doi:10.3900/fpj.2.4.207.p EISSN 1676-5133 Desenvolvimento motor do bebê: efeito de um programa sensório-motor em prematuros em unidades de CTI Artigo Original Vernon Furtado da Silva Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ciências da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco / RJ [email protected] Alair Pedro Ribeiro de Souza e Silva Laboratório de Integração Sensório-Motora PROCIMH Universidade Castelo Branco-RJ Departamento de Biociências da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro Laboratório de Mapeamento Cerebral do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro Bolsista de Pesquisa de Pós-graduação da FUNADESP [email protected] SILVA, V.F., SILVA, A.P.R.S.S. Desenvolvimento motor do bebê: efeito de um programa sensório-motor em prematuros em unidades de CTI. Fitness & Performance Journal, v.2, n.4, p.207-212, 2003. RESUMO: O presente estudo investigou os efeitos de cuidados fisioterápicos com estruturação psicomotora, sobre o desenvolvimento motor em recém nascidos prematuros. Quatorze bebês internados em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal, com idade gestacional entre 30 e 36 semanas, compuseram grupos denominados de intervenção (GI) e convencional (GC). O grupo GI participou de um programa específico de intervenção, enquanto que o segundo foi mantido sob forma do tratamento convencional. Durante o Programa, estes foram testados em fatores relativos a respostas reflexas, tônicas e posturais através do teste Neurologic Assessment in the Preterm Newborn Infant (NAPI). Os resultados das comparações destas com respostas normais do bebê, revelaram que o grupo de intervenção evidenciou uma melhoras significativas em relação ao grupo convencional, sendo que em algumas avaliações indicaram uma estabilização na evolução dos ganhos referentes aos três fatores estudados, As diferenças principais entre os grupos foram interpretada como tendo sido motivadas pelo impacto do programa sobre o organismo dos bebês do grupo de intervenção. A estabilização foi vista como decorrente de uma fase de acomodação orgânica, pressupostamente associada a fatores maturacionais. Todas as significâncias estatísticas reveladas estão associadas a ganhos superiores do GI sobre o GC, fato discutido como associado ao trabalho de intervenção sensório motriz aplicada sobre os bebes no grupo que participou do programa de intervenção. Palavras-chave: Prematuridade, intervenção precoce, maturidade, desenvolvimento motor Endereço para correspondência: Estrada Benvindo de Novaes, 2555 – bl 3 apt 805 – Recreio dos Bandeirantes – Rio de Janeiro – CEP 22783-010 Data de Recebimento: maio / 2003 Data de Aprovação: junho / 2003 Copyright© 2003 por Colégio Brasileiro de Atividade Física, Saúde e Esporte. Fit Perf J Rio de Janeiro 2 4 207-212 jul/ago 2003 207 ABSTRACT RESUMEN Infant motor development: effects of a sensory-motor program on premature infants in ITC Desarrollo motor de bebé: efecto de un programa sensorio-motor en prematuros en unidades de CTI The present study examined the effects of a physiotherapy approach for the treatment of premature newborn infants. Two groups, each one including 7-premature infants were studied in terms of posture, reflexes, and muscle tone gains. The groups were named as Intervention (IG) and conventional (CG). There were four evaluations occurring throughout the periods of intervention for the IG, and normal treatment for the CG. The instrument for evaluation was the Neurologic Assessment in the Pre-term Newborn Infant (NAPI). There were four evaluation sections. Results revealed a tendency of the IG to obtain more gains upon the three factors studied, even that on some evaluation sections the CG revealed higher gains. However, the statistical analyses performed upon the scores of gains between groups over the three factors of development reveled that all significant differences found were related to the IG gains. Such gains were interpreted as motivated by the impact of the intervention upon the newborn infants of the IG. The stabilization in gains was justified as related to maturational development. The gains were presented as support for the necessity of using the in sensory motor approach for treatment of premature infants. El presente estudio investigó los efectos de cuidados fisioterápicos con estructuración psicomotora, sobre el desarrollo motor en recién nacidos prematuros. Catorce bebés internados en Unidades de Terapia Intensiva Neonatal, con edad gestacional entre 30 y 36 semanas, compusieron grupos denominados de intervención (GI) y convencional (GC). EL grupo GI participó de un programa específico de intervención, mientras que el según fue mantenido bajo forma del tratamiento convencional. Durante el Programa, estos habían sido comprobados en factores relativos la respuestas reflejas, tónicas y posturales a través del test Neurologic Assessment in the Preterm Newborn Infant (NAPI). Los resultados de las comparaciones de estas con respuestas normales del bebé, revelaron que el grupo de intervención evidenció una mejoras significativas en relación al grupo convencional, siendo que en algunas evaluaciones indicaron una estabilización en la evolución de los ganados referentes a los tres factores estudiados, Las diferencias principales entre los grupos habían sido interpretada como habiendo sido motivadas por el impacto del programa sobre el organismo de los bebés del grupo de intervención. La estabilización fue vista como decurrente de una fase de acomodación orgánica, presupuestamente asociada a factores maduracionales. Todas las acepciones estadísticas reveladas están asociadas a ganados superiores del GI sobre el GC, hecho discutido como asociado al trabajo de intervención sensorio motriz aplicada sobre los bebes en el grupo que participó del programa de intervención. Keywords: Premature, sensory motor intervention, motor development Palabras clave: prematuridad, intervención precoz, madurez, desarrollo motor INTRODUÇÃO O nascimento de uma criança traz com ele uma série de expectativas, dúvidas e preocupações, além da alegria natural da família. A saúde do bebê, é, como não poderia deixar de ser, a preocupação imediata da equipe médica envolvida no trabalho de parto. Na gestação a termo, as possibilidades de complicações clínicas são normalmente pequenas comparadas a casos de prematuridade do nascido. Neste caso, um caminho natural para o qual um recém-nato é normalmente conduzido é a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), visto as necessidades urgentes para preservação da vida do mesmo. Os cuidados desenvolvidos normalmente nestas unidades tendem a ser prioritariamente aqueles conduzidos pelo médico e focalizam condutas muitas vezes invasivas tais como entubações oro-traqueais, cateterismo umbilical, acesso venoso periférico e outras intervenções tão importantes quanto estas. De uma forma geral, a UTIN promove uma privação dos estímulos sensoriais naturais que a ambiência social normal ofereceria a uma criança nascida a termo. O estudo ora apresentado considera seu problema a investigação sobre o desenvolvimento motor do bebê e o efeito de um programa sensório motor em prematuros em unidade de CTI, na busca de um melhor entendimento sobre os aspectos intervenientes ao descrever e comparar os grupos. OBJETIVO O objetivo deste estudo centra-se na comparação entre grupos dos efeitos de um programa sensório motor em prematuros em unidade de CTI em bebês. 208 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS Helders, et all (1998), por exemplo, verificaram que uma das mais perturbadoras privações que um bebê nesta situação experimenta, é a relacionada ao fator tátil-cinestésico que normalmente é suprido em ambiências de contato materno ou por contatos de estimulação associada. Normalmente o equilíbrio da ambientação do bebê é um evento desejável uma vez que proporciona a via de interação no processo de transição de um estado mórbido para um mais ainda. A questão relativa ao equilíbrio ambiental é altamente significativa, devido ao fato de que uma quantidade exacerbada de estímulos normalmente inclui um percentual considerável de eventos negativos que consequentemente prejudicam a estabilidade clínica daquele. Outros fatores citados na literatura como altamente prejudiciais à saúde e recuperação no nascimento prematuro são as necessárias providências médicas que agridem o organismo e que de certa forma interferem no seu equilíbrio (ex., medicação intravenosa, agressões motivadas pela ventilação mecânica, barulho e alta luminosidade além de outros). Somados estes problemas seriamente repercutem nos componentes comportamentais do bebê, incluindo aquelas que se constituem sob forma de padrões de respostas reflexas e motoras que interagem no processo de desenvolvimento motor e geral. Com o avanço tecnológico e o desenvolvimento de pesquisas vinculadas ao tema em questão, as intervenções hospitalares têm permitido um significativo aumento da sobrevida de recém nascidos prematuros, incluindo os de muito baixo peso (próximo a 1000 gramas), entretanto a custas de uma internação Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 4, 208, jul/ago 2003 mais prolongada e privativa. Tal como Bauchner et alls (1988) se expressam, se por um lado a tecnologia é um instrumento importante na reabilitação de recém-natos, o seu devido uso é uma providência que precisa ser bem administrada. Reflexos da privação que uma delongada permanência na UTIN incide, podem ser apontados como sendo de ordem física e psíquica. Na de natureza física se incluem na perda da qualidade do tônus, devida manutenção da postura e das respostas posturais, nível das atividades reflexas, além de outras (Mello et alls, 1998; Kakebeeke et alls, 1999; Van-Der-Fits et alls, 1999). Embora, como pode ser observado na literatura referente, um bulk avolumado de pesquisas sobre este tema tenha contribuído para o desenvolvimento de técnicas interventivas e reabilitadoras na terapia em prematuros, até a presente data parece inexistir uma metodologia que se adeque a variedade de componentes correlatos e indispensáveis a uma visão holística da terapia. Em outras palavras, a ênfase da presente pesquisa concentra-se na expectativa de que um método que possa conjugar detalhes de adequação de todos os inconvenientes que uma internação prolongada em uma UTIN expõe o prematuro, pode, em hipótese, ser uma prática eficiente no tratamento deste indivíduo. Ou seja, a questão aqui exposta se anexa a possibilidade de que um método que inclua estimulações tátil cinestésicas, normalizações posturais, estímulo à sucção não nutritiva, favorecimento do ciclo circadiano, ou seja amplamente interativo, possa ou não minimizar as evoluções negativas que uma internação de tal ordem produz sobre o desenvolvimento neuromotor da criança prematura. Assim sendo, na presente pesquisa o objetivo principal se interliga a investigar respostas relativas a esta hipotética noção. MÉTODOS A amostra componente deste estudo foi selecionada em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), no Estado do Rio de Janeiro, sendo estudados 14 recém-nascidos variando entre 30 e 36 semanas de idade gestacional, evidenciando ultra-som Transfontanela (USTF) de aspecto normal afastando a possibilidade de existência de qualquer lesão que comprometa o desenvolvimento do sistema nervosos central (SNC). Estes recémnatos foram posteriormente separados em dois grupos distintos, denominados grupo de intervenção (GI) e grupo de tratamento convencional (GC). O primeiro grupo, ou seja, o composto por recém-nascidos prematuros que necessitaram de cuidados específicos de uma UTIN, foi submetido ao programa de intervenção reflexo-tônico-postural a partir da data de admissão hospitalar. O segundo grupo de recém-natos portadores das mesmas características, seguiu sem intervenções específicas, recebendo o tratamento comumente utilizado naquele hospital. Procedimentos preliminares As mensurações das respostas motoras, reflexas e posturais dos neonatos, iniciaram-se na primeira semana de vida de acordo Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 4, 209, jul/ago 2003 com o estado de estabilização clínica mais favorável, e se prolongaram por mais três semanas, sempre com intervalos de sete dias entre as avaliações, totalizando quatro (4) testagens para cada bebê em ambos os grupos. Utilizou-se para tal mensuração, o Neurological Assessment of the Preterm and Full-Term Newborn Infant (NAPI), com exclusão dos itens comportamentais e de habituação, estabelecendo-se então um escore de respostas motoras, reflexas e posturais para cada recém-nascido avaliado. Estes dados foram considerados como dados de base (baseline data). Procedimentos de intervenção: programa de intervenção reflexo-tônico-postural Este Programa é caracterizado por uma metodologia que abrange uma série de condutas interventivas e muitas vezes reabilitadoras aplicadas sistematicamente em bebês de risco internados em uma UTIN. Tem, este, o objetivo de minimizar os efeitos nocivos que um período prolongado de exposição à ruídos, estímulos dolorosos, privações tátil cinestésicas, e outras, que de maneira global afetam o desenvolvimento motor destes recém-nascidos. O grupo de bebês submetidos a este programa, foi mantido em posicionamentos de controle postural no leito desde a data de sua admissão na unidade, buscando-se, com isto, aproximar o tônus fisiológico flexor próprio ao parâmetro indicado para recém natos a termo (Bèziers 1994). Incluiu-se aqui um padrão de simetria entre seus dimidios, mantendo a cabeça constantemente na linha média em posição neutra entre flexão/extensão, na tentativa de atenuar a atividade reflexa primitiva, além de melhorar a qualidade dos movimentos amplos próprios do prematuro (Van-der-Fits et alls, 1999). A manutenção do controle postural segui-se por todo o período de investigação, sendo mais tarde proporcionado ao bebê a vivência de posturas variadas como a diversificação de decúbitos, sempre visando o sentido de simetria e flexão fisiológica. Em outra etapa do programa houve a implantação da sucção não nutritiva desde a introdução da dieta por bomba infusora, através do estímulo a sucção do dedo mínimo do examinador e mais tarde coma chupeta marca Nuck, própria para prematuros. O uso da chupeta, como um fator positivo descrito por Woodson & Hamilton (1988), reduz a frequência cardíaca do bebê prematuro, e consequentemente o gasto energético. Este naturalmente favorece a percepção da criança para estímulos em outros subsistemas, entre os quais o neuronal e o sensitivo. Outra preocupação do programa foi favorecer o sistema neurovegetativo destes prematuros, através da ambientação entre dia e noite, considerando-se que o ambiente da UTIN não proporciona esta variação de luminosidade. Por conseguinte, constituindo-se um fator de desequilíbrio e de desestabilidade clínica. Isto em virtude do desligamento de algumas luzes dentro da unidade, tornando assim o ambiente mais escurecido, e ao mesmo tempo, mantendo-se um aparato como um lençol de textura mais grossa encobrindo cada leito, outra providência que diminuí a incidência da claridade diretamente sobre o bebê. como consequência o ciclo vigília / sono destes bebês será favorecido. 209 Somados a estas condutas, o incentivo ao contato com o colo da mãe logo após a estabilidade clínica foi realizado, permitindo assim que a privação tátil cinestésica anteriormente relatada fosse gradualmente reduzida. Em outras palavras, o que este programa pretende alcançar, é uma relativa diminuição da agressão sofrida pelo recém-nascido no período de hospitalização, enfatizando a qualidade das respostas reflexas, tônicas e posturais, isto em virtude de serem estes fatores essenciais no processo de um favorável desempenho neuromotor global. Instrumentos de medidas Tanto na fase de coleta de dados de base, quanto na de pós programa os instrumentos de medidas utilizados foram a qualidade do tônus em repouso e ao movimento espontâneo, qualidade das respostas reflexas e movimentos e posturas adotadas pelo recém-nascido, todas verificadas através do NAPI. Os critérios de avaliação incluíram sinais de anormalidades tais como os mostrados no QUADRO 1 relacionando as principais características motoras deste com o respectivo grupo controle. A interpretação do exame, foi feita de acordo com as orientações da Avaliação Neonatal Neurocomportamental de Bebês a Termo e Prematuros (NAPI). Tratamento dos dados Os dados pré e pós programa foram tratados através de estatística descritiva e inferencial. Na parte descritiva as unidades de interesse foram a média e o desvio padrão intragrupos. Para as inferências a serem feitas relativamente a comparação entre grupos, foi utilizado uma Análise de variância não paramétrica (Krhus Wallis Test) para cada fator em estudo, com verificações posteriores da significância detectada por cada análise principal. O índice de significância definido para o teste de hipótese foi o convencional para pesquisas desta natureza, ou seja, alpha = ou < 0.05. De acordo com aqueles critérios, os recém-nascidos (RN) foram relacionados como tendo o resultado do exame, normal, suspeito ou alterado. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para o exame ser considerado normal, o RN teria que apresentar tônus normal para a idade gestacional, e não mais do que 1 sinal de anormalidade. O exame suspeito demonstrava 2 sinais de anormalidade ou, 1 sinal de anormalidade + controle da cabeça sub-ótimo. E o anormal, queda de cabeça importante + hipotonia de tronco ou, 3 sinais de anormalidade (Dubowitz et alls. 1984). As médias dos grupos de intervenção e convencional, estão mostradas na Tabela 1, para todas as modalidades investigadas. Uma vez definido que um bebê se inseria em uma destas classificações, o mesmo era submetido a um estudo comparativo, Tabela 1 – Média dos grupos por área de avaliação nas 4 etapas do programa de intervenção reflexo-tônico-postural Fatores estudados Grupos 1ª Avaliação 2ª Avaliação 3ª Avaliação 4ª Avaliação Tônus GI GC 33.5 27 35.6 26.2 33 29.2 33.8 33 Postura GI GC 19.8 19.6 24.5 18.8 21.3 21.6 22.8 24.5 Reflexos GI GC 22.3 19 24 20.6 22.3 23.2 23.5 24.2 Fonte: Os autores deste estudo Estes resultados revelam que os efeitos do programa de intervenção reflexo-tônico-postural, foi significativamente favorável ao grupo participante deste programa, fato que pode ser inferido através de uma análise junto a tabela já referida. Comparandose as várias avaliações efetivadas no curso do Programa Interventivo, pode-se perceber que os efeitos deste referentemente ao fator tônus foram marcantes durante a primeira etapa (1ª avaliação), estabilizando-se, em tendência, relativamente a 2ª e 3ª etapas e, voltando a crescer na quarta etapa de avaliação. No item postura, uma mesma tendência não ocorreu. Isto é, os escores neste fator indicam que os grupos se desenvolveram aproximadamente iguais relativamente a 1ª e 3ª avaliações, um melhor desenvolvimento para o GI na 2ª , enquanto que o grupo CO revelou-se ligeiramente melhor na quarta avaliação. No que concerne ao fator reflexos, a tendência de maiores ganhos volta a se apresentar, mais apenas em termos das 1ª e Quadro 1 - Sinais de anormalidades e respostas a serem observadas SINAIS DE ANORMALIDADES • Tônus flexor dos braços > que o tônus das pernas • Controle da cabeça anormal • Tremores aumentados + sustos (startles) • Reflexo da moro anormal •Polegar persistentemente aduzido • Assimetrias • Orientação pobre • Movimentos anormais dos olhos • Irritabilidade • Clônus mantido RESPOSTAS A SEREM OBSERVADAS • Respeitar a evolução do tônus do prematuro no sentido podo-cefálico • Tracionado para sentar, sentado, em prono • Observar se ocorrem durante o repouso ou ao movimento ativo • 1ª fase > 2ª fase ou vice-versa, 1ª fase exacerbada ou pobre, 2ª fase exacerbada ou pobre • Observar se nunca abrem ou se abrem ao movimento ativo • RTCA, hemiparesias, diferenças tônicas entre os dimidios • Dificuldade em permanecer no estado 4 da escala de Brazelton • Nistagmo, desvios conjugados, olho de boneca • Choro de difícil consolo • Observar tornozelos, punho e mandíbula Fonte: Os autores do estudo 210 Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 4, 210, jul/ago 2003 2ª avaliações, sendo o grupo CO ligeiramente melhor quando da 3ª e 4ª avaliações. Observa-se, como como detalhe, que apenas no que se refere aos fatores postura e reflexos, na terceira e quarta avaliações respectivas, o grupo CI não revelou-se melhor em ganhos do que o grupo controle (CO). Nas demais, e em todos os fatores trabalhados, o grupo CI obteve melhor resultado. Convém observar aqui, o fato de que quando da realização da primeira avaliação sobre os fatores de estudo, o Programa já havia sido iniciado, fato que provavelmente explica a disparidade entre os escores dos grupos quando daquela avaliação. Esmiuçando-se os escores dos grupos relativamente a cada fator de estudo, verifica-se que em relação as respostas tônicas, os ganhos para o grupo CI verificados entre a 1ª e a 2ª foi em termos de 6.5%, da 2ª para a 3ª ocorreu um decréscimo de 8.0% e da 3ª para a quarta, novamente evidenciaram-se ganhos em termos de 2.5%. Considerando este mesmo fator, para o grupo GC os resultados foram expressos por perda de 3.2%, ganhos de 11.5% e 13.1% quando da 1ª para a 2ª , 2ª para a 3ª e 3ª a 4ª avaliações, respectivamente. Estes resultados estão mostrados, em termos comparativos, na Figura 1. Figura 1 - Resultados das avaliações das respostas de tônus muscular dos grupos CI e CO nas 4 avaliações efetivadas Figura 2 - Resultados das avaliações das respostas posturais dos grupos CI e CO nas 4 avaliações efetivadas Figura 3 - Resultados das avaliações das respostas reflexas dos grupos CI e CO nas 4 avaliações realizadas Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 4, 211, jul/ago 2003 Os resultados relacionados a qualidade das respostas posturais demonstra um ganho significativo no GI relativamente a 1ª para a 2ª avaliação em termos de 24%, enquanto que o GC obteve um pequeno decréscimo em 4.5%. Da 2ª para a 3ª avaliação o GI demonstra uma perda de 15.5%, enquanto que o GC mantêm um ganho de 15%. No resultado final, ou seja, última avaliação (3ª para a 4ª avaliação) observa-se uma retomada em ganhos pelo GI em cerca de 7.5%, e o GC segue a tendência de aumento gradativo, com ganhos de 13.5%. Estes resultados específicos estão plotados na figura 2 abaixo. No que tange aos dados das respostas reflexas, devidamente plotados na figura 3, o que se verifica é ser este o fator mais homogêneo entre os ganhos funcionais estudados nos dois grupos, verificando-se esta homogeneidade em termos médios através das avaliações efetivadas. Na variação da 1ª para a 2ª testagem, o GI obteve ganhos de 8.0% e o GC de 8.5%. Nas respostas da 2ª para a 3ª testagem, houve perda no GI de 8.0% enquanto que o GC permaneceu com ganho de 13%. Da 3ª para a 4ª testagem, a retomada dos ganhos do GI foi de 5.5%, e o GC manteve os ganhos em torna de 4.5%. Os resultados acima apresentados definem relações muito importantes para esta discussão. O mais destacável e, talvez, de maior representatividade em termos dos objetivos deste estudo é o que se refere a disparidade entre os escores dos grupos quando da primeira avaliação. Isto porque, ao se ter em conta que esta avaliação ocorreu após um período considerável do início da aplicação do programa, as diferenças podem ser interpretadas como decorrentes do impacto do trabalho sobre as funções tônica e reflexa dos bebês do grupo envolvido no programa. Uma mesma tendência, entretanto, não foi observado em termos do fator postura. Este impacto é bem definido pela estatística inferencial utilizada para testar as diferenças entre os grupos, a qual revelou uma superioridade significativa do grupo GI sobre o GC com p < 0.001, integrativamente às quatro avaliações realizadas independentemente sobre os fatores tônus e reflexo. Testes posteriores indicaram estar, aquela significância, atrelada aos contrastes das médias de ganhos entre grupos nas 1ª e 2ª avaliações ambas (p < 0.001) e 3ª avaliação (p< 0.05) para o fator tônus. A significância integrada verificada no fator reflexo, foi relativa aos contrastes das médias entre grupos nas 1ª e 2ª avaliações, sendo p< 0.001 para a primeira e p< 0.05 no segundo contraste. Embora, ainda correspondentemente ao fator reflexo, o grupo GC revelasse maiores ganhos do que o grupo GI nos contrastes das 3ª e 4ª avaliações, estes não se mostraram diferentes em termos estatísticos. Como um todo, os resultados aqui expostos demonstram a grande importância que o tratamento precoce exerce sobre bebês prematuros em CTIs. Em uma primeira análise, este trabalho demonstra ser providencial em efeitos sobre o desenvolvimento destes, uma vez que “de pronto’ permite ao prematuro uma maior condição de integração com o meio ambiente do que aos bebês tratados em formato convencional. Considerando ser, o período pós-natal , um dos mais férteis para a normalidade do seu desenvolvimento perceptivo motor, quanto antes um bebê puder ter o seu aparato 211 sensório-motor apropriado às respostas ambientais, maiores serão os ganhos em seu avançar perceptivo-motor. Para tanto, se faz necessário que o seu estado de alerta bem como, as suas condições tônicas, posturais e reflexas, dentre outras, estejam apropriadas ao impacto da estimulação ambiental e predispostas a efetivação de respostas correspondentes. Em termos do presente estudo, o que se pode verificar, é o fato de somente para os bebês incluídos no grupo GI, as condições aproximadamente adequadas para o desenvolvimento destas funções estavam presentes desde o ingresso destes no CTI. Os tratados através do formato convencional, levaram um tempo longo para disporem das mesmas condições, e mesmo assim, em alternâncias que durante o período de desenvolvimento do Programa Interventivo, se mostraram limitadas em relação ao grupo GI. Uma vez conhecida as interferências que o meio ambiente proporciona ao processo de desenvolvimento de recém-nascidos, e as vantagens do grupo GI sobre o GC para receber, em forma mais efetiva, as estimulações advindas desta interação, faz-se necessário sugerir que futuras pesquisas nesta direção específica, possa utilizar um programa semelhante com um maior intervalo de tempo das intervenções propostas. Pesquisas deste tipo, certamente poderão oferecer mais bases para definir as proporções de viabilidade e vantagens que este método possa ou não ter sobre outros correlatos no tratamento de bebês prematuros. Em uma segunda, mais não menos importante análise, o que também se pode inferir aqui, é que, logicamente, o processo de amadurecimento do sistema nervoso (SN) precisa ser considerado em termos dos resultados observados através do desenvolvimento deste estudo. Com certeza, este permeou muitas das modificações comportamentais dos grupos. Não se pode avaliar, até que ponto este variante influenciou mais, ou menos, os resultados observados. No caso, por exemplo, da maior tendência do grupo GC para gradativamente evoluir em funções reflexo-tônico-postural, comparativamente ao grupo GI, pode ser um indicativo dos efeitos do amadurecimento cerebral diferenciado entre eles. O que ocorre, entretanto, é que o efeito paralelo desta variante deu-se, em forma inicial, mais lenta para o grupo GC. Ou seja, retardando o processo de desenvolvimento global do grupo, condição indesejável ao desenvolvimento harmonioso e “preenchido” de atividades de interação que a dialética do processo desenvolvimentista da criança preconiza e requer. BOS, A.F.: (1998) Analysis of movement quality in preterm infants. Eur-J-Obstet-gynecolReprod-Biol. Jan; 76 (1): 117-9. CONCLUSÃO KAKEBEEKE, TH.; VON-SIBENTHAL, K.; LARGO, RH.: (1998) Movement quality in Preterm infants prior to term. Biol-Neonate. 73 (3): 145-54. Em suma, a partir de uma análise detalhada dos resultados experimentalmente trabalhados neste estudo, verifica-se que quatro semanas de intervenção em recém-nascidos prematuros hospitalizados em Unidades de Tratamento Intensivo Neonatal, parece ser um tempo muito curto para que se possa definir as influências reais que o programa proposto pode, em plenitude, exercer sobre esta especial população. Por outro lado, o que se pode com certa convicção também perceber, é o fato de que a intervenção neonatal se faz necessária logo nos primeiros dias de internação, proporcionando aos sistemas sensorial, tônico, postural e reflexo as condições semelhantes que a ambiência domiciliar vivenciada por recém-nascidos normais experimentam. MAYERHOF, P. G.: (1990) O neonato de risco: proposta de intervenção no ambiente e no desenvolvimento. Fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional em pediatria. S.l. Sarver. P.246-76, ilus. Tab. (Monografias Médicas: Pediatria, 32). 212 REFERÊNCIAS BÈZIERS, MM.; HUNSINGER, Y.: (1994). Coordination motrice et psychomotrice du tout petit. (O bebê e a coordenação motora). Simmus. São Paulo. BOS, A.F.; MERTIJN, A.; VAN-ASPEREN, R.M.; HADDERS-ALGRA, M.; OKKEN, A.; PRECHTEL, H.F.: (1998) Qualitative assessment of general movements in high-risk preterm infants. J-Pediatr. Feb; 132 (2): 300-6. 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