DECLARAÇÃO DE BARILOCHE SOBRE CONÍFERAS EXÓTICAS INVASORAS NA AMÉRICA DO SUL Na seqüência de um encontro internacional sobre invasões biológicas de coníferas realizado em Bariloche, Argentina, de 10 a 12 de maio de 2007, os signatários deste documento requerem aos países da América do Sul que ajam contra a invasão de coníferas em todo o continente. Dado que: • Diversas coníferas vem sendo introduzidas de países do hemisfério norte para o hemisfério sul há séculos, mas especialmente desde 1800, inicialmente em grande parte para produção de madeira e mais tarde para polpa e papel; • Os produtos florestais de plantações de coníferas abrem oportunidades para o crescimento econômico, mas essas plantações também podem levar a processos de invasão biológica; • Diversas dessas espécies de coníferas introduzidas se tornaram invasoras, colonizando áreas além dos plantios ou das áreas de cultivo, com impactos significativos à biodiversidade e a funções ecológicas que incluem a redução da disponibilidade de água, o aumento na intensidade e freqüência de incêndios e a modificação de paisagens naturais; • Tem havido um grande esforço para introduzir e promover coníferas nos últimos 50 anos na América do Sul. A maioria das árvores introduzidas pertence ao gênero Pinus, havendo sido testadas em diferentes áreas geográficas e climáticas, depois selecionadas e amplamente cultivadas; • Em alguns países, as coníferas introduzidas atualmente formam mais de 50% das plantações florestais e diferentes espécies são também usadas como árvores para sombreamento, quebra-vento, plantios à margem de estradas e fins ornamentais; • Após esse meio século de plantio apareceram muitos relatos de coníferas que escapam das áreas de cultivo e invadem ambientes naturais e degradados; • Dada a história e a escala das invasões e dos impactos registrados de invasões e de plantios em outros países como a Nova Zelândia, a Austrália e a África do Sul, seria prudente utilizar a experiência acumulada nesses locais para evitar conflitos de interesses e poupar a grande riqueza de diversidade biológica da América do Sul dos impactos de coníferas invasoras; • Se deixadas sem controle, as invasões de coníferas podem inviabilizar futuras opções de uso da terra para outros fins produtivos; • As condições climáticas da América do Sul podem facilitar processos de invasão de coníferas se medidas específicas de prevenção e manejo não forem adotadas como parte integral do manejo florestal. Existem duas diferenças-chave entre a introdução inicial de coníferas em outros continentes em séculos anteriores e o processo atual na América do Sul. (1) A atual expansão de uso dessas espécies na América do Sul é estimulada por níveis de globalização sem precedentes, com plantios de muito maior escala do que no século passado; (2) muitos dos ambientes em uso para plantio com coníferas na América do Sul já sofreram perturbações antrópicas; • As mudanças climáticas podem também afetar as invasões de coníferas e portanto alterar ambientes naturais, aumentando as oportunidades para invasão; • Alguns países que há muito vêm trabalhando esses problemas já estabeleceram pelo menos soluções parciais aos conflitos de interesse gerados por invasões biológicas e o uso da terra para atividades de produção florestal, incluindo diretrizes e instrumentos legais. Entrar em ação agora vai poupar esforços e custos maiores mais tarde. Pedimos urgência aos países da América do Sul para que adotem medidas de prevenção e controle para proteger seus recursos naturais e ecossistemas únicos, propondo para esse fim que as seguintes medidas sejam tomadas para melhorar o manejo de plantações florestais: Recomendações para regulamentação legal • Implementar procedimentos de análise de risco para todos os tipos de plantios e novas introduções de espécies. • Garantir que todo plantio para produção comercial tenha um profissional qualificado responsável pelo manejo e um plano de manejo registrado na agência governamental responsável. • Os planos de manejo devem incluir estratégias e medidas de implementação para a prevenção, controle e monitoramento da dispersão de espécies exóticas invasoras. Os plantios devem ser estabelecidos de forma a excluir áreas com alta probabilidade de funcionarem como pontos de dispersão (tais como topos de morros, ambientes ripários, áreas expostas a ventos fortes). • A implementação de medidas de controle deve ser auditada de forma independente; • Desencorajar o uso de espécies exóticas invasoras para outros fins além da produção comercial (como uso ornamental, plantios à margem de estradas e lenha). • Encorajar o corte e a erradicação de cultivos abandonados de coníferas de potencial invasor. Certificação Florestal • Caso ainda não incluídas, devem ser incorporadas práticas de controle de espécies exóticas invasoras a critérios de certificação na América do Sul. • Solicita-se às agências de certificação que verifiquem a execução desse critério, pois o mesmo tem sido amplamente ignorado e pode requerer capacitação e treinamento para certificadores. Educação • Incluir o manejo de espécies exóticas invasoras em currículos profissionais relacionados à engenharia florestal e manejo florestal. • Melhorar o conhecimento público do tema de invasões biológicas. Signatários Bustamante, R., Dr. em Ecologia, Instituto de Ecologia e Biodiversidade, Universidade do Chile, Chile1; Castro, S.A., (Dr. em Ecologia) Caseb, Departamento de Ecologia, Faculdade de Ciências Biológicas, Universidade Católica do Chile, Chile2; Nuñez, M.A., Ecólogo, Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade do Tennessee, Universidade do Tennessee, Knoxville, Tennessee, USA3; Pauchard, A., PhD (Ecólogo Florestal) Faculdade de Ciências Florestais Universidade de Concepción, Instituto de Ecologia e Biodiversidade, Chile4; Peña, E., Ecólogo, Universidade de Concepción, Faculdade de Ciências Florestais, Chile5; Raffaele, E., (Dra. em Ecologia), Lab. Ecotono, Universidade Nacional de Comahue, Argentina6; Relva, M.A., Dr. em Biologia e Pesquisa de Conicet, Lab. Ecotono, Universidade Nacional de Comahue. Quintral 1250 (8400) Bariloche, Rio Negro Argentina Lab. Ecotono, Argentina7; Richardson, D.M., Diretor, Centro de Invasões Biológicas, Universidade de Stellenbosch, África do Sul & Membro dos Grupos Especialistas da IUCN em Coníferas e Espécies Invasoras8; Sarasola, M.M., Eng. Florestal, Ecólogo em invasões de coníferas, Coordenador da Área Florestal, Estação Experimental Agropecuária, INTA Bariloche, Argentina9; Simberloff, D., Ph.D. (Biologia), Departamento de Ecologia e Biologia da Evolução, Universidade do Tennessee, Knoxville, Tennessee, USA10; van Wilgen, B.W., Ecólogo Florestal Chefe, CSIR, África do Sul11; Zalba, S. (Dr. em Biologia) Líder Nacional da I3N Argentina, GEKKO – Grupo de Estudos em Conservação e Manejo, Universidade Nacional del Sur, Argentina12; Zenni, R.D., Eng. Florestal, Programa de Espécies Exóticas Invasoras para a América do Sul, The Nature Conservancy, Brasil13; Ziller, S.R. (Dr. em Conservação da Natureza) Coordenadora do Programa de Espécies Exóticas Invasoras para a América do Sul, The Nature Conservancy, Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, Brasil14 1. Facultad de Ciencias, ([email protected]) Universidad de Chile, Casilla 653, Santiago, Chile 2. Caseb, Departamento de Ecologia, Facultad de Ciencias Biologicas, Universidad Catolica de Chile. Casilla 114 d, Santiago, Chile ([email protected], [email protected]) 3. Department of Ecology and Evolutionary Biology, University of Tennessee, Knoxville, TN 37996 USA, 569 Dabney Hall ([email protected]) 4. Facultad de Ciencias Forestales, Universidad de Concepción, Casilla 160-C, Concepción, Chile ([email protected]) 5. Universidad de Concepción, Facultad de Ciencias Forestales Victoria 631, Concepción, Chile ([email protected]) 6. Lab. Ecotono, Universidad Nacional del Comahue. Quintral 1250 (8400) Bariloche, Río Negro Argentina ([email protected]) 7. Lab. Ecotono, Universidad Nacional del Comahue. Quintral 1250 (8400) Bariloche, Río Negro Argentina ([email protected]) 8. Centre for Invasion Biology, Department of Botany and Zoology, Stellenbosch University, Matieland 7602, South Africa ([email protected]) 9. INTA Bariloche CC277 (8400) ([email protected]) Bariloche, Río Negro, Argentina 10. Department of Ecology and Evolutionary Biology, University of Tennessee, Knoxville, TN 37996, USA ([email protected]) 11. CSIR Natural Resources and the Environment, PO Box 320 Stellenbosch 7599, South Africa ([email protected]) 12. GEKKO – Grupo de Estudios en Conservación y Manejo, Universidad Nacional del Sur. San Juan 670 (8000) Bahía Blanca, Argentina ([email protected]) 13. Rua Eugenio Flor, 730 ([email protected]) ap 231 CEP 82130-290 – Curitiba, PR – Brasil 14. Instituto Hórus, Servidão Cobra Coral, 111 Campeche - Florianópolis – SC 88.063-513, Brasil ([email protected])