A Escola Técnica Federal do Pará (ETFPA) como pólo formador de jovens técnicos no contexto de ocupação e expansão capitalista na Amazônia entre as décadas de 1970 e 1980. Ricardo Afonso Ferreira de Vasconcelos. Mestre em Tecnologia e Trabalho pelo PPGTE-UTFPR. Docente do IFPA- Campus Belém- Pará. E-mail: [email protected] GT- 15: Juventude, escola, trabalho e tecnologia. Resumo O período compreendido entre as décadas de 1970 e 1980 marcou o processo de ocupação recente da Amazônia e de penetração do capital nacional e estrangeiro nesta nova fronteira de expansão para os interesses capitalistas nacionais e internacionais. E neste contexto de expansão de interesses privados e governamentais foram gestados projetos econômico-produtivos que demandavam um maior contingente de profissionais técnicos de nível médio. Por conseguinte, visando o atendimento de tais demandas promoveu-se uma reestruturação da Escola Técnica Federal do Pará ainda durante o início da década de 1970 dotando-a de recursos e estruturas que possibilitasse a construção de um movimento de sincronia da formação profissional de jovens trabalhadores em relação aos interesses e expectativas e demandas das empresas que participaram dos projetos governamentais e privados implantados na Amazônia a partir da década de 1960. Isto posto, considera-se como objetivo deste trabalho discutir o papel da ETFPA como pólo formador de jovens técnicos de nível médio inserido no contexto de expansão capitalista na referida região do Brasil, especialmente nos anos de 1970 e 1980. Abstract The period between the 1970 and 1980 marked the process of recent occupation of the Amazon and penetration of the domestic and foreign capital in this new frontier of capitalist interests to national and international. And in this context of expansion of private and government interests were incubated economically productive projects that required a greater number of mid-level professionals. Therefore, in order to meet such demands promoted a restructuring of the Federal Technical School of Pará still in the early 1970's providing it with resources and structures to allow the construction of a synchronized movement of the vocational training of young workers in relation to the interests and expectations and demands of the companies that participated in the government and private projects implemented in the Amazon from the 1960s. That said, it is the objective of this paper to discuss the role of trainer ETFPA as a pole of young mid-level staff within the context of capitalist expansion in that region of Brazil, especially in 1970 and 1980. 1 Palavras-Chave: Escola Técnica; Formação profissional; Amazônia. Keywords: Technical School, Vocational training; Amazon. Introdução Este trabalho tem como objetivo suscitar uma breve discussão sobre o papel desempenhado pela Escola Técnica Federal do Pará como instituição de referência na formação de jovens técnicos de nível médio no contexto da ocupação da Amazônia e expansão do capitalismo nesta extensa área do território nacional. Para tanto, busca-se inicialmente uma discussão em torno do perfil de ocupação ocorrido na Amazônia a partir de meados dos anos de 1960 e o surgimento de novas demandas de aquisição de profissionais técnicos de nível médio por parte dessas empresas. Na segunda parte deste trabalho se discute o processo de formação e estruturação da Escola Técnica como pólo de formação desses profissionais técnicos e a construção de perfis se qualificação em sintonia com as demandas dessas empresas e projetos implantados na Amazônia paraense entre as décadas de 1970 e 1980. Já, na parte das considerações finais buscamos articular o significado histórico dessa sincronia entre formação de técnicos e os interesses empresariais e governamentais da época. O referido trabalho utiliza-se da pesquisa bibliográfica como base para composição de análise crítica tendo como referências autores como: Monteiro, Hall, Alves Filho, que discutem as mudanças ocorridas na Amazônia pós-1964 e autores que discutem a educação profissional técnica, como por exemplo: Bastos, Cunha e Queluz. 1. A dinâmica de expansão capitalista na Amazônia a partir da década de 1960 No decorrer do século XX a região amazônica vivenciou duas importantes fases de crescimento econômico. Em seu primeiro ciclo – o da borracha, de 1870 até a década de 1920 – o estado do Pará experimentou uma fase de prosperidade material responsável pelo surgimento de uma elite dominante denominada oligarquia da borracha, bem como, a rápida urbanização da cidade de Belém um dos grandes pólos exportadores da gomífera para a Europa e Estados Unidos. 2 A expansão da economia da borracha propiciou ao Pará durante algumas décadas o posto de maior produtor nacional de látex. Em decorrência dessa expansão econômica desenvolveu-se uma modalidade de próspera oligarquia regional composta por seringalistas proprietários de seringais e comerciantes “aviadores” que forneciam gêneros necessários ao funcionamento dos seringais e se responsabilizavam pela aquisição e transporte da borracha para Belém entregando-a as grandes firmas exportadoras dessa matéria-prima. Tal prosperidade advinda do circuito da borracha permitiu a esta elite a construção de um estilo de vida que imitava os hábitos, valores e conceitos vigentes nos grandes centros urbanos europeus e nacionais. (Vasconcelos: 2010, p. 12). Este ciclo de crescimento econômico regional atingiu sua fase de esgotamento entre o final da década de 1920 e o decorrer da década de 1930, resultado da concorrência promovida pelos seringais asiáticos e da eclosão da Depressão Econômica de 1929. Um novo e breve período de expansão da produção gomífera ocorreu entre os anos de 1942 e 1945 conhecido como batalha da borracha1. No período compreendido entre a segunda metade da década de 1940 e a primeira metade da década de 1960 a economia regional experimentou uma fase de estagnação, sendo que, tal situação somente foi revertida após o golpe de militar de 1964 e a conseqüente instauração de uma nova dinâmica de desenvolvimento regional via expansão capitalista com vultosos incentivos governamentais e investimentos de grandes empresas nacionais do Centro-Sul do país e de empresas estrangeiras. O estudo de Antony Hall (1991) identifica quatro fases relativas ao processo de expansão capitalista na Amazônia entre as décadas de 1960 e 1980. Em sua primeira fase – A campanha para desenvolver a Amazônia, 1964-70 – teve como elemento dinamizador a Operação Amazônica que buscou inserir a região amazônica no contexto da economia nacional. Para tanto foram criadas a SUDAM e o BASA, a Zona Franca de Manaus e através da Lei 3.174 a política de incentivos fiscais facilitando a instalação de projetos agropecuários e a aquisição de terras – geralmente latifúndios – para empresas oriundas do CentroSul do Brasil e de outros países, especialmente empresas multinacionais. Em resumo: 1 Neste período durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o governo de Vargas incentivou a produção de borracha para prover a demanda desta matéria-prima por parte das potências aliadas. 3 [...] a operação Amazônica foi montada para criar pólos de desenvolvimento, tal como o de Manaus, estimulando a imigração e a formação de grupos autosuficientes, proporcionando incentivos e investimentos privados, promovendo desenvolvimento de infra-estrutura e pesquisa sobre o potencial de recursos. (Hall: 1991, p. 28). De 1970 a 1974 ocorre a segunda fase ou período da integração nacional tendo como base o esforço de ¨construção de estradas, colonização dirigida para pequenos agricultores e preocupação com a exploração de recursos naturais, além da continuação de subsídios aos criadores¨(Idem, p. 30). Já entre 1975-81 ocorreu a fase de reiteração da agricultura caracterizada pela venda de terras do INCRA a grandes fazendeiros, sendo que tais terras no período anterior haviam sido destinadas ao assentamento de pequenos colonos. Ressalta-se que grande parte dessas terras foi destinada a criação de gado. De acordo com Hall (1991) a quarta fase de ocupação da Amazônia ocorreu por intermédio do incentivo a mineração, agroindústria e reforma agrária. Para tanto, durante o governo Sarney ocorreu a elaboração de um novo projeto de reforma agrária que deveria ser implementado na região já a partir de 1986, através do recém-criado Ministério da Reforma Agrária. E ainda durante os últimos governos militares – Geisel e Figueiredo – foram implantados grandes projetos minerais sendo o mais importante o de Grande Carajás, no sul do Pará. Também a preocupação crescente com a questão energética, resultado da Crise do Petróleo de 1973 serviu de impulso para a construção da Hidrelétrica de Tucurui, que objetivou o fornecimento de energia abundante para ao projetos minerais implantados neste período. Quanto ao significado da ação política dos militares na Amazônia pós-1964, o estudo de Monteiro (1998, p.54) enfatiza que: [...] havia interesse de natureza geopolítica e militar em consolidar a soberania nacional sobre o território amazônico, isto se fez a partir da firme articulação de interesses privados daqueles setores sociais que participaram do golpe de 1964. No que se refere a estratégia político-institucional adotada pelos militares objetivando concretizar tais interesses na região amazônica afirma-se que: Em consonância com essa lógica, as políticas de atração de capitais privados para a região, por um lado, foram matizadas por investimentos em infra- 4 estrutura pelo estabelecimento de um conjunto de medidas jurídicas legais e pelo sistema de incentivos fiscais. (Idem, p. 54). Por conseguinte, a ocupação da região amazônica a partir de meados dos anos de 1960 obedeceu a uma combinação lógica de interesses privados e governamentais, ou seja, resultando numa sólida aliança entre Estado e capital privado nacional e multinacional. Portanto, mão se deve atribuir apenas à execução de estratégias dos capitais monopolistas as políticas de modernização levadas a cabo na região, mas a uma conjunção de interesses, dentre eles os de caráter geopolíticos e militares, em que pese terem desempenhado um papel fundamental no processo de edificação de estruturas voltadas à acumulação capitalista na região. (Idem, p.58). O referido processo de ocupação e integração da região amazônica se constituiu num modelo econômico ¨que não deu certo¨, de acordo com o ponto de vista de Alves filho (2000, p. 61 e seg.). Nesse sentido o referido historiador aponta vários efeitos negativos resultantes de tal processo de expansão capitalista, dentre eles: • • • • • ¨Esgotou as terras e dilapidou recursos naturais [...] Desarticulou a economia regional na sua natureza extrativa e na produção de subsistência [...] Permitiu, pela falta de acompanhamento e fiscalização, que os projetos acabassem favorecendo a especulação; Fez com que os ganhos de empresas resultassem, sobretudo dos recursos oriundos dos cofres públicos e da especulação e muito pouco da atividade produtiva; Fortaleceu o latifúndio, pela forma como o Estado orientou e investiu nos grandes projetos. A SUDAM não recebia nenhum projeto com ocupação inferior a 25 mil hectares¨. Dentre os vários desdobramentos decorrentes do amplo processo de expansão e modernização capitalista ocorrido na Amazônia no período compreendido entre os anos de 1960 e 1980, podemos apontar uma maior demanda por profissionais nas áreas diretamente ligadas ao processo de montagem de infra-estrutura e indústria de base, tais como: telecomunicações, construção civil, saneamento e estradas, eletrônica e eletricidade, metalurgia e mineração. Portanto, tornou-se necessário o fomento a formação profissional voltada para o atendimento dessas demandas, sendo que, no âmbito institucional-educacional coube a então recém-criada Escola Técnica Federal do Pará a estruturação de cursos voltados a oferta de técnicos qualificados para o desempenho dessas várias funções profissionais exigidas pelo mercado regional em expansão. 5 2. Da Escola de aprendizes Artífices do Para à Escola Técnica Federal do Pará A Escola de Aprendizes Artífices do Pará, segundo Bastos (1988, p. 20) foi implantada em 19 de agosto de 1910 tendo como público-alvo os “desprovidos de fortuna que um ofício, os conhecimentos rudimentares e a prática”. Durante os dois primeiros anos de funcionamento estavam matriculados respectivamente: vinte e noventa e cinco aprendizes. Quanto ao aspecto das instalações a E.A.A.PA inicialmente funcionou em um prédio pertencente ao governo estadual cedido para a União, sendo que neste prédio funcionavam cinco oficinas: marcenaria, alfaiataria, funilaria, sapataria, ferraria. Tais oficinas funcionavam “precariamente por falta de máquinas e ambiente. Foram alojadas em barracões de madeira, cobertos de palha com piso de chão batido” (Idem, p. 22). No que se refere aos critérios de recrutamento dos aprendizes, definiu-se como faixa etária o atendimento a meninos com idade entre 10 e 13 anos, sendo obrigatória a apresentação de dois atestados ou certidões que comprovassem que os mesmos não eram portadores de doenças infecto-contagiosas e/ou de defeitos físicos. De acordo com o referido estudo de Bastos desde o início era alta a taxa de evasão ou retenção, sendo apontadas várias causas ou motivações para este fenômeno entre elas: a não conclusão do curso devido a baixa renda das famílias fazendo com que os aprendizes procurassem emprego tão logo aprendiam os primeiros rudimentos da profissão. A partir do ano de 1937 a Escola de aprendizes Artífices passou se denominar ¨Liceu Industrial do Pará¨. Tal alteração foi resultado das mudanças provocadas pela Lei no. 378 que criou o Departamento de Ensino Profissional, que estava subordinado à Divisão de Ensino Industrial. Em 1942, obedecendo às alterações provocadas pelo Decreto-Lei de 25 de setembro do referido ano ocorreu a transformação do Liceu Industrial do Pará em Escola Industrial de Belém em obediência as diretrizes da Lei Orgânica do Ensino Industrial recém-aprovada no mesmo período. 6 A Escola Industrial de Belém passou por importantes mudanças no ano de 1966 ocorrendo a gradativa extinção do curso ginásio-industrial substituído progressivamente pela modalidade de curso de ensino profissional em nível de 2º. Ciclo (atual ensino médio). Para tanto, foram criados os cursos técnicos em Edificações e Estradas e no ano seguinte – 1967 – passou a ser admitida a matrícula de alunos do sexo feminino. A denominação Escola técnica Federal do Pará (ETFPA) surgiu no ano de 1968, assim como os novos cursos de Prótese Dentária e Saneamento e em 1970 o curso de Eletromecânica foi desmembrado em dois cursos: Mecânica de Máquinas e Eletrotécnica. No entanto, foi somente a partir da vigência da Lei 5.6920 de 1971 e do Parecer 45/72 que criou as habilitações profissionais a nível de 2º. Grau que surgiu a configuração de cursos formatada em 1972 e que perdurou durante as décadas seguintes com poucas alterações. Tais habilitações oferecidas a partir do ano de 1972 foram: Edificações, Estradas, Saneamento, agrimensura, Mecânica, Eletrotécnica, Eletrônica, Telecomunicações, Mineração, Metalurgia. 3. A ETFPA e a formação de jovens trabalhadores: a sincronia com os interesses econômico-tecnológicos das empresas em expansão na Amazônia As mudanças ocorridas na estrutura de oferta de cursos técnicos da ETFPA a partir de 1972 de uma forma geral obedeceram às novas diretrizes determinadas pela reforma do ensino profissional e implementadas pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) como parte integrante de um conjunto mais amplo de mudanças sócio-econômicas e políticas ocorridas durante a Ditadura Militar instaurada no Brasil a partir de 1964. E como continuidade da reforma educacional iniciada pelos militares, foi implantada a reforma do ensino de 2º grau, em 1971. Tal reestruturação do sistema escolar ocorreu por meio da Lei 5692/71, que reconfigurou as estruturas do ensino fundamental e médio no Brasil. De acordo com essa lei, todos os cursos de segundo grau passariam a ser profissionalizantes. Deixava de existir o secundário com finalidade exclusiva de preparação para o ensino superior e passava a existir um único segundo grau, que adquiriu a função primeira de oferecer terminalidadeaos que nele estudavam. (Garcia, 2000, p. 65). 7 Não obstante a sincronia estabelecida entre as diretrizes do MEC e as reformas curriculares e na grade de ofertas de cursos da ETFPA a partir do início da década de 1970, observa-se que uma segunda condicionante contribuiu para a estruturação de oferta de dez cursos técnicos já mencionados no tópico anterior, qual seja: a crescente demanda por profissionais técnicos nas áreas estratégicas vinculadas ao processo de expansão capitalista na Amazônia, ocupação do território regional e em especial, a estruturação de projetos de infra-estrutura e nas áreas de exploração mineral. No caso específico da Amazônia paraense durante as décadas de 1970 e 1980 foram implantados vários projetos sendo os mais importantes: ALBRÀS (produção de alumínio, abertura de rodovias como a Transamazônica, Perimetral Norte, Projeto Grande Carajás para exploração de ferro, Usina Hidrelétrica de Tucuruí). Tal demanda de projetos não poderia prescindir de um crescente número de profissionais técnicos capacitados. Isto explica o senso comum surgido em torno da ETFPA no que diz respeito a garantia de que na maior parte dos casos os alunos formados (egressos) dessa instituição de ensino já saíam da sala de aula com emprego garantido no próprio mercado regional. Como exemplos de sincronia entre os cursos ofertados pela ETFPA e o quadro de expectativa das empresas que operavam os referidos projetos vejamos os casos dos cursos de: mineração, estradas, telecomunicações, agrimensura e eletrotécnica. Observe-se primeiramente o curso de Mineração: ¨TECNICO EM MINERAÇÃO: a) Criação: Curso criado em 1975. b) Currículo de 1975. c) Função: Atua junto ao geólogo e ao engenheiro de minas. Estuda a descoberta de novas jazidas, faz pesquisas em laboratório com amostras de minérios. d) Qualidades necessárias: Habilidade numérica, raciocínio mecânico, resistência física a locais fechados, com temperaturas e pressões fora do comum. Adaptabilidade ao desconforto, boa visão e atenção aos detalhes. e) Mercado de trabalho: esta habilitação é uma das mais promissoras no Norte do país, tendendo a crescer com a exploração do minério da Serra dos Carajás e do Trombetas. ¨ (Bastos: 1980, p. 122). A formação do técnico em Mineração objetivou atender os interesses em expansão da atividade de empresas de exploração hidrominerais, sendo as mais 8 importantes o Projeto Carajás e Porto Trombetas. A qualificação além de ser específica em habilidades focadas para atividade em campo também privilegia adaptação a ambientes insalubres. No caso do curso de Estradas o perfil, qualificações e tendências de mercado eram as seguintes: ¨TÉCNICO EM TELECOMUNICAÇÕES; a) Criação: Curso criado em 1972. b) Função: Auxilia o engenheiro eletrônico e o eletricista. c) Currículo de 1972. d) Qualidades necessárias: Percepção auditiva e visual acima da média e interesse e aptidão numérica. Habilidade e destreza manual e capacidade de concentração e atenção a detalhes. e) Mercado de Trabalho: É um dos setores básicos do governo e tende a manter uma taxa de crescimento nesta década de 80. No setor público, principalmente a EMBRATEL e as Telecomunicações estaduais são as principais responsáveis pela demanda de empresa e as que melhor salário pagam¨, (Idem, p. 119), A principal demanda por profissionais egressos do curso de Telecomunicações provinha do processo de expansão da infra-estrutura de comunicações e, portanto, do setor estatal por intermédio da EMBRATEL e sua concessionária local, a TELEPARÀ. Ressalta-se que, na época havia o monopólio estatal no setor de telecomunicações e, por conseguinte, o governo tornara-se empresário e patrão neste setor estratégico da economia. No que se refere ao curso de Estradas: ¨TÉCNICO EM ESTRADAS a) Criação: Curso criado em 1966. b) Currículo de 1972. c) Função: Auxilia o engenheiro civil. Executa levantamentos topográficos e nivelamento. Inspeciona os trabalhos de construção de rodovias e o uso de equipamento rodoviário pesado. d) Qualidades necessárias: raciocínio mecânico, habilidade numérica, percepção de espaço, interesse por trabalho ao ar livre, resistência à fadiga, ás variações de tempo e ao desconforto. Capacidade de adaptação. e) Mercado de Trabalho: A maior oferta de empregos nessa área profissional está localizada no serviço público federal, estadual e municipal. ¨(Idem: 99). Os profissionais oriundos do curso de Estradas encontravam vagas no mercado de trabalho regional nas obras de abertura de estradas e rodovias patrocinado pelo extinto DNER (Departamento Nacional de Obras de Saneamento) vinculado ao Ministério dos Transportes. A política de integração física da região norte ao restante do pais se fez através da opção governamental 9 pelo transporte rodoviário, daí a expansão de demanda de postos de trabalho técnico na área de Estradas. De forma geral, observa-se também que os perfis de ¨qualidades¨ dos futuros técnicos definidos para os três cursos analisados nos remete ao conceito de ¨qualificação¨ presente no cotidiano das empresas que utilizavam o modelo produtivo-organizativo Taylorista-Fordista. O que distingue o sistema taylorista de organização dos seus precedentes [é o fato de que toda essa complexa análise e planejamento que envolve ficam, após sua implementação,a cargo da administração da empresa, e somente dela. Toda a experiência, todas as técnicas relativas às atividades realizadas nas várias instâncias da empresa são repassadas para trabalhadores especializados em analisá-las com base em métodos experimentais, através dos quais são padronizados, tendo em vista a redução da quantidade de operações desnecessárias, do tempo de execução das demais, dos gastos de energia física e mental dos trabalhadores, da ociosidade dos equipamentos, dos intervalos entre uma operação e outra, entre os objetivos. (Pinto, 2010, p. 30) Na perspectiva do paradigma de produção Taylorista – Fordista o perfil de mão-de-obra exigido por este sistema produtivo diz respeito a um trabalhador especializado, geralmente semiqualificado e voltado para a execução de tarefas simples, parceladas e repetitivas. Por conseguinte - nesta perspectiva – os cursos de treinamento tinham como função especializar o trabalhador numa determinada etapa da produção específica de um determinado ramo industrial. Pouco se falava sobre conhecimento generalizante. Também pouco se falava sobre desenvolvimento de iniciativa, de concepção ou geração de idéias referentes ao processo de gerenciamento ou planejamento da produção. De maneira que, em poucas ocasiões os trabalhadores eram ouvidos no que concerne ao processo produtivo como um todo ou sobre os rumos da produção e gestão da empresa. Ao contrário, o cotidiano do trabalhador possibilitava apenas a execução de tarefas. Ressalta-se que a partir do final da década de 1980 os investimentos governamentais em grandes projetos na Amazônia experimentaram uma fase de refluxo, em vista disso, o processo de sincronia entre a formação de profissionais técnicos oriundos da ETFPA e a demanda de empresas sofreu um perceptível declínio. 10 4. Considerações Finais A expansão capitalista ocorrida na região amazônica entre as décadas de 1960 e 1980 obedeceu a diversas lógicas. Para os militares, era necessário integrar a região norte ao contexto geopolítico de uma nação emergente. Para o grande Capital do Centro-Sul a Amazônia significou a oportunidade de investimentos e o estabelecimento de uma espécie de colonialismo interno. Já, para as grandes empresas multinacionais o interesse maior recaiu sobre as riquezas naturais, especialmente as jazidas de minérios. Por conseguinte, ocorreu uma convergência de interesses que propiciaram a ocupação e enquadramento da Amazônia aos desígnios da lógica capitalista. E tal processo de expansão daquela nova fronteira de nosso país, fomentou oportunidades de emprego e expansão do mercado capitalista. No caso específico da Amazônia paraense, o desenvolvimento de grandes obras e projetos governamentais provocou uma maior demanda por profissionais qualificados, além daqueles de nível acadêmico formados pelas faculdades e universidades regionais. E, no âmbito especificamente dos profissionais qualificados de nível médio, havia a necessidade da formação e ampliação de um ¨staff¨ de técnicos de nível médio capaz de suprir esta demanda por parte de empresas governamentais e privadas partícipes desses grandes projetos implantados na Amazônia. Portanto, conclui-se que a ETFPA desempenhou este papel como instituição que forneceu este contingente de profissionais técnicos atendendo a demanda das empresas numa fase do capitalismo na qual o sistema produtivo hegemônico era Taylorista-Fordista e para o qual se exigiam perfis profissionais que tinham como bases qualificações específicas, ou seja, profissionais especialistas em determinados funções produtivas necessárias para a manutenção dos objetivos organizacionais e produtivos das empresas instaladas na Amazônia paraense da época. 11 5. Referências Bibliográficas Alves Filho Armando, et al. Pontos de História da Amazônia. – 2ª. ed. rev. ampl. - Belém: Paka-Tatu, 2000. Bastos, Péricles Antônio Barra, A Escola de Aprendizes Artífices do Pará, 1909/1942, um estudo de caso, Dissertação de mestrado em educação, Rio de Janeiro, FGV/IESAE, 1988. Coelho, Maria Célia Nunes. A CVRD e a (re)estruturação do espaço geográfico na área de Carajás (Pará). In: Castro, Iná Elias de; Gomes, Paulo César da Costa; Correa, Roberto Lobato (Orgs). Brasil: Questões atuais de reorganização do território - 5ª. ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. Cunha, Luiz Antônio. O ensino industrial-manufatureiro no Brasil: Origem e desenvolvimento. Faculdade de Educação – UFRJ. Departamento de Administração Educacional. Escola de Aprendizes Artífices do Pará. Relatórios de Atividades. BelémPará, 1909. Garcia, Nilson M.D. Física escolar, Ciência e novas tecnologias de produção: o desafio da aproximação. Tese de doutorado. FE USP, 2000. Monteiro, Maurílio de Abreu. Siderurgia e carvoejamento na Amazônia: drenagem energético-material e pauperização regional: Editora da UFPA em coedição com a ETFPA, 1998. Queluz, Gilson Leandro. Concepções de ensino técnico na República Velha (1909-1930). Curitiba, 2000. Pinto, Geraldo Augusto. A organização do trabalho no século 20: Taylorismo, Fordismo e Toyotismo – 2ª. ed. – São Paulo: expressão Popular, 2010. Vasconcelos, Ricardo Afonso Ferreira de. A criação da Escola de Aprendizes Artífices do Pará, a sociedade da borracha e a urbanização de Belém no início do século XX. Artigo apresentado no II SENEPT. Belo Horizonte, Junho de 2010. 12