Área: Fitotecnia INFLUÊNCIA DO ESPAÇAMENTO ENTRE FILEIRAS NA CULTURA DO FEIJÃO CAUPI SOB CONDIÇÕES IRRIGADAS NO CARIRI CEARENSE Josefa Maria Francieli da Silva1; Paulo José de Moraes Máximo1; Wesley Costa Silva2; Francisca Edcarla de Araújo Nicolau3; Felipe Thomaz da Camara4 1 Estudante de Eng° Agronômica da Universidade Federal do Ceará –Campus Cariri, bolsista do Programa de Extensão Rural (PROEXT) Email: [email protected] 2 Estudante de Eng° Agronômica da Universidade Federal do Ceará – Campus Cariri, bolsista de PID/UFC 3 Estudante de Eng° Agronômica da Universidade Federal do Ceará – Campus Cariri, bolsista PIBIC/CNPq 4 Professor de Engº Agronômica da Universidade Federal do Ceará – Campus Cariri Resumo – O feijão de corda ou feijão caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp.) é originário da África, porém se desenvolve numa ampla faixa ambiental, onde se adapta muito bem tanto às terras altas como às baixas, no Oeste da África, na Ásia, na América Latina e na América do Norte. Diante o exposto o presente trabalho teve como objetivo avaliar a produtividade do feijão caupi, dispostos em três arranjos espaciais com e sem o uso da prática cultural do raleamento. O experimento foi realizado no Sitio Pintado no município de Missão Velha-Ceará. Foi realizado em blocos casualizados e esquema fatorial 2 x 3, com três repetições, totalizando dezoito observações. O primeiro fator foi o raleamento (com e sem) e o segundo foi o espaçamento entre fileiras de feijão caupi (50, 60 e 70 cm). Cada parcela experimental constava de cinco fileiras de feijão com dez metros de comprimento. Para a avaliação foram utilizadas as três fileiras centrais com cinco metros de comprimento. Ressalta-se que a interpretação dos mesmos se inicia pelo teste da interação; porém, no presente trabalho, não se observou dependência de um fator em relação ao outro. Conclui-se que a prática de raleamento é apropriada para aumentar a produtividade da cultura bem como diminuir a competitividade entre as plantas. O espaçamento de 70 cm apresentou o pior desenvolvimento e produtividade, não sendo recomendado para a região. Palavras-chaves: Arranjo espacial, agricultura familiar, densidade de plantas. Introdução O feijão de corda ou feijão caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp.) é originário da África, porém se desenvolve numa ampla faixa ambiental, desde a latitude 40N até 30S, onde se adapta muito bem tanto às terras altas como às baixas, no Oeste da África, na Ásia, na América Latina e na América do Norte (CARDOSO et al., 2005; DADSON et al., 2005). É uma das mais importantes culturas em vários países da América Central e do Sul, principalmente em regiões semiáridas do Brasil, Venezuela, Peru, Panamá, Salvador, Haiti, Equador, Guiana e Suriname. O feijãode-corda é muito utilizado em sistema de monocultivo, entretanto, áreas cultivadas em consórcio com outras culturas são frequentes, sendo o milho (Zea mays L.) o consórcio mais utilizado (CARDOSO et al., 2005). Em estudos para avaliar diferentes genótipos de feijão de porte ereto, Teixeira et al. (2007), observaram número médio de vagens por planta de 8,88, número de grãos por vagem de 9, peso 100 grãos de 17,13 g, comprimento de vagem de 14,55 cm e rendimento de grãos médio de 1.391 kg ha -1. Teixeira, et al. (2007), 1 constataram, em estudos com diferentes genótipos de feijão caupi, comprimento médio de vagem de 14,55 cm. Segundo esses autores, esse valor esta na faixa ideal para a referente característica. Com relação à área colhida, a produção e a produtividade dessa cultura variam muito de ano para ano, em virtude, principalmente, das variações nas condições climáticas. Entre 1993 e 2001, a média anual da área colhida foi de 1.355,184 ha, a produção foi de 429.375 t e a produtividade de 317 Kg/ha. As baixas produtividades dessa cultura se devem, em grande parte, ao baixo nível tecnológico empregado na maioria dos cultivos. Porém, nos últimos anos a cultura vem adquirindo maior expressão econômica, e seu cultivo têm sido realizados em áreas irrigadas, onde se emprega tecnologias mais adequadas na produção (FREIRE FILHO et al., 2005). A irrigação é uma das tecnologias aplicadas na agricultura que mais tem contribuído para o aumento na produção de alimentos, o uso dessa técnica no semiárido brasileiro é necessário em função das condições climáticas (altas temperaturas, distribuição de chuvas irregulares, no tempo e no espaço e intensa evaporação), (GHEYI, 2000; MURTAZA et al., 2006). A escolha do arranjo espacial pelos agricultores esta relacionado ao valor econômico da cultura, assim quando há maior preço para venda de uma cultura, aumenta-se o número de plantas por área da referida cultura, utilizando-se espaçamentos menores (SANTANA, 2009). Quando ocorre o contrário, ou seja, o valor econômico da cultura está com um preço baixo, os agricultores fazem o consórcio, que é uma prática onde produz na mesma área duas culturas distintas e consequentemente à obtenção de duas rendas. No entanto tem-se buscado novas técnicas de manejo para cada cultura como espaçamento adequado entre plantas e proporção do número de plantas por área, que venha melhorar o rendimento e exploração da área agricultável. Diante o exposto o presente trabalho teve como objetivo avaliar a produtividade do feijão caupi, dispostos em três arranjos espaciais com e sem o uso da prática cultural do raleamento. Material e Métodos O experimento foi realizado no Sitio Pintado no município de Missão Velha-Ceará, com localização geodésica definida pelas coordenadas 47º33’95 latitude sul e 91°97’540 longitude oeste, com altitude média de 380 m. A região apresenta temperatura média anual de 26ºC, umidade relativa média de 62%, precipitação média anual de 930 mm e pressão atmosférica de 96,8 kPa. O clima da região, segundo a classificação de Köeppen, é do tipo Bsh, definido como semiárido quente. O solo da área experimental foi classificado como Argissolo Amarelo de textura franco-arenosa. O experimento teve uma área 1.950 m² e ocorreu no período de agosto a outubro de 2012 sobre condições irrigadas. Para o preparo do solo foi utilizado um trator com tração 4 x 2 da marca Ford, modelo 5610 com potência no motor de 62,56 kW (85 cv) e uma grade leve em tandem com 12 discos recortados e largura de 1,5 m. A semeadura ocorreu manualmente colocando três sementes por cova, os espaçamentos utilizados foram de 50 cm 60 cm e 70 cm entre fileiras, com população inicial desejada de 60000 plantas por hectare, a uma profundidade de semeadura de 5 cm. Em todas as parcelas foi necessária à aplicação de inseticida Lorsban 480 BR, para controle do pulgão e mosca branca, pragas chave da cultura. Tal aplicação foi realizada em duas épocas, sendo a primeira no dia 30/08/2012 (20 DAS) e a segunda no dia 19/09/2012 (40 DAS). Na primeira aplicação foram utilizados 0,6 L/ha 2 e na segunda 0,7 L/ha. Esta atividade foi realizada manualmente com pulverizador costal com tanque com capacidade de 20 L de calda. Foram realizadas duas capinas, sendo a primeira no dia 24/08/2012 (14 DAS) e a segunda no dia 17/09/2012 (38 DAS). Tal atividade foi realizada manualmente com enxada. Durante a condução da cultura do feijão caupi não ocorreram precipitações atmosféricas, portanto, a cultura foi irrigada por 2 horas a cada três dias, totalizando 23 dias e/ou 46 horas com o sistema de irrigação ligado durante o ciclo da cultura. Para a irrigação foi utilizado um motor de 2 cv de potência. O sistema de irrigação possuía 2 aspersores com capacidade de irrigar uma área de 405 m2. O experimento foi realizado em blocos casualizados e esquema fatorial 2 x 3, com três repetições, totalizando dezoito observações. O primeiro fator foi o raleamento (com e sem) e o segundo foi o espaçamento entre fileiras de feijão caupi (50, 60 e 70 cm). Cada parcela experimental constava de cinco fileiras de feijão com dez metros de comprimento. Para a avaliação foram utilizadas as três fileiras centrais com cinco metros de comprimento. As variáveis analisadas foram número de vagens por plantas, que foi obtido a partir da relação entre o número de vagens e de plantas na área avaliada da parcela experimental. A massa por vagem foi obtida através da relação entre a massa de todas as vagens colhidas pelo respectivo número de vagens. A massa de vagem por planta foi obtida pela massa de vagem dividida pelo respectivo número de plantas. O número de vagens e de plantas por hectare e a produtvidade foram obtidos pela extrapolação dos resultados obtidos por parcela experimental para hectare. Todos os dados foram armazenados no programa Excel 2010 e submetidos à análise de variância e ao teste de comparação de médias de Tukey a 5% de probabilidade. Resultados e Discussão Os resultados foram apresentados na Tabela 1. Ressalta-se que a interpretação dos mesmos se inicia pelo teste da interação; porém, no presente trabalho, não se observou dependência de um fator em relação ao outro. No entanto, verifica-se que as únicas diferenças foram com relação ao fator raleamento, onde na variável NVP, utilizando o raleio, ou seja, deixando apenas uma planta por cova, produziu três vezes mais vagens por planta do que sem raleio, nas mesmas condições de solo, temperatura e umidade. Isso significa que, nas parcelas sem raleio, a presença de mais de uma planta por cova aumentou a competitividade por água, luz e nutrientes, fato que limitou a produção de vagens por planta, porém, nota-se que o número de vagens por hectare foi semelhante, em virtude do maior número de plantas que compensou a menor produção por planta. Já na variável MVP o aumento foi ainda maior, com acréscimo de 266% no tratamento com raleio, mostrando assim que além de apresentar maior número de vagens, os pesos também foram superiores, confirmando assim que realmente existe uma grande competição entre as plantas por água, luz e nutrientes. 3 Tabela 1. Síntese da análise de variância e do teste de médias para numero de vagens por planta (NVP) em unidade, massa por vagem (MPV) em grama, massa de vagens por planta (MVP) em grama, numero de vagens por hectare (Vagens/há) em unidade e numero de plantas por hectare (Plantas/ha) em unidade. NVP MPV MVP Vagens/ha Plantas/ha (Unid) (g) (g) (Unid) (Unid) Com Raleio 7,7 a 8,1 a 59,7 a 378197 a 48506 a Sem Raleio Fator 2 – Espaçamento (E) 50 cm 60 cm 70 cm TESTE F R E R*E CV% 2,6 b 6,2 a 16,3 b 353239 a 132553 b 6,1 a 5,1 a 4,2 a 6,7 a 8,2 a 6,7 a 42,2 a 42,5 a 29,3 a 476049 a 343415 a 277689 a 95061 a 91255 a 85273 a 20,36 ** 0,99 NS 0,38 NS 46,56 3,75 NS 1,05 NS 0,48 NS 45,66 28,06 ** 1,12 NS 0,57 NS 28,86 0,10 NS 2,28 NS 0,33 NS 44,82 223,22 ** 1,02 NS 0,13 NS 13,18 Tratamentos Fator 1 – Raleamento (R) Médias seguidas pela mesma letra minúscula com numeração igual na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. **: significativo (P<0,01); *: significativo (P<0,05); NS: não significativo; CV%: coeficiente de variação. Na Figura 1, pode-se verificar que o espaçamento que se mostrou mais produtivo foi o de 50 cm com uma produtividade média de 3000 kg/ha quando não se utiliza a pratica cultural de raleamento. Em seguida vem o espaçamento de 60 cm com uma produtividade de média de 2880 kg/ha, sendo que o espaçamento menos recomendado, sem o raleamento, foi o de 70 cm com a menor produção média de 1580 kg/ha. Figura 1. Avaliação da produtividade em função dos espaçamentos de 50 cm, 60 cm e 70 cm, com e sem o uso de raleamento. No entanto, quando se utiliza o raleamento, essa produtividade aumenta consideravelmente em todos os espaçamentos analisados neste estudo, tendo assim um aumento de 10,1; 14 e 32,1% nos espaçamento de 50, 60 e 70 cm, respectivamente. Isso significa dizer que quando se usa o raleamento a produtividade vai ser superior. 4 Conclusões Conclui-se que a prática de raleamento é apropriada para aumentar a produtividade da cultura bem como diminuir a competitividade entre as plantas. O espaçamento de 70 cm apresentou o pior desenvolvimento e produtividade, não sendo recomendado para a região. Referências CARDOSO, J. M.; MELO, F. B.; LIMA, M. G. Ecofisiologia e manejo de plantio. In: FREIRE FILHO, F. R.; LIMA, J. A. A.; RIBEIRO, V. Q. Feijão caupi: avanços tecnológicos. Brasília: EMBRAPA, 2005. Cap. 5, p 213 – 225. DADSON, R. B.; HASHEM, F. M.; JAVAID, I.; JOSHI, J.; ALLEN, A. L.; DEVINE, T. E. Effect of water stress on the yield of cowpea [Vigna unguiculata 106 (L.) Walp] genotypes in the Delmarva region of the United States. Journal Agronomy & Crop Science, v.191, p. 210-217, 2005. FREIRE FILHO, F. R.; RIBEIRO, V. Q.; BARRETO, P. D. SANTOS, A. A. Melhoramento genético. In: FREIRE FILHO, F. R.; LIMA, J. A. A.; RIBEIRO, V. Q. Feijão caupi: avanços tecnológicos. Brasília: EMBRAPA, 2005. Cap. 1. p 29–92. GHEYI, H. R. Problemas de salinidade na agricultura irrigada. In: OLIVEIRA, T. S.; ASSIS JR. R. N.; ROMERO, R. E.; SILVA, J. R. C. Agricultura, sustentabilidade e o semi-árido. Sociedade Brasileira de Ciências do Solo, 2000, p. 329-346. MURTAZA, G.; GHAFOOR. A.; QADIR, M. 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