Entrevista para o LAPPIS com Paulo Henrique 1. Como surgiu a idéia de criar o Núcleo de Pesquisa Cidadania, Exclusão e Processos de Mudança (NUCEM)? A sua participação no Núcleo é desde a fundação? Sim, sou fundador do NUCEM juntamente com Breno Fontes e o Núcleo funciona regularmente desde 1995. Esta iniciativa resultou de duas preocupações: por um lado, meus trabalhos sobre exclusão social e, por outro, os do Breno sobre movimentos sociais. Também tive na época uma boa aproximação com a sociologia clínica e com seus dois mais importantes representantes na França, Eugène Enriquez e Vincent de Gaulejac. Esta subdisciplina sociológica aproxima as ciências sociais da psicanálise e enfatiza processos de facilitação de grupos, o que foi muito importante para despertar em mim o interesse em compreender as motivações e disposições subjetivas do bem-estar humano. Naquele momento, entendemos que havia uma demanda específica para os estudos de cidadania na área das ciências sociais e igualmente o interesse de aprofundar o debate teórico relativo às condições culturais e simbólicas de surgimento da cidadania democrática e as implicações das práticas de intervenção (governamental e não-governamental) em áreas de crescente exclusão social. 2. O que este Núcleo trouxe de ganhos para o campo das ciências sociais, em especial para o estudo da temática Saúde? Em geral, tenho dito isso várias vezes, as ciências da saúde têm se preocupado mais em expandir os estudos sociológicos sobre a saúde que a própria sociologia acadêmica. No interior das ciências sociais, a sociologia da saúde tem tido ainda espaço periférico. Neste sentido, é de se reconhecer os méritos das sociólogas Soraya Cortez da UFRGS e Maria Helena Oliva Augusto, da USP, que vêm organizando desde os anos noventa um Grupo Temático sobre Sociologia da Saúde nas reuniões da Sociedade Brasileira de Sociologia. Mas, na ANPOCS, maior entidade das ciências sociais no Brasil, o debate ainda é periférico. Quem tem avançando mais na reflexão são os antropólogos. Os sociólogos ainda estão buscando dar mais visibilidade a seus estudos. O NUCEM se incorpora neste esforço de aproximação da sociologia acadêmica com as ciências sociais na saúde e com este propósito temos participado periodicamente de atividades como a da ABRASCO e outras associações e também dado conferências em universidades, hospitais etc. com vistas a promover esta aproximação. 3. Como surgiu o foco sobre a temática da Saúde em seus estudos sociológicos? Surgiu um pouco por acaso. Em 1994, fui procurado por alunos da graduação para dar um apoio político aos estudantes das residências estudantis da UFPE onde havia acontecido recentemente dois suicídios seguidos, ocorrendo igualmente um principio de pânico e surtos depressivos entre os estudantes-moradores. Os estudantes me procuraram para ter o apoio dos professores contra uma certa tendência na reitoria da UFPE de desresponsabilizar os gestores e de culpabilizar os próprios estudantes pelo acontecido. Houve inclusive uma interpretação complicada e fascista de um médico ligado à Reitoria de que haveria uma relação suspeita entre pobreza e tendências suicidas (???). A partir daí decidi fazer uma pesquisa-ação sobre o caso que foi bastante interessante ao permitir compreender mais de perto a relação entre normalidade institucional e condições de saúde. Minha conclusão foi de que as residências constituíam espaço de acolhimento para os jovens pobres de cidades do interior. Assim, na medida em que a reitoria demonstrou descaso com a qualidade de moradia das Casas, isto rebateu diretamente nas condições psíquicas e emocionais dos jovens. A partir desta pesquisa, iniciei outra sobre as terapias alternativas e progressivamente fui me aproximando dos estudos sobre a saúde. 4. Qual foi o caminho percorrido até o LAPPIS e como surgiu a oportunidade de fazer parte do grupo? Penso que sobre o assunto a Alda Lacerda e a Roseni Pinheiro podem dar mais informações esclarecedoras. Mas esta aproximação se fez progressivamente. Conheci pessoalmente ambas as pequisadoras no encontro da ABRASCO em Florianópolis. Desde então, vimos mantendo intercâmbio o que resultou na participação das mesmas em um livro que organizei com a antropóloga Roberta Campos intitulado Polifonia do dom (Recife, Editora Universitária, 2006). Temos conversado sobre novos projetos. 5. Como professor recém ingressado no LAPPIS o que você pode trazer de enriquecedor para o Laboratório e que podemos oferecer em termos acadêmicos para o NUCEM? Creio que o mais importante é esta aproximação institucional e interdisciplinar o que terá efeitos muito favoráveis em termos de enriquecimento das pesquisas nas ciências sociais em saúde e na sociologia da saúde, no Brasil. 6. O que você destacaria de interessante nas pesquisas em andamento no NUCEM, ligadas à temática saúde? Temos alguns projetos em andamento integrando diversos professores seniors, estudantes de mestrado, de doutorado, de graduação e também parceiros externos. Procuramos definir um eixo central de pesquisas que articula os demais. No período de 2005-2007 desenvolvemos um estudo sobre Redes Sociais e Saúde (Ministério da Saúde/CNPq) que implicou em pesquisa de campo com famílias de usuários, agentes de saúde e de gestores em quatro cidades do Brasil: Recife, Fortaleza, Campinas e Porto Alegre. Agora, em 2007 estamos iniciando ova pesquisa Sobre Redes, Determinantes Sociais e Saúde (Ministério da Saúde/CNPq/FACEPE) que dá continuidade à pesquisa anterior buscando aprofundar a compreensão dos indicadores conceituais na saúde, visto que os indicadores estatísticos tradicionais se mostram insuficientes para permitir o surgimento do paradigma da promoção na saúde. Enfim, a melhor compreensão de temas como dádiva, redes, capital social, reconhecimento, organizações, por um lado, e a articulação destes conceitos em torno da discussão sobre democracia, associação e esfera pública, por outro, são fundamentais para nossas pesquisas. Pensamos que nesta direção o LAPPIS e o NUCEM têm vários pontos de convergência e de parcerias, a médio prazo.