Palavra do Presidente Valeu, Petronio por Olavo Machado Junior Em tempos de uma crise que se agrava a cada instante, estava preparado para abordar neste espaço questões que penalizam a indústria brasileira e impedem a empresa nacional de produzir, gerar riqueza para o país e emprego para os brasileiros. Minha intenção era mostrar a indignação com um governo que, em vez de cumprir suas obrigações, insiste em aumentar impostos, como faz agora com a tentativa de recriar a CPMF, esquecendo-se de que o Congresso Nacional a baniu do sistema tributário brasileiro com cem por cento de apoio da população. Tinha imaginado dedicar integralmente este artigo para dizer que recriar a CPMF e confiscar recursos do Sistema S são absurdos que somente aqueles que não têm compromisso com o país e nunca produziram um parafuso sequer são capazes de cometer. Também pretendia enfatizar o nosso repúdio a práticas governamentais que em nada ajudam o Brasil e os brasileiros, mas, com muito pesar, me lembrei, mais uma vez, do falecimento do empresário Petronio Machado Zica – meu amigo e meu companheiro na vida empresarial, na diretoria da Fiemg e na luta contra governos que prejudicam o país e aqueles que produzem e geram empregos. Guardo muitas lembranças dessa amizade, inclusive da nossa primeira viagem juntos, à Argentina, no começo dos anos 70, bem no início da revolução que mudou a indústria mineira. Petronio tinha o seu jeito de ser – pavio curto, direto, objetivo, firme na defesa de seus pontos de vista, mas sempre justo, amigo leal e presente. Nos anos 80, lembro co m saudade de uma viagem à Alemanha, em uma Missão do CETEC. Petronio, que, como eu, gostava de carros antigos e tinha um Citroën 50 e um Fusca 69, pediu-me para trazer uma peça para seu carro, que ele mandaria me entregar em Aachen. No último dia da viagem , fui para a estação e fiquei esperando a peça que vinha da França. No último minuto, com o trem já quase saindo, lá estava um baita caixote e, dentro, uma caixa de mudanças original completa, com 80 quilos. Consegui despachá-la e chegamos juntos, a tempo de atender meu amigo. Por diversas vezes demos boas gargalhadas lembrando essa história. Petronio foi fundamental para a indústria mineira. Desde a gestão de Stefan Salej na Fiemg, presidia o Sindicato da Indústria Mecânica de Minas Gerais – o nosso SINDMEC. Nessa mesma época, meados dos anos 90, tornou-se gestor do SENAI, missão que sempre exerceu com entusiasmo, dedicação e esmero, entrando pela gestão do presidente Robson Andrade e pela minha. As reuniões mensais dos Conselhos do SESI, SENAI e IEL, feitas em conjunto, eram sempre lideradas por ele. Também tive, graças a Deus, o privilégio de, muitas vezes, viajar com ele e Silvânia, sua esposa. Também como anfitriões, foram sempre perfeitos – os melhores. Não me lembro de ter faltado a nenhum dos convites de Petronio e Silvânia – na casa deles ou na fazenda. Sempre tive a honra do convite e sempre estive presente – com eles, com os filhos Mariana, Humberto e Adriana, com o Mauro, seu genro, e com Tatiana, sua nora – e, nos últimos anos, com os netos. Faltei a apenas um, infelizmente o último, mês passado, no aniversário de Silvânia. Tive que viajar por compromisso da FIEMG e não pude ir. Combinamos que comemoraríamos novamente no restaurante do Pino, do qual ele gostava muito – não fomos e não iremos mais. Com suas risadas, com seus braços longos e seu enorme coração, Petronio, sem exceção, dava atenção a todos – crianças, jovens e adultos, peões e doutores. Para não esquecer, anotava tudo e sempre dava retornos rápidos, sempre acompanhados da deliciosa goiabada que produzia na sua fazenda Mombaça. Foi triste, foi doído, foi quase inacreditável receber a notícia em Brasília, onde havia acabado de chegar para uma reunião na CNI. Voltei imediatamente, com a cabeça a mil, em grandes flashbacks, imaginando a falta que Petronio fará aos seus amigos, à indústria, a Minas e ao Brasil. Cheguei quase em cima da hora, mais em tempo de homenagear o amigo querido. Petronio sempre foi rígido e intransigente, lutou e defendeu com firmeza suas convicções empresariais e políticas, brigou com garra e nunca admitiu ajeitamentos. Nem sempre concordava comigo, por me achar muito paciente e condescendente, mas, como amigo e companheiro leal, jamais deixou de me apoiar e de trabalhar para que minhas resoluções tivessem sucesso. Lutamos juntos muitas batalhas e sei do orgulho que ele tinha com as conquistas, como a construção do Centro de Inovação e Tecnologia SENAI Fiemg - Campos CETEC, ainda em curso e fundamental para o SENAI. Sua luta mais recente foi pelo PMQP – Programa Mineiro da Qualidade e produtividade, que considerava, com razão, importante para a indústria mineira. Perdemos o amigo, o companheiro, o parceiro e conselheiro. Ficamos com o exemplo e, movidos por ele, vamos seguir adiante, lutando pelos ideais que sempre nortea ram a vida de Petronio como cidadão e empresário. Petronio começou a vida fazendo parafusos e aprendeu, em sua profícua caminhada, que o importante é ajudar a pensar e a construir um país. Foi o que fez até o último segundo, como na última reunião da diret oria da Fiemg da qual participou, na terça-feira passada, véspera de sua morte, quando, mais uma vez, denunciou a destruição da indústria e nos conclamou a lutar para protegê -la – e isso é o que vamos fazer. Valeu, Petronio! “Começou a vida fazendo parafusos e aprendeu que o importante é ajudar a pensar e a construir um país”