UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA Faculdade de Arquitectura e Artes Mestrado Integrado em Arquitectura A figura cúbica Realizado por: Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira Orientado por: Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha Constituição do Júri: Presidente: Orientador: Arguente: Prof. Doutor Horácio Manuel Pereira Bonifácio Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha Prof. Doutor Arqt. Fernando Manuel Domingues Hipólito Dissertação aprovada em: 27 de Janeiro de 2015 Lisboa 2014 U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A Faculdade de Arquitectura e Artes Mestrado Integrado em Arquitectura A figura cúbica Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira Lisboa Dezembro 2014 U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A Faculdade de Arquitectura e Artes Mestrado Integrado em Arquitectura A figura cúbica Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira Lisboa Dezembro 2014 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira A figura cúbica Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa para a obtenção do grau de Mestre em Arquitectura. Orientador: Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha Lisboa Dezembro 2014 Ficha Técnica Autor Orientador Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha Título A figura cúbica Local Lisboa Ano 2014 Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação FERREIRA, Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera, 1989A figura cúbica / Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira ; orientado por Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha. - Lisboa : [s.n.], 2014. - Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa. I - BRAIZINHA, Joaquim José Ferrão de Oliveira, 1944LCSH 1. Movimento Moderno (Arquitectura) 2. Cubo 3. Unity Temple (Illinois, Estados Unidos) 4. Casa Turégano (Madrid, Espanha) 5. Casa IV (Connecticut, Estados Unidos) 6. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses 7. Teses - Portugal - Lisboa 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Modern movement (Architecture) Cube Unity Temple (Illinois, United States) Turégano House (Madrid, Spain) House IV (Connecticut, United States) Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations Dissertations, Academic - Portugal - Lisbon LCC 1. NA682.M63 F47 2014 À minha avó, Maria Isabel Martins Afra Paes de Carvalho, que me acompanhou durante cinco anos de curso e não teve oportunidade de ver a neta mais velha a concluir o mestrado. Ao meu irmão, que me salvou sempre nos momentos mais aflitivos. Aos meus pais, que mesmo à distância, nunca deixaram de estar presentes, física e telefonicamente. AGRADECIMENTOS Ao Professor Doutor Arquitecto Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha, por ter aceite a orientar esta dissertação, pelos constantes conhecimentos partilhados, pela orientação e apoio e acima de tudo pela disponibilidade e incentivo demonstrados em todas as reuniões. Ao Mestre Arquitecto João Miguel Ferreira Couto Duarte, professor “de sempre”, pela disponibilidade e presença desde o principio. Aos meus pais, pelo apoio incondicional e por terem permitido me formasse no ser humano que sou hoje. Em especial ao meu pai que me dedicou horas sem fim sem contestar. Aos meus irmãos e à minha grande família, que sempre acreditou em mim e me deu a motivação indispensável a continuar. Aos meus avós de Lisboa, que pacientemente me aturaram depois de noites sem dormir. À família Silva Pinto, pelo acompanhamento e apoio incondicional. Aos meus amigos, pela amizade curiosa e paciente, principalmente nesta fase final. Às minhas três colegas e amigas, A. M. e S., que me acompanham e me fortalecem desde o primeiro ano. À Madalena, pela garra e força que me transmitiu mesmo à distância. A Ti, por me acompanhares durante todos estes anos e me ajudares sempre a não desistir e a querer chegar mais longe. APRESENTAÇÃO A Figura Cúbica Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira A utilização da figura cúbica ganha, com o passar do tempo, uma utilização notória depois da Segunda Grande Guerra com o Movimento Moderno e as suas vanguardas; o De Stijl e o Estilo Internacional. Assim, a presente dissertação desenvolve-se a partir de uma contextualização a nível de pensamento, abordando Juan de Herrera e Platão como base, passando para a prática da figura cúbica na arquitectura tanto a nível temporal como cronológico – desde a Ka’aba à Caja General de Ahorros de Granada – na escolha de projectos destacados pelo evidente uso da figura cúbica. De modo a ilustrar diferentes tipos de pensamento e de aplicação da figura cúbica são apresentadas três obras distintas, consideradas através dos diferentes conceitos; Unity Temple, que se caracteriza pela adição de duas figuras cúbicas; Turégano House, que se apresenta como uma figura cúbica única e singular e a House IV, que mantém o pensamento de figura cúbica até esta ser descontruída. A presente dissertação pretende reunir as principais referências na aplicação da figura cúbica como prática na arquitectura. Palavras-chave: Arquitectura, figura cúbica, modernismo. PRESENTATION Cubic Figure Maria Isabel Paes de Carvalho Rievera Ferreira The use of the cubic figure gains, over time, a notorious use after the Second World War with the Modern Movement and its vanguard; De Stijl and The International Style. Thus, this thesis develops from a background level of thought, addressing Juan de Herrera and Platão as a starting point, to the practice of the cubic figure in architecture both temporally as chronological - since the Ka'aba to Caja General de Ahorros de Granada - in the choice of projects highlighted by the apparent use of the cubic figure. In order to illustrate different types of thoughts and application of the cubic figure, are shown three different works, considered through the different concepts; Unity Temple, characterized by adding two cubic figures; Turégano House, which presents itself as a unique and singular cubic figure and the House IV, which keeps the thought of cubic figure until it is distroyed. This thesis aims to bring together the main references in the application of cubic figure as practice in architecture. Palavras-chave: Architecture, cubic figure, modernism. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1 – Sólidos Platónicos ................................................................................ 24 Ilustração 2 - Sólidos platónicos que compõem o universo. John Kepler. (Cruz Pinto, 2007, p. 72) ................................................................................................................ 25 Ilustração 3 - Relações geométrico-simbólicas entre o cubo, a cruz e o quadrado. Omraam Aïvanhov. (Cruz Pinto, 2007, p. 83).............................................................. 27 Ilustração 4 - Esboços sobre o Discurso da Figura Cúbica. Juan de Herrera (Herrera, 1976, p.68, 71 e 72) .................................................................................................... 28 Ilustração 5 - Plantas, cortes e alçados. Casa Müller, Praga, 1930. Arq. Adolf Loos (Cruz Pinto, 2007, p. 182) ........................................................................................... 32 Ilustração 6 - Esquema conceptual da Casa Müller, Praga, 1930. Arq. Adolf Loos (Cruz Pinto, 2007, p.182) ..................................................................................................... 33 Ilustração 7 - Schröder House, Gerrit Th. Rietveld, Utrecht, 1924 (Gympel, 2001, p. 88) ................................................................................................................................... 35 Ilustração 8 - Vista da area de jantar e de convívio, primeiro piso. Schroder House. Arq. Gerrit Rietveld (Gympel, 2001, p. 88) .................................................................. 36 Ilustração 9 - Fallingwater, House for Edgar J. Kaufmann, Bear Run, Pennsylvania, 1935-1939 (Pfeiffer, 2007, p. 119) .............................................................................. 39 Ilustração 10 - Kaabah, Mesquita de Meca (Cruz Pinto, 2007, p. 117) ........................ 41 Ilustração 11 - Guaranty Building, Louis Sullivan and Dankmar Adler, 1894, New York. (Curtis, 1996, p. 48) .................................................................................................... 42 Ilustração 12 - Guaranty Building, Louis Sullivan and Dankmar Adler, 1894, New York. (Curtis, 1996, p. 49) .................................................................................................... 42 Ilustração 13 - Casa Fascio, Giuseppe Terragni, 1932 (Curtis, 1996, p. 365) ............. 44 Ilustração 14 - Casa Fascio, Giuseppe Terragni, 1932 (Curtis, 1996, p. 364) ............. 44 Ilustração 15 - Pallazo della Civilità Italiana, Giovanni Guerrini, 1937. (Curtis, 1996, p. 361) ............................................................................................................................ 45 Ilustração 16 - Tomb Brion, Carlo Scarpa, 1969. (Anderson, 2014) ............................ 47 Ilustração 17 - Tomb Brion, Carlo Scarpa, 1969. (Anderson, 2014) ............................ 47 Ilustração 18 - Dickes House, Rob Krier, 1970 (Tumblr, 2014) ................................... 48 Ilustração 19 - Portland Building, Michael Graves, 1980. (Curtis, 1996, p.620) ........... 50 Ilustração 20 - Alberto Campo Baeza, Caja General de Ahorros de Granada, 2001, Granada. Esquisso. (Pizza, 1999, p. 23) ..................................................................... 51 Ilustração 21 - Alberto Campo Baeza, Caja General de Ahorros de Granada, 2001. (Coelho, 2014) ............................................................................................................ 51 Ilustração 22 - Frank Lloyd Wright, 1957 (Tietz, 2000, p. 16) ...................................... 54 Ilustração 23 - Casa W.H. Winslow, River Forest, Illinois; Frank Lloyd Wright, 1893 “Fachada principal” (Zevi, 1985, p. 27) ....................................................................... 56 Ilustração 24 - Casa W.H. Winslow, River Forest, Illinois; Frank Lloyd Wright, 1893. “Cavalariças e laboratório” (Zevi, 1985, p. 26) ............................................................ 56 Ilustração 25 - “O cenário natural e a arquitectura. Vista da Cascata”. Casa da Cascata, Frank Lloyd Wright, 1936 (Zevi, 1985, p. 152) ............................................. 58 Ilustração 26 - Vista dos terraços salientes. Casa da Cascata, Frank Lloyd Wright, 1936 (Zevi, 1985, p. 154) ............................................................................................ 58 Ilustração 27 - Pormenor da fachada, “janela de metal na tessitura da pedra”. Casa da Cascata, Frank Lloyd Wright, 1936 (Zevi, 1985, p. 155) ............................................. 58 Ilustração 28 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1906. Pormenor da entrada aos dois volumes (Zevi, 1985, p. 73)......................................................................................... 61 Ilustração 29 - Unity Temple, Frank Llouyd Wright, 1906. Fachada principal (Zevi, 1985, p. 73) ................................................................................................................ 62 Ilustração 30 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1905. Planta do piso 0 (Pfeiffer, 2007, p. 64) ................................................................................................................ 63 Ilustração 31 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1905. Planta do piso 1 (Pfeiffer, 2007, p. 64) ................................................................................................................ 63 Ilustração 32 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1905. Secção longitudinal e pormenor da cobertura (Zevi, 1985, p. 74) .................................................................. 64 Ilustração 33 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1905 (Fernandéz-Galiano, 1995, p. 46) .............................................................................................................................. 65 Ilustração 34 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1905. Vista do interior do templo (Fernandéz-Galiano, 1995, p. 47) ............................................................................... 66 Ilustração 35 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1905. Pormenor da materialidade da fachada. (Fernandéz-Galiano, 1995, p. 50)................................................................. 67 Ilustração 36 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1905. Pormenor da materialidade da fachada. (Fernandéz-Galiano, 1995, p. 51)................................................................. 68 Ilustração 37 - Alberto Campo Baeza. (Campo Baeza, 2014) ..................................... 69 Ilustração 38 - Javier Carvajal with R. Garcia de Castro, The School of Alts Estudis Mercantils, Barcelona, 1954-1961 (Pizza, 1999, p. 8) ................................................. 71 Ilustração 39 - Francisco Javier Sáenz de Oíza, Torres Blancas, Madrid, 1961-1968. (Pizza, 1999, p.9)........................................................................................................ 71 Ilustração 40 - Alejandro de la Sota, Gabierno Civil, Tarragona, 1954-1957 (Pizza, 1999, p.11) ................................................................................................................. 71 Ilustração 41 - Julio Cano Lasso and Alberto Campo Baeza, Professional training Center, Salamanca, 1975 (Pizza, 1999, p. 11) ............................................................ 71 Ilustração 42 - Alberto Campo Baeza, Nursery School, Aspe, Alicante, 1982 (Pizza, 1999, p.13) ................................................................................................................. 73 Ilustração 43 - Alberto Campo Baeza, Caja General de Ahorros, Granada, 1996-1999 (Pizza, 1999, p. 22) ..................................................................................................... 74 Ilustração 44 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, (Pizza, 1999, p. 72) ............... 76 Ilustração 45 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. Esquisso. (Pizza, 1999, p. 72) .................................................................................... 77 Ilustração 46 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. Esquisso (Pizza, 1999, p. 77) ..................................................................................... 77 Ilustração 47 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. Plantas (Sendim, 1989, p.94) .................................................................................................. 78 Ilustração 48 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. Interior. (Sendim, 1989, p. 98) ................................................................................................. 79 Ilustração 49 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. Interior. (Sendim, 1989, p. 99) ................................................................................................. 80 Ilustração 50 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. Interior. (Sendim, 1989, p. 96) ................................................................................................. 81 Ilustração 51 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. (Pizza, 1999, p. 73.................................................................................................................. 82 Ilustração 52 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. (Sendim, 1989, p. 97) ................................................................................................. 82 Ilustração 53 - Peter Eisenman (Gazey [et al.], 2013, p. 128) ..................................... 83 Ilustração 54 - Parc de la Villete, Bernard Tschumi, 1982 (Kroll, 2011) ....................... 84 Ilustração 55 - Wexner Center for the Arts, Peter Eisenman, 1989 (Langdon, 2014) .. 84 Ilustração 56 - Greater Columbus Convention Center, Peter Eisenman, Ohio, 19891993 (Gazey [et al.], 2013, p. 128) .............................................................................. 86 Ilustração 57 - Memorial to the Murdered Jews of Europe, Peter Eisenman, Berlim, 2004-2005 (Google ink.) ............................................................................................. 86 Ilustração 58 - X Houses, Peter Eisenman, 1960 (Eiseinman, 1975) .......................... 88 Ilustração 59 - House IV, Peter Eisenman, 1960. (Eisenman, s.d.) ............................ 90 Ilustração 60 - House IV, Peter Eisenman, 1960. (Eisenman, s.d.) ............................ 90 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS MoMA - Museum of Modern Art FBM - Finibus Bonorum et Malorum AAAUL - Associação de Antigos Alunos da Universidade Lusíada ACRL - Association of College and Research Libraries ALA - Americain Library Association APA - American Psychological Association CMS - Course Management System CSS - Cascading Style Sheets ECLAS - European Commission Library Catalogue ECTS - European Credit Transfer and Accumulation System ERIC - Education Resources Information Center OCDE - Organisation de Coopération et de Développement Économiques LCSH - Library of Congress Subject Headings SUMÁRIO 1. Introdução .............................................................................................................. 21 2. Enquadramento da figura cúbica ............................................................................ 23 2.1. Génese do pensamento cúbico ....................................................................... 23 2.2. Evolução da figura cúbica................................................................................ 28 2.3. A figura cúbica na arquitectura ........................................................................ 40 3. Interpretação de obras de referência ...................................................................... 53 3.1. Frank Lloyd Wright e The Unity Temple........................................................... 54 Unity Temple ................................................................................................... 59 3.2. Alberto Campos Baeza e a Turégano House................................................... 69 Turégano House ............................................................................................. 75 3.3. Peter Eisenman e a House IV ......................................................................... 83 House IV ......................................................................................................... 87 4. Considerações finais .............................................................................................. 91 Referências ................................................................................................................ 93 Bibliografia .................................................................................................................. 99 A figura cúbica 1. INTRODUÇÃO O tema escolhido para investigação, que resultou na presente dissertação, surgiu na sequência do trabalho desenvolvido na unidade curricular de Projecto, no último ano do curso de arquitectura ao abrigo do programa Erasmus, no Politécnico de Milão – Campus Leonardo – cuja proposta envolveu a projecção de uma Escola de Dança e Música, com o seu respectivo programa. Bastante comum na prática da arquitectura, o objectivo foi criar uma forma que falasse por si só e que se relacionasse não só com o meio onde estava inserida mas também que estivesse “agarrado” ao próprio sítio. A forma escolhida foi a figura cúbica que, com as necessárias rotações e deslocações, é representada no lugar quase como assente num vértice enterrado. Assim, a presente investigação procura abordar as questões pertinentes ao entendimento da prática da figura cúbica na arquitectura. Numa primeira parte, um breve enquadramento histórico que tem como objectivo contextualizar a figura cúbica desde a génese da sua concepção, tendo, com base, o pensamento de Platão e de Juan de Herrera. No subcapítulo seguinte, é feita uma abordagem a uma evolução da figura cúbica localizando-a temporalmente na arquitectura, onde serão destacados: o Movimento Moderno e as vanguardas; De Stijl e o Estilo Internacional. Aqui, destacaremos figuras marcantes para a evolução formal - após a Segunda Guerra Mundial – nomeadamente, Adolf Loos, Guerrit Rietveld e Frank Lloyd Wright. O final do capítulo, pretende fazer, cronologicamente, um “apanhado” da prática da figura cúbica na arquitectura, destacando projectos em que a figura cúbica seja evidente e utilizada de diferentes maneiras. No terceiro e último capítulo as três obras analisadas são o reflexo da aplicação da figura cúbica trabalhada de forma distinta. Destacou-se o Unity Temple, que consiste na união de duas figuras cúbicas, num programa que consiste num templo e numa casa de apoio a actividades paroquiais; a Turégano House, que se resume a uma habitação unifamiliar, que apresenta jogos de luz e de pé direito e a House IV, que apesar de estar dentro de um projecto de dez casas, é a que mantém o pensamento de figura cúbica até ao fim, até à desconstrução da mesma, tendo sido, apenas, um projecto não edificado. Deste modo, tendo as várias obras como referência da utilização da figura cúbica, podemos afirmar que a figura cúbica começou a ser notória na formalização do Movimento Moderno – a partir de 1900 – e, apesar das constantes diferenças numa Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 21 A figura cúbica vanguarda mais contemporânea, consegue responder às necessidades que lhe forem exigidas. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 22 A figura cúbica 2. ENQUADRAMENTO DA FIGURA CÚBICA 2.1. GÉNESE DO PENSAMENTO CÚBICO Neste subcapítulo, abordaremos a importância da compreensão da figura cúbica como “unidade primeira e matriz de todas as formas” (Cruz Pinto, 2007, p. 69). Para isso, iremos contextualizar este conceito com alguns teóricos que também acreditavam no estudo da geometria como princípio de pensamento. Numa altura em que os princípios geométricos estavam directamente associados a atributos simbólicos, a arquitectura cosmológica desperta a consciência humana para uma qualificação e espacialidade sagrada do lugar. Esta consciência, que está na origem de uma ligação da arte com a geomância, provoca uma correcção e reordenação nas relações de força entre o homem e a natureza e nomeadamente entre o céu e a terra. Devido a uma estrutura geométrica do espaço sagrado construído são expostas energias de diferentes tipos que, mesmo expressas de maneira simbólica, servem de mediador nas relações entre o Homem, o espaço e o cosmos. Ao Homem foram-lhe retiradas medidas padronizadas – palmo, polegada, pé – que foram utilizadas como modelo de medição. Desde muito cedo que os edifícios sagrados da antiguidade estão submetidos a cânones rigorosos directamente relacionados com notas cósmicas, criando na geometria uma ligação directa entre a física e a mística. Esta geometria, que faz depender a compreensão formal e construtiva, utiliza as figuras geométricas abstractas como meio directo de materialização na arquitectura. A metafísica e a geometria jogam um papel indissociável na definição da arquitectura cosmogonizada, tal como observa Bachelard: «A metafísica mais profunda está assim enraizada numa geometria que – queiramos ou não – espacializa o pensamento.» (Cruz Pinto, 2007, p. 72) Como afirma Jorge Cruz Pinto1, começa a configurar-se uma espacialidade geométrica através de esquemas não só geométricos mas também topológicos, numéricos e 1 Jorge Cruz Pinto (1960) é um Arquitecto português, professor catedrático da disciplina de Projecto na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa e coordenador do curso de doutoramento em Arquitectura desde 2009. Das suas principais obras destacam-se os três volumes de um ensaio sobre a “caixa”: A caixa: metáfora na Arquitectura, (ACD Ed.: FAUTL, Lisboa, 2007), O espaço limite: a produção e recepção, (ACD Ed.: FAUTL, Lisboa, 2007) e a Arquitectura portuguesa: a imagem da caixa. (ACD ed.: FAUTL, Lisboa, 2007). Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 23 A figura cúbica fenomenológicos que advêm do cruzamento de crenças mítico-religiosas das ligações cosmológicas e empíricas com os factos do mundo. Assim em Timeu, Platão2 sustenta que a criação do mundo absoluto foi concebido por um Deus que, para criar “o mais belo” (Platão, 2011, p.98) e organizar tudo aquilo que se movia desordenadamente, começou por estabelecer uma relação entre o “intelecto na alma e alma no corpo” (Platão, 2011, p. 98) completando tudo o que estaria incompleto tornando o fogo e a terra os responsáveis pela sua criação. Mas para que esta natureza fosse sólida e harmonizada era necessário que se conseguisse gerar um elo de ligação que os unisse e que obedecesse a uma relação matemática. Assim sendo, colocou a água e o ar entre o fogo e a terra, produzindo a mesma proporção entre eles, estando uns para os outros de igual maneira, dando origem a um céu unigénito e palpável. Estes quatro elementos primários na criação do céu e importantes para a criação do mundo, são caracterizados como corpos que são constituídos por profundidade que por sua vez envolve necessariamente a superfície – Platão coloca o triângulo equilátero “como a unidade geométrica fundamental de qualquer corpo” (Cruz Pinto, 2007, p. 77). Esta superfície, resultado da junção entre triângulos – originada de dois triângulos; isósceles e escaleno - gera três formas através do triângulo com lados diferentes e uma única forma através do triângulo com dois lados iguais. Ilustração 1 – Sólidos Platónicos Platão (427 a.C. – 347 a.C.) foi filósofo e matemático da Grécia Antiga, dedicou a sua vida maioritariamente ao estudo. Fundador da primeira academia do mundo ocidental, tinha como objectivo educar os jovens da altura com base na ciência política e nos seus conhecimentos. Nesta escola que teve início nos jardins de Academo, foram utilizados como ferramenta de ensino muitos dos seus diálogos. Das suas obras destacaremos Timeu, (350 a.C). 2 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 24 A figura cúbica Platão associa estes quatro elementos a formas geométricas: o fogo ao tetraedro, a terra ao cubo ou hexaedro regular, o ar ao octaedro, a água ao icosaedro ou esfera e o dodecaedro ao todo universo. Este universo platónico é assim conceptualizado tridimensionalmente como um modelo estrutural abstracto de alcance arquitectónico que, segundo John Kepler3 correspondia a uma grande caixa esférica fechada que girava sobre si e que continha dentro todos os elementos celestes geometrizados em sucessivas inclusões poliédricas. Ilustração 2 - Sólidos platónicos que compõem o universo. John Kepler. (Cruz Pinto, 2007, p. 72) Todavia, na arquitectura em tempos de orientações mais clássicas e convenções simbólicas, recorreu-se ao cubo e à esfera e, devido à permanência dessas crenças cósmicas, a figura cúbica – e as suas respectivas formalizações arquitectónicas – corresponde à terra, entendida como o mundo de valores reais mensuráveis e a esfera – e as suas respectivas formalizações arquitectónicas – corresponde a um universo incomensurável, que é exemplo disso o Panteão de Roma de Marco Vipsânio Agripa4 que inclui no seu interior uma esfera virtual de onde a rotundidade da sua cúpula nos transmite simbolicamente a visão do cosmos (Cruz Pinto, 2007, p. 75). 3 John Kepler (1571-1630) também conhecido por Johannes Kepler, foi um alemão matemático, astrónomo e astrólogo. Considerado uma figura chave na revolução científica do século XVII, ficou mais conhecido pelas suas leis do movimento planetário, que teve como base as suas obras Astronomia Nova (1609), Ioannis Keppleri Harmonices mundi libri V (1619) e Epitome Astronomiae Copernicanae (1617 a 1621). Estas obras foram também utilizadas como princípio para a teoria da gravitação universal de Isaac Newton (1642-1626/7), físico e matemático inglês que se auto intitula de filósofo por natureza. 4 Marco Vipsânio Agripa (63 a.C.-12 a.C.) foi general e estadista do Império Romano. Destacado pela sua capacidade militar e pelas suas construções, de que destacamos o Panteão, também é autor do mapa do mundo antigo que elaborou com dados obtidos nas suas viagens. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 25 A figura cúbica A crença platónica numa chave de estrutura harmónica do mundo originaria dois sistemas de proporção: o aritmético e o geométrico. (Cruz Pinto, 2007, p. 75) Também no homem de proporções ideais, de Leonardo Da Vinci5 se encontram características que estão directamente ligadas a sistemas de proporção geométrica criados por analogia às proporções do corpo humano e do cosmos que foram aplicadas às medidas dos templos. A quadratura do círculo, onde se inscreve o Homem Vitrúviano, foi concebida sob a forma ad cuadratum e ad circulum acreditando ser representada pela combinação ideal de duas formas primordiais. Com este estudo de sistemas canónicos que se apresentam simultaneamente como simbólicos e pragmáticos, começa a ser traduzida para a arquitectura uma geometria estática e sensível a aspectos estilísticos e religiosos. Se dermos especial atenção ao símbolo da cruz, que reúne os dois princípios contrários: “o eixo vertical activo, com o eixo horizontal passivo, que no plano simbólico, corresponde ao eixo que liga o céu à terra e a linha do horizonte terrestre, que representa a periferia visível do seu plano de percepção” (Cruz Pinto, 2007, p. 83). Para os formar, Omraam Aïvanhov6 defendia que existia uma directa relação geométrico-simbólicas entre a figura cúbica, a cruz e o quadrado. 5 Leonardo Da Vinci (1452-1519) conhecido como uma das figuras mais importantes do Renascimento, destacou-se como multifacetado nas mais diversas áreas como por exemplo, cientista, matemático, engenheiro, pintor, escultor e arquitecto. Descrito como arquétipo do homem do Renascimento era dotado de vários talentos ficando destacado nas vertentes artísticas. Das suas principais obras como pintor (como é conhecido actualmente) destacamos três obras emblemáticas: La Gioconda (1503), pintada através da técnica do sfumato encontra-se exposta no Museu do Louvre, em Paris; L’ultima Cena (1495), fresco pintado com a técnica da têmpera que se encontra como muro dos monges no Convento de Santa Maria della Grazie, em Milão e o Homem Vitruviano (1940), o desenho que representa um cânone das proporções do corpo humano segundo um determinado raciocínio matemático baseando-se em parte na proporção áurea. Neste desenho em tinta sobre papel, Leonardo apresenta o homem como um modelo ideal para o ser humano cujas proporções são perfeitas segundo o ideal clássico da beleza. Neste momento esta obra faz parte da colecção da Gallerie dell’Academia, em Veneza. 6 Omraam Aïvanhov (1900-1986) mestre espiritual de origem búlgara, mudou-se para França em 1937 onde deu os primeiros passos no ensino. Através de várias conferências, explora a natureza humana no seu ambiente à escala individual, familiar, social e planetária. Tendo como objectivo a realização pessoal e interior do ser humano na resolução de vários problemas. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 26 A figura cúbica Ilustração 3 - Relações geométrico-simbólicas entre o cubo, a cruz e o quadrado. Omraam Aïvanhov. (Cruz Pinto, 2007, p. 83) Neste sentido, em que também o corpo humano comanda o pensamento, de forma a harmonizar a analogia feita à figura cúbica, este conceito remete para crenças e atributos simbólicos que exerce uma força entre o cosmos e a natureza, o espaço arquitectónico e o homem num pensamento simbólico-mágico, criando na arquitectura uma necessidade de harmonizar e “cosmogonizar” (Cruz Pinto, 2007) o edifício tornando-o não só belo mas também positivo e favorável. Neste contexto, Juan de Herrera sustenta a figura cúbica “como unidade primeira e matriz de todas as formas” (Cruz Pinto, 2007, p. 92) afirmando que o cubo apresenta um aspecto duplo surgindo como forma e número. Herrera, arquitecto, matemático e também geómetra, representou o auge do renascimento espanhol, nomeadamente depois de ter participado no projecto do Mosteiro de San Lorenzo del Escorial. Após a projecção do Mosteiro, nasce um traçado “herreriano” que viria representar a arquitectura do império espanhol no reinado de Filipe II. Com um notável interesse nos vários ramos do conhecimento da época, destacamos a sua obra o Discurso sobre a figura cúbica7, onde se centrou nos conhecimentos matemáticos e geométricos. Esta obra é apresentada sob dois aspectos distintos: racional e místico. Começa pela definição da figura cúbica como forma e construção geométrica equilateral e estática, relacionando-a com a aritmética euclidiana.8 Desenvolveu o discurso do número em termos místicos servindo-se do processo multiplicativo dos princípios da arte hermética de Raymundo Llull9 que, nas palavras de Herrera, “[...] quel doctor dimas me hace en deçir que por mi causa bino a penetrar la admirable arte lulliana porque “Discurso de la figura cúbica”- título original Aritmética Euclidiana ou Geométrica Euclidiana, tem como base o Teorema de Pitágoras, apesar de ser uma vertente da matemática desenvolvida por Euclides (III a.C.), mais conhecido como “o pai da geometria”. 9 Raymundo Llull (1232-1315) foi um importante escritor, filósofo e nomeadamente teórico da língua catalã. Foi uma das figuras mais fascinantes e avançadas dos campos espiritual, teológico e literário da Idade Média e uma profunda inspiração para Juan de Herrera no seu tratado sobre a figura cúbica. 7 8 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 27 A figura cúbica careçiendo yo de todo genero de estudios mal puedo abrir las puertas de una tan alta y tan poco conosçida doctrina” (Herrera, 1976, p. 69).10 O cubo cosmológico surge – no seu duplo aspecto – como forma e número; como regra e medida da perfeição das coisas, sendo orientado astronomicamente por uma harmonia e plenitude de alcance físico, ético e metafísico. Relacionando os aspectos fulcrais dos traçados do Mosteiro, a aplicação do conhecimento hermético – como forma mágica de expressar a cosmologia no edifício – remete-nos a um conjunto de dimensões simbólicas latentes, aplicadas na sua construção. Ilustração 4 - Esboços sobre o Discurso da Figura Cúbica. Juan de Herrera (Herrera, 1976, p.68, 71 e 72) Em suma, a figura cúbica aparece como mote de debate, não só como símbolo cósmico mas também em forma de mediação racionalizada entre o homem e a natureza, realizada muitas vezes através de analogias espaciais – planos filosóficos, científico e poético – que remetem a “esquemas geométricos ideias de carácter toposimbólico.” (Cruz Pinto, 2007, p. 94) 2.2. EVOLUÇÃO DA FIGURA CÚBICA Neste subcapítulo, abordaremos a evolução da compreensão da figura cúbica nomeadamente na viragem do séc. XX, dando especial atenção ao Movimento Moderno e ainda o Minimalismo. Contudo, apesar de ter sido o Modernismo, na sua globalidade, a dar o grande rompimento com o passado – que teve início na “[…] aquele demais doutor que por minha causa venho penetrar na admirável arte Lulliana estando eu desprovido de todo o género de estudos, mal posso esperar para abrir portas a uma tão alta e tão pouco conhecida doutrina.” (Tradução Nossa) 10 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 28 A figura cúbica arquitectura Renascentista11 – para que consigamos enquadrar o tema desta dissertação com os diversos estilos arquitectónicos, focaremos especial atenção em vanguardas dessa mesma época, nomeadamente o De Stijl e o Estilo Internacional (ou Racionalismo funcionalista), vanguardas essas, onde a figura cúbica teve uma particular evolução. Ainda que, esta questão da figura cúbica esteja latente durante toda a história da arquitectura começando no principio das civilizações até aos dias de hoje, iremos centrar a nossa atenção em autores e obras contemporâneas, em que a figura cúbica e a geometria assumem o papel principal. Depois de quebrados os dogmas simbólico-geométricos como génese de pensamento na arquitectura, estes começam a ser substituídos pela racionalidade e pela ciência. Apesar de se continuar a associar o pensamento geométrico às “boas formas” (Cruz Pinto, 2007, p.94), começa a associar-se a propriedades matemáticas que se prestam a uma infinidade de combinações geométricas, afirma o arquitecto Jorge Cruz Pinto. Movimento Moderno Neste contexto, acontece uma extraordinária evolução das mentalidades e da cultura europeias ocorrida na transição da Idade Média para a Idade Moderna, caracterizada na arquitectura através da viragem do século XX. As primeiras décadas do séc. XX ficaram, quer na arquitectura, quer no design, marcadas por polémicas que envolveram engenheiros, arquitectos e artistas que mantiveram acesa a discussão sobre as relações entre arte e técnica e forma e função. Reflexo da primeira grande crise, o equilíbrio entre as nações, penosamente restabelecido no final do séc. XIX, começou a alterar-se. Nasce então, um movimento com tendências inovadoras que nortearam a arquitectura e o design após a Primeira Grande Guerra. Este movimento, que tem tendência para o recurso a formas despojadas de ornamentação prevalecendo o sólido geométrico, aparece em muitas obras como expressão crua da forma. Esta formulação aparece como mote de ligação da arquitectura às coisas enquanto elas próprias procurando realçar as coisas mais 11 Arquitectura Renascentista foi uma arquitectura realizada no período do Renascimento tendo sido descendente da arte da Antiguidade Clássica, da Grécia e de Roma, de que herdou os princípios fundamentais da harmonia e do equilíbrio. Para a percepção de uma arquitectura monumental e simultaneamente vinculada ao princípio do Homem como centro e medida de todas as coisas, adquire particular importância Filippo Brunelleschi (1377-1446) nomeadamente na realização da conclusão da cúpula da Basilica di Santa Maia dei Fiore, em Veneza. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 29 A figura cúbica primitivas numa vasta procura pela essência da realidade, segundo Siegfried Giedion12. Segundo o crítico de arte e historiador Nikolaus Pevsner13, o Movimento Moderno desenvolve-se a partir de três ideais - técnica, forma e ideologia – que foram determinantes para o desenvolvimento deste movimento. Este desenvolvimento caracteriza-se pela afirmação clara de novos materiais – ferro, vidro e betão – que foram mantidos à vista realçando uma construção em esqueleto, ou seja, com a capacidade de suportar grandes massas em poucos pilares. Foram também aplicados critérios cada vez mais racionalistas e funcionalistas14, sugerindo o sentido da planta de organização livre, da depuração formal e da falta de ornamento dos edifícios, explorando as potencialidades de linhas rectas e perpendiculares. Nasce uma arquitectura nova, que procurou responder de forma técnica, racional e funcional ao modo de vida de um tempo novo, que levantou à construção exigências de maior pragmatismo, onde o interesse das massas se sobrepôs ao interesse individual. Deste modo, o racionalismo e o funcionalismo tinham-se tornado, com as suas formas e cores minimais, a sua leveza, transparência e assimetria, no símbolo do progresso, da liberdade e da democracia. Assim, destaca-se uma nova geração de arquitectos provenientes da Secessão Vienense15 e da Bauhaus16 nomeadamente, Adolf Loos17, Le Corbusier18, Ludwig Mies van der Rohe19, Walter Gropius20 e Frank Lloyd Wright21. 12 Siegfried Giedion 1888-1968) foi um historiador de arte e crítico da arquitectura suíço. Uma das suas obras mais emblemáticas, foi Space, time and architecture: The growth of new tradition (Harvard University Prees, Cambridge, 1941). 13 Nikolaus Pevsner (1902-1983) foi um arquitecto e historiador da arte. Entre as suas obras mais emblemáticas, destacam-se: Os pioneiros do desenho moderno (Ulisseia, Lisboa, 1962) e a The sources of modern architecture and design (Thames and Hudson, London, 1993). 14 Funcionalistas pertencem à prática do Funcionalismo. O Funcionalismo denominou-se como uma corrente de arquitectura e de design que expurgou dos objectos e das construções todos os elementos que não tivessem utilidade prática. A ética funcionalista surgiu nos primeiros anos do séc. XX como reacção aos historicismos e ecletismos do séc. XIX. Entre os expoentes desta tendência contam-se o design da Escola da Bahaus, o do grupo holadêns De Stijl e dos artistas escandinavos, bem como a arquitectura de Walter Gropius (1883-1969) e Le Corbusier (1887-1965), entre outros. 15 Secessão Vienense foi o movimento de um grupo de jovens artistas no final do século XIX, constituído no âmbito da tradicional sociedade de artistas austríacos. Liderado por Gustav Klimt, o grupo desejava romper com o que representava a Cooperativa dos Artistas das Artes Decorativas da Austria e protestava contra as normas tradicionais, artísticas e étnicas da época. 16 Bauhaus foi uma escola de arte totalmente nova fundada em 1919, em Weimar segundo a ideia e direcção de Walter Gropius. Tornou-se na escola mais influente do séc. XX no domínio da arquitectura do design e da pedagogia das artes plásticas, na qual ensinaram muitos dos artista modernos. 17 Adolf Loos (1870-1933) foi um dos mais importantes arquitectos do séc. XX, nasceu na República Checa, apesar de ter trabalhado grande parte da sua vida na Áustria. Entre as suas obras arquitectónicas mais importantes destacam-se: Steiner House realizada (1910), na Áustria e a Casa Muller (1930), em Praga. 18 Le Corbusier (1887-1965) conhecido como um dos arquitectos do Movimento Moderno, foi urbanista e pintor francês de origem suíça. Destacam-se, das suas obras mais importantes, a Villa Savoye (1929- Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 30 A figura cúbica Contudo, apesar desta nova poética arquitectónica - onde se encaravam os modelos urbanos como modelos de opressão com a necessidade de serem substituídos por formas novas, baseadas no pensamento moderno racional – e, perante o tema desta dissertação, interessa-nos, sobretudo, que nos foquemos na figura cúbica como pensamento no Movimento Moderno. Assim, destacamos um dos expoentes significativos na Áustria. Adolf Loos, autor do manifesto Ornamento e Crime - cujos postulados geraram vigorosa polémica entre os arquitectos do seu tempo – onde combate o academismo, o ecletismo e a Arte Nova, propondo uma arquitectura lúcida, pragmática, racional e funcional que utilizasse os processos e os materiais do seu tempo e que vivesse, sobretudo, da pureza das suas formas arquitecturais, sem máscara de qualquer ornamento, foi quem melhor representou as novas tendências de uma arquitectura modernista na Áustria. Defendeu uma arquitectura urbana, adaptada à sua época, económica e acessível às massas, criticou o individualismo tradicional, sobrepondo ao culto da originalidade a ética e a descrição da essencialidade. Loos, numa atitude provocatória, reafirmou continuamente que o arquitecto não deve projectar plantas, alçados e cortes. Antes pelo contrário, o que devia fazer era “projector espaços”. (Tietz, 2000, p. 15) No seu manifesto, ao proclamar intencionalmente o despojamento formal, Loos evidencia a utilização da figura cúbica como elemento directamente associado à sua teoria, utilizando-a na maioria das suas obras como “matriz virtual, sujeito a adições e subtracções” (Coelho, 2014, p. 36). Um dos projectos que melhor evidencia a utilização da figura cúbica de Loos, é a Casa Müller. Esta residência é considerada como a transposição mais consequente do 1931), em Poissy-sur-seine; Unité d’Habitation (1947-1952), em França e a Chapelle Notre-Dame-du-Haut (1950-1954), em Ronchamp. 19 Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969), protagonista das célebres frases “Less is more” e “God is in the details”, foi um arquitecto alemão e também professor na escola da Bauhaus. Das suas obras mais importantes destacam-se: Farnsworth House (1951), em Chicago; Lafayette Park (1956), em Michigan e a New National Gallery (1962-1968), em Berlim. 20 Walter Gropius (1883-1969) foi um arquitecto alemão e fundador da escola da Bauhaus que, juntamente com Ludwig Mies van der Rohe, Le Corbusier e Frank Lloyd Wright, é considerado um dos pioneiros da arquitectura moderna. Das suas obras mais importantes destacaremos as Fábricas Fagus, tendo esta sido, em parceria com Adolf Meyer, a primeira grande obra significative de Gropius. 21 Frank Lloyd Wright (1867-1959) foi arquitecto, escritor e professor americano que defendia que cada projecto devia ser individual de acordo com a sua localização e finalidade. Influente na arquitectura moderna, foi considerado um dos arquitectos mais importantes do séc. XX. Das suas obras mais importantes destacam-se duas mais emblemáticas: As Casas da Pradaria (1900-1911), que consistia num conjunto de vários projectos residenciais realizados por Wright, apesar de terem sido demolidas e a Falling Water House (1936), realizada nos Estados Unidos da América. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 31 A figura cúbica planeamento dos espaços realizado pelo próprio Loos. Os espaços com diferentes níveis - salão, sala de jantar, biblioteca e saleta – formam uma estrutura espacial aberta e relacionada entre si. Cada um dos espaços é executado em materiais de luxo – mármore, mogno e madeira de limoeiro – sublinhando o princípio de Adolf Loos segundo o qual a ornamentação artística deve ser substituída pelo efeito de materiais de construção nobres. Ilustração 5 - Plantas, cortes e alçados. Casa Müller, Praga, 1930. Arq. Adolf Loos (Cruz Pinto, 2007, p. 182) A figura cúbica, utilizada na Casa Müller, é baseada na constituição em planta do projecto, no uso do conceito raumplan, no cálculo das fachadas e na distribuição pragmática. Assim, esta obra é constituída por dois cubos com dimensões 12x12x12(m), afastados 5,50(m), explicando não só a relação 2:3 da base, como a repartição da planta em três partes e o arranjo dos quatro pilares construtivos tendo sido um dos cubos deslocado verticalmente um quarto do seu tamanho. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 32 A figura cúbica Ilustração 6 - Esquema conceptual da Casa Müller, Praga, 1930. Arq. Adolf Loos (Cruz Pinto, 2007, p.182) O cubo inerente em grande parte das suas obras, atinge maior dimensão na arquitectura fúnebre quando projecta o mausoléu para Max Dvorak 22, em 1921. Também o esquisso da sua própria campa, em 1931, mostrava “o cubo puro sobre o qual gravava o seu nome [...].” (Cruz Pinto, 2007, p. 185). No seu percurso como arquitecto, Adolf Loos dedicou-se a uma arquitectura minimalista onde a figura cúbica era uma característica constante na sua maneira de pensar e projectar arquitectura. De Stijl Fundado em 1917, o grupo De Stijl – o estilo – ao contrário dos estilos históricos do Neoclassicismo ou do Barroco, os artistas do De Stijl reconheciam, na sua linguagem formal, construtiva, abstracta e isenta de qualquer ornamentação, o verdadeiro estilo que, segundo Theo van Doesburg23, o individualismo que tinha dominado a arte do séc. XIX, deveria ser anulado em benefício de um equilíbrio de valores universais. A condição prévia para a concretização dessa nova imagem do mundo do grupo De Stijl era aquilo a que este chamava a “consciência da época”: o abandono de todas as condicionantes impostas pela tradição. A ideia que van Doesburg - representante intelectual do grupo - e o grupo De Stijl defendiam para a arquitectura era a renúncia à tradição ornamental. Em contra 22 Max Dvorak (1874-1921) foi um historiador de arte austríaco e membro da Escola Vienense de História da Arte. A sua obra teórica que mais se destaca, entre outras, é The History of Art as the History of Ideias (Routledge & Kegan Paul Books, Londres, 1984). 23 Theo van Doesburg (1883-1931) foi um artista holandês que praticou pintura, escrita, poesia e arquitectura. Apesar de não ter nenhuma das suas obras arquitectónicas construída, é conhecido como o fundador do movimento De Stijl. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 33 A figura cúbica partida, os edifícios deviam ser radicalmente simplificados, de acordo com os quadros de Piet Mondrian24. A pintura de Piet Mondrian teve uma importância relevante neste desenvolvimento. Apesar das primeiras obras de Mondrian se caracterizarem por quadros neoimpressionistas e bastante convencionais, em 1907 este holandês começou a tornar os objectos cada vez mais abstractos, ao ponto de os submeter a um esquema geométrico. Com a utilização de grelhas de linhas pretas – cercando rectângulos ou quadrados – e nomeadamente a utilização de cores primárias, aplicadas de maneira uniforme sem apresentar qualquer espécie de textura ou sombreado, idealizava a representação do mundo através de uma estrutura que se caracterizava por uma base de sistema geométrico racional. O que Mondrian tinha desenvolvido com a sua pintura abstracta numa superfície bidimensional, foi transformado num modelo tridimensional pelos arquitectos Theo van Doesburg e Gerrit Thomas Rietveld25. Deste modo, resulta uma prática da arte neoplástica caracterizada por espaços cúbicos que deviam intersectar-se de modo a criarem uma vivência complexa e plástica a partir da ortogonalidade e previa-se a aplicação de uma paleta reduzida às cores primárias – o mais semelhante possível à obra de Mondrian. A primeira transposição das ideias do grupo De Stijl foi a cadeira vermelha e azul de Thomas Rietveld que, inspirado nos quadros de Mondrian, projectou uma estrutura de perfis esquadriados em madeira unidos entre si em ângulo recto. Uma vez que, na altura, os projectos arquitectónicos de van Doesburg não foram realizados, foi mais uma vez Rietveld quem, no campo da arquitectura, pôde concretizar pela primeira vez em 1924, com a Schröder House, em Utreque, os ideais estéticos do movimento. 24 Piet Mondrian (1872-1944) foi quem influenciou o movimento artístico De Stijl. Desenvolveu uma forma não representacional que foi chamada de Neoplasticismo, que consistia num fundo branco, sobre a qual foi pintada uma grade de linhas preta horizontais e verticais preenchida unicamente por cores primárias. 25 Gerrit Thomas Rietveld (1888-1964) foi considerado designer de móveis e arquitecto holandês, foi uma figura importante para o movimento do De Stijl. Das suas obras como designer destaca-se a cadeira azul e vermelha (1917) que representa uma das primeiras experiências do movimento De Stijl. Como arquitecto, destaca-se a sua obra, também representante da arte neoplástica do movimento moderno, a Schröder House (1924), situada em Utreque e é património mundial da UNESCO. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 34 A figura cúbica Ilustração 7 - Schröder House, Gerrit Th. Rietveld, Utrecht, 1924 (Gympel, 2001, p. 88) Esta residência tradicional do séc. XIX, que devia satisfazer determinados ideais de monumentalidade e representação dos seus moradores, apresentava aspectos completamente diferentes. A forma básica é a figura cúbica, mas, tal como Frank Lloyd Wright já fizera nas suas Casas da Pradaria, na Schröder House as massas distribuíam-se em todas as direcções – para a frente, para trás, para a direita e para a esquerda – destruindo o volume compacto. Entre as inovações radicais da casa contam-se as fachadas que provocam sensação, com o seu reboco pintado de branco, apresentando os elementos lineares verticais e horizontais pintados a preto, vermelho e amarelo, numa proposta plástica igual à de Mondrian. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 35 A figura cúbica Ilustração 8 - Vista da area de jantar e de convívio, primeiro piso. Schroder House. Arq. Gerrit Rietveld (Gympel, 2001, p. 88) Também no interior da casa, Thomas Rietveld encontrou soluções revolucionarias, observadas na planta livre que se desenvolve numa concepção de espaço aberto que com a possibilidade de afastamento das divisórias viria a substituir a usual sequência de espaços imposta pelas paredes de alvenaria. Com a Schröder House, Rietveld estabeleceu padrões totalmente novos relativamente à construção convencional, através da flexibilidade da planta, da cobertura em terraço muito simples e da sobriedade quase industrial da fachada que, desde então, passaram a fazer parte das características mais importantes da arquitectura moderna. Estilo Internacional O Movimento Moderno exigia formas totalmente novas, isentas de tendências pitorescas, historicistas ou associativas, o que fez com que se falasse numa “nova arquitectura”, assim como de “funcionalismo” ou de “nova objectividade”. Por volta de 1930, surgiu igualmente ligado ao racionalismo funcionalista o conceito de Estilo Internacional que se expandiu, em pouco tempo, em grande parte do mundo. Através de Le Corbusier, Walter Gropius e de Mies van der Rohe, foram expandidas e divulgadas concepções arquitectónicas pelos CIAM26 e realizadas em várias cidades CIAM – Congressos Internacionais de arquitectura Moderna, patenteada na Carta de Atenas de 1933, teve como objectivo nortear a reconstrução das cidades europeias no pós Segunda Guerra Mundial, 26 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 36 A figura cúbica europeias. Estes congressos serviram para organizar as ideias do Movimento Moderno da arquitectura num estilo que, após 1930, se difundiu nos dois lados do atlântico. A designação de Estilo Internacional foi atribuída pelo historiador de arte Henry Russel Hitchcock27 e pelo arquitecto Philip Johnson28 em 1932 para abarcar as vanguardas arquitectónicas da época. Estas, apesar de muito diversificadas em tipologias e estilos pessoais, correspondiam a certos princípios comuns nomeadamente, a utilização crua dos materiais – betão, aço e vidro – quase sempre deixados na sua cor e texturas naturais, a valorização de um esqueleto estrutural como principio de toda a construção e a exclusão de toda a ornamentação aplicada. Todavia, uma repetição das formas exteriores era, desde início, um perigo inerente ao racionalismo que em parte era desejada e discutida pelos arquitectos defensores de uma prática racionalista e funcionalista. Acrescia, ainda, o facto da edificação altamente racionalizada ser o único modo de dar resposta à carência aguda de habitação, provocada pela estagnação da construção civil, causada pela guerra e que tinha continuado a crescer devido à crise económica do pós-guerra. Assim sendo, foi dada a primazia da utilização de elementos pré-fabricados e de produtos em série – estandardização de elementos construtivos. Após o armistício, de 1918, Le Corbusier começa a destacar-se no panorama da arquitectura europeia. Provavelmente o arquitecto urbanista mais influente do Movimento Moderno, Corbusier, fez jus a esta prática de estandardização de elementos construtivos concebendo o seu sistema “Dom-ino” em que, o dono da obra, o arquitecto ou o utilizador, podia completar o esqueleto estandardizado com elementos construtivos a partir de um catálogo. Contudo, após a Segunda Grande Guerra, deslocou a sua atenção para construções arquitectónicas mais expressivas, pondo a tónica na construção habitacional em torre e nos princípios de urbanísticos de Le Corbusier, tendo este sido co-fundador. 27 Henry Russel Hitchcock (1903-1987) foi o principal historiador de arquitectura americano da sua geração e conhecido por obras que ajudaram a definir a arquitectura moderna. Em 1932, Hitchcock colaborou com Philip Johnson na Exposição Internacional: arquitectura Moderna, no museu de arte moderna, que vinha apresentar um novo estilo arquitectónico europeu – Estilo Internacional - ao publico americano. 28 Philip Cortelyou Johnson (1906-2005), graduado pela escola de Design de Harvard e recebeu uma medalha de ouro pelo Instituto de Americano de arquitectos, em 1978 e um ano mais tarde recebeu o primeiro Prémio Pritzker de arquitectura. Foi um influente arquitecto americano que é conhecido especialmente pelo seu trabalho pós moderno desde os anos 80. Fundou o departamento de arquitectura e design do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, em 1930. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 37 A figura cúbica usando o betão em superfícies exteriores de aparência inacabada ou de aspecto grosseiro, antecipando o brutalismo29. Nas casas “Dom-ino”, Le Corbusier formulou pela primeira vez, de modo consequente, a racionalização e a funcionalidade incondicionais. Apesar destes planos terem permanecido apenas em projecto, não tendo sido realizados, mantiveram-se característicos do desenvolvimento posterior dos ideais arquitectónicos e urbanísticos de Corbusier. Contudo, a partir dos anos 30 do séc. XX, começou a esboçar-se uma primeira reacção ao funcionalismo racionalista da arquitectura europeia e ao seu formalismo implícito. Como consequência e resposta a uma evolução demasiado tecnológica, a arte e a arquitectura procuraram novas vias mais humanas e sensíveis que evidenciassem preocupações com o ambiente circundante e respeitassem as tradições locais, ao nível do uso dos materiais e das técnicas construtivas. Assim, foi assumido o organicismo que assumia características decisivas na construção e na urbanização. É neste contexto, que se insere o trabalho de Frank Lloyd Wright, arquitecto americano que iniciou a sua actividade junto da Escola de Chicago. Ao contrário dos arquitectos da sua geração, desenvolveu uma arquitectura organicista onde as divisões da planta não resultavam da divisão distributiva do volume, mas eram determinadas de uma forma autónoma, integrando-se umas nas outras. Wright associou a estas ideias a recusa do maquinismo tecnológico, enquanto estandardização, valorizando a perfeita integração do edifício no meio envolvente, o que sempre respeitou como elemento estético. Estas características podem ser observadas na sua obra da Casa da Cascata – Fallingwater – onde Wright quis relacionar intimamente os seus ocupantes com o desfiladeiro, as árvores, a folhagem e as flores silvestres. 29 Brutalismo foi uma tendência arquitectónica surgida nas décadas de 50 e 60 do séc. XX, derivada das últimas obras de Le Corbusier e Mies van der Rohe. Define-se pelo uso despojado e sóbrio do betão armado (béton brut) associado ao aço, mantendo características do Funcionalismo. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 38 A figura cúbica Ilustração 9 - Fallingwater, House for Edgar J. Kaufmann, Bear Run, Pennsylvania, 1935-1939 (Pfeiffer, 2007, p. 119) Esta Casa Kaufmann, mais tarde designada por Fallingwater pela sua simbiose perfeita que estabelece com a queda de água sobre a qual foi edificada, vem afirmar as concepções de Frank Lloyd Wright em que rejeita os historicismos do seu tempo trabalhando, principalmente, com betão, explorando a grande variedade das formas, assentes sempre em critérios geométricos. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 39 A figura cúbica 2.3. A FIGURA CÚBICA NA ARQUITECTURA Neste subcapítulo iremos abordar a utilização da figura cúbica na arquitectura desde a Kâ’aba a partir de 1900, da autoria de arquitectos distintos. Destacaremos nomeadamente, as obras; Louis Sullivan and Dankmar Adler e o Guaranty Building, de 1894; Giuseppe Terragni30 e a Casa del Fascio, de 1932; Giovanni Guerrini31 e o Pallazo della Civilità Italiana, de 1937; Michael Graves32 e o Portland Building, de 1980; Carlo Scarpa33 e a Brion Tomb, de 1969; Rob Krier34 e a Dickes House, de 1970 e Alberto Campo Baeza e a Caja General de Ahorros de Granada, de 2001, organizadas cronologicamente. Kâ’aba Conhecida como cubo, em árabe, é feita de granito extraído das proximidades e, segundo Jorge Cruz Pinto, caracteriza-se por “herdeira da geometria pitagórica e da cosmologia platónica” (2007, p.117) e constitui a representação simbólica do cosmos segundo a tradição islâmica. Representada como o centro de toda a cosmologia, apresenta-se como o centro e o lugar mais elevado do mundo onde “a estrela la polar testemunha que se encontra frente ao centro do céu” (Cruz Pinto, 2001, p.118), sendo representada como Unidade Primordial. Giuseppe Terragni (1904 – 1943) foi um arquitecto italiano que trabalhou principalmente sob o regime fascista de Benito Mussolini, tendo sido pioneiro no Movimento Moderno italiano sob a rubrica do Racionalismo. A sua obra que mais se destaca é a Casa del Fascio, construída em Como, no Norte da Itália, em 1932. Foi construída de acordo com o Estilo Internacional de arquitectura a frescos do artista abstracto, Mario Radice. Destaca-se, também, das suas obras o Novocomum Residential Complex, em Como, de 1927. 31 Giovanni Guerrini (1887-1972) foi um arquitecto italiano que a à semelhança de Giuseppe Terragni, trabalhou sob o regime fascista de Benito Mussolini. Destacamos, das suas obras, o Pallazo della Civilità Italiana, de 1837, em Roma. 32 Michael Graves (1934 - ) é um arquitecto Americano e considerado um dos New York Five. Graves foi conhecido pelos seus projectos de construção contemporânea e algumas obras públicas proeminentes, destacando-se o Portand Building, em Portland, de 1980 e a Denver Public Library, em Denver, de 1990 Desde então, ganhou reconhecimento adicional por projectar produtos nacionais vendidos em lojas Target nos Estados Unidos. 33 Carlo Scarpa (1906-1978) foi um arquitecto italiano influenciado pelas matérias, pela paisagem e pela história da cultura veneziana. Seguidor do trabalho de Wright: “Frank loyd Wright’s work swept me like a wave”, destacam-se as suas obras; Extension Building, Casanova Museum, em Possagno, de 1955; Museo Castelovecchio, em Verona, de 1956; Brion Family Tomb, em San Vito d’Altivole cemetery, em Treviso, de 1969 e Fondazione Querini-Stampalia, em Veneza, de 1961. 34 Rob Krier (1038- ) é um escultor, arquitecto e teórico luxemburguês. Ex. Professor de Tecnologia na Vienna University of Technology, na Austria, trabalhou, de 1993 a meados de 2010 com o arquitecto Christoph Kohl num atelier com sede em Berlim. Irmão mais velho de Léon Krier, representam em conjunto o Novo Urbanismo e a Nova Arquitectura Clássica. Das obras de Rob destacamos a Dickes House, de 1970. 30 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 40 A figura cúbica Ilustração 10 – Kaabah, Mesquita de Meca (Cruz Pinto, 2007, p. 117) Esta grande figura cúbica, definida pelos quatro lados da tenda – representando os quatro elementos orientados – assinala o lugar central do templo Muçulmano em Meca, à volta do qual se gera o haram, por irradiação de oito linhas virtuais dos vértices e dos lados. 1894, Guaranty Building O projecto, Guaranty Building – agora intitulado de Prudential Building – projectado por Sullivan, em parceria com Adler, em 1894, situa-se em Nova Iorque. Baseando-se no conceito “form follows function”35, Sullivan e Adler dividiram o edifício em quatro zonas; a cave, utilizada como área mecânica e elétrica, situando-se abaixo do piso térreo, não é visível na fachada do edifício; o piso 0, zona pública, destinada a lojas, apresenta uma relação directa com a rua; os andares de escritórios, que se desenvolvem como células idênticas agrupadas em torno de um “poço” central, os elevadores e a zona de terminação, que consiste no equipamento do elevador e alguns escritórios. 35 “forma segue a função” (Tradução nossa) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 41 A figura cúbica The Guaranty Building made much of the transparency of the lowest floor, and of the free-standing nature of the supporting columns, which were cylindrical and took on a truly anthropomorphic character. (Curtis, 1996, p.49)36 Segundo William Curtis, a estrutura de aço de sustentação do edifício foi embelezada com blocos de terracota, permitindo diferentes estilos de bloco delineados, fazendo a distinção entre as três zonas visíveis do edifício, ou seja, “[...] the vegetal ornament and the puctured roundels at the crest of each bay [...]”37, veio enfatizar o carácter de crescimento, dramatizando “[...] the turnaround of elevators and pipes in the actual anatomy of the structure [...]”38. There was a shift from the notion of mechanism to the ideia of a tall building as a living organism, whose weight, pressure, tension and resistence, might be experienced through empathy in a direct, almost physical way. (Curtis, 1996, p. 49)39 Ilustração 11 – Guaranty Building, Louis Sullivan and Dankmar Adler, 1894, New York. (Curtis, 1996, p. 48) Ilustração 12 - Guaranty Building, Louis Sullivan and Dankmar Adler, 1894, New York. (Curtis, 1996, p. 49) “O Edificio Guaranty fez muita da transparência do andar de baixo, assim como das colunas de sustentação, que eram cilíndricas e assumiram um caracter verdadeiramente antropomórfico” (Tradução nossa) 37 “[...] o ornamento vegetal e as pontuais rodelas na crista de cada compartimento [...]” (Tradução nossa) 38 “[...] a fluxo de elevadores e tubulações na fisionomia real da estrutura [...] (Tradução nossa) 39 “Houve uma mudança no conceito de mecanismo, para a ideia de edifício alto como um organismo vivo, cujo peso, pressão, tensão e resistência, seriam experimentados através da empatia de forma directa, quase física.” (Tradução nossa) 36 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 42 A figura cúbica 1932, Casa del Fascio A Casa del Fascio – sede local do partido fascista - projectada pelo arquitecto italiano Giuseppe Terragni, localiza-se em Como, no norte de Itália. Iniciado em 1932 e concluído quatro anos mais tarde – sob o regime de Benito Mussolini40 – este edifício, de administração municipal, foi originalmente construído como um elegante “set piece”41 para comícios fascistas: Here is the Mussolinian concept that Facism is a glasshouse into which everyone can peer giving rise to the architectural interpretation that is the complement of that metaphor; no encumbrance, no barrier, no obstacle, between the political hierarchy and the people. (Terragni apud Curtis, 1996, p. 364)42 Apresenta uma fachada, linear, tensa, em que o projecto arquitectónico é criado por contrastes nítidos de planos finos e vazios. As molduras e as paredes são justapostas de maneira a sugerir que o arquitecto que, “[...] has rigorously redefined the fundamental meanings of such perennial elements as "support", "opening" or "enclosure".43 (Curtis, 1996, p. 364). Contudo, a iconografia desta fachada, com uma rede subtil de espaço em camadas, foge à “objectividade” da arquitectura de 1920. Esta é uma fachada clássica, com espaços modernos, com um pórtico, dando a sensação de abertura a uma instituição moderna num ambiente urbano. A tensão vital e criativa entre o movimento moderno e o clássico estende-se desde o arranjo geral de todo o edifício à imagem da fachada, da escolha dos materiais ao carácter das proporções das formas utilizadas – “[...] square in plan, with the façade height equal to one half side [...]” (Curtis, 1996, p. 364)44. O pátio interior – espaço para montagem pública vinculada facilmente com a praça no exterior – é disposto de forma a lembrar um “[...] cortile of a Renaissance palazzo”45. Assim, afirma Curtis, não há dúvida que este seja um edifício feito de materiais modernos com elementos estruturais esbeltos, mas que mantém a sensação de bloco maciço de onde as aberturas foram subtraídas. 40 Benito Mussolini (1883-1945) foi um político italiano, jornalista e líder do Partido Nacional Fascista que governava o país como primeiro-ministro desde 1922 até à sua expulsão em 1943. Mussolini foi uma das figuras chave na criação do fascismo. 41 “lugar de paz” (Tradução nossa) 42 “Aqui é o conceito Mussioliniano, em que o fascismo é uma casa de vidro para qual todos podem espreitar dando origem à interpretação arquitectónica que é o complemento da metáfora; sem cobertura, sem barreiras, sem obstáculos, entre a hierarquia política e as pessoas” (Tradução nossa) 43 “[...] redefiniu rigorosamente os significados fundamentais de tais elementos perenes como; “apoio”, “abertura” ou “gabinete” (Tradução nossa) 44 “[...] quadrado em planta, com a altura da fachada egual a metade do lado [...]” (Tradução nossa) 45 “[...] cortilhe de um palácio renascentista” (Tradução nossa) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 43 A figura cúbica The roof of the atrium is split open symmetrically to admit light, and the structural piers are also grouped to reinforce the central axis of the building, but it is an axis, which is directed out again through the retractable glass doors to the piazza. (Curtis, 1996, p. 366)46 Ilustração 13 – Casa Fascio, Giuseppe Terragni, 1932 (Curtis, 1996, p. 365) Ilustração 14 - Casa Fascio, Giuseppe Terragni, 1932 (Curtis, 1996, p. 364) 1937, Pallazo della Civilità Italiana O Pallazo della Civilità Italiana, também conhecido como Pallazo della Civilità del Lavoro47, ou até, Colosseo Quadrato48, do arquitecto Giovanni Guerrini, é um ícone da arquitectura fascista. Localiza-se em Roma, destacando-se pela sua monumentalidade. Segundo Curtis, “this was constantly in danger of degenerating into a suave formalism or, still, worse, a stripped monumentality in which vast areas of travertine, with the consistency of linoleum, conjured up an instant skin-deep traditionalism”49 (Curtis, 1996, p. 361). Assim, houve um grande leque de possibilidades – no caminho da “O telhado do átrio é aberto simetricamente para receber luz, assim como os pilares estruturais estão agrupados para reforçar o eixo central do edifício, mas é um eixo que é direccionado para fora através das portas de vidro retrateis para a praça.” (Tradução nossa) 47 “Palácio da Civilização do Trabalho” (Tradução nossa) 48 “Coliseu Quadrado” (Tradução nossa) 49 “Este estava constantemente em perigo de degenerar num formalismo suave ou, ainda pior, numa monumentalidade despojada em que as áreas de mármore, com a consistência de linóleo, conjurou um tradicionalismo superficial e instantâneo.” (Tradução nossa) 46 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 44 A figura cúbica monumentalidade – utilizando simplificações da tradição – a parede, o arco, a coluna e a pilastra – a uma horizontalidade, transparência e dinâmica espacial modernista. O Colosseo Quadrato apresenta, frequentemente, características neoclássicas simplificadas, apesar da imagem de grande escala que mostra como a urbanização de Itália poderia parecer se o regime fascista não tivesse caído durante a guerra – edifícios austeros com a utilização de materiais como o calcário e o mármore – caracteriza-se por uma base quadrada, revestido a mármore travertino. O edifício tem um série de galerias sobrepostas representando a fachada de seis filas com nove arcos cada. Há quem diga que esta numeração escolhida deve-se ao numero de letras do nome de Benito – seis letras – Mussolini – nove letras. Ilustração 15 - Pallazo della Civilità Italiana, Giovanni Guerrini, 1937. (Curtis, 1996, p. 361) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 45 A figura cúbica 1969, Brion Tomb Do arquitecto Carlo Scarpa, a Brion Tomb, localizada no Brion Cemetery em San Vito d’Altivole, uma pequena vila não muito longe das Montanhas Dolomitas50, onde nasceu Giuseppe Brion, caracteriza-se por um dos projectos que mais se destaca de Scarpa. When Brion died in 1968, his family bought a large, L-shaped piece of land around the existing village cemetery in which to house his tomb.51 (Phaidon, 2014) Scarpa seguiu um conceito não só para a utilização como túmulo, mas também um espaço – que através da forma e da luz – conseguisse transmitir aos vivos um ambiente de contemplação (Phaidon, 2014), evidente no pavilhão de contemplação “ [...] set in a large square pool surrounded by a concrete wall and a band of coloured tiles.”52 (Phaidon, 2014). […] vorrei spiegare questo lavoro piuttosto recente che ritengo abbastanza buono e, se nel durerà, dovrebbe diventare ache più buono, e devo ho cercato di mettere ancora della fantasia poetica per fare un certo tipo di architectura da cui forse emana un senso di poesia […]53 (Scarpa apud Dias, 2009, p. 48) Para justificar a grande superfície de terreno, Scarpa achou que faria sentido projectar um templo para as cerimónias fúnebres (Dias, 2009, p. 93). Caracterizado por uma entrada – maciça de betão – o santuário apresenta-se como bloqueador da visão da paisagem circundante. O acesso é caracterizado por paredes de betão que fazem direccionar o utilizador ao templo que se eleva a partir de um plano de água situado no topo da rampa. O templo, organizado lateralmente com cinco aberturas estreitas e verticais, propicia ao espaço interior uma entidade de contemplação através da entrada de luz directa (Anderson, 2014). The temple is set apart and is visually isolated in a spot that is not finite space and does not have perspectival relationship to the central point, the tombs of the couple. It is open to the surrounding countryside, where the horizon forms a natural boundary and is 50 Montanhas Dolomitas formam uma cadeia montanhosa dos Alpes orientais no norte de Itália. A área dolomítica estende-se entre as províncias de Belluno – a parte mais relevante – Bolzano, Trento, Údine e Pordenone. 51 “Quando Brion morreu em 1968, a família comprou um grande bocado de terra em forma de L ao redor do cemitério da aldeia existente onde iria ficar o seu túmulo.” (Tradução nossa) 52 “[…] define uma grande piscina rodeada por um muro de betão e azulejos coloridos.” (Tradução nossa) 53 “[…] gostaria de explicar este trabalho que tenho para mim como bom, e, se perdurar tornar-se-á ainda melhor, tentei colocar a minha imaginação poética para fazer um determinado tipo de arquitectura que desse uma ideia de poesia.” (Tradução nossa) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 46 A figura cúbica rotated at 45 degrees to the direction of arrival and almost completely surrounded by water.54 (Anderson, 2014) Ilustração 16 - Tomb Brion, Carlo Scarpa, 1969. (Anderson, 2014) Ilustração 17 - Tomb Brion, Carlo Scarpa, 1969. (Anderson, 2014) “O templo é separado e é visualmente isolado num espaço sem fim e não tem relação de perspectiva para o ponto central, os túmulos do casal. É aberto ao à zona circundante, onde o horizonte forma uma barreira natural e faz uma rotação de 45º para a direcção de chegada praticamente rodeada de água” (Tradução nossa) 54 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 47 A figura cúbica 1970, Dickes House The building's simple volumetrics are its essence. 55 (Krier, 1993, p.10) Segundo Krubsacius, a Dickes House, do arquitecto Robert Krier, situada em Bridel, no Luxemburgo, realizada em 1970, é um “large cube” em que os volumes foram removidos, mantendo uma forte ligação com a Ticino Scuola. Caracteriza-se por uma composição flexível, assumindo uma diferenciação baseada em fazer uma diferenciação entre o tradicional sistema de rede metálica, de entrada de luz, através do seu telhado inclinado e a figura cúbica maciça que apresenta um contraste entre a única coluna de canto e a forma negativa da sua colocação rectangular. (Ref, 2014) […] the other is compreensive, dark and brooding […] almost anticlassical.56 (Frampton, 1982, p. 4) Ilustração 18 - Dickes House, Rob Krier, 1970 (Tumblr, 2014) 1980, Portland Building Do arquitecto Michael Graves, o Portland Building, construído em 1980, situa-se em Portland. É um edifício de escritórios de quinze andares localizado na 5th Avenue57 55 56 A volumetria do edifício é a sua essência. (Tradução nossa) “[…] caixa troncuda com uma parede de Cortina rasa […]" (Tradução nossa) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 48 A figura cúbica que, segundo Curtis apresenta-se como uma “[...] dumpy box with a shallow curtain Wall [...]”58 (Curtis, 1996, p. 620), fazendo um contraste proposital à arquitectura modernista funcional dominante na época. Graves explains of his architecture: it’s “a symbolic gesture, an attempt to re-establish a language of architecture and values that are not a part of modernist homogeneity.” 59 (Graves apud Merin, 2013) Com o objectivo de manter os escritórios municipais da cidade, a cidade de Portland patrocinou um concurso para a concepção deste edifício, localizando-o junto à City Hall60, ao County Courthouse61 e ao Chapman Square Park62 (Merin, 2013). Com um projecto de baixo custo e colorido, segundo Merin, Graves impressionou o júri, que rejeitou os outros concorrentes que apresentavam projectos caros e de betão, concedendo a Graves o primeiro prémio colocando Portland no mapa. The building attempts to create a continuum between past and present: it’s a symmetrical block with four off-white, stucco-covered rectangular facades featuring reinterpreted Classical elements, such as over-scaled keystones, pilasters and belvederes.63 (Merin, 2013) Como afirma Merin, o edifício está situado numa base de dois andares, que lembra “a Greek pedestal”64 (Merin, 2013), que o divide numa partição clássica de três partes; “[...] of base-body-top.”65 (Merin, 2013). Além disso, o arquitecto acrescentou simbolismo através das cores aplicadas - verde para o chão, azul para o céu – numa tentativa de “amarrar” o edifício ao seu ambiente e à sua localização. Contudo, Merin afirma que, apesar das suas falhas – o difícil acesso às arcadas, situadas acima do nível da rua; dificuldades semelhantes de acessibilidade ao quarto piso, voltado para a fachada, contendo apenas duas pequenas portas que levam a um restaurante sem janelas e a um hall de entrada; as dimensões apertadas e desagradáveis do lobby e a escuridão dos escritórios – o Portland Building marcou “5ª Avenida” (Tradução nossa) “[...] caixa troncuda com uma parede superficial de cortina [...]” (Tradução nossa) 59 “Graves explica a sua arquitectura: é “um gesto simbólico, uma tentativa de reestabelecer uma linguagem da Arquitectura e os valores que não fazem parte da homogeneidade modernista.” (Tradução nossa) 60 “Câmara Municipal” (Tradução nossa) 61 “Palácio da Justiça” (Tradução nossa) 62 “Parque Chapman Square” (Tradução nossa) 63 “O edifício tenta criar uma continuidade entre passado e presente: é um bloco simétrico com quatro buracos brancos, fachadas retangulares cobertas de estuque que caracterizam os elementos clássicos reinterpretados, como fora de escala, pilastras e miradouros” (Tradução nossa) 64 “[…] pedestal grego” (Tradução nossa) 65 “[…] de base-corpo-cimo” (Tradução nossa) 57 58 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 49 A figura cúbica uma partida inquestionável da monotonia do Modernismo. (Merin, 2013) Como Graves, em tom de brincadeira, explicou: I thought, ‘Why are they so upset?’ Modernism has given them a choice between vertical and horizontal, white, gray or black. Come on.66 (Graves apud Merin, 2013) Ilustração 19 - Portland Building, Michael Graves, 1980. (Curtis, 1996, p.620) 2001, Caja General de Ahorros de Granada Este projecto, Caja General de Ahorros de Granada, do arquitecto Alberto Campo Baeza, consiste num volume de dois pisos que está limitado por dois pátios “horto conclusus” (Coelho, 2014, p.44), onde se insere outra figura cúbica que serve como caixa de luz, iluminada através de um recurso de lanternins, permitindo a entrada de luz para o espaço interior. Este cubo é gerado a partir de uma grelha tridimensional de 3x3x3(m) de betão armado. O volume encontra-se no centro da composição arquitectónica e no topo da estrutura ou seja, encontra-se no topo da caixa de dois pisos, ladeado por dois pátios. “Eu pensei: “Porque é que estão todos tão chateados?” O Modernismo deu-lhes a capacidade de escolher entre vertical e horizontal; branco, cinza ou preto. Vá lá!” (Tradução nossa) 66 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 50 A figura cúbica Apesar de se tratar de uma figura cúbica, em que se subentende a igualdade em todas as faces, neste volume as paredes distinguem-se pelo tratamento da luz, assim como a luz que recebem. Baeza utiliza alguns planos de vidro para criar espaços interiores que controlam as entradas de luz adjacentes. Como veremos mais para a frente, nesta dissertação, Campo Baeza faz da luz a sua premissa na sua maneira de fazer arquitectura, a Caja General de Ahorros de Granada não é exepção. O arquitecto faz, dependentes da luz, a escala, a materialidade e a volumetria. Parafraseando o próprio: A luz é o material básico, imprescindível, da arquitectura. Com a capacidade misteriosa, mas real, mágica, de colocar o espaço em tensão com o Homem. Com a capacidade de dotar esse espaço de uma qualidade que consiga mover e comover o Homem. (Campo Baeza, 2008, p.36) De carácter publico/privado e organizado em dois pisos, organiza-se no interior por gabinetes individuais junto ao limite da fachada e por um espaço amplo e aberto resultante da disposição dos mesmos gabinetes. A malha estrutural apresentada, apresenta um “dinamismo arquitectónico” (Coelho, 2014, p.45), uma vez que um dos espaços foi chegado a uma das arestas da figura cúbica. No primeiro piso encontram-se; o pátio central, o auditório, a recepção e a cafetaria, assim como os espaços de trabalho. Já no segundo piso, encontra-se apenas um espaço destinado a pequenos eventos, amplo, com relação directa ao pátio central e aos lanternins. Para a resolução do programa proposto, Campo Baeza recorre a formas básicas da geometria, como é visível na resolução dos acessos verticais e das instalações sanitárias. Ilustração 20 - Alberto Campo Baeza, Caja General de Ahorros de Granada, 2001, Granada. Esquisso. (Pizza, 1999, p. 23) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira Ilustração 21 - Alberto Campo Baeza, Caja General de Ahorros de Granada, 2001. (Coelho, 2014) 51 A figura cúbica Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 52 A figura cúbica 3. INTERPRETAÇÃO DE OBRAS DE REFERÊNCIA No presente capítulo estudaremos daremos relevância a três obras que ilustram o tema em questão destacando as suas características distintivas e únicas na abordagem à figura cúbica como elemento principal do pensamento arquitectónico. Assim, destacaremos três possíveis maneiras de abordar esta geometria Euclidiana, nomeadamente, como adição, o projecto “The Unity Temple” do arquitecto Frank Lloyd Wright, que consiste na junção de duas figuras cúbicas com proporções distintas, representando assim o Templo e a Casa Unitários; como unidade, o projecto “Turégano House” do arquitecto Alberto Campo Baeza, que nos traduz uma leitura da figura cúbica no seu singular; e, como desconstrução, o projecto “House IV” do arquitecto Peter Eisenman, que nos transpõe para um pensamento desconstrutivista, também da forma cúbica, mantendo a génese do pensamento nesta geometria exacta. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 53 A figura cúbica 3.1. FRANK LLOYD WRIGHT E THE UNITY TEMPLE “Five lines where three are enough is always stupidity. Nine pounds where three are sufficient is obesity. But to eliminate expressive words in speaking or writing, words that intensify or vivify meaning, is not simplicity. Nor is similar elimination in architecture simplicity; it may be, and usually is, stupidity.” (Wright apud Gazey et al., 2013, p. 571) 67 Ilustração 22 - Frank Lloyd Wright, 1957 (Tietz, 2000, p. 16) Frank Lloyd Wright nasceu em 1867 na cidade de Richland Center68, nos Estados Unidos. Nunca teve uma formação académica que lhe proporcionasse uma abordagem teórica da arquitectura e – por motivos económicos – frequentou apenas um curso de desenho na Universidade de Wisconsin, em Madison69. Sem finalizar o curso, a partir de 1887, começou a trabalhar nos ateliers de Joseph L. Silsbee70, em Chicago e mais tarde no de Adler and Sullivan71, onde se desenvolveu como desenhador de casas unifamiliares. Foi simultaneamente precursor, protagonista, seguidor e executor da extensa linha de evolução do séc. XX – movimento moderno. A primeira pedra para o perfeccionismo com que elabora pessoalmente os projectos, desde a sua imagem vista de longe até “Cinco linhas, quando três são suficientes é sempre uma estupidez. Nove libras (cerca de 4 kg), quando três (cerca de 1,4 kg) são suficientes é obesidade. Mas para eliminar palavras importantes na leitura ou na escrita, palavras que signifiquem intensidade ou vivacidade, não é simplicidade. Nem a eliminação da simplicidade na arquitectura é semelhante; pode ser, e normalmente é, estupidez.” (Tradução nossa) 68 Richland Center é uma pequena cidade no Condado de Richland em Wisconsin nos Estados Unidos. 69 Madison é a capital de Wisconsin assim como a sede de condado de Dane County. Desde 2013, Madison tornou-se a segunda maior cidade de Wisconsin, depois de Milwaukee. A cidade de Madison delimita a área metropolitana dos Estados Unidos Census Bureau que inclui todos os Condados de Dane e os municípios vizinhos Lowa e Columbia. 70 Joseph L. Silsbee (1848-1913), foi um importante arquitecto americano durante os séculos XIX e XX. Conhecido pela sua capacidade de desenhar e projectar edifícios numa vasta variedade de estilos, influenciou uma geração de arquitectos nomeadamente arquitectos da “Prairie School” onde trabalhou directamente com Frank Lloyd Wright. 71 Adler and Sullivan foi um atelier de arquitectura fundado por Dankmar Adler e Louis Sullivan. A parceria “Adler & Sullivan” foi criada em 1883 quando Sullivan é adicionado ao atelier de arquitectura de Adler. 67 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 54 A figura cúbica aos pormenores do mobiliário, impondo a forma como elemento principal, foi colocada entre 1887 e 1893 quando Wright trabalhou no atelier de Louis Sullivan72. Enquanto à sua volta os edifícios eram polvilhados com adornos constantes – enfeites revivalistas – e mesmo antes dos artistas do movimento moderno terem elevado o valor fundamental da tese de Sullivan – “Form follows function”73- já Wright praticava nos seus projectos a harmonização da forma do edifício. É neste contexto de “desenhador” que Wright recebe as suas primeiras comissões, abrindo o seu primeiro atelier em 1893, em Chicago. Ao contrário dos seus colegas Gropious, Le Corbusier e Mies van der Rohe, Wright não se debruçou de modo tão intenso sobre concepções rigorosamente funcionalistas. Interessou-se por quase todos os temas do movimento moderno mas de maneira pragmática, através do projecto. Um exemplo deste facto é o conceito de “máquina” – enquanto na Europa se transpunha o seu esquema funcional para os edifícios, Wright considerava-o como ferramenta para a arte. Mantendo influências do Japão – cuja arte o marcou significativamente – e do movimento “Arts and Crafts”74 criou, na sua leitura do movimento moderno, em 1924 a “Charles Ennis house”, totalmente no espírito modernista, com elementos pré-fabricados em betão. Entendemos que Wright desenvolveu, durante toda a sua vida, uma didáctica de arquitectura orgânica. Contudo, o primeiro grande passo de Frank Lloyd Wright foram as “Prairie houses”75 que tinham como objectivo criar um novo gosto americano médio, elevando o padrão qualitativo da arquitectura residencial. As “Casas da Pradaria”, começaram em 1893, com a “Winslow house” em River Forest, Illinois que, com a sua lareira forte, telhado plano e fachada distintamente horizontal, a casa era um desvio tão radical, ao que o olhar estava habituado, nos costumes de edifícios suburbanos que causou um tremendo alvoroço entre os vizinhos. Louis Sullivan (1856-1924), conhecido por “pai dos arranha-céus” e “pai do modernismo” este Arquitecto Americano, influente e critico da Escola de Chicago, foi um mentor para Frank Lloyd Wright assim como uma inspiração para o grupo de Arquitectos de Chicago que vieram a ser conhecidos com a “Prairie School”. Juntamente com Hubson Richardson e Wright, Sullivan é um dos elementos que faz parte na “trindade da Arquitectura americana”. Em 1944 recebe uma Medalha de Ouro pelos AIA – American Institute of Architects. 73 “A forma segue a função” (Tradução nossa) 74 Arts and Crafts é um movimento que defende, desde meados do séc. XIX, um retorno às tradições das artes e dos ofícios de cunho medieval. O objectivo do movimento “Arts and Crafts”, dirigido por William Morris, Philip Webb e John Ruskin, era o de modelar a totalidade do ambiente quotidiano das pessoas com produtos de qualidade de manufactura artesanal, para que a produção em massa não ganhasse predominância destruindo a técnica dos produtos. 75 “Casas da Pradaria” (Tradução Nossa) 72 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 55 A figura cúbica In his 1900 article “A home in a Prairie Town” in the “Ladies’ home journal”, he compared the features with the vastness of the prairie and presented a layout in which the buildings were arranged in blocks to give all the residents as much space as possible. (Gazey et al., 2013, p. 570)76 Ilustração 23 - Casa W.H. Winslow, River Forest, Illinois; Frank Lloyd Wright, 1893 “Fachada principal” (Zevi, 1985, p. 27) Ilustração 24 - Casa W.H. Winslow, River Forest, Illinois; Frank Lloyd Wright, 1893. “Cavalariças e laboratório” (Zevi, 1985, p. 26) Numa planta revolucionariamente livre para as circunstâncias de então, em que os espaços interiores são distribuídos em torno de uma lareira sob coberturas amplamente balançadas e sobre um soco maciço, a casa abre-se à paisagem com “janelas em banda contínua” (Tietz, 2000, p.16). Apresentando assim, uma horizontalidade dominante neste conceito que faz surgir, a partir de 1910, dezenas de exemplares desta tipologia. Mais tarde, os edifícios começaram a ganhar individualidade, adaptando-se ao programa e ao terreno, surgindo, neste contexto, a “E. Kaufmann House”, mais “No seu 1900º artigo, “A home in a Prairie Town” em “Ladies’ home journal” ele comparou as características com a vastidão da pradaria e apresentou um esquema em que os prédios foram dispostos em blocos para dar a todos os moradores tanto espaço quanto possível.” (Tradução Nossa) 76 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 56 A figura cúbica conhecida por “Fallingwater house”77 pela simbiose perfeita que estabelece com a queda de água sobre a qual foi edificada, tornando-se, talvez, a construção mais famosa de Frank Lloyd Wright. Situa-se sobre uma cascata, entre colinas, da Pensilvânia; metida na sua formação rochosa, apresenta a apoteose da horizontalidade com algumas saliências – sala de estar e terraços superiores, correspondentes aos quartos de dormir. A entrada é de dimensões limitadas para que a cavidade luminosa da sala de estar possa mostrar “toda a sua potência explosiva” (Bruno Zevi, 1985, p. 152). “A Fallingwater foi uma grande graça divina – uma das maiores graças divinas que se podem experimentar aqui na Terra. Acho que nada igualou nunca a coordenação, a expressão harmoniosa do grande princípio de tranquilidade quando a floresta, água, rocha, todos os elementos estruturais se combinam tão silenciosamente […] Escuta-se a Fallingwater da mesma maneira que se escuta a quietude do campo […]” (Wright apud Pfeiffer, 2007, p. 123) Segundo Edgar Kaufmann Jr., ”Wright concebe o edifício como uma série de tabuleiros separados por breves massas de pedra e inteiriços nos bordos. Fixou a massa da chaminé directamente sobre um grande macinho e ao redor dela projectou os espaços” (Zevi, 1985, p. 152). Apesar de representar a “suprema vitória” sobre todos os limites que há milénios tinham condicionado a arquitectura, esta caixa, apresenta-se agora com os simples ideais de mudança e liberdade. Frank Lloyd Wright desenhou mais de oitocentos edifícios e explicou os seus ideais sobre arquitectura orgânica – na América democrática – em inúmeros artigos e livros como a revista “Architectural Record”78 com o título de “In the Cause of Architecture”79 e nas publicações “When Democracy Builds”80, de 1945; “The Future of Architecture”81, de 1953 e “The living City”82, de 1958. Fallingwater house, “Casa da Cascata”. Architectural Record é uma revista mensal americana que se dedica à Arquitectura e ao design interior. 79 “Na Causa da Arquitectura” (Tradução nossa) 80 “Quando a Democracia Constrói” (Tradução nossa) 81 “O Futuro da Arquitectura” (Tradução nossa) 82 “A Cidade Viva” (Tradução nossa) 77 78 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 57 A figura cúbica Ilustração 25 - “O cenário natural e a arquitectura. Vista da Cascata”. Casa da Cascata, Frank Lloyd Wright, 1936 (Zevi, 1985, p. 152) Ilustração 26 - Vista dos terraços salientes. Casa da Cascata, Frank Lloyd Wright, 1936 (Zevi, 1985, p. 154) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira Ilustração 27 - Pormenor da fachada, “janela de metal na tessitura da pedra”. Casa da Cascata, Frank Lloyd Wright, 1936 (Zevi, 1985, p. 155) 58 A figura cúbica UNITY TEMPLE This “natural building for natural man” is like a fortress from the outside but the interior is one of the finest achievements of modern architecture, an inner space which to Wright represented the true “reality of the buildings”. (Fernandéz-Galiano, 1995, p. 44)83 Esta “construção natural para o homem natural” é como uma fortaleza vista de fora, mas o interior é uma das melhores realizações da Arquitectura moderna, um espaço interior que Wright representou a “realidade dos edifícios” (Tradução nossa) 83 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 59 A figura cúbica Devido a um raio que atingiu a torre mais alta do tradicional “Gothic Revival Old Unity Church”84 e que acabou por se incendiar em 1905, a congregação Universalista de Oak Park85, recorreu ao arquitecto Frank Lloyd Wright para a construção de uma nova estrutura. Nasce “The Unity Temple”86 como é hoje conhecido, sendo este, na realidade, uma forma complexa compreendida pelo templo actual e uma anexada massa para actividades sociais e educacionais, conhecida como “Unity House”. Segundo Joseph M. Siry87, é preciso ter em conta uma das mais importantes e eruditas contribuições a explorar nomeadamente, o fundo religioso por de trás do Templo Unitário onde Siry começa “por onde se deve começar” (Zabel, 1996); pelo facto básico de que o Templo Unitário foi construído para uma congregação de Universalistas e Unitários. No entanto, se tivermos em conta o fundo religioso por detrás da família de Frank Lloyd Wright logo chegamos à intrigante conclusão de que Wright era filho de um pregador e sobrinho do Reverendo Jenkin Lloyd Jones, uma figura poderosa na comunidade unitária de Chicago e conhecido por ter trabalhado com o Arquitecto Joseph L. Silsbee para a construção de estruturas não convencionais “home-like” (Zabel, 1996) para todas as almas da igreja em Chicago assim como para a “Unity Chapel” perto de Spring Green, em Wisconsin. Como afirma Siry, “The uncle was a strong willed as young Frank”88, o que mesmo assim fez com que Jones recorresse ao seu sobrinho para a nova construção. Wright em parceria com Dwight L. Perkins89 apresentou, entre 1898 e 1903, vários desenhos para o centro. Contudo, foi Perkins a alma do projecto depois de Wright se ter retirado devido a conflitos pessoais com o tio. Como mostra Siry, “The conception on especially the auditorium of the Abraham Lincoln Center seems to be almost a dress rehearsal of many of the essentials ideas for Unity Temple” (Zabel, 1996), afirmando que Wright não trabalhou simplesmente com um pensamento modernista, mas com o objectivo de 84 Gothic Revival Old Unity Church foi a igreja que existia antes do Templo Unitário ser construído. Oak Park é uma vila adjacente ao lado oeste à cidade de Chicago no condado de Cook, em Illinois, nos Estados Unidos. 86 The Unity Temple - O Templo Unitário (Tradução nossa) 87 Joseph M. Siry é professor de história de arte e estudos Americanos na universidade de Wesleyan. As suas publicações focam-se sobretudo na Arquitectura de Sullivan e Wright. Das suas obras mais conhecidas destacam-se; Unity Temple: Frank Lloyd Wright and Architecture for liberal religion, e The Chicago Auditorium Building: Adler and Sullivan’s Architecture and the City, que recebeu o prémio Alice Davis Hitchcock pela Sociedade de Historiadores de Arquitectura., em 2003. 88 “O tio era tão obstinado como o jovem Frank” (Tradução nossa) 89 Dwight L. Perkins (1867-1941) foi um Arquitecto americano. Em 1894, depois de receber a sua primeira comissão, abriu o seu primeiro atelier com a ajuda de Daniel Burnham. Perkins ficou conhecido pelo seu estilo de Arquitectura mais conhecido como “Praire School”. 85 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 60 A figura cúbica responder às criticas colocadas pelo seu tio para a concepção de um auditório que correspondesse a ideais de uma religião liberal. Ilustração 28 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1906. Pormenor da entrada aos dois volumes (Zevi, 1985, p. 73) O Templo Unitário foi construído durante o “boom” da construção de várias igrejas protestantes justificando-se a mudança da sua construção para um terreno de esquina entre a Lake Street e Kenilworth Avenue relativamente às outras igrejas e edifícios públicos em Oak Park. Frank Lloyd Wright, o Arquitecto escolhido em Setembro de 1905 para desenhar uma nova estrutura - que viesse substituir a antiga igreja - mas também o escolhido para Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 61 A figura cúbica desenhar a sua mobília, apresentou os primeiros esboços em Dezembro do mesmo ano. Só em Março do ano seguinte estes foram aceites; a obra teve início em Maio tendo sido concluída em Outubro de 1908, dois anos depois (Zabel, 1995). Considerada uma das mais importantes obras de Wright, é mais um dos seus trabalhos protegido pelos AIA – American Institute of Architects.90 When Unity Church burned to the ground in June 1905, Wright was awarded the commission, and in 1906 Johonnot published a booklet titled, A New Edifice for Unity Church. He wanted a modern building that would embody the principles of “unity, truth, beauty, simplicity, freedom and reason.”91 Ilustração 29 - Unity Temple, Frank Llouyd Wright, 1906. Fachada principal (Zevi, 1985, p. 73) Programa: O Templo é caracterizado por dois grandes e distintos espaços – o Templo Unitário e a Casa Unitária – que são ligados através de um corredor baixo, onde é feita a entrada para o edifício, criando de maneira eficiente, a separação de quem se dirige ao templo de modo religioso ou para eventos comunitários. Esta concepção foi um dos primeiros projectos em que Wright utilizou um design bipartido – com duas porções de edifício semelhantes na composição mas separadas por uma passagem inferior. Acima das portas da fachada principal, está cravada a frase: “For the workship of God and the 90 Instituto Americano de Arquitectos (Tradução nossa) Quando a Igreja Unitária ardeu em Junho de 1905, Wright foi condecorado pela comissão, e, em 1906 Johonnot publicou um livrete intitulado A New Edifcie for Unity Church. Queria um edificio moderno que incorporasse os principios de “unidade, verdade, beleza, simplicidade, de liberdade e de razão” (Tradução nossa) 91 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 62 A figura cúbica service of man”92. Este pequeno salão de pé direito baixo e com pouca iluminação, é o que faz a transição entre os edifícios. Ilustração 30 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1905. Planta do piso 0 (Pfeiffer, 2007, p. 64) Ilustração 31 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1905. Planta do piso 1 (Pfeiffer, 2007, p. 64) Projectada para “[...] service of man”93, este espaço secular inclui uma sala de reuniões central flanqueada por varandins que fazem a divisão de pequenas salas de 92 “Para adoração a Deus e o serviço do homem” (Tradução nossa) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 63 A figura cúbica aulas e outras de uso especifico a operações diárias, transpondo, através das aberturas, a existência de uma relação visual directa. À semelhança de trabalhos anteriores de Wright – e aqui mencionados anteriormente – esta casa paroquial congregacional tem como centro de projecto uma poderosa lareira. De frente para a Casa Unitária encontra-se o templo que, cujo o acesso foi projectado de modo mais complexo do que se observa na Casa Unitária. Wright, magistralmente, manipula a sequência da entrada sugerindo ao utilizador passagens mais escuras – que denominou de claustros – que fazem o percurso antes de se chegar ao piso superior, onde se encontra amplo e iluminado o santuário. Ilustração 32 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1905. Secção longitudinal e pormenor da cobertura (Zevi, 1985, p. 74) O Santuário apresenta-se como o coração e a âncora de todo o edifício. Uma composição magistral de luz e espaço apresenta um contraste evidente na articulação elegante entre as cores quentes utilizadas e o cinzento, frio, do betão utilizado no exterior (National trust for historic preservation, 2013). Para reduzir os ruídos vindos do exterior, o arquitecto eliminou todas as janelas ao nível da rua, aproveitando a cobertura para a iluminação. É no tecto, onde a luz e transparência têm o papel principal, e que Wright mostra a sua assinatura, realizando uma cobertura plana perfurada por clarabóias quadradas, subindo as paredes exteriores até ao segundo 93 “[...] serviço do homem” (Tradução nossa) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 64 A figura cúbica andar, também sem janelas. No nível mais elevado essas paredes transmutam-se em biombos de vidro que se erguem ao encontro da clarabóia. Por conseguinte, visto do interior, o espaço parece ser ilimitado: a luz derrama-se do topo e de todos os lados. Wright justifica a escolha afirmando: […] to get a sense of a happy cloudless day into the room… daylight sifting through between the intersecting concrete beams, filtering through amber glass ceiling lights. Thus managed, the light would, rain or shine, have the warmth of sunlight. (National trust for historic preservation, 2013) 94 Desprovido de uma iconografia religiosa evidente, as suas proporções geométricas precisas declaram uma harmonia precisa na leitura do todo, fazendo desta concepção um salto na arquitectura de Frank Lloyd Wright. Espaço: Wright […] was already determined to pursue his idea of the “destruction of the box”, whereby the load-bearing structure should be independent of the wall enclosure, resulting in greater freedom in volumetric and spatial organization. (Fernandéz-Galiano, 1995, p. 44)95 Ilustração 33 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1905 (Fernandéz-Galiano, 1995, p. 46) O Templo Unitário é – segundo Siry – um dos edifícios cruciais na arquitectura mundial que se justifica conhecer em cada detalhe. Em particular, a escolha da figura cúbica para a construção do auditório ao invés da tradicional meia espiral. Todavia, a sensação de espaços revela-se no interior, onde quatro grandes colunas, recuadas 94 [...] para obter para dentro da sala a sensação de um dia feliz e sem nuvens... a luz do dia a espreitar entre as vigas de betão que se cruzam, filtrando através das luzes do teto envidraçado. Assim, a luz terá, faça chuva ou faça sol, o calor da luz do sol” (Tradução nossa) 95 “Wright [...] já estava determinado em seguir a sua ideia de “destruição da caixa”, sendo que a estrutura de suporte deve ser independente do conjunto de paredes, resultando numa maior liberdade na organização volumétrica e espacial” (Tradução nossa) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 65 A figura cúbica das paredes exteriores, suportam a planta de cobertura, que são, no entanto, rodeadas por três nichos sobre os lados livres e um púlpito elevado sobre o lado que está directamente ligado ao vestíbulo. Assim, os paroquianos não viram as costas ao pastor até a celebração estar terminada. (Zabel,1995) Como referido anteriormente, esta fluidez espacial é conseguida através do jogo de luz directa que atravessa a cobertura. Esta cobertura plana onde se inserem as “janelas altas”, apresenta-se quase como invisível a partir do interior, dando a sensação de que “acima da cabeça, o infinito” (Wright apud Pfeiffer, 2007, p. 65). Ilustração 34 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1905. Vista do interior do templo (Fernandéz-Galiano, 1995, p. 47) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 66 A figura cúbica Materialidade: A escolha de Frank Lloyd Wright foi uma combinação perfeita para todos os requisitos do novo templo, pois em todos os projectos que apresentou à congregação rompeu com quase todas as convenções existentes para a arquitectura eclesiástica tradicional ocidental. Sobre a escolha de materiais Wright afirma: “There was only one material to choose – as church funds were $45,000. Concrete was cheap.”96 (Wright apud Zabel,1995). Este foi um conceito arrojado adoptado pelo arquitecto que veio permitir que uma série de formas em betão se repetissem facilmente. Em harmonia com uma arquitectura orgânica, os blocos de betão foram deixados à vista assim como o gesso, o tijolo e a pedra, demonstrando Wright uma sensibilidade para com as características dos materiais. Este cuidado em manter a natureza dos materiais vem definida, desde cedo, na sua carreira como arquitecto. Em “In the Cause of Architecture” Wright insiste: Let their nature intimately into your scheme. Reveal the nature of wood, plaster, brick, or stone in your designs, they are all by nature friendly and beautiful. No treatment can be really a matter of fine art when those natural characteristics are, or their nature is, outraged or neglected.97 (Wright apud National trust for historic preservation, 2013) Ilustração 35 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1905. Pormenor da materialidade da fachada. (Fernandéz-Galiano, 1995, p. 50) “Só existia um material a escolher – visto os fundos da igreja serem de (aprox.) 58 500€. O betão era barato.” (Tradução nossa) 97 “Deixe a sua natureza intimidar o seu esquema. Revelar a natureza da madeira, do gesso, do tijolo ou da pedra nos seus projectos, todos eles são, por si só, fáceis e bonitos. Nenhum tratamento por ser realmente um assunto de arte bem feita quando essas características naturais são, ou a sua natureza é, violada ou negligenciada.” (Tradução nossa) 96 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 67 A figura cúbica Segundo Siry, as experiências do arquitecto para o material, tanto a nível estrutural como estético, foram exaustivas – Wright utilizou vinte painéis de ensaio, cada um com diferentes características, com o objectivo de escolher os acabamentos exteriores adequados para o edifício. Acabando por escolher o betão – juntamente com um agregado de cascalho fino, de cor neutra - tratado posteriormente numa lavagem com ácido depois de derramado para expor o agregado. Contudo, para Joseph M. Siry, o mais fascinante durante a construção do templo foi o esquema decorativo do “auditório cúbico” com aviões pintados, com faixas de madeira e uma iluminação fora do normal, que criavam no conjunto uma plasticidade tridimensional, através de padrões retilíneos, que foi pensado e repensado até ao último ano de construção do Templo Unitário. Porém, apesar de Wright ter escolhido o uso do betão a nível económico, o edifício, após concluído, acabou por custar o dobro do preço devido a complicações durante a fase de construção do mesmo. Ilustração 36 - Unity Temple, Frank Lloyd Wright, 1905. Pormenor da materialidade da fachada. (Fernandéz-Galiano, 1995, p. 51) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 68 A figura cúbica 3.2. ALBERTO CAMPOS BAEZA E A TURÉGANO HOUSE […] a Arquitectura, para além das formas que assume, é a ideia que se exprime com essas formas. É ideia materializada à medida do homem, o centro da Arquitectura. É ideia construída. A História da Arquitectura, longe de ser apenas uma História das formas, é basicamente uma História das Ideias Construídas. As formas destroem-se com o tempo, mas as ideias permanecem, são eternas. (Campo Baeza, 2009, p. 9) Ilustração 37 - Alberto Campo Baeza. (Campo Baeza, 2014) Alberto Campo Baeza nasceu em 1946, na cidade de Valladollid98, em Espanha. Formado pela Universidade Politécnica de Madrid, em 1971, constam, no seu percurso profissional, várias instituições onde leccionou, nomeadamente, na Escola Superior Alemã, em Zurique, de 1989 a 1990; na Escola de Inverno, em Dublin, dois anos mais tarde; na Domus International Courses, em Nápoles, em 1993; na Verginia Tech, em Verginia e na Royal Academy, em Copenhaga, em 1996; na Ecole d’Architecture, em Lausanne, em 1997 mantendo-se como professor na Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia, entre 1986 e 1999. Pertencente ao grupo de arquitectos espanhóis que tiveram a sorte de presenciar, em primeira mão, o período decisivo – na esfera política – do restabelecimento da democracia, não militar, em Espanha. A sua arquitectura tem estado, desde o principio, num processo de mudança gradual de exercícios, reflectindo – para melhor ou para pior – preocupações arquitectónicas teimosamente localizadas na base da abstracção de contextos temporais, sociais e culturais de arquitectura. 98 Valladolid é uma cidade em Espanha. Situada numa confluência de dois rios, Pisuerga e Esgueva, é conhecido como o 13º munícipio mais conhecido de Espanha e é considerada a maior cidade do noroeste espanhol. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 69 A figura cúbica No entanto, nos seus anos de aprendiz foram importantes mestres electivos, que tiveram uma influência muito forte e duradoura no início da sua carreira. Estes são o ponto de partida para qualquer tentativa de definir e contextualizar o seu trabalho e para rastrear o processo que gradualmente levou à destilação do estilo pessoal e único de Campo Baeza. Muitos nomes conhecidos foram referência para Campo Baeza nomeadamente, Le Corbusier, Mies van der Rohe, Barragán99 e Tadao Ando com influências notáveis no seu trabalho. Porém, segundo Antonio Pizza100: […] but I think he (Campo Baeza) learned more important things from a select band of Twentieth-century Spanish architects whom he personally knew and sometimes even worked with: Javier Carvajal101, Francisco Javier Sáenz de Oíza 102, Alejandro de la Sota103 and Julio Cano Lasso104.105 (Pizza, 1999, p. 8) Apesar das diferenças evidentes - Carvajal, pela sua “extrema musicalidade” (Campo Baeza apud Pizza, 1999, p. 8) aplicada na School of Alts Estudis; Sáenz de Oíza, pela “personalidade vulcânica”, (Campo Baeza apud Pizza, 1999, p. 8) representada através de um racionalismo persuasivo visível nas Torres Blancas, em Madrid e tecnológico no Banco de Bilbao, também em Madrid, mas também de um magnetismo visível no auditório, em Santander e no recinto definido por muros austeros do complexo residencial na M30, em Madrid; Sota, pela apresentação de uma influência mais evidente tanto a nível formal como conceptual; e Cano Lasso, pela relação mais directa com o arquitecto, tendo sido seu professor na Escola de Arquitectura de Madrid, empregando Campo Baeza no seu atelier quando este ainda era estudante. 99 Barragán (1902-1988), Luís Ramiro Barragán foi um arquitecto mexicano. Estudou engenharia na sua cidade natal (Guadalajara) ao mesmo tempo que fazia cursos adicionais para conseguir o título de arquitecto. Das suas obras destacamos as Torres Satélite, no México, de 1957. 100 Antonio Pizza é professor de História de Arte e Arquitectura na Escola Técnica Superior d’Arquitectura, em Barcelona. Escreve para várias revistas internacionais e já tem publicado: Guida all’architecttura del Novecento. Spagna, Josep Lluís Sert I la Mediterrània, Paul Scheerbart, La arquitectura de cristal, Londres-Paris, Teoria Arte y Arquitectura en la ciudad moderna e Arte y Arquitectura moderna. 101 Javier Carvajal (1926-2003) foi um arquitecto espanhol. Após se ter formado e ter recebido um prémio de mérito relative à sua tese de final de curso, foi vice comissário no ensino na II Bienal de arquitectura e Arte de São Paulo. 102 Francisco Javier Sáenz de Oíza (1919-2000) foi um arquitecto espanhol e influente na prática do movimento moderno em Espanha, passou a ser considerado o mais influente arquitecto espanhol durante a segunda metade do séc. XX. 103 Alejandro de la Sota (1913-1996) foi um arquitecto espanhol, graduado pela universidade em Madrid, acabando por ser professor na mesma instituição. Sota destaca-se pela combinação rigorosa da geometria nos seus projectos, que surpreendia sempre que utilizada. 104 Julio Cano Lasso (1920-1996) foi um arquitecto espanhol, que foi galardoado com o Prémio Extraordinário de Fim de Carreira. Destacam-se as suas obras: La Parcela G, em Gran San Blas, em finais dos anos 50 e Faculdad de Farmacia de la Universidad de Salamanca, cujo projecto definitivo foi apresentado em 1980. 105 “ […] mas eu acho que ele (Alberto Campo Baeza) aprendeu coisas mais importantes a partir de um grupo selectivo de arquitectos espanhóis do século XX, que conheceu pessoalmente e com quem chegou a trabalhar: Javier Carvajal, Francesco Javier Sáenz de Oíza, Alejandro de la Sota e Julio Cano Lasso.” (Tradução nossa) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 70 A figura cúbica Esta relação culminou com a concepção e construção de vários complexos educacionais nomeadamente, três centros de formação profissional, em Victória, Salamanca – Campo Baeza não faz distinções no que diz respeito à admiração clara. Ilustração 38 - Javier Carvajal with R. Garcia de Castro, The School of Alts Estudis Mercantils, Barcelona, 1954-1961 (Pizza, 1999, p. 8) Ilustração 40 - Alejandro de la Sota, Gabierno Civil, Tarragona, 1954-1957 (Pizza, 1999, p. 11) Ilustração 39 - Francisco Javier Sáenz de Oíza, Torres Blancas, Madrid, 1961-1968. (Pizza, 1999, p.9) Ilustração 41 - Julio Cano Lasso and Alberto Campo Baeza, Professional training Center, Salamanca, 1975 (Pizza, 1999, p. 11) Apesar das muitas influências de De La Sota sobre Campo Baeza, o mais evidente – visível nos seus projectos seguintes – tem vindo a ser a idealização, o que o levou, obsessivamente, a seguir uma arquitectura em que as formas, funções, volumetrias e outros componentes padrão de projecto arquitectónico se sintetizam – caracterizandose por unificações responsáveis por implicações teóricas. Num dos seus mais Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 71 A figura cúbica importantes textos, A Ideia Construída, Campo Baeza aborda com clareza estas questões antológicas: Architecture is idea expressed through forms... idea in constructed form. Far from being a history of forms, architectural history is really a history of constructed ideas. Forms are destroyed with passing of time; ideas remain and are eternal. (Campo Baeza apud Pizza, 1999, p. 12)106 A gravidade e a luz são os principais conceitos que traduzem a visão poética na realidade da arquitectura de Alberto Campo Baeza. Para o arquitecto, a gravidade constrói o espaço e a luz constrói o tempo, sendo que o centro da arquitectura está na maneira como o homem controla a gravidade e como se relaciona com a luz, fazendo depender a arquitectura de uma nova compreensão desses fenómenos. Por outras palavras, a arquitectura de Campo Baeza caracteriza-se através do contexto, função, composição e construção, porém, afirma ser “essencial” (Campo Baeza apud Pizza, 1999, p.) uma formalidade evidente mas não “minimalista” (Campo Baeza apud Pizza, 1999, p.). Parafraseando Mies van der Rohe, “menos é mais”, Campo Baeza define o seu conceito “mais com menos” (Campo Baeza apud Pizza, 1999, p.) como; […] a more which keeps human beings and the complexity of their culture firmly at the center of the created world, at the center of architecture. And a less which, leaving all questions of minimalism aside, distils the essence of a design by using a "precise number of elements" to translate ideas onto physical reality. (Campo Baza apud Pizza, 1999, p.)107 Desde o princípio de 1980, a concepção formal e de simplicidade volumétrica, de edifícios como a Câmara Municipal, em Fene, realizada no mesmo ano e a Escola de Enfermagem, em Aspe, realizada em 1982, começaram, desde logo, a ser coerentes numa linguagem que se vinha a adivinhar como pessoal. Segundo António Pizza, na Escola de Enfermagem, a pureza evidenciada e essencial apresenta, de maneira introvertida, um olhar diferente de “ler” o edifício; caracterizado por formas mais tímidas, que marcam contraste, mesmo quase fora do contexto - com o volume que foi cuidadosamente preparado mais abaixo, escavando as paredes de forma a criar “arquitectura é ideia expressa através de formas… ideia em formas construídas. Longe de ser a história das formas, a história arquitectural é a história de ideias construídas. As formas são destruídas com o passar do tempo; as ideias mantém-se e são eternas.” (Tradução nossa) 107 “[…] um mais que mantém os seres humanos e a complexidade da sua cultura firmemente no centro do mundo criado, no centro da arquitectura. E um menos que, deixando de lado todas as questões de minimalismo, destila a essência de um projecto, através de “um número preciso de elementos” para traduzir ideias para uma realidade física.” (Tradução nossa) 106 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 72 A figura cúbica sequencias articuladas de espaços. As superfícies brancas – também caracterizadas como parte “fora de contexto” (Pizza, 1999, p. 14) – são compensadas pelos tons naturais das palmeiras esbeltas que existem nos dois pátios exteriores. Ilustração 42 - Alberto Campo Baeza, Nursery School, Aspe, Alicante, 1982 (Pizza, 1999, p. 13) Outro dos projectos de grande importância na obra de Alberto Campo Baeza é a Caja General de Ahorros, em Granada, realizada em 1996. Porém, António Pizza afirma que o arquitecto transforma o conceito arquitectónico da luz, numa linguagem completamente monumental: The central courtyard, an authentic impluvium of light, gathers in solid Southern Mediterranean light through roof lights and reflects it off alabaster cladding to enhance the illumination of the public rooms [...] a stereochromic concrete-and-stone box captures sunlight to illuminate a tectonic box immersed in an impluvium of light, a diagonal space traversed by diagonal light. (Campo Baeza, 1999, p. 22)108 Significativamente e excepcionalmente, Campo Baeza listou muitas das influências referentes a este projecto, derivadas do edifício Daily Mirror, de Owen Williams109 e da obra El Navegante Interior, do pintor G. Pérez Villalta110, realizada para a Catedral de Granada, um dos interiores “mais incríveis do Renascimento” (Pizza, 1999, p. 22). “O patio central, um autêntico impluvium de luz, que se reúne em luz Sudeste Mediterrânea sólida através de clarabóias e reflecte-a [...] uma caixa de betão e pedra capta a luz solar para iluminar a caixa tectónica imersa no impluvium de luz, um espaço percorrido por luz diagonal.” (Tradução nossa) 109 Owen Williams (1890-1969), foi um engenheiro britânico e arquitecto. Apesar de conhecido como engenheiro, Williams, mesmo sem formação clássica ao nível da arquitectura mostrou grande proficiência nas suas obras e acreditava que estas duas disciplinas, engenharia e arquitectura, deviam trabalhar em conjunto. Conhecido pelo seu Daily Express Building, em Manchester e Boots D10, em Nottingham, destacamos a sua obra Daily Mirror, realizada em 1955, que mais tarde foi demolido. 110 Guillermo Pérez Villalta (1948-) é um pintor e escultor, membro da nova representação de Madrid e um dos mais famosos pintores do pós-modernismo em Espanha. 108 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 73 A figura cúbica Tendo estes três exemplos em comum, o efeito da manipulação da luz com a sua capacidade de esculpir espaço arquitectónico, segundo António Pizza. Ilustração 43 - Alberto Campo Baeza, Caja General de Ahorros, Granada, 1996-1999 (Pizza, 1999, p. 22) Na arquitectura de Alberto Campo Baeza, o tempo serve para delimitar uma metade temporal, em que o tempo cronológico é suspenso e congelado, eternamente. O tempo é construído pela luz; “[...] which slowly but surely eliminates the superficial trappings with which architecture is all too often bedecked.”111 (Campo Baeza apud Pizza, 1999, p. 22). Esta arquitectura, construída de tempo, e esta luz, resistente ao tempo e à mudança, aspiram a uma permanência clássica. “[...] que lentamente, mas seguramente elimina armadilhas superficiais com que a arquitectura é muitas vezes enfeitada.” (Tradução nossa) 111 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 74 A figura cúbica TURÉGANO HOUSE É claro que também eram caixas, caixas tectónicas, os projectos da casa Turégano e da Casa Gaspar. A primeira contendo um espaço diagonal tensionado pela luz diagonal, a segunda um espaço horizontal tensionado pela luz horizontal. (Campo Baeza, 2009, p. 65) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 75 A figura cúbica Havia uma vez, num velho país, um jovem arquitecto que amava apaixonadamente a Arquitectura e que insensatez a dele! Era um artista que pensava e construía casas. Era um pensador que construía. Era um construtor que pensava. E pensando e construindo, sonhando e tornando reais esses sonhos, era imensamente feliz. (Sendim, 1989, p. 93) Num período em que o arquitecto Alberto Campo Baeza realiza um conjunto de casas experimentais e que juntas formam um manifesto sobre o uso de luz em espaços prismáticos difundida por clarabóias em espaços monocromáticos. A Turégano House, do designer Robert Turégano e a Gaspar House são os edifícios mais representativos deste período. Construída em Pozuelo113, em Madrid, a Turégano House, é resultante de um concurso realizado pelos proprietários e os seus amigos arquitectos, sendo galardoada com o prémio especial atribuído a Campo Baeza na Bienal Mundial de Arquitectura, em 1989, na Bulgária. Ilustração 44 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, (Pizza, 1999, p. 72) 113 Pozuelo situa-se é considerado um subúrbio situado a 10km a oeste da zona de Moncloa, em Madrid. É cercada por grandes florestas de pinheiros do mediterrâneo, nomeadamente, la Casa de Campo, el Monte del Pardo e el Monte del Pilar. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 76 A figura cúbica Programa: Uma vez mais o mito da Cabana primitiva. “Chegar a poder construir um ideal para habitar nele, discorria o artista, deve ser o sumo da felicidade para o homem racional!” Habitar um ideal! Viver num sonho tornado realidade! No dia seguinte, que longo se lhe tornou aquele dia de quase mais de um ano, o nosso artista, com a ajuda de outros loucos que entenderam, deitou mãos à obra e construiu a ideia. (Sendim, 1989, p. 96) A casa apresenta-se organizada em dois: uma metade virada a norte, com zona de serviços e outra metade virada a sul, com os espaços referentes aos serviços. Na primeira metade encontra-se, conforme refere Anabela Sendim – na revista Architécti – uma tira central com casa de banho e escadas. Os quartos e a cozinha foram representados virados a norte. As áreas de estar e de jantar de pé direito duplo estão representados na parte referente aos serviços e o estúdio na parte superior, tem uma relação directa sobre a área de estar, produzindo assim um espaço diagonal “tripleheight” (Sendim, 1998, p.72). Ilustração 45 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. Esquisso. (Pizza, 1999, p. 72) Ilustração 46 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. Esquisso (Pizza, 1999, p. 77) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 77 A figura cúbica Ilustração 47 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. Plantas (Sendim, 1989, p.94) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 78 A figura cúbica Espaço: E recriava-se em considerar que a Beleza das suas obras provinha daquele pensamento construído. “Sem ideias, dizia, não pode haver boa Arquitectura: a Arquitectura é algo mais que apenas Forma.” “Sem construção, explicava, não pode haver verdadeira Arquitectura: a Arquitectura é algo mais que a ideia.” (Sendim, 1989, p. 93) A Turégano House, afirma António Pizza – anteriormente mencionado - é um exemplo de como o controlo da luz pode tornar-se um factor importante para determinar esta natureza e impacto geométrico do espaço. Ilustração 48 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. Interior. (Sendim, 1989, p. 98) Representado pela figura cúbica, esta “cabine branca” (Sendim, 1989, p.72), segundo Anabela Sendim, é acentuada pela tensão das janelas niveladas com a fachada e pelo acabamento branco dado ao todo. Como um dos principais elementos de estrutura de espaço arquitectónico, segundo António Pizza, a luz apresenta-se em todas as suas manifestações – horizontal, Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 79 A figura cúbica vertical, diagonal e zenital – transformando-se num “jogo obsessivo e principio fundador da arquitectura de Campo Baeza. Na passagem sudoeste-leste, a luz, uma característica importante nesta casa, é gradual, feita através de janelas e aberturas, tornando-a protagonista espacial de todo o projecto. Parafraseando Campo Baeza que aponta para o Pantheon como um excelente exemplo do que estava a tentar alcançar: […] If the new mayor of Rome decided to close up the bull’s-eye in the roof – it is almost nine meters in diameter – to keep out the rain and cold, many things would happen… or rather, many things wouldn’t happen. Nothing of that perfect construction, that marvellous composition, would be altered. The building would still convey its universal message, and the venerable landscape of Ancient Rome would not reveal all its secrets (at least not on the first night). And yet, no trace would remain of that miraculous UNTRAP devised by human beings to ensure that light from their friendly star would rain down inside the building every single day of the year. The Sun would MOURN its passing, and so would Architecture, because they are more than just friends.” (Campo Baeza apud Pizza, 1999, p.15)114 Ilustração 49 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. Interior. (Sendim, 1989, p. 99) “[…] Se o novo prefeito de Roma decidisse fechar o olho de boi no telhado – são quase nove metros de diâmetro – para impedir a entrada da chuva e do frio, muitas coisas aconteceriam... ou melhor, muitas coisas não aconteceriam. Nada daquela maravilhosa construção iria ser alterada. O edifício continuava a transmitir a mensagem universal, e a paisagem vulnerável de Roma não revelaria todos os seus segredos (pelo menos, não na primeira noite). No entanto, não permaneceria nenhum traço desse un-trap planejado por seres humanos para garantir que a luz da sua estrela amiga desça no interior do edifício todos os dias do ano. O sol lamentaria a sua passagem, assim como a arquitectura, porque são mais do que apenas amigos.” (Tradução nossa) 114 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 80 A figura cúbica E como pulsava o seu coração quando se erguiam aquelas paredes que proclamavam que aquela realidade era possível. E como tremeu o seu espírito quando a LUZ decidiu, aprisionada, permanecer para sempre aquelas paredes. E como se comoveu todo o seu ser quando a BELEZA penetrou radiante naquele espaço para nunca mais o abandonar. O artista julgou morrer de felicidade. E ao terceiro dia, ainda dura esse tal dia, descansou! E viu que o que tinha feito era bom. […] (Sendim, 1989, p. 97) Ilustração 50 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. Interior. (Sendim, 1989, p. 96) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 81 A figura cúbica Materialidade: “[...] E viveu naquela branca e luminosa casa eternamente feliz!” (Sendim, 1989, p.97) Ilustração 51 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. (Pizza, 1999, p. 73 Ilustração 52 - Alberto Campo Baeza, Casa Turégano, 1988, Pozuelo, Madrid. (Sendim, 1989, p. 97) Um dia, o nosso eternamente jovem arquitecto, o artista, sonhou em viver numa ideia: numa branca e cúbica cabana. Pois sempre havia pensado que em vez de procurar o Paraíso e nele a Cabana, tratava-se de construir a Cabana e com ela o Paraíso. (Sendim, 1989, p.97) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 82 A figura cúbica 3.3. PETER EISENMAN E A HOUSE IV “Architecture exists only when it is liberated from itself.”115 (Eisenman apud Gazey [et al.], 2013, p.128) Ilustração 53 - Peter Eisenman (Gazey [et al.], 2013, p. 128) Peter Eisenman nasceu em 1932, na cidade de Newark, em New Jersey. Manteve o seu percurso escolar na Columbia High School, também em New Jersey, acabando por terminar o curso de arquitectura na Universidade de Cornell. Ao longo da sua carreira como estudante – depois de abdicar de diversas actividades extra curriculares para se dedicar a tempo inteiro aos estudos - foram-lhe reconhecidos vários diplomas nomeadamente, Bachelor of Architecture Degree116, pela Universidade de Cornell; Master of Architecture Degree117, pela Escola de Pós-Graduação de Arquitectura, Planeamento e Preservação, da Universidade de Columbia e o certificado de Mestrado e Doutoramento pela Universidade de Cambridge. Durante 1957 foi membro da TAC118, fundada por Walter Gropious. Dez anos mais tarde acabou por fundar The Institute of Architecture and Urban Studies119, em Nova Iorque, onde se manteve director até 1982. Para que se consiga ter uma leitura precisa da “arte” de Eisenman é preciso que se localize o arquitecto na corrente filosófica que durante décadas subsidiou um dos principais paradigmas teóricos referentes ao universo da arquitectura pós-moderna – o desconstrutivismo. Eisenman afirma que a ideia de que a arquitectura perdeu a sua legitimidade numa época de crise geral de valores precipitada pela descoberta reveladora de que os “modos de conhecimento” do iluminismo eram simplesmente 115 116 117 118 119 “Arquitectura só existe quando é libertada de si mesma” (Tradução nossa) “Certificado de Licenciatura em Arquitectura” (Tradução nossa) “Certificado de Mestrado em Arquitectura” (Tradução nossa) TAC, The Architects’ Collaborative “Instituto de estudos Arquitectónicos e Urbanos” (Tradução nossa) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 83 A figura cúbica uma “rede de argumentos carregada de valor” (Eisenman apud Alencar, 2009, p.112). Assim, Eisenman direcciona o seu pensamento em busca da liberdade da arquitectura, retirando-lhe os cânones construtivos do racionalismo e funcionalismo modernos, tais como a “pureza da forma, a verdade dos materiais, ou ainda, “a forma segue a função” (Alencar, 2009, p. 113). Para além da fundamentação filosófica, o nome desta corrente arquitectónica deriva também do construtivismo, pois muitos seguidores foram influenciados por experimentações formais. Os primeiros projectos que se titularam “desconstrutivistas” têm em comum o uso da grelha conceptual, em que sobre a mesma são efectuadas transformações e distorções que se fazem explícitas no produto final. Como exemplo do que foi acabado de referir damos nota do projecto de Bernard Tschumi120, o Parc de la Villette e do projecto de Peter Eisenman, o Wexner Center for the arts. Ilustração 54 - Parc de la Villete, Bernard Tschumi, 1982 (Kroll, 2011) Ilustração 55 - Wexner Center for the Arts, Peter Eisenman, 1989 (Langdon, 2014) O principal contributo da filosofia desconstrutivista à teoria da arquitectura deu-se a partir da influência do filósofo Jacques Derrida121 sobre Peter Eisenman. Este, assim como Tschumi, tem interesse pelo entendimento dos limites da disciplina da arquitectura e questiona a sua concepção como objecto, afirmando uma arquitectura enquanto conceito teórico (Alencar, 2009, p114). 120 Bernard Tschumi (1994- ) é um arquitecto, escritor, educador e seguidor do desconstrutivismo. Filho do conhecido arquitecto Jean Tschumi, trabalha e vive em Nova Iorque e em Paris. Estudou em Paris e em Zurique onde recebeu o seu diploma em arquitectura, em 1969. Das suas obras, destacamos: Parc de la Villette, em Paris, realizado em 1982. 121 Jacques Derrida (1930-2004) foi um filósofo francês, conhecido pelo desenvolvimento de um modo de análise simbiótica ao pensamento desconstrutivista, discutido em inúmeros textos. Foi uma das figuras mais importantes associadas ao pós-estruturalismo e à filosofia pós-moderna. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 84 A figura cúbica Para o problema da crise da representação, Eisenman trabalha com a proposição de uma arquitectura como escrita em oposição à arquitectura como imagem, pondo fim à representação do objecto como único assunto metafórico da arquitectura. Esta crise da razão dá-se a partir da consciência de que o fundamento da verdade, em que tanto os renascentistas como os modernistas haviam confiado, dependia, essencialmente, da fé, acabando o funcionalismo de mostrar eficientemente uma melhor solução estilística. Vivemos num mundo relativista, mas que almeja à substância absoluta, a algo que seja incontestavelmente real. Por sua própria essência, a arquitectura converteu-se no inconsciente da sociedade, na promessa desse real inequívoco. (Eisenman apud Alencar, 2009, p. 114) Evitando o tempo como finalidade da arquitectura - e evitando-o – em Eisenman existe uma intenção de atemporalidade, no sentido de não referenciar a sua arquitectura com obras históricas, pois defende que a arquitectura tem de valer por si mesma, pelo que ela é, e não pelo que ela quer representar. Deste modo, também não existe uma preocupação com o “homem tipo” que existia no movimento moderno, ou seja, Eisenman não está interessado na ergonomia, nem na funcionalidade dos seus passos, o que se traduz a numa falta de atenção ao homem como sujeito, defendendo que o objectivo da sua obra é a obra em si, e não o sujeito. Não sendo mais o homem como centro do universo, Eisenamn contrapõe essa ideia de centralidade através de labirintos evidentes que rejeitam o centro. Existe uma dialética que se traduz na presença e na ausência, ou no sólido e no vazio, tanta em projectos edificados como nos que não foram construídos. Tanto Derrida como Eisenman acreditam que a dialética da presença e da ausência é encontrada na construção e na desconstrução. (Alencar, 2009, p.115) Com uma arquitectura facilmente identificável pelo seu aspecto fragmentado e pela ousadia como se insere no meio urbano – nomeadamente nos primeiros tempos Eisenaman inseriu a parte “[...] axonométrica, que representa a obra arquitectónica com uma maneira de arrancar as formas e compromete-las numa percepção mental devido à distorção do ponto de fuga.” (Alencar, 2009, p.115) A arquitectura de Peter Eisenman caracteriza-se pelo uso de formas geométricas e orgânicas que se cruzam entre planos e estruturas, onde vigamentos, perfis e superfícies são rebatidas e cortadas. Assim, “[...] numa arquitectura de constante pesquisa pela “destruição” de Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 85 A figura cúbica formas Euclidianas simples [...]” (Alencar, 2009, p.115), é-nos dado a conhecer o seu projecto “Houses I to X”, que iremos abordar mais à frente neste subcapítulo. Deste modo, começou a desenvolver a sua teoria isotérica da arquitectura, com base no que tinha sido convidado para expor na exposição “Desconstrutivist Architecture”122, no Museu de Arte Moderna, e constituem também na sua obra projectos que tiveram grande destaque, nomeadamente, o Convention Center, em Ohio e o “Memorial to the Murdered Jews of Europe123”, em Berlim, que se caracteriza por: “ [...] is a place of meditation at the cutting edge of architecture and art, which manages to survive in a difficult enviroment”124 (Gazey [et al.], 2013, p.128) Ilustração 56 - Greater Columbus Convention Center, Peter Eisenman, Ohio, 1989-1993 (Gazey [et al.], 2013, p. 128) Ilustração 57 - Memorial to the Murdered Jews of Europe, Peter Eisenman, Berlim, 2004-2005 (Google ink.) “Arquitectura Desconstrutivista” (Tradução nossa) “Memorial para os Judeus assassinados da Europa” 124 “[...] é um lugar para a meditação no limiar da arquitectura e da arte, que consegue sobreviver numa envolvente agitada.” 122 123 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 86 A figura cúbica HOUSE IV […] Noutras palavras, a narrativa em literatura pode expressar um contínuo fluxo temporal, de ideias, e consequentemente ser muito mais subtil e aberto à imaginação e interpretação. A arquitectura está, é uma atitude de acção única, e por isso a arquitectura, ao contrário da literatura, lida com o espaço enquanto que a literatura lida com o tempo. Logo, a mim interessa-me uma relação de ideias e concepções de tempo com o espaço, algo que considero muito importante e que nem sempre tem sido totalmente compreendido na arquitectura. (Eisenman apud Viana, 2012, p. 140) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 87 A figura cúbica O projecto da “House IV”125 está inserido no contexto de uma série de casas que Peter Eisenman projectou em busca de alternativas estratégicas ao modo de fazer e ler a arquitectura. Realizadas entre finais das décadas de 1960 e 1970, as casas foram publicadas com suporte em textos e imagens, passando a designar-se: “Houses, I, II, III, IV, V, VI, VIII, X e XIa”. Destas, a casa que vamos abordar é a IV, contudo não poderemos lá chegar sem referirmos três casas que nos transmitem linhas de pensamento semelhantes – I, II e III. Ilustração 58 - X Houses, Peter Eisenman, 1960 (Eiseinman, 1975) A “House I” foi a primeira casa de Eisenman, a ser projectada em 1968, tendo sido este projecto uma ampliação da casa de um coleccionador de brinquedos, em Princeton126; a “House II” foi construída em Hardwick127, em 1969; e a “House III” foi construída em 1971, em Lakeville128. Nestas três primeiras casas é perceptível como inicialmente começam pela figura cúbica simples que mais tarde é decomposta passando por torções, extrusões, rotações – permitindo que se recupere o paradigma nuclear, de maneira a possibilitar o entendimento do processo geracional da obra. Na criação da “House I”, “[...] foram utilizadas duas malhas distintas sobre o cubo tripartido para a marcação da estrutura no espaço, gerando assim, duas estruturas simultâneas que se sobrepõe e integram” (Eisenman, 1975). Dentro da configuração de cada malha existem elementos necessários à construção – pilares, vigas, vãos – que deixam de ser identificados de imediato como agentes de função estrutural, pois a sobreposição das malhas gera tanto elementos estruturais como elementos sem função aparente. Assim, apresenta-se um projecto independente do programa e da função estrutural, que, a função apesar de não deixar de existir, perde o seu carácter “Casa IV” (Tradução nossa) Princeton é um município situado em New Jersey, nos Estados Unidos. 127 Hardwick é uma cidade no Condado de Worcester, em Massachusetts, nos Estados Unidos, situada a cerca de 32km a oeste da cidade de Worcester. Inclui as aldeias de Hardwick, Gilbertville, Wheelwright e Old Furnace. 128 Lakeville é um suburbia 37km ao sul do centro de Minneapolis, em Dakota County, no Estado de Minnesota. 125 126 Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 88 A figura cúbica de causalidade, na qual a forma segue a função, ou seja, existe, mas não corresponderá necessariamente à forma que tradicionalmente a simboliza.(Eisenman, 1975) Esta estratégia non-structural129 utilizada por Eisenman que introduz uma leitura, em que o significado estrutural é tomado como constante à forma, mesmo sendo nonstructural, é aplicada nas suas três casas seguintes – II, III, IV – promovendo uma ou duas malhas a partir da figura cúbica, com marcações estruturais distintas, gerando um espaço formal complexo e de sobreposições. Todavia, apresenta a partir da “House VI” um processo de decomposição de um sujeito que, nas casas anteriores, ainda mantinha reminiscências aparentemente teóricas da linguística de Chomsky. A “House IV”, foi elaborada de acordo com um conjunto de regras sintácticas onde o espaço cúbico básico foi organizado com uma malha de 3x3, que poderia vir a ser levantada com colunas e paredes paralelas. Eisenman resolveu utilizar os dois sistemas, fazendo-os confluir contra uma divisão diagonal do cubo. Posto isto, observou os espaços negativos que se formaram, distribuindo entre eles as várias funções vitais. 129 “Não-estrutural” (Tradução nossa) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 89 A figura cúbica Ilustração 59 - House IV, Peter Eisenman, 1960. (Eisenman, s.d.) Ilustração 60 - House IV, Peter Eisenman, 1960. (Eisenman, s.d.) Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 90 A figura cúbica 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente investigação permitiu a compreensão das diferentes utilizações da figura cúbica como pensamento arquitectónico. Conhecida como uma forma ligada directamente à cosmologia, ganha com o passar do tempo uma leitura mais formal e muitas vezes destruída. Utilizada com destaque a partir de 1900, a figura cubica, trabalhada de forma bruta, sem desvirtuar essa mesma forma, acaba por ser interpretada, ao longo do tempo de maneira diferente, nomeadamente quanto à sua função, chegando ao ponto de conceptualmente ser totalmente desconstruída. Tendo presente os diferentes projectos aqui mencionados e as funções a eles associadas, constatamos que a figura cúbica não compromete a função a que se destina, permitindo, como vimos diferentes abordagens à gestão do espaço e da luz. Para tal, esta investigação baseou-se essencialmente na pesquisa e análise de obras arquitectónicas e teóricas, relacionadas com a figura cúbica, desde o Movimento Moderno até à actualidade. Neste sentido, o trabalho realizado pretendeu relevar a importância da figura cúbica na execução de projectos de arquitectura, salientando diferenças no uso e na forma. Para tal, foram seleccionados projectos organizados cronologicamente, dando uma noção da utilização da figura cúbica como forma e foram escolhidas obras distintas que nos permitem identificar maneiras de trabalhar a figura cúbica consoante funções alternativas. Os diferentes comportamentos, que advém da primazia da forma sobre a função ou o inverso, não comprometem o seu enquadramento na envolvente urbana ou/e paisagística. Fica claro, contudo, que quer na sua forma básica quer com desenvolvimentos verticais, horizontais e, mesmo, rotativos ou fraccionados a figura cúbica reveste-se de importância relevante na conceptualização e afirmação do projecto arquitectónico, quer na sua definição quer na sua concretização. Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 91 A figura cúbica Maria Isabel Paes de Carvalho Rivera Ferreira 92 A figura cúbica REFERÊNCIAS PLATÃO (2011) – Timeu-Crítias. Tradução do grego, introdução, notas e índices: Rodolfo Lopes. 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