INSTITUTO BIOLÓGICO PÓS-GRADUAÇÃO COMPARAÇÃO DE MÉTODOS PARA ISOLAMENTO DE LINHAGENS ENDOFÍTICAS E EDÁFICAS DE Bacillus thuringiensis Berliner EM CANADE-AÇÚCAR (Saccharum officinarum L) Maria Elízia Pacheco Ferreira Dissertação apresentada ao Instituto Biológico, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, para obtenção do título de Mestre em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio. Área de Concentração: Sanidade Vegetal, Segurança Alimentar e o Ambiente. Orientador: Prof. Dr. Luís Garrigós Leite São Paulo 2012 DADOS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) Núcleo de Informação e Documentação - Biblioteca Instituto Biológico Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo __________________________________________________________________________ Ferreira, Maria Elízia Pacheco Comparação de métodos para isolamento de linhagens endofiticas e edáficas de Bacillus thuringiensis Berliner em cana de açúcar (Saccharum officinarum L). / Maria Elízia Pacheco Ferreira. -- São Paulo, 2012. Dissertação (Mestrado). Instituto Biológico (São Paulo). Programa de Pós-Graduação. Área de concentração: Sanidade Vegetal, Segurança Alimentar e o Ambiente. Linha de pesquisa: Controle biológico. Orientador: Luis Garrigós Leite. Versão do título para o inglês: Comparision of methods for isolation of endophytics and edaphics Bacillus thuringiensis Berliner strains from sugar cane (Saccharum officinarum L). 1. Endofiticos 2. Edáficos 3. Bacillus thuringiensis 4. Controle biológico 5. Isolamento I. Ferreira, Maria Elízia Pacheco II. Instituto Biológico (São Paulo). Programa de PósGraduação III. Título IB/Bibl./2012/026 __________________________________________________________________________ iii SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO AGÊNCIA PAULISTA DE TECNOLOGIA DOS AGRONEGÓCIOS INSTITUTO BIOLÓGICO Pós-Graduação Av. Cons. Rodrigues Alves 1252 CEP 04014-002 - São Paulo – SP [email protected] FOLHA DE APROVAÇÃO Maria Elízia Pacheco Ferreira COMPARAÇÃO DE MÉTODOS PARA ISOLAMENTO DE LINHAGENS ENDOFÍTICAS E EDÁFICAS DE Bacillus thuringiensis Berliner EM CANA-DE-AÇÚCAR (Saccharum officinarum L) Orientador: Dr. Luis Garrigós Leite Dissertação apresentada ao Instituto Biológico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios para obtenção do título de Mestre em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio. Área de Concentração: Sanidade Vegetal, Segurança Alimentar e o Ambiente. Aprovada em: 23 de Novembro de 2012 Banca Examinadora Assinatura: Prof. Dr.: Luis Garrigós Leite Instituição: Instituto Biológico Assinatura: Prof. Dra.: Suzete Aparecida Lanza Destéfano Instituição: Instituto Biológico Assinatura: Prof. Dr.: Ricardo Antônio Polanczyk Instituição: Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - UNESP iv Aos amores da minha vida: Augustinho (esposo), Camila, Natália e Vítor (meus três lindos filhos). Pelo carinho e paciência que tiveram comigo nestes dois longos anos e pelas muitas horas que lhes roubei durante a realização deste trabalho. Dedico v AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Dr. Luís Garrigós Leite, pelos ensinamentos e por ter sido tão dedicado, gentil e paciente durante a realização deste trabalho, além de sua demonstração de coragem e inovação em ingressar numa nova linha de pesquisa. A minha grande amiga Patrícia Ballone, estagiária do Laboratório de Controle Biológico e anjo que Deus enviou para me ajudar a realizar todos os experimentos que culminaram nesta dissertação. Todas as palavras de agradecimento serão insuficientes para demonstrar o meu apreço e minha gratidão. Ao Dr. Valmir Antônio Costa, por ser tão generoso pelo empréstimo do aparelho microscópico, sem o qual a pesquisa não teria se concretizado, e pelas lindas fotos que tirou. E é claro, por ser uma pessoa tão agradável e gentil. A todos os pesquisadores do Laboratório de Controle Biológico, em especial ao Dr. Antônio Batista Filho, Dr. José Eduardo Marcondes de Almeida e Dra. Zuleide Alves Ramiro, pelo apoio e boa convivência. À Dra. Suzete Aparecida Lanza Destéfano, Dr. Ricardo Antônio Polanczyk e Dr. Mário Eidi Sato, pelas preciosas contribuições durante a correção deste trabalho. À mestre e amiga Marília Marcassi, pela ajuda durante a criação das lagartas de Diatraea saccharalis, utilizadas durante os bioensaios. A todos os amigos e companheiros do Laboratório de Controle Biológico que conviveram comigo durante os dois longos anos, agradeço pela ajuda e compreensão, especialmente às pessoas com as quais tive maior contato: Patrícia Ballone, Aline Almeida, Ana Paula Ferreira, Ana Paula Pinto, Fábio Schmit, Lucas Simi, Mariana Silva, Mariana Garcia, Marília Marcassi, Daysi Penna, Renata Marraschi, Roselaine Bueno, Advaldo Francisco Barreto e Tatiane Pietrobon. Ao mestre e amigo Fábio Schmit, por toda a ajuda que me prestou durante os primeiros experimentos. A minha amiga, Dra. Marise T. Suzuki, por todas as orientações acerca dos procedimentos de isolamento e identificação da espécie bacteriana Bacillus thuringiensis. À equipe do Instituto Agronômico de Campinas – IAC, em especial à Dra. Adriana Parada e sua orientanda Raquel de Paula Freitas pela acolhida durante o período de treinamento inicial que me ajudaram a dominar a técnica de isolamento dos microorganismos endofíticos. Aos colegas de curso, professores, pesquisadores e funcionários do Programa de Pós-graduação do Instituto Biológico, que muito me ensinaram, me divertiram e que me transmitiram entusiasmo e esperança nos momentos mais difíceis. E à saudosa amiga Erica vi Pedro, pelo seu carisma e amizade e que de onde ela estiver possa nos ajudar a encontrar paz de espírito. À Usina São João, em especial à funcionária Monea, por ceder lagartas de D. saccharalis que foram utilizadas durante os bioensaios. À minha grande amiga e ex-orientadora Dra. Rosely Aparecida Liguori Imbernon, grande incentivadora e valorizadora das minhas qualidades, agradeço pela linda carta de recomendação. Ao meu ex-professor Dr. João Lúcio de Azevedo, especialista em endofíticos e responsável por instigar o meu interesse por esta linha de pesquisa, agradeço pelos ensinamentos e por toda a ajuda durante a realização do projeto de dissertação. A toda a equipe de amigos, alunos e funcionários da EMEF Prof. Manoel de Abreu e EMEF Min. Synésio Rocha pela ajuda e compreensão durante as minhas inúmeras ausências, necessárias durante a realização deste trabalho. E finalmente, a toda a minha família: esposo, filhos, pais, irmãos (especialmente à Helena), e aos verdadeiros amigos que sempre me incentivaram a trilhar novos caminhos e a não desistir dos meus sonhos. Agradeço a Deus por fazer parte da história de todas estas pessoas! vii “... Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo…” (Fernando Pessoa) viii FERREIRA, M.E.P. COMPARAÇÃO DE MÉTODOS PARA ISOLAMENTO DE LINHAGENS ENDOFÍTICAS E EDÁFICAS DE Bacillus thuringiensis Berliner EM CANA-DE-AÇÚCAR (Saccharum officinarum L.). São Paulo. 2012 (Mestrado em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio) – Instituto Biológico. RESUMO A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L) é uma cultura de grande relevância econômica e social no Brasil e no mundo, que apresenta grande número de pragas e patógenos causadores de grandes prejuízos na lavoura. O Bacillus thuringiensis (Bt) mundialmente utilizado como agente de controle biológico de vetores de patógenos humanos e pragas de lavouras, incluindo da cana-de-açúcar foi o destaque deste trabalho, que teve por objetivo: 1. Isolar linhagens endofíticas de Bacillus sp. das raízes de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) bem como do seu solo (edáficas), através de dois diferentes procedimentos metodológicos; 2. Identificar as linhagens de Bacillus thuringiensis (Bt) através da avaliação da patogenicidade dos isolados sobre o lepidóptero Diatraea saccharalis (Lepidoptera: Crambidae) e da análise microscópica dos cristais proteicos, comparando a densidade das populações endofíticas e edáficas. Onze amostras de raízes de cana-de-açúcar e de seu substrato foram preparadas, submetidas a tratamento térmico e inoculadas em meio NA. Para o isolamento pelo método OMS, utilizou-se Placas de Petri contendo meio NA contendo Solução de Penicilina G (100mg/L), incubadas em BOD por cinco dias a 29º C. Já no método Polanczyk, o isolamento deu-se através de duas fases, a primeira em placas de Petri contendo NA (incubadas em BOD por cinco dias a 29º C) seguida de uma segunda fase em meio CCY Broth líquido contendo Penicilina G (100mg/L), sob agitação durante 4872 horas. O método Polanczyk isolou maior densidade de linhagens de Bacillus sp. por grama de solo e de raiz, comparado ao método OMS. Identificou-se 779 linhagens de Bacillus sp. das quais 248 foram confirmadas como Bacillus thuringiensis (213 edáficas e 35 endofíticas), através dos testes de patogenicidade contra larvas de D. saccharalis e observação microscópica dos cristais proteicos. A densidade de UFC de Bacillus thuringiensis edáficas foi superior à endofítica. E a maioria das linhagens patogênicas que ix provocou 100% de mortalidade das larvas foi isolada do interior das raízes, indicando que as linhagens endofíticas podem ter grande potencial como agente de controle biológico deste inseto-praga. O teste de Tukey apontou diferenças significativas entre os dois procedimentos para o isolamento de Bacillus sp. e Bacillus thuringiensis, mas não apontou diferenças significativas entre os ambientes edáficos e endofíticos, exceto para o procedimento de Polanczyk. Palavras-chave: Endofíticos, Edáficos, Bacillus thuringiensis, Controle Biológico, Cana-deaçúcar, Isolamento. x FERREIRA, M.E.P. COMPARISON OF TWO METHODS FOR ISOLATION OF ENDOPHYTICS AND EDAPHIC Bacillus thuringiensis Berliner STRAINS FROM SUGAR CANE (Saccharum officinarum L.). São Paulo. 2012 (Mestrado em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio) Instituto Biológico. ABSTRACT Sugarcane (Saccharum officinarum L) is a crop of great economic and social importance in Brazil and in the world, which faces problems related to insect pests, mostly underground pests that cause immense losses to the farms. Bacillus thuringiensis (Bt) is an agent used worldwide for biological control of insect vectors of human diseases and pests of agriculture crops, including sugarcane. This study aimed to: 1) Isolate endophytics strains of Bacillus sp. from sugar cane (Saccharum officinarum L.) roots and from soil using two different methodologies; and 2) Identify Bacillus thuringiensis (Bt) strains by evaluating its pathogenicity to D.saccharalis (Lepidoptera: Crambidae) and by microscopic analysis detecting the presence of the protein crystals. Eleven samples of sugar cane roots and its substrate were prepared, heat-treated and inoculated in NA. By the WHO procedure, isolation was done using Petri dishes containing NA medium supplemented with Penicillin G solution (100mg / L) incubated in BOD for five days at 29 °C. By the Polanczyk procedure, isolation occurred across two phases: the first in Petri dishes containing NA, incubated in chamber for five days at 29 °C, and de the second, in flasks containing liquid CCY Broth medium + Penicillin G (100mg / L), kept shaking for 48-72 hours. The Polanczyk procedure showed higher Bacillus sp. density per gram of soil and roots, compared WHO procedure. 779 strains were identified of which 248 were confirmed as Bacillus thuringiensis (213 edaphic and 35 endophytic) by using the pathogenicity tests against D. saccharalis larvae and by observing microscopically the presence of protein crystals. Bacillus thuringiensis showed higher UFC density in the edaphic environment compared to endophytic one. Meanwhile, for the Polanczyk procedure, most endophytic Bt strains were considered highly pathogenic to D. sacharallis larvae (100% mortality), indicating that endophytic environment xi is important site to survey Bt as potential agent for biological control of insects pests. Furthermore, a significantly higher number of colonies of Bt was isolated by the Polanczyk procedure compared to the WHO procedure, with no significantly difference comparing the density of Bt in both environment, except for Polanczyk procedure. Keywords: Bacillus thuringiensis isolation, Endophytes, Edaphic, Biological Control, Sugarcane. xii LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Lepidóptero Diatraea saccharalis, importante praga da cana-de-açúcar, sendo parasitada pelo Himenóptero Cotesia flavipes, parasitoide amplamente utilizado no controle biológico de pragas..................................9 FIGURA 2 – Células de Bacillus thuringiensis mostrando o esporo ovalado (A) e o cristal proteico........................................................................................................12 FIGURA 3 – Características morfológicas da colônia de Bacillus thuringiensis .............13 FIGURA 4 – Fotomicrografia de células vegetativas apontando a diferenciação morfológica do Bacillus cereus, sem cristais proteicos (A) e Bacillus thuringiensis – Bt com cristais proteicos (B) ...............................................13 FIGURA 5 – Micrografia eletrônica de varredura mostrando os diferentes tipos de cristais de Bacillus thuringiensis: cb: cristal bipiramidal; cc: cristal cuboide; ce: cristal esférico; ep: esporo (aumento 10.000 x).....................................20 FIGURA 6 – O ciclo de vida do Bacillus thuringiensis.....................................................21 FIGURA 7 – Mecanismo de ação das toxinas Cry nos insetos-alvo ...............................22 FIGURA 8 – Etapas do processo de desinfestação superficial do material vegetal: A – Pesagem das raízes (10 g); B – Sucessão de lavagens do material vegetal em Álcool (70%), Hipoclorito (2,5%) e Água Destilada Esterilizada (2x); C – Plaqueamento, em triplicata, de alíquota da última água de lavagem....... 26 FIGURA 9 – Preparo do extrato vegetal para posterior isolamento de Bacillus sp.: A – Raízes desinfestadas e solução salina (0,8%) utilizadas no preparo do extrato vegetal; B – Trituração das raízes através de um misturador; C – Extrato vegetal preparado a partir das raízes trituradas em solução salina. .....................................................................................................................27 FIGURA 10 – Preparo das amostras de solo para posterior isolamento de Bacillus sp. A – Pesagem do solo; B – Homogeneização e diluição seriada do solo...........28 FIGURA 11 – Etapas do isolamento de Bacillus sp. (OMS, 1985): A – Tratamento térmico da suspensão de solo e extrato vegetal (80º C/12 min.)l; B – Plaqueamento em meio NA suplementado com Penicilina G (100 mg/L); C – Incubação em BOD – 29º C/5 dias ....................................................................................29 xiii FIGURA 12 – Etapas do isolamento de Bacillus sp. (POLANCZYK, 2004): A – Tratamento térmico das suspensões diluídas de solo e extrato vegetal (80º C/12 min.); B - Plaqueamento em meio NA; C – Incubação em BOD a 29º C/5 dias; D – Esporulação bacteriana em meio CCY Broth, suplementado com Penicilina G (100mg/L) sob agitação (28º C por 48-72h)............................................31 FIGURA 13 – Método de preservação das linhagens de Bacillus sp. através de tiras esterilizadas de papel-filtro..........................................................................34 FIGURA 14 – Diferentes tamanhos das colônias de Bacillus thuringiensis.......................48 FIGURA 15 – Diferentes aspectos morfológicos de células de Bt.....................................49 FIGURA 16 – Diferentes formas dos cristais proteicos presentes nas linhagens identificadas de Bt. A – Estágio avançado de esporulação mostrando os cristais bipiramidais e esféricos fora da célula vegetativa; B – Células vegetativas contendo esporos e cristais esféricos......................................50 xiv LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Estimativa de produção de cana-de-açúcar nos Estados brasileiros (safra 2012/2013)....................................................................................................1 TABELA 2 – Principais pragas da cultura da cana-de-açúcar...........................................6 TABELA 3 – Principais agentes causadores de doenças da cana-de-açúcar...................7 TABELA 4 – As 67 subespécies de Bacillus thuringiensis identificadas a partir da análise sorológica do Antígeno Flagelar H..............................................................16 TABELA 5 – Principais ordens de insetos susceptíveis às toxinas do Bt........................18 TABELA 6 – Pontos de coleta das amostras de cana-de-açúcar e solo nos diferentes municípios do Estado de São Paulo............................................................24 TABELA 7 – Número médio de colônias bacterianas endofíticas, obtido a partir do plaqueamento da água da última lavagem das raízes das onze amostras de cana-de-açúcar (processo de desinfestação superficial)............................35 TABELA 8 – Número de colônias de Bacillus sp./placa de Petri (9 cm), isoladas de 11 amostras de raízes de cana-de-açúcar e de seus respectivos substratos, a partir de dois diferentes procedimentos metodológicos..............................37 TABELA 9 – Número (± erro padrão) de colônias de Bacillus sp. e Bacillus thuringiensis/0,01g solo ou raiz, isoladas de 11 amostras de raízes de cana-de-açúcar e de seus respectivos substratos, a partir de dois procedimentos metodológicos.....................................................................38 TABELA 10 – Colônias de Bacillus sp. isoladas a partir de 11 amostras de raízes de cana-de-açúcar e de seus respectivos substratos, através de dois distintos procedimentos metodológicos.....................................................................38 TABELA 11 – Número de colônias de Bacillus sp. por grama de raiz e de solo, isoladas a partir de dois procedimentos, das onze amostras coletadas nos nove municípios do interior de São Paulo............................................................40 TABELA 12 – Porcentagem de linhagens edáficas e endofíticas de Bt, isoladas a partir dos Métodos OMS (1985) e Polanczyk (2004)............................................42 xv TABELA 13 – Número de colônias de Bacillus sp. por placa de Petri (9 cm), isoladas de 11 amostras de raízes de cana-de-açúcar e de seus respectivos substratos, a partir de dois diferentes procedimentos metodológicos...........................44 TABELA 14 – Número de linhagens endofíticas e edáficas de Bt (amostradas e esperadas) obtidas pelos métodos OMS e Polanczyk, e proporção em relação às linhagens de Bacillus sp. dentro de 3 faixas percentuais de mortalidade de Diatraea sacharallis............................................................45 xvi SUMÁRIO RESUMO ............................................................................................................................. viii ABSTRACT ........................................................................................................................... x LISTA DE FIGURAS.............................................................................................,.................xii LISTA DE TABELAS.............................................................................................................xiv 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................1 2. OBJETIVO.........................................................................................................................3 3. REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................................4 3.1. A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) – origem, aspectos socioeconômicos e características botânicas.........................................................................................4 3.1.1. Principais pragas e patógenos associados à cana-deaçúcar................................................................................................................5 3.2. O controle biológico e as pragas e patógenos da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.).............................................................................................................7 3.3. Os microrganismos endofíticos como agentes de controle biológico....................................................................................................................10 3.4. Bacillus thuringiensis Caracterização biológica, ecológica e taxonômica................................................................................................................12 3.4.1. O histórico de utilização do Bt como agente de controle biológico...........................................................................................................16 3.4.2. Características dos cristais proteicos do Bt e seu mecanismo de ação.................................................................................................................19 4. MATERIAL E MÉTODOS ...............................................................................................24 4.1. Preparo das amostras ...............................................................................................25 4.1.1. Desinfestação superficial e trituração do material vegetal .............................25 4.1.2. Homogeneização e diluição seriada das amostras de solo............................27 4.2. Isolamento das linhagens endofíticas e edáficas de Bacillus sp...............................28 4.2.1. Protocolo adaptado da Organização Mundial de Saúde – OMS (1985).........28 4.2.2. Protocolo adaptado de Polanczyk (2004) .......................................................29 xvii 4.3. Identificação das linhagens de Bacillus thuringiensis.................................................31 4.3.1. Caracterização entomopatogênica dos isolados endofíticos e edáficos sobre larvas de Diatraea saccharalis .(Lepidoptera: Crambidae).............................32 4.3.2. Análise microscópica dos cristais proteicos ...................................................32 4.4. Preservação das linhagens de Bacillus sp................................................................33 4.5. Análise Estatística ......................................................................................................34 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................35 5.1. Protocolo OMS (1985) x Protocolo Polanczyk (2004)...............................................36 5.2. Ambiente Endofítico x Ambiente Edáfico ..................................................................39 5.3. Identificação das linhagens de Bacillus thuringiensis ...............................................41 6. CONCLUSÕES................................................................................................................52 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................53 8. ANEXOS..........................................................................................................................60 1 1. Introdução A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) é uma cultura de grande relevância na economia brasileira, sendo utilizada como alimento animal (forragem in natura), matéria prima para fabricação de alimentos, bebidas, biocombustíveis e geração de energia produzida a partir do bagaço proveniente do seu processamento. Além disso, o cultivo de cana-de-açúcar é uma atividade de agronegócios de grande importância social, pois é responsável pela geração de empregos formais em percentual mais elevado do que a grande maioria das culturas (PETTI; FREDO, 2009), mantendo cerca de 1,28 milhão de postos de trabalhos formais (NEVES; TROMBIN; CONSOLI, 2010). O Brasil é líder mundial de produção de cana-de-açúcar e possui uma área de aproximadamente nove milhões de hectares que é destinada à cultura. O país produz 719,15 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, e está à frente da Índia, que apresenta produção de 277,75 milhões de toneladas e da China, com produção de 111,45 milhões de toneladas da matéria-prima (FAO, 2012). Segundo o Primeiro Levantamento da Safra 2012/13, realizado pela CONAB (2012), a cultura da cana-de-açúcar ocupa cerca de 3% de toda a área agricultável do Brasil e a região sudeste se destaca na sua produção, apresentando aproximadamente 63% do total geral produzido pelo país, seguida das regiões centro-oeste (17%), nordeste (11%), sul (8%) e norte (0,3%). O Levantamento aponta que o plantio de cana-de-açúcar ocorre em 17 Estados brasileiros, mas sete deles merecem destaque especial, sendo eles: São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul, Alagoas e Pernambuco. O Estado de São Paulo lidera o ranking de maior produção de cana-de-açúcar, perfazendo aproximadamente 51% do total geral produzido pelo país, seguido pelos Estados de Minas Gerais (9%) e Goiás (8%), conforme aponta a Tabela 1. Tabela 1 – Estimativa de produção de cana-de-açúcar nos Estados brasileiros (safra 2012/2013) Estados Área colhida (mil hectares) Percentual (Participação nacional) São Paulo Minas Gerais Goiás Paraná Mato Grosso do Sul Alagoas Pernambuco 4.426 768 732 614 540 458 298 51% 9% 8% 7% 6% 5% 3% Fonte: CONAB (2012) 2 O Brasil lidera o mercado mundial de açúcar e álcool, com produção estimada de 38,85 milhões de toneladas de açúcar e 23,96 milhões de metros cúbicos de álcool (CONAB, 2012). E estes valores poderiam ser ainda maiores se não fossem os insetospragas e os fito-patógenos que atacam as diferentes estruturas da cana-de-açúcar. As mudanças gradativas nas técnicas de cultivo da cana ocorridas nos últimos tempos, com a substituição da colheita através da queimada pela colheita mecanizada (Lei Estadual nº 11.241, de 19/09/2002) tem criado um ambiente favorável ao aumento de fitopatógenos, insetos pragas e ervas daninhas, responsáveis pela diminuição da produtividade nos canaviais (V RIFIB, 2001), fato que sugere o desenvolvimento de métodos alternativos que substituam os atuais produtos químicos utilizados para a proteção da lavoura canavieira, já que muitas vezes, tais produtos são utilizados de forma inadequada e transformam-se num mecanismo de seleção de novas pragas e doenças resistentes em áreas agricultáveis, geradores de desequilíbrios ambientais e prejuízos econômicos. Para minimizar tais problemas, o Brasil vem investindo em institutos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, melhorando as técnicas agroindustriais e incentivando programas de Controle Biológico de Pragas e Patógenos que afetam diversas culturas como a cana-de-açúcar, caracterizada por imensa importância socioeconômica. Atualmente, muitos programas de controle biológico de pragas e patógenos têm demonstrado que, além dos parasitoides, outros organismos podem ser utilizados como agentes de controle biológico. É o caso dos protozoários, fungos, bactérias, vírus e nematoides, utilizados não só no campo agroflorestal, mas também na área de saúde, através do controle de insetos vetores de doenças humanas e animais (POLANCZYK; GARCIA; ALVES, 2003; DOLINSKI; LACEY, 2007; REVISTA G.BIO, 2010; VASCONCELOS, 2012). Soares (2006) aponta algumas bactérias esporulantes do gênero Bacillus como os principais agentes controladores de insetos-praga e vetores de doenças utilizados como princípio ativo de bioinseticidas, tanto no Brasil como no mundo. Segundo o autor, 13.000 toneladas de bactérias do gênero Bacillus são utilizadas como bioinseticidas em todo o mundo, com destaque para as espécies esporulantes de Bacillus thuringiensis (Bt) e Bacillus sphaericus, produtoras de endotoxinas que compõem o “corpo paraesporal” ou “cristal proteico”, altamente tóxico, sobretudo para insetos da ordem Lepidoptera e Diptera (GLARE; O’CALLAGHANS, 2000). Atualmente muitas estirpes de Bt com potencial entomopatogênico têm sido isoladas não só do solo como também do interior de vegetais, sendo estes denominados “microorganismos endofíticos” ou “endófitos” (AZEVEDO et al., 2002). O crescente interesse por micro-organismos visando o manejo integrado de pragas de culturas de grande valor econômico é inquestionável, o que por si só justifica o tema escolhido para o presente trabalho. 3 2. Objetivo O presente estudo teve por objetivo: 1. Isolar linhagens endofíticas de Bacillus sp. da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) bem como do seu solo (edáficas), através dos procedimentos metodológicos sugeridos pela Organização Mundial de Saúde - OMS (1985) e Polanczyk (2004) 2. Identificar as linhagens de Bacillus thuringiensis (Bt) através da avaliação da patogenicidade dos isolados sobre Diatraea saccharalis (Lepidoptera: Crambidae) e da análise microscópica dos cristais proteicos, comparando a densidade das populações endofíticas e edáficas. 4 3. Revisão de Literatura 3.1. A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) – origem, aspectos socioeconômicos e características botânicas. A cana-de-açúcar é uma planta pertencente à divisão Embryophyta Siphonogama, subdivisão Angiosperma, classe Monocotyledônea, ordem Glumiflorae, família Gramínea, tribo Andropogoneae, gênero Saccharum e espécie Saccharum officinarum (ENGLER1; GILG 1924 apud REIS, 1981). Segundo o mesmo autor, a teoria mais aceita assinala Saccharum robustum como a espécie botânica de arranque e a Nova Guiné e ilhas vizinhas como o lugar de origem, sendo Saccharum officinarum, a espécie originária da Oceania, embora para Bastos (1987), a sua origem presumível é o norte da Índia. Ambos os autores partilham da ideia de que depois de ser levada a inúmeros países da Ásia e da Europa, a cana adquire importância socioeconômica, sendo utilizada na alimentação humana há milhares de anos antes de Cristo. Coube a Cristóvão Colombo em sua segunda viagem, a introdução desta cultura no continente Americano, começando seu plantio nas Ilhas de São Domingos (atual República Dominicana) no ano de 1494. No Brasil, o cultivo iniciou-se em São Vicente, no ano de 1522, trazida da Ilha da Madeira por Martim Afonso de Souza, distribuindo-se por todas as regiões brasileiras, devido a sua boa adaptação às nossas condições geográficas e climáticas, bem como devido a sua importância econômica (REIS, 1981). No Brasil, o ciclo do açúcar provocou a introdução dos escravos africanos pelos portugueses, sendo que esses africanos muito contribuíram para o desenvolvimento da nossa agricultura (BASTOS, 1987). A autora cita ainda que a cana é uma gramínea semiperene, na qual o sucesso econômico dos cortes subsequentes depende de um plantio bem feito, em solo propício, com escolha adequada das variedades melhor adaptadas à região e menos suscetíveis às pragas e patógenos locais. Depende também do controle adequado, por parte do agricultor, dos herbívoros e patógenos que atacam a cultura. O plantio tradicional da cana é feito por toletes, ocorrendo na região sudeste, em duas épocas do ano: 1. entre fevereiro e abril – para cana-de-ano-e-meio (colhida a partir de julho do ano seguinte/18 meses) e; 2. entre setembro e outubro – para cana-de-ano (colhida na mesma época do ano seguinte/12 meses). A colheita da cana utilizando a queimada está sendo gradativamente, substituída pela chamada “colheita da cana crua”, feita através da mecanização, seguindo as 1 ENGLER, A.; GILG, E. Syllabus der pflanzenfamilien : eine uebersicht uber das gesamte pflanzensystem, mit besonderer berucksichtigung. 19. ed. Berlin : Gebruder Borntraeger, 1924. 5 determinações da Lei Federal 2661/98, art. 16, Cap. IV. Embora as alterações no manejo da cultura tenham resultado em benefícios ambientais pode-se observar, ao mesmo tempo, malefícios e prejuízos econômicos, devido à dificuldade de controle de certos insetospragas, patógenos e plantas daninhas. Em São Paulo, Estado de maior produção da canade-açúcar, o percentual de área de cana colhida crua já é equivalente a 56%, sendo que a prática da queimada dos canaviais paulistas deverá cessar totalmente até 2021 nas áreas mecanizáveis e 2031 nas áreas não mecanizáveis e com declive superior a 12%, conforme determina a Lei Estadual nº 11.241/02 (RONQUIM, 2010). Com relação à limitação do cultivo da cana-de-açúcar, Reis (1981) aponta a altitude e o frio como fatores ambientais desfavoráveis, estando a maior parte das regiões tropicais e subtropicais aptas para a cultura. Atualmente, seu cultivo desperta particular interesse, visto que é uma das principais fontes de energia renovável. Quanto ao desenvolvimento do vegetal, observa-se a formação de touceiras, com parte aérea (colmo, folhas e inflorescência) e outra subterrânea (raízes e rizomas). O colmo da cana-de-açúcar é rico em sacarose, sendo esta a parte utilizada na indústria sucralcooleira, compondo-se de elementos sucessivos que contém um nó e um entrenó cada um, com diâmetro variado. As características das gemas, localizadas na zona radicular do colmo (uma em cada nó), juntamente com a cor e o diâmetro do colmo, bem como o formato e a disposição dos entrenós, constituem elementos importantes para a diferenciação das variedades (REIS, 1981). 3.1.1. Principais pragas e patógenos associados à cana-de-açúcar Segundo Pinto, Botelho e Oliveira (2009) existem diversas pragas que podem atacar os canaviais, sendo a maior parte constituída por pragas subterrâneas que atacam a raiz. Tais pragas podem ser encontradas nas seguintes ordens: Lepidoptera, representada pelas brocas e lagartas Coleoptera, representada pelos besouros e gorgulhos Hemiptera, representada pelas cigarrinhas, percevejos e cochonilhas Isoptera, representada pelos cupins Hymenoptera, representada pelas formigas cortadeiras Orthoptera, representada pelos gafanhotos Algumas destas pragas provocam grandes prejuízos às lavouras de cana-deaçúcar, sendo consideradas pragas primárias. Outras provocam prejuízos menos severos, sendo consideradas pragas secundárias, muito embora todas mereçam atenção. A Tabela 2 aponta as principais espécies que causam prejuízos à cultura de cana-de-açúcar: 6 Tabela 2 – Principais pragas da cultura da cana-de-açúcar ORDEM Lepidoptera PRAGA PRINCIPAIS ESPÉCIES Broca-da-cana Diatraea saccharalis; Diatraea flavipennela Broca-gigante Telchin licus licus Lagarta-elasmo Broca-peluda Elasmopalpus lignosellus Hyponeuma taltula Spodoptera frugiperda Lagarta desfolhadora Mocis latipes Pseudoletia sequa Cirphis latiuscula Pão-de-galinha (coró) Euetheola humilis; Ligyrus spp. Coleoptera Migdolus Gorgulho-da-cana Hemiptera Migdolus spp. Sphenophorus levis; Metamasius hemipterus Cigarrinha-das-raízes Mahanarva fimbriolata Cigarrinha-das-folhas Mahanarva posticata Percevejo-castanho Cochonilha Pulgão Cupim subterrâneo Scaptocoris castanea; Scaptocoris carvalhoi Sacchariococcus sacchari Rhopalosiphum maidis; Melanaphis sacchari Heterotermes tenuis; Amitermes sp. Isoptera Cornitermes sp.; Embiratermes sp.; Cupim de Montículo Nasutitermes sp.; Syntermes sp.; Cylindrotermes sp. Hymenoptera Orthoptera Saúva Atta spp. Quenquém Acromyrmex sp. Gafanhoto Rhammatocerus schistocercoides; Schitocerca pallens Fonte: PINTO; BOTELHO; OLIVEIRA, 2009 7 A cana-de-açúcar também pode ser atacada por microrganismos patogênicos que causam diversas doenças, sendo eles vírus, bactérias, fungos e micoplasmas. Das 216 doenças que atacam a cultura da cana por todo o mundo, 58 já foram relatadas no Brasil, merecendo destaque a Ferrugem e o Carvão, causadas por agentes fúngicos, o Raquitismo das Soqueiras e a Escaldadura das Folhas, causadas por agentes bacterianos (SANTOS, 2003), além do Amarelinho Foliar e o Mosaico, causados por agentes virais (GONÇALVES, 2003; ROSSETO; SANTIAGO, 1994). A Tabela 3 reúne informações sobre as principais doenças que atacam os canaviais Tabela 3 – Principais agentes causadores de doenças da cana-de-açúcar Doença Natureza do Agente Agente etiológico Mosaico Chlorotic Streck Amarelinho Foliar Raquitismo Escaldadura Estria vermelha e Podridão do topo Carvão Podridão Vermelha Podridão Abacaxi Iliau Podridão da bainha Pokkatt Boeng Mancha ocular Mancha anular Mancha Parda Ferrugem Vírus Vírus Vírus Bactéria Bactéria Bactéria Fungo Fungo Fungo Fungo Fungo Fungo Fungo Fungo Fungo Fungo Sugarcane Mosaic Vírus Chlorotic Streck Virus Sugarcane yellow leaf Virus Leifsonia xyli subsp. syli Xanthomonas albilineans Acidovorax avenae Ustilago scitaminea Colletotrichum falcatum Ceratocystis paradoxa Gnomonia iliau Citospora sacchari Fusarium subglutinans Bipolaris sacchari Leptosphaeria sacchari Cercospora longipes Puccinia melanocephala Fonte: ROSSETTO; SANTIAGO, 1994; REIS,1981 3.2. O controle biológico e as pragas e patógenos da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) A atual tendência de reduzir o consumo de agrotóxicos que causam danos ao meio ambiente, às comunidades macro e microbiológicas e ao próprio homem tem aumentado o interesse por estratégias de controle biológico de pragas e doenças de inúmeras espécies cultivadas. Esta prática de controle de pragas e patógenos originou-se na metade do século XVIII, quando Agostino Bassi observou a propriedade entomopatogênica dos fungos. Foi em 1834 que o pesquisador utilizou pela primeira vez, o fungo Beauveria bassiana na tentativa de controlar danos causados em insetos comercialmente importantes, como o bicho-daseda (Bombix mori). 8 Ao longo dos tempos, inúmeros agentes de controle biológico foram testados e são hoje utilizados nos mais diversos programas: são protozoários, fungos, bactérias, vírus, nematoides, rickétsias e micoplasmas. Dentre estes, os fungos são considerados entomopatógenos de largo espectro, apresentando grande versatilidade (ALVES, 1998; FERRON2, 1978 apud SIA, 2006). Alguns estudiosos enfatizam que a grande variabilidade genética dos fungos entomopatogênicos é um dos principais fatores responsáveis pelas vantagens da utilização destes microrganismos no controle de insetos, pois aumenta o espectro de ação destes micro-organismos, além de diminuir a possibilidade de aparecimento de resistência ao bioproduto. Além disso, a facilidade de disseminação do agente fúngico pelo vento e a capacidade de penetração através da cutícula íntegra de artrópodes, atingindo diretamente a hemocele, também são fatores preponderantes destes micro-organismos no controle de pragas. Cerca de 80% das doenças de insetos são provocadas por fungos e aproximadamente 750 espécies já foram descritas como agentes entomopatogênicos (ALVES, 1998). O crescimento do mercado de biopesticida na América Latina tem sido substancial desde os anos de 1990, sendo que Brasil, Cuba e Colômbia são os três países que apresentam as maiores porcentagens de utilização de agentes microbianos controladores de pragas (CPL BUSINESS CONSULTANTS, 2010a). No Brasil o controle biológico começou com o fungo Metarhizium anisopliae seguido pelo fungo Beauveria bassiana e por um vírus, o Baculovírus, utilizados como agentes controladores da cigarrinha da cana-de-açúcar e das pastagens e no controle da Anticarsia gematalis na soja, respectivamente. Também o fungo Trichoderma foi utilizado no controle da doença do cacaueiro, conhecida como Vassoura-de-Bruxa e causada pelo fungo Crinipellis perniciosa (AZEVEDO et al., 2002). Pinto, Botelho e Oliveira (2009) sugerem que a cana de açúcar é uma das poucas culturas no Brasil em que, desde a década de 1970, tem-se utilizado alternativas biológicas, por meio de insetos e/ou patógenos, que controlam suas principais pragas e doenças. Atualmente, a broca-da-cana (Diatraea saccharalis - Lepidoptera: Crambidae), que ataca principalmente o sudoeste do país, vem sendo controlada eficientemente por um parasitoide denominado Cotesia flavipes (Figura 1). Já para as cigarrinhas-das-folhas (Mahanarva posticata), uma das principais pragas da cana-de-açúcar da região do nordeste brasileiro e para as cigarrinhas-das-raízes (Mahanarva fimbriolata), problema recente da cultura na região sudeste, tem-se utilizado o fungo Metarhizium anisopliae como controlador biológico. 2 FERRON, P. Biological control of insect pests by entomopathogenic fungi. Annual Revien Entomologes, v.23, p.409-449, 1978. 9 Foto: H.N. de Oliveira Figura 1 – Lepidóptero Diatraea saccharalis, importante praga da cana-de-açúcar, sendo parasitada pelo Himenóptero Cotesia flavipes, parasitoide amplamente utilizado no controle biológico de pragas. Fonte: http://www.infobibos.com/Artigos/2009_3/himenopteros/index.htm Os fungos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae também são comumente citados como microrganismos controladores do gorgulho da cana-de-açúcar (Sphenophorus levis), e da broca gigante (Telchin licus), assim como o parasitoide de ovos Trichogramma spp. e algumas espécies de nematoides entomopatogênicos, os quais apresentam grande potencial biotecnológico e poderão ser incluídos nos programas de controle biológico de diversas pragas da cana-de-açúcar (PINTO; BOTELHO; OLIVEIRA, 2009). Soares (2006) aponta que bactérias esporulantes pertencentes ao gênero Bacillus têm sido muito utilizadas no controle de pragas agrícolas, florestais bem como no controle de insetos vetores de doenças. E, dentre os bioinseticidas empregados no mundo para controle destes insetos destacam-se os produtos que utilizam como princípio ativo as bactérias esporulantes Bacillus thuringiensis (Bt) e Bacillus sphaericus. Segundo dados da CPL Business Consultants (2010b) os produtos a base de Bt ainda são os mais utilizados nos programas de controle biológico, representando cerca de 53% do mercado mundial de biopesticidas, embora, nos últimos 20 anos, tal proporção tenha sofrido significativo declínio: na década de 1990, a utilização de produtos a base de Bt girava em torno de 90%, ao passo que nos anos 2004/5 a estimativa de utilização era de 60%. Acredita-se que o declínio nas porcentagens de utilização dos produtos a base de Bt esteja vinculado ao aumento nas vendas de outros bioprodutos, sobretudo aqueles a base de Baculovírus e alguns fungos, que apresentam similar eficiência no controle das pragas e menor custo de aplicação. Recentemente alguns microrganismos habitantes dos tecidos vegetais têm sido motivo de estudo nos programas de controle biológico, devido aos benefícios que eles conferem à planta-hospedeira protegendo-a contra o ataque de herbívoros e patógenos, 10 produzindo compostos como hormônios, antibióticos e antitumorais e provocando a morte dos patógenos causadores de doenças (SERAFINI; NEIVA; AZEVEDO, 2001). 3.3. Os micro-organismos endofíticos como agentes de controle biológico Os micro-organismos endofíticos, também conhecidos como endófitos foram definidos como micro-organismos que habitam tecidos internos da planta sem causar qualquer efeito negativo imediato (BACON3; WHITE, 2000 apud BRUM, 2008). Embora descritos pela primeira vez na segunda metade do século XIX, tais microorganismos não foram devidamente pesquisados até os anos 70 do século XX, quando ainda eram considerados inócuos às plantas e desde sua descoberta, vários autores procuraram defini-los. Em sua obra – Biotecnologia: avanços na agricultura e na agroindústria, Azevedo et al. (2002) sugerem algumas das principais definições, muitas vezes controversas, para o termo. Uma das mais interessantes definições aponta microorganismos endofíticos como “fungos e bactérias que vivem, pelo menos durante parte do seu ciclo, no interior de vegetais, aparentemente sem causar qualquer dano aos mesmos”, distinguindo-se dos microrganismos epifíticos que vivem na superfície das plantas, e dos patógenos, causadores de doenças. Os autores ainda descrevem a concepção de outros pesquisadores: 1. “Micro-organismos que vivem no interior das plantas, sem produzir nódulos ou formações externas”, o que exclui os fixadores de nitrogênio que vivem em simbiose com raízes de plantas, produzindo nódulos externos, bem como os fungos micorrízicos e; 2. “Micro-organismos que habitam exclusivamente as partes aéreas de seus hospedeiros”. Entretanto, uma das mais amplas definições aponta que endofíticos são todos os micro-organismos cultiváveis ou não, que habitam o interior dos tecidos vegetais, sem causar mal ao hospedeiro e que não desenvolvem estruturas externas, excluindo dessa maneira bactérias nodulantes e fungos micorrízicos, que embora endofíticos são estudados de maneira separada (AZEVEDO; ARAÚJO, 2007). Uma redefinição mais recente do termo, proposta por Mendes e Azevedo, (2007) divide tais microrganismos em duas categorias: 1. Tipo I – os que não produzem estruturas externas à planta e; 2. Tipo II, os que produzem estruturas externas à planta. Apesar da preocupação com a definição do termo, a distinção entre as categorias de micro-organismos epifíticos, endofíticos e patogênicos é puramente didática, visto que não existem classes absolutas, mas sim interfaces entre elas. Assim, um microrganismo epifítico pode ser eventualmente encontrado dentro de um vegetal enquanto um endofítico 3 BACON, C. W.; WHITE, J. F. Microbial endophytes. Marcel Dekker Inc., New York, N.Y.2000. 11 em certos momentos pode tornar-se um patógeno quando a planta encontra-se em condições de estresse e, este último em outras condições, não afeta seu hospedeiro, podendo ser considerado um endofítico. Serafini, Neiva e Azevedo (2001) enfatizam a importância dos endofíticos como protetores naturais da planta-hospedeira, através da inibição do ataque de herbívoros e também pela produção de compostos antibióticos e antitumorais. Devido a sua ação contra os patógenos e pragas de plantas, os micro-organismos endofíticos podem ser utilizados em Programas de Controle Biológico, em consonância com as concepções de um ambiente mais harmonioso, saudável e equilibrado, tanto para o homem quanto para as demais espécies, idealizadas a partir da década de 1970, atualmente muito valorizadas e cujos principais objetivos são o de melhorar a qualidade de vida das populações, reduzir os impactos ambientais causados pelos agrotóxicos e manter os organismos-pragas abaixo do nível de dano econômico (VENDRAMIM, 2002). Estudos recentes têm mostrado que bactérias e fungos endofíticos também podem atuar diretamente sobre o patógeno, parasitando suas células e impedindo o surgimento dos sintomas da doença vegetal ou ainda produzindo compostos com ação antibiótica contra o patógeno alvo. Alguns destes microrganismos apresentaram propriedades entomopatogênicas, parasitando os insetos pragas e provocando sua morte (AZEVEDO et al., 2002). Segundo os mesmos autores, entre as bactérias endofíticas, aproximadamente 15 gêneros foram capazes de controlar doenças fúngicas ou bacterianas de interesse. Dentre estes, os gêneros Bacillus e Pseudomonas apresentaram maior potencial para controle de doenças. Já entre os fungos endofíticos, os gêneros Neotyphodium e Fusarium apresentaram maior potencial para o controle biológico. Sabe-se também que esta capacidade de controlar pragas e patógenos da planta foi adquirida pelos micro-organismos endofíticos ao longo de sua evolução com o seu hospedeiro, resultando numa estreita relação mutualística entre eles e o vegetal. Dentre os benefícios conferidos à planta hospedeira pode-se citar: maior resistência em ambientes com estresse; maior proteção contra o ataque dos herbívoros (graças à produção de compostos tóxicos que reduzem a atratividade da planta); maior proteção contra o ataque de fitopatógenos (devido à produção de antibióticos e metabólitos inibidores do seu desenvolvimento) bem como promoção do crescimento vegetal. Já os benefícios conferidos aos micro-organismos endofíticos estão relacionados à obtenção de nutrientes e abrigo que lhes garantem maior sobrevivência (AZEVEDO et al., 2002). 12 3.4. Bacillus thuringiensis - Caracterização biológica, ecológica e taxonômica Bacillus thuringiensis é uma bactéria esporulante, taxonomicamente enquadradas na Divisão Firmicutes (Gram positivas), pertencentes à família Bacillaceae, formadoras de endósporos e com duas fases principais durante o seu ciclo de vida: Fase de Crescimento vegetativo, onde a bactéria se multiplica através de bipartição; Fase de esporulação, onde ocorre a diferenciação da bactéria em esporos, estrutura capaz de resistir a condições desfavoráveis de sobrevivência, germinando e iniciando seu ciclo vegetativo quando colocada em meio dotado de nutrientes necessários (MONNERAT; PRAÇA, 2006). O Bt como é popularmente conhecido são bactérias em forma de bastonetes que apresentam motilidade, um esporo ovalado, inserido em um esporângio sem inchaço e cuja largura ultrapassa os 0,9µm (THIERY & FRACHON, 1996). São muito utilizadas como princípio ativo de bioinseticidas graças a sua capacidade de formar cristais proteicos (corpos paraesporais) ricos em endotoxinas de ação entomopatogênica (Figura 2). Tais proteínas, cujo peso molecular gira em torno de 14 a 152 Kda, são codificadas por sequências gênicas denominadas “Genes cry”, localizadas tanto no DNA cromossômico quanto nos grandes plasmídios (GONZÁLES4; BROWN; CARLTON, 1982; SANCHIS5 et al., 1988 apud POLANCZYK, 2004; OLIVEIRA-FILHO & MONNERAT, 2006). B A Figura 2 – Células de Bacillus thuringiensis mostrando o esporo ovalado (A) e o cristal proteico (B). Fonte: http://www.biology.ed.ac.uk/archive/jdeacon/microbes/bt.htm Segundo Cavaleiro et al. (2005), as colônias típicas de Bacillus thuringiensis apresentam tamanho médio de aproximadamente 0,5 cm de diâmetro e bordas irregulares, sendo opacas e com coloração esbranquiçada (Figura 3). As autoras apontam que estes 4 5 GONZÁLES, J.M.J.; BROWN, B. S.;CARLTON, B. C. Transfer of Bacillus thuringiensis of Bacillus cereus. Proceedings of the National Academic of Sciense, v. 79, n. 10, p. 6951-6955, 1982. SANCHIS, V.; LERECLUS, D.; MENOU, G.; CHAUFAUX, J.; LECADET, M.M. Multiplicity of dendotoxin genes with different specificities in Bacillus thuringiensis aizawai 7.29. Molecular Microbiology, v.2, n.3, p.393-404, 1988. 13 são micro-organismos dotados de resistência ao antibiótico Penicilina (YOUSTEN, 1991) e à alta temperatura (OMS, 1985), características fundamentais quando se deseja isolá-las. Figura 3 – Características morfológicas da colônia de Bacillus thuringiensis. Fonte: http://www.scielo.org.ar/scielo.php?pid=S0325-75412007000400008&script=sci_arttext Polanczyk (2004) enfatiza que “... embora geralmente o termo Bacillus thuringiensis seja empregado para uma única espécie, na verdade ele pertence a um complexo de várias espécies (B. anthracis, B. cereus, B. mycoides, B. thuringiensis e B. weihenstephanensis) denominado de Bacillus cereus”. O autor aponta ainda que o Bt e B. cereus apresentam características fenotípicas e bioquímicas comuns, mas o primeiro pode ser distinguido do segundo tipo de Bacillus pela presença dos cristais proteicos, visíveis em microscopia de contraste de fase (Figura 4). A B Figura 4 – Fotomicrografia de células vegetativas apontando a diferenciação morfológica do Bacillus cereus, sem cristais proteicos (A) e Bacillus thuringiensis – Bt com cristais proteicos (B). Fontes: http://www.human-healths.com/tag/bacillus-cereus-is-a-spore-forming; http://textbookofbacteriology.net/Anthrax.html Alguns estudos utilizando técnicas biomoleculares tais como hibridização do DNA cromossômico, análise dos ácidos graxos/fosfolípides e comparação da sequência 16S rRNA mostraram que a distinção entre as espécies neste grupo denominado B. cereus não é clara e que a semelhança ocorre graças à transferência de plasmídios que codificam as delta endotoxinas de Bt para o restante dos membros do grupo de B. cereus. Assim, ao receber plasmídio codificador das endotoxinas, um B. cereus poderá ser capaz de produzir os cristais proteicos, tóxicos a inúmeras espécies de insetos, atuando como uma bactéria de Bt. E do modo inverso, ao perder a capacidade de produzir os cristais tóxicos, ele poderá 14 ser considerado um Bacillus cereus, inócuo aos insetos (GLARE; O’CALLAGHAM, 2000; HANSEN6; SALAMITOU, 2000; SCHNEPF7 et al., 1998 apud POLANCZYK, 2004). O Bacillus thuringiensis pode ser encontrado em diferentes substratos, tais como solo, água, insetos mortos, no interior dos vegetais (endofítico) bem como na interface soloraiz (rizosférico), conforme sugerem diversos autores. Entretanto, sua concentração no solo é considerada um entomopatógeno agressivo, visto que dificilmente é encontrada causando epizootias naturais em insetos e, segundo Aronson8 e Shai (2001 apud Polanczyk, 2004), a produção de toxinas tão específicas e eficientes é justificada pela estreita relação muito superior àquela encontrada nos tecidos vegetais, podendo atingir de 100 a 1000 UFC (unidades formadoras de colônias) por grama de solo e de 0 a 100 UFC/cm² de tecido vegetal (DAMGAARD, 20009 apud POLANCZYK, 2004). Além disso, a bactéria não é simbiótica do microrganismo com a planta e com o inseto. Para Soberon10 e Bravo (2001 apud Monnerat e Praça, 2006), apesar de o Bt ser encontrado com maior frequência nos solos do que no interior das plantas e insetos, suas formas vegetativas só se reproduzem no interior dos insetos hospedeiros graças ao seu requerimento nutricional vitamínico e de aminoácidos como o ácido glutâmico. Entretanto, existem algumas hipóteses que apontam a ação do Bt como uma atividade inseticida acidental e o classifica como micro-organismo tipicamente de solo como sugerem Martin e Travers (1989) e citado por Polanczyk (2004). Ohba, Mizuki e Uemori (2009) também corroboram com tal ideia, apontando o Bt como uma espécie meramente saprofítica ambiental, mas sem ser obrigatoriamente um patógeno de insetos. Isto se justifica pelo fato de serem encontrados muito mais isolados de Bt dotados de proteínas CRY não inseticidas do que isolados dotados de proteínas CRY inseticida, numa concentração que suplanta os 90%. Outras teorias procuram explicar de várias maneiras a presença da bactéria no solo: 1. pela deposição de esporos por insetos e folhas considerados como reservatórios; 2. pela sua patogenicidade a insetos de reduzida importância econômica e, portanto, pouco estudados; 3. pelo seu maior desenvolvimento em solos ricos em matéria orgânica em 6 HANSEN, B.M.; SALAMITOU, S. Virulence of Bacillus thuringiensis. In: CHARLES, J.F.; DELÉCLUSE, A.; NIELSENLE ROUX, C. Entomopathogenic bacteria: from laboratory to field application. Netherlands: Kluwer Academic Publishers, 2000. cap. 3. p.41-64. 7 SCHNEPF, E.; CRICKMORE, N.; VAN RIE, J.; LERECLUS, D.; BAUM, J, et al. Bacillus thuringiensis and its pesticidal Crystal proteins. Microbiology Molecular Biology Review. v. 62, n. 3, p. 775–806, 1998. 8 ARONSON, A. I.; SHAI, Y. Why Bacillus thuringiensis insecticidal toxins are so effective: unique features of their mode of action. FEMS Microbiology Letters, v. 195, n. 1, p. 1-8, 2001. 9 DAMGAARD, P.H. Natural occurrence and dispersal of Bacillus thuringiensis in the environment. In: Charles, J.F.; NielsenLerous,C.; Delécluse (Ed). Entomopathogenic bacteria: from laboratory to field application. Netherlands:Kluwer Academic Publishers, 2000. p. 23-40. 10 SOBERON, M.; BRAVO, A. Generalidades sobre Bacillus thuringiensis. In: Metodologías utilizadas en investigacion sobre bactérias entomopatogenas. Cidade do México: CYTED, 2001. 1 CD-ROM. 15 decomposição que serviriam de fonte de nutrientes essenciais à esporulação, ou ainda 4. pela transformação de Bacillus cereus em Bacillus thuringiensis através da transferência plasmidial (MEADOWS11, 1993 apud POLANCZYK, 2004). Segundo Monnerat e Praça (2006), o Bacillus thuringiensis apresenta alta especificidade e potencial entomopatogênico a determinados organismos artrópodes das ordens de insetos Lepidoptera, Diptera e Coleoptera, além de ação patogênica contra nematoides, ácaros e protozoários (EDWARDS; PAYNE; SOARES, 1988; FEITELSON; PAYNE; KIM, 1992; CRICKMORE et al., 1995). A ação inseticida do Bt ocorre pela presença de proteínas (delta-endotoxinas) contidas numa estrutura denominada corpo paraesporal. As delta-endotoxinas Cry são produzidas sob forma de pro-toxinas que no interior do inseto são transformadas em peptídeos tóxicos pela ação do pH alcalino intestinal e das proteases. Quando a proteína é ativada causa lise das células epiteliais e a morte das larvas. Várias cepas de Bt também produzem outras endotoxinas de menor peso molecular (125 Kb), denominadas endotoxinas citolíticas (Cyt), que também apresentam ação inseticida. Entretanto os genes que as codificam estão contidas somente nos grandes plasmídeos (GLARE; O’CALLAGHAM, 2000). Em sua tese de doutorado Polanczyk (2004) aponta a dificuldade em classificar o micro-organismo e cita os vários métodos utilizados para tal fim: Pela combinação de aminoácidos e espectro inseticida, Hofte e Whiteley (1989) apontam 38 toxinas agrupadas em 14 classes diferentes, sendo as quatro principais: I – atividade contra lepidópteros; II – atividade contra lepidópteros e dípteros; III – atividade contra coleópteros; IV – atividade contra dípteros, Pela sequência de aminoácidos, Crickmore et al. (1998) apontam 250 genes cry sequenciados e agrupados em 40 grupos de toxinas Cry Pela caracterização bioquímica, método não recomendado para classificação do Bt, devido às variações nas respostas. Pelas técnicas de biologia molecular, capazes de promover a diferenciação inter e intraespecífica. Pela sorotipagem – método comumente utilizado para diferenciar as subespécies de Bt (Tabela 4). Existem aproximadamente 82 sorotipos diferentes de Bt, mas nem todos os grupos sorológicos apresentam atividade inseticida e alguns apresentam reação cruzada com isolados de Bacillus cereus; algumas cepas de Bt não formadoras de cristais são classificadas como Bacillus cereus (LECADET et al., 1999). 11 MEADOWS, M.P. Bacillus thuringiensis in the environment: ecology and risk assessment. In: ENTWISTLE, P.F.; CORY, J.S. BAILEY, M.J.; HIGGS, S. (Ed). Bacillus thuringiensis an environmental biopesticide: theory and practice. Chichester: John Wiley, 1993. p. 193-220. 16 Tabela 4 – As 67 subespécies de Bacillus thuringiensis identificadas a partir da análise sorológica do Antígeno Antígeno Flagelar H. Subespécie de Antígeno Subespécie de Antígeno Subespécie de B. Flagelar B. thuringiensis Flagelar B. thuringiensis Flagelar thuringiensis 1 thuringiensis 18a 18c yosoo 42 jinghongiensis 2 finitimus 19 tochigiensis 43 guiyanguebsus 3a 3c alesti 20a 20b yunnanensis 44 higo 3a 3b 3c kurstaki 20a 20c pondicheriensis 45 roskildiensis 3a 3d sumiyoshiensis 21 colmeri 46 chanpaisis 3a 3d 3e fukuokaensis 22 shandongiensis 47 wratislaviensis 4a 4b Sotto 23 japonensis 48 baleárica 4a 4c kenyae 24a 24b neoleonensis 49 muju 5a 5c galleriae 24a 24c novosibirsk 50 navarrensis 5a 5c canadensis 25 coreanensis 51 xiaguangiensis 6 entomocidus 26 silo 52 kim 7 aizawai 27 mexicanensis 53 asturiensis 8a 8b morrisoni 28a 28b monterrey 54 poloniensis 8a 8c ostriniae 28a 28c jegathesan 55 palmanyolensis 8b 8d nigeriensis 29 amagiensis 56 rongseni 9 tolworthi 30 medellin 57 pirenaica 10a 10b darmstadiensis 31 toguchini 58 argentinensis 10a 10c londrina 32 cameroun 59 ibérica 11a 11b toumanoffi 33 leesis 60 pingluonsis 11a 11c kyushuensis 34 konkukian 61 sylvestriensis 12 thompsoni 35 seoulensis 62 zhaodongensis 13 pakistani 36 malaysiensis 63 bolívia 14 israelensis 37 anadalousiensis 64 azorensis 15 dakota 38 oswaldocruzi 65 pulsiensis 16 indiana 39 brasiliensis 66 gracioensis 17 tohokuensis 40 huazhongensis 67 vazensis 18a 18b kumamotoensis 41 sooncheon - - Fonte: LECADET et al., 1999 Outra proteína de ação tóxica produzida pelo Bt é a Thuringiensina, classificada como β-exotoxina com ação tóxica tanto para insetos como para vertebrados e, por isso os isolados desta categoria não são utilizados como bioinseticidas. 3.4.1. O histórico de utilização do Bt como agente de controle biológico Os produtos a base de Bt são comercializáveis há mais de 50 anos e segundo Polanczyk, Valicente e Barreto (2008) seu mercado consumidor vem crescendo no Brasil e 17 no mundo. Aproximadamente duzentos produtos a base de Bt são utilizados, tanto na área agrícola quanto na área de saúde pública. Tais bioprodutos são responsáveis por 53% do mercado mundial de bioinseticidas, e só na América Latina, África e Oriente Médio, as estimativas de venda giram em torno de 36 milhões de dólares ao ano. Embora tenha ocorrido declínio das proporções de venda dos bioinseticidas Bt quando comparadas às estimativas feitas nos anos de 1990 (90% do mercado mundial) e nos anos 2004/5 (60% do mercado mundial) isso não traduz diminuição da importância deste bioproduto para o controle dos insetos-praga e vetores de doenças, estando o declínio relacionado ao aumento das vendas de bioprodutos a base de outros agentes microbianos, tais como fungos e vírus (CPL – BUSINESS CONSULTANTS, 2010b). No continente americano os Estados Unidos lidera o mercado consumidor de bioprodutos a base de Bt, com estimativa de 57% de utilização contra 40% utilizados nos países da América Latina. Já o Brasil apresenta-se como o líder latino americano, com estimativa de mercado de 12,7 milhões de dólares anuais. Entretanto, Cuba, Costa Rica, Equador e Honduras também são importantes mercados de bioprodutos Bt (CPL – BUSINESS CONSULTANTS, 2010b). Através de um levantamento histórico, Monnerat e Praça (2006) sugerem que a primeira citação de doença de inseto causada por Bt ocorreu em 1902 no Japão, quando Ishiwata observou mortalidade do inseto do Bicho-da-Seda (Bombix mori), devido à infecção por uma bactéria esporulante, primeiramente denominada Bacillus sotto. Em 1911, a mesma bactéria foi descrita por Berliner, na Alemanha, isolada da lagarta-da-traça da farinha Anagasta Kuhniella, inseto da ordem Lepidoptera. O pesquisador a denominou Bacillus thuringiensis em homenagem à região onde as lagartas foram coletadas. Mas, só em 1938 que a bactéria esporulante foi reconhecida como agente de controle biológico, quando o bioinseticida Sporeíne foi produzido na França. Monnerat e Praça (2006) citam que a partir de 1950, países como Rússia, Checoslováquia, França, Alemanha e Estados Unidos iniciaram a produção de inseticida biológico a base de Bt. E com a descoberta de uma estirpe, denominada B. thuringiensis subsp. Kurstaki, em 1960, que apresentava toxicidade de 2 a 200 vezes superior às estirpes normalmente utilizadas nos produtos comerciais, a procura por outras estirpes foi intensificada. A partir daí, inúmeras estirpes com diferentes toxinas foram isoladas, algumas apresentando alta toxicidade contra os dípteros (GOLDBERG12; MARGALIT, 1977), outras contra coleópteros (KRIEG13 et al., 1983). E fechando a retrospectiva histórica da descoberta e utilização das estirpes de Bt, Monnerat e Praça (2006) citam alguns trabalhos 12 GOLBERG, L.J.; MARGALIT. J. A bacterial spore demonstrating rapid larvicidal activity against Anopheles sergentii, Uranotaenia unguiculata, Culex univittatus, Aedes aegypti and Culex pipiens. Mosquito News, v.37, n. 3, p. 355-358, 1977. 13 KRIEG A., HUGER A. M., LANGENBRUCH G. A., SCHNETTER W. Bacillus thuringiensis var. tenebrionis: ein neuer, gegenüber larven von coleopteren wirksamer pathotyp. Zeitschrift fur Ang. Entomology, v. 96, p.500-508, 1983. 18 que apontaram a eficiência do Bt contra nematoides, ácaros e protozoários (EDWARDS; PAYNE; SOARES, 1989; FEITELSON; PAYNE; KIM, 1992; CRICKMORE et al., 1995). Até a década de 1970 a potência dos bioinseticidas formulados com Bt era baseada no número de esporos. Entretanto, hoje em dia novas formulações passaram a levar em consideração a presença dos cristais que contêm as delta-endotoxinas (POLANCKZYK; VALICENTE; BARRETO, 2008). Alguns autores atribuem o sucesso dos bioinseticidas a base de Bt a sua especificidade aos insetos e demais organismos hospedeiros, assim como ao seu efeito não poluente ao meio ambiente e a não toxicidade às plantas, mamíferos e vertebrados como um todo, tornando o bioproduto muito seguro e compatível com as atuais concepções de um ambiente saudável e equilibrado. Glare e O’Callagham (2000) apontam a alta susceptibilidade de algumas ordens de insetos às toxinas do Bt: mais de mil espécies de insetos são susceptíveis a elas, sendo que dentre as diversas ordens dotadas de susceptibilidade, três delas destacam-se, sendo a Lepidoptera, Diptera e Coleoptera, conforme mostra tabela abaixo: Tabela 5 – Principais ordens de insetos susceptíveis às toxinas do Bt Ordem Número de espécies Susceptíveis Diptera 266 Hemiptera 48 Hymenoptera 62 Isoptera 5 Coleoptera 106 Lepidoptera 572 Neuroptera 4 Orthoptera 6 Siphonoptera 7 Thysanoptera 3 Fonte: POLANCZYK (2004) Para Soares (2006), as únicas limitações em relação à utilização do Bt como bioinseticida são: 1. Seu elevado custo em relação aos inseticidas químicos; 2. Seu estreito espectro de ação; 3. A necessidade de o inseto-alvo ingerir o produto; 4. Seu baixo poder residual e, 5. O desconhecimento sobre a correta utilização do produto. Atualmente, o produto a base de Bt com maior alcance no mercado mundial é o Dipel (Bt Kurstaki HD-1), que apesar de apresentar pouca toxicidade contra ácaros, 19 coleópteros, dípteros e hemípteros, apresenta alta toxicidade contra 170 espécies de Lepidópteros (BEEGLE14; YAMAMOTO, 1992 apud POLANCZYK, 2004; GLARE; O’CALLAGHAM, 2000) No Brasil a utilização de produtos a base de Bt Kurstaki/Aizawai está por volta de 275 toneladas (CPL – BUSINESS CONSULTANTS, 2010) e, segundo Polanczyk, Valicente e Barretos (2008) cerca de cento e cinquenta mil hectares brasileiros são tratados com bioinseticidas a base de Bt no intuito de controlar diversas pragas agrícolas de importantes culturas, tais como: Citros - Bicho-furão dos citros (Ecdytolopha aurantiana) Soja - Lagarta-da-soja (A. gemmatalis) Praga das pastagens - Curuquerê- dos capinzais (Mocis latipes) Eucaliptos - (Thyrinteina arnobia) Cucurbitáceas – Broca das cucurbitáceas (Diaphania nitidalis e Diaphania hyalinata) Café - lagarta dos cafezais (E. imperialis magnífica e Erinnyis ello) Tomate - Traça dos tomateiros (Tuta absoluta) Milho - Lagarta do milho (Spodoptera frugiperda) Cana - Broca-da-cana (Diatraea saccharalis) Entretanto, o mesmo autor acredita que em um país como o Brasil que apresenta enorme potencial agrícola, justificado pelo seu privilegiado clima, abundância de recursos hídricos e pela sua rica biodiversidade, o potencial de utilização dos produtos a base de Bt poderá ser estendido. Além de ser uma importante ferramenta utilizada no manejo integrado de pragas da lavoura, o Bt é muito utilizado na área da saúde pública, para o controle de alguns insetos culicídeos e simulídeos, transmissores de agentes etiológicos de doenças humanas, tais como febre amarela, dengue, malária, leishmaniose, filarioses, encefalites virais (CIMERMAN; CIMERMAN, 2001; RUAS NETO; SILVEIRA, 1989). 3.4.2. Características dos cristais proteicos do Bt e seu mecanismo de ação O Bacillus thuringiensis é um micro-organismo esporulante capaz de produzir toxinas que são patogênicas a diversos organismos vivos. Tais toxinas são codificadas por genes denominados “Genes cry”, localizados tanto no material cromossômico quanto nos plasmídeos. As delta-endotoxinas, comumente chamadas de proteínas CRY são apenas alguns dos constituintes do cristal proteico presentes no Bt, cujo peso molecular varia entre 14 BEEGLE, C.B.; YAMAMOTO, T. Invitation paper (C. P. Alexander Fund): History of Bacillus thuringiensis Berliner research and development. The Canadian Entomologist, v. 124, n. 3, p. 587-616,1992. 20 14 a 152 kda. O cristal também pode ser constituído de endotoxinas citolíticas (Cyt) de menor peso molecular (de 25 a 28 kda). Entretanto, os genes que as codificam estão contidos somente em grandes plasmídeos. Cada célula precisa sintetizar de 106 a 2x 106 moléculas de endotoxinas para formar o cristal proteico (AGAISSE; LERECLUS, 1995), sendo que a forma do cristal é determinada pelo número de endotoxinas produzidas bem como pela sua composição e estrutura molecular (GLARE; O’CALLAGHAM, 2000; LERECLUS15; DELÉCLUSE; LECADET, 1993 apud POLANCZYK, 2004) (Figura 5). ce ce ep cc cb Figura 5 – Micrografia eletrônica de varredura mostrando os diferentes tipos de cristais de Bacillus thuringiensis: cb: cristal bipiramidal; cc: cristal cuboide; ce: cristal esférico; ep: esporo (aumento 10.000 x). Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-204X2004000100002 A fase de esporulação do Bt, intimamente ligada à formação do cristal proteico, ocorre sob certas condições de restrições de nutrientes ou acúmulo de metabólitos e endotoxinas produzidas pela célula bacteriana (YAMAMOTO16; DEAN, 2000 apud POLANCZYK, 2004). Monnerat e Praça (2006) sugerem que a formação do cristal ocorra no segundo estágio da esporulação, e sua liberação aconteça quando as células são lisadas. Segundo os autores, durante o ciclo vegetativo a célula cresce e se biparte, enquanto que no ciclo de esporulação a célula passa por sete estágios que culmina na formação e liberação do cristal e do esporo (Figura 6). 15 LERECLUS, D.; DELÉCLUSE, A; LECADET, M.M. Diversity of Bacillus thuringiensis toxins and genes. In: Bacillus thuringiensis , an enviromental biopesticidal: theory and practice. Ed: Philip F. Entwistle, Jenny S. Cory , Mark J. Bailey, Stephen Higgs.England, 311p.1993. 16 YAMAMOTO, T.; DEAN, D. H. Insecticidal proteins produced by bacteria pathogenic to agricultural pests, p.81-100. In: CHARLES, J. F.; DELÉCLUSE, A.; NIELSEN, L. E.; ROUX, C. (eds) Entomopathogenic bacteria: from laboratory to field application. Dordrecht, Kluwer Academic, 2000. 548p. 21 Germinação Lise Esporulação 2ª fase Ciclo Vegetativo Esporulação 1ª fase Divisão Celular Figura 6 – O ciclo de vida do Bacillus thuringiensis. Fonte: http://www.unalmed.edu.co/cinco/gerencia/vera/Vera%20Biotechnologies_archivos/Page881. htm A formação do esporo ocorre quando as condições do meio encontram-se adversas. O primeiro estágio corresponde à primeira fase da esporulação, onde a célula bacteriana para seu crescimento. Ao iniciar o segundo estágio, há a formação do septo de esporulação logo após a duplicação do material genético, seguida pela espiralização da cromatina e pelo aparecimento de uma estrutura condensada, de natureza proteica, que dará origem ao cristal proteico. O terceiro estágio caracteriza-se pela formação do préesporo, que cresce concomitantemente à aglutinação das proteínas Cry, responsáveis pela a formação do cristal proteico (quarto estágio). No quinto estágio do ciclo biológico do Bacillus thuringiensis, há a formação do envelope esporal em torno do esporo, deixando o cristal proteico, ainda em crescimento, fora do corpo esporal. É no sexto estágio (segunda fase da esporulação) que ocorre a maturação do esporo, sendo que nesta fase o cristal proteico atinge seu máximo tamanho. E finalmente, no sétimo estágio da esporulação ocorre a lise celular e a expulsão, tanto do cristal proteico quanto do esporo, altamente resistente às adversidades ambientais. Ao encontrar condições propícias de nutrientes, umidade, temperatura e pH, os esporos germinam e entram na fase vegetativa na qual ocorre a multiplicação celular, garantindo, assim a perpetuação da espécie (MONNERAT; PRAÇA, 2006). O mecanismo de ação das toxinas do Bt está ligado à ingestão dos cristais proteicos pelo inseto suscetível, que ocorre após a lise bacteriana. A morte do inseto é resultado de um processo que pode durar de um a três dias após a ingestão dos cristais e dos esporos. O processo de intoxicação do inseto-alvo passa por vários estágios e está relacionado à ingestão e solubilização dos cristais proteicos; liberação e ativação das protoxinas; reconhecimento dos receptores específicos das delta-endotoxinas e formação de poros nas células do epitélio intestinal do inseto, resultando na lise celular, sepse e morte do inseto. A Figura 7 descreve, de forma pormenorizada, o mecanismo completo da ação das 22 toxinas Cry sobre o inseto-alvo (COPPING17; MENN, 2000 apud POLANCZYK, 2004; FIUZA, 2010). 3 4 Figura 7 – Mecanismo de ação das toxinas Cry nos insetos-alvo Fonte: http://www.biomax-mep.com.br/controle-ecologico-da-traca-da-farinha- ephestia-sp/ 1. O pH alcalino presente no intestino médio dos insetos suscetíveis leva à solubilização dos cristais proteicos, ingeridos juntamente com os esporos, e à liberação das protoxinas. A alcalinidade do sistema digestório do inseto e a capacidade de decomposição dos cristais do Bt são dois fatores que determinam o nível de especificidade da toxina frente ao inseto-alvo. 2. As pro-toxinas são ativadas pela ação das enzimas digestivas, originando quatro ou mais polipeptídeos tóxicos, que constituem as delta-endotoxinas. A composição proteolítica e a estrutura proteica do cristal são fatores importantes na determinação da eficiência das delta-endotoxinas como biopesticida. 3. As delta-endotoxinas são hidrolisadas e atravessam a membrana celular ligando-se aos receptores específicos presentes na membrana apical das células colunares do intestino médio do inseto. A ligação de forte afinidade entre a toxina e o receptor é considerada um importante fator de determinação do espectro inseticida das proteínas Cry, embora não seja o único determinante. 4. O reconhecimento do receptor pela delta-endotoxina induz a formação de poros na membrana celular do epitélio intestinal, o que gera interferência no gradiente iônico e balanço osmótico celular, levando a um aumento da permeabilidade e absorção de água pela célula, hipertrofia celular, vacuolização do citoplasma e lise celular. Assim, a parede do intestino é destruída, gerando a paralisia intestinal do inseto. Os esporos 17 COPPING, I. G.; MENN, J. J. Review biopesticides: Management Science. v. 56, n.5, p.651-676, 2000. a review of their action, applications and efficacy. Pest 23 alcançam a hemocele e a diminuição do pH, provocada pela mistura do conteúdo intestinal, leva à germinação dos esporos. A morte do inseto ocorre pela cessação da alimentação ou pela sepse, o qual serve como fonte de alimento para o crescimento vegetativo da bactéria. Os principais sintomas de intoxicação do inseto-alvo pelas toxinas do Bt são: parada alimentar, paralisia intestinal, vômito, diarreia, infecção generalizada, escurecimento tegumentar e morte (MONNERAT; PRAÇA, 2006; ALVES; LOPES, 2008). 24 4. Material e métodos O presente estudo foi realizado no Laboratório de Controle Biológico de Campinas, unidade de pesquisa do Instituto Biológico, entre os meses de julho de 2011 a agosto de 2012. Por sua grande importância econômica e social, a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) foi a cultura escolhida para a realização do isolamento bacteriano endofítico, ao passo que a população microbiana edáfica foi obtida a partir do solo localizado na interface raiz-solo. A coleta foi realizada em canaviais de nove diferentes municípios do interior do Estado de São Paulo, conforme aponta a Tabela 6. Tabela 6 – Pontos de coleta das amostras de cana-de-açúcar e solo nos diferentes municípios do Estado de São Paulo Amostra Município de coleta 01 Santo Antônio de Posse 02 Santo Antônio de Posse 03 Holambra 04 Limeira 05 Araras 06 Ipeúna 07 Charqueada 08 São Pedro 09 São Pedro 10 Santa Maria da Serra 11 Campinas As onze amostras de solo e raízes coletadas foram acondicionadas em sacos plásticos individualizados, identificadas e transportadas em caixas de isopor à temperatura ambiente até as dependências do laboratório. O material vegetal foi superficialmente desinfestado (processo característico do isolamento de micro-organismos endofíticos) e em seguida submetido a dois diferentes procedimentos metodológicos para isolamento de Bacillus sp., sugeridos pela OMS (1985) 25 e por Polanczyk (2004). As amostras de solo também foram submetidas aos mesmos procedimentos para isolamento de Bacillus sp. já mencionados. Após o isolamento, realizou-se a caracterização entomopatogênica dos isolados de Bacillus sp. sobre o lepidóptero Diatraea saccharalis (popularmente denominado Broca-dacana), que associada à análise microscópica da presença dos cristais proteicos objetivou identificar as linhagens endofíticas e edáficas de Bacillus thuringiensis com ação patogênica capaz de matar uma porcentagem igual ou superior a 20% das lagartas, comparando suas populações. O método estatístico empregado foi o Teste de Tukey, que analisou o nível de significância dos resultados obtidos. Segue abaixo, o detalhamento do método empregado durante a execução do trabalho. 4.1. Preparo das amostras 4.1.1. Desinfestação superficial e trituração do material vegetal Dez gramas de cada amostra de raízes de cana-de-açúcar foram lavados e submetidos ao processo de desinfestação superficial de acordo com adaptações do Protocolo de Isolamento de Micro-organismos Endofíticos (ARAÚJO et al., 2003; AZEVEDO et al., 2002). Após serem lavadas em água corrente, com esponja e sabão para retirada de poeira, de partículas de solo e de material externo mais grosseiro, a superfície das raízes foi desinfestada eliminando-se, assim a microbiota epifítica e conservando-se somente a endofítica. Segue abaixo o procedimento de desinfestação, realizado no interior de Câmara de Fluxo Laminar (Figura 8). Imersão do material vegetal em Álcool 70% – por dois minutos, permitindo a esterilização parcial do material e a alteração da tensão superficial, tornando-o apropriado para o próximo passo do tratamento; Imersão do material vegetal em solução de Hipoclorito de sódio (2,5%) – por cerca de 10 minutos Imersão do material vegetal em Álcool 70% - por um minuto Lavagem do material vegetal com água destilada esterilizada por duas vezes consecutivas – no intuito de retirar os resíduos de álcool e hipoclorito de sódio. Para a verificação da eficiência do processo de eliminação dos epifíticos, 100 µL da última água de lavagem foram aliquotados e plaqueados em placa de Petri, contendo 26 meio de cultura NA (0,3% de extrato de carne; 0,5% de peptona; 0,8% de NaCl e 1,8% de ágar bacteriológico). As placas, em triplicatas foram acondicionadas em BOD a 29ºC por cerca de cinco dias, quando, então foi quantificado o número de colônias crescidas. Azevedo et al. (2002) enfatizam que o número ideal de crescimento bacteriano nestas placas de Petri gira em torno de três colônias. Entretanto, é aceitável uma quantia superior a esta quando se trabalha com um material vegetal muito rico em organismos endofíticos. A B C Figura 8 – Etapas do processo de desinfestação superficial do material vegetal: A – Pesagem das raízes (10 g); B – Sucessão de lavagens do material vegetal em Álcool (70%), Hipoclorito (2,5%) e Água Destilada Esterilizada (2x); C – Plaqueamento, em triplicata, de alíquota da última água de lavagem. Cada amostra de raízes desinfestadas foi colocada em um Becker contendo 100 mL de solução salina (0,8% NaCl) esterilizada, e triturada com o auxílio de um agitador (Figura 9). Em seguida, o extrato das raízes trituradas foi submetido aos dois procedimentos de isolamento de Bacillus sp., sugeridos pela OMS (1985) e Polanczyk (2004) e detalhados no item 4.2. 27 A B C Figura 9 – Preparo do extrato vegetal para posterior isolamento de Bacillus sp.: A – Raízes desinfestadas e a solução salina (0,8%) utilizadas no preparo do extrato vegetal; B – Trituração das raízes através de um misturador; C – Extrato vegetal preparado a partir das raízes trituradas em solução salina. 4.1.2. Homogeneização e diluição seriada das amostras de solo Um grama de cada amostra de solo foi homogeneizado em 10 mL de solução salina (0,006 mM FeS04 . 7H20; 0,01 mM CaC03 . 7H20; 0,08 mM MgS04 . 7H20; 0,07 mM MnS04 . 7H20; 0,006 mM ZnS04 . 7H20; pH 7,0) como sugerido por Polanczyk (2004). Em seguida, as suspensões foram submetidas à agitação por aproximadamente duas horas no intuito de liberar células de Bacillus da fração coloidal do solo, de acordo com Valicente18 et al. (1998 apud Polanczyk, 2004). Cada suspensão foi diluída até uma concentração de 10-3 e 10-4 (Figura 10) e submetida aos dois procedimentos de isolamento de Bacillus sp., conforme métodos elaborados pela OMS (1985) e por Polanczyk (2004), detalhados no item 4.2. 18 VALICENTE, F. H.; VASCONCELOS, M. J. V.; PAIVA, E.; FARIA, A.; SOUZA, F.; BARRETO, M. Caracterização através da PCR de cepas de Bacillus thuringiensis de diferentes regiões do Brasil. In: SIMPÓSIO DE CONTROLE BIOLÓGICO, 6, Rio de Janeiro, 1998, Anais. Rio de Janeiro: EMBRAPA/FIOCRUZ, 1998. p.164. 28 A B Figura 10 – Preparo das amostras de solo para posterior isolamento de Bacillus sp.: A – Pesagem do solo; B – Homogeneização e diluição seriada do solo. 4.2. Isolamento das linhagens endofíticas e edáficas de Bacillus sp. O isolamento das linhagens endofíticas e edáficas de Bacillus foi realizado após a obtenção do extrato das raízes e da suspensão seriada do solo, utilizando-se dois diferentes procedimentos metodológicos: i. Protocolo adaptado da Organização Mundial de Saúde/OMS (1985), caracterizado por crescimento bacteriano em Placa de Petri contendo meio NA, suplementado de Penicilina G a 100 mg/L (JUNG et al., 1998); ii. Protocolo adaptado de Polanczyk (2004), caracterizado por crescimento bacteriano em Placa de Petri contendo meio NA, seguido de crescimento bacteriano em meio líquido CCY Broth (STEWART et al., 1981) e suplementado de Penicilina G a 100mg/L (JUNG et al.,, 1998) Ambos os procedimentos de isolamento são apresentados de forma pormenorizada no item 4.2.1. e 4.2.2. 4.2.1. Protocolo adaptado da Organização Mundial de Saúde/OMS (1985) Os extratos das raízes e as suspensões não diluídas de solo foram submetidos a um tratamento térmico a 80º C durante doze minutos a fim de eliminar, tanto as bactérias não esporulantes quanto as formas vegetativas das bactérias esporulantes, deixando vivos apenas seus esporos, resistentes a alta temperatura. Em seguida, 100 µL de cada amostra de material foram depositados, separadamente e em triplicatas, sobre Placas de Petri, contendo o meio de cultura NA (0,3% de extrato de carne; 0,5% de peptona; 0,8% de NaCl e 1,8% de ágar bacteriológico), suplementado com solução do antibiótico de Penicilina G (100 mg/L), seletivo para Bacillus thuringiensis e Bacillus cereus (JUNG et al., 1998). As placas 29 de Petri foram acondicionadas em BOD a 29º C e examinadas após cinco dias, quando foram quantificadas as colônias crescidas (Figura 11), levando-se em consideração as características morfológicas típicas de Bacillus sp. A B C A Figura 11 – Etapas do isolamento de Bacillus sp. (OMS, 1985): A – Tratamento térmico da suspensão de solo e extrato vegetal (80º C/12 min.)l; B – Plaqueamento em meio NA suplementado com Penicilina G (100 mg/L); C – Incubação em BOD – 29º C/5 dias Nas placas de Petri que apresentaram crescimento superior a vinte colônias, realizou-se uma amostragem aleatória do material, no intuito de diminuir a quantidade de colônias analisadas, tornando viável o processo de identificação das linhagens e impedir que o excesso de trabalho interferisse nos resultados obtidos. Para isso, estabeleceu-se o critério de “Máximo Número de Colônias (MNC)”, obtido pela somatória 20 + 10% do total geral de colônias morfologicamente semelhantes ao gênero Bacillus. Assim, numa placa de Petri que apresentasse 40 colônias morfologicamente semelhantes às pertencentes ao gênero Bacillus, foram aleatoriamente amostradas um número de 24 colônias (20 + 10%). Tais colônias que foram capazes de crescer nas placas de Petri contendo meio NA com Penicilina (100mg/L) foram confirmadas como pertencentes ao gênero Bacillus, devido às características de resistência ao tratamento térmico e resistência à Penicilina G na concentração indicada. A porcentagem de UFC de Bacillus sp. por grama de raiz e de solo sobre o total das colônias amostradas serviu de base para o cálculo do número esperado de UFC de Bacillus por grama de raiz e de solo e apontado no ítem 5.1. Tal número esperado de UFC de Bacillus sp. foi obtido a partir da fórmula: ⁄ 4.2.2. Protocolo adaptado de Polanczyk (2004) Os extratos das raízes e as suspensões diluídas de solo (10-3 e 10-4) foram submetidos a um tratamento térmico a 80º C durante doze minutos a fim de eliminar as bactérias não esporulantes e as células vegetativas das formas esporulantes, deixando vivos apenas seus esporos, resistentes a alta temperatura. Em seguida, 100 µL de cada 30 amostra de material foram depositados, separadamente e em triplicatas, sobre Placas de Petri, contendo o meio de cultura NA (0,3% de extrato de carne; 0,5% de peptona; 0,8% de NaCl e 1,8% de ágar bacteriológico) e acondicionadas em BOD a 29º C durante cinco dias. Foi considerada como melhor suspensão diluída de solo (10-3 ou 10-4) aquela que permitiu o crescimento do maior número de colônias, espaçadas entre si. Após o período de incubação, as colônias que apresentaram características morfológicas semelhantes ao gênero Bacillus (tamanho médio de aproximadamente 0,5 cm de diâmetro e bordas irregulares, opacidade e coloração esbranquiçada) foram quantificadas e submetidas ao processo de agitação em meio de cultura líquido CCY Broth (STEWART et al., 1981) suplementado com solução antibiótica de Penicilina G (100mg/L), no intuito de selecionar colônias de Bacillus thuringiensis (resistentes à Penicilina), garantir sua esporulação bem como a formação dos cristais proteicos (típicos de linhagens Bt). Aliquotou-se 5mL de meio e, com o auxílio de uma alça metálica, foram inoculadas as colônias, sendo então submetidas à agitação de 160 rpm e incubadas a 28ºC por um período de 48 a 72 horas (Figura 12). O meio CCY acrescido de Penicilina G foi adotado como meio seletivo para o crescimento e esporulação já que é rico em íons metálicos, tais como Magnésio, Ferro, Zinco, Cálcio e Manganês responsáveis pela constituição e resistência do esporo ao calor e aos raios ultravioletas (LACEY19, 1984; ARCAS20, 1996; BERNHARD21; UTZ, 1993; BELTRAN22 et al., 1998 apud SOARES, 2006). Além disso, é constituído por componentes que agem como fonte de carbono orgânico, de grande importância para a síntese de cristais. Como no procedimento OMS realizou-se uma amostragem aleatória do material obtido nas placas de Petri, o qual foi submetido à fase de esporulação. Assim, das placas que apresentaram crescimento superior a vinte colônias, apenas o Máximo Número de Colônias (MNC), obtido pela somatória 20 + 10% do total geral de colônias morfologicamente semelhantes ao gênero Bacillus, foi submetido à fase de esporulação. 19 LACEY, L. A. Production and formulation of Bacillus sphaericus. Mosquito News. v. 44, n. 2-I, p. 153-159, 1984. 20 ARCAS, J. A. Protucción de bactérias entomopatogênicas. In: Microorganismos Patógenos Empleados en el Controle Microbiano de Insetos Plagas. Leucona, E. R. Buenos Aires: Talleres Graficos Mariano Mas., p. 208-222, 1996. 21 BERNHARD, K.; UTZ, R. Production of Bacillus thuringiensis Insecticides for Experimental and Commercial Uses. In: ENTWISTLE, P. F.; CORY, J. S.; BAILEY, M. J.; HIGGS, S. (Eds.) Bacillus thuringiensis, An Environmental Biopesticide: Theory and Practice. John Wiley & Sons, Chichester UK, 1993. 22 BELTRÁN, L.; DÍAZ, S.; BERDUGO, C.; ZAMORA, A.; BUITRAGO, G.; MORENO, N. Estratégia para el desiño de um medio de cultivo para la fermentación com Bacillus sphaericus. R. Colombiana de Biotecnologia, v. 1, n. 1, p. 28-34, 1998. 31 A B C D ccy Figura 12 – Etapas do isolamento de Bacillus sp. (POLANCZYK, 2004): A – Tratamento térmico das suspensões diluídas de solo e extrato vegetal (80º C/12 min.); B - Plaqueamento em meio NA; C – Incubação em BOD a 29º C/5 dias; D – Esporulação bacteriana em meio CCY Broth, suplementado com Penicilina G (100mg/L) sob agitação (28º C por 48-72h) Todas as colônias que foram capazes de crescer em meio líquido CCY Broth com Penicilina (100mg/L), provocando turvação do meio, foram confirmadas como pertencentes ao gênero Bacillus, devido às características de resistência ao tratamento térmico e resistência à Penicilina G na concentração indicada. Como descrito no item 4.2.1 a porcentagem de UFC de Bacillus sp. por grama de raiz e de solo sobre o total das colônias amostradas serviu de base para o cálculo do número esperado de UFC de Bacillus por grama de raiz e de solo, também indicado no item 5.1. Tal número esperado de UFC de Bacillus foi calculado através da seguinte fórmula: ⁄ 4.3. Identificação das linhagens de Bacillus thuringiensis Todos os isolados que foram capazes de crescer em meio de cultura Na com solução de Penicilina G (100 mg/L) ou em meio CCY com solução de Penicilina G (100 mg/L), mostraram-se resistentes, tanto ao antibiótico quanto ao tratamento térmico, características típicas de Bacillus thuringiensis e Bacillus cereus (POLANCZYK, 2004). Tendo em vista que estas duas espécies bacterianas podem ser diferenciadas pela presença de cristais proteicos (LUTHY23; WORFERSBERGER, 2000 apud POLANCZYK, 2004), tóxicos para uma grande variedade de insetos e observáveis através de microscopia de contraste de fase em células de Bt, realizou-se a identificação das linhagens de Bacillus thuringiensis através da caracterização entomopatogênica dos isolados sobre larvas de Diatraea saccharalis (Lepidoptera: Crambidae), assim como pela análise microscópica da presença dos cristais proteicos, conforme itens 4.3.1 e 4.3.2. 23 LUTHY, P.; WORFERSBERGER, M. G. Pathogenisis of Bacillus thuringiensis toxins. In: CHARLES, J.F.; DELÉCLUSE, A.; NIELSEN-LEROUX, C. (Ed.) Entomopathogenic bacteria: from laboratory to field application. Netherlands: Kluwer Academy Publishers, 2000. p. 167-180. 32 4.3.1. Caracterização entomopatogênica dos isolados endofíticos e edáficos sobre larvas de Diatraea saccharalis (Lepidoptera: Crambidae) Os isolados endofíticos e edáficos de Bacillus sp. obtidos a partir dos protocolos da OMS (1985) e Polanczyk (2004), submetidos à esporulação conforme especificado no item 4.2.2. e que promoveram turvação do meio de cultura foram entomopatogenicamente caracterizados, a partir da inoculação de toletes de cana-de-açúcar e do seu oferecimento às larvas do lepidóptero Diatraea saccharalis, no intuito de se identificar as linhagens patogênicas que promovessem mortalidade igual ou superior a 20% das larvas. As larvas utilizadas no experimento foram cedidas pela Usina São João e pelo Setor de Criação de Insetos do Laboratório de Controle Biológico do Instituto Biológico/Campinas. A caracterização entomopatogênica foi realizada em triplicata e constou dos seguintes passos: 1. Inoculação de 1 mL do isolado sobre um pedaço de cana (1cm2) parcialmente seco sob luz ultravioleta, disposto em um tubo chato esterilizado e deixado em repouso por um período de 6 horas para a absorção do isolado pelo material vegetal; 2. Secagem do tolete da cana através da retirada do excesso de cultura com papel-toalha; 3. Colocação de cinco larvas (terceiro ínstar) do lepidóptero Diatraea saccharalis sobre o tolete de cana; 4. Vedação do tubo chato com algodão hidrofóbico. O procedimento adotou um controle positivo (bioinseticida Dipel, cultivado em meio de cultura CCY Broth suplementado com solução de Penicilina G – 100mg/L) e também um controle negativo (água destilada). Os tubos chatos contendo as larvas foram acondicionados em sala climatizada com controle de temperatura e umidade e a análise da porcentagem de mortalidade das larvas foi realizada após um período de cinco a sete dias. Foram considerados possíveis isolados de Bt todos aqueles que promoveram a morte das larvas, numa porcentagem igual ou superior a 20%, os quais foram investigados quanto à presença de cristais proteicos, através da análise em microscópio com contraste de fase. 4.3.2. Análise microscópica dos cristais proteicos Os isolados que promoveram a mortalidade das larvas de Diatraea saccharalis num percentual igual ou superior a 20% foram submetidos ao processo de esporulação em meio CCY Broth (STEWART et al., 1981) suplementado com Penicilina G (100mg/L) sob agitação de 160 rpm e incubados a 28º C por 48-72 horas, a fim de permitir a formação dos cristais proteicos, visíveis ao microscópio óptico com contraste de fase (1000x) nas células de Bacillus thuringiensis. 33 As lâminas foram preparadas a partir dos isolados cultivados em 48 e 72 horas, coradas pelo Método de Wirtz-Conklin (Anexo 1) e observadas ao microscópio óptico com contraste de fase em objetiva de imersão (1000x). Foram consideradas linhagens de Bacillus thuringiensis todas aquelas que permitiram visualização dos cristais proteicos, corados em rosa escuro em contraste com o esporo, corado em verde, como sugere o Método de coloração de Wirtz-Conklin. O cálculo da porcentagem de linhagens Bt sobre o total das linhagens de Bacillus sp., isoladas através dos dois procedimentos metodológicos, serviu de fator para calcular o número, amostrado e esperado, de UFC de Bt por grama de raiz e solo. Tais números, apontados na Tabela 14 do item 5.3., foram calculados a partir das seguintes fórmulas: e 4.4. Preservação das linhagens de Bacillus sp. As linhagens endofíticas e edáficas de Bacillus sp., isoladas a partir do protocolo da OMS (1985) e Polanczyk (2004) foram preservadas em tiras de papel-filtro esterilizadas (5cm x 0,5cm), conforme adaptação do método sugerido por Monnerat e Praça (2006) (Figura 13). Esse procedimento de preservação é capaz de conservar os esporos bacterianos por aproximadamente quinze anos e para tal finalidade foi necessário submeter os isolados à agitação por 72 horas em meio CCY Broth (STEWART et al.,, 1981) suplementado de Penicilina G (100 mg/L) no intuito de se obter os esporos. Os isolados esporulados foram submetidos a tratamento térmico de 55ºC durante 40 minutos (para a eliminação das células vegetativas e a preservação dos esporos no meio de cultura), aliquotados (100µL da suspensão) e colocados sobre tiras de papel-filtro (previamente esterilizadas e dispostas em tubos rosqueados). Os tubos foram acondicionados em estufas à temperatura de 37º C e aí permaneceram até a secagem completa das tiras de papel, sendo em seguida, estocados à temperatura ambiente. 34 Figura 13 – Método de preservação das linhagens de Bacillus sp. através de tiras esterilizadas de papel-filtro 4.5 . Análise estatística Os dados referentes ao número de colônias/placa, isoladas de 11 amostras de raízes de cana-de-açúcar e de seus respectivos substratos, a partir dos dois diferentes procedimentos metodológicos, foram transformados em Log(x+1) e submetidos à análise de variância, comparando-se as médias pelo teste de Tukey (P<0,05). 35 5. Resultados e Discussão Onze amostras de raízes de cana-de-açúcar e dos respectivos solos ao seu redor foram coletadas em nove diferentes municípios do interior do estado de São Paulo, tendo em vista o isolamento e a identificação das populações endofíticas e edáficas de Bacillus sp. O processo de desinfestação superficial das raízes da cana, passo inicial para o isolamento das bactérias endofíticas, foi realizado com êxito de acordo com os dados apontados na Tabela 7. O número de colônias bacterianas crescidas por placa de Petri a partir da inoculação de 100 µL da água usada na última lavagem das raízes, em meio Nutriente Ágar (NA) variou de 0 a 4 colônias, apresentando-se dentro da faixa considerada adequada para o isolamento dos micro-organismos endofíticos, segundo Azevedo et al. (2002). Tabela 7 – Número médio de colônias bacterianas endofíticas, obtido a partir do plaqueamento da água da última lavagem das raízes das onze amostras de cana-de-açúcar (processo de desinfestação superficial) Amostra Município Média de colônias bacterianas endofíticas por 100 µL de água da última lavagem 01 Santo Antônio de Posse 0,0 02 Santo Antônio de Posse 4,0 03 Holambra 3,5 04 Limeira 0,0 05 Araras 0,3 06 Ipeúna 0,3 07 Charqueada 0,5 08 São Pedro 4,0 09 São Pedro 0,0 10 Santa Maria da Serra 2,6 11 Campinas 0,6 Média total 1,4 36 5.1. Protocolo OMS (1985) x Protocolo Polanczyk (2004) Pelo protocolo de Polanczyk (2004) foi possível isolar Bacillus endofíticos e edáficos de todas as onze amostras de raízes e solo, enquanto que pelo protocolo OMS (1985), o isolamento foi observado em apenas três amostras de raízes e cinco amostras de solo, as quais geraram um pequeno número de linhagens (exceto para a amostra 4 de onde foram obtidas 54 colônias), como mostra a Tabela 8. Além disso, os protocolos estabelecidos pela OMS (1985) e por Polanczyk (2004) se diferiram significativamente quanto ao número de colônias de Bacillus sp./placa de Petri, isoladas dos ambientes edáfico e endofítico (F=32,5; d=3 40; P<0,001) (Tabela 9), considerando-se os 11 locais de levantamento como repetições para cada ambiente de coleta, em cada metodologia. O protocolo de Polanczyk (2004) permitiu isolar um maior número de UFC de Bacillus sp. por grama de amostra, tanto do ambiente edáfico quanto do ambiente endofítico, quando comparado ao protocolo OMS (1985), conforme aponta a Tabela 10 (Polanczyk - 5,11 x 106 UFC/g de solo e 13,0 x 102 UFC/g de raiz; OMS – 1,87 x 102 UFC/ g de solo e 0,33 x 102 UFC/ g de raiz). Assim, o método Polanczyk permitiu isolar densidades muito superiores deste gênero bacteriano, comparado ao método OMS (27.326 vezes superiores no ambiente edáfico e 39 vezes superiores no ambiente endofítico). Entretanto, quanto se analisa o percentual de linhagens identificadas como Bacillus sp. em relação ao total de linhagens amostradas, o método OMS apresentou maior especificidade no isolamento deste gênero bacteriano quando comparado ao método Polanczyk (OMS – 100% das linhagens endofíticas e edáficas amostradas foram identificadas como Bacillus sp.; Polanczyk – 76% das linhagens endofíticas e 93% das linhagens edáficas amostradas foram identificadas como Bacillus sp.) Desta forma, embora o método OMS (1985) tenha apresentado maior especificidade no isolamento de Bacillus sp., o método Polanczyk (2004) demonstrou ser um processo muito mais vantajoso para estudos de diversidade e para formação de bancos de isolados, graças a sua maior capacidade de isolar densidades bacterianas muito superiores ao do primeiro método. 37 Tabela 8 – Número de colônias de Bacillus sp./placa de Petri (9 cm), isoladas de 11 amostras de raízes de cana-de-açúcar e de seus respectivos substratos, a partir de dois diferentes procedimentos metodológicos. 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 Total Colônias por placas 0 3 0 58 1 0 0 1 0 3 0 66* Colônias amostradas 0 3 0 54 1 0 0 1 0 3 0 62** 0 3 0 54 1 0 0 1 0 3 0 62*** Colônias por placas 0 0 0 0 1 7 0 0 0 0 3 11* Colônias amostradas 0 0 0 0 1 7 0 0 0 0 3 11** 0 0 0 0 1 7 0 0 0 0 3 11*** Colônias por placas 13 18 7 15 26 30 15 150 33 42 19 368* Colônias amostradas 13 18 7 15 26 30 15 76 33 42 19 294** 9 16 5 15 26 30 15 76 33 42 10 277*** Colônias por placas 56 191 429 8 5 18 213 297 50 21 57 1345* Colônias amostradas 56 80 103 8 5 18 82 81 50 21 57 561** 41 41 56 8 5 18 81 81 49 21 28 429*** Edáfica Edáfica Endofítica Polanczyk (2004) Endofítica OMS (1985) Amostra Linhagens confirmadas de Bacillus Linhagens confirmadas de Bacillus Linhagens confirmadas de Bacillus Linhagens confirmadas de Bacillus *Número total de colônias por placas – 1.790 (1.356 Endofíticas e 434 Edáficas) **Número total de colônias amostradas – 928 (572 Endofíticas e 356 Edáficas) ***Número total de Linhagens confirmadas de Bacillus sp. – 779 (440 Endofíticas e 339 Edáficas) 38 Polanczyk OMS Tabela 9 – Número (± erro padrão) de colônias de Bacillus sp. e Bacillus thuringiensis/0,01g solo ou raiz, isoladas de 11 amostras de raízes de cana-de-açúcar e de seus respectivos substratos, a partir de dois procedimentos metodológicos. Bacillus sp. Bacillus thuringiensis Edáfico 5,6 ± 4,8 a 3,0 ± 2,9 a Endofítico 1,0 ± 0,7 a 0,2 ± 0,1 a 252.000 ± 61.000 c 70.000 ± 29.000 c 39,0 ± 7,9 b 12,4 ± 4,3 b Edáfico Endofítico *Os valores foram previamente corrigidos a partir da fórmula Log (x+1) **Médias seguidas de mesma letra, nas colunas, não apresentam diferenças estatísticas pelo teste de Tukey a 5% Tabela 10 – Colônias de Bacillus sp. isoladas a partir de 11 amostras de raízes de cana-de-açúcar e de seus respectivos substratos, através de dois distintos procedimentos metodológicos. Edáfica Endofítica Ambiente (a) (b) (c) (d) Parâmetros Método OMS Polanczyk (1985) (2004) Colônias totais por placa UFC/g raiz 0,33 2 0,33 x 10 40,75 2 40,75 x 10 Colônias amostradas por placa Bacillus sp. /placa Bacillus sp. /g raiz 0,33 (a) 0,33 2 0,33 x 10 17,0 (b) 13,0 2 13,0 x 10 UFC esperadas de Bacillus sp./g raiz 0,33 x 10 30,97x 10 Colônias totais por placa UFC/g solo 2,0 2 2,0 x 10 11,15 6 7,87 x 10 Colônias amostradas por placa Bacillus sp. /placa Bacillus sp. /g solo 1,87 (c) 1,87 2 1,87 x 10 8,9 (d) 8,39 6 5,11 x 10 UFC esperadas de Bacillus sp./g solo 2,0 x 10 2 100% das colônias amostradas foram confirmadas como Bacillus sp. 76% das colônias amostradas foram confirmadas como Bacillus sp. 100% das colônias amostradas foram confirmadas como Bacillus sp. 94% das colônias amostradas foram confirmadas como Bacillus sp. 2 7,39 x 10 2 6 39 Uma das grandes diferenças entre os protocolos OMS (1985) e Polanczyk (2004) reside no tempo dispendido e na forma de realizar os dois procedimentos de isolamento bacteriano. O protocolo sugerido pela OMS (1985) é o método mais utilizado para o isolamento de bactérias do gênero Bacillus, por ser considerado fácil, rápido e barato para aplicação, tendo como base metodológica a deposição das amostras termicamente tratadas sobre placas de Petri contendo meio sólido. Silva e Monnerat (2002) compararam três diferentes métodos de isolamento de Bacillus entomopatogênicos e chegaram à conclusão que o método de isolamento de linhagens de Bacillus thuringiensis ou Bacillus cereus proposto pela OMS é mais eficiente, sendo, portanto o mais indicado para esta finalidade. Entretanto, os mesmos autores concluíram que para o isolamento de linhagens de Bacillus sphaericus, o método do Acetato proporciona resultados mais satisfatórios. Já o protocolo sugerido por Polanczyk (2004) difere-se do OMS por apresentar duas fases de isolamento: uma fase referente ao choque térmico seguido do plaqueamento em meio sólido sem antibiótico e outra fase de crescimento e esporulação das colônias (previamente cultivadas nas placas de Petri) em meio líquido com antibiótico (Penicilina G 100 mg/L), sob agitação por 48 – 72 horas. De acordo com o autor, esse método é mais trabalhoso, demorado e dispendioso quando comparado ao protocolo OMS, porém demonstra-se mais eficiente para o isolamento de linhagens de Bacillus thuringiensis e Bacillus cereus. O autor ressalta ainda que a agitação das colônias em meio líquido contendo Penicilina é de fundamental importância para o isolamento destas duas espécies de Bacillus, pois impede o crescimento de bactérias sensíveis ao antibiótico e favorece a esporulação por proporcionar maior aeração. 5.2. Ambiente Endofítico x Ambiente Edáfico Os dois métodos avaliados apontaram uma densidade de Bacillus sp. muito superior no ambiente edáfico comparado ao endofítico (Tabela 10), entretanto sem haver diferenças significativas entre os dois ambientes pelo método de OMS (F=32,5; d=3 40; P=0,780), porém ocorrendo diferenças significativas pelo método de Polanczyk (F=32,5; d=3 40; P<0,001) (Tabela 9). Pelo método OMS constatou-se que a densidade das linhagens edáficas foi 5,6 vezes superior à endofítica (1,87 x 102 UFC/g de solo e 0,33 x 102 UFC/g de raiz), enquanto que pelo método Polanczyk a densidade de linhagens edáficas obtidas foi 3.930 vezes superior à endofítica (5,11 x 106 UFC/g de solo e 13 x 102 UFC/g de raiz), como aponta a Tabela 10. Tais resultados confirmam a análise de vários autores que ressaltam o solo como o principal reservatório natural de bactérias do gênero Bacillus (AZAMBUJA et al., 2009-2010; IBARRA et al., 2003; MOHAMED et al., 2007). 40 Analisando os dados da Tabela 11, percebe-se que ocorreu uma variação de UFC de Bacillus sp. nos ambientes edáfico e endofítico, nos nove municípios de coleta de materiais. Tabela 11 – Número de colônias de Bacillus sp. por grama de raiz e de solo, isoladas a partir de dois procedimentos, das onze amostras coletadas nos nove municípios do interior de São Paulo. OMS (1985) POLANCZYK (2004) Amostra Município UFC/g de raiz UFC/g de solo 01 S. Antônio de Posse 0 0 02 S. Antônio de Posse 0 1,0 x 10 03 Holambra 0 0 04 Limeira 0 18,0 x 10 2 2,66 x 10 05 Araras 0,33 x 10 2 0,33 x 10 2 1,66 x 10 06 Ipeúna 2,33 x 10 2 0 6 x 10 07 Charqueada 0 0 27 x 10 08 São Pedro 0 0,33 x 10 27 x 10 09 São Pedro 0 0 10 Santa Maria da Serra 0 1,0 x 10 11 Campinas 1,0 x 10 Média total 2 2 0,33 x 10 13,6 2 UFC/g de Raiz 6 x 10 UFC/g de solo 2 6 3 x 10 2 5,33 x 10 2 1,66 x 10 13,66 x 10 18,66 x 10 0,5 x 10 2 8,66 x 10 1,87 x 10 2 5,0 x 10 6 2 25,33 x 10 2 7 x 10 2 2 6 6 2 0 6 1,0 x 10 16,33 x 10 2 6 2 2 2 6 1,1 x 10 6 1,4 x 10 6 6 9,33 x 10 3,33 x 10 2 5,11 x 10 13 x 10 6 6 A amostra 4, oriunda do município de Limeira, apresentou a menor concentração de UFC de Bacillus na raiz e no solo, enquanto que a amostra 8, coletada no município de São Pedro apresentou a maior concentração de UFC nesses dois ambientes. Alguns autores apontam que as práticas agrícolas, tais como o manejo do solo, rotação de cultura, aplicação de agrotóxicos e uso de maquinários interferem na microbiota terrestre, afetando a qualidade do solo e modificando suas propriedades físicas, químicas e biológicas 41 (VALARINI24 et al., 2002; ANDRÉA25; HOLLWEG, 2004 apud AZAMBUJA et al., 2009-2010), o que pode explicar as diferenças nas concentrações das bactérias do gênero Bacillus nos diferentes municípios. Fato interessante ocorreu nas amostras coletadas nos municípios de Holambra (Amostra 3) e São Pedro (amostra 9), que apresentaram as mais altas concentrações de UFC no ambiente endofítico, e as mais baixas concentrações no ambiente edáfico, sendo que o inverso ocorreu para as amostras coletadas no município de Araras (alta concentração de UFC no solo, e baixa concentração na raiz). Portanto, as densidades populacionais deste gênero bacteriano podem não seguir uma mesma tendência nos dois ambientes (solo e raiz). É possível ainda deduzir que, além da capacidade de penetrabilidade do micro-organismo nos tecidos vegetais, o potencial de multiplicação, dispersão e de persistência do agente microbiano no interior do vegetal podem ser fatores que determinem uma maior ou menor densidade de micro-organismos endofíticos. 5.3. Identificação das linhagens de Bacillus thuringiensis As linhagens confirmadas no gênero Bacillus foram submetidas aos testes de patogenicidade contra larvas do lepidóptero Diatraea saccharalis no intuito de se apontar as linhagens entomopatogênicas que poderiam ser identificadas como Bacillus thuringiensis. Os bioensaios com as linhagens de bactérias edáficas + endofíticas do gênero Bacillus revelaram um total de 248 linhagens entomopatogênicas, representando 31,8% do total das 779 linhagens testadas. O percentual obtido foi muito similar à sugestão de Tanada e Kaya (1992), os quais sugerem que a população ambiental de Bt em relação à população de Bacillus cereus é de aproximadamente 35%. A porcentagem obtida no presente trabalho também não apresentou grande diferença do resultado obtido por Polanczyk (2004), que isolou 461 linhagens de Bacillus sp. de amostras de solo e destas 41,2% apresentaram propriedade entomopatogênica. Das 248 linhagens entomopatogênicas, 100% foram identificadas como Bacillus thuringiensis a partir da constatação da presença dos cristais proteicos que as diferem das linhagens de Bacillus cereus (LUTHY & WORFERSBERGER23, 2000 apud POLANCZYK, 2004). Ocorreram diferenças significativas entre os dois métodos no que se refere ao número de colônias de Bacillus thuringiensis por placa, obtidas dos ambientes edáfico e endofítico (F=8,793; d=3 40; P<0,001) (Tabela 9). O método Polanczyk isolou maior 24 25 VALARINI, P.J.; DIAZ ALVAREZ, M.C.; GASCÓ, J. M.; GUERRERO, F.; TOKESHI, H. Integrated evaluation of soil quality after the incorporation of organic matter and microorganisms. Brazilian Journal of Microbiology, v. 33, p. 53-58, 2002. ANDRÉA, M.M.; HOLLWEG, M.J. 2004. Comparação de métodos para determinação de biomassa microbiana em dois solos. Revista Brasileira Cia. do Solo, v.28, p. 981-986, 2004. 42 densidade de linhagens de Bacillus thuringiensis quando comparado ao método OMS. Pelo método de Polanczyk foram obtidas 213 linhagens de Bt (85,88% do total das linhagens de Bacillus sp.) em comparação as 35 linhagens de Bt (14,10%), isoladas pelo método OMS, como aponta a Tabela 12. Tabela 12 – Porcentagens de linhagens edáficas e endofíticas de Bt, isoladas a partir dos Métodos OMS (1985) e Polanczyk (2004) Polanczyk OMS Método Parâmetro Colônias de Bt por 0,01g de solo ou raiz % de Bt em relação ao total de Bacillus entomopatogênico Total de Bt 35 14,10% Bt Edáficos 33 13,30% Bt Endofíticos 2 0,80% Total de Bt 770.136 85,88% Bt Edáficos 770.000 31,04% Bt Endofíticos 136 54,83% Ainda na Tabela 12, constatou-se que o método OMS isolou um maior percentual de linhagens Bt nas amostras edáficas (13,3%) em relação às endofíticas (0,8%), do total de colônias isoladas de Bacillus sp. Já pelo método Polanczyk, observou-se um resultado inverso (31,04% de linhagens Bt de origem edáfica e 54,8% de origem endofítica). Entretanto, não ocorreram diferenças significativas no número de colônias de Bt obtidas por placa, para os dois ambientes pelo método da OMS (F=8,8; d=3 40; P=0, 931), embora tenham ocorrido diferenças significativas pelo método de Polanczyk (F=8,8; d=3 40; P<0,001) (Tabela 9). Pelo método OMS, apenas duas amostras de solo e duas amostras de raízes apontaram a presença de linhagens de Bt, enquanto que pelo método Polanczyk (2004) foram obtidas linhagens de Bt de todas as amostras de solo e de oito amostras de raízes 43 (Tabela 13), deixando evidente o maior potencial de isolamento de linhagens Bt do segundo protocolo, tanto das amostras endofíticas quanto das edáficas. Além disso, os dados inferem que o número de linhagens bacterianas isoladas a partir do Protocolo OMS pode não traduzir a realidade, já que a falta de aeração e o meio de cultura, pobre em sais necessários à esporulação da bactéria, dificultam o crescimento das colônias de Bt nas placas de Petri, não apontando, em muitas delas, nenhum crescimento bacteriano. E quanto ao fato de o método Polanczyk ter indicado um maior percentual de linhagens de Bt no ambiente endofítico em relação ao ambiente edáfico, é possível inferir que pode não ser um equívoco, mas sim o indício de que o percentual de linhagens Bt em alguns ambientes endofíticos pode ser superior ao ambiente edáfico, sendo este o método ideal para o isolamento de Bt endofítico. A fim de se avaliar o potencial patogênico, as linhagens Bt foram divididas em três categorias de acordo com o percentual de mortalidade de larvas de Diatraea saccharalis (Tabela 14): i. Linhagens que provocaram baixo percentual de mortalidade de larvas de Diatraea saccharalis (20% a 49,9%) – Baixo potencial como agente de biocontrole ii. Linhagens que provocaram de médio a alto percentual de mortalidade das larvas de Diatraea saccharalis (50% a 99,9%) – Médio potencial como agente de biocontrole iii. Linhagens que provocaram percentual altíssimo de mortalidade Diatraea saccharalis (100%) – Alto potencial como agente de biocontrole 44 Tabela 13 – Número de colônias de Bacillus sp. por placa de Petri (9 cm), isoladas de 11 amostras de raízes de cana-de-açúcar e de seus respectivos substratos, a partir de dois diferentes procedimentos metodológicos Edáfica Endofítica Edáfica Endofítica Polanczyk (2004) OMS (1985) Método/ ambiente Parâmetro Amostra 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 Total Total de Bacillus sp. 0 3 0 54 1 0 0 1 0 3 0 62 Bacillus entomopatogênicos 0 0 0 32 0 0 0 1 0 0 0 33 B. thuringiensis 0 0 0 32 0 0 0 1 0 0 0 33 Total de Bacillus sp. 0 0 0 0 1 7 0 0 0 0 3 11 Bacillus entomopatogênicos 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 2 B. thuringiensis 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 2 Total de Bacillus sp. 9 16 5 15 26 30 15 76 33 42 10 277 Bacillus entomopatogênicos 1 9 4 2 2 4 9 35 3 1 7 77 B. thuringiensis 1 9 4 2 2 4 9 35 3 3 7 77 Total de Bacillus sp. 41 41 56 8 5 18 81 81 49 21 28 429 Bacillus entomopatogênicos 22 17 30 0 0 4 42 5 1 0 15 136 B. thuringiensis 22 17 30 0 0 4 42 5 1 0 15 136 45 Tabela 14 – Número de linhagens endofíticas e edáficas de Bt (amostradas e esperadas) obtidas pelos métodos OMS e Polanczyk, e proporção em relação às linhagens de Bacillus sp. dentro de 3 faixas percentuais de mortalidade de Diatraea sacharallis. Endofítico OMS Edáfico Método/ ambiente Mortalidade das larvas (%) Linhagens de Bacillus sp. por placa ou por g/solo ou raiz Linhagens edáficas 62 2 1,87 x 10 % de Bt em relação às linhagens de Bacillus sp. 33 53,22% 1,0 x 10 20 a 49,9 19 30,64% 0,57 x 10 2 0,61 x 10 2 50 a 99,9 14 22,58% 0,42 x 10 2 0,45 x 10 2 100 0 0% --- 2 18,18% 0,06 x 10 20 a 49 1 9,09% 50 a 99,9 1 100 Edáfico Endofítico 2 UFC de Bt esperadas por grama de solo ou raiz 1,06 x 10 2 --2 0,06 x 10 0,03 x 10 2 0,03 x 10 2 9,09% 0,03 x 10 2 0,03 x 10 2 0 0% --- 77 27,79% 1,42 x 10 20 a 49 44 15,88% 50 a 99,9 29 100 Linhagens endofíticas 11 2 0,33x10 2 --6 2,05 x 10 0,81 x 10 6 1,17 x 10 6 10,46% 0,53 x 10 6 0,77 x 10 6 4 1,44% 0,07 x 10 6 0,10 x 10 6 136 31,70% 4,12 x 10 2 9,81 x 10 20 a 49 101 23,54% 3,06 x 10 2 7,29 x 10 2 50 a 99,9 28 6,52% 0,84 x 10 2 2,02 x 10 2 100 7 1,63% 0,21 x 10 2 0,50 x 10 2 Linhagens edáficas Polanczyk UFC de Bt/g de solo ou raiz, encontradas nos isolados amostrados (20 + 10%) Colônias de Bt por placa Linhagens endofíticas 277 6 5,11 x 10 429 2 13,0 x 10 6 2 Comparando-se as densidades de bactérias da espécie Bacillus thuringiensis encontradas no ambiente endofítico com aquelas do ambiente edáfico, notou-se pelos dois métodos, população bem superior no solo, com densidades esperadas de 1,06 x 102 e 2,05 x 106 UFC/g de solo (para os métodos OMS e Polanczyk, respectivamente), superando muitas vezes a população na raiz, com densidades esperadas de 0,06 x 10 2 e 9,81 x 102 UFC/ g de raiz (para os métodos OMS e Polanczyk, respectivamente), como já apresentado 46 na Tabela 14. A densidade das linhagens edáficas de Bacillus thuringiensis foi 17,6 vezes superior à endofítica (para o método OMS) e 2.089 vezes superior à endofítica (para o método Polanczyk). Pode-se deduzir que é mais fácil isolar Bt do ambiente edáfico do que do ambiente endofítico, devido à superioridade nas densidades de Bt neste ambiente. Nota-se também a partir da análise dos percentuais de Bt (Tabela 14) que tanto no ambiente edáfico quanto no ambiente endofítico as linhagens Bt mais comumente encontradas são aquelas que provocam baixo percentual de mortalidade de larvas do lepidóptero Diatraea saccharalis, e, portanto com baixo potencial para o controle biológico destes insetos-praga. Entretanto, é no ambiente edáfico que se encontra a maior porcentagem de linhagens Bt com médio a alto potencial para biocontrole. Pôde-se perceber que 53,22% dos isolados edáficos obtidos através do Método OMS manifestaram toxicidade ao lepidóptero. Este resultado foi muito semelhante ao obtido por Martim e Travers (1989) que isolaram 1000 linhagens Bt dos cinco continentes e identificaram ação toxica para lepidópteros e dípteros em 60% delas. Entretanto, ambos os resultados foram muito superiores ao obtido pelo método Polanczyk (27,79%). As linhagens Bt de altíssimo potencial para o biocontrole (capazes de matar 100% das larvas de Diatraea saccharalis) foram isoladas apenas pelo método Polanczyk, tanto do ambiente edáfico (1,44%) quanto do ambiente endofítico (1,63%). embora o maior percentual destas linhagens tenha originado das raízes. Tais resultados não foram muito diferentes dos 3,3% obtidos por Loguercio26 et al. (2001 apud Fatoretto et al., 2007), e dos 3,84% obtidos por Hernandez (1988) no México. Outros trabalhos realizados em diversos países apontam diferentes percentuais de Bt edáfico com alta e altíssima capacidade de matar lepidópteros. Em bioensaios com linhagens de Bt contra S. frugiperda, Fatoretto et al. (2007) obtiveram 35% de linhagens com altíssima capacidade de provocar mortalidade em larvas deste lepidóptero, sendo capazes de matar de 90% a 100% das larvas. Um alto percentual (34%) também foi obtido na Argentina, por Dias et al.(1999). No México, Bohorova27 et al. (1996 apud Polanczyk, 2004) identificaram apenas uma linhagem de Bt (de um total de 352 isolados) com capacidade de matar 70% a 80% das larvas de lepidópteros, representando um ínfimo percentual de 0,28%. Já na Colômbia Arango28, Romero e Orduz 26 LOGUERCIO, L. L.; SANTOS, C. G.; BARRETO, M. R.; GUIMARAES, C. T.; PAIVA, E. Association of PCR and feeding bioassays as a large-scale method to screen tropical Bacillus thuringiensis isolates for a cry constitution with higher insecticidal effect against Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) larvae. Letters in Appl. Microbiol., v. 32, p. 362367, 2001. 27 BOHOROVA, N.; MACIEL, A.M.; BRITO, R.M.; AGUILART, L.; IBARRA, J.E.; HOISINGTON, D. Selection and characterization of Mexican strains of Bacillus thuringiensis active against four major lepidopteran maize pests. Entomophaga, v. 41, p. 153±165. 1996. 28 ARANGO, J.A.; ROMERO, M.; ORDUZ, S. Diversity of Bacillus thuringiensis strains from Colombia with insecticidal activity against Spodoptera frugiperda (Lepidoptera:Noctuidae). J Appl Microbiol., v. 92, p. 466-474, 2002. 47 (2002) e Uribe29, Martinez e Cerón (2003 apud Polanczyk, 2004) identificaram 11 de 1290 isolados Bt com capacidade para matar de 70% a 95% de larvas de S. frugiperda (o que representa 0,85%). No presente trabalho a maior porcentagem de Bt com capacidade de provocar alto percentual de mortalidade em larvas de Diatraea saccharalis, que foi obtida das raízes da cana e não do seu solo, sugere que a relação entre linhagens responsáveis por altíssimo percentual de mortalidade deste lepidóptero e linhagens responsáveis por menores percentuais de mortalidade seja maior no ambiente endofítico do que no ambiente edáfico. Portanto, no interior dos vegetais é possível que possa haver linhagens muito mais promissoras para componentes de bioinseticidas. É bastante comum, como já mencionado, trabalhos que apontam a presença de Bt no solo. Entretanto, quando se trata de analisar a presença de linhagens Bt no ambiente endofítico o número de trabalhos publicados é muito inferior. Algumas pesquisas apontam que esta espécie bacteriana é colonizadora de vários tecidos vegetais, podendo ser encontrada em diversos tipos de plantas, tais como: cana-de-açúcar (SUZUKI, 2011), mandioca (SUZUKI, 2006; TEIXEIRA et al., 2007), algodão e couve (MONNERAT et al., 2003). Teixeira et al. (2007) realizaram estudos sobre a diversidade de micro-organismos endofíticos da mandioca (Manihot esculenta Crantz) em três Estados brasileiros (São Paulo, Amazonas e Bahia) e obtiveram 47 espécies de micro-organismos pertencentes a 27 gêneros, sendo o Bacillus o mais frequente de todos. Os mesmos autores identificaram linhagens de Bt em mandiocas provenientes dos três Estados (8,6% em mandiocas paulistas; 2,24% em mandiocas amazonenses e 21,74% em mandiocas baianas), indicando nos três Estados, grande variação de percentual de Bt endofítico. No presente trabalho, nota-se valores muito maiores de Bt no interior da cana (31,70% pelo Método Polanczyk e 18,18% pelo Método OMS) comparado àquele do interior da mandioca, apontando uma predileção da bactéria por alguns tipos de plantas dependendo do espaço geográfico. Azevedo (1998) sugere que estes micro-organismos, em geral, adentram as plantas por aberturas naturais (estômatos e hidatódios) e feridas (causadas por insetos, fungos, e abrasões promovidas pelo crescimento), sendo as raízes suas principais portas de entrada. Para Monnerat et al. (2003) a planta absorve a bactéria do solo e esta se prolifera e circula pelos tecidos vegetais, co-evoluindo com a planta e exercendo a função de protegê-la contra o ataque de pragas. Sendo assim, é provável que os altos percentuais de Bt em cana-deaçúcar comparados aos percentuais em mandioca possa ser justificado pela maior necessidade que tem a cana-de-açúcar de se proteger contra a grande diversidade de pragas que atacam os canaviais, sobretudo aquelas subterrâneas que atacam a raiz (PINTO; BOTELHO; OLIVEIRA, 2009). 29 URIBE, D.; MARTINEZ, W.; CERÓN, J. Distribution and diversity of cry genes in native strains of Bacillus thuringiensis obtained from different ecosystems from Colombia. J Invertebr Pathol., v. 82, p.119-127, 2003. 48 A observação macroscópica das colônias de Bt apontaram diferentes padrões morfológicos desta espécie bacteriana. Conforme aponta a Figura 14, pode-se perceber que algumas colônias de Bt são maiores do que outras, embora todas elas apresentem as características típicas das colônias de Bt sugeridas por Cavaleiro et al. (2005), tais como borda arredondada e coloração branca e opaca. As cores das etiquetas representam o percentual de mortalidade de larvas de D. saccharalis, provocado pelas linhagens Bt: vermelha – altíssimo percentual de mortalidade; preta – médio/alto percentual; verde – baixo percentual de mortalidade. Figura 14 – Diferentes tamanhos das colônias de Bacillus thuringiensis: S= solo; R= raiz A observação microscópica das linhagens de Bacillus thuringiensis também apontou diferentes padrões celulares da espécie em questão, muito embora todas apresentassem cristais proteicos responsáveis pela toxicidade da bactéria (Figura 15). Algumas formas celulares são mais compridas, contendo número variado de cristais proteicos (Figura 15D), enquanto outras já apresentam-se mais curtas e largas, contendo apenas um cristal proteico em seu interior (Figura 15B). Alguns autores sugerem que os cristais proteicos variam em forma, tamanho e no modo de sua formação, dependendo da subespécie da linhagem Bt (NORRIS30, 1971) e que os cristais bipiramidais apareçam nas subespécies que possuem ação tóxica contra lepidópteros, enquanto que os cristais com forma triangular, cuboidal, plano, em forma de barra ou amorfos apareçam nas subespécies com ação tóxica contra outras ordens. Assim sendo, a forma e o número dos cristais dentro do esporângio podem indicar a atividade inseticida de uma estirpe (HABIB; ANDRADE, 1998; LERECLUS15; 30 NORRIS, J. R. 1971. The protein crystal toxin of Bacillus thuringiensis biosynthesis and physical structure. In: BURGES, H. D.; HUSSEY, N. W. (ed.), Microbial control of insects and mites. Academic Press Inc., London. 1971. p. 229-246. 49 LECADET, 1993 apud MELATTI, 2008) e a formação destes cristais está relacionada ao tipo de gene cry que esta subespécie possui (HOFTE; WHITELEY, 1989; TAYLOR et al., 1992; CRICKMORE et al., 1998; AGAISSE; LERECLUS, 1995; MONNERAT; BRAVO, 2000). Nove das onze linhagens de Bt responsáveis pela mortalidade de 100% das larvas de D. saccharalis apresentaram o padrão celular mostrado na figura 15A. Observou-se também uma linhagem de Bt com formato curvo, como aponta a figura 15C. A B esporo Cristal proteico Cristal proteico esporo C D Cristais proteicos esporo Cristais proteicos esporo FIGURA 15 – Diferentes aspectos morfológicos de células de Bt 50 Foram observados diferentes tipos de cristais proteicos com formas e tamanhos variados, alguns apresentando forma esférica, outros cuboides ou bipiramidais (Figura 16), Estas observações estão de acordo com alguns autores que sugerem a presença destes tipos de cristais em linhagens com ação tóxica contra lepidópteros (HOFTE & WHITELEY, 1989; TAYLOR et al., 1992; TANADA; KAYA, 1992; YAMAMOTO31; MCLAUGHLIN, 1981 e TOJO32 et al., 1986 apud TANADA; KAIA, 1992). O número de cristais no interior das células também variou. A Cristal bipiramidal Esporo Cristal esférico Esporo B Cristais esférico s Figura 16- Diferentes formas dos cristais proteicos presentes nas linhagens identificadas de Bt. A – Estágio avançado de esporulação mostrando os cristais bipiramidais e esféricos fora da célula vegetativa; B – Células vegetativas contendo esporos e cristais esféricos. 31 32 YAMAMOTO, T.; MCLAUGHLIN, R. E. Isolation of a protein from the parasporal crystal of Bacillus thuringiensis var. kurstaki toxic to the mosquito larva, Aedes taeniorhynchus. Biochem. biophys. Res. Commun. v. 103, p. 414 – 421, 1981. TOJO, A.; SAMASANTI, W.; YOSHIDA, N.; AIZAWA, K. Effects of the three proteases from gut juice of the silkworm, Bombyx mori, on the two morphologically different inclusions of δ-endotoxin produced by Bacillus thuringiensis kurstaki HD-1 strain. Agric Biol Chem., v. 50, p. 575 – 580, 1986. 51 De acordo com Tanada e Kaya (1992) alguns autores indicam que a maioria das linhagens Bt, apresenta apenas um cristal proteico. Quando existem muitos cristais em um mesmo esporângio, eles devem diferir em tipos e formas (SHARPE33; BAKER, 1979; ARONSON34; BECKMAN; DUNN. 1986) O autor indica ainda que, quando a linhagem apresenta dois cristais proteicos, sendo um deles bipiramidal e o outro ovoidal ou esférico (tal como aparece na Figura 16A), estes diferem na toxicidade para insetos e nas propriedades antigênicas (KRYWIENCZYK35; DULMAGE; FAST, 1978; SHARPE33; BAKER, 1979). Isso sugere que o isolado Bt representado na Figura 16A pode ter ação tóxica para outros organismos, além do efeito tóxico já confirmado para D. saccharalis. Diante dos dados obtidos no presente trabalho, pôde-se notar que o Método Polanczyk é um procedimento muito eficiente no isolamento de linhagens edáficas e endofíticas de Bacillus thuringiensis e que o interior dos tecidos vegetais pode representar um ambiente muito promissor para a obtenção de agentes de controle biológico contra pragas da agricultura. 33 SHARPE, E. S.; BAKER, F. L. Ultrastruture of the unusual crystal of the HD-1 isolate of Bacillus thuringiensis, var. Kurstaki. J. Invertebr. Pathol., v. 34, p. 320-322, 1979. 34 ARONSON, A. I.; BECKMAN, W. Y.; DUNN, P. Bacillus thuringiensis and related insect pathogens. Microbiology Review, v. 50, p. 1-24,1986. 35 KRYWIENCZYK, J.; DULMAGE, H.T.; Fast, P.G. Occurence of two serologically distinct groups within thuringiensis serotype 3ab var kurstaki. J. Invertebr. Pathol., v. 31, p. 372-375, 1978. Bacitlus 52 6. Conclusões O isolamento de Bacillus pode ser realizado pelo procedimento sugerido pela Organização Mundial de Saúde – OMS (1985) e por aquele sugerido por Polanczyk (2004), tendo este último capacidade de isolar maior densidade de Bacillus sp. e menor específicidade que o primeiro procedimento para isolamento deste gênero bacteriano. A densidade de UFC de Bacillus thuringiensis no solo é superior àquela apresentada no interior das raízes de cana-de-açúcar. Por sua alta capacidade de isolar linhagens Bt, o procedimento sugerido por Polanczyk (2004) é o mais eficiente procedimento de isolamento de Bt endofítico. O tamanho das colônias de Bacillus thuringiensis pode variar de acordo com a linhagem As células de diferentes linhagens de Bacillus thuringiensis podem apresentar diferenças no tamanho, formato e na quantidade de cristais proteicos, e estes podem exibir variadas formas, tamanhos e ação tóxica sobre os diversos insetos-praga e vetores de doenças. 53 7. Referências Bibliográficas AGAISSE, H. & LERECLUS, D. How does Bacillus thuringiensis produce so much inseticidal crystal protein? Journal of Bacteriology, v. 177, n. 21, p. 6027-6032, 1995. ALVES, S. B. (Ed.). Controle Microbiano de Insetos. 2ª ed. Piracicaba: Fealq, 1998. ALVES, S. B.; LOPES, R. B. (Ed.). Controle microbiano de pragas na América Latina: avanços e desafios. Piracicaba: FEALQ, 2008. ARAÚJO, W. L.; LIMA, A. S.; AZEVEDO, J. 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Tampão Fosfato KH2PO4 – 1,7g K2HPO4 – 4,5g Complete com 50 mL de água destilada (autoclavar e conservar na geladeira) B. Estoque Nutriente L-Glutamina – 200 mg Caseína hidrolisada (ácido) – 10g Bacto casitone – 10g Extrato de levedura – 4g Glicerol – 6 mL Completar com 100 mL de água (autoclavar e conservar na geladeira) C. Sais CCY ZnCl (0,005M) – 0,34g MgCl2 . 6H2O (0,5M) – 5,08g MnCl2 . 6H2O (0,01M) – 0,098g CaCl2 . 2H2O (0,2M) – 1,47g FeCl3 . 6.H2O (0,05M) – 0,675g Completar com 49,5 mL de água destilada e adicione 0,5 mL de HCl 61 Filtrar a solução passando por uma membrana (0,22µm) Preparação de 1 L de Meio 1) 2,5 mL de Tampão Fosfato 2) 10 mL de Nutriente Estoque 3) Completar com 1 L de água destilada 4) Autoclavar 5) Adicionar 1 mL de Sais 8.3. Solução de Penicilina G Diluir 1 grama de Penicilina G em 9 mL de água destilada Filtrar a solução em membrana (0,22 µm) Retirar alíquota de 1 mL em 1 L de meio. 8.4. Meio Nutriente-Ágar (NA) – 1 Litro 3 g de Extrato de Carne 5 g de Peptona 8 g de NaCl 18 g de Ágar 1 Litro de água destilada Autoclavar 8.5. Solução salina – Trituração das Raízes Diluir 0,8 g de NaCl em 100 mL de água destilada Autoclavar 62