População e Sociedade 247 Marcos Couto A presença do oriental em O Mundo Português Este estudo tem como objetivo demonstrar a forma como os habitantes das colónias portuguesas do Oriente foram utilizados, no campo discursivo, pelo Estado Novo de maneira a serem o exemplo do sucesso do empreendimento colonizador português. Integrados no “lar” lusitano, os orientais foram chamados a participar numa trama em que a sua identidade e cultura eram rejeitadas em nome de um ideal de integração em algo superior, a nacionalidade portuguesa. Contudo, da mesma forma que a propaganda do regime promove o orgulho e a felicidade dos indígenas em serem portugueses, não deixa de evidenciar o quanto ainda são primitivos e o quanto necessitam dos portugueses para alcançarem o estatuto de “civilizado”. Esta ambivalência do estereótipo do colonizado é evidente na revista de propaganda colonial O Mundo Português, fonte do trabalho desenvolvido, visto que concentrava nas suas páginas um elevado número de artigos que procuravam formar o espaço multifacetado do Oriente português. Palavras-chave: representações raciais e culturais; alteridade; Estado Novo; imprensa colonial; propaganda Daniel Cravino MARQUES O Estado Novo face à criação de Israel (1946-1953) Os emergentes movimentos de descolonização na Ásia, a democracia, o multilateralismo da ONU e o comunismo na Europa eram uma ameaça para o império português. Portugal procurou conter as ações descolonizadoras de Nova Deli nas suas províncias na Índia. Recorrendo a uma estratégia semelhante à Grã-Bretanha, Lisboa estava preocupada em obter algum apoio dos países muçulmanos ou, pelo menos, mantêlos neutros nesta questão. Contudo, o presidente do Conselho Oliveira Salazar criticava a atitude das políticas britânicas de dividir para governar; não fazia sentido que os britânicos recorressem ao auxílio muçulmano na Ásia, enquanto lutavam para manter as suas posições no Médio Oriente, especialmente no Canal do Suez. Apenas o peso da Santa Sé na política externa portuguesa coincidia o suficiente para, neste caso, Lisboa adotar as mesmas políticas do Vaticano. Israel, para os países católicos, ameaçava Jerusalém e os Lugares Santos e, como tal, não podia ser reconhecido. Palavras-chave: Portugal; Israel; Médio Oriente; Vaticano; Grã-Bretanha Pedro MENDES A questão europeia no Marcelismo: o debate geracional Este artigo analisa o debate político em torno do dilema integrativo português que ocorreu durante o marcelismo. Neste período emergiu uma questão europeia em Portugal que se centrou na possibilidade de uma reorientação europeia da política externa portuguesa e que teve importantes reflexos na política interna. Deste modo, o texto que se segue visa contribuir para uma melhor compreensão do debate ocorrido na Assembleia Nacional entre os defensores de uma política externa imperial-continuista e os defensores de uma política externa europeia-reformista. A nossa análise concentra-se nos discursos percepcionais dos principais atores que participaram neste debate, nas sua imagens e visões relativamente ao posicionamento internacional de Portugal. É, portanto, partindo da problemática da análise das atitudes percepcionais destes atores que procuramos evidenciar a internalização dos assuntos de política externa nos últimos anos do regime autoritário português. Palavras-chave: Portugal; Marcelismo; política externa; imperial-continuísta; europeia-reformista