Avaliação da qualidade da assistência
pré-natal nas USF do município de
Porto Velho-RO.
Porto Velho-RO
2007
Marcuce Antônio Miranda dos Santos
Enfermeiro/Residente/PSF/UNIR/MS
Orientadora:
Prof.ª Dr.ª Kátia Fernanda Alves Moreira
Trabalho de Pesquisa apresentado ao
CNPq/PIBIC/UNIR/2007
Introdução
l
No Brasil, a persistência de índices
preocupantes de indicadores de saúde como
os coeficientes de mortalidade materna e
perinatal, tem motivado o surgimento de
políticas públicas que focalizam o ciclo
gravídico-puerperal
em
virtude
das
deficiências apresentadas tanto na extensão
da cobertura como no padrão de qualidade
(COUTINHO, 20003).
l
A gravidez pode ser o único contato que uma
mulher em idade reprodutiva tem com os
serviços de saúde. Trata-se, portanto, de
valiosa oportunidade para intervenções
direcionadas à promoção da saúde da mulher
como um todo (Serruya, 2004).
l
l
No Brasil até a década de 70, o pré-natal era
uma das assistências mais oferecidas às
mulheres.
A partir deste momento os grupos de mulheres
e os de saúde reivindicavam a ampliação da
assistência à mulher a partir de movimento
articulado com a proposta de reforma sanitária e
a criação de sistema único de saúde, público e
universal.
l
Na ausência de cuidado pré-natal, a mortalidade
perinatal eleva-se até cinco vezes. O impacto é
tanto mais significativo quando se considera que
decorre de uma intervenção que é, talvez, a de
mais curta duração em saúde pública (menos
de nove meses), com alta efetividade dos
resultados.
l
l
Em 1984 o Ministério da Saúde lançou as bases
programáticas do Programa de Assistência
Integral à Saúde da Mulher (PAISM);
O PAISM deveria prover ações relacionadas à
gravidez, contracepção, esterilidade, prevenção
de
câncer
ginecológico,
diagnóstico
e
tratamento
das
doenças
sexualmente
transmissíveis, sexualidade, adolescência e
climatério (BRASIL, 2005).
l
No ano de 2000 o Ministério da Saúde lançou o
Programa Nacional de Humanização no PréNatal e Nascimento (PHPN), propondo assim
critérios
marcadores
de
desempenho
e
qualidade da assistência pré-natal, além de
disponibilizar
incentivos
financeiros
municípios que aderirem a este programa.
aos
Objetivos
l
l
l
Descrever o perfil das gestantes usuárias da rede
básica do município de Porto Velho;
Avaliar o grau de adequação da assistência prénatal prestada às gestantes usuárias da rede
básica do SUS do município de Porto Velho;
Conhecer o grau de satisfação das gestantes no
atendimento pré-natal.
Metodologia
l
l
l
Tipo de Estudo: Estudo descritivo de corte
transversal;
População: puérperas atendidas na rede básica
do município de Porto Velho;
Critérios de Inclusão: puérperas usuárias do
SUS, que tenham sido atendidas pelo pré-natal
de baixo risco da rede básica de Porto Velho,
que estivessem com o cartão da gestante e que
residissem na área urbana do município;
l
l
l
l
Critérios de Exclusão: mulheres com gravidez
de alto-risco e mulheres que se recusassem a
participar da pesquisa;
Coleta de dados: Assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido-TCLE e
mediante liberação do Gestor Municipal de
Saúde e diretor do HB;
Foi utilizado um questionário previamente
testado à uma a cada quatro mulheres;
Amostra foi constituída de 102 mulheres;
l
Análise dos Dados: os dados da pesquisa
foram
tabulados
e
processados
eletronicamente, utilizando o programa Epi-Info
e o Microsoft Excel.
l
Os dados foram apresentados em tabelas e
discutidos à luz da literatura pertinente ao tema.
Resultados e Discussão
l
A idade materna média foi 23,7 anos (DP=5,4),
sendo a idade mínima de 13 anos e máxima de
36 anos. Em 28,7 % (n= 31), as grávidas eram
adolescentes (menos de 19 anos).
l
Cerca de 40,6% (n=41) eram primigestas, sendo
que
50,9%
destas
companheiro fixo.
(n=52)
confirmou
ter
l
62,7% (n=64) referiram ter o 1º grau incompleto.
Com nível superior somaram 2 mulheres.
l
Quanto à ocupação materna, verificou-se que
34,3% das puérperas (n=35) não se
encontravam no mercado de trabalho;
l
l
l
48,0% relataram serem donas de casa.
A renda média mensal das famílias das mulheres
estudadas foi 2,1 salários mínimos, tendo-se
constatado que 12,7% (n=13) das famílias
recebiam menos de um salário mínimo;
Quando perguntadas sobre a procedência da
renda, 34,3% referiram receber benefícios do
governo federal e ser este a única fonte de renda.
l
O número médio de consultas de pré-natal foi
de 4,33;
l
Apenas
29,4%
(n=30)
das
mulheres
pesquisadas, tinham em seus cartões o registro
de 6 ou mais consultas de pré-natal durante a
gravidez.
Tabela 1 - Indicadores de qualidade da assistência pré-natal entre a
população estudada. Porto Velho-RO, 2007.
Sim
Indicadores
Não
n
%
n
%
Seis ou mais consultas com Enfermeiro
31
30,3
71
69,6
Duas ou mais consultas com Médico
29
28,4
73
71,5
Distribuição de medicamentos
32
31,3
70
68,6
Visitas Domiciliárias
42
41,1
60
68,8
Participação em atividades educativas
08
7,8
94
92,1
Orientações sobre aleitamento materno,
parto e puerpério.
26
25,4
76
74,5
Número mínimo de consultas
l
O total de consultas de pré-natal preconizado pela OMS
não deve ser inferior a seis, e qualquer número abaixo
desta cifra já é considerado como atendimento deficitário
(BRASIL,2005).
l
Neste estudo, 31 mulheres relataram terem tido 6
consultas, e uma parcela considerável (69,6%) o que
equivale a 71 cartões analisados, não possuíam o
número mínimo de consultas preconizado pelo Manual
Técnico do Pré-Natal (BRASIL, 2005).
l
l
Entre as possíveis explicações estão o início
tardio do acompanhamento pré-natal, que
muitas vezes está associada ao número
insuficiente de profissionais nas unidades de
saúde para atuarem na captação precoce
destas mulheres;
Além de uma concentração de consultas
próximo ao término da gravidez, além da pouca
informação sobre as vantagens desse
atendimento para o binômio mãe-filho.
l
Em Juiz de Fora, Minas Gerais, Coutinho et
al. 2003, ao pesquisarem o processo da
assistência pré-natal oferecido às usuárias
do SUS, verificaram que somente 29,7% das
gestantes iniciaram o pré-natal no primeiro
trimestre de gestação.
l
Em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul,
Trevisan et al. 2004,
observaram que
somente 34,7% das grávidas submeteramse à primeira consulta de pré-natal até a 14ª
semana de gestação
l
l
Quanto a orientações sobre aleitamento
materno, parto e puérpério, 74,5% (n= 76)
referiram não ter recebido qualquer
informação e destas;
18,6% (n= 19) disseram ter recebido do
profissional enfermeiro, em casa ou na
unidade, as referidas orientações durante a
consulta.
Visita Domiciliária
l
Oportunidade única de identificação precoce
das gravidezes, e conseqüentemente uma
atenção pré-natal de qualidade.
l
Das 102 mulheres pesquisadas 60 delas
(68,8%) não receberam este tipo de atenção
por parte de profissionais como enfermeiros
e médicos.
l
Neste estudo observou-se que 68,6% das
mulheres iniciaram o pré-natal no primeiro
trimestre.
l
Tal achado é pode ser considerado positivo
em comparação a outros estudos.
l
Isso está intimamente ligado ao trabalho dos
ACS na captação destas mulheres.
Atividades Educativas
l
Sobre este item COUTINHO, 2003 afirma que
o sucesso da assistência pré-natal está
intimamente ligada as atividades educativas,
principalmente
quando
se
parte
do
pressuposto que uma linguagem clara e um
ambiente descontraído durante as reuniões,
facilitam o entendimento das orientações pelas
gestantes.
l
Neste estudo observou-se que um percentual
de 92,1% das mulheres, relataram não ter
participado de nenhum tipo de atividade
educativa durante o pré-natal.
l
Dados
como
estes
denotam
clara
incompreensão da importância deste tipo de
atividade para o sucesso da assistência prénatal por parte dos profissionais que a
realizam.
Tabela 2 – Distribuição dos registros de exames de rotina na 1º
consulta. Porto Velho-RO, 2007.
Sim
Indicadores
Não
n
%
n
%
VDRL
95
93,1
07
6,8
Teste anti-HIV
99
99
76
61
85
81
81
82
82
97,1
97,1
74,5
59,8
83,3
79,4
79,4
80,3
80,3
03
03
23
41
17
21
21
20
20
2,9
2,9
22,5
40,1
16,6
20,5
20,5
19,6
19,6
Exame de sangue (Ht/Hb)
Exame de urina tipo I(EAS)
Glicemia
HbsAg
ABO-Rh
Sorologia para Toxoplasmose
Sorologia para Rubéola
Vacina antitetânica atualizada
l
Tal achado, nos remete a discussão acerca do
acesso
aos
exames
em
laboratórios
terceirizados que prestam serviços ao Sistema
Único de Saúde (SUS) em Porto Velho;
Tabela 3 -Distribuição das respostas das gestantes segundo avaliação
do atendimento do pré-natal. Porto Velho-RO, 2007.
População
Indicadores
Total
N= 102
100%
Regular
24,5
Bom
65,6
Ótimo
7,8
Regular
22,5
Bom
66,6
Ótimo
10,7
Conceito Geral do pré-natal:
Conceito da última consulta:
Tempo médio de espera para o atendimento:
Até 30 minutos
26,4
Até 1 hora
35,2
Mais de 1 hora
25,4
Tabela 4 - Distribuição das respostas das gestantes segundo avaliação
do atendimento do pré-natal. Porto Velho-RO, 2007.
População
Indicadores
Total
N= 102
100%
Qualidade do atendimento Médico:
Não houve
74,5
Qualidade do atendimento do Enfermeiro:
Regular
17,6
Bom
62,7
Ótimo
18,6
Sim
28,4
Não
71,5
Sim
74,5
Não
25,4
Acesso de acompanhantes às consultas:
Facilidade na marcação de consultas:
l
74,5% das mulheres referiram não terem tido
nenhuma consulta com profissional médico;
l
71,5% referiram não ser facilitado o acesso
de acompanhante às consultas;
Conclusão
l
Diante dos achados e com base nos critérios
estabelecidos
pelo
Programa
de
Humanização do Pré-natal e Nascimento do
Ministério da Saúde (2005), foi possível
classificar a assistência pré-natal prestada
no município de Porto Velho como
inadequada.
l
l
Achados significantes de mulheres que não
obtiveram
acompanhamento
domiciliar,
demonstrando a manutenção do modelo
biomédico, curativista, onde a questão da
promoção à saúde passa ao largo da relação
profissional de saúde-usuária.
Além disso, o elevado percentual de
mulheres que não obtiveram nem mesmo o
número mínimo de consultas pré-natais;
l
Portanto fica clara a necessidade e
indispensável
realização
de
avaliações
sistemáticas da qualidade dos serviços de prénatal, tendo como base o método de
investigação epidemiológica, devido à extrema
valia das informações que fornece e de seu
reduzido custo, conforme evidenciado por meio
deste estudo.
Recomendações
l
São encorajadoras as experiências de outros
locais (cidades, regiões ou países) que, com
nível de desenvolvimento igual ou inferior ao
nosso, conseguiram reduzir a mortalidade
materno-infantil por meio de sistemas de
saúde organizados e abrangentes e que,
prioritariamente,
utilizaram
tecnologias
simplificadas e viáveis sob o ponto de vista
econômico.
l
Uma das propostas é a reorganização do
sistema de saúde por meio de ações
integrais dirigidas à saúde da mulher, com
assistência
pré-natal
oportuna
às
necessidades da gestante e que tenha
interação com os serviços de assistência ao
parto.
Recomendações
Aprimoramento da qualidade da assistência prénatal envolve:
l
Capacitação técnica continuada das equipes de
saúde na resolução dos problemas mais
prevalentes nos níveis primários da saúde, além
do seu comprometimento com as necessidades
das parcelas mais vulneráveis da população.
l
Realização sistemática de avaliações de
serviço, como forma de identificação das
necessidades reais da comunidade;
l
Realização
de
concursos
públicos
específicos para profissionais habilitados
para o PSF, como forma de mudança do
paradigma atual de assistência na atenção
básica;
l
Dentro PSF, em especial aos profissionais das
equipes inseridas neste cenário, o desafio é
investir em seus recursos humanos, utilizando-se
da Educação Continuada como ferramenta para
promover o desenvolvimento das pessoas e
assegurar a qualidade do atendimento aos
clientes.
Porto Velho-RO
[email protected]
Download

Avaliação da qualidade da assistência pré