XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 O CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL Ana Maria Orlandina Tancredi Carvalho Universidade Federal do Pará RESUMO Discutimos concepções e a experiência relativamente à formação de professores da Universidade Federal do Pará (Campus Guamá, localizado em Belém/PA). Para tanto, apresentamos as diferentes propostas pelas quais passou o desenho curricular do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia e, particularmente, a formação de professores para a Educação Infantil. Apresentamos, pois, o Curso de Pedagogia desde a sua origem, no Brasil, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, destacando as modificações pelas quais passou em virtude da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961, da Reforma Universitária de 1968, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e de diferentes pareceres, decretos e diretrizes que o regulamentam. Sua história, no Pará, tem início em 1954, por meio de um Decreto do Presidente Getúlio Vargas. Para a elaboração deste artigo, realizamos uma pesquisa bibliográfica e documental. Os dados coligidos foram tomados como base para as reflexões da autora, sujeito da construção de três propostas curriculares para o curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, da Universidade Federal do Pará (UFPA), em momentos distintos de sua história. É nosso objetivo evidenciar o espaço curricular dedicado à formação do professor/as para a Educação Infantil. As políticas públicas para a formação de docentes em geral e, em especial, para a Educação Infantil sofreram impulso significativo a partir de 2003, havendo políticas para a formação de professores de nível médio que já estão no exercício do magistério na rede pública ou na rede conveniada, sem fins lucrativos, em nível de graduação e de especialização, com programas específicos desenvolvidos pelas Universidades Públicas Federais. Tais políticas influenciaram sobremaneira a elaboração do mais recente Projeto Político- Pedagógico do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, da Universidade Federal do Pará, em Belém. Palavras chave: Formação de Professores: concepções e experiências; Curso de Pedagogia; Educação Infantil; Universidade Federal do Pará. INTRODUÇÃO Este artigo versa sobre o desenho curricular do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade Federal do Pará (Campus Guamá, localizado em Belém/PA) e a formação de professores – melhor seria afirmar professoras, haja vista o número de estudantes do gênero feminino ser infinitamente superior ao masculino. Do ponto de vista da metodologia utilizada para a elaboração deste artigo, realizamos uma pesquisa bibliográfica e documental como base para as reflexões da autora, sujeito da construção de três propostas curriculares para o curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, da Universidade Federal do Pará (UFPA). Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006824 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 2 O artigo inicia com a história do curso de Pedagogia no Brasil, em seguida no Pará, focalizando, por fim, a formação de professores para a Educação Infantil. As políticas públicas para a formação de docentes para a Educação Infantil sofreram impulso significativo, a partir de 2003, havendo políticas de formação de professores de nível médio que já estão no exercício do magistério na rede pública ou na rede conveniada sem fins lucrativos e em nível de especialização, com programas específicos desenvolvidos pelas Universidades Públicas Federais. REVISITANDO A HISTÓRIA DO CURSO DE PEDAGOGIA Mudanças estruturais ocorreram, no Brasil, na década de 1930: um novo ciclo econômico tem lugar que, ao invés de, exclusivamente, assentado na agroexportação, funda-se na expansão do parque industrial brasileiro. É o período que alguns estudiosos, como Freitag (1986), denominam de substituição da exportação, período que coloca novas demandas para a Educação, entre elas, a exigência de mão de obra qualificada para o funcionamento das novas máquinas. Nota-se, igualmente, uma efervescência cultural característica dos momentos de grandes mudanças, impulsionadas pelas reivindicações de reformas, tais como a da educação, da saúde, da reforma agrária, da reforma urbana. São reformas de base que a revolução burguesa até hoje não conseguiu programar, o que levou o sociólogo Florestan Fernandes a afirmar a necessidade de realizarmos uma revolução dentro da ordem de modo a concretizarmos tais reformas. Importa salientar que, para o autor, “[...] a revolução dentro da ordem na ótica do trabalho não é condição precípua para a revolução, mas é uma das múltiplas possibilidades na qual essa condição pode se tornar uma realidade” (CARMO, 2012, p. 1). No seio dessa conjuntura estrutura-se o então Ministério da Educação e Saúde (MEC) tendo sido criada a Universidade de São Paulo e organizados os Cursos de Pedagogia. Mais precisamente, o Decreto nº 1.190, de 1939, cria a Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Letras, passando esta a integrar a Universidade do Brasil, localizada no Rio de Janeiro, então capital federal. Na sua estrutura incluem-se unidades bem distintas, a saber: Filosofia, Ciências, Letras e Pedagogia. O objetivo deste último curso, de acordo com a sua primeira regulamentação, tal como contida alínea c, do artigo 51, era o de “[...] preparar o profissional em educação para o exercício do magistério secundário e normal, o licenciado e, para o preenchimento dos cargos técnicos, o bacharel” (BRASIL, 2011). Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006825 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 3 No que concerne ao bacharel em Pedagogia, o decreto acima mencionado (nº 1.190, de 1939) estabelece que para o cargo de técnicos de educação do Ministério da Educação, exige-se o diploma de bacharel em Pedagogia. (BRASIL, 2011). O cargo de técnico em educação compreende o exercício das funções de administração, planejamento de currículos, orientação a professores, inspeção de escolas, avaliação do desempenho dos discentes e dos docentes, de pesquisa e desenvolvimento tecnológico da educação, A estrutura curricular dos cursos oferecidos pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras tinha a duração de três anos para a formação do bacharel com estudos sobre fundamentos e teorias educacionais e mais um ano de formação específica para o exercício da docência. A Didática era, portanto, descolada da formação inicial, suscitando a questionável dicotomia entre conteúdo e método, teoria e prática. Praticava-se, assim, a formação baseada no esquema 3+1, segundo o qual o conteúdo era ministrado em três anos e a parte pedagógica em mais um ano. Quem optasse, pois, por tornar-se professor, de acordo com a especificidade de seu curso, deveria freqüentar mais um ano do curso de Didática, inclusive o bacharel em Pedagogia. Recebia-se, assim, o título de licenciado que habilitava para o exercício do magistério secundário e normal. Em 1946, é proclamada uma nova Constituição Brasileira finalizando a etapa ditatorial da era Vargas iniciada em 1937, com o Estado Novo. Em 1948, começa-se a esboçar uma nova lei para a educação nacional com fortes influências do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova que propugnava uma educação pública, laica, gratuita destinada a todos, em todos os níveis. Este direito permanece como promessa, pois, conforme Fernandes (2007, p. 17), “[...] o que era para ser de todos persiste como privilégio”. Algumas conclusões resultam deste primeiro modelo de Curso de Pedagogia e demais licenciaturas no interior das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras. 1. Uma proposta única de Currículo com três anos de duração, levando inicialmente a formação do bacharel para todos os cursos, que no caso de Pedagogia era o técnico em educação. 2. Com mais um ano de curso preparava-se o licenciado, ou seja, o professor, a quem se atribui, ainda hoje, a docência. 3. As licenciaturas já nascem com a marca da dicotomia entre conteúdos específicos e formação pedagógica 4. O locus dessa formação se dá numa unidade acadêmica e administrativa que é a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras à qual é reservada a competência de formar o/a bacharel e o professor/a para o exercício do magistério em nível de ensino médio (ginasial e colegial). Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006826 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 4 5. É atribuição de uma única faculdade a formação do professor, qualquer que fosse a sua temática. 6. As tentativas de se criar uma Faculdade de Educação, nesse período, foram sempre frustradas (UFPA, 2001, p. 12). Em decorrência da aprovação da Lei 4.024/61, o Conselho Federal de Educação estabeleceu currículos mínimos para vários cursos, dentre os quais o de Pedagogia. Dessa forma, o Curso foi novamente regulamentado, agora pelo Parecer nº. 251/62, com finalidade bem definida: a preparação de profissionais destinados às funções não docentes do setor educacional e de professores das Escolas Normais. Essa nova regulamentação procurou abolir, formalmente, o esquema 3 + 1. A dicotomia, contudo, entre o bacharelado e a licenciatura foi mantida, em função da existência de currículos diferenciados para os dois níveis. Quanto ao bacharelado, este continuou a existir sem atribuições claramente definidas. Em 1964, época da ditadura militar no Brasil, presenciamos o favorecimento do desenvolvimento capitalista, por meio da concentração da renda, do arrocho salarial dos trabalhadores, do incentivo à exportação e ao beneficiamento dos investidores estrangeiros que, pela redução e/ou isenção dos impostos fiscais, tornou mais atraente para o capital externo investir no Brasil. Estudantes e trabalhadores eram, ainda, proibidos de fazer greve. Nesse contexto histórico, político e econômico edita-se uma nova lei de ensino, a Lei 5540/68 que vai legislar para o nível superior, motivo pelo qual passa a ser conhecida como Lei da Reforma Universitária. A Lei 5540/68 trouxe novo ordenamento acadêmico-administrativo para as universidades. Criam-se os departamentos e os colegiados de curso. Um novo regime acadêmico é implantado: a matrícula por disciplina. Em decorrência dessa lei surgem os Centros, como Unidades Acadêmicas e Administrativas, estrutura que passou a ser adotada pela Universidade Federal do Pará, trazendo, na sua concepção, a dicotomia entre Centros Básicos e Profissionais. Para adaptar-se à nova legislação é exarado o parecer nº 252/69 pelo então Conselho Federal de Educação que, em consonância com a nova reestruturação no mundo do trabalho e com a doutrina da segurança nacional, estabelece as habilitações profissionais. A Resolução Nº 2/69 – acompanhando o Parecer 252/69 – estabelece que a “[...] formação de professores para o ensino normal e de especialistas para as atividades de orientação, administração, supervisão e inspeção, no âmbito de escolas e sistemas escolares será feita no curso de graduação em Pedagogia” (BRASIL/CFE/ 1969, p. 113). Fragmenta-se a formação e a atuação do pedagogo. Do generalista – Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006827 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 5 entendido mais em função da não especificação de sua atuação – passou-se ao especialista, qualificado como aquele destinado ao ensino das disciplinas e atividades práticas junto aos cursos normais e ao trabalho de supervisão, administração, inspeção e orientação, no âmbito das escolas e sistemas escolares. O Parecer 252/69 eliminou a distinção entre Bacharelado e Licenciatura, estabelecendo como licenciado o título único a ser obtido, independente da habilitação profissional adquirida. Quando é sancionada a Lei 9394/96, já estamos sob a égide de políticas neoliberais e entre aguerridas discussões para sentenciar-se o fim do Curso de Pedagogia. Todavia, consegue-se estabelecer novos parâmetros de atuação para esse profissional, tendo a docência como fundamento da sua atuação e como base da identidade do pedagogo, com qualificação para atuar tanto na educação formal quanto na informal, como docente e gestor das ações na escola, no sistema de ensino, na esfera administrativa e/ou pedagógica na comunidade, em empresas, em hospitais e em instituições não escolares. De acordo com o Parecer sobre as Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia (BRASIL/CNE/2012, p. 6) este curso tem como finalidade a: [...] formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio de modalidade Normal e em cursos de Educação Profissional, na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. A formação oferecida abrangerá, integradamente à docência, a participação da gestão e avaliação de sistemas e instituições de ensino em geral, a elaboração, a execução, o acompanhamento de programas e as atividades educativas. Seus objetivos, também presentes no referido documento, são: [...] formação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. As atividades docentes também compreendem participação na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando: - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias do setor da Educação; - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e experiências educativas não-escolares; - produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional, em contextos escolares e não-escolares. (BRASIL/CNE/2012, p. 8). De acordo, ainda, com essas novas Diretrizes, sua organização curricular compreende: um núcleo de estudos básicos, um de aprofundamentos e diversificação de Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006828 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 6 estudos e outro de estudos integradores, propiciando uma formação ampla que evidencie a identidade desse profissional. A carga horária mínima do Curso é de 3.200 horas de efetivo trabalho acadêmico, das quais 2800 horas são destinadas às atividades formativas, 300 horas para o estágio supervisionado e 100 para atividades de aprofundamento conforme o interesse dos discentes, entre as quais se destacam: a iniciação científica, a extensão, ou monitoria. O CURSO DE PEDAGOGIA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ A Universidade Federal do Pará foi a primeira instituição de nível superior a implantar o Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia no Estado do Pará. O Decreto nº 35.456/54 de 4 de maio de 1954, assinado por Getúlio Vargas, assim estabelece: [...] é concedida a autorização para o funcionamento dos cursos de filosofia, matemática, geografia e história, ciências sociais, letras clássicas e pedagogia, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Belém, mantida pela Sociedade Civil de Agronomia e Veterinária e com sede em Belém, capital do Estado do Pará. O referido decreto e a Portaria do MEC nº 771/54 são os documentos oficiais de reconhecimento do Curso, tendo ocorrido a sessão solene de instalação do mesmo em 28 de outubro de 1954. O Curso de Pedagogia nasce sob a égide do esquema 3+1, e já em 1962 temos modificação no Curso, formando-se o generalista. Assim, com a titulação obtida por meio do Curso poder-se-ia atuar tanto como professor das disciplinas pedagógicas, quanto ocupar cargos técnicos de direção, supervisão e inspeção, ficando a orientação educacional em nível de pós-graduação. Com a Reforma Universitária de 1968 tem-se o especialista, com habilitações profissionais destinadas a atuar em orientação educacional, supervisão escolar, administração e inspeção no âmbito dos estabelecimentos de ensino e do sistema escolar. Em decorrência da Lei 5540/68 dois desenhos curriculares são formulados na UFPA para o Curso de Pedagogia. O primeiro deles é regulamentado pela Resolução 126/72, do Conselho Superior de Ensino e Pesquisa (CONSEP) em que se implantam as habilitações profissionais e o segundo, inspirando ares democráticos devido à reorganização dos movimentos sociais, dos sindicatos, da organização de novos partidos políticos. Com o fim da ditadura militar, em 1985, modifica-se novamente o Curso de Pedagogia, com a Resolução de nº 1234/85 do CONSEP. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006829 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 7 Neste desenho já há um pouco mais de flexibilidade para o estudante, podendo este completar seu percurso acadêmico com disciplinas eleitas por ele: disciplinas eletivas e optativas. Após intenso debate, com amplo processo de avaliação e de participação, em 1999 é estabelecido um novo Projeto Político Pedagógico para o Curso de Pedagogia. A fundamentação teórica de sua avaliação assentava-se na avaliação emancipatória proposta por Ana Maria Saul, na qual figuram três momentos bem distintos, a saber: o conhecimento da realidade de forma crítica e propositiva, a análise dos dados e a construção da proposta, momentos vividos intensamente pela comunidade acadêmica do Centro de Educação da UFPA, especialmente pelos formuladores da proposta. Três seminários foram realizados em 1994, 1996 e 1997, além de inúmeros grupos focais envolvendo toda a comunidade acadêmica do Centro de Educação para debater as principais questões do curso: desde a infraestrutura à concepção de formação desejável neste início de século XXI. Nesse momento de sua História, a Universidade Federal do Pará já se caracterizava como uma Universidade Multicampi, pois, em 1987, absorvendo os campi avançados do Projeto Rondon, instala, sob sua responsabilidade: nove campi, em nove municípios nos pólos de desenvolvimento do Estado. As sedes dos referidos campi localizam-se nos seguintes municípios paraenses: Abaetetuba, Altamira, Bragança, Cametá, Castanhal, Marabá, Santarém e Soure. O Curso de Pedagogia foi implantado em todos os campi, vinculado ao Centro de Educação, funcionando no campus de Belém. Os debates acerca das propostas de avaliação do Curso e, posteriormente, da de organização curricular do Curso também ocorreram nas sedes dos referidos campi. Os pressupostos políticos pedagógicos do curso, estabelecidos à época, foram: a formação continuada, a universidade como locus da formação do profissional da educação, a não fragmentação na formação do profissional da educação. Como princípios curriculares figuram: o trabalho pedagógico como eixo da formação, a sólida formação teórica, a pesquisa como forma de conhecimento e intervenção na realidade social, o trabalho partilhado/coletivo, o trabalho interdisciplinar, a articulação teoria e prática e a flexibilidade curricular. O objetivo do curso era formar o pedagogo para o exercício da docência e das diferentes dimensões do trabalho pedagógico em âmbito formal e não formal. A estrutura curricular, constituída por um Núcleo Básico, Núcleo Específico e diversos Núcleos Eletivos, resultou em uma nova Resolução: 2669/1999 do CONSEP. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006830 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 8 Em função da reformulação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia – parecer e resolução aprovados em 2005/2006 pelo Conselho Nacional de Educação, o Projeto Político Pedagógico do Curso de Pedagogia foi modificado. Durante o ano de 2010, foi realizada nova avaliação do Curso de Pedagogia. Nesta foram ouvidas as instituições empregadoras, os sindicatos de profissionais da educação, os egressos do Curso de Pedagogia, os docentes e discentes do Curso. Esta avaliação deu lugar ao novo Projeto Político-Pedagógico (PPP), do Curso de Pedagogia, após 12 anos de vigência da Resolução 2669/1999. São fundamentos do novo PPP do Curso de Pedagogia: [...] a formação das/os profissionais do Curso de Pedagogia deve fundamentar-se em quatro grandes bases: a) materialidade/idealidade do sujeito; b) localização/universalização do conhecimento; c) emancipação/regulação da sociedade; d) educação/escolarização de Crianças, Jovens e Adultos; e) teoria/prática na Experiência com a Amazônia. Estas, portanto, articulam as quatro dimensões a partir das quais se funda a educação: o sujeito, o conhecimento, a sociedade e os processos educativos (UFPA, 2010). O desenho curricular passa a constituir-se por três Núcleos: o Básico, o de Aprofundamento e um Núcleo Integrador, com oito eixos temáticos: a escola e o conhecimento, mundo do trabalho e educação inclusiva, escola, cultura e democracia, linguagens e tecnologias, infância e adolescência, política de direito à educação, espaço, paisagem e território na Amazônia. (UFPA, 2010). O objetivo do Curso de Pedagogia é formar o Licenciado em Pedagogia para o exercício da docência na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental e para atuação na gestão educacional e coordenação pedagógica. O Curso foi planejado para que – a partir do seu segundo semestre – o estudante possa começar a familiarizar-se com o mundo do trabalho, em uma permanente integração com a rede de ensino e com ambientes educacionais não formais. O CURSO DE PEDAGOGIA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL A preocupação com a formação de professores para a Educação Infantil nos cursos de Pedagogia da Universidade Federal do Pará inicia-se em 1985, com a Resolução 1234/1985, quando se insere a disciplina Teoria e Prática da Educação PréEscolar, com 60 horas de duração, compatibilizando três créditos destinados, à época, à habilitação Magistério. Tal disciplina é inserida no então Núcleo Específico, tendo sido uma de suas dimensões a Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental: Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006831 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 9 [...] esta dimensão incluirá temáticas que contemplem a análise dos fundamentos político-sociais e pedagógicos da educação infantil, as modalidades de atendimento à criança, o processo de apropriação da leitura e da escrita, a aprendizagem do cálculo matemático e o desenvolvimento da habilidade de resolução de problemas, a análise das categorias tempo, espaço, cultura e natureza nas relações humanas e os fundamentos teórico-práticos da corporeidade e da arte-educação. (UFPA, 1999, p. 42). Evidentemente, com apenas uma disciplina de 60 horas não se acreditava poder formar um professor para o exercício da docência na pré-escola. Destaca-se que a formação da professora para atuar em creches não estava presente, somente para o exercício na pré-escola. No currículo de 1999, regulamentado pelo CONSEP, por meio da Resolução 2669/99, encontram-se duas disciplinas relativas à formação de professores para a Educação Infantil: Fundamentos Teórico-Metodológicos da Educação Infantil, com carga horária de 75 horas-aula e Prática de Ensino na Educação Infantil, com 60 horasaula. A ementa de Fundamentos Teórico-Metodológicos da Educação Infantil abrange Estudo histórico das principais correntes da educação infantil. Vivência da dinâmica da educação infantil: seleção de conteúdos, metodologia de trabalho, organização do espaço e tempo Planejamento das atividades Avaliação do processo educacional. A importância do trabalho interdisciplinar na educação infantil. O papel do professor. (UFPA, 1999). Já a Prática de Ensino na Educação Infantil envolve “[...] atividades orientadas e supervisionadas sobre educação infantil no contexto escolar e na família”. (UFPA, 1999). Verifica-se, ainda, no concernente à carga horária, um aumento significativo, mesmo assim insuficiente para a formação de professores para a Educação Infantil, bem como a abrangência do conteúdo proposto. Todavia, os discentes de Pedagogia eram encaminhados às creches e pré-escolas para conhecer o mundo do trabalho em que seriam inseridos e visitas técnicas eram programadas antes de os mesmos serem encaminhados ao estágio cujo planejamento era realizado conjuntamente conjunto universidade e rede. No desenho curricular, ora em vigência, regulamentado pela Resolução nº 4.102, de 23 de fevereiro de 2011, o curso de Pedagogia oferta cinco disciplinas específicas destinadas à formação do Professor de Educação Infantil: Educação Infantil: concepções e práticas; Estágio na Educação Infantil I, com 68 horas; Estágio na Educação Infantil II, com 68 horas; Literatura Infantil com 51 horas e Infância, Cultura e Educação com 51 horas. Destaca-se que a Educação Infantil também está presente em outras disciplinas que constituem a base da formação do educador. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006832 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 10 Há um avanço nesta proposta curricular em relação à formação de professores de Educação Infantil, igualmente manifesta na concepção do Projeto Político Pedagógico: a produção e socialização de conhecimento voltado à realidade amazônica durante o curso e a uma permanente integração com a sociedade seja por meio da rede de educação básica, seja por meio dos movimentos sociais organizados. CONSIDERAÇÕES FINAIS A docência e o exercício de cargos técnicos em assuntos educacionais sempre foi, ao longo da sua história, prerrogativa do Curso de Pedagogia. Todavia, o magistério dirigido às crianças de creche e pré-escola é muito recente. Na Universidade Federal do Pará essa preocupação começa a se esboçar em 1985, ampliando-se, ainda que timidamente, na reformulação de 1999. Observa-se, entretanto, um avanço significativo na última versão proposta relativamente do número de disciplinas, da carga horária e da concepção de como formar um docente cujo ofício é o de ser professor/a de crianças. Acrescente-se, ainda, a possibilidade de os estudantes complementarem essa formação por meio da realização de atividades independentes, quer em nível de núcleos eletivos, de formação continuada por meio dos seminários específicos da área, oferecidos anualmente, momento em que são socializadas pesquisas, apresentados trabalhos sob a forma de comunicação oral, de pôsteres, pela vivência no Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Infantil (IPE) ou ainda por meio da participação – na qualidade de bolsistas – em projetos de extensão. A formulação do Projeto Político Pedagógico de Pedagogia contempla o movimento da sociedade e das políticas públicas em relação à Educação Infantil que, como primeira etapa da Educação Básica, insere-se na Educação Escolar Brasileira viabilizando a possibilidade de materializarmos a promessa esquecida, de cumprir, o preceito constitucional de todas as crianças terem direito à educação de qualidade, na condição de sujeitos de direitos. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parecer nº. 251/1962. Conselho Federal de Educação. Documenta Nº11. Janeiro e Fevereiro de 1963. Rio de Janeiro: Tupy Ltda., 1963, p. 59-66. _____. Ministério da Educação e Cultura. Parecer nº. 252/1969. Conselho Federal de Educação. Documenta Nº100. Abril de 1969. Rio de Janeiro: Tupy Ltda., 1969, p 10139. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.006833 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 11 _____. Conselho Nacional de Educação/CP. 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