Em Iuluti, distrito de Mogovolas, na província de Nampula:
Jornalista proibido de fazer reportagem sobre a abusiva
exploração de Pedras Preciosas
Por Naldo Chivite e Benilde Nhalivilo
O caso registou-se no dia 29 de Outubro de 2010 quando o jornalista António Simone
da Rádio Comunitária de IuIuti no seu livre exercício de trazer a tónica sobre alguns
assuntos de interesse da comunidade, investigava entendo a exploração de uma mina
repleta de Pedras Preciosas, designadas por Rosa e Urouro por parte de estrangeiros
de origem Somali e da Tanzania e decidiu fazer uma reportagem para colher mais
informações sobre o assunto.
Iuluti fica situado no Posto Administrativo de Mogovolas na província de Nampula e
dista a 120Km da capital provincial. Habitada por uma população de cerca de 55.299
habitantes na sua maioria mulheres falantes das línguas Macua, Iuluti situa-se numa
região onde a rede da energia eléctrica ainda é apenas um sonho e a cobertura da rede
por parte de Companhias de Celulares é quase que inexistente. O acesso à água é
também deficitário. A sua população vive basicamente da prática da agricultura e
pecuária e os recursos naturais na zona são basicamente minerais, sendo as pedras
preciosas e a castanha de caju o centro da atenção de todos que visitam o local.
Foi no contexto do programa sobre governação que a Rádio levou a cabo um programa
em directo onde o tema do dia foi a exploração da referida pedra preciosa. Foi então na
tentativa de encontrar a verdade e o sentimento dos habitantes quanto à exploração
abusiva de um dos poucos recursos daquela região que o jornalista Simione sofreu
represálias. Foram-lhe arrancados os instrumentos de trabalho para impedir que
continuasse com a sua determinação de buscar a verdade no cumprimento do seu papel
como jornalista na sua comunidade.
Para dar continuidade ao assunto, a equipa do Boletim do FORCOM decidiu entrevistar
o jornalista António Simione para averiguar mais factos relacionados com o assunto.
Acompanhe, de seguida, a entrevista que a equipa deste Boletim teve com António
Simione.
P: O que aconteceu de facto na manhã de 29 de Outubro?
AS: No dia 29 de Outubro estávamos a apresentar um programa habitual sobre
governação que é apresentado em directo e interagindo com a comunidade local. Nesse
dia, o tema em destaque era analisar o problema da exploração mineira de pedras
preciosas em IuIuti, uma acção protagonizada por cidadãos estrangeiros. Durante o
debate, um dos ouvintes responsabilizou o Governo considerando que este estava a par
da situação, contudo não estava a tomar as devidas medidas para evitar essa situação.
De imediato, fui chamado para prestar declarações na administração.
P: Dizia anteriormente que foi chamado para prestar declarações. Quem lhe
contactou?
AS: Foram dois agentes que asseguraram terem sido ordenados pelo Administrador do
distrito, o Sr. Augusto Guilherme Muhala. Quando lá cheguei, ele questionou se
realmente eu era o apresentador do programa em causa ao que respondi que sim.
Depois ele quis saber quais eram as minhas intenções ao debater o assunto com os
ouvintes. Depois mandaram-me de forma coerciva deslocar-se à rádio e através dela
localizar o ouvinte que, durante o programa, ouviu-se a sua voz acusando o Governo de
negligenciar sobre o assunto relativo à exploração mineira, por parte dos cidadãos
estrangeiros.
P: E, qual foi a sua reacção?
R: Informei que pretendia através de um debate aberto chamar a atenção da
comunidade sobre a usurpação dos nossos recursos naturais.
P: Como é que o assunto foi gerido a nível da rádio IuIuti?
R: Ficámos com medo porque após o interrogatório que me foi feito, eles chamaram o
coordenador da rádio Rui Lopes para prestar declarações. Tendo este frisado que, o
apresentador agiu nos termos do direito a liberdade de expressão, que é conferida pela
Constituição da República. E, que a exploração das pedras preciosas deve ser
controlada. No momento informaram também que o programa sobre governação devia
ser interrompido por não ser de interesse público, segundo a autoridade.
P: Ficámos a saber através de si e de outras fontes sobre a exploração de pedras
preciosas em IuIuti. Pode nos contar o que é que está a acontecer no terreno?
AS: Cidadãos imigrantes ilegais da Somália e Tanzania estão a explorar ilicitamente
pedras preciosas de grande valor económico como o caso da pedra Rosa e Urouro. E,
pela constatação da comunidade local, a exploração é feita de forma desordenada e sem
autorização para o efeito. Iuluti já é pobre, precisa de muito para se desenvolver, mas se
estão a tirar os nossos poucos recursos, o que será de nós amanhã?
P: Para finalizar, sendo a rádio uma das mais importantes fontes de informação na
região, como vê nos próximos tempos a situação sobre acesso à informação sobre
governação local?
AS: Na verdade, nos próximos tempos teremos dificuldades de levar à comunidade
informações sobre a transparência na questão da exploração dos nossos recursos e
muito menos sobre a actuação do governo local, uma vez que nos nossos programas
gostamos de debater diversos assuntos como acesso à justiça e outros direitos dos
cidadãos.
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Jornalista Comunitário Ameaçado