividade Livreira ou de
Preço Uniforme de Venda para o Público (N° 25.542).
A existência de um valor único tem vários objetivos, entre os quais podem se destacar:
•
Preservar a existência das livrarias de menor tamanho, ao evitar que as
editoras vendam seus livros a um preço inferior para os canais varejistas com maior
poder de negociação;
•
Proteger a diversidade na oferta de títulos, dado que ao impedir a concorrência
por preços entre livrarias, evita “desnatar” o negócio das livrarias independentes,
pequenas e/ou especializadas, que podem sustentar mediante as vendas dos
produtos de saída mais rápida –onde competem com as grandes-, um estoque mais
completo de livros mais especializados ou de ciclo de vida mais longo, supostamente
mais valiosos a partir de um ponto de vista cultural, ideológico ou científico;
•
Limita a possibilidade de que as editoras, especialmente as de textos, vendam
diretamente ao público ou a certos grupos de consumidores (cooperativas escolares
ou grupos de estudantes) com menor preço do que as livrarias de bairro ou de
localidades afastadas.
Com relação à estrutura impositiva do setor, vale destacar que a venda de livros
está isenta do pagamento do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA), mas não
dos demais elos que intervêm nesta cadeia.
Um pouco de história...
Ao fim do século XIX e princípios do XX, começaram a aparecer as primeiras editoras,
as quais em sua maioria publicavam autores europeus. Estas empresas pioneiras se
consolidaram depois da primeira guerra mundial, quando começaram a publicar obras
de autores argentinos ou traduções realizadas no país de autores estrangeiros. Assim,
chegaram a ser registrados em torno de 800 títulos distintos por ano. Também
nasceram outras editoras especializadas (em temáticas ou profissões determinadas),
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especialmente na impressão de papelaria comercial. Perto do final desta etapa
começaram a ser diferenciadas as distintas atividades da produção do livro
Durante a década de 40 e princípios de 50, a indústria editora viveu sua época de
esplendor, em que a Argentina chegou a liderar o mercado hispanoparlante. Em tal
sentido, é reconhecida a contribuição dos exilados espanhóis estabelecidos na
Argentina depois da Guerra Civil Espanhola, que tiveram um papel determinante no
desenvolvimento da indústria editorial local.
Nesta época, surgiram numerosas empresas, editores, livreiros e oficinas gráficas e a
produção de livros registrou um importante crescimento, entre os quais vale destacar a
editora Losada, Sudamericana, Seix-Barral, Espasa-Calpe e Tor, dentre muitas outras.
na última metade da década de 30 (1936-39) a produção editorial foi de 22 milhões de
livros e superou a 250 milhões entre 1940 e 1949. Essa produção se elevou entre
1950 e 1959 para 283 milhões, para baixar para 238 milhões entre 1960 e 1969
(Getino, O. 1995). O ponto mais alto nesta etapa foi em 1953 com um total de quase
51 milhões de exemplares e uma tiragem média de 11 mil exemplares. Vale destacar
que nos anos 40 as exportações chegaram a representar entre 60 e 70 por cento
da produção local.
Entre os anos 50 e 60, foi registrado um contínuo aumento de custos e falta de divisas;
foram estabelecidos controles para a exportação e restrições para as importações.
Não obstante a isso, para a segunda metade da década de 60 a indústria editorial
começou a se recuperar e aumentaram as exportações.
No início dos 70 a produção de livros voltou a aumentar, alcançando seu ponto mais
alto em 1974 com quase 50 milhões de exemplares editados e uma tiragem média de
10 mil exemplares por título. Depois do início da ditadura militar esta indústria
sofreu uma forte queda, passando dos 41 milhões de exemplares em 1976 aos
31 milhões em 1979.
Em princípios da década de 80, começou a ser aplicado o ISBN. Durante o período
1980-89 foram produzidos quase 176 milhões de livros.
Nos anos 90, novas empresas entraram no mercado, algumas empresas nacionais
foram adquiridas por capitais estrangeiros e certos grupos empresariais se fundiram. O
grupo espanhol Planeta adquiriu Emecé, Seix-Barral, Ariel e Espasa Calpe dentre
outras. Por sua vez, a editora familiar Sudamericana foi adquirida por Random House
Mondadori, pertencente ao grupo alemão Bertelsmann, que controla Lumen, Grijalbo
e Plaza y Janés, dentre outras.
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O terceiro grande participante com forte presença nesta década foi o grupo
Prisa-Santillana, que controlava as editoras Alfaguara, Aguilar e Taurus como
catálogos de destaque no campo da literatura e o ensaio e os títulos educativos da
editora Santillana.
Foi observado também um importante processo de concentração da oferta. Da mesma
forma aumentou a quantidade de livros oferecidos tanto no mercado interno quanto no
externo.
No ano de 2014, a editora Random House Mondadori comprou Ediciones General
Santillana (exceto Alfaguara infantil e juvenil) o que a transforma no líder
mundial do setor editorial mundial.
Um fenômeno de destaque no campo da edição argentina se deu como resultado
de uma das piores crises recentes da economia no ano de 2001. Daquele ano até
hoje, as chamadas editoras independentes conformam 16% do mercado, com
catálogos cuidadosos e estratégicos nos quais se destacam a pluralidade e a
bibliodiversidade como eixos cardinais. Nomes tais como Eterna Cadencia,
Marea, Mardulce, La Bestia Equilátera, Caja Negra, Pánico al pánico, Funesiana e
a peculiar Eloísa Cartonera conseguiram consolidar um segmento de leitores no
mercado argentino.
Canais de distribuição e venda: a importância das livrarias
Na etapa de distribuição e comercialização intervêm os distribuidores (atacadistas), os
importadores e os canais de venda varejistas. Vale destacar que algumas editoras,
principalmente as especializadas em livros de textos, vendem diretamente para o
Estado para que este através do Ministério da Educação e a Comissão Nacional de
Bibliotecas Populares -CONABIP- os distribua para as instituições educativas e para
as bibliotecas de todo o país.
Os principais postos de venda varejistas são as livrarias. Estima-se que no país
existem em torno de 2000, as quais estão concentradas em sua maioria na Capital
Federal (que por outro lado ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de
quantidade de livrarias por habitante) e na província de Buenos Aires.
A evolução recente desta via comercial permite estabelecer uma tipologia baseada na
propriedade dos comércios, na qual podem se distinguir dois grandes grupos: as
cadeias e as livrarias independentes. O primeiro é conformado por livrarias grandes,
modernas, de temática geral, e que podem estar vinculadas a empresas editoriais ou
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de distribuição de livros. O outro corresponde às livrarias um pouco mais tradicionais,
em alguns casos com uma maior tendência à especialização temática, e que –em
geral- não se encontram integradas à edição ou à distribuição. Segundo Leandro de
Sagastizábal (2012), a distribuição poderia estar entre 15 e 20 por cento para as
grandes e o restante para o segundo.
Principais destinos do comércio exterior
Mais de 50% das importações estão concentradas em dois países principais,
encabeçadas pela Espanha (35%). China (20,4%) e Uruguai (6,8%) seguem na lista
de grandes fornecedores de livros no país. A outra metade das importações se divide
entre Chile (5,7%), Estados Unidos (4,5%), Brasil (4,5%) e outros.
Desde 2012, mais de 96% dos valores exportados correspondem a países
americanos. Os principais compradores de livros nacionais são: Chile (18,2%),
Uruguai (15,3%), Peru (14,4%), México (9,1%) e Paraguai (8,3%). O primeiro destino
fora da América Latina é a Espanha (3,2%)
Dados de destaque da Argentina:
•
A Argentina é o país da América Latina no qual a maior proporção dos leitores
de livros lê por prazer ou gosto, com 79% da população entrevistada.
•
Na Argentina, 70% da população declara ter lido pelo menos um livro por ano,
cifra que localiza o país no primeiro lugar da região em termos de leitura de livros.
•
Na Argentina o estado apoia a tradução de títulos de autores nacionais para
línguas estrangeiras através do Programa Sul de Apoio às Traduções. Desde sua
criação em 2009, o Programa Sul, dependente da Chancelaria Argentina, aprovou 854
solicitações de tradução de obras de mais de 360 autores argentinos, que foram
publicadas ou serão publicadas em 44 países e em 38 idiomas.
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Síntese do relatório editorial 2015
(Cifras)
•
28.010 títulos registrados e 128.929.260 exemplares dos quais 11.996
títulos e 24.089.511 de exemplares pertencem a empresas editoriais que
distribuem diretamente ou em livrarias (Setor Editorial Comercial ou SEC)
•
O Setor Editorial Comercial está composto por 717 empresas das quais
54% imprime mais de 4 títulos por ano.
•
A tiragem mais frequente no Setor Editorial Comercial é de 3000 exemplares
•
A Cidade de Buenos Aires e o Grande Buenos Aires concentram 75% da
produção geral e 86% do Setor Editorial Comercial.
•
A respeito dos suportes, o livro eletrônico se mantém constante
concentrando 16% dos registros mostrando um maior grau de concentração entre as
editoras universitárias (públicas e privadas) onde quase 4 títulos de cada 10 são em
formato digital.
•
As principais temáticas registradas no SEC são a literatura (29%) e os
livros infanto-juvenis (21%) seguido em menor escala pelas Ciências Sociais
(11%)
Fonte: Agência Argentina de ISBN
Fonte: O Relatório Oficial – Câmara Argentina de Publicações
Fonte: Relatório de produção editorial – Câmara Argentina do Livro.
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