FACULTAD DE CIENCIAS SOCIALES DOCTORADO EL MEDIO AMBIENTE NATURAL Y HUMANO EN LAS CIENCIAS SOCIALES GESTÃO AMBIENTAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS ASPECTOS: AMBIENTAL, CULTURAL, ECONÔMICO E SOCIAL DA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO – BRASIL/RN TRABAJO DE TESIS DOCTORAL AUTORA: PAVLOVA CHRISTINNE CAVALCANTI LIMA DIRECTOR: Dr. ÁNGEL INFESTAS GIL SALAMANCA, 2010 FACULTAD DE CIENCIAS SOCIALES DOCTORADO EL MEDIO AMBIENTE NATURAL Y HUMANO EN LAS CIENCIAS SOCIALES GESTÃO AMBIENTAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS ASPECTOS: AMBIENTAL, CULTURAL, ECONÔMICO E SOCIAL DA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO – BRASIL/RN TRABAJO DE TESIS PRESENTADA EN EL PROGRAMA DE DOCTORADO EL MÉDIO AMBIENTE NATURAL Y HUMANO EN LAS CIENCIAS SOCIALES PARA LA OBTENCIÓN DEL TÍTULO DE DOCTOR. AUTORA: PAVLOVA CHRISTINNE CAVALCANTI LIMA DIRECTOR: Dr. ÁNGEL INFESTAS GIL SALAMANCA, 2010 PAVLOVA CHRISTINNE CAVALCANTI LIMA GESTÃO AMBIENTAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS ASPECTOS: AMBIENTAL, CULTURAL, ECONÔMICO E SOCIAL DA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO – BRASIL/RN ATA DA DEFESA DA TESE COM ASSINATURAS DOS MEMBROS DO TRIBUNAL DEDICATÓRIA A minha mãe, Teresa Cristina Cavalcanti Lima, Professora Universitária, a quem ratifico o mérito de toda minha trajetória Acadêmica, pelo amor, ensinamento, incentivo e apoio, sem ela não chegaria tão longe...ser uma doutora . MENÇÃO HONROSA Ao meu orientador Prof. Dr. Ángel Infestas Gil, pelos ensinamentos intelectuais e de vida, os quais levarei por toda minha existência. AGRADECIMENTO ESPECIAL A Deus, guia das minhas conquistas. A minha filha Dandarah Christie Cavalcanti Lima de Mello, pelo amor, incentivo e compreensão nos momentos de ausência. AGRADECIMENTOS Aos meus pais, Raul Lima e Teresa Cristina Cavalcanti Lima, pelos valores que me aportaram ao longo da minha vida. Aos meus irmãos Gruscenka Saraí e Victor Hugo, pelo afeto. Em especial a minha irmã que por duas vezes veio visitar-me em Espanha, para amenizar a saudade. Aos meus sobrinhos, Clayvner, Sáskia, Isabela, Larissa e especial a Radner o qual tornou-se meu “filho” durante quatro anos em que esteve estudando em Salamanca compartindo momentos de alegrias, tristeza e saudades. E hoje, muito me orgulha estudando medicina. Aos Brasileiros de diversas partes do nosso país, que conheci em Salamanca, e vieram, como eu, em busca do conhecimento nesta antiga e prestigiosa Universidade. A Fábio Henrique Rodrigues de Sousa, doutorando em Filosofia, que recebeu o prêmio extraordinário de grado 2010 da Universidade de Salamanca, pelas primeiras correções, constantes incentivos e valiosas sugestões. A Luciano Piney Diaz, pelos momentos de dedicação, carinho, cumplicidade, compreensão e uma vida feliz. A Rafael Gonzalez Rodrigues, espanhol Salmantino que tem um coração imenso, e de gestos nobres, jamais esquecerei a hospitalidade e apoio durante o período da tese, querido amigo. Aos Professores coordenadores do programa de doutorado, Dra. Ángela Barrón Ruiz, Dr. Eduardo Fraile González, Dr. Valentín Cabero Diéguez, a quem nos acompanha e apoia desde o período de docência, investigação até o término da tese. A todos os professores que participaram do período de docência do doutorado, pelos seus ensinamentos. Aos meus dezenove companheiros de doutorado de diferentes nacionalidades, pelo intercâmbio cultural e conhecimentos compartidos em especial a Valdice da Silva Conceição por compartir momentos de alegrias e tristezas. XIII Aos professores da Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, Ms. Juarez Fernandes de Oliveira, pela infinita paciência nos ensinamentos na parte estatística; Ms. Maria Dilma Guedes pelas correções e auxílio. A Profª Maria do Socorro Tomaz Palitó pelo incentivo, carinho e valiosas orientações. A Profª. Universitária de Língua Portuguesa, Teresa Cristina Cavalcanti Lima, pelo auxílio na revisão ortográfica e gramatical. Aos habitantes da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, pela participação e contribuição neste projeto de pesquisa. E que este trabalho possa ser utilizado da melhor maneira possível, na conservação dos recursos naturais e dos seus modos de vida e cultura, com o propósito de uma melhor qualidade de vida dos habitantes da reserva. A você… que foi o mentor, e um dos maiores incentivadores para meu ingresso na vida acadêmica. Quiseram os fados, quis o destino que não estivestes mais ao meu lado neste momento de sonho incomum e conquista. A todos que ajudaram de forma direta ou indiretamente para realização deste trabalho científico. XIV RESUMO A área de pesquisa, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RDSEPT), esta localizada nos municípios litorâneos de Guamaré e Macau no estado do Rio Grande do Norte-Brasil, com uma área de 129,6 km², possui uma população em torno de 10.000 habitantes. Dentro e nos limites da reserva, que é área de proteção ambiental, estão localizadas empresas de exploração petróleo e gás (Petrobras), produção de sal (Salinas) e criação em cativeiros de camarões (Carcinicultura) estas empresas deveriam planejar e executar ações que tenham comprometimento com a Gestão ambiental e a Responsabilidade Social, visto que a comunidade exige um maior respeito com o seu entorno, já que se dedicam, em sua maioria, à coleta de moluscos, crustáceos e atividade pesqueira artesanal. O objetivo desta pesquisa é diagnosticar os aspectos Ambientais, Culturais, Econômicos e Sociais dos habitantes da reserva para criar condições para melhoria da qualidade de vida dos moradores através do desenvolvimento de atividades auto-sustentáveis; mobilizar, sensibilizar, sugerir e ajudar as empresas a compreenderem, incorporarem e actuarem com responsabilidade social; compatibilizar as atividades econômicas instaladas na reserva com o uso sustentável dos recursos ambientais; disciplinar os novos usos a serem implantados em consonância com a sustentabilidade ambiental, econômica, cultural e social da área; estimular a realização de parcerias para a viabilização de projetos na área de educação ambiental; implementar idéias de acordo com o potencial oferecido pela reserva e buscar apoio para desenvolver o Turismo Sustentável como alternativa de fonte de renda e desenvolvimento da região. Nesta pesquisa utilizou-se métodos teórico, histórico e descritivo, com a combinação de métodos qualitativos e quantitativos bem como o método alternativo Etnográfico, baseada na pesquisa de campo, as técnicas utilizadas foram 1. pesquisa documental e bibliográfica, 2. entrevista-relatos orais de histórias de vida. 3. observação direta, 4. fotografias do ambiente, e 5. questionário estruturado, esta última técnica de coletas de dados de entrevistas foi aplicado 257 questionários, correspondente a 1008 habitantes formando um total de 10% das familias que residem na reserva ambiental. As análises dos diagnósticos mostraram que a vunerabilidade social global da população da reserva é absurda e inaceitável, que traduz a baixa escolaridade, condições precárias de moradias, falta de emprego, baixa renda, deficiência de infraestrutura básica e XV falta de coleta de lixo toda essa vunerabilidade é ocasionado pela falta de políticas públicas para o desenvolvimento ambientalmente sustentável. Entre outras a pesquisa concluiu que a empresa Petrobras, juntamente com o poder público local, deveriam aplicar de forma mais agressiva as diretrizes de segurança, meio ambiente e saúde, definidas em sua Política de Segurança, Meio Ambiente e Saúde. As empresas de Carcinicultura causam muitos problemas ambientais e sociais, os órgãos ambientais Federal e Estadual, deveriam atuar com rigor na fiscalização, vistorias e licenciamentos. Palavras-chave: Gestão Ambiental, Responsabilidade Social, Desenvolvimento Sustentável, Reserva ambiental. XVI RESUMEN El objeto de la investigación, la Reserva de Desarrollo Sostenible Estatal “Ponta do Tubarão”, está localizada en los Municipios del Litoral de Guamaré y Macau, poblaciones del Estado de Rio Grande del Norte – Brasil, con un área de 129.6 Km² posee una población en torno a los 10.000 habitantes. Dentro de los límites de la Reserva, que es un área de protección ambiental, están localizadas empresas de extracción de petróleo y de gas (Petrobras), producción de sal (Salinas) y cría en cautiverio de camarones (Piscicultura); estas empresas deberían planificar y ejecutar acciones que tengan compromiso con la Gestión Ambiental y la Responsabilidad Social, en base a que la comunidad en la que desarrollan sus actividades exige un mayor respeto con su entorno, ya que en su mayoría los habitantes de la zona se dedican a la pesca de moluscos, crustáceos y actividades pesqueras tradicionales. El objetivo de esta investigación es diagnosticar los Aspectos Ambientales, Culturales, Económicos y Sociales de los habitantes de la reserva para crear condiciones que mejoren su calidad de vida de a través del desarrollo de actividades auto-sostenibles, movilizar, sensibilizar, sugerir y ayudar a las empresas a que comprendan, incorporen y actúen con responsabilidad social a la hora de compatibilizar las actividades económicas instaladas en la Reserva con la sostenibilidad ambiental, económica, cultural y social del área, estimular la realización de acuerdos para la viabilización de proyectos en el área de educación ambiental, implementar ideas de acuerdo con el potencial ofrecido por la Reserva y la búsqueda de apoyo para desarrollar el Turismo Sostenible como alternativa de fuente de ingresos y desarrollo de la región. En esta pesquisa científica utilizo el método teórico, histórico y descriptivo, con la combinación de los métodos cualitativo y cuantitativo, basada en la investigación de campo, las técnicas utilizadas fueron la observación directa, fotografías del ambiente, entrevistasrelatos orales e historias de vida, pesquisa documental e bibliográfica y entrevistas estructuradas; esta ultima técnica de recolección de datos de entrevistas fue realizado con 257 cuestionarios, correspondiendo a 1.008 habitantes y abarcando con ello un total del 10% de las familias que viven en la reserva Ambiental. El análisis de los diagnósticos mostraron que la vulnerabilidad social global de la población de la Reserva es absurda e inaceptable, y se traduce en baja escolaridad, condiciones precarias de las viviendas, falta de empleo, rentas bajas, deficiencias de XVII infraestructuras básicas y falta de recogida de las basuras, esta vulnerabilidad esta ocasionada por la falta de políticas públicas para el desarrollo ambiental sostenible. Entre otros, la investigación concluye que la Empresa Petrobras junto con el poder público local, deberían aplicar de forma más agresiva y rigurosa las directrices de seguridad, medio ambiente y salud, definidas en su Política de Seguridad, Medio Ambiente y Salud. Las empresas de cría en cautiverio de camarones (Piscicultura) causan muchos problemas ambientales y sociales, los órganos ambientales Federal y Estatal, deberían actuar con más rigor en la fiscalización, auditorias y licencias. Palabras-clave: Gestión Ambiental, Responsabilidad Social, Desarrollo sostenible, Reserva ambiental. XVIII ÍNDICE INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 1 1 2 O Problema............................................................................................................................. Organização do Trabalho ....................................................................................................... 3 6 PARTE 1 – REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................. 13 CAPÍTULO 1 – RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA ............................................................. 1 Dualidade: homem-natureza .................................................................................................. 2 Trabalho e a relação: homem-natureza .................................................................................. 3 Revolução industrial e suas consequências ............................................................................ 4 Os desastres e a tomada de consciência ................................................................................. 5 Os valores e a ética ambiental ................................................................................................ 5.1 A moral e a ética ............................................................................................................. 5.2 Uma ética para civilização tecnológica .......................................................................... 6 A história do ambientalismo mundial .................................................................................... 6.1 A história do ambientalismo no Brasil ........................................................................... 17 19 28 32 35 43 44 46 52 55 CAPÍTULO 2 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, TURISMO SUSTENTÁVEL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL ....................................................................... 61 1 Desenvolvimento sustentável: um conceito multidisciplinar ................................................ 1.2 Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável: dicotomia conceitual?........................ 1.2.1 Definindo sustentabilidade.................................................................................... Turismo responsável e planejado ........................................................................................... 2.1 Conservação ambiental e turismo................................................................................... 2.2 Impactos e turismo ......................................................................................................... 2.2.1 Impactos ambientais positivos ............................................................................. 2.2.2 Impactos ambientais negativos............................................................................. 2.3 Marcos legais.................................................................................................................. Educação ambiental................................................................................................................ 3.1 Formas de atuação ......................................................................................................... 3.2 Fazer interdisciplinar .................................................................................................... 64 65 68 71 79 81 82 84 90 93 98 100 CAPÍTULO 3 – A EMPRESA ENTRE A RACIONALIDADE ECONÔMICA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL ........................................................ 1 Transição de racionalidade: da econômica para social .......................................................... 2 Surgimento de um novo modelo de negócios ........................................................................ 2.1 O primeiro segmento...................................................................................................... 2.2 O segundo segmento ...................................................................................................... 2.3 O terceiro segmento........................................................................................................ 3 Responsabilidade social das empresas .................................................................................. 3.1 Que é responsabilidade social........................................................................................ 3.2 Cidadania nas empresas................................................................................................ 3.3 Uma economia comprometida com o social................................................................. 3.4 Certificações sociais e balanço social........................................................................... 107 111 113 114 116 117 125 125 130 135 137 2 3 XIX 4 Responsabilidade civil empresarial por danos ambientais .................................................... 4.1 Histórico da responsabilidade civil ............................................................................... 4.2 Responsabilidade civil................................................................................................... 4.3 Responsabilidade civil por danos ambientais................................................................ 4.4 Direito ambiental brasileiro........................................................................................... 4.4.1 Previsão constitucional ................................................................................... 4.4.1.1 Princípio do poluidor-pagador......................................................... 4.4.1.2 Princípio da compensação .............................................................. 4.4.2 Previsão infraconstitucional ............................................................................ 4.4.3 Formas de reparação do dano ambiental ........................................................ 4.4.4 Mecanismos processuais existentes para a obtenção da tutela ambiental ....... 4.4.5 Compromisso de ajustamento de conduta ....................................................... 4.5 Da responsabilidade civil das empresas ....................................................................... 4.5.1 Do passivo ambiental ..................................................................................... 4.5.2 A solidariedade passiva do poluidor ............................................................... 145 145 147 148 151 152 153 154 155 156 159 162 162 162 166 PARTE 2 – ESTUDO DE CASO DA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO................................... 169 CAPÍTULO 1 – DESCRIÇÃO E CARACTERÍSTICAS GERAIS DA RESERVA ............. 1 História da criação da reserva ................................................................................................ 2 Características ambientais da reserva..................................................................................... 3 Caracterização das comunidades da reserva .......................................................................... 4 Alerta ambiental e as espécies bandeiras ............................................................................... 5 Exploração de peixes ornamentais marinhos no Brasil.......................................................... 5.1 Histórico do ordenamento da exploração de peixes ornamentais marinhos no Brasil . 5.2 Medidas de ordenamento adotadas............................................................................... 173 175 187 194 200 203 206 217 CAPÍTULO 2 – ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA .................................... 1 Objetivos da investigação....................................................................................................... 1.1 Objetivo geral................................................................................................................ 1.2 Objetivos específicos: diagnóstico ................................................................................ 1.3 Objetivos específicos: linha de atuação......................................................................... 2 Metodologia ........................................................................................................................ 2.1 Contextualização da pesquisa....................................................................................... 2.2 A construção da investigação ....................................................................................... 2.2.1 Material ............................................................................................................. 2.2.2 Amostra ............................................................................................................. 2.2.3 Análise estatística.............................................................................................. 221 224 224 224 225 225 231 232 232 235 236 CAPÍTULO 3 – DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA............. 239 1 Introdução ............................................................................................................................. 241 2 Aspectos demográficos .......................................................................................................... 2.1 População segundo gênero ........................................................................................... 2.2 Composição familiar – perfil das famílias RDS........................................................... 2.3 Faixa etária do núcleo familiar ..................................................................................... 242 242 243 245 XX 3 4 5 2.4 Local de nascimento ..................................................................................................... 2.5 Tempo de moradia......................................................................................................... 2.6 Nível de escolaridade ................................................................................................... 2.7 Pessoas contribuindo para renda familiar..................................................................... 2.8 Profissão dos habitantes das RDS ............................................................................... 2.9 Local de trabalho ......................................................................................................... 2.10 Faixa salarial das famílias RDS ................................................................................... 2.11 Formas de recebimento dos salários ............................................................................ 2.12 Classificação da posição de ocupação em relação ao trabalho .................................... 2.13 Programas de Governo ................................................................................................ 2.14 Programas governamentais citados ............................................................................. Aspectos Sócio culturais ........................................................................................................ 3.1 Tipo de animais ........................................................................................................... 3.2 Utiliza lixo domiciliar como alimento para o animal .................................................. 3.3 Cultivos agrícolas ........................................................................................................ 3.4 Cozimento de alimentos .............................................................................................. 3.5 Coleta de lixo ............................................................................................................... 3.6 Freqüência da coleta de lixo ........................................................................................ 3.7 Local de deposito de lixos ........................................................................................... 3.8 Coleta seletiva ............................................................................................................. 3.9 Lixo causa problema a saúde ....................................................................................... Aspectos ambientais............................................................................................................... 4.1 Problemas ambientais comuns na região...................................................................... 4.2 Empresa poluem meio ambiente................................................................................... 4.3 Atividades econômicas que prejudicam o meio ambiente ........................................... 4.4 Principais locais e ecossistemas danificados ............................................................... 4.5 Existência de áreas que deveriam ser preservadas ...................................................... 4.6 Motivos para preservação das RDS ............................................................................. 4.7 Forma de preservação .................................................................................................. 4.8 Educação ambiental ..................................................................................................... 4.9 Responsáveis pela educação ambiental ....................................................................... 4.10 Órgãos ambientais: Idema e Ibama ............................................................................. 4.11 ONG’S ......................................................................................................................... 4.12 Filiação e participação em associação ......................................................................... Aspectos Sócio ecônomicos ................................................................................................... 5.1 Tipo de imóvel.............................................................................................................. 5.2 Construção dos imóveis................................................................................................ 5.3 Condição de ocupação ................................................................................................. 5.4 Total de cômodos ......................................................................................................... 5.5 Instalações sanitárias ................................................................................................... 5.6 Abastecimento d’água ................................................................................................. 5.7 Qualidade da água consumida ..................................................................................... 5.8 Energia elétrica ............................................................................................................ 5.9 Meios de transportes-bens ........................................................................................... 5.10 Bens duráveis ............................................................................................................... 5.11 Melhorias na qualidade de vida da população ............................................................. 5.12 Sugestões para melhoria na atividade econômica que desempenha ............................ XXI 247 250 251 254 255 257 260 262 264 265 266 268 268 271 271 273 275 276 277 278 279 280 280 282 282 287 288 289 290 290 292 293 294 295 296 296 297 298 299 300 301 303 304 305 306 308 308 5.13 Atividades geradoras de empregos .............................................................................. 5.14 Vocação para o turismo da RDS .................................................................................. 5.15 Motivos que impedem o desenvolvimento turístico .................................................... 5.16 Projetos desenvolvidos pelo poder público ................................................................. 5.17 Projetos desenvolvidos pelo poder público encontrados na reserva............................. Análise dos Relatos orais e História de vida –Visão Crítica dos pescadores ........................ 6.1 Os pescadores e as mudanças....................................................................................... 6.2 Sobre a ação das empresas ............................................................................................ 6. 3 Mulher exercendo a pesca............................................................................................. 309 310 310 311 312 313 314 316 321 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 325 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 333 APÊNDICES ............................................................................................................................... 357 ANEXOS ...................................................................................................................................... 369 6 XXII LISTA DE FIGURAS Figura 1 Vista aérea da RDS Estadual Ponta do Tubarão......................................................... 175 Figura 2 Dunas de Diogo Lopes ............................................................................................... 175 Figura 3 Vista do mar, das dunas e lagoa da RDS .................................................................... 176 Figura 4 Município de Guamaré – Porto da Petrobrás............................................................. 180 Figura 5 Município de Guamaré – Pólo Petrobrás.................................................................... 180 Figura 6 Salinas entre Macau e Guamaré-RN .......................................................................... 190 Figura 7 Lixo na Praia .............................................................................................................. 192 Figura 8 Tubulações para armazenar água de chuva................................................................. 192 Figura 9 Armazenamento de água............................................................................................. 192 Figura 10 Distrito de Diogo Lopes – mangues .......................................................................... 193 Figura 11 Distrito de Diogo Lopes – estruturação do espaço urbano ......................................... 195 Figura 12 Diogo Lopes – rancho onde pescadores guardam as redes e barcos de pesca ........... 195 Figura 13 Diogo Lopes – rancho onde os pescadores guardam as redes e barcos de pesca ...... 195 Figura 14 Povoado de Lagoa Doce ............................................................................................. 198 Figura 15 Povoado de Lagoa Doce (escola, igreja e ginásio poliesportivo) – Guamaré... ........ 198 Figura 16 Povoado de Lagoa Doce – depois das dunas – Guamaré.......................................... 199 Figura 17 Povoado Lagoa Doce – Guamaré ............................................................................... 199 Figura 18 Povoado Mangue Seco – Guamaré............................................................................. 200 Figura 19 Povoado Mangue Seco – Guamaré............................................................................. 200 Figura 20 Peixe-boi marinho, baleia jubarte, mico leão dourado, tartaruga marinha ................. 201 Figura 21 Cavalo marinho – Espécies Hippocampus Erectus e Hippocampus Reidi ................ 201 Figura 22 Pirâmide de Sal Marinho – Macau-RN....................................................................... 261 Figura 23 Cavalos Mecânicos – Extração de petróleo – Macau/Guamaré-RN........................... 262 Figura 24 Município de Galinhos – Burrotaxi transporte dos turistas e mercadorias ................. 270 Figura 25 Povoado Mangue Seco – Parque de Vaquejada – Animais soltos- Guaramé........... 270 Figura 26 Animais soltos na praia............................................................................................... 270 Figura 27 Cozinha externa da casa – Fogão a lenha/carvão........................................................ 273 Figura 28 Casal de pescadores – Diogo Lopes ........................................................................... 322 Figura 29 Casal de pescadores – Diogo Lopes ........................................................................... 322 XXIII LISTA DE QUADROS Quadro 1 Maiores lucros da história......................................................................................... 40 Quadro 2 Marcos sobre meio ambiente .................................................................................... 53 Quadro 3 A evolução da preocupação ambiental...................................................................... 59 Quadro 4 Autores e conceituação sobre responsabilidade social.............................................. 125 Quadro 5 Classificação de classes sociais................................................................................. 258 XXIV LISTA DE TABELAS Tabela 1 População segundo gênero da RDS........................................................................... 243 Tabela 2 Composição familiar – perfil das famílias da RDS ................................................... 244 Tabela 3 Faixa etária do núcleo familiar da RDS..................................................................... 246 Tabela 4 Local de nascimento dos habitantes da RDS............................................................. 247 Tabela 5 Tempo de moradia dos habitantes da RDS................................................................ 250 Tabela 6 Nível de escolaridade dos habitantes da RDS ........................................................... 253 Tabela 7 Número de pessoas contribuindo para renda familiar na RDS.................................. 255 Tabela 8 Profissão dos habitantes da RDS............................................................................... 257 Tabela 9 Local que exercem sua profissão na RDS ................................................................. 258 Tabela 10 Faixa etária salarial das famílias RDS....................................................................... 260 Tabela 11 Formas de recebimento dos salários dos habitantes da RDS..................................... 263 Tabela 12 Posição de ocupação em relação ao trabalho dos entrevistados da RDS................... 264 Tabela 13 Famílias da RDS que recebem algum programa de governo .............................. 265 Tabela 14 Programas de governo que as famílias da RDS estão inseridas ................................ 266 Tabela 15 Quantidade de famílias da RDS que possuem animais ............................................. 268 Tabela 16 Quantidade de famílias que utilizam o lixo alimentar doméstico como alimento para os animais .......................................................................................... 271 Tabela 17 Principais cultivos agrícolas dos habitantes da RDS................................................. 272 Tabela 18 Forma de cozimento dos alimentos em fogão a lenha ou carvão .............................. 273 Tabela 19 Coleta de lixo domiciliar dos habitantes da RDS ...................................................... 275 Tabela 20 Frequência semanal da coleta de lixo da RDS.......................................................... 276 Tabela 21 Local onde os habitantes da RDS depositam o lixo .................................................. 278 Tabela 22 Existência de coleta seletiva na RDS ........................................................................ 278 Tabela 23 Lixo causa problema de saúde na RDS ..................................................................... 279 Tabela 24 Os problemas ambientais mais comuns na RDS ....................................................... 280 Tabela 25 Empresas poluem o meio ambiente na RDS ............................................................. 282 Tabela 26 Atividades econômicas que mais prejudicam o meio ambiente na RDS................... 287 Tabela 27 Principais locais mais degradados apontados pelos habitantes da RDS.................... 288 Tabela 28 Existência de áreas que deveriam ser preservadas segundo os habitantes da RDS... 288 Tabela 29 Principais motivos apontados pelos habitantes da RDS para preservação ................ 289 Tabela 30 Forma de preservação da RDS .................................................................................. 290 Tabela 31 Existência de atividades em educação ambiental na RDS......................................... 291 Tabela 32 Responsáveis pela educação ambiental na RDS........................................................ 293 Tabela 33 Funções dos órgãos ambientais Ibama e Idema identificadas pelos habitantes da RDS 294 XXV Tabela 34 O papel das ONG´s para os habitantes da RDS........................................................ 294 Tabela 35 Número de habitantes da RDS que participam de associações comunitárias........... 295 Tabela 36 Nº de habitantes da RDS que participam de associações profissionais /autônomas 295 Tabela 37 Tipo de construção quanto à distribuição de área da RDS ....................................... 296 Tabela 38 Condição de moradias quanto a construção da RDS................................................ 297 Tabela 39 Condição de posse dos imóveis dos habitantes da RDS........................................... 298 Tabela 40 Quantidade de cômodos das casas dos entrevistados da RDS.................................. 299 Tabela 41 Tipos de instalações sanitárias.................................................................................. 300 Tabela 42 Formas de abastecimento de água das residências da RDS...................................... 302 Tabela 43 Tipo de abastecimento d’água consumida pelos habitantes da RDS........................ 304 Tabela 44 Formas de abastecimento d energia elétrica da RDS................................................ 305 Tabela 45 Meios de transportes utilizados pelos habitantes da RDS ........................................ 306 Tabela 46 Bens duráveis consumidos pelos habitantes da RDS ............................................... 307 Tabela 47 Melhorias na qualidade de vida da população da RDS ............................................ 308 Tabela 48 Formas de melhorar a qualidade da atividade econômica que desempenha............. 309 Tabela 49 Atividades geradoras de emprego.............................................................................. 309 Tabela 50 Vocação turísticas da RDS ........................................................................................ 310 Tabela 51 Motivos que impedem o desenvolvimento turístico.................................................. 311 Tabela 52 Tem conhecimento de algum projeto para região pelo poder público ............. 311 Tabela 53 Tipos de projetos realizados pelo poder público na RDS........................................... 313 XXVI LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 População segundo gênero da RDS ........................................................................ 243 Gráfico 2 Perfil das famílias da RDS ...................................................................................... 244 Gráfico 3 Faixa etária do núcleo familiar da RDS .................................................................. 246 Gráfico 4 Local de nascimento das mesorregiões ................................................................... 248 Gráfico 5 Tempo de moradia dos habitantes da RDS ............................................................. 250 Gráfico 6 Nível de escolaridade dos habitantes da RDS ......................................................... 253 Gráfico 7 Número de pessoas contribuindo para renda familiar na RDS................................ 255 Gráfico 8 Categorias das ocupações principais dos habitantes da RDS.................................. 256 Gráfico 9 Faixa etária salarial das famílias da RDS................................................................ 260 Gráfico 10 Formas de recebimento dos salários dos habitantes da RDS .................................. 264 Gráfico 11 Posição de ocupação em relação ao trabalho dos entrevistados da RDS ................ 265 Gráfico 12 Programas de governo que as famílias da RDS estão inseridas .............................. 265 Gráfico 13 Quantidade de famílias da RDS que possuem animais ........................................... 269 Gráfico 14 Quantidade de famílias que utilizam o lixo alimentar doméstico como alimento para os animais........................................................................................ 271 Gráfico 15 Principais cultivos agrícolas dos habitantes da RDS............................................... 272 Gráfico 16 Forma de cozimento dos alimentos em fogão a lenha ou carvão............................ 275 Gráfico 17 Coleta de lixo domiciliar dos habitantes da RDS.................................................... 275 Gráfico 18 Frequência semanal da coleta de lixo da RDS ....................................................... 276 Gráfico 19 Local onde os habitantes da RDS depositam o lixo ................................................ 278 Gráfico 20 Existência de coleta seletiva na RDS ...................................................................... 279 Gráfico 21 Lixo causa problema de saúde na RDS................................................................... 280 Gráfico 22 Problemas ambientais mais comuns na RDS .......................................................... 281 Gráfico 23 Atividades econômicas desenvolvidas que prejudicam o meio ambiente na RDS 287 Gráfico 24 Existência de áreas que deveriam ser preservadas segundo os habitantes da RDS. 289 Gráfico 25 Existência de atividades em educação ambiental na RDS ...................................... 292 Gráfico 26 Tipo de construção quanto a distribuição De áreas da RDS ................................... 297 Gráfico 27 Condição de moradias quanto a construção da RDS............................................... 298 Gráfico 28 Condição de posse dos imóveis dos habitantes da RDS ......................................... 299 Gráfico 29 Quantidade de cômodos das casas dos entrevistados da RDS ................................ 300 Gráfico 30 Tipos de instalações sanitárias ................................................................................ 300 Gráfico 31 Formas de abastecimento de água das residências da RDS .................................... 303 Gráfico 32 Qualidade da água consumida pelos habitantes da RDS ........................................ 304 Gráfico 33 Formas consumo de energia elétrica da RDS.......................................................... 304 XXVII Gráfico 34 Meios de transportes utilizados pelos habitantes da RDS....................................... 306 Gráfico 35 Percentual dos habitantes que possuem bens elétricos e outros ............................. 307 Gráfico 36 Percentual dos habitantes que possuem bens duráveis da RDS ............................ 307 Gráfico 37 Vocação turísticas da RDS...................................................................................... 310 Gráfico 38 311 Existência de projetos públicos na RDS ................................................................. XXVIII LISTA DE SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ADECOB – Associação Desenvolvimento Comunitário de Barreiras ADECODIL – Associação de Desenvolvimento Comunitário Diogo Lopes AGAPAN – Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural AIDS – Acquired Immunodeficiency Syndrome ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária APA – Área de Proteção Ambiental CAERN – Companhia Água e Esgoto do Rio Grande do Norte CDC – Código de Defesa do Consumidor CEPENE – Centro de Pesca e Gestão de Recursos Pesqueiros do Nordeste CGREP – Coordenação Geral dos Recursos Pesqueiros CMMAD – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento COFINS – Contribuição para Financiamento da Seguridade Social CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente CONEMA – Conselho Estadual do Meio Ambiente COSERN – Companhia Energética do Rio Grande do Norte CPDS – Comissão de Política de Desenvolvimento Sustentável CSLL – Contribuição Social sobre Lucro Líquido DEPAQ – Departamento de Pesca e Aquicultura DIEESE – Departamento Intersindical de Estatistica e Estudos Socio Econômicos DPA – Departamento Pesca e Aquicultura EMBRATUR – Instituto Brasileiro do Turismo FBCN – Fundação Brasileira para Conservação da Natureza FIDES – Fundação Instituto para o Desenvolvimento Sustentável FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo GEPT – Grupo Ecológico Ponta do Tubarão GIFE – Grupo de Instituto Fundações e Empresas GLP – Gás Liquefeito de Petróleo GTA – Guia de Trânsito de Animais IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IBASE – Instituto brasileiro de Análises Sociais e Econômicas XXIX IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços IDEMA – Instituto desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente IMAT – Grupo de Ictiologia Marinha Tropical IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados IR – Imposto de Renda ISS – Imposto Sobre Serviço LABOMAR – Laboratório de ciências do Mar LACP – Lei de Ação Civil Pública MAPA – Ministério Agricultura Pecuária e Abastecimento MEC – Ministério da Educação MIT – Massachusetts Institute of Tecnology MTUR – Ministério do Turismo OCIPS – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público OIT – Organização Internacional do Trabalho OMS – Organização Mundial de Saúde OMT – Organização Mundial do Trabalho ONG´s – Organizações Não Governamentais ONU – Organização das Nações Unidas ORTNs – Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional PIB – Produto Interno Bruto PIS – Programa de Integração Social PNAD – Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios PNEA – Política Nacional Educação Ambiental PNT – Plano Nacional de Turismo PNUD – Programa das Nações Unidas PNUMA – Programa Nações Unidas para Meio Ambiente PPA – Programa do Plano Plurianual PRODETUR – Programa Desenvolvimento do Turismo PROECOTUR – Programa de desenvolvimento do Ecoturismo PRONAC – Programa Nacional de Apoio a Cultura XXX RDSEPT – Reserva Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão RESEX – Reserva Extrativistas SEAP – Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente SNUC – Sistema Nacional de Unidade de Conservação SUASA – Sistema Unificado de atenção a Sanidade Agropecuária UC – Unidade de Conservação UEPB – Universidade Estadual da Paraíba UERN – Universidade Estadual do Rio Grande do Norte UNEP – United Nations Environment Programe UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas UN-RNCE – Unidade Negócios de Exploração e Produção do Rio Grande do Norte e Ceará UTPF – Unidade de ativo Processamento de Fluídos WTO – World Tourism Organización XXXI INTRODUÇÃO 1 O Problema O Homem utiliza recursos naturais para satisfazer a maioria das suas necessidades vitais. A história da evolução da humanidade mostra que a relação do homem com o meio foi acompanhada por um progresso técnico que serve de base para aumentar a produção, que é necessário com o objetivo de satisfazer às necessidades básicas das aglomerações humanas. As técnicas tornaram-se cada vez mais sofisticadas e foram multiplicadas em massa, ocupando o território. O aperfeiçoamento técnico-científico contribuiu para o melhor entendimento da natureza, no entanto, com todo este avanço a destruição desnecessária continuou a ser praticada. Os efeitos da devastação ambiental, fruto da utilização desordenada dos recursos naturais que afeta o planeta Terra, já se faz sentir, também, nas pequenas comunidades costeiras, a exemplo do que ocorreu com os moradores de Diogo Lopes e Barreiras, que são distritos pertencentes à cidade de Macau, localizadas a 180 km da capital Natal, no Estado do Rio Grande do Norte, região Nordeste do Brasil (Anexo A). Estas comunidades basicamente formadas em sua maioria por pescadores, a partir da década de noventa viram seus espaços vitais de moradia e de exploração econômica seriamente ameaçados pela intenção manifestada por grupos empresariais de se instalar na região e como consequência destas ações em um futuro próximo suas vidas iriam modificar-se e certamente em pouco tempo suas preocupações não seriam apenas com o rumo e a velocidade dos ventos. Entre a comunidade eram muitas as dúvidas e inquietudes que surgiam a respeito da necessidade de se preservar o meio ambiente, a principal delas é se seria possível manter políticas de desenvolvimento e ao mesmo tempo preservar os recursos naturais e o meio ambiente, através de uma lógica participativa e democrática, principalmente contando com a participação dos governos locais1. 1 .Na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD, celebrada no Rio de Janeiro em 1992, os países presentes e representados expressaram a vontade de adotar e encaminhar práticas para integrar o Meio Ambiente e o Desenvolvimento como estratégia para corrigir as desigualdades existentes, incrementar e proporcionar o bem estar e melhorar as condições de vida na terra a longo prazo. O compromisso com o desenvolvimento sustentável foi acordado em quatro documentos: A Declaração de Princípios, O Convênio sobre o Câmbio Climático, O Acordo sobre a Biodiversidade e Agenda 21. Dos quatro acordos, o último que incorpora o melhor espírito do encontro RIO-ECO 92, por se tratar de um plano de ação que estimula a cooperação e aprendizagem em um processo mútuo entre os poderes públicos e a sociedade discutindo estratégias para o desenvolvimento sustentável. (FONT, N y RUBIRATS, J. Ciudadanos y Decisiones Públicas, Barcelona, Ed. Ariel S.A, 2001, p. 185). 3 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Neste clima surgiu a idéia do Iº Encontro para se debater o assunto, através das associações comunitárias que se reuniram e saíram em busca de apoio e com êxito lograram realizar o evento “Em Defesa do Nosso Futuro”, no ano 2001. A partir deste marco, iniciouse uma luta de anos, em busca da transformação de um sonho em realidade, ou seja, lutar para transformar a área em uma Reserva Ambiental. A população das comunidades localizadas no município de Macau – Barreiras, Diogo Lopes e Sertãozinho – foram as mais envolvidas com a criação da reserva, conscientizando os moradores as exigências para sua implementação: evitar que novas atividades econômicas, geridas por pessoas estranhas à comunidade se instalem na região, comprometendo os ecossistemas e, consequentemente, as atividades de pesca e coleta de recursos aquáticos, desenvolvidas por mais de 90% das famílias, seja para comercialização da produção, seja para consumo local. Entre essas novas atividades não desejadas pela população consta: a carcinicultura, exploração petrolífera e o turismo convencional. Aliás, as duas primeiras atividades citadas estão presentes na área da reserva ou em seu entorno imediato, tendo já determinado a ocorrência de alguns impactos aos ecossistemas2. Cabe ressaltar que a fragilidade e a produtividade natural dos ecossistemas da área da reserva justificam plenamente a preocupação dos moradores e, seus anseios pela efetiva implementação da Reserva Desenvolvimento Sustentável: a área é constituída por caatinga, dunas, planícies interdunares, áreas alagadiças, estuários, praias, rias, restinga, ilhas de sedimentação, manguezal e porção oceânica. A ocorrência de atividades impactantes nessa área pode comprometer as funções desses ecossistemas e provocar sérios danos às atividades de pesca e de coleta de moluscos e crustáceos. 2 A carcinicultura, segundo relatório SUGERCO – IDEMA (2002) e os moradores contatados em campo, está representada por oito empreendimentos e dentre esses, apenas um com licença de operação emitida pelo IDEMA. Mesmo assim, há dois empreendedores com viveiros em operação, acarretando impactos sócioambientais, tais como: eliminação do direito de passagem aos usuários tradicionais dos recursos naturais; interrupção de estradas vicinais; comprometimento de poços de abastecimento em função da competição pelo uso da água; salinização dos lençóis subterrâneos pela alteração do regime hídrico e pela descarga de efluentes salgados, (propiciadas também pela frágil impermeabilidade dos solos das planícies inter dunares) e comprometimento do manguezal pela maior salinização dos corpos d’água. Quanto à exploração petrolífera, atividade exclusiva da Petrobrás na região, registra-se a ocorrência de plataformas marítimas e poços terrestres em áreas imediatamente contíguas à da reserva, além de um pólo de processamento de gás e querosene a poucos quilômetros do limite leste da unidade. No primeiro semestre de 2003 ocorreu um vazamento de óleo na área de exploração marítima, acarretando o comprometimento da qualidade das águas, praias e restinga da região. Embora o derramamento de óleo não tenha provocado danos maiores aos ecossistemas e às atividades de pesca dos moradores da reserva, tal fato vem ressaltar o potencial altamente impactante da atividade, cabendo ao IDEMA a realização de estudos de impacto e a obtenção de informações mais precisas junto à Petrobrás no que se refere às atividades de monitoramento e aos planos de expansão de poços, conforme já recomendado no relatório SUGERCO-IDEMA (2002). 4 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN A partir de então, com a colaboração de parcerias institucionais, as organizações já existentes na sede do município de Macau e em Barreiras e Diogo Lopes iniciaram um processo de mobilização mais ampla das comunidades e de discussão sobre qual modalidade de unidade de conservação mais conviria à realidade local, assim como sobre os procedimentos necessários para sua implantação. Essa mobilização foi reforçada pela realização de três eventos públicos, os Encontros Ecológicos de Diogo Lopes e Barreiras (2001, 2002 e 2003), que resultou na assinatura do Projeto de Lei 8.349/03, em 18 de julho de 2003, de criação da RDSEPT – Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão pelo governo do Rio Grande do Norte, com uma área de preservação ambiental de 12.946,03 hectares. No ano seguinte o CONEMA, Conselho Estadual Meio Ambiente, resolve aprovar o regimento interno do conselho gestor da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão (RDSEPT). (Anexos B e C). Segundo Miguel Reali, A civilização tem isso de terrível: o poder indiscriminado do homem abafando os valores da natureza. Se antes recorríamos a esta para dar uma base sustentável ao direito (e, no fundo, essa é a razão do Direito Natural), assistimos, hoje, a trágica inversão, sendo o homem obrigado a recorrer ao Direito para salvar a natureza que morre.3 A busca pela realização de um sonho comum vem sendo aglutinador de uma rede de organizações e voluntários, que aos poucos, vão construindo a história da Reserva e descobrindo a imensidão de desafios para mantê-la. Estas iniciativas refletem uma característica importante e fundamental que é o envolvimento comunitário no sentido de participar e exigir um desenvolvimento sustentável através de um planejamento e uma gestão ambiental, assegurando às comunidades o respeito a seus valores sócio-culturais e a autonomia para poder decidir sobre alternativas de desenvolvimento econômico, compatibilizadas com suas expectativas. Devido ao fato, de que antes da reserva ser criada, já existiam empresas nesta área, que são fontes poluidoras do meio ambiente, Empresas de Carcinicultura e Empresa de Petróleo que hoje estão localizadas dentro e nos limites, de uma área de proteção ambiental e diante desta nova realidade elas terão que assumir um papel de 3 REALI, M. Memórias, São Paulo: Saraiva , 1987. v. I, p. 297. 5 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Responsabilidade Sócio-ambiental, visto que a comunidade exige um maior respeito com o seu entorno. No Brasil, dadas as dimensões de seu território, a extensão e diversidade dos seus ecossistemas, e o desconhecimento da biodiversidade associada aos mesmos, a complexidade da estrutura produtiva e as disparidades de distribuição de renda, tornam mais difícil a definição de políticas que resultem no desenvolvimento material, com justiça social e qualidade ambiental. Estes aspectos tornam-se mais graves ainda, pela falta de conhecimento, falta de incentivo e escassez de pesquisa científica. 2 Organização do trabalho O trabalho de investigação esta dividido em duas partes: Parte I – Refencial Teórico- Estão agrupados o marco teórico e os conceitos básicos fundamentais para reflexão e contextualização do trabalho, na qual esta subdividida em três capítulos: Capítulo 1 – Relação Homem-Natureza – Este capítulo é reflexivo e filosófico aborda a dualidade: homem-natureza, o trabalho e a relação: homem-natureza, a revolução industrial e suas consequências, os desastres ambientais e a tomada de consciência, os valores e a ética ambiental, o surgimento de uma ética para civilização tecnológica, também retrata um pouco a história do ambientalismo mundial e do Brasil. Capítulo 2 – Desenvolvimento Sustentável, Turismo Sustentável e Educação Ambiental – Inicia com questões relacionadas a conceitos sobre desenvolvimento sustentável, aborda o turismo responsável e planejado voltado para conservação ambiental e enfatiza os impactos ambientais positivos e impactos ambientais negativos nas práticas turísticas, e quais suas consequências legais. Enfatiza a importância da educação ambiental em suas diversas formas de atuação buscando através de um desafio de forma consistente e consequente, algumas alternativas de um fazer educacional que abarque as questões ambientais, buscando um novo ideário comportamental. Capítulo 3 – A Empresa entre a Racionalidade Econômica e a Responsabilidade Social – Transição de racionalidade: da econômica para social – surgimento de um novo modelo de negócios, o conceito de responsabilidade social das empresas e uma economia comprometida com o social, certificações sociais e balanço social, responsabilidade civil 6 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN empresarial por danos ambientais, histórico da responsabilidade civil, direito ambiental brasileiro e o compromisso de ajustamento de conduta. Parte II – Estudo de caso da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão- Está concentrado em três capítulos todos relacionados diretamente com o estudo de caso da Reserva. Capítulo 1 – Faz a descrição das características ambientais e da caracterização das comunidades da reserva, relata todo o histórico da criação da reserva, a alerta ambiental e as espécies bandeiras – direcionando o ordenamento e as medidas adotadas na exploração e extinção de peixes ornamentais marinhos do Brasil. Capítulo 2 – Apresenta os aspectos Metodológicos da Pesquisa: 1 Objetivos da investigação 1.1 Objetivo geral – Através do diagnóstico formular estratégias para fomentar o Desenvolvimento Sustentável Local. 1.2 Objetivos específicos: diagnóstico − Diagnosticar os fatores sócio-econômicos – Analisa-se a situação social e econômica da população, diagnostica as condições de vida, renda, habitação, alimentação, saúde e trabalho, no sentido de avaliar a deteriorização sócio-econômica das familias residentes; − Diagnosticar os fatores sócio-culturais – hábitos, costumes e necessidades – Faz-se necessário para compreender o universo de significações de crenças, hábitos, costumes e valores no intuito de captar expressões do cotidiano da população da reserva na sua dimensão contraditória e múltipla, dimensão esta que reflete as tradições do passado, as normas do presente e as esperanças do futuro; − Diagnosticar os fatores sócio-ambientais – Visa detectar os principais elementos poluentes produzidos pela população e empresas, e com a análise dos mesmos, verificar o grau de deteriorização das praias, mangues, dunas, enfim de todo habitat natural da reserva, abrangendo também, as condições de funcionamento e o fator de responsabilidade social das empresas, observando quais os benefícios e prejuízos que estas empresas causam à população da reserva. 7 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 1.3 Objetivos específicos: linha de atuação − Avaliar o grau de necessidades e deteriorização da reserva- visando direcionar, em projetos específicos, as orientações para recuperação, preservação e conscientização ambiental; − Criar condições para melhoria da qualidade de vida dos moradores através do desenvolvimento de atividades auto-sustentáveis como a pesca; − Compatibilizar as atividades econômicas instaladas na reserva com o uso sustentável dos recursos ambientais; − Disciplinar os novos usos a serem implantados em consonância com a sustentabilidade ambiental, econômica e social da área; − Harmonizar o desenvolvimento local com a preservação dos valores culturais; − Estimular a realização de parcerias para a viabilização de projetos na área de educação ambiental. − Implementar idéias de acordo com o potencial oferecido pela reserva e buscar apoio para desenvolver o turismo sustentável como alternativa de fonte de renda e desenvolvimento da região. 2 Metodologia 2.1 Contextualização da pesquisa A pesquisa foi realizada através de diferentes métodos como o descritivo, histórico e teórico, bem como a combinação de métodos qualitativos e quantitativos e o método alternativo etnográfico. A Reserva Ambiental de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão é formada por nove distritos pertencentes ao município de Macau e quatro ao de Guamaré (Anexo D), totalizando cerca de 10.000 habitantes. Para realização da pesquisa foram escolhidos os distritos de Barreiras, Diogo Lopes e Sertãozinho pertencentes ao município de Macau, compostas respectivamente por 2800; 5500; 300 habitantes, como também os distritos de Mangue Seco I, Mangue Seco II, com aproximadamente 100 habitantes cada um e Lagoa Doce com 100 habitantes, que fazem parte do município de Guamaré, que correspondem a quase 90% da população da reserva. Por se tratar de uma reserva ambiental onde os seus limites estão regidos pelo Conselho Gestor da 8 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Reserva, fez-se necessário pedir autorização para aplicar o questionário nas cinco comunidades pertencentes a reserva (Apêndice A). Combinar técnicas qualitativas e quantitativas torna a pesquisa mais forte e reduz os problemas de adoção exclusiva de um desses grupos; por outro lado, a omissão no emprego de métodos qualitativos, num estudo em que se faz possível e útil empregá-los, empobrece a visão do pesquisador quanto ao contexto em que ocorre o fenômeno. Duffy (1987, p. 131). Na pesquisa de campo, utilizou-se métodos qualitativos como pesquisa documental e bibliográfica, entrevista-relatos orais de histórias de vida, observação direta, fotografias do ambiente e o método quantitativo a través do questionários estruturado. Na pesquisa quantitativa o universo investigado foi bastante representativo visto que 257 famílias foram entrevistadas o equivalente a 10% da população da Reserva Ambiental, ou seja, 1008 habitantes. O questionário estruturado constou de 60 perguntas (Apêndice B) e foi elaborado em quatro partes, a saber: I. Aspectos Demográficos – Aborda os aspectos gerais como nome, idade, sexo, grau de escolaridade, número de filhos, local de nascimento, profissão, renda familiar, ajuda de programa governamental. Tem por objetivo fornecer os dados de cada família oferecendo subsídios necessários para se ter um perfil da população. (13 itens). II. Aspectos Sócio culturais – É composta de perguntas quanto aos hábitos e costumes da comunidade, fazendo questionamentos referentes a criação de animais, ao cultivo de plantas, a forma como os residentes depositam o lixo, o cozimento dos alimentos. Com apenas uma única opção de escolha para os entrevistados. (14 itens). III. Aspectos Ambientais – Procura identificar o que a comunidade pensa sobre seu entorno em relação a questões ambientais, quais os locais poluidos, os motivos, e os responsáveis pela degradação ambiental da RDSEPT, e quais os respectivos órgãos competentes para fiscalização. Foram abordadas perguntas com única e múltiplas escolhas, bem como o entrevistado poderia complementar com questões abertas. (16 itens). IV. Aspectos Sócio econômicos – Busca através das perguntas identificar as condições de moradias, bens duráveis, meios de transportes, saneamento básico e infraestrutura atuais das famílias e a forma de melhoria de qualidade de vida da 9 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN RDSEPT. Foram abordadas perguntas com única e múltiplas escolhas, bem como o entrevistado poderia complementar com questões abertas (17 itens). Para a pesquisa qualitativa na técnica de entrevistas de relatos orais de história de vida foram aplicadas entrevistas com pescadores, já que a reserva é basicamente formada por pescadores em sua maioria, que de forma direta ou indireta seus habitantes sobrevivem da extração de moluscos, crustáceos e peixes, e são eles os primeiros a sentir qualquer tipo de mudança no seu habitat natural . Todo este estudo nos proporcionou um panorama minucioso sobre a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RDSEPT). Para a análise de dados foi utilizado um programa estatístico, STATISTIC, versão 5.1. Quanto ao referencial teórico utilizado na tese baseia-se em escritores relacionados principalmente a temas Ambientais como Nussbaum e Sen (1995), Guattari (1998), Sachs (1986), Ferreira (1998), Penna (1999), Ferreira e Viola (1996), Barbosa (1998b), Barbieri (1997), Boff (1995), Casseti (1991), Martinez Alier (1992), Penna (1999), Smith (1988), Sosa (1985), Trigueiro (2005), Gonçalves (1998), Pardo Díaz (2002) e outros, recomendam que os seres humanos se empenhem em ações e atividades que lhes proporcionem melhoria da qualidade de vida, não só para si, mas também para outras coletividades humanas. Na busca para viver mais e melhor lança-se mão de posturas sociais e pessoais que possam levá-lo a interações construtivas, justas e ambientalmente sustentáveis, deverá ser a meta para conseguir modos de vida sustentáveis neste novo milênio. Aportações Filosóficas voltadas para o tema homem/natureza, enfatizando a Ética na Civilização Tecnológica Hans Jonas (1995), Giacóia (1996) e Sosa (1985). Abordagens na temática do Turismo Sustentável através de diversos autores como Beni (2007), Oliveira (2002), Silveira (1997), Swarbrooke (2000), Zimmerman (1998), Lage e Milone (1999), Ruschmann (1999), Fonteles (2004), Neto e Trigo (2003), Lemos (2005), Boullon (2002). Temas direcionados a sociologia da empresa/meio ambiente, Infestas Gil (2001), Ferreira (1975), Morgan (1996), Souto-Maior (1988), Petit (1976), Schmidheiny, (1992), Sales (2001), Sampaio, (2000), Tema na área de directo, Machado (2002), Mukai (2002), Benjamin (1993), Fiorillo (2006), Carvalho Filho (2001), Cavalieri Filho (1998), Reali (1987). Ademais, a sustentação do Trabalho se ampliam com fontes primárias como informes e anais de Orgãos Públicos de ordem Internacionais e Nacionais, tais como Organização das Nações Unidas (ONU), Programa Nações Unidas para Meio Ambiente (PNUMA), Programa das Nações Unidas (PNUD), Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento 10 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN das Nações Unidas (CMMAD), Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), Instituto Brasileiro do Turismo (EMBRATUR), Instituto Brasileiro de Geografía e Estadística (IBGE), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), Instituto Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (IDEMA), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Laborátorio de Ciências do Mar (LABOMAR), Programa Nacional de Amostra por Domicilio (PNAD), Política Nacional Educação Ambiental (PNEA), Programa Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR), Programa de desenvolvimento do Ecoturismo (PROECOTUR), Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). Capítulo 3 – Discussão e análise dos resultados da pesquisa Neste capítulo centraremos a atenção na discussão, análise e conclusão dos dados da pesquisa realizada nas seis comunidades distintas da reserva, diagnosticamos os fatores demográficos, sócio-culturais, sócio-econômicos e sócio-ambientais dos habitantes da reserva, para dar conta do significado deste grupo, tanto em cifras absolutas como relativas, já que qualquer ação encaminhada para melhorar a qualidade de vida da reserva deve centrar-se sobre um conhecimento preciso de todos estes fatores que envolvem: as condições de vida, renda, habitação, grau de escolaridade, alimentação, saúde, transporte, trabalho, infraestrutura, aspectos culturais, hábitos, costumes, degradação ambiental e a responsabilidade sócio- ambiental das empresas que estão dentro e nos límites da reserva. Considerações Finais – Última parte do trabalho, esta baseado nas discussões e análises dos dados relatados e concluidos ao longo do capítulo 3, da Parte II do trabalho, que foram obtidas a partir de um longo e árduo trabalho de pesquisa qualitava e quantitativa através de suas diferentes técnicas, envolvendo uma comunidade, partindo desde a origem da criação da reserva até os dias atuais, no intuito de apresentar inúmeras considerações com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento sustentável local e consequentemente uma melhora na qualidade de vida dos habitantes da Reserva de Desenvolvimento Estadual Ponta do Tubarão. 11 PARTE 1 REFERENCIAL TEÓRICO Embora os gregos tivessem uma concepção de natureza enfrentada à de nossos dias, inclusive em um autor dualista como Platão, que afirmava o valor existencial de um mundo inteligível sobre este no qual habitamos, pode-se encontrar palavras como estas: Sócrates. ¡Por Hera!, bello retiro. Pues este plátano es muy corpulento y elevado, y sumamente hermosa la sombra de este sauzgatillo, que además, como está en el apogeo de su florecimiento, puede dejar en extremo impregnado el lugar de su fragancia. A su vez, la fuente que mana debajo del plátano es placentera a más no poder, y su agua muy fría, según se puede comprobar por el pie. Consagrada a alguna ninfa o al Aqueloo parece estar a juzgar por esas estatuillas e imágenes. Y fíjate también en el aire tan puro del lugar, ¡qué agradable, cuán sumamente delicioso es, y con qué sonoridad estival contesta al coro de cigarras! Pero lo más exquisito de todo es el césped, porque crece en suave pendiente que basta para reclinar la cabeza y estar maravillosamente. De modo, amigo Fedro, que has sido un excelente guía de forasteros. PLATÓN, FEDRO, 230 b 15 CAPÍTULO 1 RELAÇÃO HOMEMHOMEM-NATUREZA A busca do conhecimento e do entendimento acerca da Terra e do Universo são premissas que norteiam e que acompanham a humanidade desde os antigos filósofos gregos até a ciência moderna. A sociedade contemporânea tem vivenciado uma série de problemas que envolvem o modo de relacionar-se com a natureza no processo de produção e reprodução do espaço geográfico, colocando em questão o conceito de Natureza em vigor, o qual perpassa pelo modo de vida dessa sociedade, as sensações, o pensamento e as ações. Pensar a natureza hoje, e a forma como o homem se relaciona com ela no contexto da produção capitalista, nos remete ao passado na ânsia de compreender as mudanças que se processaram no modo da sociedade pensar, interagir e produzir a natureza em seu convívio com ela, portanto em pleno século XXI o meio ambiente apresenta-se como um dos problemas urgentes a serem resolvidos nos novos tempos, a fim de que a vida do homem seja preservada saudável, digna e produtiva. Por isso, alguns estudiosos, como: Barbieri (1997), Barbosa (1998b), Ferreira (1998), Ferreira e Viola (1996), Guattari (1998), Leff (1993), Max-Neef (1998), Nussbaum e Sen (1995), Penna (1999), e Sachs (1986) recomendam que os seres humanos se empenhem em ações e atividades que lhes proporcionem melhoria da qualidade de vida, não só para si, mas também para outras coletividades humanas. Na busca para viver mais e melhor lança-se mão de posturas sociais e pessoais que possam levá-lo a interações construtivas, justas e ambientalmente sustentáveis, deverá ser a meta para conseguir modos de vida sustentáveis neste novo milênio. Faz-se necessário, neste momento, historiar um pouco a relação homem/natureza, binômio importante para a sustentabilidade da vida no planeta e consequentemente, melhoria das condições vitais do ser humano, porque o homem sempre explorou a natureza, sem que fosse necessário preocupar-se com esta ação, visto que por mais que tirasse da terra, havia sempre muito mais. 1 Dualidade: homem-natureza As raízes históricas do dualismo conceitual que envolve a natureza remontam a Kant, pois para ele a natureza interior dos seres humanos compreendia suas paixões cruas, enquanto a natureza exterior era o ambiente social e físico no qual os seres humanos viviam. Esta concepção dualística que é exterior, e que é concebida como a natureza primitiva que foi 19 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN criada por Deus, toda esta matéria prima da qual a sociedade é construída, que seriam que seriam as rochas, os rios, as árvores, enfim os elementos internalizados no processo de produção social. E também a natureza concebida como universal, como afirma Smith (1988, p. 28) em sua obra, ou seja, "a natureza humana, na qual está implícita que os seres humanos e seu comportamento são absolutamente tão naturais quanto os aspectos ditos ‘externos’ da natureza”. Francis Bacon concebia a natureza como algo exterior a sociedade humana, presumindo uma separação entre natureza e sociedade, ou seja, o homem exercia seu domínio sobre a natureza através das artes mecânicas. Conforme afirma Smith, a concepção de natureza exterior de Bacon não era arbitrária, pois ele já tinha de certa forma, a conexão entre indústria e ciência, devendo as artes mecânicas estarem a serviço da produção, e assim aumentar a produtividade do processo de trabalho. Smith ressalta que mesmo que o desenvolvimento da indústria de produção em massa tenha conduzido a ciência à subordinação ao capitalismo industrial de modo significativo, ela ainda possuía certa autonomia, sobretudo nos centros de pesquisa pura. O mesmo acredita ainda que, por mais intimamente ligada que a ciência esteja à indústria, ela ainda compartilha com Bacon e mesmo com Newton, da concepção epistemológica de natureza exterior, ainda que na Ciência Moderna ela seja exterior e ao mesmo tempo universal. O seu surgimento provoca uma grande mudança, visto que a universalidade da natureza se reveste de religiosidade. A ciência passou a ser algo divino que devia ser buscado, pois era através da ciência e do domínio da natureza que o homem resgataria sua harmonia, realizando desse modo a vontade de Deus. A Ciência Contemporânea também adotou o conceito universal de natureza, mas sem aquele cunho religioso. Com Darwin, determinados fenômenos sociais passaram a ser tratados a partir das mesmas bases científicas em que eram tratados os eventos químicos, ou mesmo físicos, pois a Biologia passou a ser considerada segundo o autor Smith (1988, p. 33-34), "Como sistematicamente histórica [...]. Mas, de acordo com a teoria física da natureza universal, não é o mundo biológico e sim o mundo físico que está na base da natureza". Quando ocorre o surgimento da Teoria Quântica e a refutação da Teoria Newtoniana por Einstein, surge o debate a respeito de o espaço e do tempo ou a matéria, serem os elementos básicos dos eventos físicos. Para Smith, talvez essa visão universal de natureza física seja a mais aceita, tendo em vista que a natureza é composta de matéria e, portanto, possui uma natureza material. 20 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN O conceito de natureza contém em sua essência o dualismo entre externalidade e universalidade, interrelacionando-se e contradizendo-se ao mesmo tempo, no entanto nos questionamos se é possível conceber dualisticamente uma realidade que é única? Smith ressalta nesse sentido, que se conceitua a natureza como sendo um produto social. Para justificar sua afirmação o autor discute a conquista do território americano, destacando que nesse caso o conceito tinha não só a função social, mas também política, pois no momento em que a hostilidade da natureza exterior se justificava pela dominação e a moralidade espiritual da natureza universal automaticamente fornecia-se um modelo para o comportamento social. O autor acredita ainda que a concepção universal de natureza, hoje escamoteia a realidade à medida que atribui aos comportamentos sociais o status de eventos naturais, justificando a normalidade destes comportamentos (guerra, racismo, pobreza e riqueza, etc.) ao atribuí-los à vontade de Deus. Nesse sentido, não é a história da sociedade humana a responsável por estes comportamentos, mas sim a natureza. Desse modo, a sua ideologia se expressa na negação da possibilidade de socialização da natureza universal, baseada não "na experiência histórica", mas na própria contradição com a natureza exterior. Com Adam Smith, a teoria de formação do valor, que até então concebia a natureza como fonte de valor e a agricultura como meio de produção, passou-se a negar a prioridade do trabalho agrícola e também da natureza exterior e deixou de ser o elemento central da Teoria Econômica, pois passou a ser vista como um obstáculo ao desenvolvimento econômico. Para Karl Marx, é preciso buscar a unidade entre natureza e história, ou entre natureza e sociedade, pois a mesma não pode ser concebida como algo exterior a sociedade, visto que esta relação é um produto histórico. Marx adotou o conceito de metabolismo ou interação metabólica, para possibilitar a compreensão de que há uma mediatização da sociedade com a natureza, e que a força motivadora dessa interação é o processo de trabalho, pois tanto o Sujeito – o trabalhador –, como o objeto – a matéria prima a ser transformada – são fornecidos por ela ao trabalho. Para Marx, a natureza e suas leis subsistem independentemente de consciência e desejos humanos, e tais leis só podem ser formuladas com a ajuda de categorias sociais. A natureza é dialética, e esta dialética se dá em função da interação entre ela e o homem. “A natureza se torna dialética produzindo os homens, tanto como sujeitos transformadores que agem conscientemente em confronto com a própria natureza, quanto como forças da natureza. O homem constitui-se no elo de ligação entre o instrumento do trabalho e o objeto do trabalho. A natureza é o Sujeito-Objeto do trabalho. Sua dialética consiste nisto: que os homens modificam sua própria natureza à medida em que eles progressivamente eliminam a natureza exterior e de sua 21 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN exterioridade, à medida em que mediatizam a natureza através de si próprios e à medida em que fazem a própria natureza trabalhar para seus próprios objetivos”. (Schmidt apud Smidt, op. cit, p. 52). Para Gonçalves (1998, p. 23), “o conceito de natureza não é natural, haja vista ser esta uma construção social, ou seja, foi criado pelo homem. Segundo ele toda sociedade, toda cultura cria, institui uma determinada idéia de natureza”. A natureza se define, em nossa sociedade, por aquilo que se opõe a cultura. A cultura é tomada como algo superior e que conseguiu controlar e dominar a natureza. Daí se tomar a revolução neolítica, a agricultura, um marco da História, posto que com ela o homem passou da coleta daquilo que a natureza ‘naturalmente’ dá para a coleta daquilo que se planta, que se cultiva (Gonçalves, 1998, p. 25- 26). O domínio da técnica da irrigação, resultou na "domesticação"4 da natureza através da agricultura e fixou os povos em determinados territórios, formando o berço das antigas civilizações. Nesse contexto surge a concepção de domínio sobre a natureza porque quando se domina a natureza seria dominar algo inconstante, instintivo e muito imprevisível. Nessa relação de dominação, para alguns a natureza é o objeto a ser dominado pelo sujeito, o homem. Para Gonçalves, essa visão de natureza-objeto versus homem-sujeito parece não considerar que o termo sujeito, além de significar um ser ativo, dono de seu destino, também pode indicar que podemos estar submetidos a determinadas circunstâncias. É a visão antropocêntrica de mundo, na qual o homem é o senhor de todas as coisas, que faz com que se esqueça que o termo sujeito, pode significar tanto aquele que age como aquele que se submete. Essa visão de natureza separada do homem é característica do pensamento dominante no mundo ocidental, cuja matriz filosófica advém da Grécia e da Roma antigas, que se firmou contrapondo-se a outras formas de pensar e de agir. No ocidente, em épocas passadas já houve diferente modo de pensar a natureza do que tem dominado nas épocas moderna e contemporânea, embora encontremos na idade média e entre filósofos do período clássico grego essa mesma visão dicotomizada, parcelada, oposta, entre homem e natureza. As coisas eram diferentes, por exemplo, na chamada época pré- 4 O sentido da palavra neste contexto global refere-se a civilizar, colonizar. Também pode ser interpretado em um sentido antropológico que seria adaptar (animal ou planta) à vida em associação íntima com os seres humanos e/ou outras espécies, modificando-lhe(s) o desenvolvimento e outras características originais, o que, quase sempre, leva a forma domesticada a perder a capacidade de sobreviver livremente na natureza e subverte a ordem onde a natureza passa a ser dominada pelo homem. 22 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN socrática5 quando os filósofos Tales, Anaximandro, Anaxímenes (todos de Mileto); Xenófanes (de Cólofon); Heráclito (de Éfeso); Pitágoras (de Samos); Parmênides Zenão (de Eléia); Melisso (de Lamos); Empédocles (de Clazomena); Diógenes (de Apolônia) e Leucipo e Demócrito (de Abdera) desenvolveram um conceito de natureza bastante diferente daquele que vai começar a se impor principalmente após Sócrates, Platão e Aristóteles. Diz o filósofo Gerd Bornheim (apud Gonçalves, 2005, p. 29-30) que: Em nossos dias, a natureza se contrapõe ao psíquico, ao anímico, ao espiritual, qualquer que seja o sentido que se empreste a estas palavras. Mas para os gregos, mesmo depois do período pré-socrático, o psíquico também pertence à phisis. Esta importante dimensão da phisis pode ser melhor compreendida a partir de sua gênese mitológica [...] Os deuses gregos não são entidades sobrenaturais, pois são compreendidos como parte integrante da natureza [...]. Esta presença (dos deuses) transparece ainda na frase que é atribuída a Tales: “Tudo esta cheio de deuses!” [...] . Segundo Jaeger, Tales emprega a palavra deus “em que a empregaria a maioria dos homens”. Os deuses de Tales não vivem em uma região longínqua, separada, pois tudo, todo mundo que rodeia o homem e que se oferece ao seu pensamento está cheio de deuses e dos efeitos de seu poder. “Tudo está cheio de misteriosas forças vivas; a distinção entre a natureza animada e inanimada não tem fundamento algum; tudo tem alma”. Esta idéia de alma, de forças misteriosas que habitam a phisis, transforma-a em algo inteligente, empresta-lhe certa espiritualidade, afastando-a do sem-sentido anárquico e caótico. Portanto, segundo a compreensão grega sobre a realidade inexiste a atual dicotomia conceitual entre a natureza e o homem ou a natureza e o âmbito do divino. Aquilo que compreendemos como razão, além dos demais atributos de índole psíquica e espiritual que consideramos exclusivos dos homens e de Deus, não são transcendentes à natureza. Ao contrario impregnam tudo o que existe em certa medida, animado ou inanimado – como, por exemplo, o famoso imã de Tales de Mileto. Os deuses não são sobrenaturais, porque esta compreensão implicaria, como sucede nos nossos dias, excluí-los da natureza e, de forma inexorável, desterrar, banir da natureza todos os atributos e todas as características que atualmente compreendemos como alheios à natureza e como um privilegio de Deus ou de sua criatura preferida. Na Grécia Clássica, esta dualidade não pode ser encontrada, nada pode existir de maneira separada da matéria e, em conseqüência disto, tudo está intrinsecamente misturado e baseado na natureza. 5 Chamar os pensadores que viveram antes do século V a.C., de pré-socráticos já revela um preconceito, na medida em que se os nomeia pela referência não aos atributos que lhes são próprios, mas pela evocação daquilo (ou de quem) não são e que lhes sucede – Sócrates -, o que na verdade significa, recusar-lhes identidade e cidadania. Esses homens que nos legaram teses das quais, infelizmente, só nos chegaram fragmentos num estilo de linguagem para nós pouco familiar, têm sido alvo de muitas atenções. 23 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN “Veja-se, como exemplo, o fragmento 67, de Heráclito. Deus é dia e noite, inverno e verão, paz e guerra, abundância e fome. “Mas toma formas variadas, assim como o fogo, quando misturado com essências, toma o nome segundo o perfume de cada uma delas.” Ou ainda o fragmento 64: “ O relâmpago ( que é a arma de Zeus) governa o universo”. Esta idéia de que deus pertence em algum sentido à phisis é característica de todo pensamento pré-socrático e continua viva mesmo em Demócrito [...] À phisis pertence, portanto, um princípio inteligente, que é reconhecido através de suas manifestações e ao qual se emprestam os mais variados nomes: espírito, pensamento, inteligência, logos, etc. A palavra phisis indica aquilo que por si brota, se abre, emerge, o desabrochar que surge de si próprio e se manifesta neste desdobramento, pondo-se no manifesto. Trata-se, pois, de um conceito que nada tem de estático, que se caracteriza por uma dinamicidade profunda, genética. “Dizer que o oceano é a gênese de todas as coisas”, afirma Wener Jaeger referindo-se a Homero. Neste sentido, a phisis encontra-se em si mesma a sua gênese; ela é arché, princípio de tudo aquilo que vem a ser. O “pôr-se no manifesto” encontra na phisis a força que leva a ser manifesto. Por isso pôde Heidegger dizer “a phisis é o próprio ser, graças ao qual o ente se torna e permanece observável”. Há ainda um terceiro aspecto que caracteriza a phisis para os gregos: A phisis é a totalidade de tudo o que é. Ela pode ser apreendida em tudo o que acontece: na aurora, no crescimento das plantas, no nascimento de animais e homens. E aqui convém chamar a atenção para um desvio em que facilmente incorre o homem contemporâneo. Posto que a nossa compreensão do conceito de natureza é muito mais estreita e pobre que a grega, o perigo consiste em julgar a phisis como se os pré-socráticos a compreendessem a partir daquilo que nós hoje entendemos por natureza; neste sentido, se comprometeria o primeiro pensamento grego com uma espécie de naturalismo. Em verdade, a phisis não designa principalmente aquilo que nós, hoje, compreendemos por natureza, estendendo-se, secundariamente ao extranatural. Talvez o mais adequado seja inclusive afirmar que quando o autor diz que a natureza, de forma secundaria, estende-se ao extranatural, está simplesmente sendo didático. Em outras palavras, que o objetivo subjacente a esta afirmação consiste em explicar com mais claridade a abismal diferença entre a compreensão grega e a compreensão atual acerca da natureza. Ou seja, que a soma daquilo que compreendemos como natural e extranatural e a posterior redução destes dois conceitos a phisis, de fato não abarcam, pelo menos não de maneira precisa, o conceito grego de phisis porque costumam conduzir a uma interpretação, também difundida em nossos dias, deste último conceito como uma forma de naturalismo. O erro, destarte, consistiria em ampliar ou estirar nossa idéia de natureza até englobar o sobrenatural, quando na verdade se trata de um principio filosófico distinto. Segundo os filósofos pré-socráticos, a matéria que é fundamento eterno de todas as coisas e confere unidade e permanência ao Universo, o qual, na sua aparência, é múltiplo, mutável e transitório. E pensando a phisis, é que o filósofo pré-socrático pensa o ser e a partir da phisis pode então chegar a uma compreensão da totalidade do real: cosmos, dos deuses e 24 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN das coisas particulares, do homem e da verdade, do movimento e da mudança, do animado e do inanimado, do comportamento humano e da sabedoria, da política e da justiça. Com Platão e Aristóteles já havia um certo privilegiamento do homem e das idéias e um certo desprezo por determinados elementos que se convencionou denominá-los como parte da natureza física (pedras, plantas etc). Lembrando que os fundadores da filosofia acima citados, viveram na época do apogeu da democracia grega6. O pensamento mítico dos poetas cedeu lugar ao pensamento daqueles que passaram a compor a filosofia grega. Com o avanço do Cristianismo no Ocidente, os deuses já não faziam parte desse mundo como na concepção dos pré-socráticos. Deus passou a ser o ser supremo e o homem, a sua imagem e semelhança. Para Platão, somente a idéia continha a perfeição, opondo-se à realidade do mundo. O Cristianismo assimilou a visão aristotélico-platônica e durante a Idade Média apregoou a separação entre espírito e matéria, ao difundir a perfeição de Deus em oposição à imperfeição do mundo material. É, portanto, decorrente dessa filosofia a separação entre corpo e alma, objeto e sujeito, ou seja, a alma, o sujeito é que dá vida ao corpo, porém quando o corpo morre passa a ser apenas objeto. Com René Descartes, essa oposição homem-natureza, espírito-matéria, sujeito-objeto se completa, passando a fazer parte do pensamento moderno e contemporâneo. A filosofia cartesiana atribuiu ao conhecimento um caráter pragmático e este conhecimento a natureza é vista como um recurso. A visão antropocêntrica de mundo coloca o homem no centro do universo, em oposição à natureza, ou seja, o sujeito em oposição ao objeto. O antropocentrismo e o pragmatismo do pensamento cartesiano vinculam-se ao mercantilismo do período feudal, mas ainda conserva como herança medieval a separação entre espírito e matéria. O movimento filosófico iluminista do século XVIII se encarregou de apagar esses traços religiosos medievais do período renascentista, e a crítica à metafísica, ou seja, do que está além da natureza, passou a ser feita em favor da física. Na visão iluminista a natureza era concebida como algo palpável. O mundo passou a ser compreendido a partir do real, do concreto e não mais de dogmas religiosos. Com o desenvolvimento do capitalismo, e mais precisamente com o surgimento da Revolução Industrial essas idéias acabaram se fortalecendo. 6 Esse marco, o apogeu ao qual se refere, só tem sentido para nós, porque os gregos no século V a.C não implicava necessariamente o ápice de um processo, embora fizessem referência aos perigos que rondavam a democracia grega e que criavam a possibilidade do seu declínio. Compreendido que o declínio se dá dentro do século V; Sócrates assistiu o apogeu de Atenas e seu discípulo Platão, contemplou o auge e o declínio da polis grega por excelência. 25 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN No século XIX, com o desenvolvimento da ciência e da técnica, o pragmatismo triunfou. A natureza passou a ser concebida cada vez mais como um objeto a ser possuído e dominado. Aos olhos da Ciência a natureza foi subdividida em física, química, biologia, e o homem em economia, antropologia, história, sociologia, etc. Nesse contexto, qualquer tentativa de pensar o homem e a natureza orgânica e integradamente se tornou falha, pois a separação não se efetuava apenas no nível do pensamento, mas também da "realidade objetiva" construída pelo homem. A divisão social e técnica do trabalho contribuíram para que houvesse o processo de fragmentação e dicotomização do fazer e do pensar da sociedade capitalista industrial. Segundo Gonçalves (1998, p. 35), A idéia de uma natureza objetiva e exterior ao homem, o que pressupõe uma idéia de homem não-natural e fora da natureza, cristaliza-se com a civilização industrial inaugurada pelo capitalismo. As ciências da natureza se separam das ciências do homem; cria-se um abismo colossal entre uma e outra e [...] tudo isso não é só uma questão de concepção de mundo. A Ciência Moderna também foi acometida pela concepção de homem e natureza, cujo indivíduo era o referencial. Nas ciências ditas Naturais como a Física, o átomo; na Biologia, o organismo, a célula. Nas ciências Sociais, o indivíduo era indivisível, um elemento reinante. No início do século XX, já não se concebe o átomo como uma unidade indivisível, mas como um sistema constituído de partículas que se interagem mutuamente. Na medida em que foi se desenvolvendo o estudo dos hábitos dos animais, ficou mais difícil compreender a evolução da vida das espécies animais tendo como referência apenas o comportamento de um indivíduo estudado em laboratório. Daí o reconhecimento de que a convivência social já se fazia presente no que denominávamos Natureza. Gonçalves chama a atenção para isso quando faz referência àqueles que afirmam que "o homem é um ser social". Segundo ele, os animais também vivem socialmente e que esta não é uma característica apenas do homem, portanto não podemos separar o homem da natureza através dessa afirmação. Na opinião de Gonçalves, estamos longe da concepção atomístico-individualista, visto que a reprodução da sociedade capitalista pressupõe a existência de meios materiais para que o ciclo produtivo se efetue, e também para que haja a reprodução das classes sociais; que existam sempre pessoas desprovidas desses meios materiais e necessitando se submeter aos detentores do capital. Se nessa sociedade não há uma lei objetiva que governe essa luta que 26 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN define a reprodução das relações sociais, então, "Em suma, não há como continuar pensando em termos de indivíduos. A sociedade humana não é uma soma de indivíduos!” (Gonçalves, 1998, p. 48). Pensemos a natureza a partir de duas vertentes ocidentais: a visão antropocêntrica que concebe a natureza como algo onde se manifesta a hostilidade, a luta, onde prevalece a "lei da selva", que precisa de leis e de um Estado para estabelecer a ordem. E a naturalista, que vê a natureza como algo harmonioso e bondoso, mas que ao criticar a primeira vertente se depara com o mesmo ponto de vista, ou seja, os homens destroem a natureza, trazendo à tona a dicotomia sociedade-natureza, homem-natureza. Para Gonçalves, a grande dificuldade dessas duas vertentes: "É romper com os pressupostos da filosofia positivista que é o de querer encontrar na natureza o paradigma ou modelo para a sociedade humana” (Gonçalves, 1998, p. 60). Essa tendência em buscar na natureza o paradigma para a sociedade, caracteristicamente faz parte da sociedade ocidental, e a filosofia positivista, hegemônica nos meios científicos dos séculos XVIII e XIX, soube muito bem expressar esse fato, pois foi sob a ótica positivista que a natureza passou a ser vista como algo objetivo. Com as descobertas científicas, principalmente procedentes da biologia, houve uma conceituação mais sólida sobre o ecossistema, no entanto serviu para superar a visão atomístico-individualista, que na verdade é egoísta, ao tratar com distinção e privilegiar o todo tem levado ao que Edgar Morin chamou de concepção egoísta. O ecossistema abrange o biótipo – o meio geofísico – e a biocenose, constituindo assim, em uma unidade complexa e de caráter organizador ou sistemático. Como afirma o autor Edgar Morin em sua obra, na qual se faz necessária uma reflexão sobre a idéia de harmonia e equilíbrio que ressalta e sobressai em cada ecossistema. A ordem de relojoaria é a da rotação da terra sobre si própria e em torno do sol, que arrasta na sua esteira a alternativa regular do despertar e do adormecer; [...]. A ordem física prolonga-se na ordem da vida, ela própria regida por ‘programas genéticos’, fabricadores de invariância e de repetição; assim, a natureza aparece como permanência, regularidades, ciclos. E, no entanto, quando olhamos, quer a muito longo termo quer de perto, esta ordem subitamente vacila e se fende. À escala de centena de milhares de anos o subsolo fende-se e se desloca; [...]. Olhando muito de perto e a curto termo, vemos [...] uma autofagia permanente da vida comendo a vida, uma luta feroz de todos contra todos, onde se entrecaçam, se entredevoram, se entrecombatem, se entredestroem, numa desordem sem lei, irrisoriamente chamada lei da selva. (Morin apud Gonçalves, 2005, p. 63-64) 27 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Desta forma podemos admitir que cada ecossistema é um todo que se organiza a partir das interações dos seres que o constituem. De modo que o todo, o ecossistema, só existe pelas interações entre as partes e são essas complexas interações que o constituem. Neste sentido, o todo não é mais que as partes”. Todavia, o ecossistema emerge a partir de uma série de ações egoístas e retroage sobre os diversos seres que manifestam qualidades de que não disporiam isoladamente. Neste sentido, o todo também seleciona as partes, condicionando-as. É esta complexidade que o pensamento reducionista7; seja ele egoísta ou egoísta, não quer reconhecer. Cada ecossistema “é uma organização espontânea que, baseada em suportes geofísicos deterministas e em seres geneticamente determinantes, faz-se a si mesmo, sem ser incitado ou obrigado por um programa, sem dispor de uma memória autônoma e duma computação própria, sem ser organizado e ordenado por um aparelho de controle, regulação, decisão, governo. Pelo contrário, toda ecoorganização nasce de ações “egoistas”, de interações “míopes”, de intercomunicações banhadas e por vezes submersas no vago, no ruído, no erro, em nichos ou em meios sem clausuras nem barreiras, abertos às correntes de ar, de água, abertos às correntes de vida selvagem (evadidos, foras da lei e fugitivos de outros ecossistemas) abertos a correntes de morte (vírus, epidemias). E é através deste fervilhar cego, míope, egocêntrico, entre desordens, destruições, proliferações indescritíveis que um universo – Um welt – se organiza. (Morin apud Gonçalves, 2005, p. 64-65). Portanto, o ecossistema nasce de uma tendência natural que se manifesta quase que por instinto, sem premeditações ou desvios, seria uma espontaneidade eco-organizadora. Na natureza as interações que se realizam na biocenose são ao mesmo tempo complementares e antagônicas. São complementares através de: associações, sociedades, simbioses, mutualismos; por outro lado também se complementam através das concorrências competições, rivalidades; são identificadas como antagônicas através do: parasitismos, predador. 2 Trabalho e a relação: homem-natureza No princípio da humanidade, havia uma unicidade orgânica entre o homem e a natureza, pois o ritmo de trabalho e da vida dos homens associava-se ao da natureza. 7 Ato ou prática de analisar ou descrever um fenômeno, desenvolver a solução de um problema, etc., supondo ou procurando mostrar que certos elementos ou conceitos complexos não devem ser compreendidos ou explicados em si mesmos, mas referidos a, ou substituídos por outros situados em um nível de explicação ou descrição considerado mais básico. Modo de pensar, ou perspectiva teórica em que se propõe ou se faz uso sistemático desse tipo de procedimento intelectual. Reducionismo psicológico - Descrição ou explicação de fenômenos ou processos humanos coletivos (sociais, culturais ou ecológicos), em termos de fenômenos ou preferências psicológicas dos indivíduos. 28 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Com a aceleração da industrialização, a mecanização da agricultura e a concentração populacional nas cidades, essa relação homem/natureza começou a mudar. A exploração dos recursos naturais passa a ser feita de forma mais intensa, pois de onde era retirada uma árvore, agora se retiram centenas de árvores. Essa diferença é determinante para a degradação do meio onde se insere o homem. Nessa perspectiva, sistemas inteiros entraram em desequilíbrio. Com o crescimento populacional, diversificação e sofisticação dos processos de extração dos bens naturais surgiram tensões e conflitos quanto ao uso do espaço e dos recursos, em função da tecnologia disponível, dependendo, a cada época, da civilização e do ambiente em que a sociedade se desenvolvia. Em várias comunidades, o crescimento populacional não chegava a ser um fenômeno preocupante, havendo espaços a serem ocupados e recursos suficientes para todos. Para o autor Figueredo (1995, p. 34): “A ação do homem não chegava a impedir a renovação dos recursos naturais”. No contexto do modo de produção capitalista, esta estabilidade é rompida, pois a natureza, antes um meio de subsistência do homem, passa a integrar o conjunto dos meios de produção do qual o capital se beneficia. No processo de apropriação e de transformação dos recursos pelo homem, através do trabalho, ocorre o processo de socialização da natureza. O trabalho torna-se então, o mediador universal na relação do homem com a natureza; “o trabalho é, num primeiro momento, um processo entre a natureza e o homem, processo em que este realiza, regula e controla por meio da ação, um intercâmbio de materiais com a natureza” (Marx, 1967, p. 188). Partindo desse pressuposto, a separação do homem de suas condições naturais de existência não é "natural", mas histórica, tendo em vista que a prática humana encontra-se vinculada a sua história. Para o autor Casseti (1991, p. 17), as transformações sofridas pela natureza, através do emprego das técnicas no processo produtivo, são um fenômeno social, representado pelo trabalho, e as relações de produção mudam conforme as leis, as quais implicam a formação econômico-social e, por conseguinte, as relações entre a sociedade e a natureza. A sociedade contemporânea, consubstanciada numa dinâmica complexa e contraditória, possui uma organização interna, a qual representa um conjunto de mediações e relações fundamentadas no trabalho. Sob o capitalismo, o qual se identifica com a reprodução 29 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ampliada do capital e que necessita da produção de mercadorias como veículo de produção da mais-valia para possibilitar a sua expansão, a relação homem-meio apresenta-se como contradição capital-trabalho, pois se pensarmos do ponto de vista abstrato, os homens se relacionam com a natureza para transformá-la em produtos. Se pensarmos do ponto de vista real, o trabalho é um processo de produção/reprodução de mercadorias. No capitalismo, os acessos aos recursos existentes na natureza passam por relações mercantis, visto que sua apropriação pelo capital implica a eliminação de sua "gratuidade natural", portanto, a incorporação da natureza e do próprio homem ao circuito produtivo é a base para que o capital se expanda. No processo de acumulação do capital, o trabalhador tem sido despojado do conjunto dos meios materiais de reprodução de sua existência e forçado a transformar sua força de trabalho em mercadoria, a serviço do próprio capital, em troca de um salário. O capital separa os homens da natureza, em seu processo de produção/reprodução e impõe que o ritmo do homem não seja mais o ritmo da natureza, mas o ritmo do próprio capital. Sabemos que na relação capital frente trabalho há um antagonismo, haja vista que o capital nutre-se da exploração do trabalho do homem. Nesta relação, como o homem realiza o trabalho capitalizado, ao entrar em contradição com o capital, ele entra em contradição com a própria natureza. Segundo Moreira, quando o capital busca cada vez mais a produtividade do trabalho e, assim, a elevação da taxa de exploração do trabalho e da natureza, ele amplia a base de alienação do trabalho e da própria natureza, gerando uma dicotomia entre sociedade e natureza. A alienação do trabalho reproduz-se a todas as instâncias da sociedade capitalista: aliena-se o homem da natureza, dos produtos, do saber, do poder e dos próprios homens. Se o poder sobre os homens nas ‘sociedades naturais’ passa pelo controle da terra, sob o capital o poder passa pela alienação do trabalho (Moreira, 1985, p. 78). A perda da identidade orgânica do homem com a natureza se dá a partir do capital, que gera a contradição e que, na contradição, gera a perda da identificação do homem com a natureza e, consequentemente, a degradação ambiental. O processo social de produção, cuja referência está na produção de valores de uso, submete a força de trabalho e os meios de produção aos seus desígnios, impulsionando a utilização irracional dos recursos naturais, o desperdício de matérias-primas, de energia e de trabalho, provocando assim, a destruição da natureza e a conseqüente "crise ecológica". 30 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Para Bihr (1998, p. 129), essa "crise ecológica", constitui-se "num dos aspectos desse ‘mundo às avessas’ que a alienação mercantil e capitalista do ato social de trabalho institui”. Assim, o processo de constituição da classe proletária, que se dá a partir da separação das condições objetivas de produção, ou seja, dos meios de produção (especialmente da terra e, através dela, a natureza) e de sua inserção no trabalho fabril, explica, em primeira instância, a subordinação do proletariado à lógica capitalista de exploração da natureza. Essa separação pressupõe a perda do domínio sobre as técnicas agrícolas e a compreensão dos processos naturais por parte do proletariado, distanciando-o assim da natureza. Na atividade produtiva própria do capitalismo, prevalece a fragmentação e a atomização do trabalhador, reificando (coisificando) o homem e suas relações. Dessa forma, ela não realiza adequadamente a interação do homem com a natureza. No modo de produção capitalista, o trabalhador é reduzido a uma mercadoria, na medida em que vende sua força de trabalho em troca de um salário. Assim, o trabalho "que deveria ser a forma humana de realização do indivíduo reduz-se à única possibilidade de subsistência do despossuído” (Antunes, 1997, p.124). A dimensão abstrata que o trabalho adquire, conduz ao mascaramento da sua dimensão concreta (de trabalho socialmente necessário) e, consequentemente, à fetichização da mercadoria, encobrindo assim, "as dimensões sociais do próprio trabalho, mostrando-as como inerentes aos produtos do trabalho" (Antunes, 1997, p. 127). Segundo Thomaz, O procedimento do cientificismo fetichizou os riscos a que a sociedade foi submetida, tendo em vista que o desenvolvimento incomensurado das ciências e das técnicas põe em xeque o futuro da humanidade, socializando de forma profunda e ampla todas as mazelas do produtivismo, conclamando a todos à preservação da natureza, todavia virando as costas para o chamamento lançado pelos movimentos ecológicos e alguns partidos políticos comprometidos que se vinculam à tese da insubordinação da práxis social à lógica da reprodução do capital (Thomaz, 1999, p. 78). Já a tecnologia não é indiferente aos propósitos de sua criação, ou seja, ela está a serviço do capital e, portanto, voltada para a produção de mais-valia. Assim, quanto mais aumenta a capacidade de extração de sobretrabalho, maior é a quantidade de recursos naturais explorados, de matéria-prima transformada. 31 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 3 Revolução industrial e suas consequências Desde o final do século XVIII, com o aparecimento do modelo de fábrica inglesa, a industrialização foi associada à idéia de progresso. Segundo o autor Edgar Decca, [...] o pensamento movido pela crença do poder criador do trabalho organizado, a presença da máquina definiu de uma vez por todas a fábrica como o lugar da superação das barreiras da própria condição humana. 'A invenção da máquina (...)', escrevia Engels em 1844, 'deu lugar como é sobejamente conhecido a uma Revolução Industrial, que transformou toda a sociedade civil'.(Decca, 1982, p. 9) A partir da Revolução Industrial e, posteriormente, com o incremento do modelo de produção em série, cresce a produção de materiais artificiais e sintéticos e intensifica-se o uso de energia não renovável, principalmente o carvão, em substituição à energia animal, humana e eólica, provocando, entre outras coisas, uma redistribuição espacial da população. Em um curto espaço de tempo, observou-se no mundo ocidental, uma grande migração do campo para os meios urbanos em processo de industrialização. Estas cidades, além de portos para a chegada do carvão e comercialização dos produtos, serviam também como centros de produção e consumo. Como consequência, inicia-se uma grande mudança no pensamento econômico e as relações de mercado passam a ser estabelecidas pela lei da oferta e da procura. Somando-se à criação do mercado enquanto instituição, cria-se, na própria história e desenvolvimento do capitalismo, o mito do mercado que, por estar tão presente no cotidiano, se constitui na própria "razão", adquirindo vitalidade e categoria de verdade absoluta8. De mito, o mercado passou também a ser um mistério que, etimologicamente, quer dizer que só é acessível aos iniciados (Cavalcanti e Cavalcanti, 1994). Ciência e técnica passam a ocupar um lugar central na sociedade, pois a técnica torna possível reduzir os custos de produção e, ao mesmo tempo, aumentar a quantidade de produtos. As mercadorias produzidas precisam, no entanto, encontrar compradores. Aos poucos, a principal tarefa da indústria passa a ser, menos a produção das mercadorias, do que a produção de demandas para estas mercadorias. Verifica8 Cavalcanti e Cavalcanti (1994) lembram que, embora a criação de mitos faça parte da história da Humanidade, sendo um dos seus aspectos mais fascinantes, o mito também pode ser tratado como uma dissimulação ideológica, acobertando interesses de grupos sociais. Neste sentido, torna-se fundamental analisar os mitos da sociedade contemporânea, como o mito do mercado que o associa, por exemplo, à idéia de liberdade, como se liberalismo econômico fosse sinônimo de liberalismo político. 32 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN se, então, uma explosão do consumo, que surge como modo ativo de relação das pessoas com os objetos, com a coletividade e com o mundo, servindo de base ao nosso sistema cultural. Os objetos não estão mais relacionados exclusivamente à sua utilidade, e sim ao prestígio simbolizado por sua posse. Com a industrialização, a concentração populacional urbana e o incentivo ao consumo como características básicas da sociedade moderna, os problemas sociais e ambientais se agravam. Podemos enfocar a problemática ambiental, basicamente, com uma análise que se concentre desde o "berço", ou seja, a extração de recursos naturais para a indústria, até o "túmulo", a dificuldade de gerenciamento dos resíduos gerados após o consumo, passando pelos processos de produção, armazenamento, transporte, comércio, consumo e descarte. Com o crescimento das pressões humanas sobre o meio ambiente e a interferência direta na qualidade de vida dos povos, sobretudo a partir da década de 50 do século passado, cresce o chamado "movimento ambientalista". Como consequência da crescente legitimação da temática ambiental, diferentes segmentos da sociedade, incorporam e reelaboram, em diferentes ritmos e graus, o ideário ambientalista. De acordo com Viola e Leis (1992), este processo de "ecologização da sociedade" é uma tendência histórica da sociedade ocidental e nenhum país estará imune a ele, embora a evolução da consciência ambiental dependa das particularidades de cada país. Dentro deste processo, até a década de 50 as preocupações ambientais estavam restritas aos meios científicos, tanto em sua vertente preservacionista quanto, mais tarde, em sua vertente conservacionista9. As preocupações estavam, portanto, voltadas para a preservação das espécies e do meio natural. Enquanto isso, o questionamento da ordem social e política estava por conta apenas dos movimentos socialistas e operários. A partir da década de 60 emergem, com a contra-cultura, uma série de movimentos sociais trazendo, não só a crítica ao modelo dominante de produção, mas também ao modo de vida. Na Geografia clássica, o meio natural era visto como mecânico e predominava o pensamento determinista, sendo a natureza colocada como condição ou obstáculo para o desenvolvimento de uma determinada sociedade. A partir dos anos 60, com a Geografia Crítica, o caráter predatório provocado pelo processo industrial foi enfatizado por diversos autores. 9 Enquanto o movimento preservacionista preocupava-se em preservar espécies em perigo de extinção, o movimento conservacionista acrescenta a preocupação quanto à conservação dos habitats dessas espécies ameaçadas, reforçando a visão de utilidade destes ecossistemas para as populações humanas. 33 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Milton Santos (1996), por sua vez, enfatizou o papel do capitalismo tecnológico e seu impacto no meio natural. Destacou que hoje, a natureza sofre antes de mais nada, um processo de instrumentalização, tornando-se um processo social e, com isso, "desnaturalizada"10. O meio natural sempre esteve em pauta no debate geográfico, mas hoje a Geografia e outras ciências são influenciadas pelo surgimento de novos paradigmas e o debate ambiental ressurge com mais força. Becker e Gomes ressaltam que: O tema vem cercado de novas indagações e com um contexto efetivamente diverso. Afinal, uma das considerações mais atuais se refere exatamente ao papel da ciência e da técnica na produção de conceitos, no uso da gestão do ambiente e na incontrolável política do problema [...]. Sem dúvida, não é possível contar com muitas certezas, mas, pelo menos, a Geografia pode contribuir para revelar algumas das múltiplas dimensões do problema, reconhecendo, assim, a complexidade do tema atualmente (Becker e Gomes, 1993, p. 149). A ciência e a tecnologia, que começaram a avançar com muita velocidade durante o século XIX, desenvolveram-se mais rapidamente ainda a partir do início do século XX, com o advento da forma de produzir fordista e a intensificação da atividade industrial. As técnicas se tornaram cada vez mais sofisticadas e foram multiplicadas em massa, ocupando o território. Em sua obra o autor Santos (1996, p. 51) afirma: No começo da história do homem, a configuração territorial é simplesmente o conjunto dos complexos naturais. À medida que a história vai se fazendo, a configuração territorial é dada pelas obras dos homens: estradas, plantações, casas, depósitos, portos, fabricas, cidades etc.; verdadeiras próteses. Cria-se uma configuração territorial que é cada vez mais o resultado de uma produção histórica e tende a uma negação da natureza natural, substituindo-a por uma natureza inteiramente humanizada. Todavia quanto mais poderosa é a maquinaria, mais riscos ela provoca para a vida humana e tanto maior é a pressão econômica para tirar dela mais lucro e desempenho. Explorando as riquezas da Terra, a forma capitalista de produzir afeta diretamente o meio ambiente, muitas vezes provocando impactos negativos irreversíveis ou de difícil recuperação. Hoje os riscos produzidos se expandem em quase todas as dimensões da vida humana, obrigando-nos a rever a forma como agimos sobre o meio natural e as próprias relações sociais, obrigando-nos a questionar os hábitos de consumo e as formas de produção 10 Desnaturalizar: Perverter ou corromper a natureza de. Dicionário Aurélio - Século XXI. 34 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN material11. Muitas vezes a consciência dos riscos provocados pelas novas tecnologias no ambiente natural se torna alarmista, mas ninguém pode negar a gravidade da situação. Os riscos são minimizados pela rotina das atividades, onde geralmente nada acontece de muito grave a curto prazo, mas o risco mais presente é a própria capacidade do espaço físico de suportar tantos objetos industriais. Atualmente, uma das metas da humanidade parece ser a minimização do perigo provocado pela era industrial, levando ao surgimento de movimentos de resistência. O controle de risco está diretamente relacionado com a noção de futuro. Hoje, diferentemente das épocas pré-modernas, o risco está mais relacionado com acidentes ou com os abusos humanos. A não ser os eventos naturais de grande porte (como as atividades tectônicas do planeta e as calamidades climáticas), os demais riscos podem ser controlados ou evitados até certo grau. Os riscos externos, portanto, significam um tipo diferente de riscos criados pelo homem. Esta segunda categoria de riscos está presente no dia-a-dia das pessoas (Giddens, 1991). Alguns acontecimentos marcantes no século XX auxiliaram numa tomada de consciência sobre os riscos da industrialização e do uso indiscriminado da tecnologia. 4 Os desastres e a tomada de consciência Desde o início da Revolução Industrial, a degradação de Londres foi apontada por vários autores, como Dickens. No século XX, a primeira grande preocupação com o potencial técnico científico destrutivo da humanidade e da natureza acontece no final da Segunda Guerra, quando o mundo foi surpreendido com o lançamento da bomba atômica em Hiroshima (66 mil mortos) e Nagasaki (39 mil mortos), no ano de 1945. Entretanto, em termos do processo de tomada de consciência ecológica, a percepção de que o planeta estava sendo permanentemente danificado começou quando se ouviu falar do que estava acontecendo com os pescadores do sul do Japão, no final da década de 1950. O Japão estava passando por um rápido processo de industrialização, no entanto na Baía de Minamata, as pessoas ainda estavam vivendo como há centenas de anos tirando o alimento do mar e comendo peixe fresco diariamente. O primeiro sinal de que alguma coisa estava errada aconteceu com os gatos que começavam a agir estranhamente, com ataques de tremores seguidos de morte. Algumas pessoas começaram também a apresentar os mesmos sintomas. 11 Muitos autores como U. Beck, A. Giddens e Z. Bauman manifestam em suas obras a respeito deste relevante tema que geram estas preocupações atuais. 35 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN As mulheres estavam dando nascimento a crianças com o cérebro danificado. Tomiji Matsuda nasceu cego e com o cérebro defeituoso, tornando-se, mais tarde, um símbolo do movimento ecológico. Os médicos suspeitaram inicialmente que se tratava de envenenamento por metal e chamaram o fenômeno de "doença de Minamata". Não existia nenhum tipo de veneno na baía antes que uma indústria tivesse se instalado na vila – a Chisso Corporation. A fábrica continuou poluindo, matando e deformando gente e animais por mais dez anos. Os japoneses, assim como a maioria das pessoas no final dos anos 50, relacionavam fumaça e lixo com progresso, prosperidade e geração de empregos, e o Japão estava tentando acompanhar o ritmo de industrialização da Europa Ocidental e da América do Norte. Na época, o problema de Minamata ainda era considerado simplesmente um fato local. Outro caso marcante a ser destacado foram os efeitos negativos da industrialização no campo, onde os pesticidas pareciam vencer para sempre os problemas das pragas. Até que, em 1962, a bióloga Rachel Carson lançou, nos Estados Unidos, o livro Silent Spring, denunciando os perigos dos inseticidas e pesticidas. Carson afirmava que os produtos químicos matavam os insetos e pragas prejudiciais, mas também os benéficos, pois destruíam o solo e envenenavam as pessoas. Apesar dos ataques contra Carson, esta recebeu apoio público e seu livro virou um fenômeno nos Estados Unidos, vendendo mais de seis milhões de cópias e chamando a atenção das autoridades. O aviso para o perigo dos produtos químicos acontecia quando os países industrializados estavam ficando mais dependentes do petróleo. No final dos anos 60, um enorme derramamento de óleo na costa oeste da Inglaterra chocou o mundo, sendo exibido na televisão o horrível espetáculo de animais morrendo atingidos pelo petróleo e de praias contaminadas. As cenas começavam a virar rotina nos noticiários de televisão. O mais grave derramamento de óleo aconteceu no Alasca, em 1989, quando o navio Exxon Valdez se chocou com um rochedo. O casco se rompeu e deixou vazar 40 milhões de litros de petróleo, atingindo uma área de 250km2. Os grandes acidentes ambientais continuaram acontecendo por toda a segunda metade do século XX. Em dezembro de 1984, a cidade de Bhopal, na Índia, foi contaminada por gás tóxico. Cerca de 200 mil pessoas ficaram queimadas ou cegas, 10 mil morreram na hora e até hoje as vítimas sobreviventes apresentam problemas respiratórios ou no aparelho digestivo. A causa foi um acidente na fábrica de pesticidas Union Carbide – multinacional com sede nos Estados Unidos. As chuvas ácidas também se tornaram comuns perto das grandes concentrações urbanas do mundo, poluindo os Grandes Lagos na América do Norte e os 36 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Lagos Alpinos. Em abril de 1986, ocorreu o maior acidente nuclear da história, na região de Chernobil, na antiga União Soviética, espalhando radiação por cerca de 3.000km. Cem pessoas morreram e outras centenas sofrem, até hoje, os efeitos da radiação. O aquecimento global, que é causado pelo aumento dos gases do efeito estufa na atmosfera, principalmente o dióxido de carbono, resultado da atividade humana, na queima de combustíveis fósseis (Petróleo, Gás e Carvão). A atmosfera da terra é quase totalmente transparente à radiação solar incidente: uma pequena fração dessa radiação (principalmente luz visível) é refletida de volta para o espaço, mas a maior parte dela atinge a superfície da terra, onde é absorvida e reemitida em todas as direções como radiação térmica (infravermelho), porém a atmosfera contém gases que não são transparentes à radiação e como consequência fica mais quente do que ficaria na ausência desses gases do efeito estufa (GHG). Eles atuam como um “cobertor” ao redor da terra e a aquecem, da mesma forma que uma estufa permanece suficientemente quente no inverno para permitir o crescimento de vegetais e flores das estações. Esses gases que formam uma espécie de cobertor em torno do planeta impedindo que a radiação solar refletida pela superfície em forma de calor, se dissipe no espaço. O efeito estufa12 é um fenômeno natural que garante as condições de temperatura e clima necessários para a existência de vida na terra. Ultimamente esse mecanismo tornou-se diferente, percebe-se que algo está saindo da normalidade, sente-se que a terra passa por diferentes transformações quanto ao clima e outros fenômenos naturais, justamente por essas mudanças, vimos que é uma das perguntas às quais a Antártica e o Ártico começam a responder com os degelos das calotas polares. No momento em que a neve se solidifica, pequenas bolhas de ar ficam presas ao gelo. O exame dessas bolhas em gelo formado nos últimos 720 anos, extraído na Antártica mostra que a concentração de dióxido de carbono na atmosfera tem oscilado para mais e para menos ao longo dos séculos, mas nunca foi tão elevado como hoje. No Ártico, o ritmo da elevação da temperatura na atmosfera é o dobro da média global daí que a calota gelada do Oceano Ártico 12 Chama-se efeito estufa o mecanismo de aquecimento natural do planeta, com elevação da temperatura da atmosfera; esse efeito vem sendo observado há mais de um século. A atmosfera permite a entrada de uma grande quantidade das radiações oriundas do sol. A maior parte dessas radiações sofre reflexão pela superfície terrestre ou pela atmosfera e retorna ao espaço. Uma pequena parte, porém, é absorvida por gases atmosféricos, pelo solo e pelos oceanos. A energia luminosa é finalmente retransmitida em forma de calor. A maior parte desse calor perde-se no espaço exterior, enquanto certa quantidade é absorvida nas baixas camadas atmosféricas, principalmente pelo gás carbônico, pelo metano e pelo vapor de água. Assim, esse efeito acaba criando um manto quente na superfície da terra. A atmosfera, dessa forma, exerce um efeito estufa, retendo uma pequena parte do calor e assim contribuindo para a manutenção de uma temperatura global média de 15 ºC. Sem o efeito estufa, a temperatura da terra seria de 18 ºC negativos. Por tanto, o efeito estufa natural é benéfico ao planeta, pois cria condições propícias à manutenção da vida. (BONELLI, MANO e PACHECO, 2005, p. 44). 37 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN deve desaparecer totalmente durante o verão a partir de 2060, pois como sabemos meio século na escala geológica passa rapidamente. Devido as suas baixas temperaturas, os pólos ajudam a manter o clima global ameno, alimentando as correntes marítimas, resfriando as massas de ar e devolvendo ao espaço a maior parte da energia solar que recebem, graças as suas vastas superfícies brancas. Por isso, mesmo alterações aparentemente pequenas nos ambientes polares podem quebrar o equilíbrio climático do planeta. Propõe o autor Joan Martinez Alier (1992) que Todos os países devem reconhecer a responsabilidade que compete a eles e o êxito de um desenvolvimento ambientalmente sustentável. A Amazônia tem um papel importante na ecologia global por seus efeitos sobre o clima mundial e por seu patrimônio da diversidade biológica que possui. Outras zonas da América Latina, além da Amazônia, são também muito ricas em biodiversidade. Seus melhores conhecedores são as populações indígenas, progressivamente aniquiladas. Desde os países pobres (sul) fizeram propostas de forma de uso da Amazônia compatível com a conservação deste patrimônio. Não necessitamos lições de “ecologismo tecnocrático” dos países ricos (norte). Apoiamos o conceito de “reservas extrativistas”, ou seja, produção verdadeiramente sustentável, conforme propôs Chico Mendes. Assim diminuiria a queima da selva Amazônica, cuja causa é a exploração bovina e mineral. Afirma o autor que a Amazônia exerce um papel fundamental no meio ambiente global por seus efeitos sobre o clima mundial, visto que o desmatamento e queimada de florestas e matas colaboram para este processo, por isso apoia o conceito de reservas extrativistas, essas reservas ao qual refere-se foram a bandeira de luta de Chico Mendes13 durante as décadas de 70, 80 e 90. Onde o marco que vincula toda essa discussão ambiental com o movimento social, em particular do seringueiro no estado do Acre e que vai assinalar o 13 Francisco Alves Mendes Filho, conhecido como Chico Mendes, nasceu em 1944 em Pote Seco no Estado do Acre, em um seringal da selva amazônica chamado Porto Rico. Foi capaz de sobressair-se do ambiente de miséria e analfabetismo em que vivia, porque no meio da selva conheceu Euclides Fernandes Tavora um refugiado político que vivia na selva Amazônica, o qual ensinou-lhe a ler através de jornais que eram enviados ao refugiado político sempre com noticias e idéias revolucionárias. Iniciou um movimento de luta em defesa da Floresta Amazônica juntamente com os seringueiros e difundiram a idéia de reservas extrativistas, iniciou a vida de lider sindical em 1975, como secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia-Xapori, e em 1981 foi presidente deste sindicato até a sua morte em 1988 . Discurso ao ser eleito presidente do sindicato diante de perguntas elaboradas por jornalistas, "Nós, os seringueiros, não queremos transformar a Amazônia em um santuário; apenas queremos que a selva não seja destruída. A pergunta de qual é o nosso propósito, respondemos que, ademais de discutir sobre nossa luta para freiar a destruição, começamos a pensar em uma proposta alternativa para a conservação da selva amazônica. Esta proposta se baseia na criação de reservas extractivistas. Nós seringueiros não estamos interessados nem queremos títulos de propiedade, não queremos ser donos de nossa terra... Estamos apresentando uma alternativa econômicamente viável, que da prioridade aos produtos extractivistas que existem na Amazônia, os que hoje em dia estão ameaçados e que nunca foram levados em conta pelo Governo Brasileiro". (CHICO MENDES, 1981). 38 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN início de todo processo de reorientação das políticas públicas governamentais, na busca da sustentabilidade para a região amazônica, sem dúvida é o assassinato de Chico Mendes. De acordo com Costa Filho (1995): As queimadas na Amazônia e o assassinato do líder sindical, ecologista e seringueiro Chico Mendes, em 1988, acirraram as críticas nacionais e internacionais à gestão ambiental no Brasil. Isso induz o governo brasileiro a criar, em janeiro de l989, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis IBAMA, oriundo da fusão da SEMA com órgãos de florestas (IBDF), pesca (SUDEPE) e borracha (SUDHEVEA). (Costa Filho, 1995, p. 25). Ao final só foi incorporada pelo Governo Federal estas primeiras reservas extrativistas na Amazônia no ano de 1988, nas comunidades seringalistas de Cachoeira e São Luis do Remanso, pertencentes ao município de Xapuri. O Brasil está entre os maiores emissores de gases do mundo, ocupando a quarta posição e representando 4% do total global, sendo que 70% delas decorrem do desmatamento na Amazônia, matas e florestas tropicais. Observa-se que parte importante de nossa diversidade biológica e cultural está sendo destruída em ritmo acelerado. Os índices de desmatamento na Amazônia, por exemplo, vêm crescendo de forma escandalosa. Nos anos 90, uma média anual de 18,5 mil km² foi devastada e, por incrível que pareça, o número subiu cerca de 25 mil km² no início desta década. A Floresta Amazônica é a maior floresta tropical contínua do mundo, e sua maior parte está no Brasil, possui a maior biodiversidade do mundo e uma grande reserva de petróleo que já vem sendo explorada hà anos. Oitenta por cento dessa extensão continua de pé. Sua gigantesca bacia hidrográfica drena algo como 16% da água doce disponível no mundo. Embora só restem 7% da sua extensão original, a Mata Atlântica mantém fragmentos importantes ainda conservados, principalmente nas regiões serranas situadas ao longo da faixa litorânea. Outro fator que influencia diretamente no câmbio climático é o aumento dos gases poluentes, principalmente dos derivados dos combustíveis fósseis, o geólogo Colin J. Campbell, costuma dizer que o mundo vive o fim da primeira metade da era do petróleo. Os últimos 150 anos durante os quais indústria, comércio e a agricultura tiveram uma expansão substancial. Nesse período, a população mundial aumentou seis vezes mais, enquanto a produção do petróleo também crescia. O problema é que agora a produção está mais próxima do pico e declinará de maneira irreversível. Por isso, segundo Campbell, começa a segunda metade da era do petróleo, e com ela o declínio de tudo que depende do ouro negro. A julgar 39 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN pela literalidade dessa profecia, os lucros das grandes empresas petrolíferas já deveriam apontar para baixo. No entanto, o que se vê é o inverso. Elas nunca ganharam tanto nos últimos anos. Conforme quadro abaixo: EMPRESAS PETROLÍFERAS Exxon Shell BP Chevron Petrobras PAÍS Estados Unidos Inglaterra/Holanda Inglaterra Estados Unidos Brasil LUCRO (bilhões de dólares) 39 25 22 17 12 Quadro 1 – Maiores lucros da história Fonte: Petrobras (2008). A Petrobras14 está na quinta posição em relação às outras empresas petrolíferas, com um lucro recorde de 12 bilhões de dólares, o maior já obtido por uma empresa da América Latina. Dois fatores explicam a aparente contradição entre os lucros crescentes das empresas petrolíferas e a “crise do petróleo”. O primeiro fator diz respeito à lógica de mercado da lei da oferta e da procura. O fato da curva de extração ter atingido seu auge na maioria das regiões produtoras apenas valoriza o preço. Como o petróleo ainda é a matriz energética mundial, a cotação sobe com uma expectativa de uma produção menor, e com isso cresce o lucro das produtoras. O segundo fator diz respeito à visão de futuro das companhias do setor, uma vez que para elas, tão vital quanto obter lucro é a capacidade de usá-los em sua própria reinvenção. A anglo holandesa Shell, já investiu 1 bilhão de dólares para ampliar seus projetos de energia renovável. No último ano, a americana Exxon, líder em lucros, investiu 20 bilhões de dólares em pesquisa e ampliação e criação de novas unidades. A Petrobras destina 0,5% dos seus investimentos ao desenvolvimento e viabialização de fontes de energia renovável, principalmente energia eólica, a energia de biomassa e a produção de biodiesel. Calcula-se que até 2030, o mundo vai consumir 40% mais energia em todas as suas formas e com esse aumento de consumo as empresas petrolíferas podem decidir manter o foco no petróleo ou mudá-lo para fontes alternativas. O futuro delas depende da escolha que fizerem hoje, e evidentemente a curto, médio e longo prazo, até que não esgotem suas reservas, estas empresas petrolíferas manterão seus lucros e serão sempre um setor de alta 14 Empresa Estatal Brasileira de Petróleo, de capital misto, onde o acionista majoritário é o Governo Federal com 39,8% das ações, outros 30,9% são negociados em Nova York e 26,7% são negociadas na Bovespa e o restante 2,6% são compradas com dinheiro do FGTS. Considerada a 12ª maior companhia de petróleo do mundo, lider em tecnologia para prospecção em águas profundas. (TRIGUEIRO, 2005, p. 191). 40 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN rentabilidade, e ao longo dos anos vêm demonstrando que não estão investindo suficientemente na busca de alternativas de outras fontes de energia, enquanto isso continuam acontecendo catástrofes, grandes desastres como consequência da produção, transporte, distribuição e uso do petróleo que são inevitáveis. Estas empresas demonstram que não se preocupam com o meio ambiente e com o futuro da humanidade. Existem esperanças de que com o último alerta do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC, sigla em Inglês), os negócios globais ligados à compra e venda de créditos de carbono prometem movimentar bilhões para financiar a geração de energia e a produção mais limpa em países em desenvolvimento. O comércio global de créditos de carbono já movimenta mais de US$ 10 bilhões por ano. Os projetos mais comuns envolvem a troca de óleo diesel ou carvão mineral por biomassa ou biodiesel para geração de energia, reflorestamento, captura de gás em aterros sanitários ou fazendas de suínos e a substituição do óleo diesel por biodiesel. No Brasil um dos principais produtos agrícolas é a cana-de-açúcar (saccharum officinarum, da família das gramíneas), que é cultivada desde a época da colonização, e hoje utilizada como o principal tipo de biomassa energética, base para todo o agronegócio sucroalcooleiro, representado por 350 indústrias de açúcar e álcool no país. No processo de industrialização, obtêm-se como produtos o açúcar e o etanol, e como subprodutos, o vinhoto e o bagaço. A cana-de-açúcar contém cerca de 74,5% de água, 14,0% de açúcares (12,5% de sacarose, 0,9% de dextrose e 0,6% de levulose) e 10,0% de fibras celulósicas; o restante 1,5% consiste de sais minerais, compostos nitrogenados, ceras, pectina, etc. A cana cortada é submetida a esmagamento em moendas, resultando no caldo utilizado para obtenção do açúcar por concentração, ou usado na preparação do mosto a ser fermentado, para produção do etanol. O resíduo da moagem é o bagaço. O resíduo da destilação do mosto fermentado é o vinhoto. O Brasil é uma referência ambiental na produção de sistema de energia limpa e renovável uma vez que utiliza o bagaço da cana-de-açúcar como fonte de energia, bem como o uso do álcool como combustível para veículos. A experiência brasileira prova que o álcool e o diesel feitos com matérias-primas vegetais podem ser usados como combustível em substituição ao petróleo, e constata-se um avanço e adesão de mais da metade da população que possui veículo utilizando o álcool como combustível, o mercado internacional vêm demonstrando interesse em relação a este biocombustivel (álcool), fruto da pressão política a 41 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN favor do uso da energia limpa consagrada em função da assinatura do protocolo de Kioto15, em 1999 (Jank, 2006), no entanto torna-se-ia inviável atender à demanda, caso a frota mundial de veículos rodasse somente com álcool ou biodiesel. Estima-se que as reservas de petróleo sob o solo terrestre se esgotem dentro de cinquenta anos e até hoje não se descobriu outra fonte de energia economicamente viável para substituí-lo em larga escala. Como extrair ordem do caos? Hoje essa pergunta exige um novo diálogo da sociedade com a natureza. A civilização da fábrica se espalhou, com suas máquinas, com as obras de engenharia, com as indústrias do aço, do petróleo e do automóvel. Vários cientistas tentam provar que a capacidade predatória do homem está se aproximando do limite e que alguma ordem deve surgir do caos. Em seu balanço sobre a civilização capitalista, Wallerstein nos chama a atenção para as questões científicas que não foram colocadas, para os riscos que não foram admitidos e, por isso, não foram evitados, e questiona nossos dilemas ecológicos, que poderiam ter sido menos graves, [...] se tivéssemos desenvolvido uma abordagem científica mais holística, que incorporasse o estudo das estruturas dissipativas e das bifurcações como elemento central de análise em vez da abordagem que relegou esses dilemas à categoria de obstáculos externos inerentemente suscetíveis de solução técnica, enquanto supunha que as tendências lineares vigentes continuariam em vigor (Wallerstein, 2001, p. 112). Aos poucos, no entanto, a humanidade compreende que a natureza não é uma fonte inesgotável de recursos. Apesar disso, o ideal do desenvolvimento econômico, a qualquer custo, e a concentração de poder, que advém desse crescimento econômico, fizeram com que a “exploração desordenada dos recursos naturais se acelerasse e chegasse a níveis de destruição preocupantes” (CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, Agenda 21, 1997, p. 302). Nos países em que tal modelo de desenvolvimento provoca os efeitos negativos mais graves, começam a surgir manifestações e movimentos que refletem a consciência de algumas parcelas da população sobre o perigo que a humanidade corre, ao afetar de forma violenta, o seu ambiente. Nesse momento, surgem os movimentos ecológicos, que revelam a preocupação com a qualidade de vida que se anuncia. Nas nações mais industrializadas, passa-se a constatar de um lado, uma deterioração na qualidade de vida que afeta tanto a 15 O protocolo de Kioto, assinado em 1999, contém uma proposta global de ações para reduzir a emissão dos gazes do efeito estufa. 42 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN saúde física, quanto psicológica dos habitantes; e de outro lado, os estudos ecológicos começam a tornar evidentes que a destruição (e até a simples alteração de um único elemento do ecossistema) poder ser nociva e, até mesmo fatal para o sistema, como um todo. 5 Os valores e a ética ambiental A crise ecológica e a conseqüente preocupação com a questão ambiental geraram uma preocupação intelectual de que é necessária uma nova ética global para unificar os seres humanos ao redor de uma comunidade moral capaz de enfrentar a crise através de esforço e cooperação. O problema está muito bem representado no texto “A tragédia dos comuns”, onde Hardin (1968) apresenta situações nas quais ocorrem um conflito entre os benefícios pessoais a curto prazo e os benefícios sociais a longo prazo. Nestes casos, o interesse pessoal imediato é mais fácilmente atendido quando confrontado com os possíveis benefícios comuns a longo prazo. O argumento utilizado é de que a ação individual não é prejudicial devido ao mínimo impacto que teria no conjunto dos recursos. Deste modo, ao contemplar a ação individual como pouco ou nada negativa no conjunto das conseqüências finais, o que ocorre é que se dilui a responsabilidade pessoal e, portanto, o comportamento individual chega a ser considerado como inútil para melhoria ambiental global e, em conseqüência, não mereceria ser levado em consideração. No entanto, os recursos naturais seriam melhor conservados se existissem normas ambientais compartilhadas por todos, que induziriam a condutas ecológicas positivas, constituindo uma nova ética baseada em valores ecológicos globais. Os valores constituem variáveis sociais relevantes na tomada de decisões que exigem a proteção ambiental. Quando esses valores se interiorizam e se tornam obrigações sociais, eles estimulam as condutas de conservação e proteção ambiental. Quando os valores se expressam como normas, que dizem o que se deve fazer, então exercem uma influência direta sobre o comportamento ecológico. Nesse sentido, a ética ambiental, que determina o comportamento, está baseada nas concepções de valores sociais da sociedade em questão que faz com que os indivíduos identifiquem as prioridades que orientam as suas atitudes e comportamentos. As pessoas, assim, atuam de acordo com os valores que as sustentam, tornando-se estes verdadeiros guias para a ação. Deste modo, os valores, a pesar de sua generalidade, têm importante influência na conduta pessoal. Do ponto de vista ambiental, os valores apresentam 43 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN uma função motivacional que induz a uma conduta ética dos indivíduos em relação ao ambiente natural. A preocupação pelo bem-estar e pela saúde dos seres humanos implica que, quando as pessoas acreditam que suas ações, pelas quais são responsáveis, têm conseqüências sobre as demais, são ativadas normas morais que regulam a conduta ecológica. Os valores ambientais funcionam como critérios morais que se convertem em imperativos éticos que influenciam urna conduta e, no caso das pessoas preocupadas com o meio ambiente, funcionariam como sentimentos de obrigação moral com o ambiente natural. Por isto, as condutas relacionadas com o meio ambiente se encontram dentro do campo da ética e da moralidade. A questão que se coloca é a construção de uma comunidade moral baseada em valores e normas codificados pelo direito e/ou ritualizados pelo costume, tendo como referência o respeito ao meio ambiente natural. As pessoas consideram, de um modo geral, que a existência de normas morais é determinante importante das condutas ecológicas, e que uma vida ética do ponto de vista ambiental deve se estruturar em torno de opções ecológicas que girem em torno da mudança de conduta de exploração e contaminação do meio ambiente. Estas mudanças devem estar calcadas em valores ambientais assumidos pela sociedade como um todo, incorporados em definitivo no seu sistema de valores. Ocorre que a construção de normas e valores universalmente aceitáveis não é uma tarefa fácil, pois os códigos éticos podem variar enormemente entre países, comunidades, regiões, e, portante, uma nova ética global ambiental deve contemplar essa diversidade cultural e seus diferentes interesses em termos sociais. Segundo Seligman (1989) o concreto é que o sistema de relações que o ser humano estabeleceu entre si e com a natureza, baseado principalmente na obtenção de resultados econômicos, ao ter que enfrentar o problema da conservação e proteção do meio ambiente, provoca uma série de dilemas éticos como o desenvolvimento diante da conservação, os interesses humanos diante dos interesses dos animais e vegetais ou as necessidades presentes diante das necessidades futuras. 5.1 A moral e a ética Embora as diferenças entre a ética e a moral sejam, muitas vezes, difíceis de serem identificadas, nas suas origens têm o mesmo significado. A palavra ética vem do grego ethus, 44 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN e moral, do latim moralis, sendo que ambas têm o significado associado aos costumes. Ao longo dos séculos foram se estabelecendo certas distinções descritas a seguir: A moral é constituida pelas normas e valores, cuja origem é externa e tem uma ação impositiva sobre as pessoas. De acordo com Srour (2000, p. 29) moral é “um conjunto de valores e regras de comportamento, um código de conduta que coletividades adotam, quer sejam uma nação uma categoría social, uma comunidade religiosa ou uma organização”. Estas normas e valores se interiorizam no indivíduo e permanecem no seu inconsciente, norteando seu comportamento cotidiano. Tornam-se guias para a ação do indivíduo, complementa Sruor (2000, p. 29) “a moral corresponde as representações imaginárias que dizem aos agentes sociais o que se espera deles, quais comportamentos são bem vindos e quais não”. A sua importância para o individuo é tal que Touraine (2006, p. 120) afirma que: “o sujeito nunca se identifica totalmente consigo mesmo e continua situado na ordem dos direitos e deveres, na ordem da moralidade [...]”. A moral, assim definida, é o conjunto de normas e valores existentes em qualquer sociedade e que são transmitidos de geração para geração, evoluindo ao longo do tempo e podendo apresentar muitas diferenças em relação aos de outras sociedades e de outras épocas. As normas e valores são úteis para orientar a conduta dos integrantes de uma determinada sociedade. A ética tem como característica maior seu caráter interno ao indivíduo, pessoal, autônomo, constituindo um conjunto de valores e normas adotados pelo indivíduo que podem ou não coincidir com a moral recebida. Estas normas e valores foram adotados através de sua reflexão sobre os valores morais aos quais teve acesso ao longo de sua vida e no grupo social ao qual pertence. Ao adotar uma conduta qualquer, ela será ética quando coincidir com as normas e valores externos ao indivíduo e pertencentes ao grupo (ou sociedade) do qual faz parte e que permanecem alojados no seu inconsciente. Ao contrariar a moral vigente (as normas e valores extemos que foram interiorizados), haverá um conflito pessoal, interno, entre a parte consciente e a inconsciente do seu ser. Quando o comportamento conscientemente adotado coincide com os valores do grupo social ou da sociedade do qual faz parte, não há conflito ético e não aflora no individuo sentimento de culpa. Ao contrário, quando a conduta adotada não coincide com os valores que se encontram no seu inconsciente (e constituem aqueles assumidos como corretos pelo grupo social do qual faz parte), surge um sentimento de culpa pois identifica o seu comportamento como incorreto do ponto de vista moral. 45 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Como foi colocado por Kirby e Andreasen (2002, p. 195): O comportamento ético é, por natureza, um comportamento individual. Escolhemos agir éticamente ou ignorar considerações éticas quando colocados diante de alternativas comportamentais conflitantes. As conseqüências de tais comportamentos são identicamente pessoais na medida em que seremos nos mesmos que sentiremos a culpa por agir de maneira não-ética, a angustia da consciência de estar margeando a 'fina linha da ética' ou o prazer de 'fazer o que é certo. 5.2 Uma ética para civilização tecnológica Quando abordamos temas relacionados à ética voltada para o meio ambiente, a qual muitos autores denominam de ética ecológica, encontramos diversos escritos do ilustre autor Nicolás Martín Sosa, com reflexões e preocupações sobre o meio ambiente, onde os temas giram em torno da ética ecológica unida a outros temas como a educação ambiental, movimentos sociais, direitos humanos, o Verde; suas concepções iam muito além da concepção tradicional da ética e dos valores. Vejamos alguns temas escritos por Sosa: [...] sitúa el problema en su justo ámbito: el ámbito de la reflexión sobre los fines; y esta es una reflexión ética. Especialmente en los últimos cien años se ha produzido lo que Ferrater llamava ‘una verdadera explosión d humanidad’. Ninguna sociedad adquirió un poder tan enorme de transformar la naturaleza en sociedad industrial, especialmente bajo su forma capitalista; y ninguna tal vez esté más amenazada por su própria obra. La especie ha invadido el planeta y lo ha ‘humanizado’, en un sentido literal (y no siempre, necesariamente, en el sentido que tiene esté término cuando se emplea para formular juicios de valor positivos sobre las costumbres). Esta ‘humanización’ ha produzido graves problemas; y la solución a tales problemas no pueden ser sólo técnicas; también han de ser económico-políticas; pero son del mismo modo, y aun antes, también morales” (Sosa, 1985, p. 6). “En otras palabras, el reto principal de nuestra época en lo que refiere a la cuestión del medio ambiente, es el del consenso social en torno a la dirección y sentido del progresso técnico y civilizatorio, y su necesaria reorientación a las puertas del tercer milenio” (Sosa, 1998, p. 657). Tal vez no sea preciso decir que ningún momento se aboga aquí por la vuelta de una tecnología rudimentaria y por una renuncia al bienestar material conseguido. Es un problema de reorientación del progresso científico y técnico, y replanteamiento de fines. El utopismo que la formación de una conciencia ecológica conlleva no puede ser eliminado, sustituyéndolo por un sujeto empírico del saber y del obrar. Es obvio, por otra parte, que la experiencia moral que una tal conciencia comporta no puede esgrimirse como si las condiciones para su realización estuviesen dadas. Y por ello 46 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN es inevitable recurrir a las estrategias de responsabilidad. Donde yo veo el riesgo, insisto, es en que tales estrategias e responsabilidades acaben por devorar las convicciones, por la fuerza de atenerse a lo dado inevitable, por no haber reformulado suficientemente argumentativamente, aquellas necessidades y aquella noción de vida buena, sino mas bien conformase con actuar y gestionar lo que ya tenemos y lo que ya tenemos construido, considerándolo, al modo positivista, como el mejor de los mundos posibles (Sosa, 1990, p.50). Por todo ello Sosa resalta las palabras de Schumacher de su libro Lo Pequeño es Hermoso, cuando este autor dice: El hombre no puede vivir sin ciencia ni tecnología, como tampoco puede vivir en contra la naturaleza. Lo que necesita una muy cuidadosa consideración, sin embargo, es la dirección de la investigación científica. No podemos dejar esto en manos de los científicos solamente (Schumacher, 1978, p. 148). Para aprofundar este tema, vamos expor baseados em alguns estudos, as teses principais de Hans Jonas, filósofo alemão, cuja obra principal é O Princípio Responsabilidade: Ensaio para uma ética para a civilização tecnológica, publicada em 1979, com o propósito de explicar os aspectos principais do seu projeto. Hans Jonas tornou-se conhecido, primeiramente, por sua obra histórico-filosófica sobre a Gnose e, mais tarde, por seus trabalhos sobre a filosofia da Biologia. Desde o final dos anos 60, voltou sua atenção para as questões éticas suscitadas pelo progresso da tecnologia. Explica o que seria uma nova ética fundada no princípio da responsabilidade, ao mesmo tempo em que critica a utopia política na onipotência virtual da tecnologia moderna, fundada nas ciências naturais. Em sua fundamentação metafísica, o autor procura legitimar filosoficamente a passagem desautorizada da filosofia moderna do plano do ser e da existência, para o plano do dever. Tal legitimação tem como propósito oferecer fundamentação à sua idéia central de ética: a idéia de dever e de responsabilidade do agente humano relativamente à natureza e ao futuro das próximas gerações humanas sobre a Terra. O ponto de partida do livro é a figura de Prometeu desacorrentado, símbolo das novas e imensas possibilidades com que a técnica moderna equipa o agir humano, alterando essencialmente o horizonte e o coordenado espaço-temporais em que se insere e onde desdobra os efeitos do agir humano. Esse agir, compreendido como intervenção tecnologicamente mediada sobre a natureza exterior, assim como sobre a própria natureza, exige uma normatização ética que seja 47 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN adequada e proporcional à sua nova natureza, pela ordem de grandeza e de poder de que está investido pela tecnologia. Sua idéia central é estabelecer uma equação entre as novas possibilidades de ação e de poder, no espaço em que se desenrola o agir e as novas dimensões de responsabilidade, que esse mesmo agir suscita. Essa responsabilidade assim como o novo poder liberado pela tecnologia, não se restringe à esfera do sujeito individual. Seu verdadeiro destinatário é a práxis coletiva, na qual a preocupação básica diz respeito aos efeitos remotos, cumulativos e irreversíveis da intervenção tecnológica sobre a natureza e sobre o próprio ser humano. Para ele, esse novo poder tecnológico abriga uma dimensão ameaçadora e perigosa. O risco encontra-se no sucesso extraordinário do poder tecnológico, que envolve a possibilidade de desfiguração da natureza e do ser humano, em função do excesso do seu próprio poder. Face a este risco, Hans Jonas propõe uma postura fundamental de temor e reverência, porque não é um problema da mera existência, mas de preservar contra a hýbris da intervenção e da manipulação tecnológica, as condições sobre as quais se compreendeu e se compreende o essencialmente humano, com suas ambivalências e oposições características de suas experiências valorativas. Sua pretensão não é a transformação do homem por intermédio da transformação das relações sociais, mas a preservação de sua essência contra os assaltos e desmedidas de seu próprio poder. Seu objetivo é reencontrar o ideal grego de medida, de pensamento anti-hýbris, que vincula a ética à idéia de limite, moderação, contenção e austeridade. Brilhante e didático, o Prof. Oswaldo Giacóia Jr. (1996) discorre em sua notícia de Hans Jonas, sobre as características que este aponta da ética tradicional contrapostas às novas dimensões da responsabilidade e, sob tais condições, nos fala da proposta de um novo papel do saber na moral. Sob essas novas condições, o saber torna-se objeto de um imperioso dever, superando o papel que lhe fora atribuído pelas éticas historicamente conhecidas, pois deve ser comensurável às virtualidades da extensão causal do agir humano coletivo. Como isto não acontece, torna-se de extrema relevância ética o reconhecimento do desconhecido como contraface do dever e do saber. 48 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Tal desequilíbrio implica também na necessidade de se conceder, em situações de incerteza, precedência ao pior diagnóstico entre as perspectivas concorrenciais sobre as consequências da ação16. Considerando que o saber moderno, na forma das ciências da natureza e do progresso tecnológico que delas decorre, libera para o agir humano um potencial de forças tão extraordinário que produz uma transformação radical na essência mesma desse agir; e, considerando que os efeitos da intervenção tecnológica estão investidos de um poder cumulativo de destruição, cujas consequências podem ser, e são de fato, irreversíveis, isso passa a incluir o conjunto da natureza na esfera de responsabilidade desse agir. Assim, não se trata apenas de prudência, mas de considerar a hipótese de um direito próprio, de uma autônoma significação ética da natureza, de sua inclusão, a título próprio, no domínio da ética e no horizonte de uma responsabilidade humana ampliada. Reconhecer a natureza um direito próprio e uma significação ética autônoma, independentemente da sua condição de meio para a satisfação das necessidades e desejos humanos, significa abandonar a postura tradicional que considera o homem como o ápice da natureza e coroa da criação, servindo de fundamentação metafísica a uma ética em cujo domínio inclui-se a natureza e que reconhece como dever a preservação das condições sob as quais se pode, inclusive, manter inalterada a essência do humano. Agir do ponto de vista do imperativo ora anunciado, se é admissível que possamos arriscar nossa própria vida, não estamos legitimados ou autorizados a fazê-lo quando se trata de pôr em risco a vida da humanidade. Desse ponto de vista, a simples existência de autêntica vida humana sobre a Terra apresenta-se como um valor, e a preservação das condições dessa existência como um dever a ser levado imperativamente em conta pelas novas dimensões do agir humano. Não temos, portanto, o direito de escolher o não-ser das futuras gerações em proveito do ser da presente geração; o imperativo determina para o agir humano coletivo uma obrigação em face daquilo que ainda não é, e que, considerado apenas em si mesmo, também não tem que ser. Trata-se de uma obrigação em relação ao não existente que enquanto tal, não pode sustentar qualquer pretensão à existência. Essa obrigação constitui objeto de rigorosa fundamentação metafísica que retorna aos grandiosos projetos antigos (Aristóteles, por exemplo), mas também aos modernos (não há como não associar Leibniz, Schelling ou 16 Este é um dos princípios que regem o Direito Ambiental, o princípio da precaução. 49 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Hegel), fundamentando metafisicamente a passagem da filosofia da natureza para a filosofia do espírito ou para a ética. O novo imperativo ético não se dirige à ação do indivíduo isolado, como em Kant, mas ao agir coletivo. Seu destino não é a esfera das relações singulares, mas a do domínio da política pública, porque os efeitos do agir coletivo, na realidade, afetam a humanidade como um todo. Desta forma, o que seria necessário fazer, para que o limite derradeiro não fosse imposto pela própria catástrofe, é alcançar uma potência de terceiro grau, isto é, uma nova posição de poder sobre o poder, tornado autônomo, que seria a superação da impotência em relação à compulsão auto-imposta ao exercício tecnológico. Esse é o desafio e, em resposta a ele, e sob a ameaça do apocalipse tecnológico, articula-se a proposta ética de Hans Jonas para a civilização tecnológica, salientando também que, em face da urgência e gravidade do tema, é necessário regulamentar, por meio de normas, o emprego efetivo desta ética17. Esse regulamento, na prática, dá-se por meio de um conjunto de normas e princípios denominado de Direito Ambiental, que possibilita aos cidadãos saírem de um estado passivo de beneficiários para partilhar a responsabilidade na gestão dos interesses da coletividade inteira. Essa possibilidade de pessoas e associações agirem perante o Poder Judiciário é um dos pilares do Direito Ambiental. Para que isso acontecesse e se tornasse realidade, foi necessária a aceitação do conceito de que a defesa do meio ambiente envolve interesses difusos e coletivos. Esse esforço, como vem se desenvolvendo, reflete a ideologia dos interesses difusos, um novo sistema de organização política, que aos poucos vai modificando as estruturas de poder, tradicionalmente conhecidas, contaminando-as com a demanda de participação e de controle social na tomada de decisões, obrigando os dirigentes a implementar mecanismos cada vez mais constantes de comunicação social e de negociação com os setores organizados da comunidade a que devem prestar contas. A implementação dos novos parâmetros ideológicos dos interesses difusos encontra vários focos de resistência, alguns devidamente armados por normas legais não recepcionadas pela nova ordem da economia sustentada. A rejeição sistemática do conhecimento do conflito 17 Resulta interessante o texto do Prof. Oswaldo Giacóia Jr., comentado neste trabalho de forma resumida. Cadernos de História e Filosofia da Ciência - Revista do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência. UNICAMP – Série 3, v. 6, n. 2. Filosofia da Crise Ecológica. jul./dez. 1996. 50 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN é propiciada pelo refúgio civilista e patrimonialista da legislação, quase secular, ainda em vigor, destinada a conflitos inter individuais e de interesse processual restritivo. A nova postura exige desprendimento e desapego às normas de solução de conflito não condizentes com a complexidade da matéria introduzida pelo Direito Ambiental. Implica na renovação do conceito de interesse processual, posta hoje pelo ordenamento legal, à disposição dos operadores do Direito. Para operar no Direito Ambiental, não podemos nos servir de uma lei tradicional ou codificada, mas de normas que sejam diretrizes para uma política global, que instituam para sua implementação, um sistema, integrando esferas de competência e agentes setoriais, de forma coordenada e descentralizada. A preocupação principal, dentro do Direito Ambiental, desloca-se do plano formal para o plano material. A técnica e os procedimentos processuais, muitas vezes, usados com intenções meramente protelatórias passam a ter menos eficiência quando tratam de proteger o bem ambiental considerado como de interesse difuso, que na maioria das vezes é colocado acima de direitos individuais e até mesmo coletivos. O Brasil usa e atualiza uma legislação, cada vez mais rígida, como instrumento corretivo e educacional, retomando assim a finalidade primeira da lei de educar e forçar uma reflexão sobre o tema. O direito à integridade do meio ambiente – típico direito de terceira geração – constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo de afirmação dos direitos humanos, a expressão significativa de um poder atribuído, não ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas num sentido verdadeiramente mais abrangente, à própria coletividade social. Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade, e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) – que se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados como valores fundamentais e indisponíveis. 51 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Desta forma, tendo o Direito Ambiental por missão a tutela de bens e valores assim qualificados, não pode ser concebida dentro da dicotomia (público ou privado) do Direito tradicional, mas como um direito difuso ou um direito de terceira geração. 6 A história do ambientalismo mundial Na década de 70 o mundo começou a preocupar-se mais com a questão desenvolvimento e meio ambiente, produzindo alguns marcos positivos em que foram realizados eventos políticos, que geraram declarações, acordos e a participação da comunidade, principalmente a científica no sentido de reduzir o grande abismo criado entre meio ambiente e desenvolvimento. Cabe registrar que o movimento ecológico vem provocando algumas mudanças de atitude que devem ser ressaltadas: o estilo de vida da classe média ocidental está sendo transformado e o consumo de mercadorias ecológicas está aumentando, o tamanho das famílias diminuiu, a economia doméstica de recursos energéticos é uma realidade, em todos os cantos do mundo aumentam a implantação de reservas naturais e a preservação de áreas históricas, há um crescimento de agências governamentais (internacionais, nacionais e regionais) relacionadas à questão ambiental e aumento de leis ambientais. Mesmo nos países onde se detecta um impulso de desenvolvimento pouco preocupado com a ecologia, os movimentos de ambientalistas e os projetos oficiais de preservação ambiental crescem. A poluição foi reduzida em determinadas partes do mundo embora em outras não aconteça esta melhora, os movimentos ecológicos contribuíram para uma nova visão das relações sociedade/natureza. Entre os diversos cenários possíveis para o futuro, um dos mais pessimistas foi apresentado pelo Clube de Roma, em 1972, por meio de um relatório intitulado Os Limites do Desenvolvimento. O objetivo central do Clube de Roma foi aprofundar e difundir os problemas principais da humanidade. Embora o grupo de intelectuais tenha sido financiado e tenha recebido diversos tipos de apoio de industriais e banqueiros, enfatizou que a produção industrial e a exploração dos recursos naturais precisam ser revistas e até estagnadas. Não podemos argumentar sobre os problemas ambientais sem destacar a enorme desigualdade entre os países dos hemisférios norte e sul, num mundo onde os países do norte, embora representem a minoria da população do planeta, absorvem a maior parte das 52 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN melhorias do nível de vida produzidas pelo desenvolvimento científico e tecnológico, enquanto que milhões de habitantes do sul sofrem com a escassez crônica de alimentos. O problema principal da proposta do Clube de Roma foi a defesa do crescimento zero, na medida em que fechava o caminho para o crescimento dos países mais pobres (Brüseke, 1995). Cabe agora ressaltar alguns eventos internacionais que envolvem a política ambiental e a tomada de consciência sobre a importância do assunto em nível global. A primeira grande conferência internacional para discutir o problema ambiental foi a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo (1972). O desastre da Baía de Minamata, no Japão, foi um alerta para a citada reunião. Um dos pontos marcantes do encontro entre outros, foi a contestação às propostas do Clube de Roma sobre o crescimento zero para os países em desenvolvimento, conforme quadro abaixo: DÉCADA DE 70 DÉCADA DE 80 DÉCADA DE 90 1972 – Conferência de Estocolmo, criação do Programa das Nações Unidas para o meio ambiente (PNUMAS/PNUD) 1977 – Conferência Mundial sobre Desertificação (Quênia). 1977 – Conferência das Nações Unidas sobre Água (Mar del Plata) 1978 – Conferência sobre Cuidados Primários de Saúde OMS-UNICEF (Alma-Ata). 1981/1990 – Decênio Internacional de Abastecimento de Água Potável e do Saneamento 1986 – Carta de Ottawa para a Promoção da Saúde (OMS) 1987 – Carta de Montreal: controle da emissão de substâncias que destroem a Camada de Ozônio. 1987 – Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (ONU/CMMD); Nosso Futuro Comum, relatório da ONU/CMMD; 1987 – Iniciativas Cidades Saudáveis (OMS); 1988 – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas 1989 – Convenção de Basel: controle da movimentação de dejetos perigosos 1989 – Conferência de Adelaide sobre Políticas Públicas Saudáveis (OMS) 1990 – Criação da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da OMS; 1991 – Declarações de Sundsvall sobre Ambientes Favoráveis a Saúde (OMS) 1992 – Conferências das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio 92) – Cúpula da Terra, Agenda 21; Criação da Comissão para o Desenvolvimento Sustentável (ONU); 1994 – Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD); 1994 – Conferência das Nações Unidas sobre a População e Desenvolvimento (Cairo); 1994 – Conferência Internacional sobre Segurança Química (Estocolmo); 1995 – Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Social – Cúpula Social (Copenhague) 1995 – Carta Pan-Americana sobre Saúde e Ambiente no Desenvolvimento Humano Sustentável; 1996 – Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos (Habitat II) 1996 – Cúpula Mundial da Alimentação FAO (Roma) 1997 – Protocolo de Kioto: controle de emissão de gases de efeito estufa 2002 – Reunião conjunta dos Ministros da Saúde e do Meio Ambiente das Américas; 2002 – Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO + 10), de Joanesburgo. Quadro 2 – Marcos sobre meio ambiente Fonte: Buss, P. M. Desenvolvimento, Ambiente e Saúde. Ciência e Ambiente/Universidade de Santa Maria. UFSM - v.1, n.1 (jul.2003) volume 25. 53 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN O Brasil liderou nessa conferência, a aliança dos países periféricos contrários à limitação de desenvolvimento imposta pelas nações mais ricas, no entanto contraditoriamente, foi um dos países que mais aceitou nos anos seguintes, a transferência de indústrias poluentes do hemisfério norte, justamente afastadas de suas regiões de origem, em função do aumento da consciência ambiental (Ferreira, 1998). A conferência de Estocolmo criou alguns programas e algumas comissões importantes, como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o Earthwatch e a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD). Tal fato estabeleceu o assunto definitivamente na agenda e nas discussões da ONU. A CMMAD também publicou o relatório Nosso Futuro em Comum, que alertou, por exemplo, para o fato de que 6 milhões de hectares de terras produtivas sofrem anualmente um processo de desertificação no mundo e que a maior parte deste solo encontra-se no continente mais miserável do planeta – a África. Apesar disso, a proposta de um desenvolvimento sustentável, neste relatório, é considerada prioritária para os países ricos, pouco preocupados com a pobreza mundial, de acordo com lideranças do Terceiro Mundo e algumas ONGs. A mais importante reunião, depois de Estocolmo, aconteceu no Rio de Janeiro, em 1992. A Conferência de Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92) foi o grande marco da internacionalização definitiva da proteção ambiental e das questões ligadas ao desenvolvimento, criando elementos importantes como a Agenda 21 e o Fundo Global para o Meio Ambiente do Banco Mundial. Um dos pontos culminantes da ECO 92 foi a Convenção sobre a Alteração Climática, que procurou estabelecer regras para a proteção da atmosfera e a contenção da emissão de gases poluentes. Foi também na ECO 92 que os Estados Unidos assumiram a maior posição de intransigência ao negar-se a assinar a Convenção da Biodiversidade, apesar da adesão de 153 países, incluídos o Japão e as nações mais industrializadas da Europa. Cabe aqui também ressaltar a negativa dos Estados Unidos em aceitar o Protocolo de Kyoto (1997), apesar de o país ser o maior poluidor do mundo e o principal causador do efeito estufa. A ECO 92 também colocou em pauta a discussão sobre patentes relacionadas ao desenvolvimento da biotecnologia, outro ponto de intransigência por parte não só dos Estados Unidos como de outros países com parques industriais avançados. Segundo Ferreira (1998), o principal marco da ECO 92 foi no entanto o fortalecimento das propostas alternativas por meio do Fórum Global, cujo evento principal foi o Fórum Internacional de ONGs. 54 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 6.1 A história do ambientalismo no Brasil Retrocedendo no tempo vemos que a exploração predatória do meio ambiente brasileiro tem sido uma característica presente em muitas das atividades econômicas, desde a época do Brasil-colônia. Os antecedentes do ambientalismo remontam a 1958, com a criação da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza FBCN, todavia é nos anos 70 que se dá de fato início ao processo, com a configuração de propostas do Estado e da sociedade civil. Ressaltese que o ambientalismo não aparece como um fenômeno isolado, mas faz parte de um amplo processo de mudanças políticas, econômicas e sociais. As mudanças modernizadoras no Brasil, nos anos 70, em especial a industrialização, o desenvolvimento econômico acelerado, o processo de urbanização, a instalação de grandes projetos energéticos, minerais, dentre outros, acelerou e intensificou a degradação ambiental que a partir de então passou a ocupar espaço na mídia, tendo início a mobilização de grupos e consequentemente a conscientização da população, e essa circunstância foi marcante para o surgimento do ambientalismo no Brasil, que, tal como a cidadania, tem dois polos ou seja o Estado que o promove na lei e no discurso e a sociedade civil que o reivindica. Segundo Leis (1996, p. 97), “Esses dois atores terão uma ação simultaneamente complementar e contraditória, confluindo ambos na definição da problemática ambiental recortada pelo controle da poluição urbano-industrial e agrária e pela preservação dos ecossistemas naturais”. Outro marco significativo do ambientalismo no Brasil foi a criação da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – AGAPAN, em Porto Alegre em 1971, sob influência do movimento ambientalista norte-americano e europeu, no que se refere a adoção de um sistema de valores e formulação de um programa, que consistia no questionamento da civilização urbano-industrial pelos seus impactos devastadores sobre a natureza, e na promoção da ecologia como ciência da sobrevivência, pela promoção de uma nova ética ecológica, o combate à poluição causada por indústrias ou veículos, combate à destruição das belezas paisagísticas causadas por empreendimentos humanos, a luta contra o uso exagerado da mecanização agrícola e contra o uso exagerado de agrotóxicos, e pela preservação da flora e da fauna nativas. 55 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN O surgimento do movimento ambientalista no Brasil também não pode ser dissociado da luta pelas liberdades democráticas, embora aparentemente se tratassem de lutas com objetivos diferentes. Segundo McCormick (1992, p. 216), em sua obra afirma, Os embriões do atual movimento ambientalista se insinuam nas frestas estreitas da ditadura militar do período Ernesto Geisel, na saída dos anos de chumbo para os da luta pela anistia, embora sua gênese remonte aos anos de terror e ufanismo do governo Médici: a AGAPAN' (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural) começou a ser articulada em 1970 e foi fundada em 1971. Seus primeiros protestos e mobilizações, contra a poluição do Rio Guaíba e a forte fedentina dos afluentes da Borregard Celulose datam de 1972. Apresentava-se então como um movimento absolutamente apolítico. O fato é que em meados dos anos 70 o movimento ambientalisla começou a aparecer como personagem do cenário político e cultural da sociedade, e desde então cresceu, em sua forma multifacetada, numa proporção sem precedentes inclusive absorvendo as idéias socialistas gestadas no final do século passado. As entidades ambientalistas começaram a organizar-se, e a atuação estava centrada nas denúncias e na conscientização política sobre a degradação ambiental local. Motivando campanhas nacionais, contra o desmatamento da Amazônia, a construção de usinas nucleares, a poluição de indústrias na cidade de Cubatão no estado de São Paulo e outros. Com relação à postura desta década havia duas posições polarizadas, sob duas diferentes influências: − Uma minoria catastrofista (Clube de Roma) - segundo a qual era necessário parar imediatamente o crescimento econômico e populacional; − Uma maioria gradualista (Estocolmo - 1972) - propunham mecanismos de proteção ambiental que agissem corretivamente sobre os problemas causados pelo desenvolvimento econômico e reverter a dinâmica demográfica para atingir a médio prazo uma população estável. Em relação à política havia duas posições: − Minoritária, que não assumia nem as características nem as regras da dimensão política, enfatizando atitudes éticas e espirituais de tendência biocêntrica; − Maioritária, que assumia plenamente a dimensão política e se subdivide em duas posições: 56 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN a) Uma minoritária de caráter radical, que considerava necessária uma rápida e intensa disseminação de valores ecológicos e uma drástica redistribuição do poder político e econômico, para relocação dos recursos produtivos; b) Uma majoritária, reformista, que considerava necessária a adoção gradual de um novo modelo de desenvolvimento que interiorizasse a sustentabilidade social e ambiental. Viola (1987) enfatiza que o Brasil passou por um processo acelerado de crescimento econômico nas últimas quatro décadas e que, portanto, também sofre a crise ecológica, o que levou ao surgimento de movimentos ecológicos no país distribuidos em três períodos. No Brasil, podem ser distinguidos três períodos: um primeiro, denominado ambientalista (1974 a 1981), caracterizado por movimentos de denúncia de degradação ambiental nas cidades e criação de comunidades alternativas rurais; um segundo período de transição (1982 a 1985), foi marcado pela grande expansão quantitativa e qualitativa dos movimentos do primeiro e do terceiro, a partir de 1986, a maioria do movimento ecológico decidiu participar ativamente da arena parlamentar. O autor chama a atenção para o fato de que a burguesia brasileira em geral, tem rejeitado o discurso ecológico, uma vez que seu padrão de acumulação e comportamento tem sido selvagem em relação ao meio ambiente e à própria população trabalhadora. Apesar disso, algumas instituições governamentais têm demonstrado consideração com os impactos negativos da industrialização e da urbanização. Para Viola (1987), o que falta no Brasil, além de maior conscientização por parte das elites e do poder público, é uma penetração mais ampla a esse respeito nas classes mais populares. Outro estudioso da questão ambiental, Carlos Minc, ressalta que a questão ecológica no Brasil está muito atrelada à justiça social, Nosso país só terá um desenvolvimento ecologicamente viável numa sociedade profundamente democrática, em que a população tenha de fato poder sobre a organização da economia e do uso do espaço e também o poder de inventar novos direitos que ampliem seus espaços de autonomia e de liberdade (Minc, 1987, p. 138). Convém destacar a atuação das ONGs no Brasil, especialmente na Amazônia, que se tornou uma área de interesse internacional, considerando que entre 30% e 40% das florestas tropicais do mundo alí se localizam e que a Amazônia detém o maior banco genético do planeta, participando com um terço do estoque genético global. Hoje a biodiversidade é uma 57 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN questão essencial, e diferentes posições surgem em relação a uma política para o uso territorial da Amazônia. Apesar da pressão de correntes progressistas e de ONGs internacionais, a continuidade de atividades altamente predatórias, como a mineração, a exploração madeireira e a agropecuária extensiva, continuam na região. A destruição e a devastação da floresta são permanentes, e a biodiversidade se encontra ameaçada. Presentes nesse território também se encontram interesses estrangeiros voltados para o conhecimento e a exploração dos recursos genéticos de uma das principais fronteiras geopolíticas do mundo. Existe a necessidade urgente de um controle do acesso aos recursos genéticos da região, uma vez que algumas empresas estrangeiras estão buscando todos os tipos de negociação para explorá-la. Os negócios são estabelecidos com o poder público e até com as comunidades indígenas, com vistas ao aproveitamento econômico das plantas, mas quase sempre com desvantagens para a população local e para a biodiversidade. As indústrias farmacêuticas e cosméticas são as que revelam maior interesse. A Amazônia apresenta-se, portanto, como um imenso campo de experimentações, voltadas tanto para a sua exploração, muitas vezes com tecnologia de ponta na área da biotecnologia, quanto para a sua preservação, pelo manejo sustentável da floresta. Becker e Gomes (1993) chamam atenção para o fato de que o atual período de globalização da economia colocou a problemática ecológica como uma questão de sobrevivência da própria humanidade e que a Amazônia tornou-se o símbolo maior deste desafio. Ao analisarem a evolução da preocupação ambiental no período18, Peattie e Charter identificaram diferenças entre o ativismo ambiental dos anos 70 em relação ao dos anos 90, conforme pode ser observado no quadro 3, abaixo: 18 . PEATTIE e CHARTER (2005). 58 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Fator Enfase Foco geográfico Identidade Fonte de suporte Base de campanha Atitude em relação as empresas Atitude em relação ao crescimento Visão da interação Ambiente/empresa Ambientalismo da década de 1970 Em problemas ambientais Em problemas locais (por exemplo, poluição) Estreitamente ligado a outras causas contra os sistemas vigentes Uma elite intelectual e os que estavam a margem da sociedade Usava previsões de crescimento exponencial para prever futuros problemas ambientais (por exemplo, limites do crescimento) A empresa é o problema. Geralmente adversária Desejava crescimento zero Focalizada nos efeitos negativos da atividade empresarial sobre o meio ambiente Quadro 3 – A evolução da preocupação ambiental Fonte: Peattie e Charter (2005, p. 519). 59 Ambientalismo da década de 1990 Em problemas subjacentes dos nossos sistemas sociais, econômicos, técnicos e legais Em questões globais (por exemplo, aquecimento global) Um movimento separado abraçado por muitos elementos do sistema vigente Uma base ampia Usava evidências da degradação ambiental corrente (por exemplo, o buraco na carnada de ozônio) Empresas vistas como parte da solução. Mais parcerias formadas Desejava crescimento sustentável Focalizava as inter-relações dinâmicas entre empresas, sociedade e meio ambiente CAPÍTULO 2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, TURISMO SUSTENTÁVEL, EDUCAÇÃO AMBIENTAL Neste capítulo abordaremos três importantes temas, o Desenvolvimento Sustentável, o qual seria conseguir o desenvolvimento econômico garantindo o equilibrio SócioAmbiental; o Turismo Sustentável, onde a sustentabilidade do turismo é o resultado almejado na busca do equilíbrio ambiental, da justiça social e da viabilidade econômica, nos processos que compõem o turismo como indústria. Isto, na perspectiva de que o turismo contribui para garantir às atuais e próximas gerações, bem como a manutenção ou a melhoria destes aspectos; e a Educação Ambiental, que é um novo conceito de educação voltada para a sustentabilidade do ambiente e da sociedade que observa seu entorno com problemas ambientais que podem ser revertidos, bem como outros que não podem mais ser modificados. Neste contexto, a mudança de hábitos e paradigmas tem na educação, como principal meio de difusão para a melhoria da qualidade de vida das pessoas em geral. Nesse sentido, esses temas estão interligados, já que o Desenvolvimento Sustentável destaca os seguintes aspectos: 1. Atender as necessidades fisiológicas das pessoas; 2. Criar programas de conhecimento e conscientização ambiental através da Educação ambiental, de forma a preservar o meio ambiente para as próximas gerações; 3. Conscientizar a população para que se trabalhe em conjunto utilizando como mecanismo a Educação Ambiental; 4. Preservar os recursos naturais, criando um sistema social eficiente, de forma a praticar uma exploração racional que poderia ser realizada através do Turismo Sustentável. Constata-se que o desenvolvimento experimentado atualmente pela população mundial tem sido acompanhado por problemas relacionados com desequilíbrios ambientais, tais como o aquecimento global, o efeito estufa, o degelo das calotas polares, a poluição, a extinção de espécies da fauna e flora, etc. A partir dos efeitos desses problemas, tem-se tentado promoverse o desenvolvimento sem que o ambiente seja degradado. Portanto, o que vemos a cada dia, é que o mundo está enfrentando sérias crises, por consequência do uso indiscriminado dos recursos naturais, principalmente nos países subdesenvolvidos, e pela busca de um modelo de “desenvolvimento econômico” ainda voltado para produção, distribuição, consumo e acumulação de riquezas. Segundo o autor Genebaldo Freire Dias, 63 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN o desenvolvimento econômico e o bem-estar do ser humano dependem dos recursos da terra. O desenvolvimento sustentável é simplesmente impossível se for permitido que a degradação ambiental continue. O desenvolvimento econômico e o cuidado com o meio ambiente são compatíveis, interdependentes e necessários. O desenvolvimento econômico podem e devem coexistir com um meio saudável. (Dias, 2003, p. 226). Dias acredita que a chave para o desenvolvimento é a participação, a organização, a educação e o fortalecimento das pessoas. O desenvolvimento sustentado não é centrado na produção, é centrado nas pessoas. Deve ser apropriado não só aos recursos e ao meio ambiente, mas também à cultura, historia e sistemas sociais do local onde ele ocorre. Deve ser equitativo, agradável. Faz-se necessário e urgente adotar uma nova filosofia de desenvolvimento, radicalmente diversa deste modelo atual que busque resgatar a centralidade da dimensão social, bem como revisar a matriz antagônica implícita no modelo de crescimento prevalecente, hoje governado pelo valor da competitividade. Essa nova filosofia encontra tradução no conceito de Desenvolvimento Sustentável e/ou sustentabilidade. O desenvolvimento sustentável não deve ser visto como uma revolução, ou seja, uma medida brusca que exige rápida adaptação e sim uma medida evolutiva que progride de forma mais lenta a fim de integrar o progresso ao meio ambiente para que se consiga em parceria desenvolver sem degradar. São três as colunas imprescindíveis para a aplicação do desenvolvimento sustentável: 1. Desenvolvimento econômico 2. Desenvolvimento social 3. Proteção ambiental. 1 Desenvolvimento sustentável: um conceito multidisciplinar Para a construção do conceito de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável temos que vincular com o incremento da preocupação da manutenção e existência de recursos naturais e um ambiente propício para continuidade das gerações futuras, discutindo novamente o ritmo e a forma como o sistema capitalista propunha o desenvolvimento das sociedades. Até a década de 1970, já existiam distintos conceitos entre crescimento e desenvolvimento, as políticas e ações econômicas orientavam-se pelo uso intensivo de 64 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN recursos em privilégio ao objetivo de aumentar a produção, o consumo e a riqueza. A sustentação desse tripé econômico era o grande desafio para o “desenvolvimento” da sociedade. Furtado (1988, p. 45) “torna saliente e evidencia que o conceito de desenvolvimento não pode ser apenas econômico, mas deve abordar uma visão multidisciplinar”. Bell e Morse (2003) incrementam que esse foco multidisciplinar envolve economia, cultura, estruturas sociais, uso dos recursos, entre outros fatores. 1.2 Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável: dicotomia conceitual? Os termos sustentabilidade e desenvolvimento sustentável são utilizados como sinônimos em muitas situações; porém, são diferentes, senão, como afirma Dresner (2002, p. 65), “de forma que a palavra desenvolvimento seria completamente dispensável”. O’Riordan, (apud Dresner, 2002, p. 65), relaciona desenvolvimento sustentável com a questão de desenvolvimento, de fazer melhor (Bell e Morse, 2003, p. 2) e sustentabilidade com a manutenção, primariamente do ambiente. Já Ultramari (2003, p. 10) posiciona sustentabilidade como algo difícil de conseguir, e desenvolvimento sustentável como um conceito que denota um processo com vistas ao futuro, ou um presente prorrogado, porém sustentável. Neste caso trata o desenvolvimento como um processo e a sustentabilidade como um fim. Segundo o autor Ultramari (2003, p. 21-22), Desenvolvimento tem uma conotação de progresso, de industrialização, de consumo e domínio técnico e científico sobre a natureza; sustentável significa manter-se em equilíbrio[...]. Ao se atualizar a expressão desenvolvimento sustentável, além da convivência com o paradoxo parece-se aceitar a idéia de uma eterna busca [...] aceita-se o paradoxo de considerar viável o longo caminho do desenvolvimento, buscando-se logo o que talvez nunca possa ser obtido. Enfim, com o desenvolvimento chega-se perto da sustentabilidade, mas esta nunca poderá ser alcançada. Na verdade as diferenças entre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável afloram não como uma questão dicotômica, mas como um processo em que o primeiro se relaciona como o fim, ou objetivo maior; e o segundo com o meio. Entretanto, essa distinção está imersa em uma discussão ideológica que se insere em pensar algo para o futuro ou em se preocupar com ações presentes e impactos no futuro. O alvo principal, ao discursar-se e 65 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN preocupar-se com a sustentabilidade, está na vinculação do tema ao lugar a que se pretende chegar; enquanto que com o desenvolvimento, focaliza-se em como se pretende chegar. Ambos os conceitos são dinâmicos porque os caminhos e os destinos mudam com o tempo. Exatamente por isso, consideram-se as mudanças presentes no resultado futuro, salientando, entretanto, maior ênfase em momentos distintos: o presente para o processo de desenvolvimento e o futuro para a sustentabilidade. São noções, em realidade, não contraditórias, mas complementares e fundamentais para posicionar os grupos de discussão. De qualquer maneira, a reflexão sobre a união de discursos ambientalistas e econômicos tornou-se um consenso dialético nos conceitos de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável objetivos distintos com interesses comuns. Por isso, o autor Lima (2003, p. 103-104), destaca que, “O discurso ideológico da sustentabilidade está em meio a uma reflexão dos povos sobre o modelo de acumulação de riqueza que, se fosse adotado pelos países pobres, não se manteria no transcorrer do tempo por uma sobrecarga dos ecossistemas”. Essa tensão ocorreu em meio a um período de forte crescimento econômico dos países em desenvolvimento na década de 1970 e de pressão política dos grupos ambientalistas. Portanto a ênfase política e o discurso ideológico colocaram em questão o modelo de desenvolvimento, sustentado na acumulação contínua de riqueza, ao questionar se essa “continuidade” não estaria ameaçada pela falta de recursos e pela má distribuição dos ganhos oriundos. Nesse sentido, o autor Lima (2003, p. 105) enfatiza que, “seu apelo se apoiava, sobretudo em um estilo conciliador que favorecia a aceitabilidade política internacional e a realização de amplas coalizões de interesses”. No entanto, essa preocupação econômica relativa aos recursos naturais é potencializada quando se observa que há limitação de crescimento e de continuidade do modelo de desenvolvimento vigente até a década de 1980. O uso intensivo dos recursos e a perspectiva de redução dos estoques tornaram-se uma preocupação econômica dos recursos naturais. O tom reconciliador do discurso econômico buscava manter o sistema capitalista de reprodução, pautado na preocupação adicional com mais um dos recursos necessários, utilizando-se do discurso ideológico ambientalista. Tanto o ambientalista como o econômico apresentam bases ideológicas em sua existência e interesses comuns apoiados no conceito de desenvolvimento sustentável. 66 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Como evidencia a autora Chauí (1989, p. 22), “O discurso ideológico é um discurso feito de espaços em branco, como uma frase na qual houve lacunas. [...]. Se o disser se preencher todas as lacunas, ele se autodestrói como ideologia”. Ou seja, os espaços em branco não foram preenchidos com o conteúdo do desenvolvimento sustentável nos discursos econômicos e ambientalistas, mas permitiu criar uma zona de posicionamento comum, que anteriormente era conflitante, como a própria lógica capitalista. Como enfatiza Young (2000), “a lógica capitalista sendo conflitante com a questão ambiental fez emergir uma contradição entre preservar (os recursos naturais) para sobreviver (a humanidade) ou sobreviver (a todo custo) a fim de preservar (o capital)”.19 As partes negociaram este conflito, levando em conta os interesses dos grupos individuais. Os capitalistas precisam de recursos para produzir o capital. Os ambientalistas objetivam proteger e manter o sistema ambiental ainda existente. Indivíduos “carregados” de conceitos ideológicos e posicionamentos favoráveis a cada uma dessas dimensões não iriam negociar, se não houvesse vantagem mútua para unificar o discurso em uma dimensão maior: o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade. A diferença entre o discurso e a prática continua gerando conflito porque, ambas óticas, ao refletir sobre o longo prazo, a zona de negociação é menos árida do que o curto prazo. Por exemplo, negociar que a geração futura tem de preservar para sobreviver é muito mais simples do que acordar que essa geração preservará o meio ambiente e não utilizará formas degradantes para os recursos. Entretanto para os ambientalistas, negociar que os recursos podem ser usados para a reprodução do capital, desde que observadas as questões de reposição ou conciliação com os objetivos ambientais, é mais simples do que aceitar que as empresas precisam tempo para se adaptarem a novas formas de reprodução e que, por isso, ainda não pode extinguir o sistema anterior no curto prazo. Por isso que pensar na geração futura é, teoricamente, mais simples do que pensar na presente, já que está se assinando um contrato para outros cumprirem, sem a necessidade de qualquer restrição ao presente. 19 YOUNG, H., Preservação Ambiental: uma retórica no espaço ideológico da preservação ambiental, Curitiba,Centro Universitário Franciscano do Paraná, Monografia em ciências Econômicas, 2000. 67 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN A partir disso, Hawken (1999) ressalta que, Não é o abastecimento do petróleo ou do cobre que começa a limitar o nosso desenvolvimento, mas a própria vida. [...] A humanidade herdou um acúmulo de 3,8 bilhões de anos de capital natural. Em se mantendo os padrões atuais de uso e degradação, muito pouco há de restar no final do próximo século. Não é apenas questão de estética e moralidade, trata-se do mais elevado interesse prático da sociedade e de todas as pessoas. (Hawken, 1999, p.58) 1.2.1 Definindo Sustentabilidade Atualmente, se discute sobre esta difícil temática de conceitualizar Desenvolvimento Sustentável e/ou Sustentabilidade, o autor Jara (1998) em sua obra a uma década manifestou: Trata-se da emergência de um significado novo, que faz parte de uma mudança fundamental em nossos pensamentos, atitudes e valores. Trata-se de uma reorientação ética, que faz reavaliação dos relacionamentos da sociedade com a natureza e do Estado com a sociedade civil, à luz de postulados interdependentes de equidade social, equilíbrio ambiental, bem-estar e econômico e autodeterminação política (Jara, 1998, p. 51). É muito conhecido o conceito de desenvolvimento sustentável estabelecido em 1987, no Relatório da Comissão Bruntland, que o apresenta como processo que busca sastisfazer as necessidades e aspirações do presente, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras para atender a suas próprias necessidades. (Agenda 21 Global, 1992, p.23) Segundo Jara (1998) afirma que esta implícita, nessa abordagem, a preocupação com as condições sociais das pessoas e das comunidades. O relatório aspira a um mundo mais humano e enfatiza que a redução da pobreza é precondição para um desenvolvimento ambientalmente seguro. No entanto, nesse processo de mudança, orientando a satisfazer necessidades e aspirações, fica também implícita a visão de que todos os seres e os recursos estão à disposição do homem, disponíveis para realizar seus desejos e projetos, “ traduzindo uma ótica antropocêntrica” (op.cit., 1998, p. 72). O conceito da Comissão Bruntland não esclarece como vão ser satisfeitas tais necessidades, nem sequer quais são essas necessidades, ou de que comunidades ou grupos sociais está-se falando. Mas acreditamos que está implícita a idéia de alcançar um desenvolvimento contínuo sem exaurir os recursos naturais, ou seja, o raciocínio sobre o uso racional do capital ecológico, evitando causar prejuízos para a comunidade como um todo. “E 68 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN o princípio da solidariedade, que define uma capacidade básica de sentir e pensar os outros em suas condições concretas, uma vontade de agir de forma coerente à sorte dos outros” (op. cit., 1998, p.52). “O desenvolvimento sustentável refere-se aos processos de mudança sociopolítica, socioeconômica e institucional que visam assegurar a satisfação das necessidades básicas da população e a equidade social, tanto no presente quanto no futuro [...] ” (Buarque, 1994, p. 12). Por conseguinte, numa visão amplida, o desenvolvimento sustentável tem dimensões ambientais, econômicas, sociais, políticas e culturais, o que necessariamente traduz várias preocupações: com o presente e o futuro das pessoas; com a produção e o consumo de bens e serviços; com as necessidades básicas de subsistência; com os recursos naturais e com o equilíbrio ecossistêmico; com as práticas decisórias e com a distribuição do poder; e com os valores pessoais e a cultura. Assim, o desenvolvimento sustentável promove um novo tipo de competitividade econômica, socialmente inclusiva, que faz a sociedade avançar para modos de vida menos destrutivos e alienados. A preocupação está centrada mais na qualidade da vida que na quantidade da produção. A economia sustentável propõe o desenvolvimento sem exaurir ou agredir a natureza – pois ela é a única fonte de todos os recursos para a sobrevivência humana. A humanidade só evitará uma catástrofe se mudar o comportamento atual. O desenvolvimento sustentável pode e deve melhorar a qualidade de vida sem prejudicar as fontes naturais de que o homem necessita para sua sobrevivência. Ele se tornou uma necessidade, em vista da ameaça de extinção ou degradação de recursos naturais imprescindíveis à humanidade, como a água, por exemplo. Portanto, tomando como base a definição do que vem a ser sustentabilidade, consideramos que um local é sustentável quando as famílias, através do acesso a políticas de infra estrutura básica e educacional, conseguem dispor dos meios de produção e de transformação social de maneira a lhes proporcionar a implementação de um sistema produtivo viável e o acesso a benefícios sociais que promovam a justiça social, o respeito ao meio ambiente e a cidadania. Independentemente de quem criou e em que ano se estabeleceu, é fato constatado que o conceito de sustentabilidade e /ou desenvolvimento sustentável, tornou-se o paradigma dos anos 90 e continua ainda nos dias atuais a ganhar um interesse significativo entre cientistas sociais, administradores, economistas, planejadores, políticos movimentos sociais e 69 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ambientais, constituindo-se em um conceito dinâmico, que segundo Sachs , pode adquirir cinco dimensões principais: a) sustentabilidade social, que busca o estabelecimento de um padrão de desenvolvimento que conduza a uma distribuição mais equitativa da renda, assegurando uma melhoria dos direitos das grandes massas da população e uma redução das atuais diferenças entre os níveis de vida daqueles que têm e daqueles que não têm; b) sustentabilidade econômica, possível através de inversoes públicas e privadas a da alocação e do manejo eficiente dos recursos naturais; c) sustentabilidade ecológica, entendida como aumento da capacidade de suporte do planeta, mediante intensificação do uso do potencial de recursos disponíveis compatível com um mínimo de deteriorização deste potencial; d) sustentabilidade geográfica, buscando uma configuração urbano-rural mais equilibrada, evitando-se a concentração da população em áreas metropolitanas, ou assentamento humanos em ecossistemas frágeis; e) sustentabilidade cultural, possivelmente é a dimensão mais difícil de ser concretizada, em função da multiplicidade de vias de acesso à modernidade. (Sachs, 1986, p. 46). Tomando como base a definição do que vem a ser sustentabilidade, consideramos que os munícipes e/ou suas comunidades são sustentáveis quando as famílias, através do acesso à políticas de infra estrutura básica e agrícolas, conseguem dispor dos meios de produção e de transformação social de maneira a lhes proporcionar a implementação de um sistema produtivo viável e o acesso a benefícios sociais que promovam a justiça social, o respeito ao meio ambiente e a cidadania. Neste sentido, o novo modelo que será sendo impulsionado fundamenta-se no desenvolvimento econômico local. Estamos falando de um desenvolvimento aplicado num âmbito espacial delimitado-o território municipal, a micro-região, o assentamento, a comunidade rural e a comunidade urbana. Estamos falando de um desenvolvimento endógeno, ou seja, baseado no aproveitamento dos recursos, das oportunidades e das capacidades locais. O fato de ser um processo de caráter endogéno não significa não precisar de recursos exógenos. Além do mais, o desenvolvimento local apresenta uma abordagem integral e integradora das dimensões econômicas, sociais, políticas, técnicas e ambientais. Fica cada vez 70 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN mais claro que o fato de que o desenvolvimento não é apenas um fenômeno econômico. Trata-se de uma mudança de cultura e de relacionamento sociais e institucionais. Neste caso, como bem afirma Moreira (2007): O desenvolvimento sustentável deve assumir um caráter corretivo e qualitativo, exigindo não apenas eficiência e economia no uso dos recursos naturais, mas, principalmente, equidade social, de modo que todos tenham garantia de suas necessidades básicas como moradia, saúde e educação. Não devendo ser uma feição ambiental imputada às formas e aos procedimentos tradicionais que regem as relações sócio-ambientais, entretanto, deve constituir um conceito promissor que envolve crescimento sustentável, a longo prazo. Crescimento esse, não apenas do ponto de vista econômico, mas, sobretudo em termos sociais e ecológicos, onde só será sustentável aquele desenvolvimento que promova melhoria qualitativa e distribuição equânime do padrão de vida da população. [...] O objetivo é reduzir a pobreza absoluta do mundo pobre através de providências no sentido de promover meios de vida seguros e permanentes que minimizem a exaustão de recursos, a degradação ambiental, a destruição da cultura e a instabilidade social. (Moreira, 2007,p. 59). Quando falamos de desenvolvimento local sustentável, por conseguinte estamos falando de munícipes, agricultores e de comunidades, de uma maneira geral organizados e capacitados, ou seja, como diz Jara (1998, p.73): “dotados de conhecimentos, habilidades e destrezas para que eles mesmos saibam e possam gerenciar e orientar seus assuntos, partindo dos recursos que realmente possuem para atingir uma melhor qualidade de vida”. 2 Turismo responsável e planejado Embora não haja uma definição única do que seja turismo, a Organização Mundial de Turismo (OMT), o define como: As atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência lugares distintos dos que vivem, por um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e outros (OMT, 1999). No Brasil, Beni, conceituou turismo como sendo: [...] um elaborado e complexo processo de decisão sobre o que visitar, onde, como e a que preço. Nesse processo intervêm inúmeros fatores de realização pessoal e social, de natureza motivacional, econômica, cultural, ecológica e científica, que ditam a escolha dos destinos, a permanência, os meios de transporte e o alojamento, bem como o objetivo da viagem em si para fruição tanto material como subjetiva dos conteúdos de sonhos, desejos, de imaginação projetiva, de enriquecimento existencial histórico-humanístico, profissional, e de expansão de negócios. Esse consumo é feito por meio de roteiros interativos espontâneos ou dirigidos, compreendendo a compra de bens e serviços da oferta original e diferencial das atrações e dos equipamentos a ela agregados em mercados globais com produtos de qualidade e competitivos (Beni, 2007, p. 66). 71 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Assim, entendemos que: "o turismo se caracteriza por um dos fenômenos mais significativos da época em que vivemos, atingindo proporções mundiais e influenciando definitivamente os campos político, cultural, econômico e social" (Oliveira, 2002); além do ambiental. Dentro de uma conceituação mais moderna, o turismo é considerado notadamente como propulsor de desenvolvimento sócio-econômico, gerador de empregos, carregador de divisas, além de multiplicador e distribuidor de renda. Paralelamente ao crescimento econômico de sua atividade, o turismo tem procurado desenvolver-se, sobretudo, com consciência ambiental. Mesmo assim, esse tão rápido crescimento vem gerando fortes impactos negativos, principalmente, referentes ao ambiente natural, conforme Dias (2003, p. 28), pela: [...] "utilização intensiva dos recursos naturais sem uma preocupação com a preservação desses atrativos que formavam [e formam] a base de sustentação da atividade". É preciso entender que o turismo pode gerar vantagens do ponto de vista econômico, mas pode implicar em degradação ambiental, perda da identidade local, entre outros possíveis impactos negativos. Neste contexto, surge a expressão "turismo sustentável ou responsável" que passou a ser utilizada com maior frequência a partir da década de 1990, inserida dentro do contexto de desenvolvimento sustentável dos recursos naturais e com o reconhecimento dos impactos negativos causados por sua atividade. Para Silveira (1997, p. 34): “O turismo sustentável é responsável por gerar menor impacto, sendo válida como estratégia para discussão e proposição de formas concretas de promover um turismo viável e justo com base na dinâmica local e no planejamento participativo”. Segundo a OMT (1999), Turismo sustentável é a atividade que satisfaz as necessidades dos turistas e as necessidades sócio-econômicas das regiões receptoras, enquanto a integridade cultural, a integridade dos ambientes naturais e a diversidade biológica são mantidas para os futuros produtos turísticos sustentáveis são desenvolvidos em harmonia com o meio ambiente, com as comunidades e culturas locais, de forma que estas se convertam em permanentes beneficiários e deixem de ser espectadoras de todo o processo de desenvolvimento. Já para Swarbrooke: O turismo sustentável vem satisfazer as necessidades dos turistas, da indústria do turismo e das comunidades locais, sendo uma atividade economicamente viável, preservando recursos dos quais o turismo necessita para as gerações futuras, como o meio ambiente e a comunidade local (Swarbrooke, 2000, p. 89). 72 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN O que podemos perceber nas definições apresentadas é que essa relação entre o meio ambiente, o progresso humano e o turismo deve atender às necessidades da humanidade, não comprometendo o desenvolvimento das gerações futuras. A discussão sobre o desenvolvimento da atividade turística também deve ter um caráter interdisciplinar, incorporando novos elementos, ciências e novas óticas de percepção da atividade. Deste modo, a United Nations Environment Programe/World Tourism Organization (UNEP/WTO, 2005), recomendou para o planejamento em turismo sustentável: a) Otimização do uso dos recursos ambientais, que constituem o elemento-chave para o desenvolvimento turístico, com a manutenção dos processos ecológicos e apoio à conservação dos recursos renováveis e da biodiversidade; b) Respeito à autenticidade sócio-cultural das comunidades dos destinos, com o compromisso de conservação de seu patrimônio construído e seu estilo de vida e valores tradicionais, e fortalecimento da compreensão intercultural e tolerância; c) Garantia de operações econômicas viáveis, de longo prazo, com a geração de benefícios socioeconômicos para todos os atores envolvidos, incluindo emprego estável e oportunidades de ganhos e serviços sociais às comunidades de destino, de maneira a contribuir para alivio à pobreza. Assim, entendemos que o turismo, quando planejado e executado dentro dos princípios conceituais da sustentabilidade, fortalece a cultura local e regional preservando a identidade social, fomentando a diversidade cultural das comunidades, grupos e regiões, com elevação da auto-estima dos indivíduos/cidadãos. As dimensões da sustentabilidade aplicáveis ao desenvolvimento turístico sustentável sugerem os seguintes princípios segundo Zimmerman: − Sustentabilidade ecológica: assegura que o desenvolvimento seja compatível com a manutenção dos processos ecológicos essenciais, diversidade biológica e recursos biológicos. As atividades turísticas devem ser desenvolvidas respeitando os limites dos ambientes envolvidos, com mínimos danos aos ecossistemas; − Sustentabilidade social: as atividades turísticas devem contribuir para distribuição mais igualitária dos benefícios e da renda, reduzindo as desigualdades de padrões de vida e a segregação sócio-espacial, promovendo o exercício de verdadeira cidadania; 73 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN − Sustentabilidade cultural: assegura que o desenvolvimento e o controle das pessoas sobre suas próprias vidas sejam compatíveis com a cultura e com os valores das pessoas atingidas pelo desenvolvimento, aumentando e fortalecendo a identidade cultural da comunidade; − Sustentabilidade econômica: assegura que o desenvolvimento seja economicamente eficiente, incentivando o fluxo continuo de investimentos, e que os recursos sejam geridos de forma que suportem (Zimmerman, 1998, p. 26). A discussão da sustentabilidade se consolida como um tema central da atualidade, nas discussões do fenômeno turístico, passando a incorporar a visão dessas dimensões em seu planejamento como um mecanismo para inclusão e transformação social, implicando-se, segundo Irving (2002) em ampla reflexão ética. O turismo responsável deve ser compreendido com um processo que devemos atingir e não como o próprio fim. Assim, a melhor maneira de iniciá-lo é através de seu planejamento, antevendo os problema e as dificuldades e propondo as soluções. Para Oliveira (2002, p.72), [...] "é a maneira de considerar diversas alternativas e identificar qual a mais adequada a ser implantada em determinada situação". Para materializar o planejamento, é usual a elaboração de projetos, que quando bem elaborados, tornam-se uma importante ferramenta de trabalho, otimizando recursos e minimizando erros, de forma a centralizar diversas informações em um único local. Para este autor: Um projeto de formatação de produto turístico, por exemplo, valorizará mais determinadas informações e deverá ser apresentado de uma maneira, enquanto que um estudo de mercado e análise de viabilidade de outro empreendimento turístico enfocará outras possibilidades, e resultará em material bem diferente do primeiro. No entanto, em nenhum deles o conteúdo deve ser extremamente rígido. Pelo contrário, o projeto deve ser adaptável às condições reais e permitir que alterações sejam feitas, sem o comprometimento do objetivo geral (Oliveira, 2002, p. 95). O autor ainda enfatiza que nos projetos, em determinada situação, sua maior virtude é mostrar a própria inviabilidade, ou seja, através dos estudos realizados para a sua elaboração pode ser diagnosticado que, de alguma forma, a implantação de tal plano seria inviável economicamente, ou causaria algum impacto ambiental, ou outra situação que poderia acarretar grandes problemas no futuro. 74 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Segundo o Ministério do Turismo (através do Programa de Regionalização do Turismo, proposto pelo PNT – Plano Nacional de Turismo) – quando tratamos de planejamento para o desenvolvimento sustentável do turismo, o processo deve envolver as seguintes etapas (BRASIL/MTUR, 2007a): I – Análise situacional da região/município para a atividade do turismo, através da: − Elaboração ou resgate do inventário da oferta turística; − Estudo do mercado turístico: • Dimensionamento da demanda turística atual e futura, • Análise de mercado. II – Diagnóstico situacional da região/município, através do: • Levantamento dos pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças da atividade turística da região/município. III – Elaboração do plano estratégico de desenvolvimento turístico, através da: • Elaboração do prognóstico: • Definir claramente que objetivos se pretende alcançar no futuro; • Estabelecer as metas que se pretende atingir; • Estabelecer estratégias distintas para atingir esses objetivos; • Definir para cada objetivo uma estratégia, entre as escolhidas, para uma análise mais detalhada de viabilidade; • Avaliar e escolher a melhor maneira de realizar a estratégia proposta, na forma de uma tarefa a ser realizada. Ainda que apresentadas de forma didática, as fases na prática do processo não são tão esquemáticas. As etapas são consecutivas, mas também existe sobreposição em alguns momentos, principalmente quando o planejador já possui experiência e consegue prever alguns resultados. Vejamos detalhadamente a análise das etapas do Planejamento para a atividade do turismo: I – Análise situacional da região/município turístico: • Elaboração ou resgate do inventário da oferta turística 75 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Para Oliveira: O inventário é uma das tarefas mais trabalhosas e demoradas do projeto, mas é também muito importante por ser a base de todas as etapas posteriores. É no inventário que as informações sobre a propriedade e região de entorno deverão ser levantadas para serem trabalhadas. Por ser um processo muito meticuloso, deve ser estruturado de forma a evitar o trabalho de busca por informações supérfluas e, ao mesmo tempo, evitar que informações importantes sejam esquecidas ou abandonadas. (Oliveira, 2002, p. 49). Segundo o BRASIL/MTUR (2007c), o inventário como processo de levantamento, identificação e registro dos atrativos turísticos, dos serviços e equipamentos turísticos e da infra-estrutura de apoio ao turismo divide-se no levantamento ou resgate das informações referentes aos: − Atrativos turísticos são elementos naturais e culturais com força potencial de atração de turistas, cujo valor reside em características objetivas e subjetivas que lhes conferem autenticidade, genuinidade, diferenciação e sustentabilidade; − Serviços e equipamentos turísticos são aqueles relacionados aos serviços de operação e agenciamento; transporte; hospedagem; alimentação; recepção; recreação e entretenimento; eventos e outras atividades complementares relacionadas ao turismo; − Serviços de infra-estrutura são serviços básicos de uma cidade ou de uma localidade, ou seja, são aqueles relacionados a transportes, segurança, limpeza, além, é claro, daqueles que dependem da existência de redes de esgoto, energia elétrica, abastecimento de água, rede telefônica, etc. • Estudo de Mercado O estudo de mercado é a base de qualquer planejamento turístico, tomando-se indispensável conhecer a imagem do produto perante o consumidor e as tendências de demanda, tanto real ou atual, como potencial ou futura. Também, são fundamentais para se verificar se as idéias manifestadas no Prognóstico condizem com alguma possibilidade de interesse do consumidor, ou, por outro lado, se já existem empreendimentos similares no mercado, com sucesso ou fracasso. Segundo Oliveira (2002, p. 53), o estudo basicamente ampara-se: "na análise da demanda, feita por meio de pesquisas em dados estatísticos, projeções e outras fontes 76 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN bibliográficas, como também por intermédio de questionários e entrevistas com o público alvo”. Este pode ser denominado real se já frequenta a região, ou potencial, se, embora tenha condições, não vai até o local/região em questão. Por demanda turística o Ministério do Turismo entende que: "é o interesse que os turistas demonstram pelos atrativos e pelos locais de uma determinada região (BRASIL/MTUR, 2007c)". Portanto, saber se há muita ou pouca procura pelos atrativos e pelos locais interessantes de uma região, ou seja, conhecer o perfil da demanda turística é essencial para se traçar, no futuro, o prognóstico para a região turística. A demanda turística pode ser influenciada por inúmeros fatores, aumentando ou reduzindo o número de turistas no local. Entre esses fatores, podem ser citados. − Efetividade da propaganda e do marketing; − Distância dos grandes centros; − Qualidade dos serviços; − Interesse despertado pela oferta turística (singularidade e/ou representatividade); − Custos; − Condições de estabilidade política; − Nível de segurança; − Sazonalidade. O estudo da demanda turística é imprescindível antes que qualquer investimento seja feito. Para tanto, devem ser estudados, entre outros, o: − Fluxo de turistas; − Áreas de procedência dos turistas; − Meios de transporte utilizados e a frequência de cada um; − Tipo de alojamento mais procurado; − Perfil do turista: tempo médio de permanência no local; características socioeconômicas, gasto médio, nível de satisfação do turista e suas preferências, etc.; − Observação da concorrência, diagnosticando o que já é feito, de que forma e para quem. Esta é uma análise interessante por ter custo inferior ao primeiro caso e, desde que bem desenvolvida, a informação fornecer dados atuais e extremamente relacionados com o mercado. 77 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN A análise da concorrência consiste em reunir e analisar o máximo de informações possível sobre os territórios concorrentes existentes e potenciais. Esta iniciativa supõe, naturalmente, um conhecimento preciso dos seus próprios produtos turísticos. A análise da concorrência não deve conduzir à criação de rivalidades, mas permitir, ao contrário, perceber melhor sua posição no mercado. II – Diagnóstico situacional da região/município − Levantamento dos pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças da atividade turística da região/município. Segundo o II Programa Nacional Integral Portuguesa (2002): o diagnóstico consiste antes de mais nada em confrontar as análises da oferta, da procura, da concorrência e das tendências. Para Oliveira (2002, p. 63): [...] "muitas metodologias são adotadas para sua elaboração, mas sugere-se a utilização da análise FOFA, ou seja, Pontos Fortes, Pontos Fracos, Oportunidades e Ameaças". A metodologia é uma ferramenta para estabelecer o nível do desenvolvimento turístico em que se encontram as localidades, analisando os pontos fracos e fortes, as fraquezas e oportunidades destes locais. Assim temos que: − A força está relacionada com as características do presente, e normalmente encontram-se na própria área estudada; − A fragilidade também está relacionada com as características do presente, e normalmente encontram-se na própria área estudada; − As oportunidades estão relacionadas com possibilidades positivas futuras, ou identificadas externamente à área estudada; − As ameaças estão relacionadas com possibilidades negativas futuras, ou identificadas externamente à área estudada. Posteriormente, deve-se fazer uma análise cruzada entre Forças versus Oportunidades, na busca da capitalização para promover o desenvolvimento mais rápido e consolidação do turismo. Os campos mais acessíveis e ambientes mais preparados para receber a atividade e adquirir prioridade um; e, Fraquezas versus Ameaças, na busca da sobrevivência do destino no cenário turístico, procurando eliminar ou minimizar ao máximo as fragilidades e monitorar as ameaças. Precisando de interferência com urgência, tem prioridade zero. 78 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN III – Elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento Turístico − Elaboração do Prognóstico Nesta fase serão traçados aquilo que será idealizado e os objetivos de desenvolvimento regional manifestados pelos atores locais envolvidos, assim como as metas, estratégias e projetos específicos necessários para o desenvolvimento da atividade turística na região. Assim, é importante o estabelecimento de uma visão de futuro, na qual o conjunto de dados e informações obtidos a partir da análise situacional representa os diferentes cenários criados nessa projeção de futuro. Em outras palavras, podemos “dizer que o prognóstico é a etapa que permite antever como um problema atual será solucionado ou como se fará o encaminhamento de uma questão para chegar a um resultado esperado, no futuro" (BRASIL/MTUR, 2007c). Deste modo, segundo o BRASIL/MTUR, temos que: O prognóstico traçado nessa etapa, com base em tudo aquilo que é conhecido no presente, somado às expectativas dos envolvidos, às oportunidades e potencialidades levantadas, e às restrições e riscos que poderão influenciar o Plano ou o projeto, indica aquilo que pode ser esperado no futuro, a médio e longo prazo. A formulação do prognóstico representa o momento de tomada de decisão tanto sobre "o que fazer", como sobre "o como fazer" (BRASIL/MTUR, 2007). 2.1 Conservação ambiental e turismo Segundo Beni (2007, p. 14): “[...] a ação do homem sobre o meio ambiente tem provocado a perda da qualidade dos recursos naturais em muitos ecossistemas, [...] por vezes, irreversíveis”. Podemos citar, dentre essas ações, a contaminação das águas, por despejos domésticos; atmosféricos, por gases da combustão dos automóveis e queima de lixo; e do solo por pesticidas e águas de irrigações contaminadas. A conservação desses recursos é fundamental, pois têm seu valor, na medida em que são úteis para a satisfação das necessidades e que segundo Beni (2007, p. 25): “[...] não usá-los faz que percam sua qualidade de recursos. Elas os situam como elementos naturais, estáticos e não-participantes na dinâmica de desenvolvimento e satisfação de necessidades”. 79 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Assim, para que sejam conservados, protegidos e/ou utilizados, a Comissão Internacional de Parques Nacionais e Áreas Protegidas da União Internacional de Conservação da Natureza e seus Recursos Naturais apresenta a tipología às reservas especiais ou unidades de conservação ambiental e áreas correlatas. São elas: área especial de interesse turístico; área de interesse especial; área natural tombada; área de proteção ambiental; área de relevante interesse ecológico; área de proteção especial; estação ecológica; estação experimental; estância; estrada-parque; floresta estadual; floresta nacional; floresta protetora; local de interesse turístico; monumento cultural; monumento natural; parque de caça; parque estadual; parque nacional; parque natural; refugio da vida silvestre; reserva biológica; reserva da biosfera; reserva ecológica; reserva estadual; reserva de fauna; reserva florestal; reserva indígena; reserva federal; reserva do patrimônio mundial; rio cênico e viveiro florestal. No Brasil o órgão oficial para assuntos ecológicos é o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Apesar da preocupação da Comissão e do IBAMA, acreditamos que para afluência turística em unidades de conservado, necessita-se de: − Acordos e parcerias com outros órgãos que atuam direta ou indiretamente na conservação dos recursos turísticos naturais, tais como: Ministério do Turismo e Ministério do Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Amazônia Legal; − Uma maior atenção, principalmente, em relação à melhor infra-estrutura para se tornarem pólos de atração turística, conhecidos pela população, e destes, os que os usufruem para o turismo tenham suas atividades baseadas na educação ambiental, cultura, hábitos e costumes locais, minimizando os impactos provocados em suas visitas; − Preocupação com um sistema de turismo sustentável através da Educação Ambiental, capacidade profissional, estudo de impacto ambiental, capacidade de carga, plano de manejo e controle ambiental. Assim, para a conservação dos recursos naturais, que também são turísticos, exige-se a aplicação destes, mediante uma estratégia de planejamento com base em planos, projetos, programas e atividades harmônicas com sua quantidade e qualidade; preservado, salvo, aqueles recursos que estão em risco de extinção; restauração, corrigindo os erros em ecossistemas alterados; maximização, com o aproveitamento total de um recurso, evitando o desperdício; reutilização, utilizando os recursos tantas vezes quanto possível; substituição, 80 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN utilizando outros recursos ao invés daqueles em via de extinção; e, uso integral, através da satisfação de diferentes necessidades mediante um só recurso, isto é, o uso múltiplo. Todas essas preocupações evitam que os turistas, empresários, prestadores de serviço, atividades primárias e industriais ao setor público, que por não aplicar sanções e/ou não elaborar uma legislação ideal para o controle ambiental, aprofunda a degradação de ecossistemas com atrativos naturais (Beni, 2007). 2.2 Impactos e turismo Outro ponto bastante importante quando tratamos de turismo sustentável/responsável é a avaliação dos impactos positivos e negativos que a atividade promove com seu desenvolvimento. Segundo Lage e Milone (1999): [...] todo processo de produção gera impactos no meio e apesar de toda a grandiosidade que a atividade turística propicia, ela apresenta efeitos econômicos, sociais, culturais e ambientais múltiplos. Portanto, seus resultados não serão equivalentes em todas as partes e para todas as pessoas envolvidas. (Lage e Milone, 1999, p.102) Embora existam vários conceitos de impacto ambiental e que eles são referenciais para melhor compreensão do assunto, trazemos aqui aquele referendado pela Resolução n. 001 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), de 21 de Janeiro de 1986: [...] é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, que direta ou indiretamente, afetam: a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais. Os impactos podem não ser relevantes em alguns casos, mas em outros afirma Ruschmann (1999, p. 70), "comprometem as condições de vida ou a atratividade das localidades turísticas". Assim, apresentaremos nos seguintes tópicos os impactos positivos e negativos causados pelo desenvolvimento do turismo. 81 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 2.2.1 Impactos ambientais positivos Para que tenhamos a compreensão da relação entre meio ambiente e turismo, é necessário que se estimule nos indivíduos (tanto os turistas quanto os membros da comunidade receptora) a capacidade de perceber o ambiente que os cerca. A compreensão do meio ambiente pode levar a ações transformadoras, mas para que isso ocorra é necessária a participação ativa de todos, e não só a observação passiva do que está acontecendo (Fonteles, 2004). Há diversas maneiras de o turismo contribuir para a conservação e a proteção do meio ambiente e gerar impactos positivos, tais como (BRASIL/MTUR, 2007b): − Aumento no investimento para conservação e manutenção do ambiente visitado por meio de contribuições financeiras diretas, resultantes da venda de serviços na compra de ingressos em parques ou do pagamento de taxas ambientais em determinados destinos, com uma parte dos recursos arrecadados investidos na conservação do ambiente visitado; − Melhoria das condições ambientais do destino, aliada à melhoria da infraestrutura básica da localidade, como os sistemas de saneamento, de transporte (estradas de acesso etc.), de comunicações, de saúde, paisagismo da área urbana (praças, calçadões etc.), trazendo benefícios para a população local, através dos recursos para efetivar essas melhorias podendo vir por meio de contribuições financeiras indiretas, como o pagamento de impostos, por meio do recebimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) e Prestação de Serviços Ecológico, por meio de empréstimos diretamente vinculados à vocação turística da localidade, como por exemplo, por meio de programas do Governo Federal como o Programa de Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR) e o Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal (PROECOTUR); − Geração de emprego e renda. Em áreas naturais, as oportunidades que o turismo oferece podem ajudar a diminuir a pressão sobre o uso não sustentável e às vezes, ilícito dos recursos naturais, o que ameaça a integridade das Unidades de Conservação (UC) do país. O turismo produz impactos em diversos segmentos da economia, empregando em sua cadeia desde mão-de-obra mais qualificada, em áreas que se utilizam de alta tecnologia (como transportes e comunicação), até a de menor qualificação, tanto no mercado formal quanto no informal. São várias as 82 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN oportunidades de ganho para as comunidades que vivem no entorno das UCs. Como exemplo, pode-se citar a confecção e a venda de artesanato, o fornecimento de alimentos para hotéis e restaurantes por meio da agricultura familiar, a venda direta de produtos da terra ou doces feitos de forma artesanal, a disponibilização do turismo de passeios de barcos a remo, caminhada ecológicas com guias, museus com os animais existentes na região entre outros; − Escolha e uso eficiente de tecnologias ambientalmente saudáveis, que não degradem o ambiente, e de fontes limpas de energia que poderão ser adotadas, a partir da conscientização do poder público, iniciativa privada, sociedade civil e terceiro setor, sobre os benefícios; − Conservação, preservação, proteção e recuperação dos ambientes naturais. O turismo pode agregar valor às áreas naturais, principalmente às Unidades de Conservação, como parques e reservas particulares, reservas estaduais, na medida em que esses ambientes são cada vez mais procurados pelos turistas. O poder público local e os empresários do setor tendem a investir em medidas de conservação, a fim de manter a qualidade e consequente atratividade dos destinos. Com uma visitação organizada e controlada, é possível utilizar de maneira sustentável as áreas naturais mais preservadas. Além disso, o turismo pode induzir ou estimular a recuperação de áreas degradadas, uma vez que a qualidade ambiental da área está se tornando pré-requisito para a escolha do local pelo turista; − Sensibilização dos turistas para as questões ambientais, ampliando sua percepção da realidade e contribuindo para conservação e proteção do ambiente visitado (responsabilidade compartilhada). Quanto ao poder público local, a iniciativa privada, a sociedade civil e o terceiro setor, a percepção de que a competitividade do destino está diretamente ligada a sua qualidade ambiental pode também operar mudanças de postura em relação aos cuidados com o meio ambiente. Para Netto e Trigo (2003): O rápido crescimento do turismo nas últimas décadas continuará em altas taxas e provocará uma crescente, intensa e constante pressão nos espaços naturais e rurais de uso turístico e sobre os atrativos históricos e culturais, pois estes são motivos de forte demanda e a base das políticas nacionais de desenvolvimento turístico. (Netto e Trigo, 2003, p. 67). 83 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Quanto aos fatores econômicos, o turismo é capaz de gerar um número expressivo de repercussões nas localidades onde a atividade é introduzida ou ampliada. Um grande número de impactos econômicos positivos pode ser gerado com o desenvolvimento da atividade turística. Os principais impactos positivos do turismo na economia são: − A contribuição para o equilíbrio da balança de pagamentos; − A contribuição ao PIB – Produto Interno Bruto; − A contribuição do turismo para a criação de empregos; − O turismo como motor da atividade empresarial; − A contribuição da atividade turística para o aumento e a distribuição da renda (OMT, 2003). O turismo repercute tremendamente na economia dos países e das regiões nas quais se desenvolve, ainda que sua importância tenha intensidades diferentes conforme o dinamismo e a diversificação da economia, melhor dizendo, seja a economia local, regional ou nacional. Os defensores do desenvolvimento da atividade turística argumentam que o turismo não só contribui com divisas, como também suaviza o problema do desemprego e em longo prazo, pode fornecer um substituto das exportações tradicionais. Quando desenvolvida com planejamento e seguindo os princípios da sustentabilidade político-institucional, a atividade turística pode contribuir, segundo o Brasil/MTUR (2007b), com os seguintes impactos positivos: − Novo relacionamento entre setor público e privado; − Fomento a participação social; − Transparência na gestão pública e privada; − Continuidade das políticas públicas. 2.2.2 Impactos ambientais negativos O contato com a natureza é uma das maiores motivações das viagens de lazer, mas o turismo e o meio ambiente não têm se caracterizado por um relacionamento harmonioso, na medida em que reproduzem a lógica capitalista nas relações de produção e consumo, ou seja, prevalece o princípio da externalidade, principalmente, por parte do produtor ou do 84 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN consumidor, os quais buscam respectivamente, economia de escala ou acumulação de vantagens. Contudo como consumidor final o turista, também tem seu papel, não menos importante nessa relação não-harmoniosa, como afirma Ruschmann (1999) dizendo que: [...] em quase todas as destinações turísticas tem-se constatado a falta de cultura turística das pessoas que viajam, o que faz que se comportem de forma alienada em relação ao meio em que visitam, acreditando não terem nenhuma responsabilidade na preservação da natureza e na originalidade das destinações. Entendem que seu tempo livre é 'sagrado', que tem direito ao uso daquilo pelo que pagaram e permanecendo pouco tempo (individualmente), julgam-no insuficiente para serem responsabilizados pelas agressões ao meio ambiente. (Rushmann,1999, p. 87) Segundo Lemos (2005), entre os impactos ambientais negativos do turismo, podemos citar: − Ampliação da demanda pelos recursos naturais disponíveis, que pode gerar competição com a população local pelo uso dos recursos e a consequente degradação destes, devido ao uso excessivo ou inadequado. Como exemplo, podese citar o caso da falta de água em determinadas localidades nas épocas de alta temporada, ou o caso do turismo de pesca em alguns destinos, quando os barcos dos turistas competem com as canoas dos pescadores artesanais locais. Nesse último caso, podem ser muitas as consequências: • Diminuição dos estoques de pescados disponíveis, com alteração no equilíbrio do ambiente natural, indução da comunidade local a procurar outro tipo de recurso natural para a sua sobrevivência, etc. É válido destacar que a ampliação da demanda pelos recursos naturais disponíveis pode se caracterizar como um impacto positivo ou negativo, dependendo da forma como a atividade turística for conduzida; − O turismo pode causar poluição de diversas maneiras, vejamos alguns exemplos: • Emissão de gases nocivos à camada de ozônio, contribuindo para o aquecimento global, causados pelos meios de transporte; • Lançamento de óleo na água, por lanchas, iates, barcos e navios; • Poluição sonora, pela utilização de aparelhos de som, excesso de pessoas visitando uma área natural sem se preocuparem com o barulho que emitem; • Excesso de produção e destinação inadequada do lixo, que muitas vezes é encaminhado para lixões a céu aberto, além do lixo jogado pelos turistas, que degrada a paisagem e a qualidade de vida da comunidade local. 85 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN − Inexistência de saneamento básico, que tem como consequência a descarga de esgoto diretamente na água. Além do impacto na biodiversidade (peixes, corais, plantas aquáticas, etc.), que é mais difícil de ser notado, há o impacto na paisagem, com mudanças na coloração da água e odores desagradáveis, descarga de substâncias tóxicas e não degradáveis, etc; − Uso excessivo dos recursos: acontece quando o nível de uso dos recursos pelo turista ultrapassa a capacidade do ambiente de se recompor. Nesse caso, a capacidade de suporte do atrativo foi ignorada, preferindo-se dar prioridade aos apelos da demanda. Como exemplo, pode-se citar o número elevado de turistas que visitam ao mesmo tempo um atrativo natural frágil (como uma lagoa dentro de uma caverna), degradando o atrativo até a sua descaracterização. Isso pode acontecer também com atrativos culturais; − Uso inadequado de paisagens naturais, como dunas, utilizando meios de transportes, causando um forte impacto, fato que desrespeita a lei, e causa erosão e consequentemente afeta a paisagem natural. − Ancoragem e posterior pisoteamento e quebra de corais, resultado de atividades aquáticas (como mergulho, caça submarina, etc.) em ambientes marinhos e lacustres frágeis; − Mudança de comportamento da fauna silvestre, como resultado da aproximação dos turistas, trazendo como consequência mudanças no equilíbrio do ecossistema. Como exemplo, pode-se citar a alimentação inadequada dos animais silvestres fornecida pelos turistas ou mesmo pelos empreendedores do turismo, como forma de atrair a fauna local para perto das máquinas fotográficas dos seus clientes, gerando mudanças de comportamento dos animais que podem, inclusive, tornarem-se agressivos na busca pelo alimento fácil; − Degradação e ocultação da paisagem, como resultado da inadequação da infraestrutura turística (por exemplo, gigantescos empreendimentos hoteleiros, que frequentemente contrastam com a arquitetura local, e a mistura de estilos de construção, que descaracterizam a paisagem); − Desenvolvimento além do esperado, aglomeração e congestionamento; − Falta de estudos, fiscalização e monitoramento da capacidade de suporte: • O desrespeito à capacidade de suporte em áreas naturais, de equipamentos e atrativos, que pode gerar desconforto para a comunidade receptora e para o 86 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN turista, com redução da qualidade da experiência, destruição da vegetação, erosão em trilhas, comprometimento das fontes de água potável e das fontes de água para recreação, entre outros problemas; − Vandalismo, que pode causar a degradação das estruturas e dos equipamentos turísticos. Além disso, pode causar a perda irreparável de recursos naturais, históricos e culturais. Um exemplo clássico é a coleta, pelos turistas, de lembranças do ambiente visitado, como pedaços de rochas com inscrições rupestres, plantas, flores, etc. Podemos citar alguns impactos desfavoráveis ao turismo em suas relações sócioculturais (Ruchmann, 1999), tais como: − Descaracterização do artesanato – produção voltada para o turista, descaracterizando a função utilitária dos objetos para transformá-los em itens de decoração; − Limitação de atividades tradicionais que utilizam recursos naturais de maneira artesanal, como a pesca; − Comercialização das manifestações tradicionais – as cerimônias tradicionais, os festivais e os costumes são apresentados como shows, com a possibilidade da perda da identidade do sentido real das festividades pela população nativa; − Destruição do patrimônio histórico – o acesso de turistas em massa pode comprometer as estruturas de bens históricos, tanto pela circulação excessiva de pessoas como também pelas ações de vandalismo; − Ocorrência do uso indiscriminado do álcool e de drogas e o favorecimento da prostituição; − Êxodo Rural. Na atuação do turismo em áreas rurais, Bricalli (2003), constatou ainda que: [...] os agricultores familiares que passam a receber turistas não têm mais tempo livre para seu próprio lazer e de sua família, haja vista que a visitação ocorre majoritariamente, nos fins de semana e feriados, enquanto os dias da semana são ocupados com as atividades agrícolas e com a preparação da propriedade para a recepção dos turistas. (Bricalli, 2003, p. 38) 87 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Da mesma forma que possui um elevado número de benefícios econômicos, a atividade turística também traz consigo problemas que podem ser graves, em consequência da ineficiência do planejamento turístico e da gestão pública inadequada. O desenvolvimento da atividade turística leva atrelado, como qualquer outra via de desenvolvimento, alguns custos que devem ser considerados ao mesmo tempo em que os benefícios para poder avaliar corretamente os impactos econômicos do turismo sobre um destino. Assim pontuamos os seguintes impactos negativos na economia do turismo: − Custos de oportunidade; − Custos derivados das flutuações da demanda turística; − Possível inflação derivada da atividade turística; − Perda de benefícios econômicos potenciais; − Distorções na economia local (OMT, 2003). Quando o turismo se desenvolve de forma desordenada e sem planejamento, não levando em consideração os princípios da sustentabilidade político-institucional, contribui para que alguns impactos negativos sejam criados ou agravados numa localidade. Podemos citar alguns desses impactos como: − Insegurança institucional; − Cultura de desagregação; − Falta de participação do setor privado; − Falta de participação da sociedade civil (BRASIL/MTUR, 2007b). Na escolha de uma viagem o turista leva em consideração vários pontos, mas a paisagem é um item de influência na escolha de seu destino, pois ao viajar, ele busca lugares que revelem belas paisagens, o que constitui importante atrativo. Cruz (2002, p. 35) descreve o turismo como: “Uma atividade que consome espaço, onde dentro de um contexto de uso de recursos naturais, o espaço e a paisagem representam a base para que o mesmo se desenvolva”. A paisagem contendo vegetação natural associada à topografia ondulada e a superfícies líquidas são em geral as preferidas pelo público (Seger, 2006). São as que anualmente, pessoas de todos os lugares do planeta viajam grandes distâncias em busca de áreas florestadas, orlas marítimas, quedas de água e outros ambientes naturais que apresentem uma beleza cênica apreciável. 88 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN De acordo com Boullóm (2002, p. 19): “[...] na atividade turística, o impacto visual que o ambiente natural produz numa pessoa pode variar de acordo com o tipo de atividade realizada e, também, do grau de percepção que as pessoas têm em relação às paisagens”. Com relação à maneira como os turistas interagem com as paisagens, o autor citado (2002, p. 28) classifica-os em: a) Espectador – é aquele que se mantém fora da paisagem, ou seja, limita-se a observála de diferentes pontos oferecidos por onde transita sem se preocupar em acurar seus sentidos para urna percepção mais detalhada. Geralmente, sua atenção é direcionada a outros estímulos, como a conversa com outra pessoa, ouvir música, ou mesmo ater-se simplesmente às mensagens do guia quando viaja em grupo; Quando a atividade que realiza se prolonga, geralmente fica entediado, não prestando atenção e nem recordando posteriormente as paisagens que lhe passaram a frente, porque só as viu esporadicamente. Muitas vezes, apenas capta de relance algo que lhe chama a atenção, logo em seguida já nem lembra mais o que era. Para esse tipo de turista, a relação com a paisagem é sempre distante, estando ele como observador em um lugar, e a paisagem em outro. b) Agente – o turista agente é descrito como aquele que se incorpora à paisagem, mas com a intuição de praticar alguma atividade desportiva, apresentando muitas vezes um grau de percepção menor do que o próprio turista-espectador. O fato de muitas vezes estar realizando uma atividade que exige concentração e habilidade física faz com que centre sua atenção na atividade, não dando importância à paisagem que apenas lhe serve de pano de fundo. Na maioria dos casos, a imagem lembrança será apagada de sua memória pelo fato de estar dominado pela sequência da atividade que pratica; c) Agente-observador – envolve o sujeito que desenvolve determinada atividade e se sente parte integrante da paisagem. Geralmente permanece mais tempo num determinado lugar, o que pode representar horas ou dias, familiarizando-se assim com o meio. Além de participar das atividades de entretenimento que o lugar lhe oferece, procura ficar atento às características das paisagens. 89 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 2.3 Marcos legais referentes ao Turismo A Constituição Federal, promulgada em 1988, fez menção, pela primeira vez ao setor turístico, quando se determina que “a União, os Estados e Distrito Federal e os Municípios devem promover o turismo como fator de desenvolvimento social e econômico”. Dependendo do tipo de empreendimento turístico, existe um conjunto variado de normas legais que devem ser atendidas e respeitadas. Citaremos a seguir, algumas dessas normas apresentadas pelo Ministério do Turismo (2007 a): a) Prestação de serviços turísticos • Lei n.° 6.505/77: dispõe sobre as atividades e serviços turísticos e estabelece condições para o seu funcionamento; • Lei n.° 8.181/91: dá nova denominação a EMBRATUR e dá outras providências e sua regulamentação; • Lei n.° 8.078/1990: o Código de Defesa do Consumidor (CDC) que destaca que as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) como parâmetros para questões de comercialização e consumo de produtos e serviços. Ao ter valor em decisões judiciais, as normas da ABNT para o Turismo de Aventura passam a ser observadas também no Ecoturismo, principalmente quando envolver riscos controlados. b) Legislação ambiental • Lei n.° 6.938/81 - instituí o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), que integra os sistemas ambientais municipal, estadual e federal; • Lei n.° 9.605/98 - "Lei dos Crimes Ambientais", que regulamenta crimes e infrações administrativas contra o meio ambiente; • Lei n.° 9.985/00 - que aprovou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNTJC), estabelecendo critérios e normas para a criação, implantação e gestão das UCs. É válido destacar que o SNUC garante direitos às populações locais que habitem as UCs de proteção integral (onde não é permitida a exploração direta dos recursos naturais), principalmente para as tradicionais e as indígenas; • Lei n.° 6.902, de 27 de abril de 1981 - Área de Proteção Ambiental (APA) são áreas submetidas ao planejamento e à gestão ambiental e destinam-se à 90 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN compatibilização de atividades humanas com a preservação da vida silvestre, a proteção dos recursos naturais e a melhoria da qualidade de vida da população local; • Decreto n°. 98.897 de 30 de Janeiro de 1990 - Reservas Extrativistas (RESEX) são áreas destinadas à exploração auto-sustentável e conservação dos recursos naturais renováveis, por população extrativista; • Resolução n.° 303, de 20 de março de 2002 - CONAMA: dispõe sobre os parâmetros e limites das APP - Áreas de Preservação Permanente; • Código Florestal (Lei n.° 4.771/65): • Reserva Legal: • Art. 16 - dispõe sobre a porcentagem de área para reserva legal de acordo com a região do País; • Art. 44 - dispõe sobre as medidas a serem adotadas pelo proprietário ou possuidor de imóvel rural com área de floresta nativa natural, primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetação nativa em extensão inferior ao estabelecido, para recompor a reserva legal; • Art. 99 das Disposições finais da Lei n° 8.171/91 - obriga o proprietário rural, quando for o caso, a recompor em sua propriedade a Reserva Florestal Legal, mediante o plantío, em cada ano, de pelo menos um 1/30 da área total para complementar a referida Reserva Florestal (RFL). A localização da Reserva Legal deve ser aprovada pelo órgão ambiental competente ou, mediante convênio, pelo órgão ambiental competente municipal ou outra instituição devidamente habilitada. c) Legislação sobre a Proteção do Patrimônio Histórico-Cultural • Lei n.° 6.513 de 20/12/77 - dispõe sobre a criação de áreas especiais e de locais de interesse turístico; sobre o inventário com finalidades turísticas dos bens de valor cultural e natural; acrescenta inciso ao art. 2º da Lei n.° 4.132, de 10 de setembro de 1962; altera a redação e acrescenta dispositivo a Lei n.° 4.717, de 29 de junho de 1965; e dá outras providências; • O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, desde o ano de sua criação, baseia-se em legislação específica para a gestão dos bens culturais nacionais tombados, representativos de diversos segmentos da cultura brasileira. No caso do meio rural, destaca-se o seguinte decreto. Decreto-lei n.° 25 de 30 de 91 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN novembro de 1937: conceitua e organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional e dispõe sobre o tombamento. d) Legislação Fiscal • Para estar em situação legal, é preciso constituir empresa para o desenvolvimento de qualquer atividade de turismo. O empreendedor pode escolher entre as seguintes modalidades: sociedade limitada, firma individual, associação e cooperativa. e) Legislação Previdenciária • O empreendedor contribui como pessoa jurídica - regime dos arts. 22 e 23 da Lei n.° 8.212/91 - se não for enquadrado no Sistema Nacional (SIMPLES), ou pessoa física - arts. 12 e 21 da referida lei. f) Legislação Tributária • Tributos federais: Imposto de Renda (IR), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Programa de Integração Social (PIS/PASEP), Contribuição para o financiamento da Seguridade Social (COMFINS) e Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI); • Os empresários de Turismo Rural podem optar pela adesão ao Sistema Nacional (SIMPLES). Todavia deve ficar atento para as vedações constantes do art. 9º da Lei n.º 9.317/96; • Tributos estaduais e municipais: Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) e Imposto sobre Serviço (ISS); • Pagamento de ICMS pelo fornecimento de mercadorias de qualquer natureza, exceto a alimentação inclusa na diária de um hotel-fazenda, por exemplo. Já o ISS tributa os serviços turísticos propriamente ditos - agenciamento, organização, promoção e execução de programas de turismo, passeios, excursões, guias de turismo e congêneres e administração de meios de hospedagem. g) Legislação Trabalhista • O empreendedor rural pode valer-se dos arts. 2º e 17 da Lei n.° 5.889/7318, que resolvem o problema dos empregados que exercem atividades tipicamente urbanas no meio rural, permitindo sua classificação como rurais. Além disso, o 92 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN empreendedor pode reivindicar a seu favor um regime simplificado das obrigações trabalhistas com base nos arts. 10, 11, 12 e 13 da Lei n.° 8.941 de 5 de outubro de 1999. h) Legislação Sanitária • Serviços de alimentação: • Resolução RDC n° 216 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) - dispõe sobre as boas práticas para serviços de alimentação; • Resolução RDC n° 218 - dispõe sobre regulamento técnico de procedimentos higiênico-sanitários para manipulação de alimentos e bebidas preparados com vegetais; • Registro dos produtos; • Verificar decreto 5.741 de 30 de março de 2006 - regulamenta a Lei Agrícola (n.° 9.712/98) e cria o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA). Com esse sistema, a inspeção se torna integrada, ou seja, em vez de cada serviço municipal, estadual e federal atuarem isoladamente, passam agora a fazer parte de um único sistema. Como na reserva existe uma parte em que os moradores exercem atividades rurais para a agricultura de subsistência, buscamos alguns marcos legais para fundamentar esta pequena parte de turismo rural. Podemos perceber que na realidade, a legislação vigente ao invés de concorrer em benefício dos pequenos agricultores, dificulta-lhes sobremaneira. Isto significa dizer que o agricultor familiar empreendedor de Turismo Rural não possui condições de arcar com todas as exigências de uma legislação inadequada. Ao tentar conciliar a agricultura familiar com o turismo, esse produtor rural perde a condição de segurado especial junto à Previdência Social. Isso contraria as novas tendências de multifuncionalidade e pluriatividade que vem ocorrendo na área rural, ou seja, o meio rural não é mais somente um local de produção de alimentos, mas também de outros serviços, como o Turismo Rural. 3 Educação ambiental Trabalhar uma conceituação de meio ambiente que interrelacione ambiente-social e ambiente-natural, mediada pelo direito a uma qualidade de vida digna, é um aspecto relevante 93 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN para uma referência de ações em educação, com questões ambientais, que considere os elementos fundamentais da relação sociedade-natureza. Haveremos de considerar que, embora o homem seja quase sempre quem desencadeie ações de interferência na natureza, em muitos casos, as mudanças catastróficas ou os processos evolutivos no meio físico, determinam mudanças na sociedade por vezes de forma traumática para muitas pessoas. As relações de mútua dependência, características das interações homem/meio, surgem assim como elemento de fundamental importância para o estabelecimento de uma lógica referencial que permita abordagens consequentes das questões ambientais pela educação. Os parâmetros básicos para permitir tal intento encontram elementos chave para sua definição no processo de apropriação de recursos da natureza, por indivíduos, grupos ou segmentos sociais. A Conferência de Tbilisi (Geórgia/URSS-1977) considerou o meio ambiente como: "o conjunto de sistemas naturais e sociais em que vivem os homens e os demais organismos e de onde obtêm sua subsistência: este conceito abarca os recursos; os produtos naturais e artificiais com os quais se satisfazem as necessidades humanas. O meio natural se compõe de quatro sistemas estreitamente vinculados, a saber: Atmosfera, Biosfera, Hidrosfera e Litosfera. Sem nenhuma intervenção humana este conjunto de elementos está em constante mutação, ainda que a natureza e o ritmo desta mutação sejam bastante influenciados pela ação do homem. O meio social compreende os grupos humanos, as infra-estruturas materiais construídas pelo homem, as relações de produção e os sistemas institucionais por ele elaborados. O meio social expressa o modo como as sociedades humanas estão organizadas e funcionam para satisfazer as necessidades de alimentação, educação, saúde, moradia e trabalho." Assim, a Conferência de Tbilisi adotou um conceito de meio ambiente que engloba numa totalidade os aspectos naturais e aqueles decorrentes das ações dos homens. Por conseguinte, meio ambiente natural e meio sócio-cultural são faces de uma mesma moeda, logo indissociáveis. Na medida em que o homem é parte integrante da natureza e, enquanto detentor de conhecimentos e valores socialmente produzidos, age, permanentemente, sobre sua base natural de sustentação, alterando suas propriedades e, em decorrência deste processo interativo, a sociedade também sofre modificações em sua dinâmica. Portanto, “[...] para se compreender a questão ambiental, torna-se necessária a ruptura com aproximações particularizadas e fragmentadas da realidade, que escamoteiam as causas 94 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN da problemática ambiental e levam à adoção de soluções equivocadas e prejudiciais às populações” (Quintas, 1993, p. 29). Neste sentido, a educação enquanto prática dialógica que objetiva o desenvolvimento da consciência crítica pela sociedade brasileira deve estar comprometida com uma abordagem da problemática ambiental que interrelacione os aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais, científicos, tecnológicos, ecológicos, legais e éticos. Tomamos como pressuposto que toda investigação sobre o meio ambiente e recursos naturais deva contemplar um enfoque do homem inserido em seu meio, que a qualidade de vida deva caracterizar a mediação na relação sociedade-natureza. Queremos partir de uma conceituação de meio ambiente na qual não se separe ambiente social de ambiente natural, onde se observe o ser homem em mútua equivalência enquanto ser cultural/ser natural. Nesta referência, queremos fazer crer que a educação, refletindo as questões e contradições do meio ambiente, aponte para a perspectiva de uma nova organização social apoiada em valores mais fundamentais do ser e do existir. Para Nicolas Martins Sosa, La gran tarea de la Educación Ambiental radica negándose a aceptar lo dado, no sólo contribuir a promover el cambio ético sino incluso la re-educación de nuestra capacidad perceptiva, de tal manera que nos ayude a <reconocer los efectos que nuestras acciones producen, no sólo en el medio natural, sino en el medio específicamente humano (o sea en el medio global) deteriorándolo progresivamente (Sosa, 1997, p. 132). O desafio é o de buscar, de forma consistente e conseqüente, alternativas de um fazer educacional que abarque as questãoes ambientais. Existem visões diferentes, e muitas vezes opostas, do significado e interpretação dados às questões ambientais. Por um lado, há uma visão que poderíamos chamar de egocêntrica para a qual o mundo natural tem um valor em si mesmo, que precisa ser preservado frente aos avanços do crescimento demográfico e da devastação do mundo moderno. Subjacente a esta idéia está o pressuposto de que a humanidade caminha irremediavelmente para a destruição dos ecossistemas naturais, tendo de um lado a natureza e de outro a humanidade, que a domestica e a domina, e se apropria de seus recursos; o homem se comporta sempre como um dominador, um domesticador da natureza, levando fatalmente à destruição do mundo natural, onde qualquer intervenção humana é intrinsecamente negativa. 95 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN De outro lado, há uma visão antropocêntrica que reafirma a primazia do homem sobre o mundo natural, tomando-se a natureza como recurso de uso e benefício para os homens. O homem, como ser dotado de razão e dos meios para dominar o mundo natural, conhece suas leis através das ciências modernas. A civilização ocidental é vista como uma expressão da conquista da natureza, fonte de recursos, alimentos, combustíveis e lazer. Uma terceira visão, mais contemporânea, aponta para a necessidade de um uso mais racional e criterioso dos recursos naturais, tentando redefinir as relações do homem com o meio ambiente que busque reafirmar a interdependência necessária para uma sobrevivência mais equilibrada. A busca de diretrizes para uma política de desenvolvimento e conservação dos recursos naturais deve pautar-se pelo estabelecimento de uma nova ética, que exige novas reflexões e ações sobre a dignidade, as contradições, as opressões e as desigualdades, onde a qualidade de vida seja elemento mediador na relação sociedade-natureza. É neste contexto que buscaremos entender o papel da educação frente aos desafios da problemática ambiental. Como manifesta Alberto Pardo Díaz (2002), A educação é a chave, em qualquer caso, para renovar os valores e a percepção do problema, desenvolvendo uma consciência e um compromisso que possibilitem a mudança, desde as pequenas atitudes individuais, e desde a participação e o envolvimento na resolução do problema (Pardo Diaz , 2002, p. 44) A educação ambiental busca um novo ideário comportamental, tanto no âmbito individual quanto coletivo. Ela deve começar em casa, ganhar as praças e as ruas, atingir os bairros e as periferias, evidenciar as peculiaridades regionais, apontando para o nacional e o global. Deve gerar conhecimento local sem perder de vista o global, precisa necessariamente revitalizar a pesquisa de campo, no sentido de uma participação pesquisante, que envolva pais, alunos, professores e comunidade. É um passo fundamental para a conquista da cidadania. A educação tem sido sugerida como a salvadora dos problemas ambientais, como se a busca de alternativas para um desenvolvimento sustentável se desse apenas pela mudança de mentalidade, via educação. A Educação Ambiental é uma forma abrangente de educação que se propõe a atingir todos os cidadãos, inserindo a variável meio ambiente em suas dimensões física, química, biológica, econômica, política e cultural em todas as disciplinas e em todos os veículos de 96 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN transmissão de conhecimentos. As diversas definições de Educação Ambiental variam de acordo com o enfoque dado pela área de conhecimento (biologia, geografia, ciências sociais, etc). Segundo a autora Ana Camargo (2002), Educação Ambiental é uma proposta de filosofia de vida que resgata valores éticos, estéticos, democráticos e humanistas. Seu objetivo é assegurar a maneira de viver mais coerente com os ideais de uma sociedade sustentável e democrática. Conduz a repensar velhas fórmulas e a propor ações concretas para transformar a casa, a rua, o bairro, as comunidades. Parte de um princípio de respeito à diversidade natural e cultural, que inclui a especificidade de classe, de etnia e de gênero, a educação deve ser o portal para o desenvolvimento sustentável e essa sustentabilidade é o novo paradigma do desenvolvimento econômico e social. (Camargo, 2002, p. 22). Segundo o Art. 1º da Lei n° 9.795/99, que estabelece a PNEA – Política Nacional de Educação Ambiental –, a Educação Ambiental contempla: "Os processos por meios dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade". A educação ambiental tem, como principais finalidades: ajudar a fazer compreender, claramente, a existência da interdependência econômica, social, política e ecológica, nas zonas urbanas e rurais; proporcionar, a todas as pessoas, a possibilidade de adquirir os conhecimentos, o sentido dos valores, as atitudes, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar o meio ambiente e induzir novas formas de conduta nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade em seu conjunto, a respeito do meio ambiente. Ela tem, como principais objetivos: criar uma consciência ecológica, ajudando os grupos sociais e os indivíduos a adquirir consciência do meio ambiente global e ajudar-lhes a se sensibilizarem por essas questões; transmitir conhecimento, através da ajuda aos grupos sociais e aos indivíduos, visando à aquisição da diversidade de experiências e compreensão fundamental do meio ambiente e dos problemas anexos; ensinar novos comportamentos, levando os grupos sociais e os indivíduos a se comprometerem com uma série de valores, e a sentir interesse e preocupação pelo meio ambiente, motivando-os de tal modo que possam participar ativamente na melhoria e na proteção do meio ambiente; ensinar novas habilidades, ajudando os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem as habilidades necessárias para determinar e resolver os problemas ambientais e motivar a participação proporcionando, aos grupos sociais e aos indivíduos, a possibilidade de participar ativamente nas tarefas cujo objetivo é resolver problemas ambientais. 97 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 3.1 Formas de atuação A Educação Ambiental pode atuar das seguintes formas: a) Formalmente: O princípio básico que deverá nortear as atividades de educação formal é o de estimular a abordagem interdisciplinar dos conteúdos ambientais, trabalhando os mesmos de forma transversal ao currículo básico dentro das diferentes disciplinas já existentes. A educação ambiental formal tem como principal instrumento a escola, mas, para que o tema Meio Ambiente seja incorporado ao cotidiano escolar por intermédio das áreas do conhecimento, e não apenas se mantenha como tema excepcional em semanas ou atividades comemorativas, é conveniente uma proposta de ação contínua. Para contribuir efetivamente na ampliação e no enriquecimento da questão ambiental na escola, propondo ações não específicas por disciplina, mas abrangendo as diferentes áreas do conhecimento e servindo como meio estimulador de algumas ações de educação ambiental, é fundamental que a escola desenvolva um programa ou projeto de Educação Ambiental. As ações devem ocorrer dentro do sistema formal de ensino junto à rede escolar pública (estadual e municipal) e privada, com produção de materiais técnicos específicos, treinamento de professores e estímulo aos diferentes atores envolvidos na execução do Programa, a partir de uma abordagem interdisciplinar; b) Não-Formal: a educação ambiental não-formal é direcionada à comunidade, à qual cabe uma grande diversidade de propostas como, por exemplo, a ação em um bairro ou um conjunto de atividades junto aos trabalhadores ou, ainda, uma proposta educativa para os moradores ou visitantes de uma área de proteção ambiental. Os objetivos maiores são melhorar a qualidade de vida da comunidade e fortalecer a cidadania. A implantação de ações de Educação Ambiental junto à comunidade é fundamental, pois promove a disseminação do conhecimento sobre o ambiente e é essencial para a inserção política, social e econômica da população. Deve ser incorporada como parte do aprendizado, contribuindo decisivamente para ampliar a consciência ambiental e ética, consoantes com o desenvolvimento em bases sustentáveis favorecendo, inclusive, a participação popular nas tomadas de decisão. 98 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Economia de energia e de água, combate ao desperdício de matérias-primas, redução da poluição do ar e sonora, coleta seletiva e reciclagem do lixo são ações simples que se podem tornar hábitos por meio de Educação Ambiental não-formal; c) Informalmente: constitui os processos destinados a ampliar a conscientização pública sobre as questões ambientais, através dos meios de comunicação de massa (jornais, revistas, rádios e televisão) e sistemas de informatização (Internet), bancos de dados ambientais, além de bibliotecas, videotecas e filmotecas especializadas. Incluem-se, ainda, peças gráficas utilizadas com finalidade didática ou informativa, como livretos, cartazes, folders, boletins e informativos destinados à informação e sensibilização da sociedade sobre as questões ambientais; d) Outras Formas: a manifestação e a expressão humana também devem ser contempladas em atividades de educação ambiental (canções, poesias, esculturas, pinturas, dentre outras). Não necessariamente se constituem em objeto de pedagogia ambiental no seu sentido usual, mas são valiosos enquanto instrumentos de sensibilização por exprimirem-se no campo das emoções e dos sentimentos, as percepções das pessoas em relação ao meio ambiente. A educação ambiental tem sido muito discutida em nível mundial e local, resultando em documentos relevantes para a visibilidade da questão. A Conferência de Tibilisi (1977) definiu a educação ambiental como um processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência de seu meio ambiente e adquirem o conhecimento, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que os tomam aptos a agir – individual e coletivamente - a resolver os problemas ambientais. Por ocasião da ECO/92 – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada na cidade do Rio de Janeiro, foram produzidos três documentos importantes para a validação da educação ambiental a âmbito internacional: a Agenda 21 (elaborada pelos Chefes de Estado); o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global (elaborada pelo Fórum Global), realizado paralelamente por ONG´s de todo o mundo e a carta Brasileira de Educação Ambiental (elaborada pelo MEC). O desafio da questão ambiental, por sua extensão e complexidade, vem exigindo uma abordagem cada vez menos ortodoxa, rompendo com a tradição segmentada e reducionista, e requerendo a aplicação de métodos multi e interdisciplinares. 99 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Em função disso, torna-se necessária a consolidação de um entendimento mais amplo do processo de educação ambiental, ou seja, de que a educação ao trabalhar com as questões ambientais não se reduza ao ensino ou à defesa da ecologia. A educação ambiental deve, sim, ser encarada como um processo voltado para a apreciação da questão ambiental sob sua perspectiva histórica, antropológica, econômica, social, cultural e ecológica, enfim, como educação política, na medida em que são decisões políticas todas as que, em que qualquer nível, dão lugar às ações que afetam ao meio ambiente. Observa-se, ainda, que há uma forte tendência em considerar a educação ambiental como conteúdo integrado às ciências físicas e biológicas, o que imprime em seu conteúdo um enfoque essencialmente naturalista. O enfoque interdisciplinar, que aparece como intenção na maioria das propostas, não se efetiva na prática, devido à carência de pessoal qualificado, aliada à inexistência de metodologia e material apropriado ao tratamento do tema. A educação ambiental, quando organizada como atividade enriquecedora do currículo, apresenta, com significativa frequência, um caráter estanque e episódico - campanhas, seminários e excursões - onde as atividades são dissociadas dos conteúdos básicos do programa. A análise dos materiais e dos procedimentos didáticos utilizados para o tratamento do tema reflete que o processo se dá de forma desarticulada dos problemas ambientais vivenciados pelos alunos. Como desdobramento destas proposições buscaremos melhor entender o que é interdisciplinaridade na busca de alternativas para o fazer educacional. 3.2 Fazer Interdisciplinar O desafio do tratamento interdisciplinar, na abordagem das questões ambientais, se coloca efetivamente frente à complexidade da problemática ambiental. A questão ambiental na verdade diz respeito ao modo como a sociedade se relaciona com a natureza, assim a questão ambiental coloca a necessidade de uma maior reflexão sobre o seu lugar no campo do conhecimento. Não podendo ser reduzida ao campo específico de uma única ciência, ela convoca a depor diversos campos do saber (Gonçalves, 1990, p. 134). O extraordinário arcabouço estrutural da natureza, principalmente aquele que cria condições para a vida, os princípios organizadores dos ecossistemas naturais, tanto pela sua extensão como pela complexidade e equilíbrio em tão longo período, exige no mínimo, para o seu entendimento, o consórcio das diversas disciplinas. 100 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN O meio ambiente se constitui de inúmeros ecossistemas habitados por incontáveis organismos vivos, que vêm evoluindo há bilhões de anos, em milagroso equilíbrio sob a dinâmica de fluxos energéticos, em que usa e recicla moléculas de ar, dos solos, dos mares, das rochas. As organizações desses sistemas resultam naturalmente de um processo milenar de ajuste e evoluções de extrema complexidade e sabedoria, a nível planetário (Vidal, 1990, p. 205). Neste quadro referencial de complexidade é que se fundamenta a proposição de não criação de uma disciplina que abarque a problemática referente à temática ambiental, mesmo por tratar-se de interação entre fenômenos que pertencem a domínios de diferentes ciências. Por outro lado, temos a diferença de ações interdisciplinares no universo de pesquisa ou de produção de conhecimento, onde há interações entre fenômenos que pertencem a domínios comuns, de incidência de diferentes ciências, de uma situação de ações interdisciplinares enquanto ação de educação, de transmissão de conhecimentos já estruturados, formalizados, como conteúdos disciplinares, abordando questões ambientais. Este último caso é o que nos interessa discutir, dado os desafios de ações de educação ambiental formal, ou seja, de inserção da temática ambiental nos currículos do ensino básico de 1° grau. A estratégia primeira é a de trabalhar com situações problemas, referentes às questões ambientais, buscando caracterizá-las e contextualizá-las. A proposição básica é a de buscar caracterizar o que fazer interdisciplinar baseado na elaboração de um marco conceitual comum que permita a articulação de disciplinas distintas no desenvolvimento de uma prática convergente, de domínios diferentes, mas possivelmente conexos. Nisto está implícito um grande esforço por conciliar em cada momento unidade e diversidade, especialidade e universalidade. A introdução da temática ambiental no domínio das diferentes disciplinas não deve ocorrer como imposição de algo externo ao domínio de seu conteúdo. Pelo contrário, deve-se buscar abordagens da questão em pauta, da problemática ambiental, caracterizando-se o aporte substantivo, de análise de cada disciplina, à luz dos conceitos usualmente empregados em seus conteúdos programáticos. Enfim, estimular a formulação de um discurso próprio de cada uma das diferentes disciplinas a respeito da questão ambiental, permitindo o exercício da interdisciplinaridade no confronto das diferentes formulações. Esta opinião fundamenta-se num entendimento da interdisciplinaridade que não dilui as abordagens específicas e as perspectivas próprias de cada ciência. Ao contrário, o trabalho interdisciplinar toma sentido como a associação de análises peculiares, como uma conjunção 101 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN que afirma individualidades. O resultado desse trabalho aparece como um somatório dos enfoques individuais de cada disciplina, que nesse cruzamento adquire qualidades novas. O interdisciplinar é constituído sobre e a partir das análises empreendidas pelas várias ciências. Desta forma, não prescinde dos conhecimentos particulares (e parciais frente à temática em questão), mas alimenta-se deles (do resultado de sua aplicação ao tema em foco). O recorte temático que funda o ponto de convergência do trabalho interdisciplinar não anula a diversidade dos objetivos científicos e suas apreensões ímpares. Na verdade, tais recortes criam novos objetos, ao inaugurar novas formas de abordar a realidade. Algumas estratégias operacionais são relevantes para viabilizar as alternativas de implementação de uma proposta nestes termos. Tem-se basicamente três dificuldades a serem vencidas: 1. A busca de alternativas metodológicas que façam convergir o enfoque disciplinar para o interdisciplinar; 2. A barreira rígida da estrutura curricular em termos de grade horária conteúdos mínimos, avaliação, etc.; 3. A sensibilização do corpo docente para a mudança de uma prática estabelecida, frente às dificuldades de novos desafios e reformulações que exigem trabalho e criatividade. Sugere-se para a busca de alternativas metodológicas na escola, de planejamento escolar, com equipes de coordenação multidisciplinar, os seguintes passos: − Formulação de um projeto pedagógico para a escola que reflita o espaço sociopolítico-econômico-cultural-tecnológico em que ela se insere; − Levantamento de situações-problema relevantes, referente à realidade em que a escola está inserida, a partir das quais busca-se a formulação de temas para estudo, análise e reflexão; − Estruturação de uma matriz de conteúdos intercruzando conteúdos/ disciplinas versus situações-problema/temas versus meios tecnológicos; − Realização de seminários, encontros, debates entre os professores, para compatibilizar as abordagens dos conteúdos/disciplinas versus situaçõesproblema/temas versus meios tecnológicos, buscando convergências de ações; − Envolvimento de alunos em situações de pesquisa e levantamento de dados sobre as situações-problema a serem trabalhadas. 102 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Finalmente, afirmamos que a montagem de uma sustentação institucional para a atividade interdisciplinar caminharia orientada por objetivos mais em longo prazo, tentandose a princípio testar metodologias, em espaços adequadamente escolhidos, tomando-se como critério a aproximação pelo perfil dos passos anteriormente sugeridos. A formulação de um projeto pedagógico para a escola deve pautar-se por uma leitura do ambiente, fazendo o corpo docente, discente e servidores reler o espaço escolar, refletindo o seu significado e propósito. Será pela identificação de situações-problema, das mais diversificadas situações da realidade, que os professores terão elementos para formular suas estratégias pedagógicas. Ao tentar formular hipóteses para compreensão de um diversificado conjunto de questões, que caracterizem de forma plural os elementos observáveis da realidade, no que tange às questões ambientais e questões tecnológicas, em seus aspectos de especificidades locais e de referências globais, é que o professor dará sua contribuição enquanto detentor de um saber. Toda coletividade busca organizar-se em seu habitat, seja casa, rua, bairro ou cidade. Apreender a lógica desses processos, na perspectiva de indivíduos, grupos ou classes sociais, buscando entender a sua dinâmica e suas contradições no processo de apropriação de recursos ambientais, observando os meios e recursos que sustentam a organização social em seu cotidiano, é o que estamos propondo como abordagem da educação sobre as questões ambientais. Buscar delinear a realidade ambiental, em suas dimensões mais amplas, em tudo que possa evidenciar suas especificidades e generalidades é o primeiro passo para se construir um arcabouço referencial sobre a temática ambiental da realidade a ser trabalhada. Delinear este arcabouço implica traduzir o conceito de meio ambiente apresentado pela Conferência de Tbilisi, nas páginas 87 e 128 que interrelaciona os sistemas naturais e sociais abarcando: os produtos naturais e artificiais com os quais se satisfazem as necessidades humanas; as infra-estruturas materiais construídas pelos homens; as relações de produção e os sistemas institucionais por eles elaborados; os modos como as coletividades estão organizadas e funcionam para satisfazer suas necessidades básicas, e, os usos de recursos naturais dos sistemas de onde se obtêm a subsistência como a atmosfera, a biosfera, a hidrosfera e a litosfera. Assim, saber identificar questões relevantes e agrupá-las em temas de maior abrangência, permite o exercício de análise e reflexões fundamentais ao processo ensinoaprendizagem. A atitude de se envolver, envolvendo alunos, pais e comunidade, na 103 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN construção deste arcabouço, caracteriza a função dialógica em um processo de participação pesquisante, na construção do saber. Do aprender apreendendo. A posterior análise de cada professor, buscando agregar o conjunto de situaçõesproblema por temas, fazendo o cruzamento com os planos de aula, é que irá fornecer os elementos da matriz de conteúdos. Assim, cada um dos professores terá para o seu conjunto de aulas a interseção dos conteúdos das disciplinas com o conjunto de temas ao longo da semana, e quais os melhores meios tecnológicos a serem utilizados no bimestre, no semestre ou no ano. As disciplinas que tiverem conexão com um mesmo elemento de um tema, na matriz de conteúdos, são as que deverão ser trabalhadas em conjunto estabelecendo estratégias de abordagens da questão, inclusive com rearranjo da grade horária e de conteúdos, apontando para uma perspectiva do fazer interdisciplinar. Observamos que neste ponto exige-se coordenação pedagógica multidisciplinar, permitindo o exercício do confronto de idéias e interpretações diversas, para se definir as estratégias de abordagem e o aporte de conteúdos das diferentes disciplinas à temática ambiental em questão. Será pela descoberta deste caminho, do como fazer, que se estará construindo o método como elemento de fundo para a abordagem interdisciplinar. A organização social das pessoas em família, em seus habitats, seja em casas, nas ruas, nas vilas, nos bairros ou nas cidades; o trabalho enquanto fator social de produção e/ou individual de sobrevivência; as interdependências das atividades primárias, secundárias e terciárias para manutenção da dinâmica das organizações coletivas; as infra-estruturas, recursos e meios que caracterizam o ambiente construído, bem como as instituições e acervos de conhecimentos e dados; o processo histórico de fixação e ocupação do território, interligado ao processo de apropriação de recursos naturais por indivíduos, grupos ou classes sociais; as ciências e tecnologias como suporte aos modelos ou estilos de desenvolvimento, e, os processos culturais como elementos de inserção do homem em seu meio são aspectos necessários para se entender a dinâmica cotidiana enquanto elementos de caracterização de relações sociedade versus natureza, que, se tomada na sua perspectiva histórica, antropológica, econômica, social e cultural, tecnológica e questionada na perspectiva de uma cidadania voltada para uma melhor qualidade de vida, é um acervo rico de desafios para o trabalho de educação frente à temática ambiental. O desafio de inserção da temática ambiental nos currículos escolares deve procurar abordar as questões ambientais em sua totalidade, evitando enfoques de temas isolados, 104 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN mesmo que relevantes. São as interrelações de causa e efeito, são as interdependências das questões diversas que caracterizam e fundamentam o caráter dialético da temática ambiental. Portanto, deve-se procurar trabalhar os problemas do meio ambiente na perspectiva de amplitude da temática ambiental. Deve-se buscar trabalhar questões ambientais com o auxílio de meios tecnológicos, que explicitem situações-problema concretas da realidade, fazendo evidenciar os elementos de vínculo com múltiplas outras questões com as quais o problema se interrelaciona. Este exercício reflexivo e de análise, que pode iniciar-se por uma questão específica, leva necessariamente à formulações mais amplas, fundamentais ao entendimento da problemática como um todo. Assim, por exemplo, se trabalharmos com a questão lixo, como análise de alternativas de destinação, teremos como aspectos de fatores decorrentes a sua caracterização; 1- a separação, catalogar em uma planilha no computador os lixos eliminados em casa; 2- a coleta fazendo visitas de campo a centro de coletas; 3- a reciclagem, promovendo campanhas educativas no rádio e 4- a eliminação, mostrando um vídeo sobre o lixo e impactos causados ao meio ambiente ou aspectos devido a fatores antecedentes, tomando-se o lixo como subproduto de usos diversos de recursos apropriados da natureza por diferentes indivíduos, grupos ou classes sociais, onde se questiona os desperdícios, os danos ambientais, ou, ainda, o tema lixo tomado a partir do enfoque de seus fatores consequentes, como questões relativas à saúde, economia, degradação de recursos naturais e da qualidade de vida, etc. Podemos observar que se o tema lixo for trabalhado desde os seus fatores antecedentes, decorrentes e consequentes abre um leque muito mais amplo para análise desta temática ambiental, possibilitando maior amplitude de abordagem para o enfoque interdisciplinar. Não resta dúvida que este é um desafio para a escola, na busca de formulação de um projeto pedagógico comprometido com o ser cidadão. Tem-se como pressuposto, para projetos deste porte, uma contínua capacitação dos professores, onde se abra espaço para troca de saberes com especialistas, generalistas e estudiosos, em uma contínua reinterpretação da realidade em que a escola se insere. Como afirma o autor Fernando Gil Villa (2005) , La reconciliación con la naturaleza y con el cuerpo exige sin duda una nueva educación muy distinta de la que tenemos hoy en las escuelas, donde falta justamente la enseñanza de valores alternativos que la harían posible. Tanto en España como en Brasil, con legislaciones al respecto similares, los temas importantes son denominados << transversales>> y en la mayoría de los centros no son tratados o lo son de forma superficial. La educación para el ocio, la educación para el consumo, la educación sobre la probreza, la educación de la moral o la del cuerpo, sólo existen en los libros que los pedagogos, sociólogos y psicólogos de la educación escriben hablando de nuevas necesidades.(Gil Villa, 2005,p. 157). 105 CAPÍTULO 3 A EMPRESA ENTRE A RACIONALIDADE ECONÔMICA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL Qualquer sistema econômico para satisfazer suas necessidades de produção, tem como base a exploração dos recursos naturais, o trabalho humano e os recursos instrumentais (Rossetti, 1992, p. 90). Devido ao aumento da exploração dos recursos naturais e da poluição ao longo dos anos, deparamos com uma crise ambiental que encontra-se no centro de uma transformação global econômica, processual, tecnológica, social, política e cultural que redefinirá, todas as relações de um modo geral. Por crise ambiental, pode-se entender a contradição fundamental que se estabeleceu entre os modelos de desenvolvimento adotados pelo homem, marcadamente a partir do século XVIII, e a sustentação deste desenvolvimento pela natureza. A partir da Revolução Industrial, a velocidade de produção de rejeitos da sociedade, o avanço do mundo urbanizado e a força poluidora das atividades industriais superaram em muito a capacidade regenerativa dos ecossistemas e a reciclagem dos recursos naturais renováveis, colocando em níveis de exaustão os demais recursos naturais não renováveis (Toynbee, 1970). O que gerou a crise que contrapõe desenvolvimento e preservação ambiental foi a visão antropocêntrica da humanidade que a levou a negligenciar tudo aquilo que não é trabalhado pelas mãos humanas. Ou seja, a natureza é tratada apenas como objeto de conhecimento e domínio, sem um valor intrínseco, mas apenas de uso. A era industrial antropocêntrica fortaleceu a racionalidade moderna considerando a natureza como um reservatório inesgotável de recursos. Essa racionalidade econômica constituiu-se, portanto na matriz hegemônica que vai gestar, nas diversas etapas e modelos econômicos da modernidade, uma nova ideologia: o desenvolvimento; o paradigma do progresso, cuja tecnologia resolve todos os problemas. (Barbieri, 1996). O desenvolvimento que significa ato de crescer, progredir, não deve ser entendido necessariamente como crescimento ilimitado, uma vez que os ecossistemas têm seus limites para fornecer a energia a esse crescimento. Essa afirmação se confirma pela escassez de recursos, escassez de fronteiras para expandir as bases econômicas das sociedades nacionais, escassez de depósitos para armazenar ou eliminar os rejeitos da sociedade industrial e, sobretudo, escassez de uma política conjunta entre Estado, mercado e sociedade, para enfrentar os desafios da crise (Barbieri, 1996). Existem, porém, posicionamentos bastante controvertidos, em relação à como enfrentar essa crise. Viola (1992), diferencia três posições divergentes neste debate: a) a estadista, que, através de mecanismos normativos, reguladores e promotores, vê no Estado o locus privilegiado do desenvolvimento social e ambientalmente sustentável; b) a comunitária, 109 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN que, por meio dos movimentos sociais e das organizações não governamentais vistos como promotores de um novo sistema de valores, fundado na solidariedade identifica na comunidade esse lócus privilegiado; c) a do mercado, que, mediante taxas/tarifas, tanto da poluição, como do uso de recursos naturais e de concessões de taxas de poluição, prioriza o critério da eficiência. Complementando esta terceira posição, a do mercado, Sampaio (2001) sugere realizar uma reengenharia nos processos de tomada de decisão embutidos na gestão empresarial, superando a justificativa racional utilitarista individualista, e incorporando novas discussões sobre modelos de racionalidade. Conforme afirma Ángel Infestas Gil (2001), La racionalidad económica de la empresa ya no se manifesta únicamente a través de la acumulación del capital o de la eficiencia de su estructura organizativa sino a través de un conjunto de acciones orientadas directamente hacia el crecimiento y la aparición de nuevas formas de producción y eficiencia del sistema productivo. La empresa depende más de políticas económicas elaboradas por grupos de presión económicos, políticos y sociales, nacionales e internacionales; su capacidad de decisión no se define ya por su situación en un mercado, sino por su participación en un sistema político (Infestas Gil, 2001, p. 217). A questão que se impõe, a partir do momento em que o empresariado começa a vislumbrar a necessidade e ao mesmo tempo a oportunidade de se adequar à nova realidade é a de discutir sua responsabilidade para com a melhoria da qualidade social e ambiental e a superação da racionalidade econômica vigente na gestão empresarial, através de uma profunda reestruturação de seus valores que sustentam o modus operandi da produção e consumo. Muitos têm sido os desafios enfrentados nos últimos anos pela indústria brasileira, para estas mudanças, e elas só ocorrem devido ao advento da globalização e as conseqüências por ela trazidas, muitas empresas que buscam a exportação, tiveram que promover mudanças drásticas no seu modo de produção, com vistas a adequar-se às novas exigências do mercado globalizado. Uma das transformações mais importantes nesse novo cenário provém da atual crise ambiental vivida em nosso planeta. Trata-se da exigência de profundas transformações que atingem toda a sociedade e de modo especial a indústria. Nesse sentido, a indústria que exporta depara-se com dois desafios: primeiro manter uma atividade econômica competitiva, empregando tecnologias limpas já disponíveis, mas, que nem sempre são atraentes quando analisadas sob a perspectiva do custo; segundo, corresponder às exigências dos consumidores, que, notadamente nos paises chamados do Primeiro Mundo e, mais recentemente no Brasil, estão rejeitando os produtos considerados 110 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ambientalmente nocivos, determinando iniciativas proativas em relação ao emprego de processos produtivos menos agressivos ao meio ambiente, isto é, com qualidade ambiental comprovada através de certificações. As experiências com planejamento e gestão, entretanto, trouxeram a tona a contradição de que o desenvolvimento na maioria das vezes é pensado como exclusivamente econômico. Essa mentalidade, não é um privilégio apenas de administradores públicos, mas, sobretudo, no âmbito das empresas privadas, haja vista, o dilema da indústria brasileira em considerar-se ecologicamente correta e proceder as devidas mudanças para sê-lo realmente. Trata-se de incorporar a variável ambiental no planejamento e na gestão industrial, como fator que interfere na tomada de decisão (Sampaio, 2000). Para a empresa, a incorporação do aspecto ambiental significa uma profunda mudança, que vai desde as metas e pretensões, até às práticas e instrumentos diários. O desenvolvimento econômico e contínuo depende de uma melhora radical nas inter-relações da empresa com o ambiente. Resta, porém, o desafio de gerir a mudança na empresa em direção simultaneamente ao desenvolvimento econômico e a proteção ambiental (Schmidheiny, 1992). Faz-se necessário uma gestão sábia para que esses pólos opostos sejam mantidos no devido equilíbrio. A proteção do meio ambiente, contudo, sempre foi e ainda continua sendo em muitos casos, sinônimo de diminuição da lucratividade das empresas e maior custos para o consumidor, que em outras palavras, ou se tem um meio ambiente sadio, ou um setor empresarial sadio. Em geral, nos últimos 30 anos o empresariado tem demonstrado uma tendência bastante conservadora e cautelosa em sua abordagem desses desafios subestimando as possibilidades de mudança positiva. O setor empresarial tem se recusado a enxergar que o meio ambiente e a economia estão entrelaçados, não como inimigos e sim como parceiros, na busca global por uma melhor qualidade de vida. Pois, as respostas às pressões sobre a qualidade do meio ambiente têm sido por meio de leis, regulamentações e pressão dos consumidores (Schmidheiny, 1992). Por isso, mais que mudanças de procedimentos, faz-se necessário a mudança da racionalidade da qual esses procedimentos sejam resultantes. 1. Transição de Racionalidade: da econômica para social A gestão empresarial está passando por transformações, sobretudo na racionalidade embutida nos processos de tomada de decisão. 111 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN O modelo de racionalidade pura (ou mais precisamente da utilidade subjetiva esperada) é utilizado nas alternativas de tomada de decisão de viés economicista do desenvolvimento humano, baseando-se, sobretudo, em processos de raciocínio e cálculo lógico-dedutivo, reverenciado a partir de Descartes. O cálculo entre meios/fins está inserido nos axiomas normativos das Escolas de Administração, materializados na abordagem bayesiana na estatística matemática, técnica de árvores de decisão, técnicas da pesquisa operacional, entre outras (Souto-Maior, 1988) e, conjuntamente com o modelo de racionalidade limitada de Simon, encontrado em modelos gerenciais prescritivos da Teoria das Organizações, sobretudo em metodologias de planejamento estratégico e de gestão organizacional. Baseando-se neste tipo de racionalidade, é possível entender a divisão que se faz do processo de tomada de decisão, entre meios/fins e fato/valor: a) meios são equações matemáticas que relacionam um conjunto de elementos composto de números e variáveis (números representam fatos e variáveis representam valores); e b) fins são os produtos finais dessa equação, isto é, o resultado da relação fatos e valores. O modelo de racionalidade organizacional limitada de Herbert Simon, desenvolvida na década de 50, e que lhe valeu o Prêmio Nobel de Economia em 1978, pressupõe que as organizações não podem ser perfeitamente racionais porque os seus membros que tomam decisões têm habilidades limitadas de processamento de informações. Souto-Maior (1988) e Morgan (1996) sintetizam-na da seguinte forma: a) baseia-se na divisão de problemas complexos em partes, e lidam com uma delas de cada vez; b) não se consideram todas as alternativas e selecionam aquela com melhores conseqüências; e c) preferem-se objetivos de curto prazo, reduzindo assim a necessidade apostar no futuro. A pergunta que se faz, é como transitar entre o agir instrumental (econômico) e o agir sensível ao social. O princípio norteador não é excluir o agir econômico da racionalidade, mas incorporar outros tipos de agir como, por exemplo, a responsabilidade sócio ambiental das empresas. 112 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 2 Surgimento de um Novo Modelo de Negócios Nunca se divulgaram tantas ações desenvolvidas pelas Empresas-Cidadãs20 e o Novo Padrão como nos últimos dois anos. Impulsionados por um mercado em amplo crescimento, com uma concorrência cada vez mais acirrada, surge a necessidade dos executivos buscarem um novo formato para gerir seus negócios e se manter atuantes no mercado globalizado. O mercado nos últimos anos vem cobrando uma transformação no modo como as empresas fazem negócios e a maneira como se relacionam com o mundo ao seu redor. E na busca por esta mudança, eis que surgem as parcerias com o chamado Novo Padrão, transformando o conceito da Responsabilidade Social em uma ferramenta estratégica para que uma empresa se sobressaia, seja através da valorização de sua marca ou produto, seja conquistando e fidelizando clientes e fornecedores mais exigentes, ou até mesmo atraindo grandes talentos profissionais para o seu staff. Nenhuma organização por mais antiga e conservadora que seja, conseguiria manterse imutável às mudanças do cenário empresarial moderno. Á medida que o ambiente se transforma, mudam os valores culturais, padrões de comportamento, surgem novas expectativas para o papel das organizações; a sobrevivência das organizações passa a depender de sua flexibilidade em aceitar novos paradigmas. Segundo Glenso Duarte e José Dias (1986), [...] a solução prática para a empresa se distinguir na batalha do mercado globalizado continua a conter os ingredientes clássicos: qualidade total, reengenharia, relação custo-benefício, compromisso com o cliente, entre outros.. Entretanto será mais politicamente correto a empresa que incorporar uma boa dose de cumplicidade com seu entorno, evidenciada num programa de atuação comunitária. Convivem no setor empresarial, porém, diferentes concepções de empresa e, conseqüentemente, diferentes práticas, que acabam por refletir claramente na sua imagem e nos resultados que produzem. (Duarte e Dias, 1986, p. 86). O que passa a fazer diferença no mercado é ser uma Empresa-Cidadã, na qual a responsabilidade social faz parte do DNA dessa organização, incorporada à sua missão, visão e valores. Uma instituição que não esteja buscando somente lucros e dividendos, mas também dando sua eletiva colaboração para o bem-estar de seus clientes internos, a comunidade e ao mundo que a rodeia. E ter entre suas estratégias de atuação no mercado novos conceitos, 20 As expressões ‘Empresa Cidadã’, ‘Cidadania Empresarial’, ‘Cidadania Corporativa’, ‘Responsabilidade social’, e ‘Marketing Social’ são usadas como sinônimas, segundo Neves (2001), que as define como ações que têm como “objetivo criar uma imagem positiva da empresa na mente do consumidor, através de ações construtivas à sociedade e comportamento ético, derrubando, assim, barreiras pré-existentes”. (NEVES, 2001, p. 17). 113 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN sempre primando pela ética e transparência nos negócios e respeito aos seus acionistas, clientes, fornecedores, comunidade e meio ambiente. A Responsabilidade Social não necessariamente tem que estar vinculada a uma organização do Novo Padrão, afinal responsabilidade é um valor inerente a todo e qualquer cidadão, mas não há como negar que foi também devido à expansão e ao fortalecimento desse novo segmento da economia que muitas empresas começaram a realmente pôr em prática esse sentimento. Para as empresas, o social surge como um novo campo de oportunidades onde será possível agregar valores sociais aos seus negócios. Na perspectiva de Sylvia Bojunga Meneghetti há uma importante mudança em curso, neste início de milênio, que ainda não é claramente percebida por diversos segmentos da nossa sociedade, incluindo-se, neste grupo inúmeros profissionais e veículos de comunicação. Trata-se da evolução do conceito de filantropia empresarial para investimento social, ou postura de responsabilidade social de "empresas cidadãs". Para avaliar ganhos institucionais e sociais e compreender os novos caminhos da comunicação corporativa, é necessário, antes, conhecer mais de perto conceitos e práticas do chamado "Terceiro Setor" – aquele que investe recursos privados para fins públicos, coexistindo com o Estado (Primeiro Setor) e o Mercado (Segundo Setor). No cenário de redemocratização e de maior participação dos cidadãos e das organizações da sociedade civil (OSCs) na reorganização daquilo que é de interesse público – como saúde, educação, cultura, meio ambiente, assistência social – as empresas brasileiras comprometidas com o bemestar encontram-se diante de um duplo desafio. Como organismos vivos, integrados ao todo maior, reconhecem que "estar de bem com a comunidade", "com o entorno", é fator de sobrevivência numa economia globalizada e competitiva.21 2.1 O primeiro segmento Definido de uma forma simples e objetiva, o Primeiro Padrão vem a ser o Estado, em que recursos públicos são utilizados única e exclusivamente para finalidades públicas. Desde a revolução industrial, sempre se associou ao Estado toda a responsabilidade pela administração e solução dos problemas sociais. E assim o Estado torna-se o principal provedor de serviços sociais ao cidadão. 21 MENEGHETTI, Sylvia Bojunga. “Os lucros institucionais dos investimentos sociais: A Comunicação Na Era Da Empresa Cidadã”. Disponível em: <http://www.portal-rp.com.br/bibliotecavirtual/responsabilidade social/0126.htm>. Acesso em: 20 out. 2006. 114 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Nas últimas duas décadas percebe-se claramente a falência do Estado, a limitação estatal, o favorecimento das elites, a ingerência de programas visando puramente questões políticas, o que acabou resultando em grande desigualdade social. Segundo os professores Francisco Melo Neto e César Froes em sua obra afirmam que: Toda expectativa de melhores serviços sociais foi canalizada para o papel do Estado como órgão regulador desses serviços e para o crescimento da pobreza e da exclusão social. A baixa qualidade dos serviços e os seus altos custos só fizeram aumentar a legião dos excluídos e dos desassistidos. Milhões de cidadãos tornaram-se órfãos do Estado do bem-estar social (Melo Neto e Froes, 2001, p. 2). O fato é que o Estado não tem conseguido atender a contento as questões sociais do país como segurança, educação e saúde aumentando cada vez mais a desigualdade social e a má distribuição de renda. Uma das maiores causas dessa desigualdade é o desemprego. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de desempenho que em dezembro de 1999 era de 6,3% no início do ano 2003 subiu para 7,6% da população. (IPEA, 2003). O Ministério da Educação criou em fins dos anos 90 e começo do ano 2000, o Programa Recomeçou para combater o analfabetismo e estimular o retorno aos bancos escolares de jovens entre 15 e 29 anos nos 1.255 municípios mais pobres do país, situados em 14 estados das regiões Norte e Nordeste. Vive-se no país dos contrastes. Estamos entre as dez maiores economias ocidentais, uma classificação de grande representatividade para um país considerado, ainda, pelas grandes potências mundiais como subdesenvolvido, mas que em contrapartida ocupa o 69° lugar, em 2002, no índice de Desenvolvimento Humano (IDH), instrumento criado em 1990 pelo Programa das Nações Unidas e que tem por objetivo mostrar as condições de saúde, longevidade, renda per capita e escolaridade da população. Percebe-se que há um contraste imenso ao compararmos esses dois índices. Somos como bonsais humanos. Há potencial, mas no todo o desenvolvimento é limitado. Nascemos com potencial, mas por falta de oportunidades as pessoas passam a ser uma versão atrofiada de si mesmas. Todos somos responsáveis pelas ações públicas, o que se precisa é somar. Surge então a necessidade de mudar essa realidade. A sociedade civil passa a se engajar em ações que visam possibilitar uma melhoria de vida à comunidade, uma vez que a ineficiência do Estado em buscar soluções para os problemas sociais torna-se cada vez mais evidente. 115 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 2.2 O segundo segmento O Segundo Segmento é o Mercado, são as empresas que utilizam recursos privados para finalidades privadas. Segundo o autor Ángel Infestas Gil (2001), La economía capitalista se basa en la apropriación privada de las plusvalías, de acuerdo con la legitimación que le proporciona la ideologia de la propriedad privada. La viabilidad de sus empresas depende de su rentabilidad, es decir está en función de las diferencias entre el valor de los insumos y el valor de los resultados; y el mercado se encarga de proporcionar ambos valores a la empresa. El mercado es, por tanto, el responsable de la asignación de insumos y resultados, al mismo tiempo que establece la competición entre las empresas, determinando cuáles de ellas serán rentables. (Infestas Gil, 2001, p. 222). A idéia de que à empresa apenas compete gerar empregos e recolhimento de impostos é hoje um conceito completamente arcaico. Em muitos casos, o empresário dava por concluída sua participação na sociedade ao empregar mão-de-obra da própria comunidade, ou então ao fazer uso da filantropia, doando algum aporte financeiro a instituições sem se dar conta de como esse dinheiro era empregado. Em decorrência de uma economia globalizada, aos poucos, Estado e Mercado começam a perceber que a responsabilidade social, seja com a poluição do meio ambiente, seja com a criança que mora nas ruas, e tantos outros problemas gerados pelas desigualdades sociais são problemas de ambos e que se torna necessário rever seus posicionamentos diante da sociedade. De acordo com Carlos Augusto Sales, Presidente do Conselho Consultivo da Xerox do Brasil: "O estado globalizado terceiriza serviços, afasta-se de missões para as quais não está destinado e reconhece a incapacidade de gerir sozinho. A empresa descobre que se não investir na comunidade perde mercado e qualidade (Sales, 2001). Dessa forma, diante de uma nova conjuntura social, da pressão exercida pela sociedade civil diante da enorme exclusão social que atinge cada vez mais a população e da própria globalização do mercado que impulsiona e diferencia o mundo dos negócios, os empresários mais confiantes e atentos aos novos modelos de gestão empresarial chamam para si o exercício da responsabilidade social. Como parceiros, surgem outras instituições sociais, a saber: entidades filantrópicas, organizações não governamentais (ONGs), fundações, movimentos sociais, entidades de direitos civis. Eis então que na busca de somar ações surge o Terceiro Segmento. 116 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 2.3 O terceiro segmento Os Estados Unidos são considerados o berço deste segmento, com ações desenvolvidas desde a primeira metade do século XX, baseado em um comportamento filantrópico adotado pela grande maioria das empresas norte-americanas no decorrer da história. O que antes era visto como simples filantropia desperta, com o passar dos anos, o comprometimento de grandes empresas, profissionaliza o segmento movimentando altos recursos financeiros, mudando a postura de administrar o mundo dos negócios e levando empresas e executivos a assumir uma postura mais consciente do seu papel na sociedade. Em 1995, as atividades desenvolvidas por este setor movimentaram cerca de US$ 1,1 trilhão de dólares em 22 países, especialmente os considerados como países desenvolvidos, como Estados Unidos, Inglaterra, Holanda, Suécia, Bélgica, entre outros. Para ilustrar um pouco os dados acima citados, basta dizer que em países da Europa e nos Estados Unidos, o Terceiro Segmento "movimentou quase 6% (seis por cento) do Produto Interno Bruto (PIB), empregando diretamente cerca de 12 milhões de pessoas e beneficiando na década de 90 mais de 250 milhões de pessoas" (Melo Neto e Froes, 2001, p. 26). Nos Estados Unidos, em 1999, existiam cerca de 750 mil organizações filantrópicas ou sem fins lucrativos que juntas levantaram 190 bilhões de dólares. Na América, o Terceiro Segmento gerou, inclusive, um atuante e excepcional mercado de trabalho na captação de recursos. Anúncios de empregos procurando captadores de recursos financeiros são algo comum em jornais de grande circulação como o New York Times. De forma objetiva, segundo Herzog (2000), pode-se definir o Terceiro Segmento como sendo um setor que nasce da mobilização da sociedade e que vai trabalhar com recursos privados com finalidades públicas. Outro conceito também muito utilizado é de que se trata de um setor formado por organizações privadas sem fins lucrativos que geram bens, serviços públicos e privados e que busca no primeiro e segundo Segmentos suas grandes parcerias. É um segmento formado pelas ONGs (Organizações Não Governamentais), cooperativas, associações e fundações com o objetivo de proporcionar o desenvolvimento político, econômico, social e cultural no meio em que atuam. Segundo os estudiosos Melo Neto e Froes (2001, p. 6), o Terceiro Segmento é, "O Estado, a iniciativa privada e os cidadãos reunidos em benefício de causas sociais. Essa definição aparentemente ingênua representa um dos mais modernos conceitos econômicos surgidos no Brasil nos últimos anos". 117 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Já em 1994 o "papa" da nova Administração, Peter Drucker (apud Melo Neto e Froes, 2001, p. 23) caracterizou esse segmento como: "uma nova esfera da economia, denominada de economia social. Foi o segmento que mais cresceu, movimentou recursos, gerou empregos e foi o mais lucrativo na economia norte-americana nos últimos vinte anos". A partir da década de 90 surge o Terceiro Segmento no Brasil, algumas empresas que adotavam a cultura da doação e da filantropia tradicional mal se davam conta de que de alguma forma estavam saindo na frente, no que, com o decorrer dos anos, viria a se tornar um diferencial no modo de administrar empresas; eram executivos agindo com responsabilidade social. Mas a grande maioria das pessoas envolvidas com o assunto afirma que tanto Responsabilidade Social como o próprio Terceiro Segmento são conceitos muito recentes no país. Segundo Melo Neto e Froes (2001, p. 6) "temos como filantropia empresarial, tão recentes no Brasil, já existem há décadas nos Estados Unidos. As Empresas no Brasil que admitem suas responsabilidades sociais ainda são poucas". O terceiro Segmento é regulamentado, pela Lei 9.790/99. Na prática, esta lei se propõe a distribuir o poder antes concentrado apenas no Estado, permitindo às populações, através de suas organizações, também influir nas decisões públicas e alavancar novos recursos ao processo de desenvolvimento do país. É evidente que ainda há um longo caminho a percorrer para que o Estado, as Empresas, as instâncias organizadas da Sociedade se reconheçam como parceiros em todos os níveis. Ressalte-se que ele não surge para substituir o Estado ou as Empresas em suas responsabilidades, embora possa – e deva – atuar em parceria com eles sempre que for necessário ao desenvolvimento humano e social sustentável. Entretanto sem que o papel do Terceiro Setor ultrapasse o papel do Estado e das Empresas, pois as organizações da sociedade civil têm a capacidade de identificar problemas, oportunidades e vantagens colaborativas, potencialidades e soluções inovadoras em lugares onde o Estado tem dificuldades. A legislação vigente22 aponta alguns mecanismos de incentivos a projetos do Terceiro Setor voltados a defesa do meio ambiente e ao desenvolvimento de atividades de educação 22 Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995 - Altera a legislação do imposto de renda das pessoas jurídicas, bem como da contribuição social sobre o lucro líquido, e dá outras providências. MEDIDA PROVISÓRIA N° 2.113-32, DE 21 DE JUNHO DE 2001 - Estende o benefício da lei nº 9.249/95 às entidades qualificadas como OSCIP - Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público. MEDIDA PROVISÓRIA N° 2.143-33, DE 31 DE MAIO DE 2001 - Assegura até cinco anos contados da data da vigência da lei 9.790/99 à manutenção simultânea das qualificações de OSCIPs e outros diplomas legais das pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos. 118 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ambiental. Nesse contexto deve-se enfatizar o papel das Organizações Não-Governamentais (ONGs)23 no mundo contemporâneo. O nascimento das ONGs a nivel mundial, é um fator marcante desde o fim dos anos 60. Trata-se de um tipo de organização social muito atrelado ao surgimento do movimento ambientalista e das idéias de autogestão. Hoje as ONGs estão espalhadas pela maioria dos países, com expressão nas políticas públicas e na própria sociedade, alterando comportamentos e visões do mundo. O principal objetivo das ONGs é pressionar os Estados e a iniciativa privada. No entanto, algumas organizações deste tipo estão ligadas, justamente, aos interesses econômicos e financeiros da indústria e do mercado. Não existe, portanto, um padrão único de ONG e sim uma enorme diversidade. Mas não se pode ignorar a influência destes movimentos no mundo atual. Castells (1999) destaca o surgimento, a partir dos anos 70, de ONGs como o Greenpeace24, que é a maior organização ambiental do mundo e, somente uma década depois que ela é fundada, é que propricia o ecologismo dos setores econômicos, o setor empresarial aparece como ambientalista somente a partir da década de 80, quando começa a abandonar sua imagem de vilão da ecologia e a adotar uma imagem de "amigo do verde" (Layrargues, 1998). LEI 9.790, de 23 de Março de 1999 - Dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, institui e disciplina o Termo de Parceria, e dá outras providências. DECRETO 3.100, de 30 de Junho de 1999 - Regulamenta a Lei no 9.790, de 23 de março de 1999, que dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, institui e disciplina o Termo de Parceria, e dá outras providências. PORTARIA 361, DE 27 DE JULHO DE 1999, MINISTÉRIO DA JUSTIÇA - regulamenta os procedimentos para a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organização da Sociedade Civil de Interesse público. LEI Nº 8.313, DE 23 DE DEZEMBRO DE 1991 - Restabelece princípios da Lei nº 7.505, de 2 de julho de 1986, institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura - PRONAC e dá outras providências. 23 As ONGS fazem parte do terceiro setor e assim foi denominado por estudiosos para diferenciar dos outros dois setores: Público e Privado. São vozes cidadãs, de líderes sociais, de acadêmicos e investigadores, de organizações da sociedade civil, de grupos ou de movimentos que desejam participar de assuntos públicos do país como controladores sociais e que exigem dos governantes, mais seriedade no que diz respeito às contas públicas e uma maior fiscalização no acompanhamento as promessas de campanha e das ações governamentais, que denunciam e querem frear a corrupção, a pobreza, a degradação do meio ambiente, a violação dos direitos humanos e as garantias constitucionais. Data-se do final do século XIX e princípios do século XX as primeiras sementes plantadas para formação das ONGS. Um intento para definição de ONG pela Organização das Naçoes Unidas - seria toda entidade voluntária, sem fins lucrativos, organizada a nível local, nacional ou internacional dedicada a melhorar o bem estar humano. 24 GREENPEACE - Fundada no Canadá em 1971 é uma organização ecologista e pacifista internacional, econômica e politicamente independente, formada para proteger o meio ambiente e servir de movimentos ativistas contra políticas mundiais. Principal responsável pela popularização de questões ambientais, contando já em 1994 com 6 milhões de membros e uma receita anual superior a 100 milhões de dólares. 119 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Até então, preservar o meio ambiente significava, para o empresariado, investimentos financeiros sem retorno, reduzindo a competitividade da empresa frente ao mercado, daí porque meio ambiente e desenvolvimento apareciam como realidades antagônicas e se acreditava que para haver crescimento econômico deveria haver, necessariamente, poluição e esgotamento de recursos naturais. Ecologia era entendida como um freio ao crescimento e só deveria ser levada em conta quando o país atingisse o pleno desenvolvimento econômico. Vale lembrar que o Brasil, ao não contabilizar os custos ambientais no processo produtivo, ao contrário de outros países que já na década de 60 e 70 possuíam pesadas restrições ambientais, acabou levando vantagens competitivas no mercado internacional, visto que além da mão-de-obra barata e dos subsídios aos investimentos estrangeiros, o país tinha como política a permissividade em exaurir os recursos naturais e ao mesmo tempo, poluir o meio ambiente. Houve, com isto, uma migração de indústrias poluidoras dos países do norte para os países do sul, na busca destes "benefícios" competitivos (Ferreira e Ferreira, 1992; Torres, 1982; Layrargues, 1998). Na década de 80, porém, em grande parte como resultado do crescimento das pressões populares e governamentais se inicia o que Layrargues (1998) chama de "apropriação ideológica", em que o setor empresarial se apropria de parte do ideário ecológico, se autointitulando o principal segmento capaz de levar adiante o projeto de uma sociedade ambientalmente sustentável. Assim, enquanto os paradigmas vigentes nas sociedades industrializadas de consumo são apontados pelos grupos ambientalistas originais, como a causa primeira da problemática ambiental25, o setor empresarial postula exatamente o contrário, ou seja, que o mercado e o capital serão capazes de resolver todos os constrangimentos ambientais dentro do atual e hegemônico modelo de desenvolvimento econômico, sobretudo através da competitividade empresarial que estimularia o uso de tecnologias limpas, o desenvolvimento de produtos "verdes" e "ecologicamente corretos" e a visão de meio ambiente como nova possibilidade de negócio. A conscientização ecológica e a consequente pressão exercida pelos consumidores que buscam produtos "verdes" também são apontadas como exemplos de auto-regulação do mercado, assumindo quase que "naturalmente", os constrangimentos ambientais 25 A esse respeito, Cf. o Tratado Sobre Consumo e Estilo de Vida aprovado durante o Fórum Global (1992). Cf., ainda, o Capítulo IV da Agenda 21 (Nações Unidas, 1997). 120 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Paradoxalmente, se para alguns a civilização industrial tecnológica de consumo é apontada como determinante da crise ambiental, para outros, esta é justamente a solução (Layrargues, 1998). Na década de 90, a partir de um novo contexto econômico internacional e de globalização da economia, que Feldmann (2005) afirma que, Essa globalização tem como principal característica afetar de modo muito intenso a vida das pessoas, fenômeno inédito na história, que tornou a sociedade mais insegura onde assistimos a um enorme sentimento de desconforto, como demonstram os movimentos antiglobalização, que refletem a necessidade de transformação, atendendo alguns requisitos básicos: menos violação dos direitos humanos; menos disparidade dentro e entre nações; menos marginalização de pessoas e países; menos instabilidade das sociedades e menos vulnerabilidade das pessoas; menos destruição ambiental; menos pobreza e privação (PNUD, 1999, p. 2). Devido a este contexto e desconforto surge o ambientalismo empresarial, com sua inserção já sedimentada. A entrada de diferentes setores modifica profundamente a "cara" dos movimentos ambientalistas que ganham, a partir de então, a definição de um movimento "complexo-multissetorial" (Viola e Leis, 1992). O crescimento e institucionalização da chamada "comunidade ambiental" é notório. Castells afirma que grandes empresas passaram a incluir a questão do ambientalismo em sua agenda. Entretanto, assinala que: "[...] a maioria de nossos problemas ambientais mais elementares ainda persiste, uma vez que seu tratamento requer uma transformação nos meios de produção e de consumo, bem como de nossa organização social e de nossas vidas pessoais". (Castells, 1999, p. 141). O referido autor define ambientalismo como: As formas de comportamento que, tanto em seus discursos como em sua prática, visam corrigir formas destrutivas de relacionamento entre o homem e seu ambiente natural, contrariando a lógica estrutural e institucional atualmente predominante" e ecologia como "um conjunto de crenças, teorias e projetos que contempla o gênero humano como parte de um ecossistema mais amplo visa manter o equilíbrio desse sistema em uma perspectiva dinâmica e evolucionária (Castells, 1999, p. 143- 144). O autor procura realçar que a principal forma de ambientalismo é a mobilização de comunidades em defesa de seu espaço geográfico e contrárias à devastação do meio natural em nível local. Assim se organizam associações de moradores, naturalistas, cientistas, estudantes e outros grupos sociais, visando impedir a degradação de seus locais de moradia e trabalho. 121 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Todos os três segmentos trabalhando em parcerias. Parceria, uma das palavras-chaves quando se fala na busca do êxito das ações desenvolvidas por esses três setores, tão distintas e ao mesmo tempo tão interligadas entre si. Em 1995, foi criado no Brasil o Conselho da Comunidade Solidária, integrado por 28 lideranças da sociedade civil, com reconhecida atuação na área social e pelos Ministros de Estado da Saúde, Educação, Trabalho e Emprego e o Chefe da Casa Civil da Presidência da República. O Governo Federal financia, através da Casa Civil, os gastos de infra-estrutura do Conselho. Os recursos necessários à execução dos projetos de ação são captados junto a parceiros públicos e privados: pessoas físicas, empresas, órgãos governamentais, universidades e agências internacionais de desenvolvimento. Há três grandes programas ligados ao Conselho: Alfabetização Solidária, Universidade Solidária e Capacitação Solidária. O programa Alfabetização trabalha junto às comunidades com elevados índices de analfabetismo entre jovens de 12 a 18 anos, contando com a ação dos alfabetizadores, a maioria dos próprios moradores dos municípios em que o programa atua. Os alfabetizadores são capacitados por professores das universidades parceiras e têm acompanhamento de monitores. As prefeituras se responsabilizam por ceder as salas de aula e o financiamento é dividido entre o Ministério da Educação e empresas privadas. O material didático também é de responsabilidade do MEC. No programa Universidade Solidária, o trabalho é desenvolvido pelos próprios estudantes juntamente com os professores e com o movimento social dos municípios onde atuam. Já na Capacitação, a atuação fica a cargo das ONGs com os melhores projetos voltados para a capacitação profissional de jovens. Nesses dois programas, os recursos vêm de parcerias da iniciativa privada e do governo. É importante destacar que as parcerias são fundamentais para a execução e o sucesso desses programas, que conforme afirma Cardoso (2000): [...] a crescente mobilização de recursos privados para fins públicos representa uma ruptura profunda com a tradicional separação entre público e privado, na qual o público era sinônimo de estatal e o privado de lucrativo. A participação dos cidadãos e o investimento das empresas em ações sociais configuram o surgimento de uma inédita esfera pública não estatal e de um Terceiro Segmento não lucrativo e não governamental. Essas parcerias, cuja promoção e cujo fortalecimento constituem uma das estratégias fundamentais da Comunidade Solidária, têm ampliado, de forma significativa, recursos e competências investidos na geração de solidariedade social e na promoção de processos sustentados de desenvolvimento. Como seria de esperar, o setor privado empresarial não ficou à margem desse movimento. (<http://www.mec.org.br>). O Conselho da Comunidade Solidária investe, ainda, em outras duas frentes: a Interlocução Política e o Fortalecimento da Sociedade Civil. No primeiro, há conversas entre 122 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN o governo e representantes da sociedade civil, como sindicatos, fundações e o próprio Terceiro Segmento buscando criar a concordância de opiniões em torno de uma agenda social prioritária. No fortalecimento da Sociedade Civil, as ações vão desde mudanças nas leis que regem o Terceiro Segmento até projetos que incentivem o trabalho voluntário e o projeto Rede de Informações do Terceiro Segmento.26 Sobre o papel deste Programa, seus adeptos o colocam como um instrumento inovador de ação social; e, apesar de ter sido concebido no âmbito da esfera governamental, ele não é responsável pelas políticas oficiais da área social; atua na articulação de recursos públicos e privados, designando ao Terceiro Segmento o papel de execução e controle das ações propriamente ditas. No dizer de Cardoso (2001): O Conselho da Comunidade Solidária é um modelo complementar à política social do governo, que está distribuída efetivamente entre seus vários ministérios. O Conselho também não visa substituir, de forma alguma, a atuação governamental. A intenção é, sim, beneficiar públicos específicos, que deveriam ter sido atendidos por políticas públicas governamentais há dez, quinze anos, mas que, por uma série de razões históricas, culturais e políticas, ficaram alijados do processo. (<http://www.mec.org.br>). Como pode ser percebido o momento é de, cada vez mais, unir esforços. Somente dessa forma, Governo, iniciativa privada e o cidadão conseguirão atuar em favor do desenvolvimento social do Brasil. Mas, quais são os fatores que levaram ao crescimento desse Segmento? Impossível não citar o processo de globalização que desencadeou uma série de mudanças e adaptações na sociedade de consumo e na maneira de conduzir a economia e as empresas, como também a própria estrutura ineficiente do Estado. Mas, há outros fatores significativos, tais como: o crescimento das necessidades socioeconômicas decorrentes do aumento da população, gerando além da má distribuição de renda, desemprego, fome e violência; o crescimento do trabalho voluntário; a degradação ambiental que ameaça a saúde humana através de doenças provenientes da poluição ambiental; maior disponibilidade de recursos para aplicações em ações sociais; maior participação das empresas que buscam a cidadania empresarial, e também a mídia divulgando iniciativas sociais por parte do governo, empresas, associações, além de publicações de matérias específicas sobre o assunto. Pode-se ver que assim, uma tendência que começa a se concretizar em fatos que nos enchem de esperança e otimismo. Surge uma nova consciência nos dirigentes de empresas, 26 . Este projeto está disponível na Internet e tem como finalidade prestar informações e consultorias às entidades em assuntos voltados exclusivamente ao Terceiro Segmento. O endereço é www.rits.org.br. 123 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN nos profissionais que prezam a ética em seus negócios e relações de trabalho e, sobretudo, nos cidadãos que querem consumir com a certeza de que estão contribuindo com uma boa causa. Seja porque no coração do homem pulsa o desejo de ser plenamente humano ou apenas por questões de sobrevivência, importa que estamos caminhando para um novo modelo de gestão que tem a ética e a responsabilidade social como fundamentos. E nesse caminho todos ganham, a empresa, seus colaboradores e acionistas, clientes e fornecedores e a comunidade onde está inserida. Todos construiremos juntos a cidadania nas organizações. Certamente há muito ainda que se investir no desenvolvimento desses valores nas empresas, na reflexão e na elaboração de um código de ética, na implantação voluntária do balanço social como resultado de ações solidárias, na participação, nos resultados, na gestão participativa, etc. Mas aos poucos já temos avançado. É verdade que através de eventos e treinamentos as empresas têm procurado influenciar e desenvolver seus colaboradores e lideranças neste sentido. Entretanto, precisa-se colocar o ser cidadão como quesito indispensável nos processos seletivos. A empresa cidadã contrata cidadãos: profissionais que têm consciência da sua missão de contribuir com os resultados da organização e fazer deste um mundo melhor. O Terceiro Segmento ainda crescerá muito nesta década, vale ressaltar que o Brasil é hoje o quinto país do mundo em trabalho voluntário, e muitas das parcerias desenvolvidas são galgadas no trabalho voluntário, e a tendência aponta que mais e mais empresas devem passar a adotar posturas socialmente responsáveis. A Responsabilidade Social começa dentro de cada um de nós e também dentro da própria empresa, adotando posturas éticas, transparência nas relações com seu público interno e externo, e a valorização de todos que têm um objetivo comum. O futuro levará ao surgimento e fortalecimento de novas parcerias, afinal não é possível fazer nada sozinho, somos responsáveis no coletivo e as empresas, além de responderem pelos seus próprios resultados, estão se tornando responsáveis também pelo resultado do meio onde estão localizadas e isso será cada vez mais cobrado pela sociedade. Vive-se uma fase de transição cultural, em que ser Socialmente Responsável vai além de uma ação isolada enquanto pessoa. Em um futuro mais próximo do que se pode imaginar, essa postura irá delimitar o tempo de sobrevivência de uma empresa no mercado. 124 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 3 Responsabilidade social das empresas Neste capítulo busca-se expor o significado de algumas categorias-chave que possam orientar o entendimento da temática <<responsabilidade social>>, situando-a como comportamento empresarial voluntário e de comprometimento com a sustentabilidade em suas dimensões econômica, ambiental e social. Bem como enfatizando a parte da responsabilidade Jurídica. 3.1 Que é responsabilidade social O desenvolvimento das sociedades e a exigência cada vez mais crescente por informação, refletiram em novas exigências da relação entre empresas, indivíduos e a sociedade. Tais exigências provocaram também novas estratégias de relacionamento das empresas com os entes que estão sob sua influência, como governo, funcionários, sociedade, meio ambiente etc. No contexto dessa relação mutante, o panorama conceitual de <<responsabilidade social>> também se transformou, como bem demonstra o quadro seguinte: Autores Conceituação Bowen (1943) Obrigação do empresário de adotar políticas, tomar decisões e acompanhar linhas de ação desejáveis, segundo os objetos e valores da sociedade. Responsabilidade Social é um comportamento antimaximização de lucros, assumido para beneficiar outros que não os acionistas da empresa. Portanto, existe somente uma responsabilidade da empresa: utilizar suas atividades com objetivo de aumentar seus lucros, seguindo as regras do jogo de mercado. Desenvolvimento do conceito de responsabilidade social: acompanhou a própria evolução dos programas sociais estabelecidos pelas empresas americanas. Os executivos passaram a aceitar a necessidade de realizar certas ações e procuraram fazer com que fossem componentes regulares das operações empresariais. Ética do lucro dando lugar à ética da Responsabilidade Social: demandas sociais que não podem ser satisfeitas pelas técnicas tradicionais de gerência empresarial, ou seja, com funções especificamente econômicas. Responsabilidade Social como uma preocupação das empresas com as expectativas do público. Seria, então, a utilização de recursos humanos, físicos e econômicos para fins sociais mais amplos, e não simplesmente para satisfazer interesses pessoais ou organizações em particular. Friedman (1970) Kugel (1973) Petit (1976) Zenisek (1979) Quadro 4 – Autores e Conceituação – Responsabilidade Social Fonte: Hatz (2001) Responsabilidade Social é um sentimento, um valor inerente a qualquer pessoa consciente de seus deveres perante a sociedade, sua família, seus projetos de vida, consigo mesmo. É também um comprometimento que ultrapassa a questão individual e abrange o 125 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN todo, pode ser definida como situação de um agente consciente com relação aos atos que ele pratica voluntariamente. No Brasil a relação entre empresas e segmentos da sociedade tem um histórico baseado na filantropia, caridade e ações sociais de caráter religioso. Com a adesão ao viés econômico baseado nos preceitos neoliberal e o modelo do “Estado mínimo”, associado à constatação das históricas dificuldades do Estado brasileiro em lidar com as questões sociais, o empresário, com os procedimentos da Responsabilidade Social, apresenta-se nesse cenário como sujeito capaz de empreender ações sociais práticas, ocupando os espaços deixados pelo Estado. Diante do diagnóstico de que o Estado não é eficiente na gestão dos problemas sociais, assim como de que a atuação da sociedade, baseada na “boa vontade”, também não gera resultados qualificados, abre-se uma vaga para quem tem “competência técnica para gerir os problemas”. [...] Em um cenário de crise de motivação para a vida pública, marcada por uma baixa credibilidade em relação às instituições sociais, o empresário aparece como o ator qualificado a instruir a lógica da eficiência e do jeito novo de “fazer o bem” (Garcia, 2004, p. 16). A adoção da construção de práticas empresariais socialmente responsáveis se intensificou a partir do final dos anos 80 como reflexo da promulgação da Constituição Brasileira de 1988. Desde então, as organizações não governamentais (ONGs) se expandiram, preenchendo espaços deixados pela ausência, parcial ou total, do Estado na área social e cultural. Nesse cenário, é cada vez mais freqüente a parceria entre o segundo setor, representado pelas empresas de capital privado; e o terceiro setor, as organizações não governamentais, na articulação de projetos sociais com um recorrente discurso de resgate da cidadania e ocupação de espaços através da cultura. A Responsabilidade Social de uma maneira simplista também pode ser definida por esse conceito. Por se tratar de um tema muito recente "somente nos últimos dez anos começou a ser incorporado ao dia-a-dia das empresas no Brasil" (Melo Neto e Froes, 1999, p. 31), ainda não se pode dizer que já exista um conceito amplamente aceito pelos empresários e profissionais da área. O tema, bem como sua conceituação, é muito amplo, o que leva à complexidade e a várias definições do assunto, sem que com isso haja detrimento de um ou outro conceito. Segundo Oded Grajew (apud Melo Neto e Froes 1999, p. 79): [...] o conceito de responsabilidade social está se ampliando, passando a filantropia, que é a relação socialmente compromissada da empresa com a comunidade, para 126 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN abranger todas as relações da empresa: seus funcionários, clientes, fornecedores, concorrentes, meio ambiente, organizações públicas e estatais. Com certeza pode-se afirmar que algumas ações de responsabilidade social começaram com atitudes tradicionais de filantropia, em que os empresários doavam quantias de dinheiro sem haver um comprometimento com a causa, eram apenas atos de caridade para com o próximo. Hoje se sabe que a responsabilidade social é muito mais que isso, ela reflete uma transformação da empresa perante seus funcionários e a sociedade, seguindo esse raciocínio afirmam Melo Neto e Froes (2001, p. 27), As ações de filantropia correspondem à dimensão inicial do exercício da responsabilidade social, são ações individualizadas. A responsabilidade social busca estimular o desenvolvimento do cidadão e fomentar a cidadania individual e coletiva. Toda ação, mesmo que feita de forma isolada, tem seus méritos. Não se pode desmerecer a atitude voluntária de um empresário bem-sucedido nos negócios que decida retribuir à sociedade parte dos ganhos obtidos com sua empresa. A questão é que ações isoladas como essas, além de serem atos de benevolência, atingem somente um pequeno grupo e que muitas vezes não há continuidade. Esse é um dos vários aspectos que diferem a filantropia da responsabilidade social corporativa, uma vez que as ações desenvolvidas por essas empresas necessitam de planejamento, organização, monitoramento e avaliação. Atualmente, essa prática se tornou uma ferramenta de gestão no mundo dos negócios, capaz de alavancar o crescimento de uma empresa no mercado, independente do seu tamanho. Esse é o pensamento também defendido pela consultora e pesquisadora em Responsabilidade Social nos Negócios, Patrícia Ashley, que conceitua responsabilidade social como: A manifestação da responsabilidade social no âmbito da empresa também pode ser entendida como relacionada a um processo de evolução da atuação das empresas. Depois de começarem com a filantropia pura e atribuírem a alguns setores - como o de RH - a responsabilidade pelo comportamento ético e social da companhia e seus funcionários, as empresas, então, passam a repensar sua função e procedimentos, implementando mudanças conceituais e agindo de forma socialmente responsável, seja sozinha ou em parceria com ONGs ou governo (Ashley, 2001, p. 11). A atuação de uma empresa responsável socialmente abrange a maneira como essa corporação conduz seus negócios, tornando-se uma parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social do meio em que atua. Essa empresa preza pela maneira transparente e correta de difundir seus valores e princípios (critérios inegociáveis de conduta), missão (razão 127 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN de ser da empresa) e pela maneira como se relaciona com seus empregados e familiares, acionistas, comunidade, fornecedores, clientes, governo e parceiros, os chamados stakeholders. Esse tipo de postura passa a ser valorizado e visto como diferencial competitivo. De acordo com as pesquisas realizadas por Patrícia Ashley: Nessa linha de pensamento, percebe-se uma descentralização do debate quanto à responsabilidade social nos negócios, voltando-se para uma visão das redes de tornar o foco de reflexão, não apenas em aspectos econômicos, mas incluindo também relações de confiança, idéias e normas éticas (Ashley, 2001, p. 25). Indo além das idéias conceituais sobre o assunto, e voltando o olhar para ações práticas no dia-a-dia real das organizações, a responsabilidade social já foi incorporada aos critérios de pontuação para as mais diversas classificações e posicionamentos das empresas no mercado. Levando-se em conta que devido a ser um assunto de ampla dimensão e muitas vezes, ainda, visto sob uma ótica mais assistencialista do que organizacional, vários institutos, sites e fundações foram criados exclusivamente para difundir o conceito de responsabilidade social e suas várias vertentes de atuação. Uma referência pioneira é o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, fundado em 1998. O Instituto é uma organização não governamental criada com a missão de mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a compreenderem e incorporarem o conceito de responsabilidade social no cotidiano de sua gestão, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade sustentável e justa. Seus 958 associados - empresas de diferentes setores e portes - têm faturamento anual correspondente a cerca de 30% do PIB brasileiro e empregam cerca de 1 milhão de pessoas, tendo como característica principal o interesse em estabelecer padrões éticos de relacionamento com funcionários, clientes, fornecedores, comunidade, acionistas, poder público e com o meio ambiente. (<http://www.ethos.org.br>). Para o diretor-presidente do Instituto Ethos, Oded Grajew: A responsabilidade social coletiva é o único movimento que pode salvar o mundo. Acredito que as empresas sejam os grandes agentes desta nova cultura empresarial e da mudança social, pois são elas que criam valor na sociedade. São elas que criam as referências e condutas sociais. (INFORMATIVO ETHOS, 2001). A Responsabilidade Social Empresarial está além do que a empresa deve fazer por obrigação legal. A relação e os projetos com a comunidade ou as benfeitorias para o público interno são elementos fundamentais e estratégicos para a prática da Responsabilidade Social. Muitas empresas já perceberam a necessidade de direcionar suas práticas no sentido de alterar 128 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN o quadro de degradação ambiental, a péssima distribuição de renda, a baixa qualidade dos serviços públicos, a violência e a corrupção não apenas no discurso, mas fundamentalmente nas ações.(INFORMATIVO ETHOS, 2003). O Instituto trabalha com três linhas principais de atuação, a mobilização no setor privado, produzindo ferramentas para a gestão empresarial, pesquisando e criando indicadores na área de responsabilidade social empresarial em nível nacional e internacional, além da promoção de eventos, cursos, palestras e seminários, bem como reuniões mensais com os associados. Vale dizer que qualquer empresa, independente de sua atuação, pode se associar. Atualmente o Rio Grande do Norte conta com 03 entidades associadas: EIT, COSERN e Água Mineral Fonte Clara. A segunda linha de atuação é a de mobilização para a sociedade em geral, com participação e promoção do diálogo com outros interlocutores - imprensa, governo, ONGs, entidades, fundações, entre outras - identificando e ampliando potenciais linhas de ação. Nessa frente de trabalho, já foram feitas parcerias significativas, como o Prêmio Ethos de Jornalismo, premiando matérias produzidas segundo o conceito de responsabilidade social e o Prêmio Ethos Valor, que tem por objetivo valorizar a produção de trabalhos acadêmicos de graduação, mestrado e doutorado sobre o tema. A terceira linha de atuação trabalha com a produção de informação. Nesse caso o Instituto faz anualmente uma pesquisa intitulada "Empresas e Responsabilidade Social – Percepção e Tendências do Consumidor", além de produzir manuais temáticos e disponibilizar um site que aborda o assunto. Sobre a pesquisa um ponto analisado e que merece destaque é o posicionamento que os consumidores estão adotando em relação à conduta das empresas no mercado. Além desse Instituto, são referências também na questão da responsabilidade social como gestores o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas – GIFE- Instituto Akatu que visa estimular o consumo consciente, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), grande defensor da institucionalização do Balanço Social, a Fundação Instituto para o Desenvolvimento Econômico e Social (FIDES), sem falar das próprias empresas que criaram suas fundações para o exercício da responsabilidade social com foco na comunidade e não somente em seu público interno. Um exemplo prático de como posturas empresariais socialmente responsáveis já são um critério de avaliação, recentemente o grupo Manager27, sediado em São Paulo e 27 Dados obtidos através de pesquisa disponibilizada no site www. manager.com.br, em 22/10/2007. 129 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN especialista em recolocação de executivos no mercado de trabalho, realizou uma pesquisa com 240 executivos. Quando questionados sobre a importância de a empresa investir em programas sociais, 200 executivos (83%) afirmaram que esse tipo de atuação das empresas tem se tornado um fator de atração no Segmento de escolher a empresa para trabalhar, enquanto 13% não consideram esse um fator decisivo. Com base nos conceitos já apresentados, a responsabilidade social vai muito além de uma postura pessoal para tornar-se um compromisso com o todo, com o coletivo, buscando resgatar a cidadania de cada ser. A empresa se propõe a ser um ator social com atuação efetiva, que agrega valor às suas ações, com comprometimento buscando a melhoria e o crescimento não somente enquanto geradora de empregos e lucros, mas como um mecanismo facilitador das condições de bem-estar social. A responsabilidade social naturalmente leva a mudanças de posturas, valoriza as transparências das relações e diante disso, espera-se que, em um futuro próximo, seja efetivamente um fator capaz de determinar o sucesso ou não de uma empresa e de atração para grandes talentos, independente do seu ramo de atividade, números de colaboradores e região onde está localizada. 3.2 A cidadania nas empresas Trazendo para o interior desta discussão os escritos de Plasencia (2001), falar de Cidadania é também falar de outro desejo tão almejado por todos, a Democracia. Para a autora mais que um sentimento de igualdade, a democracia nos remete a um sentimento de liberdade, de direitos respeitados, de uma divisão igualitária de poderes, é a possibilidade de um sistema de governo em que esses valores serão devidamente colocados em prática, e estarão voltados para beneficiar o povo, possibilitando uma condição de existência mais digna. Cidadania e Democracia são valores que não podem ser dissociados, um não se concretiza sem o outro. E para fazer valer a democracia é preciso antes de tudo que se saiba o que é ser um cidadão. Cidadão não é somente o homem em seu habitat, mas um indivíduo que goza plenamente de seus direitos civis e políticos e que age com responsabilidade no que diz respeito aos seus deveres. A cidadania de cada um está no acesso pleno e irrestrito a condições dignas de saúde, segurança, educação, alimentação, um salário justo que lhe permita viver com dignidade sem precisar mendigar um prato de comida. Parece utópico, mas essa deveria ser a condição de todo e qualquer brasileiro. 130 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Em seu livro Cidadania em Ação, Janett Ramírez Plasencia nos dá uma visão do quanto a democracia é fundamental na vida das pessoas e nos mostra sua dimensão no contexto da sociedade, como quando ela afirma que: A sociedade toda é um espaço de fazer política e todas as relações são objeto de democratização. Desta forma a democracia torna-se um estilo de vida. Aparece no cenário uma multiplicidade de atores sociais e a democracia passa a ser responsabilidade de todos e não só tarefa dos partidos políticos. Podemos então afirmar, de um modo ou de outro, que os impulsos democráticos permeiam nossa vida cotidiana e que uma democracia para ser vivida a partir da sociedade civil supõe uma cidadania exercida em todos os âmbitos da vida individual a coletiva. (Plasencia, 2001, p. 14) Dentre esses fatores sociais, pode-se perfeitamente incluir as empresas socialmente responsáveis, ou seja, as empresas-cidadãs que atuam com ações voltadas tanto para o público interno quanto externo. Um dos grandes idealizadores desse resgate da cidadania no país foi o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que através do Movimento da Ação da Cidadania contra a Fome, Miséria e pela Vida, criado em 1993, despertou o sentimento de solidariedade ao próximo e estimulou a tímida participação dos empresários nessa campanha. O movimento surgiu como um sinal de esperança para o povo brasileiro, no Segmento em que a realidade nacional chegava a níveis altíssimos de exclusão social, gerando três categorias sociais: o rico, o pobre e o indigente. Segundo o próprio Betinho, o Brasil podia ser assim descrito: "Uma minoria rica, branca, sofisticada comparável ao Canadá. Uma minoria pobre, negra, silenciosa e resignada do tamanho do México. E Trinta e dois milhões de indigentes. Uma Argentina de miséria dentro do Brasil" (Souza apud Plasencia, 2001, p. 24). Propondo o despertar da sociedade, a indignação e uma ação concreta para o resgate da cidadania, o movimento chegou a ter no seu auge, entre os anos de 1993 e 1994, mais de cinco mil comitês espontâneos localizados nas diferentes regiões do país. Vive-se num no país dos contrastes, e mais um desses contrastes é que no Brasil pobreza e riqueza sempre estiveram lado a lado, basta observar que a pobreza com o passar dos tempos vem se transformando cada dia mais em indigência, e a riqueza nos numerosos escândalos com os quais nos deparamos diariamente. 131 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN O movimento idealizado e liderado por Betinho28 não se propôs somente a levar alimento a quem tinha fome, mas também teve em suas premissas a geração de emprego. Conforme declarou o sociólogo, "nós achamos que você não pode deixar de distribuir alimento para quem tem fome. Agora eu acho que se você consegue emprego é muito melhor, porque as pessoas com emprego podem escolher o que comer, decidir, exercer sua cidadania". (Souza apud Plasencia, 2001, p. 119). E gerando não somente empregos e lucros surgem, alguns anos depois da bandeira levantada por Betinho, as Empresas-Cidadãs. Corporações cientes de sua importância como atores sociais capazes de modificar o meio e a forma como atuam, empresários que vislumbram algo mais do que simplesmente contribuir com doações esporádicas. Uma empresa socialmente responsável busca estimular o desenvolvimento do cidadão, suas ações são extensivas a todos que participam da vida em sociedade, estreita sua relação com a comunidade, motiva os empregados humanizando seus negócios. A prática da responsabilidade social é capaz de desencadear uma série de mudanças na sociedade, como, por exemplo, estimular o consumo consciente por parte dos clientes, selecionar fornecedores que agem de maneira responsável seja com o social, seja com o meio ambiente em que atuam. Estimula também o crescimento individual das pessoas envolvidas, valorizando a capacidade de cada um de trabalhar em equipe, de doar tempo e conhecimento, além de consolidar valores fundamentais como a ética e a transparência nas relações com seu público interno e externo. Com o intuito de contribuir para a formação de um consumidor mais seletivo, em 15 de março de 2001, Dia Mundial do Consumidor, foi criado por um grupo de empresários o instituto Akatu, uma organização não governamental ligada ao Instituto Ethos, cuja proposta é 28 Herbert José de Sousa, conhecido como Betinho, foi um sociólogo e ativista dos direitos humanos no Brasil. Concebeu e dedicou-se ao projeto Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida (1993-2005). Com o golpe militar, em 1964, mobilizou-se contra a ditadura, sem nunca esquecer as causas sociais, porém. Com o aumento da repressão, foi obrigado a se exilar no Chile, em 1971. Lá assessorou Salvador Allende, até sua deposição em 1973. Conseguiu escapar do golpe de Pinochet refugiando-se na embaixada panamenha. Posteriormente morou no Canadá e no México. Durante esse período foram reforçadas as suas convicções sobre a democracia - que ele julgava ser incompatível com o sistema capitalista. Em 1986 Betinho descobriu ter contraído o vírus da AIDS em uma das transfusões de sangue a que era obrigado a se submeter periodicamente devido à hemofilia. Em sua vida pública esse fato repercutiu na criação de movimentos de defesa dos direitos dos portadores do vírus e parceria com outros membros da sociedade civil, fundou e presidiu até a sua morte a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS. Dois dos seus irmãos, Henfil e Chico Mário, morreram em 1988 por conseqüência da mesma enfermidade. Mesmo assim, não deixou de ser ativo até o final de sua vida, dizendo que a sua condição de soropositivo o forçava a "comemorar a vida todas as manhãs".Morreu em 1997, já bastante debilitado pela AIDS. 132 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ajudar o consumidor a reconhecer e premiar as empresas-cidadãs, transformando o investimento social em ganho de mercado, criando assim uma Comunidade do Consumo Consciente. Hoje o Akatu conta com uma rede de 70 empresas filiadas, entre elas empresas de grande porte como Banco Real (Santander), C&A, Telefônica e Nestlé, entre outras. Para o empresário e presidente do instituto, Hélio Mattar, “[...] nossa proposta é um ciclo virtuoso formado por consumidores que apóiam empresas socialmente responsáveis e por empresas que, ao se sentirem valorizadas investem cada vez mais na transparência e ética das suas relações (AKATU, 2001). Quanto à pesquisa Atuação social das empresas - percepção do consumidor, realizada em conjunto pelo Indicador de Opinião Pública, Instituto Ethos e Jornal Valor Econômico, seus primeiros resultados já conseguem traçar um perfil de como está a atuação desse consumidor consciente. Foram consultadas 1.002 pessoas com idades entre 18 e 74 anos, entre março e agosto de 1999, em 9 regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Belém, Recife, Salvador e Fortaleza, além das cidades de Brasília e Goiânia. A conclusão mais importante a que se chegou é que 70% das pessoas atribuem, ainda, ao governo o exercício da responsabilidade social. Em contrapartida, 24% dos entrevistados prestigiam empresas socialmente responsáveis comprando seus produtos ou falando bem da empresa para outras pessoas; 31% confirmaram que levam em conta a imagem social da empresa antes de consumir e 19% dos entrevistados adotam, como forma de punição às organizações que não exercem sua responsabilidade social de forma satisfatória, a escolha por produtos do concorrente ou fazendo críticas sobre a empresa para outras pessoas. Com base na resposta dada pelos 31% (310 entrevistados) que disseram levar em conta a imagem social da empresa, pode-se admitir que já é um avanço significativo, devido a toda uma questão cultural e socioeconômica, pois seria demagogia exigir de um assalariado que mal consegue comprar uma cesta básica que ele tivesse uma postura seletiva diante do mercado consumidor. O brasileiro, infelizmente, nunca teve como valor intrínseco a punição a empresas, órgãos ou pessoas que não tivessem uma postura correta. Para constatar isso, basta ver os inúmeros casos de corrupção que povoam os noticiários e mesmo assim a população ainda se sente intimidada em exigir corrigendas. Outra justificativa para o comportamento dos entrevistados, de acordo com o pensamento de Melo Neto e Froes, é que: Temos uma cultura de avaliação benevolente, de não-reprovação e principalmente de impunidade de empresas socialmente irresponsáveis. As razões para tal comportamento brasileiro, ainda pouco ou nada seletivo e ainda muito tolerante com as empresas socialmente irresponsáveis, não-ética, é a baixa conscientização social do povo, a sua desinformação em relação ao papel das empresas no desenvolvimento do país (Melo Neto e Froes, 2001, p. 84). 133 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Encerrando esta análise sobre o poder do consumidor consciente, segundo o presidente do Akatu, Hélio Mattar "o consumidor tem o poder de optar entre uma ou outra empresa e este poder é fundamental para que ocorra a revolução do consumo, do cotidiano e do gesto individual" (AKATU, 2001). O que na verdade ainda falta ao consumidor é ter consciência desse poder de fogo que ele tem em suas mãos. A partir do momento que o preço deixar de ser um fator decisivo no momento de adquirir um determinado produto e este consumidor adotar uma postura de consumo levando em conta outros valores, com certeza muitas empresas serão definitivamente obrigadas a mudar sua atitude. E essas mudanças são um ciclo virtuoso que fatalmente atingirá fornecedores, parceiros e mão-de-obra. Afinal, de que adianta adquirir um produto de primeira linha, quando se sabe que na base da cadeia de produção houve o uso do trabalho infantil, ou que os funcionários são mal remunerados, ou que o fornecedor usa poluentes para produzir uma determinada matéria-prima. A idéia é que essa atuação responsável das empresas vai em breve se tornar um agente limite para a permanência ou não de uma empresa no mercado. Para o presidente do Instituto Ethos, Oded Grajew: É uma questão de vida ou morte. Hoje a responsabilidade social é vital para a sobrevivência de uma empresa e tem impacto direto sobre seus valores e condições de competitividade. Cada vez mais, os consumidores levam em conta o comprometimento das empresas com as comunidades em que estão inseridas.29. Outro fator determinante para ser uma Empresa-Cidadã é o uso da transparência nas relações com seus stakeholders, seja na forma de se relacionar pessoalmente, seja na maneira de lidar com as informações. Aliás, segundo os estudiosos, existem sete vetores da responsabilidade social de uma empresa, a saber: apoio ao desenvolvimento da comunidade onde atua; preservação do meio ambiente; investimento no bem-estar dos funcionários e seus dependentes e num ambiente de trabalho agradável; retorno aos acionistas; sinergia com os parceiros; comunicações transparentes e satisfação dos clientes e/ou consumidores. 29 Consulta realizada março de 2008, http:// www.institutoethos.org.br. 134 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 3.3 Uma economia comprometida com o social Filantropia ou obrigação? No Brasil, a preocupação das empresas em contribuir para o bem-estar da comunidade é incipiente. A sociedade moderna passou por um amplo processo de transformação. Participar da comunidade vai ser um fator diferencial para as empresas daqui para frente. Hoje, além da qualidade, prestação de serviços, preços compatíveis, marketing inteligente, etc, outros paradigmas como: qualidade total, preservação do meio ambiente e responsabilidade social, passam a ser uma nova forma de pensar as estratégias, os processos, as políticas de gestão das empresas. O reconhecimento dos empresários dos desajustes sociais deve ser analisado não como uma obrigação, uma lei, que deve ser cumprida, mas como um princípio humanitário de consideração e respeito aos valores da comunidade. A filantropia vem se transformando numa poderosa vantagem competitiva capitalista na expansão de mercados. É preciso que as pessoas vejam numa empresa não só sua eficiência econômica, mas o que ela pode fazer para amenizar essa perversa política de concentração de renda, e a consequente exclusão social. Há um inegável consenso nas corporações, pela tese de Milton Friedman, Nobel de Economia, segundo a qual "para as empresas existe uma responsabilidade social suprema, que é a de utilizar seus recursos e de prosseguir com as atividades destinadas a aumentar seus resultados...". Estima-se que a cada dia mais empresas se envolvam nessa filosofia de gestão empresarial, incorporando que não existe lucro descentes a menos que seja socialmente responsável. Até nos mais altos escalões do empresariado nacional, como a FIESP, centro maior na tomada de decisões e debates econômicos, há um reconhecimento e exigência na transformação social do país. E na questão social, defende que: ler responsabilidade social é incorporar valores éticos ao processo de decisões nos negócios, cumprir a legislação e respeitar as pessoas, as comunidades e o meio ambiente. A divulgação eficiente da empresa serve ao duplo propósito de beneficiar a própria empresa destacando-a aos olhos do consumidor e aumentando sua competitividade e de contribuir para a construção de uma sociedade melhor (FIESP/CIESP, 2000). Os consumidores estão mais seletivos. Entre uma empresa engajada e outra voltada para si própria, eles vão ficar com a primeira. “O consumidor de hoje faz questão de dar preferência para a empresa que [...] não polua o ambiente, que diminua a injustiça social e que trate de seus produtos e serviços com todo respeito” (Chinem, 2008, p.3). 135 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN O setor empresarial por ser o mais poderoso da sociedade deve interferir positivamente no processo de mudança social, agindo em outras linhas de conduta participativa; na busca de valores éticos e morais na elaboração de projetos e atividades que possam melhorar o dia a dia das comunidades. As empresas não podem ser visadas como sinônimos de lucros e exploração, mas também ter consciência de que a inserção social da empresa é prerrogativa cada vez mais necessária para sua sobrevivência. A autora Pilar Ortiz Garcia (2004) chama atenção de práticas empresariais que visam apenas o lucro e estão distantes de ser uma empresa comprometida com a responsabiliadade social corporativa, Actualmente el interés por la identificación de los procedimientos empresariales se ha ido abriendo desde una perspectiva operativa, orientada a los aspectos más instrumentales de la actuación empresarial,así como hacia una perspectiva ética. Las consecuencias no queridas de la globalización económica han puesto de manisfesto la necesidad de analizar determinadas prácticas empresariales que no responden a lo que se ha conocido como <<responsabilidad social corporativa>>, esto es, las consecuencias de la actuación empresarial en los ámbitos social, ambiental e laboral. La intención es llamar la atención especialmente respecto de la larga cadena productiva cuyo primer y último eslabón representan el sacrifício y el benefício. (Ortiz Garcia, 2004, p.33) Os desafios sócio-econômicos do mundo moderno estão cada vez mais complexos, exigindo do setor empresarial uma atuação que vai além de ajuda tradicional como as doações. A alocação de recursos oriundos de empresas para investimentos sociais representa a firmeza de propósitos e dimensão de compromisso com o sócio-ambiental. No dizer de Freitas (2000), as empresas querem crescer, gerar emprego e renda. Mas com a globalização e o tráfego de informações elas passaram a ver as questões sociais como um desafio de participação e compromisso com a comunidade. O fator social está se caracterizando como uma ferramenta de integração e alerta para com o próximo. A gravidade da situação requer lucidez e reflexão na determinação de medidas que possam vir a melhorar e dignificar o homem. Numa sociedade pluralista de organizações, se as instituições e principalmente as empresas não se preocuparem com o bem comum, ninguém mais poderá e nem irá se responsabilizar. Tanto os impactos sociais como as responsabilidades sociais precisam ser administradas. A mesma autora enfatiza que os problemas sociais, em contraste, são disfunções da sociedade e não impactos da organização. A conversão de mudanças em inovações no campo social são fontes de oportunidades de negócios. Mas a empresa só pode cumprir seu papel social, se antes desempenhar e fortalecer sua missão específica, alerta que o desempenho econômico das empresas é que pode impulsionar ações e medidas de combate às diferenças 136 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN sociais. Os ativos sociais devem ser resgatados não como protecionismo demagógico ou teoria assistencialista, pois não basta apenas viver, mas sim conviver e participar. Portanto, as atribuições sociais requerem da elite empresarial maior cooperação com o Estado e às organizações do terceiro segmento na prática do exercício filantrópico. Não adianta adotar paliativos rotineiros sem traduzir resultados convincentes e permanentes. Mas não é contrariando a lógica econômica das empresas que vão resolver os déficits sociais. A gama de serviços e atividades que podem ser praticadas pelas empresas é muito grande, entretanto, para exercê-las tem que haver cumplicidade e sintonia de objetivos entre as partes. O primeiro passo para iniciar essa cavalgada filantrópica é acreditar no que pode ser feito e fazer acontecer. Hoje, o mercado e a sociedade querem mais das empresas, além de empregos e impostos elas almejam investimentos sólidos na área social. Provavelmente, a prática de medidas estratégicas pelas empresas, derivará em resultados mais consistentes e eficientes do que os desperdícios das doações que não acrescentam nada nas soluções dos problemas sociais. O investimento no social é uma questão de sobrevivência das empresas, haja vista que não é viável aumentar a produção e a comercialização de produtos ou serviços sem que exista demanda de consumo. Os sobrantes e os excluídos sociais serão os maiores prejudicados com a globalização da economia e com as indefinições nas relações capital - trabalho que não são realizadas atualmente pelo mercado. Só com a afinidade de empresas e sociedade, o incremento de políticas estruturais e o aparecimento das ONGs é que se facilitarão benefícios aquém do que é possível e desejável. 3.4 Certificações sociais e balanço social Da mesma forma que a necessidade de oferecer serviços e produtos de qualidade levou o mercado a instituir normas certificadoras como as ISO 9000, 9001 e 9002, hoje já existem também outras certificações para o uso da Responsabilidade Social. São as normas SA 8000 e AA 1000. O objetivo é testar a Responsabilidade Social da empresa tanto interna como externamente, conferindo-lhe a condição de empresa-cidadã e demonstrando que seus produtos são socialmente corretos. 137 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN A primeira norma de certificação social, a Social Accountability 8000, SA 8000, foi criada em 1997 pela ONG americana The Council on Economic Priorities Accreditation Agenct CEPAA, e seu objetivo é assegurar que na cadeia produtiva de determinado produto não existam ocorrências anti-sociais como, por exemplo, uso de trabalho infantil, trabalho escravo ou qualquer tipo de discriminação (Denardin e Vinter, 2000). Continuam os mesmos autores que no ano de 1999, o Institute of Social and Ethical Accountability lançou a norma AA 1000. Com essa certificação, ampliou-se o alvo de avaliação social da empresa, e seu objetivo maior é monitorar as relações entre a empresa e a comunidade onde está inserida. Vale ressaltar que há pré-requisitos para se obter a certificação social, como a ISO 14000 e a BS 8800. A primeira é uma certificação ambiental, que somente é conferida para as empresas socialmente responsável na sua política de gestão ambiental, como explicam Melo Neto e Froes (1999, p. 150): [...] uma empresa que se destaca pela sua excelência na preservação ambiental, pela sua atuação como agente de fomento do desenvolvimento local e regional e pela inserção da questão ambiental como valor de sua gestão e compromisso. A norma inglesa BS 8800 refere-se à garantia das condições adequadas de segurança e saúde para os empregados. Na mesma linha de raciocínio os pesquisadores Denardin e Vinter (2000) lembram que a SA 8000 foi desenvolvida com base nos princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Convenção dos Direitos da ONU e dos diversos convênios da Organização Internacional do Trabalho – OIT. Seus principais indicadores de avaliação de desempenho social e de qualidade ética nas relações humanas são: não empregar trabalho infantil e não admitir fornecedores que o empreguem; acabar com qualquer discriminação de raça, sexo, religião, orientação política ou opção sexual nas contratações, promoções, acesso a treinamento, etc.; respeitar integralmente o direito de sindicalização e associação dos empregados e o direito à negociação coletiva; garantir igualdade de salários para homens e mulheres em mesmas posições. No Brasil ainda são poucas as empresas que obtiveram essas certificações, e é natural uma vez que elas precisam se adequar a uma série de exigências, além de ser algo novo, com algumas etapas difíceis de serem atingidas, sem contar que é uma ação voluntária da empresa. Já possuem selos das normas ISO 14000, AS 8000 ou BS 8800 empresas como a filial brasileira da 3M, o grupo mineiro Algar, a siderúrgica Belgo-Mineira, a empresa de cosméticos Avon, a paulista De Nadai e a Bahia Sul Celulose. 138 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN O processo de certificação social tem como objeto de avaliação três áreas distintas. Dizem Melo Neto e Froes (1999, p. 176): "o processo produtivo; as relações com a comunidade e as relações com os empregados e seus dependentes". No primeiro caso busca-se verificar se a empresa viola os direitos humanos ou desrespeita os direitos do trabalho, estendendo também essa avaliação aos fornecedores. No que concerne às relações com a comunidade, avaliam-se as ações sociais desenvolvidas com critérios diferenciados para as ações de voluntariado, de doação, de inserção na comunidade e, principalmente, de auxílio ao desenvolvimento social. No relacionamento com os empregados e dependentes, a avaliação é focada no gerenciamento dos benefícios e sua extensão para os dependentes dos empregados, a gestão do clima organizacional como motivação e participação, além da qualidade de vida no trabalho, e por qualidade de vida subentende-se relações interpessoais, atividades culturais, esportivas, sociais, assistência médica e social. Também é avaliado o uso de programas para aumento da empregabilidade dos funcionários como cursos profissionalizantes e de reciclagem, estágios, universidade corporativa, entre outros. Já que essas normas asseguram apenas algumas condições de ações socialmente responsáveis da empresa. Ainda é preciso assegurar outras questões como ética, relacionamento com clientes, fornecedores, acionistas, governo e comunidade. Não se pode acreditar que a saída seja criar inúmeras certificações o que poderia levar a algumas distorções sobre o assunto, sem contar com a dificuldade de sua implantação pelas empresas. De qualquer maneira, foi dado grande passo com a implantação das certificações sociais parciais, talvez só o amadurecimento das relações empresariais poderá tornar possível chegarmos à certificação social global. Outro grande avanço obtido junto ao empresariado tem sido o aumento gradativo da publicação pelas empresas do Balanço Social, uma atitude ainda não obrigatória, que conceituaremos a seguir. De acordo com Tinoco (2001), o Balanço Social é instrumento de gestão e informação que tem por objetivo mostrar, da forma mais transparente, informações econômicas e, principalmente sociais, relativas ao desempenho das entidades, para todos os seus usuários, inclusive seus funcionários. Já Betinho, diretor do IBASE, anos atrás afirmara que: "realizar o Balanço Social significa uma grande contribuição para a consolidação de uma sociedade verdadeiramente democrática" (Furtado, 2000, p. 13). Segundo Iudícibus, Martins e Gelbcke (2007, p.31) o objetivo do Balanço Social é demonstrar o resultado da interação da empresa com o meio em que está inserida. Existem 139 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN quatro vertentes, o Balanço Ambiental, o Balanço de Recursos Humanos, a Demonstração do Valor Adicionado e Benefícios e Contribuições à Sociedade em Geral. O Balanço Ambiental demonstra os investimentos em equipamentos e tecnologia voltados a recuperação ambiental, objetivando sua preservação e proteção. O Balanço de Recursos Humanos evidencia o perfil da força de trabalho, como a idade, o sexo, formação escolar, estado civil e tempo de trabalho na empresa, bem como a remuneração e benefícios concedidos aos funcionários como salário, auxílio alimentação, educação, saúde e transporte. Isso possibilita a confrontação desses dados com a produtividade de cada período. Neste Balanço também poderão ser discriminados os gastos realizados em benefício a sociedade como aqueles incorridos em centros de recreação, com hospitais ou escolas para a comunidade. A Demonstração do Valor Adicionado evidencia a contribuição da empresa para o desenvolvimento da região, ou seja, discrimina o que a empresa agrega de riqueza à economia local e a forma como distribui essa riqueza. O Balanço Social demonstra o grau de responsabilidade social assumido pela empresa e presta conta à sociedade sobre o uso do patrimônio público, que é constituído dos recursos naturais, humanos e o direito de conviver e utilizar os benefícios da sociedade onde atua. Balanço Social nada mais é que um mecanismo para tornar pública a responsabilidade social da empresa. Tudo teve início na Europa em plena década de 70 do século XX, principalmente em países como França, Alemanha e Inglaterra. Com a sociedade cobrando maior responsabilidade social das empresas, surgiu assim a necessidade de divulgação dos balanços ou relatórios sociais. Nesta época surgia em todo o mundo a multiplicação das reivindicações sociais sobre as empresas. Neste Segmento, os empresários entraram em alerta. Era o início do seu processo de conscientização para a necessidade de uma extensa atuação empresarial na busca de soluções para os problemas sociais (Freitas, 2000, p. 125). Em 1972, acontece na França o que pode ser chamado como um marco na história dos balanços sociais: a empresa Singer faz o primeiro Balanço Social da história das empresas. Em 12 de julho de 1977, ainda na França, é aprovada a lei 77.769 que tornava obrigatória a realização de balanços sociais periódicos para todas as empresas com mais de 700 funcionários. Posteriormente, esse número caiu para 300 funcionários. No Brasil a idéia de Balanço Social surgiu no início da década de 80 e teve no sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, seu grande defensor, que associava o Balanço Social à demonstração da responsabilidade pública e cidadã das empresas. Para tanto, Betinho fundou 140 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), uma pequena organização da sociedade civil. Através do selo criado pelo instituto, as empresas que têm essa preocupação social podem mostrar utilizando suas embalagens de produtos, balanço social e campanhas publicitárias que investem em educação, saúde, cultura e meio ambiente. O primeiro documento de Balanço Social foi realizado em 1984 pela empresa estatal Nitroférlil, com sede na Bahia. Desde essa época vem aumentando o número de empresas que estão divulgando de forma transparente suas ações sociais. Quando se fala em publicação de Balanço Social, naturalmente pode surgir a dúvida sobre qual "social" se está falando. Nesse caso, há duas correntes de gerenciamento social para a questão: o ambiente social envolvendo o relacionamento da empresa com seus empregados e famílias, e o ambiente social maior que compreende, além da relação empresa e empregados, a relação empresa e sociedade. A primeira corrente, de origem francesa, privilegia o bem-estar dos empregados e seus dependentes, bem como sua participação na gestão da empresa e satisfação no trabalho. A segunda corrente, de origem americana, e que prevalece como parâmetro para as publicações brasileiras, utiliza uma visão mais ampla. Ela defende uma abordagem mais abrangente, com o foco no apoio da empresa ao desenvolvimento da comunidade onde atua; à geração de emprego e renda; à preservação do meio ambiente; ao investimento em tecnologia, bem como o apoio ao desenvolvimento tecnológico (ambiente social externo). “Esta corrente também enfoca os aspectos do ambiente social interno (bem-estar dos empregados; capacitação; participação; saúde; assistência social, etc.)" (Freitas, 2000, p. 126). Por não ser um documento de publicação obrigatória, não existe, ainda, uma padronização de um modelo a ser seguido, e para facilitar a compilação dos dados o IBASE desenvolveu, em parceria com diversos representantes de empresas públicas e privadas, um modelo único e simples, adotado hoje por várias organizações. Mesmo não sendo obrigatório até hoje, em 1997 dez empresas publicaram o Balanço Social. Em 2000, esse número aumentou para 250 empresas mostrando claramente seus números sociais. Nesse universo, 100 organizações utilizaram como modelo os critérios adotados pelo IBASE, como, por exemplo, grupo Pão de Açúcar, Sebrae-CE, Calçados Azaléia, Embrapa e a Cosern, única empresa do estado do Rio Grande do Norte a publicar Balanço Social até a presente data (FIDES, 2004). Segundo a Comissão de Valores Mobiliários – CVM (2002), o Balanço Social possibilita que a sociedade tenha conhecimento dessas ações empresariais. Esse conhecimento é divulgado através de um conjunto de informações relevantes, normalmente agrupadas em 141 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN indicadores que evidenciam, dentre outros, os gastos e investimentos feitos em beneficio dos empregados e em benefício da comunidade. De uma forma mais abrangente o Balanço Social acrescenta ainda informações sobre o meio ambiente e sobre a formação e distribuição da riqueza gerada pelas empresas. Analisado juntamente com as demonstrações financeiras tradicionais constitui-se no instrumento mais eficaz e completo de divulgação e avaliação das atividades empresariais. A posição da CVM, quanto ao Balanço Social, foi aludida em dois Pareceres de Orientação CVM, o de n°15/87 e o de n° 24/92, que tratam do Relatório da Administração e da divulgação da Demonstração do Valor Adicionado. A CVM integrou-se a iniciativa do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – IBASE, que busca incentivar a divulgação do Balanço Social. De acordo com o Rodrigues (2001, p. 25): São diversos institutos, associações e Fundações com atividades direcionadas para a prática de estudos e pesquisas, realização de eventos e o desenvolvimento de ações que promovam a ética no ambiente de negócios. No Brasil, se destaca o Instituto Ethos e o CENE – Centro de Estudos em Ética nas Organizações, da Fundação Getúlio Vargas, ambos em São Paulo. Outras organizações internacionais: ALENE – Associação Latino-Americana de Ética, Negócios e Economia (Brasil); BSR – Business For Social Responsability (Organização norte americana); ISBEE – International Society of Business, Economics and Ethics (USA); IBEI – International Business Ethics Institute (Londres – Inglaterra); EBEN – European Business Ethics Network (Holanda); ÉTNOR – Fundación para la Ética de Los Negócios y de las Organizaciones (Espanha); BEM-AFRICA – The Business Ethics Network of África (África). A responsabilidade social é um assunto muito discutido, segundo Pinto e Ribeiro (2004, p.24), “a empresa como agente econômico tem como missão produzir bens (produtos e serviços) e, conseqüentemente, gerar riqueza. Além de agente econômico, é também um agente social (geração de bem estar social)”, assim tem o dever de prestar contas a sociedade. Segundo Wright, Kroll e Parnell apud Rodrigues (2001, p.27) a responsabilidade social visa não só os próprios interesses na atuação da empresa, mas também os interesses públicos. De acordo com estes autores: “[...] a sociedade espera que as empresas ajudem a preservar o ambiente, vendam produtos seguros, tratem seus funcionários com igualdade, sejam verdadeiros com seus clientes e cheguem até mais longe [...] ajudando a revitalizar áreas urbanas onde há concentrações de favelas”. De acordo com Raupp (2001, p.148) o Balanço Ambiental tem por objetivo principal tornar pública toda e qualquer atitude das entidades, com ou sem finalidade lucrativa, mensurável em moeda, que a qualquer tempo possa influenciar ou vir a influenciar o meio 142 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ambiente, verificando que custos, passivos ou ativos ambientais sejam reconhecidos a partir de sua identificação em acordo com os princípios fundamentais de contabilidade. a) Os custos ambientais serão reconhecidos, independentemente de desembolso, (Princípio Contábil da Competência) e imediatamente incorporados ao bem e/ou serviço que vise única e exclusivamente à preservação do meio ambiente, no momento de sua ocorrência, sendo que sua classificação contábil se dará no ativo permanente imobilizado ambiental ou ativo permanente diferido ambiental, desde que tais custos e/ou serviços aumentem a vida útil do bem incorporador por prazo superior a 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias. b) Os ativos ambientais, todos decorrentes de investimentos na área do meio ambiente, deverão ser classificados em títulos contábeis específicos, identificando de forma adequada, os estoques ambientais, o ativo permanente imobilizado ambiental e o diferido ambiental. c) Os passivos ambientais, todos relacionados a financiamento específicos, contingências vinculadas ao meio ambiente, desde que claramente definidas, deverão ser classificados no passivo circulante ou realizável a longo prazo, em contas contábeis específicas. (Resolução 750-93 do Conselho Federal de Contabilidade – CFC) O envolvimento da empresa com os problemas sociais locais, com o objetivo de contribuir, ou de alguma maneira, trazer benefícios a comunidade local, inclusive aos seus próprios funcionários, leva-as a conquistarem espaço, reconhecimento e respeito, segundo os novos padrões culturais que exigem uma efetiva responsabilidade social na atuação empresarial. Essa visão da organização como entidade ética e socialmente responsável, faz com que as organizações passem a se envolver mais com os problemas sociais da comunidade, por meio de participação em campanhas beneficentes, programas proteção ambiental, contribuição a programas assistenciais e culturais, programas de saúde, alimentação e educação para os funcionários e seus dependentes (Rodrigues, 2001, p. 26) Perottoni (2001, p.110-111) elaborou uma relação de indicadores que segundo ele atenderiam as necessidades de todos os usuários, neste demonstrativo além das informações contábeis como Receita Líquida, Lucro Operacional, total da Folha de Pagamento e valor pago a Prestadores de Serviços (terceiros), teria-se informações individualizada de diversos indicadores. Estes indicadores seriam agrupados em Indicadores Laborais, Indicadores Sociais e Indicadores do Corpo Funcional. Segundo o autor os Indicadores Laborais iriam demonstrar os investimentos da empresa em sua força de trabalho e seus dependentes em: alimentação, transporte, remuneração, encargos sociais compulsórios, previdência privada, saúde, educação, participação dos lucros, treinamento e capacitação segurança no trabalho e outros benefícios. 143 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Os Indicadores Sociais considerariam os investimentos da empresa na sociedade e no meio ambiente em: educação, cultura, saúde, esporte e lazer, meio ambiente e outros investimentos. Os Indicadores de Corpo Funcional apresentariam informações quantitativas e qualitativas da força de trabalho da empresa como: número de empregados no início e no fim do período, número de empregados portadores de deficiência, número de acidentes de trabalho, nível de escolaridade e outras informações. A análise destes indicadores demonstraria quais as políticas adotadas pelas empresas, quais os seus objetivos, qual a cultura organizacional das mesmas e também o grau de comprometimento delas com a coletividade. Outro relatório importante relacionado ao Balanço Social é o Demonstrativo do Valor Adicionado – DVA, que apresenta de uma maneira sucinta a riqueza criada pela empresa em contrapartida aos gastos despedidos e a maneira como foram distribuídos. De acordo com David (2001, p.164) a DVA surgiu na França e na Alemanha e é uma técnica contábil semelhante a Demonstração das Origens e Aplicação de Recursos – DOAR. Contudo, ao contrário da DOAR, que procura determinar a parcela de lucro que cabe a empresa e aos seus acionistas, a DVA demonstra o total da riqueza criada e a forma como esta riqueza é distribuída. Nesta distribuição deve-se evidenciar o montante destinado a própria empresa, ao corpo funcional, ao governo e a comunidade em geral. É importante destacar, em relação a DVA, conforme descrito por Pinto e Ribeiro (2004), que esta demonstração não contradiz a tradicional Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), na verdade apenas é uma nova visão em termos de elaboração de demonstrativo, pois a DRE é voltada para o diretor ou o acionista, que deseja conhecer o resultado líquido, enquanto a DVA mostra a forma como os valores gerados pela empresa são distribuídos. Segundo Kroetz (2000, p. 42), por meio da DVA “é possível perceber a contribuição econômica da entidade para cada segmento com que ela se relaciona. Constitui-se no Produto Interno Bruto (PIB) produzido pela organização”, servindo como um instrumento de avaliação da gestão econômica e financeira das empresas, o qual pode ser utilizado, conforme Neves & Viceconti (1998, p. 261), “como informação adicional nos relatórios de Administração ou como Nota Explicativa às Demonstrações Financeiras”. 144 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 4 Responsabilidade civil empresarial por danos ambientais 4.1 Histórico da responsabilidade civil É evidente que o Direito não pode estar dissociado da evolução pela qual a sociedade passa em todos os momentos da vida social. A busca pela justiça sempre esteve presente nas relações humanas. Sendo o homem um ser político e social, a regulamentação de normas de convivência, a fim de assegurar o respeito recíproco e tornar a vida mais harmoniosa, constitui-se uma condição essencial para a manutenção da forma de organização social (Mancuso, 2003). Em suma, o Direito apresenta-se como um reflexo das ansiedades humanas a fim de, em conformidade com a realidade social, alcançar soluções mais próximas da justiça, da segurança e da ordem. Vários institutos foram criados para a consecução da justiça no meio social. E nesse contexto, a responsabilidade civil funcionou e tem funcionado até hoje como um meio de trazer o equilíbrio rompido com a ocasião do dano. Estudos dão conta de que não é tarefa considerada fácil, precisar o histórico da responsabilidade civil. Todavia, sabe-se que nos primórdios da humanidade não se cogitava o fator culpa. O dano causava uma reação imediata, instintiva e brutal do ofendido. Este período ficou conhecido como a era da vingança privada. Mais adiante ocorreu uma espécie de substituição da vingança privada pela vingança coletiva, que era uma forma de punir o agressor pela ofensa causada a um dos membros de grupo. A ofensa passava, agora, a incomodar todos os membros da comunidade. O conhecido Código de Hamurabi, considerado o mais antigo código que se conhece, estabelecia várias disposições reparatórias do dano ou prejuízo causado pelo agente do fato. Há quem sustente, por exemplo, que este instrumento jurídico previa a reparação em dinheiro em vários casos quando a conduta omissiva ou comissiva do agente provinha de dolo ou culpa. Em Roma, por volta do ano de 499 a.C. com a instituição da Lei das XII Tábuas, foi incorporado ao direito romano como regra jurídica o talião. 145 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN A Lei estabelecia quando e em que condição tinha a vítima o direito de retaliação, impondo ao lesante um dano idêntico ao sofrido pelo lesado. Resumia-se, assim, na retribuição do mal pelo mal. Todavia, essa manifestação provocava uma verdadeira selvageria comum a todos os povos da época, fundamentados na fórmula "olho por olho, dente por dente", "quem com ferro fere, com ferro será ferido". Ao invés da existência de dois lesados devido à aplicação da regra de talião, optava-se agora por uma composição entre o autor da ofensa e o prejudicado. Adotava-se um sistema de satisfação pecuniária. O Direito, que acompanhava a evolução social, transformou o uso em regra jurídica, e vedou à vítima fazer justiça com as próprias mãos. Entretanto, esta regra não foi amplamente utilizada porque não existia critério tarifário para todos os tipos de dano. Na Idade Média houve uma recepção dos princípios do Direito Romano, apesar da pluralidade legislativa existente devido ao convívio entre povos conquistados e povos conquistadores. Na Idade Moderna foram poucos os avanços em matéria de responsabilidade por fato de terceiros, prevalecendo às concepções do direito romano baseados na dicotomia da responsabilidade contratual, em virtude de inadimplemento ou prática de um ilícito. Somente quando a ação repressiva passou para as mãos do estado é que surgiu a ação de indenização, e a responsabilidade civil tomou assento ao lado da responsabilidade penal. Foi com a Lei de Aquília que se esboçou o princípio peral regulador da reparação do dano, com bases mais lógicas e racionais. A partir dela passou-se a distinguir responsabilidade contratual de extracontratual (Machado, 2002). A reparação ficava subordinada à capacidade do patrimônio do lesante e passou-se a atribuir o dano à conduta culposa do agente. Com isso, se o agente procedesse sem culpa, estaria isento de qualquer responsabilidade. Aos poucos as sanções dessa Lei de Aquília foram sendo aplicadas aos danos causados por omissão ou verificados sem o estrago físico e material da coisa. A evolução chegou a um patamar tão elevado que passou a contemplar não só os danos patrimoniais como os danos morais. Com a Idade Contemporânea e o advento do Código Civil Francês, que influenciou a legislação de todo o mundo, enraizou-se com mais profundidade o princípio da responsabilidade civil baseado na culpa. 146 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Depois desses períodos, o princípio da responsabilidade civil continuou a evoluir, baseando-se no dever de reparar não só na culpa como no risco ou na objetividade do dano. Apesar de todo o embate doutrinário a respeito desta nova feição da responsabilidade civil, devido ao questionamento se a responsabilidade civil objetiva iria ou não substituir a responsabilidade subjetiva, o direito mais uma vez não deixou de acompanhar a evolução social. Vários ordenamentos passaram a utilizar este instituto, como forma de instrumento subsidiário ao princípio da responsabilidade objetiva. No caso do direito brasileiro, mesmo que tenhamos elegido um tópico específico para tecer algumas considerações, realçamos desde já, que um dos mais recentes artigos a respeito da responsabilidade civil objetiva está previsto no capuz do art. 927 do Novo Código Civil Brasileiro, que entrou em vigor dia 10 de janeiro de 2003. Esta inserção do instituto da responsabilidade civil objetiva reflete a tendência contemporânea de que ambos os institutos podem e devem ser utilizados a depender de cada caso concreto (Wald, 1994). 4.2 Responsabilidade civil Não há na doutrina um consenso quando tentam enunciar a responsabilidade civil. Alguns incidem em conceituar responsabilidade com o mesmo vocábulo a ser definido, concluindo que "responsabilidade" consiste em "responder". Outros estabelecem na conceituação de responsabilidade o dever de reparar, praticado pelo agente do fato culposo. Há ainda aqueles que preferem nem conceituar o tema. Em decorrência da falta de consenso entre os doutrinadores para conceituar o instituto, várias serão as acepções possíveis para ele. No sentido amplo do termo é possível compreender responsabilidade como sendo a conseqüência decorrente do não cumprimento de uma obrigação. No instante em que alguém se obriga perante outrem a uma conduta, positiva ou negativa, e não cumpre, arcará com as implicações decurrentes detalato (Mukai, 2002). Conforme o fundamento que se dê à responsabilidade, a culpa será ou não requisito para obrigar a reparar o dano. Segundo a teoria clássica, a responsabilidade civil se assenta em três pressupostos: o dano, a culpa do autor, e a relação de causalidade entre o fato culposo e o dano. Em face desta teoria, a culpa e o ato ilícito constituem os elementos fundamentais para a caracterização da responsabilidade civil. 147 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Na responsabilidade fundada na culpa, a vítima tem que provar não só a existência do nexo entre o dano e a atividade danosa, mas também e especialmente a culpa do agente, abrangendo o dolo (conhecimento do mal e direta intenção de praticá-lo) e a culpa stricto sensu (violação de um dever que o agente podia conhecer e acatar)'. Neste tipo de responsabilidade a mais ligeira culpa produz obrigação de indenizar. Tradicionalmente a culpa pode ser dividida em contratual e extracontratual ou aquiliana. A culpa contratual é a violação de um dever inerente a um contrato. A sua origem, portanto, é a inobservância de uma regra estabelecida pela própria vontade das partes. É o caso do mandatário que deixa de aplicar sua diligência habitual na execução de um mandato. A culpa extracontratual ou aquiliana é a resultante de um dever fundado num princípio geral de direito. É a inobservância de um dever legal preexistente a qualquer ato privado, a qualquer manifestação de vontade das partes diretamente envolvidas. Exemplo disso é o respeito que uma pessoa deve ter em relação à outra e seus bens. Como o agente que, embriagado, provoca um atropelamento com seu carro, e fica na obrigação de reparar os danos causados ao atropelado. Outra forma de distinção da culpa difundida pela doutrina encontra-se na difusão da culpa in eligendo e culpa in vigilando. O primeiro tipo ocorre quando há má escolha do representante ou do preposto. O segundo se caracteriza quando ocorre uma ausência de fiscalização por parte do responsável pela atividade, quer no que se refere aos cuidados com os empregados como o descuido deste com a própria coisa. 4.3 Responsabilidade civil por danos ambientais Sustenta-se que a ação degradadora do homem sobre a natureza, agravado no século passado devido ao crescimento populacional e o avanço tecnológico e científico, aliado à busca incondicional pelo lucro, tem ocasionado no estado moderno a necessidade de proteger e preservar o meio ambiente sob pena de comprometer o livre desenvolvimento das gerações futuras, no que pese as condições satisfatórias de alimentação, saúde e bem-estar. Desta forma, a tarefa do Direito Ambiental (Anexo-F) é funcionar como um instrumento à disposição do estado e da coletividade para regular as relações entre os sistemas sociais e os contornos naturais. A utilização da responsabilidade civil acaba por contribuir tanto na reparação como na prevenção do dano ambiental. E constitui um dos institutos mais próximos da defesa dos danos causados aos bens ambientais. 148 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Isto porque no momento em que o Estado exerce seu papel na punição correta do poluidor acaba por ocasionar um estímulo negativo contra a prática de agressões ao meio ambiente. Não se aprecia subjetivamente a conduta do poluidor, mas a ocorrência do resultado prejudicial ao homem e seu ambiente. Considerando que o dano causado à qualidade de vida da coletividade por alguma atividade consiste na apropriação indevida por particular de um bem que a todos pertence e que a todos cabe preservar, permite-se a conclusão de que a exigência da comprovação de culpa para fins de indenização poderia remeter à coletividade o ônus de arcar com os prejuízos advindos de atividade desenvolvida por terceiro em proveito próprio. O que fez o legislador foi impor aos que desenvolvem atividade potencialmente poluidora o ônus de reparar os danos causados, restabelecendo, na medida do possível, o equilíbrio ambiental afetado. Neste contexto, é dito que tanto o estado quanto o particular, podem ser responsabilizados civilmente por eventualmente causarem dano ao meio ambiente, seja este dano, como já sustentado, omissivo ou comissivo. A responsabilidade civil do Estado engloba as linhas de crédito para as empresas ecologicamente corretas, os incentivos fiscais ou de mercado, a divulgação de informações, a assistência técnica, entre outras atividades, como forma de compartilhar entre as empresas os custos ambientais. A responsabilidade do Estado pode ser solidária ou até mesmo por omissão, quando do não cumprimento de uma disposição legal ou da omissão de suas atribuições decorrentes de seu poder de polícia. Na seara ambiental, é de grande importância a discussão a respeito da omissão estatal, porque o Estado além de ser um dos encarregados constitucionalmente pela defesa do meio ambiente, tem como tarefa precípua vigiar e fiscalizar as ações, estatais e de particulares, perigosas para o meio ambiente. Considerando que aquele que contribui de qualquer forma para o dano fica obrigado a responder pelas conseqüências do seu inadimplemento, o Estado, nesta comparação, conclui-se que é co-responsável civilmente. Outra questão que suscita discussões na esfera da responsabilidade objetiva por danos ambientais se refere à responsabilidade solidária, que vigora entre os causadores do dano ambiental. As empresas co-responsáveis pela ocasião do dano são assim ligadas devido à difícil e complexa tarefa de estabelecer quem realmente contribuiu para o resultado, dividindo entre elas sua cota de responsabilidade que dependerá da prova pericial. 149 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN De toda sorte, o pagamento de indenização não exclui a possibilidade destas empresas responsáveis, por meio de processo autônomo, distribuir entre as empresas poluidoras o quinhão da responsabilidade. A responsabilidade nuclear é outra vertente da responsabilidade civil por danos ambientais. Tendo em vista que as atividades nucleares implicam num risco exacerbado, a Carta Magna elencou ser competência material exclusiva da União a exploração de serviços e instalações nucleares de qualquer natureza, bem como monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o processamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados. No art. 21 inciso XXIII, a Constituição Federal estabeleceu que a Política Nacional Nuclear só poderia ser realizada mediante a observância de três requisitos: a utilização da atividade, em território nacional, para fins pacíficos e mediante a aprovação do Congresso Nacional; utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos medicinais, agrícolas, industriais e atividades análogas, para particulares; e responsabilidade objetiva por danos nucleares. Devido a uma função econômica, medicinal e agrícola desempenhada pela atividade nuclear, e dos riscos que toda essa atividade representa, o legislador constituinte atribuiu também competência privativa legislativa da União para legislar sobre atividades nucleares de qualquer natureza, como assim dispõe o art. 22, inciso XXVI. Em síntese, entendemos que a responsabilidade civil por danos ambientais não busca nada mais do que tentar restabelecer a ordem, a justiça e a segurança. Podemos afirmar que se aplica costumeiramente a teoria do risco integral, onde a obrigação de indenizar independe do elemento subjetivo do agente, pois este deve assumir todos os riscos inerentes à sua atividade. Dessa forma, não importa se o dano foi causado por forças da natureza, falhas humanas ou obra do acaso. Um dano ambiental não pode esperar até a concretude de um processo para ser restabelecido. O processo de restituição deve ser feito o mais rápido e da melhor forma possíveis. Com um corpo sistemático de normas, encabeçadas pelo texto de maior força normativa, a Constituição Federal, aos poucos o Estado e a coletividade vêm criando uma consciência ecológica, uma concepção de um meio ambiente ecológicamente equilibrado, saindo do campo da teoria para o campo da prática, efetivado pelo poder de polícia do Estado. O poder de polícia, neste contexto, torna-se um dos principais instrumentos à disposição do Estado para a defesa do meio ambiente. Sua tarefa consiste na delimitação de contornos jurídicos para os diferentes direitos e garantias individuais, tentando intermediar e 150 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN equilibrar o direito com o direito a preservar um bem que é particular, mas que possui um valor ambiental e, portanto, coletivo. Todas estas considerações levam à conclusão de que, apesar de todas as dificuldades encontradas para a caracterização do dano, do nexo de causalidade e do estabelecimento de indenizações mais próximas da justiça, a responsabilidade civil por danos ambientais constitui um instrumento apto para a aplicação da justiça corretiva em prol da coletividade, que não obstante as dificuldades visíveis, sobretudo pela arcaica legislação processual do país, deve se sobrepor na busca pelas soluções mais imediatas. 4.4 Direito ambiental brasileiro O tratamento dado à responsabilidade civil ambiental advém, por certo, da natureza do bem tutelado. O meio ambiente deve ser protegido, visando à garantia da qualidade de vida, que se traduz na segurança, saúde, igualdade, dignidade da pessoa humana e bem estar social. Considerando-se os recursos ambientais como bens indivisíveis, que devem ser acessíveis a todos, importa que, o seu dano irreversível, contribui na inviabilidade do exercício dos direitos constitucionalmente garantidos. Por isso que, para garantir plenas condições para o desenvolvimento intelectual e físico, passou-se a atribuir aos bens ambientais a qualidade de bem difuso. Foi a partir do século XX, devido às grandes mudanças sociais, principalmente no que se referem à degradação do bem ambiental, que os bens de natureza difusa passaram a ser objeto de maior preocupação dos economistas, ambientalistas e juristas. De uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, os bens difusos não se confundem nem com os bens públicos nem com os bens privados. A Constituição Federal de 1988 reconheceu ao bem ambiental características próprias, que se apresentam desvinculadas da idéia de posse e propriedade, e transcende, sobretudo, a idéia de nação. A Carta Magna dispõe, em seu artigo 225, caput, fundamentos básicos para a compreensão deste instituto: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 151 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Estava assim consagrado: o bem ambiental era um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Trata-se não apenas do direito à vida, mas do direito à vida plena. Não apenas nascer e viver, mas viver em plenitude com os seus semelhantes e o meio que o circunda. Os bens ambientalmente relevantes podem fazer parte do patrimônio de um indivíduo ou a um ente estatal, mas, todavia, isto não significa que seus posseiros possam utilizá-los de forma ecologicamente irresponsável. É permitida a utilização desde que compatível com a proteção ecológica e compatível com os limites constitucionais. A condição de uso não permite ao usuário o direito de dispor ou transacionar o bem ambiental. Tal entendimento leva a entender que não existe a tradicional divisão entre bem público e bem privado no que se refere ao tratamento dado ao bem ambiental. Todos estes bens reunidos compõem o patrimônio ambiental, que pode estar difundido no meio ambiente natural, artificial, cultural ou do trabalho. Com razão, é por isso que o Direito Ambiental e o Estado estabeleceram medidas preventivas e repressivas para a proteção do meio ambiente. Dando maior atenção à prevenção ambiental. As dificuldades encontradas para a caracterização do dano e do nexo de causalidade fizeram com que, em matéria ambiental, a preocupação maior fosse os efeitos da atividade danosa e não a mensuração da culpa do agente. No campo da responsabilidade civil, passava-se agora a aceitar a idéia de risco, de solidariedade, de flexibilização da exigência do nexo causai e, principalmente, da inversão do ônus da prova. Todas estas mudanças contribuíram em muito para a defesa do meio ambiente e, conseqüentemente, dos seus titulares. 4.4.1 Previsão Constitucional Ainda sobre a Constituição Federal de 1988, entendo que destaque se deu pelo fato de ter sido no Brasil a primeira constituição a dedicar um capítulo inteiro à tutela do meio ambiente, tomado este, em seu artigo 225, caput, acima citado, como bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se, tanto ao Poder Público como à coletividade, o dever de preservá-lo e defendê-lo, para as presentes e futuras gerações. Situada no ápice do sistema normativo, é nela que serão buscados os princípios que darão coerência ao sistema jurídico ambiental. 152 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN No §3º deste mesmo artigo, dispõe a Carta Magna sobre a sanção aplicada tanto a pessoas jurídica quanto à pessoa física, decorrente de atividade ou conduta lesiva ao meio ambiente, reparar os danos ocasionados. No artigo 21 inciso XXIII, o legislador constituinte tratou de enquadrar, nitidamente, a responsabilidade civil objetiva no que concerne aos danos nucleares cometidos pela União, entidade federal competente para a exploração dos serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercício do monopólio estatal sobre a pesquisa, lavra, enriquecimento e reprocessamento, industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, como citado anteriormente. O artigo 37 § 6º do diploma constitucional estende a responsabilidade objetiva a todos os danos causados pelo agente das pessoas jurídicas de direito público e das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos, a que se aplica, naturalmente, à matéria ambiental, vinculando dos agentes do Poder Público que causem danos ao meio ambiente. De maneira expressa, no que tange à responsabilidade civil, dispôs o texto constitucional nos parágrafos 2º e 3º do art. 225, verbis: § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Destacamos, ainda, como exemplo, os seguintes princípios constitucionais sobre a matéria: 4.4.1.1 Princípio do poluidor-pagador O princípio do poluidor-pagador, previsto no art. 225 § 3º, consiste na obrigatoriedade da pessoa, física ou jurídica, sujeitar-se às sanções penais, administrativas ou civis, quando da prática de conduta ou atividade lesiva ao meio ambiente. Este princípio traz em si duas vertentes: o caráter preventivo e o caráter repressivo. O caráter preventivo acontece quando se impõe ao poluidor o dever de utilizar instrumentos que visem à prevenção dos danos que porventura sua atividade possa ocasionar. 153 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN O caráter repressivo se expressa quando o poluidor se responsabiliza pelos danos ocasionados por ele. Cabe ao poluidor, dessa forma, arcar com os custos que sejam necessários para eliminar ou reduzir os efeitos dos danos causados até o limite da suportabilidade do ser humano, para assegurar uma sadia qualidade de vida. É justamente na ordem repressiva que passa a atuar a responsabilidade civil por danos ambientais e todas as suas feições como a objetividade, a prioridade da reparação in natura ou em dinheiro e a solidariedade para suportar os danos causados (Benjamin, 1993). 4.4.1.2 Princípio da compensação Este princípio não está expressamente previsto na legislação, mas existe em virtude da necessidade de se encontrar uma forma de reparação do dano ambiental, principalmente quando irreversível. O ressarcimento do dano ambiental pode ser feito de duas formas: in natura ou através de uma indenização em dinheiro. Na maioria das vezes decide-se optar pela primeira forma de reparação, haja vista, os 23 afetados com o dano ambiental serem, na maioria das vezes, indeterminados e indetermináveis para efeitos de reparação direta. Não obstante, muitos danos ecológicos são por vezes irreparáveis. Neste caso, o causador do dano irreversível poderá fazer uma compensação com uma ação ambiental. Podemos citar como exemplo, a existência de um aterro irreversível de uma lagoa onde há vida selvagem, que pode ser compensado com medidas de proteção efetiva em um lugar similar, ou mesmo com a restauração de uma outra lagoa próxima. O art 8°, da Lei 6.938/81, diz que compete ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), entre outras coisas, homologar acordos visando à transformação de penalidades pecuniárias na obrigação de executar medidas de interesse para a proteção ambiental. Estando aí a previsão legal da possibilidade de se compensar o prejuízo com uma ação ambiental. Convém ainda ressaltar, o surgimento da Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347, de 24.7.85) que tutela os valores ambientais, disciplinando a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. 154 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 4.4.2 Previsão infraconstitucional Apesar de na atualidade a doutrina subjetiva ser a "doutrina legal brasileira", o novo código civil – Lei n° 10.406 de 10 de Janeiro de 2002 – assevera no titulo IX referente à responsabilidade civil objetiva: Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos específicos em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Antes mesmo da previsão constitucional, mais depois recepcionado por ela, a Lei n° 6.938 de 31 de agosto de 1981, Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, teve muitas virtudes no campo da responsabilidade civil: consagrou a responsabilidade objetiva do causador do dano e passou a proteger não só os interesses individuais como também os supraindividuais (interesses difusos). O art. 14 deste dispositivo legal dispõe: Art. 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não-cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: I - à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no mínimo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional ORTNs, agravada em casos de reincidência específica, conforme dispuser o regulamento, vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios; II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público; III - à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; IV - à suspensão de sua atividade. § 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente. § 2º No caso de omissão da autoridade estadual ou municipal, caberá ao Secretário do Meio Ambiente a aplicação das penalidades pecuniárias previstas neste artigo. § 3º Nos casos previstos nos incisos II e III deste artigo, o ato declaratório da perda, restrição ou suspensão será atribuição da autoridade administrativa ou financeira que concedeu os benefícios, incentivos ou financiamento, cumprindo resolução do CONAMA. 155 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Pois bem, mesmo que reconheçamos a existência de um já considerável acervo legislativo referente aos assuntos atinentes ao meio ambiente, entendemos que o direto ambiental, é ainda é ramo novo do Direito, de modo que muitas são as discussões acerca de sua aplicação. É bem verdade que as normas jurídicas em matéria de meio ambiente, notadamente no que tange à responsabilidade pelo dano ambiental, tem pouco mais de duas décadas, considerando, por exemplo, a Lei Federal n° 6938/81, que trata da Política Nacional de Meio Ambiente, como o marco inicial para fins de responsabilização pelo dano ecológico. Se formos verificar o tratamento constitucional da questão ambiental, a situação é ainda mais recente, posto que somente na Constituição Federal de 1988 é que a questão foi alçada ao plano máximo de nossa legislação, apontando-se o meio ambiente ecologicamente equilibrado como bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida desta e das futuras gerações. Este atributo de novidade do ramo jurídico ambiental gera, ainda, inúmeras dúvidas, questionamentos, discussões acirradas e calorosas, tanto na doutrina, quanto na jurisprudência. E, diante deste quadro, uma única certeza se pode vislumbrar: estamos distantes de uma solução definitiva. Talvez nem mesmo alcancemos num curto espaço de tempo ou em qualquer tempo. Reiterando, ainda mais numa época como a que vivemos, em que o avanço tecnológico acontece de forma exponencial, ou seja, a cada período de cinco ou dez anos se tem mais evolução do que aquela que obtivemos nos últimos cinqüenta ou cem anos. Esta velocidade com que as coisas acontecem é capaz de mudar rumos, paradigmas, opiniões e até mesmo legislações inteiras a respeito de determinado assunto. 4.4.3 Formas de reparação do dano ambiental A Constituição Federal, em seu art. 225, § 2º, assim determina: "Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei." O § 3° acrescenta: "As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar o dano." 156 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Sustentamos que o escopo da reparação, deveria ser a busca à recomposição daquilo que foi destruído, isso evidentemente quando possível, impondo um custo ao agressor do meio ambiente. Há quem sustente que a reparação não visa apenas reparar a agressão à natureza, mas também a privação, imposta à coletividade, do equilíbrio ecológico, do bem-estar e da qualidade de vida que aquele recurso ambiental proporciona, em conjunto com os demais. Considerando a legislação vigente a respeito do assunto, podemos observar que, tanto a Constituição Federal, que emprega os termos "restaurar" e "reparar", como a legislação infraconstitucional, que utiliza termos como "restauração" e "reconstituição", estão em harmonia no sentido de indicar um caminho para as pessoas físicas e jurídicas que danificarem o meio ambiente, como para a Administração Pública e para os juízes que intervierem para proteger o meio ambiente. Com efeito, podemos afirmar que basicamente existem duas formas consideradas principais de reparação do dano ambiental, quais sejam: a recuperação natural ou o retorno ao status quo ante, modalidade que consideramos a ideal, e a indenização em dinheiro, forma indireta de reparar a lesão. Nos casos em que a restauração ecológica é inadequada ou inviável, a legislação ambiental prevê a compensação ecológica. Esta é de discussão na Convenção da Mudança Climática de Kyoto, que prevê o mecanismo de seqüestro de carbono como alternativa para amenizar os efeitos negativos decorrentes da poluição. A compensação ecológica pode ser definida como a substituição do bem lesado por um bem equivalente, desde que o patrimônio natural permaneça inalterado qualitativamente e quantitativamente. Assim, dois pressupostos estão vinculados à compensação ecológica: primeiro, o dano ambiental deve ser irreparável e segundo, as medidas compensatórias devem guardar relação com o bem degradado. Ressalta-se que, a compensação ecológica pode ser jurisdicional ou extrajudicial, preestabelecida e fundos autônomos. O valor econômico obtido por meio da compensação deve ser aplicado prioritariamente no local afetado, a fim de beneficiar tanto o meio ambiente quanto à comunidade atingida pelo dano ecológico. À guisa de exemplo, o navio petroleiro americano Exxon Valdez encalhou num recife em Prince William Sound, no Alasca, à noite, em 24 de março de 1989. A mancha de óleo cobriu 1.770 km do litoral do Alasca, inclusive várias ilhas ao sul. Grande parte da fauna marítima e pássaros litorâneos foram mortos pelo vazamento de cerca de 38.000 toneladas de óleo (Dias, 2001). 157 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Assim, a solução judicial foi um acordo (penal, civil e a restituição por danos materiais) entre o estado Alasca, o governo federal americano e a Exxon, aprovado pelo tribunal estadual em 9 de outubro de 1991. Ainda, algumas ações de reparação do dano foram solucionadas por meio da compensação ecológica, sendo a Exxon condenada a adquirir zonas naturais que foram destinadas a reservas integrais. Em relação às indenizações, os parâmetros utilizados são os custos das medidas de restauração, substituição e aquisição de recursos equivalentes. Desta forma, na avaliação dos danos ambientais devem estar presentes os seguintes princípios: o da precaução, do poluidorpagador, da responsabilidade e o da prevenção. A legislação ambiental brasileira determina no artigo 13 da lei 7347/85 que: Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por conselhos Estaduais que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados. De um lado, a indenização pecuniária é uma forma de reparação secundária do bem ambiental lesado, portanto, preterida à restauração do dano ambiental. Por outro lado, tem como fator positivo a certeza da sanção civil, o que garante o caráter coercitivo da responsabilidade civil ambiental. Verifica-se, portanto, na prática, que nem a restauração e nem a compensação ecológica é capaz de reconstituir os bens ambientais lesados. Neste sentido, a indenização pecuniária é uma forma de compensação ecológica, embora o sistema de reparação ambiental tenha como fim principal à recuperação do patrimônio natural degradado. Todavia, sendo a indenização pecuniária a única opção possível, deverá ser a mais ampla, aí se incluindo os lucros cessantes. Entretanto, não pode constituir motivo para enriquecimento ilícito ou sem causa, à custa do empreendedor. O melhor parâmetro para a indenização será o equivalente à diminuição do patrimônio que o prejudicado venha a sofrer. No entanto, muitas vezes a fixação do quantum indenizatório é complexa, devendo revestir-se de cautela e recorrer a estimativas. O fato é que não existe um critério único para a fixação da reparação. Pode-se optar pela reconstrução do local degradado, pela compensação (degradação de uma área deve corresponder à recuperação de uma outra) ou por qualquer outro mecanismo capaz de estabelecer uma reparação adequada (Silva, 1995). 158 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 4.4.4 Mecanismos processuais existentes para a obtenção da tutela ambiental A tutela ambiental vem a ser alçada, assim, à categoria de garantia constitucional, posicionada que se acha como verdadeira cláusula pétrea, vinculando-se aos fundamentos e princípios basilares da República Federativa do Brasil, a teor dos artigos 1º e 3º da Carta Magna. Os instrumentos de tutela ambiental encontram supedâneo também no texto constitucional, ante o dever da coletividade e do Poder Público quanto à preservação e proteção do bem ambiental que, inelutavelmente, tem natureza difusa, dada a sua indivisibilidade, pois, os seus titulares estão interligados por razões eminentemente de fato. E,' aò se cuidar da tutela dos direitos coletivos e da nova orden procedimental, através da jurisdição civil coletiva, há que se pontuar que, como dito, está absolutamente superada a sistemática individualista contida no Código de Processo Civil (CPC) para dirimir os denominados conflitos de massa. Fiorillo (2006) procuram explicitar esse ponto verberando que hoje, em sede de jurisdição civil, há a existência de dois sistemas de tutela processual: um destinado às lides individuais, cujo instrumento adequado e idôneo é o Código de Processo Civil, e um outro, destinado à tutela coletiva, na exata acepção trazida pelo art. 81, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Assim, quando se fizer uso de qualquer ação coletiva para defender direitos, valores ou interesses ambientais, enquanto cada respectiva ação não possuir o seu devido e específico aparato instrumental-procedimental, é condição sine qua non que se utilize das regras de direito processual estabelecidas pela Lei n° 7.347/85 em sua atuação conjunta com o CDC, dada à perfeita interação-integração entre ambos (Fiorillo, 2006). Conclui-se, pois, que as ações coletivas com o fito de salvaguarda do ambiente devem ser, em atenção ao princípio do "due process of law", primariamente, orientadas pelo CDC e pela Lei da Ação Civil Pública (LACP) e, subsidiariamente, pelos outros diplomas processuais. Tal deve se dar, inclusive, em sede de ação popular ambiental, posto que aplicarse-á precipuamente a LACP e a Lei n° 4.717/65, a Lei de Ação Popular, de forma subsidiária, por se tratar de procedimento de jurisdição civil e coletiva (Carvalho Filho, 2001). Reitere-se, à guisa de maior esclarecimento sobre os meandros processuais que ora regem a matéria trazida à baila, que as ações coletivas tiradas com fulcro na LACP e no CDC sujeitam-se às normas de procedimento nelas incrustadas; porém, em havendo lacuna 159 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN naquelas leis, lançar-se-á mão das regras insertas no estatuto processual civil (art. 90 CDC). No que tangencia as ações coletivas ambientais, válida também é essa sistemática, no vórtice de serem aplicadas as regras processuais do CDC, por imposição do artigo 21 da LACP (que faz incidir à defesa dos direitos difusos, 31 coletivos e individuais, no que couber, as disposições do Título III do CDC), consoante o artigo 117 do CDC (que acrescentou à LACP o retrocitado art. 21). Por outro norte, destaque-se que os meios processuais para proceder-se à defesa do meio ambiente visam à proteção dos seres humanos, aos bens imóveis e, ainda, à observância de leis e posturas municipais, como por exemplo, o cumprimento da obrigação do plantio de árvores em determinado local. Há diversos ritos procedimentais que podem ser adotados com esse objetivo. Assim, o procedimento sumário, para compelir o incorporador a cumprir regra que determina arborizar certo loteamento ou para obstar a má utilização da propriedade vizinha na emissão de gases, poluição ou emissão de odores e trepidações ou a produção de barulhos que causem desassossego. É possível a adoção desse rito pela União, estados ou municípios e outros entes, para a obstrução de valas ou escavações, a destruição de plantações, a interdição de prédios e, em geral, a cessação do uso nocivo da propriedade, quando exigido pela saúde, a segurança ou outro interesse público, o que correspondia à antiga ação cominatória. Igualmente, no que concerne à preservação de florestas ou quaisquer modalidades de vegetação. Também, no que tange ao artigo 554 do Código Civil, ao garantir o exercício do direito de agir ao proprietário ou inquilino para obstar que o mau uso da propriedade vizinha venha a atingir a segurança, a tranqüilidade e a saúde dos seus moradores, fazendo incidir multa ao poluidor, sem objetivo de reparação, porém, para obstaculizar a má utilização do bem. Outrossim, cabível a via ordinária para os fins do artigo 555 do Código Civil, atribuindo ao proprietário o direito de fazer exigência ao dono do prédio vizinho, ameaçado de ruína, para a indispensável demolição ou restauração. Ou para o adimplemento de uma obrigação de fazer (ex.: instalar chaminé) ou de não fazer (ex.: não emitir substâncias nocivas), sob a sujeição de pena de cunho pecuniário ao inadimplente. Possível é o procedimento cautelar, quando houver fundado receio de dano para prevenir lesão grave ou de difícil reparação. Também, a teor do art. 555 do 32 Código Civil, 160 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN as pessoas que potencialmente possam ser vitimadas podem requerir I a prestação de caução pelo dano iminente, o que está na órbita do poder de cautela \ conferido ao magistrado. O art. 888, inciso VIII, do CPC assevera que o juiz pode, cautelarmente, determinar a interdição ou a demolição de prédio, a fim de proteger a saúde, a segurança ou outro interesse público. Nessa hipótese, estão inseridos os valores ecológicos que têm, inegavelmente, interesse público, cuja proteção pode ser invocada em sede cautelar, tanto pelo Poder Público como por particulares. Ainda, pode-se viabilizar a execução das obrigações de fazer e de não fazer, das quais o particular ou o Poder Público podem se valer para a proteção do meio ambiente, pois, na medida em que o recalcitrante não satisfizer a obrigação, o credor pode pleitear que ele mesmo ou terceiro a faça à custa do devedor. Exemplos vários são encontráveis na doutrina, como a situação de alguém condenado ao replantio em virtude de desmatamento de florestas de preservação permanente e que não cumpre a determinação judicial; nesse caso o vizinho pode fazê-lo com ônus para o devedor. Ainda, cabe mencionar que o cidadão tem legitimidade para aflorar a ação popular, com vistas à anulação de ato lesivo ao patrimônio público ou ente de que participe o Estado, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, sendo isento de despesas processuais o autor, exceto má-fé plenamente demonstrada (Lei n° 4.717/65). Embora o âmbito de incidência da ação civil pública seja maior, tem ela características comuns à ação popular, tais como a defesa do ambiente, do valor artístico, estético, histórico, turístico. Contudo, a primeira cuida da defesa do consumidor e dos bens de valor paisagístico, enquanto a segunda trata dos bens de valor econômico, sem deslembrar o fato de que esta pode ser adotada para situações de perigo imediato de bens de natureza ecológica. Finalmente, a propositura de ação civil pública não obsta a da ação popular, não se havendo falar em litispendência. Ademais, em determinadas situações, haverá de ser ajuizada ação declaratória de existência ou inexistência de certa relação jurídica cumulada com pedido de condenação na reparação do prejuízo ambiental, nos termos do art. 4º do CPC. Cabe, ainda, o ajuizamento do mandado de segurança para a prevenção do dano ambiental. Em síntese, o art. 83 do CDC admite que todas as ações para a proteção dos direitos previstos no Código se aplicam às demandas fulcradas na LACP, por força do art. 21 desta última. 161 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 4.4.5 O compromisso de ajustamento de conduta O Compromisso de Ajustamento de Conduta é uma das alternativas previstas para a defesa dos bens difusos e coletivos. Tal instrumento foi introduzido pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078, de 11.09.1990), que acrescentou novo parágrafo ao art. 5º da Lei 7.347/1985, verbis: "§6°. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial". O termo de ajustamento de conduta trata-se de um mecanismo de solução pacífica de conflitos, com natureza jurídica de transação, consistente no estabelecimento de certas regras de conduta a serem observadas pelo interessado, incluindo a adoção de medidas destinadas à salvaguarda do interesse difuso atingido. Por meio do Compromisso de Ajustamento de Conduta, o interessado formaliza, espontaneamente, sua intenção de se adequar às exigências legais ou de reparar integralmente o dano por ele causado. À evidência, os órgãos públicos legitimados não poderão abrir mão do bem difuso tutelado, dada sua natureza indisponível. Admite-se convenção apenas no tocante à forma de cumprimento das obrigações (condições de modo, tempo, lugar), em atenção às peculiaridades do caso concreto, e tendo em conta a capacidade econômica do infrator e o interesse da sociedade. Assim, a um só tempo, o Compromisso de Ajustamento de Conduta assegura à coletividade a recuperação integral do dano, e, ao interessado, condições que lhe permitam cumprir as obrigações dentro de suas possibilidades. 4.5 Da responsabilidade civil das empresas 4.5.1 Do passivo ambiental Vários estudos levaram à conclusão de que os recursos naturais são bens escassos e que é necessário o seu manejo adequado, principalmente pelos que degradam o meio ambiente, no intuito de obter lucro e que muitas vezes constituem um passivo ambiental que é acumulado ao longo do exercício da atividade econômica, sendo este assunto, de extrema relevância e de certa forma, polêmico. 162 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN De início, ressaltamos um pensamento espiritualista onde a natureza advém das teorias de criação do universo na qual se associa a natureza a um aspecto divino, arraigado a preceitos religiosos. Uma segunda concepção, a materialista, prega que os desastres ecológicos e as mudanças e transformações da natureza são decorrência de atividades desenvolvidas pela civilização moderna, encarando ou pregando que o mundo é um produto da evolução casual da sociedade, não havendo qualquer vínculo a uma inteligência criadora ou suprema. As diversas concepções ou entendimentos do meio ambiente têm dificultado a efetivação das medidas estudadas e pregadas pelo Direito Ambiental, dificultando a preservação dos recursos naturais, principalmente pela opinião das pessoas em sua grande maioria de que os referidos recursos são infindáveis, mesmo tendo, a partir do século XVIII, uma percepção de que a natureza pode ser considerada separada do aspecto divino, sendo analisada e designado o seu aspecto científico, surgindo o meio ambiente como o elemento principal de que é parte a natureza, bem como os ecossistemas, que nada mais são do que interação entre os seres que nele habitam e vivem. Dentro deste aspecto, estudiosos sustentam e analisam o meio ambiente mo objeto de um território em relação aos empreendimentos empresariais ali instalados, sendo o meio ambiente, ponto de referência, objeto dos interesses dos empresários, e a partir do exercício das atividades empresariais (industriais, comerciais e de prestação de serviços), de forma direta, ou através do consumo dos produtos e serviços, pelos consumidores, sendo este de forma indireta, faz surgir o amado "passivo ambiental", na medida da ocorrência das degradações ambientais. Os empresários têm que contabilizar o seu passivo, incluindo o saldo negativo dos prejuízos causados ao meio ambiente, mesmo que o empresário adote o princípio do poluidor, onde o passivo pode ser constituído de forma indireta, na medida da fabricação de produtos ou prestação de serviços, pelos empresários, sendo consumidores, surgindo os rejeitos, principalmente, as embalagens dos produtos, quando a estas, por exemplo, não são recicláveis ou os empresários não definem uma política de recolhimentos dos rejeitos, como é o caso das baterias de aparelhos celulares, dos pneus, ou, ainda, das embalagens plásticas dos refrigerantes (Machado, 2002). Não obstante o tema em debate, poder ser considerado como pouco explorado, isso devido à sua complexidade, o fato é que, o passivo ambiental, é conceituado como sendo "o conjunto de obrigações contraídas de forma voluntária ou involuntária, que exigem a adoção de ação de controle, preservação e recuperação ambiental" (Cavalieri Filho, 1998). 163 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN O conceito apresentado pela dicionarista apresenta dois outros termos interessantes quais sejam: a preservação e a conservação, sendo que o primeiro significa manter intacto os recursos naturais e conservar significa explorar os referidos bens de forma sustentável. A partir do conceito supra, percebe-se que o passivo ambiental constitui-se uma obrigação imposta ao empresário de não degradar o meio ambiente, mesmo não tendo, o empresário, iniciado suas atividades, pois constitui-se em um dever ser ou dever-obrigação. A doutrina considera passivo ambiental, diversos atos praticados pelo empresário, principalmente, a obrigação de controle do lançamento de objetos, gases ou rejeitos de qualquer dívida no meio ambiente. Pode ainda ser considerado passivo ambiental a obrigação imposta ao empresário de armazenar e dispor, de forma adequada, os resíduos que produza ou adquira, além da obrigação de recuperação de áreas por ele degradadas, além da imposição de constituir uma reserva de preservação, mesmo que de forma voluntária. O conceito apresentado pela doutrina gera uma infinidade de imprecisão, pois se mostra contrário aos conceitos clássicos de passivo defendidos e aplicados pela ciência contábil, que apresenta o passivo como o conjunto de dívidas e obrigações de uma pessoa ou empresa. No balanço constituem-se em um conjunto de contas que registram a origen dos recursos de uma empresa, tais como: capital próprio, financiamento e até obrigações não adimplidas, entre outros. O passivo ambiental é apresentado como a obrigação que possui o empresário de destinar parte de suas preocupações e, conseqüentemente, de seu lucro, se não incluído no preço dos seus produtos, para medidas preservativas do meio ambiente, sendo que nesta visão há um distanciamento do conceito em relação à essência da palavra passivo, uma vez que os gastos ou a assunção de obrigações pelo empresário para preservação dos recursos naturais especificamente, deveriam ser elementos essenciais e pré-requisitos para a regularização da atividade econômica a ser desenvolvida pelo empresário, como por exemplo, a realização de um efetivo e prévio estudo de impacto ambiental, atualmente exigido para que os empresários possam exercer certas atividades como, por exemplo: as indústrias têxteis e as empresas que distribuem e comercializam combustíveis, ou, ainda, as indústrias de panificação quando possuírem forno à lenha, sendo necessário, no último caso, uma autorização do Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONEMA), do Rio Grande do Norte, ou na falta de órgão especifico, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA). 164 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN No meio empresarial, os argumentos acima elucidados demonstram que, o termo ou expressão "passivo ambiental" é utilizado de forma indiscriminada, sem explicar-se a sua essência, devido à existência de duas espécies de passivo ambiental. A primeira espécie ou modalidade de passivo ambiental, de ordem legal, não sendo propriamente ambiental, constitui-se a partir da obrigação de reparar ou compensar os prejuízos ou degradações causadas ao meio ambiente, devido ao manejo inadequado dos recursos naturais ou do meio ambiente, motivo pelo qual é chamado de passivo econômico, por materializar-se em uma dívida oriunda de uma reparação de dano ambiental, tendo suas raízes no princípio do poluidor-pagador, em que poderá haver a degradação dos recursos naturais desde que o degradador responda economicamente pelo dano. Este princípio muito embora seja o mais utilizado pela doutrina e pelas políticas públicas de preservação ambiental, não deve ser visto de forma absoluta pois, na grande maioria das vezes, não se consegue com precisão a mensuração do dano ambiental, não se conseguindo fixar um quantum reparatório que absolva todos os reflexos da atuação danosa do empresário. A segunda espécie de passivo ambiental é utilizada como sinônimo de degradação do meio ambiente, não possuindo qualquer elemento ou ponto de congruência com o passivo contábil ou com o econômico, por ser equivalente à própria devastação do meio ambiente. Entretanto, também se mostra falha esta visão ou entendimento pela dificuldade de mensuração da devastação. Consoante, citação anterior referente à legislação infraconstitucional, especificamente a Lei n° 10.406/02 (Código Civil), ao prever a adoção da responsabilidade solidária do administrador de sociedade seja ele sócio ou não, responsabilizando-se, como não poderia deixar de ser também em matéria ambiental, incluindo-se entre as possibilidades de responsabilização o passivo ambiental que o estabelecimento empresarial acumular durante o período em que administrar a empresa, podendo deste gestor ser exigida a reparação do dano (poluidor-pagador) ou a punição pelos crimes ambientais praticados pela empresa sob sua administração (dolo ou culpa), mesmo nos casos de sociedade limitada, pois a responsabilização em matéria ambiental segundo a Constituição Federal de 1988 é objetiva, como regra. No caso do passivo é possível a responsabilização do gestor tenha o passivo sido contabilizado ou não. Até mesmo empresas públicas ou sociedades de economia mista, como é o caso da Petrobrás e da Braspetro, sua subsidiária, podem possuir um passivo ambiental a ser contabilizado, uma vez que a empresa citada causou vários acidentes ecológicos, dentre 165 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN eles, o vazamento de óleo na Bahia de Guanabara, modificando de forma significativa os recursos naturais ali existentes, apesar dos esforços desprendidos no sentido de reconstituir o status quo ante, devendo, no caso da estatal, ser o passivo ambiental a ser contabilizado, não apenas a multa aplicada, mas a degradação em toda a sua extensão, devendo ser obtida através de laudo elaborado por peritos, partindo-se do pressuposto de que o meio ambiente é, sem sombra de dúvidas, um recurso que pode ao longo do tempo extinguir-se (Santos, 2001). Outros casos já contabilizados de passivo ambiental são as empresas privadas extratoras de minério ou ainda, as empresas de panificação que utilizam fornos à lenha além das construtoras e incorporadoras de imóveis que construíram e constroem prédios sobre mangues. Além das circunstâncias de responsabilização, já previstas em lei, se faz necessário que o legislador elabore novas leis visando que a lei absorva novas hipóteses de danos que podem ser causados ao meio ambiente dotando o Poder Judiciário de um aparato legislativo capaz de servir de fundamentação para as decisões emanadas do referido poder. Já o Poder Executivo deve investir em educação ambiental para formar cidadãos responsáveis pela manutenção de um meio ambiente saudável, contribuindo para que, mediante um esforço conjunto de todas as ciências, possa ser contabilizado o passivo ambiental, bem como, responsabilizados os seus detentores e oferecidos incentivos aos empreendimentos que não degradem o meio ambiente, ou ainda, que cumpram a primeira tarefa e ajudem a manter o equilíbrio ambiental. Enfim, temos que o passivo ambiental apresenta-se na atualidade como um desafio a ser ultrapassado não apenas pelos empresários, mas por toda a sociedade na medida em que cada cidadão deve ser responsável pelo dano que cause ao meio ambiente, devendo, inclusive, buscar formas de repará-los, além de adotar medidas preventivas (Cavalieri Filho, 1998). 4.5.2 A solidariedade passiva do poluidor O dever de indenizar surge quando determinado agente pratica ato lesivo ao meio ambiente, causando-lhe dano. No caso de se observar à existência de mais de um responsável, todos eles responderam solidariamente pela indenização. Assim, conforme estipulado no Código Civil, em seu art.1.518, caput, "os bens do responsável pela ofensa ou violação de directo de outrem ficam sujeitos à reparação do dano 166 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN causado; e, se tiver mais de um autor à ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação". Portanto, observando-se a atuação de mais de um responsável, pode a reparação ser exigida de todos e de qualquer um dos responsáveis, segundo o princípio da solidariedade uma das maiores dificuldades que se pode ter em ações relativas ao meio ambiente é exatamente determinar de quem partiu efetivamente a emissão que provocou o dano ambiental, máxime quando isso ocorre em grandes complexos industriais onde o número de empresas em atividade é elevado. Não seria razoável que, por não se poder estabelecer com precisão a qual deles cabe a responsabilização isolada, se permitisse que o meio ambiente restasse indene. As indústrias que poluem o ambiente são ex lege, consideradas como responsáveis solidárias e sujeitam-se às sanções previstas em lei. Por fim, vale lembrar que será facultado àquele que pagar pela integralidade do dano, ação de regresso contra os co-responsáveis, pela via de responsabilização subjetiva, onde se poderá discutir a parcela de responsabilidade pertinente a cada um. Por outro lado, há que se registrar, outros aspectos que a Lei Ambiental, ainda que a Lei 6.938/81 tenha sido parcialmente revogada pela Lei 9.605/98, continua em vigor o art. 14 do diploma mais antigo. Não obstante a decisão em destaque, o entendimento dominante aponta que não há que se falar em responsabilidade civil pessoal do profissional por dano ambiental, porque a obrigação recai sobre o empreendedor e não sobre a empresa de consultoria ou o profissional individual. No entanto, se os contratados se houverem com culpa, o empreendedor pode exercer o seu direito de regresso contra os mesmos. Note-se que a Resolução n° 001, de 23.01.86, do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, ao tratar do Estudo Prévio de Impacto Ambiental, fixou que esse deve ser feito por equipe multidisciplinar com habilitação, e que não depende direta ou indiretamente do proponente do projeto e que é o responsável, do ponto de vista técnico, pelos resultados apresentados. Conclui-se, em conseqüência, que a responsabilidade pelo dano ambiental é do empreendedor de certa atividade e não o profissional ou empresa de consultoria técnica, que se tenha conduzido com culpa. Naturalmente, poderá aquele ter directo regressivo contra 167 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN esses e/ou contra os agentes estatais que tenham autorizado a atuação inadequada com ciência da irregularidade. Alguns casos e sentenças de responsabilização empresarial por dano ao meio ambiente, de diferentes ramos de atividades empresariais e de diversas regiões do Brasil estão dispostos no Anexo - F. Pode-se concluir que, embora tenha havido um avanço considerável na legislação brasileira, sobretudo na criação de mecanismos consideráveis imprescindíveis à proteção e reparação do meio ambiente, bem como à repressão das condutas que infligem danos ao mesmo, ainda há muito o que se fazer. Citou-se, por exemplo, que a legislação processual vigente, bem como o próprio sistema judiciário, padece de reformas urgentes que busquem celeridade nas tutelas jurisdicionais perseguidas. Há também uma premente necessidade de criação de novas leis que contemplem novas hipóteses de danos causados ao meio ambiente, com o necessário oferecimento ao Estado - Juiz da imprescindível fundamentação teórica jurídica que respalde suas decisões. Lamentavelmente observa-se a ausência de consciência ambiental por parte de alguns que buscam o lucro de forma irresponsável e frenética sem o compromisso da proteção do seu próprio meio. A conscientização da sociedade acerca das questões ambientais é imprescindível, posto que, se não forem tomadas medidas urgentes, o futuro das novas gerações estará comprometido. 168 PARTE 2 ESTUDO DE CASO DA RDS ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO Na obra-prima de Lévi-Strauss, Tristes Trópicos, sem dúvida um dos maiores livros das ciências humanas produzidos no século XX, o autor descreve as mudanças das paisagens naturais dos litorais no nosso planeta. Desde a infância, o mar inspira-me sentimentos mistos. O litoral e essa franja periodicamente cedida pelo refluxo que o prolonga, disputando com o homem o seu império, atraem-me pelo desafio que lançam a nossas empreitadas, pelo universo inesperado que encerram, pela promessa que fazem de observações e de descobertas lisonjeiras para a imaginação. Como Benvenutto Cellini, por quem sinto mais atração do que pelos mestres do Quattrocentro, gosto de vagar na praia deserta abandonada pela maré e acompanhar pelos contornos de uma abrupta o itinerário que ela impõe, catando seixos furados, conchas cujo desgaste reformou a geometria, ou raízes de junco que representam quimeras, e fazer para mim mesmo um museu com todos esses detritos: por um breve instante, ele nada fica a dever àqueles onde se reuniram obras-primas; estas, aliás, originam-se de um trabalho que – por ter sua sede no espírito e não fora dele – talvez não seja fundamentalmente diverso daquele em que a natureza se compraz. Mas, não sendo um marinheiro, nem pescador, sinto-me lesado por essa água que furta a metade do meu universo, e até mais, já que sua grande presença repercute aquém do litoral, muitas vezes modificando a paisagem no sentido de austeridade. A diversidade habitual da terra, parece-me que só o mar destrói, oferecendo ao olhar vastos espaços e coloridos suplementares, mas às custas de uma monotonia que oprime, e de uma platitude na qual nenhum vele escondido tem estocadas as surpresas que nutrem minha imaginação. Além disso, os encantos que reconheço ao mar hoje nos são negados. Como um animal que envelhece, cuja carapaça vai se espessando, formando em torno de seu corpo uma crosta impermeável que já não permite à epiderme respirar, e acelera assim o avanço de sua senectude, a maioria dos países europeus deixa seus litorais obstruir-se por palacetes, hotéis, cassinos. Em vez de esboçar, como antigamente, uma imagem antecipada das solidões oceânicas, o litoral se transforma numa espécie de frente de batalha onde os homens mobilizam periodicamente todas as suas forças para investir contra uma liberdade cujo atrativo eles desmentem pelas condições em que aceitam usurpá-la para si. As praias, onde o mar nos oferecia os frutos de uma agitação milenar, espantosa galeria onde a natureza sempre se colocava na vanguarda, sob o pisoteio das massas agora servem somente para a disposição e exposição dos refugos . (LÉVI-STRAUSS, 2007, p. 320-321). 171 CAPÍTULO 1 DESCRIÇÃO E CARACTERÍSTICAS GERAIS DA RSD 1 História da criação da reserva Vai longe o tempo em que a grande preocupação dos pescadores do lugar era com o rumo e a velocidade dos ventos. Os efeitos da devastação ambiental, fruto da utilização desordenada dos recursos naturais que afeta o planeta Terra, já se faz sentir, também, nas pequenas comunidades costeiras, a exemplo do que ocorreu com os moradores de Diogo Lopes e Barreiras, que são distritos pertencentes à cidade de Macau, a 180 km da capital, Natal, no estado do Rio grande do Norte, região Nordeste do Brasil. Estas comunidades basicamente formadas em sua maioria por pescadores, a partir da década de noventa viram seus espaços vitais de moradia e de exploração econômicos seriamente ameaçados pela intenção manifestada por grupos empresariais de se instalarem na região. Esses grupos vinculados aos setores de turismo e aquicultura – carcinicultura29 almejavam a implantação de atividades econômicas que implicavam na ocupação de largas faixas de restinga e dunas (Figuras 1, 2 e 3) e que representavam graves ameaças ao ecossistema da região e, conseqüentemente, ao desenvolvimento das atividades econômicas tradicionais e à qualidade de vida dos moradores locais. Figura 1 – Vista aérea da RDS Estadual Ponta do Tubarão Figura 2 – Dunas de Diogo Lopes 29 Aquicultura – Arte de criar e multiplicar animais e plantas aquáticas. A carcinicultura que é a criação de camarões em grandes viveiros, chamado criação em cativeiros, atividade explorada nesta região porque possui todas as condições naturais para o seu cultivo. 175 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Figura 3 – Vista do mar, das dunas e lagoa da RDS Ocorreram repetidos episódios de invasão de áreas públicas por empresas privadas, que cultivam camarão em cativeiro, bem como a ação de grupos Italianos, que utilizaram a queimada para devastação de 4 hectares de mangue, com a antiga ameaça de transformar sua restinga em área hoteleira, já que estas comunidades possuem riqueza e beleza natural, e geograficamente está próxima à capital Natal onde o turismo está se consolidando e constituindo-se em um dos pontos mais procurados por turistas europeus. Entre a comunidade eram muitas as dúvidas e inquietudes que surgiam a respeito da necessidade de se preservar o meio ambiente e a mais importante é se seria possível manter políticas de desenvolvimento e ao mesmo tempo preservar os recursos naturais e o meio ambiente e fazê-lo através de uma lógica participativa e democrática, principalmente contando com a participação dos governos locais2. Daí surgiu a idéia do “Iº Encontro Ecológico de Diogo Lopes e Barreiras: Em Defesa do Nosso Futuro” (2001), para se debater o assunto, através das associações comunitárias que se reuniram e saíram em busca de apoio para a realização do evento, dando um verdadeiro exemplo de cidadania. 2 Na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento-CNUMAD, celebrada no Rio de Janeiro em 1992, Os países presentes e representados expressaram a vontade de adotar e encaminhar práticas para integrar o Meio Ambiente e o Desenvolvimento como estratégia para corrigir as desigualdades existentes, incrementar e proporcionar o bem estar e melhorar as condições de vida na terra a longo prazo.O compromisso com o desenvolvimento sustentável foi acordado em quatro documentos: A Declaração de Princípios, O Convênio sobre o Câmbio Climático, O Acordo sobre a Biodiversidade e Agenda 21. Dos quatro acordos, o último que incorpora o melhor espírito do encontro RIO-ECO 92, por se tratar de um plano de ação que estimula a cooperação e aprendizagem em um processo mútuo entre os poderes públicos e a sociedade discutindo estratégias para o desenvolvimento sustentável (FONT e SUBIRATS, 2001, p. 185). 176 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN A PETROBRAS3, empresa produtora que está instalada há muitas décadas explorando petróleo e gás natural nesta região, sentiu-se na obrigação de participar deste evento e juntamente com a Prefeitura de Macau apoiaram o projeto a favor do meio ambiente para a realização deste primeiro encontro ecológico. A partir deste marco, iniciou-se uma luta de anos em busca da transformação de um sonho em realidade. O Encontro contou com a participação de pesquisadores, professores locais e de outros estados, representantes de órgãos governamentais e não governamentais, além de ampla participação dos moradores das comunidades de Diogo Lopes, Barreiras, Sertãozinho e da cidade de Macau. Foram proferidas diversas palestras acerca de temas relacionados à questão ambiental e à criação de unidades de conservação. Inclusive, na ocasião, foi a presentada uma palestra que mostrou a experiência da RDS Mamirauá. Foi também neste período que os moradores haviam tomado conhecimento da Lei do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza), onde puderam conhecer a nova categoria de manejo recém incorporada a esse documento: a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS). Foi a partir da Lei do SNUC que os moradores constataram que para a realidade de Diogo Lopes e Barreiras, a categoria de unidade mais adequada seria a RDS. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) é uma das categorias de Unidade de Conservação criada pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), Lei Federal nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Esta categoria de manejo é definida como uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica. Estas unidades de conservação (Ucs) têm por objetivo básico, conforme o Art. 20, parágrafo 1 da Lei 9.985 (SNUC) “preservar a natureza e ao mesmo tempo, assegurar as 3 A PETROBRAS através da Unidade de Negócios de Exploração e Produção do Rio Grande do Norte e Ceará (UN-RNCE) atua nas atividades de Exploração e Produção de óleo e gás e nos negócios relacionados à produção de Óleo Diesel e GLP (Gás Liquefeito de Petróleo ou gás de cozinha). Atuando nas bacias sedimentares dos estados do Rio Grande do Norte e Ceará, tem importância significativa na economia da região, destacando-se como grande compradora de materiais e serviços e recolhedora de impostos e taxas. A UN-RNCE é a maior unidade produtora de Petróleo e Gás Natural, em terra (onshore) do Brasil, respondendo por cerca de 10% da produção nacional. Sua produção se dá através de três Ativos de Produção: Mossoró, Alto do Rodrigues e Mar e um Ativo de Processamento de Fluidos (UTPF). A Unidade possui 63 campos terrestres e 9 marítimos, com 35 plataformas marítimas. A produção dos 5.150 poços, cerca de 100.000 barris de petróleo por dia, passa por 62 estações coletoras e escoa por cerca de 4.000 km de dutos até ser transferida para navios petroleiros. As atividades da UN-RNCE impactam diretamente 22 municípios, relacionando-se com mais de 12.200 proprietários de terras. 177 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN condições e os meios necessários para a reprodução e a melhoria dos modos e da qualidade de vida e exploração dos recursos naturais das populações tradicionais, bem como valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente, desenvolvido por estas populações”. Quanto ao termo populações tradicionais, mesmo que no escopo da lei do SNUC tenha sido vetado o inciso que ensejava conceituar populações tradicionais4, pode-se pressupor pelos demais enunciados referentes à categoria RDS, que se tratam de grupos humanos residindo há algumas gerações nas áreas ou ecossistemas objetos de proteção, de forma que puderam obter e gerar conhecimentos sobre o meio e seus recursos, fazendo de sua exploração, em bases sustentáveis, o principal esteio de sua economia e de sua reprodução sócio-cultural. No entanto, variadas e, não raro, contraditórias considerações sobre o conceito de populações tradicionais já foram traçadas, acarretando na ocorrência de diversas interpretações entre ambientalistas, movimentos sociais e administradores públicos. Entre as considerações sobre este tema constam, por exemplo, as de Diegues e Arruda (2001), que em obra publicada pelo Ministério do Meio Ambiente, afirmam que tais populações podem ser caracterizadas: − pela dependência da relação de simbiose entre a natureza, os ciclos e os recursos naturais renováveis com os quais se constrói um modo de vida; − pelo conhecimento aprofundado da natureza e de seus ciclos, que se reflete na elaboração de estratégias de uso e de manejo dos recursos naturais. Esse conhecimento é transferido por oralidade de geração em geração; − pela noção de território ou espaço onde o grupo social se reproduz econômica e socialmente; − pela moradia e ocupação do território por várias gerações, ainda que alguns membros individuais possam ter-se deslocado para os centros urbanos e voltado para a terra de seus antepassados; − pela importância das atividades de subsistência, ainda que a produção de mercadorias possa estar mais ou menos desenvolvida, o que implicaria uma relação com o mercado; − pela reduzida acumulação de capital; 4 Devido à falta de consenso entre os diversos segmentos da sociedade que discutiram a lei do SNUC por mais de dez anos. 178 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN − pela importância dada à unidade familiar, doméstica ou comunal e às relações de parentesco ou compadrio para o exercício das atividades econômicas, sociais e culturais; − pela importância das simbologias, mitos e rituais associados à caça, pesca e atividades extrativistas; − pela tecnologia utilizada, que é relativamente simples, de impacto limitado sobre o meio ambiente. Há uma reduzida divisão técnica e social do trabalho, sobressaindo o artesanal, cujo produtor e sua família dominam todo o processo até o produto final; − pelo fraco poder político, que em geral reside nos grupos de poder dos centros urbanos; e − pela auto-identificação ou identificação por outros de pertencer a uma cultura distinta. Dessa forma, os autores utilizam a noção de ‘sociedades tradicionais’ para definir “grupos humanos diferenciados sob o ponto de vista cultural, que reproduzem historicamente seu modo de vida, de forma mais ou menos isolada, com base na cooperação social e relações próprias com a natureza. Essa noção refere-se tanto a povos indígenas quanto a segmentos da população nacional5, que desenvolveram modos particulares de existência, adaptados a nichos ecológicos específicos”. Portanto, as caracteristicas da população dos municipios de Diogo Lopes e Barreiras se encaixam na descrição dos referidos autores acima mencionados. E este primeiro Encontro foi encerrado com a redação de uma moção, assinada por 208 pessoas, e de um abaixoassinado, com 1.336 adesões, que foram entregues ao presidente do IDEMA/RN solicitando a criação de uma RDS na área e o mesmo pedido foi feito ao IBAMA/RN que são respectivamente os orgãos ambientais responsáveis a nivel Federal e Estadual. O I Encontro foi registrado pela mídia em jornais e na internet, como mostram as matérias abaixo: “A Petrobrás de volta para a região de Macau com programas sociais e de preservação do meio ambiente” – Folha de Macau, Macau, Julho/Agosto de 2001, p. 13. “Comunidade de Diogo Lopes realiza encontro” – Diário de Natal, Natal, 17 de maio de 2001, p. 11. 5 Segundo os autores citados, as comunidades tradicionais se constituiriam, de forma empírica, de caiçaras, jangadeiros, pescadores artesanais em geral, sitiantes, roceiros, quilombolas, ribeirinhos, sertanejos, grupos extrativistas em geral e indígenas. Contraporiam-se a esses os fazendeiros, veranistas, comerciantes, servidores públicos, empresários em geral e seus empregados, donos de empresas de beneficiamento de recursos naturais, aquicultores em escala industrial, madeireiros. 179 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN “I Encontro de Barreiras e Diogo Lopes neste final de semana” – Tribuna do Norte, Natal, 17 de maio de 2001, p. 4. “Comunidades pesqueiras discutem preservação” – Diário de Natal, Natal, 18 de maio de 2001. p. 5 “Comissão solicita ao Idema a preservação de manguezais em Diogo Lopes e Barreiras” – Jornal de Hoje, Natal, 19 de maio de 2001. Em 2002, as comunidades realizaram novo evento, desta vez denominado “II Encontro Ecológico de Diogo Lopes e Barreiras: Pela Reserva Ambiental”. O II Encontro contou com a participação de palestrantes de diversas Universidades e órgãos públicos, como Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), IBAMA/RN, IDEMA/RN, Gerência Regional do Patrimônio da União (GRPU/RN), Petrobrás, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RN), entre outras representações. Além das palestras, foram ministrados cursos para professores e moradores da comunidade (pescadores, donas de casa, estudantes), atividades de limpeza do manguezal, apresentações teatrais, concursos de artes (desenho, pintura e poesia) e exposição de vídeos sobre temas ambientais. O Encontro foi encerrado com uma mesa redonda intitulada “Situação atual do processo para a criação da Reserva Sustentável da Ponta do Tubarão”, que contou com a participação de representantes das comunidades e de órgãos públicos municipais, estaduais e federais. Os componentes elaboraram e leram publicamente as recomendações tiradas deste Encontro e assinaram uma moção solicitando agilidade na criação da Reserva. Neste Encontro, a moção contou com a assinatura de 232 pessoas e o evento foi realizado por 17 entidades das comunidades (incluindo escolas municipais e estaduais) com o patrocínio da Petrobrás (Figuras 4 e 5) que esta localizada no Município de Macau e Guamaré, na fronteira com os limites da reserva, e também contou com o apoio da Prefeitura Municipal de Macau. Figura 4 – Municipio de Guamaré - Porto da Petrobrás Figura 5 – Municipio de Guamaré - Pólo Petrobrás. 180 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN A população das comunidades localizadas no município de Macau – Barreiras, Diogo Lopes e Sertãozinho – que constituem mais de 90% do total da reserva – estiveram bastante inteiradas e envolvidas com a criação da reserva, ficando claro para os moradores os motivos para sua implementação, ou seja: evitar que novas atividades econômicas, geridas por pessoas estranhas à comunidade se instalem na região comprometendo os ecossistemas e, consequentemente, as atividades de pesca e coleta de recursos aquáticos desenvolvidas pelas famílias, seja para comercialização da produção, seja para consumo local. Entre essas novas atividades não desejadas pela população constam: a carcinicultura, exploração petrolífera e o turismo convencional, embora saibam que as duas primeiras atividades citadas ja estavam presentes na área da reserva ou em seu entorno imediato, provocando a ocorrência de alguns impactos aos ecossistemas6. Cabe ressaltar que a fragilidade e a produtividade natural dos ecossistemas da área da reserva justificam plenamente a preocupação dos moradores e, consequentemente seus anseios pela efetiva implementação da Reserva Desenvolvimento Sustentável: a área é constituída por caatinga, dunas, planícies interdunares, áreas alagadiças, praias, rias, restinga, ilhas de sedimentação, manguezal e porção oceânica. A ocorrência de atividades impactantes nessa área pode comprometer as funções desses ecossistemas e provocar sérios danos às atividades de pesca e de coleta de moluscos e crustáceos. Segundo Minuta de Plano de Manejo da RDS de Ponta do Tubarão (2003), as ameaças aos ecossistemas e às atividades tradicionais da região, notadamente a pesca artesanal, concretizaram-se em 1995, quando da solicitação por parte de uma empresa de capital italiano de aforamento de 14 quilômetros de restinga que circunda as comunidades de Barreiras, Diogo Lopes e Sertãozinho para fins de implantação de atividades empresariais, 6 A carcinicultura, segundo relatório SUGERCO - IDEMA (2002) e os moradores contatados em campo, está representada por oito empreendimentos e dentre esses, apenas um com licença de operação emitida pelo IDEMA. Mesmo assim, há dois empreendedores com viveiros em operação, acarretando impactos sócioambientais, tais como: eliminação do direito de passagem aos usuários tradicionais dos recursos naturais; interrupção de estradas vicinais; comprometimento de poços de abastecimento em função da competição pelo uso da água; salinização dos lençóis subterrâneos pela alteração do regime hídrico e pela descarga de efluentes salgados, (propiciadas também pela frágil impermeabilidade dos solos das planícies inter dunares) e comprometimento do manguezal pela maior salinização dos corpos d’água. Quanto à exploração petrolífera, atividade exclusiva da Petrobras na região registra-se a presença de plataformas marítimas e poços terrestres em áreas imediatamente contíguas às da reserva, além de um pólo de processamento de gás e querosene a poucos quilômetros do limite leste da unidade. No primeiro semestre de 2003 ocorreu um vazamento de óleo na área de exploração marítima, acarretando o comprometimento da qualidade das águas, praias e restinga da região. Embora o derramamento de óleo não tenha provocado danos maiores aos ecossistemas e às atividades de pesca dos moradores da reserva, tal fato vem ressaltar o potencial altamente impactante da atividade, cabendo ao IDEMA a realização de estudos de impacto e a obtenção de informações mais precisas junto à Petrobras no que se refere às atividades de monitoramento e aos planos de expansão de poços, conforme já recomendado no relatório SUGERCO-IDEMA (2002). 181 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN inclusive pólos de carcinicultura. Além disso, as ameaças de impactos decorrentes da exploração petrolífera já causavam preocupação aos moradores locais, determinando sua mobilização para manutenção da posse da área de restinga e para seu uso em bases sustentáveis. Ainda segundo a minuta do plano de manejo, a queima de quatro hectares de manguezal em 1998 e o início dos trabalhos de demarcação da área de restinga requerida pelo grupo italiano em 1999, foram os marcos para que a população, além de denunciar os fatos à mídia e aos órgãos competentes (IBAMA, IDEMA e Ministério Público), encaminhasse um abaixo assinado ao IDEMA solicitando a criação de uma unidade de conservação em sua área de atuação econômica e de moradia. Contando com a colaboração de parcerias institucionais, as organizações já existentes na sede do município de Macau e em Barreiras e Diogo Lopes iniciaram um processo de mobilização mais ampla das comunidades e de discussão sobre qual modalidade de unidade de conservação mais conviria à realidade local, assim como sobre os procedimentos necessários para sua implantação. Cabe realçar nesse item que o sucesso da mobilização da população em seu intento de criar a reserva, deve-se, além do apoio de parceiros institucionais, principalmente ao alto grau de participação e de organização das comunidades de Diogo Lopes e Barreiras, hoje representadas por 23 associações e estabelecimentos de ensino. A seguir, consta as relações de entidades governamentais e da sociedade civil envolvidas com a criação da RDS: Entidades Governamentais: Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA/RN) Gerência Regional do Patrimônio da União (GRPU/RN) Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA/RN) Prefeitura Municipal de Macau Câmara Municipal de Macau Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobrás/UN-RNCE) Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Entidades não governamentais: Associação de Mulheres Luiza Gomes (AMLG) – Diogo Lopes Associação de Desenvolvimento Comunitário de Barreiras (ADECOB) – Barreiras 182 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Associação de Desenvolvimento Comunitário de Diogo Lopes (ADECODIL) – Diogo Lopes Associação de Pescadores e Pescadoras de Macau (APPM) – Macau Associação Comunitária de Mangue Seco e Lagoa Doce (ASCOMAS) – Mangue Seco I e II, e Lagoa Doce Centro de Educação Integrada Monsenhor Honório (CEIMH) – Escola particular de Macau, ligada a Igreja Católica Centro Social Pio XI – Macau Centro AMAGOA – Macau Comissão de Justiça e Paz de Macau (CJP/Macau) – Diogo Lopes Colônia de Pescadores Z-41 – Diogo Lopes Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) – Diogo Lopes Escola Estadual Isolada de Diogo Lopes (EEIDL) – Diogo Lopes Escola Municipal Alferes Cassiano Martins (EMACM) – Barreiras Escola Municipal José Ribeiro da Costa (EMJRC) – Diogo Lopes Escola Municipal Luzia Bonifácio de Souza (EMLBS) – Diogo Lopes Escola Municipal Salete Martins (EMSM) – Sertãozinho Grupo Ecológico Gaivotas do Sal (GEGS) – Macau Grupo Ecológico Ponta do Tubarão (GEPT) – Diogo Lopes Associação Potiguar de Apoio aos Jovens do Meio Popular (ILEAÔ) – sede em Parnamirim/RN Jardim Escola Amiguinhos do Saber (JEAS) – Diogo Lopes Jovens Lutando para Vencer (JLPV) – Diogo Lopes Jovens Unidos a Serviço de Cristo (JUSC) – Diogo Lopes Paróquia de Macau – Macau Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) – Macau Programa de Criança da Petrobrás – Diogo Lopes e Barreiras. Fonte: IDEMA/2003. Essa mobilização resultou na assinatura, em julho de 2003, do decreto-lei de criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável pelo governo do Rio Grande do Norte, com uma área de preservação ambiental de 12.946,03 hectares ou 129,6 km². Efetivamente concretizou-se este sonho graças à conscientização, organização e persistência nos ideais 183 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN individuais e coletivos dos diversos segmentos da comunidade, que foram fatores decisivos para atingir o objetivo de implantar a Reserva. A participação cidadã confirma o pensamento escrito pela autora Ana Isabel Isidro de Pedro (2002, p. 260), quando diz que: De hecho, la participación de todos y cada uno de los ciudadanos es insoslayable. Cada cual ha de generar soluciones individuales y comunitariamente y no es admisible adoptar un papel pasivo y delegar la responsabilidad propia en profesionales, especialistas, organizaciones o instituciones. Efectivamente, para garantizar la sostenibilidad es preciso el compromiso de cada individuo. Aunque asumir este compromiso no siempre sea cómodo ni fácil. Na mesma linha de pensamento afirma Sosa: En la praxis diaria de cada ser humano, este se plantea la alternativa de actuar, decidir, opinar o reivindicar motivo por su convicción o hacerlo en función de eficacias y estrategias. En cualquiera de los ámbitos de la vida cotidiana los hombres nos movemos en un pluralismo de ideas e intereses entre- cruzados. Y ahí, cada hombre, ser moral y ser político, ha de plantearse y resolver su propio dilema entre la razón práctico-moral que le impele a actuar en un sentido, y la razón estratégicoinstrumental que, tal vez, le orienta en otro distinto (Sosa, 1995, p. 160). O governo do estado do Rio Grande do Norte criou, em 18 de julho de 2003, a RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual da Ponta do Tubarão, por meio da Lei 8.349, conforme a Lei 9.985 de 18.07.2000 que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Preservar a natureza e, ao mesmo tempo assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução e a melhoria dos modos e da qualidade de vida e exploração dos recursos naturais das populações tradicionais, bem como valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente, desenvolvido por estas populações, além disso, a lei prevê os seguintes objetivos: − Disciplinar o procedimento e a utilização de equipamentos de pesca artesanal ecologicamente correto; − Incentivar a realização de pesquisas científicas para o conhecimento dos ecossistemas existentes, visando o uso sustentável da área; − Desenvolver na comunidade local, nos empreendedores e nos visitantes, uma consciência ecológica e conservacionista sobre o patrimônio natural e os recursos ambientais; − Compatibilizar as atividades econômicas instaladas na Reserva com o uso sustentável dos recursos naturais; 184 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN − Disciplinar novas ações para serem implantados em consonância com a sustentabilidade ambiental, econômica e social da área; − Harmonizar o desenvolvimento local, a implantação e gestão da reserva com a preservação dos valores tradicionais da comunidade. A Reserva do Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – RDSEPT é a única unidade de conservação desta categoria existente fora da região amazônica e abriga parcelas de diversos ecossistemas no litoral do Estado do Rio Grande do Norte, na região Nordeste. É composta por nove comunidades do município de Macau (Diogo Lopes, Barreiras, Sertãozinho, Chico Martins, Caximba da Baixa, Baixa do Grito, Varjota, Canto da Umburana e Queixada) e quatro comunidades no município de Guamaré (Pau feito, Mangue Seco I, Mangue Seco II e Lagoa Doce), que juntas possuem uma população com cerca de 10.000 habitantes. Diogo Lopes, Barreiras e Sertãozinho encontram-se no município de Macau, sendo comunidades essencialmente pesqueiras, responsáveis por 80% do pescado do município macauense. As comunidades são constituídas de povo trabalhador e resistente, juntas possuem em torno de 8600 habitantes, cuja maioria vive às margens do estuário, que são chamados de berçário da natureza por serem importantes áreas de desova de diversos vertebrados e invertebrados marinhos, obtendo assim, uma imensa área de criação de larvas , constituindo também um local de alimentação para espécies marinhas adultas e até para as de água-doce. Segundo o autor João M. Miragaia Schmiegelow: Os estuários podem ser definidos geograficamente como uma região costeira parcialmente fechada, onde a água doce de um rio e a água do mar encontram-se e se misturam. Tais regiões estão normalmente sujeitas a fonte de influência da bacia de drenagem do rio e possuem, em regiões equatoriais e tropicais, um tipo característico de vegetação denominada manguezal (Schmiegelow, 2004, p. 166). Muitos dos rios pertencentes a esta região sofrem com os intensivos processos da ação do homem sobre o meio ambiente, como o lançamento incontrolado de águas utilizadas, provenientes de zonas urbanas e os resíduos industriais. Conforme enfatiza Azevedo e Baltar: Outro problema que deve ser ressaltado é a poluição dos cursos d´água que se constitui num sério problema ambiental e numa ameaça à saúde humana, podendo ainda inviabilizar o uso da água para diversas finalidades, caracterizando-se numa forma de conflito e escassez. Uma das principais formas de poluição dos rios próximos aos centros urbanos é o lançamento de esgotos sem tratamento. Os números reforçam a gravidade do problema, uma vez que cerca de 90% do esgoto urbano do Brasil é lançado sem tratamento adequado nos cursos d´água. (Azevedo e Baltar, 2000, p. 58). 185 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN As principais fontes poluidoras de uma maneira geral são: − as águas residuais urbanas, que contêm os resíduos colectivos resultantes da vida quotidiana. O seu volume está em aumento constante, chegando em certas cidades do país a atingir os 600 litros por habitante e por dia, o que significa cerca de 50 quilos de substâncias secas e sólidas por habitante e por ano, no caso da reserva este aspecto não seria principal; − as águas de origem industrial, que são a principal fonte de poluição das águas dos rios. A maioria das unidades industriais utiliza água em quantidade variável nos diferentes processos de fabrico. Os principais factores poluentes são o petróleo (esta presente na reserva, e já foi evidenciado casos de poluição), o carvão, as indústrias químicas e as que utilizam como matéria-prima a celulose, estes útimos não estão presentes no entorno da reserva ; − a poluição de origem agrícola, proveniente essencialmente de certos produtos utilizados na agricultura, como os adubos, insecticidas e dejectos de origem animal, a agricultura da reserva é de subsistência, não atinge números expressivos de poluição; A contaminação e uso de águas superficiais, é provocada por empresas que cultivam camarões em cativeiros, através da liberação dos efluentes dos viveiros sem um tratamento prévio. Estes efluentes são ricos em matéria orgânica da ração para alimentação dos camarões, excrementos e produtos químicos, como fertilizantes. Quando é lançado no corpo hídrico, o efluente pode causar eutrofização e aumento da turbidez, que por sua vez levará a redução do oxigênio dissolvido e da biodiversidade aquática. Outro produto químico utilizado na carcinicultura e que pode causar problemas ambientais é o metabissulfito. Logo que são retirados dos viveiros os camarões são imersos numa solução de metabissulfito de sódio e gelo, que provoca sua morte por choque térmico e inibe a proliferação de bactérias. O uso do metabissulfito tem como objetivo evitar a melanose, doença que causa manchas pretas no camarão. O lançamento desta solução no corpo hídrico sem nenhum tratamento prévio pode provocar reação com o oxigênio dissolvido e diminuição do nível do pH da água, que leva a ocorrência de mudanças das características químicas do ambiente aquático e conseqüente diminuição da biodiversidade. O potencial de contaminação dos mananciais pelos efluentes dos viveiros de camarão vai depender dentre outros fatores, da capacidade de autodepuração do corpo hídrico e da carga de poluentes lançadas no manancial. A lista dos produtos poluentes das águas dos rios e lagos de um país compreende centenas de substâncias. A sua diversidade aumenta com as múltiplas combinações químicas 186 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN em que participam. Entre os produtos orgânicos mais conhecidos encontram-se os ácidos gordos, ésteres, aminoácidos, detergentes aniônicos e aminas. Entre os compostos inorgânicos encontram-se numerosos sais dissolvidos no estado iônico: sódio, cálcio, potássio, nitratos, cloretos, bicarbonatos, fosfatos e sulfatos. O poder de biodegradação da água é enorme, mas, se a concentração de substâncias orgânicas e químicas ultrapassa certos limites, as águas não a podem regenerar pela ação das bactérias. A vida desaparece e os rios e lagos transformam-se em gigantescos esgotos. Os resíduos industriais lançados nos rios provocam verdadeiras hecatombes nas comunidades aquáticas, sendo particularmente notados os seus efeitos sobre os peixes. Pode verificar-se que numerosas substâncias ácidas, sulfuretos, amoníaco, etc., paralisam as reações biológicas provocando a morte de seres vivos. O aumento de temperatura da água, que implica um aumento do consumo de oxigênio, pode ameaçar seriamente toda a vida aquática. Entre os elementos poluentes da água susceptíveis de provocar efeitos tóxicos no organismo, podemos citar os nitratos e os produtos fluorados que, embora sendo essenciais na prevenção da cárie dentária, se se encontrarem em concentração elevada podem provocar a fluorose crônica. São também poluentes das águas dos rios metais tóxicos como o arsênico, o selênio, o chumbo e o cádmio. Os pesticidas desempenham um papel muito importante na poluição das águas continentais e são muito nocivos para os seres vivos. São ainda causa de poluição os hidrocarbonetos, os detergentes aniônicos (que entram na preparação de detergentes sintéticos) e a radioatividade resultante de resíduos radioativos. A poluição da água dos rios, sob o ponto de vista sanitário, constitui um problema cada vez mais preocupante para todos os países. 2 Características ambientais da reserva Para iniciar a descrição do ambiente que circunda Barreiras, Diogo Lopes, Sertãozinho e adjacências faz-se necessário emitir alguns elementos que caracterizam a Zona Costeira que é o lugar onde a terra, o ar e o mar interagem (se encontram), um influenciando o outro criando um ambiente único, de características especiais e muito ricos em recursos naturais. Rocha (1995, p.176) considera: "a paisagem como o produto do acúmulo da interação dos fatores geológicos, geomorfológicos, bióticos e antrópicos através dos tempos". 187 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Para Rodrigues (2000, p. 22): "a paisagem se apresenta como um processo dinâmico, e não estático", processo esse que Ignacio, citados por Pires (1998, p.124), interpretam como: "o resultado da interação e mútua dependência das ações climáticas, físico-químicas, biológicas e antrópicas ao longo dos tempos, compondo um conjunto único e indissolúvel que se encontra em permanente evolução". Mendes descreve a paisagem como: (...) uma porção do território apreendida pelo observador, na qual se inscrevem combinações de fatos e de interações das quais, em determinado momento, apenas se percebe o resultado global. Assim, percebemos que a paisagem expressa os diversos recursos naturais existentes numa determinada área, relacionados com a interação do ser humano, num sistema dinâmico em constante mutação (Mendes 2004, p. 66). Dentro desse contexto, segundo Seger (2006, p. 108): “pode-se considerar que existe um número infinito de paisagens em constante processo de transformado, moldadas tanto por agentes naturais quanto pela ação humana e que podem ser concebidas de diferentes formas, segundo a percepção de cada pessoa”. A paisagem, segundo Alonso (apud Seger, 2006, p. 146), pode ser agrupada em três grandes grupos: a) Físicos: no qual se enquadram o relevo e a superfície do solo, presença de formações rochosas, água (lagos, rios, córregos e cachoeiras), neve, geada, neblina, etc. Entre todos, o relevo é o que se destaca, podendo ser considerado como principal componente, pois além de ser a base onde os demais se assentam, também exerce uma forte influência sobre a percepção da paisagem. A água também é um componente que tem importante papel na formação de uma paisagem, sendo que sua presença não só dá um toque diferenciado, mas também se constitui geralmente no principal atrativo para as pessoas; b) Bióticos: compostos pela vegetação (nativa ou cultivada) em diferentes estratificações, a fauna (silvestre e doméstica) e também os fungos. A vegetação exerce grande influência na caracterização da paisagem visível, sendo que raramente a sua percepção se dá de forma individualizada (há casos em que um indivíduo arbóreo pode se destacar dos demais), mas de todo um conjunto fisionômico e estrutural. 188 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Já a fauna por ser um componente que apresenta a particularidade da mobilidade e, dependendo do ambiente, pode até ficar "camuflada" entre a vegetação, pode muitas vezes não ser percebida pela maioria dos observadores; c) Antrópicos: representados por estruturas oriundas da ação humana, que podem ser pontuais, extensivas ou lineares. A interferência humana na transformação e/ou criação de novas paisagens tem sido grande, a ponto de em determinados países praticamente, não mais serem observadas paisagens estritamente naturais. Dentre as principais atividades antrópicas transformadoras ou criadoras de paisagens destacam-se: agricultura, pecuária, urbanização, indústria, turismo e atividades desportivas (Alonso apud Seger, 2006). Para Pires (1998, p. 44) "esses componentes podem adquirir pesos específicos e distintos no conjunto, quando se sobressaem por sua singularidade, raridade, valor estético, interesse histórico, etc., ou quando dominam totalmente a cena". Somam-se ainda para a composição da paisagem as condições atmosféricas e do céu (aberto, nublado, seminublado, etc.), que geralmente exercem influência na percepção das pessoas em relação aos demais componentes das paisagens, além do aspecto visual, também sons e odores são considerados por esse autor como componentes estéticos (Seger, 2006). Nesse caso, tanto a percepção como a apreciação acontecem de forma bastante subjetiva. Paisagem é tudo aquilo que podemos ver em um lance de vista, que pode ter para nós um valor estético, um valor ambiental (como recurso natural) e também um valor históricocultural. A paisagem é como um cenário onde se passa a nossa vida. Estes três municipios situados na reserva, Barreiras, Diogo Lopes e Sertãozinho por estarem na mesma região fisiográfíca, apresentam as mesmas características geoambientais, sendo influenciados pelos mesmos agentes hidrodinâmicos, como ondas, correntes, marés e vento, e assim sujeitos a processos morfológicos semelhantes tais como a formação de penínsulas e ilhas orientadas no sentido Leste-Oeste. Possuem uma grande diversidade paisagística, formada por praias, dunas, manguezais, falésias, braços de mar, que não deve apenas ser conservada mas preservada para as futuras gerações. Apresentam um clima semiárido quente com estações secas de 7 a 8 meses de duração (junho a janeiro). O mês mais quente é fevereiro, quando as temperaturas atingem até 35°C e o mais frio é julho, (até 18ºC). A temperatura média anual é de 26ºC. 189 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN A insolação é bastante elevada, principalmente nos meses de agosto a janeiro, chegando a 8,3 horas/dia7, fato importante para a produção do sal, uma vez que essa atividade faz parte da economia da região (Figura 6). A baixa quantidade de chuvas, que limita o aporte de água doce pela temperatura elevada e por ventos secos não favorecem apenas a extração do sal, mas também contribui para a existência de "rios" salinos, margeados por vegetação de mangue, parte da qual tem suas raízes totalmente expostas durante a maré baixa. A determinação da salinidade8 pode ser muito útil para a Oceanografia, porque pode auxiliar na identificação das massas de água e acompanhamento de sua movimentação e mistura. Pode ser também utilizada para se calcular a densidade, importante entre outros fatores, para determinação da estabilidade vertical da água. Para a Oceanografia biológica o conhecimento da salinidade é valioso para se compreender os padrões anatômicos, fisiológicos e comportamentais dos organismos marinhos. Estas áreas, por suas características de alta salinidade, abrigam grande quantidade de animais e plantas tipicamente marinhos. Figura 6 – Salinas entre Macau e Guamaré Segundo a definição de Maglioca (1987), a Oceanografia é: “O estudo dos oceanos, abrangendo e integrando todo conhecimento pertinente aos limites físicos do oceano, a química e a física da água do mar, a biologia marinha e a geologia das margens e do fundo dos oceanos”. Pelas suas características peculiares, por abrigarem importantes extensões de florestas e de mangues e por servirem de morada para comunidades de plantas e animais diferenciadas 7 A quantidade de radiação solar recebida pela superfície terrestre por uma unidade de área. Varia de acordo com a estação, a latitude, a transparência da atmosfera, o aspecto e/ou a declividade do solo, etc. 8 A salinidade é definida como o peso em gramos dos sais dissolvidos em 1 quilograma de água do mar depois que todo o brometo tiver sido substituído pelo cloreto, todo o carbonato for convertido a óxido e toda matéria orgânica for destruida. (SCHMIEGELOW, 2004, p. 66). 190 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN daquelas encontradas em estuários típicos (nos quais a salinidade flutua em função da maior ou menor entrada de água doce), os "rios" salinos são ambientes de grande importância para a conservação marinha através de estudos oceanográficos. As águas subterrâneas encontram-se hidrogeologicamente acumuladas, provavelmente em quatro formações litológicas com possibilidades aquíferas. Os depósitos de areias eólicas (que constituem as dunas, os montes) associados aos sedimentos aluviais e praias, formam um aquífero livre, cuja acumulação de água é restrita, em decorrência da pouca espessura e extensão, sendo portanto de baixa potencialidade hídrica. Sua fonte de alimentação é essencialmente por água de chuvas. Encontra-se com influência das águas do estuário e/ou oceano, resultando em zona de acumulação de água doce acima de água salgada, restringindo a captação de água doce por bombeamento (risco de salinização por intrusão de água salgada). É essa água que se retém em poços e cacimbas, cuja utilização gera um grave perigo de contaminação desta água pelas fossas, já que o manuseio de águas acumuladas nestes poços ou cacimbas são feitos de forma artesanal e sem os devidos cuidados possam ser mesclados com fezes. Por todos esses problemas sérios de captação de água é que a reserva atravessa um sério problema de abastecimento. O saneamento é a forma de prevenir a poluição. Normalmente, os leigos arrostam o saneamento como sendo apenas o uso de água potável, isto é um grande engano. Saneamento é o controle de todos os fatores do meio ambiente físico do homem, os quais exercem ou podem exercer efeitos deletérios sobre o seu bem estar físico, mental e social. Conforme afirma o autor Viana, as atividades de Saneamento envolvem principalmente os seguintes aspectos: Sistema de abastecimento de água; Sistema de esgotos sanitários, industriais e pluviais; Saneamento do lixo; Controle de poluição da água e do ar; Saneamento e planejamento territorial, sistemas de drenagem e de controle de inundações e erosão (Viana, 2002, p. 46). O abastecimento de água constitui um elemento essencial à vida animal e vegetal. A importância sanitária do abastecimento de água é dos mais ponderáveis e sua implantação traz como resultado uma rápida e sensível melhoria na saúde e nas condições de vida de uma comunidade, principalmente através do controle de doenças e nos hábitos de higiene. No estudo qualitativo, no médoto alternativo etonográfico , cuja técnica de aplicação utilizada fotografia do ambiente, constatou-se que existe vários pontos de captação de água em diversos lugares da reserva (Figura 8 e 9), inclusive com lixos ao seu redor (Figura- 7) 191 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN contaminando a água armazenada, confirmando as péssimas condições de higiene. Estas fotografias abaixo contextualizam o problema e ratifica a importância do uso do método etnográfico. Figura 7 – Lixo na Praia Figura 8 – Tubulações para armazenar água de chuva Figura 9 – Armazenamento de água Os Manguezais9 se encontram nas regiões tropicais do planeta, atingindo seu máximo desenvolvimento estrutural onde ocorra alta precipitação pluvial e grandes marés. No Brasil os manguezais formam grandes sistemas nas regiões norte e nordeste. É um ambiente de alta produtividade biológica, sendo também uma importante área de reprodução de espécies 9 O Brasil tem uma das maiores extensões de manguezais do mundo. A costa brasileira apresenta, numa superfície de cerca de 20 mil km2, desde o Cabo Orange, no Amapá, até o município de Laguna, em Santa Catarina, uma estreita faixa de floresta chamada manguezal ou mangue. Este é composto por um pequeno número de espécies de árvores e desenvolvem-se principalmente nos estuários e na foz dos rios, onde há água salobra e local semi-abrigado da ação das ondas, mas aberto para receber a água do mar. Trata-se de ambiente com bom abastecimento de nutrientes, onde, sob os solos lodosos, há uma textura de raízes e material vegetal parcialmente decomposto, chamado turfa. Nos estuários, os fundos lodosos são atravessados por canais de marés (gamboas), utilizados pela fauna para os seus deslocamentos entre o mar, os rios e o manguezal. 192 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN animais. As raízes das árvores de mangue , são utilizadas como área de alimentação e servem como abrigo para filhotes de peixes e crustáceos, têm grande importância na manutenção dos ciclos reprodutivos de muitas espécies e, consequentemente, das atividades econômicas que delas dependem, como é o caso da pesca artesanal. Por isso faz-se necessário um maior empenho do poder público em preservar a Reserva Ambiental de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão e promover um manejo ecológico das espécies e ecossistemas. Constata-se através da técnica de fotografia do ambiente, do método etnográfico aplicado neste estudo, que a reserva ainda possui muitas belezas naturais a exemplo desta foto (Figura -10) que contextualiza as características de vegetação existente nos mangues. Figura 10 – Distrito de Diogo Lopes – mangues O autor José Afonso da Silva (1997, p. 31), em sua obra enfatiza que é necessário: “cuidar do equilíbrio das relações entre a comunidade biótica e seu habitat”. Exige-se pesquisa e manipulação do material genético. Essa é uma questão trágica, pois os dados apontam a um crescimento assustador ao longo dos anos, o autor Leonardo Boff (1995, p.15) afirma que “entre 1500-1850 foi presumivelmente eliminada uma espécie a cada dez anos. Entre 1850-1950, uma espécie por ano. A partir de 1990 está desaparecendo uma espécie por dia”. A prosseguir assim, o que será da biodiversidade do planeta? Os manguezais, embora protegidos pela legislação ambiental brasileira, vêm sendo alvo de uma destruição cada vez mais acentuada, que se configura principalmente pelo corte de árvores. O desconhecimento acerca de sua importância ecológica e sócio-econômica tem levado, por vezes, à implantação de modelos de desenvolvimento que passam longe da noção de sustentabilidade (o desenvolvimento sustentável busca conciliar preservação da natureza e 193 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN desenvolvimento sócio-econômico) e que passam a idéia de que preservação ambiental e desenvolvimento econômico não podem existir em harmonia. Afirma a autora Ángela Barrón Ruiz (2002, p. 34): Para reparar tal daño se necesitan no sólo soluciones técnicas, superficiales e inmediatas, sino que éstas deberán ir acompañadas de una revisión más profunda de nuestras concepciones y valores que conduzca, más a largo plazo, a un rearme moral que permita orientar por mejor camino las relaciones del ser humano no sólo con su medio natural sino también consigo mismo y con su medio social. Neste sentido, cabe destacar o papel importante que a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão terá na preservação de manguezais no Rio Grande do Norte, que por sua vez, é essencial para garantir o futuro da pesca artesanal desenvolvida pelas comunidades locais, pois serve de sustento para muitas famílias que residem na reserva. Esta comunidade deu um belo exemplo do valor de organização comunitária através de uma gestão integrada, frente a preservação ambiental optou em transformar a região em uma Reserva Ambiental, fato que comprova a importância do envolvimento comunitário no êxito do planejamento e gestão ambiental, assegurando o respeito aos seus valores sócio-culturais e a autonomia para poder decidir sobre alternativas de desenvolvimento econômico, compatibilizadas com suas expectativas. 3 Caracterização das comunidades da reserva As comunidades litorâneas, Diogo Lopes/Sertãozinho e Barreiras pertencem ao Município de Macau. São consideradas Comunidades de Pescadores, bastante povoadas: Diogo Lopes conta com 1300 famílias e Barreiras com 560 fazem parte da Reserva Ponta do Tubarão, juntamente com as comunidades rurais do Município de Guamaré, quais sejam, Lagoa Doce I, Lagoa Doce II e Mangue Seco. Diogo Lopes, a maior comunidade, possui aproximadamente 5.500 habitantes, é um Distrito que pertence ao Município de Macau, ficando a 15km da sede do município. É uma comunidade típica de pescadores, dos quais 540 são cadastrados (registrados na Colônia dos Pescadores – 2008), as ruas da comunidade são todas pavimentadas com paralelepípedos conforme demonstra a foto obtida através do método etnográfico de fotografia do ambiente (Figura 11). É uma comunidade organizada, sua configuração física segue a formação do próprio estuário, ficando as margens do rio/maré/Estuário do rio Tubarão, próximo ao 194 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN manguezal; localiza-se em um nível mais baixo que Barreiras. Possui uma rua principal, não muito larga, margeia o Estuário e corta toda a cidade. As residências localizadas na área mais central são conjugadas em sua maioria. As moradias localizadas nas ruas à cima contam pavimentação desigual e o isolamento entre elas é pequeno. Figura 11 – Distrito de Diogo Lopes – estruturação do espaço urbano. Suas margens estão urbanizadas com pequenos bares. Na beira do rio existem aproximadamente 10 ranchos de pescadores, estas informações foram coletadas através do método etnográfico de pesquisa, no qual utilizou duas técnicas, as fotografias do ambiente e entrevistas com os pescadores onde o ponto de encontro para coleta da mesma foi próximo ou dentro dos rachos que servem para o recebimento do pescado e para a negociação dos peixes,bem como também são guardados os apetrechos de pesca, se faz o beneficiamento, a confecção e conserto de redes, mas, principalmente, são os locais de encontro entre os pescadores. Vale salientar que a maioria dos pescadores desses ranchos são os pescadores mais antigos, sendo a maioria, já aposentados, que foram mestres de barco (Figuras 12 e 13). Figura 12 e 13 – Diogo Lopes – rancho na beira-mar, pescadores guardam as redes e barcos de pesca. 195 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Na comunidade existe uma sub prefeitura para a administração local. Os terrenos das famílias foram adquiridos em sua maioria via posse, presente de políticos, herança de família, doação de familiares, empréstimos, e ou aluguel. Os terrenos com documentação (escritura em cartório) são poucos, a maioria são contratos de gaveta, vendas de terceiros que adquiriram por meio de sistema de posse ou invasão. A comunidade dispõe de Igreja Católica e Assembléia de Deus, Agência de Correios e Telégrafos, 04 escolas, sendo uma estadual, 2 creches, uma escolinha de alfabetização particular, 1 posto de saúde com médico 3 vezes por semana e uma enfermeira permanente. Para o lazer a comunidade conta com quatro praças e uma quadra de esporte, clube dos idosos, sede da ADECODIL, sede da Colônia dos Pescadores, sede da Comissão de Justiça e da Paz, sede da ONG ambientalista – projeto cavalo Marinho, e a sede do Espaço Cultural de Diogo Lopes – Casa da Criança – Petrobrás, com cerca de 300 crianças matriculadas em aulas de artes, desenho, pintura, dança, teatro e computação. Na comunidade também estão sediados um frigorífico que mantém convênio com a ADECODIl, mercearias, padarias, bares, restaurantes caseiros, 1 clube (Associação Augusto Ribeiro) para eventos esportivos, além dos postos de venda de pescado e mariscos. Além disso existe uma Delegacia de Policia que atende também as comunidades circunvizinhas. A comunidade possui energia elétrica, abastecimento d´água com distribuição de água encanada para parte das residências, sistema de telefonia em cerca de 30% das residencias, alguns telefones públicos (orelhões), iluminação pública, sistema de transportes (empresa ônibus e microônibus) ao custo de R$ 1,50 a R$ 2,00. e alternativos- sistema de bestas de hora em hora, alem das moto-táxis. Existe também transporte particular direto e diário Natal - (Capital). Não existe mercados na comunidade, a população se desloca para Macau aos sábados para fazer suas compras semanais. Vale salientar a existência de uma rádio comunitária FM. (IDEMA/2008). A renda da população de Diogo Lopes provém da pesca ou de empregos na Prefeitura Municipal e Estadual, onde os funcionários ocupam cargos na área de educação e de saúde, e na Sub Prefeitura local. Uma parcela da população vive de aposentadoria ou pensão. Apesar de existir laboratório de larvas e viveiros de camarão, o número de empregos é muito pequeno. A comunidade de Barreiras, também integrante do Município de Macau, localiza-se próxima a Diogo Lopes. Conta com uma população de aproximadamente 2.800 habitantes e apresenta certa semelhança a Diogo Lopes em termos de organização social e econômica. A diferença existente entre as duas comunidades se dá em relação da configuração física: apesar 196 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN de ambas se apresentarem constituídas em forma linear, a morfologia de Barreiras é diferenciada: Barreiras fica em um nível mais elevado e a organização do seu espaço urbano indica um certo planejamento. O arruamento é perfeito, as ruas são mais largas e as casa são recuadas em relação à calçada, mas ambas comunidades surgiram em função da riqueza dos seus recursos naturais: a pesca. Em relação ao aspecto fundiário, observamos que as terras, em sua maioria, pertencem aos donos das salinas: não foram invadidas, foram cedidas. Os habitantes que moram no centro são posseiros e algumas áreas do centro pertencem ao Dr. Petit. As famílias já moram nesses locais há mais de 30 ou 40 anos. A maioria das famílias de Barreiras vive da pesca, que se constitui na maior fonte de renda, assim como em Diogo Lopes muitos habitantes são aposentados e pensionistas. Ressaltamos que os pescadores destas comunidades aos 50 anos não têm mais condições para a pesca, devido à exposição aos raios solares, e à força necessária para o trabalho com as redes de pesca nos barcos, aliada à necessidade de permanecerem muitas horas acordados. Além disso, na pesca da lagosta muitos pescadores utilizam para os mergulhos compressores inadequados (bujão de cozinha), o que os torna incapacitados para a atividade após os 50 anos. Esses pescadores passam então a desenvolver outras atividades: confeccionam redes ou tornam-se atravessadores, recebendo e vendendo o produto. Vale salientar que existem alguns moradores que são funcionários da Prefeitura de Macau e exercem atividades no Posto de Saúde, nas escolas, na limpeza das ruas, e na coleta do lixo. De um modo geral, observa-se muitos desempregados devido à diminuição da produção pesqueira nos últimos cinco anos. Em termos de infra-estrutura de serviços, o povoado conta com energia elétrica, domiciliar e pública. São vários equipamentos urbanos: praças, escolas, quadra de esportes, Igrejas Católicas e Templo Evangélico, Associação Comunitária, Centro do Idoso, além de um pequeno comércio constituído por supermercados, mercearias, bares e restaurantes. Em relação ao transporte, a população é bem servida por meio de bestas alternativas, ônibus e microônibus de linha regular. As duas comunidades, Diogo Lopes e Barreiras, possuem formas diferenciadas de apropriação dos espaços, se as compararmos a outras comunidades de igual porte. A localização geográfica dessas comunidades, um vasto estuário, fonte de recursos naturais, favorece a fixação dos moradores e ao estabelecimento de relações sociais mais fortes e permanentes, pois exercem a mesma atividade econômica, a pesca. Pode-se observar que as comunidades de Diogo Lopes e de Barreiras possuem diferencial, constituído exatamente pelo 197 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN alto grau de solidariedade social predominante, que pode ser atribuída à pratica da mesma atividade econômica. O ambiente marinho tem um valor ambiental, paisagístico e produtivo muito grande, e é considerado por todos como espaço de viver e de trabalho. Presume-se que este fato deve ter direcionado a formação de uma consciência coletiva dos residentes em relação a esses espaços. Essa consciência é fortalecida por todos por meio de ações voltadas à preservação ambiental. Por outro lado, os três povoados localizados no Município de Guamaré, Lagoa Doce, Mangue Seco I, Mangue Seco II, estão inseridos na área delimitada da Reserva, mas em termos de organização comunitária não apresentam o mesmo grau de união observado nas comunidades de Macau, pois, a própria localização geográfica não favorece: as residências são espalhadas, a população também ocupa funções mais diversificadas, não estando envolvidos numa única atividade econômica como é o caso das comunidades de Macau, onde a pesca se constitui um importante fator de aglutinação da população. O povoado de Lagoa Doce pertence ao município de Guamaré e está inserido na Reserva Ponta do Tubarão (Figuras 14, 15, 16 e 17). É uma comunidade localizada a cerca de 6 Km das comunidades de Diogo Lopes e Barreiras. Existem aproximadamente 45 ou 50 casas, com aproximadamente 200 residentes na área. É um povoado bem antigo, não possui calçamento, apenas possui precariamente uma quadra de esportes e um campo de futebol, existe a presença da Igreja católica. Possui apenas uma escola Municipal (pré e 1ª série do ensino fundamental). Conta com duas mercearias para o abastecimento local. A localidade possui energia elétrica e o abastecimento dágua é precário feito pela CAERN. Figura 14 – Povoado de Lagoa Doce – Guamaré Figura 15 – Povoado de Lagoa Doce (escola, igreja e ginásio poliesportivo) – Guamaré 198 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Figura 16 – Povoado de Lagoa Doce – depois das dunas – Guamaré Figura 17– Povoado de Lagoa Doce – Guamaré Em relação à posse da terra, é comentado que Lagoa Doce na verdade é uma fazenda, “é uma terra só” e, que os terrenos foram cedidos para a moradia de famílias. Na verdade, as terras pertencem à família de Manoel Xavier da Cunha e de Francisco Pinheiro. A área conta com árvores frutíferas e algumas pequenas plantações, além de contar com pequeno rebanho bovino voltado apenas à sobrevivência das famílias. O povoado de Mangue Seco I e II (Figuras 18 e 19) localiza-se na mesma direção de Lagoa Doce; possui cerca de 35 casas espalhadas que abrigam aproximadamente 150 famílias. O acesso se dá pela mesma estrada que leva à Lagoa Doce, e se encontra aproximadamente a 3 Km do Pólo/Gás. Suas terras pertencem a Zeca Pinheiro, Sr. José Chagas de Queiroz. O povoado não possui calçamento, mas conta com energia residencial e pública. O abastecimento d’água se dá por meio de uma caixa d´água que leva água que é abastecida por um cacimbão. Possui um ginásio poliesportivo, um grande Parque de Vaquejada com iluminação pública, um Posto de Saúde e apenas uma escola municipal de 1º grau, no entanto, a população conta diariamente com transporte escolar que leva as crianças de Mangue Seco I, Mangue Seco II e Lagoa Doce para Escola em Guamaré.(IDEMA/2008). 199 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Figura 18 – Povoado Mangue Seco I– Guamaré Figura 19 – Povoado Mangue Seco II – Guamaré A agricultura é de subsistência, as casas possuem quintais com fruteiras, além de pequenas plantações. Observa-se também a criação de galinhas e patos. Próxima das moradias existe uma lagoa, formada das águas das chuvas, que permanece com água por uns 6 meses depois da estiagem. 4 Alerta ambiental e as espécies-bandeiras As espécies-bandeira são organismos que por razões ecológicas ou sociais são valiosas para entender, proteger e conservar ambientes naturais. São espécies geralmente de animais que atraem a atenção do público devido ao seu carisma ou sua beleza. Normalmente as espécies-bandeira são utilizadas para chamar a atenção das pessoas para os problemas ambientais sofridos por seus habitats. Através destas espécies são desenvolvidos projetos de conservação e manejo de ecossistemas, que vão trazer benefícios não apenas para as espéciesbandeira, mas para todos os outros animais e plantas do ambiente. A deterioração das florestas e de outros ambientes naturais provocará alteração nos ecossistemas e consequentemente muitas espécieis poderão ser extintas pelas dificuldades de mobilidade e adaptação. De um modo geral, as espécies-bandeira são organismos que estão ameaçados de extinção. No Brasil, as principais espécies-bandeira são animais de grande e pequeno porte como o Peixe-boi marinho, a Baleia Jubarte, o Mico-leão dourado e a Tartaruga-marinha. Figura - 20, apenas ilustrativa. 200 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Figura 20- Peixe-boi marinho, Baleia Jubarte, Mico-leão dourado, Tartaruga marinha. Já foram criadas reservas ambientais na costa brasileira. Um exemplo é a Área de Proteção Ambiental Barra do Rio Mamanguape (Paraíba), que foi instalada para proteger o peixe-boi marinho, uma das espécie ameaçadas de extinção. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (Amazonas), foi inicialmente criada para proteger o macaco de cabeça branca conhecido como Uacari, que estava ameaçado de extinção e só existe nas florestas inundadas de Mamirauá. Hoje, treze anos depois, Mamirauá, é uma reserva que serve como exemplo de sustentabilidade e responsabilidade social. Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão adotou-se a espécie-bandeira cavalo-marinho já que o ano de 2004, não foi definitivamente um ano de comemorações na costa brasileira, visto que duas espécies de cavalo-marinho10 que habitam nosso litoral – Hippocampus erectus e Hippocampus reidi –, entraram para a lista das espécies de peixes e invertebrados aquáticos Ameaçadas de Extinção. Figura- 21, apenas para ilustração e para o conhecimento visual das espécies que antes eram encontradas com abundâcia na reserva. Figura 21 – Espécies Hippocampus erectus e Hippocampus reidi. 10 Peixe actinopterígio, lofobrânquio, singnatídeo (Hippocampus guttulatus), de coloração que varia entre o pardo-claro e o verde carregado, pintalgado. O corpo é revestido de anéis ósseos, e a cauda, preênsil, constitui quase a metade dele. [Nada em posição ereta, e alimenta-se de pequenos crustáceos. Os ovos são incubados numa bolsa abdominal do macho.] Dicionário Aurélio - sec-XXI. 201 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN A cada ano, milhões de cavalos-marinhos são comercializados no mundo sendo que a maioria é usada pela medicina tradicional chinesa, que utiliza exemplares secos na formulação de medicamentos. Centenas de milhares de animais vivos são vendidos pela indústria de peixes ornamentais. No Brasil são praticadas as duas modalidades de comércio: vendem-se exemplares secos como suvenires ou amuletos e exemplares vivos como peixes ornamentais. Setenta e sete países estão envolvidos no comércio de cavalos-marinhos, atividade em que o Brasil exerce um importante papel como exportador. A indústria do aquarismo representa um importante setor do mercado nacional e internacional de peixes (Monteiro Neto, 2003, p. 128). A criação de peixes surgiu como atividade básica para suprir as necessidades alimentares. Na China, entretanto há mais de três mil anos já se cultivava peixes em viveiros para fins ornamentais. Na sociedade ocidental esta atividade começou a se desenvolver na Europa (século XVII) época em que o primeiro aquário público foi construído em 1853 (Mills, 1998). O aquarismo é um hobby consagrado em todo o mundo e tem como foco principal espécies de cores, formas e comportamentos chamativos e graciosos. Acredita-se que cerca de 1,5 a 2,0 milhões de pessoas no globo mantenham aquários marinhos (Wabnitz, 2003), constituídos basicamente por espécies associadas aos recifes (Wood, 2001), ambientes onde a fauna exibe grande diversidade e exuberância de padrões de colorido. Mundialmente são comercializadas cerca de 1.500 espécies de peixes marinhos para fins ornamentais, com uma estimativa de 20 a 30 milhões de indivíduos por ano (Wood, 2001; Wabnitz, 2003), representando cerca de 10% do total de organismos comercializados para o mercado de aquariofilia (OFI, 2003). O mercado de peixes ornamentais marinhos e de produtos para a aquariofilia é uma atividade consolidada, que movimenta por ano cerca de 500 milhões de dólares (Moore e Best, 2001; OFI, 2003), sendo de grande importância econômica em muitas regiões, principalmente nos países em desenvolvimento (Andrews, 1990; Cheong, 1996; Davenport, 1996; Chapman, 1997). O Brasil é um reconhecido exportador de peixes ornamentais, tendo iniciado as atividades na década de 70, em Cabo Frio, Rio de Janeiro e expandido o mercado na década seguinte. Em 1998, encontrava-se em sexto lugar nas exportações dos países da União Européia (Monteiro-Neto et al., 2000; Whittington et al.., 2000; Wood, 2001; Sampaio e Rosa, 2003). Grande parte das exportações é representada pelos peixes de águas continentais (Chao, 1992; Albuquerque-Filho, 2003; Chao et al., 2003); apenas da região de Barcelos, no médio Rio Negro, Amazonas, entre 28 e 65 milhões de peixes foram exportados durante os anos de 1998 a 2003 (Chao et al., 2003). 202 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN As espécies marinhas, embora constituam uma parcela menor do volume comercializado, representam um grande incremento de receita, pois o valor unitário dos espécimes é geralmente maior (Barreto, 2002). Sob a ótica conservacionista, um fator de relevada importância do comércio de peixes ornamentais marinhos é a origem dos animais, uma vez que a grande maioria dos exemplares comercializados é extraída do ambiente natural e o cultivo limita-se de 1 a 10% das espécies. Já o mercado de peixes ornamentais de águas continentais por sua vez, trabalha com um grande número de peixes e de espécies cultivadas, em torno de 90% (Whittington et al., 2000; OFI, 2003). Qualquer atividade que envolva a extração de recursos naturais deve ser gerenciada por meio de medidas de ordenamento e manejo, para permitir o equilíbrio dos ecossistemas, promover o uso sustentável de seus recursos e garantir a preservação não só deste sistema, mas de todas as entidades biológicas associadas. 5 A exploração de peixes ornamentais marinhos no Brasil Estes dados utilizados foram fornecidos pelas Gerências Executivas do IBAMA no estado do Ceará, através de guias de trânsito para a exportação de peixes ornamentais marinhos e, nos estados de Pernambuco, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro, por outros meios de controle. Também foram utilizados os dados contidos nos trabalhos do LABOMAR/IMAT/IBAMA11 (1997; 1998), Nottingham et al. (2000), Barreto (2002) e Monteiro-Neto et al. (2003), todos para o Estado do Ceará, e para Pernambuco os dados de IBAMA/CEPENE12(1995). Dados gerais do mercado brasileiro foram retirados do relatório da IUCN (Monteiro Neto et al., 2000). Estima-se que no ano de 2000 existiam em todo o Brasil, entre 23 e 25 empresas que exportavam ou comercializavam peixes ornamentais marinhos no atacado (Monteiro-Neto, 2000). Entretanto, não existe qualquer estimativa viável do número de pessoas envolvidas na captura. Três fatores dificultam a estimativa desse número, o primeiro refere-se a ausência de caracterização dos coletores como pescadores de ornamentais, o segundo é a flutuação no número de pescadores envolvidos na atividade, e o último fator é a dificuldade no acesso aos 11 LABOMAR - Laboratório de Ciências do Mar/ IMAT – Grupo de Ictiologia Marinha Tropical/IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. 12 IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis /CEPENE – Centro de Pesquisa e Extensão pesqueira do Nordeste. 203 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN registros dos pescadores e das embarcações, que passaram a ser efetuados pela Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca – SEAP (LABOMAR/IMAT/IBAMA, 1998). Observa-se que não há equitabilidade sobre as informações disponíveis para esta atividade no Brasil. No Ceará concentra-se o maior número de dados e informações sobre a pesca de peixes marinhos destinados ao aquarismo no Brasil. Esta constatação está fundamentada nos trabalhos desenvolvidos a partir da parceria entre o IBAMA e o Grupo de Ictiologia Marinha Tropical – IMAT – da Universidade Federal do Ceará (LABOMAR/IMAT/IBAMA, 1997 e 1998; Nottingham et al., 2000). Os trabalhos produzidos a partir dessa parceria descrevem a captura, o transporte, a manutenção e a comercialização de peixes ornamentais marinhos no Estado e apresentam dados de produção, esforço de pesca e Captura por Unidade de Esforço (CPUE). Outras informações apresentadas dizem respeito ao número de empresas exportadoras e importadoras, número de pescadores e embarcações e número de espécies e indivíduos comercializados. Em 1998, havia quatro empresas exportadoras e cinco pontos que comercializavam peixes ornamentais marinhos, cinco embarcações e quatorze pescadores. No ano de 2000 havia oito empresas exportadoras e aproximadamente onze embarcações operando na pesca de peixes ornamentais. Vale ressaltar que neste período estas embarcações eram registradas para a pesca de lagosta ou peixes diversos. Posteriormente passaram a ser licenciadas para captura de recursos denominados “diversos não controlados” e somente em março de 2003, foram emitidas as primeiras licenças de pesca específicas para peixes ornamentais marinhos pela SEAP. Em 2003, havia cinco empresas cadastradas e sete embarcações operando com cerca de 28 pescadores. O estado do Ceará13 comercializa quantidade de peixes ornamentais marinhos, comprando peixes capturados em outros estados e fornecendo espécimes para Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia, Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No mercado Internacional o Estado fornece para dezenove países e entre os anos de 1995 e 2000 foram exportados 199.304 indivíduos de peixes ornamentais marinhos. Na Paraíba no ano de 1998 foram concedidas licenças a nove pescadores profissionais para atuar nesta atividade, no entanto Em agosto de 2000 apenas uma licença foi renovada e uma empresa de pequeno porte atuava na comercialização dos peixes. 13 Ceará-Estado localizado no Nordeste do Brasil e que faz fronteira com o Estado do Rio Grande do Norte onde está localizada a Reserva de Desenvolvimento Sustentavel Ponta do Tubarão. 204 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Pernambuco é um estado em que a exploração de peixes ornamentais marinhos parece estabelecida, uma vez que a sua comercialização é contínua. Em 1995 havia cinco lojas que comercializavam peixes ornamentais com apenas duas destas atuando com espécies marinhas e em 2000 quatro empresas registradas. As espécies mais comercializadas entre os anos de 1998 e 1999 foram cavalo-marinho(Hippocampus sp e Gramma brasiliensis, Sazima e Moura ,1998), peixes ( phoxinus phoxinus, Linnaeus, 1758) e (synbranchus marmoratus, Bloch ,1795). Em Alagoas até o ano 2000 existia apenas uma empresa registrada que capturava, comercializava e exportava peixes ornamentais marinhos, não envolvendo mais que três pessoas. Não havia conhecimento da parte do IBAMA de solicitação de licenças nos três anos anteriores e as pessoas envolvidas na captura eram da própria comunidade. O volume de exportação era de aproximadamente 300 indivíduos, de dois em dois meses, no entanto é importante citar que possivelmente esta atividade estava ocorrendo de forma clandestina. Na Bahia no ano de 2000 cerca de quatro empresas atuavam no Estado como importadoras e exportadoras de peixes ornamentais, sendo que duas delas encontravam-se em processo de liberação de autorização de funcionamento. Em 2003, cerca de dez empresas comercializavam peixes ornamentais, sendo uma de exportação, duas de comércio interno e sete empresas de “status” desconhecido. O estado da Bahia é um grande fornecedor de peixes ornamentais, vendendo espécimes para Ceará, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Dentre as espécies mais comercializadas em 2000 estavam Gobiosoma evelynae – nome válido atual: Elacatinus figaro, segundo Moura & Rosa (1997), holacanthus ciliaris, Pomacanthus paru, segundo Bloch (1787), Gramma brasiliensis e Hippocampus erectus, segundo Perry (1810). No estado do Espírito Santo existe um grande volume de atividades no ramo aquarístico de peixes ornamentais marinhos para atendimento ao mercado internacional e nacional. Cerca de 21 empresas atuavam no Estado até o ano de 2000, sendo seis consideradas de pequeno ou médio porte na categoria de empresa de importação e exportação. No ano de 2003, quatro empresas atuavam na exportação de peixes ornamentais marinhos. O Espírito Santo fornece peixes ornamentais marinhos para vários estados brasileiros como Rio de Janeiro, Bahia e Ceará. Na época era identificado o envolvimento de populações tradicionais na captura de cavalos-marinhos e mergulhadores que atuavam na captura de peixes ornamentais e algas calcárias. As espécies mais comercializadas neste Estado eram Gramma brasiliensis, Holacanthus ciliaris, H. tricolor, Centropyge aurantonotus, e Hippocampus erectus (Burges, 1974) . 205 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Em 2003, o estado do Rio de Janeiro contou com doze empresas atuando no mercado de animais marinhos vivos, sendo que apenas cinco delas trabalhavam no atacado, ou seja, com maiores volumes de comercialização. Grande parte dos indivíduos comercializados é capturada em outros estados, principalmente Espírito Santo e Bahia. O Estado de São Paulo tem o papel de grande entreposto para a exportação de peixes ornamentais marinhos, pois a grande comercialização observada utiliza espécimes capturados em outros estados brasileiros. Até o ano 2000 existiam cerca de 1.000 lojas e empresas que comercializavam animais aquáticos vivos, sendo de 30 a 40% restritas à Grande São Paulo e apenas quatorze delas atuando no comércio de importação e exportação. Visando dar início a um processo de ordenamento na comercialização de peixes ornamentais, o extinto Departamento de Pesca e Aquicultura – DEPAQ do IBAMA, hoje Coordenação Geral de Gestão dos Recursos Pesqueiros – CGREP, iniciou em 1991 um trabalho de levantamento das empresas e das espécies de água doce, em todas as bacias brasileiras, o que resultou nas Portarias IBAMA N 062-N/92 e N 080-N/94, que regulamentam a comercialização de peixes ornamentais de águas continentais, listando inclusive as espécies passíveis de exportação. 5.1 Histórico do ordenamento da exploração de peixes ornamentais marinhos no Brasil Para melhor tratar do ordenamento da exploração de peixes ornamentais marinhos no Brasil o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA promoveu seis reuniões técnicas as quais serão abordadas neste capítulo de maneira mais ampla para uma melhor compreensão da forma e dos processos desencadeados pelos órgãos competentes no Brasil a fim de obter um controle das espécies marinhas exploradas. Essas reuniões envolveram além de técnicos deste órgão, pesquisadores de diversas universidades brasileiras e o setor produtivo. Os relatórios das reuniões embasaram a elaboração da Instrução Normativa IBAMA de 14 de fevereiro de 2004 (IN N°14/04), instrumento que atualmente regulamenta a exploração de peixes ornamentais marinhos. Todo o controle e gerenciamento da atividade pesqueira foi competência do Ministério do Meio Ambiente e IBAMA até o ano de 1998, ano em que foi transferida a área de competência relativa à produção e fomento da pesca ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA/Departamento de Pesca e Aquicultura – DPA. A divisão de competência tornou o MAPA responsável pela organização e manutenção do Registro Geral 206 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN da Pesca – RGP, concessão de licenças, permissões e autorizações para o exercício da pesca comercial e artesanal e da aqüicultura. No ano de 1999 foi transferida também para o MAPA, a competência sobre a gestão do uso de recursos pesqueiros de espécies altamente migratórias e espécies inexploradas, excetuando-se os mamíferos aquáticos. Ao Ministério do Meio Ambiente – MMA – e IBAMA, sua competência passou a ser a das políticas nacionais do meio ambiente, da preservação, da conservação e a proposição de estratégias, mecanismos e instrumentos econômicos e sociais para a melhoria da qualidade ambiental e do uso sustentável dos recursos naturais. Além disso, o MMA e o IBAMA permaneceram como órgãos gestores do uso dos recursos pesqueiros explorados ou ameaçados de exploração, compreendendo fixar normas, critérios e padrões para a pesca. A estrutura de gestão da pesca no Brasil foi novamente modificada, passando toda a competência do MAPA/DPA, no âmbito da pesca, à Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República – SEAP/PR, através da Medida Provisória Nº 103 de 01 de janeiro de 2003, posteriormente transformada na Lei N° 10.683, de 28 de maio de 2003, A divisão e sobreposição de competências entre o MMA/IBAMA e o MAPA/DPA contribuíram para fragilizar a autoridade do IBAMA e gerar dificuldades administrativas e operacionais nos trabalhos referentes ao ordenamento da exploração dos peixes ornamentais marinhos14. Somente a partir do ano de 1996 tiveram início reuniões técnicas com vistas à análise da pesca de peixes ornamentais marinhos e a formulação de propostas para o ordenamento dessa pescaria. Foram realizadas seis reuniões nacionais para discutir o tema, ocorridas no IBAMA em Fortaleza/CE (1996), CEPENE, Tamandaré/PE (2000), CEPSUL, Itajaí/SC, (2001), IBAMA/Sede, Brasília/DF (2002), IBAMA, Fortaleza/CE (2002) e IBAMA, Fortaleza/CE (2003). Além das reuniões nacionais, foram promovidas reuniões estaduais prévias, para o levantamento de informações que subsidiaram as reuniões nacionais. A Primeira Reunião Nacional ocorreu em Fortaleza, Ceará, na sede do IBAMA e teve como objetivo principal, discutir e avaliar os problemas relativos às atividades de captura e comercialização de peixes ornamentais marinhos e dar continuidade aos trabalhos de ordenamento envolvendo os peixes de águas continentais. Participaram desta reunião, representantes do IBAMA e da comunidade científica. Após a apresentação de trabalhos científicos e de informes estaduais sobre os problemas decorrentes da pesca de peixes ornamentais, os participantes se dividiram em dois 14 Os autores DIAS-NETO e MARRUL-FILHO, apresentam um histórico comentado sobre o assunto. DIASNETO, J. Gestão do uso dos recursos pesqueiros marinhos no Brasil, Brasília, Edições IBAMA, 2003, MARRUL-FILHO, S., Crise e Sustentabilidade no uso dos recursos pesqueiros, Brasília, Edições Ibama, 2003. 207 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN grupos, sendo um para discutir a pesca continental e outro para discutir a pesca marítima. Dentre as recomendações decorrentes desta Reunião, três grupos de trabalho foram propostos para o ordenamento de peixes ornamentais marinhos. O primeiro grupo de trabalho seria formado pelas Gerências Executivas do IBAMA nos Estados e deveria buscar os seguintes objetivos: 1. identificar parcerias nos estados para atuar na fiscalização, na pesquisa e no treinamento de recursos humanos; 2. propor linhas de pesquisa prioritárias; e 3. encaminhar lista de espécies ornamentais comercializadas nos estados. O segundo grupo ficaria sob a responsabilidade do DEPAQ e teria os seguintes objetivos: 1. apoiar as Gerências Executivas do IBAMA em suas iniciativas; 2. viabilizar um guia de identificação das espécies comercializadas; 3. instituir junto aos interessados na captura e comercialização de peixes ornamentais marinhos, a obrigatoriedade de apresentação às Gerências Executivas do IBAMA de um plano de trabalho ou projeto, constando informações como locais específicos de captura, estado, município, profundidade de coleta, métodos de captura e relação de pessoal envolvido com a coleta; 4. instituir a obrigatoriedade de mapas de bordo e guias de exportação do IBAMA; 5. criar e coordenar um grupo permanente de estudos; 6. incentivar linhas de pesquisas prioritárias; 7. criar mecanismos para estabelecer métodos adequados ao transporte dos peixes. Finalmente, um grupo permanente de estudos seria criado com os objetivos a seguir: 1. elaborar uma listagem das espécies com seus respectivos nomes científico, vulgar e comercial; 2. propor modelos de mapas de bordo; 3. definir critérios restritivos à exploração de peixes ornamentais. Como desdobramento desta reunião, ainda no ano de 1996, o IBAMA estabeleceu de maneira informal uma cota máxima de exportação de peixes ornamentais marinhos de 5.000 exemplares por espécie/empresa/ano. 208 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Um ano depois, somente alguns estados como Ceará, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro enviaram a listagem de espécies comercializadas, bem como projetos para serem financiados pelo DEPAQ. O financiamento chegou, com algumas dificuldades, pois a partir de 1999 houve a divisão de competências entre IBAMA/DEPAQ e MAPA/DPA, o que prejudicou o repasse da verba. A Segunda Reunião Nacional ocorreu quatro anos depois em 2000 com o intuito de dar continuidade ao processo de ordenamento das atividades de pesca e comercialização de peixes ornamentais exclusivamente marinhos. O local do evento foi o Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Nordeste – CEPENE, em Tamandaré, Pernambuco, a “Reunião Técnica sobre o Estado da Arte da Pesquisa e do Ordenamento da Pesca de Peixes Ornamentais Marinhos no Brasil”. Os objetivos principais desta Reunião foram discutir e elaborar propostas de ordenamento para os temas de regulamentação, caracterização do setor e ordenamento da atividade. Participaram deste evento representantes das Gerências Executivas do IBAMA, do DEPAQ e de outros órgãos e instituições de pesquisa que desenvolvem trabalhos na área objeto da reunião. As propostas e recomendações resultantes dos grupos de trabalho estão apresentadas abaixo nos seguintes itens: 1. Captura: − As embarcações deverão ter licença para atuar exclusivamente na captura de peixes ornamentais em virtude do uso de compressor ou outro aparelho de mergulho e somente poderão utilizar para a captura de peixes ornamentais puçás e tarrafa de malha fina com dois metros de diâmetro; − As embarcações deverão ter reservatório apropriado para o acondicionamento dos peixes com renovação constante de água; − Instituir a obrigatoriedade de preenchimento de mapas de bordo. Estes devem ficar a cargo do proprietário da embarcação, pois nem sempre as empresas dispõem de embarcações; − Promover o treinamento em tecnologia de pesca para minimizar as perdas por mortalidade e rejeição na captura; − Destinar áreas de não captura como bancos de algas calcárias, costões rochosos, ilhas oceânicas (Trindade, Atol das Rocas, Fernando de Noronha, Arquipélago de São Pedro e São Paulo), recifes próximos aos estuários e manguezais; 209 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN − Estabelecer áreas de exclusão de coleta correspondentes a 20% da área de captura em cada estado ou de uma região definida; − Estabelecer normas que evitem a destruição de habitats durante a coleta como a proibição de práticas nocivas com o uso de anestésicos, substâncias “tóxicas” ou irritantes, e revolvimento do substrato e retirada de outros organismos; − Cada estado deverá realizar um levantamento da captura definindo os pontos críticos durante o processo. 2. Empresas que comercializam peixes ornamentais marinhos: − Realizar um levantamento da infra-estrutura e do manejo adotado nas empresas; − As empresas deverão apresentar projeto elaborado por técnico competente, com padrões mínimos tais como: área de tratamento para água coletada, área de quarentena, reservatório com água livre de resíduos amoniacais destinada exclusivamente para exportação, sistema de filtração englobando as filtrações mecânica, biológica, química e a esterilização por luz ultravioleta; − As empresas cadastradas deverão, no prazo de seis meses, apresentar um projeto ou adequar os já existentes aos padrões mínimos devendo ser instalado dentro de um ano a partir da data de aprovação do mesmo. A empresa que não atender os critérios estabelecidos terá o seu registro cassado. 3. Controle do fluxo de exportação e importação: − Padronizar o uso da guia de Trânsito de Animais Aquáticos Vivos (GTA) segundo modelo adotado nas Gerências Executivas do IBAMA nos estados do Ceará e de Pernambuco; − Criar um sistema nacional com banco de dados, por empresa, de toda comercialização realizada através das GTAs; − Os comerciantes deverão apresentar relatórios mensais de fluxo, indicando os números de exemplares por espécie capturados e comercializados e os locais de captura; − Para o transporte deverá ser feita listagem das espécies, com indicação de número de exemplares, do lado externo de cada embalagem; − O embarque no aeroporto deverá ser acompanhado por fiscal ou técnico; 210 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN − Toda empresa deverá contratar um biólogo ou profissional de área afim que seja responsável pela precisão das informações fornecidas. 4. As Espécies exploradas e cotas para exportação; foi um ponto de absoluta concordância durante a reunião a necessidade de estabelecer limites mais fundamentados e específicos para as exportações, uma vez que este tipo de transação envolve a maior parte dos peixes comercializados. O único controle sobre a atividade era a cota de 5.000 indivíduos por espécie/empresa/ano. Naquele momento foi estimado o total de indivíduos exportados pelo Brasil caso todas as empresas cadastradas atingissem a cota máxima autorizada, isto é 5.000 exemplares/ano. Considerando que 5.000 exemplares de 121 espécies (número de espécies levantado pelas guias de trânsito) foram comercializados por 30 empresas, obteve-se um total de 18.150.000 indivíduos exportados por ano. Este número foi considerado excessivamente alto, quando comparado com o total de 200.000 indivíduos/ano e 180 pescadores permitidos pelo governo australiano para coleta na Grande Barreira de Corais (Whittington et al.., 2000; WOOD, 2001), cuja extensão e diversidade de espécies é bem superior a de ambientes similares no Brasil. Vale ressaltar que a Austrália é uma das lideranças mundiais em termos de conservação e manejo de ecossistemas marinhos (Whittington et al., 2000). Por outro lado, os dados fornecidos pelo Ceará indicavam que poucas espécies vinham sendo exploradas em sua cota máxima de 5.000 exemplares por espécie. Em 1999, somente nove espécies tiveram níveis de exploração acima de 20% da cota máximo de 61,38% da cota (3.069 indivíduos). Em 2000 somente 14 espécies tiveram níveis de exploração acima de 20% da cota (1.000 indivíduos), com apenas uma espécie atingindo o máximo de 73,28% (3.664 indivíduos). A partir de tais constatações as seguintes sugestões foram apresentadas: 1. Estabelecimento de cotas para exportação de peixes ornamentais marinhos bem fundamentadas levando-se em consideração as peculiaridades de cada espécie e consolidadas em critérios biológicos, distribuição geográfica, descrição sistemática, raridade e endemismos distribuídos por categorias; 2. O enquadramento de determinada espécie em uma categoria acarretará numa redução de 20% da cota máxima, inicialmente estabelecida em 5.000 exemplares por espécie/empresa/ano; 211 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 3. Redução nas cotas de exportações por espécies/empresa/ano, tendo em vista a discrepância quando comparadas aos volumes exportados; 4. As espécies que se enquadrarem em três ou mais categorias e aquelas não descritas, raras ou oficialmente ameaçadas de extinção deverão ser proibidas à captura; 5. Congelamento imediato das autorizações para exportação de peixes marinhos com fins ornamentais, fornecidas às empresas que comercializam organismos aquáticos vivos, condicionando renovação das autorizações ao fornecimento de informações detalhadas sobre infra-estrutura de operação adaptada aos critérios elencados naquela reunião; 6. Suspensão da concessão de novos registros para empresas. 7. Para evitar a introdução de espécies exóticas no ambiente natural, sugere-se a exigência de cadastro de compradores e assinatura de um termo de responsabilidade no momento da compra de espécies exóticas, onde os mesmos se responsabilizariam em devolver o exemplar à loja, caso desistam do aquário; 8. Proibição de coleta de “rochas vivas” (corais e arenitos costeiros com incrustrações de inúmeros invertebrados e algas), pois constituem os hábitats essenciais para jovens de peixes ornamentais, dentre outros; 9. Redução das cotas para exportação de peixes na fase jovem e que são alvo da pesca tradicional para consumo alimentar; 10. Educação ambiental e divulgação sobre a conservação dos recifes e da fauna e flora associadas aos mesmos, incluindo incentivo à construção de aquários públicos; 11. Integração com o ministério do trabalho para questões de segurança no trabalho. A Terceira Reunião Nacional ocorreu em 2001, na região sul do Brasil em Itajaí, Santa Catarina e avaliou as informações e recomendações geradas em reuniões técnicas através de leitura e discussão para o ordenamento da exploração de peixes ornamentais marinhos, ocorridas anteriormente em Fortaleza e Tamandaré (IBAMA, 2000). Esta reunião contou com a participação de representantes do IBAMA e pesquisadores de instituições de pesquisa. O grupo reiterou integralmente as propostas descritas nas referidas reuniões, por entender que permaneciam atualizadas e apresentou uma minuta de portaria para a regulamentação da exportação de peixes ornamentais marinhos nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. A minuta proposta foi de fundamental importância para a elaboração da regulamentação hoje existente. Na referida minuta constavam várias medidas como: 212 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 1. Permitir a captura, o transporte e a comercialização de peixes marinhos para fins ornamentais de 118 espécies listadas; 2. Estabelecer uma cota máxima de 1.000 exemplares por espécie/empresa/ano; 3. Determinar áreas de captura proibida, como bancos submersos ao largo da plataforma continental e ilhas oceânicas; 4. Proibir práticas nocivas ou destrutivas como a utilização de substâncias tóxicas ou anestésicas, a perfuração da bexiga natatória para auxiliar a descompressão, a retirada de invertebrados e algas e o revolvimento do substrato. A partir desta reunião o IBAMA estabeleceu, com base nas recomendações geradas na reunião ocorrida em Tamandaré no ano de 2000 somente para as espécies de cavalosmarinhos, a cota de 1.000 exemplares por espécie/empresa/ano. Na Quarta reunião, 2002, a preocupação era com a falta de regulamentação da exploração de peixes ornamentais marinhos e constatando a necessidade premente de solucionar os problemas gerados com a falta de normatização da atividade, o IBAMA realizou neste ano em Brasília, outra reunião técnica, desta vez apenas com a participação de técnicos daquele órgão. Tal reunião tomou como base para seus trabalhos as recomendações geradas nas reuniões de 2000, em Tamandaré, e de 2001, em Itajaí. Os relatórios gerados nestas duas reuniões foram analisados e fortalecidos, pois a caracterização do setor elaborada anteriormente, se confirmava. Além das recomendações anteriores terem sido reiteradas, novas sugestões foram apresentadas com relação à captura e a comercialização, bem como ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 1. Captura: − Excluir da listagem de peixes ornamentais permitidos à exploração as espécies com tamanhos mínimos de captura já determinados e aquelas utilizadas na pesca tradicional para o consumo alimentar; − Apresentar as justificativas para as espécies que hoje são utilizadas para fins ornamentais e que foram retiradas da minuta de portaria. Tais informações fundamentarão as medidas adotadas pelo IBAMA, dando maior credibilidade à portaria; − Incluir as espécies de cavalo-marinho por um período de dois anos a fim de gerar informações para o projeto PROBIO aprovado pelo MMA “Biologia, 213 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Parâmetros Populacionais e Análise do Comércio de Cavalos-Marinhos (Teleostei: Syngnathidae: hippocampus) no Brasil” 2. Comercialização: − Promover uma discussão sobre a possibilidade de aumentar a cota sugerida em Itajaí, de 1.000 indivíduos/empresa/ano, à luz das cotas diferenciadas por espécie sugeridas na reunião do CEPENE. − Estabelecer as cotas de exportação por espécie/ano e não por espécie/empresa/ano. 3. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: − Registrar somente aquicultores de peixes ornamentais que apresentem a lista das espécies com que operam para servir de base ao conhecimento do que já foi introduzido; Adotar as seguintes recomendações como indicativos importantes para registros das empresas: 1. Certificado de registro da embarcação com licença; 2. Certificado de nada consta no IBAMA; 3. Titulo de inscrição na Capitania dos Portos; 4. Seguro Obrigatório de danos pessoais causados por embarcação ou por suas cargas; 5. Bandeira sinalizadora de embarcação que opera na captura de peixes ornamentais; 6. Reservatório apropriado para acondicionamento de peixes vivos; 7. Registro dos pescadores profissionais; 8. Exigir atestado de sanidade para as espécies de peixes a serem exportados e procedimentos de quarentena e tratamento da água a ser descartada. No caso de invertebrados aquáticos sugere-se a análise caso a caso. Após a reunião, para que o processo consultivo fosse ampliado junto à comunidade científica, nenhuma medida de ordenamento específica foi determinada. A Quinta Reunião Nacional ocorrida na sede do IBAMA em Fortaleza, Ceará no ano de 2002 deu prosseguimento às discussões iniciadas em Brasília. O seu objetivo principal foi elaborar a minuta de portaria para a regulamentação da exploração de peixes ornamentais marinhos em todo o Brasil e não somente para a região Sudeste e Sul, como sugerido na 214 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN reunião de Itajaí. Participaram desta reunião, representantes do IBAMA e da comunidade científica. Na ocasião, foram apresentados dois trabalhos científicos e os pontos de pauta foram a elaboração de uma lista nacional e regional de peixes marinhos explorados como ornamentais, com observância a possíveis problemas taxonômicos e a determinação das cotas de exportação. As espécies foram listadas através de material fornecido pela Gerência Executiva do IBAMA do Ceará, IBAMA/Sede e da lista contida na minuta de portaria elaborada na reunião de Itajaí (IBAMA, 2001). Os critérios estabelecidos na reunião de Tamandaré não foram seguidos à risca, entretanto serviram de base para a adoção de vários outros critérios estabelecidos para a inclusão ou exclusão das espécies. A triagem das espécies foi realizada cuidadosamente uma a uma, considerando a distribuição geográfica, as características biológicas e observância da nomenclatura científica. As cotas foram definidas com base nos dados constantes das guias de trânsito de exportação emitidas pelas Gerências Executivas do IBAMA. Após longo debate, optou-se por padronizar a cota para a maioria das espécies em 1.000 exemplares por espécie/empresa/ano, ressalvando-se as peculiaridades de algumas. Além das recomendações propostas em reuniões anteriores que foram ratificadas, o grupo técnico apresentou novas sugestões, analisou a minuta de portaria e estudou detalhadamente a inclusão ou exclusão de espécies à listagem de espécies permitidas à exploração. Foi decidido que a listagem seria nacional, não regionalizada, uma vez que a proibição da captura de uma espécie em uma dada região, poderia intensificar a coleta em outra área e que listagens separadas dificultariam a aplicação da regulamentação. Por fim, a minuta de portaria foi redigida em conjunto pelos participantes, apresentada à consultoria jurídica do IBAMA, lida e aprovada por unanimidade, ficando pendente inserir os nomes vulgares das espécies na listagem final. A referida minuta não foi levada para publicação, uma vez que faltava ainda ampliar o foco da discussão para uma gestão compartilhada envolvendo o setor produtivo, demais instituições públicas e a representação da sociedade civil organizada. Para tanto o IBAMA promoveu mais uma reunião no ano de 2003 em Fortaleza. A Sexta e última reunião técnica para o ordenamento da exploração de peixes ornamentais marinhos e que pela primeira vez, contou com a participação do setor produtivo, englobando representantes de pescadores, armadores de pesca, empresários e representantes da sociedade civil organizada, bem como representantes do IBAMA, de universidades federais e da Secretaria de Agricultura do Estado. 215 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN É importante frisar que as Gerências Executivas do IBAMA do Ceará, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina realizaram reuniões prévias com o setor produtivo e demais segmentos da sociedade para analisar a minuta de portaria proposta em Fortaleza, ano de 2002, e apresentar sugestões. O objetivo da reunião foi elaborar com a participação do setor produtivo uma regulamentação à exploração de peixes ornamentais marinhos no Brasil. Para tanto, grupos de trabalho foram formados. Um para avaliar as espécies que seriam permitidas, outro para determinar as cotas de exportação e um último para redigir o corpo da minuta de instrução normativa com base em recomendações anteriores. A avaliação sobre a lista de espécies de peixes ornamentais marinhos exportados oficialmente pelo Brasil, elaborada na Reunião Técnica de Fortaleza de 2002, foi apresentada a todos os participantes e os critérios usados esclarecidos. Os representantes das Gerências Executivas do IBAMA expuseram as propostas de alteração da minuta de Portaria elaboradas nas reuniões prévias, a partir das consultas e discussões realizadas com o setor produtivo de cada estado. Os pescadores presentes solicitaram que as espécies utilizadas na pesca comercial tradicional fossem retiradas da lista de ornamentais, tendo sido esta proposta encampada pelos demais segmentos representados na reunião. Os empresários apresentaram alterações ao texto da minuta de portaria e pleitearam um novo cálculo sobre o volume de peixes exportados para a definição das cotas de exportação, considerando somente os anos em que não houve problemas na emissão das guias de trânsito. As sugestões propostas para elaboração da minuta de portaria são apresentadas nos seguintes itens: lista de espécies e análise das cotas de exportação das espécies. A lista geral de espécies de peixes ornamentais marinhos brasileiros analisada foi construída com base em listas regionais das espécies comercializadas no Brasil e fornecidas pelo IBAMA: Lista do Ceará, Lista do Nordeste, Lista do Sudeste e Sul e Lista do Sul. Além das espécies contidas nas listas regionais, foram incluídas algumas espécies com potencial para comercialização e outras para corrigir os erros taxonômicos contidos na lista geral A análise das cotas de exportação foi efetuada com base no número de indivíduos exportados pelo Ceará, no período de 1999 a 2002, em virtude de serem os únicos dados no Brasil com uma série histórica. O mercado cearense de peixes ornamentais marinhos trabalha com a captura e com grandes volumes de exportação, atuando como um pólo de distribuição deste recurso no país, gerando portanto, uma base de dados representativa do mercado no país. 216 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Para a definição das cotas foram levadas em consideração as médias sobre o número de indivíduos exportados por ano por cada empresa e ficou estabelecida que a cota média para todas as espécies não passaria de 1.000 indivíduos por espécie/empresa/ano. Em uma planilha eletrônica, para as espécies que tinham exportações superiores a 1.000 indivíduos por espécie em pelo menos uma empresa ou um único ano, foi determinado o número de exemplares exportados por empresa para cada ano e então calculadas as seguintes médias anuais: média por empresa, do número de exemplares exportados; média do número de exemplares exportados, considerando todas as empresas. Após o cálculo das médias para todas as espécies que o número de indivíduos exportados ultrapassou 1.000 exemplares por empresa e por ano, foi criada uma tabela, com os valores obtidos. Sobre esta tabela, o critério para o estabelecimento das cotas foi estipular um valor aproximado ao da maior média registrada para o período, do número de exemplares exportados/ano. Também foram consideradas as características biológicas de cada espécie e as peculiaridades das regiões onde ocorrem as capturas. Para as duas espécies de cavalos-marinhos da costa brasileira, as cotas foram definidas para manter as capturas e exportações em níveis mínimos, com base nos seguintes relatos de pescadores: 1. as populações já apresentam declínios acentuados nas capturas, 2. as espécies são objeto de extração para múltiplas finalidades, 3. sofrem com a captura acidental em grandes quantidades, 4. que seus habitats estão submetidos a ações antrópicas negativas e 5. que mundialmente os cavalos-marinhos estão ameaçados de extinção, constando inclusive no Apêndice II da Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora – CITES. A minuta final foi repassada ao IBAMA/Sede que com pequenas alterações, a encaminhou para publicação. Como resultado, no dia 18 de fevereiro de 2004 foi publicada a Instrução Normativa IBAMA N° 14/2004 (IN N° 14/04), que regulamenta a exploração de peixes ornamentais marinhos. 5.2 Medidas de ordenamento adotadas Em virtude da reunião técnica ocorrida em Fortaleza no ano de 1996, e, preocupado com a exploração desordenada dos peixes ornamentais marinhos no Brasil, o IBAMA 217 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN resolveu adotar como medida de precaução o estabelecimento informal de uma cota máxima de exportação de 5.000 exemplares/espécie/empresa/ano . Face à inexistência de informações sobre os estoques explorados e de dados precisos sobre o volume comercializado, o número estabelecido pode ser considerado como arbitrário, muito embora observações pontuais apontassem para montantes de 10.000 indivíduos comercializados/espécie/empresa/ano. Por outro lado, em alguns casos, informações acerca da biologia, ecologia e distribuição geográfica da espécie explorada para fins ornamentais e para outros usos sinalizavam a necessidade da delimitação de cotas. Neste sentido, o estabelecimento de cotas pode ser visto como uma medida inicial adequada para o estabelecimento de um diálogo entre os vários segmentos envolvidos na pesca para fins ornamentais e para a um refinamento do banco de dados acerca da atividade em questão. Em 2001, a cota máxima de exportação para cavalos-marinhos estabelecida em 1996, foi limitada a 1.000 exemplares para cada espécie (Hippocampus erectus e H.reidi) por empresa/ano. Esta medida foi acatada em virtude das recomendações geradas nas Reuniões Técnicas de Tamandaré e de Itajaí (IBAMA, 2000 e 2001). Nestas reuniões foram citadas as características biológicas peculiares destes animais que os tornam bastante vulneráveis a exploração como pequena mobilidade, especializado cuidado parental e baixa fecundidade. Mais de dois anos após a última medida adotada, finalmente foi publicada a primeira regulamentação específica à exploração de peixes ornamentais marinhos no Brasil. Em 18 de fevereiro de 2004 é publicada a Instrução Normativa IBAMA N° 14 (IN IBAMA n° 14/04). Esta Instrução foi fruto de todas as reuniões técnicas realizadas e considerou várias recomendações feitas. Foram listadas 137 espécies permitidas à comercialização com suas cotas respectivas, sendo a cota máxima para exportação, à exceção de algumas espécies, definida em 1.000 exemplares de cada espécie/empresa/ano. Para nove espécies as cotas foram diferenciadas, com valores maiores ou menores do que 1.000 exemplares. Esta decisão foi balizada em características biológicas ou de mercado. Além da listagem de espécies permissionadas para exploração e da definição de cotas, na referida Instrução Normativa foram definidas áreas de não captura, como bancos e ilhas oceânicas, os petrechos de pesca permitidos e práticas nocivas não permitidas, o estabelecimento de procedimentos para exportação e de uma guia de trânsito padrão para todo o Brasil e a impossibilidade temporária de novas empresas e embarcações atuarem na atividade. Além das medidas adotadas pelo IBAMA, a partir da data de 15 de maio de 2004, as espécies de cavalos-marinhos passaram a constar no Apêndice II da Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora – CITES, sendo portanto 218 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN necessário um controle e um trâmite próprio para a comercialização internacional destas espécies. Em maio de 2004, o Ministério do Meio Ambiente publicou na Instrução Normativa N° 5 de 21 de maio de 2004, as listas de espécies de invertebrados aquáticos e peixes ameaçadas de extinção e daquelas espécies exportadas em grandes quantidades ou ameaçadas de sobre exploração. Duas espécies de peixes ornamentais marinhos, Elacatinus figaro (néon) e Gramma brasiliensis (grama), que eram exploradas estavam controladas por cotas de exportação de 2.000 exemplares por espécie/empresa/ano, estando proibidas de qualquer forma de exploração e comercialização. Em outubro de 2004, em virtude da entrada dos cavalos-marinhos no Apêndice II da CITES e da entrada de Elacatinus figaro e Gramma brasiliensis na lista de espécies ameaçadas de extinção, foi publicada Instrução Normativa IBAMA n° 56 (IN IBAMA n° 56/04), revogando a IN IBAMA n° 14/04, com conteúdo semelhante, mas acrescentando procedimentos específicos à exportação de peixes cuja espécie conste nos apêndices da CITES. Outras sugestões apresentadas anteriormente, como infra-estrutura mínima das empresas, obrigatoriedade de profissional responsável contratado pela empresa, certificado de sanidade dos peixes comercializados, obrigatoriedade de apresentação de mapas de bordo e capacitação de mergulhadores, não foram incluídas em nenhuma ação ou regulamentação do IBAMA em virtude de tais questões serem de competência de outros órgãos como Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca e Ministério do Trabalho. Estes são pontos que merecem ser analisados pelos órgãos gestores da pesca no Brasil, a fim de melhorar não apenas as condições dos estoques explorados, como também dos coletores que obtêm seu sustento através da captura de peixes ornamentais marinhos. Outro ponto a ser abordado diz respeito ao estreitamento cada vez maior de diálogo com todos os elos da cadeia produtiva dos peixes ornamentais marinhos. É preciso criar condições de confiança mútua, de repasse de dados quantitativos precisos. É necessário respeitar os limites estabelecidos através de cotas, não apenas como conseqüência de posturas vistas como restritivas ou proibitivas, mas a partir da constatação simples de que o setor produtivo deveria ser o maior interessado na manutenção de estoques saudáveis, que constituem a base da exploração sustentável de recursos naturais. É importante estimular cada vez mais a pesquisa seja através dos órgãos públicos apenas ou através de parcerias. 219 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Finalmente, é importante também destacar que o direcionamento da aquariofilia marinha às espécies coletadas em ambiente natural traz sérias implicações quando visto através da ótica da “Preservação das Comunidades Ictiológicas associadas aos recifes e dos próprios recifes”15. Estes ecossistemas englobam recursos de valores incalculáveis ao meio e as comunidades locais em todo o mundo, servindo como fonte de alimento, trabalho, proteção ambiental e área de lazer. As diversas atividades antrópicas sobre os recifes sejam eles, comerciais, de subsistência ou lazer, têm gerado impactos negativos e, possivelmente, não existem mais recifes intactos no mundo. Dentre as principais atividades degradantes estão a ultra-exploração de espécies-alvo da pesca tradicional e da pesca de ornamentais, métodos de coleta destrutivos, poluição e turismo predatório (Moore e Best, 2001). Assim, faz-se necessário a construção de um esforço coletivo, que envolva os aquaristas, os comerciantes, os pesquisadores e os tomadores de decisão, para assegurar a continuidade da atividade da pesca com fins ornamentais dentro de patamares aceitáveis dos pontos de vista sócioeconômico-ambiental. Trabalhos realizados pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) nos rios de Macau revelaram a presença de populações de cavalos-marinhos e evidenciaram que algumas espécies de algas e plantas de mangue são muito importantes para a sobrevivência destas populações e precisam ser preservadas. Ao se preservar os manguezais para ajudar os cavalosmarinhos preserva-se também a morada de muitos outros peixes, lagostas e caranguejo. Contudo, existem pontos positivos a serem destacados. Os cavalos-marinhos ganharam uma área de não-captura no estado do Rio Grande do Norte, dentro dos limites da Reserva Estadual de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão, por ter sido aprovada e sancionada a Lei nº 8.349 de 18 de julho de 2003. Outra medida importante, por parte do governo federal, foi a diminuição da cota de exportações anuais desses animais. Em 2001 essa cota era de um mil exemplares por ano por espécie para cada exportador; hoje o número é de 250. Aponta também nessa direção o recente envolvimento do Ministério do Meio Ambiente na conservação dos cavalos-marinhos, através do Projeto de Conservação e Uso Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira. 15 “Preservação das Comunidades ictiológicas associadas aos recifes e dos próprios recifes”, esta expressão refere-se a parte da zoologia que trata dos peixes, especificamente nas áreas de ecossistemas marinhos em regiões de recifes (rochedo ou série de rochedos situados próximos à costa ou a ela diretamente ligados, submersos ou a pequena altura do nível do mar, os recifes podem ser constituídos de arenito, resultantes da consolidação de antigas praias, ou de formações coralíneas, resultantes do acúmulo de carapaças de certos animais marinhos associado a crostas de algas calcárias). Estas regiões possuem uma variedade imensa de seres vivos. 220 CAPÍTULO 2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA Pode-se definir pesquisa como o processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos. A partir dessa conceituação, pode-se, portanto, definir pesquisa social como o processo que, utilizando a metodologia científica, permite a obtenção de novos conhecimentos no campo da realidade social. Realidade social é entendida aqui em sentido bastante amplo, envolvendo todos os aspectos relativos ao homem em seus múltiplos relacionamentos com outros homens e instituições sociais. Assim, o conceito de pesquisa aqui adotado aplica-se as investigações realizadas no âmbito das mais diversas ciências sociais. A pesquisa realizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão é teórica, histórica e descritiva. Considera-se teórica por desenvolver conceitos relacionados ao tema fundamental para dar embasamento, é histórica por admitir a importância de todos os fatos da história passada relacionando com o objeto atual em estudo, e por último descritiva porque têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título e uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados. Nesta pesquisa descritiva salienta-se o objetivo em estudar as características de um grupo: os fatores sócio-econômicos, sócio-culturais e sócio ambientais. O elemento mais importante para a identificação de um delineamento é o procedimento ou planejamento adotado para a coleta de dados. Assim podem ser definidos dois diferentes grupos de delineamento: aqueles que se valem das chamadas fontes “papel” e aqueles que são fornecidos por pessoas. Utilizou-se três dos distintos grupos de delineamento; no primeiro a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental; e no segundo o estudo de campo. Portanto a coleta de dados são feitas mediante metodologias fonte primária e secundária. Segundo Fraile e Maya (2006), classificam as fontes primárias e secundárias como: [...] Investigación primária se entiende cualquier tipo de indagación, en la que el investigador analiza la información que él mismo ha obtenido, mediante la aplicación de una o varias técnicas de obtención de dados (encuesta, entrevista, observación. [...] Por lo tanto, las fuentes primarias proporcionam datos de primera mano y en la que la responsabilidad de su compilación y promulgación se mantiene en la persona que originalmente los recabó. [...] Fuentes secundarias, son los documentos que proporcionan datos que han sido recabados por otros investigadores (con 223 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN anterioridad al momento de la investigación). El uso de datos secundarios supone economía de dinero, ahorro indiscutible de tiempo, esfuerzo personal y fácil acceso a los datos, sobre todo, porque representa uno de los preliminares esenciales en cualquier investigación empírica, al proporcionar una síntese del conocimiento existente sobre un tema específico. (Fraile e Maya, 2006, p.70-77). Para responder os objetivos gerais e específicos deste trabalho, os quais estão abaixo definidos, utilizou-se diferentes técnicas que serão mencionadas minuciosamente na parte que refere-se a metodologia adotada para este estudo científico. 1 Objetivos da investigação 1.1 Objetivo geral − Através do diagnóstico formular estratégias para fomentar o Desenvolvimento Sustentável Local. 1.2 Objetivo específico: diagnóstico − Diagnosticar os fatores sócio-econômicos – Analisa-se a situação social e econômica da população, diagnostica as condições de vida, renda, habitação, alimentação, saúde e trabalho, no sentido de avaliar a deteriorização sócioeconômica das famílias residentes; − Diagnosticar os fatores sócio-culturais – Hábitos, Costumes e Necessidades – Fazse necessário para compreender o universo de significações de crenças, hábitos, costumes e valores no intuito de captar expressões diaria da vida cotidiana da população da reserva na sua dimensão contraditória e múltipla, dimensão esta que reflete as tradições do passado, as normas do presente e as esperanças do futuro; − Diagnosticar os fatores sócio-ambientais – Visa detectar os principais elementos poluentes produzidos pela população e empresas, e com a análise dos mesmos, verificar o grau de deteriorização das praias, mangues, dunas, enfim de todo habitat natural da reserva, abrangendo também, as condições de funcionamento e o fator de responsabilidade social das empresas, observando quais os benefícios e prejuízos que estas empresas causam a população da reserva. 224 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 1.3 Objetivo específico: linha de atuação − Avaliar o grau de necessidades e deteriorização da reserva- visando direcionar, em projetos específicos, as orientações para recuperação, preservação e conscientização ambiental; − Criar condições para melhoria da qualidade de vida dos moradores através do desenvolvimento de atividades auto-sustentáveis como a pesca; − Compatibilizar as atividades econômicas instaladas na reserva com o uso sustentável dos recursos ambientais e com responsabilidade social; − Disciplinar os novos usos a serem implantados em consonância com a sustentabilidade ambiental, econômica e social da área; − Harmonizar o desenvolvimento local com a preservação dos valores culturais; − Estimular a realização de parcerias para a viabilização de projetos na área de educação ambiental. − Sugerir e implementar idéias de acordo com o potencial oferecido pela reserva e buscar apoio para desenvolver o Turismo Sustentável como alternativa de fonte de renda e desenvolvimento da região. 2 Metodologia De acordo com Richardson (1999, p. 22) metodologia é o conjunto de “regras estabelecidas para o método científico”. Para Collis e Hussey (2005, p. 61), a “metodologia refere-se à maneira global de tratar o processo de pesquisa, da base teórica até a coleta de dados”. A pesquisa social tem sido marcada fortemente por estudos que valorizam o emprego de métodos quantitativos para descrever e explicar fenômenos. Hoje, porém, podemos identificar outra forma de abordagem que se tem afirmado como promissora possibilidade de investigação: trata-se da pesquisa identificada como "qualitativa". Surgido inicialmente no selo da Antropologia e da Sociologia, nos últimos 30 anos esse tipo de pesquisa ganhou espaço em áreas como a Psicologia, a Educação e a Administração de Empresas. Enquanto estudos quantitativos geralmente procuram seguir com rigor um plano previamente estabelecido (baseado em hipóteses claramente indicadas e variáveis que são 225 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN objeto de definição operacional), a pesquisa qualitativa costuma ser direcionada, ao longo de seu desenvolvimento; além disso, não busca enumerar ou medir eventos e, geralmente, não emprega instrumental estatístico para análise dos dados; seu foco de interesse é amplo e parte de uma perspectiva diferenciada da adotada pelos métodos quantitativos. Dela faz parte a obtenção de dados descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo. Nas pesquisas qualitativas, é freqüente que o pesquisador procure entender os fenômenos, segundo a perspectiva dos participantes da situação estudada e, a partir, daí situe sua interpretação dos fenômenos estudados. Este trabalho de pesquisa científica aborda os métodos, teórico, histórico e descritivo em combinação com métodos qualitativos e quantitativos, bem como o método alternativo etnográfico. De acordo com Leopardi (2002), a pesquisa descritiva proporciona ao investigador uma explicação sobre determinada situação, até então desconhecida, da qual se tem necessidade de maiores informações. Acerca desse aspecto, Marconi e Lakatos (2002, p. 66) afirmam que esse tipo de pesquisa “busca conhecer as diversas situações e reações que ocorrem na vida social, política, econômica e demais aspectos do comportamento humano, tanto do indivíduo tomado isoladamente como de grupos e comunidades”. Na concepção de Leopardi (2002), a pesquisa qualitativa tenta compreender um problema na perspectiva dos sujeitos que o vivenciam, ou seja, parte de sua vida diária, sua satisfação, desapontamentos, surpresas e outras emoções, como também sentimentos e desejos os quais não podem ser tratados através de categorização puramente estatística. A pesquisa qualitativa torna-se particularmente importante, pois proporciona um meio para avaliação das políticas públicas e sociais do ponto de vista de sua formulação, dos usuários a quem se destina e de sua aplicação técnica, como afirma Minayo (1999), que para ele os seres humanos não são simples forma, tamanho e movimentos: possuem uma vida interior que escapa à observação primária. Isso implica dizer que a abordagem qualitativa é empregada, a rigor, quando se considera que o sujeito do estudo é formado por gente, em determinada condição social, pertencente a um grupo social ou classe com suas crenças, valores e significados. Os estudos de pesquisa qualitativa diferem entre si quanto ao método, à forma e aos objetivos. Godoy (1995a, p.62) ressalta a diversidade existente entre os trabalhos qualitativos e enumera um conjunto de características essenciais capazes de identificar uma pesquisa desse tipo, a saber: o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental; caráter descritivo; significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida como preocupação do investigador; enfoque indutivo. 226 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN A expressão "pesquisa qualitativa" assume diferentes significados no campo das ciências sociais. Compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social; tratase de reduzir a distância entre indicador e indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação (Maanem, 1979a, p.520). Em sua maioria, os estudos qualitativos são feitos no local de origem dos dados; não impedem o pesquisador de empregar a lógica do empirismo científico (adequada para fenômenos claramente definidos), mas partem da suposição de que seja mais apropriado empregar a perspectiva da análise fenomenológica, quando se trata de fenômenos singulares e dotados de certo grau de ambigüidade. O desenvolvimento de um estudo de pesquisa qualitativa supõe um corte temporal-espacial de determinado fenômeno por parte do pesquisador. Esse corte define o campo e a dimensão em que o trabalho desenvolver-se-á, isto é, o território a ser mapeado. O trabalho de descrição tem caráter fundamental em um estudo qualitativo, pois é por meio dele que os dados são coletados (Manning, 1979, p.668). Conforme a autora Mary Duffy os benefícios do emprego do conjunto dos métodos qualitativos e quantitativos os seguintes: 1- possibilidade de congregar controle dos vieses (pelos métodos quantitativos) com compreensão da perspectiva dos agentes envolvidos no fenômeno (pelos métodos qualitativos) 2- possibilidade de congregar identificação de variáveis específica (pelos métodos quantitativos) com uma visão global do fenômeno (pelos métodos qualitativos); 3- possibilidade de completar um conjunto de fatos e causas associadas ao emprego de metodologia quantitativa com uma visão de natureza dinâmica da realidade; 4- possibilidade de enriquecer constatações obtidas sob condições controladas com dados obtidos dentro do contexto natural e sua ocorrência; 5- possibilidade de rearfirmar validade e confiabilidade das descobertas pelo emprego de técnicas diferenciadas. (Duffy, 1987, p. 131). Devido aos benefícios citados acima pelo referida autora Mary Duffy, justifica-se a utilização destes dois métodos qualitativos e quantitativos, neste trabalho de investigação. No método qualitativo foi utilizada a técnica de pesquisa documental que é constituída pelo exame de materiais que ainda não receberam um tratamento analítico ou que podem ser reexaminados com vistas a uma interpretação nova ou complementar. Pode oferecer base útil para outros tipos de estudos qualitativos e possibilita que a criatividade do pesquisador dirija a investigação por enfoques diferenciados. Esse tipo de pesquisa permite o 227 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN estudo de pessoas a que não temos acesso físico (distantes ou mortas). Além disso, os documentos são uma fonte não-reativa e especialmente propícia para o estudo de longos períodos de tempo. (Godoy, 1995, p.21). Outra técnica utilizada, a entrevista-relatos orais de histórias de vida, concordando com a análise de Silva (2002), os depoimentos e as histórias de vidas coletados através do resgate da memória como metodologia de análise justifica-se, pois ela configura-se como um dos caminhos possíveis para a redescoberta dos processos de desenraizamento social e cultural e, por conseguinte, para a redefinição dos projetos que articulam o passado, presente e futuro. Alem disso, as histórias de vida são depositárias da sabedoria popular que, através do tempo e das palavras, ganham forma e se verbalizam como queixas, advertências, moral, desesperanças, esperança, busca de novas alternativas e, em muitos casos, apenas como espera da morte. Mas apesar das desesperanças e da espera da morte, ainda há aqueles/as que reúnem forças e acreditam em dias melhores, se não para si, ao menos para os/as filhos/as. Através da história de vida pode-se captar o que acontece na intersecção do individual com o social, assim como permite que elementos do presente fundam-se a evocações passadas. Podemos, assim, dizer, que a vida olhada de forma retrospectiva faculta uma visão total de seu conjunto, e que é o tempo presente que torna possível uma compreensão mais aprofundada do momento passado. É o que, em outras palavras, nos diz Soares (1994) quando discute as articulações entre os conceitos vida e sentido: “Somente a posteriori podem-se imputar, aos retalhos caóticos de vivência, as conexões de sentido que os convertem em ‘experiência’” (Soares, 1994, p.23). A autora Queiroz (1988) coloca a história de vida no quadro amplo da história oral que também inclui depoimentos, entrevistas, biografias, autobiografias. Considera que toda história de vida encerra um conjunto de depoimentos e, embora tenha sido o pesquisador a escolher o tema, a formular as questões ou a esboçar um roteiro temático, é o narrador que decide o que narrar. A autora vê na história de vida uma ferramenta valiosa exatamente por se colocar justamente no ponto no qual se cruzam vida individual e contexto social. Segundo Fraile e Maya (2006), La entrevista consiste en un interrogatorio realizado a un experto, persona capacitada o especialista en un tema o actividad. Permite obtener información, opiniones, conocimientos especializados, actualización de temas, porque se le puede considerar de utilidad para el conocimiento de la realidad social. (Fraile e Maya, 2006, p. 215) 228 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN As histórias de vida se constroem mediante a técnica de entrevista que define os autores Fraile e Maya (2006) como sendo entrevistas profundas, Las entrevistas en profundidad implican hacer preguntas, escuchar y registrar las respuestas y posteriormente, hacer otras preguntas que aclaren o amplíen el tema objeto de investigación. Las preguntas son abiertas y los entrevistados deben expresar sus percepciones con sus propias palabras. Las entrevistas en profundidad tienen la finalidad de comprender la opinión que tienen los entrevistados acerca del tema a investigar. (Fraile e Maya, 2006, p. 218). Além disso a entrevista em profundidade conforme afirma Fraile e Maya (2006) tem que permitir que os entrevistados falem tudo o que sente necessidade de dizer: La entrevista en profundidad a veces requiere una gran cantidad de paciencia, pues los informantes pueden extenderse sobre cosas en las que no estamos interesados. En especial durante las entrevistas iniciales, es necesario no interrumpir al informante aunque no estemos interesados en el tema que toca. (Fraile e Maya, 2006, p. 220). Dentre os métodos qualitativos conhecidos, o etnográfico tem se destacado como um dos mais importantes. Oriundo da Antropologia, envolve um conjunto particular de procedimentos metodológicos e interpretativos desenvolvidos ao longo do século XX, mas, em sentido lato, pode-se afirmar (Sanday, 1979, p.527) que, desde os antigos gregos, tem sido praticado. Esse método envolve longo período de estudo em que o pesquisador fixa residência em uma comunidade e passa a usar técnicas de observação, contato direto e participação em atividades. Usando o termo "paradigma" no sentido kuhniano (Kuhn, 1962, p.79), pode-se dizer que o paradigma etnográfico pode assumir um caráter, diferenciado, na medida em que esteja mais ou menos marcado pela visão do todo, pela preocupação com o significado, e conforme o estudo penda mais para o diagnóstico ou para a explicação dos fenômenos. O que importa, nesses estudos, não é a forma de que os fatos se revestem, mas, sim, o seu sentido. Neste contexto, a pesquisa qualitativa através do método etnográfico, surge diante da impossibilidade de investigar e compreender a realidade por meio de dados estatístico, de alguns fenômenos voltados para percepção, á intuição e subjetividade. Portanto ela esta direcionada para investigação dos significados das relações humanas, onde suas ações são influenciadas pela emoção e/ou sentimentos aflorados diante de situações vivenciadas no diaa-dia. Este tipo de pesquisa enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes. Diante disso, o enfoque etnográfico ou antropológico 229 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN se justifica nesta pesquisa por considerar a descrição de um sistema de significados culturais de um determinado grupo. Segundo Aguirre (1995), La etnografía es el estudio descriptivo de la cultura de una comunidad, o de alguno de sus aspectos fundamentales, bajo la perspectiva de comprensión global de la misma. (Aguirre, 1995, p. 3). Para o referido autor, se utiliza a técnica de observação participante que: Para los etnógrafos, conocer, mediante la observación participante, la cultura elegida. A partir de esta nueva vivencia cultural, el etnógrafo, no sólo relativizará su etnocentrismo, sino que su vida se partirá en dos y ya no será, ni de «aquí», ni de «allí» totalmente: una suerte de «esquizofrenia cultural» le acompañará toda la vida. Cuando se ha llegado a vivenciar la «otra» cultura es cuando se la ha hecho propia («apropiada»). (Aguirre, 1995, p.4). Corbetta afirma que (2007), Los estudios de comunidad son los que más se acercam al modelo etnográfico. Se trata de investigaciones realizadas sobre comunidades pequeñas (o relativamente pequeñas), ubicadas en un território concreto, que requieren el translado del investigador a la comunidad estudiada, donde vivirá durante un período de tempo determinado. (Cobertta, 2007, p. 309). A fotografia do ambiente é uma técnica etográfica onde a utilização de imagens fotográficas também é utilizada como recurso metodológico, pois contextualizam o problema e ampliam o olhar do pesquisador. Como afirma a autora Joanna C. Scherer, quando define fotografia etnográfica: Es el uso de fotos para la conservación y comprensión de cultura(s), tanto la de los sujetos como de los fotógrafos, y de ahí se deriva que lo que convierte una foto en etnográfica no es necesariamente la intención de su producción, sino cómo se usa para informar etnográficamente a sus expectadores. (Scherer, 1995, p. 201) Especificamente quanto à utilização e análise do material fotográfico, segundo Koury (1999), entende-se que a utilização da fotografia em trabalhos das Ciências Sociais coloca-a definitivamente como um instrumento de reflexão e de compreensão da realidade social e não mais como apenas um auxiliar de leitura da mesma realidade. Partindo do pressuposto de que seja ineficiente e improdutivo acreditar que a análise de imagem possa se fazer sem a contextualização das situações em que a fotografia foi feita, 230 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN bem como sem que se mostre o objetivo de se fazer aquele recorte específico de uma realidade mais ampla, e ainda sem que se comente o que daquela imagem, que na maioria das vezes porta inúmeros significados, quer-se destacar, entende-se que é necessário revelar qual a intenção maior do uso das fotografias nesse item do trabalho. Em primeiro lugar, deve-se dizer que só é possível trabalhar com imagens contextualizando-as. Nesse trabalho, essa contextualização é realizada tanto a partir das observações de campo anotadas em caderno de campo quanto a partir dos depoimentos. Na pesquisa quantitativa utilizou a técnica da aplicação de questionários estruturado, conforme apêndice B, o autor Antônio Carlos Gil (2008) em sua obra relata que: A entrevista estruturada desenvolve-se a partir de uma relação fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanece invariável para todos os entrevistados, que geralmente são em grande número. Por possibilitar o tratamento quantitativo dos dados, este tipo de entrevista torna-se o mais adequado para o desenvolvimento de levantamentos sociais. (Gil, 2008, p.113) 2.1 Contextualização da pesquisa A Reserva Ambiental de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão é formada por nove distritos pertencentes ao município de Macau: Diogo Lopes, Barreiras, Sertãozinho, Chico Martins, Caximba da Baixa, Baixa do Grito, Varjota, Canto da Umburana, Queixada e quatro comunidades no município de Guamaré: Pau feito, Mangue Seco I, Mangue Seco II e Lagoa Doce, totalizando cerca de 10.000 habitantes. Para realização da pesquisa foram escolhidos os distritos de Barreiras, Diogo Lopes e Sertãozinho pertencentes ao município de Macau, compostas respectivamente por 2800; 5500; 300 habitantes ou quase 90% da população da reserva, como também os distritos de Mangue Seco I, Mangue Seco II e Lagoa Doce, com aproximadamente 100 habitantes em mangue seco I e Mangue Seco II e outros 100 habitantes em Lagoa Doce, que fazem parte do município de Guamaré. Por se tratar de uma Reserva Ambiental onde os seus limites estão regidos pelo Conselho Gestor da Reserva, faz-se necessário pedir autorização para aplicar o questionário nas cinco comunidades pertencentes a Reserva. (Apêndice A). Na pesquisa quantitativa, através do questionário estruturado, o universo investigado foi bastante representativo, visto que foram aplicados 257 questionários as famílias 231 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN entrevistadas o equivalente a 10% da população da Reserva Ambiental, ou seja, 1008 habitantes. (Apêndice B) Para a pesquisa qualitativa na técnica de entrevistas de relatos orais e história de vida foram aplicadas 17 entrevistas com pescadores, já que o universo encontrado na categoria de “profissão pescadores” dentre os 1008 habitantes entrevistados, foram 117 pescadores, que corresponde a mais de 10%.(Apêndice C) Quanto a pesquisa documental foram encontrados dados no IDEMA e IBGE. Em quatro universidades situadas no Nordeste e na biblioteca municipal da cidade de Macau. A pesquisa foi realizada no período de julho a setembro de 2008 a primeira parte e dezembro 2008, a segunda parte. 2.2 A construção da investigação 2.2.1 Material Com o intuito de obter um diagnóstico preciso, utilizamos para a coleta de dados, diferentes técnicas qualitativas e quantitativas, que combinadas entre si, tiveram como intuito captar as expressões da vida cotidiana em sua dimensão contraditória e múltipla, dimensão que reflete as tradições do passado, as normas do presente e as esperanças do futuro. As Técnicas dos métodos qualitativas e quantitativas utilizadas foram às seguintes: 1. pesquisa documental e bibliográfica, 2. entrevista-relatos orais de histórias de vida, 3.observação direta, 4. fotografias do ambiente e 5. questionário estruturado. Por se tratar de uma comunidade que percebeu que as belezas naturais e tudo que existe no seu habitat natural estava ameaçado e com elas as fontes de seu sustento, que é, em sua maioria atividades ligadas a pesca e extração de moluscos e crustáceos, houve a mobilização e reivindicação para transformação desta comunidade em tornar-se reserva ambiental, depois de oito anos de exercício da cidadania e muita luta, conseguiu o êxito de torna-se uma área de proteção ambiental, por isso a importância da pesquisa documental e bibliográfica. O material foi coletado de fontes existentes na cidade de Macau como biblioteca municipal/arquivo histórico; jornais do estado do Rio Grande do Norte - Tribuna do Norte, Jornal de Natal, Folha de Macau, Jornal de Hoje; órgão ambiental IDEMA/IBGE; Em quatro universidades nordestinas UERN, UFCG, UFPB, UFRN (em estudos registrados nos artigos, 232 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN dissertações e teses doutoral a respeito de temas como reserva ambiental, desenvolvimento sustentável, responsabilidade social, gestão ambiental, turismo sustentável, educação ambiental). Para descrever e analisar o modo de vida do pescador na comunidade da reserva, foi dado início ao trabalho de campo a partir de uma observação assistemática que visou estabelecer uma aproximação e, desde aí, uma interação na qual o objetivo da pesquisa e o roteiro aberto de entrevistas pudessem ser apreciados pelo grupo focalizado. A observação assistemática ocorreu no período de junho de 2008. Já a observação sistemática, fotodocumentação e entrevistas ocorreram no período de julho/agosto/ setembro, e dezembro de 2008, meses em que a pesquisadora fixou residência na reserva. Procurou-se chegar bem cedo aos ranchos29, a fim de presenciar os pescadores saindo do rancho para pescar, para observar a rotina pesqueira, de arrumar as tralhas, de preparar o lanche, de verificar as embarcações, de realizar, enfim, as atividades prévias que envolvem o seu trabalho de captura. “Aqui o olho defronta constantemente limites, lacunas, divisões e alteridade... não deriva sobre uma superfície plana, mas escava, fixa e fura, mirando as frestas deste mundo instável e deslizante que instiga e provoca a cada instante sua empresa e interrogação...” (Cardoso, 1995, p.355). Nas técnicas para pesquisa qualitativa, segundo Haguette (1995, p. 86), “a entrevista pode ser definida como um processo de interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”. De acordo com Minayo (1999), a entrevista possibilita, através da fala, a revelação dos sistemas de valores, normas e símbolos ao mesmo tempo em que transmite as representações de grupos determinados em condições históricas, sócio-econômicas e culturais específicas. A entrevista-relatos orais de história de vida parte de questionamentos básicos, voltados para identificar a história de vida dos pescadores. Esses, por sua vez, são apoiados em hipóteses oriundas da pesquisa, proporcionando ao investigador amplo campo de questionamentos, frutos de novas suposições que tendem a surgir à medida que vão emergindo as respostas do informante. Dessa maneira, “o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências, dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa” (Triviños, 1987, p. 146) 29 Locais construidos na beira mar onde os pescadores guardam seus equipamentos de pesca. 233 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN O restante das técnicas da pesquisa qualitativa utilizada como: observações diretas e fotografias do ambiente, foram desenvolvidas pela autora da pesquisa, em diversas ocasiões, na qual a autora esteve residindo por três meses na primeira etapa de julho à setembro e na segunda etapa em dezembro de 2008. A captação das imagens da reserva, de seus habitantes e entrevistados foram realizadas em diferentes dias e horários. A técnica utilizada na pesquisa quantitativa, a aplicação do questionário estruturado possuindo 60 perguntas (Apêndice B), foi elaborado em quatro partes, a saber: I. Aspectos Demográficos – Aborda os aspectos gerais como nome, idade, sexo, grau de escolaridade, número de filhos, local de nascimento, profissão, renda familiar, ajuda de programas governamental. Tem por objetivo fornecer os dados de cada família oferecendo subsídios necessários para se ter um perfil da população. (13 itens). II. Aspectos Sócio-culturais – É composta de perguntas quanto aos hábitos e costumes da comunidade, fazendo questionamentos referentes a criação de animais, ao cultivo de plantas, a forma como os residentes depositam o lixo, o cozimento dos alimentos. Com apenas uma única opção de escolha para os entrevistados. (14 itens). III. Aspectos Sócio- Ambientais – Procura identificar o que a comunidade pensa sobre seu entorno em relação a questões ambientais, quais os locais poluídos, os motivos, e os responsáveis pela degradação ambiental da RDSEPT, e quais os respectivos órgãos competentes para fiscalização. Foram abordadas perguntas com única e múltiplas escolhas, bem como o entrevistado poderia complementar com questões abertas. (16 itens). IV. Aspectos Sócio-econômicos – Busca através das perguntas identificar as condições de moradias, bens duráveis, meios de transportes e infra-estrutura atuais das famílias e a forma de melhoria de qualidade de vida da RDSEPT Foram abordadas perguntas com única e múltiplas escolhas, bem como o entrevistado poderia complementar com questões abertas. (17 itens). Antes de iniciarmos a pesquisa de campo para coletar os dados dos entrevistados, treinamos uma equipe de dez jovens do sexo feminino, todas com o segundo grau completo, e duas delas iniciando a carreira universitária, residentes na cidade de Natal – capital do estado e as outras residentes na reserva ambiental no municipio de Barreiras. Distribuimos as entrevistadoras por áreas em quatro pontos extremos, para obtermos uma amplitude na coleta 234 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN de dados do método aplicado de questionário estruturado. As pessoas entrevistadas foram escolhidas aleatoriamente, em diversos pontos da reserva, tanto os que residem próximo ao mar como os que residem no centro da cidade, bem como as que moram mais afastados, todo este propósito foi utilizado para se obter um diagnóstico mais amplo. 2.2.2 Amostra A técnica de coletas de dados de entrevistas dos questionários elaborados foi para aplicar 257 questionários, correspondente a 1008 habitantes formando um total de 10% das famílias que residem na reserva ambiental, portanto uma amostra bastante significativa. Os critérios utilizados para a escolha das 257 famílias foram às seguintes: a. Mapeamento dos respectivos distritos pertencentes a Macau (Barreiras, Diogo Lopes e Sertãozinho), para identificar e distribuir melhor as residências da RDSEPT e em seguida selecionar em pontos extremos as residências à serem entrevistadas. b. No caso específico das residências localizadas na zona rural em Guamaré (Mangue Seco I / II e Lagoa Doce), utilizou-se o critério para aplicar os questionários elaborados em residências seguidas (vizinhas), devido ao acesso precário e longe. c. Entrevistados homens e mulheres indistintamente, jovens e adulto conhecedores da situação familiar, e pessoas da maior idade com ressalva de possuir lucidez para contestar as perguntas. d. Pertencer a distintas classes sociais. As fotografias do ambiente foram realizadas pela autora em diferentes dias no intuito de captar algumas cenas de paisagens e modo de vida dos habitantes da RDSEPT. A coleta de dados das entrevistas para relatos orais de histórias de vida foram selecionados 17 pescadores para dar depoimentos de suas histórias de vida, já que a reserva é basicamente formada por pessoas que vivem da cadeia da atividade da pesca, em sua maioria, e são eles, os primeiros a sentir qualquer tipo de mudança no seu habitat natural, estes dados também foram coletados pela autora da pesquisa e foi permitido a gravação das entrevistas. Os critérios utilizados para escolha dos 17 pescadores foram: a. Ter vivido desde de sua infância na reserva. b. Ter como meio de sobrevivência a pesca. 235 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 2.2.3 Análise Estatística Para a análise de dados da pesquisa quantitativa, da técnica de questionários estruturados, foi utilizado um programa estatístico, STATISTIC, versão 5.1. Todo este estudo nos proporcionou um verdadeiro panorama minucioso sobre a Reserva de desenvolvimento sustentável Ponta do Tubarão. Quanto ao referencial teórico utilizado na tese baseia-se em escritores relacionados principalmente a temas Ambientais como Nussbaum e Sen (1995), Guattari (1998), Sachs (1986), Ferreira (1998), Penna (1999), Ferreira e Viola (1996), Barbosa (1998b), Barbieri (1997), Boff (1995), Casseti (1991), Martinez Alier (1992), Penna (1999), Smith (1988), Trigueiro (2005), Gonçalves (1998), Pardo Díaz (2002) e outros, recomendam que os seres humanos se empenhem em ações e atividades que lhes proporcionem melhoria da qualidade de vida, não só para si, mas também para outras coletividades humanas. Na busca para viver mais e melhor lança-se mão de posturas sociais e pessoais que possam levá-lo a interações construtivas, justas e ambientalmente sustentáveis, deverá ser a meta para conseguir modos de vida sustentáveis neste novo milênio. Aportações Filosóficas voltadas para o tema homem/natureza, enfatizando a Ética na Civilização Tecnólogica Hans Jonas (1995), Giacóia (1996) e Sosa (1985). Abordagens na temática do Turismo Sustentável através de diversos autores como Beni (2007), Oliveira (2002), Silveira (1997), Swarbrooke (2000), Zimmerman (1998), Lage e Milone (1999), Ruschmann (1999), Fonteles (2004), Neto e Trigo (2003), Lemos (2005), Boullon (2002). Temas direcionados a sociologia da empresa/meio ambiente, Infestas Gil (2001), Friedman (1970), Ferreira (1975), Morgan (1996), Souto-Maior (1988), Petit (1976), Schmidheiny, (1992), Sales (2001), Sampaio, (2000), Tema na área de direito Machado (2002), Mukai (2002), Benjamin(1993), Fiorillo (2006), Carvalho Filho (2001), Cavalieri Filho (1998),Reali (1987). Ademais, a sustentação do Trabalho se ampliam com fontes primárias como informes e anais de Órgãos Públicos de ordem Internacionais e Nacionais, tais como Organização das Nações Unidas (ONU), Programa Nações Unidas para Meio Ambiente (PNUMA), Programa das Nações Unidas (PNUD), Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas (CMMAD), Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), Instituto Brasileiro do Turismo (EMBRATUR), Instituto Brasileiro de Geografía e Estadística (IBGE), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), Instituto Desenvolvimento Sustentável e 236 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Meio Ambiente (IDEMA), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Laborátorio de Ciências do Mar (LABOMAR), Programa Nacional de Amostra por Domicilio (PNAD), Política Nacional Educação Ambiental (PNEA), Programa Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR), Programa de desenvolvimento do Ecoturismo (PROECOTUR), Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). E quatro universidades UERN, UFRN, UFPB E UFCG, com trabalhos direcionados a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão-RDSEPT. 237 CAPÍTULO 3 DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA NA RDS PONTA DO TUBARÃO 1 Introdução Neste capítulo serão apresentados os resultados da pesquisa30 quantitativa realizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – RDSEPT. Através do diagnóstico sobre os diversos aspectos abordados de acordo com os dados coletados na pesquisa, busca-se: avaliar o grau de necessidades e deteriorização da reserva, visando direcionar, em projetos específicos, as orientações para recuperação, preservação e conscientização ambiental; assegurar o espaço comum e a sustentabilidade dos recursos naturais como patrimônio natural e social, para moradores e suas futuras gerações; criar condições para melhoria da qualidade de vida dos moradores através do desenvolvimento de atividades auto-sustentáveis; mobilizar, sensibilizar, sugerir e ajudar as empresas a compreenderem, incorporarem e atuarem com responsabilidade social; compatibilizar as atividades econômicas instaladas na reserva com o uso sustentável dos recursos ambientais; disciplinar os novos usos a serem implantados em consonância com a sustentabilidade ambiental, econômica, cultural e social da área; harmonizar o desenvolvimento local com a preservação dos valores culturais; estimular a realização de parcerias para a viabilização de projetos na área de educação ambiental; implementar idéias de acordo com o potencial oferecido pela reserva e buscar apoio para desenvolver o Turismo Sustentável como alternativa de fonte de renda e desenvolvimento da região. Na pesquisa serão analisados entre outros múltiplos aspectos, as informações divulgadas no último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografía e Estatística (IBGE), o Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA), o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio Econômicos (DIEESE), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e a Pesquisa Nacional de 30 Considerando a grande extensão territorial do Brasil e o nível de subdesenvolvimento em muitas áreas deste país em termos de informações e divulgações dos dados, percebemos que as análises dos dados demográficos sobre a população do Río Grande do Norte - RN e específicamente dos municípios de Macau e Guamaré, é restrito e superficial. A página web Oficial <http://www.ibge.org.br>, sobre a população demográfica brasileira, apesar da riqueza de dados, se denota a insuficiente informação mais detalhadas sobre os municípios de menor tamanho. Outra página <http://www.idema.rn.com.br> que divulga diversos estudos sobre RN, manifiesta preocupação com as informações dos municípios, mas também deixa à desejar muitas informações existentes na nossa população potiguar. E em se tratando específicamente de coletar dados do Município de Macau buscamos a Secretaria Municipal da Cidadania - Gerencia Executiva do Desenvolvimento Social da Prefeitura de Macau e Guamaré e algumas monografías dos cursos de graduação de Serviço Social, Economia e Administração e nos cursos de Pós-graduação em Políticas Públicas e Pluralidade Cultural na Universidade Estadual do Río Grande de Norte –UERN. Foi encontrado arquivos na Biblioteca da Universidade do Estado de Río Grande de Norte – UERN e na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN e UFCG, apenas dois trabalhos de mestrado e/ou doutorado sobre a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão-RDSEPT. No entanto na Universidade Federal de Campina Grande – UFCG e Universidade Federal do Paraná foram encontradas teses doutorais na área de Meio Ambiente. 241 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Amostra por Domicílios (PNAD). Essas informações foram trabalhadas por estas instituições em gráficos e tabelas, juntamente com uma análise explicativa das implicações sociais e econômicas das mudanças demográficas ocorridos nas últimas décadas no Brasil, utilizou a análise explicativa de alguns dados realizados por estes órgãos especializados, e de credibilidade, para reforçar ou comparar com os dados coletados na pesquisa da reserva. Na pesquisa centraremos a atenção na situação dos fatores demográficos, sócioeconômicos, sócio-culturais e sócio-ambientais da reserva, para dar conta do significado deste grupo, tanto em cifras absolutas como relativas, já que qualquer ação encaminhada para melhorar a qualidade de vida da reserva, deve centrar-se sobre um conhecimento preciso de todos estes fatores que envolvem: as condições de vida, renda, habitação, grau de escolaridade, alimentação, saúde, transporte, trabalho, infra-estrutura, degradação ambiental e responsáveis, este último fator é de suma importância, por se tratar de uma pesquisa realizada em uma reserva ambiental onde possui empresas em seu entorno como salinas, de carcinicultura e a Petrobrás que evidentemente de alguma forma poluem o meio ambiente, e são responsáveis sócio ambientalmente. Faz-se necessário, também compreender o universo de significações de crenças, hábitos, costumes e valores no intuito de captar expressões diárias da vida cotidiana da população da reserva na sua dimensão contraditória e múltipla, dimensão esta que reflete as tradições do passado, as normas do presente e as esperanças do futuro. 2 Aspectos demográficos 2.1 População segundo gênero Em relação ao sexo há uma predominância, de acordo com os entrevistados da reserva de uma população de maioria feminina com 57,5% conforme tabela 01 abaixo. O Brasil esta dividido geograficamente em regiões, são elas: Região Norte, Região Sul, Região Sudeste, Região Centro-oeste e Região Nordeste onde esta localizada a reserva, em todas as cinco regiões brasileiras e nos países tropicais31 prevalecem a maioria da população do sexo feminino. 31 . Nos países tropicais, existem 4,2 milhões de mulheres a mais que homens. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografía e Estatística (IBGE), divulgados no informe da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD 2002), mostram que o predomínio das mulheres ocorre em todas as regiões do Brasil. “Elas são maioria nos centros urbanos, porém minoria nas zonas rurais (48%). Em comparação por faixa de idades, verifica-se que elas nascem em menor quantidade que os homens e estão em menor proporção na população até os 19 anos de idade. A partir desta idade, então começam a prevalecer. Segundo os estudiosos, o predomínio feminino nas 242 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Tabela 1 – População segundo o gênero da RDS Condição n 428 580 1008 Masculino Feminino Total % 42,5 57,5 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. Gráfico 1 – População segundo gênero da RDS 2.2 Composição familiar – perfil das famílias RDS O perfil das famílias brasileiras, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD, 2008), mostra que vivem no Brasil mais de 53 milhões de famílias, 15 milhões a mais que no início dos anos noventa. Esta situação revela mudanças importantes no perfil dos domicílios brasileiros. Um deles foi à diminuição de tamanho. Entre 1980 e 2006, a média dos membros nas vivendas passa de 4,5 pessoas para 3,3. Atualmente, de cada dez familias, sete têm entre dois e quatro integrantes. A família tradicional, o nuclear, composta por casais com filhos, caiu quase 60%, em 1992, e 55% em 1999, ao mesmo tempo em que aumentou a proporção dos outros tipos de composição familiar, a saber: de mulheres sem cônjuge e com filhos (de 15,1% para 17,1%) e de casais sem filhos (de 12,9% para 13,6%). Houve crescimento também no número de pessoas vivendo sozinhas, representando quase 10,0% em todo o país32. A redução do tamanho da família pode ser explicada, sobretudo, devido à acentuada queda na taxa de fecundidade nas últimas seis décadas de 6,2 filhos, em 1940, para presumíveis 2010 a 2,3 filhos33 em 2010. Outros fatores como a mudança de valores culturais do brasileiro e o ingresso considerável das mulheres no mercado de trabalho, acentuados na faixas superiores de idade se dá em virtude das altas taxas de mortalidade decorrentes de causas externas (acidentes e homicídios) e a migração da população masculina para outros países.” (Fonte Almanaque Abril, 2008, p. 108). 32 33 . Almanaque Abril 2008, p. 83. Berquó, 1999. 243 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN segunda metade do siglo XX, também influenciaram na redução das famílias em relação ao número de filhos34. A composição familiar das 257 famílias entrevistadas geraram um total de 1008 pessoas que habitam a RDS, caracterizando um núcleo familiar constituído por uma média de 3,92 pessoas por família. O número de filhos casados que permanecem no núcleo familiar paterno foi bastante elevado, aproximadamente 40,5%. A presença masculina, chefes de família, convivendo no ambiente familiar ficou em torno de 21,1%, e o de mulheres quase 24%, constata um equilibrio, onde os lares estão responsabilizados pela presença do casal. O percentual de agregados35 é de 14,7%, e está diretamente relacionado ao número de filhos casados que permanecem na casa paterna com suas respectivas esposas e ou netos que passam a ser cuidados pela família, no entanto o número de idosos constatado na pesquisa, chega a 10%. Conforme tabela 2 e gráfico 2. Tabela 2 – Composição familiar - Perfil das famílias RDS Condição Pai Mãe Filho Agregado Total n 213 239 408 148 1008 % 21,1 23,7 40,5 14,7 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. Gráfico 2 – Composição familiar – perfil das famílias da RDS 34 Ribeiro, R.M., Sabóia, A.L., Branco, H.C., y Bregman, S.,: Família brasileira em dados, Família Brasileira a base de tudo (org.) Kaloustian, S. M.: (2004), 6ª ed., São Paulo, Cortez; Brasilia, DF: UNICEF 35 Parentes e ou pessoas que vivem em uma familia como pessoa da casa. 244 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Conclui-se que a família realmente é considerada “Ampliada” na reserva, este fator se constata em virtude do empobrecimento das mesmas, acrescido de dois fatores: a solidariedade familiar não vai exclusivamente dos pais aos filhos, sim que vai também dos filhos aos pais, ou seja, tem um caráter recíproco. Na tradição brasileira, a família tem um papel importante na sociedade. O Art. 229 da Carta Magna de 1988 deixa claro: “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar aos pais na velhice, carência ou enfermidade”. De forma similar Carrajo (1999, p. 91) afirma que os filhos sentem “em plena era industrial, a necessidade imperiosa de honrar e venerar seus pais, de tal modo que se sentiriam verdadeiramente culpados se não fizessem caso ao ditame de sua conciência”. [...] Apesar das exceções, “por regra geral os filhos sentem verdadeiro afeto aos seus progenitores e, em na medida do possível, tratam de favorecê-los e ajudá-los”. Scherr (1960) e Blenkner (1965), chamam isso “responsabilidade filial”, ou seja, a obrigação de atender às necessidades dos pais que envelhecem. Blenkner fala também da “madureza filial”, é dizer a capacidade de dar provas de responsabilidade filial. Para Mishara e Riedel, “a maioría das investigações indicam que as pessoas de mediana idade alcançam a madureza filial e, quando é possivel, cuidam de seus pais ou procuram a ajuda necessária para que continuem sendo independentes. Tais estudos contradizem a imagem estereotipada segundo a qual as famílias “não se responsabilizam” pelos mais velhos, confiándo-os em um asilo en vez de cuidá-los” (1986, p.75). A segunda idéia a destacar seria existência de gerações de pessoas maiores que vivem baixo de um mesmo teto que, devido provavelmente a sua idade ao seu estado físico o de saúde que impede valer-se por si mesmos em seu próprio lar. Particularmente, cremos que tais situações estão presentes na realidade brasileira. Por um lado, a sobrevivência cotidiana das famílias empobrecidas, que obriga a solidariedade conterrânea de parentesco36 e o vínculo afetivo entre os indivíduos nas famílias, é um ponto forte de confluência das realidades entre as gerações. 2.3 Faixa etária do núcleo familiar O total da população da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão-RDSEPT, cujas residências foram investigadas, ficou em torno de 1008 habitantes, 36 Carvalho; 2004, p. 96. 245 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN há uma concentração maior de pessoas na faixa etária de 10 a 19 anos (21,3%), em seguida na fase adulta de 20 a 29 anos (18,0%), e na fase de criança (15,4%), dos 30 a 39 anos quase 14,0% e dos 40 a 49 anos (12,1%) e os 50 a 59 anos (8,0%). A população de idosos37 é de apenas quase 10%, conclui-se, portanto, que a população da Reserva é bastante jovem e possui imensa capacidade produtiva. Tabela 3 – Faixa Etária do Núcleo Familiar da RDS Condição Menos de 1 ano 1 a 9 anos 10 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 a 69 anos 70 a 79 anos 80 anos e mais Idade ignorada Total n 06 155 215 182 140 122 80 54 38 09 07 1008 % 0,6 15,4 21,3 18,0 13,9 12,1 8,0 5,3 3,8 0,9 0,7 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. Gráfico 3 – Faixa etária do núcleo familiar da RDS A população brasileira entre 0 e 5 años cresce menos que na década de 70 (Berquó, 1999). Segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU), até 2020, o número de 37 Estatuto do Idoso-Lei Nº. 10.741, de outubro de 2003. Art. 1º. É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. 246 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN crianças nesta faixa de idade deverá subir apenas 1 milhão, e a população com menos de 15 anos não crescerá. No Rio Grande do Norte (RN), a queda de fecundidade passou de 8,5 na década de 70, a 2,5 em 1999, portanto um declive de 72% em 30 anos38, em sintonía com o resto do país, sem esquecer as diferenças regionais e intrarregionais que existem entre as cinco Grandes Regiões da Federação do Brasil. Em Mossoró, cidade localizada no estado do Rio Grande do Norte, região nordeste, a população de maior idade cresceu gradualmente no final do século XX, chamando a atenção da sociedade regional. 2.4 Local de nascimento Utilizou a classificação municipal segundo as Zonas e Subzonas Homogêneas de acordo com a divisão territorial do IBGE (Anexo- H) com indicação das Microrregiões (Anexo-I) e Mesorregiões (Anexo-J), visando proporcionar aos leitores do trabalho de investigação o agrupamento das informações segundo o zoneamento desejado, sem comprometer a comparabilidade estatística da série histórica. A metodologia adotada para o agrupamento dos locais de nascimento dos entrevistados da reserva foi de acordo com o IBGE, chamada divisão político-administrativo regional (Mesorregiões e Microrregiões) que estão abaixo mencionadas. Tabela 4 – Local de nascimento dos habitantes da RDS MICRORREGIÕES n % 16 36,4 06 13,7 02 4,5 02 4,5 02 4,5 06 13,7 07 15,9 03 6,8 100,0 44 Municípios 4,3% 04 220 181 420 03 02 02 832 Central Potiguar MESORREGIÕES Oeste Potiguar Areia Branca Mossoró Caraúbas Açu Carnaubais Pendências Porto do Mangue São Rafael Total Sub-total Caiçara do Norte Galinhos Guamaré Macau Afonso Bezerra Pedro Avelino Caicó Total Sub-total 0,5 26,4 21,8 50,5 0,4 0,2 0,2 100,0 82,5% 38 Cf. Primera página do Periódico Tribuna do Norte, sobre o título Migração cria ‘desertos humanos’ no RN – Má distribuição demográfica é grave, em <http://www.tribunadonorte.com.br> de 2 de Septiembre de 2008. 247 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Continuação… MICRORREGIÕES n % 11 73,4 02 13,3 02 13,3 Agreste Potiguar Municípios João Câmara Parazinho Lagoa Salgada 15 Total Leste Potiguar Outros Sub-total Maxaranguape Touros Exremoz Natal Baía Formosa Canguaretama Total Municípios RN Estados Total 18 33 51 1,5% 4,6 9,0 6,0 60,7 10,7 9,0 100,0 6,5% 35,2 64,8 100,0 1008 5,0% 100,0 03 06 04 40 07 06 66 Sub-total Sub-total Total geral 100,0 Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. Gráfico 4 – Local de nascimento das messorregiões Para uma melhor compreensão da análise dos dados dividimos em duas partes, a saber: Parte I – Análise das Mesorregiões: Depois da distribuição dos dados encontrados verificou-se que a Mesorregião denominada Central Potiguar é o local que concentra o maior número de pessoas nascidas com 82,5%, em seguida a Leste Potiguar com 6,5%. Agrupamos em outros os seguintes locais: os Municípios considerados pequenos do Rio Grande do Norte; e o estado, onde juntos 248 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN originaram 5,0% das pessoas nascidas que hoje residem na RDS atraídos pelo Pólo Petroquímico-Petrobrás. Na mesorregião Oeste Potiguar concentra 4,3%, e a menor quantidade de pessoas nascidas foram encontradas na mesorregião do Agreste Potiguar com apenas 1,50%. Parte II – Análise das Microrregiões que estão agrupadas dentro das Mesorregiões: Dentro da Mesorregião Central Potiguar, encontra-se a cidade na qual pertence a maior parte da reserva, onde 50,5 % das pessoas que residem, nasceram neste município chamado Macau39, devido a existência do Hospital Maternidade, só que estas pessoas foram criados nas comunidades de Diogo Lopes e Barreiras, Mangue Seco, Lagoa Doce e Sertãozinho. A pesquisa demonstrou também que 26,4% dos residentes são provenientes de Galinhos, e 21,4% de Guamaré40. A capital do Estado Natal41 esta agrupada dentro da Mesorregião Leste Potiguar e é responsável por 60,7% do nascimento devido a estrutura de hospitais e o grau de parentescos, geralmente os moradores da reserva têm pessoas da família que residem na capital, e serve de local de apoio. Baia Formosa (10,7%), Touros e Canguaretama (9,0%) também fazem parte desta mesorregião. Na Mesorregião do Agreste Potiguar está a cidade de João Câmara que têm uma característica peculiar de receber em seus hospitais 73,4% dos nascimentos. Isto ocorre devido a sua localização, encontra-se na metade do caminho para capital Natal. Muitas mulheres entram em trabalho de parto e têm medo de não dar tempo de chegar ao destino Natal para ter os filhos.Fazem parte desta mesorregião, respectivamente, Lagoa Salgada e Parazinho com 13,3%. A pesquisa mostrou que 36,4% de pessoas residentes da RDS são provenientes de Areia Branca, em seguida encontra-se Porto do Mangue (15,9%), e para terminar a análise das microrregiões estão as duas cidades Mossoró e Pendências (13,7%), que fazem parte da Mesorregião do Oeste Potiguar. 39 . Macau- possui uma área territorial de 788 km², região produtora de sal marinho, petróleo e de pescados, sendo um dos maiores produtores nacionais de sardinha. Localizada a 175 km da capital do estado. 40 . Guamaré-possui uma área territorial de 277 m² 41 Natal – capital do estado do Rio Grande do Norte- Brasil 249 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 2.5 Tempo de moradia Com relação ao tempo de residência nas localidades que pertencem a RDS, observa-se que 62,5% dos moradores das comunidades de Diogo Lopes, Sertãozinho, Barreiras, Mangue Seco e Lagoa Doce se estabeleceram há mais de 11 anos e entre seis e dez anos 15,1%, indicando um número considerável de nativos da região da RDS, fato este que pode estar associado ao alto grau de identificação dos moradores em relação à região, facilitando a união destes, observada nos trabalhos para a constituição da Reserva. Apenas 6,3% dos entrevistados residem na região há menos de um ano. (Observe tabela 5). Tabela 5 – Tempo de moradia dos habitantes na RDS Condição Menos de 1 ano De 1 a 5 anos De 6 a 10 anos De 11 anos a mais Nr Total n 64 148 152 630 14 1008 % 6,3 14,7 15,1 62,5 1,4 100,0 Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. Gráfico 5 – Tempo de moradia dos habitantes na RDS Boa parte territorial da reserva eram áreas que pertenciam a heranças familiares e para a construção das casas destas famílias que vivem atualmente na reserva, na qual totalizam que mais de 60% residem há mais de onze anos, foram adquiridos em sua maioria via posse, presente de políticos, herança de família, doação de familiares, empréstimos, e ou aluguel. Os terrenos com documentação (escritura em cartório) são poucos, a maioria são contratos de gaveta, vendas de terceiros que adquiriram por meio de sistema de posse ou invasão. A 250 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN expressão “usucapião” deriva do latim usucapio, de usucapere, ou seja, tomar ou adquirir algo pelo uso. Nas palavras de Maria Helena Diniz: “USUCAPIÃO. Direito Civil. 1. Modo de aquisição da propriedade e de outros direitos reais (usufruto, uso, habitação, servidão predial) pela posse prolongada da coisa com a observância dos requisitos legais. Tem por fundamento a consolidação da propriedade, dando juridicidade a uma situação de fato: a posse unida ao tempo. 2. Prescrição aquisitiva de propriedade de coisa móvel ou imóvel”42. Como grande parte das relações sociais se baseia na aparência e na confiança, o usucapião se presta a proteger e premiar a posse prolongada e qualificada, concedendo o status de propriedade. Conclui-se que o usucapião é um modo originário de aquisição da propriedade (móvel ou imóvel), que leva em consideração alguns fatores e exige o cumprimento de vários requisitos elencados em lei como o decurso do tempo, o justo título e a boa-fé, que são pressupostos indispensáveis em todas as espécies de usucapião. 2.6 Nível de escolaridade Quanto ao nível de escolaridade encontrado na RDS, aproximadamente 17,4% são analfabetos. De acordo com a pesquisa este percentual só ratifica que os índices colocam o Brasil entre as sete nações Latinoamericanas com taxa de analfabetismo superior a 10%, ao lado de Honduras, El Salvador, República Dominicana, Bolivia, Guatemala e Haití43. Apesar das melhoras lentas, que já são realidade no nosso país, como resultado dos programas de alfabetização após o último senso (2004). O Brasil possuía 10,6 milhões de analfabetos com 10 anos ou mais e 30% de analfabetos funcionais entre 15 e 64 anos, o que supõe que as pessoas acima de 15 anos tem menos de quatro anos de escolaridade44. A maior concentração de analfabetos está na população idosa de 60 anos ou mais, onde 35,2% não sabe ler nem escrever45. Em Linhas gerais, existem distintos níveis de instrução, mas os que predominam são os estudos de nível baixos, sobretudo nas mulheres. Proporcionalmente os homens são mais alfabetizados que as mulheres (67,7% contra 62,6%, respectivamente), já 42 DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico: volume 04. 2ed.ver. atual.e aum. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 816. Almanaque Abril 2008 op. cit., p. 159 44 IBGE, 2004. 45 Estas informacões estão no Mapa do Analfabetismo no Brasil (2000), estudo produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionaies Anísio Teixeira (INEP), que traça um panorama da situação educacional de todos os municipios brasileiros. A publicação reúne indicadores produzidos por IBGE e pelo Programa de Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 43 251 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN que até os anos 60 tinham mais acesso à escola que as mulheres46. A partir dos anos 60 a situação educacional começa a favorecer as mulheres. Segundo Elza Berquó47, as dificuldades para as mulheres ingressarem na escola se agravavam pela tentativa de buscar condições de existência e de sobrevivência. O estado do Rio Grande do Norte possui 574 mil pessoas que não sabiam ler nem escrever em 2009, este estado têm a sexta maior taxa de analfabetismo do Brasil, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2009), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010). O contigente representa 19,51% da população potiguar, com uma concentração maior na faixa etária de pessoas com 60 anos ou mais totalizando 155 mil analfabetos. Quanto ao grau de escolaridade48,apenas 10,3% são somente alfabetizados, e 50,1% do total investigado possui o 1º grau incompleto, ou melhor, os residentes investigados da RDS possuem em média no máximo 4 anos de estudo. O 1º grau completo49, são estudos do ensino fundamental que vão da 5ª a 8ª série, apenas 4,5% dos entrevistados completaram este ciclo. 46 Se pode Consultar os detalhes destas informações visitando a página oficial http://www.ipea.gov.br do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) no Portal de Serviços e Informações do Governo. 47 Berquó, Elza, Considerações sobre o envelhecimento da população no Brasil. En Anita Liberalesso Neri e Guita Grin Debert (orgs). Velhice e Sociedade. Campinas – São Paulo, Papirus, coleção vivaidade, 1999, p. 31. 48 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional(LDBEN), em seu artigo 21, define o termo "escolaridade" no Título 5, Capítulo I: "Composição dos Níveis Escolares", referindo: "Art. 21. A educação escolar compõe-se de: I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II - educação superior." As três primeiras escolaridades são englobadas em uma educação chamada básica, pois, o Art. 22 afirma que "a educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores". A educação superior não é fragmentada como a educação básica, pois, o Art. 43 diz que a educação superior tem por objetivo: "I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição." Esta legislação compreende que a missão do ensino superior é cumprida por completo já na graduação. O Art. 44 completa referindo que os cursos de pós-graduação estão inclusos dentro da definição de "ensino superior". 49 Estes estudos correspondem em Espanha ao Bachillerato. 252 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Vale salientar que, como se trata de comunidades de pescadores, a exigência do nível de escolaridade para obtenção da carteira de pescador pela capitania dos portos só foi definido a partir do ano 2000. Desta forma, a partir de 2001, muitos cursos de alfabetização para adultos começaram a ser ministrados por meio do FAT50. Apesar de se tratar de uma região com atividades econômicas petrolíferas, que exigem uma certa qualificação, a pesquisa detectou que apenas 1,1% dos residentes têm curso superior e 7% com o curso de 2° grau incompleto, e apenas 8,7% com o segundo grau completo, que seria à exigência para admissão, definida pela Petrobrás a partir do ano 2004. Tabela 6 – Nível de escolaridade dos habitantes da RDS Condição n 175 104 505 45 71 88 11 9 1008 Analfabeto Alfabetizado 1ºgrau incompleto 1ºgrau completo 2ºgrau incompleto 2ºgrau completo Superior Outros Total % 17,4 10,3 50,1 4,5 7,0 8,7 1,1 0,9 100,0 Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. Gráfico 6 – Nível de escolaridade dos habitantes da RDS 50 .Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT é um fundo especial, de natureza contábil-financeira, vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, destinado ao custeio do Programa do Seguro-Desemprego, do Abono Salarial e ao financiamento de Programas de Desenvolvimento Econômico. 253 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 2.7 Pessoas contribuindo para renda familiar O nível de ocupação e renda demonstra que aproximadamente 395 residentes trabalham, ou seja, considerando-se os 1008 residentes entrevistados. Verifica-se que uma pessoa trabalha para sustentar 2,55 pessoas, relação esta considerada baixa, quando comparada com os demais estuários do Estado do Rio Grande do Norte, quando se verifica que o teto salárial mínimo utilizado como parâmetro nacional é de R$ 510,0051, conclui-se que vivem na probreza extrema, pois recebem menos da metade de um sálario mínimo em torno de R$ 200,00 por pessoa. A participação paterna, chefe de família responsável pela manutenção do núcleo familiar, foi de 49,9%. No Brasil, a instituição familiar assume o modelo patriarcal como ponto de partida, adaptado às condições sociais – latifúndio e escravidão – existentes. Trazido pelos colonizadores, o patriarcado dominava a organização econômica, política e social entre os séculos XVI ao XIX, sob o domínio do líder familiar, latifundiário, guerreiro e chefe político. (Xavier, 1998). Sobre outro aspecto, na contemporaneidade, a estratificação do trabalho, a produção em massa, a complexa gestão, a administração da sociedade, a não-cisão entre o ambiente de trabalho e a moradia tem contribuído fortemente para o esvaziamento da autoridade e diminuição do poder paterno dentro e fora da família (Mitscherlich, 1976). Esse entendimento é reforçado ao afirmar que, dentro da evolução histórica familiar, esse núcleo da sociedade passa por mudanças importantes na vivência, percepção e construção que o indivíduo faz de seus aspectos, sócio-afetivos e projetos de vida. Dessa forma, a queda do patriarcado marca a ascensão de uma nova era do homem no contexto familiar. Na verdade, não se aceita mais a definição do pai típico, considerado aquele excepcionalmente provedor e desarticulado dos acontecimentos domésticos, já que vivemos em realidades multidimencionais. Em função disso, os papéis tanto do homem como da mulher têm sofrido transformações no que toca a sua função familiar, exige-se da mulher uma participação mais efetiva na manutenção e sustento da casa, nos entrevistados da reserva 51 O critério de pobreza mais conhecido atualmente é o criado pelo Banco Mundial: miserável é quem vive com menos de US$ 1 por dia (cerca de R$ 52,50 ao mês, levando-se em conta a última cotação da moeda norteamericana), e pobre é quem vive com menos de US$ 2 diários (R$ 105 mensais). O Ipea trabalha com renda mensal de 25% do salário mínimo (ou R$ 127,50 em valores atuais) para definir miséria, ou “pobreza extrema”, e meio salário mínimo (R$ 255) por mês para a “pobreza absoluta”. 254 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN constata-se uma participação materna de 24,6%. O número de filhos na RDS que contribuem para manutenção da família ficou em torno de quase 19,0% e os parentes ou agregados (6,6%), conforme tabela 7. Tabela 7 – Número de pessoas contribuindo para a renda familiar na RDS Condição Pai Mãe Filho Parentes Total n 197 97 75 26 395 % 49,9 24.6 18,9 6,6 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por Amostragem, 2008. Gráfico 7 – Número de pessoas contribuindo para a renda familiar na RDS 2.8 Profissão dos habitantes das RDS As ocupações principais foram estratificadas de acordo com o tipo similar de profissões chamadas categorias, são elas: pesca, serviços públicos, comércio, agricultura e outros. (Veja tabela 8). A pesquisa aponta que 38,2% das pessoas que trabalham ocupam cargos referentes ao serviço público, normalmente trabalham apenas um expediente, no outro dedicam-se à atividades ligadas a pesca. Vale salientar que existe toda uma cadeia produtiva com relação aos produtos peixe, mariscos, caranguejo, lagosta e camarão, indicando que, além dos pescadores e marisqueiras, há os tratadores do peixe, catadores de caranguejos, os atravessadores que compram o peixe, os mestres de barcos, os mergulhadores, os comerciantes do produto, os marceneiros de barcos, carregadores, etc. Dessa forma, a atividade econômica da pesca é compartilhada por um grande número de trabalhadores das comunidades da RDS, apresentando várias atividades interligadas, ocupando uma parte representativa dos residentes da RDS. 255 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Os entrevistados que têm dedicação exclusiva à atividades ligadas à pesca (pescador/marisqueiro(a)/catador(a) caranguejo; tratador de peixe; mestre de barcos/ intermediário/mergulhador; carpinteiro/marceneiro) representam 35,0%, sendo que destes profissionais destaca-se 84,8% pescadores e marisqueiros. Ressaltamos que estes profissionais quando completam 50 anos não têm mais condições para a pesca devido à exposição aos raios solares, e à força necessária para o trabalho com as redes de pesca nos barcos, aliada à necessidade de permanecerem muitas horas acordados. Além disso, na pesca da lagosta muitos pescadores utilizam para os mergulhos compressores inadequados (bujão de cozinha), o que os torna incapacitados para a atividade após os 50 anos. Esses pescadores passam então a desenvolver outras atividades: confeccionam redes ou tornam-se atravessadores, recebendo e vendendo o produto. Das pessoas classificadas na categoria de serviços públicos seguem na ativa 41,0% que trabalham na ocupação de professor, gari, vigilante, agente saúde/ enfermeira, motorista, cozinheira/zelador. O restante (59,0%) são funcionários públicos aposentados ou pensionistas. Por se tratar de municípios pequenos o setor de comércio, está interligado ao autonômo e ao setor de prestação de serviços comércio (12,9%). Agrupamos todas as ocupações que tiveram um percentual menor que 1% e as prestações de serviço de atividades domésticas na categoria denominada outros (12,3%). A agricultura (1,3%) é inespressiva na comercialização, já que a reserva apresenta um solo arenoso, e um clima semi-árido quente, com estações secas de 7 a 8 meses de duração, por isso não há desenvolvimento das plantações, e o plantio é feito com produtos que se adaptam ao solo e clima, portanto a agricultura é de subsistência. Gráfico 8 – Categorias das ocupações principais dos habitantes da RDS 256 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Tabela 8 – Profissão dos habitantes da RDS Total Ocupações Pesca Pescador / Marisqueiro (a)/Catadores de caranguejo Tratador de Peixe Mestre de Barcos / Intermediário / Mergulhador Carpinteiro / Marceneiro Total Sub – total Aposentado / Pensionista Professor Gari Vigilante Agente Saúde / Enfermeira Motorista Cozinheira/Zelador 89 16 08 07 11 06 14 59,0 10,5 5,3 4,6 7,3 4,0 9,3 151 100,0 13 11 17 06 04 25,5 21,5 33,4 11,7 7,9 51 100,0 05 100,0 05 100,0 46 04 92,0 8,0 50 100,0 395 100,0 Serviços Públicos 38,2% Comércio Categorias Total Sub – total Agricultor % 84,8 7,3 4,3 3,6 100,0 35,0% Total Sub–total Comerciante / Artesã/ Vendedor Embalador / Carregador Prestação de Serviços:Pedreiro/Ajudante de Pedreiro/ Pintor Secretário(a)/ Contabilidade Cabelereiro n 117 10 06 05 138 Agricultura 12,9% 1,3% Outros Total Sub–total Ocupações com % < 1 Proteção de Serviços de Atividades Domésticas (Lavadeira/Faxineira/Costureira) Total Sub-total Total geral Fonte: Pesquisa de campo por Amostragem, 2008. 12,6% 2.9 Local de trabalho Como a reserva esta é formada, basicamente em sua maioria por pescadores, encontrase como o local de trabalho mais citado na pesquisa com 36,0% os rios, mares e mangues. Em seguida as escolas e prefeituras que pertencem ao serviço público, com respectivamente 7,0% e 5,7%. 257 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Tabela 9 – Local que exercem sua profisssão na RDS Condição Rio/Maré/ Alto mar/ Mar/Mangue Escola Prefeitura Casa Creches Empresas Belmares Firmas Camargo Posto de Saúde Petrobras Padaria / Restaurante Diversos Locais Total n 139 26 22 15 12 08 07 06 06 04 140 395 % 36,0 7,0 5,7 4,0 3,1 2,1 1,8 1,6 1,6 1,1 36,0 100,0 Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. 2.10 Faixa etária salarial No Brasil utiliza-se diferentes formas para classificar as classes sociais, segundo a visão do IBGE, baseia-se no número de salários mínimos (salário mínimo/2010 é R$510), é mais simples e divide em apenas cinco faixas de renda ou classes sociais.Conforme o quadro abaixo: Quadro 5 – Classificação das Classes Sociais Fonte: IBGE, 2010. Quanto ao nível de renda das famílias investigadas, observamos que 62,5% percebe até um salário mínimo52, que é um direito laboral, criado para atender as necessidades vitais 52 Salário Mínimo- 1. À época de sua criação (Lei 185, de 14/01/1936) o Salário Mínimo foi definido como remuneração mínima devida ao trabalhador, sem distinção de sexo – capaz de satisfazer suas necessidades normais de alimentação, vestuário, habitação, higiene e transporte. 2. O Capítulo III da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (de 1943) refere-se ao salário mínimo. O artigo 76 conceitua o salário mínimo da seguinte forma: 258 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN básicas e da família, a fim de proporcionar uma vida decente ao cidadão, observamos que a renda das famílias, parece infringir neste caso, um direito social. A pobreza extrema (ou miséria) é caracterizada por um rendimento médio domiciliar per capita de até um quarto de salário mínimo – ou seja, uma média de R$ 127,50 para cada integrante da família. Sua repercussão mais transparente é a insatisfação de milhões de brasileiros com essa desigualdade social, onde o valor salarial máximo permitido pela constituição Brasileira para o funcionalismo público é de R$ 24.500,00, o equivalente a quase vinte e cinco vezes mais que o salário mínimo, valor este recebido por uma minoria privilegiada. A realidade da reserva onde cuja parcela se incluem nossos investigados, são os chamados “excluidos” e integrantes na classe dos miseravéis de pobreza extrema. Em seguida os 21,0% das familias investigadas recebem de 1 a 2 salários mínimos. Ressalte-se que apenas 2,8% das pessoas que trabalham recebem melhores salários, na faixa de 5 a 10 salários mínimo e, apenas 0,8% percebem mais de 10 salários mínimo estes habitantes conforme tabela 10 abaixo: “Art. 76 - Salário mínimo é a contraprestação mínima devida e paga diretamente pelo empregador a todo trabalhador, inclusive ao trabalhador rural, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço, e capaz de satisfazer, em determinada época e região do País, as suas necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte.” 3. A Constituição de 1946 determina que o salário mínimo deve atender também às necessidades da família do trabalhador: “Art 157 - A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão os seguintes preceitos, além de outros que visem a melhoria da condição dos trabalhadores: I - salário mínimo capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, as necessidades normais do trabalhador e de sua família; (...)” 4. A Constituição Federal de 1988, no capítulo dos Direitos Sociais, define que o salário mínimo deve cobrir todas as necessidades do trabalhador e de sua família, ser unificado em todo o território nacional e reajustado periodicamente para garantir seu poder aquisitivo. “Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; (...)” A Constituição estabelece que o valor do salário mínimo deve ser reajustado periódicamente, a fim de ser preservado seu poder adquisitivo, ou seja, o poder de comprar e pagar os custos daquelas necessidades vitais acima descritas. O salário mínimo em 2010 é R$ 510,00, que correspondem a 228, 55 euros. (Cotação do euro em 2,22 dia 30/05/2010). 259 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Tabela 10 – Faixa etária salarial das famílias da RDS Condição Até 1 salário mínimo De 1 a 2 salários mínimos De 2 a 3 salários mínimos De 3 a 4 salários mínimos De 4 a 5 salários mínimos De 5 a 10 salários mínimos Maior que 10 salários mínimos Nr Total n 247 83 19 11 03 32 395 % 62,5 21,0 4,8 2,8 0,8 8,1 100 Fonte: Pesquisa de Campo Por Amostragem, 2008. Gráfico 9 – Faixa etária salarial das famílias da RDS É notória e preocupante a exclusão dos habitantes da reserva no dinamismo econômico do Rio Grande do Norte que se baseia principalmente no extrativismo, agricultura, pecuária, indústria, comércio e turismo. O estrativismo é uma importante atividade econômica que fornece matéria prima para a atividade industrial. Os maiores destaques do Rio Grande do Norte são a exploração de petroleo, gás natural, calcário e sal marinho. Segundo informações do Sindicato da Indústria de Extração de Sal do Rio Grande del Norte (SIERSAL, 2009), das salinas do estado são extraídos mais de 95% do sal nacional - o equivaliente a 4,8 milhões de toneladas ao ano - resultado das poucas chuvas, temperatura elevada, ventos secos da região acarreta uma grande produtividade do sal. O sal foi um dos primeiros produtos a ser explorado comercialmente no Rio Grande del Norte. A exploração normal e extensiva das salinas de Mossoró, litoral de Areia Branca, Açu e Macau datam de 1802 ainda que já se sabia da existência de jazidas na região desde o inicio da colonização. Atualmente, toda a produção de sal potiguar se concentra em cinco municipios: Macau, Mossoró, Areia Branca, Galinhos e 260 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Grossos, empregam aproximadamente 15 mil pessoas. Cerca de 25% do produto é exportado para os Estados Unidos, África (Nigéria e Camarão) e Europa (Dinamarca e Bélgica), (SIERSAL, 2009). Neste sentido, o sal continua sendo uma das principais referências para gerar empregos, infelizmente este fato não foi confirmado na pesquisa pelos habitantes da reserva, onde constata-se nas categorias de profissões (Tabela 8) que nenhum destes habitantes trabalham nas salinas de Macau. Figura 22 – Pirâmides de Sal Marinho – Macau/RN O petróleo e gás natural maior representação da economia de Macau, Guamaré e do Rio Grande do Norte. Os 3.500 poços perfurados que estão em operação garantem uma produção média de 57 mil barris de petroleo diários e 3,2 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia. Gera cerca de 20 mil empregos diretos e indiretos nas regiões do estado mobiliza dezenas de empresas na prestação de serviços relacionados ao setor. Sua produção garante as cidades e municípios o recebimento de royates53 da Petrobras (Petróleo Brasileiro S.A)54 no estado. Todo estado do RN produz, aproximadamente 80 mil barris/dia, perdendo em produção apenas para Rio de Janeiro, que produz quase 2 milhões de barris/dia. A expectativa da Petrobras é que o RN produza 115 mil barris diários em 2012. 53 Royalty é uma compensação paga aos Estados, Municípios, Ministério da Marinha, Ciência e Tecnologia, sobre a produção de petroleo e gás natural. Os royalties são repassados para 15 municípios produtores do Rio Grande do Norte. Estes municipios são: Alto do Rodrigues, Apodi, Areia Branca, Assu, Caraúbas, Carnaubais, Felipe Guerra, Governador Dix Sept Rosado, Guamaré, Macau, Mossoró, Pendências, Porto do Mangue, Serra do Mel e Upanema. De acordo com a Petrobras, entre os R$ 283,4 milhões pagos em royalties en 2007, R$ 159,57 foram destinados ao Governo do Estado do RN e R$ 123,91 a 93 municípios, dos quais 15 são produtores de petroleo e gás. Macau, Mossoró e Guamaré concentraram 45,9% destes recursos. Juntos receberam R$ 56 milhões de royalties (PETROBRAS, 2008). Estudos sobre o repasse de Royalties realizado pela Universidade Candido Mendes – Campus do Rio de Janeiro (2008), revelam que em 2008, apenas 52,4% do dinheiro de royalties enviado aos municípios potiguares foram revertidos para desenvolvimentos das cidades. Em Macau, o índice foi menor de 21,2% e Guamaré 44,8%. 54 Em 2010 a Petrobras (Petroleo Brasileiro S.A.) completou 34 anos de produção de petroleo no Rio Grande do Norte. Teve início em 1976 com entrada em operação o Campo de Ubarana, na costa de Guamaré. PETROBRAS (2010). 261 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Figura 23 – Cavalos Mecânico-Extração de petroleo-Polo petroquímico O estado também destaca-se na carcinicultura (criação de camarão em viveiros) responsável por cerca de 1/3 do total da produção de crustáceos. Os grandes compradores de camarões são Estados Unidos, França, Italia e Bélgica. De acordo com a Secretaria de Agricultura, Pecuaria e Pesca do Rio Grande do Norte (2009), esta modalidade constitui atualmente o principal produto de exploração potiguar. Entre as áreas produtoras estão Porto do Mangue, Pendências, Canguaretama, Carnaubais, Galinhos, Sâo Gonçalo do Amarante, Mossoró, Guamaré, Macau e Nisia Floresta. (SAP-RN, 2009). 2.11 Formas de recebimento dos salários Quanto à forma de recebimento dos salários, cerca de 54,2% dos trabalhadores recebe seus salários mensalmente, neste caso são categorias profissionais com salários estipulados de acordo com sua profissão. Em seguida observamos que 32,4% recebem por produção55, este percentual justifica-se devido ao número de trabalhadores ligados a pesca que trabalham para os mestres dos barcos,56 onde o cálculo é feito de acordo com a quantidade de kilos de peixes ou crustáceos pescados diariamente que dependem da maré, onde ao longo dos anos, devido a 55 SALÁRIO POR PRODUÇÃO: Esse tipo de salário é aquele calculado com base no número de unidades produzidas pelo empregado. Cada unidade é retribuída com um valor fixado pelo empregador antecipadamente. Esse valor é a tarefa. O pagamento semanal, quinzenal ou mensal é efetuado calculando-se o total das unidades multiplicado pela tarifa unitária. 56 MESTRES DOS BARCOS: Donos de barcos a motor que contratam pescadores por produção. 262 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN vários fatores locais e globais diminuíram a quantidade de recursos naturais57. Para Carlos Walter Porto Gonçalves destaca-se a importância de conceder o Seguro Desemprego ao pescador no período defeso58: “A proposta de salário-defeso é uma idéia originalíssima, na medida em que mediante ela a sociedade preserva o que não é o homem – o rio, a praia, a lagoa e seus peixes – e, ao mesmo tempo preserva os pescadores e sua cultura. E com um acréscimo, que é de considerar o conhecimento do pescador um conhecimento válido o que é um avanço no sentido de considerá-lo um cidadão e, portanto portador de direitos e, mais do que isso, protagonista de direito. Nessa proposta não se tem que escolher entre a natureza e a cultura, ou entre o homem de um lado e a natureza, de outro. Entre o peixe e o pescador!” (Gonçalves ,2007 p.389), durante a pesquisa não foi encontrado nenhum pescador com este benefício, já que o período não era de reprodução das espécies. Os 3% dos que recebem semanalmente seus salários, estão diretamente ligados a prestação de serviços, categorias de pedreiros, ajudantes de obra, pintor etc... Tabela 11 – Formas de recebimento dos salários dos habitantes da RDS Condição n 214 128 12 02 08 02 01 28 395 Mensal Por produção Semanal Quinzenal Por tarefa Diária Outra Nr Total % 54,2 32,4 3,0 0,5 2,0 0,5 0,3 7,1 100 Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. 57 A partir da década de 60 o Estado Brasileiro desenvolveu políticas para o desenvolvimento econômico do setor. Contudo, o intenso fomento ao setor industrial pesqueiro e o total descaso com a pesca artesanal, que até então representava a principal fonte de abastecimento local e de exportações de pescado, gerou intensos problemas ambientais e sociais que podem ser observados nos dias de hoje (PASQUOTTO, 2007). 58 No Brasil, o período de defeso é o período em que as atividades de caça, coleta e pesca esportivas e comerciais ficam vetadas ou controladas em diversos locais do território nacional. Este período é estabelecido pelo IBAMA, no caso da pesca, de acordo com o de tempo em que os crustáceos os peixes se reproduzem na natureza (É uma medida de proteção, que proíbe a pesca durante o período de desova, para evitar que as fêmeas sejam capturadas durante a desova), visa a preservação das espécies e a fruição sustentável dos recursos naturais. Os pescadores artesanais recebem do governo proventos em dinheiro, no valor de um salário mínimo mensal, durante a época em que não podem obter renda da pesca por impedimento legal. 263 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Gráfico 10 – Formas de recebimento dos salários dos habitantes da RDS 2.12 Classificação da posição de ocupação em relação ao trabalho Com relação a que tipo de categoria está inserido o trabalhador, dos entrevistados 51,2% são empregados contratados por empresas Como existe um número considerável de pescadores na reserva, observa-se que 37,9% consideram-se trabalhadores por conta própria, são os chamados autônomos cuja renda vem da produção ou seja da venda do peixe e mariscos, em seguida vêm a categoria de aposentados com 6,6%, e apenas 2,8% dos entrevistados são empregadores ou seja donos de micro empresas. Tabela 12 – Posição de ocupação em relação ao trabalho dos entrevistados da RDS Condição n 202 150 26 11 06 395 Empregado Conta própria Aposentado Empregador Outras Total Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. 264 % 51,2 37,9 6,6 2,8 1,5 100,0 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Gráfico 11 – Posição de ocupação em relação ao trabalho dos entrevistados da RDS 2.13 Programas de Governo Tabela 13 – Famílias da RDS que recebem algum Programa do Governo Condição Sim Não Nr Total n 132 124 1 257 % 51,4 48,2 0,4 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008 Gráfico 12 – Famílias que recebem algum programa do governo O Governo Federal do Brasil implementou programas de governo para as classes sociais mais baixas, são programas de transferência direta de renda com condicionalidades, 265 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza59. Vale ressaltar que apenas um pouco mais da metade 51,4%das famílias entrevistadas são beneficiadas por programas governamentais que contribuem diretamente para o orçamento familiar. Constatamos que existe 48,2% dos entrevistados que não recebem nenhum tipo de ajuda através de Programas de Governo Federal, Estadual ou Municipal, este percentual é bastante significativo, demonstra que quase metade da população entrevistada não tem acesso a benefícios sociais, este fato deve-se ao descaso de alguns gestores, visto que, através da pesquisa detectou-se que a prefeitura de Guamaré (Lagoa Doce e Mangue Seco I e II) agregou para sua comunidade o Programa Brasil Alfabetizado60 do Governo Federal, enquanto que a prefeitura de Macau (Diogo Lopes, Barreiras e Sertãozinho), não possui este programa em suas respectivas comunidades. Faz necessário que os gestores cadastrem suas comunidades junto ao Ministério de Educação – MEC. Na tabela abaixo estão discriminados os programas de governo que beneficiam apenas metade das famílias da reserva. 2.14 Programa governamentais citados Tabela 14 – Programas de governo que as famílias da RDS estão inseridas Condição Bolsa familia- Federal Programa do leite- Estadual Programa Brasil alfabetizado-Federal Programa Cesta Básica- Municipal Total n 77 52 2 1 132 % 58,3 39,4 1,5 0,8 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. Um total de 132 famílias recebem algum tipo de benefício através dos programas de governo de acordo com o gráfico 13, mencionado no item anterior. Destas famílias 59 A população alvo do programa é constituída por famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza. As famílias extremamente pobres são aquelas que têm renda per capita de até R$ 60,00 por mês. As famílias pobres são aquelas que têm a renda per capita entre R$ 60,01 e R$ 120,00 por mês, e que tenham em sua composição gestantes, nutrizes, crianças ou adolescentes entre 0 e 15 anos. (www.mds.gov.br/bolsafamilia). 60 O MEC realiza, desde 2003, o Programa Brasil Alfabetizado (PBA), voltado para a alfabetização de jovens, adultos e idosos, efetuando o pagamento das bolsas- beneficios no valor de R$ 80,00 mensais para cada participante. O programa é uma porta de acesso à cidadania e o despertar do interesse pela elevação da escolaridade. O Brasil Alfabetizado é desenvolvido em todo o território nacional, com o atendimento prioritário a 1.928 municípios que apresentam taxa de analfabetismo igual ou superior a 25%. Desse total, 90% localizam-se na região Nordeste. Esses municípios recebem apoio técnico na implementação das ações do programa, visando garantir a continuidade dos estudos aos alfabetizandos. (http://portal.mec.gov.br). 266 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN constatamos que o principal programa é Bolsa Familia61 da esfera federal, com 58,3% das famílias cadastradas, este programa unificou outros programas como bolsa escola, bolsa alimentação, cartão alimentação e auxílio-gás. O programa do leite estadual62 benefícia 39,4% das famílias entrevistadas, é um programa que além de combater a desnutrição também movimenta o mercado e estimula aos pequenos produtores de leite e o mantém no campo gerando fonte de renda. Outro programa que gera emprego e/ou aumento de renda para profissionais na área de ensino é o Programa Brasil Alfabetizado (PBA), o quadro de alfabetizadores deve ser composto, preferencialmente, por professores da rede pública. Esses profissionais recebem uma bolsa do Ministério da Educação63 para desenvolver esse trabalho, no contraturno de suas atividades. Mas qualquer cidadão, com nível médio completo, pode se tornar um 61 O programa Bolsa Família tem por objetivos combater a fome e promover a segurança alimentar e nutricional; combater a pobreza e outras formas de privação das famílias; promover o acesso à rede de serviços públicos, em especial, saúde, educação, segurança alimentar e assistência social; e criar possibilidades de emancipação sustentada dos grupos familiares e desenvolvimento local dos territórios. O Bolsa Família unificou esses benefícios, portanto as famílias integradas ao programa deixam de receber os benefícios do Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Cartão Alimentação e Auxílio-Gás e passam a receber exclusivamente o benefício Bolsa Família. O programa oferece às famílias três tipos de benefícios: o básico, o variável e o variável para jovem: 1- O básico é concedido às famílias em situação de extrema pobreza. O valor é de R$ 68,00 mensais, independentemente da composição familiar. 2- O benefício variável, no valor de R$ 22,00, é concedido às famílias pobres e extremamente pobres que tenham, sob sua responsabilidade, crianças e adolescentes entre 0 e 15 anos, até o teto de três benefícios por família, totalizando R$ 66,00. As famílias em situação de extrema pobreza podem acumular o benefício básico e o variável, até o máximo de R$ 134,00 por mês. 3- O benefício variável para jovem é concedido às famílias pobres e extremamente pobres que tenham, sob sua responsabilidade, adolescentes entre 16 e 17 anos, matriculados na escola. O valor do benefício é de R$ 33,00. A família pode acumular até dois benefícios, ou seja, R$ 66,00. As famílias em situação de extrema pobreza podem acumular o benefício básico, o variável e o variável para jovem, até o máximo de R$ 200,00 por mês. (www.caixa.gov.br/Voce/Social/Transferencia/bolsa_familia/como_receber.asp) 62 PROGRAMA DO LEITE: Distribuindo diariamente um litro de leite para cada uma das 155 mil famílias em todo o Rio Grande do Norte, o Programa do Leite integra as ações desenvolvidas pelo Governo do Estado na área de Segurança Alimentar junto às comunidades mais carentes. O projeto tem como objetivo reduzir as carências nutricionais de crianças com faixa etária entre seis meses e três anos, desnutridos de três a seis anos de idade, gestantes, nutrizes, idosos a partir de 60 anos, portadores de deficiência impossibilitados de trabalhar, portadores do vírus do HIV e tuberculose e pessoas com câncer. Como conseqüência do sucesso do programa, o RN foi indicado pelo Unicef como o Estado do Brasil com o menos índice de desnutrição e menor taxa de mortalidade infantil. O programa conta com investimentos mensais na ordem de R$ 7,2 milhões, o que totaliza um aporte de recursos anuais que supera os R$ 85 milhões. Grande parte desses investimentos beneficia os cerca de três mil pequenos produtores do laticínio, que têm a compra do produto garantida todos os meses. Além de promover o incremento da atividade pecuária e a melhoria do rebanho e da produtividade da cadeia leiteira, o Programa do Leite contribui para a geração de ocupação e renda ao homem do campo, já que todo o leite pasteurizado tipo C (145 mil litros de gado e 10 mil litros de cabra) entregue à população é adquirido de produtores locais, que têm o pagamento realizado rigorosamente a cada 15 dias, o que garante as verbas necessárias à produção. (http://www.rn.gov.br/acoes-do-governo/programa-doleite/29/). 63 Valores das Bolsas pagas pelo Ministério da Educação: I – Bolsa classe I: Valor de R$ 250,00 (duzentos e cinqüenta reais) mensais para o alfabetizador com turma ativa de jovens, adultos e idosos; 267 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN alfabetizador do programa. Ele deve cadastrar-se junto à prefeitura ou secretaria estadual de educação e fazer um treinamento. O Brasil Alfabetizado atendeu 9,9 milhões de jovens e adultos desde sua criação até 2008. Naquele ano, a União aplicou R$ 245,8 milhões no programa. Evidentemente estas cifras de melhoras publicadas pelo MEC (2008), não atigiram os habitantes da reserva, visto que no gráfico 6 mencionado a princípio, constata-se que de acordo com os entrevistados a reserva possui um índice de 17,4% de analfabetos e o programa atualmente só contempla 1,5% dos entrevistados. Outro programa citado foi o da cesta básica (alguns itens de alimentos básicos como feijão, arroz, açúcar, sal, farinha, óleo, sardinha em conserva) desenvolvido pela prefeitura de Macau, onde beneficia apenas 0,8%. 3 Aspectos Sócio-culturais 3.1 Tipo de animais Tabela 15 – Quantidade de famílias da RDS que possuem animais Condição n 200 57 257 Sim Não Total % 77,8 22,2 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. II – Bolsa classe II: Valor de R$ 275,00 (duzentos e setenta e cinco reais) mensais para o alfabetizador com turma ativa que inclua jovens, adultos e idosos com necessidades educacionais especiais, a população carcerária e aos jovens em cumprimento de medidas socioeducativas; III – Bolsa classe III: Valor de R$ 250,00 (duzentos e cinqüenta reais) mensais para o tradutor-intérprete de LIBRAS que auxilia o alfabetizador com turma ativa que inclui jovens, adultos e idosos surdos; IV – Bolsa classe IV: Valores de R$ 500,00 (quinhentos reais) mensais para o coordenador de turmas de jovens, adultos e idosos; V – Bolsa classe V: Valores de R$ 500,00 (quinhentos reais) mensais para o alfabetizador com 2 (duas) turmas de alfabetização ativas. Além do pagamento de bolsas aos alfabetizadores e coordenadores de turmas, o MEC/FNDE repassa recursos financeiros aos estados e municípios, por meio de transferência automática, para financiamento das seguintes ações: formação de alfabetizadores, aquisição de gêneros alimentícios para a merenda e, também, de materiais escolares, pedagógicos, didáticos e literários, e de apoio ao professor em geral. (http://portal.mec.gov.br/ index. php?option=com_content&view=article&id=12280&Itemid=86) 268 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Gráfico 13 – Quantidade de famílias da RDS que possuem animais As famílias entrevistadas na reserva tem o hábito de criar animais (77,8%), para alimentos e transporte. Apesar de não quantificados, cachorros e gatos foram observados na maioria das casas visitadas, assim como animais silvestres mantidos como animais de estimação. As práticas alimentares são fenômenos socioculturais historicamente derivados, que possuem suas raízes em convenções sociais, condições históricas, acúmulos de vivências. O indivíduo se habitua a alimentar-se no cotidiano da cultura a qual está inserido, sendo o hábito alimentar, enquanto inscrição da cultura, revelador de identidades e valores que se referenciam no cotidiano próprio da estrutura social. Respeitar a diversidade cultural, os hábitos, os costumes e as tradições é essencial para compreender o universo de uma comunidade. A cultura alimentária ou os hábitos alimentares da reserva é baseada em produtos que existem na sua culinária local (peixes, crustáceos diversos, moluscos) em menor escala, pois a produção pesqueira, pode-se dizer que: 1º) "Os peixes mais caros são vendidos aos marchantes"64 (relato da maioria dos pescadores). Nesse grupo estão a cavala, a sioba, o agulhão de vela, dentre outros e os crustáceos lagosta e camarão. Portanto, mesmo sendo fácil 64 Marchantes - São atravessadores que vendem a produção as Industrias de beneficiamentos. Atualmente, no Rio Grande do Norte, seis empresas encontram-se operando, principalmente, no beneficiamento de lagostas, camarão, proveniente de cultivo, e peixes e crustáceos provenientes da pesca, quais sejam: Norte Pesca S.A. realiza a captura e compra o pescado para beneficiamento e a exportação de atuns e afins e lagosta, bem como o beneficiamento de camarões; Construções Navais Pesca e Exportação – EMPESCA S.A. – adquire a lagosta de alguns produtores, beneficia e exporta; Mucuripe Pesca S.A. - iniciou suas atividades recentemente no Estado objetivando a captura, beneficiamento e exportação de pescados como atuns e afins. Opera nas instalações da EMPESCA; Potiguar Alimentos S.A. – Atualmente beneficia e exporta camarão; Salinas Ltda Areia Branca - Captura, beneficia e exporta lagosta; Companhia Exportadora de Produtos do Mar S.A. – PRODUMAR - Atualmente beneficia e exporta camarão de cultivo; Netuno S.A. – Funciona no município de Touros, compra, beneficia e exporta lagostas e peixes. (IDEMA-2008). 269 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN de se conseguir em boa quantidade, estas espécies de peixes e crustáceos não está entre os alimentos mais consumidos pela população local. Conclui-se que, apesar de sua produção ser suficiente, não há sustentabilidade cultural-relativa ao gosto e consumo das pessoas pelo citado produto – nem sustentabilidade na forma de captura do pescado. Portanto uma característica presente que tornou-se hábito na reserva é a criação de animais domésticos, como complemento de alimento das familias, as aves, caprinos, ovinos e bovinos (galinha, peru, guiné, pato, porco, boi, jumento, cavalo) que está destinada também a comercialização e transporte. De acordo com o estudo qualitativo realizado, através do método alternativo etonográfico, cuja técnica de aplicação utilizada, fotografia do ambiente, constatou-se que existem em diversos pontos muitos animais soltos pela área da reserva (Figuras 24, 25 e 26). Esta fotografia abaixo contextualiza o problema e ratifica a importância do uso do método, verifica-se que os animais estão em todas as partes, inclusive na beira mar, transportando mercadorias, que a rigor deveria ser um ambiente próprio para atividades ligadas a pesca e lazer. Figura 24 – Guamaré (Burrotaxi Transporte turistas e mercadorias ) Figura 25 – Povoado Mangue Seco – Parque de Vaquejada – Animais soltos - Guamaré Figura 26 – Animais soltos pela praia de Barreiras 270 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 3.2 Utiliza lixo domiciliar como alimento para o animal Até a metade do século 20, o lixo não significava um problema tão grave para população. A maior parte dele era formada por materiais orgânicos, como restos de frutas e verduras, assim como de animais, e tudo isso é degradável pela ação da natureza. O lixo era menor e facilmente transformado pelo próprio Meio Ambiente em nutrientes para o solo. Muitas pessoas tinham o hábito de ter em suas casas uma horta ou uma criação de galinhas e outros animais domésticos, a quem elas davam seus restos de comida. O que restava era enterrado, retornando ao solo. De acordo com a tabela 16, verificamos que 70 % das famílias entrevistadas da reserva ainda cultivam este hábito secular. Tabela 16 – Quantidade de famílias que utilizam o lixo alimentar doméstico como alimento para o animal Condição Sim Não Total n 180 77 257 % 70,0 30,0 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. Gráfico 14 – Quantidade de famílias que utilizam o lixo alimentar doméstico como alimento para os animais 3.3 Cultivos agrícolas Todas as famílias dependem da agricultura, quer seja para subsistência, quer seja como fonte de renda em menor proporção, as espécies cultivadas são adaptavéis ao solo e 271 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN clima da região, de acordo com a tabela 17, constata-se que quase 97% das famílias entrevistadas cultivam algum produto agrícola, isto ocorre na reserva primeiro pela necessidade e segundo porque geralmente a maioria das residências possui áreas livres nas laterais e quintais que servem de plantio, bem como terrenos livres que os moradores ocupam indevidamente por temporada e plantam. A atividade agrícola ocupa toda a família: homens, mulheres, crianças e idosos. Os principais cultivos são: feijão (39,7%), fruteiras (35%), A macaxeira é o único produto cultivado o ano inteiro, sendo importante por gerar um pouco de renda regularmente, sobretudo com a farinha, de fácil comercialização (9,3%), milho (6,2%), batata doce (10%), batatinha (1,9%), fava (0,8%). Tabela 17 – Principais cultivos agrícolas dos habitantes da RDS Condição 1-Feijão 2-Fruteira 3-Macaxeira 4-Milho 5-Batata doce 6-Batatinha 7-Fava 8-NR Total n 102 90 24 16 10 05 02 08 257 % 39,7 35,0 9,3 6,2 3,9 1,9 0,8 3,1 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. Gráfico 15 – Principais Cultivos Agrícolas dos habitantes da RDS 272 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 3.4 Cozimento dos alimentos Tabela 18 – Forma de cozimento dos alimentos em fogão a lenha ou carvão vegetal Condição Sim Não Total n 152 105 257 % 59,1 40,9 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. Vale salientar a presença de quase 60,0 % das famílias utilizam fogão a lenha ou carvão, como alternativa para o preparo dos alimentos, apesar de constatar que 93% das residências da reserva possuem fogão a gás de acordo com a tabela - 46, o restante dos que não possuem 7,0% são “obrigados” a cozer os alimentos em fogão a lenha ou carvão vegetal. No estudo qualitativo, o médoto alternativo etonográfico, cuja técnica de aplicação utilizada fotografia do ambiente, constatou-se que quase todas as residencias dos entrevistados possuem uma cozinha contruida a parte, precariamente, e geralmente nos quintais. Esta fotografia abaixo contextualiza o problema e ratifica a importância do uso do método. Figura 27- Cozinha externa - Fogão a lenha/ carvão Esta é uma realidade na maioria das áreas rurais e lugarejos nos paises em desenvolvimento continua. Ano após ano a utilização de combustíveis tradicionais (lenha e carvão vegetal) em fogões ineficientes vem alimentando as gerações e devastando o meio ambiente. Entre as principais explicações que tentam justificar a continuação dessa prática, se destacam: hábito, a disponibilidade e o baixo custo dos combustíveis tradicionais em 273 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN contraste com os preços da eletricidade e dos derivados do petróleo no mercado internacional, a situação sócio-econômica dos habitantes das regiões rurais (baixo índice de desenvolvimento humano e baixo poder aquisitivo) e a disponibilidade intermitente ou a não existência devido à falta de infra-estrutura de distribuição e comercialização dos combustíveis. A utilização da lenha para a cocção de alimentos é um hábito e prática tão antiga quando a utilização de recursos naturais Sol e Vento na conservação e cozimento dos alimentos. Enquanto, os processos de cozimento, secagem e resfriamento solar não implicam em prejuízo ao meio ambiente, a cocção dos alimentos pela queima da madeira, direta ou na forma de carvão vegetal, acarretam muitos prejuízos ao ambiente e diretamente ao próprio indivíduo. Conforme o autor Sanga (2004), “uma das desvantagens da utilização dos fogões e combustíveis tradicionais é a baixa eficiência de combustão. A eficiência de um fogão a lenha é frequentemente menor do que 10% e a queima incompleta dos combustíveis tradicionais gera, além do gás dióxido de carbono (CO2), os produtos monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx), óxido nitroso (N2O), metano (CH4), compostos orgânicos não metânicos (CONM) e substâncias particuladas em suspensão, total suspended particles, (TSP)”. Na composição da madeira cerca de 50% é de carbono. Em uma queima eficiente a fumaça consiste em água e dióxido de carbono (CO2). Mas, quando a quantidade de oxigênio, necessária à queima eficiente, é insuficiente, as 500 g de carbono produzem de 50 a 60 g de monóxido de carbono, 20 a 30 g de metano, 30 a 40 g de outros resíduos que são muito mais nocivos ao meio ambiente que CO2. A contribuição ao Efeito Estufa provocado pelo monóxido de carbono é 5 vezes maior que a proveniente do dióxido; do metano cerca de 23 vezes maior e o dióxido de nitrogênio é um gás 280 vezes mais nocivo ao Efeito Estufa, Kammen (1992). Grande parte da redução no consumo residencial de lenha deve-se a incorporação de novos hábitos na elaboração dos alimentos com a aquisição de fogões a gás (GLP). No Brasil a eletricidade praticamente não é utilizada no setor residencial para cozimentos dos alimentos. Os habitantes utilizam um manejo combinado de lenha, carvão vegetal para o cozimento da alimentação básica, feijão, milho e mandioca, e utilizam o gás butano (GLP) durante a noite para a preparação de pratos rápidos para a ceia, como café e ovos. Mesmo o café da manhã, normalmente é feito no fogo à lenha. O uso da lenha predomina. 274 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN O alto preço do gás em relação ao baixo poder aquisitivo limita o aumento da utilização desde combustível. Cada vez mais, a degradação ambiental, principalmente proveniente dos desmatamentos, acarreta longas distâncias e tempo para a coleta da lenha e cada vez mais os habitantes utilizam espécies em extinção naturais da caatinga. Gráfico 16 – Forma de cozimento dos alimentos em fogão a lenha ou carvão 3.5 Coleta de lixo As famílias investigadas nas comunidades pertencentes a RDS em sua maioria contam com coleta de lixo domiciliar (82,5%), no entanto constatou-se que 15,2% não dispõe deste serviço, fato verificado nas comunidades de Lagoa Doce e Mangue Seco que estão localizadas na Zona Rural, sem infraestrutura e acesso. Tabela 19 – Coleta de lixo domiciliar dos habitantes da RDS Condição n 212 39 6 257 Possuem coleta Não possuem Nr Total Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. Gráfico 17 – Coleta de lixo domiciliar dos habitantes da RDS 275 % 82,5 15,2 2,3 100,0 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 3.6 Frequência da coleta do lixo Tabela 20 – Frequência semanal da coleta de lixo da RDS Condição 1 vez 2 vezes 3 vezes 4 vezes 5 vezes 6 vezes 7 vezes NR Total n 11 60 89 39 12 6 29 11 257 % 4,3 23,3 34,6 15,2 4,7 2,3 11,3 4,3 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. Gráfico 18 – Frequência semanal da coleta de lixo da RDS A coleta de lixo é feita quatro vezes por semana (15,2%), em locais centrais da reserva. Três vezes por semana (34,6%), em locais próximo ao centro da reserva, onde possui vias de fácil acesso para circular carros e caminhões. Nas proximidades do mar observa-se um grande acúmulo de lixo, causando poluição nos mares, rios e mangues, isto devido a coleta ser realizada apenas duas vezes por semana (23,3%).Verificou-se que há necessidade de coleta, tem que ter uma maior frequência, e de forma que abranja todas as áreas de vias de acesso boas e ruins, bem como áreas residenciais e não residenciais, visto que a população têm consciência de que seus hábitos não estão corretos ao manejar seus lixos, mas não resta altenartiva e apontam o descaso das autoridades e reinvindicam uma uma maior frequência e eficiência na coleta . 276 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Para o trabalho de limpeza urbana é muito importante que o serviço público tenha uma boa comunicação com a população e que a mesma esteja integrada na responsabilidade da limpeza dos logradouros-terrenos, ficando entendido que os moradores devem separar seu lixo de forma adequada e encaminhá-los de preferência à coleta seletiva. 3.7 Local de depósito de lixos O gerenciamento dos resíduos sólidos é uma atividade de saneamento ambiental com o objetivo de propiciar uma melhor qualidade no serviço público de saúde oferecida pelos municípios onde sua administração irá determinar de que forma e qual estratégia será utilizada para tomada de decisões para o sistema público de limpeza urbana65. No processo de limpeza urbana está inserida a tarefa de coleta de lixo. A destinação final desse lixo coletado costuma ser o aterro sanitário do município, (sendo este o processo mais comum entre as cidades do país) ou para usinas de reciclagem de resíduos sólidos. No entanto, de acordo com Reichert (1999), do ponto de vista sanitário, os aterros são eficientes, mas não em termos ambientais amplos, a menos que sejam meros aterros de rejeitos, resultantes de uma atividade prévia, intensa, visando a reciclagem. Isso porque ocultam e inutilizam materiais que poderiam e deveriam voltar ao ciclo produtivo, desperdiçando grandes quantidades de recursos naturais, energia e água, possíveis de serem poupados através da reciclagem. O método utilizado pelos Municípios de Macau e Guamaré, para o serviço de coleta é do tipo domiciliar, no qual um caminhão percorre as ruas da cidade recolhendo de porta em porta todos os tipos de resíduos (lixos), que já estão depositados enfrente as suas casas, de acordo com a frequência semanal da coleta de lixo. Devido a ineficiência da coleta do lixo, é uma prática comum que transformou-se em hábito a queima de lixos nos quintais (27,3%), e o acúmulo de 20,2% de lixos em terrenos baldios, que são jogados pelas famílias. Apenas 45,9% dos lixos recolhidos têm sua adequada disposição final nos lixões, este é considerado um índice muito baixo. 65 CASTILHOS JUNIOR, Armando B. de. Resíduos Sólidos Urbano: Aterro Sustentável para Municípios de Pequeno Porte. Florianópolis: ABES, RiMa, 2003. 277 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Tabela 21 – Local onde os habitantes da RDS depositam o lixo Condição Lixão/Coleta/Aterro sanitário Queimado no quintal Terrenos Aterro nos quintais Nr Total n 118 70 52 5 12 257 % 45,9 27,3 20,2 1,9 4,7 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. Gráfico 19 – Local onde os habitantes da RDS depositam o Lixo 3.8 Coleta seletiva Com relação à coleta seletiva, não encontramos como hábito ou costume da população participar na reciclagem, já que apenas 11,3% dos residentes confirmaram sua existência. Essa afirmação se refere à comunidade de Diogo Lopes, onde a proposta foi feita pela Associação Comunitária e pela ONG ambientalista que fazem a reciclagem do material: papel, plástico e vidro. Quase 90% não pratica coletas seletivas. Tabela 22 – Existência da coleta seletiva na RDS Condição Não Sim Total n 228 29 257 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. 278 % 88,7 11,3 100,0 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Gráfico 20 – Existência da coleta seletiva na RDS 3.9 Lixo causa problema de saúde São muitos os impactos provocados pelo acúmulo de lixo ao meio ambiente e a saúde pública. Além disso, resíduos sólidos não dispensados em locais adequados acabam por promover a proliferação de vetores transmissores de doenças. Estes impactos podem ser identificados na saúde através de doenças; e poluição ao meio ambiente na visão estética das vias públicas. Impactos como a poluição das condições naturais dos recursos do meio ambiente, como, água, ar e solo poluídos comprometem a sobrevivência de espécies e a qualidade de vida da sociedade. Ainda referindo-se aos impactos constatou-se que o mais visível na reserva é o lixo. Este se dispensado de forma incorreta acaba por poluir esteticamente os terrenos baldios, praias e ruas. O acúmulo deste contribui para a caracterização de uma cidade suja e uma sociedade sem consciência dos problemas gerados pelo lixo urbano. De Acordo com os habitantes entrevistados da reserva constatou-se na tabela 23 que 86% afirmam que o lixo acumulado por falta de frequência da coleta do lixo e causam doenças a população local. Tabela 23 – Lixo causa problema de saúde na RDS Condição Sim Não Total n 222 35 257 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. 279 % 86,0 14,0 100,0 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Gráfico 21 – Lixo causa problema de saúde na RDS 4 Apectos ambientais 4.1 Problemas ambientais da região A caracterização ambiental da área da RDS – Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão, obedeceu ao critério de observação da relação dos moradores com o meio ambiente, onde os problemas mais frequentes na área da RDS foram identificados: os locais que se encontram mais degradados, os responsáveis pelos problemas ambientais, assim como, as atribuições e responsabilidades dos órgãos ambientais na RDS. A Reserva possui em seu entorno empresas de estrativismo de petroleo e gás, de cultivo de camarão em cativeiro e extração de sal. Tabela 24 – Problemas ambientais comuns na região Total Causas Desmatamento Problemas Poluição Acumulo lixo em locais não adequados Mortandade de peixe Vazamento de Óleo / gás Despejo da água dos tanques de criação de camarão Destruição dos Mangues Total Sub-total Destruição da mata Fechamento / desvio de rios Poluição do ar por queimadas 6,6% 280 % 52,0 8,8 6,7 20,2 12,3 100,0 12 03 02 70,6 17,6 11,8 17 100,0 88,3% Total Sub-total n 118 20 15 46 28 227 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Continuação… Total Clima Causas Seca ou salinização de poços Avanço do mar Total Sub-total Total geral n 03 10 % 23,0 77,0 13 100,0 257 100,0 5,1% Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. Gráfico 22 – Problemas ambientais comuns na RDS Atualmente a complexidade ambiental em que vivemos nos conduz, na maioria das vezes, a trabalhar com ou a partir dos processos de degradação já em desenvolvimento, levando-nos a desafios ainda maiores para buscar soluções que apontem mecanismos que relacionem as possíveis causas e, ao mesmo tempo, entender os processos que levam a acentuar os problemas ambientais. Neste cenário, torna-se também relevante a busca de adequar metodologías e ferramentas para trabalhar o planejamento de unidades ambientais que apontem perspectivas mais coerentes e duradouras para a proteção, preservação e conservação das diversidades de paisagem e unidades de paisagem, sobre a superficie terrestre (Guerra e Marçal, 2006). O problema que mais aflige a população da Reserva é a Poluição com 88,3%, cujas causas geradoras são segundo os moradores, o acúmulo e disposição inadequada do lixo (52,0%); o despejo da água dos tanques dos viveiros de camarão (20,2%) juntamente com o vazamento de óleo/gás (6,7%) que destroem os mangues (12,3%) e provoca a mortandade dos peixes e moluscos (8,8%). Os outros problemas que foram citados na pesquisa são: o Desmatamento e o Clima, com respectivamente 6,6% e 5,1%. 281 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 4.2 Empresas poluem o meio ambiente A imagem negativa que os habitantes da RDS têm em relação às empresas instaladas em seu entorno, surgem devido às atividades de risco que estas empresas desenvolvem. Segundo Egler (1997) classifica como risco ambiental: o risco natural que está associado ao comportamento dinâmico dos sistemas naturais, isto é considerando o seu grau de estabilidade/instabilidade expresso na sua vulnerabilidade a eventos críticos de curta ou longa duração, tais como inundações, desabamentos e aceleração de processos erosivos; o risco tecnológico está relacionado com o meio de transporte, construção civil, incêndios em instalações industriais, explosões, vazamentos ou derramamentos de produtos tóxicos, como também a contaminação em longo prazo dos sistemas naturais por lançamento e deposição de resíduos do processo produtivo; o risco social, visto como resultante das carências sociais ao pleno desenvolvimento humano que contribuem para a degradação das condições de vida. Sua manifestação mais aparente está nas condições de habitabilidade, expressa no acesso aos serviços básicos, tais como água tratada, esgotamento de resíduos e coleta de lixo. Portanto, as empresas de carcinicultura e petroléo-Petrobras instaladas no entorno da reserva, fazem parte do risco tecnólogico que esta relacionado com o vazamento de óleo, queima e explosão de produtos extraidos pela petrobras e o desague de águas sujas e contaminadas dos tanques pelas empresas de carcinicultura, constatado através do tipo de poluição conforme tabela-24. Por estes fatores determinantes, justifica que 70,0% dos entrevistados da reserva, ratificam que as empresas poluem o meio ambiente, de acordo com a tabela 25. Tabela 25 – Empresas poluem o meio ambiente Condição Sim Não Total n 180 77 257 % 70,0 30,0 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. 4.3 Atividades econômicas que prejudicam o meio ambiente A carcinicultura é uma das principais atividades econômica desenvolvida na reserva que causa impactos ambientais, já que ocupa área de ecossistema de manguezal. Esta 282 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN atividade é dividida em três etapas (larvicultura, engorda e beneficiamento), onde todas podem provocar impactos ambientais.Os impactos provocados a partir da implantação dos viveiros e pelo processo de engorda do camarão até sua despesca são: 1 – Desmatamento de vegetação de mangue e de mata ciliar, ocorre na fase de implantação dos viveiros de engorda e construção dos canais de abastecimento e drenagem de água dos viveiros, e é feito geralmente através da derrubada da vegetação com o uso de instrumentos de corte ou queima. De acordo com o Código Florestal Brasileiro (Lei nº 4.771 de 1965), e a resolução CONAMA 303/2002, a vegetação de mangue e de mata ciliar são consideradas áreas de preservação permanente. Nestas áreas não é permitida a supressão da vegetação para implantação de qualquer atividade econômica. A retirada da vegetação é facultada apenas para implantação de empreendimentos de utilidade pública e interesse social (BRASIL, 2005). A localização de viveiros de camarão em estuários está relacionada principalmente as condições bio-físicas que estes ambientes apresentam, adequadas a produção do crustáceo, como o tipo de solo e salinidade da água. 2 – Salinização e degradação do solo, ocorrem principalmente devido a utilização de produtos químicos e orgânicos para alimentação dos camarões e correção química do solo dos viveiros no período pós-despesca. Ao final de cada ciclo de cultivo, o solo dos viveiros fica exposto ao sol por alguns dias para oxidação da matéria orgânica que fica no fundo do viveiro, proveniente de caramujos, peixes que conseguiram penetrar as malhas das grades, das fezes do camarão, da deposição do fitoplâncton, dos camarões mortos, dos restos de ração, adubos e fertilizantes utilizados ao longo do cultivo. Este processo baixa o nível do pH do solo devido a liberação de ácido sulfúrico. Para sua correção é adicionado calcário calcítico ou dolomítico. O uso continuado do calcário pode provocar o endurecimento e salinização do solo, inviabilizando a produção de camarão. 3 – Contaminação e uso de águas superficiais, é provocada pela liberação dos efluentes dos viveiros sem um tratamento prévio. Estes efluentes são ricos em matéria orgânica da ração para alimentação dos camarões, excrementos e produtos químicos, como fertilizantes. Quando é lançado no corpo hídrico, o efluente pode causar eutrofização e aumento da turbidez, que por sua vez levará a redução do oxigênio dissolvido e da biodiversidade aquática. Outro produto químico utilizado na carcinicultura e que pode causar problemas ambientais é o metabissulfito. Logo que são retirados dos viveiros os camarões são imersos numa solução de metabissulfito de sódio e gelo, que provoca sua morte por choque térmico e inibe a proliferação de bactérias. O uso do metabissulfito tem como objetivo evitar a 283 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN melanose, doença que causa manchas pretas no camarão. O lançamento desta solução no corpo hídrico sem nenhum tratamento prévio pode provocar reação com o oxigênio dissolvido e diminuição do nível do pH da água, que leva a ocorrência de mudanças das características químicas do ambiente aquático e conseqüente diminuição da biodiversidade. O potencial de contaminação dos mananciais pelos efluentes dos viveiros de camarão vai depender dentre outros fatores, da capacidade de autodepuração do corpo hídrico e da carga de poluentes lançadas no manancial. 4 – Contaminação do aqüífero subterrâneo, quando os viveiros são construídos sem nenhum revestimento das suas superfícies de laterais, e dependendo do tipo de solo, podem provocar a infiltração de água na sub-superfície a atingir o lençol de água subterrânea. Desta forma, os produtos orgânicos e químicos contidos na água dos viveiros podem percolar e contaminar o manancial subterrâneo, inviabilizando o uso do reservatório para outros fins. Isto ocorre geralmente quando os viveiros estão localizados em áreas mais interiores do continente. (SOARES, I.A. Diagnóstico Ambiental das áreas de preservação permanente localizadas no estuário do Rio Ceará Mirim/RN como uso de um sistema de indicadores ambientais, Doutorado Recurso Naturais-2009, Universidade Federal de Campina GrandeUFCG, Campina Grande). A outra atividade encontrada no entorno, nos limtes da reserva é a exploração petrolifera, que através de suas atividades de produção e extração do gás e petroleo causam sérios riscos, vejamos: 1 – Riscos nas linhas de produção, os resultados da avaliação dos riscos e da vulnerabilidade do sistema exploratório do campo petrolífero Canto do Amaro mostraram que as diretrizes da PETROBRAS, no geral, não estão sendo observadas: a sinalização, principalmente das linhas de produção é muito precária, e nos locais onde ela aparece está em má estado de conservação, e tomada pelo mato. Em alguns pontos as linhas de produção estão sinalizadas, chamando atenção para o risco, como esta observada nas proximidades dos poços. No entanto a conservação está muito ruim, pois tanto as placas como os dutos estão envolvidos pelo mato seco. A população na região é essencialmente rural, são pequenos proprietários rurais.A atividade agropecuária, desenvolvida de forma extensiva, baseia-se na criação de bovinos, ovinos e caprinos, o acesso a estas linhas de produção do campo, por animais e pela população é livre. Segundo o relato de moradores locais, onde ocorrem conjuntos de linhas tem havido desastres com os animais de maior porte, como os bovinos, que ficam presos entre elas, quebrando suas patas. Tal acidente também pode acontecer com os humanos, ao tentar atravessá-las. 284 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 2 – Rsco a degradação das terras, estas linhas de produção, na grande maioria dos casos parecem não receber a manutenção detida e muitas vezes estão locadas diretamente sobre os solos, com risco de serem corroídas pela ferrugem, além de estarem envoltas pela vegetação, que no período de estiagem está sob o risco da autocombustão. As linhas de produção nem sempre estão de acordo com as normas de segurança, ou seja, apoiadas sobre cavaletes de cimento armado ou de ferro, com proteções laterais e com placas de sinalização, elas estão sobre cavaletes de cimento armado e ferro, que as protegem da corrosão (umidade, salinização, etc), no entanto, a conservação fica a desejar, pois estão envolvidas pelo mato (vegetação herbácea, gramíneas e pequenos arbustos), com alto risco de incêndio pela combustão natural no período de seca. Pelo quadro que se apresenta, já faz tempo que não há um trabalho de conservação, com retirada da vegetação que cresce entre as linhas. Também não existe nenhuma placa de sinalização e nem cerca de proteção. 3 – Risco de contaminação do solo, outra situação de risco de vulnerabilidade estudada foi à relação das estruturas de exploração ao meio ambiente, mais precisamente com o estuário, onde estão localizadas as salinas. Em alguns casos os cavaletes de sustentação dos dutos, que transportam o óleo dos poços locados dentro do estuário para as estações receptoras no continente, foram corroídos pela água do mar, que invade o estuário durante as marés cheias, e as linhas jazem diretamente sob o fundo. Da mesma forma que o sal corroeu os cavaletes, ele pode corroer o duto, o que coloca em risco o estuário - contaminação por vazamento de óleo, pois o duto apoiado diretamente sob o fundo está vulnerável à ação da água do mar, colocando em risco o ambiente aquático do estuário dos rios e as salinas da região. Esta é uma situação de extrema vulnerabilidade das estruturas de produção e de extremo risco para o meio ambiente. O estuário é explorado por diversas companhias na extração de sal, marinho, além de ser a principal fonte de proteína para a população ribeirinha, através da pesca. O principal risco a desastre é a corrosão das linhas de produção pelo sal do mar que pode provocar derrames de óleo e comprometimento do ecossistema. 4 – Risco de contaminação do lençol freático por infiltração de óleo, vários poços apresentam as cisternas de proteção entupidas com areia e até mesmo cheias de óleo que vazam dos poços, com risco de incêndio e de infiltração no solo. A maioria dos poços não possui cercas de proteção. O acesso à estrutura é livre para pessoas e animais, caracterizando uma situação de risco, e ao mesmo tempo uma situação de vulnerabilidade da estrutura. A localização de alguns dos poços do campo petrolíiero, estão dentro dos limites do estuário dos rios, ligados ao continente por passarelas construídas por aterramento, que servem de acesso aos poços, tem contribuído para a erosão marinha das margens do estuário. 285 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Na região do estuário, nos limites do campo petrolífero, direção geral do fluxo de entrada da água durante a maré alta. O aterro encontrase no caminho do fluxo das águas da maré alta, formando uma barreira que muda a direção desse fluxo em direção ao continente, e como resultado se tem a aceleração da erosão das margens do estuário. Durante a vazão da água do mar, a forte corrente de escoamento erode a margem laminarmente e por sulco. Como resultado desta erosão está se formando ao longo da margem e associados aos poços no estuário, bancos de sedimentos, que aos poucos vão assoreando o fundo do estuário. Este assoreamento por sua vez acelera o processo da erosão das margens, pelo fato do fundo do estuário se tornar mais raso e as águas das marés altas tendem a se espraiar para cima das margens. Área do estuário dos rios durante a maré baixa forma uma ilhota a margem, com resquícios da vegetação de caatinga é uma das evidências do avanço do mar sobre o continente. A linha de produção (duto) do poço está vulnerável a este avanço e em risco de ser corroída pelo sal e provocar um desastre por vazamento de óleo. Em 2007, durante os trabalhos de campo do CAMPO PETROLÍFERO CANTO DO AMARO, MOSSORÓ – RN, verificou-se que no poço CAM - 514 tinha havido um vazamento de óleo, devido ao rompimento da caixeta. Na área estava trabalhando uma equipe de emergência. Como o poço estava em funcionamento, à energia elétrica demorou a ser desligada.O óleo jorrou sobre as áreas vizinhas e sobre toda a estrutura, inclusive sobre a fiação elétrica de alimentação da estação automática de transmissão de dados, caracterizando um risco a incêndio. (COSTA FILHO. A. Riscos e vunerabilidades- campo petrolífero- Canto do Amaro, Mossoró – RN, Doutorado em Recursos Naturais - 2007, Universidade Federal de Campina Grande-UFCG, Campina Grande). Estas duas atividades econômicas desenvolvidas na RDS são as que mais prejudicam o meio ambiente; a criação de camarão- Carcinicultura (58,4%); e a exploração de petróleoPetrobras (33,0%), estas atividades vêm acarretando a destruição do mangue e rios com um processo acelerado de desmatamento, bem como em relação à poluição do ar no processo de queima de petróleo. Vale salientar a atividade secular na reserva, a produção de sal, através das Salinas66, não foi citada na pesquisa como atividade que prejudique o meio ambiente. Isto ocorre porque a população da reserva observou que ao longo dos anos esta atividade foi desenvolvida e em momento algum existiu sintomas que levassem esta atividade a poluir ou prejudicar o meio 66 Salinas são espécies de praia onde se represa a água do mar a fim de que se evapore, deixando o sal. 286 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ambiente. Desde sua implantação até os dias de hoje, as salinas, seguem com métodos artesanais de produção, e é transportado o sal bruto para ser manufaturado na região de Mossoró. Tabela 26 – Atividades econômicas que mais prejudicam o meio ambiente na RDS Condição Criação de camarão Exploraçao petróleo Prod. Lenha e carvão Pecuaria Atividades portuárias/Transportes Outros cultivos Total n 150 85 12 08 01 01 257 % 58,4 33,0 4,7 3,1 0,4 0,4 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. Gráfico 23 – Atividades econômicas que mais prejudicam o meio ambiente na RDS 4.4 Pricipais locais e ecossistemas danificados O homem tem usado sua habilidade para manipular a terra com pouca sabedoria e precaução necessárias. A consequência tem sido a deterioração do meio ambiente, através da erosão do solo, compactação, falta de escoamento da água, salinização, perda de "habitat" natural, desperdicio dos recursos florestais, poluição da água, do ar e destruição da beleza da paisagem. Estes são os resultados da falta de aptidão e de compreensão humana sobre usar apropriadamente a terra e seus recursos. O objetivo é usá-la somente com finalidades que estejam dentro de suas possibilidades, através da percepção das causas em potencial de 287 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN instabilidade e da determinação dos sistemas de uso e manejo, que possam superar estas causas (BARACUHY, 2001, p. 17). Os locais da RDS mais degradados apontados pela população entrevistada são os rios e mares (32,2%), mangues (18,3%) e as praias (16,7%) e as áreas de moradias juntamente com a Mata Atlântica (12,1%) que se encontram muito prejudicadas devido ao acúmulo de lixo. Em relação às praias os entrevistados afirmam que a população é muito responsável, assim como a Prefeitura Municipal, tendo em vista a omissão no sentido de reivindicar e exigir uma maior responsabilidade das sub prefeituras em relação à atribuição de gestores dos bens públicos. Tabela 27 – Principais locais mais degradados apontados pelos habitantes da RDS Condição Rios e Mares Mangue Praias Áreas de moradias Mata Atlântica Dunas Outros locais com % < 1 Área para cultivo ou pastos Total n 83 47 43 31 31 10 08 04 257 % 32,2 18,3 16,7 12,1 12,1 3,9 3,1 1,6 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. 4.5 Existência de áreas que deveriam ser preservadas A população entrevistada da Reserva tem plena consciência do valor dos ecossistemas que a compõem, da importância que estes exercem sobre a vida deles, e todos querem preservá-los: 77,0% relacionam a preservação à sobrevivência das espécies no ambiente e ao equilíbrio dos ecossistemas. Segundo os moradores, deveria evitar a poluição dos corpos d’água e do ar, pois são locais que poderiam ser utilizados para o lazer e para exploração turística de forma sustentável. Tabela 28 – Existência de áreas que deveriam ser preservadas segundo os habitantes da RDS Condição Sim Não Nr Total n 198 57 02 257 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. 288 % 77,0 22,2 0,8 100,0 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Gráfico 24 – Existência de áreas que deveriam ser preservadas segundo os habitantes da RDS 4.6 Motivos para preservação da RDS O principal motivo apontado pelos entrevistados foi a sobrevivência das espécies (31,5%), fato revelado devido ao grande número de pescadores ou pessoas ligadas à cadeia produtiva da pesca. Há anos estas pessoas participam desta atividade pesqueira e sabem da escassez ou até o desaparecimento de algumas espécies antes encontradas no seu habitat, bem como a sujeira encontrada dentro dos rios, mares e mangues, por isso os motivo citados subsequentes, para que haja à preservação, é diminuir a poluição de rios e mares (21,8%); e consequentemente o equilíbrio ambiental (13,6%), obter mais fonte de de renda (10,9%) devido ao baixo nível de pescados em algumas épocas do ano. A preservação das belezas naturais e pontos turisticos (7,8%), segundo os entrevistados são fatores importantes para preservar a reserva que possui características de zonas litorâneas, com uma riqueza em paisagens na qual complementam para torna-se um diferencial como ponto turístico. O ar (4,3%), foi citado pelos entrevistados da reserva como motivo de preservação devido a combustão existente nas plataformas de petróleo que estão nos limites da reserva e são aparentemente visíveis de qualquer parte. Tabela 29 – Principais motivos apontados pelos habitantes da RDS para preservação Condição Sobrevivência das espécies Diminuir poluição dos rios, mares e mangues Equilíbrio Ambiental Fonte de Renda Beleza Natural Ponto Turístico Ar Outros motivos com % <1 Total n 81 56 35 28 20 20 11 6 257 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. 289 % 31,5 21,8 13,6 10,9 7,8 7,8 4,3 2,3 100,0 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 4.7 Forma de preservação Os entrevistados declararam que a Reserva de Desenvolvimento Sustentável deve ser protegida com medidas de fiscalização (25,0%), por se tratar de uma área de preservação, onde o governo do estado do Rio Grande do Norte criou, em 18 de julho de 2003, (RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual da Ponta do Tubarão), por meio da Lei 8.349, conforme a Lei 9.985 de 18.07.2000 que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Através da limpeza dos rios (19,5%), da proibição de animais soltos nas ruas e nas dunas (16,7%), e em um processo efetivo de conscientização da população/Educação Ambiental (15,9%), cuidando da praia (13,2%). Tabela 30 – Forma de preservação da RDS Condição Fiscalizar Limpeza do rio Cuidado com animais soltos Conscientização da população/Educação Ambiental Cuidar da praia Pesquisas p/ sobrevivência dos crustáceos em extinção Parar de jogar lixo nos mangues Outros preservação com % < 1 Nr Total n 64 50 43 41 34 05 03 14 03 257 % 25,0 19,5 16,7 15,9 13,2 1,9 1,2 5,4 1,2 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. 4.8 Educação ambiental A Educação Ambiental é uma forma abrangente de educação cujo objetivo é atingir todos os cidadãos, inserindo a variável meio ambiente em suas dimensões física, química, biológica, econômica, política e cultural em todas as disciplinas e em todos os veículos de transmissão de conhecimentos. As diversas definições de Educação Ambiental variam de acordo com o enfoque dado pela área de conhecimento (biologia, geografia, ciências sociais etc). Segundo o Art. I da Lei n° 9.795/99, que estabelece a PNEA - Política Nacional de Educação Ambiental, a Educação Ambiental contempla: "Os processos por meios dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e 290 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”. A educação ambiental tem como principais finalidades: ajudar a fazer compreender, claramente, a existência da interdependência econômica, social, política e ecológica, nas zonas urbanas e rurais; proporcionar, a todas as pessoas, a possibilidade de adquirir os conhecimentos, o sentido dos valores, as atitudes, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar o meio ambiente e induzir novas formas de conduta nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade em seu conjunto, a respeito do meio ambiente. Devido aos antecedentes da criação e formação da reserva que são fortes indícios de que a população se interessa em participar de atividades sobre as questões ambientais, conforme a pesquisa apresentada que 66,5% dos entrevistados participaram e tomaram conhecimento de atividades em Educação Ambiental que têm como principais objetivos: criar uma consciência ecológica, ajudando os grupos sociais e os indivíduos a adquirir consciência do meio ambiente global e se sensibilizarem por essas questões; transmitir conhecimento, através da ajuda aos grupos sociais e aos indivíduos, visando à aquisição da diversidade de experiências e compreensão fundamental do meio ambiente e dos problemas anexos; ensinar novos comportamentos, levando os grupos sociais e os indivíduos a se comprometerem com uma série de valores, e a sentir interesse e preocupação pelo meio ambiente, motivando-os de tal modo que possam participar ativamente na melhoria e na proteção do mesmo; ensinar novas habilidades, para determinar e resolver os problemas ambientais e motivar a participação proporcionando-lhes a possibilidade de participarem ativamente nas tarefas cujo objetivo é resolver problemas ambientais. Tabela 31 – Existência de atividades em educação ambiental na RDS Condição n 171 85 01 257 Sim Não Nr Total Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. 291 % 66,5 33,1 0,4 100,0 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Gráfico 25 – Existência de atividades em educação ambiental na RDS 4.9 Responsáveis pela educação ambiental A primeira iniciativa da população RDS no ano de 2001, quando através das associações foi realizado o primeiro encontro “Em defesa do nosso futuro”, com objetivo de proteger a área dos municípios afetados por interesses para exploração turistica de forma avassaladora que destruíram dunas e matas, foi o primeiro passo dado para transformar a área afetada em uma reserva ambiental. A partir de então, foram surgindo outras parcerias institucionais, que se sentiram na obrigação de fazer parte dessa mobilização. Os entrevistados atribuem a responsabilidade desse conhecimento primeiramente à Petrobrás (28,8%), seguida pela Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal (15,6%), que oferecem acesso sobre o tema à população. Os programas de televisão e as ONG`s/Associações Comunitárias (15,6%), são citadas como a terceira responsável pela transmissão do conhecimento sobre o meio ambiente seguidos pelos agentes de saúde (13,6%) exercem um papel importante nesta divulgação e por último as escolas e o IBAMA (3,9%), surpreende o percentual menor destas Instituições que são multiplicadores e responsáveis pelo tema. 292 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Tabela 32 – Responsavéis pela educação ambiental Condição Petrobras Prefeitura Programas de Televisão Ong`s e Associações Agente de saúde Palestras nas Escolas- Professores IBAMA Programa de Rádio Total n 74 40 40 40 35 10 10 8 257 % 28,8 15,6 15,6 15,6 13,6 3,9 3,9 3,0 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem-2008 4.10 Órgãos ambientais: IBAMA e IDEMA Para as famílias entrevistadas a melhor forma de resolver muitas questões ambientais seria realmente através da fiscalização, policiamento e monitoramento da região (46,6%), em seguida um trabalho de orientação das leis com 21,0%, seguido de orientar e investir na pesca (18,7%) visto que a pesca é a mais importante fonte de sobrevivência de grande parte dos habitantes da reserva. Esta orientação pode ser dada mudando a forma tradicional de manejo e utilizando a forma sustentável, pois apesar do ambiente marinho ser necessário e também uma fonte de sobrevivência da maioria das famílias, de muitos pescadores e da população em geral deve-se sempre se aprender novas formas de preservação da natureza. Para tanto, os planejamentos e os manejos ambientáis podem ser entendidos como a execução de atividades ou ações para dirigir e controlar a coleta, a transformação, a distribuição e a disposição dos recursos naturais de maneira capaz de sustentar as atividades humanas com um mínimo de disturbios nos processos socioambientais (Christofoletti, 1999, p.162). O trabalho de conscientização em massa (7,8%), foi citado para que estes dois orgãos, o IBAMA e IDEMA67 busquem uma participação mais frequente na reserva. 67 IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e IDEMA - Instituto Desenvolvimento Sustentável Meio Ambiente-RN. 293 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Tabela 33 – Função dos órgãos ambientais IBAMA e IDEMA identificadas pelos habitantes da RDS Condição Fiscalizar e policiar Orientar as leis Evitar lincenças ambientais Conscientizar a população Promover Palestras Outros Total n 120 54 48 20 04 11 257 % 46,6 21,0 18,7 7,8 1,6 4,3 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. 4.11 ONG’S De acordo com a tabela 34, o percentual de habitantes que não respodem é bastante significante 92,2 %, constata-se que as pessoas não têm conhecimento do que são as ONG´S e por suposto o papel desempenhado por elas. Apenas (3,1%) entrevistados afirmam que o papel desempenhado pelas ONG´S é buscar parcerias para educação ambiental, este fato ocorreu porque a população da reserva tomou conhecimento da participação da primeira ONG durante os três encontros ainda na formação da reserva, e em seguida quando a reserva já estava formada com a atuação de uma ONG em parceria com a Petrobras dando ênfase a educação ambiental; a ajuda comunitária (1,9%) aparece como outro papel desempenhado; ajudar no desenvolvimento de emprego (0,8%), o restante dos papéis que foram citados pelos entrevistados têm percentuais insignificantes para pesquisa. Tabela 34 – Papel das ONG’S segundo os habitantes da RDS Condição Ajuda comunitária / ajudar a população Ajudar no desenvolvimento de emprego Ajudar a Amagoa Ajudar a associação das mães Buscar parcerias para educação ambiental Construir mercado Doação de alimentos Educação Nr Total n 05 02 01 01 08 01 01 01 237 257 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. 294 % 1,9 0,8 0,4 0,4 3,1 0,4 0,4 0,4 92,2 100,0 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 4.12 Filiação e participação em associação Os habitantes da reserva deram um grande exemplo de cidadania na criação e formação da reserva através das associações comunitárias, que se reuniram e saíram em busca de apoio para a realização dos eventos, para formação da Reserva Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão- RDSEPT, com a continuidade, a reserva formada, há pouca participação dos habitantes em associação comunitária, dos entrevistados constatou-se que 22,2 % participam de associações comunitárias e 77, 8% não participam de acordo com a tabela 35 abaixo: Tabela 35 – Número de habitantes da RDS que participam de associações comunitárias Tipo Adecodil Ass. Mães Luiza Gomes Adecob Ass. p/ meio ambiente Accb Fundec Não participa Nr Total n 24 09 07 02 01 01 200 13 257 % 9,3 3,5 2,7 0,8 0,4 0,4 77,8 5,1 100,0 Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. Existe uma participação dos entrevistados pertecentes a profissão de pesca que se identificam e participam da associação de autonômos na colônia de pescadores (12, 5 %), o restantes das categorias de autonômos não demonstram tanta participação, de acordo com a tabela 36 abaixo: Tabela 36 – Número de habitantes que participam de associações profissionais autonômos Condição Colônia de pescadores Clube de mulheres Fasope Fund. Oscar. Paulino Não participa Nr Total n 32 02 01 01 211 10 257 Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. 295 % 12,5 0,8 0,4 0,4 82,1 3,8 100,0 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 5 Situação sócio-econômica 5.1 Tipo de imóvel A característica das moradias da população residente na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão envolve desde a tipologia das casas, até as condições de habitabilidade, incorporando a infra-estrutura de serviços disponíveis para o bem estar da população. Conforme tabela 37 abaixo, é uma prática constante na reserva o tipo de construção de casa isolada (41,6%), este estilo de casa é construida isoladamente nas laterais,ou seja, possui um espaço entre uma casa e outra, chamado popularmente de beco, é um espaço lateral que mede geralmente como no mínimo um metro. A Casa conjugada é o inverso da casa isolada, está construida colada na casa vizinha, são unidas apenas por uma parede, este percentual de casas conjugadas ficou em torno de 31,9%, sendo que a maioria destas moradias são as predominantes no Povoado de Diogo Lopes considerando-se as residências localizadas em áreas planas, na entrada da cidade, que deu origem ao Povoado. As casas de vila são construções exatamente iguais, possuem um mesmo número de cômodos, são construções antigas, feitas por donos de salinas e encontramos 17,1% dos entrevistados vivendo nelas. As casas de conjunto são as melhores construções encontradas na reserva, tanto pelo material utilizado quanto pela quantidade ideal de cômodos, foram construidas por empresas para seus funcionários, mas apenas 5,1% dos habitantes tiveram acesso a este beneficio. Todos os tipos de casas citadas acima possuem uma área no fundo das casas denominada “Quintais”, que são utilizados para a plantação de produtos de subsistência, tais como; feijão, milho, batata, macaxeira e fruteiras. Vale salientar que o recuo de frente das moradias é mínimo, ficando muito próximas das calçadas, que apresentam largura inadequada para pedestres. Tabela 37 – Tipo de construção quanto à distribuição de áreas da RDS Condição Casa isolada Casa conjugada Casa de vila Casa de conjunto Outros Total n 107 82 44 13 11 257 Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. 296 % 41,6 31,9 17,1 5,1 4,3 100,0 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Gráfico 26 – Tipo de construção quanto à distribuição de áreas da RDS 5.2 Construção dos imovéis As moradias da RDS em sua maioria são de alvenaria (83,3%), mas se constatou que cerca de 10,5% do total são construídas de taipa, ou seja as paredes construídas de barro ou de cal e areia com estacas e ripas. A maioria delas possui entre 4 a 6 cômodos (49 %), mas esse dado não se traduz em casas espaçosas, pois são muito subdivididas. Vale salientar também que muitas famílias entrevistadas contam como cômodos terraços fechados, que na maioria das vezes são utilizados como local para dormir, até mesmo os chamados “alpendres”. Tabela 38 – Condição de moradias quanto de construção da RDS Condição n 214 27 1 15 257 Alvenaria Taipa Madeira Outros Total Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. 297 % 83,3 10,5 0,4 5,8 100 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Gráfico 27 – Condição de moradias quanto de construção da RDS 5.3 Condição de ocupação Em relação às condições de posse dos imóveis, aproximadamente 79% dos entrevistados consideram suas residências como ”próprias”. Em relação à situação fundiária dos terrenos localizados na área da Reserva, sabe-se que a maioria foi adquirida por meio de doação de políticos e ou cedidos por proprietários de terras. Nas duas comunidades da RDS que pertencem ao Município de Guamaré, os terrenos pertencem a dois proprietários que cederam suas terras para as famílias. Os moradores não se consideram donos das terras, apenas das casas que construíram. No caso das comunidades que pertencem a Macau, em Barreiras, grande parte das terras pertence a um único proprietário, e em Diogo Lopes, a situação fundiária é diferente: muitas áreas foram invadidas, doadas por políticos ou foram frutos de heranças familiares. Mas quando abordados sobre a escritura do imóvel, viu-se que a maior parte dos entrevistados não possuía documentos, mas já residem na área há mais de 10 anos. Observa-se também a existência de muitos contratos de gaveta. Tabela 39 – Condição de posse dos imóveis dos habitantes da RDS Condição n 203 25 21 08 257 Própria Cedida Alugada Outros Total Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. 298 % 79,0 9,7 8,2 3,1 100,0 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Gráfico 28 – Condição de posse dos imóveis dos habitantes da RDS 5.4 Total de cômodos As casas construidas na reserva são básicas e dividas por cômodos, as que possuem três cômodos (43,1%) são compostas de sala, quarto e cozinha, classificamos estas divisões dentro de um mesmo ambiente, os cômodos encontrados no mesmo terreno, mas com construções a parte da casa não foram computados, neste caso específico de casas com três cômodos os banheiros são construidos nos quintais a parte da casa. As casas de quatro a seis cômodos (49,0%), seguem o mesmo padrão, possuem sala, cozinha e aumentam no número de quartos, pois os banheiros sempre estão construidos nos quintais das casas. Apenas 7,9 % dos entrevistados da reserva possuem casas com mais de seis cômodos de acordo com a tabela 40. Tabela 40 – Quantidade de cômodos das casas dos entrevistados da RDS Condição n 111 126 20 257 Até 3 cômodos De 4 a 6 cômodos Mais de 6 cômodos Total Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. 299 % 43,1 49,0 7,9 100,0 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Gráfico 29 – Quantidade de Cômodos dasa casas dos entrevistados da RDS 5.5 Instalações sanitárias Com relação à questão do saneamento básico, constatou-se que cerca de 80,5% das moradias pesquisadas possuem fossa séptica, mas ainda existem quase 20% das residências que são destituídas deste tipo de serviço, uma vez que as fossas são do tipo negras e ou inexiste tal serviço. Tabela 41 – Tipos de instalações sanitárias Condição n 207 19 18 13 257 Fossa séptica Negra Céu aberto Outra Total Fonte: Pesquisa de Campo por amostragem, 2008. Gráfico 30 – Tipos de instalações sanitárias 300 % 80,5 7,4 7,0 5,1 100,0 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 5.6 Abastecimento d´água A hidrografia da região do Seridó Oriental é banhada pela bacia do Rio Piranhas – Açu, que ocupa uma superfície de 17.498,5 km², correspondendo a cerca de 32,8% do Estado do RN, e abrange 33 municípios perfazendo toda a mesorregião central e parte da agreste e oeste. Sua cabeceira dar-se na Serra do Bongá, na Paraíba, adentra no RN pelo município de Jardim de Piranhas e deságua no oceano Atlântico nas proximidades da cidade de Macau (Gruben e Lopes, 2001, p. 4). Como explica Guerra e Cunha (2004), um sistema hidrográfico de drenagem caracterizase pela formação de encostas, topos, fundos de vales, canais, corpos de água subterrânea entre outros. Essas características interligam-se formando uma superfície que drena água, sedimentos e materiais para o canal fluvial. Dessa maneira, a bacia Piranhas – Açu pode ser caracterizada de duas diferentes formas: a drenagem nas áreas do Planalto e a da Depressão. Nas áreas do Planalto da Borborema, esta possui uma drenagem radial, que escoa a partir de um ponto topograficamente alto, significando que a maior parte dos rios do Seridó Oriental tem suas cabeceiras na borda do planalto. Já na área da Depressão, os rios apresentam um padrão de drenagem dentrítica, sendo perceptível em mapas, nos cursos dos rios, a aparência de raízes de árvores. Esses rios são bastante retilinizados, denotando uma estrutura marcadamente controlada pelos contornos do Planalto. Devido ao solo do Seridó ser de formação cristalina, denota-se assim o baixo potencial hídrico sub-superficial da bacia e sua fragilidade, ressaltando a importância de evitar a retirada de cobertura vegetal nas encostas de rios, pois o solo pode erodir e assorear os mesmos. Outros fatores naturais que contribuem para o baixo potencial hídrico, além do solo, é o clima semi-árido com sua alta taxa de insolação hora/dia. Dessa maneira, o déficit hídrico é estimado em 2.022 l/s para o ano 2010, mas 90% desse déficit originam-se da sub-bacia do rio Seridó (Gruben e Lopes, 2001, p. 5). Esses elementos explicam o fato da bacia ser formada na maior parte por rios temporários. As características naturais da bacia que abastece o Seridó as tornam incapazes por si só de suprir as necessidades de toda a população. Por isso, a hidrografia seridoense é marcada por diversos reservatórios (açudes) em distintas regiões, mesmo assim, esses açudes abastecem apenas 43,6% dos domicílios existentes (Rio Grande do Norte, 2007). 301 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Por isso foi necessária a construção da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves (abastece toda região de Macau e a reserva de Dessenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão), para garantir a vazão mínima vinda do estado da Paraíba que é cerca de 4,5 m³/s , devido a montante de água diminuir consideravelmente no Seridó. E, ainda, o estado da Paraíba construiu o reservatório Coremas-Mãe D'Água no principal afluente do rio Piranhas, de forma a perenizar o afluente e um trecho do rio, garantindo a vazão mínima que entra no Estado do Rio Grande do Norte, pois na região do Seridó, as chuvas tendem a diminuir, dessa forma, para garantir não só o abastecimento da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, mas também o próprio volume de água armazenado na Barragem (Gruben e Lopes, 2001, p. 6). De acordo com a tabela 42 a acessibilidade à água e a prestação de serviços utilizados pela Companhia de águas e esgotos do Rio Grande do Norte-CAERN para o abastecimento de água na reserva os entrevistados consideram como básicos os serviços e destaca-se que o abastecimento d’água está presente em quase 90 % das residências da reserva. Em conformidade com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)68 o acercamento da universalização de alguns destes serviços essenciais na reserva já são uma realidade. O abastecimento de água69 ligado ao sistema geral que constitui uma importante obra para melhoria e preservação das condições de saúde e higiene dos moradores da reserva, entretanto a qualidade da água não é ideal para o consumo das famílias. Os quase 10% restantes que não possuem o abastecimento de água estão na zona rural. Tabela 42 – Formas de abastecimento d’água das residências da RDS Condição n 229 28 257 Rede geral Outros Total % 89,1 10,9 100,0 Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. 68 Conferir dados a página web; <http://www.federativo.bndes.gov.br> Segundo a Situação dos Domicilios Urbanos, investigados pela Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do Instituto Brasileiro de Geografía e Estatística – IBGE/2009, divulgado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 69 O Sistema de Abastecimento de Água da reserva é administrado e operado pela CAERN - Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte, desde 1972. Em nível de Brasil o abastecimiento está distribuido para 83% da população brasileira, na Região Nordeste para 68% dos domicílios, enquanto para o Estado de Rio Grande do Norte a água potável chega a 78% destes domicílios. (Almanaque Abril 2009, p. 156 e 402). 302 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Gráfico 31 – Formas de abastecimento d’água das residências da RDS. 5.7 Qualidade da água consumida A qualidade da água consumida pela população residente na RDS, não apresenta níveis adequados para consumo humano. A bacia hidrográfica da região apresenta um grande e considerável problema, esta bacia seridoense possui água salobra. Isso decorre devido à água da chuva ser insuficiente para eliminar os sais na solução do solo e por isso utiliza os dessalinizadores. São as causas da salinização: a composição química da rocha, a própria água de irrigação e a profundidade do solo, pois nesses solos pouco profundos, a água ao evaporar, traz a tona esses sais, aumentando a concentração na superfície. Por isso, a água superficial armazenada pode apresentar-se salinizada ou as do lençol freático, e seu teor varia de 480 a 1.400 mg/L (Gruben e Lopes, 2001, p. 6). Este fenômeno ocorre em Macau e na reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão. Por isso alguns poucos privilegiados consomem a água mineral Cerca de 52,1% do total investigado, consome água da torneira e aproximadamente 18,3% filtram, outros têm o hábito de utilizar cloro na água que utilizam para consumo (10,1%), e alguns fervem e coam a água (7,4%) e apenas 1,6% fervem a água. Quase 10% consome a água sem realizar nenhum tipo de tratamento. Como a qualidade da água tem influência direta na saúde da população, cerca de 232 pessoas foram acometidas por doenças nos últimos seis meses da data da aplicação da pesquisa que foi no início de 2008, sendo que a maior incidência foi de doenças viróticas e bacterianas (142 casos), seguidas pelas verminoses e parasitárias (54 casos) e doenças de pele. Vale salientar que todas as doenças supracitadas tanto ocorreram em crianças como na 303 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN população adulta. A pesquisa constatou também outros tipos de doenças (20 casos), a maioria não especificada, que ocorreram mais nos adultos, e alguns casos de doenças pulmonares. Tabela 43 – Tipo de abastecimento de água consumida pelos habitantes da RDS Condição n 134 47 26 24 19 04 03 257 Água – torneira Filtrada Clorada Sem tratamento Coada Fervida Não sabe Total % 52,1 18,3 10,1 9,3 7,4 1,6 1,2 100,0 Fonte: Pesquisa de Campo Por Amostragem, 2008. Gráfico 32 – Qualidade de água consumida pelos habitantes da RDS 5.8 Energia elétrica A energia elétrica também forma parte deste cenário da pesquisa, já que dela se beneficiam 93,0% dos domicilios da reserva70, que está na média nacional que é extamente o mesmo percentual, restando apenas 7% das famílias sem esse serviço, que são as que residem na zona rural. 70 Confer. Informe da Companhia Energética do Rio Grande do Norte: COSERN, na página web <http://www.cosern.com.br>. 304 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Tabela 44 – Forma de consumo de energia elétrica da RDS Condição n 239 18 257 Rede geral Outros Total % 93,0 7,0 100,0 Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. Gráfico 33 – Forma de consumo de energia elétrica da RDS 5.9 Meios de transportes-bens Para o deslocamento dos moradores, além do serviço existente nas comunidades, (ônibus, transporte alternativo e moto-taxis), quase 50% possui bicicletas, este meio de locomoção é utilizado apenas para deslocar-se a municípios cercanos. O barco é apontado na pesquisa com 14,0% dos bens de transporte próprio, todos os que possuem barcos são pescadores, utilizam para o trabalho. Apenas 7,4% tem carro e 4,3% motos, por se tratarem de bens com um valor alto para os padrões salariais da reserva, pois mais da metade recebe apenas até 1 salário mínimo. De acordo com o ultimo censo71, nas últimas décadas o brasileiro passou a ter amplo acesso a uma série de bens necessários ao seu bem estar. Na década de noventa, como afirma o Informe do IBGE, que entre 1991 e 2000, aumentou em 41,6% o número de familias que passaram a contar com automóvel como um bem. No entanto, quase uma década depois, no caso dos moradores da reserva, não houve aumento significativo, onde apenas 7,4% afirma que utiliza habitualmente seu carro próprio ou da família como meio de transporte. 71 IBGE, 2000. 305 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Tabela 45 – Meios de transportes utilizados pelos habitantes da RDS Condição n 128 36 19 11 63 257 Bicicleta Barco Carro Moto Não possui Total % 49,8 14,0 7,4 4,3 24,5 100,0 Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. Gráfico 34 – Meios de transportes utilizados pelos habitantes da RDS 5.10 Bens duráveis Os bens duráveis encontrados nas residências dos entrevistados da reserva percebe-se que a maioria está deteriorado/velho, foram agrupados em três categorias, elétricos, eletrônicos e outros. Apenas menos da metade dos entrevistados (45,8%) possuem bens elétricos onde o liquidificador (80,2%) e refrigerador (78,6%) foram os mais encontrados. Entretanto 40,4% possuem bens eletrônicos, em que se destaca o aparelho de televisão (84,0%) e a antena parabólica (80,5%). Na categoria outros (56,0%) possuem este tipo de bens durável, nesta categoria foi agrupado o fogão a gás (93,0%) e a máquina de costura (19,1%). A maioria dos entrevistados não possui bens duravéis (55,3%) de acordo com o gráfico 36. 306 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Tabela 46 – Bens duravéis consumidos pelos habitantes da RDS Condições Outros Eletrônicos Elétricos Equipamentos Possui Liquidificador Refrigerador Ferro Elétrico Batedeira Ventilador Freezer Total TV Antena Parabólica Radio Aparelho de Som Telefone Fixo Vídeo Computador Total Fogão a Gás Máquina Costura n 206 202 181 67 36 14 706 216 207 101 124 65 12 02 724 239 49 % 80,2 78,6 70,4 26,1 14,0 5,4 45,8 84,0 80,5 39,5 48,2 25,3 4,7 08 40,4 93,0 19,1 Não Possui n % 51 19,8 55 21,4 76 29,6 190 73,9 221 86,0 243 94,6 836 54,2 41 84,0 50 19,5 156 60,7 133 51,8 192 74,7 245 95,3 255 95,3 1072 59,6 18 7,0 208 80,9 Total Total geral 288 1721 56,0 44,7 226 2134 44,0 55,3 Total n 257 257 257 257 257 257 1542 257 257 257 257 257 257 257 1799 257 257 % 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 514 3855 100,0 100,0 Fonte: Pesquisa de Campo por Amostragem, 2008. Gráfico 35 – Percentual dos habitantes que possuem bens elétricos, eletrônicos e outros Gráfico 36 – Percentual dos habitantes que possuem bens duráveis da RDS 307 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 5.11 Melhorias na qualidade de vida da população Como melhoria da qualidade de vida aponta a conscientização da população (24,5%) que pode ser através da educação ambiental, em seguida a fiscalização (21,4%) como medida com mais policiamento em determinadas áreas com o objetivo de coibir ações potencialmente agressivas ao meio ambiente, a limpeza das Dunas e Praia (14,0%), a preservação ambiental (7,8%), a geração de emprego e renda (7,0%), o saneamento (6,6%) e a conservação das comunidades na parte de limpeza colocando o lixo em local adequado (6,3%) para evitar doenças e o aumento de insetos provenientes do lixo nas diversas partes da Reserva. Tabela 47 – Melhorias na qualidade de vida da população da RDS Condição Conscientizar a população Fiscalização Limpeza de dunas e da praia Preservação ambiental Geração de empregos e renda Saneamento Lixo em local adequado coletado Turismo sustentável Pavimentação Arborizar Policiamento Outras Total n 63 55 36 20 18 17 16 04 04 04 04 16 257 % 24,5 21,4 14,0 7,8 7,0 6,6 6,3 1,5 1,5 1,5 1,5 6,4 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. 5.12 Sugestões para melhoria na atividade econômica que desempenha Quando entrevistados os habitantes a reserva quanto a sugestão para melhoria da qualidade na atividade econômica que desempenha, a grande maioria das sugestões estão ligadas a pesca, criar cooperativas (32,6%), construir mercado público (32,0%), incentivo financeiro a compra de freeser para armazenar o pescado (7,4%), empréstimo para compra de equipamentos para pesca (7,0%), diminuir a pesca predatória (5,8%), construir quiosque para vender o peixe e derivados (3,9%), no caso de atividades vinculadas ao setor público a sugestão foi para o aumento de salários (5,8%). 308 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Tabela 48 – Sugestões para melhoria na atividade econômica que desempenha Condição Criar cooperativas de pescadores Construir mercado público Incentivar a compra de freeser para armazenar o pescado Empréstimo para a compra de equipamento de pesca Aumento de salários Diminuir a pesca predatória Construir Quiosque Extinção de viveiros Limpar praias, rios e mangues NR Total n 84 82 19 18 15 15 10 09 03 02 257 % 32,6 32,0 7,4 7,0 5,8 5,8 3,9 3,5 1,2 0,8 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. 5.13 Atividades geradoras de empregos As famílias residentes na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão, foram entrevistadas sobre as atividades que deveriam ser apoiadas para o melhor desenvolvimento das atividades econômicas geradoras de emprego e renda no município: a maioria dos entrevistados (40,9%), declarou que o turismo de forma sustentável seria a maior fonte de geração de emprego e renda, como também a criação de cooperativa de pesca (16,3%) e abertura de novas empresas e fábricas (16,3%) conscientes de que estas novas atividades não prejudiquem o seu entorno natural, o frigorifico (8,2%) está dentro desta proposta de novas empresas. Tabela 49 – Atividades geradoras de empregos Condição Turismo sustentável Cooperativas de pesca Empresas e fábricas Frigorífico Investimentos e projetos da prefeitura Investimento e melhoria da cidade Investir na pesca Curso de artesanato Construção de escolas Outras Total n 105 42 42 21 11 10 06 06 04 10 257 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. 309 % 40,9 16,3 16,3 8,2 4,3 3,9 2,3 2,3 1,6 3,9 100,0 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 5.14 Vocação para o turismo na RDS Aproximadamente 76,7% dos entrevistados confirmaram a vocação turística da área da Reserva e declararam que a beleza natural dos ecossistemas favorece o desenvolvimento deste setor. Por outro lado, muitos apontaram a falta de infra-estrutura e a ausência de projetos do setor público e de uma gestão administrativa preocupada com o desenvolvimento deste setor como fator estagnante, uma vez que as comunidades não contam com mão de obra treinada para tais atividades e nem dinheiro para investir. Tabela 50 – Vocação para o Turismo na RDS Condição n 197 59 01 257 Sim Não NR Total % 76,6 23,0 0,4 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. Gráfico 37 – Vocação para o turismo na RDS 5.15 Motivos que impedem o desenvolvimento turístico O principal motivo que impedem o desenvolvimento turístico da região apontado pelos habitantes da reserva é a falta de infraestrutura para receber o turista (59,0%), em seguida é a falta de incentivo do poder público através de projetos financiados pelo poder público (27,0%) e a falta de divugação das belezas naturais existentes na reserva (7,8%). 310 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Tabela 51 – Motivos que impedem o desenvolvimento turístico Condição Falta Infraestrutura para turismo Falta incentivo do poder público (projetos) Falta divulgar a beleza natural da reserva Falta investimento Outros Total n 151 70 20 11 5 257 % 59,0 27,0 7,8 4,3 1,9 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. 5.16 Projetos desenvolvidos pelo poder público A população residente da RDS, possui um alto nível de percepção em relação ao seu entorno, por diversas características, que lhe é peculiar, desde de sua luta de criação até a formação, e atualmente é consciente dos graves problemas existente, portanto apenas 52,1% dos entrevistados têm conhecimento sobre os projetos governamentais que vêm sendo desenvolvidos na região, programas estes que envolvem apenas o repasse dos programas federais e estaduais existentes. Tabela 52 – Tem conhecimento de algum projeto para região pelo poder público Condição n 134 119 4 257 Sim Não Nr Total Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. Gráfico 38 – Existência de projeto públicos na RDS. 311 % 52,1 46,3 1,6 100,0 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 5.17 Projetos desenvolvidos pelo poder público encontrados na reserva Como foi identificado acima pelos habitantes da reserva o descaso do poder público em relação a projetos para melhorar a qualidade de vida dos habitantes da reserva, onde apenas pouco mais da metade dos entrevistados constataram ter conhecimento de projetos, quando identifica-se quais são estes projetos desenvolvidos pelo poder público, verifica-se que em sua maioria são projetos governamentais federais e estaduais, tais como : bolsa família (22,5%), programa do leite (10,5%), posto de saúde (8,6%), pavimentação de ruas (5,1%), escolas e creche (4,2%) e apenas encontramos como projeto realizado pelo poder público municipal a construção de praças (4,2%) e quadras (3,9%). É absurdo que o poder público municipal dos Municípios de Macau e Guamaré não tenham projetos voltados para a Reserva Ambiental de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, onde constata-se um repasse dos Royalties que é uma compensação paga aos Estados, Municípios, Ministério da Marinha, Ciência e Tecnologia, sobre a produção de petroleo e gás natural, repassados pela petrobras. Os royalties são repassados para 15 municípios produtores do Rio Grande do Norte. Estes municipios são: Alto do Rodrigues, Apodi, Areia Branca, Assu, Caraúbas, Carnaubais, Felipe Guerra, Governador Dix Sept Rosado, Upanema, Mossoró, Pendências, Porto do Mangue, Serra do Mel, Guamaré e Macau. De acordo com a Petrobras, entre os R$ 283,4 milhões pagos em royalties en 2007, R$ 159,57 foram destinados ao Governo do Estado do RN e R$ 123,91 a 93 municípios, dos quais 15 são produtores de petroleo e gás. Macau, Mossoró e Guamaré concentraram 45,9% destes recursos. Juntos receberam R$ 56 milhões de royalties. (PETROBRAS/2008). Estudos sobre o repasse de Royalties realizado pela Universidade Candido Mendes – Campus do Rio de Janeiro (2008), revelam que em 2008, apenas 52,4% do dinheiro de royalties enviado aos municípios potiguares foram revertidos para desenvolvimentos das cidades. Em Macau, o índice foi menor, de 21,2% e Guamaré 44,8%. 312 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Tabela 53 – Tipos de projetos realizados pelo poder público Condição Bolsa Família/ Federal Programa do leite /Estadual Posto de saúde- PSF/ Federal Pavimentação de ruas/ Estadual Escolas e Creche/ Estadual Praça /Municipal Quadra/Municipal Outros Nr Total n 58 27 22 13 11 11 10 22 83 257 % 22,5 10,5 8,6 5,1 4,2 4,2 3,9 8,7 32,3 100,0 Fonte: Pesquisa de campo por amostragem, 2008. 6 Análise dos relatos orais e história de vida- a visão crítica dos pescadores Neste capítulo serão apresentados os resultados da pesquisa qualitativa realizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – RDSEPT, através da técnica de entrevistas de história de vida dos pescadores, obteve-se depoimentos relatando os principais problemas ambientais e sociais sofridos pela população da reserva, e evidentemente definida com exatidão por esta categoria profissional, que é quem mais sente no dia a dia as mudanças sofridas no seu habitat natural ao longo dos anos de sua existência. Na criação da reserva houve uma participação intensa das comunidades de Diogo Lopes e Barreiras, estas são formadas em sua maioria por pessoas ligadas direta ou indiretamente a pesca e/ou extração de moluscos e crustáceos, herdaram esta profissão de seus antepassados, em torno de 35% dos entrevistados na pesquisa quantitativa exercem atividades ligadas a pesca. Embora, também, foi constatado que existem pessoas que exercem outras 313 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN profissões em meia jornada e que têm o outro expediente livre, onde geralmente atuam em atividades pesqueiras. As entrevistas desenvolvidas nesta pesquisa qualitativa, servem de base para reforçar os percentuais estatístico encontrados na pesquisa quantitativa e também aporta detalhes importantes que só poderiam ser captados através destes relatos e histórias de vida. De acordo com os objetivos propostos neste trabalho que foram diagnosticar: fatores sócio econômicos; fatores sócio culturais; fatores sócio ambiental segundo a visão dos pescadores através de sua vida cotidiana que reflete as tradições do passado, as normas do presente e as esperanças do futuro, busca avaliar o grau de necessidades e deteriorização da reserva servindo de base para direcionar em projetos de manejo e ou específicos para a pesca criando condições para melhoria da qualidade de vida dos pescadores através do desenvolvimento de atividades autosustentáveis; compatibilizar as atividades econômicas instaladas na reserva com o uso sustentável dos recursos ambientais e com responsabilidade social das empresas instaladas na reserva ou em seu entorno; harmonizar o desenvolvimento local com a preservação dos valores culturais; implementar idéias de acordo com o potencial oferecido pela reserva e buscar apoio para desenvolver o Turismo Sustentável como alternativa de fonte de renda e desenvolvimento da região. A seguir trechos dos discursos críticos dos pescadores que foram identificados, com a devida importância, para os resultados desta investigação. A insatisfação dos mesmos que reinvindicam seus direitos, e principalmente que possam desenvolver seu oficio secular, a pesca. 6.1 Os pescadores e as mudanças Nestes relatos identificou-se a preocupação de antigos pescadores que com o decorrer dos anos vivendo da pesca, poderam afirmar a mudança em termos da quantidade de peixe existente no mar. E muitas vezes se reportam ao passado relatando um período, não muito distante, vivido por eles, e outros tempos mais antigos relatados durante sua infância ao lado dos seus pais. “eu nasci aqui na praia e me criei da pesca, vejo os peixe desaparecerem, muita família aqui vai passar dificuldade porque a maioria aqui é pescador”. (Sr. Carlinhos, pescador de Diogo Lopes) 314 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Devido a consequência da escassez de peixe, houve uma mudança em relação a forma de pensamento, que era cultural e de tradição secular local, que suscitava que os filhos fossem pescadores como os pais é uma realidade que está sendo descartada como aspiração dos pais para o futuro de sua prole. “Não quero que meu filho seja pescador, pois eu sei como tem sido difícil manter a família através desse modo de vida. Quero que meu filho estude e arrume um emprego qualificado na cidade, a pesca ja deu o que tinha de dar, a vida mudou muito durante esses anos…na época que tinha muito peixe eu consegui comprar um barquinho com motor, hoje em dia se depender da pesca só pago o oléo e pego uns peixinhos, que só da para comer o feijão com arroz.” (Sr. Carlinhos, pescador de Diogo Lopes) Os relatos correntes em torno da escassez do peixe é um dos fatores que desestimula os pais a desejarem que seus filhos sigam na ocupação: “Nossa mãe! Aqui era bão de pescar, a turma pegava 150 quilos de peixe num dia de pescaria. Hoje se pegar 10 quilos é muito... Isso eu to falando de seis (6) anos atrás, de lá pra cá só piorou…e .nem é tanto tempo assim, para gente que vêve em um lugar tranquilo nem sente o tempo passar….é como viver sem ter esperança de acordar como antes… sonhando com o lugar donde se encontrava muito peixe nas rocas.” (Sr. Joaquim, morador e pescador da comunidade Barreiras) Assim, o trabalho da pesca se torna vulnerável e sujeito à heteronomia na medida em que o lugar de sua realização passa a ser ambientalmente definido e regulado por um conjunto de lógicas e agentes que orbitam fora do controle do pescador. “Desde da época do meu pai, agente só usava a tarrafa e o coifo. Era fácil ver o peixe na água e nas tocas e a pescaria era farta... Todo dia a gente voltava com um peixe grande para vender ou para comer... Era uma beleza. Hoje, a única coisa que pega aqui é peixe médio e pequeno e só com a rede de espera as vezes quando pegamos um peixe grande e de espécie que não se encontra mais por aqui, a gente não pode comer tem que vender, já que um peixe dessa espécie é, hoje em dia, difícil de encontrar aquí e se pega um melhor preço que dá para comprar feijão, farinha e arroz para toda semana.” (Sr. Zito, pescador da reserva desde 1961). “Seu Tomé é meu pai têm hoje 85 anos e por a noite se senta na calçada olhando o mar e lembra das histórias de pescadores e dele também quando pescava, disse que era tanto peixe no mar, que muitas vezes eles jogavam no mar outra vez os peixes médio para pequenos porque ficava só com os grandes, eles trabalhavam menos hora… usavam o anzol e nem dava tempo de jogar no mar… ja vinha peixe enganchado… e era só jogar no barco e outra vez, eu ainda me lembro dessas histórias porque era pequeno e fui muitas vezes esperar a chegada do barco . Quando vou 315 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN pescar cedo peço a benção ao meu pai… .ele diz vai com deus, e quando volto, sempre me pergunta se o mar estava para peixe…. digo a ele nunca mais este mar vai ter os peixes de quando o senhor pescava, cada vez que passa os anos vai peorando, eu ainda vi peixes no mar..., mas ja tem dez anos que a coisa piorou. O que eu queria é ter sido pescador na sua época….dava gosto poder escolher o peixe que um pescava…imagina que feliz é ser pescador na sua época.” (Sr.Sebastião, Barreiras, 55 anos). Mudanças sentidas pelos pescadores relacionadas com a natureza percebido pela ação do avanço do mar, causando estragos e prejuízos. Nos depoimentos relatados existe a presença de lixo nas proximidades e dentro do mar, realidades estas, que antes não estavam presentes no entorno da comunidade. “Vejo que as coisas não andam bem por este lugar… ano passado o mar avançou muito… chegou a derribar meu rancho… nunca tinha passado isso antes desde que eu era pequeno… se tinha um rancho e era para toda vida, este era do meu pai, que já recebeu do meu avô. Me criei aquí em Diogo Lopes nadando no rio e catando caranguejo para vender na barraca de seu Pepê, que preparava o caranguejo na água e sal e ficava de comer até o casco de bom. Era tanto caranguejo que seu Pêpe dizia que nós parasse de trazer e eu fazia isso enquanto meu pai estava pescando e ia encontrar seu barco no fim da tarde e ele trazia outro tanto de peixe. Hoje para achar caranguejo gordo dá trabalho e peixe nem se fala”. (Sr. Chico Cesar, Sertãozinho, pescador, 48 anos). “Esse lugar sempre foi bonito….ficava olhando o mar antes de ir pescar e via o quanto era bonito, mas hoje esta cheio de lixo por todos os lados, antes nós não via garrafa de prástico e nem de vidrio por a praia e hoje ja encontrei até no alto mar. Nós tinha os apetrechos para levar para pescar… e levava a garrafa com água de beber e nunca jogamos no mar… eu não creo que são os pescadores que faz isso, só pode ser gente que vem de fora”.(Sr. Abel, Diogo Lopes, pescador,45 anos). “Andando pela praia se vê muito lixo, as pessoas também podia ajudar a deixar limpo, mas têm que passar o caminhão para levar…pois fica um esperando pelo outro e no final fica cada dia mais sujo. Antes esse lugar você não via papel, lata e garrafa…. na praia, era uma belezura este lugar não dava vergonha as pessoas que passavam para comer um peixe no bar da esquina e comer caranguejo na barraca da praia, todos os lugares estava limpo. E hoje faz vergonha um visitante passar por aqui”. (Sr. Pedro, 38 anos, pescador de Sertãozinho). 6.2 Sobre a ação das empresas Foi constatado a presença de duas empresas poluidoras dentro da reserva ou em seu entorno, a Petrobras empresa petrolífera está no entorno próximo a reserva, nos limites, e evidentemente no período de criação da reserva, foi excluída desta área de proteção, portanto 316 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN a reserva têm um regimento, a rigor a Petrobras “se exclue” e se beneficia de alguma possível sanção. No caso específico das empresas que cultivam camarões que estão dentro da reserva e cometem diariamente crimes ambientais estas estariam sujeitas a proibições de acordo com a lei, que na prática não são atuadas e fiscalizadas, esta realidade foi constatada nos relatos dos pescadores. O relato de Sr. Zito (pescador, 78 anos) e Sr. Cipriano nos permite afirmar que a poluição difusa oriunda da carcinicultura, pode afetar os estoques pesqueiros, uma vez que a carga desse dejeto depositado in natura no rio, mangue e mar configura-se no fator determinante da interrupção dos ciclos naturais de procriação da espécies e consecuentemente a mortandade de peixes. “Aqui no mar, já vi uma quantidade de peixes mortos… Ano passado foi à última vez que vi um filhote de cavala morto no meio daquela bicharada toda fedida. (…) Além do cheiro de peixe morto, os peixes tinham um cheiro forte, parecido com o cheiro do vinhoto…” (Sr. Zito, pescador artesanal da reserva – Diogo Lopes, desde 1961) “Agente lutou pra fazer desta área uma reserva, na nossa cabeça ia melhorar as coisas, pois nos via o nosso distrito de Barreiras invadido por gente para se aproiveitar das nossas belezas naturais…. acontece que seguem poluindo…. tem mais gente e mais empresa que não respeitam nossa região…. as peores são as que invadem as salinas que não funcionam mais e vão criar camarões e acham pouco e tapam nossa área e não deixam agente pescar por perto e ainda joga a água suja no mar e acaba matando os peixes…” (Sr.Cipriano, pescador de Barreiras) “Me chamo Argemiro, o povo me conhece como seu Miro, quando começou a invasão desse povo falando diferente aqui na praia dizendo que ia construir um hotel grande para trazer turistas, eu me arrepiei todo, pro mode de que tudo que é para trazer trabalho para nós…que vai contratar nossos filhos…vem dizendo essa conversa bonita mais ao final fica igual as que ja funciona aqui a anos, como a de gás e óleo e a de criar os camarões nos tanques,estas nunca chamaram um filho meu para trabalhar tenho seis filhos homens fortes, e se não for pro mar pescar….morre de fome, se for esperar por esse povo já viu…só levam as nossas riquezas e nós não aproveita nada…e ainda acaba com a natureza jogando óleo no mar e nos rios e a outra jogando resto de água suja dos tanques no mar e que depois vai para o rio e mangue e cada dia têm menos peixe para pescar e têm pouco caranguejo para catar. Nós pescador não tem culpa de nada, nós apenas pesca para viver. Eu falava com meus cumpadres sobre fazer da nossa praia uma reserva quando começou o assunto, eu pensei que ficava uma coisa intocavel, como um santuário….mas até agora nos só lutou para não construir o hotel pois o resto vejo tudo errado”. (Sr. Argemiro, 65 anos, pescador de Diogo Lopes) “Eu acho que se continuar com essa poluição o rio vai acabar. Deus castiga o homem através do rio, então a natureza está irada com o homem. E quem é a natureza? É Deus! E o homem o que está fazendo hoje? Está 317 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN destruindo essa natureza, está acabando com tudo, a mão do homem vai acabar com nossa praia, quando nós pescadores vivia para alimentar a nossa familia,como conta meu pai, tinha muito peixe, mas depois que veio esta gente a criar camarão e tirar óleo e petroléo sem pensar na destruição do mar a coisa piorou, antes nós tinha a salina de fazer sal, mas sabe que nós vivia e nunca teve nada que mudasse a quantidade de peixe, isso só aconteceu quando veio essas outras”. (Sr. Severino, 55 anos, pescador de Barreiras). “Toda vez que vou pescar depois do porto da Petrobras meu barco volta cheio de óleo no casco tenho que lavar com querosene para poder sair, vou porque por aquí o peixe tá pouco e me meto por estas bandas de lá para ver se o mar melhora com mais peixe, e muitas vezes é pior nem trago peixe e o barco vem sujo. Nos não tem nenhum proveito desta Petrobras para trabalhar lá, têm que ter estudo, e também têm outras empresas que trabalham para a Petrobras que também não emprega a nós da reserva, e nos fica nessa situação…. nem tem trabalho e nem tem peixe como antes, a dez anos nós vivia com a mesa farta de peixe e vendia tanto peixe e dava para viver…de vez em quando comprar barco novo, ajeitar a casinha, comprar bicicleta pro meus filhos”. (Sr. Amadeu, 50 anos, pescador de Diogo Lopes). A mudança da qualidade da água afeta no cotidiano da vida das pessoas que residem na reserva. Em um passado remoto era possível utilizar água do rio para o uso de atividades domésticas, porque até bem pouco tempo, as comunidades eram precárias no abastecimento de água encanada, á agua apenas abastecia poucas casas, e o restante utilizava a água do rio, os depoimentos relatam, as empresas, como principais fonte poluidora do rio. De acordo com os relatos abaixo: “Minha mulher lavava muita roupa no rio, banhava no rio e até hoje a gente busca água no rio pra beber e coloca no filtro mas acho ruim demais é que nem me acostumo com a água encanada e tão pouco a água do rio é igual a do passado [...] mas é que foi por causa desses homens que trouxe a criação de camarão em tanques”. (Sr. José,72 anos, pescador de Barreiras). “A água era limpinha e minha mãe lavava roupa no rio e a gente tinha gosto de banhar no rio, podia tomar água do rio e tinha fartura de peixe e meu pai usava flecha para pescar porque dava para ver os peixes no rio e mar, hoje não dá mais e se você comparar o mar e o rio de antigamente com o rio e mar de hoje, vê que está morrendo [...] porque a matança de peixe nesse rio está demais, essa empresa de criar camarão que deposita esses lixos todos aí”. (Reinaldo, 65 anos, pescador de Barreiras). “Já tomei muita água desse rio…tomava banho quando era pequeno… brincava com meus amigos, isso foi meu passado, que vivo contando a meus filhos e eles nem acreditam…outro dia meu filho pequeno disse: papai tava jogando bola com Pedrinho e a bola caiu no rio e fui pegar e vi uma mancha preta na água, e Pedrinho disse que era Petroléo…achei tão preto…era mesmo?” (Abel, 45 anos pescador de Diogo Lopes). 318 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Outro ponto que pode ser observado nas falas, apontando para essa visão naturalista, é a natureza vista como se tivesse vontade própria, e quando não se respeita essa vontade, vêm às conseqüências. É comum na fala dos pescadores eles dizerem que amam a natureza, pois sem ela não teriam, luz, sol, chuva, calor e, conseqüentemente, amam o mar e o rio porque que sem ele não poderiam viver e que tem muito medo daquele local acabar, conforme observa-se nos depoimentos a seguir: “E a gente é muito feliz com o mar, rio e mangue porque ele nos deixa achar o alimento que tem dentro dele para gente sobreviver [...], mas está morrendo, o peixe está pouco [...] temos que fazer alguma coisa porque eu adoro esse lugar para viver porque tem beleza natural e ele é o meu pão de cada dia, não podemos deixar que as empresas joguem sujeiras no mar e que mude nossas vidas” (João Queiroz, 54 anos, pescador de Barreias). “A gente sobrevive só da pesca e quando a pesca está ruim eu vou contar pra você é um sufoco, é ruim demais, então a gente sobrevive daquilo que está guardado, das plantações e se um tem, troca com o outro, mas fome a gente não passa não. Eu gosto dos dois, só que mais do mar do que da casa porque eu me sinto mais feliz no mar porque a gente sente mais a vontade, fica pensando em só pescar os peixinhos. A natureza é nosso pai e nossa mãe, nós não ver pessoas da reserva trabalhando nas empresas de tanques de criar camarão e nem na petrobras, estas só destroem nosso local”. (Francisco, 61 anos, pescador de Diogo Lopes). “Eu criei dez filhos a custa da pesca nesta praia. Tenho uma casa a custa das pescas. Tenho lavoura também, planto no terreiro de casa que é grande. A gente depende da pesca pra sobreviver, então tem que preservar não é?”, nós pensa assim mais vem o povo de fora e acaba com nossa praia…outro dia encontrei uma sujeira no mar e cheguei perto para ver o que era e vi que tinha um cheiro ruim…era resto de água pôdre que tiram dos tanques e jogam no mar foi desses viveiros de camarão, por isso que essa gente não contrata o povo da reserva para trabalhar lá porque se fosse para nós trabalhar lá, ia ver as coisas erradas que eles fazem, acontece que nós não deve permitir isto é um crime, segundo falou homem que veio da uma conversa na associação dos pescadores outro dia”. (Pedro, 67 anos pescador de Diogo Lopes). “É daqui que a gente tira o sustento, então a gente tem que preservar, você tira comida, você tira remédio, você tira tudo dele, então você tem que cuidar” (Manoel, 61 anos pescador de Diogo Lopes). “O futuro da pesca artesanal do jeito que está, vai acabar porque a matança de peixe está demais, dessa maneira se não preservar vai acabar. Vai chegar em um ponto que nem precisa nem para proibir que não vai dar mais peixe, vai ser a própria natureza se vingando do homem porque eles acabam com tudo o que Deus deixou pra nós, que Ele criou. [...] é devido a essa porcariada toda que essas empresas jogam no rio, os pescador amador que pesca todo tipo de peixe e os povos que desmatam 319 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN as margens do rio. E o pescador profissional que vive da pesca artesanal que vai sofrer com isso”. (Sr. Reinaldo, 65 anos pescador de Barreiras). No entanto, ainda que percebam os abusos cometidos por outros, dificilmente assumem as suas próprias ações de depredação. Estão sempre prontos a dizer que sabem quem estraga as matas, quem desmata, quem caça, quem suja o rio. Não se percebem, no quotidiano de suas ações, agindo também com desrespeito aos recursos naturais. “Se você não pegar, tem outro lá que pega porque se eu fosse depender só de peixe da tabela, não dava para sobreviver não [...] sim, a gente pega peixe fora da tabela” (Manoel, 61 anos pescador de Diogo Lopes). E existe o pescador que se arrisca ao enfrentar o modus operandi de pesca predatória e atua com exemplos que fazem refletir. “A pesca está dando muito prejuízo pra gente aqui por causa desses pescadores amador que tem rancho na margem do rio e vem pra cá pescar. A pesca deles é o seguinte: eles escolhem a lua através daquele calendário que mostra a lua boa e a lua má e aí eles escolhem a lua boa e enquanto tiver saindo peixe do rio eles ficam lá pescando e enchendo congelador, enchendo caixa e tudo o que cai no anzol ele pescam. Esses tempo eu vi eles pegando um douradinho, mas quando eu fui falar com ele eu vi que ele estava com um saco de douradinho e aí eu falei: Oh doutor! solta isso tudo! E ele respondeu: - se eu soltar ele o outro pega, então porque eu vou soltar? Então eu respondi: - o senhor está certo doutor, vai assaltar o Banco do Brasil porque se o senhor não assaltar tem outro que assalta. Eu nunca mais vi ele aqui não, se foi por causa disso eu não sei, mas se foi eu dou graças a Deus porque é até bom ele não ter vindo aqui pra nossa região, ele que vai pescar em outra banda” (Reinaldo, 65 anos pescador de Barreiras). “Não é um medo total, mas um respeito que eu tenho pela água. Eu sou pescador profissional e há mais de 30 anos que eu pesco neste mar. Eu nunca tive um acidente pescando porque toda vida tive respeito pelo mar. A pessoa que não respeita sofre as conseqüências [...] ah, de ter o barco virado pelo caboclo d´água [...] porque o compadre não gosta de quem zomba dele, de quem suja onde ele mora [...] ah, vou te contar a estória: O caboclo d’água tem 1,5 metros de altura. Ele é todo cabeludo. Parece um macaco mesmo. Só que a cabeça dele parece uma cuia. Não tem um fio de cabelo na cabeça. A simpatia que a gente tem com o caboclo d’água é o seguinte. A gente leva para ele uma pinga e um fumo. É o fumo de rolo que a gente compra, mais ou menos umas 200 gramas e põe lá em uma pedra, ou em cima de um toco, ou no barranco e oferece para o compadre. No outro dia, que a gente vai lá buscar, não está porque ele já pegou. Então ele fica muito agradecido com aquilo e recompensa que ele dá para a gente é o peixe que ele pega e põe no anzol para a gente [...] eu acredito sim porque tudo o que tem na terra tem na água não é? Na terra tem cavalo? Na água também! Na terra tem cobra? Na água também! Então, se tem homens na terra, tem o tal do caboclo, na água também têm. ”. (Pedro, 67 anos pescador de Diogo Lopes). 320 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 6.3 Mulher exercendo a pesca A maior importância e surpresa desta pesquisa de campo, foi encontrar uma mulher exercendo a função de pescadora, a discriminação esta presente nesta região, o Nordeste do Brasil exerce uma cultura forte sobre a postura e visão machista dos homens principalmente em comunidades pequenas. A grande maioria das mulheres nesta comunidade exercem a função de tratadoras de peixes, coleta de moluscos e crustáceos e também as funções domésticas. Neste caso, ao exercer a função de pescadora, encontramos vantagens, quando esta profissão é exercida pela mulher, que consequentemente através destas ações enfatizadas no testemunho abaixo a melhoraria da relação do homem com o meio ambiente. O trabalho feminino mais recorrente é, contudo, o mais minucioso e, também, imprescindível. Enquanto o homem puxa a rede para o barco, ela é incumbida a catar os peixes na rede e dispô-los na caixa de gelo. A mulher seleciona os peixes que entrarão na embarcação, preocupadas em seguir critérios ambientalmente adequados, como os relatados por Gabriele, esposa de Amadeu: “Este lugar significa tudo pra mim, principalmente, porque esse mar me deu o meu pescador, o meu marido, me deu um nome, me deu felicidade, minhas amizades e minha profissão. Então hoje pra mim a primeira coisa na minha vida é Jesus e depois este lugar porque foi ele que trouxe meu lar, me trouxe meus filhos”. (Gabriele, 40 anos, pescadora, ajuda o marido a pescar, Diogo Lopes). “Enquanto o Amadeu puxa a rede do rio, eu cato os peixes e vou jogando fora os que estão pequenos demais ou ovados, claro, sem o Amadeu ver... Ele não gosta muito, acha que eu fico devolvendo peixe demais pro mar... Mas quando a cavala tá com os filhotes na boca ou o peixe tá pequeno demais, eu devolvo mesmo e ele, acaba que entende e acha graça de mim!” (Gabriele, pescadora profissional atuante na prática desde 1995). “Se tem um peixinho enganchado na rede a mulher vai lá e tira com cuidado pra não morrer, mas o homem não [...] tem uns que se preocupam com a limpeza do rio e do mar, mas os outros não. Mas, eu acho que um sozinho no meio de mil pessoas não dá conta não, mas eu faço a minha parte. [...] porque os homens são mais descaprichosos, não preocupam com nada, tudo está bom, então é coisa da mulher que é caprichosa, quer ver as coisas limpa. Então vê que no rio tem que limpar que nem na casa, a mulher pescadora tem mais zelo com o mar, rio e mangue sim, porque quando a gente vai pescar se ver uma garrafa boiando, ela quer ir lá pegar e colocar no barco. [...] e os homens não se preocupa muito com 321 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN isso, às vezes pega e às vezes não.” (Amadeu, 50 anos, Pescador Marido de Gabriela pescadora). “A mulher tem sempre mais cuidado com o peixe, por exemplo se ela pega um peixe ovado ela devolve para o rio, mas o homem não ele pesca e vende aquele peixe porque já está pensando em quanto vai vender aquele peixe para levar o dinheiro pra casa...já a mulher não, ela tem dó daquelas ovinhos, daqueles peixinhos que vão nascer. Eu acho que a mulher cuida melhor porque ela tem um coração melhor e eu sempre vejo as crianças e as mulheres limpando o meio ambiente, você nunca vê o homem limpando, então a mulher é mais caprichosa, tem mais interesse. É a mesma coisa com a casa: ele quer saber de chegar e ver a casa limpa e nem se preocupa quem limpou, só chega e deixa as coisas bagunçadas. Então quando eles chegam na beira do rio você acha que eles vãos se preocupar em limpar alguma coisa? Eles querem saber de pescar, de ver o rio limpo, do rio tendo peixe. Vamos supor se eu vou pescar, eu chego na beira do rio e limpo o lugar ali para eu pescar. O homem não, ele chega e vai destruindo, acampa em qualquer lugar. Ela vai logo pegando um saquinho e vai juntando o lixo e o lixo não tem nada a ver com ela, não foi ela quem sujou, mas mesmo assim ela sai catando o lixo, limpando o lugar”. (Gabriela, 40 anos pescadora Diogo Lopes). Figuras 28 e 29 – Casal de Pescadores – Diogo Lopes. A fé esta presente no dia-a-dia nos relatos dos pescadores entrevistados, e os maiores gestos desta fé, esta presenta na festa de Nossa Senhora dos Navegantes, que foram relatados. Os pescadores mais velhos, no entanto, mobilizam-se apenas pela festa para a Nossa Senhora dos Navegantes, ocorrendo em fevereiro, na qual uma embarcação desce do mar carregando uma imagem da Santa dos pescadores junto a muitos pedidos e orações, enfeitados com flores e botões. Os pescadores participam acompanhando, com suas respectivas embarcações, a embarcação que carrega a imagem da Santa no mar, cujo início dá-se na cidade de Macau. E durante o percurso, são feitas orações e agradecimentos, seguidos de pedidos de fartura e prosperidade em suas vidas. Ao passar pelas comunidades ao longo do mar, os pescadores vão 322 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN acompanhando a descida da imagem da santa do barco e vão até a igreja no centro de Diogo Lopes, onde é finalizado com uma cerimônia religiosa. “a festa é uma belezura só... sempre acompanhada de muitas flores e uma cantoria bonita que só ouvindo para saber... é o momento de pedir proteção para o ano inteiro…. dos perigos do mar… da fartura dos peixes… da saúde…. e de um mundo melhor. ” (Sr. Sebastião pescador de Barreiras desde 1940). 323 CONSIDERAÇÕES FINAIS As conclusões deste trabalho foram relatadas ao longo de cada análise e discussão dos resultados da pesquisa (Parte II – capítulo 3), também foram comparadas a dados existente no IBGE, PNAD e pesquisas bibliográficas em Teses doutorais desenvolvidas na mesma área de estudo, justificando, evidenciando, dando mais precisão e embasamento aos dados coletados desta pesquisa qualitativa e quantitativa, na qual utilizou-se diferentes técnicas no intuito de captar mais exatidão nos resultados. De acordo com os objetivos específicos propostos (diagnóstico dos fatores: sócio-econômico, sócio-cultural e sócio-ambiental), pode-se afirmar que: 1 Quanto aos fatores sócio-econômicos: 1.1 Desenvolvimento versus atividades econômicas O nível de escolaridade da reserva é baixo, inclusive com um indíce de analfabetismo de mais de 17%, por isso o desemprego constitui-se no grande problema para a reserva apesar de Macau/Guamaré-RN contar com as atividades das salinas, da extração de petróleo e da carcinicultura, é inespressiva a mão de obra que estas empresas utilizam, não contratam os habitantes da reserva, pois existe a necessidade de melhorar o grau de escolaridade e de qualificação profissional para o mercado de trabalho dos habitantes da reserva, que é constituida de uma maioria de jovens que possuem uma imensa capacidade produtiva. Através de parcerias com órgãos como SENAI/ SEBRAE/CEFET e SINE, pode capacitar jovens para o mercado de trabalho de acordo com as atividades econômicas já existente e com potencial turistico que têm por desenvolver. Necessita de um maior aporte de investimentos para o desenvolvimento turístico da região implementando cursos na área de gestão ambiental e turismo sustentável. A maioria dos habitantes da reserva vivem de atividades ligadas diretamente ou indiretamente a extração de moluscos e/ou crustáceos, e da pesca. O nível de ocupação e renda é baixa, pois segundo o critério do banco mundial e IPEA, em considerar “pobreza absoluta”, são os que vivem com meio sálario mínimo por mês, média encontrada na reserva. Através da implantação de cooperativas de pesca e um manejo adequado pode-se melhorar as condições de trabalho destas atividades. 327 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN A falta de políticas públicas para o desenvolvimento ambientalmente sustentável, com diminuição dos riscos, fica evidenciada pela falta de medidas concretas e eficazes que garantam os meios de vida adequados à população local, que assegure a capacidade produtiva e a melhoria das condições de vida. 2 Fatores sócio-culturais: Quase 80% dos habitantes da reserva têm o hábito de criar animais para alimentos e transporte e 97% cultivam produtos agrícolas, a reserva possui áreas livres para criação e plantação, portanto a implementação de um projeto ecológico com incentivos e acompanhamentos, para criação de animais de pequeno porte e cultivos agrícolas e em seguida comecialização destes produtos em feiras livres, sem atravessadores diretamente ao consumidor. Problemas no setor de saneamento básico (lixo) em várias partes da reserva. Quase 50% dos habitantes têm o costume de queimar, enterrar ou jogar lixos nos terrenos. A coleta de lixo é precária falta medidas concretas e eficazes por falta do poder público local e um trabalho de coleta seletiva .Mais Cursos de educação ambiental, capacitar segundo a demanda de empresas e voltado para o sistema seletivo do lixo com sugestão de campanhas de conscientização ambiental para preservação do habitat natural. 3 Fatores sócio-ambientais: 3.1 Órgãos ambientais versus atividades econômicas Falta um planejamento integrado por parte do Governo do Estado (IDEMA), os viveiros estão se instalando sem um estudo prévio- Também deveria ser deixado uma faixa de terra na construção dos viveiros- os taludes manterem certa distancia do leito do rio, mangue ou mar de 20 a 50metros e as espécies nativas deveriam ser replantadas. Falta um mapeamento no estado todo sobre implantação / atividade. O Estado dispõe de pouca infra estrutura através do IDEMA para atender a demanda de fiscalização, vistorias e licenciamentos necessários para a implantação dos empreendimentos. O governo do estado deveria disponibilizar um maior número de técnicos 328 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN responsáveis pelas questões ambientais, principalmente no que diz respeito à conscientização, fiscalização e agilização do processo de licenciamento ambiental. Os ajustes de conduta que os órgãos ambientais fazem não é correto, se o empreendimento está errado e não realiza o que consta na Licença ambiental deve-se exercer poder de policia. Os reparos aos danos ambientais não são cumpridos a luz da lei, tudo é mito. Impacto ambiental causado pelas atividades de carcinicultura e extração de petróleo e gás desenvolvidas na reserva ou nos limites, falta fiscalização do IBAMA e IDEMA. 3.2 Atividades econômicas versus questões ambientais • Carcinicultura A carcinicultura vem ocupando as terras das antigas salinas e as áreas de várzeas, e os chamados berço da maré dentro da reserva. No fundo se sabe que camarão bom é o de água salgada, a reivindicação dos carcinicultores é por água do mar. A construção dos viveiros de camarão tornou-se uma ameaça para a população local de pescadores, pois o peixe fica preso até no berço da maré (o peixe diminui muito), e a falta de manejo adequado no processo produtivo causam sérios problemas ambientais. Principais problemas causados pelas empresas que cultivam camarão em cativeiros: a) Desmatamento de vegetação de mangue e de mata ciliar Algumas medidas podem ser tomadas para evitar a ocupação e devastação de áreas de preservação permanente, como por exemplo, a utilização de antigas salinas para implantação das fazendas de engorda, construção dos viveiros nas áreas circunvizinhas aos ecossistemas de manguezal.Para isto teriam que ser construídos canais de drenagem mais longos para levar a água salgada até os viveiros. Nas áreas de manguezal já ocupadas pela carcinicultura, deve-se ter uma maior atuação do Estado na fiscalização da atividade, no sentido do cumprimento das normas técnicas e do manejo ambientalmente sustentável, como construção de bacias de sedimentação e recirculação da água dos viveiros. 329 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN b) Salinização e degradação do solo Uma forma de evitar ou diminuir a probabilidade de salinização do solo é a realização de análises físico-químicas do solo antes da escolha da área para construção dos viveiros e análise periódica do solo após cada despesca para que seja adicionada apenas a quantidade necessária de calcário, evitando assim o uso exagerado deste produto, e, por conseguinte, a degradação do solo. c) Contaminação e uso de águas superficiais A falta de fiscalização por parte dos órgãos ambientais e de responsabilidade social e ambiental dos empresários, faz com que muitas vezes os efluentes sejam lançados sem nenhum tratamento nos corpos hídricos, podendo provocar os danos supracitados. A contaminação dos corpos d’água superficiais pode ser evitada com a construção de bacias de sedimentação. As bacias são tanques para onde são destinados os efluentes dos viveiros pósdespesca. Na bacia de sedimentação todo material em suspensão, com alta carga de poluição, é sedimentado, evitando seu lançamento nos corpos d’água e eventual contaminação. Os sólidos decantados devem ter um destino adequado para não contaminar o meio ambiente. Uma medida a ser tomada pode ser a construção de barragens de rejeito. Os estudos apontam que uma drenagem mais lenta do efluente dos viveiros reduz o potencial poluidor do efluente, pois evita a ressuspensão dos sólidos. O processo de engorda do camarão exige um grande consumo hídrico, devido a adição periódica de água nos viveiros por causa da evaporação, infiltração e da troca total da água ao final de cada ciclo de produção. Com isso, outra medida que pode ser adotada é a recirculação do efluente, podendo novamente ser aproveitado nos viveiros, diminuindo a retirada de água do estuário. Em relação ao metabissulfito, algumas medidas podem ser tomadas, como: armazenagem em tanques para evaporação; neutralização com calcário, cal ou peróxido; e aeração prévia ao descarte, reutilização na despesca ou para a esterilização do fundo dos viveiros entre os cultivos (CONSELHO NACIONAL DE AGRICULTURA E PESCA, 2008). d) Contaminação do aqüífero subterrâneo Uma maneira de evitar a contaminação do aqüífero subterrâneo é evitar a construção de viveiros em áreas onde existam aqüíferos sub-superficiais. Isto pode ser feito através de 330 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN estudos hidrogeólogicos que indiquem a existência de mananciais subterrâneos próximos à superfície. Necessita-se maiores esclarecimentos/questão ambiental, caso da carciniculturadireitos e deveres dos carcinicultores e da comunidade. É algo polêmico (conflitos), os órgãos ambientais deveriam participar mais. Afinal de contas qual é o papel do IDEMA. • Extração de Petróleo e gás A empresa estatatal de petróleo PETROBRAS não está localizada dentro da reserva e sim nos limites, ao lado, portanto existe o regimento interno baseado na lei da reserva na qual esta empresa “exclui-se”. No entanto há necessidade da empresa PETROBRAS, aplicar de forma mais agressiva as diretrizes de segurança, meio ambiente e saúde, definidas em sua POLÍTICA DE SEGURANÇA, MEIO AMBIENTE E SAÚDE, para melhorar as condições de segurança da infra-estrutura exploratória do campo Petrolífero, que venham diminuir as vulnerabilidades desta infra-estrutura e as condições de riscos, e atuar com responsabilidade social já que a população da reserva sente a degradação ambiental causada por esta empresa, portanto exige um maior respeito com o seu entorno. • Salinas Esta atividade é secular nesta região, as salinas são constituídas por três divisões que são: 1ª a armazenagem da água do mar; 2ª evaporação e consequente concentração; 3ª cristalização e colheita. Do equilíbrio de áreas de cada superfície provém uma optimização da produção e a sua qualidade. Este tipo de actividade artesanal, desenvolve-se em plena natureza, é amiga do ambiente, sem o afectar, e a prova disso está na manutenção de todo o ciclo de vida desde o mais vulgar dos peixes, moluscos, crustáceos, planton, aves, até à artemia salina que é um micro-crustáceo, o último dos seres vivos, que se alimenta da Donaliela Salina, última alga do ciclo de vida, em salmoura, sendo ambas as únicas sobreviventes até ao grau máximo de salinidade. 331 REFERÊNCIAS ABRÃO, A. L. e SCHIO, R., Planejamento Ambiental, Campo Grande: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul | Centro de Ciências Exatas e Tecnologia | Mestrado em Tecnologias Ambientais, 2000. ACSELRAD, H. (Org.), Meio Ambiente e Democracia, Rio de Janeiro, Ibase, 1992. ______. Cidadania e Meio Ambiente, in Meio Ambiente e Democracia, Rio de Janeiro, Ibase, 1992. AGUIRRE. A. B., Etnografia metodologia cualitativa en la investigación socio-cultural. 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Lima. 359 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN APÊNDICE B QUESTIONÁRIO PARA FAMÍLIAS PARTE 1 – ASPECTOS DEMOGRÁFICOS 1-NOME 2- SEXO ( ( 3- QUANTAS PESSOAS VIVEM NA CASA? Pai:___________________ Mãe:__________________ Filhos :________________ Agregados:_____________ 4-FAIXA ETÁRIA DO NÚCLEO FAMILIAR? Pai:___________________ Mãe:__________________ Filhos :________________ Agregados:____________ 5-NÍVEL DE ESCOLARIDADE? ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) analfabeto ) alfabetizado ) 1º grau incompleto ) 1º grau completo ) 2º grau incompleto ) 2º grau completo ) superior )outros ) NR 6- LOCAL DE NASCIMENTO? Pai:___________________ Mãe:__________________ Filhos :________________ Agregados:_____________ 360 )M )F Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 7-TEMPO DE MORADIA? ( ( ( ( ( ) menos de um ano ) de 1 a 5 anos ) de 6 a 10 anos ) de 11 anos a mais ) NR 8- PROFISSÃO DOS QUE TRABALHAM? 9-LOCAL DE TRABALHO DOS QUE TRABALHAM? 10- QUANTAS PESSOAS CONTRIBUEM PARA RENDA FAMILIAR ? ( ( ( ( ) ) ) ) Pai Mãe Filho Agregado 11- RENDA FAMILIAR/FORMA DE RECEBIMENTO DO SALÁRIO? ( ( ( ( ( ( ( ( ) Mensal ) Quinzenal ) Semanal ) Por produção ) Por tarefa ) Diária ) outra ) NR 12-TEMPO DE MORADIA? ( ( ( ( ( ) menos de um ano ) de 1 a 5 anos ) de 6 a 10 anos ) de 11 anos a mais ) NR 13-RECEBE ALGUMA AJUDA DO GOVERNO? ( ) Sim ( ) Não ( ) NR QUAL O PROGRAMA GOVERNAMENTAL? _________________ PARTE 2 – ASPECTOS SÓCIO CULTURAIS HÁBITOS E COSTUMES 14- POSSUI ANIMAL DE ESTIMAÇÃO EM SUA CASA? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA 361 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 15- VOCÊ UTILIZA ESTIMAÇÃO? ( ) SIM ( LIXO ) NÃO DOMICILIAR ( COMO ALIMENTO PARA ANIMAL DE ) NÃO OPINA 16- VOCÊ CULTIVA PLANTAS ( HORTAS, POMARES....? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA QUE CULTIVA ?_____________________________________________ 17- COZINHA EM FOGÃO A LENHA? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA 18- POSSUI COLETA DE LIXO? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA 19- CONSIDERA QUE A COLETA DE LIXO EM SUA CIDADE É : ( ) BOA ( ) REGULAR ( ) RUIM ( ) NÃO OPINA 20– QUAL A FREQUÊNCIA DA COLETA DE LIXO: 1X ( ) 2X ( ) 3X ( ) 4X ( ) 5X ( ) 6X ( ) 7X ( ) NÃO OPINA ( ) 21- ONDE DEPOSITA SEU LIXO? ( ) CESTO ( ) QUEIMA ( ) TERRENOS ( ) ATERRO ( ) NÃO OPINA 22- FAZ COLETA SELETIVA? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA 23- LIXO CAUSA ALGUM PROBLEMA DE SAÚDE? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA 24- LIXO CAUSA PROBLEMA AO AMBIENTE? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA 25- LIXO CAUSA PROBLEMA A PRAIA? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA 26- VOCÊ ACHA SUA PRAIA LIMPA? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA 362 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 27- VOCÊ CONSIDERA QUE A QUALIDADE DE VIDA DE SUA CIDADE É; ( ) ÓTIMA ( ) BOA ( ) REGULAR ( ) RUIM ( ) NÃO OPINA PARTE 3 – ASPECTOS AMBIENTAIS 28- QUEM VOCÊ ACHA QUE DEVERIA RESOLVER OS PROBLEMAS AMBIENTAIS DE SUA CIDADE..? ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) ) ) ) GOVERNO (FEDERAL, ESTADUAL E MUNICIPAL) IGREJA COMUNIDADE ESCOLAS EMPRESAS PRIVADAS ASSOCIAÇÕES VOCÊ ORGANIZAÇÕES ECOLÓGICAS OUTROS QUAIS: _______________________________________________________________ 29- VOCÊ PARTICIPARIA DE AÇÕES AMBIENTAIS? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA 30- TÊM CONHECIMENTO DE ATIVIDADES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA 31- QUAIS OS RESPONSAVÉIS PELA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA RESERVA? 32- VOCÊ CONTRIBUI DE ALGUMA FORMA PARA PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA DE QUE FORMA: ________________________________________________ 33- VOCÊ SE SENTE INCOMODADO POR ALGUM ASPECTO RELACIONADO AO MEIO AMBIENTE (COMO RUÍDO, DESMATAMENTO, POLUIÇÃO DE INDÚSTRIA, LIXO? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA QUAL: _______________________________________________________________ 34- VOCÊ ACHA QUE AS EMPRESAS POLUEM O MEIO AMBIENTE? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA 363 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 35- QUAIS AS ATIVIDADES QUE MAIS POLUEM NA SUA REGIÃO? ( ( ( ( ) ) ) ) EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO/GÁS CRIAÇÃO DE CAMARÃO SALINAS OUTRAS QUAL: _______________________________________________________________ 36- VOCÊ ACHA QUE DEVERIA EXISTIR ÁREA DE PRESERVAÇÃO? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA 37- QUAIS OS MOTIVOS PARA PRESERVAÇÃO DA RESERVA? 38- QUAL O LOCAL MAIS POLUIDO DA RESERVA? 39- TEM CONHECIMENTO SOBRE ALGUM ORGÃO OU ASSOCIAÇÃO AMBIENTAL? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA SE AFIRMOU, QUAIS?_______________________________________ 40- O QUE O IBAMA e IDEMA COMO ÓRGÃO AMBIENTAL PODERIAM FAZER MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA DA RESERVA? ( ( ( ( ) ) ) ) PARA FISCALIZAR PROMOVER PALESTRAS ORIENTAR AS LEIS EVITAR LINCENÇAS AMBIENTAIS OUTROS____________________________________________________ 41- VOCÊ COSTUMA TER INFORMAÇÕES DO MEIO AMBIENTE POR MEIO DE: ( ( ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) ) ) ASSOCIAÇÕES COMUNITÁRIAS ONG¨s REVISTAS TELEVISÃO JORNAIS RADIO ESCOLAS OUTRAS FONTES QUAIS: ______________________________________________________ 42- O QUE OPINAS SOBRE O PAPEL DAS ONG`s? 43- PARTICIPA DE ALGUMA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA OU ALGUMA ASSOCIAÇÃO PROFISSIONAL DE AUTONÔMOS? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA QUAL: _______________________________________________________ 364 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN PARTE 4- ASPECTOS SÓCIO ECONÔMICOS 44- TIPO DE IMÓVEL? ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) CASA ISOLADA COM LATERAIS LIVRES CASA CONJUGADA CASA DE VILA CASA DE CONJUNTO HABITACIONAL OUTR0S NÃO OPINA 45- TIPO DE CONSTRUÇÃO? ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ALVENARIA TAIPA MADEIRA OUTROS NÃO OPINA 46- SUA CASA POSSUI QUINTAL? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA 47- CONDIÇÕES DE OCUPAÇÃO? ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) PRÓPRIA ALUGADA CEDIDA INVADIDA APOSSADA NÃO OPINA 48- QUANTOS CÔMODOS POSSUI A CASA? ( ( ( ( ) ) ) ) ATÉ 3 CÔMODOS DE 4 a 6 CÔMODOS MAIS DE 6 CÔMODOS NÃO OPINA 49- A CASA POSSUI FOSSA? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA DE QUE TIPO DE FOSSA _____________________________________________ 50- SUA CASA POSSUI ENERGIA ELÉTRICA? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA DE QUE TIPO__________________________________________________________ 365 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 51- SUA CASA POSSUI ABASTECIMENTO D´ÁGUA? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA DE QUE TIPO__________________________________________________________ 52- QUE TIPO DE ÁGUA CONSOME? ( ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) ) ÁGUA DA TORNEIRA FILTRADA CLORADA COADA FERVIDA SEM TRATAMENTO NÃO OPINA 53- QUE MEIO DE TRANSPORTE UTILIZAS? ( ( ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) ) ) ÔNIBUS ALTERNATIVOS-BESTA CARRO MOTOS BICICLETA BARCOS NÃO POSSUI NÃO OPINA 54- QUAIS OS BENS DURAVÉIS QUE POSSUI? ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) FOGÃO A GÁS TV ANTENA PARABÓLICA LIQUIDIFICADOR BATEDEIRA REFRIGERADOR FERRO ELÉTRICO APARELHO DE SOM RÁDIO TELEFONE FIXO MÁQUINA DE COSTURA VENTILADOR FREEZER VÍDEO COMPUTADOR MICROONDAS MÁQUINA LAVAR ROUPAS NÃO OPINA OUTROS: _________________________________________________________________ 55- A RESERVA TEM VOCAÇÃO PARA O TURISMO? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA 366 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 56- MOTIVOS QUE NÃO SE DESENVOLVE O TURISMO? ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) FALTA INFRAESTRUTURA FALTA DE INCENTIVO DO PODER PÚBLICO-PROJETOS FALTA DIVULGAR A BELEZA NATURAL DA RESERVA FALTA INVESTIMENTOS OUTROS 57- QUAL A ATIVIDADE QUE MELHORARIA O NÚMERO DE EMPREGO E RENDA DA RESERVA? 58- QUAL A SUGESTÃO PARA MELHORAR A ATIVIDADE QUE VOCÊ DESEMPENHA? 59- DE QUE FORMA MELHORARIA A QUALIDADE DE VIDA DA RESERVA? 60- TEM CONHECIMENTO DE ALGUM PROJETO DESENVOLVIDO PELO PODER PÚBLICO? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO OPINA QUAL: _________________________________________________________________ 367 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN APÊNDICE C ENTREVISTA - RELATOS E HISTÓRIA DE VIDA DOS PESCADORES ROTEIRO DE ENTREVISTA - Relatos e História de vida. HOMEM - Histórico de vidas passadas e presente ►►Lembranças da infância, do mar, da pesca: 1. Têm alguma lembrança do tempo de criança? 2. Quais as memórias que o Sr. tem da infância relacionada com o mar, o rio, mangue? 3. Quais histórias assombrosas existem aqui? ►►Constituição Profissional: 4. O Sr. Pesca a muito tempo? 5. Com quem o Sr. começou a pescar? 6. Como são os pontos de pesca? 7. Pesca sozinho ou alguém participa da pesca? ►►Hábitos alimentares 8. Que peixes o Sr. mais gosta de comer? 9. Como o Sr. prepara este peixe? 10. Tem alguma parte do peixe que o Sr. mais gosta de comer? MEIOS DE PRODUÇÃO – técnicas que permitem a execução do pensamento. ►►Técnicas pesqueiras: 11. Como eram as pescarias antigamente? 12. O Sr. vai muito longe para pescar? 13. Tipos de embarcações que são utilizados para pescar, a remo, à vela, a motor...? 14. Quando o Sr. sai para pescar, quanto tempo passa no mar? OBJETO DE TRABALHO - razão pela qual exerce sua profissão. ►► O peixe: 15. Quais peixes o Sr. pegava antigamente que não pega mais hoje? 16. Que peixe o Sr. mais pesca? 17. O Sr. tem notado alguma diferença/mudança no mar, rio e mangue, de uns tempos pra cá? 368 ANEXOS ANEXO A Mapa do Brasil – Distribuído por Regiões e Seus respectivos Estados RDS Estadual Ponta do Tubarao 371 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ANEXO B LEI Nº 8.349, DE 17 DE JULHO DE 2003 Cria a Reserva de Desenvolvimento Estadual Ponta do Tubarão, na região de Diogo Lopes e Barreiras nos Municípios de Macau e Guamaré no Rio Grande do Norte e dá outras providencias. A GOVERNADORA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, no uso das atribuições constitucionais: FAÇO SABER que o Poder Legislativo aprovou e eu sanciono a seguinte lei: Art. 1º Fica declarada como Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão a região compreendida pelo sistema estuarino do Rio do Tubarão, a Ponta do Tubarão, as dunas e a restinga adjacentes aos Distritos de Diogo Lopes e Barreiras, conforme a delimitação geográfica constante do artigo 3º desta Lei. Art. 2º A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão tem como objetivo preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução, a melhoria dos modos e da qualidade de vida e exploração dos recursos naturais pelas populações tradicionais, bem como valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente desenvolvido por estas populações, consoante os seguintes objetivos específicos: I – disciplinar os procedimentos e a utilização de equipamentos de pesca artesanal ecologicamente corretos; II – incentivar a realização de pesquisas cientificas para o conhecimento dos ecossistemas existentes visando o uso sustentável da área; III – desenvolver na comunidade local, nos empreendedores e nos visitantes, uma consciência ecológica e conservacionista sobre o patrimônio natural e os recursos ambientais; IV – assegurar o espaço comum e a sustentabilidade dos recursos naturais como patrimônio natural e social, para os moradores e suas futuras gerações; V – fortalecer a organização comunitária e propiciar condições para a gestão participativa e co-responsável dos bens ambientais; VI – criar condições para a melhoria da qualidade de vida dos moradores através do desenvolvimento de atividades auto – sustentáveis; VII – compatibilizar as atividades econômicas instaladas na Reserva com o uso sustentável dos recursos ambientais; VIII – disciplinar os novos usos a serem implantados em consonância com a sustentabilidade ambiental, econômica e social da área; IX – harmonizar o desenvolvimento local com a preservação dos valores culturais; 372 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN X – estimular a realização de parcerias para a viabilização da implantação e gestão da Reserva. Art. 3º A área referida no artigo anterior passa a denominar-se Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão e está inserida no polígono delimitado pelas seguintes coordenadas: latitude 5º2’ S e 5º16’ S e de longitude 36º23’ WGr e 36º32’ WGr, incluindo uma parte terrestre e outra marinha, conforme mapa e Memorial Descritivo, constantes dos Anexos I E II desta Lei. Art. 4º Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão serão permitidos os seguintes usos: I – a pesca artesanal mediante a utilização de práticas compatíveis co ma conservação ambiental; II – atividades econômicas compatíveis com a manutenção da qualidade ambiental, dos interesses das comunidades locais e de acordo com o disposto no Zoneamento Ecológico – Econômico e no Plano de Manejo da área; III – a pesquisa cientifica voltada para a conservação da natureza, a melhor relação das populações residentes com o seu ambiente e á educação ambiental, desde que devidamente autorizado pelo Conselho Gestor da Reserva. Art. 5º Ficam proibidas as seguintes atividades: I – instalação de novos empreendimentos de carcinicultura e ampliação da área dos viveiros de camarão já instalados, na área da Reserva; II – a captura, a conservação, o beneficiamento, a industrialização, a comercialização, sobre qualquer forma e em qualquer local do território do Estado, de lagosta da espécie: Panulirus laevicauda (lagosta Cabo Verde), de comprimento inferior a 13 cm de cauda e 7,5 de cefalotórax; III – a captura, a conservação, o beneficiamento, a industrialização, a comercialização, sobre qualquer forma e em qualquer local do território do Estado, de lagosta da espécie: Panulirus laevicauda (lagosta Cabo Verde), de comprimento inferior a 11 cm de cauda e 6,5 de cefalotórax; IV – a pesca por mergulho com a utilização de ar comprimido; V – o uso de explosivos e de substâncias que em contato com a água produzam efeitos semelhantes ao das substâncias tóxicas, conforme determinam a Lei Federal n.º 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998 e o Decreto Federal n.º 3.179, de 21 de Setembro de 1999; VI – em qualquer época do ano, a captura de fêmeas, de qualquer tamanho, e de machos, menores de 4,5 cm de comprimento da carapaça, do Caranguejo Uca (Ucides cordatus); VII – a captura de cavalos marinhos e peixes para fins ornamentais; 373 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN VIII – a lavagem de porões de qualquer tipo de embarcação, como também o despejo de óleo, seus derivados, outras substâncias químicas, lixo e poluentes de origem orgânica ou inorgânica. Art. 6º Fica constituído o Conselho Gestor da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, como instância Deliberativa, para o planejamento estratégico da unidade. Art. 7º O Presidente do Conselho Gestor da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão e o seu Suplente serão escolhidos, dentre os conselheiros componentes do Conselho, através de eleição. Parágrafo único. O Presidente do Conselho e seu Suplente serão eleitos por maioria simples dos votos dos seus membros. Art. 8º O Conselho Gestor da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão será composto por um membro titular e respectivo suplente, representantes de cada um dos seguintes órgãos e entidades: I – Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte; II – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e da Amazônia Legal; III – Gerencia Regional do Patrimônio da União; IV – Poder Executivo do Município de Guamaré. V – poder Executivo do Município de Macau; VI – poder Legislativo do Município de Guamaré; VII – Poder Legislativo do Município de Macau; VIII – Representante do setor produtivo instalado na Reserva; IX – Instituição de Ensino Superior, escolhida pela comunidade local, que desenvolva atividades de pesquisa na área da Reserva; X – Representantes de dez entidades civis, sediadas no s Municípios de Guamaré e Macau, que representem os interesses das populações tradicionais residentes na área de abrangência da Reserva. §1º Às instituições identificadas nos incisos II a VII é facultada a indicação e a substituição dos membros, titulares e suplentes, que poderão representá-las no Conselho, competindo às demais instituições a indicação compulsória dos respectivos membros, titulares e suplentes. § 2º As entidades civis, representantes dos interesses das populações tradicionais, devidamente registradas em cartório, escolherão, mediante eleição efetuada em fórum 374 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN especifico para essa finalidade, os dez membros titulares e respectivos suplentes que representarão a comunidade local no Conselho. Art. 9º Poderão fazer partes das Câmaras Técnicas do Conselho Gestor da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão os órgãos federais, com atribuições e atuação na área, bem como organismos privados, de âmbito nacional, regional, ou local, cuja participação na gestão da Reserva seja considerada relevante, pelo Conselho Gestor. Parágrafo único. Cabe ao Conselho Gestor, no prazo de 90 (noventa) dias após a publicação desta lei, elaborar seu Regimento Interno que será submetido à apreciação do Conselho Estadual de Meio Ambiente – CONEMA. Art. 10. O Conselho Gestor deverá elaborar, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias após a aprovação do seu Regimento Interno, a proposta de Zoneamento Ecológico – Econômico da Reserva, definindo diretrizes que disciplinarão os usos e atividades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão. §1º A proposta de Zoneamento Ecológico – Econômico de que trata o caput deste artigo deverá conter com a participação ampla da população local e, em seguida, ser submetida á apreciação do Conselho Estadual de Meio Ambiente – CONEMA. § 2º O Zoneamento Ecológico – Econômico da Reserva identificará as áreas e seus respectivos usos, bem como definirá as condições de utilização e ocupação dessas áreas, de acordo com o que estabelece os artigos 4º e 5º desta Lei, e será instituído por Lei de iniciativa do Poder Executivo Estadual, com base na proposta encaminhada pelo Conselho Gestor da Reserva, apreciada pelo Conselho Estadual de meio Ambiente – CONEMA. Art. 11. Os planos de Gestão e manejo da reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão deverão ser elaborados, com ampla participação da comunidade local, no prazo máximo de 02 (dois) anos, contados a partir da data de implantação do Zoneamento Ecológico – Econômico da Reserva, e submetidos á apreciação do Conselho Estadual de meio Ambiente –CONEMA. §1º No prazo de que trata o caput deste artigo, serão desenvolvidos estudos que subsidiarão a elaboração dos referidos Planos de Gestão e Manejo, bem como as estratégias que viabilizarão a implementação da Reserva, considerando as normas e diretrizes de uso e ocupação do Zoneamento Ecológico – Econômico. § 2º Os Planos de Gestão e Manejo propostos pelo Conselho Gestor, deverão conter programas que assegurem a conservação, proteção dos ecossistemas e sustentabilidade sócio ambiental da reserva, demonstrando a viabilidade econômica e identificando as fontes de recursos e prazos para implementação e revisão. Art. 12. Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Palácio de Despachos de Lagoa Nova, em natal, 17 de Julho de 2003, 115º da República. WILMA MARIA DE FARIA Francisco Vagner Gutemberg de Araújo 375 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ANEXO C CONSELHO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE RESOLUÇÃO Nº ____/2004 Aprova o Regimento Interno do Conselho Gestor da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, nos Municípios de Macau e Guamaré, no Estado do Rio Grande do Norte e dá outras providências. O Conselho Estadual de Meio Ambiente (CONEMA), no uso das atribuições que lhe são conferidas pela Lei Complementar n° 140, de 26 de janeiro de 1996 e pelo Decreto Estadual n° 13.799, de 17 de fevereiro de 1998; RESOLVE: I - Aprovar o Regimento Interno do Conselho Gestor da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RDSEPT), conforme texto em anexo. II - Esta Resolução entra em vigor a partir de sua homologação por ato da Governadora do Estado, ficando revogadas as disposições em contrário. Sala das Seções do Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONEMA), em ___ de julho de 2004. Presidente do CONEMA 376 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN CONSELHO GESTOR DA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO – RDSEPT REGIMENTO INTERNO CAPITULO l DA NATUREZA DO CONSELHO GESTOR Art. 1° - O Conselho Gestor é órgão superior que opera como instância Deliberativa e Consultiva, para o planejamento estratégico e gestão do desenvolvimento sustentável da Unidade de Conservação Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão - RDSEPT -, instituída pela Lei Estadual N° 8.349, de 18 de Julho CAPÍTULO II DOS OBJETIVOS Art. 2° - O Conselho Gestor da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RDSEPT) tem por objetivos: I - definir políticas e diretrizes para o planejamento e gestão da Reserva , em consonância com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC e legislação que compõe a Política Estadual de Meio Ambiente, visando promover a proteção de seus recursos ambientais e a melhoria da qualidade de vida da população local residente no seu território; II - definir metodologias e procedimentos pelos quais essas políticas e diretrizes serão implantadas; III - propor o Zoneamento Ambiental e Plano de Manejo da Reserva, bem como estabelecer prioridades e acompanhar os trabalhos de implantação, manutenção preservação e conservação da mesma, visando harmonizar o desenvolvimento local com a proteção do patrimônio natural e preservação dos valores culturais ; IV - articular, apoiar, divulgar, bem como buscar recursos que viabilizem a Reserva. V - estimular a consciência ecológica, a proteção e a conservação do patrimônio natural e recursos ambientais da Reserva; VI - auxiliar e amparar a população local residente e suas futuras gerações para que sejam assegurados os espaços comuns destinados ao uso coletivo apoiando, em especial, as atividades de pesca. VIl - fomentar e defender o desenvolvimento sustentável de atividades e a sustentabilidade dos recursos naturais de Reserva como o patrimônio natural e social, respeitando as formas de exploração costumeiramente utilizadas desses recursos. Parágrafo Único - Para os termos deste regulamento entender-se-á por população local, os habitantes da RDSEPT, que lá se encontrem sobrevivendo, direta ou indiretamente. 377 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN CAPÍTULO III DA COMPETÊNCIA DO CONSELHO Art. 3° - Compete ao Conselho Gestor: I - estabelecer a estrutura organizacional do Conselho, obedecendo as determinações deste regimento, atribuindo as competências respectivas a cada instância; II - realizar eleição para composição da estrutura organizacional do Conselho, Comissões e Câmaras Técnicas, assegurando o disposto neste regimento e o caráter democrático do processo eleitoral, exceto o que compete a função de Coordenador Geral; III - apresentar, desde que, por aprovação da maioria de 2/3 dos seus membros, sugestões de alteração da Lei de criação da reserva, bem como de seu próprio Regimento, dispondo sobre a ordem dos trabalhos e sobre a constituição, grau de competência e funcionamento das Câmaras nas quais se desdobram o Conselho Pleno; IV - apreciar, obrigatoriamente, e propor diretrizes, critérios, normas e ações para a gestão da Unidade de Conservação, compatibilizando, integrando e otimizando o Planejamento Estratégico e Gestão da Unidade, atendendo o Art 20, da Lei N° 9.985, de 18 de Julho de 2000, que integra o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC); V - instituir, promover o funcionamento e dissolver Diretorias Câmaras Técnicas, Comissões Permanentes e Provisórias, estas últimas com finalidade e prazos definidos; VI - zelar pela proteção e conservação ambiental da RDSEPT; VIl - definir a sistemática para o monitoramento ambiental da RDSEPT, em especial das áreas críticas sujeitas a impactos relevantes, devendo buscar apoio junto a instituições qualificadas quando necessário; VIII - elaborar as propostas normativas referentes ao Zoneamento Ecológico-Econômico, da Reserva e Planos de Manejo e Gestão, de acordo com os Arts. 10° e 11 da Lei N° 8.349, de 18 de Julho de 2003, Lei de criação da Reserva, obedecendo aos prazos fixados em lei; IX - formular e acompanhar a execução de planos estratégicos para a implementação da Reserva; X - criar e regulamentar o Fundo da RDSEPT, que será gerenciado pela Diretoria Administrativa e Financeira, garantindo a alocação adequada dos recursos para que possam ser utilizados de forma eficaz na implantação, manutenção e gestão da Reserva, subsistindo a obrigação de prestação de contas e balanceadas sempre que solicitado; XI - estabelecer diretrizes, critérios e procedimentos para aplicação dos recursos do Fundo da Reserva, bem como aprovar a aplicação desses recursos; XII - autorizar a efetuação de pesquisas na área da RDSEPT, mediante apreciação prévia do órgão ambiental do Estado. 378 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN XIII - definir norma referente à utilização da imagem de elementos constitutivos do patrimônio da Reserva; XIV - propor e exigir o ajustamento das condições de operação de atividades instaladas que se apresentem inadequadas com os objetivos e condições sócio-ambiental e cultural da Reserva; XV - emitir Parecer, devidamente fundamentado, sobre os pedidos de licenciamento e autorização de atividades localizadas no território da Reserva; XVI - elaborar projetos para captação de recursos destinados à realização de ações voltadas ao desenvolvimento sócio-ambiental e cultural da Reserva; XVII - propor ações estratégicas e propiciar condições para o cumprimento das mesmas, com vistas ao enfrentamento de sinistros ou situações que se configurem risco de degradação, poluição ou desequilíbrio ambiental; XVIII - emitir Parecer sobre formas de recuperação ou compensação ambiental decorrente de licenciamento de atividade, infração ou avaliação de existência de passivo ambiental que afeie os recursos da RDSEPT, inclusive podendo vir a formular denúncias aos órgãos competentes, caso seja constatada a prática de atos irregulares; XIX - elaborar e aprovar em audiência pública, com ampla participação da população residente na Reserva, a agenda anual do planejamento estratégico da Reserva, bem como sua proposta orçamentária; XX - propor acordos e convênios visando a elaboração ou implementação de projetos, pesquisas ou intervenções programadas no planejamento estratégico da Reserva; XXI - propor acordos, visando a transformação de penalidades administrativas, em obrigação de executar medidas de interesse para proteção e/ou recuperação ambiental, no território da Reserva; XXII - propor metas para a realização de projetos ou ações públicas voltadas à melhoria da qualidade de vida da população residente na Reserva e/ou necessárias à proteção ou saneamento ambiental; XXIII - atuar, mediante a formalização de convênio com os órgãos no âmbito municipal, estadual e federal encarregados da execução da política ambiental, na fiscalização de atividades que ocorram no território da RDSEPT, bem como do monitoramento dos recursos sócioambientais; XXIV - nomear integrantes da população residente na Reserva para a função de agente ambiental voluntário, encarregados de auxiliar o Conselho Gestor nas atividades de fiscalização e monitoramento ambiental da RDSEPT; XXV - requerer a disponibilizaçâo de recursos humanos junto a órgãos e instituições competentes, com vistas a obter apoio humano e logístico necessário ao desenvolvimento e implementação das atividades inerentes ao Conselho Gestor; XXVI - analisar e julgar, anualmente, o balanço e balancetes financeiros apresentados pela Diretoria Administrativa e Financeira, ressalvando-se o direito de solicitar a prestação de contas sempre que necessário; 379 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN XXVII - deliberar sobre assuntos gerais de interesse da Reserva; XXVIII - definir critérios para capacitação dos agentes ambientais voluntários. § 1° As deliberações do Conselho Gestor se constituem em decisões que devem ser amplamente divulgadas e registradas em livro destinado a esta finalidade. § 2° As consultas aprovadas pelo Conselho Gestor se constituem em parecer que passam a integrar o acervo técnico da RDSEPT e devem ser arquivados em coleção específica para esta finalidade. § 3° Enquanto o Plano de Manejo da Reserva não for aprovado, o Conselho Gestor definirá, recomendações a serem submetidas aos órgãos competentes para o Licenciamento de atividades na área da RDSEPT, com estrita observância das normas de preservação ambiental. § 4° As deliberações que afetarem diretamente a população residente na Reserva terão que ser submetidas à consulta prévia, junto ao respectivo segmento. Art. 4° - O Conselho Gestor ao decidir sobre assuntos levados ao seu conhecimento, deverá levar em consideração, quando da sua deliberação ou consulta, a sustentabilidade da Reserva e o respeito à cultura da sua população residente na Reserva, assim definido neste Regimento, observando as seguintes pressupostos: I - priorizar ações que impeçam a degradação ambiental; II - valorizar a educação ambiental como instrumento de resgate do respeito ao modo de vida da população residente na Reserva e como suporte para capacitação das comunidades frente ao desafio de planejar e gerir o processo de desenvolvimento sustentável; III - incentivar a utilização de processos de reaproveitamento de resíduos mediante métodos de reciclagem na concepção do saneamento ambiental; IV – favorecer o desenvolvimento e implementação de projetos para proteção da biodiversidade aquática e terrestre e estimulo as formas de produção sustentável; V - estimular o desenvolvimento de arranjos produtivos, baseados em princípios sustentáveis, que favoreçam o desenvolvimento sócio-econômico da população residente na Reserva, voltado dentre outros para as atividades de pesca, aqüicultura, agricultura , pecuária, extrativismo, cultivo de espécies, beneficiamento de produtos, artesanato, serviços de apoio, hospedagem e visitação turística; VI - considerar o patrimônio paisagístico e as características da formação urbana utilizada pela população residente na Reserva nas definições do ordenamento, a serem disciplinadas mediante a instituição do Zoneamento Ambiental e o Plano de Manejo, de forma a assegurar a identidade cultural da população residente mencionada; VIl - considerar o patrimônio natural, histórico, cultural, arqueológico e paisagístico como bens coletivos a serem valorizados e preservados; 380 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN VIII - Analisar e acatar, desde que, aprovada pelo Conselho, as decisões decorrentes de fóruns que congregam as entidades representativas da sociedade civil, atuantes no território da RDSEPT, incorporando-as no planejamento estratégico para sua implementação. CAPÍTULO IV DA COMPOSIÇÃO DO CONSELHO Art. 5° - O Conselho Gestor da RDSEPT é constituído por 19 membros titulares e respectivos suplentes, sendo 07 (sete) governamentais e 12 (doze) não governamentais, conforme especificação do art. 8° da Lei Estadual N0 8.349, de 18 de Julho de 2003. Parágrafo Único - Cada conselheiro poderá ter até 2 (dois) suplentes. Art. 6° - Os Conselheiros, após investidos nos respectivos cargos, têm poderes constituídos legalmente para praticar, em reuniões do Conselho, todos os atos necessários à consecução dos objetivos da Reserva, tomando decisões por maioria dos seus componentes. Art. 7° - O mandato dos membros do Conselho será de 02 (dois) anos, observando os seguintes critérios: I - os representantes governamentais serão indicados ou reconduzidos, para cada mandato específico, por Ofício emitido pelos titulares dos respectivos órgãos, mediante solicitação a ser encaminhada, ao fim de cada mandato, pela Secretaria Executiva do Conselho; II - os representantes não governamentais serão escolhidos, mediante processo de eleição, permitida uma recondução consecutiva pelo mesmo processo, por igual período; § 1° O período do mandato dos membros do Conselho terá início último dia do Fórum Anual da RDSEPT. § 2º A posse aos conselheiros será dada após a proclamação ao resultado da eleição que ocorrerá no período de realização do Fórum Anual da RDSEPT. Art. 8° - O membro do Conselho Gestor, titular ou suplente, representante de instituição não governamental, terá referendada a sua eleição, após divulgada sua nomeação pelo Governador do Estado, em publicação oficial do Estado. Art.9° - No exercício de um ano, o Conselheiro juntamente com os seus suplentes perderão seus mandatos nos seguintes casos: a) - faltarem a três reuniões ordinárias; b)- faltarem a 50% das reuniões convocadas. § 1° No caso de vacância de membro não governamental, o preenchimento da vaga, para cumprimento do restante do mandato, deverá ser efetivado mediante realização de eleição extraordinária, a ser disputada entre entidades com a mesma finalidade da entidade suprimida, vedada a entidade suprimida submeter representante seu a essa eleição. 381 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN § 2° No caso de vacância de membro governamental o conselho pedirá a sua substituição ao órgão que representa. Art. 10° - Para cumprir suas atribuições e desempenhar as atividades previstas neste Regimento, o Conselho Gestor da RDSEPT contará com uma Diretoria Executiva constituída pelas seguintes instâncias, articuladas conforme estrutura organizacional constante no anexo 01, parte integrante deste Regimento: a) Coordenador Geral; b) Coordenador Adjunto; c) Secretaria Executiva e de Comunicação; d) Diretoria Técnica e Operacional; e) Diretoria de Controle e Fiscalização; f) Diretoria Administrativa e Financeira; h) Câmaras Técnicas; i) Comissões Permanentes e Provisórias. § 1° - Hierarquicamente, na estrutura organizacional do Conselho, a função de Coordenador Geral será superior as demais, exceto com relação à Comissão de Auditoria, que somente será subordinada á Assembléia Geral do Conselho Gestor. § 2° - A Diretoria Executiva do Conselho, com exceção do Coordenador Geral será eleita em Assembléia do Conselho Gestor. A escolha dar-se-á na 1a seção ordinária após a aprovação deste Regimento e posteriormente na 1a seção ordinária após a aprovação deste Regimento e posteriormente na 1ª reunião Ordinária a cada renovação do Conselho. CAPITULO V DOS CONSELHEIROS Art. 11 - Compete aos Conselheiros: I - comparecer às reuniões, em dia, local e hora designados, participar dos trabalhos das Câmaras Técnicas e Comissões, usar da palavra quando lhe for concedida e propor assuntos para deliberação pelo Conselho Gestor; II - examinar os assuntos que lhe forem submetidos à apreciação pelo Coordenador Geral, procedendo às pesquisas necessárias e elaborando, quando for o caso, pareceres ou minutas de atos; III - exercer o direito de voto; IV - levar ao conhecimento do plenário qualquer ato ou fato que em seu entender, colida com os objetivos do Conselho Gestor ou com os da Reserva; V - coordenar quando eleito às funções da estrutura organizacional da Diretoria Executiva do Conselho; 382 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN VI - requerer urgência para a matéria em tramitação no Conselho. Art. 12 - Nenhum conselheiro poderá participar de apreciação, deliberação, ou votação de matéria para o qual haja impedimento ou suspensão. § 1° Configura-se impedimento ou suspensão a existência de interesses particulares que possam gerar benefícios individuais, para o Conselheiro, familiar e ou sócios, podendo ferir os interesses coletivos, princípios e a integridade da Reserva. § 2° É privilégio do Conselheiro argüir impedimento ou suspensão durante discussão de matéria, distribuição de processo, votação de parecer ou qualquer outra decisão. § 3° As proposições de impedimento ou suspeição devem ser votada e constar em Ata. § 4° Os impedimentos e suspeições poderão ser argüidos por representantes da população residente na Reserva. CAPÍTULO VI DA COORDENAÇÃO DO CONSELHO Art. 13 - A função de Coordenador Geral do Conselho Gestor será exercida por representante do órgão de meio ambiente do Estado, devidamente indicado pelo seu titular e com sua nomeação publicada em órgão de comunicação oficial do Estado. Art. 14 - Compete ao Coordenador Geral: I - defender os objetivos e os princípios da Reserva e representar o Conselho ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente; II - cumprir e fazer cumprir o disposto no presente Regimento; III - abrir, coordenar e encerrar as reuniões, fazer respeitar a ordem do dia, dirigir e manter a disciplina dos trabalhos; IV - conduzir as discussões e encaminhar a votação da matéria submetida à decisão do Conselho; V - resolver as questões de ordem levantadas, ouvido o plenário; VI - encaminhar às autoridades competentes os pareceres e deliberações do Conselho; VIl - convocar reuniões extraordinárias; VIII - conceder urgência, quando requerida por qualquer Conselheiro, sobre matéria em tramitação, ouvido o plenário; 383 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN IX - comunicar as instituições representadas no Conselho Gestor os casos de vacância, afastamento de conselheiros ou necessidade de substituição de representante; X - alterar o horário das reuniões, atendidas as peculiaridades do regime de trabalho do Conselho, havendo expressa notificação a todos os componentes; XI - assinar junto com a Secretaria Executiva e de Comunicação ofícios, cartas e outros documentos de secretaria; XII - assinar junto com a Diretoria Administrativa e Financeira, ordens de pagamento ou outros títulos de igual natureza, assim como o balanço e balancetes financeiros; XIII - proceder a averiguação dos impedimentos e suspeições argüidos pelos representantes da população residente na Reserva, cabendo recurso da sua decisão para a Assembléia. Art. 15 - As Reuniões do Conselho, serão presididas pelo Coordenador Geral ou Coordenador Adjunto, ou por um dos Diretores presentes, sucessivamente, no caso de ausências ou impedimentos legais, temporários e eventuais. Parágrafo único. A Secretaria Executiva e de Comunicação apoiará os trabalhos e lavrará a ata das reuniões do Conselho Gestor e da Diretoria Executiva. Art. 16 - Para a função de Coordenador Adjunto a escolha deverá recair entre os membros titulares representantes das populações residentes na área da Reserva; Art. 17 - Compete ao Coordenador Adjunto: I - substituir o Coordenador em suas faltas, impedimentos, ausências ou afastamento eventual, assumindo todas as competências e representar o Conselho quando solicitado; II - participar com a Diretoria Executiva na discussão de quaisquer assuntos de interesse da entidade; III - auxiliar o Coordenador em todos os assuntos de interesse do Conselho, podendo dele receber delegação de poderes de sua competência. CAPITULO VIl DA SECRETARIA EXECUTIVA E DE COMUNICAÇÃO Art. 18 - O Conselho terá uma Secretaria Executiva e de Comunicação com funções de assessoramento, voltadas à preparação da agenda de suas reuniões e à instrução dos assuntos que as compõe, assim como encaminhamento dos atos de publicidade da RDSEPT. Art. 19 - Compete à Secretaria Executiva e de Comunicação: I - assinar com o Coordenador Geral ou Coordenador Adjunto, a correspondência da Diretoria Executiva; 384 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN II - lavrar as Atas das reuniões do Conselho e da Diretoria Executiva, encaminhando-as aos Conselheiros, por cópia reprográfica e;ou correio eletrônico antes da data de sua apreciação pelo Conselho III - organizar e submeter previamente ao Coordenador a pauta dos trabalhos das reuniões; IV - comunicar aos Conselheiros as datas fixadas pelo Coordenador Geral ou Adjunto para a realização das reuniões, inclusive as alterações da mesma; V - enviar, aos Conselheiros, a pauta das reuniões com antecedência mínima de 7 (sete) dias; VI - registrar em livro de presença, o comparecimento e ausência dos Conselheiros às reuniões; VIl - registrar em cada processo a deliberação do Conselho sobre a matéria; VIII - instruir, informar os processos e dar publicidade local sobre sua distribuição para exame pelo Conselho Gestor; IX - preparar minutas ou projetos de atos relativos as suas funções, como também, propostas dos Conselheiros, para apreciação do Conselho e da Diretoria Executiva; X - Distribuir a documentação, ler o expediente nas reuniões e anotar os debates, pareceres e deliberações do Conselho e da diretoria Executiva; XI - tratar e cuidar de todos os demais assuntos inerentes ao Conselho e à Diretoria Executiva, compatíveis com as suas funções, ainda, que não especificadas neste Regimento; XII - em ausência do Coordenador ou Coordenador Adjunto, representar à entidade, ativa e passivamente, em juízo ou fora dele; XIII - promover a comunicação da Reserva em suas diversas formas, procurando divulgá-la o mais amplamente possível para conhecimento da população local e sociedade em geral, estando apto a desenvolver e participar de eventos; XIV - elaborar, implantar e atualizar página na rede mundial de computadores, disponibilizando informações sobre a Reserva , as formas de doações para a mesma e como as instituições poderão realizar pesquisas em sua área; XV - organizar, manter atualizados e zelar os arquivos referentes às atividades desenvolvidas pelo Conselho Gestor e Diretoria Executiva. CAPÍTULO VIII DA DIRETORIA TÉCNICA OPERACIONAL Art. 20 - O Conselho terá uma Diretoria Técnica e Operacional com a função de apoiar tecnicamente o funcionamento da RDSEPT, promovendo o seu Desenvolvimento Sustentável a partir dos Recursos disponíveis. 385 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Art. 21 - Compete à Diretoria Técnica e Operacional: I - analisar, instruir e emitir parecer sobre matérias específicas ligadas à RDSEPT, a serem apreciadas e aprovadas pelo Conselho, incluindo, os pedidos de licenciamento e autorização de atividades a serem desenvolvidas em seu território; II - propor, coordenar e promover estudos e pesquisas, Câmaras Técnicas ou comissões, bem como levantar informações necessárias à instrução dos assuntos pertinentes à RDSEPT, distribuindo-as aos Conselheiros; III - exercer e divulgar outras atividades que signifiquem contribuição para o desenvolvimento técnico, científico e cultural da reserva; IV - coordenar estudos técnicos para Instituição e regulamentação do Zoneamento Ecológico-Econômico e Plano de Manejo, a serem apreciados pelo Conselho; V - promover e avaliar a implementação das ações estabelecidas pelo Zoneamento Ambiental e Plano de Manejo, repassando as informações para a Secretaria Executiva, Câmaras Técnicas, Comissões e reunião do Conselho; VI – representar a entidade em todos os eventos de desenvolvimento técnico, científico e cultural, contribuindo para gestão estratégica, qualidade ambiental e integralidade da Reserva; VIl - gerar e/ou condensar relatórios parciais e finais dos estudos realizados e catalogados na área de abrangência da RDSEPT; VIII - apresentar periodicamente ao Conselho Gestor e população residente na RDSEPT, os resultados dos estudos realizados na mesma, que visam contribuir para o aprimoramento do Zoneamento Ambiental, Plano de Manejo, mecanismos de controle, monitoramento e Educação Ambiental; IX - acompanhar e gerenciar os trabalhos de campo desenvolvidos pelos agentes ambientais da Reserva ou trabalhos de monitoramento científico; X - implantar e implementar um banco de dados em ambiente espacial (SIG), com resgate histórico de pesquisas realizadas na área da RDSEPT, mantendo sempre atualizado para consulta em página na rede mundial de computadores; XI - organizar, manter atualizados e zelar os arquivos e/ou bens que venham a integrar o acervo ou patrimônio artístico e cultural da Reserva; XII - coordenar e estimular convênios com universidades, instituições científicas, órgãos estatais, sistema produtivo e organizações não governamentais, incentivando a pesquisa científica voltada à proteção da natureza, à melhor relação das populações residentes com o seu meio e à educação ambiental; XIII - priorizar pesquisas que considerem as condições e necessidade das populações locais para o desenvolvimento e adaptação de métodos e técnicas de uso sustentável dos recursos naturais; XIV - estimular, coordenar e controlar a visitação pública, na área da Reserva, em compatibilidade com os interesses locais e de acordo com o Plano de Manejo. 386 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Parágrafo único. Os dados e relatórios obtidos a partir de pesquisa científica efetuada na RDSEPT deverão ser repassados à Diretoria Operacional que os disponibilizará aos Conselheiros e a Sociedade em geral, excetuando-se casos especiais que serão objeto de estudo, pelo Conselho. CAPÍTULO IX DA DIRETORIA DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO Art. 22 - O Conselho terá uma Diretoria de Controle e Fiscalização com a função de representar a entidade em todos os eventos que tenham envolvimento de controle e fiscalização, garantindo a integridade da reserva; Art. 23 - Compete a Diretoria de Controle e Fiscalização: l - coordenar no âmbito do Conselho Gestor os convênios de cooperação técnica celebrados com as instâncias Municipal, Estadual e Federal para a efetuação da fiscalização e controle das atividades instaladas ou desenvolvidas na RDSEPT; II - cooperar com Órgãos competentes na fiscalização na época do defeso da lagosta, caranguejo, desova de tartaruga e outras espécies marinhas ameaçadas; III - propor e coordenar o Programa de Controle e Fiscalização da Reserva; IV - Manter o Conselho Gestor informado sobre as ocorrências de eventos que se enquadrem em infração ou crime ambiental, bem como sobre o acompanhamento das providências decorrentes de suas ações; V - Promover a verificação de denúncias apresentadas pelos conselheiros, população residente na RDSEPT e outros denunciantes; VI - Coordenar a ação dos Agentes Ambientais Voluntários da RDSEPT, que auxiliarão as ações de controle e fiscalização sob sua responsabilidade; § 1°- Os Agentes Ambientais Voluntários, atuarão na área da RDSEPT; § 2° - Os Agentes Ambientais Voluntários comporão os seguintes segmentos de atuação: a) Brigada do Ecossistema Terrestre e Marinho - atuará nas situações de emergências e será composta por todos os Agentes Ambientais Voluntários; b) Agentes de Fiscalização e Controle - responsáveis pela fiscalização e controle da biodiversidade (fauna e flora terrestres e aquáticas) e atividades que causem degradação ambiental; c) Agentes de Saúde Ambiental da Reserva - responsáveis pela fiscalização da saúde humana e biológica da reserva; d) Agentes do Turismo Ecológico, responsáveis para acompanhar as visitações públicas, recreativas e científicas autorizada; § 3° - Compete aos Agentes Ambientais Voluntários, dentre outras: 387 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN a) promover atividades através de Mutirões Ambientais; b) elaborar relatórios de constatação, sempre que for identificada infração à legislação ambiental, devidamente circunstanciado e assinado pelo responsável pela infração ou testemunhas, para subsidiar representações às autoridades competentes; c) solicitar as providências para que seja efetuada por autoridade competente a retenção de instrumentos utilizados na prática da infração penal e/ou os produtos dela decorrentes; d) coletar, sistematicamente, dados sobre as atividades que afetam os recursos ambientais da Reserva; e) informar à Diretoria de Controle e Fiscalização, todos os atos que forem praticados no exercício da atividade de Agente Ambiental Voluntário. § 4° - Os Agentes Ambientais Voluntários somente poderão entrar em atividade se previamente capacitados, tendo que, periodicamente, serem submetidos a treinamento de reciclagem. § 5° - Nas ocorrências de não conformidade, em especial, naquelas que geram a lavratura de autos ou retenção de instrumentos, deve-se informar os órgãos ambientais e o Ministério Público, no prazo máximo de cinco dias úteis. CAPÍTULO X DA DIRETORIA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA Art. 24 - O Conselho terá uma Diretoria Administrativa e Financeira com a função de coordenar a administração da Reserva, podendo para tanto, utilizar os recursos financeiros do fundo da reserva ou outros recursos que lhes sejam destinados em conformidade com o planejamento definido pelo conselho; Art. 25 - Compete a Diretoria Administrativa e Financeira: I - assinar com o Coordenador Geral ou Coordenador Adjunto, ordens de pagamento ou outros títulos de natureza financeira, assim como os balanços e balancetes financeiros e outros recursos que lhe forem destinados; II - administrar a entidade, com observância à legislação vigente, praticando os atos necessários e baixando as ordens de serviços para tais fins; III - preparar e submeter à apreciação do Conselho Gestor: a) até 30 dias antes do início do Fórum Anual, a proposta orçamentária e o plano de trabalho para o exercício seguinte; b) até 30 dias antes do Fórum Anual, a prestação de contas relativa ao exercício passado, devidamente instruída com o balanço geral e relatório pormenorizado; c) apresentar semestralmente o balancete sobre a situação econômico-financeira, acompanhado de informações sumárias sobre as atividades do Conselho; 388 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN d) apresentar proposta de alteração orçamentária no decorrer do exercício; e) apresentar outros assuntos administrativos e financeiros, sujeitos à deliberação do Conselho Gestor; IV - gerenciar o Fundo da Reserva; V - acompanhar os trabalhos das instâncias que compõem a Diretoria Executiva para compatibilizá-las com o planejamento orçamentário; VI - representar o Conselho Gestor em todos os eventos que tratem sobre movimentação financeira e controle da receita; VII – Coordenar o controle interno de exames de livros, papéis, escrituração contábil e administrativa; VIII - organizar, manter atualizados e zelar os arquivos e/ou bens que venham a integrar o acervo ou patrimônio mobiliário e imobiliário da Reserva; IX - estimular e promover mecanismos de sustentabilidade econômica e captação de recursos financeiros visando autonomia da reserva; X - preparar procedimentos administrativos relativos às condições, restrições e normas para autorização de pesquisa científica, ouvida a Diretoria Técnica e Operacional; XI - quando solicitado pelo Conselho e ou comissão de auditoria, disponibilizar todas as informações, documentos e registros referentes ao controle das atividades financeiras. Parágrafo único. Para o Fundo da Reserva deverão ser carreados todos os recursos financeiros a ela destinados. CAPÍTULO XI DAS CÂMARAS TÉCNICAS E COMISSÕES Art. 26 - O Conselho terá Câmaras Técnicas, Comissões Permanentes e Provisórias com a função de auxiliarem o Conselho e a Diretoria Administrativa, através de respostas a consultas e execução de ações. § 1° - Ficam instituídas as Câmaras Técnicas de: Educação Ambiental e de Projetos e Pesquisas e asComissões Permanentes do Fórum Anual e de Auditoria. § 2° - Cada Câmara Técnica ou Comissão será coordenada por um membro eleito do Conselho Gestor, que poderá ser auxiliado, para a consecução dos seus objetivos e funções, por técnicos especializados e membros da população residente na Reserva. 389 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN § 3° - O Coordenador de cada Câmara Técnica ou Comissão, para desenvolver suas atividades, terá que submeter e obter do Conselho Gestor a aprovação do seu plano de ação, no qual deverá ser obrigatoriamente especificados os seus objetivos, metas, cronograma de atividades e previsão de despesas com aval da Diretoria Administrativa e Financeira. § 4° - As Comissões Provisórias serão criadas por deliberação da Assembléia Geral do Conselho Gestor da Reserva, com objetivo próprio e prazo determinado, de acordo com as necessidades temporárias da Reserva, devidamente identificadas e justificadas. Art. 27 - Compete à Câmara Técnica de Educação Ambiental: l - garantir através da educação ambiental, a observação do princípio da preservação e conservação da Reserva, mediante a implantação e manutenção do programa de Educação Ambiental, previsto na Lei N° 9.795, de 27 de abril de 1999. II - promover sob a coordenação da Diretoria Técnica e Operacional, trabalhos comunitários, como palestras, reuniões, eventos, com práticas educativas e planos estratégico, buscando ampliar o conhecimento dos indivíduos quanto a preservação, conservação e desenvolvimento sustentável da Reserva; III - promover treinamento atendendo a demanda do Conselho e das comunidades situadas na RDSEPT, tendo como parceiros Órgãos e Instituições afins; IV - estimular o desenvolvimento do senso crítico na RDSEPT para identificar e solucionar os problemas sócio-ambientais; V - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; VI - preparar equipe para implantação do Programa de Controle e Fiscalização da Reserva; VIl - representar a entidade em eventos da área de Educação Ambiental; VIII - opinar, sempre que consultada, sobre as questões relativas à educação ambiental; IX - implementar os programas e projetos de educação ambiental definidos no Planejamento Estratégico da Reserva. Art. 28 - Compete à Câmara de Projetos e Pesquisas: I - promover o levantamento e manter atualizado um banco de dados sócio-econômicos e ambientais da Reserva; II - propor planos e projetos que visem o desenvolvimento sustentável da Reserva; III - estimular práticas e o desenvolvimento de atividades compatíveis com a proteção ambiental da RDSEPT; IV - auxiliar a Diretoria Técnica e Operacional na execução dos planos, projetos e pesquisas na área da RDSEPT; V - opinar, sempre que consultada, sobre as questões de ordem técnica. 390 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Art. 29 - Compete a Comissão do Fórum Anual da RDSEPT: l - Programar, organizar e realizar o Fórum Anual da RDSEPT, que dentre outras funções, compreende: apoiar a realização do Encontro da RDSEPT, cujos resultados subsidiarão a formulação de diretrizes que orientarão o desenvolvimento das ações coordenadas pelo Conselho Gestor, efetuar o processo eleitoral para renovação do Conselho Gestor e realizar Audiência Pública para apresentação e discussão do Relatório da Comissão de Auditoria, observando os seguintes requisitos: a) O Fórum da Reserva será realizado anualmente, no mês de junho, preferencialmente incluindo o dia 05 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, prioritariamente coincidindo com a realização do Encontro Ecológico da RDSEPT; b) A Comissão do Fórum Anual deverá nomear grupos de trabalho que terão atribuições específicas e duração provisória, os quais ficarão encarregados, exclusivamente do planejamento, promoção e efetivação das atividades a serem desenvolvidas no Fórum Anual, quais sejam: apoio técnico, logístico, de divulgação do Fórum Anual e do Encontro Ecológico da RDSEPT; processo eleitoral para renovação do Conselho Gestor e Audiência Pública para discussão do Relatório da Comissão de Auditoria; c) Os grupos de trabalho, designados pela Comissão do Fórum Anual, deverão se articular com a Comissão Organizadora do Encontro Ecológico da RDSEPT, objetivando cooperar para a realização do citado evento e contribuir, mediante o fornecimento de informações sobre os trabalhos nesse evento, bem como compatibilização da programação do Fórum Anual com a do Encontro Ecológico; d) O Fórum Anual deverá ser alinhado aos princípios do Planejamento Estratégico da Reserva; e) As atividades relacionadas ao processo eleitoral do Fórum Anual deverão abranger toda a área da Reserva; f) O Fórum será aberto, em caráter de Assembléia Permanente, com a leitura, votação e aprovação do seu regulamento, ficando em sessão permanente até o seu último dia; g) O Fórum Anual será encerrado com a leitura, votação e aprovação do seu Relatório Final. II - garantir a efetuação, anual, de Audiência Pública, para prestação de contas das atividades do Conselho Gestor, observado o seguinte: a) O grupo de trabalho designado para a promoção e efetivação da Audiência Pública, ficará encarregado da logística, divulgação e elaboração de regras que orientarão o regime dos trabalhos; b) A Audiência Pública será aberta à comunidade residente na RDSEPT e ao público em geral, sendo obrigatória à participação dos Conselheiros e, para tanto, deverá ser dada a mais ampla publicidade sobre a mesma, com uma antecedência de no mínimo 45 (quarenta e cinco) dias; c) O dia designado para a apresentação, em audiência pública, do balanço financeiro e das atividades desenvolvidas pelo Conselho Gestor da Reserva, bem como, do relatório de avaliação da Gestão, elaborado pela Comissão de Auditoria, recomendando sua aprovação ou desaprovação, e finalmente as votações a serem encaminhadas na Audiência Pública do Fórum Anual, será definido em consonância com a comissão organizadora do Encontro Ecológico da RDSEPT; 391 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN d) Durante a realização da Audiência Pública do Fórum Anual, os participantes inscritos poderão apresentar recomendações para orientar os ajustes na atuação do Conselho Gestor, observando as regras estabelecidas em seu regulamento, bem como votar nos pontos para os quais estejam definidos, conforme regulamenta esse procedimento; e) A Comissão do Fórum terá o prazo de trinta dias para remeter, à Comissão de Auditoria, à Comissão Organizadora do Encontro Ecológico, aos participantes inscritos no evento, aos órgãos responsáveis pela execução da política ambiental e aos representantes das instâncias municipal, estadual e federal e do Ministério Público, os Anais do Fórum Anual, contendo o relatório final aprovado na Audiência Pública e demais informações compiladas, durante a realização do evento; f) A Comissão do Fórum Anual também se encarregará de receber o Relatório Final produzido pelo Encontro Ecológico da RDSEPT, encaminhando-o ao Conselho Gestor e Comissão de Auditoria; g) A Comissão de Auditoria observará o cumprimento, pelo Conselho Gestor, das recomendações contidas nos Anais do Fórum Anual e do Encontro Ecológico, quando da elaboração do relatório de auditoria a ser apresentado no evento do ano seguinte; III - garantir e coordenar a eleição dos membros não governamentais do Conselho Gestor, observado o seguinte: a) Deverá nomear um grupo encarregado do processo eleitoral, designado Comitê Eleitoral, que terá duração provisória, o qual ficará encarregado exclusivamente da promoção e efetivação da eleição, inclusive da parte logística, de divulgação e de estabelecimento de regras eleitorais complementares às que constarem deste Regimento; b) As inscrições das entidades interessadas em concorrer nas eleições para renovação do Conselho Gestor, bem como o cadastro de moradores da RDSEPT, interessados em votar serão abertos no primeiro dia do Fórum Anual; c) No segundo dia, serão divulgados pelo Comitê Eleitoral os nomes das entidades e respectivos representantes, candidatos a membro do Conselho, assim como nos locais e horário em que será procedida a votação ; d) As inscrições das candidaturas de cada segmento, deverá conter a especificação do segmento, os dados da entidade não governamental e nome dos candidatos, titular e do suplente; e) No ato de inscrição de cada chapa, os candidatos deverão apresentar a comprovação da validade de sua candidatura pela entidade que representa; f) A propaganda de cada candidato a membro do Conselho será de responsabilidade da instituição que representa e deverá constar tão somente de convencimento oral junto aos eleitores; g) A lista de eleitores será composta pelas pessoas credenciadas do evento até o dia anterior a realização da eleição; h) As vagas abertas e as respectivas chapas que estarão concorrendo no processo de eleição, terão que respeitar o disposto nos incisos VIII, IX e X do Art. 8° da Lei n° 8.349, de 18 de julho de 2003, devendo ser providenciada uma quantidade de cédulas eleitorais, suficientes para a efetivação da votação para cada segmento; i) A eleição deverá ser realizada no último dia do Fórum, no período da manhã, sendo sua apuração iniciada após o fechamento das umas e seu resultado proclamado ao final da apuração; 392 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN j) Serão considerados eleitos os candidatos mais votados até o preenchimento total das vagas abertas para renovação do Conselho Gestor, previamente divulgadas. Parágrafo único. Os grupo e Comitê nomeados, conforme este artigo, deverão manter a Comissão do Fórum Anual informada de suas atividades, devendo obter sua autorização prévia para execução de ações, em especial daquelas que envolvam dispêndios financeiros. CAPITULO XIII DA COMISSÃO DE AUDITORIA Art. 30 - O Conselho Gestor terá uma Comissão de Auditoria com a função de garantir a integridade administrativa financeira e patrimonial da Reserva, bem como a observância dos princípios da conservação e preservação dos recursos ambientais e seu desenvolvimento sustentável. Parágrafo único. A Comissão de Auditoria, para consecução das suas funções, poderá ser auxiliada por profissionais especializados. Art. 31 - A Comissão de Auditoria, será composta por 03 (três) membros do Conselho Gestor, eleitos pelo próprio Conselho. § 1° A Comissão de Auditoria não poderá ser composta por nenhum dos membros que participem das outras instâncias da estrutura organizacional do Conselho Gestor. § 2° A Comissão de Auditoria terá mandato de 2 (dois) anos, permitida uma recondução por igual período. § 3° A Comissão de Auditoria somente se reporta à Assembléia Geral do Conselho Gestor. Art 32 Compete a Comissão de Auditoria: I - planejar as auditorias financeiras e de gestão; II - programar, promover e realizar auditorias de natureza fiscal, como também, as relacionadas à gestão das atividades, incluindo auditorias de gestão e processo; III – apresentar e controlar o andamento das não conformidades identificadas nas auditorias realizadas; IV - avaliar a eficácia das ações de correção de desvios identificados nas auditorias; V - analisar e emitir parecer sobre os balanços e balancetes financeiros e apresentá-los à Assembléia Geral do Conselho Gestor; VI - apresentar parecer sobre balanço financeiro e relatório de gestão na Audiência Pública; 393 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN VIl - representar a entidade em eventos que tenham envolvimento na área de auditoria de gestão, de processo e financeiro. VIII - alertar o Conselho Gestor quando se observar desvios relativos ao descumprimento das recomendações oriundas do Encontro Ecológico e Fórum Anual da RDSEPT. CAPÍTULO XIII DO FUNCIONAMENTO DO CONSELHO SEÇÃO I DAS REUNIÕES Art. 33 - Para o desempenho de suas atividades, o Conselho Gestor da Reserva funcionará por meio de reuniões, com a seguinte hierarquia: I - Audiência Pública a se realizar uma vez por ano, durante o Fórum Anual, com a finalidade de deliberar sobre o planejamento estratégico e gestão da RDSEPT, bem como apresentar para a comunidade o relatório anual das atividades realizadas e prestação de contas dos recursos do Fundo da Reserva; II - reunião de caráter ordinário, a se realizar bimestralmente, com a finalidade de gerenciar a implementação das ações destinadas à execução do planejamento estratégico e gestão da Reserva, deliberar e atender a consultas sobre assuntos de seu interesse; III - reunião de caráter extraordinário, a se realizar quando necessário para tratar de assuntos urgentes ou agilizar as ações que visem à implementação do planejamento estratégico e gestão da Reserva; § 1° As deliberações das Audiências Públicas do Fórum Anual e recomendações emanadas do Encontro Ecológico realizado pelas entidades que representam os segmentos da Sociedade Civil, residente na RDSEPT, se constituirão referência e devem ser observadas nas atuações do Conselho Gestor. § 2° As reuniões do Conselho Gestor, serão públicas, com pauta pré-estabelecida no ato da convocação e deverão ocorrer em local de fácil acesso, dentro do território da RDSEPT. § 3° As reuniões ordinárias serão convocadas de acordo com o calendário anual aprovado pelo Conselho Gestor. § 4° As reuniões extraordinárias serão convocadas com antecedência de 07 (sete) dias e serão regidas pelos critérios estabelecidos neste regimento. § 5° O quorum mínimo necessário à instalação das reuniões ordinárias e extraordinárias é de 50% mais um dos membros ativos do Conselho Gestor, em primeira convocação, e 1/3 (um terço), em segunda , 30 minutos após a primeira convocação. § 6° Os temas relacionados às normas que estabelecem parâmetros para regulamentação da Reserva, como Zoneamento Ambiental e Plano de Manejo, bem como a apresentação da prestação 394 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN de contas da Diretoria Executiva, só poderão ser discutidos e votados em reuniões realizadas com a presença de, no mínimo, 50% mais um dos membros ativos do Conselho Gestor. § 7° As reuniões terão inicio às nove horas, havendo uma tolerância de até 30 minutos para a efetuação da segunda convocação, e sua duração não poderá exceder a três horas, salvo motivo superior e ouvido o plenário. § 8° As decisões do Conselho Gestor serão aprovadas quando obtiverem um mínimo de 50% mais um dos votos computados na reunião, exceto os casos de quorum qualificado previsto neste regimento. § 9° Em caso de necessidade, serão convocadas reuniões, em caráter extraordinário, quantas vezes for necessário, pelo Coordenador Geral ou requerimento que obtiver o apoio de, no mínimo, 1/5 ( um quinto) dos membros do Conselho, com a justificativa da respectiva pauta. § 10° - Em caso de impossibilidade de seu comparecimento à reunião, o membro do Conselho, no prazo máximo de 48 horas após a reunião, deverá justificar a sua ausência por escrito, a qual será analisada na próxima reunião do Conselho. Art. 34 - As reuniões serão presididas pelo Coordenador Geral ou, em sua ausência, pelo Coordenador Adjunto. Parágrafo único. No caso de ausência do Coordenador Geral e do Coordenador Adjunto, tendo sido agendada como prevê este regulamento e havendo quorum, a presidência das reuniões será exercida por um dos membros da Diretoria Executiva, escolhido pelo Coordenador Geral, ou ainda por qualquer Conselheiro, escolhido pela maioria dos Conselheiros presentes, que, porém, cederá a função, no caso do comparecimento posterior do Coordenador Geral ou do Coordenador Adjunto. Art. 35 - Para o cumprimento das atividades inerentes à Secretaria, às Diretorias, às Câmaras e às Comissões Permanentes e Provisórias, os seus membros se reunirão mensalmente. SEÇÃO II DO DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS Art. 36 – A ordem do dia das reuniões constará de: I - verificação do quorum; II - leitura, discussão e validação da Ata da sessão anterior; III - comunicação da Diretoria e dos Conselheiros; IV - aprovação da pauta de assuntos a serem debatidos no dia; V - discussão e votação das matérias constantes na pauta aprovada; § 1° Os Conselheiros que quiserem incluir assuntos na pauta devem encaminhar, com antecedência de 15 (quinze dias) da reunião prevista, solicitação à Secretaria Executiva do Conselho. § 2° Só serão incluídos, extraordinariamente, na pauta, mediante prévia aprovação de inclusão pelo Conselho, expedientes com indicações e propostas encaminhadas à mesa, por escrito ou mediante relato à Secretaria, com justificação da urgência para sua inclusão na ordem do dia. § 3° Não será permitida discussão de qualquer assunto na parte destinada às comunicações da Diretoria Executiva e dos Conselheiros. 395 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN § 4° Por deliberação do plenário, poderá ser concedido adiamento da discussão de matéria constante da ordem do dia. § 5° O Conselho poderá admitir ou convidar para as reuniões, pessoas cujo pronunciamento ou colaboração possam trazer esclarecimentos à matéria em discussão ou apreciação. Art. 37 - A distribuição dos processos aos Conselheiros, obedecerá à ordem cronológica de entrada, sendo os relatores designados pelo Coordenador Geral obedecendo os seguintes critérios: l - a distribuição obedecerá ao critério de rodízio, que será definido em reunião do Conselho, por sorteio, quando será estabelecida a ordem dos Conselheiros para recebimento dos processos; II - no dia posterior à distribuição dos processos aos conselheiros, será dada publicidade local, mediante fixação de listagem na sede da Diretoria Executiva e em outros locais de grande visitação pelos moradores das comunidades residentes na área da Reserva; III - O relator deverá apresentar parecer, escrito ou oral, devidamente transcrito pela Secretaria, na reunião ordinária seguinte aquela em que a matéria lhe tenha sido distribuída; IV - Se necessário, o relator poderá requisitar, de Órgãos Públicos, Câmaras ou Comissões, subsídios para instruir a análise do assunto. Parágrafo único. Desde que devidamente justificado, o relator poderá solicitar novo prazo para apresentar o seu relatório e submeter a matéria à apreciação da Assembléia do Conselho Gestor. SEÇÃO III DAS VISTAS Art. 38 - Qualquer um dos membros do Conselho poderá pedir vistas da matéria apresentada durante a discussão. Parágrafo único: O membro que solicitar pedido de vistas deverá apresentar, por escrito, parecer sobre a matéria na reunião subseqüente; COMPETÊNCIA DO CONSELHO SEÇÃO IV DA VOTAÇÃO Art. 39 - Após esgotadas as discussões, as matérias serão colocadas em votação pelo Presidente da reunião. Art. 40 - Terão direito a voto todos os Conselheiros titulares ou suplentes em substituição, cabendo ao Presidente da reunião, em caso de empate, o voto de qualidade. Art. 41 - As deliberações serão aprovada por voto nominal da maioria dos Conselheiros. 396 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN SEÇÃO V DAS ATAS Art. 42 - As Atas, lavradas pela Secretaria Executiva e de Comunicação e assinadas pelos Conselheiros presentes, conterão a data da reunião, local, a indicação nominal dos Conselheiros e o resumo das matérias discutidas e votadas em assembléia, dos assuntos ventilados na reunião e dos pareceres ou decisões tomadas pelo Conselho, devendo ser submetida à aprovação na reunião subseqüente. CAPÍTULO XIV DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS Art. 43 - O Conselho aprovará e encaminhará ao Órgão Ambiental Nacional e ao Estadual, bem como à Audiência Pública do Fórum Anual, relatório anual de suas atividades, bem como o balanço e a prestação de contas elaboradas pela Secretaria Executiva. Art. 44-0 Conselho somente poderá ser dissolvido por lei específica. Parágrafo único - Se a proposta de dissolução for de iniciativa do próprio Conselho, exigir-se-á para sua validade o voto mínimo de dois terços dos Conselheiros, devendo ser a referida proposta encaminhada ao chefe do Executivo, após consulta à população residente da Reserva. Art. 45 - Todos os valores oriundos de Medidas Compensatórias ou de penalidades pecuniárias administrativas e/ou judiciais, aplicadas por conseqüência de atividades impactantes em áreas da Reserva, direta ou indiretamente, serão obrigatoriamente, carreados para o Fundo da Reserva e aplicados na própria Reserva. Art. 46 - As dúvidas de interpretação ou de inteligência das disposições deste Regimento Interno serão dirimidas por decisão da maioria do plenário. Art. 47 - Os casos omissos, deste regimento, serão decididos em plenária. Art. 48 - O Regimento Interno do Conselho Gestor é de elaboração privativa do próprio Conselho e poderá ser reformulado, alterado, emendado e modificado, em reuniões convocadas para este fim. Art. 49 - O Conselho Gestor providenciará a distribuição de exemplares deste Regimento Interno aos Conselheiros, autoridades, entidades públicas ou privadas e a quem mais a matéria interessar. Art. 50 - A renúncia do Coordenador Geral não implica na renúncia dos demais membros da Diretoria Executiva. Art. 51 - Até que sejam instituídos o Zoneamento Ambiental e Plano de Manejo, o Conselho Gestor poderá estabelecer normas provisórias para licenciamento, autorização e fiscalização das atividades da RDSEPT, bem como para orientar a implementação das políticas que visam o seu desenvolvimento sustentável; Art. 52-0 exercício da Reserva terá início no primeiro dia do Fórum Anual. 397 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Art. 53 - O cargo de membro do Conselho é não remunerado e considerado atividade de relevante interesse público. O fato de ser Conselheiro não impede que o mesmo possa prestar serviço remunerado a RDSEPT através de contrato em projeto específico onde atue como técnico, instrutor ou especialista, desde que devidamente aprovado pelo Conselho Gestor. Art. 54 - As reuniões do Conselho Gestor serão agendadas nas 3a segundas-feiras dos bimestres previstos para a realização das reuniões ordinárias. § 1° Havendo coincidência na data com feriado, a reunião será transferida para o primeiro dia útil após o feriado. § 2° No caso de não cumprimento de pauta, marca-se nova reunião fora do calendário. Art. 55 - Até que a Reserva tenha autonomia econômica, o seu Fundo deverá ser suprido financeiramente pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte, garantindo o funcionamento mínimo das atividades voltadas a sua gestão. Parágrafo único – O plano orçamentário para garantir o funcionamento mínimo das atividades voltadas à gestão RDSEPT deve ser encaminhado para aprovação do CONEMA. Art. 56 - Como trata-se de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável, os resultados e benefícios do seu desenvolvimento têm que ser direcionado em prol da própria Reserva e para a melhoria da qualidade de vida da sua população tradicional. Art. 57 - Para fins de compatibilizar a questão dos mandatos dos membros do Conselho Gestor e adequá-los ao que estabelece este Regimento, deverá ser observado o seguinte: I - 30 dias antes da realização do Fórum Anual de 2005, as entidades não Governamentais que compõem o Conselho Gestor decidirão entre si, como escolherão os 50% dos membros que encerrarão seu mandato neste referido Fórum; II - 50% (cinqüenta por cento) dos membros não governamentais, titulares e respectivos suplentes, eleitos para o primeiro mandato, terão seus mandatos encerrados no Fórum Anual de 2005, quando serão eleitos novos membros para as suas vagas, podendo, entretanto, os referidos membros candidatarem-se à reeleição para mais um mandato; III - 50% (cinqüenta por cento) dos membros não governamentais, titulares e respectivos suplentes, eleitos para o primeiro mandato, terão seus mandatos prorrogados até o Fórum Anual de 2006, quando serão eleitos novos membros para as suas vagas, sendo que nesse caso os referidos membros não poderão se candidatar à reeleição; IV - com relação aos membros governamentais, os seus mandatos se encerrarão no Fórum Anual de 2005, devendo serem consultadas as respectivas instituições se o seu representante para gestão seguinte será o mesmo ou se será indicado outro. Parágrafo único. No caso de perda de mandato do membro não governamental, deverá ser realizada uma eleição extraordinária, coordenada por comissão designada pelo Conselho Gestor para preenchimento da vacância por representante de entidade do mesmo segmento do Conselheiro destituído, com mandato correspondente ao tempo restante do mandato interrompido. Art. 58 - Este Regimento Interno entra em vigor na data da sua publicação no Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte. 398 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ANEXO D Mapa com os limites Legais da RDS-Estadual Ponta do Tubarão 399 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ANEXO E CARTA DA TERRA A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, tendo se reunido no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992, reafirmando a Declaração de Estocolmo e buscando basear-se nela; com o objetivo de estabelecer uma nova e justa parceria global, através da criação de novos níveis de cooperação entre os Estados, setores importantes das sociedades e o povo; trabalhando com vistas a acordos internacionais que respeitem os interesses de todos e protejam a integridade do meio ambiente global e o sistema de desenvolvimento, reconhecendo a natureza integral e interdependente da Terra, nosso lar; proclama: 1. Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza. 2. Os Estados, em conformidade com a Carta das Nações Unidas e os princípios do direito internacional, têm o direito soberano de explorar seus recursos de acordo com suas próprias políticas ambientais e desenvolvimentistas, e a responsabilidade de assegurar que as atividades sob sua jurisdição ou controle não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional. 3. O direito ao desenvolvimento de ser desempenhado de forma a atender eqüitativamente às necessidades de desenvolvimento e ambientais das gerações presentes e futuras. 4. Para conseguir o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental deve constituir parte integral do processo de desenvolvimento, não podendo ser considerada isoladamente deste. 5. Todos os Estados e todos os povos devem cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza como exigência indispensável para o desenvolvimento sustentável, a fim de reduzir as disparidades nos padrões de vida e atender melhor as necessidades da maioria dos povos do mundo. 6. A situação especial e as necessidades dos países em desenvolvimento, particularmente dos menos desenvolvidos e dos mais vulneráveis ambientalmente, devem 400 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN receber prioridades especiais. Ações internacionais no campo do meio ambiente e desenvolvimento devem também ter em vista os interesses e necessidades de todos os países. 7. Os Estados devem cooperar, em espírito de parceria global, para conservar, proteger e restabelecer a saúde e integridade do ecossistema da Terra. Em vistas das diferentes contribuições para a degradação ambiental global, os Estados têm responsabilidade comuns mas diferenciadas. Os países desenvolvidos reconhecem a responsabilidade que têm na busca internacional do desenvolvimento sustentável em vista das pressões que suas sociedades exercem sobre o meio ambiente global e das tecnologias e recursos financeiros que dominam. 8. A fim de conseguir o desenvolvimento sustentável e melhor qualidade de vida para todos os povos, os Estados devem reduzir e eliminar padrões insustentáveis de produção e consumo e promover políticas demográficas adequadas. 9. Os Estados devem cooperar e fortalecer a capacidade endógena de construção de um desenvolvimento sustentável, aperfeiçoando o atendimento científico através de trocas de conhecimento científico e tecnológico e intensificando o desenvolvimento, adaptação, difusão e transferência de tecnologias, incluindo tecnologias novas e inovadoras. 10. Os problemas ambientais são mais bem administrados com a participação de todos os cidadãos interessados, no nível pertinente. Em nível nacional, todos os indivíduos devem ter acesso adequado às informações concernentes ao meio ambiente que estejam em poder das autoridades públicas, incluindo informações sobre materiais e atividades perigosas em suas comunidades, e a oportunidade de participar nos processos de tomada de decisões. Os Estados devem facilitar e estimular a conscientização e participação pública, tornando as informações amplamente disponíveis. Deve ser proporcionado o acesso aos procedimentos judiciais e administrativos, incluindo compensação e reparação. 11. Os Estados devem estabelecer legislação ambiental efetiva. Padrões ambientais, objetivos gerenciais e prioridades devem refletir o contexto ambiental e de desenvolvimento a que se aplicam. Padrões aplicados por alguns países podem ser inadequados e de custo econômico e social insustentável para outros, particularmente para países em desenvolvimento. 12. Os Estados devem cooperar para promover um sistema econômico internacional participativo e aberto, que leve ao crescimento econômico e desenvolvimento sustentável em todos os países, para administrar melhor os problemas de degradação ambiental. Medidas de política comercial para objetivos ambientais não devem constituir um meio de discriminação 401 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN arbitrária ou injustificáveis ou uma restrição disfarçada ao comércio internacional. Ações unilaterais para enfrentar desafios ambientais fora da jurisdição do país importador devem ser evitadas. Medidas ambientais tratando de problemas ambientais além-fronteiras ou globais devem, na medida do possível, ser baseadas num consenso internacional. 13. Os Estados devem desenvolver leis nacionais estabelecendo responsabilidade e compensação para as vítimas de poluição e de outros danos ambientais. Os Estados devem também cooperar de maneira mais rápida e determinada para desenvolver nova legislação internacional que estabeleça responsabilidades e compensação para os efeitos adversos de danos ambientais causados por atividades sob sua jurisdição ou controle para áreas além de sua jurisdição. 14. Os Estados devem cooperar efetivamente para desestimular ou impedir a relocação ou transferência para outros Estados de quaisquer atividades e substâncias que causem grave degradação ambiental ou sejam nocivas à saúde humana. 15. A fim de proteger o ambiente, a abordagem preventiva deve ser amplamente aplicada pelos Estados de acordo com suas possibilidades. Onde houver ameaças de danos sérios ou irreversíveis, a falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão para adiar medidas economicamente viáveis para impedir a degradação ambiental. 16. As autoridades nacionais devem-se esforçar para promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando em conta a abordagem de que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida consideração ao interesse público e sem desvirtuar o comércio e os investimentos internacionais. 17. A avaliação de impacto ambiental, como instrumento nacional, deve ser empreendida para atividades planejadas que tenham probabilidade de causar significativo impacto adverso sobre o ambiente e estejam sujeitas a uma decisão da autoridade nacional competente. 18. Os Estados devem notificar imediatamente outros Estados sobre quaisquer desastres naturais ou outras emergências que possam causar repentinos efeitos prejudiciais ao meio ambiente desses Estados. A comunidade internacional deve envidar todos os esforços para ajudar os Estados atingidos. 19. Os Estados devem providenciar a notificação, prévia e oportuna, e as informações relevantes aos Estados potencialmente atingidos sobre atividades que possam ter significativo 402 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN efeito ambiental adverso além-fronteiras e fazer consultas com esses Estados numa fase inicial e de boa-fé. 20. As mulheres têm um papel vital na administração ambiental e no desenvolvimento. Sua participação plena é, portanto, essencial para atingir o desenvolvimento sustentável. 21. A criatividade, ideais e coragem dos jovens do mundo devem ser mobilizados para forjar uma parceria global a fim de se atingir o desenvolvimento sustentável e assegurar um futuro melhor para todos. 22. Os povos indígenas e suas comunidades, e outras comunidades locais têm papel vital na gestão ambiental e no desenvolvimento, devido a seu conhecimento e práticas tradicionais. Os Estados devem reconhecer e apoiar adequadamente sua identidade, cultura e interesses e possibilitar sua participação efetiva na conquista do desenvolvimento sustentável. 23. O meio ambiente e os recursos naturais dos povos sob opressão, dominação ou ocupação devem ser protegidos. 24. A guerra é intrinsecamente destruidora do desenvolvimento sustentável. Os Estados devem, portanto, respeitar as leis internacionais que dão proteção ao meio ambiente em épocas de conflito armado e cooperar para promover seu desenvolvimento, quando necessário. 25. A paz, o desenvolvimento e a proteção ambiental são interdependentes e indivisíveis. 26. Os Estados devem resolver todas as suas disputas ambientais pacificamente e por meios apropriados, de acordo com a Carta das Nações Unidas. 27. Os Estados e povos devem cooperar em boa-fé e com espírito de parceria para o cumprimento dos princípios corporificados nesta Declaração e para maior desenvolvimento do direito internacional no campo do desenvolvimento sustentável. 403 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ANEXO F DIREITO AMBIENTAL NA LEGISLAÇÃO FEDERAL Constituição Federal CAP VI - Dispõe sobre o meio ambiente. Lei Federal 9.605/98 Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Decreto 3.179/99 Dispõe sobre a especificação das sanções aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Lei 6.839/81 Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Lei Federal - 6.938/81 Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins, mecanismos de formulação, aplicação e estrutura do SISNAMA. Lei Federal - 7.804/89 Altera o redação de alguns dispositivos das Leis 6.803/80 e 6.938/81. Altera, na Lei 6.938/81, o artigo 1°; o inciso V, do artigo 3°; os incisos I a VI, do artigo 6°; o artigo 7° e seus parágrafos; o inciso II, do artigo 8°; os incisos VI, X, XI e XII, do artigo 9°; o artigo 10 e seu parágrafo 4°; o artigo 15 e seus parágrafos; o artigo 17 e seus incisos I e II; revoga o artigo 16 e inclui o artigo 19. Substitui, na Lei 6.803/81 e na Lei 6.938/81, a sigla SEMA por IBAMA. Lei Federal - 9.017/95 Estabelece normas de controle e fiscalização sobre produtos e insumos químicos, que possam ser destinados à elaboração da cocaína em suas diversas formas, e de outras substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica. Lei Federal - 9.795/99 Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Lei Federal - 9.985/00 Regulamenta o artigo 225 da CFB e institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC. Lei Federal – 10.165/00 Institui a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental - TCFA e Taxa de Vistoria. Acresce os artigos 17-A a 17-0, à Lei Federal 6.938/81. Lei Federal - 10.257/01 404 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, estabelecendo diretrizes gerais da política urbana - Estatuto da Cidade. O aspecto mais relevante introduzido por esta lei é o instituto do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), que visa contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades. Decreto Federal - 93.413/86 Promulga a Convenção 148 da OIT, referente à proteção dos trabalhadores contra os riscos profissionais devidos à contaminação do ar, ao ruído e à vibração no local de trabalho. Decreto Federal - 99.274/90 Regulamenta as Leis Federais n°s 6.902/81 e 6.938/81, instituindo a estrutura do SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente, cria o CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente, estabelece a obrigatoriedade do licenciamento ambiental e apresentação de EIA/RIMA, quando necessário. Em sua 2a parte, institui os procedimentos para implantação das Estações Ecológicas e das Áreas de Proteção Ambiental (APA's). Decreto Federal - 750/93 Dispõe sobre o corte, a exploração e a supressão de vegetação primária ou os estágios de regeneração da Mato Atlântica. Decreto Federal - 2.018/96 Regulamenta a Lei n° 9.294/96, dispondo sobre o uso e a propaganda de produtos fumígenos não proibidos em lei, derivados ou não do tabaco, de bebidas alcoólicas, de medicamentos e terapias e de defensivos agrícolas. Revoga os artigos 42 a 44 do Decreto n° 98.816/90, que dispunha sobre a propaganda comercial de agrotóxicos Decreto Federal - 2.120/97 Dá nova redação aos artigos 5°, 6°, 10° e 11 do Decreto Federal 99.274/90, alterando a estrutura e o sistema administrativo do CONAMA. Decreto Federal - 2.657/98 Promulga a Convenção Internacional n° 170 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), relativa à segurança na utilização de produtos químicos no trabalho. Decreto Federal – 3.665/00 Dá nova redação ao Regulamento para fiscalização de produtos controlados pelo Exército.Tem por finalidade estabelecer as normas necessárias para a correta fiscalização das atividades exercidas por pessoas físicas e jurídicas, que envolvem produtos controlados pelo Ministério do Exército. Decreto Federal- 3.834/01 Regulamenta o artigo 55, da Lei n° 9.895/00, estipulando que as unidades de conservação e as áreas protegidas criadas em data anterior à Lei n° 9.985/00, e que não pertençam às categorias nela previstas, serão reavaliadas pelo IBAMA, visando ajustá-las à referida lei. Resolução - 01/86 – CONAMA Institui e regulamenta o EIA/RIMA - Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental, como instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Estabelece, no art. 2°, 405 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN as atividades que são obrigadas a apresentar perante ao órgão ambiental competente, os devidos EIA/RIMA. Resolução - 11/86 - CONAMA Altera o inciso XVI e acrescenta o inciso XVII, ao artigo 2°, da Resolução CONAMA 1/86, dispondo sobre a utilização de carvão vegetal em quantidade superior a dez toneladas por dia e projetos agropecuários que contemplem área acima de l.OOOha, ou quando se tratar e áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental. Resolução - 237/97 - CONAMA Efetiva a utilização do sistema de licenciamento como instrumento de gestão ambiental, instituído pela Política Nacional do Meio Ambiente. Resolução - 273/00 - CONAMA Estabelece que a localização, construção, instalação, modificação, ampliação e operação de postos revendedores, postos de abastecimento, instalações de sistemas retalhistas e postos flutuantes de combustíveis dependerão de prévio licenciamento do órgão ambiente competente. PROCESSUAL Lei Federal - 4.717/65 Regula a Ação Popular. Instrumento consagrado na Constituição Federal, legitima qualquer cidadão para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio público da União, Estado, Distrito Federal e Municípios ou de entidade que o Estado participe. Lei Federal - 7.347/85 Disciplina a Ação Civil Pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, a consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. AGROTÓXICOS Lei Federal - 7.802/89 Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte e armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, exportação, o destino final dos resíduos das embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Lei Federal - 9.974/00 Altera, na Lei Federal n° 7.802/89, o artigo 6°; o caput e a alínea "d", do inciso II, do artigo 7°; caput e as alíneas "b", "c" e "e" do artigo 14; artigo 15 e acresce o artigo 12A e o parágrafo único ao artigo 19. Decreto Federal- 98.816/90 Regulamenta a Lei Federal n° 7.802/89, estabelecendo, dentre outras, definições das palavras empregadas na referida norma, bem como a competência dos Ministérios da Agricultura, da 406 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Saúde e do Interior, na aplicação da Lei. Institui o instrumento do Registro do Produto, que deverá ser feito no órgão federal competente, bem como o Registro das pessoas físicas ou jurídicas que prestem serviços na aplicação, ou que produzam, comercializem, importem ou exportem agrotóxicos, que deverá ser feito em órgão estadual competente. Regula a embalagem e rotulagem dos produtos agrotóxicos, bem como a destinação final do produto e da embalagem, armazenamento e transporte dos mesmos. Regula, também, o procedimento do receituário, bem como as sanções administrativas aplicáveis ao descumprimento das normas estabelecidas neste regulamento. Decreto Federal - 3.550/00 Altera os artigos 33, 38, 41, 45, 48, 58 e 72 e acresce os artigos 33-A, 33-B, 33-C, 33-D, 33E, 33-F, 33-G, 33-H, 119-A, 119-B e 119-C ao Decreto Federal 98.816/90. MINERAÇÃO Lei Federal - 7.805/89 Altera o Código de Minas, criando o regime de permissão de lavra garimpeira, isto é, aproveitamento imediato de jazimento mineral, independentemente de prévios trabalhos de pesquisa. Decreto-Lei - 227/67 Institui o Código de Minas. Decreto Federal - 62.934/68 Regulamenta o Código de Minas Decreto Federal - 97-632/89 Regulamenta o artigo 2°, inciso VIII, da Lei Federal n° 6.938/81, obrigando o empreendedor minerário a apresentar, ao órgão ambiental competente, plano de recuperação de área degradada. Decreto Federal - 98.812/90 Regulamenta a Lei 7.805/89. Decreto Federal – 2.350/97 Regulamenta a Lei Federal 9.055/95, limitando a extração, industrialização, utilização, comercialização e transporte de asbesto/amianto à variedade crisotila, sendo que sua importação somente será efetuada após autorização do DNPM. Resolução - 09/90 - CONAMA Estabelece normas para o licenciamento ambiental de extração mineral - classes I, III, IV, V, VI,VII, VIII e IX. Resolução - 10/90 - CONAMA Estabelece normas para o licenciamento ambiental de extração mineral - classe II. 407 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS (Transgênicos) Lei Federal - 8.974/95 Regulamenta os incisos II e V, do parágrafo 1°, do artigo 225, da Constituição Federal. Estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização no uso das técnicas de engenharia genética na construção, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, liberação e descarte de organismo geneticamente modificado (OGM), visando a proteção da vida, da saúde do homem, dos animais e das plantas, bem como o meio ambiente. RECURSOS HÍDRICOS Lei Federal - 9.433/97 Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, que tem por escopo a utilização racional e integrada dos Recursos Hídricos, com vistas ao desenvolvimento sustentável. Cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos integrado pelos Comitês de Bacias Hidrográficas, dentre outros, responsáveis pelo estabelecimento dos mecanismos de cobrança pelo uso dos recursos hídricos. Lei Federal - 9.984/00 Dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Águas - ANA, entidade federal de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras providências. Decreto Federal – 24.643/34 Institui o Código de Águas, estabelecendo definições e regras gerais sobre o uso da água no território nacional. Decreto Federal - 79.367/77 Dispõe sobre o padrão de potabilidade da água. Resolução - 20/86 - CONAMA Dispõe sobre a classificação das águas doces, salobras e salinas, visando assegurar seus usos preponderantes, bem como sobre limites e condições de lançamento para efluentes líquidos. Resolução - 16/01 - Conselho Nacional de Recursos Hídricos Estabelece critérios gerais para a outorga de direito de uso de recursos hídricos. CRIMES AMBIENTAIS Lei Federal - 9.605/98 Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. 408 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Medida Provisória - 2.163-41 Acrescenta dispositivos à Lei 9.605/98. De acordo com essa medida, os órgãos ambientais integrantes do SISNAMA ficam autorizados a celebrar, com força de título executivo extrajudicial, termo de compromisso com pessoas físicas ou jurídicas responsáveis pela construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras. Decreto-Lei - 3.688/41 Dispõe sobre a Lei de Contravenções Penais - artigo 42 (perturbação do trabalho ou do sossego alheio). Decreto Federal – 3.179/99 Dispõe sobre a especificação das sanções aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Decreto Federal - 3.919/01 Acresce o artigo 47-A, ao Decreto n° 3.179/99, estabelecendo multa de R$ 400,00(quatrocentos reais), a quem importar pneu usado ou reformado. Incorre nesta mesma pena quem comercializa, transporta, armazena, guarda ou mantém em depósito pneu usado ou reformado, importado nessas condições. ÓLEOS LUBRIFICANTES Lei Federal - 9.966/00 Dispõe sobre a prevenção, controle e fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição nacional, e dá outras providências. Decreto Federal – 79.437/77 Promulga a Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil em danos causados por poluição resultante de fugas ou descargas de óleo proveniente de navios. Resolução - 09/93 - CONAMA Estabelece que todo óleo lubrificante, usado ou contaminado, será obrigatoriamente recolhido e terá uma destinação adequada, de forma a não afetar negativamente o meio ambiente. ENERGIA ELÉTRICA Medida Provisória - 2152-2/01 Cria e instala a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (CGE), do Conselho do Governo, estabelece diretrizes para programas de enfrentamento da crise de energia elétrica. Medida Provisória é mensalmente reeditada. Resolução - 456/00 - ANEEL Estabelece, de forma atualizada e consolidada, as condições gerais de fornecimento de Energia Elétrica a serem observadas tanto pelas concessionárias e permissionárias quanto pelos consumidores. 409 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Resolução - 279/01 - CONAMA Institui, tendo em vista a crise energética, o licenciamento ambiental simplificado para os empreendimentos energéticos com pequeno potencial de impacto ambiental. TRANSPORTES Decreto-Lei - 2.063/83 Estabelece multas a serem aplicadas por infração à regulamentação para execução do serviço de transporte rodoviário de produtos perigosos, e dá outras providências. Decreto Federal - 88.821/83 Aprova o Regulamento para execução do serviço de transporte rodoviário de cargas ou produtos perigosos, e dá outras providências. Decreto Federal - 92.804/86 Altera o Decreto Federal 88.821/83. Refere-se à conversão de multa em advertência. Decreto Federal - 96.044/88 - O veículo utilizado no transporte de produto perigoso deverá portar rótulos de risco e painéis de segurança específicos, de acordo com as NBR 7500 e 8286. - os veículos deverão portar o conjunto de equipamentos para situações de emergência. - para o transporte de produto perigoso a granel, os veículos deverão estar equipados com tacógrafo, ficando os discos utilizados à disposição dos interessados por três meses. Em caso de acidente, deverão os discos ser mantidos por um ano. - O veículo que transportar produtos perigosos deverá evitar o uso de vias em áreas densamente povoadas ou de proteção de mananciais, reservatórios de água ou reservas florestais e ecológicas. - O condutor do veículo, além dos qualificações e habilitações previstas na legislação de trânsito, deverá receber treinamento específico. - Documentação exigida: I) Certificado de Capacitação para o Transporte de Produtos Perigosos a Granel do veículo e dos equipamentos, expedido pelo INMETRO ou por entidade por ele credenciada; II) Documento fiscal do produto transportado, contendo as seguintes informações: a)número e nome apropriado para embarque, b) classe e, quando for o caso, subclasse à qual o produto pertence, c) declaração assinada pelo expedidor de que o produto está adequadamente acondicionado para suportar os riscos normais de carregamento, descarregamento e transporte, conforme a regulamentação em vigor; III) Ficha de Emergência e Envelope para o Transporte, emitidos pelo expedidor, de acordo com as NBR 7503, 7504 e 8285, preenchidos conforme instruções fornecidas pelo fabricante ou importador do produto transportado, contendo: a) orientação do fabricante do produto quanto ao que deve ser feito e como fazer em caso de emergência, acidente ou avaria, b) telefone de emergência da corporação de bombeiros e dos órgãos de policiamento de trânsito, da defesa civil e do meio ambiente ao longo do itinerário. Resolução - 02/91 - CONAMA Determina que as cargas deterioradas, contaminadas, fora de especificação ou abandonadas serão tratadas como potenciais fontes de risco para o meio ambiente, sendo que o importador, o transportador, o embarcador ou agente que os represente, responderão solidariamente pelas 410 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ações de prevenção, controle, tratamento e disposição final dos resíduos gerados por essas cargas, salvo previsão específica de responsabilidade em contrato. PATRIMÔNIO NATURAL, HISTÓRICO E ARTÍSTICO Decreto-Lei - 25/37 Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. Decreto-Lei - 4.146/42 Dispõe sobre a proteção dos depósitos fossilíferos. Lei Federal- 3.924/61 Dispõe sobre monumentos arqueológicos e pré-históricos. Decreto Federal- 99.556/90 Dispõe sobre a proteção das cavidades naturais subterrâneas existentes no território nacional. PROTEÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO Decreto Federal - 99.280/90 Promulga a Convenção de Viena para a proteção da Camada de Ozônio e do Protocolo de Montreal sobre substâncias que destroem a camada de ozônio. Decreto Federal - 2.679/98 Promulga as Emendas ao Protocolo de Montreal sobre substâncias que destroem a Camada de Ozônio, assinadas em Copenhague, em 25 de novembro de 1992. Decreto Federal - 2.699/98 Promulga a emenda ao Protocolo de Montreal sobre substâncias que destroem a camada de ozônio, assinada em Londres, em 29 de junho de 1990. Resolução - 267/00 - CONAMA Proíbe em todo o território nacional a utilização das substâncias controladas, especificadas nos Anexos A e B (por exemplo: gases CFCs), do Protocolo de Montreal sobre substâncias que destroem a camada de ozônio, e incluídas no Anexo desta Resolução, nos sistemas, equipamentos, instalações e produtos novos, nacionais e importados. MUDANÇAS CLIMÁTICAS Decreto Federal- 2.652/98 Promulga a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima - CQMC que visa mitigar as emissões de gases causadores do efeito estufa. Reconhece a mudança do clima da Terra e que os seus efeitos negativos são uma preocupação comum da humanidade. Decreto Federal - 7/08/99 - Presidencial Cria a Comissão Interministerial de Mudanças Climáticas. 411 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Decreto Federal - 3.515/00 Cria o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA Resolução - 05/89 - CONAMA Institui o Programo Nacional de Controle da Qualidade do Ar (PRONAR), como um dos instrumentos básicos da gestão ambiental paro proteção da saúde e bem estar das populações e melhoria da qualidade de vida, com objetivo de permitir o desenvolvimento econômico do país de forma ambientalmente segura, pela limitação dos níveis de emissão de poluentes por fontes de poluição atmosférica. Define classificação de uso de áreas em: Classe I - Áreas de preservação (qualidade do ar o mais próximo possível do verificado sem a intervenção humana); Classe II - Limitada pelo padrão secundário de qualidade do ar; Classe III qualidade do ar limitado pelo padrão primário. Resolução - 03/90 - CONAMA Estabelece padrões de qualidade do ar para controle de poluentes atmosféricos. Define as classes de qualidade do ar, bem como as quantidades máximas permitidas em cada uma. Resolução - 08/90 - CONAMA Estabelece limites máximos de emissão de poluentes do ar, a nível nacional, para processo de combustão externa em fontes novas fixas de poluição. Resolução - 08/93 - CONAMA Estabelece os limites máximos de emissão de poluentes para os motores destinados a veículos pesados novos, nacionais e importados. Resolução - 18/96 - CONAMA Dispõe sobre a instituição do PROCONVE - Programa de Controle da Poluição do ar por veículos automotores. Resolução - 251/99 - CONAMA Dispõe sobre limites máximos de emissão de veículos automotores do ciclo Diesel. POLUIÇÃO SONORA Resolução - 01/90 - CONAMA Dispõe sobre a emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais e residenciais. Resolução - 02/90 - CONAMA Institui, em caráter nacional, o Programa Silêncio, visando controlar o ruído excessivo que possa interferir na saúde e bem-estar da população. 412 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Resolução - 01/93 - CONAMA Estabelece limites máximos de ruído com veículos em aceleração e na condição parado, para os veículos automotores nacionais e importados, exceto motocicletas, motonetas, ciclomotores, bicicletas com motor auxiliar e veículos assemelhados. Resolução - 02/93 - CONAMA Estabelece limites máximos de ruído com veículos em aceleração e na condição parado, para motocicletas, motonetas, triciclos, ciclomotores, bicicletas com motor auxiliar e veículos assemelhados, nacionais ou importados. AMIANTO Lei Federal - 9.055/95 Disciplina a extração, industrialização, utilização, comercialização e transporte de asbesto/amianto e dos produtos que o contenham, bem como das fibras naturais e artificiais, de qualquer origem, utilizadas para o mesmo fim. Resolução - 07/87 - CONAMA Estabelece normas para regulamentação do uso do amianto (asbesto), obrigando os fabricantes a imprimir em cada peça dos mesmos, os seguintes dizeres, em características bem visíveis: "Cuidado! Este produto contém fibras de amianto. Evite a geração de poeira. Respirar poeira de amianto pode prejudicar gravemente a saúde. O perigo é maior para os fumantes". Resolução - 19/96 - CONAMA Define procedimentos operacionais para implicação da impressão sobre as peças que contém amianto (asbestos). NUCLEAR Lei Federal - 4.118/62 Dispõe sobre a Política Nacional de Energia Nuclear e sobre a criação da Comissão Nacional da Energia Nuclear (CNEN) Lei Federal - 6.453/77 Dispõe sobre a responsabilidade civil por danos nucleares e a responsabilidade criminal por atos relacionados com atividades nucleares. Decreto-Lei – 1.810/80 Dispõe sobre a construção de usinas nucleoelétricas. Lei Federa! - 9.765/98 Institui a taxa de licenciamento, controle e fiscalização - TLC de materiais nucleares e radioativos e suas instalações. Constitui fato gerador da TLC o exercício do poder de polícia legalmente atribuído à CNEN sobre as atividades relacionadas à posse, ao uso ou à guarda de material radioativo ou nuclear. 413 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN TAKE BACK Resolução - 257/99 - CONAMA Institui o take back de pilhas e baterias. Resolução - 258/99 - CONAMA Institui o take back de pneus. Resolução - 263/99 - CONAMA Inclui o inciso IV ao artigo 6°, da Resolução CONAMA nº 257/99. 414 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ANEXO G CASOS CONCRETOS DE RESPONSABILIZAÇÃO EMPRESARIAL POR DANO AO MEIO AMBIENTE A 3ª Turma do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região confirmou decisão de primeiro grau que condenou a Scala Têxtil - Indústria, Comércio e Representação a pagar em 2004, R$ 38.907,50 (Trinta e oito mil novecentos e sete reais e cinqüenta centavos) a título de indenização por danos ao patrimônio ecológico. A empresa recorreu ao tribunal após ter sido condenada pela Justiça Federal de Joinville (SC) por lançar efluentes líquidos industriais in natura ou sem tratamento adequado no rio Jaguarão, que integra o complexo hídrico da Baía da Babitonga. O Ministério Público Federal (MPF) ingressou com uma ação civil pública contra a Scala Têxtil e a Fundação do Meio Ambiente (Fatma) de Santa Catarina. A sentença de primeiro grau proferida pela então juíza substituta da 2ª Vara Federal do município catarinense, Erika Giovanini Reupke, condenou a empresa pelo lançamento dos efluentes e por ter operado sem licença ambiental. A sentença fixou ainda prazo de quatro meses para que a Scala Têxtil obtivesse o licenciamento junto à fundação, sob pena de não poder funcionar. A magistrada Erika Giovanini Reupke, também ordenou que a Fatma fiscalizasse a empresa a cada dois meses, durante dois anos, e fixou multa de R$ 1 mil por dia em caso de descumprimento. Para a magistrada, como órgão ambiental fiscalizador, "a Fatma foi responsável, ainda que indiretamente, pela degradação da qualidade ambiental, já que não adotou as medidas administrativas necessárias". Para a juíza, a aplicação das penalidades de advertência e multa não foram suficientes para reprimir o dano ao meio ambiente, pois a empresa continuou a lançar no rio efluentes sem tratamento, apesar de possuir uma precária estação de tratamento de esgotos (ETE). Conforme a juiza Erika Giovanini Reupke, a Fatma deveria não apenas aplicar a segunda ou a terceira multa, mas sim suspender as atividades da empresa. Em relação ao valor fixado na sentença a título de indenização, o MPF afirmou que foram observados critérios razoáveis que estão de acordo com a capacidade financeira da empresa e com as medidas que deverão ser tomadas para que cesse a atividade danosa ao meio ambiente. Conforme a sentença da Justiça Federal de Joinville, a indenização será revertida em favor de obras de proteção à natureza, especialmente voltadas para a proteção 415 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN dos recursos hídricos da região.SIQUEIRA FILHO, É. W. de. Infrações Penais Ao Meio Ambiente. Site: http://www.infojus.com.br, Acessado em: 10/06/2007. Em outra ocasião, recentemente, a Justiça de Minas Gerais confirmou a condenação em primeira instância de 14 pessoas por dano ambiental na cidade de Belo Horizonte/MG. A decisão foi da Sétima Câmara Cível que ordenou ainda que a área seja restaurada no prazo máximo de um ano. Em caso de descumprimento da decisão judicial, os condenados terão que pagar uma multa diária no valor de R$ 5 mil. Eles também foram obrigados a costear uma indenização referente aos danos irreparáveis causados ao ambiente, que será definida após uma perícia. A ação civil pública acatada pelo juiz foi impetrada pelo Ministério Público contra 14 pessoas. Segundo o Ministério Público, eles causaram danos ao meio ambiente através do desenvolvimento inadequado de atividade mineradora para extração de quartzito, na fazenda Engenho, na zona rural de Cambuquira/MG. Outro caso de repercussão nacional ocorreu com a multinacional americana Cargill, que foi condenada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região a realizar Estudos de Impacto Ambiental (EIA) para o porto graneleiro instalado ilegalmente às margens do rio Tapajós, em Santarém, no Pará em 2003. O Greenpeace elogiou a decisão da Justiça de Santarém - que, além de determinar a realização do estudo, também condenou a Cargill e o estado do Pará, responsável pelo licenciamento do porto, a recuperar qualquer dano ambiental que for comprovado na área. De acordo com o procurador-chefe do MPF no Pará, Ubiratan Cazetta, os Estudos de Impacto Ambiental podem ou não levar ao fechamento do porto em Santarém http://www.terravista.pt/ilhadomel/3715. Acessado em: 13/06/2007. Em novembro de 2003, as instalações da Cargill já estavam operando. Na mesma época, a liminar utilizada como base legal para a construção do terminal no porto de Santarém foi suspensa. Uma audiência pública com cerca de 30 ONGs locais incentivaram o Procurador da República a usar uma ferramenta legal chamada Ação de Atentado contra a multinacional americana: já que a Cargill não realizou os estudos de impacto como deveria e o porto já estava construído, a solução seria demolir as instalações da empresa. As operações da empresa no local foram paralisadas e iniciou-se nova batalla judicial. No início de 2004, a Cargill conseguiu nova liminar para voltar a funcionar em Santarém, ate que o mérito da ação do MP fosse analisado. A decisão, assinada pelo desembargador federal Aloisio Palmeira Lima, foi publicada no Diário da Justiça no dia 03 de fevereiro. Embora a Cargill ainda possa recorrer da decisão 416 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ao Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal, os recursos não têm efeito suspensivo e, por isso, os estudos devem se iniciar imediatamente. Outra decisão recente e inédita da Justiça Federal do estado vizinho de Pernambuco condenou responsáveis por Loteamento Marina do Aquirá, em Ipojuca, a pagar R$ 10 milhões por danos morais gerados com a degradação de manguezais. A juíza Roberta Walmsley, da 12ª Vara Federal em Pernambuco, acatou os pedidos do IBAMA- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e o Ministério Público feitos na ação civil pública contra a Empresa Conicil - Construção Industrial e Civil Ltda. O loteamento invadiu manguezais na praia de Toquinho. Entre 1990 e 2000, o Ibama autuou e embargou a obra por dez vezes. Em janeiro de 2005, ao lado do Ministério Público e de outras entidades, o instituto entrou com ação civil pública contra os infratores responsáveis pelo corte e aterro de manguezais e construção em local não edificante, atingindo área de preservação permanente de preamar.A decisão judicial é inédita no Estado e tem um caráter inovador. Para o gerente executivo do IBAMA naquele estado, a decisão indica ainda uma tendência de conscientização do Poder Judiciário da necessidade de inibir a prática de ações degradadoras ao meio ambiente em face dos interesses da coletividade. A procuradora-chefe da Divisão Jurídica da gerência do IBAMA, Carine Delgado, ressalta que nunca se aplicou um valor tão alto de condenação para uma infração ambiental em Pernambuco. A decisão também é inovadora ao enquadrar os infratores por dano moral ambiental. "É mais do que prejuízo material. A conduta foi moralmente reprovada por gerar danos a gerações presente e futura", explicou. Os valores referentes à indenização por danos morais ambientais serão depositados no Fundo Nacional do Meio Ambiente para aplicação exclusiva em ações de recuperação e preservação ambiental. A Justiça também impede os infratores de realizar ou continuar qualquer obra no pontal artificialmente criado na praia de Toquinho e na área de canais abertos na parte interna do estuário dos Rios Aquirá e Sirinhaém. SIQUEIRA FILHO, É. W. de. Infrações Penais Ao Meio Ambiente. Site: http://www.infojus.com.br, Acessado em: 15/06/2007. Não poderíamos também nos furtar de trazer para a nossa discussão um outro lamentável exemplo ocorrido recentemente aqui no Brasil. No dia 29 de março de 2003, com o rompimento de uma barragem de rejeitos da Empresa Cataguases Papel Ltda, localizada em Minas Gerais, foram despejados mais de 1,2 417 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN bilhões de litros de dejetos químicos, incluindo substâncias com residuos de soda cáustica, chumbo, enxofre, lignina, sulfeto de sódio, entre outros, nos rios Pomba e Paraíba do Sul. Tal evento trouxe, além dos danos ambientais, inúmeros prejuízos às cidades vizinhas, as quais tiveram, inclusive, interrupção no fornecimento de água. Além das cidades mineiras, muitas cidades fluminenses foram atingidas, tais como, São Fidélis, Miracema, Santo Antônio de Pádua, Campos, Aperibé, Cambuci e Itaocara. A poluição foi tão impressionante que ao chegar ao mar o fluxo de poluentes pôde ser visto a quilômetros de distância na forma de uma grande mancha escura, atrás dela um rastro de destruição e morte. As comunidades que tiravam seu sustento de atividades ligadas, direta ou indiretamente, à boa qualidade das águas dos rios Pomba e Paraíba do Sul, foram profundamente prejudicadas, tendo em vista que a contaminação das águas ocasionou a morte de peixes, de gado e, principalmente, a interrupção temporária do fornecimento de água, a qual não pôde ser utilizada sequer para a irrigação das lavouras. A Polícia Federal de Campos abriu inquérito para apuração das responsabilidades pelo crime ambiental cometido, tendo sido, posteriormente, decretada a prisão preventiva dos empresários envolvidos, pelo juiz da 1ª Vara Federal de Campos. Vale dizer, neste particular, que apesar da gravidade do desastre ambiental, a prisão não deverá se sustentar por muito tempo neste caso, posto que na Lei 9.605/98 prevalece a tendência de aplicação das penas alternativas, em substituição às privativas de liberdade. De acordo com o art. 7º da Lei 6.905/98, as penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade. Elencadas em seus dois incisos encontramos as hipóteses de aplicabilidade da substituição da pena, ou seja, nos casos de crime culposo quando a pena aplicada for inferior a 4 anos, e quando a culpabilidade, os antecedentes e a conduta do condenado o justifiquem. Vale dizer, que raros são os casos em que as penas, para efeito de crime ambiental, superam 4 anos. Os brasileiros têm essa cultura da punição pela privação de liberdade. A impunidade não pode ser permitida de forma alguma, mas a pena privativa deve ser reservada para as hipóteses em que a liberdade do indivíduo represente perigo à sociedade. Para crimes como este, bem melhor se aplica uma pena patrimonial, ferindo este tipo de indivíduo no que ele mais preza, neste caso, seus bens econômicos. Outro aspecto que merece ser mencionado é que o tratamento da questão não foi feito de forma adequada no início, e a falta de entendimento entre os administradores dos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro gerou alguns equívocos na aplicação das penalidades administrativas como, por exemplo, a lavratura da multa de 50 milhões pelo Batalhão 418 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Florestal da polícia Militar do Rio de Janeiro. A competência no caso é a do local do dano, assim sendo são competentes para aplicação da multa administrativa, apenas as autoridades mineiras e o IBAMA. No dia 1º de abril a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que a prioridade do governo seria de conter a contaminação dos rios e evitar maiores danos. E concluiu, “o acidente é grave e as responsabilidades serão apuradas e punidas". As responsabilidades administrativas e penais vêm sendo apuradas, no tocante à responsabilidade civil. No entanto, observamos que ainda que a Empresa Cataguases Papel Ltda possa ser condenada a prestar indenização em dinheiro ou a cumprir obrigação de fazer ou não fazer, conforme dispõe o art. 3º da lei 7.347/1985 (Ação Civil Pública), talvez não seja possível obter o ressarcimento civil dos danos, neste caso, posto que, conforme informações do diretor administrativo da própria indústria, só a multa administrativa de R$ 50 milhões já supera em dez vezes o valor do ativo da empresa. Vale lembrar, por derradeiro, que a lei determina que nos casos em que a pessoa jurídica não for capaz de ressarcir a todos os prejuízos causados às pessoas e à qualidade do meio ambiente, se aplique à despersonalização da pessoa jurídica para a efetivação', no que for possível, da indenização devida. A Lei de Crimes Ambientais deve punir com rigor as pessoas jurídicas e, se suas disposições- forem efetivamente aplicadas, a Empresa Cataguases de Papel LTDA terá, no final, suas atividades suspensas e seus ativos devidamente liquidados. SIQUEIRA FILHO, É. W. de. Infrações Penais Ao Meio Ambiente. Site: http://www.infojus.com.br, Acessado em: 16/06/2007. Por fim, citamos o maior acidente nuclear ocorrido no Brasil e por muitos considerado o maior do mundo. Não se deu em uma usina de geração nucleoelétrica, mas, sim, em um ferro-velho, em Goiânia. Dois catadores de papel e de sucata — Roberto da Silva e Wagner Motta — conseguiram desmontar uma parte de um aparelho de radioterapia, espaldando pequenas quantidades do Césio 137 entre amigos, vizinhos e clientes, como Devair Alves Ferreira, que comprou dos dois o núcleo do aparelho, de onde saía uma luz intensa e azul, que passou a atrair diversas pessoas ao ferro-velho. Era o césio. Em menos de 15 dias, várias pessoas começaram a procurar os hospitais da cidade com sintomas de tonteira e náusea, além de queimaduras no corpo. A peça foi removida do ferro-velho para o prédio da Vigilância Sanitária, na capital goiana, onde, no dia 29 de setembro, o físico Walter Mendes Ferreira, com o auxílio de um dosímetro, comprovaria o elevado grau de contaminação radioativa no local. 419 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN Milhares de pessoas foram submetidas a exames para comprovar ou não a contaminação pelo césio, sendo que cerca de 500 delas foram oficialmente consideradas vítimas dele. Desse extenso grupo, 60 foram classificadas entre as de maior grau de contaminação. Dias depois, quatro pessoas morreram vítimas do contato com o césio, entre elas, a menina Leide das Neves Ferreira, de seis anos, filha de Devair, que comprou o núcleo do aparelho de radioterapia dos dois catadores do ferro-velho. A menina havia comido um ovo cozido, com as mãos sujas de Césio 137. Sua mãe, que ganhou um colar do marido feito do material radioativo, também morreria. Cerca de trinta pessoas ainda vivem, em Goiânia, com seqüelas da contaminação radioativa e muitos dos que mantiveram contato com o material sofreram amputações nos membros superiores. O material contaminado foi enterrado em um depósito construído especialmente para esse fim, em local distante 25 quilômetros da capital de Goiás e que hoje abriga um parque ecológico. http://www.terravista.pt/ilhadomel/3715. Acessado em: 16/06/2006. 420 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ANEXO H DIVISÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA E REGIONAL Apresentamos, a seguir, a classificação municipal segundo as Zonas e Subzonas Homogêneas assim como a divisão territorial do IBGE com indicação das Mesorregiões e Microrregiões, visando proporcionar ao usuário do documento o agrupamento das informações segundo o zoneamento desejado, sem comprometer a comparabilidade estatística da série histórica. MESORREGIÕES E MICRORREGIÕES – IBGE 1 - Oeste Potiguar - Mossoró Areia Branca Baraúna Grossos Mossoró Serra do Mel Tibau - Serra de São Miguel Água Nova Coronel João Pessoa Doutor Severiano Encanto Luís Gomes Major Sales Riacho de Santana São Miguel Venha Ver - Chapada do Apodi Apodi Caraúbas Felipe Guerra Governador Dix-Sept Rosado - Pau dos Ferros Alexandria Francisco Dantas Itaú José da Penha Marcelino Vieira Paraná Pau dos Ferros Pilões Portalegre Rafael Fernandes Riacho da Cruz Rodolfo Fernandes São Francisco do Oeste Severiano Melo Taboleiro Grande Tenente Ananias Viçosa 421 - Médio Oeste Campo Grande (Augusto Severo) Janduís Messias Targino Paraú Triunfo Potiguar Upanema - Umarizal Almino Afonso Antônio Martins Frutuoso Gomes João Dias Lucrécia Martins Olho D'Água do Borges Patu Rafael Godeiro Serrinha dos Pintos Umarizal - Vale do Açu Açu Alto do Rodrigues Carnaubais Ipanguaçu Itajá Jucurutu Pendências Porto do Mangue São Rafael Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 2 - Central Potiguar - Macau - Angicos Afonso Bezerra Angicos Caiçara do Rio do Vento Fernando Pedroza Jardim de Angicos Lajes Pedra Preta Pedro Avelino Caiçara do Norte Galinhos Guamaré Macau São Bento do Norte - Seridó Ocidental Caicó Ipueira Jardim de Piranhas São Fernando São João do Sabugi Serra Negra do Norte Timbaúba dos Batistas - Serra de Santana Bodó Cerro Corá Florânia Lagoa Nova Santana do Matos São Vicente Tenente Laurentino Cruz - Seridó Oriental Acari Carnaúba dos Dantas Cruzeta Currais Novos Equador Jardim do Seridó Ouro Branco Parelhas Santana do Seridó São José do Seridó 3 -Agreste Potiguar - Baixa Verde Bento Fernandes Jandaíra João Câmara Parazinho Poço Branco - Borborema Potiguar Barcelona Campo Redondo Coronel Ezequiel Jaçanã Japi Lagoa de Velhos Lajes Pintadas Monte das Gameleiras Ruy Barbosa Santa Cruz São Bento do Trairi São José do Campestre São Tomé Serra de São Bento Sítio Novo Tangará 422 - Agreste Potiguar Boa Saúde (Januário Cicco) Bom Jesus Brejinho Ielmo Marinho Jundiá Lagoa d'Anta Lagoa de Pedras Lagoa Salgada Monte Alegre Nova Cruz Passa e Fica Passagem Riachuelo Santa Maria Santo Antônio São Paulo do Potengi São Pedro Senador Elói de Souza Serra Caiada (Presidente Juscelino) Serrinha Várzea Vera Cruz Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN 4 - Leste Potiguar - Litoral Nordeste - Macaíba - Natal - Litoral Sul Arês Baía Formosa Maxaranguape Canguaretama Pedra Grande Ceará-Mirim Espírito Santo Pureza Macaíba Extremoz Goianinha Rio do Fogo Nísia Floresta Natal Montanhas São Miguel do Gostoso São Gonçalo do Amarante Parnamirim Pedro Velho Taipu São José de Mipibu Senador Georgino Avelino Touros Tibau do Sul Vila Flor 423 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ANEXO I MAPA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE DIVISÃO SEGUNDO AS MICRORREGIÕES-IBGE 424 Gestão Ambiental e Responsabilidade Social das Empresas Aspectos: Ambiental, Cultural, Econômico e Social da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – Brasil/RN ANEXO J MAPA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE DIVISÃO SEGUNDO AS MESORREGIÕES – IBGE 425