A Escola Técnica Federal do Pará (ETFPA) como pólo formador de
jovens técnicos no contexto de ocupação e expansão capitalista na
Amazônia entre as décadas de 1970 e 1980.
Ricardo Afonso Ferreira de Vasconcelos. Mestre em Tecnologia e Trabalho pelo PPGTE-UTFPR.
Docente do IFPA- Campus Belém- Pará. E-mail: [email protected]
GT- 15: Juventude, escola, trabalho e tecnologia.
Resumo
O período compreendido entre as décadas de 1970 e 1980 marcou o processo de
ocupação recente da Amazônia e de penetração do capital nacional e estrangeiro nesta
nova fronteira de expansão para os interesses capitalistas nacionais e internacionais. E
neste contexto de expansão de interesses privados e governamentais foram gestados
projetos econômico-produtivos que demandavam um maior contingente de profissionais
técnicos de nível médio. Por conseguinte, visando o atendimento de tais demandas
promoveu-se uma reestruturação da Escola Técnica Federal do Pará ainda durante o
início da década de 1970 dotando-a de recursos e estruturas que possibilitasse a
construção de um movimento de sincronia da formação profissional de jovens
trabalhadores em relação aos interesses e expectativas e demandas das empresas que
participaram dos projetos governamentais e privados implantados na Amazônia a partir
da década de 1960. Isto posto, considera-se como objetivo deste trabalho discutir o
papel da ETFPA como pólo formador de jovens técnicos de nível médio inserido no
contexto de expansão capitalista na referida região do Brasil, especialmente nos anos de
1970 e 1980.
Abstract
The period between the 1970 and 1980 marked the process of recent occupation of the
Amazon and penetration of the domestic and foreign capital in this new frontier of
capitalist interests to national and international. And in this context of expansion of
private and government interests were incubated economically productive projects that
required a greater number of mid-level professionals. Therefore, in order to meet such
demands promoted a restructuring of the Federal Technical School of Pará still in the
early 1970's providing it with resources and structures to allow the construction of a
synchronized movement of the vocational training of young workers in relation to the
interests and expectations and demands of the companies that participated in the
government and private projects implemented in the Amazon from the 1960s. That said,
it is the objective of this paper to discuss the role of trainer ETFPA as a pole of young
mid-level staff within the context of capitalist expansion in that region of Brazil,
especially
in
1970
and
1980.
1 Palavras-Chave: Escola Técnica; Formação profissional; Amazônia.
Keywords: Technical School, Vocational training; Amazon.
Introdução
Este trabalho tem como objetivo suscitar uma breve discussão sobre o papel
desempenhado pela Escola Técnica Federal do Pará como instituição de referência na
formação de jovens técnicos de nível médio no contexto da ocupação da Amazônia e
expansão do capitalismo nesta extensa área do território nacional. Para tanto, busca-se
inicialmente uma discussão em torno do perfil de ocupação ocorrido na Amazônia a
partir de meados dos anos de 1960 e o surgimento de novas demandas de aquisição de
profissionais técnicos de nível médio por parte dessas empresas.
Na segunda parte deste trabalho se discute o processo de formação e
estruturação da Escola Técnica como pólo de formação desses profissionais técnicos e a
construção de perfis se qualificação em sintonia com as demandas dessas empresas e
projetos implantados na Amazônia paraense entre as décadas de 1970 e 1980. Já, na
parte das considerações finais buscamos articular o significado histórico dessa sincronia
entre formação de técnicos e os interesses empresariais e governamentais da época.
O referido trabalho utiliza-se da pesquisa bibliográfica como base para
composição de análise crítica tendo como referências autores como: Monteiro, Hall,
Alves Filho, que discutem as mudanças ocorridas na Amazônia pós-1964 e autores que
discutem a educação profissional técnica, como por exemplo: Bastos, Cunha e Queluz.
1. A dinâmica de expansão capitalista na Amazônia a partir da década de
1960
No decorrer do século XX a região amazônica vivenciou duas
importantes fases de crescimento econômico. Em seu primeiro ciclo – o da
borracha, de 1870 até a década de 1920 – o estado do Pará experimentou uma
fase de prosperidade material responsável pelo surgimento de uma elite
dominante denominada oligarquia da borracha, bem como, a rápida urbanização
da cidade de Belém um dos grandes pólos exportadores da gomífera para a
Europa e Estados Unidos.
2 A expansão da economia da borracha propiciou ao Pará durante algumas
décadas o posto de maior produtor nacional de látex. Em decorrência dessa
expansão econômica desenvolveu-se uma modalidade de próspera oligarquia
regional composta por seringalistas proprietários de seringais e comerciantes
“aviadores” que forneciam gêneros necessários ao funcionamento dos
seringais e se responsabilizavam pela aquisição e transporte da borracha para
Belém entregando-a as grandes firmas exportadoras dessa matéria-prima. Tal
prosperidade advinda do circuito da borracha permitiu a esta elite a
construção de um estilo de vida que imitava os hábitos, valores e conceitos
vigentes nos grandes centros urbanos europeus e nacionais. (Vasconcelos:
2010, p. 12).
Este ciclo de crescimento econômico regional atingiu sua fase de
esgotamento entre o final da década de 1920 e o decorrer da década de 1930,
resultado da concorrência promovida pelos seringais asiáticos e da eclosão da
Depressão Econômica de 1929. Um novo e breve período de expansão da
produção gomífera ocorreu entre os anos de 1942 e 1945 conhecido como
batalha da borracha1.
No período compreendido entre a segunda metade da década de 1940 e a
primeira metade da década de 1960 a economia regional experimentou uma fase
de estagnação, sendo que, tal situação somente foi revertida após o golpe de
militar de 1964 e a conseqüente instauração de uma nova dinâmica de
desenvolvimento regional via expansão capitalista com vultosos incentivos
governamentais e investimentos de grandes empresas nacionais do Centro-Sul
do país e de empresas estrangeiras.
O estudo de Antony Hall (1991) identifica quatro fases relativas ao processo
de expansão capitalista na Amazônia entre as décadas de 1960 e 1980. Em sua
primeira fase – A campanha para desenvolver a Amazônia, 1964-70 – teve como
elemento dinamizador a Operação Amazônica que buscou inserir a região
amazônica no contexto da economia nacional. Para tanto foram criadas a
SUDAM e o BASA, a Zona Franca de Manaus e através da Lei 3.174 a política
de incentivos fiscais facilitando a instalação de projetos agropecuários e a
aquisição de terras – geralmente latifúndios – para empresas oriundas do CentroSul do Brasil e de outros países, especialmente empresas multinacionais. Em
resumo:
1
Neste período durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o governo de Vargas incentivou
a produção de borracha para prover a demanda desta matéria-prima por parte das potências aliadas.
3 [...] a operação Amazônica foi montada para criar pólos de desenvolvimento,
tal como o de Manaus, estimulando a imigração e a formação de grupos autosuficientes, proporcionando incentivos e investimentos privados,
promovendo desenvolvimento de infra-estrutura e pesquisa sobre o potencial
de recursos. (Hall: 1991, p. 28).
De 1970 a 1974 ocorre a segunda fase ou período da integração nacional
tendo como base o esforço de ¨construção de estradas, colonização dirigida para
pequenos agricultores e preocupação com a exploração de recursos naturais,
além da continuação de subsídios aos criadores¨(Idem, p. 30). Já entre 1975-81
ocorreu a fase de reiteração da agricultura caracterizada pela venda de terras do
INCRA a grandes fazendeiros, sendo que tais terras no período anterior haviam
sido destinadas ao assentamento de pequenos colonos. Ressalta-se que grande
parte dessas terras foi destinada a criação de gado.
De acordo com Hall (1991) a quarta fase de ocupação da Amazônia
ocorreu por intermédio do incentivo a mineração, agroindústria e reforma
agrária. Para tanto, durante o governo Sarney ocorreu a elaboração de um novo
projeto de reforma agrária que deveria ser implementado na região já a partir de
1986, através do recém-criado Ministério da Reforma Agrária. E ainda durante
os últimos governos militares – Geisel e Figueiredo – foram implantados
grandes projetos minerais sendo o mais importante o de Grande Carajás, no sul
do Pará. Também a preocupação crescente com a questão energética, resultado
da Crise do Petróleo de 1973 serviu de impulso para a construção da Hidrelétrica
de Tucurui, que objetivou o fornecimento de energia abundante para ao projetos
minerais implantados neste período.
Quanto ao significado da ação política dos militares na Amazônia pós-1964,
o estudo de Monteiro (1998, p.54) enfatiza que:
[...] havia interesse de natureza geopolítica e militar em consolidar a
soberania nacional sobre o território amazônico, isto se fez a partir da firme
articulação de interesses privados daqueles setores sociais que participaram
do golpe de 1964.
No que se refere a estratégia político-institucional adotada pelos militares
objetivando concretizar tais interesses na região amazônica afirma-se que:
Em consonância com essa lógica, as políticas de atração de capitais privados
para a região, por um lado, foram matizadas por investimentos em infra-
4 estrutura pelo estabelecimento de um conjunto de medidas jurídicas legais e
pelo sistema de incentivos fiscais. (Idem, p. 54).
Por conseguinte, a ocupação da região amazônica a partir de meados dos
anos de 1960 obedeceu a uma combinação lógica de interesses privados e
governamentais, ou seja, resultando numa sólida aliança entre Estado e capital
privado nacional e multinacional.
Portanto, mão se deve atribuir apenas à execução de estratégias dos capitais
monopolistas as políticas de modernização levadas a cabo na região, mas a
uma conjunção de interesses, dentre eles os de caráter geopolíticos e
militares, em que pese terem desempenhado um papel fundamental no
processo de edificação de estruturas voltadas à acumulação capitalista na
região. (Idem, p.58).
O referido processo de ocupação e integração da região amazônica se
constituiu num modelo econômico ¨que não deu certo¨, de acordo com o ponto
de vista de Alves filho (2000, p. 61 e seg.). Nesse sentido o referido historiador
aponta vários efeitos negativos resultantes de tal processo de expansão
capitalista, dentre eles:
•
•
•
•
•
¨Esgotou as terras e dilapidou recursos naturais [...]
Desarticulou a economia regional na sua natureza extrativa e na produção de subsistência [...]
Permitiu, pela falta de acompanhamento e fiscalização, que os projetos acabassem favorecendo a
especulação;
Fez com que os ganhos de empresas resultassem, sobretudo dos recursos oriundos dos cofres
públicos e da especulação e muito pouco da atividade produtiva;
Fortaleceu o latifúndio, pela forma como o Estado orientou e investiu nos grandes projetos. A
SUDAM não recebia nenhum projeto com ocupação inferior a 25 mil hectares¨.
Dentre os vários desdobramentos decorrentes do amplo processo de expansão
e modernização capitalista ocorrido na Amazônia no período compreendido entre
os anos de 1960 e 1980, podemos apontar uma maior demanda por profissionais nas
áreas diretamente ligadas ao processo de montagem de infra-estrutura e indústria de
base, tais como: telecomunicações, construção civil, saneamento e estradas,
eletrônica e eletricidade, metalurgia e mineração. Portanto, tornou-se necessário o
fomento a formação profissional voltada para o atendimento dessas demandas,
sendo que, no âmbito institucional-educacional coube a então recém-criada Escola
Técnica Federal do Pará a estruturação de cursos voltados a oferta de técnicos
qualificados para o desempenho dessas várias funções profissionais exigidas pelo
mercado regional em expansão.
5 2. Da Escola de aprendizes Artífices do Para à Escola Técnica Federal do Pará
A Escola de Aprendizes Artífices do Pará, segundo Bastos (1988, p. 20)
foi implantada em 19 de agosto de 1910 tendo como público-alvo os
“desprovidos de fortuna que um ofício, os conhecimentos rudimentares e a
prática”. Durante os dois primeiros anos de funcionamento estavam
matriculados respectivamente: vinte e noventa e cinco aprendizes.
Quanto ao aspecto das instalações a E.A.A.PA inicialmente funcionou
em um prédio pertencente ao governo estadual cedido para a União, sendo que
neste prédio funcionavam cinco oficinas: marcenaria, alfaiataria, funilaria,
sapataria, ferraria. Tais oficinas funcionavam “precariamente por falta de
máquinas e ambiente. Foram alojadas em barracões de madeira, cobertos de
palha com piso de chão batido” (Idem, p. 22).
No que se refere aos critérios de recrutamento dos aprendizes, definiu-se
como faixa etária o atendimento a meninos com idade entre 10 e 13 anos, sendo
obrigatória a apresentação de dois atestados ou certidões que comprovassem que
os mesmos não eram portadores de doenças infecto-contagiosas e/ou de defeitos
físicos.
De acordo com o referido estudo de Bastos desde o início era alta a taxa
de evasão ou retenção, sendo apontadas várias causas ou motivações para este
fenômeno entre elas: a não conclusão do curso devido a baixa renda das famílias
fazendo com que os aprendizes procurassem emprego tão logo aprendiam os
primeiros rudimentos da profissão.
A partir do ano de 1937 a Escola de aprendizes Artífices passou se
denominar ¨Liceu Industrial do Pará¨. Tal alteração foi resultado das mudanças
provocadas pela Lei no. 378 que criou o Departamento de Ensino Profissional,
que estava subordinado à Divisão de Ensino Industrial.
Em 1942, obedecendo às alterações provocadas pelo Decreto-Lei de 25
de setembro do referido ano ocorreu a transformação do Liceu Industrial do Pará
em Escola Industrial de Belém em obediência as diretrizes da Lei Orgânica do
Ensino Industrial recém-aprovada no mesmo período.
6 A Escola Industrial de Belém passou por importantes mudanças no ano
de 1966 ocorrendo a gradativa extinção do curso ginásio-industrial substituído
progressivamente pela modalidade de curso de ensino profissional em nível de
2º. Ciclo (atual ensino médio). Para tanto, foram criados os cursos técnicos em
Edificações e Estradas e no ano seguinte – 1967 – passou a ser admitida a
matrícula de alunos do sexo feminino.
A denominação Escola técnica Federal do Pará (ETFPA) surgiu no ano de
1968, assim como os novos cursos de Prótese Dentária e Saneamento e em 1970
o curso de Eletromecânica foi desmembrado em dois cursos: Mecânica de
Máquinas e Eletrotécnica. No entanto, foi somente a partir da vigência da Lei
5.6920 de 1971 e do Parecer 45/72 que criou as habilitações profissionais a nível
de 2º. Grau que surgiu a configuração de cursos formatada em 1972 e que
perdurou durante as décadas seguintes com poucas alterações. Tais habilitações
oferecidas a partir do ano de 1972 foram: Edificações, Estradas, Saneamento,
agrimensura,
Mecânica,
Eletrotécnica,
Eletrônica,
Telecomunicações,
Mineração, Metalurgia.
3. A ETFPA e a formação de jovens trabalhadores: a sincronia com os
interesses econômico-tecnológicos das empresas em expansão na Amazônia
As mudanças ocorridas na estrutura de oferta de cursos técnicos da
ETFPA a partir de 1972 de uma forma geral obedeceram às novas diretrizes
determinadas pela reforma do ensino profissional e implementadas pelo MEC
(Ministério da Educação e Cultura) como parte integrante de um conjunto mais
amplo de mudanças sócio-econômicas e políticas ocorridas durante a Ditadura
Militar instaurada no Brasil a partir de 1964. E como continuidade da reforma
educacional iniciada pelos militares, foi implantada a reforma do ensino de 2º
grau, em 1971. Tal reestruturação do sistema escolar ocorreu por meio da Lei
5692/71, que reconfigurou as estruturas do ensino fundamental e médio no
Brasil.
De acordo com essa lei, todos os cursos de segundo grau passariam a ser
profissionalizantes. Deixava de existir o secundário com finalidade exclusiva
de preparação para o ensino superior e passava a existir um único segundo
grau, que adquiriu a função primeira de oferecer terminalidadeaos que nele
estudavam. (Garcia, 2000, p. 65).
7 Não obstante a sincronia estabelecida entre as diretrizes do MEC e as
reformas curriculares e na grade de ofertas de cursos da ETFPA a partir do início
da década de 1970, observa-se que uma segunda condicionante contribuiu para a
estruturação de oferta de dez cursos técnicos já mencionados no tópico anterior,
qual seja: a crescente demanda por profissionais técnicos nas áreas estratégicas
vinculadas ao processo de expansão capitalista na Amazônia, ocupação do
território regional e em especial, a estruturação de projetos de infra-estrutura e
nas áreas de exploração mineral. No caso específico da Amazônia paraense
durante as décadas de 1970 e 1980 foram implantados vários projetos sendo os
mais importantes: ALBRÀS (produção de alumínio, abertura de rodovias como
a Transamazônica, Perimetral Norte, Projeto Grande Carajás para exploração de
ferro, Usina Hidrelétrica de Tucuruí).
Tal demanda de projetos não poderia prescindir de um crescente número
de profissionais técnicos capacitados. Isto explica o senso comum surgido em
torno da ETFPA no que diz respeito a garantia de que na maior parte dos casos
os alunos formados (egressos) dessa instituição de ensino já saíam da sala de
aula com emprego garantido no próprio mercado regional.
Como exemplos de sincronia entre os cursos ofertados pela ETFPA e o
quadro de expectativa das empresas que operavam os referidos projetos vejamos
os casos dos cursos de: mineração, estradas, telecomunicações, agrimensura e
eletrotécnica.
Observe-se primeiramente o curso de Mineração:
¨TECNICO EM MINERAÇÃO:
a) Criação: Curso criado em 1975.
b) Currículo de 1975.
c) Função: Atua junto ao geólogo e ao engenheiro de minas. Estuda a descoberta
de novas jazidas, faz pesquisas em laboratório com amostras de minérios.
d) Qualidades necessárias: Habilidade numérica, raciocínio mecânico,
resistência física a locais fechados, com temperaturas e pressões fora do
comum. Adaptabilidade ao desconforto, boa visão e atenção aos detalhes.
e) Mercado de trabalho: esta habilitação é uma das mais promissoras no Norte
do país, tendendo a crescer com a exploração do minério da Serra dos Carajás
e do Trombetas. ¨ (Bastos: 1980, p. 122).
A formação do técnico em Mineração objetivou atender os interesses em
expansão da atividade de empresas de exploração hidrominerais, sendo as mais
8 importantes o Projeto Carajás e Porto Trombetas. A qualificação além de ser
específica em habilidades focadas para atividade em campo também privilegia
adaptação a ambientes insalubres.
No caso do curso de Estradas o perfil, qualificações e tendências de
mercado eram as seguintes:
¨TÉCNICO EM TELECOMUNICAÇÕES;
a) Criação: Curso criado em 1972.
b) Função: Auxilia o engenheiro eletrônico e o eletricista.
c) Currículo de 1972.
d) Qualidades necessárias: Percepção auditiva e visual acima da média e
interesse e aptidão numérica.
Habilidade e destreza manual e capacidade de concentração e atenção a
detalhes.
e) Mercado de Trabalho: É um dos setores básicos do governo e tende a
manter uma taxa de crescimento nesta década de 80. No setor público,
principalmente a EMBRATEL e as Telecomunicações estaduais são as
principais responsáveis pela demanda de empresa e as que melhor salário
pagam¨, (Idem, p. 119),
A
principal
demanda
por
profissionais
egressos
do
curso
de
Telecomunicações provinha do processo de expansão da infra-estrutura de
comunicações e, portanto, do setor estatal por intermédio da EMBRATEL e
sua concessionária local, a TELEPARÀ. Ressalta-se que, na época havia o
monopólio estatal no setor de telecomunicações e, por conseguinte, o governo
tornara-se empresário e patrão neste setor estratégico da economia.
No que se refere ao curso de Estradas:
¨TÉCNICO EM ESTRADAS
a) Criação: Curso criado em 1966.
b) Currículo de 1972.
c) Função: Auxilia o engenheiro civil. Executa levantamentos topográficos e
nivelamento. Inspeciona os trabalhos de construção de rodovias e o uso de
equipamento rodoviário pesado.
d) Qualidades necessárias: raciocínio mecânico, habilidade numérica, percepção
de espaço, interesse por trabalho ao ar livre, resistência à fadiga, ás variações
de tempo e ao desconforto. Capacidade de adaptação.
e) Mercado de Trabalho: A maior oferta de empregos nessa área profissional
está localizada no serviço público federal, estadual e municipal. ¨(Idem: 99).
Os profissionais oriundos do curso de Estradas encontravam vagas no
mercado de trabalho regional nas obras de abertura de estradas e rodovias
patrocinado pelo extinto DNER (Departamento Nacional de Obras de
Saneamento) vinculado ao Ministério dos Transportes. A política de integração
física da região norte ao restante do pais se fez através da opção governamental
9 pelo transporte rodoviário, daí a expansão de demanda de postos de trabalho
técnico na área de Estradas.
De forma geral, observa-se também que os perfis de ¨qualidades¨ dos
futuros técnicos definidos para os três cursos analisados nos remete ao conceito
de ¨qualificação¨ presente no cotidiano das empresas que utilizavam o modelo
produtivo-organizativo Taylorista-Fordista.
O que distingue o sistema taylorista de organização dos seus precedentes [é o
fato de que toda essa complexa análise e planejamento que envolve ficam,
após sua implementação,a cargo da administração da empresa, e somente
dela. Toda a experiência, todas as técnicas relativas às atividades realizadas
nas várias instâncias da empresa são repassadas para trabalhadores
especializados em analisá-las com base em métodos experimentais, através
dos quais são padronizados, tendo em vista a redução da quantidade de
operações desnecessárias, do tempo de execução das demais, dos gastos de
energia física e mental dos trabalhadores, da ociosidade dos equipamentos,
dos intervalos entre uma operação e outra, entre os objetivos. (Pinto, 2010, p.
30)
Na perspectiva do paradigma de produção Taylorista – Fordista o perfil
de mão-de-obra exigido por este sistema produtivo diz respeito a um
trabalhador especializado, geralmente semiqualificado e voltado para a
execução de tarefas simples, parceladas e repetitivas. Por conseguinte - nesta
perspectiva – os cursos de treinamento tinham como função especializar o
trabalhador numa determinada etapa da produção específica de um
determinado
ramo
industrial.
Pouco
se
falava
sobre
conhecimento
generalizante. Também pouco se falava sobre desenvolvimento de iniciativa,
de concepção ou geração de idéias referentes ao processo de gerenciamento ou
planejamento da produção. De maneira que, em poucas ocasiões os
trabalhadores eram ouvidos no que concerne ao processo produtivo como um
todo ou sobre os rumos da produção e gestão da empresa. Ao contrário, o
cotidiano do trabalhador possibilitava apenas a execução de tarefas.
Ressalta-se que a partir do final da década de 1980 os investimentos
governamentais em grandes projetos na Amazônia experimentaram uma fase
de refluxo, em vista disso, o processo de sincronia entre a formação de
profissionais técnicos oriundos da ETFPA e a demanda de empresas sofreu um
perceptível declínio.
10 4. Considerações Finais
A expansão capitalista ocorrida na região amazônica entre as décadas de
1960 e 1980 obedeceu a diversas lógicas. Para os militares, era necessário
integrar a região norte ao contexto geopolítico de uma nação emergente. Para o
grande Capital do Centro-Sul a Amazônia significou a oportunidade de
investimentos e o estabelecimento de uma espécie de colonialismo interno. Já,
para as grandes empresas multinacionais o interesse maior recaiu sobre as
riquezas naturais, especialmente as jazidas de minérios. Por conseguinte, ocorreu
uma convergência de interesses que propiciaram a ocupação e enquadramento da
Amazônia aos desígnios da lógica capitalista. E tal processo de expansão
daquela nova fronteira de nosso país, fomentou oportunidades de emprego e
expansão do mercado capitalista.
No caso específico da Amazônia paraense, o desenvolvimento de grandes
obras e projetos governamentais provocou uma maior demanda por profissionais
qualificados, além daqueles de nível acadêmico formados pelas faculdades e
universidades regionais. E, no âmbito especificamente dos profissionais
qualificados de nível médio, havia a necessidade da formação e ampliação de
um ¨staff¨ de técnicos de nível médio capaz de suprir esta demanda por parte de
empresas governamentais e privadas partícipes desses grandes projetos
implantados na Amazônia.
Portanto, conclui-se que a ETFPA desempenhou este papel como
instituição que forneceu este contingente de profissionais técnicos atendendo a
demanda das empresas numa fase do capitalismo na qual o sistema produtivo
hegemônico era Taylorista-Fordista e para o qual se exigiam perfis profissionais
que tinham como bases qualificações específicas, ou seja, profissionais
especialistas em determinados funções produtivas necessárias para a manutenção
dos objetivos organizacionais e produtivos das empresas instaladas na Amazônia
paraense da época.
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Queluz, Gilson Leandro. Concepções de ensino técnico na República Velha
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Artífices do Pará, a sociedade da borracha e a urbanização de Belém no início do
século XX. Artigo apresentado no II SENEPT. Belo Horizonte, Junho de 2010.
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