CARNAVAL:
da antiguidade ao
carnaval brasileiro.
(por Ivan Saigg Teixeira)
As origens do carnaval
O carnaval tem início com a criação das
festas da colheita, quando o homem
descobre a agricultura e passa ao
modelo de vida sedentária.
O homem entra no reino da utopia através
das celebrações, e usa as festas para se
desligar das coisas ruins.
Antigo Egito (4000 a.C)
Um dos modelos mais simples de carnaval,
com cantos, danças em volta de
fogueiras.
Os festejos estavam ligados a deuses e
totens.
Festa à Deusa Isis e ao Deus Boi Ápis.
ISIS, a Grande Mãe, responsável pelas cheias do
Rio Nilo, e seu filho, o Touro APÍS, divindade
solar da fertilidade dos rebanhos.
Antigo Egito
Com a acentuada divisão de classes, são
incorporadas máscaras e adereços,
orgias e libertinagens.
Culto ao belo, ao corpo e à liberdade.
Espantar as coisas ruins (inverno) que
prejudicam o plantio.
ANTIGUIDADE:
principais cultos agrários
PÉRSIA: Deusa Naita, da fecundidade, e
Deus Mira, dos Pastores.
CRETA: Festa da Grande Mãe, deusa
protetora da terra e da fertilidade,
representada por uma pomba.
ANTIGUIDADE:
principais cultos agrários
FENÍCIA: Festa de Astarteia, Deusa da
Fecundidade.
BABILÔNIA: as Sáceas, festas que
duravam cinco dias, marcadas pela licença
sexual e inversão dos papéis entre servos e
senhores, e pela eleição de um escravo rei,
sacrificado no final da celebração.
Grécia Antiga
No século VII a.C., torna-se oficial o culto ao
deus Dionísio na Grécia, chamado de Baco,
em Roma.
Sociedade organizadas em classes (Nobres,
Camponeses e Escravos) acentuava a
necessidade de festas como válvulas de
escape e superação das hierarquias.
Grécia: Festa de Dionísio
Dionísio é o deus do vinho, da
beleza, do êxtase e do
entusiasmo.
É acompanhado por um grupo
de sátiros e ninfas. É saudado
pelos fiéis através de música,
dança, algazarra, vinho e
sexo.
Estátua de Dionísio
Museu do Louvre.
Grécia: Festa de Dionísio
Foi Pisistrato quem oficializou o culto à
Dionísio (séc. V a.C).
A imagem do Deus desfilava em uma
embarcação com rodas (carrum navalis),
puxado por satírios, levando homens e
mulheres nus em seu interior. Seguia-o
uma alegre multidão de mascarados, e um
touro, que ao final era sacrificado.
Em ROMA
Em 370 a.C., o culto à Dionísio ganha prestígio
em Roma.
As sacerdotisas de BACO, as Bacchantes, ao
invadirem as ruas de Roma, dançando, soltando
gritos estridentes e atraindo adeptos em número
crescente, causaram desordens e escândalos,
que o Senado Romano proibiu as BACANAIS,
em 186 a.C.
As Saturnálias Romanas
Saturno é o deus que ensinou a agricultura
aos antigos romanos (Cronos na Grécia).
Também foi expulso do Olimpo e pregava a
igualdade entre os homens.
Saturno chegava com os primeiros sopros de
calor da primavera e era saudado com
festas, em período de liberação das
convenções sociais.
As Saturnálias Romanas
Durante as Saturnálias, os escravos tomavam
os lugares dos senhores. Saiam às ruas para
comemorar a liberdade e igualdade entre os
homens, cantando e se divertindo em grande
desordem.
As casas eram lavadas, após os excessos
libertários que aconteciam de 17 a 19 de
dezembro (entrada da primavera no
hemisfério norte).
Festa ao
Deus
Saturno
BACANAL,
segundo
Ticiano.
Veneza
(1490 - 1576)
LUPERCAIS – Roma
Celebradas em 15 de fevereiro, em
homenagem ao deus Pã. Seus sacerdotes,
os Lupercos, saiam nus, banhados em
sangue de cabra, lavados com leite e
cobertos por uma capa de bode.
Perseguiam as pessoas pelas ruas, batendolhes com uma correia. As virgens atingidas
acreditavam se tornarem férteis e as
grávidas não sentiriam dores no parto.
LUPERCAIS – Roma
Suetônio conta que no tempo das Saturnais,
os participantes e os escravos podiam
dizer verdades a seus senhores, indo até
ao extremo de ridicularizá-los do jeito que
bem entendessem.
Pã é o deus das
ovelhas, da lã, dos
animais selvagens,
da caça e da
música rústica
Apolo (Razão)
vs.
Dionísio (Delírio)
O carnaval é uma trégua, um alívio para a
hipocrisia social e para o medo do corpo.
É uma festa em que foliões fantasiados e
mascarados se transformam num “outro”.
Catarse reguladora do equilíbrio social.
O CARNAVAL CRISTÃO
Quando o Cristianismo se espalha pelo
Mediterrâneo, e torna religião oficial do Império
Romano (séc. IV), diversas cidades já tinham
suas festas de orgia e libertinagem.
A moral cristã julga tais festas pecaminosas, e
são inicialmente condenadas pela Igreja.
IGREJA vs. CARNAVAL
• Tão logo a Igreja percebe que era
impossível conter as manifestações
populares e tratou de oficializá-las.
Quaresma X Carnaval
• Quaresma: período em que os cristãos
fazem abstinência de carne, sexo, bebidas
e demais prazeres do mundo. Resignação
pela paixão de Cristo.
• Carnaval: festa antes da quaresma, em
que se consome muita carne e bebida.
Busca-se a felicidade, o riso e o prazer
sensual.
Carnaval Cristão: O ENTRUDO
ENTRUDO significa início, abertura, começo
da Quaresma. É a forma grosseira e
primitiva de brincar o carnaval.
O ENTRUDO tem origem nas
comemorações naturais do tempo, as
Bacanais e Saturnais. O nome surgiu com
a oficialização do Carnaval Cristão, após
590 d.C.
O ENTRUDO
O povo passou a comemorar o começo da
Quaresma, bebendo e comendo, para
compensar o jejum. O ritual foi se
tornando bruto e grosseiro, consistindo em
jogar água e farinha nas pessoas.
O ENTRUDO fortaleceu-se entre os anos
1200 a 1300.
A Renascença
Neste período, o carnaval floresceu nas
cidades italianas, tornando-se freqüentes
os bailes de máscaras.
“O Carnaval de Roma não é propriamente
uma festa que se dá ao povo, mas que o
povo dá a si mesmo” (Goethe, séc. XVIII)
A Renascença:
Cidades Italianas
Batalhas de confetes
Eleição de um rei para rir
Fogos de artifício
Festas privadas em salões.
Carnaval: uma festa popular
O local do carnaval era ao ar livre, no
centro da cidade, nos mercados...
É uma imensa peça de teatro em que as
ruas e praças viram palcos, a cidade vira
um teatro, os habitantes viram atores.
Não havia distinção entre atores e platéia:
as senhoras, de suas casas, podiam
lançar ovos na multidão, e os
mascarados tinham licença para entrar
em casas particulares.
CARNAVAL EM PORTUGAL:
FESTA DA VIDA E DA MORTE
Acontece um enterro, geralmente o
Enterro do Bacalhau. Depois celebra-se
a vida, com danças, cortejos, cores,
luzes e música.
Há também um Julgamento, que é
uma sátira à imposição eclesiástica de
abstinência e jejum durante a Quaresma.
CARNAVAL
CHEGA AO
BRASIL
Roda de Samba (séc. XIX) – Carnaval Negro na periferia
O ENTRUDO NO BRASIL
No século XVIII o entrudo chega ao Brasil,
trazidos por imigrantes portugueses das
ilhas de Madeira e Açores.
Em 1723 o ENTRUDO é oficializado pelas
autoridades coloniais.
O ENTRUDO
Refletia as divisões sociais da colônia.
Os escravos negros e homens livres
pobres festejavam pelas ruas.
Os brancos brincavam atirando água suja e
ovos na população. Muitas famílias ricas
se retiravam para casas de campo
Sátira política do carnaval carioca, 1883.
A baixo: O carnaval popular.
A cima: O carnaval das elites.
O ENTRUDO (séc. XIX)
A Música, em geral, era composta por
batuques de tambores africanos.
Acontecia a coroação de um Rei Momo,
sátira à monarquia e inversão das classes
sociais.
AS ELITES dançavam valsas e polcas.
Pintura de AUGUSTUS EARLE, 1822.
O ENTRUDO (séc. XIX)
Havia foliões que invadiam casas para
molhar pessoas, e promoviam guerras de
ovos, limões-de-cheiro e farinha.
Muitas vezes a festa terminavam em brigas
e confusões violentas.
O ENTRUDO (séc. XIX)
Nos desfiles havia espaço para críticas à
escravidão e à monarquia.
Por isso, muitas vezes, as sociedades
carnavalescas das elites era amada e
reconhecida pela multidão de negros e
mulatos.
O Entrudo na Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro, 1884. Obra de Ângelo Agostini
Carnaval de 1888
• A Princesa Isabel, acompanhada do
marido e dos filhos, promove no Carnaval
de Petrópolis, uma Batalha de Flores,
arrecadando donativos para a libertação
de cativos.
Grupo de Carnaval de escravos no Rio de Janeiro. Fotografia de Christiano Junior, 1868.
Fim da Escravidão
e fim da Monarquia
• Em 1888, a Princesa Isabel promulga a
abolição da escravidão no Brasil
• Um ano depois, caí o regime monárquico
e inicia-se a República brasileira.
• Influenciados pelo Positivismo, a ordem
era civilizar os brasileiros.
CARNAVAL NA REPÚBLICA
Com a industrialização e a chegada de
imigrantes europeus, inicia a divisão do
espaço público entre classes sociais.
Havia o medo do povo solto nas ruas.
Surgem clubes de comerciantes, que
introduzem os carros alegóricos, que
depois são incorporados pelas escolas de
samba.
Rio de Janeiro, 1911. O Rancho Armeno visita o presidente
Hermes da Fonseca. UNIÃO DOS RANCHEIROS COM A
CLASSE MÉDIA.
Década de 1930, Rio de Janeiro. A Ala das Baianas.
Carnaval das Elites
• As famílias mais ricas, com seus bailes de
máscaras, em salões e teatros, com
fantasias de tecidos nobres, com valsas e
músicas européias, consideravam que
este era o verdadeiro carnaval, como se
praticava em Paris e Veneza.
Classe Média pede passagem
A partir de 1910 começam as separações
para os blocos da classe média que
queriam participar, mas não junto com o
povão. Cordas e policiais dividiam o povo.
Começam a se organizar blocos e escolas
de samba populares: “Se a gente não
organizar, a polícia fica em cima. Vamos
sair organizados”.
Carro alegórico em Paraty (RJ), 1917 - Foto de Augusto Malta.
O ENTRUDO (séc. XX)
O entrudo passou a ser reprimido pelas
autoridades no início do século 20.
Os objetos arremessados na brincadeira
foram substituídos por confetes e
serpentinas, e o entrudo foi, aos poucos,
dando espaço para o Carnaval de
fantasias e música.
O ENTRUDO (séc. XX)
Os populares Zé-pereiras, hordas de
tocadores de bumbos, os capoeiristas
vestidos de diabos, e todas brincadeiras
consideradas grosseiras passaram a
ser reprimidas pela polícia.
Mulatos vestidos de nobres, Pernambuco, 1930.
Bloco MARACATU ELEFANTE.
Cronologia do Carnaval
• 1899 – Chiquinha Gonzaga compõe “Ó
abre-alás”, considerada a 1ª música de
carnaval.
• 1908 – Primeiros filmes sobre o Carnaval.
• 1917 – Primeiro samba gravado: “Pelo
Telefone”, de Mauro de Almeida.
• 1925 – 1º Concurso de marchinhas.
• 1935 – 1º Concurso de Escolas de Samba
Lança
Perfumes
Chega ao Brasil em
1907.
É proibido em 1937,
devido ao uso como
entorpecente.
Pernambuco,
1950.
Recife (PE), 1961.
Cronologia do Carnaval
• 1949 – Carnaval carioca é transmitido
pelo rádio.
• 1951 – Surge, na Bahia, o trio elétrico.
• 1962 – O dia 2 de Dezembro torna-se
oficialmente o Dia Nacional do Samba
• 1970 – A ditadura militar (1964 -1984)
passa a censurar músicas e fantasias.
1984 – Criação do Sambódromo
CARNAVAL HOJE
CARNAVAL em PERNAMBUCO
As cidades de Recife e Olinda são as mais
tradicionais. O principal ritmo é o frevo, o
maracatu e a ciranda.
Dança com roupas e sombrinhas coloridas.
Carnaval de Olinda (PE)
É costume produzir bonecos gigantes
vestidos de fantasias carnavalescas.
Representa-se personagens da vida
política, artística ou do folclore do país.
CARNAVAL DE MINAS GERAIS
As cidades históricas
das Minas têm carnaval
de rua. Os blocos tocam
marchinhas com suas
baterias, e arrastam as
pessoas pelas ladeiras.
Ouro Preto, Sabará e
Diamantina são as
cidades mais festeiras.
O CARNAVAL HOJE - BAHIA
Trios-elétricos com bandas populares de
Axé music puxam os foliões pelas ruas.
Há cordões separando quem pagou pelo
uniforme do bloco, o Abadá,
e quem vai na pipoca,
a ala livre da festa.
Carnaval e Apartheid
• Na sociedade do espetáculo, o ideal de
igualdade entre as pessoas está cada vez
mais raro no carnaval.
• Paga-se por camarotes, paga-se por
lugares privilegiados, paga-se para
desfilar separado do povão.
Carnaval e Apartheid
No Carnaval de 2006, obrigado a parar seu trio elétrico
diversas vezes por causa de brigas entre o publico do
Abadá e o da Pipoca, Carlinhos Brown não se conteve e
discursou:
"Tem que educar o povo o ano inteiro e não apenas sete
dias por ano. Vocês, autoridades, têm de ver e resolver
isso aqui, viu ministro, tem de filmar essas brigas aqui e
não ficar escondendo. Isso aqui é a verdadeira Bahia.
Vocês, viu Gil, têm de ajudar a gente a não ser assim.
Tem de acabar com esse apartheid escroto. Todo
mundo chega aqui em Salvador e dá uma de feliz.
Depois acontecem essas brigas e ninguém sabe o que
fazer"
Carnaval e Apartheid
Daniela Mercury e Brown eram os únicos a sair
sem corda – pessoas de camisetas protegidas
pelas cordas, que chegam a pagar até R$ 500
nos trios mais famosos.
Brown criticou os camarotes, onde estava
Gilberto Gil (cantor e ministro), no qual as
pessoas pagam para ter um lugar privilegiado,
comida e bebida à vontade.
Depois, o músico desceu do trio e dançou na rua
com o público.
CARNAVAL:
Uma época de comédias.
Época de desordem instituicionalizada.
Representar o mundo de cabeça para baixo.
Os valores pagãos da comilança, da
embriaguês, da libertação sexual, do
riso e da gargalhada sobrepõe-se à
moral religiosa que reina nos demais dias
do ano.
CARNAVAL
“O carnaval não é uma festa que alguém
ofereça; é uma festa que o povo oferece a
si mesmo” (Goethe).
Ninguém inventou o carnaval. Ele mesmo
se organiza. É uma necessidade de lazer
das camadas populares.
ESPÍRITO DO CARNAVAL
O CARNAVAL INVERTE
OS PAPEIS SOCIAIS.
• Homens e mulheres invertem as roupas.
• Pessoas comuns se vestem de pessoas
importantes.
• Uma pessoa do povo é escolhida como o
Rei Para Rir, o Rei dos Bobos
ou o Rei Momo.
A QUARTA FEIRA DE CINZAS: A volta à realidade
FIM
Download

CARNAVAL: da antiguidade ao carnaval brasileiro