Título:
ESCOLHAS CONTRACETIVAS PRÉ E PÓS GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
Autores:
Lúcia Correia*1, Isabel Martins2, Natacha Oliveira1, Inês Antunes 1, Maria José Alves3
1- Interna Complementar de Ginecologia/Obstetrícia
2 - Assistente Hospitalar de Ginecologia/Obstetrícia e Assistente da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Nova de Lisboa
3 – Assistente Hospitalar Sénior de Ginecologia/Obstetrícia
Instituição:
Maternidade Dr. Alfredo da Costa – Centro Hospitalar de Lisboa Central
* Responsável pela Correspondência
Lúcia Correia
Morada: Praça das Flores Nº3 2ºDto 2625-419 Forte da Casa
Telemóvel: 0351 934236134
E-mail: [email protected]
RESUMO
Introdução e Objetivo: A gravidez na adolescência associa-se a questões físicas,
emocionais e sociais, apresentando um elevado impacto na vida sexual e reprodutiva. O
principal objetivo deste estudo é avaliar se a gravidez com filho vivo na adolescência constitui
um fator de mudança nas futuras escolhas contracetivas considerando-se como objectivo
secundário verificar se estas diferem quando comparadas com as escolhas pós interrupção
voluntária da gravidez.
Estudo: Estudo retrospectivo.
Amostra: 212 adolescentes grávidas seguidas na Unidade de Adolescentes de um centro
terciário, entre 2007 e 2010.
Métodos: Foram revistos os processos clínicos e avaliadas características demográficas, taxa
de gravidez planeada e métodos contracetivos utilizados antes e após a gravidez. Para escolhas
contracetivas após a gravidez, foram considerados: grupo 1 - adolescentes que decidiram
prosseguir com a gravidez (n = 106) e grupo 2 – igual número de adolescentes, aleatoriamente
selecionado, que optaram por interromper a gravidez.
Resultados: A taxa de gravidez planeada foi de 14,2%.
Previamente a uma gravidez com filho vivo, o método contracetivo mais utilizado foi o
preservativo masculino (50,9%), seguido dos estroprogestativos orais (28,3%) e 18,9% das
adolescentes não faziam contraceção. Após a gravidez, o implante contracetivo foi o método
escolhido por 70,8% dos casos (valor p <0,001) e os estroprogestativos orais mantiveram-se
como a segunda opção mais frequente (17,9%; valor p: 0,058). Comparando estes resultados
com o grupo 2 verificámos que após uma interrupção voluntária da gravidez as adolescentes
escolheram mais frequentemente os estroprogestativos orais (57,5% versus 17,9% no grupo 1, p
<0.001) e menos os métodos de longa duração (40,5% contra 78,4% no grupo 1, p <0,001).
Conclusão: A gravidez na adolescência e os desfechos analisados constituem um fator de
mudança das futuras escolhas contracetivas.
PALAVRAS-CHAVE: Contraceção, Adolescência, Gravidez
INTRODUÇÃO
A decisão de como, quando e qual o método contracetivo a utilizar é um tema complexo para
os adolescentes. Apesar de cada vez mais referirem o uso de métodos contracetivos e uma maior
utilização na primeira relação sexual, a sua utilização consistente permanece um desafio nesta
faixa etária1, tornando os adolescentes num importante grupo de risco para a gravidez não
planeada.
A maioria dos adolescentes não utiliza os serviços ao seu dispor para aconselhamento
contracetivo, sendo os amigos e o parceiro as principais fontes de informação.2 Metade das
gravidezes na adolescência ocorre nos primeiros seis meses após o início da actividade sexual3,
e cerca de um quinto logo no primeiro mês.1
A Maternidade Dr. Alfredo da Costa, em Lisboa, é um centro de referenciação terciário, com
um número médio de 5500 partos e 1500 interrupções voluntárias da gravidez ao abrigo da
alínea e) do n.º 1 do artigo 142.º do Código Penal (IVG), por ano. Os partos e IVGs em
adolescentes correspondem a cerca de 2,5% e 7% do total.
A escolha do método contracetivo pelos adolescentes pode ser influenciada por um conjunto
vasto de fatores, entre os quais se destacam: conhecimento prévio do método, custo, perfil de
efeitos secundários, eficácia, discrição, invasividade, facilidade de acesso e de utilização e
possibilidade de esquecimento.4,5
O objetivo principal deste trabalho é avaliar se a gravidez constitui um fator de mudança nas
futuras escolhas contracetivas, considerando como objetivo secundário avaliar se existem
diferenças entre as escolhas realizadas por adolescentes que prosseguiram a gravidez versus
apelas que optaram pela IVG.
METODOLOGIA
Estudo retrospetivo que incluiu grávidas adolescentes vigiadas na Unidade da Adolescência
da Maternidade Dr. Alfredo da Costa, entre 2007 e 2010. Foram consultados os processos
clínicos para recolha dos dados e excluídos todos aqueles que não apresentavam informação
relativa às diversas variáveis analisadas: características demográficas (idade, raça, paridade,
nível de escolaridade e profissão), planeamento da gravidez e métodos contracetivos utilizados
antes e após a gravidez.
Para além da comparação entre escolhas contracetivas pré e pós gravidez com filho vivo
(n=106), os autores procederam à comparação entre os métodos contracetivos escolhidos pelas
adolescentes que optaram por prosseguir a gravidez – grupo 1 e por aquelas que optaram pela
IVG – grupo 2. Para a formação do grupo 2 foi aleatoriamente selecionado igual número de
adolescentes (n=106).
Considerámos como escolhas contracetivas após a gravidez aquelas efetuadas após o término
da amamentação, e após IVG aquela realizada a partir da consulta de revisão.
Definiram-se como métodos de longa duração aqueles que requerem menos de uma
administração por ciclo ou por mês.
Utilizámos o Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 16.0 (SPSS Inc.,
Chicago, IL, USA) para análise estatística.
Dados quantitativos são apresentados em valores médios ± desvio padrão (DP) e dados
qualitativos em frequência (n) e percentagem (%).
Para comparação de amostras emparelhadas foi utilizado o teste de Wilcoxon e para
comparação de amostras independentes o teste t de Student (variáveis contínuas) e o χ2 e teste
exacto de Fisher (variáveis categóricas). Para um nível de significância α=0,05, consideramos
existir significado estatístico quando valor p<0,05.
RESULTADOS
PARTE I – ESCOLHAS CONTRACETIVAS PRÉ E PÓS GRAVIDEZ COM FILHO
VIVO
a) Descrição da amostra
Foram incluídas 106 grávidas adolescentes, com idades compreendidas entre os 13 e os 18
anos (idade média: 16,00 ± 1,07 anos).
Eram adolescentes maioritariamente nulíparas (n=104; 98,1%), caucasianas (n=70, 66%) e
estudantes (n=65; 61,3%). Ver descrição detalhada das características demográficas no Quadro
I.
QUADRO I – CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS
n
%
≤ 15 anos
31
29,2
> 15 anos
75
70,8
Caucasiana
70
66
Não caucasiana
36
34
Nulípara
104
98,1
Multípara
2
1,9
1º-4º ano
6
5,7
5º-9º ano
83
78,3
10º-12º ano
16
15,1
Ensino superior
1
0,9
Estudante
65
61,3
Doméstica
18
17
Desempregada
18
17
Emprego não qualificado
5
4,7
Idade
Raça
Paridade
Escolaridade
Profissão
A maioria das grávidas adolescentes (n=84; 79,2%) apresentou uma escolaridade inadequada
à idade – Gráfico 1.
Gráfico 1 – Distribuição da escolaridade por faixa etária. *- Escolaridade
inadequada à idade.
b) Planeamento da gravidez
A taxa de gravidez planeada foi de 14,2% (n=15), representando as adolescentes com idade
inferior ou igual a 15 anos um terço dos casos.
Comparando as adolescentes com gravidez planeada com aquelas sem planeamento da
gestação, não se verificaram diferenças estatisticamente significativas relativamente à idade e
raça, apesar da percentagem de raça caucasiana ser superior nestas últimas (53,3% versus
68,1%). As adolescentes que planearam a gravidez apresentavam maior percentagem de
escolaridade limitada ao ensino primário (20%) comparativamente àquelas com gravidez não
planeada (3,3%), em que dois terços eram estudantes - Quadro II.
QUADRO II: PLANEAMENTO DA GRAVIDEZ
Gravidez planeada
n=15
14,2%
Gravidez não planeada
n=91
Valor p
85,8%
Idade (anos)
Média ± DP
Minimo - Máximo
15,95 ± 1,22
16,01 ± 1,05
13-18
13-18
0,819
n
%
n
Raça caucasiana
8
53,3
62
68,1
0,377
Escolaridade ≤ 4º ano
3
20
3
3,3
0,036
Estudante
4
26,7
61
67
0,004
c)
%
Contraceção pré e pós gravidez com filho vivo na adolescência
Previamente à gravidez, o método contracetivo mais utilizado pelas adolescentes foi o
preservativo masculino (n=54; 50,9%) seguido dos estroprogestativos orais (n=30, 28,3%).
A realização do método duplo (estroprogestativo oral + preservativo masculino) foi referida
por cinco adolescentes, tendo o anel vaginal e o implante contracetivo apenas uma utilizadora.
Vinte adolescentes (18,9%) não faziam contraceção antes de engravidar - Quadro III.
Após a gravidez verificou-se uma mudança no método contracetivo em 93,4% dos casos
(n=99).
O implante contracetivo passou a constituir o método de eleição para 70,8% (n=75) das
adolescentes, os estroprogestativos orais mantiveram-se como segundo método mais utilizado
(n=19, 17,9%) e a administração de acetato de medroxiprogesterona foi escolhida em 1,9%
(n=2) dos casos. Verificou-se uma utilização de métodos contracetivos mais variados, com a
opção pelo progestativo injetável, sistema transdérmico e dispositivo intrauterino a ser referida
apenas após a gravidez. Em nenhum caso surgiu descrita a utilização de preservativo masculino.
QUADRO III: ESCOLHAS CONTRACEPTIVAS PRÉ E PÓS GRAVIDEZ COM FILHO VIVO
Pré gravidez
Pós gravidez
n
%
n
%
Nenhum
20
18,9
0
0
<0,001
Preservativo masculino
54
50,9
0
0
<0,001
Estroprogestativos orais
30*
28,3
19
17,9
0,058
Implante contracetivo
1
0,9
75
70,8
<0,001
Anel vaginal
1
0,9
2
1,9
1,000
Sistema transdérmico
0
0
2
1,9
0,500
Progestativo injetável
0
0
2
1,9
0,500
Dispositivo intrauterino
0
0
6
5,7
0,031
Métodos de longa duração†
1
0,9
83
78,4
<0,001
Total
106
100
106
100
Método
Valor p
Legenda: * - Utilização de método contracetivo duplo em 4,7% dos casos (n=5); † - Métodos de longa duração: implante
contracetivo, progestativo injetável e dispositivo intrauterino.
As principais diferenças encontradas dizem respeito à ausência de contraceção (valor
p<0,001) e utilização do preservativo masculino (valor p<0,001) antes da gravidez e à utilização
de métodos de longa duração (valor p<0,001), com destaque para o implante contracetivo e
dispositivo intrauterino, após a gravidez.
PARTE II – ESCOLHAS CONTRACETIVAS APÓS GRAVIDEZ COM FILHO
VIVO VERSUS APÓS INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVIDEZ.
a) Comparação das amostras
Considerando como grupo 1 – adolescentes que optaram por prosseguir a gravidez (n=106,
atrás descritas) e como grupo 2 – igual número de adolescentes que optaram pela IVG,
verificámos que estas últimas são mais frequentemente de raça caucasiana (92,5% versus 66%,
valor p < 0,001) e estudantes (90,6% versus 61,3%, valor p < 0,001) – Quadro IV.
Apesar de no grupo 2 se verificar uma percentagem superior de estudantes, existe também
uma maior inadequação da escolaridade à idade (99,6% versus 79,2%), com menos adolescentes
com formação académica superior ao nono ano (4,7% versus 16%, valor p: 0,005), que seria
expectável em adolescentes com uma idade média de 16 anos.
QUADRO IV: CARACTERIZAÇÃO DAS ADOLESCENTES DOS DOIS GRUPOS
Grupo 1
Grupo 2
Gravidez com filho vivo
IVG
n=106
n=106
Valor p
Idade (anos)
Média ± DP
Minimo - Máximo
16,00 ± 1,07
16,03 ± 1,06
13-18
12-17
0,847
n
%
n
%
Raça caucasiana
70
66
98
92,5
<0,001
Nulíparas
104
98,1
100
94,3
0,280
Escolaridade > 9ºano
17
16
5
4,7
0,005
Estudante
65
61,3
96
90,6
<0,001
Escolaridade inadequada à idade
84
79,2
95
89,6
0,057
b) Escolhas contracetivas após gravidez com filho vivo versus após IVG
As diversas escolhas contracetivas das adolescentes dos dois grupos encontram-se descritas
no Quadro V.
QUADRO V: ESCOLHAS CONTRACETIVAS
Grupo 1
Grupo 2
Gravidez com filho vivo
Método
IVG
Valor p
n
%
n
%
Estroprogestativos orais
19
17,9
61
57,5
<0,001
Implante contracetivo
75
70,8
41
38,7
<0,001
Anel vaginal
2
1,9
1
0,9
1,000
Sistema transdérmico
2
1,9
1
0,9
1,000
Progestativo injetável
2
1,9
1
0,9
1,000
Dispositivo intrauterino
6
5,7
1
0,9
0,119
Métodos de longa duração†
83
78,4
44
40,5
<0,001
106
100
106
100
Total
Legenda: † - Métodos de longa duração: implante contracetivo, progestativo injetável e dispositivo intrauterino.
Todas as adolescentes referiram a utilização de um método contracetivo.
Enquanto no grupo 1 o implante contracetivo constituía a principal escolha (70,8%) seguido
dos estroprogestativos (17,9%), no grupo 2 as adolescentes optaram mais frequentemente pelos
estroprogestativos orais (57,7%), sendo o implante contracetivo o segundo método mais
escolhido (38,7%).
A escolha do dispositivo intrauterino verifica-se sobretudo no grupo 1 (5,7% versus 0,9% no
grupo 2, valor p: 0,119).
Nos dois grupos a utilização de anel vaginal, sistema transdérmico e progestativo injetável é
referida por menos de 2% das adolescentes.
A maior utilização de estroprogestativos orais pelo grupo 2 e a escolha de métodos de longa
duração (incluindo o implante contracetivo) sobretudo pelo grupo 1 constituem diferenças
estatisticamente significativas (p<0,001).
No entanto, adolescentes dos dois grupos apresentavam características demográficas
significativamente diferentes (Quadro IV) pelo que, para avaliar a real influência dos desfechos
da gravidez nas escolhas contracetivas consideradas como tendo diferenças estatisticamente
significativas entre os dois grupos – estroprogestativos orais, implante contracetivo e métodos
de longa duração, procedeu-se à realização de uma análise multivariável- Quadro VI.
QUADRO VI: FATORES QUE INFLUENCIAM ESCOLHAS CONTRACETIVAS
Método contracetivo
OR
IC 95%
(inferior – superior)
Valor p
1- Estroprogestativos orais
Gravidez (0) vs IVG (1)
0,118
0,054
0,258
<0,001
Raça caucasiana
0,889
0,369
2,140
0,793
Escolaridade > 9ºano
2,775
0,955
8,061
0,061
Estudante
0,696
0,300
1,618
0,400
Gravidez (0) vs IVG (1)
4,371
2,224
8,591
<0,001
Raça caucasiana
0,691
0,317
1,505
0,352
Escolaridade > 9ºano
2,164
0,814
5,753
0,122
Estudante
0,684
0,324
1,445
0,320
Gravidez (0) vs IVG (1)
5,958
2,914
12,181
<0,001
Raça caucasiana
0,780
0,339
1,792
0,558
Escolaridade > 9ºano
2,463
0,894
6,783
0,081
Estudante
0,859
0,389
1,792
0,708
2- Implante contracetivo
3- Métodos de longa duração
Legenda: IC – Intervalo de Confiança; OR – Odds Ratio
Da análise do Quadro VI podemos concluir que o desfecho da gravidez constitui a única
variável com impacto nas escolhas contracetivas (p<0,001).
Para um intervalo de confiança de 95%, os resultados demonstram que adolescentes que
prosseguem com a gravidez escolhem quatro vezes mais o implante contracetivo e seis vezes
mais métodos de longa duração do que as adolescentes que optam pela IVG. A probabilidade de
escolherem estroprogestativos orais é 88% superior no grupo da IVG.
DISCUSSÃO
Na nossa série a gravidez foi maioritariamente não planeada (85,8%), semelhante aos dados
internacionais 6, apesar de 81,1% das grávidas adolescentes referirem a utilização de pelo menos
um método contracetivo prévio à gestação. Este dado vem de encontro àqueles do 4º Inquérito
Nacional de Saúde – 2005-20067 e da Sociedade Portuguesa de Ginecologia 2, segundo os quais
80,2% das adolescentes entre os 15 e os 19 anos referiram a utilização de métodos contracetivos
sendo, inclusive, esta a faixa etária com maior taxa de utilização.
Estudos anteriores demonstram que a elevada taxa de gravidez na adolescência surge
associada a uma elevada taxa de uso incorreto dos métodos contracetivos e sua descontinuação.8
Esta é maior nos primeiros seis meses de utilização e deve-se sobretudo a crenças e mitos
contracetivos, a relacionamentos esporádicos ou de curta duração, e à necessidade que alguns
adolescentes sentem de esconder a sua vida sexual e a contraceção. 4,8 As adolescentes
apresentam uma probabilidade aproximadamente duas vezes superior de falha contracetiva
quando comparada com mulheres com idade superior a 30 anos. 9 Não obstante, destacar que a
existência de uma gravidez planeada na adolescência é uma realidade a ter em conta - 14,2%
dos nossos casos, em idades ≥ 13 anos.
No nosso estudo, apesar de a maioria das adolescentes ser estudante, verificou-se uma
elevada taxa de escolaridade inadequada à idade. Estes dados vêm corroborar a ideia de que o
insucesso ou desinteresse escolar e a ausência de planos académicos e profissionais futuros
estão subjacentes à gravidez na adolescência.10 Este fato, assume particular destaque nos casos
de gravidez planeada, grupo em que se identificou menor percentagem de estudantes e menor
nível de escolaridade.
Quanto à contraceção, os principais métodos contracetivos utilizados previamente à gravidez
com filho vivo foram os estroprogestativos orais e o preservativo masculino. Estes dados vêm
de encontro aos achados de outros autores, segundo os quais a maioria das adolescentes utiliza
métodos contracetivos mais utilizador dependente.6,9 A gravidez condicionou um aumento da
utilização de métodos de longa duração, com principal destaque para o implante contracetivo
(0,9% vs 70,8%, valor p < 0,001) e os dispositivos intrauterinos (0% vs 5,7%, p=0,031). São
métodos que não necessitam de motivação diária, apresentam uma menor taxa de falha e se
usados por um período superior ou igual a um ano, possuem uma melhor relação custo-eficácia.4
Estas características, associadas ao facto de existirem poucas contraindicações a estes métodos,
transformaram o implante contracetivo e os dispositivos intrauterinos em métodos de eleição
para mulheres que pretendem evitar gravidezes não planeadas, independentemente da idade.6,11
Na nossa amostra, após a gravidez, a utilização do preservativo masculino foi preterida em
função da utilização de outros métodos. A eficácia dos restantes métodos contracetivos na
prevenção da gravidez é reconhecida e superior à do preservativo masculino, contudo, sendo as
adolescentes um grupo de risco para as infeções sexualmente transmissíveis assume particular
importância o reforço da manutenção da utilização de métodos barreira em associação a
métodos contracetivos hormonais.
Quando comparadas as opções contracetivas de adolescentes que decidiram prosseguir com a
gravidez com aquelas que optaram pela IVG, e após ajustamento, concluímos que o desfecho da
gestação constituiu o principal determinante das escolhas efetuadas. Assim, após uma gravidez
com filho vivo as adolescentes optam mais frequentemente pelo implante contracetivo [70,8%
versus 38,7%; OR:4,371 - IC 95% (2,224-8,591); valor p <0,001], e métodos de longa duração
[78,4% versus 40,5%; OR:5,958 – IC 95% (2,914 – 12,181); valor p<0,001) e menos pelos
estroprogestativos orais [17,9% versus 57,5%; OR:0,118 – IC 95% (0,054-0,258); valor
p<0,001] do que aquelas que optam pela IVG.
Os autores consideram como pontos fortes deste estudo a utilização de uma amostra
emparelhada (em que cada adolescente é o caso e o controlo de si própria) na avaliação das
escolhas contracetivas pré e pós gravidez, uma vez que permite eliminar fatores condicionantes
de enviesamento que poderiam existir se comparássemos grupos de adolescentes diferentes; e a
eliminação do período da amamentação que, só por si, constituiu uma contraindicação à
utilização de métodos contracetivos contendo estrogénios.
De igual modo, na avaliação das escolhas contracetivas após gravidez com filho vivo versus
IVG, por partirmos de amostras com características diferentes, nomeadamente no que à raça,
escolaridade e percentagem de estudantes diz respeito, o recurso a uma análise multivariável
permitiu avaliar a influência que cada uma destas co-variáveis poderia ter nas escolhas
contracetivas, tendo-nos permitido concluir que o desfecho da gravidez constituiu a única
variável a condicionar diferenças com significado estatístico.
Consideramos como principal limitação deste trabalho a dimensão das amostras obtidas.
Terminamos concluindo que a gravidez na adolescência e os desfechos analisados
constituem um fator de mudança das futuras escolhas contracetivas.
REFERÊNCIAS
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adolescents. Pediatrics 1999;104:1161-6.
2- SPG. Avaliação das práticas contraceptivas das mulheres em Portugal - 2006.
3- Klein JD and the Committee on Adolescence. Adolescent Pregnancy: Current Trends and
Issues. Pediatrics 2005;116:281-6.
4- Faculty of Sexual and Reproductive Healthcare Clinical Guidance. Contraceptive choices
for young people. Clinical Effectiveness Unit, March 2010.
5- Say R, Mansour D. Contraceptive choice for young people, J Fam Plann Reprod Health
Care 2009;35:81-85.
6- Whitaker AK, Gilliam M. Contraceptive care for adolescents. Clin Obstet Gynecol
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7- INE e INSA. 4º Inquérito nacional de saúde – 2005-2006.
8- Vaughan B, Trussell J, Kost K, Singh S, Jones R. Discontinuation and resumption of
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9- Speroff L, Darney PD. Clinical guidelines for contraceptionat different ages: early and
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11- ACOG Committee Opinion. Increasing use of contraceptive implants and intra-uterine
devices to reduce unintended pregnancy. Obstet Gynecol 2009;114:1434-8.
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Escolhas contracetivas pré e pós gravidez na