Cartão de Visitas vale mais que Dinheiro
José Augusto Minarelli
Responda rápido: já aconteceu de, em um evento importante, você se dar conta de que esqueceu seu
cartão de visitas ou não o levou em quantidade suficiente? Ocorreu também de olhar para um cartão
recebido e não fazer a mínima idéia de quem é aquela pessoa, quando e onde foi vista, o que faz, do que
gosta? Na seqüência, rasgou o pequeno pedaço de papel e o descartou na lixeira mais próxima? Cuidado.
Esses são sinais claros de negligência com os seus relacionamentos, isto é, o capital social, patrimônio de
valor inestimável, capaz de abrir portas e viabilizar conquistas que, de outra forma, não se tornariam
realidade – nem mesmo mediante todo o dinheiro do mundo.
O cartão de visitas é uma espécie de ficha de depósito na “conta corrente” do capital social. Memória de
um encontro, funciona como uma chave que permite acessar fontes de informação e de decisão,
diminuindo distâncias. A conexão, no entanto, não se estabelece de forma automática e tampouco ocorre
se não estiver baseada no princípio da reciprocidade. O gesto de trocar cartões serve como uma senha – dá
sinal verde para a aproximação, mas exige cuidado e empenho para transformar o acesso em
relacionamento efetivo.
Na vida, tudo depende de pessoas. Assim, quem conhece mais gente e cultiva os relacionamentos tem
maior poder para solucionar problemas e atender necessidades, suas e dos outros. Ser lembrado como
alguém que tem condições de auxiliar a resolver determinada questão ou dirimir uma dúvida é
enriquecedor em vários aspectos. Primeiro, porque o exercício da ajuda mútua acaba se mostrando
construtivo para o desenvolvimento de cada um de nós como seres humanos, pois comprova que somos
elos de uma grande corrente. Segundo, por nos deixar mais à vontade para recorrer à rede sempre que
tivermos necessidade, sem constrangimentos. Afinal, quando acumulamos créditos, ficamos com saldo
positivo para efetuar os débitos necessários.
Assim como na esfera financeira, todo investimento no capital social requer atenção. A troca de cartões
representa uma espécie de autorização para contatos posteriores e deve ocorrer quando, após uma
conversa inicial, houver interesse na continuidade do relacionamento. Muitas informações úteis, obtidas no
momento inicial, acabam se perdendo quando não são devidamente anotadas. Isso mesmo: aproveite o
verso do cartão para registrar data, local, assuntos tratados, características físicas e de personalidade,
cidade natal, profissão, hobbies e tudo o mais que o ajude a resgatar aquele encontro. Utilizando algum
critério de sua conveniência, organize os cartões. Não abra mão de mantê-los como uma espécie de back
up, guardados em fichários ou algo do gênero.
Ainda que a praticidade do mundo digital exerça um fascínio ímpar, agilizando buscas e processos, dispor
do material físico será um alento diante da eventual perda da informação em formato eletrônico. Duas
dicas importantes: o Outlook/Outlook Express é um excelente gerenciador da “conta corrente” do capital
social. Além dos campos para registro dos dados cadastrais, dispõe de um espaço denominado “Notes”, no
qual é possível transcrever as informações anotadas no verso do cartão. Já o programa Plaxo oferece uma
versão grátis, que pode ser baixada clicando www.plaxo.com. Mais do que um banco de dados pessoais e
profissionais, inclui um sistema de atualização automática associada ao Outlook e, ainda, avisa a data de
aniversário da pessoa.
Devemos ter cartões profissionais e pessoais. Os primeiros são adequados para a relação de trabalho,
enquanto os segundos servem para casos especiais, quando a intenção é manter com o outro uma relação
mais próxima, de amizade. Nesse caso, vale entregar ambas alternativas de contato. A regra é ter à mão os
dois tipos de cartão de visita, sempre em quantidade suficiente. Só é pego de surpresa quem não se
previne. Locais e eventos com grande concentração de pessoas exigem maior volume de cartões. Ninguém
sai de casa sem a cédula de identidade ou a carteira de motorista. Então, por que esquecer o cartão de
visita, que serve como passaporte para um mundo de possibilidades? Há apenas uma ocasião em que é
plausível alegar a falta de cartão: quando não há interesse na continuidade do relacionamento. Essa pode
ser uma maneira polida de evitar o contato posterior – lembrando-se sempre que, no espírito da
reciprocidade, esse mesmo expediente pode ser utilizado também pelo outro, com relação a nós mesmos.
Critério é a palavra-chave para a distribuição do cartão de visita. A ansiedade leva muita gente a encará-lo
como material de propaganda, o que é um terrível engano. Quando não baseados nos princípios de
afinidade, reciprocidade e relacionamento, cartões são meros pedaços de papel. De nada adianta distribuílos aleatoriamente, nem colecioná-los aos montes. Para serem moeda corrente, precisam ter o valor
preservado e atualizado, a partir de investimentos constantes. Caso contrário, equivalem a dinheiro
guardado embaixo do colchão em tempos de inflação galopante, servindo como testemunhas incontestes
de inúmeras oportunidades deixadas para trás.
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