KARINA DE FALCO MARTINS AVALIAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS, CLÍNICAS E POLIMORFISMO GENÉTICO COMO FATORES DE RISCO PARA O PROLAPSO PÉLVICO EM MULHERES BRASILEIRAS Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Ciências SÃO PAULO 2010 KARINA DE FALCO MARTINS AVALIAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS, CLÍNICAS E POLIMORFISMO GENÉTICO COMO FATORES DE RISCO PARA O PROLAPSO PÉLVICO EM MULHERES BRASILEIRAS Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Ciências Orientadora: Profa. Dra. Marair Gracio Ferreira Sartori Co-orientadores: Prof. Dr. Manoel João Batista Castello Girão Prof. Dr. Ismael Dale Cotrim Guerreiro da Silva Profa. Dra. Zsuzsanna Ilona Katalin Jármy-Di Bella SÃO PAULO 2010 Martins, Karina de Falco Avaliação das características demográficas, clínicas e polimorfismo genético como fatores de risco para o prolapso pélvico em mulheres brasileiras. / Karina de Falco Martins. – São Paulo, 2010. xi, 43f. Tese (Mestrado): Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação do Departamento de Ginecologia. Título em inglês: Collagen type 3 alpha 1 polymorphism as a risk factor for genital prolapse. Palavras-chave: 1. Prolapso genital; 2. Colágeno tipo III; 3. Fatores de risco; 4. População brasileira; 5. Polimorfismo no exon 31; 6. Gene COL3A1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA Departamento de Ginecologia Chefe do Departamento: Prof. Dr. Afonso Celso Pinto Nazário Coordenador do Curso de Pós-graduação: Prof. Dr. Manoel João Batista Castello Girão iii Dedicatória Aos meus pais, Antonio e Irilda, pelo incentivo constante aos meus estudos e pelo exemplo de humildade e honestidade A minha irmã Kamilla, por sua preocupação e pela força nos momentos difíceis; Ao meu marido Leonardo. Obrigada por não me deixar desistir e, principalmente, por compreender minha ausência. Te amo muito; A Cecília, amiga de todas as horas; Ao tio Luizinho, onde quer que esteja, muito obrigada por tudo. Sem você nada disso seria possível... iv Agradecimentos Primeiramente, agradeço a Deus, pela chance de estar aqui e entre pessoas tão importantes para meu crescimento profissional e como ser humano. Ao Prof. Dr. Manoel João Batista Castello Girão, pela oportunidade de entrar nesta família, que é como considero a Escola Paulista de Medicina, e por ser um verdadeiro exemplo de profissionalismo, competência e ao mesmo tempo humildade. À Profa. Dra. Marair Gracio Ferreira Sartori, pela orientação, paciência e palavras de carinho nos momentos de desânimo. Ao Dr. Rodrigo de Aquino Castro e Dra. Zsuzsanna Ilona Katalin Jármy-Di Bella, pelo empenho, dedicação e apoio em todas as etapas da pesquisa. Ao Prof. Dr. Ismael Dale Cotrim Guerreiro da Silva, que foi o grande incentivador deste estudo e que gentilmente abriu as portas de seu laboratório de Ginecologia Molecular para que as análises fossem realizadas. Obrigada pelas orientações. Aos meus amigos de ambulatório. Obrigada por fazerem parte da minha história e por trazerem alegria a minha vida. À Dra. Eliana Zucchi e Dr. Sérgio Brasileiro, amigos e conselheiros. Obrigada pelo carinho. À minha companheira de pesquisa Andrea Moura Rodrigues, pela ajuda na coleta do material e também nas incansáveis correções textuais. Aos funcionários do Departamento de Ginecologia, em especial a: Karim Martins dos Santos, sempre tão prestativa e solícita. À Profa. Dra. Cristina Valletta de Carvalho, muito obrigada pelos ensinamentos e por me ajudar a compreender melhor a Biologia Molecular. Sem você, realmente seria impossível. v Aos funcionários do setor de Climatério e, em especial ao Prof. Mauro Abi Haidar. Sem vocês, a realização deste trabalho não seria possível. Aos funcionários do Laboratório de Ginecologia Molecular: Érika Knabben de Lima, Ana e Elenir, pela enorme ajuda na execução das reações. Agradeço ainda, a Camila Guindalini, pela ajuda na realização da análise estatística. vi À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo apoio financeiro. vii Sumário Dedicatória............................................................................................................. iv Agradecimentos..................................................................................................... v Lista de tabelas...................................................................................................... ix Lista de Abreviaturas e Símbolos.......................................................................... x Resumo.................................................................................................................. xi 1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 1 2. PROPOSIÇÃO................................................................................................... 8 3. CASUÍSTICA E MÉTODOS............................................................................... 10 3.1 Casuística........................................................................................................ 11 3.2 Métodos........................................................................................................... 14 3.3 Análise estatística........................................................................................... 16 4. RESULTADOS.................................................................................................. 18 5. DISCUSSÃO...................................................................................................... 26 6. CONCLUSÃO.................................................................................................... 30 7. ANEXOS............................................................................................................ 32 8. REFERÊNCIAS................................................................................................. 39 Abstract viii Listas de tabelas Tabela 1 – Teste de Shapiro-Wilk para a normalidade da distribuição dos dados... 17 Tabela 2 – Média, desvio padrão, mediana, valores máximo e mínimo das variáveis quantitativas em estudo, assim como os resultados do teste de Mann-Whitney e o valor de p correspondente........................ 19 Distribuição das variáveis qualitativas nos grupos caso e controle, assim como o teste de X2 e o valor de p correspondente.................... 20 Números observados e esperados de amostras apresentando cada um dos três genótipos em estudo. Teste qui-quadrado para desvio do equilíbrio de Hardy-Weinberg.......................................................... 21 Distribuição dos genótipos nos casos e controles, assim como o teste de Qui-Quadrado e o valor de p correspondente........................ 22 Distribuição dos alelos nos casos e controles, assim como o teste de X2 e o valor de p correspondente.................................................... 22 Regressão logística multivariada com cálculo de OR e p correspondentes aos possíveis fatores de risco para prolapso genital.. 23 Número e frequência de mulheres de acordo com o relato de pelo menos um parto normal, assim como o teste de Qui-Quadrado e o valor de p correspondente.................................................................... 24 Distribuição dos genótipos nos grupos caso e controle, assim como o teste de Qui-Quadrado e o valor de p correspondente, considerando as pacientes com pelo menos um parto normal............ 24 Tabela 10 – Distribuição dos genótipos agrupados nos grupos caso e controle, assim como o teste de Qui-Quadrado e o valor de p correspondente, nas pacientes com pelo menos um parto normal................................. 24 Tabela 11 – Distribuição dos alelos nos grupos caso e controle, assim como o teste de X2 e o valor de p correspondente, considerando pelo menos um parto normal................................................................................... 25 Tabela 12 – Modelo final após análise das pacientes que relatavam pelo menos um parto normal................................................................................... 25 Tabela 3 – Tabela 4 – Tabela 5 – Tabela 6 – Tabela 7 – Tabela 8 – Tabela 9 – ix Lista de Abreviaturas e Símbolos cvt Comprimento vaginal total A Adenina Alu 1 Endonuclease de restrição COL3A1 Cadeia alfa 1 do colágeno tipo 3 cp corpo perineal G Guanina HFD História familiar de distopia hg Hiato genital ICS Sociedade Internacional de Continência IMC Índice de massa corpórea pb Pares de bases PCR Reação de Polimerase em Cadeia POP-Q Quantificação de prolapso dos órgãos pélvicos RN Recém-nascido SNP Polimorfismo de nucleotídeo único X2 Qui-quadrado x Resumo Objetivo: verificar a possível associação entre a presença do polimorfismo no exon 31 do gene do COL3A1 e a ocorrência de prolapso genital em uma amostra da população brasileira. Casuística e Métodos: estudo caso controle envolvendo 316 pacientes estadiadas para prolapso genital, utilizando-se o sistema de quantificação de prolapso dos órgãos pélvicos (POP-Q), padronizado pela Sociedade Internacional de Continência (ICS). O grupo caso foi constituído por 107 pacientes nos estádios III e IV e o grupo controle por 209 mulheres nos estádios 0 e I. Aplicouse a estas pacientes a anamnese dirigida, com o objetivo de avaliar a presença ou não dos principais fatores de risco para prolapso genital (história obstétrica, idade da menopausa, história familiar, tosse crônica e constipação intestinal). Foi realizada, ainda, coleta de 5 ml de sangue periférico para extração do DNA leucocitário. O fragmento a ser estudado (exon 31 do gene do COL3A1) foi amplificado por meio de reação de polimerase em cadeia (PCR). Para a comparação das variáveis qualitativas foi utilizado o teste de Qui-quadrado (X2). Para as variáveis quantitativas foi optado pelo teste de Mann-Whitney U, já que estas variáveis não tiveram padrão de distribuição normal na população. Para o cálculo do valor de odds ratio e Intervalos de Confiança foi utilizada Regressão Logística Binária. O valor de significância estatística estabelecido foi de 5%, ou p<0,05 e o intervalo de confiança foi de 95% (95% IC). Os indivíduos homozigotos mutados e heterozigotos foram analisados e englobados em um só grupo e comparados com os homozigotos selvagens para a alteração genética pesquisada. Toda a análise estatística foi realizada com o software Statistical Package for Social Sciences, version 14.0. Resultados: Com relação às variáveis quantitativas, foram observadas diferenças significativas para todas (p<0,05), com exceção da idade da menopausa. Já na análise das variáveis qualitativas, observamos que só houve diferença significante para as mulheres que apresentavam história familiar de prolapso genital. Não houve diferença estatisticamente significante quanto à presença do polimorfismo em questão em ambos os grupos estudados, considerando que os genótipos em estudo encontravam-se em Equilíbrio de Hardy-Weinberg. Conclusão: a presença de polimorfismo no exon 31 da cadeia alfa 1 do gene do colágeno tipo III não é fator de risco para prolapso genital na amostra da população brasileira estudada. Palavras-chave: Prolapso genital; Colágeno tipo III; Fatores de risco; População brasileira; Polimorfismo do exon 31; Gene COL3A1. xi 1. INTRODUÇÃO 2 Introdução Define-se prolapso genital a descida de uma ou mais estruturas como parede vaginal anterior, parede vaginal posterior, colo uterino ou ápice vaginal (nos casos pós histerectomias), sendo que os sintomas passam a ser relevantes quando as estruturas referidas atingem ou ultrapassam o hiato genital (Haylen et al., 2010). O prolapso genital é entidade complexa, com etiologia multifatorial e vários fatores predisponentes que incluem gravidez, partos vaginais, idade avançada, variação de estrutura esquelética, comprometimento neuromuscular, fatores congênitos, genéticos e raciais e doenças do tecido conectivo (Connolly, Thorp Jr, 1999; Marchionni et al., 1999; Pompeu, 2004; Towers, 2004). Pode ter como fator agravante as doenças pulmonares obstrutivas, o hipoestrogenismo, a obstipação crônica, a desnutrição, as atividades profissionais e esportivas, o tabagismo e as cirurgias pélvicas prévias. É responsável por sintomas como: dor, atribuída ao estiramento progressivo dos ligamentos, os quais se acham relacionados com terminações nervosas sensitivas; disúria, polaciúria, urgência, incontinência ou, retenção urinária, isolados ou associados, dependendo da idade, duração e do grau do prolapso1. A infecção urinária de repetição é também relatada (Shull, 1993). O prolapso acomete cerca de 2,1 em cada 1.000 mulheres, sendo responsável pela cifra de 400.000 procedimentos cirúrgicos anualmente nos EUA (Mallet, Bump, 1994). A paridade é considerada o maior fator de risco. Alguns autores relataram aumento nas taxas de prolapso em mulheres com pelo menos um parto vaginal quando comparadas com nulíparas (Odds ratio 4.7 x 0.13) (Carley et al., 1999; MacLennan et al., 2000). Entretanto, o parto vaginal por si só, falha em explicar totalmente a gênese e progressão das desordens do assoalho pélvico visto que já foram observados prolapsos severos e incontinência urinária em mulheres nulíparas e ausência em multíparas, além de longo período de tempo entre os partos e o aparecimento de estágios avançados da distopia genital (Meeks et al., 1994; Davis, 1996; Harris et al., 1998; Visco, Yuan, 2003). Também a macrossomia fetal correlacionou-se como fator contribuinte para o prolapso (Swift et al., 2001). 1 Unifesp.br [sítio na Internet]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; c2006 [atualizado 2006 Jun 3]. Disponível em: http://www.unifesp.br 3 Introdução Com relação à raça, no estudo WHI (Women’s Health Initiative), mulheres da raça negra tiveram menor risco para prolapso, enquanto mulheres hispânicas tinham risco maior (Hendrix et al., 2002). Swift et al. (2001) encontraram diferença significativa ao comparar taxas de prolapso em mulheres brancas e não brancas. O estado menopausal também influencia a sua ocorrência, sendo observados 74,2% das pacientes com distopia na pósmenopausa (Sartori et al., 1993). O prolapso pode ocorrer no compartimento anterior, médio ou posterior da pelve. No compartimento anterior, podemos encontrar prolapso da uretra, da bexiga ou de ambos. Já no compartimento médio, podemos encontrar o prolapso uterino, da cúpula vaginal ou enterocele e no compartimento posterior, o prolapso do reto. Assim, a Sociedade Internacional de Continência (ICS), a Sociedade Americana de Uroginecologia e a Sociedade dos Cirurgiões Ginecológicos propuseram uma nova classificação, mais objetiva, visando uniformizar as descrições sobre as distopias genitais. Elaboraram o protocolo de padronização (Arthanasiou et al., 1995) que, em 1996, foi adotado e validado formalmente (Bump et al. 1996), após estudos mostrarem a capacidade de realização do método, variabilidade intra e inter observador e sua utilidade clínica. O examinador deve identificar o ponto de maior distopia pedindo a confirmação da paciente, com esforço (Valsalva), inclusive de pé ou por meio de tração do ponto máximo de prolapso. O hímen passou a ser o ponto de referência e o prolapso quantificado em centímetros a partir do mesmo. Se acima do hímen, será negativo (-1,-2 e -3 cm) e, se abaixo, será positivo ( +1, +2 e +3 cm). Descrevem-se os pontos de referência sendo dois pontos na parede anterior, dois na superior e dois na posterior. O ponto Aa (ponto A da parede vaginal anterior) está localizado três centímetros para dentro do hímen na linha média da parede anterior da vagina. Sua posição varia de -3 cm a +3 cm. Para sua determinação, coloca-se marcação (régua) no ponto -3 cm em repouso e observa-se onde ele se localiza quando a paciente faz esforço. 4 Introdução O ponto Ba (ponto B da parede vaginal anterior) representa o ponto de maior prolapso da parede vaginal anterior. Na ausência de prolapso, ele se localiza em -3 cm e se há prolapso total ele equivale ao comprimento vaginal total. Para sua determinação, utiliza-se espéculo de Sims para afastar a parede vaginal posterior e pede-se para a paciente fazer esforço, sendo que o ponto que mais exteriorizou será o ponto Ba. O ponto C é o ponto mais distal do colo uterino ou da cúpula vaginal pós-histerectomia. Para sua determinação, localiza-se o colo, encosta-se a marcação (régua) no colo e pede-se para a paciente fazer esforço. Dessa forma, determina-se até onde o colo vai em direção ao hímen. O ponto D está localizado no fórnice vaginal posterior, na altura da inserção dos ligamentos uterossacrais. Na ausência do útero, este ponto é omitido. Ao se determinar o fórnice posterior, coloca-se a marcação e pede-se a paciente para que faça esforço e com isso encontra-se o ponto D. O ponto Ap está localizado na linha média da parede vaginal posterior, e é análogo do ponto Aa. O ponto Bp representa o ponto de maior prolapso da parede vaginal, e é posterior, análogo do ponto Ba. O comprimento vaginal total (cvt) é a medida da maior profundidade vaginal. Para ser calculado não é necessário realização de esforço pela paciente. O hiato genital (hg) é a medida do meato uretral externo até a linha posterior do hímen ou fúrcula, determinada em repouso. O corpo perineal (cp) é a medida da fúrcula até o centro do orifício anal. Também não necessita de esforço da paciente para sua mensuração. Após a determinação dos pontos, classificam-se os prolapsos em: ● Estádio 0: ausência de prolapso. Os pontos Aa, Ap, Ba e Bp estão em -3cm, e os pontos C e D estão entre o CVT e o CVT -2cm. ● Estádio I: ponto de maior prolapso está localizado até 1 cm para dentro do hímen (-1cm). ● Estádio II: o ponto de maior prolapso está localizado entre -1cm e +1cm (entre 1 cm acima e 1 cm abaixo do hímen). 5 Introdução ● Estádio III: o ponto de maior prolapso está a mais de 1 cm para fora do hímen, porém sem ocorrer eversão total. ● Estádio IV: eversão total do órgão prolapsado. O ponto de maior prolapso fica no mínimo no comprimento vaginal menos dois cm. Em estudo realizado pela UNIFESP em 2003, para testar a reprodutibilidade interobservador, foram avaliadas 51 pacientes e houve concordância em mais de 86%, mostrando que a nova classificação é reprodutível (Feldner et al., 2003). Para Swift et al (2001) somente 2% das pacientes avaliadas pela nova classificação como estádio 2 tinham queixa importante de “bola na vagina”, aumentando para 78% nas com estádio 3. Estima-se que em 2050, o Brasil contará com aproximadamente 9 milhões de mulheres com 80 ou mais anos. Frente ao envelhecimento da população, à grande morbidade proporcionada pelo prolapso genital e aos elevados custos do tratamento, pode-se concluir que estamos frente a um importante problema de saúde pública. Vários estudos têm relacionado a diminuição da quantidade de colágeno com a distopia genital. Mulheres com doenças do tecido conectivo, como a síndrome de Marfan ou Ehlers-Danlos têm altas taxas de prolapso genital (33% e 75%, respectivamente) (Carley, Shaffer, 2000). O colágeno é uma proteína estrutural, cuja função é promover elasticidade da pele, ossos e tendões. No trato geniturinário, confere estabilidade mecânica. Há mais de 19 tipos de colágeno, sendo que os tipos I e III são os principais componentes estruturais dos tecidos epiteliais (Jackson et al., 1996). O colágeno tipo III forma fibras menores e finas, responsáveis pela flexibilidade e distensibilidade do tecido. É encontrado em pele, aorta, pulmões, útero, fáscias e ligamentos (Fitzgerald et al., 2000). É uma proteína heterotrimérica composta de duas cadeias -1 e uma cadeia -2 (Figura 1). Essas cadeias têm estrutura espacial semelhante, mas são codificadas por diferentes genes. O gene que codifica a cadeia -1 é chamado de COL3A1 e se localiza no cromossomo 2q24.3–q31 (Figura 2), devendo estar rigidamente coordenado e regulado para formar uma proteína com estrutura correta (Chou et al., 2004). 6 Introdução Figura 1 – Esquema de hélice tripla de colágeno. Figura 2 – Cromossomo 2q24.3-q31 Os ligamentos e a fáscia vaginal têm predomínio de colágeno tipo III, que permite a acomodação da estrutura em casos repentinos de aumento da pressão abdominal e passagem de um feto, por exemplo. Se o colágeno sofre alterações, a pelve fica propensa ao prolapso, já que a fáscia e ligamentos são colocados sob tensão durante períodos de pressão intra abdominal. Muito já se tentou correlacionar a diminuição do colágeno tipo III e a presença de prolapso genital, mas os estudos são inconclusivos devido à heterogeneidade da população estudada, e aos diferentes locais de biópsia e dos testes bioquímicos utilizados. Os estudos também são falhos, pois uma paciente que hoje não está acometida da patologia em questão poderá, futuramente, estar incluída entre as portadoras de distopia (Jeon et al., 2009). Portanto, elas deveriam ser avaliadas periodicamente para uma melhor conclusão. Os polimorfismos são marcadores genéticos que ocorrem quando um locus tem dois ou mais alelos, cujas frequências excedem a 1% na população. O polimorfismo de nucleotídeo único é um local no DNA em que um 7 Introdução único par de bases varia de pessoa para pessoa, em uma determinada população (Rodrigues et al., 2008). Chou et al. (2004) estudaram 100 pacientes com prolapso de valva mitral e 243 pacientes, na mesma faixa etária e sem prolapso de valva mitral e descobriram aumento significativo na frequência do alelo G do polimorfismo no exon 31 da cadeia alfa 1 do colágeno tipo III. Estes achados provavelmente possam estar correlacionados a um defeito generalizado do tecido conjuntivo podendo afetar articulações, pele e suporte pélvico; o que nos despertou interesse em realizar este estudo. No trabalho citado anteriormente e também em nossa pesquisa, o que ocorre é a substituição do aminoácido alanina pela treonina nos indivíduos homozigotos acometidos pelo polimorfismo. É sabido que a treonina possui uma cadeia alifática de hidroxila mais hidrofílica que a da alanina, o que poderia desenrolar a conformação helicoidal tripla do colágeno tipo III, afetando assim, a resistência à ruptura de suas fibras (Kluivers et al., 2009). As alterações no assoalho pélvico advindas de todos os fatores etiológicos variam individualmente, e parecem determinar o prolapso genital apenas em mulheres com predisposição para o seu desenvolvimento (Norton, 1993). Os defeitos estruturais ou bioquímicos dos componentes de sustentação do assoalho pélvico poderiam contribuir para a distopia genital (Gill, Hurt, 1998). Por isso a identificação precisa das pacientes com risco aumentado para desenvolver prolapsos genitais seria revolucionária no sentido preventivo desta alteração. Assim, se poderia influenciar a escolha da melhor via de parto, já que há grande discussão entre os pesquisadores em se considerar os riscos e benefícios da cesariana eletiva e do parto normal no que se refere aos danos causados às estruturas pélvicas e perineais (Sultan, Stanton, 1996; PatersonBrown, 1998; Scott, 2002). Além disso, permitiria uma melhor avaliação das pacientes candidatas a cirurgias vaginais corretivas de prolapsos genitais, identificando aquelas com maior risco de recorrências (Benson et al., 1996). 2. PROPOSIÇÃO 9 Proposição Propusemo-nos, no presente estudo, avaliar se o polimorfismo no exon 31 da cadeia alfa-1 do colágeno tipo III é fator de risco para o desenvolvimento de prolapso genital. 3. CASUÍSTICA E MÉTODOS 11 Casuística e Métodos Todas as etapas deste trabalho seguiram as normas de boas práticas em estudos clínicos envolvendo seres humanos, de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, e foram aprovadas previamente pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina (UNIFESP / EPM) (Anexo 1). Trata-se de estudo caso controle no qual foram selecionadas 316 mulheres no ambulatório de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal e no ambulatório de Climatério, ambos pertencentes ao Departamento de Ginecologia da UNIFESP-EPM, no período de agosto de 2006 a agosto de 2007. As pacientes foram recrutadas pelo pesquisador principal e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP-EPM (Anexo 4). Todas as pacientes submeteram-se a anamnese dirigida e exame ginecológico, no qual foi realizado o estadiamento do prolapso genital utilizandose o sistema de quantificação de prolapso dos órgãos pélvicos (POP-Q), padronizado pela ICS (Bump et al., 1996). 3.1 Casuística 3.1.1 Grupo Caso Foram selecionadas 107 pacientes com diagnóstico de prolapso dos órgãos pélvicos nos estádios III e IV (POP-Q / ICS). 3.1.1.1 Critérios de inclusão Diagnóstico, por exame físico, de prolapso dos órgãos pélvicos nos estádios III e IV (POP-Q / ICS). História clínica compatível com pós-menopausa (ausência de fluxo menstrual há pelo menos um ano). Ausência de terapia hormonal há pelo menos seis meses. 12 Casuística e Métodos 3.1.1.2 Critérios de não inclusão Não permissão da paciente em realizar a coleta sanguínea após ter sido esclarecida sobre o estudo. 3.1.1.3 Características do grupo caso Idade: variou entre 43 e 84 anos, média de 66,4 anos (Tabela 2). Raça: 39 (36,4%) pacientes foram classificadas como “não brancas”. Esta categoria foi composta por pacientes que haviam sido individualmente registradas como pardas ou como negras e que, pela possível imprecisão dos dados em um país onde predomina a miscigenação racial, como o Brasil, foi reclassificada apenas como “não brancas”. As 68 pacientes restantes (63,6%), foram classificadas como brancas (Tabela 3) (Norton, 1993; Visco, Yuan, 2003; Parra et al., 2003). Índice de massa corporal: variou de 19,1 a 41,5 kg/m2, com média de 27,8 kg/m2 (Tabela 2). História familiar de distopia genital: 30 (28%) pacientes relataram possuir parentes de primeiro grau com histórico de distopia genital (Tabela 3). Antecedentes obstétricos: a paridade média foi de 4,5. Noventa e sete e meio por cento das mulheres que apresentaram prolapso tiveram pelo menos um parto normal. A média de partos normais foi de 4,01, a de cesarianas foi de 0,24; a de partos com uso de fórcipe foi de 0,25. A média de peso do maior recém-nascido foi de 3.820g (Tabela 2). Todas as pacientes se encontravam na pós-menopausa e não usavam terapia hormonal. A idade média da menopausa foi de 48,8 anos (Tabela 2). Tosse crônica: 12 (11,2%) das pacientes relataram possuir tosse crônica (Tabela 3). Constipação intestinal crônica: 29 (27,1%) das pacientes disseram possuir constipação intestinal (Tabela 3). 13 Casuística e Métodos 3.1.2 Grupo Controle Foram incluídas 209 mulheres sem prolapso dos órgãos pélvicos, ou seja, nos estádios 0 e I (POP-Q / ICS). 3.1.2.1 Critérios de inclusão Pacientes com estadiamento de prolapso 0 e I (POP-Q / ICS). História clínica compatível com pós-menopausa (ausência de fluxo menstrual há pelo menos um ano). Ausência de terapia hormonal há pelo menos seis meses. 3.1.2.2 Critérios de não inclusão Pacientes que realizaram qualquer tipo de cirurgia vaginal prévia. Não permissão da paciente em realizar a coleta sanguínea após ter sido esclarecida sobre o estudo. 3.1.2.3 Características do grupo controle Idade: variou entre 50 e 84 anos, com média de 60,9 anos (Tabela 2). Raça: 87 (41,6%) pacientes foram classificadas como “não brancas” e 122 (58,4%) foram consideradas como brancas (Tabela 3). Índice de massa corporal: variou de 15,8 a 37,9 kg/m2, com média de 26,6 kg/m2 (Tabela 2). História familiar de distopia genital: 36 (17,2%) pacientes relataram possuir parentes de primeiro grau com histórico de distopia genital (Tabela 3). Antecedentes obstétricos: a paridade média foi de 2,01. As mulheres sem prolapso (55%) tiveram pelo menos um parto normal. A média de partos normais foi de 1,03, a de cesarianas foi de 0,86, a de partos com uso de fórcipe foi de 0,13. A média de peso do maior recém-nascido foi de 3.451 g (Tabela 2). 14 Casuística e Métodos Todas as pacientes se encontravam na pós-menopausa e sem terapia hormonal. A idade média da menopausa foi de 47,7 anos (Tabela 2). Tosse crônica: 22 (10,5%) das pacientes relataram possuir tosse crônica (Tabela 3). Constipação intestinal: 66 (31,6%) das pacientes disseram possuir constipação intestinal (Tabela 3). 3.2 Métodos 3.2.1 Coleta de dados clínicos As pacientes submeteram-se à anamnese com registro do nome, número do registro hospitalar, idade, raça, história familiar de distopia genital, antecedentes obstétricos, idade da menopausa, uso de terapia hormonal, história de constipação intestinal e tosse crônica. Macrossomia foi definida como o nascimento do bebê com peso superior a 4.000g (Visco, Yuan, 2003, Chou et al., 2004, Pates et al., 2008). Todas as mulheres foram pesadas e medidas para o cálculo do índice de massa corpórea (IMC) e posteriormente submetidas ao exame ginecológico, no qual foi feito o estadiamento POP-Q. 3.2.2 Coleta de material biológico e extração de DNA Foram colhidos 5 ml de sangue venoso de cada participante, em punção periférica de membro superior, utilizando “vacutainer” com anticoagulante EDTA. O sangue foi centrifugado a 2.000 rpm/4ºC (Eppendorf modelo5804R), durante 5 minutos e extraiu-se a fase leucocitária que era armazenada no freezer a 80ºC negativos até a realização da extração do DNA. A extração do DNA genômico foi realizada após o descongelamento da fase leucocitária, utilizando-se o kit comercial (GFX, Amersham Biosciences UK Limited, Buckinghamsire, UK). Este procedimento foi feito da seguinte maneira: 15 Casuística e Métodos adicionou-se 500µl de tampão de lise em 100µl de sangue. Em seguida o lisado foi centrifugado a 8.000 rpm/4ºC (Eppendorf modelo 5804R) por um minuto em coluna cromatográfica (sílica). Após duas etapas de lavagem e centrifugação com tampões contendo etanol, o DNA foi diluído em 100 µl de H2O milli-Q autoclavada e pré-aquecida a 70ºC. O DNA purificado obtido foi armazenado a 20°C negativos até a sua utilização. 3.2.3 Quantificação de DNA A quantidade de DNA foi medida por espectrofotometria (260nm) de alíquotas do DNA purificado, em equipamento da Spectronic, modelo Genesys 5. 3.2.4 Reação em cadeia da polimerase (PCR) A determinação do polimorfismo do COL3A1 foi realizada por reação em cadeia da polimerase (PCR; T Biometra Termociclador pessoal, Whatman Biometra, Goettingen, Alemanha), utilizando 400ng de DNA como modelo. Para a amplificação foram usados Taq DNA primers (Promega, Madison, WI, EUA) obtidos comercialmente. Na primeira etapa da PCR foi utilizada a seguinte seqüência de primers: [senso: 5' – TGC TGG TGC CCC TGG TGA A - 3', antisenso: 5' – ACC CTG AAA ATA AGT GAG A - 3'] (Chou et al., 2004). Os 40 ciclos de amplificação foram precedidas de desnaturação a 95°C por 5 minutos. Recozimento foi realizado em 54,2°C por um minuto, alongamento de 72°C por um minuto, e desnaturação a 95°C por um minuto. Uma extensão de primer final foi realizada a 72°C por sete minutos. O polimorfismo no exon 31 do COL3A1 foi identificado como fragmentos de PCR digeridos pela enzima Alu 1. Os produtos destas reações foram aplicados em gel de agarose a 3%, corados com brometo de etídeo (1µg/ml) e submetidos a eletroforese por 20 minutos a 100 Volts, em uma cuba horizontal contendo tampão de corrida TAE 1X. A detecção foi feita pela visualização dos produtos de PCR no gel de agarose, em transiluminador de luz ultravioleta. A não digestão do fragmento apresentou-se como uma banda única de 183 pares de bases (pb) (AA), o alelo G homozigoto foi digerido em 119 e 64 pb 16 Casuística e Métodos de comprimento (GG), e o heterozigoto (GA) apresentou três fragmentos de 183, 119 e 64 pb (Figura 3). O homozigoto selvagem é aquele indivíduo desprovido da alteração genética, ou seja, aquele que não sofreu a substituição da base guanina pela adenina no exon 31 da cadeia alfa do colágeno tipo 3, e portanto de genótipo GG. Este é nosso grupo controle. O indivíduo heterozigoto é o composto pelo genótipo GA e o mutado, pelo genótipo AA, ou seja, ambos apresentam os alelos mutados. M 183 A/A 119 G/A G/G 64 Figura 3 – Gel de agarose a 3%, corado com brometo de etídio, mostrando produtos de PCR digeridos pela enzima de restrição. M: marcador de peso molecular. Homozigotas selvagens (GG). Heterozigotas (GA). Mutadas (AA). pb: pares de base. 3.3 Análise estatística Estatísticas descritivas foram aplicadas para caracterizar a casuística. O tamanho amostral compôs-se de 107 casos e 209 controles. As variáveis categóricas (qualitativas) foram representadas pela distribuição de frequências e as numéricas foram representadas pela distribuição de variabilidade. 17 Casuística e Métodos Inicialmente, foi verificada a normalidade dos dados quantitativos com a finalidade de compará-los. Para isso, foi utilizado o teste conhecido como Shapiro-Wilk (Tabela 1) e, como a distribuição dos dados não apresentou características de normalidade (p>0,05), optou-se pela aplicação do teste não paramétrico de Mann-Whitney U. Tabela 1 – Teste para a normalidade da distribuição dos dados Teste de Shapiro-Wilk Variável Estatística p Idade 0,96 <0,0001* Gestações 0,79 <0,0001* Parto normal 0,82 <0,0001* Parto cesárea 0,78 <0,0001* Parto fórcipe 0,42 <0,0001* Peso RN 0,99 0,03* Menopausa 0,98 0,001* IMC 0,98 0,001* Então, para comparação de variáveis qualitativas, ou seja, frequências e proporções, foi utilizado o Teste de Qui-Quadrado (X2). Para as variáveis quantitativas foi optado pelo teste de Mann-Whitney U, já que estas não tiveram padrão de distribuição normal na população. A Regressão Logística Binária foi utilizada para o cálculo do valor de Odds Ratio e Intervalos de Confiança 95%, através do método Forward Stepwise. O valor de significância estatística foi estabelecido em 5%, ou p<0,05 e os valores significantes foram assinalados com asterístico. Devido ao fato de que havia poucos homozigotos mutantes (14 casos e 5 controles) na nossa série, os heterozigotos e homozigotos mutantes foram analisados em conjunto na comparação com os homozigotos selvagens. Todas as análises foram realizadas com o software Statistical Package for Social Sciences, versão 14.0. 4. RESULTADOS 19 Resultados Com relação às variáveis quantitativas, foram observadas diferenças significativas para todas elas (p<0,05), com exceção da variável Menopausa, ou seja, a idade do início da menopausa não é diferente entre os grupos caso e controle (Tabela 2). Tabela 2 – Média, desvio padrão, mediana, valores máximo e mínimo das variáveis quantitativas em estudo, assim como os resultados do teste de MannWhitney e o valor de p correspondente Variável Idade Gestações Parto normal Parto Cesárea Parto Fórcipe Peso RN Menopausa IMC N Média dp Mediana Mínimo Máximo Controle 209 60,86 5,70 60 50 84 Caso 107 66,36 9,27 66 43 84 Total 316 62,72 7,56 62 43 84 Controle 209 2,01 1,70 2 0 11 Caso 107 4,50 3,51 3 0 19 Total 316 2,86 2,73 2 0 19 Controle 209 1,03 1,54 0 0 10 Caso 107 4,01 3,61 3 0 19 Total 316 2,04 2,82 1 0 19 Controle 209 0,86 1,06 0 0 5 Caso 107 0,24 0,53 0 0 3 Total 316 0,65 0,96 0 0 5 Controle 209 0,13 0,49 0 0 5 Caso 107 0,25 0,48 0 0 2 Total 316 0,17 0,49 0 0 5 Controle 152 3451,14 640,21 3500 1670 5020 Caso 85 3820,82 698,06 3755 2300 6000 Total 237 3583,73 683,56 3600 1670 6000 Controle 206 47,70 5,63 48 30 60 Caso 102 48,85 5,57 49,5 30 60 Total 308 48,08 5,63 49 30 60 Controle 209 26,58 4,29 26,50 15,81 39,50 Caso 107 27,79 4,50 27,20 18,60 41,50 Total 316 26,99 4,39 26,64 18,81 41,50 dp: desvio padrão p <0,0001* <0,0001* <0,0001* <0,0001* 0,001* 0,0002* 0,15 0,03* 20 Resultados Já na análise das variáveis qualitativas, podemos observar que só houve diferença significante para as mulheres que apresentavam história familiar de prolapso genital (Tabela 3). Tabela 3 – Distribuição das variáveis qualitativas nos grupos caso e controle, assim como o teste de X2 e o valor de p correspondente Raça Grupo Controle Caso Branca Não-Branca 122 58,4% 87 41,6% 209 68 63,6% 39 36,4% 107 HFD Não Controle Caso Total Sim 173 82,8% 36 17,2% 209 77 72,0% 30 28,0% 107 Tosse Crônica Não Controle Caso Total Sim 187 89,5% 22 10,5% 209 95 88,8% 12 11,2% 107 Constipação intestinal Não Controle Caso Total Total Sim 143 68,4% 66 31,6% 209 78 72,9% 29 27,1% 107 HDF: história familiar de distopia X 2 p 0,79 0,37 X2 p 5,01 0,02* X 2 0,03 X 2 0,67 p 0,85 p 0,41 21 Resultados Não houve diferença estatisticamente significante quanto à presença do polimorfismo em questão em ambos os grupos estudados, considerando que os genótipos em estudo encontravam-se em Equilíbrio de Hardy-Weinberg, de acordo com a tabela 4. Tabela 4 – Números observados e esperados de amostras apresentando cada um dos três genótipos em estudo. Teste de qui-quadrado para desvio do Equilíbrio de Hardy-Weinberg Grupo Homozigoto Selvagem Heterozigoto Homozigoto mutado X2 p 125 67 14 1,43 0,23 122,0 73,1 11,0 66 36 5 0,00 0,97 65,94 36,11 4,94 Controle Observada Esperada Caso Observada Esperada 22 Resultados As tabelas 5 e 6 mostram que não foi observada diferença significativa entre os grupos de casos e controles em relação à distribuição genotípica (X2=0,56; p=0,75) e quando analisamos a distribuição alélica entre os grupos (X2=0,20; p=0,66). Como o alelo mutado está presente em uma frequência menor no grupo dos casos (21,5% versus 23,1%), o odds ratio associado a esse alelo não é de risco, e sim, pode ser considerado como de proteção (menor que 1). Tabela 5 – Distribuição dos genótipos nos grupos caso e controle, assim como o teste de qui-quadrado e o valor de p correspondente Exon 31 – Genótipo Grupo S H M Total X2 p 0,56 0,75 Controle 125 60,7% 67 32,5% 14 6,8% 206 Caso 66 61,7% 36 33,6% 5 4,7% 107 S: selvagem H: heterozigoto M: mutado Tabela 6 – Distribuição dos alelos nos grupos caso e controle, assim como o teste de X2 e o valor de p correspondente Exon 31 – Alelo Grupo S Total M Controle 317 76,9% 95 23,1% 412 Caso 168 78,5% 46 21,5% 214 S: selvagem M: mutado X2 p 0,2 0,66 23 Resultados Realizamos também, análise de regressão logística multivariada, onde foram inseridas todas as variáveis em um modelo estatístico e calculamos o efeito de cada variável independentemente. Foi possível verificar que todas as variáveis, com exceção do IMC e parto fórcipe são consideradas fatores de risco independentes para a manifestação do prolapso genital (Tabela 7). Tabela 7 – Regressão logística multivariada com cálculo de Odds Ratio e p correspondentes aos possíveis fatores de risco para prolapso genital Odds Ratio Variável 95,0% IC Inferior Superior p Idade 1,07 1,02 1,12 0,01* HFD 2,73 1,22 6,10 0,01* Parto normal 1,48 1,19 1,84 0,0005* Parto Cesárea 0,38 0,22 0,66 0,001* Parto Fórcipe 1,08 0,58 2,04 0,80 IMC 1,08 1,00 1,16 0,06 Peso (kg) 2,29 1,28 4,11 0,01* HDF: história familiar de distopia Analisamos, ainda, somente as pacientes que haviam relatado pelo menos um parto normal. Aqui incluímos todos os fatores em estudo no modelo e realizamos análise de regressão logística multivariada com o método Forward Stepwise, o qual irá adicionar as variáveis: idade, índice de massa corpórea, raça, menopausa, história familiar de distopia, gestações, parto normal, parto cesáreo, parto fórcipe, peso, tosse crônica, constipação intestinal e Exon 31, uma a uma até o momento em que as variáveis não incluídas no modelo têm valores de p >0,05 e adicioná-las não fará diferença para o modelo (Tabelas 8,9,10 e 11). Como já havíamos observado anteriormente, apenas as variáveis: idade, parto normal, peso do recém nascido e história familiar de distopia são fatores de risco independentes (Tabela 12). Nessa análise, parto cesáreo deixou de ser fator protetor e, mais uma vez, não encontramos significância estatística em relação à distribuição genotípica e alélica. 24 Resultados Tabela 8 – Número e frequência de mulheres de acordo com o relato de parto normal, assim como o teste qui-quadrado e o valor de p correspondente. Obs.: duas das pacientes do grupo controle não foram amplificadas Parto normal Grupo Controle Caso X2 p 68,46 <0,0001* Total Não Sim N 116 93 209 % 55,5 44,5 100 N 8 99 107 % 7,5 92,5 100 Tabela 9 – Distribuição dos genótipos nos grupos caso e controle, assim como o teste de Qui-Quadrado e o valor de p correspondente Exon 31 - Genótipo Grupo Controle Caso S H M N 47 35 9 % 51,6 38,5 9,9 N 61 33 5 % 61,6 33,3 5,1 X2 p 2,68 0,26 Total 91 99 S: selvagem H: heterozigoto M: mutado Tabela 10 – Distribuição dos genótipos agrupados nos grupos caso e controle, assim como o teste de Qui-Quadrado e o valor de p correspondente Exon 31 – Genótipo agrupado Grupo Controle Caso S H+M N 47 44 % 51,6 48,4 N 61 38 % 61,6 38,4 S: selvagem H + M: heterozigoto + mutado Total X2 p 1,92 0,17 91 99 25 Resultados Tabela 11 – Distribuição dos alelos nos grupos caso e controle, assim como o teste de X2 e o valor de p correspondente Exon 31 – Alelo Grupo Controle Caso Total S M N 129 53 % 70,9 29,1 N 155 43 % 78,3 21,7 X2 p 2,75 0,10 182 198 S: selvagem M: mutado Tabela 12 – Modelo final após análise das pacientes que relatavam pelo menos um parto normal Variável Odds Ratio 95,0% IC Inferior Superior p Idade 1,12 1,06 1,19 0,00003* HFD 3,51 1,47 8,40 0,005* Parto normal 1,28 1,03 1,59 0,03* Peso (kg) 3,30 1,71 6,35 0,0004* HFD: história familiar de distopia 5. DISCUSSÃO 27 Discussão Os polimorfismos de nucleotídeo único (SNP) são as mais abundantes sequências de variação do DNA encontradas na espécie humana. São locais no DNA em que um único par de base nitrogenada varia de pessoa para pessoa, servindo, então, como marcadores genéticos que podem ser transmitidos de pai para filho (Kwok, Gu, 1999). Recentemente, surgiram estudos que tentam associar polimorfismos a POP e incontinência urinária. Os pesquisadores querem encontrar um marcador genético que possa prever se uma mulher tem um aumento de risco para distúrbios do assoalho pélvico. Como muitos médicos são confrontados com mulheres solicitando cesáreas eletivas para proteger seu assoalho pélvico e períneo, a capacidade de identificar aquelas em risco para o POP seria bem-vinda (Tranquilli, Garzetti, 1997) Há fortes evidências de que ambas as modificações qualitativas e quantitativas no tecido conjuntivo, especialmente em relação a componente de colágeno, podem ser responsáveis pela falta de suporte do assoalho pélvico (Jackson et al., 1996, Ewies et al., 2003). Este fato pode explicar o interesse crescente em polimorfismos do colágeno. Skorupski et al. (2006) estudaram o polimorfismo do sítio Sp1 do colágeno tipo I em 50 pacientes com incontinência urinária de esforço comparadas com 50 controles. Descobriram que o odds ratio para o desenvolvimento de IUE foi 4,98 em indivíduos que apresentam o genótipo GT e 2,23 para o genótipo TT. Rodrigues et al. (2008) não encontraram uma associação significativa entre este mesmo polimorfismo e a presença de prolapso genital. Chen et al. (2008) investigaram se o POP foi associado com polimorfismos nos exons 30 e 32 do COL3A1 e concluíram que pode sim haver uma associação positiva entre eles. O polimorfismo do exon 31 do COL3A1 causa modificações que podem resultar na síndrome de Ehlers-Danlos tipo IV com anormalidades nas artérias, útero, intestinos, pele e da válvula mitral (Chou et al., 2004). 28 Discussão Este polimorfismo resulta em alterações estruturais, que envolvem a substituição da alanina pela treonina no domínio da tripla hélice α-1 do colágeno III e que parece conduzir a síntese anormal de colágeno tipo III (Jeon et al., 2009). Jeon et al. (2009) estudaram este polimorfismo na população da Coréia e, curiosamente, nas mulheres com o alelo selvagem o odds ratio de prolapso genital foi 3,2 (95% CI 1,4 -7,3). Assim, a presença do polimorfismo atuaria como um fator de proteção para POP. Em nosso estudo, não foi possível identificar qualquer associação entre este polimorfismo e prolapso genital. Os resultados são diferentes, talvez porque estamos lidando com populações geneticamente diferentes. Embora a amostra do grupo controle não tenha sido totalmente homogênea, o modelo de regressão logística foi aplicado para eliminar os fatores de confusão e determinar os fatores de risco independentes. Em nosso estudo, descobrimos que idade, índice de massa corporal, paridade, parto vaginal, parto fórcipe, peso do recém nascido e história familiar positiva para o prolapso foram significativamente diferentes nos indivíduos com prolapso pélvico grave em comparação com indivíduos normais (Tabela 2). Entretanto, a análise de regressão logística multivariada só identificou presença de pelo menos um parto vaginal, recém-nascido com peso superior a 4.000 g ao nascer e história familiar como fatores de risco independentes para o prolapso (Tabela 7). O nascimento da criança por parto vaginal foi considerado por muitos como o principal fator de risco para o prolapso genital, um fato que fomos capazes de confirmar com nosso estudo (Hendrix et al., 2002; Wei, De Lancey, 2004). Na população estudada, 97,5% das pacientes tiveram pelo menos um parto vaginal. Usando o modelo de regressão logística, verificou-se que as mulheres que tinham tido pelo menos um parto vaginal tiveram quase duas vezes mais chance de desenvolver prolapso genital. Parto cesáreo apareceu como fator protetor importante (OR, 0,38; CI, 0.22-0.66). No entanto, muitas mulheres que já pariram poderão nunca desenvolver prolapso genital sintomático, e muitas mulheres que nunca deram a luz, por vezes podem desenvolver prolapso genital. Esses fatos reforçam a hipótese de uma predisposição hereditária para a 29 Discussão patologia em questão. Jack et al. (2005), investigaram a transmissão familiar de prolapso genital em um grupo de dez pacientes com prolapso estágios III e IV. Encontraram risco cinco vezes maior de graves defeitos do assoalho pélvico nas mães, irmãs e avós das pacientes estudadas, o que poderia demonstrar que, dentro dessas famílias, a transmissão desta doença seguiu um padrão de herança dominante, com alta penetrância. Estes resultados suportam a hipótese de que um componente genético ou familiar pode ser a base do risco de uma mulher desenvolver prolapso genital. Em nosso estudo, pacientes com história familiar positiva foram três vezes mais propensas a desenvolver prolapso genital. Uma limitação do nosso estudo é o tamanho da amostra, que é relativamente pequeno. Assim, nossos resultados negativos podem representar resultados falso-negativos. Uma grande coorte seria necessária para confirmar esta falta de associação. Outra limitação é a heterogeneidade dos grupos, considerando as características clínicas. Sabemos que este é um estudo casocontrole em que a amostra deveria ser o mais homogênea possível, por isso utilizamos o modelo de regressão logística. Em conclusão, nossos resultados mostram que o polimorfismo COL3A1 exon 31 não está associado com prolapso genital na população brasileira estudada. Acreditamos que a posterior identificação de outros polimorfismos de nucleotídeo único dos tecidos musculares e conjuntivo pode nos trazer um melhor entendimento da fisiopatologia desta doença para que as ações de prevenção possam ser desenvolvidas. Assim, identificando as mulheres mais susceptíveis a desenvolver desordens do assoalho pélvico estaríamos exercendo melhor a Medicina Preventiva, no sentido de orientá-las para diminuir o risco de serem acometidas por distopias genitais. Também há necessidade de termos visão crítica e certa parcimônia, uma vez que os avanços nas pesquisas genéticas podem ter um aspecto negativo, visto que empresas de seguros podem solicitar um “rastreamento genético” a fim de excluir pessoas geneticamente comprometidas, para determinados cargos (Kluivers et al., 2009). 6. CONCLUSÃO 31 Conclusão O polimorfismo no exon 31 do COL3A1 não tem relação com prolapso genital na amostra da população brasileira estudada. 7. ANEXOS 33 Anexos Anexo 1 – Carta de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. 34 Anexos Anexo 2 – Emenda de solicitação de alteração do método da pesquisa. 35 Anexos 36 Anexos Anexo 3 – Carta de aprovação do CEP, referente à alteração do método. 37 Anexos Anexo 4 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 38 Anexos 8. REFERÊNCIAS 40 Referências Arthanasiou S, Hill S, Gleeson C, et al. Validation of the ICS proposed pelvic organ prolapse descriptive system. Neurourol Urodyn. 1995;14:414-5. Benson JT, Lucente V, McClellan E. Vaginal versus abdominal reconstructive surgery for the treatment of pelvic defects: a prospective randomized study with long-term outcome evaluation. Am J Obstet Gynecol. 1996;175:1418-22. Bump RC, BO K, Brubaker L, et al. The standardization of terminology of female pelvic organ prolapse and pelvic floor dysfunction. Am J Obstet Gynaecol. 1996;175:10-7. Carley ME, Shaffer J. Urinary incontinence and pelvic organ prolapse in women with Marfan and Ehlers-Danlos syndrome. Am J Obstet Gynecol. 2000;182:1021-3. Carley ME, Turner RJ, Scott DE, et al. Obstetric history in women with surgically corrected adult urinary incontinence and pelvic organ prolapse. J Am Assoc Gynecol Laparosc. 1999;6:85-9. Chen HY, Chung YW, Lin WY, et al. Collagen type 3 alpha 1 polymorphism and risk of pelvic organ prolapse. Int J Gynecol Obst. 2008;103:55-8. Chou HT, Hung JS, Chen YT, Yuarn J, Tsai FJ. Association between COL3A1 collagen gene exon 31 polymorphism and risk of floppy mitral valve/mitral valve prolapsed. Int J of Cardiol. 2004;95:299-305. Connolly AM, Thorp Jr JM. Childbirth related perineal trauma: clinical significance and prevention. Clin Obstet Gynecol. 1999;42:820-35. Davis GD. Uterine prolapsed after laparoscopic uterosacral transaction in nulliparous airborne trainees: a report of three cases. J Reprod Med. 1996;41:279-82. Ewies AAA, Al-Azzawil F, Thompson J. Changes in extracellular matrix proteins of the cardinal ligament in postmenopausal women with or without prolapse: a computerized analysis immunohistomorphometric. Human Reproduction. 2003;18:2189-95. Feldner JR, Bezerra PC, Oliveira LRPS, et al. Reprodutividade interobservador da classificação da distopia genital proposta pela sociedade internacional de continência. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 2003:25:353-8. Fitzgerald MP, Mollenhauer J, Hale DS, Benson JT, Brubaker L. Urethral collagen morphologic characteristics among women with genuine stress incontinence. Am J Obstet Gynecol. 2000;182:1565-74. Gill EJ, Hurt WG. Pathophysiology of pelvic organ prolapsed. Obstet Gynecol Clin North Am. 1998;25:757-69. 41 Referências Haylen BT, Ridder DD, Freeman RM, et al. An International Urogynecological Association (IUGA) / International Continence Society (ICS) join report on the terminology for female pelvic floor dysfunction. Int Urogynecol J. 2010;21:5-25. Harris RL, Cundiff GW, Coates KW, Bump RC. Urinary incontinence and pelvic organ prolapsed in nulliparous women. Obstet Gynecol. 1998;92:951-4. Hendrix SL, Clark A, Nygaard I, et al. Pelvic organ prolapse in the Women’s Health Initiative: gravity and gravidity. Am J Obstet Gynecol. 2002;186:1160-6. Jack GS, Nikolova G, Vilain E, et al. Familial transmission of prolapse genitovaginal. Urogynecol Int J. 2005;17:498-501. Jackson SR, Avery NC, Tarlton JF, Eckford SD, Abrams P, Bailey AJ. Changes in metabolism of collagen in genitourinary prolapse. The Lancet .1996;347:1658-61. Jeon MJ, Chung SM, Choi JR, Jung JH, Kim SK, Bai SW. The relationship between COL3A1 exon 31 polymorphism and pelvic organ prolapsed. J Urol. 2009;181:1213-16. Kluivers KB, Dijkstra JR, Hendriks JCM, Lince SL, Vierhout ME, Kempen LCL. COL3A1 2209G>A is a predictor of pelvic organ prolapse. Int Urogynecol J. 2009. Kwok PY, Gu Z. Single nucleotide polymorphism libraries: why and how we build them ? Mol Med Today. 1999;5: 538-43. MacLennan AH, Taylor AW, Wilson DH, et al. The prevalence of pelvic floor disorders and their relationship to gender, age, parity and mode of delivery. BJOG 2000;7:1460-70. Mallet VT, Bump RC. The epidemiology of female pelvic floor disfunction. Curr Opin Obstet Gynecol. 1994;6:308-12. Marchionni M, Bracco GL, Checcucci V, et al. True incidence of vaginal prolapse. Thirteen years of experience. J Reprod Med.1999;44:679-88. Meeks GR, Washburne JF, McGehee RP, Wiser WL. Repair of vaginal vault prolapsed by suspension of the vagina to iliococcygeus (prespinous) fascia. Am J Obstet Gynecol. 1994;171:1444-54. Norton PA. Pelvic disordens: the role of fascia and ligaments. Clin Obstet Gynecol. 1993;36:926-38. Parra FC, Amado RC, Lambertucci JR, Rocha J, Antunes CM, Pena SDJ. Color and genomic ancestry in Brazilians. Proc Natl Acad Sci. 2003;USA(100):177-82. Paterson-Brown S. Should doctors perform an elective cesarean section on request? Yes, as long as the woman is fully informed. BMJ. 1998;317:462-3. 42 Referências Pates JA, McIntire DD, Casey BM, Leveno KJ. Predicting macrosomia. J Ultrasound Med. 2008;27:39-43. Pompeu HH. Mutação no exon 20 do gene da elastina em mulheres com incontinência urinária de esforço decorrente de fatores extrínsecos à uretra [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2004. Rodrigues AM, Girão MJ, Silva ID, Sartori, MG, Martins, KD, Castro RD. COL1A1 Sp1-binding site polymorphism as a risk factor for genital prolapse. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct. 2008. Sartori MGF, Gonçalves WJ, Simões RD et al. Histerectomia vaginal: complicações pós-operatórias. In: 45º Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia, Salvador, 1993. Anais, resumo, 182. Scott JR. Putting elective cesarean into perspective. Obstet Gynecol. 2002;99:967-8. Shull BL (1993) Clinical evaluation of women with pelvic support defects. Clin Obstet Gynecol 36:939 Skorupski, Król J, starega J, et al. Na α – 1 chain of type I collagen Sp – binding site polymorphism in women suffering from stress urinary incontinence. Am J Obstet Gynecol. 2006;194:346-50. Sultan AH, Stanton SL. Preserving the pelvic floor and perineum during childbirth – elective cesarean section? Br J Obstet Gynecol. 1996;103:731-4. Swift SE, Pound T, Dias JK. Case-control study of etiologic factors in the development of severe pelvic organ prolapse. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunction. 2001;12:187-92. Towers GD. The pathophysiology of pelvic organ prolapse. J Pelvic Medicine & Surgery. 2004;10(3):109-22. Tranquilli AL, Garzetti GG. A new ethical and clinical dilemma in obstetric pratice: Cesarean section “on maternal request”. Am J Obstet Gynecol. 1997;177:245-6. Visco AG, Yuan L. Differential gene expression in pubococcygeus muscle from patiens with pelvic organ prolapsed. Am J Obstet Gynecol. 2003;189:102-12. Wei JT, De Lancey JO. Funtional anatomy of the pelvic floor and lower urinary tract. Clin Obstet Gynecol. 2004;47:3-17. Abstract Objective: To verify the possible association between the presence of the polymorphism in exon 31 of COL3A1 gene and the occurrence of genital prolapse in a sample of the population. Methods: case-control study involving 316 patients staged for pelvic organ prolapse, using the system for quantification of pelvic organ prolapse (POP-Q), standardized by the International Continence Society (ICS). The case group consisted of 107 patients with stage III and IV and the control group of 209 women at stages 0 and I. Was applied to these patients anamnesis, in order to assess the presence or absence of major risk factors for genital prolapse (obstetric history, age at menopause, family history, chronic cough and constipation). There was also, collecting 5 ml of peripheral blood leukocyte DNA extraction. The fragment to be studied (exon 31 of COL3A1 gene) was amplified by the polymerase chain reaction (PCR). To compare the qualitative variables we used the chi square (X2). For quantitative variables was chosen by the Mann - Whitney U, as these variables had normal distribution pattern in the population. For the calculation of odds ratios and confidence intervals was used binary logistic regression. The value of statistical significance was set at 5% or p <0.05 and confidence interval was 95% (95% CI). The homozygous and heterozygous mutant were analyzed and grouped into one group and compared with the homozygous wild for the gene studied. All statistical analysis was performed with the Statistical Package for Social Sciences, version 14.0. Results: With respect to quantitative variables, significant differences were observed for all (p <0.05), except for age of menopause. In the analysis of qualitative variables, we found that only significant difference for women who had a family history of prolapse. There was no statistically significant difference regarding the presence of the polymorphism in question in both groups, whereas the genotypes studied were in Hardy-Weinberg. Conclusion: The presence of a polymorphism in exon 31 of alpha chain 1 gene of collagen type 3 is not a risk factor for pelvic organ prolapse in the Brazilian population studied. Keywords: Genital prolapse; Collagen type III; Risk factors; Brazilian population; polymorphism of exon 31; COL3A1 Gene.