UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DESENVOLVIMENTO GESTÃO EMPRESARIAL MARISE SCHADECK OS SETE PECADOS CAPITAIS: uma metáfora para análise da cultura emorganizações familiares IJUÍ 2014 MARISE SCHADECK OS SETE PECADOS CAPITAIS: uma metáfora para análise da cultura emorganizações familiares Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduaçã o Stricto Sensu em Desenvolvimento, na linha de pesquisa Gestão Empresarial, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento. Orientadora: Profa. Dra. Adm. Denize Grzybovski IJUÍ 2014 Catalogação na Publicação S292s Schadeck, Marise. Os sete pecados capitais : uma metáfora para análise da cultura em organizações familiares / Marise Schadeck. – Ijuí, 2014. – 149 f. : il. ; 29 cm. Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento. “Orientadora: Dra. Denize Grzybovski”. 1. Pecado capital. 2. Metáfora organizacional. 3. Organização familiar. 4. Cultura organizacional. I. Grzybovski, Denize. II. Título. III. Título: Uma metáfora para análise da cultura em organizações familiares. CDU: 65.011.8 65.016 Aline Morales dos Santos Theobald CRB10/1879 UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação OS SETE PECADOS CAPITAIS: UMA METÁFORA PARA ANÁLISE DA CULTURA EM ORGANIZAÇÕES FAMILIARES elaborada por MARISE SCHADECK como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento Banca Examinadora: Profa. Dra. Denize Grzybovski (UNIJUÍ): ________________________________ Profa. Dra. Anelise Rebelato Mozzato (UPF): _____________________________ Prof. Dr. Jorge Oneide Sausen (UNIJUÍ): ________________________________ Ijuí (RS), 21 de fevereiro de 2014. “A palavra é uma arma que pode ser bem ou mal usada: a culpa do crime nunca é da faca”. EDUARDO GALEANO Aos meus eternos amores: Wilfredo, Patricia, Tiago e Gabriel. AGRADECIMENTOS A professora Dra. Denize Grzybovski, com profunda admiração por sua personalidade e incessante dedicação a esse trabalho, orientando- me com muita firmeza. Meu respeito e gratidão. Aos professores da banca, por aceitarem o convite para o debate e construção dessa pesquisa. Aos professores do Curso de Mestrado em Desenvolvimento da Unijui, em especial ao professor Dieter Sienderberg, pela dedicação e comp rometimento. Ao professor Telmo Frantz, pela oportunidade. A todos os colegas do mestrado, em especial à “irmã ” Betina Beltrame, pelo apoio e amizade. Às empresas pesquisadas, o meu muito obrigada. Aos meus ilustres sujeitos, por, mesmo sem saber, terem me permitido fazer parte de suas vidas, brindando-me com suas metáforas. Aos meus colegas de trabalho pelos momentos que compartilhamos juntos esta etapa de ensinamentos e o incansável incentivo de prosseguir sempre. A todos meus alunos: os de ontem e em especial aos de hoje por fazerem parte da história da minha vida. Ao meu marido, filhos e genro: é por vocês, é para vocês. A minha mãe e irmão, pelo exemplo, pelo esforço na ajuda constante e o carinho nos momentos difíceis. Todo o meu reconhecimento. A todos aqueles que de uma forma colaboraram para elaboração desse trabalho e torceram por esta conquista. A Deus: ofereço a Ti, Senhor de mãos juntas o sacri fício e a conquista. RESUMO Esta pesquisa trata das concepções de cultura na or ganização e a relação metafórica dos sete pecados capitais. Seu objetivo é apresentar essa nova metáfora dos sete pecados capitais, analisando os sistemas simbólicos presentes na cult ura das organizações familiares, portanto tem como objetivo geral descrever e analisar os sistemas simbólicos presentes na cultura das organizações familiares pela perspectiva dos sete p ecados capitais. Para alcançar esse objetivo apoia-se em conceituar, descrever, categorizar e identificar os sete pecados capitais através da análise da cultura organizacional e os sistemas simbólicos das organizações selecionadas para o estudo. Revelada e acentuada a necessidade de se buscar um sentido maior que oriente o desenvolvimento do trabalho, para não cair no risco de perder-se no formalismo, restringe-se este texto aos conceitos desenvolvidos por Aristóte les, Pêcheux, Morgan e Bourdieu, os quais podem contribuir nos estudos organizacionais, em especial na construção de metáforas organizacionais pela perspectiva dos sete pecados capitais. Configura-se como uma pesquisa exploratória e descritiva, orientada pelo paradigma interpretativista. A abordagem dos dados foi qualitativa, como orientam o método estudo de casos múltiplos e a técnica análise de discurso (AD). Optou-se pela AD por entender que o corpus discursivo está constituído por recortes discursivos, configurados por sequências discursivas (SD) produzidas nos discursos dos sujeitos. As marcas ou pistas presentes em um discurso, no instante de sua materialização linguística revela o entrelaçamento de sujeito e se ntido na linguagem, os quais não são determinados mecânica e empiricamente (ORLANDI, 199 9). Os resultados indicam que as organizações familiares são ambientes de significad os e de símbolos materiais que se constituem de elementos físicos e que por suas características estabelecem e marcam uma ordem de importância dos sujeitos dentro da organiz ação. Foi possível observar que nem todas as organizações estudadas são grupos complexo s de valores, tradições, comportamentos e crenças essenciais que se manifestam nos símbolos , nos mitos, na linguagem e nos comportamentos e não se constitui uma referência dividida entre todos da organização. A cultura pode se relacionar com o pecado da soberba, porque as negociações nas organizações, nas formações de grupo com seus conflitos cotidiano s ocorrem constantemente, a organização está politizada e centralizada em pessoas com características soberbas que são causadas porque os seus objetivos individuais confrontam-se com os objetivos organizacionais. Esse estudo evidencia essas perspectivas metafóricas dos sete pecados capitais e sua relação com a cultura organizacional. A descrição e análise dos sistemas simbólicos presentes na cultura das organizações familiares analisadas revelou que os s ete pecados capitais podem sim ser uma metáfora de estudos organizacionais, mas que requerdo pesquisador tratá-lo como elemento simbólico e acessá-lo pelo discurso dos sujeitos participantes da organização. Palavras chave: Pecado Capital. Metáfora Organizacional. Cultura Organizacional. ABSTRACT This research deals with the notions of culture in the organization and metaphorical relation of the seven deadly sins. Your goal is to present this new metaphor of the seven deadly sins, analyzing symbolic systems present in the culture of family organizations, therefore has the general objective to describe and analyze the symbolic systems present in the culture of family firms from the perspective of the seven deadly sins. To achieve this goal relies on conceptualize, describe, categorize and identify the seven deadly sins through the analysis of organizational culture and symbolic of the organizations selected for the study systems. Revealed and accentuated the need to seek greater development to guide the work towards, not to fall in the risk of getting lost in the formalism, this text is restricted to concepts developed by Aristotle, Pecheux, Morgan and Bourdieu, which may contribute in organizational studies, in particular in the construction of organizational metaphors from the perspective of the seven deadly sins. Appears as an exploratory and descriptive research, guided by interpretive paradigm. To do so, we performed an exploratory and descriptive research in five business cases, guided by interpretive paradigm. The approach was qualitative data, such as guiding the multiple case study method and technical analysis of discourse (AD). Was chosen AD by understanding that discursive excerpts, configured by discursive sequences (SD), constitute the discursive corpus produced in the subjects' speech. Marks or clues present in a speech at the moment of its linguistic realization reveals the intertwining of subject and meaning in language, which are not determined empirically and mechanical (ORLANDI, 1999). The results indicate that family firms are meanings and material symbols environments that constitute the physical elements and by its characteristics set and mark an order of importance of the subject within the organization. It was observed that not all organizations studied are complex sets of values, tradition, behaviors and beliefs that are expressed in symbols, myths, language and behavior and does not constitute a divided reference among all the organization. The culture can relate to the sin of pride, because negotiations in organizations, group formations with their everyday conflicts occur constantly, the organization is centralized and politicized in people with superb features that are caused because their individual goals are confronted with organizational goals. This study suggests that these metaphorical perspectives of the seven deadly sins and their relationship to organizational culture. The description and analysis of symbolic systems present in the culture of family firms analyzed revealed that the seven deadly sins but can be a metaphor for organizational studies, but that requires the researcher to treat it as a symbolic element and access it through the discourse of the subjects in the organization. Keywords: Sin Capital. Organizational Metaphor. Organizational Culture. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Os elementos simbólicos da cultura organ izacional....................................... 21 FIGURA 2 – Proposta para construção de nova metáfor a organizacional........................... 28 FIGURA 3 – Princípios metodológicos para análise do universo discursivo...................... 41 FIGURA 4- Desenho de pesquisa........................................................................................ 42 FIGURA 5 – Sequência discursiva de S7............................................................................ 55 FIGURA 6 – Sequência discursiva de S5............................................................................ 60 FIGURA 7 – Definição de preguiça, de acordo com o S 22................................................. 97 FIGURA 8 – Sequência discursiva de S8............................................................................ 98 FIGURA 9 – Sequência discursiva de S8............................................................................ 120 FIGURA 10 – As marcas metafóricas do pecado capital ................................................... 123 FIGURA 11 – O conformismo lógico no pecado da pregu iça............................................. 12 5 FIGURA 12 – Representação simbólica dos pecados nas ações dos gerentes..................... 127 FIGURA 13 – As marcas do pecado do crescimento apen as pelo crescimento.................. 130 FIGURA 14 – A representação dos esquemas sociais na s organizações estudadas............ 134 FIGURA 15 – Os 7 pecados capitais como metáforas para estudos organizacionais.......... 136 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Conceito de cultura organizacional...... ............................................................. 18 Quadro 2 – O poder simbólico....................... ....................................................................... 23 Quadro 3 – Os sete pecados capitais................ ..................................................................... 30 Quadro 4 – As estruturas da metáfora no Caso Um............................................................ 61 Quadro 5 – As estruturas da metáfora no Caso Dois........................................................... 73 Quadro 6 – Como a gerência trata as consequências od pecado da avareza? ...................... 79 Quadro 7 – As estruturas da metáfora no Caso Três.......................................................... 92 Quadro 8 – As estruturas da metáfora no Caso Quatro........................................................ 109 Quadro 9 – As estruturas da metáfora no Caso Cinco......................................................... 121 Quadro 10 – Marcas que estruturam a simbologia da n egatividade do pecado.................... 128 Quadro 11 – Marcas que estrutura a cultura através dos pecados capitais........................... 133 Quadro 12 – O pecado capital metaforizado em marcas linguísticas................................... 135 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................................12 2 REFERENCIAL TEÓRICO ..............................................................................................16 2.1 ORGANIZAÇÕES FAMILIARES ....................................................................................15 2.2 CULTURA ORGANIZACIONAL ....................................................................................16 2.2.1 Aspectos conceituais ......................................................................................................17 2.2.2 Elementos simbólicos .....................................................................................................19 2.2.3 Poder e elementos simbólicos........................................................................................22 2.3 A METÁFORA ORGANIZACIONAL .............................................................................23 2.3.1 O Percurso histórico do conceito de metáfora ............................................................24 2.3.2 Fundamentos para propor uma nova metáfora organizacional ...............................26 2.4 OS SETE PECADOS CAPITAIS: um novo olhar sobre a cultura organizacional ............29 2.4.1 Origem e conceitos .........................................................................................................29 2.4.2 Categorização dos sete pecados capitais ......................................................................30 2.5 OS SETE PECADOS CAPITAIS COMO METÁFORA ORGANIZA CIONAL ............31 3 METODOLOGIA ................................................................................................................34 3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ..................................................................................34 3.2 OBJETOS DE ESTUDO ....................................................................................................35 3.3 SUJEITOS DA PESQUISA ...............................................................................................36 3.4 COLETA DE DADOS .......................................................................................................37 3.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ..............................................................38 4 APRESENTAÇÃO DOS CASOS.......................................................................................43 4.1 CASO UM ..........................................................................................................................43 4.1.1 Apresentação do caso ....................................................................................................43 4.1.2 Perfil dos respondentes .................................................................................................44 4.1.3 Análise dos dados ...........................................................................................................44 4.2 CASO DOIS .......................................................................................................................62 4.2.1 Apresentação do caso ....................................................................................................62 4.2.2 Perfil dos respondentes .................................................................................................63 4.2.3 Análise dos dados ...........................................................................................................63 11 4.3 CASO TRÊS .......................................................................................................................74 4.3.1 Apresentação do caso ....................................................................................................74 4.3.1 Perfil dos respondentes .................................................................................................74 4.3.2 Análise dos dados ...........................................................................................................75 4.4 CASO QUATRO ................................................................................................................93 4.4.1 Apresentação do caso ....................................................................................................93 4.4.2 Perfil dos respondentes .................................................................................................94 4.4.2 Análise dos dados ...........................................................................................................94 4.5 CASO CINCO ..................................................................................................................111 4.5.1 Apresentação do caso ..................................................................................................111 4.5.2 Perfil dos respondentes ...............................................................................................112 4.5.3 Análise dos dados .........................................................................................................112 5 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS .....................................................................124 CONCLUSÃO .......................................................................................................................138 REFERÊNCIAS....................................................................................................................141 APÊNDICE - Questionário semiestruturado aplicado aos funcionários ......................... 142 INTRODUÇÃO O tema desta pesquisa são os sete pecados capitais como metáfora para análise da cultura de organizações familiares. A cultura organ izacional tem sido apontada como uma temática contemporânea em razão da complexidade da gestão decorrente das transformações e adaptações no ambiente empresarial (FERREIRA; LOURE NÇO; OLIVEIRA, 2008). Aqui, a cultura organizacional terá como base de estudo de Fleury (1987) que conceitua como o 1 conjunto de ações, de crenças e costumes forma e id entifica os sujeitos que dela fazem parte e que ressaltam seus valores, servindo de norteadores para alcançar os objetivos a que se propõe. Assim, as organizações são como impressões promover ações para modificar/alterar/transformar a digitais, são únicas. Nesse sentido, cultura organizacional, com vistas ao desenvolvimento organizacional, implica compreender os elementos periféricos e simbólicos. Para Bourdieu (2012), os elementos que formam a cultura configuram campos de poder e dessa forma podem comprometer o desenvolvimento das organizações. Assim, a cultura organizacional é uma variável do desenvolvimento organizacional (DO) e cada organização possui a sua própria história, processo s, filosofia, mitos, que a constituem enquanto organização. Contudo, nessa perspectiva me tafórica dos sete pecados capitais, 2 relacionando-os com cultura não se encontrou nenhum estudo similar . A pesquisa tem como objetivo principal descrever e analisar os sistemas simbólicos presentes na cultura das organizações familiares pe la perspectiva dos sete pecados capitais. Para alcançar esse objetivo apoia-se em conceituar, descrever, categorizar e identificar os sete pecados capitais através da análise da cultura organizacional e os sistemas simbólicos das organizações selecionadas para o estudo. Assim, bus ca responder como os sete pecados capitais estruturam os sistemas simbólicos e de que maneira se apresentam na descrição da cultura organizacional das organizações familiares. 1 No presente trabalho opta-se por tratar os informantes e membros das organizações como sujeitos em detrimento das concepções agentes (BOURDIEU, 2012), atores-elencos (GADAMER, 1993) ou simplesmente pessoas, em razão de que a pesquisa parte da análise de sentidos (AD) e não de linguagem plasmada. 2 Uma análise sistemática que realizei nos principais periódicos da área revelou que não há nenhuma publicação específica sobre o tema “os sete pecados capitais c omo metáfora organizacional”. Os trabalhos produzidos por Leite (2002) e Tomlin (2006) tangenciam a temática,mas não a enfrentam teoricamente, trazendo-a para o debate sobre as organizações como elementos simbóli cos de análise da cultura organizacional e de elementos simbólicos do próprio Cristianismo (TOMLIN, 2006) o u como “elementos de poder” (LEITE, 2002). Na fundamentação teórico-empírica, por ser o pecado-si mbologia um tema ainda pouco abordado, nota-se uma escassez de literatura. É possível verificar que ex iste evidente interesse nos estudos sobre cultura organizacional e seus elementos simbólicos; não obs tante, poucos autores fazem a relação: pecado-metáfora. 13 3 As declarações metafóricas propostas para análise nesta pesquisa estão relacionadas ao sentido comum, um conhecimento óbvio para todos, geralmente limitados por domínios de saberes relacionados aos processos de socialização do sujeito, evidenciando a influência de ideias passadas de gerações, crenças e costumes. Co ntudo, de acordo com Savater (2006) os pecados transcenderam a ideia de que servem para vetar alguns comportamentos agressivos, tendo sido alvo de penitência pela igreja por muitos anos e que objetivou, no seu uso, determinar certa pacificação ou certa conduta e dim inuição ou contenção de certas ações. O autor prossegue explicando que, em algumas sociedades e/ou culturas, é possível transferi-los metaforicamente a qualquer ação humana, tanto pesso al como profissional. No entanto, não se encontraram estudos no Brasil a respeito da temática no contexto das organizações familiares. Para Savater (2006), os pecados capitais, no Cristianismo, foram usados, de certa forma, para conter as ações que eram consideradas v iolentas e não bem vistas pela sociedade medieval, prevalecendo à boa ética da época. Nos espaços organizacionais, tais elementos da ética podem estar sendo usados metaforicamente para determinar campos de poder, constituindo-se num universo simbólico da ação, que limita o desenvolvimento organizacional e determina a cultura organizacional. Desse modo, as metáforas como pecados capitais podem ser usadas para compreender a complexidade da cultura das organizações, contudo os estudos organizacionais tem se limitado ao uso das metáforas apresentadas pelo autor anteriormente citado, sem que outros 4 habitus sejam explorados . Os sete pecados capitais, se considerados como elementos constituintes de um “poder simbólico” (BOURDIEU, 2012) na administração das or ganizações, podem impactar no desenvolvimento organizacional DO. O DO é uma proposta que gera inovação, criatividade e proporciona o desenvolvimento pessoal. Dessa forma, a organização desenvolvendo-se a si e os seus integrantes, desenvolvem o ambiente interno, e por sua vez, impactará no ambiente externo. Para considerar essa afirmativa verdadeira, argumenta-se em favor de ações que contemplem a análise e conhecimento dos sistemas simbólicos nas organizações, os quais atuam no ambiente organizacional como instrumentos de conhecimento e de comunicação (BOURDIEU, 2012). 3 Nesta pesquisa, a metáfora tomará como base a análise de discurso que a evidencia como transferênciade sentidos e não como mero ornamento linguístico. Par a Orlandi (1999, p.81), o “efeito metafórico, o des lize – próprios da ordem do simbólico – é lugar da interpr etação, da ideologia, da historicidade”. 4 Habitus é um constructo apresentado por Pierre Bourdieu que tem como conceito um sistema de esquemas individuais, socialmente constituído de disposições estruturadas (no social) e estruturantes (nas mentes), adquirido nas e pelas experiências práticas (em condições sociais específicas de existência), constantemente orientadas para funções e ações do agir cotidiano. Para melhor compreensão epistemológica, a leitura d e Setton (2002) é fundamental. 14 Trata-se de investigação desenvolvida pelo paradigm a interpretativista, caracterizada como pesquisa exploratória e descritiva com abordag em qualitativa dos dados. É um estudo de casos múltiplos e o objeto de estudo é a organização familiar empresarial, a qual será definida apenas como “empresa familiar” e caracteri zada como tal pelo critério de propriedade e gestão. No estudo pressupõe-se que a ação do sujeito no esp aço organizacional visa ao bem, tendo em vista o fim último que é o desenvolvimentodo ser humano. Ao mesmo tempo há o pressuposto que os sete pecados capitais, e paralelamente às virtudes morais, garantem o desenvolvimento organizacional, uma vez que a incidência de pecados ou a sua ausência desafia a este. Sendo assim, o desenvolvimento organizacional é resultado da forma como as ações são trabalhadas pelos seus membros no cotidiano org anizacional, pois o projeto de desenvolvimento não é pautado numa ação poiética (produtiva), mas numa ação política, que é a capacidade de agir bem (da sociedade). Retomando a afirmação de que a cultura é orientada pela noção da moral, a cultura organizaci onal se insere como uma forma correta de perceber (SCHEIN, 2009). A respeito, Schein (2009) afirma que a cultura é um acontecimento dinâmico, resultado da interação social, ou seja, da configur ação simbólica do habitus e campo, como bem descreve Bourdieu (2012). Os sete pecados capitais podem estar estruturando esses elementos simbólicos, seja em forma de regras, norm as, rotinas que dão norte ao comportamento do grupo, mas estes ainda não constam nos estudos organizacionais como uma metáfora organizacional, tanto para as organizações em geral quanto para familiares em particular. Decorre desse quadro o seguinte questionamento, o qual constitui o eixo da investigação ora proposta: Como os sete pecados cap itais estruturam os sistemas simbólicos e se apresentam na descrição da cultura organizaciona l das organizações familiares e como a incidência do pecado prejudica ou minimiza o desenvolvimento? A pretensão é que esta pesquisa possa contribuir para melhor compreender o ambiente interno das organizações familiares, o qual é um “u niverso simbólico” utilizado como instrumento de construção do “mundo dos objetos”, n a linguagem de Pierre Bourdieu (2012), do qual resultam fenômenos relacionados com seus at ores, bem como, trata de mostrar outras formas de aprender a manejar com a densidade das imagens e as suas representações simbólicas dentro da organização, sendo o grande da queles que fazem parte dela. 15 A dissertação está organizada em três capítulos teóricos, tendo como método de análise a análise de discurso (AD) da corrente francesa. Nessa composição os capítulos se dividem em fundamentação teórica referenciada pela cultura, pela metáfora organizacional e sua gênese, os pecados capitais e sua categorização, e os sete pecados como metáfora organizacional, as análises das sequências discursivas; e demais partes que compõem um trabalho dissertativo. 2 REFERENCIAL TEÓRICO A seguir apresentam-se os fundamentos teóricos que orientam o estudo empírico. Na primeira parte o estudo é contextualizado pelos fundamentos teóricos sobre cultura organizacional e temas que contribuem para compreendê-lo, em especial as metáforas organizacionais. Na sequência são discutidos teoricamente os sete pecados capitais, que podem ser identificados como um sintoma da dinâmica social, derivado de uma série de transformações, pelas quais as relações de trabalho continuam sendo alvo de estudo e que têm sua origem na hegemonia do modelo capitalista praticado desde a segunda metade do século XX. Assim apresentam-se os sete pecados capitais como elemento simbólico para estudo das organizações. 2.1 ORGANIZAÇÕES FAMILIARES Para Grzybovski e Lima (2004), as empresas familiares são empresas gerenciadas por um grupo de pessoas que, em geral, são da mesma fam ília, ou que estão ligadas por algum laço de parentesco. O controle e a responsabilidade de determinadas decisões é definida por membros de uma mesma família e que dão continuidade geracional no comando da organização. Uma empresa familiar é aquela que está sob propriedade e controle de uma família, da qual, faz parte o empresário e outros membros que rabalhamt ativamente e que possuem a possibilidade de estar no controle futuramente. 2.2 CULTURA ORGANIZACIONAL Cultura organizacional é tema complexo nos estudos organizacionais (DIAS, RORATO, 2011). Suas diversas interpretações serão a seguir apresentadas, com destaque para a abordagem clássica de Schein (2009). Para tanto,fez-se uma revisão da literatura sobre os aspectos conceituais, os elementos simbólicos e as questões de poder que configuram a cultura organizacional. 17 2.2.1 Aspectos conceituais Schein (2009) refere-se à cultura como sendo o conj unto de valores, necessidades, expectativas, crenças, políticas e padrões aceitos e praticados pelos membros de uma comunidade organizacional. Através desse conjunto de crenças e valores compartilhados, a cultura existe em um alto nível de abstração e se c aracteriza por condicionar o comportamento da organização, fazendo com que muitas pessoas se u nam em busca de um só objetivo, condicionando seu modo de pensar, sentir e agir (SCHEIN, 1984). A cultura é um acontecimento dinâmico, que se desenvolve a partir das interações entre os sujeitos. São regras, normas e rotinas que dão norte e servem de guia para os comportamentos dos sujeitos da organização (SCHEIN, 2009). Dessa maneira o autor complementa “Pode-se ver claramente como a cultura é criada, inserida, envolvida e, finalmente, manipulada e, ao mesmo tempo, como restringe, estabiliza e fornece estrutura e significado aos membros do grupo” (SCHEIN, 2009, p. 1). Para Motta e Vasconcelos (2002), algumas premissas relacionadas à cultura devem ser observadas e seguidas, tais como valores, comportamentos, soluções corretas e princípios e podem ser ensinadas e transmitidas em ações que ide ntificam as empresas e as diferenciam das outras. A mudança cultural na organização impli ca em ruptura com o velho e com valores que não servem mais para a organização, aderindo ao novo que propicie uma nova linguagem, histórias, hábitos e valores de mundo de cada sujeito partícipe da organização, que mostra como a organização é e como pretende ser, desenvolvendo assim uma identidade própria. Para Fleury (1987, p. 7), a cultura é um “sistema de representações simbólicas que expressam formas comuns de apreender o mundo, possibilitando a comunicação entre os membros de um grupo”. Entretanto, entende a autora que este conceito precisa ser reelaborado “em termos das múltiplas significações do universo simbólico e suas relações com outras instâncias da prática social, remetendo ainda às questões das relações de poder internas e externas às organizações” (FLEURY, 1987, p. 7). Na interpretação de Geertz (1989), a cultura é resultado da história particular de uma organização e do sistema de símbolos criado e manti do pelos líderes. Por conseguinte, esse sistema necessita ser interpretado pelo habitus e campos (Bordieu, 2012) e dar significados às experiências subjetivas de seus partícipes, aumentando seu compromisso com a empresa. A cultura apresenta-se como uma esfera simbólica qu e representa o sistema do momento, composta de elementos formais e informais (regras, padrões e o indivíduo), com suas diferentes visões de mundo (SCHULTZ, 1994). Es tes elementos funcionam de forma 18 integrada focando os aspectos internos e relacionais de cada empresa, contudo, é sabido que as organizações são compostas de subgrupos. Sendo a ssim, existe uma cultura da organização como um todo e pode aparecer outra em cada subsistema, o que necessariamente não significa algo ruim. Pode-se pensar também que não existe uma cultura fixa e, sim, uma expressão cultural dos membros da organização a qual pode mud ar com o passar do tempo num processo adaptativo, mas sem perder sua coerência nternai. Adaptar significa mudar e isso implica em ruptura de valores e de modo de agir (MOTTA; VASCONCELOS, 2002). Desse modo, tomando como base Schein (1984-2002), a cultura é identificada pelo modo como as pessoas se organizam e formam parte de um fenômeno cultural que varia segundo o desenvolvimento da sociedade. O fator cultural forma a imagem da organização com base em seus valores e crenças, conferindo uma identidade à organização. Ou seja, é o conjunto de suas características que a identifica e a diferencia das demais. A cultura transmitese no tempo e vai se adaptando de acordo com as influências externas e as pressões internas, produto da dinâmica organizacional, além de conseguir que as pessoas tenham uma consciência de pertencer, de serem efetivamente membros da instituição (MOTTA; VASCONCELOS, 2002). Dessa forma, a literatura gerencial apresenta diferentes conceitos de cultura organizacional, os quais são propostos no Quadro 1. Quadro 1 – Conceito de cultura organizacional. Autores Descrição do conceito Smircich (1983) Cultura é um conjunto de valores e pressupostos básicos expressos em elementos simbólicos, que em sua capacidade de ordenar, atribuir significações, construir a identidade organizacional, tanto agem como elemento de comunicação e consenso, como ocultam e instrumentalizam as relações de dominação. Schein (1984) Padrão de suposições básicas demonstradas, inventad as, descobertas ou desenvolvidas por um dado grupo, que ensina a lidar com seus problemas externos de adaptação e internos de integração que funcionou bem o bastante para ser co nsiderado válido e, ainda, para ser ensinado aos novos membros do grupo como a forma correta de perceber, pensar e sentir em relação àqueles problemas. Fleury (1987) A cultura, concebida como um conjunto de valores e crenças compartilhados pelos membros de uma organização deve ser consistente com outras variáveis organizacionais como estrutura, tecnologia, estilo de liderança. Da consistência destes vários fatores depende o sucesso da organização. Hatch (1993) A cultura concebida por Schein (1984) seria mais vantajosa se fosse combinada com as perspectivas simbólica e interpretativa. Continua... 19 Schultz (1994) Cultura organizacional focaliza-se nas crenças, nos valores e significados usados pelos membros de uma organização para compreender como os mesmos surgem, evoluem e operam. Motta (2002) Um conjunto de representações imaginárias sociais construídas e reconstruídas nas relações cotidianas dentro da organização, que são expressas em termos de valores, normas, significados e interpretações, visando a um sentido de direção e unidade, e colocando a organização como a fonte de identidade e de reconhe cimento para seus membros. Morgan (2006) Cultura refere-se tipicamente ao padrão de desenvol vimento refletido nos sistemas sociais do conhecimento, ideologia, valores, leis e rituais cotidianos, sendo o seu conceito usado mais genericamente para significar que diferentes grupos de pessoas têm diferentes estilos de vida. Fonte: A Autora. A cultura pode ser entendida como um elemento simbó lico, nesse contexto pode variar desde uma palavra recorrente de uso comum, a um quadro exposto na parede da organização que represente a um membro da organização. Essa sim bologia pode ser codificada através de metáforas, nesse caso associadas aos sete pecados apitaisc. Esses símbolos metafóricos transmitem os valores, as crenças, as normas, os co stumes e o que forma a organização como um todo e sua representatividade perante os demais (clientes-concorrentes). 2.2.2 Elementos simbólicos Freitas (1991) argumenta que os principais elementos simbólicos que possibilitam identificar a cultura organizacional são: valores, crenças e pressupostos, ritos, rituais e cerimônias, estórias e mitos, tabus, heróis, normas e processo de comunicação. Esses elementos que identificam a cultura são repre sentados por símbolos. A abordagem simbólica é definida por Ferreira et al. (2008, p. 2) como “uma linha de estudo sobre o símbolo, ou seja, um signo que denota alguma coisa muito maior que ele mesmo e, que se associa com certas ideias conscientes e inconscientes, para que lhe seja conferido o seu significado completo e seu sentido”. Para Smircich (1983), na interpelação simbólica as organizações são modelos de discursos que necessita m ser interpretados. A forma como farse-á esse procedimento dependerá do referencial teórico que se adotará para identificar esses símbolos. Nessa perspectiva, Ferreira et al. (2008) consideram símbolo um elemento qualquer, que é usado para designar um conceito de algum outro elemento que foi significativo à organização. Nesse conjunto de elementos, encontram -se as metáforas, os logotipos, as imagens, as histórias, as ações e outros tantos de representação simbólica que traduzem a 20 cultura da organização. O simbolismo de uma organiz ação consiste em imagens que reforçam e apoiam suas ações e comunicação. Há imagens visua is: fotografias, ilustrações, gráficos não verbais, marcas, logotipos e estilo corporativo (CARRIERI, 2002). A metáfora aparece como um símbolo na vida organizacional, possível de apreensão do sentido pela linguagem. Dessa maneira, “a formaç ão discursiva é o processo de desenvolvimento e construção que, a partir de enunc iados dispersos, forma um discurso” (CARRIERI; SARAIVA, 2005, p. 110). Contudo, é preciso cautela na sua análise, tendo em vista que existe uma cultura da organização como um todo e pode aparecer outra, dentro de cada subsistema, o que necessariamente não signific a algo ruim. Pode-se pensar também que não existe uma cultura fixa e sim uma expressão cul tural dos membros da organização, a qual pode mudar com o passar do tempo ou sofrer adaptaçõ es sem perder sua coerência interna (FERREIRA et al., 2008). Para Morgan (2006) uma organização pode ter diversa s formas e funcionar com lógicas diferentes, segundo foi desenhada ou como a s pessoas geram expectativas dela. As imagens, símbolos e ideias de mundo guiam o comportamento humano. Assim, a simbologia que se faz das organizações ajudam a ter uma ideia da sua natureza e definir qual delas é a principal e determinante para conduzir a obtenção d as metas em direção ao futuro. As imagens e símbolos mostram os modelos de organizaçã o que são parte da evolução histórica do trabalho dos seres humanos. Os múltiplos enfoques pesquisados têm a intenção de incorporar conhecimentos científicos a essas atuaçõ es. Usando, de forma adaptada à metáfora da cebola de Sampaio e Fleury (2002), apresenta-se, como resumo deste capítulo, a Figura 1, a qual sistematiza os elementos simbólicos da cultura organizacional na perspectiva sistêmica. 21 Figura 1 – Os elementos simbólicos da cultura organ izacional. Fonte: Adaptado de Schein (1999). Na figura, a primeira camada que está fora (os valores), ou metaforicamente a casca da cebola, é aquela que representa a cultura da organização, e funciona como camada mais resistente que protege e identifica a organização. Já, as outras camadas dão suporte progressivamente de forma a tornar mais eficaz como as organizações estão constituídas em suas crenças, ritos, estórias, tabus, heróis, norma s e, por fim, a maneira como esses itens são apresentados, informados e disseminados no ambiente da organização. Os valores representam a conduta da organização e se relaciona m com os outros elementos simbólicos, de forma a estabelecer os propósitos da mesma. Esse s elementos simbólicos são difundidos, disseminados e aceitos de acordo com o processo de comunicação (última camada da “cebola”), sejam através de estórias, mitos e ritua is. Como descrito anteriormente, a cultura organizacional é o conjunto de valores, crenças, ritos, normas, estórias comumente aceitas, consciente ou inconscientemente, pelos membros da organização, esses se inter-relacionam f ormando a identidade da organização. 22 2.2.3 Poder e elementos simbólicos A função primordial do poder é preservar a harmonia e o equilíbrio no ambiente interno da organização. O poder organiza quando é legítimo e delimita fronteiras aprovando os processos organizacionais, ofertando-lhes prêmios pelas ações ditas como bem desempenhadas (SCHEIN, 1994), mas há diferentes tipos de poder. Para Bourdieu (2012, p.9), o poder é simbólico, “um poder de construção da realidade que tende a estabelecer uma ordem gnoseológica: os sentidos imediatos do mundo, quer dizer, uma concepção homogênea do tempo, do espaço, do número, da causa, que torna possível a concordância”. Assim, as organizações constroem “ca mpos de poder” e envolvem uma complexa compreensão do mundo, como descreve a teor ia dos campos sociais (BOURDIEU, 1996). Bertero (1968) explana que o poder é “elemento fundamental para que a face controladora da organização se manifeste, e esta fa ce nem sempre é percebida como bela ou agradável” (p.38). Nessa perspectiva, Bourdieu (2012, p.15) chama a atenção para “o que faz o poder das palavras e das palavras de ordem, poder de manter a ordem ou de subvertê-la, é a crença na legitimidade das palavras e daquele que a s pronuncia, crença cuja de produção não é a da competência das palavras”. Complementa Bourdieu (2012) que os campos simbólico s são “produzidos e, ao mesmo tempo, apropriados pelo conjunto do grupo ou, ao contrário, produzido por um corpo de especialistas e, mais precisamente, por um campo de produção e c irculação relativamente autônomo” (p. 12). Segue o autor relatando a transf ormação do mito em religião. Dessa maneira, não há possibilidade de separar da história da constituição de produtores de falas e ritos religiosos, por exemplo, da forma como estruturam os elementos simbólicos da cultura. Com o propósito de sintetizar o que definem estudio sos sobre o poder simbólico, o Quadro 2, apresenta a conceitualização de alguns au tores, que são basilares para esta pesquisa. O poder e os elementos simbólicos descrit os por Bourdieu (2012) têm uma estrutura estrurante dos pecados capitais e uma produção e re produção do social dentro da organização, pois para o autor os sistemas simbólicos são instru mentos de conhecimento e de comunicação que exercem o poder estruturado, anterior à reprodu ção social e entendido como um produto social institucionalizado. 23 Quadro 2 – O poder simbólico. Autores Poder simbólico Bourdieu (1989-2012) Os elementos simbólicos configuram campos de poder e dessa forma podem comprometer o desenvolvimento das organizações. Nesse sentido, ar te, religião e língua, elementos que compõem os sistemas simbólicos são estruturas estru turantes dos campos de poder das organizações. Dreher (2007) Poder simbólico permite descrever a constituição si mbólica das relações sociais de poder e, consequentemente, projetar um ponto de vista a partir do qual seja possível entrever a construção simbólica de ordem social nas conexões e ntre indivíduo e sociedade. Clemente e Jeunon (2012) O simbólico é um tipo de poder que se faz reconhecer para obter o reconhecimento, cuja eficácia não se exerce no plano da força física, mas sim no plano do sentido e do conhecimento. A construção do sistema de crenças e normas está ligada ao conjunto de ações simbólicas, desenvolvidas nas organizações, e às re lações de poder construídas entre seus membros. A força da imagem de uma organização está diretamente relacionada com a coerência de suas ações, discurso e atos: faz-se necessário o gerenciamento dessa relação, na busca do reconhecimento perante os seus diversos públicos. Fonte: A Autora. Assim, os pecados vistos como um poder de construçã o da realidade interna na organização podem estabelecer um universo simbólico que é uma realidade construída mediante ações, posições, valores, ritos, tabus, no rmas e crenças que envolvem e formam a cultura da organização. Por conseguinte, o sujeito dessa ação, que faz uso de marcas linguísticas, que podem ser associadas aos sete pecados capitais, fá-los por ter em seuhabitus características que identificam o seu discurso como sendo um discurso reconhecido, carregado de poder e consequentemente aceito pelos demais. 2.3 A METÁFORA ORGANIZACIONAL O caminho teórico deste capítulo passará pelo conceito de metáfora na visão clássica de Aristóteles (1983) que em seus estudos a mencion ava como integrante da retórica, chegando à análise de discurso (AD), ciência interpretativa que apoia suas concepções à historicidade do sujeito, linguagem e significado. Muitas vezes os sujeitos fazem usos de metáforas emseus discursos diários, sem serem poetas ou políticos, sem propósito de produzi r convicção e nem mesmo agregar à fala um teor estético. O ser humano, dotado de uma capacidade superior a qualquer ser, tende a fazer uso de metáforas no sentido literal, pois emdeterminadas ocasiões o literal não possui elementos suficientes para expressar certos domínios da experiência humana. A linguagem humana não possui um modo direto de compreender cer tas emoções. 24 2.3.1 O Percurso histórico do conceito de metáfora Na retórica clássica, o estudo da metáfora, tradicionalmente estava ligado ao estudo das 5 figuras de retóricas ou tropo . A metáfora, como integrante da retórica da Idade Média, preocupava-se basicamente com o decoro, tencionando proporcionar prazer estético à compreensão, concedendo à linguagem comum um aspect o poético. Era atribuída a ela a função de embelezamento da linguagem, por vezes dan do lugar a um discurso sofístico, repleto de argumentos falsos ou raciocínios defeituosos. O que se pode avaliar do conceito da palavra grega é que para Aristóteles (1983) a metáfora é o “desvio”, a substituição, é como a palavra “estranho” que se emprega no lugar de um nome. “A metáfora é a transposição do nome de outra coisa para outra; transposição do gênero para a espécie, ou de espécie para o gênero,ou de espécie para outra, por via de analogia” (ARISTÓTELES, 1983, p. 327). Numa perspectiva filosófica, Gasset (1991) entende a metáfora como um instrumento de indagação filosófica que interpreta a realidade. Segue o autor explanando que a metáfora não é somente uma transposição prazerosa e sim, pelo fato de apresentar dois sentidos, duas significações, a duplicidade gera novos conheciment os, criando um imaginário entre as coisas reais, possibilitando uma evasão da realidade. Lakoff e Johnson (1991) outorgam à metáfora outra conotação, apoiando-se, sobretudo, na especificação das metáforas estruturais. “São – nos dizem – metáforas mediantes as que vivemos” (p. 95) . O que se estabelece é uma estruturação metafórica p arcial da realidade no discurso. Nesse panorama, os autores analisam a proposição da metáfora como elemento que dispõe e ordena as partes de um t odo da realidade, uma vez que a metáfora faz parte do processo e uso de expressões para a comunicação de modo geral. A linguagem segue em um passo firme e reto quando estruturada. Ao mesmo tempo, é importante que se aponte que esse estudo apresenta algumas lacunas, pois nenhuma metáfora é suficiente para assegurar compreensão total do que se quer enunciar. Paul Ricouer (1983) preconiza que as metáforas são precisamente a superfície linguística dos símbolos. Qualquer metáfora translada um símbolo a outro, deordem distinta e, ocorre por meio do sentido transladado e figurado, consistência de conteúdo e 5 Tropo consistente na combinação de ideias para rea lçar sua percepção, geralmente por meio do contrast e ou a comparação implícita ou explícita. Tropo (figura re tórica) consiste em usar palavras com um sentido di stinto ao próprio em virtude de uma comparação tácita e su til, por meio das quais se faz que uma palavra tome um significado que não é propriamente o significado preciso dessa palavra. Os tropos ou usos figurados podem reduzir-se, em sua maioria, em duas grandes categorias: a metáfora e a metonímia (DU MARSAIS, 2004). 25 expressividade. Prossegue afirmando que o poder da metáfora de relacionar dimensões semânticas (linguísticas) e pré-semânticas da exper iência humana é devedor da bidimensionalidade do símbolo – uma de ordem linguí stica e outra de ordem não-linguística. A assertiva revela que a metáfora acontece no planoda linguagem, do discurso em si, e que vem carregada de poder simbólico, apresentand o muito mais firmeza que o próprio símbolo, pois este transita no extremo entre logos (discurso) e vida, e a metáfora na mente humana, ela é a invenção livre do discurso, no sentido de encontrar uma significação da expressividade e de efeito persuasivo, revelando com clareza a semântica da semelhança. A metáfora, para o autor é o ponto de cruzamento entro símbolo e a linguagem. Na perspectiva da análise de discurso, este estudoabordará o conceito de metáfora em Pêcheux (1997) que propõe a existência de uma relação entre metáfora e produção de sentido, constituindo, assim, o modo de significação das pal avras. As palavras não apresentam um único sentido, um único significado, pois, dependendo da formação discursiva que representam, podem significar diferentemente. Diante disso, e opondo-se à retórica aristotélica, conceitos além de desvio, substituição e transposição, Orlandi (1999), com base nos estudo de Pêcheux (1997), conceitua o sentido metafórico não mais como um desvio do sentido liter al. A autora propõe um novo paradigma em que preconiza a concepção de metáforas como deslizes ou transferências de sentidos, estando ela na base do movimento dos sentidos. Sendo que as metáforas estão inseridas nos processos cognitivos de interpretação, fato de que não há sentido sem interpretação. A análise de discurso trabalha exatamente com estefeixe de significados e, nesse eixo de trabalho, onde língua e história se correlaciona m, produzindo deslizamentos de sentido ou transferência de sentidos, dando forma de corpo noefeito metafórico. O sentido entrelaçado com o ideológico e o histórico é que determinará a interpretação e constituição do sujeito . Dessa maneira, as metáforas para análise de discurso, são estudadacomo transferência 6 estão na base da constituição do sujeito, na relaçã o língua/discurso . Para Pêcheux (1997), o sujeito é assujeitado ideologicamente, determinando que o mesmo passe a ser efeito e não causa do seu dizer. É na linguagem que o sujeito se constitui, apresentando as marcas evidentes, resultantes do processo ideológico. O su jeito, para o mesmo autor, não é livre, pois ele sempre é constituído a partir das relações e do s discursos do outro. Nessa premissa o sujeito nunca é interpelado em um “geral”, mas por um conjunto de atitudes e formas de manifestações, que não são car acterísticas de um sujeito, mas sim de um 6 Grifo da autora. 26 grupo, nem tão pouco universais , mas que estão em constantes conflitos e confrontos com as classes que representam, que se denomina formação i deológica , inserida nas formações sociais que mostram o espaço a partir do qual se determinam os sentidos de uma palavra ou texto (PÊCHEUX; FUCHS, 1997). Dentro da perspectiva epistemológica da metáfora, no universo de conceitualização, pouco foi acrescentado aos conceitos difundidos por Aristóteles (1983). Por isso cabe sustentar que, desde Aristóteles, o discurso dotado de certo estilo contribui para a ação persuasiva, tanto na poética como na retórica, e, dentre as estratégicas de uso da linguagem, aparece a metáfora, não só como recurso literário,mas como um novo caminho para o dizível, facilitando a compreensão. A metáfora deixa de ser figura emblemática, ou uma simples figura de linguagem, passando a inserir-se como elemento categórico do e no discurso. Associado a esses estudos, os sete pecados capitais, podem ser consideradas elementos simbólicos que constituem os discursos dos sujeitos nas organizações familiares. Assim, esta pesquisa, em um primeiro momento pretende examinar os discursos dos sujeitos, a fim de verificar a relação do uso de tais metáforas com sua a manifestação como sujeito integrante desse discurso, caracterizado como organizacional, pois por vezes representa-se a si e ao outro no jogo das múltiplas representações. E se como tal , nesse espaço, as metáforas por ele usadas funcionam como transferência de sentido na construção do seu dizer, mostrando a relação que existe na constituição dos processos de produção di scursiva. 2.3.2 Fundamentos para propor uma nova metáfora organizacional Morgan (2006) analisa metaforicamente as organizaçõ es em um estudo profundo e extraordinário a partir de uma perspectiva múltipla. Assim, como máquinas, os sujeitos desenvolvem um pensamento mecanicista, mostrando que se espera que a organização se comporte de forma exata, com rotinas metódicas e co m previsões. Alguns gestores, metaforicamente, pensam como máquinas e agem de acordo com um padrão exigido. Morgan (2006) também traz a metáfora cultura focadano simbólico, direcionando para aspectos imaginários, mágicos, onde os sentidopodem, a todo o instante, ser criados e recriados, e a metáfora da cultura brinda com uma nova oportunidade de ação na organização, auxiliando a compreender os sentidos das práticas rganizacionais. Para Schultz (1994), a metáfora cultura aparece justo para constituir o significado e significância que os sujeitos adotam como comportam entos explicitamente ordenados ou estabelecidos e informais. A organização é composta por sujeitos e que constantemente estão 27 se significando enquanto sujeitos, assim, dessa maneira as ações podem ser acordadas a partir das interpretações de cada um para, nessa consonânc ia, acordar seus atos. Para Motta e Caldas (2011, p. 299), a organização “ toca uma veia sensível do indivíduo, levando-o a sustentar a causa do desejo, ao mesmo tempo em que ela manobra os signos de uma busca sem fim”. Assim participa de al gumas realizações de seus colaboradores. Ela pode ter um plano de gratificações e recompensa s que vão estimular o desejo de querer sempre mais. Isso, muitas vezes, move a organização para o alcance de suas metas, mas não pode, sobremaneira alguma, prevalecer aos princípios de ética e valores estipulados, sendo única forma de realização pessoal e profissional (M OTTA; CALDAS, 2011). A partir da exposição teórica sobre os sistemas sim bólicos da cultura organizacional, não há mais espaços para ações individuais e simpli stas, onde poucos participam e outros tantos não cooperam no constante processo de adapta ção às situações de mudanças e desenvolvimento pessoal, interpessoal e coletivo, assim como o desenvolvimento tecnológico e regional onde a organização está inserida. As organizações são entidades vivas (MORGAN, 2006) e em constantes transformações e adaptações, mas isso depende de como estão envolvidos e interagem os sujeitos que delas participam. Aprender a lidar com a complexidade de imagens e simbologias da organizaçã o, é o grande desafio dos atores envolvidos com ela e nela. Na Figura 2 apresentam-se os aspectos conceituais de metáfora para a proposta de construção da nova metáfora no ambiente organizacional. 28 Figura 2 – Proposta para construção de nova metáfor a organizacional Administração Todo o processo metafórico apresenta um procedimento comparativo, gerando uma busca automática no sistema de conhecimento do ser humano, algo inerente e próprio da espécie, que deseja atribuir uma semelhança entre A e B, que viabilize a metáfora (MORGAN, 2005). Linguística Transferência de Sentido A metáfora está inserida no movimento que as palavras fazem estabelecendo sentidos, nessa transferência de significação que o discurso propõe constantemente (PÊCHEUX,1997). Metáfora organizacional Uma nova metáfora Os Sete Pecados Capitais As metáforas estão relacionadas com os sistemas simbólicos da cultura no ambiente organizacional e são usadas para entender os processos organizacionais Fonte: Elaborada pela autora O poder simbólico, por meio da análise metafórica dos sete pecados capitais no âmbito organizacional, realiza um processo comparativo que é usado para compreender as ações organizacionais. Assim, para Clemente e Jeunon (2012, p. 63), “os si stemas simbólicos variam de acordo com a sua produção e são apropriados, ao mes mo tempo pelo conjunto do grupo”. De acordo com Bourdieu (2012), pessoas especializadas impõem suas ideologias, respeitando suas condições sociais de produção e de circulação. Nesse contexto, o poder simbólico é o 29 poder de construção da realidade pelos sujeitos que dá sentido ao mundo, fazendo com que poder e saber sejam articulados no discurso, mas como uma multiplicidade de elementos argumentativos. O discurso pode ser instrumento e efeito de poder, mas também um ponto de partida para o desenvolvimento de uma estratégia oposta. O discurso carrega e produz poder, diz Foucault (2009), ao mesmo tempo em que expõe e fornece limites. São as palavras, os discursos, que dão consistência ao poder simbólico. 2.4 OS SETE PECADOS CAPITAIS: um novo olhar sobre a cultura organizacional A cultura organizacional produziu diferentes metáforas para interpretação dos sistemas simbólicos das organizações, contudo, os sete pecad os capitais ainda não foram contemplados. A seguir, inicia-se o estudo contextualizando sua origem e conceito. Em uma criteriosa nos principais periódicos da área, pode-se afirmar que não há publicação específica sobre o tema “os sete pecados capitais como metáfora organizacional”. Alguns estudos tratam da temática, mas não relacionado à abordagem metafórica dos pecados capitais sob esta óptica, tampouco a relacionando c om representações simbólicas na análise da cultura organizacional de empresas familiares. 2.4.1 Origem e Conceitos O pecado, a Bíblia já o conceituou, Padre Gregório Magno, no século VI, classificou-o. A Igreja Católica reformulou no século XX, mas etimologicamente pecado significa errar o alvo. Pode-se entendê-lo, atendo-se ao significadoda palavra, como equivoção, promoção de situações que levam ao desgaste físico e mental do ser humano (TOMLIN, 2008). O mesmo autor explana sobre a gênese do pecado dizendo que teve origem como forma de lembrar alguns modos e padrões de comporta mentos que se manifestava em épocas passadas. Não há registro de onde veio à lista, mas Tomlin (2008) declara que a lista foi definida por Evágio do Ponto, monge grego, no século IV. Mais tarde, o papa Gregório reduziu a lista para sete pecados e, assim permaneceram até os dias de hoje. Leite (2002), expressa seu conceito de pecado como sendo exposição de um processo interior, tendo como base principal as atitudes e os comportamentos além do comum que uma pessoa possa conter de forma exagerada e/ou desordenada. Complementariamente, os pecados podem ser consequências de desequilíbrios entre aquilo que se tem propriamente com aquilo que se gostaria de ter. 30 De acordo com Savater (2006), os pecados são consid erados capitais quando dão origem a outros vícios. A respeito, São Tomás (apud COSTA; SILVA, 2007) descreveu vício capital como sendo aquele que tem um objetivo desejável, forte, que, ao tê-lo, as pessoas cometem os pecados. Assim, os pecados têm início novício que foi sua origem principal. 2.4.2 Categorização dos Sete Pecados Capitais Este estudo não quer abordar o pecado original de A dão e Eva, nem do pecado congênito, que se herdou, segundo a doutrina da Igreja, depois de Adão, nem mesmo do pecado venial, onde os seres humanos estão salvos e perdoados pela vinda de Jesus. Tampouco estudará as virtudes, que são consideradas aquelas que se opõem aos pecados capitais. Não tem como objetivo tratar do perdão, c omo forma de solução dessas ações. Propõe-se a discutir os pecados de forma metafórica dentro das organizações, trazendo à luz as ações que se assemelham aos pecados originariame nte classificados em: luxúria, gula, avareza, ira, soberba, inveja e preguiça. A fim de categorizar de forma sistemática, apresent-se o quadro resumo dos sete pecados capitais, com base nos autores que servirão de suporte teórico da pesquisa. Quadro 3 – Os sete pecados capitais. Categoria Conceito Luxúria Está associada a excessos, ao luxo e consum exagerado de coisas e pessoas. Ira É um estado emocional que varia em intensidade, pas sando de uma leve irritação à fúria e à raiva intensa. Autor Leite (2002) Tomlin (2008) Soberba Desejo de colocar-se acima dos demais. Torna-se negativo quando o sujeito não admite que ninguém em nenhum campo fique acima dele. Savater (2006) Avareza O sujeito tem medo de perder o que já adquiriu no decorrer da vida, guarda tudo, raramente aproveita o que possui. Encontra afeto em coisas materiais. Leite (2002) Gula Transforma-se em pecado quando ofende o direito e as expectativas do outro ao comer aquilo que é dos demais, ao tomar conta de tudo e deixá-los com pouco ou nada. Savater (2006) Preguiça Evidencia que as pessoas não necessitam aprender na da o que as leva a um comportamento “limitador de ideias e ações no cotid iano e traduzido pelo deixa para depois” (p. 6). Costa e Silva (2007) Inveja É o desejo por atributos e coisas de outro. Sua car acterística típica é a comparação desfavorável do status de uma pessoa em relação à outra. Fonte: A Autora. Herkenhoff (2007) 31 Os pecados capitais, no imaginário popular, apresentam-se como ações consideradas moralmente reprováveis. Dito de outra maneira, o pecado aparece como uma ação maléfica do sujeito para e entre os sujeitos, ocasionando problemas de ordem de relacionamento interpessoal e intrapessoal, freando o desenvolvimento pessoal e impossibilitando o alcance de objetivos, causando desequilíbrio. Se analisados de forma positiva e sensata, podem ser aliados nas buscas por persecução e atingimento de metas dentro e fora do ambiente organizacional. 2.5 OS SETE PECADOS CAPITAIS COMO METÁFORA ORGANIZA CIONAL A discussão dos pecados capitais no ambiente organi zacional se dá com o desenvolvimento organizacional pela dimensão cultur al, a qual tem sido apontada como uma temática contemporânea em razão da complexidade da gestão decorrente das transformações e adaptações no ambiente empresarial. Desse modo, tra nsformar a cultura organizacional é entender os elementos que compõem o D.O. Desde os questionamentos formulados por Foucault (2009) na década de 1970, sobre as certezas científicas, a forma como se compreende organizações se transformou, até mesmo as teorias organizacionais apresentaram rupturas. Contudo, permanece nos estudos de Bourdieu (2012) que os elementos simbólicos configu ram campos de poder e, dessa forma, podem comprometer o desenvolvimento das organizaçõe s. Neste processo de desenvolvimento organizacional, énecessário ter presente que uma das formas de mudar as organizações é pela mudança de sua cultura, isto é, mudar os sistemas de vida, de crenças de valores e de formas aceitas de relações entre as pessoas. As mudanças organizacionais dizem respeito às capacidades de ad aptação das organizações e às diferentes transformações/aprendizagens que sofre o ambiente i nterno e externo. Os sujeitos dessas mudanças assumem um novo comportamento organizacion al. De acordo com Berger e Luckmann (2002), os universos simbólicos constituem um dos níveis de legitimação, ou seja, trata-se de uma objetivação de sentido que produz novos significados. Nesse sentido, argumenta Fleury (1987), integram um conjunto de significados consistentes às institucionalizações já justificada s e legitimadas. Para Bourdieu (2012), habitus é um sistema de disposições duradouras, funcionand o como esquemas de classificação para orientar avalia ções, percepções e ações dos indivíduos. Apresentam-se como estruturas estruturadas e estruturantes, pois envolve o processo pelo qual os indivíduos internalizam o social e porque funciona como um princípio gerador e 32 estruturante de práticas culturais e representações. Campo, para o autor se constitui como o local determinado onde figuram as crenças, os mitos , as estórias e as demais características que representam um grupo de sujeitos. Esses sujeitos atuam de forma a preservar essas características simbólicas que identificam o grupo e agrupam-se de acordo com as suas intenções e igualdades (BOURDIEU, 2012). Morgan (2006) utiliza-se de algumas metáforas para se referir à organização. A organização como máquina, organismos, cérebro, cultura, política, prisões psíquicas, fluxo e transformação e instrumentos de dominação. Depende ndo da imagem que se tenha tido da organização, há uma estrutura diferente, e, sobretudo, a imagem de pessoa e das relações entre elas são diferentes. As metáforas estão relacionadas com o sentido comum, um conhecimento óbvio para todos, normalmente limitado por domínios de saberes vinculados aos processos de socialização do sujeito, sendo evidente a influência de ideias passadas no decorrer de gerações, crenças e costumes. Assim, Morgan (2006) analisa metaforicamente as organizaçõ es em um estudo profundo e extraordinário desde uma perspectiva múltipla, como exemplo de máquinas, e como tal, são assim desenhadas e funcionam como máquinas, desenvolvendo um pensamento mecanicista, mostrando que se espera que a organização se comporte de forma exata, com rotin as, metódica e com previsões. Os administradores pensam como máquinas, agindo de acordo com um padrão exigido. Transformam as organizações em burocratas. Como organismos, as org anizações são metaforizadas como seres vivos, que pertencem a um ambiente do qual necessitam algumas coisas para sua satisfação. Isso demonstra que algumas organizações estão mais bem adaptadas q ue outras a condições específicas que o ambiente oferece. A metáfora do cérebro evidencia ueq há necessidade de que pessoas nas organizações sirvam de referência para restante do grupo, passando a controlar e integrar atividades organizacionais, metaforizando o cérebro, o que pensa. São organizações como cérebros que processam informações que precisam ser flexíveis e inovadoras. Já a cultura, identificada pelo modo como as pessoas se organizam forma parte de um fenô meno cultural que varia segundo o desenvolvimento da sociedade. O fator cultural forma a imagem da organização com base em seus valores e crenças. Da metáfora política pode-se evidenciar que as organizações estão rodeadas de negociações, com estas se busca alcançar interesses próprios e individuais, com formas políticas de negociar. As atividades organizacionais são baseada s em interesses dando espaço também para os jogos de poder e conflitos que moldam a organização . As prisões psíquicas remetem a ideia de que os seres humanos muitas vezes ficam presos às criações , culturas, processos inconscientes e conscientes, esses sendo influenciados por imagens, ideias, pensamentos e ações, resultando em armadilhas que impedem o desenvolvimento. O autor compara ao fluxo de mudança e transformação à organização porque suas ações são direcionadas para mudanças de seu entorno. E, por fim as organizações 33 metaforizadas como instrumento de dominação, que sã o associadas ao processo de dominação social, onde os indivíduos ou grupos impõe sua vontade aos demais. A face repugnante da organização. A proposta de Morgan (2006) traz à tona o debate de que esta analogia possibilita averiguar e analisar os pontos fortes e fracos de cada ação est ratégica que são implementadas na organização. Elas podem ser muitas ao mesmo tempo. Enquanto máquina pode-se pensar no fato de que a organização precisa utilizar-se de regras, seguindo-as para atingir a alta produção e lucratividade. Nesse process o estão os gestores, líderes, gerentes e colaboradore s que pensam a melhor forma de atingir isso, mediante algumas negociações e pensamento voltados para seu ambiente interno e externo, focados na interação e transformação constante. Esses devem se r organizados por departamentos eficientes e eficazes que lhes estimule a desenvolver criatividades e inovação, sem receio de amarras e bloqueios, sem nunca desfazer-se de uma cultura integradora, empreendedora, transformadora e humana, onde todos possam participar e interatuar em grupos coesos, comprometidos e motivados, que a ideologia de cada um seja respeitada na intenção de se alcanç ar os objetivos propostos pela organização. Os sete pecados capitais podem estruturar os elementos simbólicos que representam a cultura da organização, sejam em forma de regras, n ormas, crenças e rotinas que oferecem suporte e direção às atitudes dos sujeitos, podendo ser considerados, no conjunto, uma metáfora organizacional. Os pecados poderiam ser transferidos simbolicamente às ações humanas, tanto pessoais como profissionais e sua identificação pela linguagem revelariam elemento da cultura. A metáfora surge no ambiente organizacional reconhecida pela e por meio da linguagem empregada pelos sujeitos que fazem parte do grupo. Essa linguagem é parte integrante da cultura da organização e nela existem subsistemas que podem interpretar essa linguagem das mais diversas formas, originando outras metáforas. 3 METODOLOGIA A investigação científica depende de um conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos para que seus objetivos sejam atendidos. Nesse capítulo, serão abordados os aspectos metodológicos referentes ao estudo empírico, bem co mo a classificação da pesquisa, os objetos e sujeitos da pesquisa, os métodos e técnicas adotadas no processo de coleta e análise dos dados. 3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA O presente estudo configura-se numa pesquisa exploratória e descritiva (GIL, 1995) com abordagem qualitativa dos dados (MINAYO et al., 2010) e configura-se como um estudo de casos múltiplos (YIN, 2001) orientado pelo paradigma interpretativista (MORGAN, 2005). Para Morgan (2005), o paradigma interpretativista aparece no mundo social com um status ontológico e de duplo significado, seria dizer que por vezes pode ser interpretado subjetivamente e, por outras, por meio de observaçõ es de ações intersubjetivas dos sujeitos. Em razão de que o estudo buscou a compreensão das a ções sociais pela óptica dos sujeitos, enquadra-se no paradigma interpretativista, que se inicia pela observação do ambiente, para com base no objeto de investigação e as ações dos s ujeitos possa dar-se início as análises, que partem da descrição da cultura da organização e as representações simbólicas de poder. Éuma pesquisa exploratória porque envolve uma prim eira aproximação com o campo e objeto de investigação para conhecer os sujeitos. A pesquisa exploratória possui a finalidade de desenvolver, aclarar e mudar conceitos e ideias, com vista à formulação de problemas mais precisos (GIL, 1995). Mas também é uma pesquisa descritiva, porque descreve a cultura organizacional e o poder simbólico que estruturam a s ações desses indivíduos. Por pesquisa descritiva entende-se o processo de descrever um determinado fato, população e ações que estão relacionados (SILVA; MENEZES, 2000). Éimportante ter bem claro que, um texto, apesar de ter começo, meio e fim, para AD não é uma unidade fechada em si, cada sujeito faz a sua interpretação a partir da leitura e com 35 sua carga simbólica. Essa pesquisa também é um texto aberto, que está sujeita a várias interpretações. A abordagem dos dados é qualitativa em razão de trabalhar-se com o discurso do sujeito e os elementos simbólicos. Para Minayo et a l. (2010) o método qualitativo verifica uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito , ou seja, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser interpretado por números. Assim, pois, trata-se de uma realidade na qual os seres humanos inseridos em uma formação e configuração social específica são os agentes que d ão vida e forma a essa realidade. Para dar conta dessa complexidade do fenômeno organ izacional, optou-se pelo método de estudo de casos múltiplos. De acordo com Yin (2001), esse método investiga algo novo dentro de uma realidade quando não há limites claros entre o que e o onde acontece a ação. Assim, a análise dos dados foi orientada pela análise do discurso (AD), pois com essa técnica faz-se uso das marcas ou pistas presentes no discurso do sujeito, no instante de sua materialização linguística, como recomenda Orlandi (1999). Nesse contexto analítico, para a AD, fazem-se prementes alguns elementos que constituem o conjunto de princípios metodológicos, como o interdiscurso, a formação ima ginária e a metáfora. Nesse estudo o princípio adotado como base foi à metáfora, não como figura de linguagem, mas sim como transposição de sentidos. 3.2 OBJETOS DE ESTUDO Os objetos de estudo desta pesquisa são cinco empre sas familiares, caracterizadas pelo critério de propriedade e gestão. Sendo assim, são consideradas empresas familiares aquelas em que os gestores são membros da família proprietária (GRZYBOVSKI, 2002). O principal motivo de escolherem-se cinco organizações se deu p ela possibilidade de se explorar realidades de distintos contextos organizacionais. A seleção dos casos deu-se pela heterogeneidade em termos de porte. Na definição do porte consideraram-se os critérios adotados pelo IBGE que é o número de empregados. Assim, para indústria são consideradas: (a) microempresas as que possuem até 19 empregados; (b) pequena empresa aquela que possui de 20 a 99 empregados; (c) empresa de médio porte aquela que possui de 100 a 499 empregados; (d) grande empresa aquela com mais de 500 empregados. No comércio e serviços o critério para determinar o porte é o seguinte: (a) microempresa, aquela que possui até 9empregados; (b) pequena empresa de 10 a 49 empregados; (c) média empresa, de 50 a 99 empregados; (d) grande empresa, aquela com 36 mais de 100 empregados. Quanto ao ramo de atividade, a classificação deu-se acordo com o CNAE (IBGE, 2013). Os casos selecionados para o estudo foram os seguintes: (1º) uma empresa de pequeno porte, do ramo de comércio varejista de alimentos; (2º) uma empresa de pequeno porte, do ramo de comércio de confecções; (3º) uma empresa de médio porte prestadora de serviços na área de conservação e limpeza; (4º) uma empresa de grande porte, do ramo de indústria de transformação de óleos vegetais; (5º) uma empresa d e grande porte que atua no ramo de fabricação de implementos agrícolas. A coleta de dados foi realizada nas cidades de Santo Ângelo, Guarani das Missões e Ijuí, no Rio Grande do Sul, nos meses de setembro a novembro de 2013. 3.3 SUJEITOS DA PESQUISA Para o estudo, os sujeitos da pesquisa são os stakeholders internos das organizações selecionadas. Especificamente definem-se os mesmos em três categorias, pelo nível hierárquico: Nível gerencial – diretores, gerentes e proprietários que atuam na empresa; Nível intermediário – chefes e encarregados Nível operacional – operadores de máquina, secretárias, copeiras, atendentes, auxiliares de serviços gerais, auxiliares de produç ão, outros. Para essa pesquisa foram selecionados somente os colaboradores do nível intermediário e operacional (caixas, empacotadores,operadores de máquinas, auxiliares de produção, secretárias, outros), os quais são categorizados como “sujeitos” e identificados com a letra “S” e um número de ordem (S1, S2, S3... Sn) de forma a evitar a identificação. Foram entregues 249 questionários em cinco empresas de diferentes ramos de atividades e porte, as quais são identificadas como “casos” (Caso Um, Caso Dois,... Caso Cinco). Inicialmente os sujeitos receberam esclarecimentos sobre o estudo com vistas a decidirem participar ou não do estudo. Alguns prefe riram não participar e as explicações foram as mais diversas, mas a que mais se sobressaiu foi o fato de terem pouco tempo de trabalho na empresa e, por sentirem-se com receio de serem “prejudicados”. Os participantes do estudo, segmentados por empresas, estão apresent ados na Tabela 1. 37 Tabela 1 – Número de sujeitos participantes do estudo. Porte Total de Empregados Caso Um Pequena 10 Caso Dois Pequena 6 Caso Três Caso Quatro Média Média 109 Caso Cinco Grande Empresas TOTAL Fonte: A autora. Unidade produtiva analisada 10 6 Sujeitos participantes Sujeitos Não Participantes 8 2 6 0 103 22 28 8 75 530 100 12 88 892 249 76 173 7 237 30 Nas duas grandes empresas em que se tentou buscar o maior número de respondentes, observou-se que poder hierárquico e o medo dos empregados foram determinantes na decisão em não participar do estudo. Tais imperativos no co mportamento individual estão instaurados nesses ambientes e que de certa maneira tem sido utilizado como um mecanismo de controle e domínio subjetivo na organização. 3.4 COLETA DE DADOS Os dados dos sujeitos foram coletados por meio de questionário (Apêndice A), o qual continha perguntas abertas e fechadas. O corpus discursivo está constituído por recortes discursivos, configurados por sequências discursiva produzidas nos discursos dos sujeitos em análise, classificados e agrupados de acordo com asperguntas do questionário. A coleta do corpus empírico para a análise deu-se em etapas. Em um primeiro momento fez-se contato pessoal com os gerentes das organizações, apresentando-lhes a intenção da pesquisa, o objetivo do estudo e sua im portância. Após autorização do responsável, iniciou-se o processo de coleta dos dados com os empregados. Inicialmente realizou-se uma reunião com todos na empresa a fim de explicar-lhes a sistemática do estudo, possibilitando a cada participante conhecer os objetivos da pesquisa e que aclarassem toda e qualquer dúvida sobre processo de desenvolvimento da mesma com vistas a decidir, voluntariamente, participar ou não do estudo. Nem t odos puderam estar presentes nessa etapa. Em um segundo momento deu-se a observação do ambiente. O método de levantamento de dados foi transversal, ou seja, por um período específico de tempo. Depois, em uma terceira etapa, foram aplicados os questionários, valendo-es de mais de três encontros entre a pesquisadora e os sujeitos da pesquisa. 7 Essa empresa tem 109 colaboradores. Estes prestam serviço em várias cidades da região. Optaram-se somente pelos colaboradores que atuam na cidade de Santo Ân gelo, que são 30 em sua totalidade. 38 A partir desse momento iniciou-se a observação dos discursos, com base na AD (PECHEUX, 1997), buscando encontrar neles sua discursividade, construindo um objeto discursivo que desfaz a ilusão de que aquilo que fo i dito só poderia ser dito daquela maneira. Em seguida, na quarta etapa relacionou-se o discurso com as formações discursivas diferentes, que representam o que pode e deve ser dito, a partir de uma posição específica em uma situação específica que determina o que pode e deve ser dito, desde cada posição, em uma conjuntura específica, e estas FDs, por conseguinte, são relacionados com a formação ideológica de cada sujeito para entender como se co nstituem os sentidos no seu dizer, buscando identificar se há ou não o uso de metáforas pelos sujeitos da pesquisa. Em um quinto momento, de posse dos questionários respondidos etodo o processo que a AD percorre em um primeiro instante, os dados foram analisados. Definidos os processos de constituição da construção dos princíp ios analíticos, a partir das SDs devidamente recortadas do corpus empírico e do embasamento teórico sobre metáforas, cultura e pecados capitais, retomando os objetivos determinados anteriormente que descrever e analisar os sistemas simbólicos presentes na cult ura das organizações familiares pela perspectiva dos sete pecados fez-se a análise das equências discursivas. Assim, e em concordância ao exposto, são dispostos, a seguir, os resultados obtidos através dos questionários, seguidos de uma discussão acerca da especificidade da percepção de cada sujeito respondente, e da manifestação e/ou confrontação do fenômeno entre os indivíduos que espelham a representação dos colabor adores das empresas pesquisadas. 3.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Orientando-se pela abordagem qualitativa dos dados, optou-se pelo método análise do discurso (AD), por entender que o corpus discursivo está constituído por recortes discursivos, configurados por sequências discursivas (SD) produzidas nos discursos dos sujeitos. As marcas ou pistas presentes em um discurso, no instante de sua materialização linguística revela o entrelaçamento de sujeito e sentido na lin guagem, os quais não são determinadas mecânica e empiricamente (ORLANDI, 1999). A exemplo tem-se a significação dos parênteses como marca ou pista para encontrar os deslizes de sentido. Tal opção metodológica de análise dos dados permite desvelar as metáforas no discurso dos sujeitos e encontra respaldo em Fiad e Barros (2003, p. 19) que afirmam: “ler o que está entre parênteses significa, no mais das vez s, ler a posição do autor do texto, seus 39 comentários, julgamentos, questões que, no geral, são decisivas para a constituição da coerência do texto em termos textuais-discursivos”. Segundo Lagazzi (1998, p. 61), “a partir das marcas linguísticas que se sobressaem, configurando as pistas para a análise, é que começaa se delinear o caminho que levará o analista ao processo discursivo, possibilitando-lhe explicar o funcionamento do discurso”. As marcas linguísticas são traços ou pistas dos proces sos discursivos, as quais podem ser negações, aspeamentos, imperativos, adjetivos e loc uções adjetivas, advérbios, figuras de linguagem, palavras recorrentes, antíteses, parábolas e metáforas. No contexto analítico, para a análise de discurso, fazem-se prementes alguns elementos que constituem um conjunto de princípios metodológicos. Esses princípios se iniciam pelo universo discursivo, que é o conjunto de todos os discursos, nessa pesquisa os questionários. De posse dos discursos, no segundo momento, faz-se a identificação do campo discursivo, ou seja, a área que se insere o discurso. Em seguida, estabeleceu-se o espaço discurso, ou o subconjunto do discurso, que é o corpus empírico. A partir dos espaços discursivos têm-se as sequências discursivas, queãos os recortes discursivos. Identificadas as marcas e pistas nos discursos é que se principiou aanálise dos deslizes de sentidos que podem se dar por meio de aspas, advérbios, conectores, pronomes, metáforas e etc. É preciso, num primeiro momento, ao se iniciar a análise, que o analista siga esses princípios, que possibilitarão a construção de um dispositivo analí tico. Esse tipo de construção na análise é que estabelece que não haja uma metodologia pré-estabelecida, diferindo-se das demais teorias (LAGAZZI, 1998). Assim, partindo do universo discursivo, que representa o conjunto de discursos, o texto (unidade de análise) que “é formado pelo conjunto de formações discursivas de todos os tipos que coexistem, que interagem em uma dada conjuntura” (MAINGUENEAU, 1997, p. 117), determinar-se-á ocampo discursivo, ou seja, a área de estudo em que se insere esse discurso (ORLANDI, 1999). Por campo discursivo entende-se “um conjunto de formações discursivas que se encontram em relação de concorrência, em sentido amplo, e se delimitam, pois, por uma posição enunciativa em uma dada regiã o” (MAINGUENEAU, 1997, p. 117). Estabelecidos o universo e campo discursivos, para dar sequência à construção do dispositivo de análise, o analista do discurso pass a determinar o espaço discursivo que, em verdade, é a representação do subconjunto do campo discursivo constituído em seu interior de formações discursivas, no qual explicitarão os proc essos de análise. Na fase seguinte, a do espaço discursivo, que se desenvolvem as análises dos discursos, objeto de pesquisa. É 40 importante delimitar este subconjunto, que servirá de corpus empírico e porque seria impossível de fazer-se análise de todo o campo discursivo. Nas palavras de Maingeneau (1997), o espaço discurs ivo é definido: a partir da decisão do analista, em função de seus objetivos de pesquisa. Não é por simples comodidade que determinados subconjuntos sã o recortados (porque seria difícil apreender um campo discursivo em sua totalidade), mas também e, sobretudo porque uma formação discursiva dada não se opõe de forma semelhante a todas as outras que partilham seu campo (p. 117). Constituídos estes elementos do dispositivo de análise, obedecendo aos critérios analíticos, o próximo passo será identificar as sequências discursivas que formam o campo discursivo e que são as unidades de um todo chamado de corpus empírico. As sequências discursivas (SDs) são exatamente aquelas unidades discursivas, os recortes, que serão submetidos à análise. Aqui convém citar Orlandi (1999), que entende unidade discursiva como sendo os “fragmentos correl acionados de linguagem – e – situação. Assim, um recorte é um fragmento da situação discursiva” (ORLANDI, 1999, p. 14.). As SDs devem estabelecer consonância com os objetivos pré-determinados na pesquisa e temática proposta, dentro de um plano de determinações das c ondições de produção do discurso. Dentro desse campo discursivo e a partir da delimitação das sequências discursivas recortadas do corpus empírico presentes nas respostas nos questionários,principia-se a análise. Na Figura 3 apresentam-se os passos para análise douniverso discursivo. 41 Figura 3 – Princípios metodológicos para análise do universo discursivo. Formação discursiva Formação discursiva Formação discursiva Formação Sequência discursiva discursiva (SD) Formação discursiva Formação discursiva Universo discursivo Fonte: A Autora. O tratamento dos dados foi realizado pela análise dodiscurso, que parte do princípio de que é no discurso que se estabelece a relação entre língua e ideologia, e que este processo produz sentido por sujeitos e para sujeitos, a partir de determinações sócio-históricas, e que intenciona analisar as metáforas dos sete pecados apitais,c mostrando a relação estreita do sujeito com sua manifestação no discurso. A análise do discurso explora os sentidos das palavras nos discursos, explorando as condições de uso e a singularidade da linguagem, sem deixar de tentar construir generalizações (ORLANDI, 1999). A produção de sentidos se dá por meio do histórico, da prática social, aqui estabelecido não como tempo cronológico, mas como d iscursividade. Dessa forma, a análise do discurso trata sempre do que estão por detrás das palavras, os não ditos, os deslizes de sentido, ou seja, a forma que o sujeito tem de significar e significar-se. Assim, discurso é uma palavra em movimento, que permite observar o homem falando (ORLANDI, 1999). Na análise de discurso, os sentidos se fixam e se onsolidamc por meio do discurso, do lugar social que cada indivíduo ocupa dentro de suas representações comum a formação discursiva própria. O dizer está intrincado e ligado aum momentohistórico-socialea lugares determinados dentro de um processo estrutural social (ORLANDI, 1999). Godoi (2006) argumenta que texto e discurso apresentam estruturas linguísticas diferentes, e, como tal, carecem de análises distintas, para assim compreender o objeto de 42 estudo e o modo de funcionamento da análise socialdo discurso. Assim, a análise de discurso tem por necessidade uma busca mais aprofundada daquilo que os sujeitos sentem e vivem e o que pode ser manifestado em seus discursos. No ambiente organizacional, não há um interesse pelo texto, nem pela estrutura subjacente do texto, mas pela função cognitiva e social que o discurso produz (GODOI, 2006). Para a análise de discursos, os discursos compreendem o resultado habitual das ações de institucionalização e as práticas discursivas que representam. Para fins de ilustração do percurso analítico, a Fi gura 4 apresenta o desenho da pesquisa. Figura 4 – Desenho de investigação Descrever e analisar os sistemas simbólicos present es na cultura das organizações familiares pela perspectiva dos sete p ecados capital. Metáfora organizacional Os sete pecados capitais Elementos simbólicos da Cultura Organizacional Estruturas dos sistemas simbólicos da Cultura Organizacional que representam os 7 pecados Os sete pecados como metáfora organizacional Poder simbólico Nova metáfora organizacional Pesquisa: interpretativista, exploratória, descritiva qualitativa multicasos Fonte: elaborado pela autora empresas familiares entrevistas e questionários Análise de discurso 4 APRESENTAÇÃO DOS CASOS No presente capítulo apresentam-se os casos e faz-se a análise das sequências discursivas recortadas dos questionários. As questões integrantes daquele instrumento de pesquisa são analisadas, a seguir, conforme os eixo s de investigação propostos, quais sejam: (a) dados de identificação; (b) relações de trabalh o; e (c) os pecados no ambiente organizacional. 4.1 CASO UM 4.1.1 Apresentação do caso O mercado Super Lar, nome fantasia, é uma empresa familiar, fundada em abril de 1998, com estrutura jurídica de sociedade limitada e tributação pelo regime simplificado (microempresa). A empresa iniciou suas atividades com nome empresarial de LB4, que foi escolhido por representar a inicial dos sobrenomes dos primeiros sócios e, por ser uma empresa constituída por quatro pessoas, dois casais e dois irmãos. Atualmente somente são sócios os cunhados; os demais familiares (o sobrinh o e as irmãs) são funcionários. Está estabelecida na cidade de Santo Ângelo e tem como a tividade principal o comércio de alimentos e bebidas em geral e demais itens relacionados à higiene do lar. Quanto aos papéis dos sócios na empresa, constata-se que há uma segregação de gênero. Um dos homens coordena as atividades do açougue e da padaria, o outro é responsável pela fruteira. As mulheres exercem as unçõesf de caixas do mercado, atendimento ao cliente, compradoras e realizam atividades financeiras (pagamentos, depósitos, etc.). No que se refere à missão, há explicitado o desejo de proporcionar aos clientes um atendimento de qualidade, passando a certeza ao cliente que é tem o melhor produto, preço e atendimento da cidade. A estrutura organizacional e física revela práticasde gestão típicas de empresa familiar (GRZYBOVSKI et al. 2012). Durante a análise do ambiente, por várias vezes os colaboradores interromperam o proprietário, no qual me acompanhava, para pedir informações sobre preços ou para tirar dúvidas. Fic ou demonstrado que a relação da gerência 44 com seu grupo de colaboradores parece ser harmônica , transparente e informal. Não há uma sala reservada para tratar de negócios, compras, as suntos particulares e temas diversos, tudo é feito ali mesmo no corredor do mercado, configurando relações informais. Nesse ambiente todos têm acesso, colaboradores e clientes, evidenciando o aspecto bem familiar, onde lhes é servido chimarrão e algo de comer, alguns leem o jo rnal diário, outros tantos “jogam conversa fora”, contam as notícias da cidade e do bairro. Es sa é marca da organização no bairro. A empresa possui uma carteira de aproximadamente 230 clientes que se utilizam do crédito da loja, mas também há clientes que pagamomc outras formas de pagamentos e que não constam em nenhum cadastro da empresa. O espaço físico interno, onde funciona o mercado, é amplo, com paredes de cores vermelho e bege, os quais transmitem a ideia de energia, simbolizando sangue e o coração humano. Po ssibilita que os colaboradores e clientes circulem com facilidade. Na entrada, à direita, est á à recepção com a mesa do gerente SE. Ao fundo está a padaria, o açougue e a fruteira. No andar de baixo está localizado o estoque e um pequeno espaço que serve para guardar pertences dos colaboradores e outro onde eles podem fazer lanche. 4.1.2 Perfil dos respondentes No ambiente interno atuam dez colaboradores, sendo quatro mulheres e seis homens, os quais estão na faixa etária de 20 a 47 anos, mais os dois proprietários totalizando doze pessoas. Nenhum dos colaboradores possui relação fa miliar com os proprietários da empresa . Os funcionários respondentes, quanto ao grau de instrução, a maioria, ou seja, sete colaboradores possuem o Ensino Fundamental, enquanto que dois colaboradores tem o ensino médio e um está cursando o ensino superior. Quantoà situação marital, os participantes da pesquisa dividem-se entre quatro casados, quatro com união estável e dois solteiros. E, quanto ao tempo de atuação na empresa, oito sujeitos estão na empresa a mais de cinco anos e dois estão a menos de um ano. 4.1.3 Análise dos dados Os pecados capitais apresentam-se com frequência nocotidiano organizacional. Os respondentes revelam que luxúria, ira, preguiça e soberba são pecados mais comuns no comportamento organizacional, como se pode observar nas sequencias discursivas: “soberba, gula, preguiça e inveja,” [SD2], “inveja e soberba” [SD3], “inveja” [SD4], “soberba” [SD5]. 45 Alguns pecados podem estar associados à tensão que passam os colaboradores, a não resolução de alguns problemas e a carga emocional q ue recebem no exercício de suas funções, os quais provocam ira e talvez gerem outros sentimentos negativos, como a preguiça. A preguiça está relacionada ao não cumprimento das responsabilidades e fica evidenciado na crença de que não há necessidade e esforço extra pa ra atingir os objetivos organizacionais. Assim, para S5 os pecados capitais aparecem no ambiente organizacional: “quando um colega falta o trabalho” [SD6], evidenciando que faltar ao trabalho é punição. O pecado está 8 associado à falta , ao não vir trabalhar e indica um deslize de senti do metafórico para o pecado da preguiça, com o comprometimento daquele q ue não vem ao seu trabalho, que não cumpre com suas obrigações. Já para S5 ser responsável é não cometer pecados, como faltar ao trabalho. Entende-se que aqueles colegas que faltam ao trabalho pecam. Na mesma SD, S5 usa a palavra “falta” para determin ar algo que não deve ser feito, recorre à outra formação discursiva (FD) do discurs o pedagógico/escolar, ou seja, a falta e a presença da sala de aula. Associa a palavra “falta” a esquecimento, embasado na interpelação ideologia de Pêcheux e Fuchs (1997) na teoria dos squecimentos. Em Teixeira (2000, p.48), a palavra esquecimento nã o quer representar perda de alguma coisa que se tenha tido um dia. “É o acobert amento da causa do sujeito no próprio interior se seu efeito, ou seja, o sujeito se constitui pelo esquecimento daquilo que o determina”. O estudo divide o esquecimento em nº 1 e nº 2. Do esquecimento nº 1 estabelece a relação entre o inconsciente e ideológico. É o in stante que o sujeito, acredita veementemente ser o construtor de seu discurso, colocando-se como origem do que enuncia. No esquecimento nº 2, o sujeito ilusoriamente imagina que seu dizer é transparente e real, o que evidencia que o sujeito apaga o que diz. Assim o fazendo, esquece o sentido do que diz. Através da sequência discursiva percebeu-se a presença de pecado da soberba no ambiente da empresa, quando esse relatou que S8: “os colegas se acham sabedores de tudo dizem que sabem fazer tudo não dividem o que sabem” [SD 7]. Primeiramente a sequência discursiva demonstra que o S8 observou que alguns colegas, ou os colegas não tem senso de humildade. São sabedores de tudo e esse conheciment o, de forma egoística não é partilhado com os demais. Há um receio de que se dividirem seu conhecimentos podem estar ameaçados de perder seu lugar na empresa ou mesmo s erem desligados, porque alguém pode aprender melhor do que ele a fazer suas atividades. 8 Todos os grifos nas citações diretas dos sujeitos apresentadas neste capítulo são da autora. 46 Da mesma maneira, o pecado da preguiça apareceu qua ndo foi perguntado aos colaboradores como a gerência trata os problemas provenientes dos pecados capitais. Um dos sujeitos apresentou em seu discurso o seguinte relato S5: “Com uma boa conversa, sem magoar” [SD8]. Há o estabelecimento de um conformismo lógico, descrito por Durkheim (1994). Não há intenção de mudança. É melhor deixar as coisas como estão para não desenvolver sentimentos relativos aos pecados, como a ira, a gula, a inveja, a luxúria, a soberba, a avareza e a preguiça. Nada de mágoas, de rancores, nada de quebrar a ordem e harmonia do ambiente, e do controle e do poder simbólico instaurados, por quem gerencia a organização, sejam afetados por outras ações que nã o aquelas costumeiras que já são marcas da cultura da organização. Constatou-se que a simbologia do poder esta representada no ambiente. Como afirma Bourdieu (2012, p. 8), “é o poder simbólico, o invi sível, o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo o exercem”. Isso pode ser observado na sequência discursiva doS6, da empresa de pequeno porte, que não participou da pesquisa justificando-se da seguinte maneira: “Estou a 2 meses na Empresa e não me senti apto a responder o questionário sem conhecer melhor meus chefes demais colegas de trabalho obrigado e desde já sucesso emsua profissão” [SD1]. A esse sujeito não lhe foi dada a oportunidade de c riar o habitus com o seu grupo de trabalho. Com base em Bourdieu (2012), destaca-se que nessa organização não há um habitus coletivo, com construções históricas do grupo, o qu e permitiria compreender porque as pessoas que pertencem ao mesmo grupo e têmhabitus semelhantes e por tais motivos os sujeitos adquirem, ou passam a praticar uma cultura, ritos, valores, crenças e uma dinâmica organizacional igual de pertencimento a todos. A cultura adquire-se no tempo e vai se adaptando de acordo com as influências externas e sa ações internas, além de conseguir que as pessoas tenham uma consciência de pertencer, de serem efetivamente membros da instituição. A prática dá lugar lógico para as trocas que ocorrem dentro do campo. Por muito tempo as empresas viveram na cultura do medo, do poder e do controle em sistemas muito rígidos e, que agora custa muito para quebrá-los. Às vezes, não há sequer a intenção de acabar com esse modelo extremamente ult rapassado. O S8 respondeu que a gerência: “Nem fica sabendo. Eu não falo nada, mas os demais não falam também” [SD9]. A presença da voz do Eu in dividualizado nessa SD demonstra que o sujeito admite não falar quando acontecem os peca dos, ao mesmo instante, apropria-se de uma segunda afirmativa de que os demais colegas também não falam. O sujeito se dá o poder de falar pelos demais, sem saber se este é o pensamento de todos realmente. Trata-se de um 47 discurso não autorizado, onde o sujeito sente-se o porta-voz de determinado grupo ou de outros sujeitos sem ter recebido o aval para fazê-ol. Chauí (2003, p. 7) assevera que o sujeito quando autorizado pelo outro a proferir por ele deve saber que “Não é qualquer um que pode dizer a qualquer outro qualquer coisa em qualquer lugar e em qualquer circunstância”. Para Koch (2004), o uso da conjunção mas pelo sujeito, como marca linguística, significa exatamente tudo aquilo que ele quer que signifique realmente, assim tudo o que ele gostaria de dizer fica depois da expressão mas. O sujeito quando diz que não fala, complementa argumentativamente que não o faz sozinh o, porque os demais também não falam. Há uma ação coletiva nessa afirmação. Ninguém fala, é o silêncio instaurado pelo medo ou pela certeza de que nada será feito para mudar tais situações. Aparece nesse instante o pecado da preguiça. Chamou atenção a sequencia discursiva do S4, que me smo estando há pouco tempo na organização, já pode sentir o pecado da inveja e da soberba, presentes no ambiente interno da organização, e por vezes, fez menção a sua passagem no seu trabalho anterior, parecendo que, apesar de estar a quase um ano na organização, aind a não se sente parte dela. Na sequência discursiva há evidências claras de metáforas do pecado da inveja quando diz: S4: “Quando você se empenha evoluindo para que a empresa cresça junto com você sempre tem um impedindo que isso aconteça” [SD10]. No entanto, observa S4 quando apareceu o pecado no ambiente organizacional a gerência tratou: “com indiferença (soberba) (empresa anterior)” [SD11]. Ao fazer uso dos parênteses, que são marcas não verbais, o S4 buscou explicar-se, ou de uma forma ou de outra 9 justificar-se. Ao mesmo instante, nesse discurso ocorreu uma digressão textual , ou seja, ao usar parênteses como marcador, parte desse discursose desviou do assunto a ser tratado. Ocorre uma digressão textual no discurso, destacand o que S4 desviou a atenção para outros elementos, que apesar de terem relação com ele, tiv eram uma autonomia semântica e pragmática, capaz de desencadear processos paralelos de entendimento e produção oral. Ocorre também na AD, no instante que o discurso resgata na sua passividade em que o social está vinculado com a história e a ideologia, a ressignificação do silêncio, que não está vazio, que tem seu próprio significado, que é garantia de movimento dos sentidos. Tanto o S7, como o S1 e o S6 usaram do silêncio para se expressar, para significarem-se, quando não responderam nenhuma questão. 9 A digressão implica a substituição de um domínio d e relevâncias (tópico discursivo, ou seja, o assunt o da atividade textual) por outro domínio diferente, que suspende momentaneamente aquele domínio anterior, colocando-o à margem do campo de percepção, enquant o o novo tópico discursivo assume posição focal (ANDRADE, 1993). 48 Nas palavras de Orlandi (1999, p. 89), “o silêncio é o real do discurso”. Para AD se estabelece uma relação entre a dimensão do verbal, do não verbal e significado. Há uma tendência a priorizar estudos orais e as suas ligações com o sentido, deixando de fora a dimensão não verbal em que está incluído para silenciar, traduzindo-o em palavras. Toda manifestação linguística discursiva envolve uma rel ação com o silêncio, é preciso assinalar que esta funciona especificamente em cada uma das suas realizações e que a matéria significativa do silêncio é diferente da linguagemverbal e não verbal. Para Orlandi (2007, p.29): “O homem está “condenado” a significar. Com ou sem palavras, diante do mundo, há uma injunção à “inter pretação”: tudo tem de fazer sentido (qualquer que ele seja). O homem está irremediavelmente constituído pela sua relação com o simbólico”. Todo sujeito está sempre significando com ou sem palavras; está constituído e imbuído pela sua relação com o simbólico, campo no qual tem um espaço relevante o silêncio. O falar e o não-falar projetam-se na mesma direção e não em caminhos opostos. Quando o sujeito diz, automaticamente apaga outros significados (ORLANDI, 2007). No discurso de S7 ocorre o uso da locução adverbial como marca discursiva “ às vezes” . Isso evidencia que o sujeito usa o advérbio para marcar como o sujeito lírico está agindo, ou no caso de sua resposta, como a gerência está agindo frente a estes acontecimentos: S7: “ As vezes conversando” [SD12]. A forma nominal do verbo conv ersar (conversando – gerúndio) caracteriza como o sujeito age frente à ação- conversando. A expressão “às vezes” funciona como locução adverbia l, que tem como demarcador de tempo e de incerteza. Há clara demonstração de preguiça por parte da gerência. Ainda no discurso de S7, quando perguntado em que momento os pecados aparecem no ambiente organizacional, observa-se uma ação de exclusão desse sujeito, quando esse insiste em excluir-se do discurso, afirmando que somente os outros colegas é que cometem pecados. S7: “Colegas. Um querendo mandar no outro” [SD13]. Sinaliza-se nesse instante o pecado da soberba de S7. Os outros cometem o pecado, ele não. Este sujeito coloca-se acima dos demais. Os sujeitos não são iguais nesse ambien te organizacional. O DO não é realizado de forma a contemplar a realização do grupo, da har monia, as ações de desenvolvimento organizacional não transformam, não mudam os sujeit os, atores partícipes desse ambiente organizacional. O pecado está macado pelo verbo transitivo mandar. No entendimento do S7 os pecados aparecem no ambiente organizacional quando são contratados novos colaboradores. Chama a atenção pa ra esse discurso do sujeito, pois há um deslize para vários pecados. O pecado da gula aparece metaforizado, pois o sujeito deseja 49 apropriar-se de tudo e não sabe, ou não aprendeu a cooperar e compartir no momento da chegada de um novo colaborador. O novo colega causa-lhe medo e alguém pode pecar. Visto de outra maneira, seria pecado contratar a novos colaboradores sem consultar aos demais, ou mesmo sem necessidade. Estaria a organização comete ndo excessos, pecando por luxúria, contratando mais colaboradores sem necessidade. Ainda sobre outro aspecto, o novo colaborador pode causar inveja, porque chega com muita disposição para fazer todas as atividades na organização e dessa forma despertar n os demais o pecado da inveja. S7: “Quando é contratado novos funcionários” [SD14]. Nessa perspectiva de Morais (2001, p. 99), o objeto de qualquer pecado: é camaleônico – ou é o que se come; ou o que se teme; ou o que nos amedronta; ou o que causa rivalidade; ou o que agride; ou o que se quer possuir; ou o que incomoda; tudo, certamente, hiperbolizado, exagerado. Assim, o denominador comum dos pecados é um limite que se interpõe entre mim e meu desejo, limite que é rompido, de modo exagerado, desiquilibrado. É evidente que a gerência, nessa organização, inser e um novo colaborador sem nenhum cuidado com a forma de transmitir os valores e princípios da organização. Esse momento é importante na cultura organizacional, em especial para gerar confiança, contribuir para conduzir o trabalho em equipe, motivar. Os momentos negativos e os problemas apresentados deveriam ser tratados como oportunidades para fazer as correções necessárias e consolidar um ambiente de trabalho ideal na organização. A assertiva comprovou-se na SD15, em que o S7 respondeu como a gerência tratou no instante em que os pecados apareceram no ambiente organizacional: “Ela avaliou o trabalho de cada um e conversou com os não satisfeitos”. Os sujeitos também foram questionados se os pecados capitais causavam-lhes sentimentos negativos, em sua totalidade responderam que sim. O pecado aparece com aspecto negativo no ambiente da organização e preci sa ser combatido para que não contamine o bemestar e para que não interfira no crescimento e fortalecimento das competências da empresa. O S4 fez uso de aspas para responder a questão e acrescentou que: S4: “Causa sentimentos negativos pelo fato em que você cria umcerto “medo” sera que a empresa vai me valorizar, mas não em que eu tenha que desistir to sempre apostando pelo fato de ser responsável” [SD16]. O uso de aspas demonstra a inserção do discurso do outro, a lexicalização negativa para descrever as ações do outro. O discurso, como Bakhtin (2010) argumenta, nunca é original, vem de outros discursos que não do sujeit o. De uma maneira a ação de “medo” pode 50 ter ocorrido em outro momento, ou em outra organização e o sujeito tem certo receio que isso ocorra nesse ambiente organizacional. O aspeamento nos enunciados aparece exatamente para determinar certa modificação, uma alteridade no discurso no momento da enunciação daquele já dito. Assim, pois, o que se dá com enunciados ou palavras entre aspas é a ideiaque o sujeito tem um querer que a sua mensagem seja totalmente decifrada, tencionando simplificar o seu discurso. Do ponto de vista de Maingueneau (1997), o aspeamento muitas vezes está associado a 10 uma glosa do tipo “como X diz”, onde X remete, de acordo com os contextos, aos mais variados enunciados: da opinião pública aos indivíduos, passando por conjuntos discursivos mais ou menos extensos. O sujeito, ao fazer uso de glosas, busca certificar-se da verdade que 11 deseja imprimir em suas palavras. Há uma heterogeneidade mostrada e marcada , ou seja, está entre aspas. As aspas também remetem a saberes instituídos no interdiscurso e presentes na memória discursiva; são saberes sedimentados. O habitus desses sujeitos é a própria formação cultural de cada um deles adquiridas no ambiente familiar, mais tarde no meio social e no ambiente organizacional, onde se formam as crenças, os mitos, tabus, normas, estórias e pressupostos. Saber que pecado, neste caso é uma palavra do discurso religioso, que remete a ideia de algo ruim, mal, reproduz exatamente a intenção do sujeito em dizer que não se pode fazer isso no ambiente da organização. Esse espaço discursivo exterior é incorporado ao dizer para que tome corpo existencial. O sujeito, neste caso, busca o discurso outro, de outro gênero, que não o aquele que usa cotidianamente e incorpora ao seu e, nessa continuidade de heterogeneidade que o discurso se apresenta. O outro, por vezes aparece no discurso, nessa relação de contiguidade, como fragmentos que o sujeito cita. São fragmentos e/ou discursos exteriores que o enunciador se vale para construir o seu, mudando assim, as condições de produção. Alteradas as condições de produção o sentido será outro que n ão aquele. O enunciado passa a figurar com uma nova significação. Para esse mesmo questionamento o S2 respondeu que: “Sim , pois tendo esses sentimentos negativos não cuidamos do nosso trabalho e sim do dos outro” [SD17] e S4 “Nem sempre todos, eu preciso e quero muito crescer dentro da empresa, procuro ser responsável naquilo que me propõem” [SD18]. É possí vel observar o uso de advérbios de 10 Por “glosa” entende-se uma nota explicativa de pal avra ou sentido de um texto; comentário; interpretação. A heterogeneidade mostrada pode ser marcada, ou seja, da ordem da enunciação, e, portanto perceptível na materialidade linguística (discurso direto, palavras entre aspas) e não marcada, da ordem do discurso, sem visibilidade (discurso indireto livre, ironia, etc.) (KADER, 2012, p.2). 11 51 afirmação e negação- sim, não e nem, nesse caso afirmando, negando e ordenando o discurso. São os chamados não-modificadores adverbiais que te m a função de não afetar o seu objeto. Esses advérbios operam sobre os valores de verdade.A marca do pronome indefinido outro desliza o sentido para a metáfora do pecado da inveja, assim como o verbo precisar, querer e crescer e o advérbio de intensidade marcam a metáfora do pecado da soberba. Para o S8, com relação aos efeitos negativos que po dem causar os pecados no ambiente organizacional, este respondeu que: “ Pecar é feio. Diz na bíblia e pesa na consciência de quem tem”[SD19]. O sujeito firma que pecar não é algo agradável. É feio. A cultura religiosa desse sujeito remete ao discurso religioso. O sujeito busca em outra formação discursiva, a religiosa, para conceituar, qualificar e confirmar que o pecado é feio e pesado. Assim como está escrito em João, 3-4:“ Todo aquele que pratica o pecado, também transgride a lei: porque o pecado é a transgressão da lei”; e em Gênesis 4-13: “Então disse Caim ao SENHOR: É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo”. O pecado associado à palavra feio resulta na seguin te análise: pecado = feio. Feio é algo desagradável, podendo ser uma ação reprovada no meio social. Cometendo o pecado o sujeito estaria agindo de maneira feia. Essa ação p esa na consciência. O uso do verbo pesar desliza para o sentido de que fica difícil de carregar essa ação. Há um sentimento de culpa que se relaciona à quebra de algo moral construído ao l ongo da vida, que resulta nesse peso, remorso e angústia que afeta a consciência humanaAdemais,. chama a atenção que o sujeito diz que somente aqueles que têm consciência é questarãoe cometendo o pecado. Nas palavras de Althusser (2001, p. 108): o inconsciente funciona como uma estrutura “intempo ral”. Empregarei aqui uma comparação: uma vez montado e montado para ser capaz de funcionar, um motor “funciona” sempre à base de alguma coisa. Por exemplo, um motor a gasolina funciona à gasolina. Ora, eu me pergunto se o incon sciente também não precisa de algo para funcionar: e esse “algo” parece-me, em úl tima análise o ideológico. [...] o ideológico não se reduz aos sistemas conceituais do ideológico, mas é uma estrutura imaginária que existe não somente sob a forma de conceitos como também sob a forma de atitudes, gestos, comportamentos, intençõe s, aspirações, recusas, permissões, interditos, etc. O sentimento normal de culpa surge apenas do pecado pessoal e ajuda o sujeito a ser perfeitamente consciente do seu pecado e lamentar sua ação, de forma consistente, ajuda a se arrepender, confessando o pecado desejando mudar da vida. Além dessa marca verbal, identificou-se o advérbiode tempo sempre em vários discursos, assinalando, como marca linguística do discurso dos sujeitos. São os advérbios temporais, que não se identificam na ação do proces so verbal, mas que fazem referência à duração desse processo verbal. O circunstanciador t emporal não dá ideia do momento da ação 52 específica, mas uma aproximada e que a ação está continuando por um tempo indeterminado. Esse tipo de advérbio não opera sobre o valor de verdade. Observa-se isso nas seguintes sequências discursivas. S3: “Sim, procuramos sempre fazer o que está ao nosso alcance” [SD20], S3: “ Sempre procuramos trabalhar em conjunto” [SD21], S4: “Nem sempre todos, eu preciso e quero muito crescer dentro da empresa, procuro ser responsável naquilo que me propõem” [SD18], S4: “Nem sempre é fácil de trabalhar em grupo por que cada um pensa de uma forma. mas procuro ajudar o próximo conforme su as necessidades” [SD22], S3: “Sim, procuro dar sempre o melhor de mim, dando ideias para que a empresa possa crescer” [SD23], S8: “Nem sempre. Os chefes sabem quem faz e que trabalha certo” [S D24]. Nesses discursos, ao fazer uso do advérbio “sempre” , como marca linguística de exagero, há um deslize de sentido para a metaforização do pecado da soberba aparecendo como sistema simbólico da cultura da organização, p ois o sujeito não aceita que ninguém em nenhum momento fique acima dele. Da mesma maneira, chamou atenção o discurso de S4: “Na minha opinião nenhuma traz benefícios pois cada um dos pecados são excesso precisamos de tranquilidade p/ que o trabalho se desenvolva” [SD25]. Este sujeito faz um deslize metafórico de sentido para os pecados da gu la e luxúria quando faz uso da palavra excesso. A gula transforma-se em pecado quando ofende o direito e as expectativas do outro (SAVATER, 2006), a luxúria transforma o mais simples ato em um canibalismo máximo da gula (TRANCOSO, 2001). De outra maneira, algumas marcas aparecem nos discursos dos sujeitos que apontam que os pecados da soberba e da luxúria acontecem por vezes, fato evidenciado no deslize de sentido dos discursos dos seguintes sujeitos: “Dou o melhor de mim” [SD26 – S3]; “a empresa reconhecendo o desempenho do meu trabalho” [SD27 – S3]; “Faço para me satisfazer” [SD28 – S7]; “Quando uma pessoa quer ser melhor que a outra para crescer na empresa” [SD29 – S7]; “Gosto de ser reconhecido” [SD30 – S7]; “Eu quero crescer na vida profissional para ter mais coisas. Não sei se vai acontecer nessa empresa” [SD 31 – S8]; “Gosto de ser reconhecido. É bom” [SD32 – S8]. Na SD 29 há demonstração de inveja p or parte de S7. Esses discursos são analisados pelo sentido metafór ico da soberba e da luxúria. Há um deslize de sentido para estes pecados. O S3 substima aos demais ao dizer que nem todos se dedicam, somente ele dá o melhor de si, seria dizerque todos podem estar fazendo as atividades de qualquer maneira, ou não fazendo, par ecendo que o pecado da preguiça transcende no ambiente da organização. No mesmo ins tante, ao agir dessa maneira comete o pecado da soberba por acreditar que nem todos são r esponsáveis na empresa, somente ele. O 53 sujeito constroi uma imagem aparente de superioridade fictícia de si mesmo, de eufemismo, desqualificação e desvalorização dos outros. Assim , a soberba leva à desqualificação do outro. O excesso de confiança em si pode levar ao e rro e a despreocupação em seguir as normas corretas da organização. Segue o S3 tendo um a necessidade de ser reconhecido por todas as suas ações, como se estas fossem motivos d e recompensas, frente aos demais. Cria-se assim, um habitus que vai incorporando-se ao sujeito que, não lhe bas ta mais só seu salário e outros benefícios que a organização lhe oferece, há uma necessidade constante de reconhecimento perante aos demais colegas, como forma de merecimento pelo seu desempenho. Igualmente, os bens materiais já não tem tanta significação quanto os simbólicos: um gesto, um elogio diante dos demais, uma forma de sobressair-se frente aos outros, de ser mais que os outros do grupo, de poder mais. É nesse mome nto que o pecado da luxúria se instaura. Frente a essa situação os outros pecados podem surg ir no ambiente organizacional impedindo o DO, tais como a inveja, a ira, a preguiça e a gul a. O S8 afirma que quer crescer profissionalmente para ter as coisas, talvez por acreditar que a conquista material está acima de qualquer bem-estar. Com o uso do verbo “crescer”, S8 apresenta um deslize de sentido para o pecado da soberba e da luxúria, pois enuncia que deseja aumentar, multiplicar-se, ter mais grandeza, ficar maior, ter mais força ou ímpeto para ter “as coisas”. Ainda, esse sujeito afirma que é bom ser reconhecido, evidenciando o deslize do pecado da soberba, da luxúria e da gula, pois revela a necessidade que o sujeito tem de ser melhor frente aos demais. Isso lhe traz certa satisfação. É o momento do destaque na organização, em que todos reconhecerão o sujeito po r suas ações. Quando afirma que é bom, pode estar dizendo que quer mais e mais, pois isso lhe agrada. Tais sequências discursivas dos sujeitos levam à percepção de que as organizações são compostas por grupos menores com culturas específicas. Sendo assim, pode-se afirmar que existe uma cultura da organização como um todo e po de aparecer outra em espaços organizacionais menores, construídos por um grupo de sujeitos, o que necessariamente não significa algo ruim. Pode-se pensar também que não existe uma cultura fixa e sim uma expressão cultural dos membros da organização a qua l pode mudar com o passar do tempo. Contudo, a organização deve sim se adaptar, mas sem perder sua coerência interna. O trabalho em equipe é uma representação da cultura da organização, de como se trabalha no ambiente de forma cooperada. 54 A cultura da organização é estudada em uma esfera simbólica que representa o sistema do momento. A organização é composta de elementos formais e informais, onde as regras, padrões e o indivíduo com suas diferentes visões de mundo, integram o conceito de cultura. Estes elementos funcionam de forma conjunta focando os aspectos internos e relacionais da empresa. No discurso do S4 é possível analisar esse deslize metafórico de sentido para o pecado da soberba: “Fico a pensar que porque as pes soas que se acham tão eficientes tem medo de perder assim prejudicando aquele que só que r uma oportunidade e não o seu lugar” [SD33]. O pecado da preguiça aparece metaforizado com a fal ta de comprometimento de cada um. De outra forma poderia ser descrito como o pecado capital mais próximo de pecado da omissão. A preguiça revela-se em um não-fazer e um não-querer. Assim a forma como cada colaborador dedica-se a seu trabalho e a sua rotina de aprendizagem constante é que diferencia uma empresa da outra, é o que marca a cultura e o que uma organização tem de potencial competitivo a mais que a outra. Dessa maneira, ficar esperando que os clientes batam à porta da empresa, não é uma ação no mínimo de uma empresa que deseja figurar entre as que têm um resultado positivo, tanto financeiro como de ambiente empreendedor e cooperativo, mas sim de pessoas preguiçosas. Compro va-se isso também no discurso de S4: “Nem sempre é fácil de trabalhar em grupo por que adac um pensa de uma forma. mas procuro ajudar o próximo conforme suas necessidades ” [SD22]. Em outra SD (“ Nem sempre todos, eu preciso e quero muito crescer dentro da empresa, procuro ser responsável naquilo que me propõem”), S4 emprega o pronome indefinido “todos” como marca linguística, denotando que o sujeito faz uso do pronome para dizer que o sujeito Eu quer crescer na organização, os outros não, ou se querem, talvez não lhe interesse. Há um deslize metafórico de sentido para o pecado da gula. Outro sentido que se observa é o da exclusão e da não cooperação. Não há uma cultura de trabalho em equipe em que todos participem e que trabalhem por um mesmo objetivo. O habitus serve para igualar ou aproximar as práticas sociais guiando suas representações em determinados grupos. Já, nesse caso o campo refere-se ao conjunto de relações entre as diferentes posições objetivas que o sujeito Eu ocupa, que como habitus, também existem independentemente da consciência e a vontade da pessoa, individual e coletivamente (BOURDIEU, 2012). Quando perguntado aos sujeitos até que ponto ficamirritados violentamente com erros cometidos no ambiente organizacional. S7 respondeu que: “ Raramente. [SD34] a respeito, como pode-se visualizar na Figura 5. conversamos” 55 Figura 5 – Sequência discursiva de S7. Fonte: Questionário de pesquisa. Nesse discurso há uma hipótese que depende de confirmação do sujeito. O uso do advérbio de intensidade de verificação “ raramente” indica que esse sujeito necessita de confirmação dessa ação, prova disso é o espaço ou a pausa deixada entre o final do primeiro período para o segundo período. A pausa, considerada um fenômeno prosódico, indica que o sujeito precisou pensar para responder e, não fez n enhuma representação ortográfica. Para a AD, a pausa é uma forma de dizer “através dos quais os sujeitos repetem, deslocam-se e rompem limites, pela possibilidade mesma de o sentido sempre poder ser outro” (SILVA, 2002, p.114). A pausa é o momento da contradição, instante em que o sujeito diz o que diz, mas se contradiz no que diz ao fazer uso de determinadas palavras e marcas de pausas. Nessa pausa também se pode marcar o pecadoda preguiça. Ao mesmo tempo, analisando as demais SDs, os sujeitos apresentam em seus discursos marcas de negação (não – nem), revelando que o ambiente organizacional está estruturado como um campo de poder que busca o conformismo lógico e quando nega, o sujeito reclama por algum direito, sem mesmo perceber, à memória discursiva, ao que o outro proferiu que, no campo do saber ao qual está inserido, o que não pode ou deve ser dito (LASSEN, 2011). Observa-se isso nos discursos transcritos a seguir, proferido por diversos sujeitos: “ Eu não sou o melhor, mas procuro fazer o melhor” [SD35]; “ Não , e meu trabalho fazer o melhor” [SD36]; “ Não . Porque trabalho com amor e gosto do que faço” [SD 37]; “ Não . Mas gosto de ser reconhecido” [SD30]; “ Não . Faço para me satisfazer” [SD28]. Já a metaforização do pecado da gula refere-se ao fato de que, determinados sujeitos, em uma ânsia por melhores colocações no âmbito inte rno da empresa, ultrapassam o limite humano, ora trabalhando muito, ora passando por cima de tudo e de todos. Assim sendo, a metáfora ao pecado da gula se dá ao fato de que, por ocasiões quando se come algo em excesso extrapola-se, quer dizer come-se além do necessário, e isso, obviamente traz uma sensação de mal-estar, indigestão, neste caso refer indo-se à parte física. Tais fundamentos encontram-se expressos nas seguintes sequencias discursivas: “Eu não sou o melhor, mas procuro fazer o melhor” [SD35 – S5]; “Nem sempre todos, eu preciso e quero muito crescer dentro da empresa, procuro ser responsável naquiloque me propõem” [SD18 – S4]. O quero muito (SD18) demonstra certa “gula”, ou seja, a simbolog ia do excesso pode apresentar-se de forma a prejudicar os demais. O próprio sujeito destaca a ação usando a 56 primeira pessoa (“eu”) como não sendo uma interrupç ão do discurso, após a vírgula, mas sim a forma de reforçar que ele deseja isso, talvez mai s em detrimento dos outros. O poder simbólico não está nos sistemas simbólicos, e sim, em uma relação determinada, entre aqueles que exercem o poder e aqueles outros que estão suje itos a isso (BOURDIEU, 1989). Já o advérbio de intensidade melhor marca a soberba do S5. O simbolismo que se encontra presente no sistema de comunicação provoca ou desvela os pecados na ação. Logo, o campo de poder, conforme o comportamento dos sujeitos poderá ser punido ou não. Comprova-se isso na sequência discursiva de S3 e S8, quando perguntados até que ponto há irritações no ambiente de trabalho quando há incidência de erros. S3 responde que é “Quando somos criticados” [SD 38] e S8 afirma que “Eu me irrito quando alguém se mete onde não é chamado” [SD 39]. Nesse caso é evidente o pecado da ira. Por outra parte, apesar de estar estruturado como um campo de poder, o ambiente interno de trabalho não se configura a partir do pecado da sob erba. A concepção homogênea de espaço desvelada aqui não promove o D.O. Do mesmo modo, fazendo um recorte da SD do S5 onde ele diz “fazer o melhor” mais uma vez há um deslize metafórico de sentido para o pecado da soberba e da gula. O pecado da soberba, metaforicamente, refere-se quando, o sujeito conclama saber tudo. Fez o melhor. É perfeito. Não tem atitudes colaborativas. Torna-se arrogante pelo excesso de conhecimentos e experiências que diz ter. Acredita que não necessita participar de treinamento e desenvolvimento, desdenhando muitas vezes a seus próprios colegas. Pensa que não é necessário buscar conhecimento para agregar valor à sua empresa. Sente-se o melhor em tudo. O mesmo ocorre no discurso do S3 onde a soberba prevalece, onde o sujeito se apresenta como diferente, o melhor: “Dou o melhor de mim.” [S D26]. Não há uma métrica exata para saber como isso é mensurado e equalizado entre os colaboradores. O ambiente interno da organização é um campo de poder (BOURDIEU, 1989; 2012), construído por um conjunto de pressupostos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu (SCHEIN, 1989), no qual se encontram presentes as formas consideradas corretas de perceber, pensar e sentir o espaço (FLE URY; FLEURY, 1995). Outras, no entanto, são reprimidas e controladas pelo mesmo co njunto de elementos simbólicos, considerados “pecados”, e que, caso alguém decidir usá-lo no ambiente, poderá sofrer alguma punição, muitas vezes simbólica. Nota-se essa relaç ão entre o certo e o errado e as sanções de punições no discurso do S3: “O funcionário pode ter os 7 pecados mas o que vale é ser honesto e ter horário” [SD40]. 57 No entender desse sujeito não é pecado ter inveja, ter gula, ser soberbo, ser avarento, irritar-se eventualmente, o que não pode é ser preguiçoso e desonesto. Desde que este funcionário não lhe roube e chegue no horário estipulado, nas demais situações terá o direito de colocar-se acima dos demais colegas, poderá terdesejos por atributos e coisas dos outros e isso em um estado emocional de variada intensidade de raiva e fúria, tornando-se um avaro constante, ao mesmo tempo um guloso descomedido, mesmo assim não estará pecando se chegar no horário e for honesto. Os pecadores e ospecados poderão ser perdoados. Entretanto, como se classificam os pecadores? De que forma são identificados? Seria dizer que esse sujeito sente-se livre de pecados? Há um deslize de sentido no discurso desse sujeito para o pecado da soberba ao afirmar: “O fun cionário pode ter os 7 pecados [...]”. A soberba é o desejo de colocar-se acima dos demais. Torna-se negativo quando o sujeito não admite que ninguém se posicione além ou acima dele.Pecar não é ruim, não é negativo. O negativo, talvez fosse deixar que o pecado se instaurasse no ambiente organizacional, que se prosseguisse a alimentá-lo e que sobre maneira alguma tratasse de combatê-lo. O sujeito remete o sentido ao campo de poder do discurso religioso, onde todos serão salvos dos pecados, se forem honestos e chegarem no horário, assim como está escrito na Bíblia Sagrada (1993), no Evangelho escrito por Marcos (3.28): “Em verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e as blasfêmias que proferirem” (p.32). Existem diferentes visões da realidade. A moldura i ndividual de referência auxilia na abordagem de outras estruturas para as pesquisas organizacionais. Essa linha de argumentação pode ser sustentada quando os sujeitos são question ados sobre seus projetos pessoais e quais deles se encaixam nos objetivos da organização. Na sequência dos questionamentos perguntouse até que ponto eles estão olhando para o crescimento apenas pelo crescimento. Os sujeitos, através de seus discursos evidenciaram que poucos têm uma relação de pertencimento com a organização. Dentre eles é possível observa-se com clareza essa relação no discurso do S3: “Sim por que precisamos faz part e da vida projetos pessoais que se encaixem com a organização” [SD41]. O precisar figu ra como uma obrigação. Outros sujeitos, por vezes estão alinhados com os i deais da organização, ou seja, participam de projetos somente em horários oportunos, que são aqueles que não vão envolver seus horários fora da organização, obviamente porque já se instituiu como sendo um dos valores do negócio e o conjunto de princípios, cren ças, regras da gestão da organização e que resulta na cultura organizacional e que tem como apoio a cultura organizacional que não se faz nada fora do horário de trabalho que possa serincongruente com os objetivos pessoais dos colaboradores e da organização. O S3 e S8 responder am que: S3: “Sim, procuro dar sempre o 58 melhor de mim, dando ideias para que a empresa possa crescer” [SD23], S8: “Eu estudo, isso já ajuda a empresa a tratar com o cliente e etc.” [SD42], S8: “Eu me responsabilizo pelo que faço. Acho que faço alémdo que devo” [SD43]. A preposição além, usada pelo S8 marca o pecado da soberba. Diferentemente o S4, em seu discurso afirmou que: “ Não olhamos apenas para o crescimento e sim para o cliente, sem ele não chega remos lá” [SD44]. A cultura organizacional contém aspectos inter-relacionados, pode ser entendida como um reflexo do equilíbrio dinâmico das relações harmônicas de todo o conjunto de subsistemas, isto significa que, uma organização pode ter subculturas dentro de uma mesma cultura. Ter algo que a identifique, uma marca a seguir, uma cultura que a identifique. Está claro que não há isso ainda nessa organização. Com base em Bourdieu (2012 ), habitus é entendido como as formas de agir, pensar e sentir que são causadas pela posi ção que o sujeito ocupa na estrutura social e organizacional. Já o campo, é o espaço social criado em torno da valorização de eventos sociais. Nesses espaços estão os sujeitos com difer entes habitus, competindo, expressando seus sentimentos e sendo representados por diferentes símbolos no campo que estão inseridos. Os sujeitos reconhecem que o espaço do ambiente de trabalho é mediatizado por uma concepção homogênea, quando ao tratar de reconhecimento com os sujeitos questionados, a grande maioria respondeu que busca reconhecimento de seus superiores demonstrando a ideia de cultura organizacional sendo um constituinte da organização. Assim, uma organização tem ou é uma cultura. Que a organização é uma cultura refere-se à metáfora (cultural) usada para aproximar dele e que uma organização "tem" uma cult ura dimensionalizando uma organização, com a cultura destas dimensões. Evidencia-se a concepção homogênea de tempo e espaç o novamente na SD do S4 quando em seu discurso diz: “Faço por que gosto e m e empenho, acredito que se é um bom funcionário e tens um chefe de visão o reconhecimento vem por seus méritos” [SD45]. Segue o S4 em um conformismo lógico, ou seja, a concepção homogênea não é uma constante. Organizações são subjetivas e, portanto, incertas. Segundo Bourdieu (1989, p.14), o poder simbólico é como: poder de constituir o dado pela enunciação, de faze r ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e, deste modo, a aç ão sobre o mundo, portanto mundo, poder quase mágico que permite o equivalentedaquilo que é obtido pela força (física ou econômica), graças ao efeito espec ífico de mobilização, só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário. Os dados revelam que há uma concepção homogênea e ed certa forma a organização e seus colabores involuntariamente firmam contratos pessoais e morais que são premiados por 59 esforços maiores. Os colaboradores, como é inerente aos seres humanos buscam certo reconhecimento pelas ações que ora estão realizando além daquelas que lhes compete. Observa-se essa concepção nos seguintes discursos: “gosto de ser reconhecido” [S7 – SD 30], “a empresa reconhecendo o desempenho do meu trabalh o” [S3 – SD 27] e “faço por que gosto e me empenho, acredito que se é um bom funcionárioe tens um chefe de visão o reconhecimento vem por seus méritos” [S4 – SD 45]. Nesse contexto estão inseridos aqueles elementos qu e para um significam mais do que para outro. Receber um elogio pode ser mais significativo do que um chocolate ou outro valor em dinheiro. Os valores vão ser representados de ac ordo com a cultura de cada um como conceito em um sistema de esquemas individuais, socialmente constituído de disposições estruturadas (no social) e estruturantes (nas mentes), adquirido nas e pelas experiências práticas (em condições sociais específicas de existência), constantemente orientadas para funções e ações do agir cotidiano. Chama à atenção a sequência discursiva do S8 quando questionado sobre como organizam o trabalho, de acordo com seus interesses, sem considerar os outros na organização. O sujeito diz: “Eu sempre penso nos me us colegas mas nem sempre os meus colegas pensam no grupo. Eles são individualistas” [SD46]. Alguns elementos marcam esse discurso, configurando-o como um discurso carregado de sentidos. Essas marcas deslizam o sentido metafórico para o pecado da soberba. O mas pode ter valor de conjunção adversativa, quando principia um argumento contrário ao que foi dito e como conjunção aditiva ao encadear argumentos que reafirmam aquela argumentaç ão (LUZ, 2009). Mais uma vez o EU lírico individualizado marca a ação do sujeito conf irmando sua argumentação de que não há uma equipe e o faz com o uso da conjunção aditiva. Os sujeitos outros, representados por ELES, são individualistas. Há uma comparação desfavorável entre o sujeito locutor e as demais pessoas do discurso. No caso pronominal o ELES aparece representando os outros, os colaboradores e a organização. Já o uso de do advérbiosempre usado pelo S8, desvela-se como uma ação de meaculpa dos interlocutores. O sujeito pressupõe que o s demais sujeitos são individualistas. Por trás do uso desse advérbio ocorre uma revalidação da verdade. S8 confessa sua culpa quando enuncia que ele sempre pensa nos colegas, mas não e xprime ações que poderiam diminuir esse individualismo. No imaginário do sujeito ele stáe pedindo perdão pelo pecado da soberba, quando se põe acima dos demais o categoriz ando como individualistas. O enunciado é verdadeiro para o enunciador, tornando-se crença para o sujeito que proferiu o discurso (MAINGUENEAU, 1997). 60 Quando perguntado aos sujeitos se haviam outras informações que eles gostariam de mencionar sobre os sete pecados capitais o sujeito S3 respondeu fazendo uso de negação, o S7 não respondeu, demonstrando assim um silenciamento de sentidos indesejáveis e os S5, 4 e 8 responderam respectivamente. S4: “Fico a pensar que porque as pessoas que se acham tão eficientes tem medo de perder assim prejudicando aquele que só quer uma oportuni dade e não o seu lugar” [SD33], S5: “Acho que falta uma bo a preparação para cada pessoa quando mudam de firma e trabalho ate mesmo- de setor” [SD4 7] e S8: “Quem nunca pecou que atire a 1ª pedra. Temos que evitar” [SD48]. Figura 6 – Sequência discursiva de S5. Fonte: Questionário de pesquisa. O S4 no seu discurso, devido a sua força expressiva , apresenta uma carga semântica carregada de medo e de coitadismo. Seu discurso expressa a ideia de alguém quer o seu lugar. Talvez algum colega mais eficiente. O sujeito é um agente passivo dominado por alguém que só quer uma oportunidade e que receia perder o que já tem. Portanto, claramente há um deslize de sentido metafórico para o pecado da avar eza. Outra análise possível e que chama a atenção é o sublinhado que o S5 faz em uma parte do período. Nota-se que o sujeito, nesse instante destaca a ação, do outro- (eles) mudam, e o faz com essa notação gráfica do sublinhado, colocando em evidência o enunciado ou parte dele, pedindo que se dê atenção a esse recorte do discurso. Puzzo (2009, p. 69) revela que “sustentada pela análise do discurso, o sublinhado, o itálico e o negrito são notações gráficas que contribuem para a constituição de sentido do texto”. Esse recorte possibilita a elaboração de vá rias indagações, tais como: quem muda? Qual firma? Em que trabalho? De que setor está falando? O sublinhado se deu somente até trabalho e chamou a atenção ao ambiente externo e n ão interno da organização. Há evidências que ocorre o pecado da preguiça nessa SD. Outrossim, o S8 respondeu fazendo uso de provérbio,frases feitas e ditos populares. Esse discurso remete a outras formações discursivas , como é possível observar na sequência discursiva do sujeito: “Quem nunca pecou que atire a 1ª pedra” [SD 45]. É o campo, ou a estrutura estruturante que o sujeito construiu na sua mente, em seu intradiscurso, na sua memória do dizer e que adquiriu na prática, no seu conhecimento de mundo e em suas 61 relações simbólicas e seu universo simbólico que fo i construindo de maneira automática de forma que foram interiorizando-as em esquemas, estruturas e símbolos. Assim, novos hábitos vão ressignificando os sujeitos e dando espaço para a mudança cultural organizacional. Conforme Pereira (1996, p.61) “Os provérbios consistem em asserções sobre regularidades estruturantes do mundo. As informaçõe s por eles vinculadas persistem e não são invalidadas por contra-exemplos. Possuem o estatuto de compatibilidade como real e de exatidão”. A formação discursiva dos provérbios, ditos populares e o discurso das sabedorias populares, são facilmente identificáveis e representados de um lado, explicitamente pelo discurso do outro, e de outro implicitamente a memó ria discursiva (o interdiscurso), os conhecimentos de mundo, como sujeitos as pessoas possuem: “A esperança é a última que morre”. “Apressado come cru”. “Deus escreve certo p or linhas tortas”. Em conformidade com o explicitado, apresentam-se as pistas que marcaram a metáfora do pecado capital na organização estudada. Quadro 4 – As estruturas da metáfora no Caso Um. Marca Classe gramatical SD FD Sujeito Falta Substantivo 6 Pedagógica 5 Tudo Pron. indefinido 7 Profissional 8 8 Profissional 5 Mas Conjunção 9 Profissional 8 Um Artigo indefinido 10 Profissional 4 Parênteses Sinal tipográfico 11 Profissional 4 Digressão Estr. discursiva 11 Profissional 4 Às vezes Loc. Adverbial 12 Profissional 7 Conversando Gerúndio 12 Profissional 7 Mandar Verbo transitivo 13 Profissional 7 14 Profissional 7 14 Profissional 7 14 Profissional 7 Sim Adv. Afirmação 17 Profissional 2 Outro Pron. Indefinido 17 Profissional 2 Precisar/Quer VT/VTI 18 Profissional 4 er/Crescer Muito Adv. Intensidade 18 Profissional 4 Bíblia Substantivo próprio 19 Religiosa 8 Pesa VT 19 Religiosa 8 Sempre Adv. De tempo 20 Profissional 3 Sempre Adv. De tempo 21 Profissional 4 Sempre Adv. De tempo 18 Profissional 4 Sempre Adv. De tempo 22 Profissional 4 Sempre Adv. De tempo 23 Profissional 3 Sempre Adv. De tempo 24 Profissional 8 Excesso Subst. Masc. Sing. 25 Profissional 4 Excesso Subst. Mas. Sing. 25 Profissional 4 Melhor Adv. Superioridade 26 Profissional 3 Me Pron. Oblíquo 1ª p. 28 Profissional 7 Pergunta 4.2 4.2 4.3 4.3 4.2 4.3 4.3 4.3 4.3 4.2 4.2 4.2 4.2 4.4 4.4 4.9 Pecado Preguiça Soberba Preguiça Preguiça Inveja Soberba So berba Pregu iça Preguiça Soberba Gula Luxúria Inveja Soberba Inveja Soberba 4.9 4.5 4.5 4.9 4.9 4.9 4.12 4.7 4.11 4.5 4.5 4.10 4.6 Soberba Soberba Soberba Soberba Soberba Soberba Soberba Gula Luxúria Luxúria Soberba Continua... 62 ...continua Melhor Crescer Crescer Melhor Irrito Uma Pessoa Adj. Superioridade VI Verbo intransitivo Adv. Superioridade VT Artigo indef. Fem. Sing./subst. Próprio Meu Reconhecido Reconhecido Bom Acham Nem Sempre Todos Raramente O Vazio Não Pron. Possessivo 1ª p. 29 29 31 35 39 29 Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional 7 7 8 5 8 7 4.5 4.5 4.6 4.8 4.8 4.5 Soberba Soberba Luxúria Soberba Ira Inveja 27 Profissional 7 4.11 Soberba 30 Profissional 7 4.11 Soberba-luxúria 32 Profissional 8 4.10 Soberba-luxúria 32 Profissional 8 4.10 Soberba-luxúria-gula 33 Profissional 4 4.13 Soberba 22 Profissional 4 4.12 Preguiça Conjunção de negação Adv. Tempo 22 Profissional 4 4.12 Preguiça Pron. Indefinido 18 Profissional 4 4.9 Gula Adv. Intensidade 34 Profissional 7 4.8 Preguiça Pausa 34 Profissional 7 4.8 Preguiça Advérbio de 28, Profissional 5-7 Gula 4.6 negação 30, 4.8 35 4.10 37, 4.11 Melhor Adv. Superioridade 26 Profissional 3 Soberba 4.10 -Frase 40 Religiosa 7 Preguiça-soberba 4.5 Além Preposição 43 Profissional 8 Soberba 4.9 Mas Conjunção 46 Profissional 8 Soberba 4.12 Sempre Adv. Tempo 46 Profissional 8 Soberba 4.12 Perder VT 33 Profissional 4-8 Avareza 4.13 Sublinhado Marca não-verbal 47 Profissional 5 Preguiça 4.13 Provérbio Substantivo masc. 45 Profissional 8 4.13 Perder VT 33 Profissional 4-8 Avareza 4.13 Sublinhado Marca não-verbal 47 Profissional 5 Preguiça 4.13 Provérbio Substantivo masc. 45 Profissional 8 4.13 Legenda: SD – Sequência discursiva; FD – Formação d iscursiva; PF – Profissional; VI – Verbo intransiti vo; VT – Verbo transitivo; VTD – Verbo transitivo direto; VTI – Verbo transitivo indireto. Fonte: Dados da pesquisa Adjetivo Adjetivo Adjetivo VT 4.2 CASO DOIS 4.2.1 Apresentação do caso A empresa representante do Caso Dois, fundada em 2009, é referência local no segmento de vestuário, calçados e acessórios do segmento bebê e infantil, oferecendo para a gestante e a futura mãe soluções para vestir e calç ar seus filhos. A loja localiza-se em uma área central da cidade de Santo Ângelo em um grande espaço decorado, onde os móveis estão dispostos e adaptados para receber as crianças e de mais clientes. Atualmente a loja recebe em torno de 1200 clientes/mês. A empresa é uma organização familiar e atualmente é administrada pelo casal proprietário e uma filha, mas formalmente a filha éa gerente. Apesar de o casal fazer as 63 compras em conjunto, cada um tem um conjunto atribuições. Mãe e filha são as responsáveis pela gestão de pessoas. O pai é responsável pelo recebimento e pagamento das mercadorias e também pelos controles contábeis. Quanto à gestão de pessoas, semanalmente são realiz adas reuniões motivacionais, onde são aplicadas dinâmicas e atividades vivenciai s para conhecer melhor o grupo, formado só por atendentes mulheres. Observaram-se algumas p articularidades na cultura da organização: a cada sábado uma colaboradora é a responsável em selecionar e ler uma mensagem no início da reunião semanal; outra colabo radora é a responsável pela análise final da reunião, sintetizando os debates, dando feedback, pontuando os pontos positivos/negativos daquele momento vivenciado pelos colaboradores. Como forma de manter o ambiente descontraído na sequencia é servido café da manhã aos participantes. Para criar empatia junto ao seu exigente público, a loja apresenta um ambiente moderno e alegre, que encanta e atrai aos clientes, aliado a ações mercadológicas. 4.2.2 Perfil dos respondentes A loja conta com seis colaboradores do sexo feminino, moradoras da cidade de Santo Ângelo, com idades entre 16 a 23 anos. Estão dividi das proporcionalmente entre solteiras e casadas. Quatro colaboradoras possuem o ensino médio e duas o ensino superior incompleto. Todas afirmaram não ter relação familiar nenhuma co m os fundadores da empresa. Duas colaboradores estão na organização a menos de 1 ano, outras duas responderam que estão entre 1 e 3 anos e as demais estão a mais de três anos. 4.2.3 Análise dos dados Após a caracterização dos sujeitos da pesquisa, o c apítulo a seguir apresenta a análise dos dados recortados das sequências discursivas dosrespondentes da empresa. Perguntou-se aos sujeitos quais pecados capitais sã o mais frequentes no comportamento das pessoas da empresa que trabalham. Estes responderam que há uma maior percepção do pecado da inveja (S1, S3, S4, S5 e S6) , seguidos pelos pecados da soberba (S4 e S5), da preguiça (S6) e da ira (S2). Identificados os pecados, aos sujeitos lhes foi pedido que respondessem em que situações os pecados são mais perceptíveis. Assim, S3 argumentou que o pecado da inveja aparece “quando alguém adquire alguma coisa material sempre tem alguém invejando, 64 mesmo não sendo tão diretamente” [SD1]. O S3, para responder a esse questionamento constatou que pecado da inveja ocorre “quando reali zo uma venda maior, que o normal” [SD2]. O eu lírico aparece no uso do verbo realizo, no presente e em primeira pessoa, deslizando para o sentido metafórico da soberba. O emprego do adjetivo de grau comparativo maior também aparece como marca simbólica de soberba significando aquele que tem mais, recebendo toda a carga semântica no discurso. Da me sma forma, a inveja recai sobre as ações desse sujeito demonstrando, através do discurso, que os demais desejam possuir aquilo que o S3 tem, ou até mesmo fazê-lo perder ou despossuir,ocorrendo assim à transferência de sentido metafórico para o pecado da inveja. As marc as que evidenciam esse são o verbo transitivo direto adquire e o verbo em gerúndio invejando. O S5 relatou que a inveja e a soberba acontecem nesta organização e são decorrentes de “um acontecimento, surgem comparações de algo que já tenha acontecido” [SD3]. Muitas vezes para o invejoso não importa o que ele ganha, mas sim aquilo que os outros deixam de ter. O invejoso se satisfaz com aquilo que o outro deixou de ter ou ganhar. O pecado da preguiça, na SD4 de S6 “quando se tem a lgo para fazer e não é pedido então fica sem fazer, até que outra pessoa vai e faz”, remete ao fato de que para ele, alguns colegas têm a necessidade de receber ordens para que as coisas sejam feitas no ambiente da organização. Não tem comprometimento com as ativida des e só as executam se lhes for exigido ou solicitado por alguém. Instaura-se nesse espaço sentimentos de negatividade, da omissão, da falta de comprometimento. A preposição sem indica a ausência do fazer. Sequencialmente o S2 relatou que o pecado da ira aparece quando acontecem “fofocas sobre a vida pessoal” [SD5]. A ira causa desequilíb rio no ambiente organizacional acarretando desarmonia, intrigas, conflitos e fofocas entre os colaboradores, relatou S2. No que se refere às ações da gerência, observou-se cuidado no trato de problemas provenientes de ações metaforicamente caracterizada s como pecados. S2 respondeu que a gerência “conversou e fez com que se resolvesse” [SD6]. É explícito o teor d e poder instaurado como elemento simbólico em “e fez que se resolvesse” [SD6]. A representação simbólica do cargo da gerente demonstra que há um poder legitimado. À gerente é concedido o direito de exercer a autoridade, porque isso é típico de sua posição hierárquica, desvelando o pecado da soberba representado metaforicamente nas suas ações. Ela acredita que pode contornar problemas com o uso do poder que o cargo lhe confere. O verbo fazer, que pode ser transitivo, intransitivo e reflexivo, evidenciou a marca do pecado da soberba. Em oposição, os S3, S4 e S5 afirmaram que a gerência “conversou c/as funcionárias juntas e assim resolveu” [SD7], “com sabedoria e in teligência, constatando que as coisas 65 mudam” [SD8] e “com tranquilidade e dinâmicas fazen do com que as pessoas se “ligassem”, no que estava fazendo” [SD9]. Nessas sequências discursivas chama a atenção para discursos semelhantes dos sujeitos. Eles afirmam que a gerente procura resolver as situações conflitantes com bastante seriedade, dinamismo e tranquilidade, buscando mostrar ao grupo que com conversa as coisas se resolvem. Já o S5 usaa gíria “se ligassem” deslizando o sentido para fazer funcionar. Mais uma vez o poder instituído no papel da gerência aparece com a intenção de destaque. O uso das aspas demonst ra que o sujeito quer marcar a alteridade de seu discurso, pois elas dizem que o sujeito deseja que seus interlocutores decifrem a sua mensagem. S5 tem apenas 18 anos e usa o verbo ligar no sentido de ficar atento, recorrendo à formação discursiva comum aos jovens dessa faixa et ária, que são marcados pela identidade do grupo que fazem parte. Cria-se um universo discursivo único onde os sujeitos interpretam da mesma maneira o uso da gíria e as aspas. Quatro dos sujeitos entrevistados responderam que os pecados tem conotação negativa para o ambiente da organização. Savater (2006) argu menta que há necessidade de “explicá-lo exclusivamente como um defeito de crescimento, como uma debilidade psicológica, um erro, a consequência necessária de uma estrutura socialnadequada,i etc.” (p.9). Comprova-se isso nas seguintes sequências discursivas: S2: “Sim, pois eles afetam não só a pessoa, mas to dos ao seu redor, independente do que seja” [SD10], S1: “Sim o nome já diz, pecado coisa boa não é” [SD11], S4: “Automaticamente, a pessoa, quan do está pecando ela estará trazendo sentimentos negativos com ela e para quem está ao eus redor” [SD12] e por fim S3: “Sim, muitas vezes traz o afastamento, desentendimento entre outros” [SD13]. Algumas marcas de intensidade (automaticamente), de qualificação nega tiva (boa não é), inclusão do grupo (todos) e geográfica (redor) aparecem nos discursosrevelando o teor negativo dos pecados e mostrando que quando ocorrem atingem a um número expressivo de pessoas. Os outros dois sujeitos S5 e S6 responderam que os pecados capitais não causam sentimentos negativos. Ao mesmo instante esses sujeitos, quando perguntado em que situação os pecados podem ser positivos contestaram que em nenhum momento eles são positivos. S5: “Não” [SD14], S6: “Nenhum” [SD15]. Instauram-se nes ses discursos a contradição dos sujeitos. “Analisar o discurso é fazer com que desapareçam e reapareçam as contradições, é mostrar o jogo que nele elas desempenham; é manifestar como ele pode exprimi-las, dar-lhes corpo, ou emprestar-lhes uma fugidia aparência” (FOUCAULT, 2005, p. 171). Diante disso, o discurso de S5 e S6 está carregadode contradições, que se travestem de características para valer-se de credibilidade, onde enuncia X para não dizer Y, discurso de 66 um sujeito clivado, atravessado por representações ideológicas dentro de um contexto sócio- histórico, repleto de embates e contradições. Os sujeitos S1, S3 e S4 também afirmaram que o pecado capital, no ambiente organizacional não geram situações positivas. S1: “ Não” [SD16], S3: “Nenhuma” [SD17], S4: “Nenhuma” [SD18]. Nesses casos não ocorreu contradi ção nos discursos, visto que no questionamento anterior os sujeitos afirmaram que os pecados são negativos na organização. Outro aspecto abordado nos questionamentos diz respeito às relações e o espaço social, nesse caso o organizacional. Assim, nesse aspecto, os grupos são constituídos por diferenças e se atraem por objetivos iguais, também esses membros da organização têm suas respectivas histórias e suas condições sociais, det erminantes de seus gostos, percepção, crenças e ritos. Não se instalou na organização uma cultura que busca por objetivos iguais, de habitus de resultados semelhentes. Comprova-se isso em alguns discursos quando perguntado até que ponto os colaboradores pensam somente no crescimento pessoal e não da empresa. Assim S3 respondeu: “Até o ponto de não prejudicar a relação c/ minha família” [SD 19], S2: “Quando a pessoa pensa só na empresa e não na sua v ida pessoal” [SD 20], S6: “Até o ponto de não prejudicar a si mesma” [SD21]. De outra maneira S1 afirmou que “Se a empresa não d er lucro e crescer provavelmente também não vou crescer” [SD24]. O pecado da gula aparece no uso das palavras lucro e crescer, ai está à causa da gula, marcada pelo excesso. O sujeito desenvolve uma obsessão por querer mais e mais, como se esse fosse o único objetivo a ser alcançado não lhe dando oportunidade de escolha, devora a tudo e a todos, com senso de urgência. “[...] a razão é deixada de lado, submetendo a própria vida aos praz eres oriundos do desejo desordenado de se alimentar como forma de controlar a ansiedade” ( LEITE, 2002, p.35). O habitus individual aparece nos discursos de S4 e S5 quando afirmam que em nenhum momento estão dedicados aos projetos de cres cimento da organização. S4: “Nenhum” [SD 25], S5: “Nenhum” [SD 26]. O sujeito i ndividualizado mostra-se com um habitus em que não há uma preocupação de pertencimento e trabalho pela organização. Não há uma interação social entre os sujeitos. Há um deslize de sentido metafórico para o pecado da preguiça. O sujeito preguiçoso não consegue ver sentido em nada. É procrastinador, deixa para depois, falta-lhe vontade e não quer fazer esf orço para conseguir as coisas (LEITE, 2002). A preguiça aparece tanto na forma de pensar como na de agir. O sujeito não quer envolver-se em atividades da organização por pura p reguiça. O pronome indefinido nenhum marca o pecado da preguiça e também revela a não existência da cultura de cooperação. 67 Os sujeitos S2, S3 e S6 se recusam a significar com palavras usando o silêncio para manifestação de sentidos. Surge a possibilidade de duas análises, que de acordo com Orlandi (2002), seriam o silêncio imposto, ou o silêncio opostopr. Na primeira análise os sujeitos agem como se dominados, excluídos e sem possibilidade de significar, ou também como silêncio proposto, onde o sujeito propõe-se a ficar calado como forma de resistência, de defender ou mesmo de proteger-se. “O silêncio não évazio, o sem sentido; ao contrário, ele é o indício de uma totalidade significativa. Isto nos leva à compreensão do ”vazio” da linguagem como horizonte e não como falta” (ORLANDI , 1997, p.70). A noção de sentido e sujeito é fundamental para a AD. As palavras, atravessadas pela ideologia, mudam de sentido à medida que mudam de s ituação de enunciação. O sentido das 12 palavras nunca é o mesmo . Este sentido se estabelece, justamente, na relaçã o que o discurso proferido pelo sujeito, tem com outros discursos. Somente o S1 expressou-se respondendo “Sim sempre p rocuramos manter a loja em ordem pois facilita para todos”[SD 27]. O que realm ente se encaixa como projetos para S1 é manter a ordem, pois facilitaria para todos. Nada de muito trabalho. O nós oculto no discurso na forma do verbo procuramos, pronome de 1ª pessoa do plural, revela que o sujeito inclui-se nas situações mostrando que há concordância com a a ção, ampliando a sua competência linguística. É nesse momento de inserir-se no discu rso é que demonstra seu poder ou um efeito de poder, podendo assim escolher ao dizer: “ Facilita para todos”. Como sujeito é privilegiado, ele deseja a ordem, mas deposita o interesse seu nas ações de todos. A ira se desenvolve em um processo de gradação. Peq uenos fatos podem ir somandose a outros até que o sujeito se rebela. Pode transforma-se, muitas vezes incapazes de diálogo. A ira não pode transforma-se em uma norma da vida e das organizações. Para ser considerada como um pecado é necessário que ocorra a desordem,ação oposta à razão (SAVATER, 2006). Os sujeitos da pesquisa identificam à ira no ambiente organizacional quando dizem que S2: “Quando algo sai errado, ou alguémfaz o que não deve” [SD 28], S3: “Eu acho que até quandoninguémofende um ao outro, e não se intromete no assunto de outra pessoa” [SD 29], S6: “Quando surge fofoca e intromissão” [SD 30 ], os demais sujeitos responderam S4: “Não” [SD 31], S5: “Nenhum” [SD 32] e S1 não respon deu. A indeterminação aparece como marca nos discursos d os sujeitos S2 e S3 nos pronomes alguém e ninguém. Esses pronomes 12 indefinidos figuram como pronomes A palavra “vaca”, na Índia, significa algo sagrado e intocável. Em qualquer outro país não tem o mesmo sentido, evidenciando assim que as palavras mudam de sentido de acordo com quem diz, para quem diz, como se diz e em que circunstância esse dizer é pronunciado, observando o momento histórico que se insere. 68 invariáveis, sendo usados em terceira pessoa e dando ideia de indeterminação e de discurso vago. Os sujeitos transferem a responsabilidade da ação a outros sujeitos partícipes da organização, excluem-se da responsabilidade da ação impessoalizando-se no discurso; o pronome alguém é o responsável pelas coisas erradas esse alguém pode ser uma série de pessoas. Assim S2 exime-se das responsabilidades da organização, mesmo fazendo parte dela, mostrando-se como aquele que não comete erros, faze ndo o que não deve. Nesse processo há o deslize metafórico do pecado da soberba, onde o s ujeito não dá lugar a ninguém, tampouco tolera incluir-se no grupo que faz as coisas erradas, não aceita conversar, não quer intromissão e, em outras palavras significa-se exibindo um ar de superior, como se estivesse dizendo que não pertence a esse grupo que erra, que não quer di vidir os problemas, mostrando-se como o melhor e que pertence a um estrato superior (SAVATER, 2006). Se a cultura é um conjunto de valores, crenças, políticas e padrões que são praticados pelos sujeitos da organização, seria dizer que esse conjunto necessita ser partilhados por todos de forma homogênea, igual ou semelhante. Esse comportamento condiciona os membros a buscar a um só propósito. Dessa maneira foram evide nciadas essas ações nos discursos de S1, S3, S4, S6 quando perguntados se estão dedicados a projetos pessoais e que se os mesmos se encaixam nos objetivos da organização. Por tanto, S 1 responderam que: “Acredito que sim” [SD 32], S4: “Na grande maioria” [SD33], S6: “Sim. Nos comprometemos e fazendo o possível para tudo dar certo” [SD 34], S3: “Sim, um ajuda o outro c/ as tarefas concebidas a cada um” [SD 35] e S2 não respondeu ao questionamen to, silenciando-se. Em oposição a essas assertivas S5 respondeu : “ Alguns. Nem todos dão a devida atenção para as suas funções” [SD 36]. Ocorre o des lize de sentido metafórico da soberba. O S5 afirma que alguns colaboradores estão dedicados a projetos pessoais que se encaixam nos objetivos organizacionais. Usando “alguns” ele refe re-se a vários colaboradores e em seguida justifica-se que nem todos dão importância para sua s funções. Nem todos estão comprometidos e atentos ao que devem fazer. Não há uma concordância de que a equipe realmente esteja uniforme com seus objetivos, S5 jápercebeu isso no ambiente de trabalho. Esse sujeito não se inclui no processo e sim se col oca a aparte, entendendo não ser desse grupo. Sente-se superior tornando-se soberbo, pois acredita ser o melhor de todos, aproveitando a oportunidade para enganar o sistema e os outros, desqualificando os demais, parece envernizado de poder, sendo inteligente o suficiente para lucrar com isso. No discurso de S4 evidencia-se o pecado da gula. O sujeito usa a marca grande e maioria. A palavra grande funciona como um adjetivo avaliativo anteposto que qualifica o substantivo maioria de forma mais subjetiva, isto é, o sujeito apropria-se do discurso dos 69 demais para assim afirmar que quase todos, o maior número dos colaboradores está envolvido de certa forma com os objetivos da organização. O s ujeito transforma-se em porta-voz dos demais, legitimando-se nesse discurso, por conseguinte também ocorre o deslize metafórico para o pecado da soberba, onde o sujeito sente-se superior aos demais e sem autocrítica nenhuma e reconhecimento que o outro pode ter outra opinião e análises diferentes. O soberbo muda a sua própria realidade, não permitindo identi ficar as próprias fraquezas e ameaças, para isso impõe-se respondendo pelos demais e muitas vez es usando de um poder que pensa ter para decidir e agir pelos demais. Também é possívelverificar o pecado da preguiça tanto na SD35 como na SD36. Quando o sujeito menciona as palavras grande, maioria e alguns não está afirmando que são todos, alguns tem preguiça. Os dados coletados apontaram que os sujeitos afirmam não estarem procurando reconhecimento e aplausos para o que fazem. Os discursos evidenciam que há contradições nessas afirmações, observa-se isso nas seguintes se quências discursivas. S1 disse: “Não. Procuro fazer meu trabalho da melhor maneira, e sei quando estou vendendo através dos números” [SD37], S2: “Nem sempre, a não ser que sej a algo difícil ou de mero reconhecimento” [SD38], S3: “Não, o importante é fazer certo e bem, nossas tarefas” [SD39], S4: “Não” [SD40], S5: “Não” [SD41] e S6: “N ão. Faço o que acho certo e o que devo fazer sem precisar ficar toda hora atras de elogios” [SD42]. Os sujeitos S4 e S5 ao enunciarem negativamente e silenciando, podem estar significando outros sentidos que não só aquele do uso de negação. Quando silenciam abrem a possibilidade de outras interpretações, como por exemplo, a de outros objetivos e respostas implícitas na negação e no silenciamento. Já o adjetivo certo marca o pecado da soberba do S3. Ele não admite que as coisas saiam de forma errada. É perfeito, não comet e erros. No discurso de S3 figuram as marcas do adjetivo certo e do advérbio bem. O uso do advérbio marca o discurso conveniente e satisfatório do sujeito que com essa ação exprime o sentido do pecado da avareza, quando complementa esses elementos respondendo “nossas tarefas”. Tudo pertence a ele. Peca em ser avaro. T udo lhe pertence, mas poucas vezes aproveita as coisas que conquista. As demais sequências discursivas enunciaram que ossujeitos usaram a negação e em seguida a afirmação, que de acordo com Cazarin (200 0) seria dizer: os sujeitos disseram não, mas em seus discursos são evidenciadas marcas antag ônicas de: não é x..., mas é y; nem... frase afirmativa e não... frase afirmativa. Nessa perspectiva Barbosa (2009, p. 8) argumenta que: 70 o operador “não” mostra, marca que no discurso exis te um enunciado afirmativo, o qual pode ser recuperado por meio da memória discur siva. O sujeito recupera o discurso outro, no interdiscurso, de forma negativa, para apresentar outro enunciado pertinente à formação discursiva afirmativa. Dessa forma, estabelece-se uma tensão entre posições distintas de sujeito, que confrontam duas FDs no mesmo discurso. Nega-se/afirma-se numa intensa contradição, o que p roduz um duplo efeito de sentido. O sujeito apresenta uma outra posição-suje ito e busca desqualificar o discurso-outro via negação/afirmação. Estes sujeitos ao negarem em seus discursos apresentam uma atitude de soberba, mais uma vez ocorre um deslize de sentido metafórico par a o pecado da soberba. A soberba nega e contradiz o que a humanidade aconselha. Estimula o orgulho, a vaidade, o egoísmo e a presunção de querer ser o que não é (SAVATER, 2006) . A soberba é o desejo de sua própria elevação, é o apreço desordenado das próprias quali dades do sujeito, ele deseja o poder. As aspirações individuais e coletivas dos membros d e uma organização demonstram a sua vontade de cumprir as metas e objetivos. Tais aspirações determinam a cultura. Perceberam-se essas diferentes formas de aspirações nos discursos dos sujeitos quando foram perguntados se esperavam receber reconhecimentos pelo bom trabalho e naquilo que fazem a mais dentro da organização. Os sujeitos manifestara m-se da seguinte maneira: S1 e S5 responderam que: “Não” [SD43], S5: “Não” [SD44], S2 afirmou que: “Sim, pois creio que o esforço dado deve ser reconhecido” [SD45], S3 contestou com: “É sempre bom receber um elogio quando realizamos bem nosso trabalho, é um incentivo, mas procuro sempremelhorar no meu trabalho p/ que posso realizá-lo melhor” [SD45], já S4 argumentou que: “Nem sempre, mas ésempre bom ser reconhecido no seu trabalho pelas atividades que faz” [SD46] e, por fim S6 respondeu: “Sim. Pelo menos um bom agradecimento, não só dos chefes como dos clientes também” [SD47]. As sequências discursivas possuem marcas que deslizam para o sentido metafórico dos pecados da soberba, luxúria e gula. As marcas que evidenciam esses pecados aparecem no advérbio sempre, no discurso de S4, que significa que o colaborador sem cessar; sem fim e sem interrupção, gosta de ser reconhecido, ser o me lhor. Quando elogiado ou recompensado vai sentir acima dos demais. O pecado da soberba exprime o desejo que os outros reconheçam as próprias preeminências, por sua vez, acompanhado pela vontade que os demais, através de elogios, ou pela submissão à sua pessoa o reconheça m como o superior. O soberbo também tem como objetivo divulgar o suposto mérito aos demais para receber recompensas. Ele anseia honras e distinções pelas primeiras posições na organização. Nesse mesmo discurso, pode-se identificar o pecado da luxúria, onde o sujeito associa suas ações ao excesso, aos exageros de reconhecimentos. Isso também é percebido no discurso de S6. O pecado da 71 luxúria de ser reconhecidos por todos.O sujeito desenvolve a volúpia, o excesso de alguma coisa que estimula seus sentidos. De outra maneira o pecado da gula aparece na intenç ão de marcar que cada vez o sujeito quer mais, não são poucas coisas que lhe sa tisfaz. No discurso de S2 há o uso do verbo intransitivo dever com intenção de mando, ord em e obrigação, ocorre também o deslize de sentido para o pecado da soberba. O sujeito significa-se contestando que seu líder tem obrigação de reconhecer tudo o que faz. O S3 para enunciar usa o adjetivo bom e o advérbio bem para reforçar a necessidade de receber elogios e reconhecimentos. Para intensificar esse desejo usa o advérbio sempre com o objetivo de assinalar que essas ações são a t odo tempo e que satisfazem se ocorrerem. Há um deslize para os pecados da luxúria, soberba eda gula. A luxúria é o desejo pela obsessão, à necessidade de obter reconhecimento fre nte aos demais. É uma compulsão. Uma necessidade desesperada de acalmar seus impulsos, não é um desejo real. Desenvolvem-se sentimentos negativos de culpa, mal-estar e capacidade evasiva. É o querer mais do que os outros, ser mais que os demais. Em seguida, o sujeito faz uso da palavra melhor que funciona no período como superlativo de bom ou comparativo de superioridade sintético de bem e do verbo transitivo direto melhorar, deslizando o sentido metafórico da soberba e da gula. Fala de orgulho e uma atitude de arrogância, denominando suas ações como as melhores, e desfruta a contemplação de suas próprias qualidades, com desprezo pelos out ros. O soberbo é autossuficiente, porque acredita que se basta, que não necessita de ninguém, isso ficou evidenciado quando o S3 usa “[...] realizamos bem nosso trabalho, [...] mas procuro sempre melhorar no meu trabalho p/ que posso realizá-lo melhor” [SD45]. No primeiro momento inclui os demais ao a firmar “realizamos bem”, quer dizer o grupo executa bem, m as o sujeito quer mais- procuro sempre melhorar, quer tornar-se evidente no grupo, destacar-se e o faz na mudança de pessoa de nós para eu e no uso do pronome possessivo meu. O S3 ao querer melhorar desliza o sentido metafórico para o pecado da gula. Quer mais e mais de forma desmedida. Ao instante que os colaboradores foram questionados sobre como organizam o trabalho, se este é somente observando seus próprios interesses, sem ao menos importar-se com as necessidades e os interesses dos demais colaboradores, algumas marcas ficaram em evidencia nos discursos de S2: “Todos ajudam todos” [SD46], S3 afirmou que: “Organizar de acordo com a necessidade da loja” [SD47], S4: “De acordo com as necessidades e interesses dos clientes, e mantendo uma boa comunicação com os colegas de trabalho” [SD48], S5: “De 72 acordo com a necessidade e interesse do cliente”, S6: “De acordo com as necessidades da empresa” [SD49] e S1 não respondeu, preferiu silenc iar. Ao analisar esses discursos, observa-se o deslize de sentido para o pecado da preguiça. A preguiça afasta os sujeitos dos objetivos determi nados. Nesse caso os sujeitos só estão preocupados com a organização e os clientes. Não há nada mais que se possa ser desenvolvido, como por exemplo, as questões sociais , de responsabilidade social e outras ligadas às relações interpessoais. Há uma limitação de ações e de comportamentos. O substantivo necessidade marca o deslize de sentido para o pecado da preguiça. Quando questionados sobre outras informações a menc ionar sobre os pecados capitais, mais uma vez os sujeitos negaram. A negação aparece como marca nos discursos dos sujeitos como forma de não dizer algo, mas de querer signifi car alguma coisa. Tudo aquilo que é interditado no domínio de uma FD está no interdiscurso, é lá o lugar do indizível. E quando esse dizer interditado atravessa a fronteira da FD, ele deixa uma espécie de cicatriz, uma marca que denuncia a presença do estranho. E esta marca é a negação mesma do estranho, o que se dá, no nível da formulação linguística, como negação ou como afirmação (MITTMA NN, 2006, p. 4). Os sujeitos negam. Ao negarem apagam-se como sujeitos. A negação rejeita um enunciado anterior ou posterior. O poder simbólico representado e constituído pela enunciação dos sujeitos confirma terem a mesma visã o de mundo, e somando a isso se pode complementar com a ideia de a negação é um dos processos de internalização que advém de outros discursos, possibilitando a averiguação de u m pré-construído, ou seja, um já dito, originário do interdiscurso, a memória do dizer (INDURSKI, 1992). O S2 marcou seu discurso com ironia. S2: “Que a gul a está mais presente kkk” [SD33]. Ao fazer a representação simbólica da k como expressão de riso o sujeito ironizou. A ironia representa que há uma voz diferente, que nãoa do locutor, é a voz de enunciador que assume as palavras, mas não o que elas podem repres entar. “Subverte a fronteira entre o que é assumido e o que não é pelo locutor” (MAINGUENEAU, 1997, p. 98). Mostra-se nesse discurso um deslize de sentido para o pecado da luxúria e da própria gula. O sujeito quer chamar a atenção de forma irônica, busca nesse disc urso evidenciar que certo exagero, um consumo desmedido e que as ações da organização est ão ligadas ao excesso. Para Gregolin e Barona (2003), a ironia revela um jogo que acontece entre o que se diz com aquilo que se faz dizer, desejando desordenar valores e processos, sejam aqueles que vão negociar os sentidos ou aqueles que vão imprimir o envolvimento do interlocutor. As marcas mais evidentes nos discursos desses sujeitos demonstraram que há deslizes metafóricos de sentidos para os sete pecados capita is. Os sujeitos usaram advérbios, adjetivos, 73 verbos, aspas, gírias, outras formações discursivas e pronomes possessivos e indefinidos para significarem-se causando silenciamento, inclusão e exclusão no discurso através de contradições e indeterminações. Materializaram suas ações com deslizes de sentidos para os pecados capitais através de marcas linguísticas. Quadro 5 – As estruturas da metáfora no Caso Dois. Marca Classe Gramatical SD FD Não Advérbio de negação 43 PF Deve Sempre VI Advérbio de tempo 45 45-46 PF PF 2 3-4 Pergunta 4.5 a 4.8 4.11 a 4.13 4.8 4.11 Bom Advérbio 47-45 PF 6-3 4.11 Melhorar VT/VI 45 PF 3 Bem Advérbio 47-39 PF 3 4.11 4.10 4.11 Soberba Soberba-Luxúria Soberba, Luxúria e Gula Soberba e gula Soberba, Gula Luxúria, Avareza 47-48-49 PF 2-4-5-6 4.12 Preguiça 50 PF 2 4.13 Luxúria e Gula 1 PF 3 4.2 Inveja Adjetivo VTD Gerúndio Substantivo Feminino plural 2 1 PF PF PF 3 3 3 4.2 4.2 4.2 Soberba Inveja Inveja 4.2 Inveja e soberba Sem Preposição 4 4.2 Preguiça Fez VT/I Reflexivo 6 PF 2 4.3 Soberba Crescer VT 24 PF 1 4.6 Gula Lucro Substantivo masc. singular 24 PF 1 4.6 Gula Nenhum Pronome indefinido 25-26 PF 4-5 4.5 4.6 Preguiça Necessidade Kkkkk Realizo Maior Adquire Invejando Comparações Substantivo fem. singular e plural Representação simbólica e ironia VT 1 3 Sujeito 1-5 PF PF Pecados Soberba Alguém Pronome indefinido 28 PF 2 4.8 Ira Soberba Ninguém Pronome indefinido 29 PF 3 4.8 Ira Soberba Alguns Pronome indefinido 36 PF 5 4.9 Grande Adjetivo 33 PF 4 4.9 Maioria Substantivo fem. Singular 33 PF 4 4.9 Certo Adjetivo 39 PF 3 4.10 Gula Soberba Gula Soberba Soberba Substantivo fem. 5 PF 2 4.2 Ira plural Legenda: SD – Sequência discursiva; FD – Formação d iscursiva; PF – Profissional; VI – Verbo intransiti vo; VT – Verbo transitivo; VTD – Verbo transitivo direto; VTI – Verbo transitivo indireto. Fonte: Dados da pesquisa. Fofocas 74 4.3 CASO TRÊS 4.3.1 Apresentação do caso A empresa familiar Y iniciou suas atividades em agosto de 2010 no ramo de prestação de serviços na área de conservação e limpeza e atua como terceirizada de grandes organizações. Primeiramente sua sede funcionava em um espaço pequeno, hoje, encontra-se em um espaço amplo com salas apropriadas para reuni ões e treinamentos. Seu objetivo organizacional é promover a melhoria contínua de pessoas, serviços e produtos e a satisfação de todos para ser reconhecida como “empresa modelo” . Pelas características das atividades, o grupo de trabalho é dinâmico, com profissionais comprometidos, beneficiando os clientes com serviços competitivos. É uma empresa de médio porte que conta atualmente com 109 colaboradores, sendo o proprietário, dois colaboradores de nível intermediário e 107 de nível operacional distribuídos em várias cidades e em várias empresas. Os serviçosprestados são de portaria, zeladoria, recepção, limpeza e conservação de locais específic os ou com demanda em geral (fachadas, obras, calçadas, jardinagem, etc.) e dedetização e higienização de caixas d’água. Durante o processo de observação do ambiente organi zacional e procedimentos de esclarecimentos, constatou-se que na sede da empresa apenas dois colaboradores de nível intermediário cumprem com suas atividades nesse espaço. Os demais estão distribuídos nas empresas onde a mesma presta terceirização de servi ços em geral, na cidade de Santo Ângelo e região. No caso do grupo de questionados, esses r ealizam o trabalho de limpeza e conservação da empresa Z, na cidade de Santo Ângelo , perfazendo 30 colaboradores. A empresa Y com seus serviços de terceirizações ate nde várias empresas da cidade e da região. A fim de se ter como base de análise optou-se somente por realizar a pesquisa com o grupo de colaboradores da cidade de Santo Ângelo, mais especificamente aqueles que realizam suas atividades de limpeza e manutenção na empresa Z, totalizando assim 30 questionários entregues e 22 respondidos. 4.3.1 Perfil dos respondentes Foram entrevistados 22 colaboradores, na faixa etária de 18 a 49 anos, sendo 17 mulheres e cinco homens, que prestam serviços em 24 prédios. Dos entrevistados dois possuem Ensino Superior incompleto, treze têm Ensino Médio, seis concluíram o Ensino 75 Fundamental e um entrevistado não respondeu qual o seu grau de instrução. Apenas dois entrevistados disseram ter morado fora de Santo Âng elo. Dos 22 entrevistados 15 estão casados ou tem contrato de união estável, 5 estão solteiros e 2 não responderam. A maioria (11) dos entrevistados atua de 1 a 3 anos na organização; três estão a mais de cinco anos, dois estão de 3 a 5 anos na organiza ção, dois estão a menos de um ano e dois não responderam. Os entrevistados disseram não ter nenhuma relação familiar com os fundadores da empresa e S2 destacou que nem conhece os proprietários. A cultura de uma organização se constrói à medida q ue os indivíduos que dela fazem parte interagem uns com os outros. Na etapa de observação da pesquisa foi possível verificar que alguns colaboradores adotam como cultura, como princípios e valores o que expressa à empresa na qual eles prestam o serviço de limpeza e manutenção e não para a sua empresa, aquela que lhe contrata e que tem vínculos empregatícios. Percebeu-se que alguns entrevistados identificam-se como colaboradores da empresa Z e não da empresa Y. Uma das funções básicas da cultura é transmitir um sentimento de identidade com os membros que a constituem, no caso desses colaboradores há uma identificação com os colaboradores da empresa na qual é prestado o serviço de limpeza e manutenção. Isso se evidenciou quando foi perguntado há quanto tempo atuavam na empresa, alguns perguntaram se era na empresa Z ou na empresa Y. Os entrevistados aprenderam e compartilham a cultura da organização que desenvolvem suas atividades e nã o com aquele que começou a organização o seu fundador ou o líder, sujeito que lhes transfere a visão e valores da organização a qual pertence. 4.3.2 Análise dos dados De acordo com os sujeitos, os pecados capitais que mais aparecem no ambiente de trabalho são: “inveja e preguiça” (S1), “ganância e inveja” (S4), “avareza” (S8), “inveja” (S9), “soberba” (S10), “soberba, inveja” (S12), “av areza” (S13), “preguiça” (S14), “soberba e inveja” (S15), “inveja” (S16), “ira e soberba” (S17 ), “inveja” (S18), “inveja” (S20) e “inveja” (S21). Os demais sujeitos (S2, S3, S5, S6, S11 e S22) disseram não perceber nenhum pecado no ambiente de trabalho. Para S7, os pecados no ambiente de trabalho são rep resentados pelos desejos “por atributos e coisas de outro. Sua característica típica é a comparação desfavorável dostatus de uma pessoa em relação à outra”. Isso significa dize r que o discurso do S7 foi sustentado por 76 palavras de outros sujeitos, mas que ele o usou para poder falar sem admitir que era o enunciador, para colocar-se distante de seu próprio discurso. Essa interpretação discursiva encontra respaldo nos ensinamentos de Authier-Revuz (1990), quando afirma que existe uma heterogeneidade constitutiva do discurso e outra: mostrada no discurso e que estas representam duas ordens de realidade diferentes: a dos processos reais de constituição dum discurso e a dos processos não menos reais, de representação, num discurso, de sua constituição . [...] Face ao ‘isso fala’ da heterogeneidade constitutiva responde-se através dos ‘como diz o outro’ e ‘se eu posso dizer’ da heterogeneidade mostrada, um ‘eu se i o que eu digo’, isto é, sei quem fala, eu ou um outro, e eu sei como eu falo, como utilizo as palavras (p. 32). Nesse sentido, o “outro” figura no discurso do S7 como porta-voz de seu discurso. O sujeito passa a ser o porta-voz do enunciado do outro, deixando transparecer que ele é a verdadeira fonte daquilo que está pronunciado, considerando assim, que o que foi dito tenha o real sentido pretendido. Muitas vezes ao fazer uso desse procedimento apaga o sujeito que está implícito no discurso. Torna-se uma forma de eximir-se de suas ações. É o sujeito que significa nas palavras do outro. Isso evidencia que o sujeito teme por expressar sua opinião e apoia-se na fala do outro afim de não sofrer nenhum tipo de punição ou crítica pelo dito por ele. No imaginário desse sujeito e como prova de que ele pensa realmente isso, ele apropria-se desse discurso que não o seu, desejando manifestar- se sua concordância com esse. No discurso há uma ocultação do sujeito, mas no sentido, o sujeito está ali, manifestado pelo dizer do outro, pois tem preguiça de elaborar a sua opinião. O pecado da preguiça se instaura na ação do sujeito. Chama a atenção à resposta do S19 a esse questionam ento. O sujeito responde que o pecado que percebe na organização é o: “capital” [S D16]. Esse capital, simbolicamente pode estar sendo representado pelo dinheiro que recebem os colaboradores, aos bens mensuráveis da organização, ao capital intelectual de cada cola borador e a forma com está sendo empregado este capital, que para este sujeito estárelacionado ao pecado. Nessa SD percebe-se o pecado da luxúria. Não obstante, para o S9, com relação à percepção do s pecados no ambiente de trabalho, observou que existe a inveja. Evidenciou-se que o sujeito tem receio de apropriar-se do seu discurso, então afirma que na sua empresa nã o ocorre isso e que essa caraterística é de empresas maiores, classificando o pecado como sendo o primeiro da lista dos sete pecados. Analogamente, no imaginário desse sujeito o pecadoé representativo de algo negativo. Ele admite que na sua organização tenha pecado da invej a, em seguida nega que isso ocorra na sua empresa, mas nas outras sim, nas grandes. O sujeito desliza o sentido de seu discurso para o pecado da soberba admitindo que em sua empresa, por ser pequena, ninguém comete 77 pecados. Estaria esse sujeito invejando a não possibilidade de estar em uma empre sa grande quando usa a negação. S9: “A inveja, não que exista na empresa que trabalho, mas em grandes empresas creio ser o 1º dos pecados” [SD4]. Observou-se que os entrevistados percebem o pecado capital da inveja no ambiente de trabalho quando as ações envolvem situações de disp uta por funções ou cargos. Comprova-se isso nos discursos de S4: “Não se contentar com o p róprio cargo que á tem e visar o lugar do outro” [SD17], S7: “No momento em uma pessoa quer ocupar no meu ambiente de trabalho” [SD18], S8: “No momento em uma pessoa quer ocupar no meu ambiente de trabalho” [SD19], S12: “Colegas que gostam de gabar-se e desfazer do serviço dos outros, achando que sempre faz melhor” [SD20], S15: “Quando a gente começa a se destacar “os colegas” ficam com inveja” [SD21], S16: “Quando nossos colegas recebem elogios ou são promovidos, etc.” [SD22], S18: “Quando colegas são promovido s ou elogiados” [SD23], S20: “Quando colegas são promovidos ou elogiado” [SD24] e S21: “Quando você é promovido ou muito elogiado” [SD 26]. Os sujeitos S2, S3, S6 e S10 responderam que nunca perceberam os pecados capitais, S17 disse que em várias vezes e os S5, S11, S22 silenciaram. A SD18 do S7 marca o pecado da avareza. O sujeito tem receio de perder o que lhe pertence. Ainda pode-se constatar o pecado da soberba, na SD 20, com a marca do verbo gabar-se e o uso do vocábulomelhor como do superlativo de bom. As marcas do pecado da inveja são: o pronome indefinido outro, os adjetivos elogiado e promovido, o superlativo melhor, a expressão inveja, a conjunção quer e o verbo ocupar . Há um consenso que quando os colaboradores são elogiados ou recebem promoções, essas ações não são bem recebidas e que este tratam ento, dado a alguns integrantes da organização, tem ocasionado inveja entre aos demais resultando no pecado da inveja. Ao mesmo instante o pecado da gula se instaura no ambiente quando relatam os sujeitos que alguns colaboradores desejam o lugar do outro, além do seu próprio. É um desejo desordenado e o sujeito quer mais do que lhe é destinado e permitido, sendo capaz de passar por cima dos interesses dos outros, sem respeitá-los. Os sujeitos S1, S9, S13 e S14 responderam de forma distinta a esse questionamento. O S1 confirmou que “Na hora de cumprir tarefas” [SD26] é que percebe os pecados capitais na organização. O S9 respondeu com deslize para um con formismo lógico, quando afirma: “Não sei explicar, pois a empresa é pequena sem muitos atrativos para se dizer que á concorrência entre colegas” [SD27]. Para S9, essa é uma empresa pequena e aqui não ocorrem essas coisas, supondo que somente nas grandes empresas, como se o sujeito dissesse as pessoas aqui não se 78 relacionam e como não tem atrativos não tem porque ocorrer um desenvolvimento. Dizendo de outro modo, não havendo desenvolvimento ninguém peca. De forma totalmente distinta dos demais, o S13 afirma que há “Muita economia de materiais” [SD28], indicando elementos para conside rar o pecado da avareza, pois a cultura organizacional é da prática de economia de materiais, ou seja, é avarenta. De acordo com Leite (2002), os avarentos não praticam desperdício s de materiais ou de tempo, são planejadores por excelência, previnem-se para que não ocorram obstáculos e o fazem cuidando de todos os detalhes das ações com esmerad a precisão. Como consequência do pecado da avareza, S14 percebeque, “quando precisa fazer alguma coisa alémdo mandado as pessoas não fazem alémde que se diga para fazer, sempre dizem- ‘não ganho pra isso’” [SD29]. Evidencia-se n esse discurso o uso das marcas além, de aspas e reticências. O uso do substantivo/ advérbioalém expressa ideia de mais longe, para lá, para mais do que. Esse sujeito desliza o sentido do substantivo além para o pecado da preguiça. O sujeito preguiçoso não quer fazer além do que lhe é pedido ou daquilo que é encarregado. No caso das aspas, o S14 buscou marcar o discurso de forma chamativa, destacando o enunciado com aspas e ao mesmo tempo usando o discurso de um outro sujeito e não o seu. Ocorre nesse espaço o deslize de senti do para o pecado da soberba, onde o sujeito acredita ser melhor que os demais, nesse caso excluindo-se do discurso. São os outros que dizem que não ganham para isso e não ele. As reticências apontam que o sujeito passa para o leitor ou enunciador a responsabilidade de decifrar, de compreender o que ele quis dizer, dando-lhe a possibilidade de completar o enunciado, supondo assim que o sujeito-leitor pode até solucionar tal problema apresentado (MAINGUENEAU, 1997). Outra vez o pecado da preguiça aparece no enunciado do S14. Ao serem questionados sobre como a gerência tratou os problemas gerenciais advindos do pecado da avareza, obteve-se as respostas apresentadas no Quadro 6. 79 Quadro 6 – Como a gerência trata as consequências od pecado da avareza? Sujeito Discurso Identificação da Sequencia Discursiva SD30 S1 “ Sem muita importância” S2 Nada escreveu, apenas fez um risco S3 “Não sei” S4 Não respondeu S5 Assinou o nome na resposta S6 “Não sei” SD32 S7 “ Não ” SD 33 S8 “ Não ” SD 34 S9 “As vezes, quase nem se percebe isso” SD35 S10 “Sempre fui tratado de acordo com meu trabalho devida educação” S11 Não respondeu S12 “Acho que esse tipo de assunto não chega até eles” S14 “ Não percebeu nada esta ausente, não sabe mandar” SD38 S15 “A gerencia nem da bola fica la sentada no seu trono” SD39 S16 “A princípio não tomou conhecimento” SD40 S17 “ Não fez nada. nunca se importa com nós” S18 “ Não tomou conhecimento” SD42 S19 “Normal” SD43 S20 “ Não tomou conhecimento” SD44 S21 “Sim” SD45 S22 Não respondeu SD31 SD36 SD37 SD41 Fonte: Dados da pesquisa. De uma maneira geral os sujeitos apontam para o fato de que a gerência não percebe ou não age de forma mais eficaz quando ocorrem esse s fatos no ambiente organizacional. Sob a ótica dos pecados há um deslize metafórico para o pecado da soberba sendo cometido pela gerência. “Talvez o aspecto mais pecaminoso da soberba seja o fato de que ela torna impossível a harmonia e a convivência dentro de ideais humanos” (SAVATER, 2006, p.31). As marcas que apontam esse pecado aparecem nos advérbios de negação não, nem e nunca, assim como na marca da conjunção sem. Os discursos que se destacaram foram os dos S14 e S15 que contestaram “Não percebeu nada esta ausente, não sabe mandar” [SD38] e “A gerencia nem da bola fica la sentada no seu trono”. O S14 faz referência à questão do mando na organização. O sujeito deseja, em seu discurso dizer que a autoridade de fato não existe na organização. Não existe uma tomada de decisões que causam efeitos sobre os colaboradores. O poder do líder ou de 80 quem coordena os colaboradores não é um poder instituído, legítimo, de posição e oficial, pois não é percebido pelos membros do grupo. A gerência comete o pecado da preguiça. Não há vontade para fazer coisas. O S15 diz que a gerência nem da bola, ocorre nessediscurso um deslize de sentido para o senso comum, no uso da gíria nem da bola, que dizer não se importa, comete o pecado da soberba, sente-se superior, mais que os demais. O sujeito complementa usando a metáfora trono, referindo-se ao rei, possuidor de ouro, poderes e um reinado onde ele somente domina e todos lhe obedecem. A gíria imprime o sentido de uma identidade do sujeito que a pronuncia. A linguagem usada pelo sujeito é a interação, entre ele e o meio social. Não funciona mais somente como veículo da comunicação. Não há uma visão de mundo desvinculada da linguagem. É nela que se inserem os conflitos de uma sociedade com suas inferências ideológicas. Os sujeitos interagem uns com os outros. A linguagem é ação transformadora, trabalho, produção social, interaçã o, na medida em que se define na relação necessária entre indivíduo e a exterioridade (FERREIRA, 1999, p. 20). A resposta a esse questionamento que mais se destocou no grupo foi a do S13 quando enunciou que: “Não me meti, pois isso não é da minh a conta” [SD46]. Observa-se que esse sujeito respondente assume a posição-sujeito de exc lusão do processo quando responde, “Não me meti”, em seguida usa a conjunção coordenativa e xplicativa pois, respondendo que isso não é da sua conta, excluindo-se da responsabilidade de participar dessa ação, justificando-se ou explicando o enunciado anterior (KOCH, 2004). A conjunção passa a ser um operador argumentativo explicativo nesse discurso. O sujeito tem a necessidade de justificar-se por não estar comprometido com todas as ações da organizaçã o. Os problemas oriundos dos pecados não lhe dizem respeito. Apesar de estar estruturado como um campo de poder, o ambiente interno de trabalho não se configura a partir do pe cado da soberba. A concepção homogênea de espaço desvelada aqui não promove o DO, mesmo as sim, fica evidente que há um deslize metafórico para o pecado da soberba. O sujeito constroi uma imagem aparente de superioridade fictícia de si mesmo, de eufemismo, desqualificação e desvalorização das ações dos outros. Assim, a soberba leva à desqualificação do que o outro faz. Os sujeitos foram questionados se os pecados capitais causavam-lhes sentimentos negativos, S1 respondeu que: “Acho que eles existem não como algo negativo mas na minha opinião para equilibrar a nossas vidas” [SD47]. O p ronome pessoal eles aparece como marcador de indeterminação, o sujeito afirma há que se ajustar as coisas de modo que se igualem as forças as quais estão submetidas. Esse d iscurso possibilita duas análises sob a ótica dos pecados. Primeiro o S1, em seu discurso d esliza o sentido para o pecado da luxúria, 81 pois ao usar o verbo transitivo equilibrar, abre precedente para pecar e cometer excessos até conseguir deixar as coisas estáveis em suas condições particulares. Por outra perspectiva, o discurso possibilita uma análise de deslize de sentido para os pecados da gula e preguiça. Do pecado da gula é que deseja fazer tudo, pecar e não pecar para equilibrar, do pecado da preguiça, o sentido recai sobre o fato desse sujeit o não querer mudanças pessoais e profissionais. Isso indica que ele está na zona deconforto e mantém o equilíbrio fazendo sempre as mesmas coisas. Assim sente-se procrastinado, cansado e com preguiça de mudar (ou ao menos pensar) e acaba não realizando nada de mudanças nele mesmo. Para Silveira (1998), algumas ações são desencadead as no ambiente organizacional e provocam mudanças no processo de DO, caracterizado como um processo de mudança planejada, direcionado para a eficácia e eficiênciadas organizações no âmbito das mudanças no ambiente. Prepondera o fator humano e a busca constante de uma harmonia entre as necessidades dos sujeitos que dela participam e dos objetivos da organização. Assim, prossegue o autor explanando que o objetivo maior édesenvolver o ser humano no ambiente organizacional e sempre que possível transformar as ações em autorrenovadoras, cujo campo de poder pode estar simbolicamente limitado pela cultura e/ou subculturas organizacionais. As pessoas se desenvolvem, aprendem coisas novas, mudam o seu comportamento e atitudes, desenvolvem novas motivações, criam novos problemas (MOTTA; VASCONCELOS, 2002). Dessa maneira, os processos de desenvolvimento de pessoas podem apresentar também procedimentos comparativos. Isso gera uma busca no sistema de conhecimento do ser humano, algo inerente e próprio da espécie, que deseja atribuir uma semelhança entre A e B, que resulta no uso de uma m etáfora (MORGAN, 2006). Ao rever e modificar as metas velhas estabelecendo novas, as mudanças ocorrem tanto nas organizações quanto nas pessoas, criando/reestruturando setores, pessoas migram, produtos são modificados e a tecnologia avança inexoravelmente. Os demais sujeitos responderam distintamente. Por exemplo: “Todo pecado é negativo” [SD48 – S2], “Sim, não sei explicar” (S3) , “Os pecados capitais sempre serão pontos negativos no ser humano, porque é o lado ruim que todo mundo tem um pouco” [SD49 – S4], “Sim, não tenho como explicar” [SD50 – S6], “Que preojudica [prejudica] e causa desunião” [SD51 – S7], “Que prejudica causa desuniã o [SD52 – S8], “Sim” [SD53 – S9], “Para mim seria como se fosse um misto” [SD54 – S10 ], “Com certeza são sentimentos negativos” [SD55 – S11], “Com certeza pode ser nega tivo, quando a pessoa com qualquer um dos pecados for demais, ela pode prejudicar o grande grupo, de uma maneira ou outra influenciando para o bem ou não” [SD56 – S12], “São negativos sempre” [SD58 – S14], “Sim 82 pecar vai contra a religião e Deus” [SD59 – S15], “ É óbvio que sim... e como”[SD61 – S17], “Sim. Os pecados tornam as pessoas egoístas e com s entimentos que fazem mau” [SD62 – S18], “Muita camancia [ganância] do Povo” [SD63 – S 19], “Sim você é tratada diferente e você se sente pra baixo” [SD65 – S21]. Nesses discursos aparecem marcas que possibilitam análises metafóricas de deslizes de sentido para os pecados capitais. Tanto o S12 e o S13 apresentaram um deslize de sentido para o pecado da gula. O S12 faz uso do advérbio de intensidade demais para qualificar e intensificar a ação de outro advérbio de modo, ou seja, o advérbio bem, e o S13 usa o símbolo do cifrão para simbolizar a riqueza, o luxo, o cons umismo exagerado, a luxúria. De outra maneira o S15 recorreu à formação discursi va religiosa na tentativa de resolver salvar-se e não cometer pecados e dessa ma neira conseguir a salvação, busca no discurso religioso dizer o indizível. Os sentidos estão amparados na memória do dizer, no interdiscurso de cada sujeito que sabe que os já-ditos são justamente toda aquela profecia relacionada à religião: de que Deus pode tudo, e qu e só Ele pode perdoar de os pecados. O sujeito acredita que com esse discurso, pode-se assimilar a este saber instituído, possibilitando a ambos figurarem no mesmo processo discursivo e compartilhando da mesma FD. O discurso religioso mais uma vez é interpelado pelo discurso profissional dos sujeitos. Na memória do dizer, cada sujeito busca o seu conhecimento na igreja que, dentro dos aparelhos ideológicos do Estado 13 , é representada pelo discurso religioso cristão, que se caracteriza como um discurso autoritário de comprovado poder de persuasão e que apresenta uma desigualdade com relação à posição dos interloc utores. Para Orlandi (1996), o locutor é: do plano espiritual (O Sujeito, O Deus) e o ouvinte é do plano temporal (os sujeitos, os homens). Isto é, o locutor e ouvinte pertencem a duas ordens de mundo totalmente diferentes e afetadas por um valor hierárquico, por uma desigualdade em sua relação: o mundo espiritual domina o temporal ( p.243). Nessa continuidade de discursos, o sujeito passa a ser interpelados por esta ideologia religiosa e acreditar que tudo pode ser perdoado somente por Deus e que pecar vai contra os princípios religiosos. 13 Ver Althusser (2001). Os AIEs são caracterizados p ela ideologia e não pela repressão como os Aparelho s de Estado (AE) fundamentados em Marx. AIE escolar (o sistema das diferentes “Escolas”, públicas e privada s), AIE familiar, AIE jurídico, AIE político (o sistema político do qual formam parte os diferentes partidos), AIE sindical, AIE de informação (imprensa, rádio, T.V., etc.), AIE cultural (literatura, artes, esportes, etc.). 83 De acordo com Schein (1984), o processo de manifestações culturais pode servir de categoria de análise, pelas quais se diagnostica acultura específica da organização e que podem ressaltar as mais diversas atitudes, relações e posturas dos sujeitos desse ambiente. Prova disso foram os discursos dos demais sujeitos com relação a esse questionamento. Ao questionar os sujeitos se há situações em que os pecados capitais podem ser positivos na empresa, das SDs produzidas pelos sujeitos é possível analisar que a palavra pecado remete a ações que são consideradas não bem vistas pelo grupo de sujeitos dessa organização. Isso, de certa forma evidenciou-se nas SDs dos sujeitos. Para o S1: “Na atual empresa em nenhum momento, não a interesse por part e da empresa” [SD66]. Nesse discurso, evidencia-se pecado da preguiça por parte da organi zação e a marca desse pecado é o pronome indefinido nenhum. Para o S2: “Para mim pecado nenhum é positivo” [SD6 7], S3: “Não sei dizer” [SD68], S4: “Em nem uma” [SD69], S6: “Não sei explicar” [SD 70], S7 e S8: “Não ajuda so prejudica” [SD71] e [SD72], S9: “Não pode ser posit ivo” [SD73], S10: “Em nenhuma situação” [SD74], S12: “A luxúria, por exemplo, se for de uma forma controlada ela é positiva. Porque hoje em dia a aparência é tudo e mau pessoa de boa aparência para empresa é bom, pois ela representa a empresa em que trabalha” [SD74], S13: “Nenhum” [SD76], S14: “Nunca. Quando a gente peca precisa ir na igreja pa ra pedir perdão senão Deus castiga” [SD77], S15: “Ah, depende... se for para unir pode ser positivo” [SD78], S16: “Nem um dos pecados capitas são positivos” [SD79], S17: “Em ne m uma” [SD80], S18: “Não considero nenhum dos pecados algo positivo” [SD81], S19: “Po dem se enterezar mais por o trabalho” [SD82], S20 “Não os pecados não são positivos” [SD6 6], S21 respondeu: “Se as pessoas fosse todas iguais” [SD83], S5, S11 e S22 não respo nderam. Chama a atenção os discursos dos S12 e S21 que usam a conjunção SE com o propósito de condição ou hipótese. Os sujeitos usam a conjunção condicionada às ações dos outros sujeitos, supondo que se tivessem controle, o pecado seria positivo e se todos fossem iguais, não teria pecado. Ocorre o pecado da soberb a, quando esses sujeitos desejam que todos sejam iguais a ele, aos puros, àqueles que não come tem pecados e se controlam dos excessos. Os sujeitos propõem a ação e esperam a validação de ssa pelos demais sujeitos. Ao fazer uso da conjunção os sujeitos estão oferecendo outra pos sibilidade das pessoas cultuarem a aparência e de não serem iguais. O poder praticado pelos sujeitos resulta, no uso da conjunção, na probabilidade de muitas interpretaçõe s e sentidos e pode levar o sujeito interlocutor complementar essa ideia das mais variadas formas de entendimento, mesmo não sendo a sua FD (LIMA, 2002). 84 O S14 argumenta que o pecado nunca é positivo e quese as pessoas pecarem serão castigadas. O sujeito afirma que somente indo à igr eja é que estará livre de pecados. A representação simbólica da igreja dá ao sujeito a p retensão de que ao pecar a igreja tem o dever de perdoá-lo, indiferentemente de que tipo depecado e contra quem foi cometido. O sujeito, ao afirmar, em seu discurso essa facilidade de tudo ser resolvido, indo à igreja, propicia a análise de deslize de sentido metafórico para o pecado da soberba. Há muito mais coisas envolvidas nas ações de pecado que um ir à i greja possa resolver. O que marca o pecado da soberba nessa SD é o advérbio nunca. Na sequência dos questionamentos perguntou-se até ueq ponto os sujeitos estão olhando para o crescimento apenas pelo crescimento. Com o emprego de alguns vocábulos ocorre o deslize metáforico para os pecados da gula, soberba, avareza e preguiça. Assim para o S1: “Isso depende de cada pessoa cada um tem seus interesses pessoais e seus projetos de vida” [SD85], S2: “Não entendi a pergunta. Crescime nto de quê??” [SD86], S3: “Sempre pensamos em evoluir para o melhor” [SD87], S6: “Sem pre pensamos o melhor” [SD88], S7: “Sim pensa no crecimento da impresa” [SD89], S8: “S im penso no crescimento da empresa” [SD90], S9: “Todos procuramos sempre melhorar e cre scer sem passar por cima dos outros” [SD91], S10: “Vejo isso com muito esforço” [SD92], S13: “Cada pensa em ganhar mais” [SD93], S14: “Eu já to velha para pensar nisso” [SD94], S15: “A empresa não se preocupa com o meu crescimento eu penso em crescer por isso estou estudando, logo quero arrumar coisa melhor” [SD95], S17: “A empresa pouco se impo rta com a gente nós é que ralamos e damos lugro [lucro] e eles é ficam a melhor parte” [SD96], S19: “Até o momento que eu entrei na empresa” [SD97], S22: “Apenas olhamos par a o crescimento quando vimos que realmente merecemos” [SD98]. As marcas nesses discu rsos foram melhor, crescimento, crescer, melhorar, sempre, muito, ganhar e lucro. Os demais sujeitos não responderam. Os sujeitos, em seus discursos declaram que existem ações que caracterizam a individualidade do grupo. Não representam ações de equipe. Evidencia-se essa afirmação no discurso do S1 e do S13, S15. As expressões depende, cada pessoa, cada um e o emprego do pronome possessivo meu e do pronome pessoal eu nesses discursos marcam o deslize de sentido metafórico para os pecados da preguiça e da soberba. As marcas mostram que os sujeitos estão condicionados a um comportamento lim itador e só terão atitudes de crescimento em contrapartida de outras ações que os beneficie. Da mesma forma o pecado da soberba, no emprego dos pronomes deixa claro que esse sujeito não pensa na coletividade, exclusivamente em seu crescimento e não do grupo. Esse papel não c abe tão somente à organização. O desenvolvimento pessoal requer esforço de ambas às partes- organização e colaborador. O 85 pronome meu também marca o pecado da avareza. Aindapara S13, há evidencias de deslize do pecado da gula quando emprega o verbo ganhar. Outra marca constante nos discursos foi o advérbio “melhor” que indica o superlativo e/ou o grau comparativo de superioridade sintético de bom, instaurando-se o pecado da soberba. Ser o melhor que os demais, marcando também a individualidade dos sujeitos. O S14, quando relata estar velha para pensar em crescimento demonstra falta de esforço físico e espiritual; deslizando o sentido do discurso para a metáfora do pecado capital da preguiça. Com relação aos projetos pessoais que os colaborado res têm e que se encaixam nos objetivos da organização, evidenciou-se que os cola boradores mais uma vez responderam com individualidade. Para S16, S18 e S20: “Não tem projetos diferenciados” [SD99, SD100, SD101], assim como para S2: “Projetos pessoais inte ressa somente para a pessoa interessada” [SD102], para o S1: “Muito difícil de explicar porq ue cada um tem seus projetos” [SD103], S10: “Eu tento manter o meu lado” [SD104], S12: “Pr ocuramos resolve nossos problemas pessoais em horários que não interfiram no serviço” [SD105], S14: “Isso não tem aqui” [SD106], S15 respondeu que: “Eu sempre estou porque quando tem curso eu faço é bom pra mim ehehehe” [SD107], para S17: “Não tenho tempo ne m para me coçar quero chegar em casa e descansar” [SD108], por outro lado o S7 diss e: “Não prejuca [prejudica]” [SD109], S8 argumentou com: “Não participa” [SD110], S3, S6 e S 9 responderam que não, já S4, S5, S11, S21 não responderam. S13, S19 e S22 em suas respost as esboçaram certa coletividade, um pensar no grupo, nos outros e na organização: “Melh orar o trabalho” [SD111], S19: “Eu e minha família vamos visitar o lar do idoso” [SD112] e S22: “Sim, pois queremos o melhor para a empresa” [SD113]. Quando perguntado a esses sujeitos até que ponto ficam irritados, à medida que cometem erros no ambiente organizacional, evidenciou-se que os sujeitos S2, S3, S6, S7, S8, S10, S12 e S17 responderam que isso não existe ou n ão acontece tal fato na organização. Pode-se exemplificar com a SD do sujeito 17, em que enuncia: “Sou da paz não me irrito” [SD114]. Os sujeitos 16, 18 e 20 afirmaram que: “Pr ocuramos apenas corrigir os erros” [SD115, SD116 e SD117]. Na SD do S9 há o predomínio do conformismo lógico, “Não existe esse ponto de alta irritabilidade ou raiva, afinal somos seres humanos e estamos sujeitos a cometer erros” [SD118]. O sujeito assume o pecado, mas se perdoa ao afirmar que é humano e, afinal se pode errar, pois existe a justificativa de que se é humano. O sujeito, para dar sentido a sua resposta busca em outra FD, a dos provérbios e expressões do senso comum justificando em “Errar é humano, mas persistir no erro é burrice” e “Errar é humano, perdoar é divino”. 86 Outras respostas para esse questionamento levam a análises distintas. A exemplo disso, o discurso do S1 S13, S14, S15, S19, S21 e S22 apresentaram diferentes significações. S1 transmite a ideia de que os colaboradores são pe ssoas complexas ao enunciar que: “Depende do dia, porque no trabalho que fizemos cad a dia é um dia diferente” [SD119]. Nas sequências discursivas dos S13, S14 e S15 é possível identificar o deslize de sentido metafórico para o pecado da preguiça e o da ira. Assim, para esses sujeitos quando enunciam, a exemplo do S13: “Quando tem que fazer o serviço de novo” [SD120], S14: “Eu só me irrito quando me mandam fazer coisas que os o utros deveriam fazer. Tem muita gente preguiçosa” [SD121] e o sujeito S15: “Eu me irrito quando as coisas não saim como combinado, tem colega que é folgado” [SD122], é nítido o pecado da preguiça e apresentado o da ira. O sujeito-enunciador desliza para o sentido metafórico de o pecado capital da ira ao fazer uso da expressão irrito confirmando a ação no uso do pronome pessoal de pr imeira pessoa afirmando ser a ação somente dele e não do g rupo. Também há evidencias de ira nas SD do S19: “Quando algo não tá certo. Quando um pega as coisas dos outros limpos e deixam as deles sujas” [SD123] e o S22: “No ponto que não conseguimos fazer as coisas da melhor maneira possível”[SD124]. As marcas que determinam esse pecado são o uso do verbo pegar, do pronome indefinido em plural outros e o superlativo melhor. Por fim, para esse questionamento os S4, S5 e S11 não deram respostas, silenciaramse. O silêncio também é uma expressão de individualidade dos sujeitos, que fazem uma pausa carregada de intenções, criando expectativas aos in terlocutores. Essa ação de silenciar serve para criar uma esfera de interesses. O sujeito não enuncia para não comprometer-se, fala sem palavras legitimando seu discurso. Perguntou-se aos colaboradores da empresa o quanto eles estão envolvidos nos detalhes e projetos que são responsáveis. Desse modo obtiveram-se respostas que mostram o nível de comprometimento dos colaboradores. Assim o S1 respondeu: “Nem sempre, cumprimos ordens” [SD125], o S2 afirmou que: “Na no ssa profissão existe somente trabalho não projeto” [SD126], S3 complementou: “Sim cada um exerce sua função” [SD126], S6 enunciou que: “Sim cada um com sua função para exer cer” [SD127], S7 e S8 responderam: “Não participamos de projetos” [SD127 e SD 128], já S9 asseverou que: “Sim. Somos dedicados à função que nos foi dada” [SD129], S10 d eclarou que: “Sim” [SD130], S11 atestou que: “Cada um faz o seu trabalho” [SD131], S12 respondeu que: “Nosso caso é, cada colega assume um prédio e fica responsável pela limpeza do mesmo” [SD132], S13 respondeu que: “Para aprender mais” [SD133], S14: “ Não que eu saiba, que projetos” [SD134], o discurso de S15 foi: “Não porque tem alg uns que fazem corpo mole são 87 preguiçosos fazem o básico” [SD135], S16 e S 18 afirmaram que: “Nos dedicamos a realizar as atividades de maneira satisfatória” [SD136 e SD1 37], S17: “Nem sabem o serto o que acontece” [SD138], para S20 e S21: “Realizamos as a tividades com satisfação” [SD139 e SD140], S19: “Ficamos muito responsáveis” [SD141] e S22: “Procuramos fazer tudo de maneira correta” [SD142]. Não responderam S4 e S5. Os sujeitos 1, 2, 7, 8, 12, 14, 15 e o S17 de certa forma afirmam que não há projetos na organização, ou que não mostram interesse em partic ipar destes. Não se percebe vínculos que integrem os interesses pessoais e organizacionais. No instante em que os sujeitos deixam de realizar certos projetos ou não se envolvem mais ef etivamente é possível observar o deslize de sentido metafórico para o pecado da preguiça. As ma rcas mais evidentes são do uso do advérbio de negação não e a conjunção aditiva nem q ue significam no discurso desses sujeitos a negação explicativa e a verdadeira ação de negaçã o. O sujeito ao negar tem a necessidade de explicar-se a fim de deixar essa negação mais plaus ível de ser entendida, já o que usa a conjunção nega sem preocupar-se se seu interlocutor quer ou não uma explicação. Os demais sujeitos, das mais variadas formas, afirmaram que participam de projetos, mas o fazem relacionando-os suas as atividades de trabalho. Mais uma vez fica evidente que não existe um senso de cooperação, pois cada um faz aquilo que lhe é determinado. Os vocábulos que marcam esses discursos são o uso do pronome indefinido cada e do numeral um, o que mostra a individualização do grupo e também a metáfora da preguiça instaurada na falta de iniciativa desses colaboradores. S13 deslizou sentido para a metáfora do pecado da gula quando usou o advérbio de intensidade mais. NaSD 135º S15 marca o pecado capital da preguiça com o adjetivo mole. Ao serem perguntados sobre se estão procurando reco nhecimento e aplausos pelo que fazem, a maioria dos questionados respondeu que não ; os sujeitos 4 e 5 não responderam. De outa forma, os sujeitos 7, 8 e 22 responderam que buscam sim reconhecimento. O S2 respondeu que: “Não, não sou desse tipo de gente” [ SD143], S15: “Sim quero ser reconhecida pois sempre faço o melhor dou o melhor de mim” [SD1 44], S17: “Se vier acompanhado de grana” [SD145] e S19: “Mais respeito pelo trabalho realizado” [SD146]. O S2 deslizou o sentido metafórico para o pecado da soberba, quando diz de forma pejorativa que não é desse tipo de gente que fica esperando por recompensas por tudo que faz. Nesse mesmo discurso pode-se verificar outra significação de metáfora dos pecados capitais. O sujeito comete o pecado da inveja ao instante que faz uma comparação desfavorável em relação a outras pessoas. O sujeito marca esse discurso com o substantivo masculino tipo. O S15 marcou seu discurso com o advérbio comparativo de superioridade melhor. Ocorre nesse discurso o 88 deslize de sentido metafórico para o pecado da sobe rba. O S17 deslizou para o sentido metafórico do pecado da luxúria, onde ressignificou, respondendo que o reconhecimento precisa vir acompanhado de dinheiro. Nesse discurso aparece à condicionalidade e o sujeito, através de sua formação imaginária, faz representações mentais do reconhecimento e aplausos apoiado em questões financeiras. A marca do substan tivo feminino grana aparece como uma gíria no discurso do S17. A gíria é uma linguagem que identifica um determinado grupo que usa o mesmo código linguístico. Na questão seguinte, perguntou-se aos sujeitos se e les esperam receber reconhecimento pelo bom trabalho e o que fazem a mais. Os S1, S3, S4, S5, S6, S9, S10, S11, S13, S16, S18 e S20 afirmaram que não. Os S2, S7, S 8, S12, S15, S17, S19, S21 e S22 responderam que sim. Chama a atenção para a respost a do S14 que enunciou que: “Se aumentassem o salário um elogio viria bem” [SD147],evidenciando que ocorre o deslize de significado para o pecado da soberba e da gula, quando o sujeito usa a expressão aumentassem. O sujeito quer aquilo que lhe deixe mais rico. No caso de seu discurso, se a organização lhe der mais ele receberá elogios. A ocorrência do uso do condicional faz com que o sujeito use o verbo no pretérito imperfeito do subjuntivo, seria dizer que ele só dará os elogios se tiver aumento. Estabelece-se uma condiçã o nesse discurso. O S2 afirmou que: “Reconhecimento é difícil aqui no Brasil” [SD148]. O sujeito buscou na sua memória discursiva representar sua id eologia coletiva e social. O seu dizer está marcado pela sua formação discursiva, construída a partir dos seus discursos, e nele representada suas ideias, sua visão de mundo e cons equentemente sua formação ideológica. A ideologia, como materialidade discursiva, geralmente se define como um conjunto de crenças coletivas, uma visão de mundo de uma cla sse social, destinadas a dirigir o comportamento prático, que propõe valores a realiza e oferecer uma interpretação da vida social com a tendência a levá-las a ações políticas. Neste sentido, é lícito dizer que a ideologia é a interpretação do sentido. “Este é o trabalho da ideologia: produzir evidências, colocando o homem na relação imaginária com suas condições materiais de existência” (ORLANDI, 1999, p.45). Dessa forma na AD, as formações discursivas determi nam a posição do sujeito. As palavras enunciadas apresentam-se carregadas de sentido, referenciadas pela posição e formação ideológica em que se inscreve este sujeito , assujeitado pela ideologia e pelo inconsciente. É assim que se caracteriza o trabalho interpretativo da AD. Buscando fazer esta ligação entre sujeito, sentido e ideologia que se r elacionam no interior de uma formação discursiva num determinado tempo e espaço como proc essos sócio-históricos. Nessa injunção 89 entre a linguagem e a interpretação, o individuo é interpelado ideologicamente e inconscientemente e jamais poderá ser o dono do seudizer, então o discurso é o lugar da reprodução e não da criação (PÊCHEUX, 1997). Dentro da mesma lógica, em termos analíticos, o S18 reconhece que o espaço do ambiente de trabalho é mediatizado por uma concepção homogênea, quando em seu discurso diz: “Não. O trabalho é visto como obrigação e não uma meta a ser alcançada” [SD149]. Essa SD revela que o ambiente organizacional está estruturado como um campo que busca o conformismo lógico (DURKHEIM, 1994). Esse conformis mo lógico de tempo e de espaço aparece de maneira a simplificar e criar um habitus cultural que constrói e mantém esta cultura na organização. Sempre foi dessa maneira, q uer dizer o sujeito não vê o trabalho como algo motivador e sim como algo que não lhe cause sa tisfação e projeção de futuro. Há evidências do pecado da preguiça nesse discurso, marcado pelo uso do substantivo feminino obrigação. O S22 espera receber reconhecimento pelo bom trabalho e pelo que faz a mais, contesta ele: “Sim. Porque sou bom trabalhar” [SD15 0]. A o usar o adjetivo bom o faz com sentimento de soberba. O pecado da soberba, metaforicamente, refere-se quando, o sujeito pensa ser o melhor. É o bom. Torna-se soberbo por s entir-se melhor que os demais, pelo excesso de confiança em suas ações. Pressupõe que n ão tem necessidade de aperfeiçoamento, de desenvolvimento. Pelo conhecimento e habilidades que pensa ter, desmerece as atividades que os outros executam. Seguindo as propostas de análises, questionaram-seos sujeitos para entender como organizam o trabalho, fazem-no pensando nos seus interesses próprios ou considerando as necessidades dos outros colaboradores. Com esse propósito é possível analisar nos discursos dos sujeitos da organização a racionalidade instrum ental, onde os sujeitos orientam-se conforme a relação dos meios e fins, colocando em j ogo o planejamento, muitas vezes a estratégia e o controle sobre suas ações. Identific am-se esses pontos nos seguintes discursos, S1: “Não organizamos, só cumprimos ordens” [SD151], S13: “Quando é bom pra todo mundo” [SD152] e S22: “Na medida da empresa” [SD115 3]. Alguns sujeitos demonstraram que existe cooperação em algumas ações no ambiente de trabalho. Observa-se isso nos seguintes discursos de S3 e S6: “Não, sempre procuramos ajudar uns aos outros” [SD154 e SD155], S7 e S8: “T rabalhamos em equipe de maneira que todos os funcionários trabalham para atender as necessidades da empresa” [SD156 e SD157], S9 complementou: “Todos procuramos nos ajudar mutua mente dentro das nossas possibilidades” [SD158], S16 e S18 concordam que: “ Trabalhamos em grupo para alcançar 90 objetivos almejados pela empresa” [SD159 e SD160], bem como o S19 que enunciou: “Procuro fazer bem o trabalho para todos” [SD161], o S21 afirmou: “Um tenta ajudar a outra quando presisa” [SD162] e para o S12: “Procuro agir corretamente, e penso que um elogio ou crítica construtiva é sempre bem vinda” [SD163]. Os sujeitos 7, 8, 16 e 18 evidenciam em seus discursos deslizes de sentido para os pecados da gula e da luxúria, pois há uma preocupação em satisfazer cada vez mais aos objetiv os da organização e não os do grupo. Por outro lado, alguns sujeitos apresentaram discursos distintos dos anteriores. S10 afirmou que: “Em meu local de trabalho só tem eu me organizo em partes” [SD164], S2 respondeu que: “Isso não existe” [SD165], para o S1 5: “Cada um faz do seu jeito” [SD163], S17: “Aqui é cada um por si e Deus por todos” [SD16 6]. S14: “meu serviço, depois que tá tudo bonito dizem que forão eles” [SD167]. O que se verifica é certo individualismo nesses discursos e inveja nos discursos dos sujeitos 10, 14 e 15. Já o S17 para responder lançou mão do discurso religioso, com outra formação discursiv a que não a sua, onde Deus é que os protege de tudo. O discurso religioso é denominação, imperativo, exposição, mas também muito semelhante a outros tipos de discurso, e isso se transforma principalmente em uma linguagem imaginária e ausente para a realidade quese apresenta no ambiente organizacional. Isso significa que para isolar a realidade diária difícil, desenvolve em seu discurso e no seu imaginário a formação de uma ideologia e, por conseguinte, na estrutura de uma linguagem igualmente imaginária. Além disso, o discurso religoso é expositivo porque constantemente elementos da ideologia cristã são apresentados como um habitus, que significam a maneira de se comportar e a de ser, neste caso da comunidade cristã. Para esse questionamento os sujeitos 4, 5, 11 e 20 não apresentaram respostas. Para finalizar os questionamentos perguntou-se aos colaboradores se tinham algo a mencionar sobre os sete pecados capitais. Contatou-se que os S2, S3, S4, S5, S6, S10, S11, S12, S13, S14, S15, S16 e S22 responderam que não o u silenciaram. Para S7 e S8, a questão dos pecados capitais na org anização resulta em pecados (“Em qualquer trabalho terá pessoas que cometerão alguns dos sete pecados capitais”). O S19 evidenciou que a ganância prejudica as pessoas, enq uanto S18 e S20 responderam que: “Qualquer um dos pecados quando ocorre no ambiente de trabalho só dificulta a realização de atividades e o convívio com os colegas”. Para S21, no ambiente de trabalho “ocorre todos os pecados so a dificuldade e a relação com o convívio com os colegas são bastante tumultuadas, mas o trabalho é ótimo para mim muito bom”, enquant o S17 afirma: “As pessoas precisam ter Deus no coração assim não cometem pecado” [SD174]. Para S9: “No fundo do nosso ser, creio que todos possua um desses pecados capitais ou talvez até todos pecados capitais, mas 91 com medida de moderação mas no entanto a empresa qu e trabalho é de pequeno porte por isso acredito que não possa ocorrer tais pecados capitai s” [SD175]. É possível analisar os discursos e constatar que ex istem marcas que evidenciam uma autoria coletiva. O sujeito não quer significar soz inho, então usa vocábulos que dão ideia de coletividade, assim a autoria do que disse não lhe causa tanto desconforto. Nota-se isso nos discursos de S7, S8, S18 e S20 com o uso do pronome indefinido qualquer, não possuindo identificação nem determinação. Os enunciadores ind eterminam que são os sujeitos que cometem a ação nesses discursos. Da mesma maneira o s S1, S9 e S21 marcam seus discursos coletivamente com o uso do pronome indefinido todos significando o conjunto, o inteiro, completamente, inteiramente ou de modo total, associando-se ao excesso, ao exagero. Nesse sentido, os sujeitos deslizam para a metáfora do pecado capital da luxúria. Já o S17, usando a marca adverbialassim – desse modo, igual a – ou como conjunção conclusiva, tem a intenção de, através de outra formação discursiva, usar o discurso religioso e estabelecer certa conformidade, ou seja, qualquer outra ação não abrandará os pecados, somente indo à igreja é que os sujeitos não cometerão pecados. Outra vez aparece o conformismo lógico. É o fazer social que se sobrepõ e ao dizer. É o poder simbólico e invisível da igreja sobre as pessoas. Para Bourdieu (1989, p.14) seria afirmar que: “[...] o poder simbólico não reside nos ‘sistemas simbólicos ’”, todavia ocorre em uma dependência pré-estabelecida entre aqueles que usam o poder sobre aqueles que estão sujeitos a ele. Isso ocorre na estrutura do campo, onde se produz a crença. Esse poder só é exercido se os sujeitos se submetem a ele e são aliados dessa ação. Outra evidência nesses discursos, para esse questionamento, dá-se pela existência de elipse de pessoa, ou seja, o sujeito apaga, omite o pronome pessoal. Na sequencia discursiva de S1 o sujeito em elipse é nós: “Não, porque eles existem, todos (nós ) sabemos, mas depende de cada pessoa ter interesse ou não por ele s.” [SD177]. Nesse mesmo discurso, evidenciam-se marcas de individualidade e subjetividade quando o sujeito enuncia “[...] depende de cada pessoa ter interesse ou não por ele s” [SD178]. A elipse de nós, na oração anterior, marca que a presença do sujeito é reduzida em relação ao coenunciador eles. 92 Quadro 7 – As estruturas da metáfora no Caso Três. Marca Outro Capital Inveja Outro (s) Quer Elogio(s) Promovido Classe gramatical Pron. Indefinido Subst. Masc. Sing. Subst. Fem. Sing. Pron. Indefinido Conjunção Subst. Masc. Sing./plural Adjetivo Elogiado Adjetivo 23-24-26 Profissional Ocupar Gabar-se Melhor VT VTD Superlativo de bom 18 20 20-88-87 124-140 Profissional Profissional Profissional Cumprir Economia Além VTI 26 Profissional 1 Subst. Fem. Sing. 27 Profissional 13 Subst. Masc. 28 Profissional 14 Advérbio Sinal gráfico 29 Profissional 14 Sinal de pontuação 29 Profissional 14 Locução 30 Profissional 1 Adv. de negação 31 a 34 Profissional 1a3 37-38 6a8 40 a 42 – 44 12 125 a 128 14 a 18 132 a 135-138 20 Adv. de negação 35-39-125 Profissional 1-9-15 Aspas Reticências Sem Não Nem Pois SD 15 16 4-21 17-20 19 22 FD Científico Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Sujeito 7 19 9-15 4-12 8 16 23-20-26 Profissional 18-2421 18-2021 7 12 3-6-1215-22 Pergunta Pecado 4.1 Preguiça 4.1-2 Luxúria 4.2 Inveja 4.2 Inveja-Gula 4.2 Inveja-Gula 4.2 Inveja 4.2 Inveja 4.2 Inveja 4.2 4.2 4.2 4.6 4.8 4.2 4.2 4.2 Inveja-gula Soberba SoberbaInveja 4.2 4.2 4.3 4.4 - 4.5 4.6 – 4.7 4.8 – 4.9 4.10 – 4.11 4.12 – 4.13 4 .3 4.9 4.3 46 Profissional 13 Eles Conjunção explicativa Pron. Pessoal 3ªp.p. 47 Profissional 1 Equilibrar Demais Demais $ Nenhum VT Adv. de intensidade Adv. de intensidade Símbolo Pron. Indefinido 47 56 56 57 41-66-67-6974-76-79 a 81 Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Se Nunca Um Conjunção Adv. de negação Art. Indefinido Meu Pron. Possessivo 95 Profissional 15 4.6 Eu Pron. Pessoal 94-121-122 Profissional 14-15 Depende VT 85 Profissional 1 4.7 4.8 4.8 Cada Pron. Indefinido Profissional Crescimento Subst.. Masc. 85-126-127131-132 86-89-90 1-6-1112-3 2-7-8 4.7 4.9 4.6 74-83 77 85-127 Profissional Religiosa Profissional Profissional 1 12 12 13 1-2-410-1316 a 18 12-21 14 1-6 4.13 4.4 4.4 4.4 4.4 4.5 4.5 4.5 4.7 Preguiça Avareza Preguiça Soberba Preguiça Soberba SoberbaPreguiça SoberbaPreguiça Soberba GulaPreguiça Luxúria Gula Gula Luxúria Preguiça Soberba Soberba Preguiça Soberba Preguiç a Soberba Avareza Preguiça Soberba Preguiça Soberba Preguiça Soberba SoberbaGula Continua... 93 ...continua Crescer VT 91 Profissional 9 4.6 Melhorar Velha Lucro Muito Sempre Ganhar Fazer VT/I Adjetivo Subst.. Masc. Adv. Intensidade Adv. Tempo VT/I VT 91 94 96 92 87-88-91 93 120-121 Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional 4.6 4.6 4.6 4.6 e 4.11 4.6 4.8 4.8- 4.9 Preguiçosa Folgado Irrito Pegar Mais Mole Tipo Adjetivo Adjetivo VT VT/I Adv. de Intensidade Adjetivo Subst. Masc. Sing. 121 122 122-121 123 133 135 139 Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional 9 14 17 10 3-6-9 13 13-1415 14 15 15-14 19 13 15 2 SoberbaGula Soberba Preguiça Soberba Soberba Soberba Gula Preguiça 4.8 4.8 4.8 4.8 4.9 4.9 4.10 Preguiç a Preguiça Ira Ira Gula Preguiça Invejasoberba Grana Subst.. Fem.- Gíria 141 Profissional 17 4.10 Luxúria Aumentasse VTDI 143 Profissional 14 4.11 SoberbaVI gula Obrigação Subst. Fem. Sing. 145 Profissional 18 4.1 1 Preguiça Bom Adjetivo 146 Profissional 22 4.11 Soberba Necessidade Subst. Fem. Plural 156-157 Profissional 7-8 4.12 Luxúria Alcançar VT 159-160 Profissional 16-18 4.12 Gula Todos Pron. Indefinido 171-173-174 Profissional 1-9-21 4.13 Luxúria Legenda: SD – Sequência discursiva; FD – formação d iscursiva; VI – verbo intransitivo; VT – verbo tran sitivo; VTD – verbo transitivo direto; VTI – verbo transiti vo indireto. Fonte: Dados da pesquisa 4.4 CASO QUATRO 4.4.1 Apresentação do caso A empresa familiar G foi fundada em 1960, na cidade de Guarani das Missões, por quatro irmãos, com o propósito de industrializar li nhaça em grão. Posteriormente expandiu para a cultura da soja, investiu em uma planta de extração de óleos vegetais, passando a industrializar também esta oleaginosa. Atualmente investe em outras culturas oleaginosas, com destaque para canola, girassol e também a linhaça. Hoje a empresa é administrada pelos membros da segunda geração da família, sendo que ca da membro tem um cargo de diretor, mas com atividades em áreas administrativas específicas, como: diretor industrial, diretor comercial e dois diretores administrativos. A empresa G possui uma área de dez hectares e maisde 30.000 m2 de área construída, onde estão instaladas quatro plantas industriais, s endo três para extração de óleos vegetais e uma para desativação de soja. Todas unidades produt ivas podem operar de forma 94 independente e com produtos diferentes. Conta ainda com uma usina hidrelétrica, a qual garante 30% do consumo da energia da indústria. A forma de atuação da empresa no mercado é por meio de parcerias. Para tanto estabelece valores como confiabilidade, ética e respeito, com a missão declarada de: “buscar o desenvolvimento empresarial e social, através de apoio, pesquisa e incentivo no desenvolvimento de novas alternativas de culturas em oleaginosas, oferecendo aos produtores e ao mercado alternativas viáveis de diversificação”. 4.4.2 Perfil dos respondentes Os colaboradores entrevistados pertencem a unidade produtiva de Guarani das Missões, que totaliza 28 respondentes (24 homens, 4 mulheres) de um total de 102, sendo dezessete casados, dez solteiros e um não respondeu . Os respondentes estão na faixa de 18 a 57 anos, sendo doze deles têm Ensino Superior, novetêm Ensino Médio, sete concluíram o Ensino Fundamental e um entrevistado tem curso técnico. Desses somente quatro colaboradores disseram ter morado fora de Guarani das Missões, dentre as cidades está Cerro Largo, Rolador, Caibaté, Sete de Setembro e Salvador das Missões. Dez sujeitos atuam a mais de cinco anos na organização, seis estão de 1 a 3 a nos, três estão de 3 a 5 anos, nove estão a menos de 1 ano. Somente um sujeito tem relação fami liar (nora) com os fundadores. 4.4.2 Análise dos dados Para iniciar a pesquisa, mais especificamente sobre os pecados capitais no ambiente organizacional, perguntou-se aos sujeitos se conheciam os pecados. Como resultado a esse questionamento, obteve-se a afirmação de 13 respond entes, 9 que afirmaram que já haviam escutado sobre algo sobre os pecados mas não lembra vam e 6 sujeitos que responderam que desconheciam o tema dos pecados capitais. Sobre a frequência com que os pecados capitais aparecem na organização, constatouse a soberba com maior incidência (10), seguido pela ira (8) e inveja (8), preguiça (4) e avareza (4), gula (2) e luxúria (1). Dois sujeitos não responderam. Perguntou-se, então, em que situação que os pecados capitais aparecem na organização. Os dados coletados apontam que nas oca siões em se percebe os pecados capitais há ações que deslizam em sentido para a metáfora dopecado da ira, gula, preguiça, inveja e soberba. Comprova-se isso nas seguintes sequênciasdiscursivas, S1: “Ira, quando alguma 95 coisa de errado ou fornecedores não cumprem seus co mpromissos.” [SD1], S8: “Quando aparece algum problema, as vezes as pessoas se irritam, ao invés de tentar resolver” [SD2], S9: “No dia a dia a muitos trabalhos e muitos com preguiça e quando chamado a atenção respondem com ira” [SD3], S19: “Em uma conversa da direção da empresa com um funcionário. Foi colocada a situação da não entrega e nem comunicado que o funcionário apresentava-se de atestado. Começou com uma convers a normal e que no final era só gritos e chingamento e choro por parte do colaborador ” [SD4], S24: “Nas discuções, em discuções e gritos com funcionários” [SD5], S20: Discussões e reuniões” [SD6] e S28: “No tratamento das pessoas umas com as outras” [SD7]. As marcas desses discursos são as repetições. Essas repetições ocasionam, no momento da transição, uma alteração na condição de produção a qual está submetido o sujeito intensificando o significado. Subsequentemente após a transição, a significação desses fragmentos e, por conseguinte, as alterações das co ndições de produção recebem uma nova configuração semântica. O uso da conjunção coordena figura linguagem denominada polissíndeto que tiva aditiva e como repetição resulta na tem como função ligar orações para 14 pela estrutura da repetição. O dizer complementar seus sentidos, podendo ser uma anáfora muda de sentido e desliza para outros sentidos, nesse caso para o pecado da ira. Outro deslize de sentido dos pecados capitais é o da gula e da inveja que aparecem nos discursos de S6 e S7: “O salário é pouco” [SD7 e SD8] e S25: “Principalmente na troca de cargo” [SD9]. O uso do pronome indefinido adjetivo pouco exprime a ideia de quantidade qualificando o nome salário, conferindo-lhe a noção de quantidade que para o sujeito é insuficiente. O guloso quer cada vez mais e mais, não consegue ver como benefício outras ações da organização a não ser o salário. Já o advérbio principalmente apresenta a significação de que o sujeito dá ênfase, preferência à situação da troca de cargos. O sujeito inveja a transição de cargos, que supostamente, não está ocorrendo com ele. É possível identificar o pecado capital da soberba nos discursos de S6: “Os que mandam, estão abusando de seu poder, muita soberba, tratam a gente com gritos. Não somos animais” [SD10], S17: “Quando existe: uma possibil idade de ter conversa com os patrões, exaltando-se e querendo ser o todo poderoso naquela hora ” [SD11], S18: “Eu estando bem o outro que se dane, é assim que funciona aqui ” [SD12], S19: “Em uma conversa da direção da empresa com um funcionário. Foi colocada a situação da não entrega e nem comunicado que o funcionário apresentava-se de atestado. Começou com uma conversa normal e que no final 14 Retórica repetição da mesma palavra no começo de v árias frases ou membros da mesma frase. Ex.: Tudo cura o tempo, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. 96 era só gritos e chingamento e choro por parte do co laborador ”[SD4], S24: “Nas discuções, em discuções e gritos com funcionários” [SD5], S25: “Principalmente na troca de cargo ” [SD9], S27: “No erro de alguém sempre há uma pessoaque se aproveita da situação. Não propõe ajuda, ri da desgraça alheia ” [SD13]. As ma rcas da soberba estão representadas nas palavras discussões, xingamento, na própria palavra soberba, no adjetivo poderoso, no verbo dane, no substantivo feminino troca e nas expressõe s grito e desgraça. Outra importante observação se faz para a SD 10 do S6. Esse sujeito enuncia que os colaboradores não devem ser tratados como animais. Seria dizer que, para esse sujeito tratar os animais de maneira agressiva não é problema, pois são animais e são tratados como tal, diferentemente dos humanos. Há um sentimento de iranessa SD. Algumas marcas apontam para situações de excesso de poder ou de mando, configurando o pecado capital da soberba. Vê-se isso nas marcas de gerúndio (“exaltando-se” [SD11]; “o todo poderoso” [SD11]; “gritos e xingame ntos” [SD4]; “desgraça alheia” [SD13]) e no uso dos verbos (“mandam, abusando” [SD10]; “Eu estando bem o outro que se dane” [SD12]; “O mais clássico é o de quando não há a observância de algo que se chama ‘hierarquia’” [SD14]). O sujeito, quando usa a expressão “o todo poderoso” , busca na metáfora transferir para a formação discursiva religiosa e pela interpelação dos interlocutores por esta ideologia religiosa o pecado da soberba. O sujeito acredita que o todo poderoso é Deus e o sentido está sendo transferido para os patrões como “deuses pode rosos” que podem interpor os seus interesses. A simbologia ao cargo que ocupam na organização representa a força, o controle, a influência, as regras, a supremacia, a energia e todo conjunto de palavras. Percebeu-se que o pecado capital da preguiça aparec e na organização em algumas ações diárias. Comprova-se essa assertiva nas sequências discursivas que seguem: “No dia a dia a muitos trabalhos e muitos com preguiça e quan do chamado a atenção respondem com ira” [SD3 – S9]; “Preguiça. Porque tem uns que se b aseiam no serviço dos outros”[SD16 – S15]; “Aparecem quando vemos pessoas acomodadas des interessadas e preguiçosas. Responsável pelo almoxarifado sempre sentado, e o etors todo bagunçado” [SD17 – S10]. Na figura 7, está representada a SD15, do discurso deS22, que define preguiça como um tipo de vontade de fazer algo, sem muito esforço. 97 Figura 7 – Definição de preguiça, de acordo com o S 22. Fonte: Dados da pesquisa. No que se referem às ações da organização e diante do que foi analisado nos discursos há o predomínio do pecado capital da preguiça e o poder simbólico está representado por certas construções cognitivas, criadas e aprovadas pelo grupo. Observa-se isso nos discursos de S1: “Tenta acalmar mas muitas vezes não está presente” [SD18], S10 afirma que: “A gerência fala em trocar o funcionário que já estáposentado desinteressado com o trabalho” [SD19], para o S28: “Não tratou” [SD20], S27 afirm ou que: “Indiferentes. Deixando o fato sob a responsabilidade do funcionário, dentro de suas atribuições [SD21], da mesma forma o S26 respondeu que: “Não como deveria” [SD14], S24 e nunciou que: “Não fez” [SD22], S20 contestou com a representação simbólica das iniciai s do departamento de recursos humanos: “RH” [SD23], S18 preponderou que: “Não tomam atitud e” [SD24], S16 afirmou que: “Nada” [SD25], para o S19: “Não aconteceu nada, até pesei que o funcionário seria demitido, mas como foi uma conversa de gerência com o colaborador, após isso nada aconteceu, e pensei que o mesmo iria a delegacia registrar queixa por “ Assédio Moral”, Mas não aconteceu” [SD26] e para o S25: “Não tratou apenas passou a m ão p/cima” [SD27]. Para este questionamento, destaca-se o discurso do S15: “Fiquei na minha, mas marquei para mim mesmo, pois sou um dos mais novos funcionários”, o qual se mostrou receoso e com medo, pela possibilidade de demissão. O medo e silêncio do sujeito estão representados simbolicamente pela linguagem, mas especificamente pelas marcas de medo: “Fiquei na minha, mas marquei para mim mesmo” [SD28 ]. O sujeito silenciou mentalmente, guardou para si o ocorrido, pois sentiu medo de falar. De certa forma essa situação traz certo desconforto e não ocorre o desenvolvimento organiza cional. O poder instaurado nessa ação pela organização faz o sentido deslizar para a metáfora do pecado da soberba. Em contrapartida, seis sujeitos afirmaram que a organização tentou resolver as situações conversando, em reuniões ou chamando a pe ssoa responsável, como evidencia S17: “A realização de reunião com todos os funcionários daquele setor, pedindo colaboração e para todos trabalharem unidos”. Para Foucault (2010, p.8): O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só como uma força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve-se considerá-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instância negativa que tem por função reprimir. 98 Perguntado aos colaboradores se os pecados capitais causavam sentimentos negativos à maioria dos sujeitos respondeu que sim, desenvolv endo a ira, a luxúria, resultantes da desmotivação e dos atritos. A exemplo do S27: “Sim sendo pecados são geradores negativos no relacionamento social” [SD30], do S19: “Sim, ain da mais se o pecado capital for da categoria IRA, pois podem gerar inimizades, atritos, brigas, etc., e ter consequências pesadas”[SD31], o S9 respondeu que: “Sim, pois se a lguém peca, os outros percebem e ficam para baixo, ou seja, perde-se a vontade” [SD14], o S8 argumentou que: “ Sim. O sentimento de querer ser mais que o outro,(e não consegues) mu itas vezes causa frustração” [SD32]. Há marcas de luxúria no discurso do S8, são elas: o verbo: querer, o advérbio de intensidade mais e a locução adverbial de tempo muitas vezes indican do circunstâncias. Essas marcas identificam o pecado da luxúria e aparecem no sentido do excesso, do consumo exagerado. Figura 8 – Sequência discursiva de S8. Fonte: Questionário de pesquisa 15 O S18 respondeu que: “É complicado, vc fica meio as sim sem eira nem beira ” [SD33]. O sujeito S18 para significar usou um provérbio popular a fim de ressignificar seu discurso. O sujeito do discurso profissional lança mão de saberes já-ditos e pré-construídos na intenção de garantir êxito na sua argumentação. E o faz articulado pelo inconsciente e pelo consciente. Ora buscando saberes conscientemente, ora buscando inconscientemente saberes pré-existentes que o determinam como sujeito. Essa injunção determinada pela AD, entre ideologia e sujeito, reflete no discurso exatamente o pressuposto de que o sujeito é determinado pela ideologia e pelo seu inconsciente e que fortalecido em argumentos mascarados pode assujeitar seu interlocutor pelo funcionamento do discurso proferido. Da mesma maneira o S14, em seu discurso “São pecado s relacionados ao dinheiro” [SD34], desliza o sentido metafórico para pecado da luxúria. A luxúria pelo dinheiro envolve a busca de satisfação imediata das decisões finance iras. Muitas vezes são vítimas de 15 Significa pessoas sem bens, sem posses. Eira é um terreno de terra batida ou cimento onde grãos ficam ao ar livre para secar. Beira é a beirada da eira. Quando uma eira não tem beira, o vento leva os grãos e o proprietário fica sem nada. Na região nordeste este ditado tem o mesmo significado, mas outra explicaç ão. Dizem que antigamente as casas das pessoas ricas tinham um telhado triplo: a eira, a beira e a tribeira como era chamada a parte mais alta do telhado. As pessoas mais pobres não tinham condições de fazer este telhad o, então construíam somente a tribeira ficando assim " sem eira nem beira". Disponível em: http://www.soportugues.com.br/secoes/proverbios. Acesso em 2 de dezembro de 2013. 99 estratégias financeiras, de desejo de excesso, luxoe consumo. Certamente estão procurando êxtase imediato. A possibilidade de ter que o dinheiro possibilita ao querer mais e logo pode impulsionar a tomar decisões arriscadas e potencial mente enganosas. Em outra versão, a luxúria faz esse sujeito pensar que o dinheiro serácapaz de tapar buracos ou lacunas nãomonetários que existem em sua vida. Outro aspecto da pesquisa deu-se a partir do questionamento oposto à negatividade. Perguntou-se aos sujeitos em que situações os pecad os capitais podem ser positivos no ambiente organizacional. Dessa maneira obtiveram-se as seguintes sequências discursivas. Para os S1, S2, S3, S4, S5, S7, S9, S10, S11, S13, S15, S16, S21, S23, S24 e S25 os pecados não trazem nada de positivo para a empresa. Já os outros sujeitos, ainda nesta mesma linha de considerações responderam, a exemplo do S12, S6 e S 14 que apresentaram metáforas que ressignificam as palavras para pecados capitais da preguiça. S12 enunciou: “Quando todos colaborarem e lidarem em um conjunto dentro da empresa” [SD35], S6: “Que não devia existir a preguiça de trabalhar em conjunto do bem comum” [SD36] e S14: “ Quando todos se unir” [SD37]. Outra abordagem indicou a presença do pecado da sob erba. A soberba, é à atitude daqueles que humilham e desprezam, considerando os outros de maneira inferior ou incapaz de solucionar problemas. Evidenciam-se esses aspectos nos discursos de S22 e S17. Para S22: “No âmbito do crescimento podem ser positivos” [SD3 8] e S17: “Fazer com que um funcionário queira se mostrar mais valores que os utros” [SD39]. Ao referir-se a tal assunto S18 respondeu que: “A e le fez isso; ganhou isso eu tb vou lutar para ter” [SD40]. Há evidências do pecado dagula e da inveja nessa sequência discursiva. Quando o sujeito afirma usando o advérbio de modo também, ou seja, pela mesma razão, o S18 quer fazer e ganhar o que o outr o fez. Quando se refere a ele, supostamente o faz mencionando a algum colega pelo qual sente inveja, outro pecado observado nessa sequência discursiva. O S8 contestou: “Sempre que estiverem associados a ética. Podemos até ser gananciosos mas temos que respeitar o próximo”[SD41]. Nesse discurso há evidências do pecado da gula. É possível observar nessa sequência discursiva que o sujeito ao mesmo tempo em que admite incluir-se também se exclui dos demais membros da organização usando o sujeito elíptico 16 , e o faz com o adjetivo gananciosos, em plural fazendo referência anós . No discurso de S19 também há destaque do pecado adsoberba e da gula. Nota-se na sequência discursiva “Quando for da categoria inveja, pois isso fará eu 16 Sujeito elíptico, subentendido ou desinencial: é determinado pela desinência verbal e não aparece explícito na frase. Dá-se por isso o nome de sujeito implícito.Antigamente era chamado de sujeito oculto (NEVES, 2002). 100 refletir mais e ver que posso também conseguir algoa mais, isso tanto no profissional quanto no pessoal. Fará eu buscar algo, pois capacidade eu tenho” ”[SD42]. O elemento que comprova o deslize metafórico para o pecado da gula aparece no advérbio de intensidade mais e o pecado da soberba aparece em “(...) capacidade eu tenho”. Os demais sujeitos, em suas sequências discursivas,apontam o deslize de sentido para os pecados da luxúria, gula e da soberba. O S20 afirma que: “Quando bem administradas nos setores hierárquicos” [SD43], o S27 respondeu que: “Como uma reflexão sobre danos causados quando do abuso desses pecados” [SD44], pa ra S26: “Quando eles são praticados e a chefia trabalha em cima da correção” [SD45] e por fim, para esse questionamento o S28 enunciou: “Luxúria, pois trabalha mais p/ ganhar mais o para ter um conforto em casa maior” [SD46]. As marcas de soberba, gula e luxúria aparecem nos advérbios mais e bem, no adjetivo maior, na locução adverbial em cima, nas p alavras danos e luxúria e na derivação regressiva de abusar-abuso, que vem a ser a retirada da parte final de uma palavra primitiva, resultando na derivação da palavra. Geralmente são verbos de ação, denominados de deverbais, que derivam para substantivos. Aos participantes foi perguntado até que ponto estão olhando para o crescimento apenas pelo crescimento. As SDs revelam deslizes de sentidos metafóricos para os pecados da gula, soberba, preguiça e inveja. O S9 firmou que: “Logo depois de ingressar na empresa. Depois começa a se tornar pecado” [SD47]. Tem-se ne ssa sequência discursiva uma afirmação que o ambiente organizacional leva ao pec ado, ou é um ambiente de pecado. O pecado para esse sujeito é uma ofensa contra a razão, à verdade e a consciência, em detrimento de um apego a certos bens que aparecem como atraente para fins de satisfação. O sujeito não consegue avaliar nada de forma positiva na organização tornando-se um colaborador negativo, sem expectativas de atingir seus objetivos e da organização. A gula aparece claramente nas sequências discursiva dos sujeitos da organização. As marcas de gula que evidenciam são o substantivo mas culino abstrato crescimento, o verbo intransitivo crescer, o adjetivo superlativo de grande máximoe o pronome indefinido todos. Observa-se isso nos discursos de S8: “No geral, ach o que todos almejam o crescimento num todo, tanto pessoal como da empresa” [SD48], S6: “P essoal ótimo está bem, está evoluindo em grande escala” [SD49], S18: “O máximopossível, sempre tentando fazer o melhor para ajudar a empresa crescer” [SD50], S17: “Sempre; buscando o crescimento da empresa para depois a empresa retribuir para nós oferecendo crescimento profissional” [SD51] e S27: “Mas crescimento do que. Se for da empresa, eu almejo crescimento porque sei que poderei ser parte dele” [SD52], S25: “ Todos os funcionários que almejamcrescimento profissional 101 na empresa precisam fazer com que a empresa cresça também” [SD53], S1: “Cada um cumprindo suas obrigações e tentando fazer tudo pel o crescimento da empresa” [SD54], S19: “Não apenas olhando para o crescimento como forma de prosperar, mas sim que seja algo sólido, com visão de futuro e que seja algo bem pen sado e estruturado” [SD55] e S20: “Cada um faz o melhor e da o melhor de si desde que bem recompensado e valorizado” [SD56]. A gula é o desejo desordenado e desmedido dos sujeito. A repetição que ocorre nos discursos é uma maneira de reformular e ressignificar o que dizer, fazendo com que esse sujeito tenha um lugar forte de autoria no discurso. O sujeito aumenta o sentido qualitativo do termo dito. Outras marcas evidenciam ações continuadas de gula dos sujeitos, como por exemplo, o uso de verbos em gerúndio. Esse é o caso da sequência discursiva de S6: “Pessoal ótimo está bem, estáevoluindo em grande escala” [SD49], S18: “O máximo possível, sempre tentando fazer o melhor para ajudar a empresa crescer” [SD50 ], e S1: “Cada um cumprindo suas obrigações e tentando fazer tudo pelo crescimento da empresa” [SD53]. Há também o caso do S24 que enuncia: “Cada um procura fazer a s ua parte, a empresa busca o crescimento” [SD57]. Nessa sequência discursiva a topicalização se dá com o tema crescimento. Na topicalização a estrutura muda, há uma alteração na ordem sujeito-verbo-objeto, deixando a frase na ordem inversa: “A empre sa busca o crescimento, cada um procura fazer a sua parte”. Além dos pecados já citados, os pecados da inveja eda avareza também aparecem como resposta a esse questionamento na sequência discursiva do S28 que afirma: “Até onde meu termina e do meu colega começa” [SD58]. Ocorre nessa SD uma comparação desfavorável. O sujeito desliza o sentido da SD par a metáfora do pecado capital da inveja quando demonstra querer algo que alguém tem o que leva à satisfação. Mas a invejoso nunca está satisfeito. Seu desejo é colocado não só sobreo que o outro tem, mas sim nos meios para obtê-lo. Odeia o seu proprietário em seu lugar. ADS também possibilita a análise deslize de sentido metafórico para o pecado da preguiça. O suj eito negligencia suas ações e as coisas que são necessárias para serem feitas em conjunto. O uso do pronome possessivo “meu” também possibilita a análise do pecado da avareza e o usapara designar que tudo lhe pertence. Com vistas a ampliar esse questionamento, na SD do S11 é possível identificar o deslize de sentido para a metáfora do pecado capital da soberba. O sujeito afirma: “Estamos sempre aproveitando bem nosso tempo fazendo melhor pra empresa” [SD59]. O uso de melhor como forma sintética do adjetivo bom enraíza-se no narcisismo mais exacerbado, é o máximo da superioridade em suas manifestações. 102 Com o propósito de analisar outras possíveis inserç ões de pecados nos discursos dos sujeitos, perguntou-se a eles se estão dedicados a projetos pessoais em que os interesses se encaixam nos objetivos da organização. Os sentidos deslizaram para os pecados gula, ira, preguiça, soberba e luxúria. Considerando os aspectos que dizem respeito ao pecado da soberba e da preguiça o S19 afirmam que: “Não, pois é difícil que o meu pro jeto se encaixar nos objetivos da organização” [SD60], S9 também tem seu discurso com sentido metafórico de soberba: “Eu sim, mas a maioria não” [SD61] e o S23 afirmou que: “Não. Pois não há nenhuma forma de incentivo pela empresa/organização. Se há não se encaixam nos objetivos da organização” [SD62]. Esses sujeitos rechaçam e desqualificam o q ue a organização e os colaboradores fazem. Não uma equiparação com os objetivos. Obviam ente que cada sujeito tem seu plano de metas, mas não alinhar nenhum com a organização é u m ato de soberba e de preguiça. Ele está determinado a se destacar em um desejo de sempre conseguir o reconhecimento absoluto do outro frente à extrema potência do crédito e dademanda incessante. Para o S10: “Não, nos dedicamos apenas aos projetos da empresa. Projetos pessoais são trabalhados fora do ambiente da empresa” [SD63] . É possível afirmar que ocorre o deslize de sentido metafórico para o pecado da avareza. A e sse sujeito lhe interessa adquirir, possuir e acumular. Para atingir esse objetivo pode usar de deslealdade, traição deliberada, especialmente para ganho pessoal, como no caso de não estar alinhado com a proposta da organização. O sujeito tem medo de perder o que já tem. Não quer compartilhar conhecimento e expectativas sobre sua vida pessoal. Sequencialmente questionou-se aos colaboradores se, por vezes, irritam-se violentamente quando cometem erros. Para S8: “ Geralmente acontece, mas é logo passageiro. Se irritamos na hora mas logo passa e procuramos resolver o problema” [SD64], para S9: “Eu admito os erros, pois todo munda erra, mas vejo que colegas não admitem e se explodem de raiva” [SD65], o S10 complementou: “Ao ponto de discutirmos, pois queremos o melhor para a empresa” [SD66], S11: “ Sempre a jente fica com raiva mas é um momento pasageiro” [SD67], S14: “Até ficarmos irritados com a situação” [SD68], S17: “A ponto de surgir a Falsidade, a ignorância, a ira ” [SD69], S18: “A ter discussões: empurrões por mínimas coisas” [SD70], S25: “Quando o assunto se t orna repetitivo” [SD71], S26: “ Todos cometem erros. O que existe são formas diferentes de expressão” [SD72], S19: “Com certeza a raiva se torna presente em certas situações, mas nos aca lmamos, pensamos, visualizamos o que de fato aconteceu, corrigimos e seguimos em frente sem grandes ressentimentos, mágoas ou raiva” [SD73]. Os sujeitos afirmaram que a ira a parece no ambiente de trabalho e pelo 103 exposto, com frequência, demonstrando assim, que háo deslize de sentido metafórico para o pecado da ira. As marcas dos discursos que evidenciam isso são: o advérbio de modo geralmente, funcionando como um adjunto adverbial de pouca extensão que comprova que essas ações ocorrem comumente, o uso das expressões raiva e ira para atestar as ações dos colaboradores, o emprego do advérbio de tempo sempre indicando que continuamente acontecem ações que levam à ira, utilização do verb o discutir na primeira pessoa do plural discutimos- e a dos substantivos discussões e falsi dade que elevam o teor de desentendimento, irritação, ignorância e a própria ira. O pecado da ira é uma questão de grau. É um movimento que ocorre gradativamente, que pode começar em uma pequena discussão, um pequeno estímulo pode variar o estado emocional das pessoas (SAVATER, 2006). O deslize de sentido para a metáfora do pecado da preguiça foi visualizado ao perguntar aos colaboradores se estão envolvidos nos detalhes de todos os projetos que são responsáveis. Esta evidência do pecado pode-se observar nas sequencias discursivas do S22: “Eu, me envolvo diretamente nos projetos. Não posso falar pelos outros” [SD74], do S9: “Eu e alguns colegas sim, a muitos que simplesmente vem por obrigação ” [SD75] e do S26: “ Obrigatoriamente. Senão, digo, se não fosse assim, a organização es tava fadada ao fracasso” [SD76]. Os demais sujeitos responderam qu e fazem parte de projetos, os quais não foram especificados, outros silenciaram. Destes que responderam que fazem parte, sempre há a observância de que nem todos praticam as mesmas a ções, demonstrando o pecado da preguiça, é o caso do S23 que respondeu: “ Depende dos colegas, Mas a maioria se envolve” [SD77], e do S17: “Praticamente todos; alguns deveriam mostrar um pouco mais de curiosidade e atenção no que se passa no setor” [SD 78]. As marcas que evidenciam o pecado da preguiça são as expressões obrigação, obrigatori amente, depende e alguns. O que o sujeito fala ou escreve, são ecos, que prov eem de outros ditos, que ecoam de outros lugares, dando lugar a outros sentidos à med ida que são proferidos e não aqueles já existentes. O discurso é heterogêneo, pois traz outros discursos, constitutivamente, no seu interior. Dessa maneira, para responder a esse questionamento o S12 afirma: “Sim. Temos que tar, porque a firma é como nossa família temos que ajudar para ser ajudado” [SD79]. O sujeito usa outra formação discursiva, traz o discu rso familiar na intenção de fazê-lo figurar como um discurso heterogêneo, onde a FD familiar toma o lugar da FD profissional, mascarando saberes pertinentes ao discurso profissional. É nesse ínterim, onde emerge outra formação discursiva, que sujeito busca dizer o não- dito, ou seja, diz uma coisa, no lugar de outra. A representação simbólica da família para es se sujeito é aquela de união e que na família todos se ajudam. O discurso, a sua linguagem especificamente depende da posição 104 social que o sujeito ocupa. O discurso só se torna legítimo a partir dessa posição oficial que o sujeito desempenha na construção dos significados d o discurso (BOURDIEU, 1996). Tal discurso é carregado de poder, o que lhe confere certa eficácia simbólica. À família concebeuse como o lugar onde as emoções e mais íntimos dese jos são realizados. Os sentidos se fixam, consolidam-se através do discurso, do lugar social que cada sujeito ocupa dentro de suas representações com uma formação discursiva própria. O dizer está intrincado eligado a um momento histórico-social e a lugares de terminados dentro de um processo estrutural social. O discurso não é um emaranhado de termos ou enunciados, apresenta-se de forma estruturada, fator que o diferencia de um texto e um não texto. O texto está assim prédeterminado como uma unidade global de comunicação que deixa transparecer que existe uma intenção de comunicar algo ou uma ideia, conceb ido enquanto referência ao ato comunicacional concreto em que foi produzido, observando seu contexto. De acordo com o exposto, segue-se nas análises dos discursos, produzidos pelos sujeitos ao serem questionados sobre a procura pelo reconhecimento e aplausos pelo que fazem. S18 e S17 responderam que sim, mas não comen taram; S12 respondeu e justificou: “Sim. Porque assim você vai ser reconhecido na firma”; S9 afirmou: “Nem sempre, pois temos que trabalhar pela empresa, mas é gratificante quando recebo”; S28 asseverou que: “Sim, pois isso me motiva muito” [SD82]; S8 afirmou : “Sim. Gosto de ser reconhecido. Procuro conquistar o meu próprio espaço” [SD83], o S22 respondeu negativamente, mas acrescentou um comentário: “Não, estou procurando, mas ele é bem vindo” [SD84], o S27 enunciou que: “Não, embora elogio seja um estímulo” [SD85]. Ao mesmo tempo aqueles que em um primeiro momento negaram, logo em seguida afirmam que é bom receber reconhecimento e aplausos. Os sujeitos quando respondem que afirmativamente estão demonstrando que os sentidos de seus discursos deslizam para a metáforado pecado capital da luxúria. Assim sendo, esses sujeitos tem um desejo desordenado de elevar-se frente aos demais em aplausos e cargos ou título, somente considerando os benefícios que lhes são dados, como a fama e o reconhecimiento O S12 marcou seu discurso com o uso do pronome de tratamento pessoal você, remetendo à indeterminação à impessoalização. O pronome–sujeito de segunda pessoa “você” marca que o sujeito não se legitima nesse di scurso, ele se exclui. O sujeito também usa a perífrase verbal de futuro vai ser para assim reforçar uma condição de ação expressa no presente com intenção de futuro, na ideia de realiz ação hipotética ou virtual, resultando em uma ação com pouca credibilidade de acontecer. 105 Outra importante observação diz respeito ao uso do pronome possessivo meu que o S8 faz uso. Podem-se fazer duas análises nesse discurso. A primeira é que ocorre o deslize de sentido para o pecado da avareza. O sujeito tem receio de perder o que já conquistou e, por fim, encontra afeto em coisas materiais, cargos e posições. Da outra análise é possível dizer que há um deslize de sentido para o pecado da soberba. O sujeito torna-se “dono” do espaço, sem possibilitar compartilhamento com os demais. Da sequência discursiva do S19 é possível assinalaro deslize de sentido para o pecado da gula e soberba, ao responder a esse questionamento. Ele diz: “Não. Faço o que posso e da melhor maneira possível, pois assim no futuro poderei colher os frutos do sucesso no meu trabalho. Depende só de mim” [SD86]. Verifica-se o individualismo desse sujeito e certa dose de egoísmo mesclada com a falta de interesse por tudo aquilo que lhe reporta em benefício para o grupo. Não costuma repartir seu tempo nem se us interesses com outros colegas, mostra certo desprezo por aqueles que não compartilham de suas ideias e forma de pensar. Outra análise que evidencia as questões de poder na organização é a sequência discursiva do S11. Ele afirma que: “Não apenas faço o que me mando, e procuro fazer bem” [SD87]. Nessa SD ocorre o deslize do pecado da preguiça. O sujeito não faz além do que lhe mandam, limita-se a fazer o básico, nada além. O poder instaurado na organização deveria proporcionar que outra pessoa realiza-se de forma voluntária ações dentro e fora da organização, condicionando o comportamento dos memb ros da empresa, o que uniria efetivamente o conjunto da organização. Destaca-se ainda, para esse questionamento o discurso de S22 que ao usar a vírgula depois da negação possibilitou a mudança de sentido na oração, “Não, estou procurando, mas é bem vindo” [SD88]. Seria dizer que o sujeito nega na primeira resposta, mas pelo o uso inadequado da vírgula se contradiz e afirma que busca o reconhecimento e aplausos. O sujeito faz uso de uma figura de pensamento 17 chamada paradoxo, onde são apresentadas ideias contrária em uma mesma oração. A retórica chama ess a negação no enunciado e a afirmação na enunciação de lítotes 18 . De acordo com Fiorin (1999) o enunciado é significação do dizer e depende da situação para ter sentido. Para a análise metafórica, nessa SD ocorre um deslize de significação, onde o sujeito, na contradição enunci a que busca aplausos, com base nisso há a ocorrência da metáfora do pecado capital da gula. 17 “Figuras de pensamento são processos estilísticos que se realizam na esfera do pensamento, no âmbito da frase. Nela intervém fortemente a emoção, o sentime nto, a paixão” (CEGALLA, 2009, p. 626). 18 Variedade do eufemismo, em que se afirma algo pela negação do contrário (ROCHA, 1992). 106 Nessa mesma linha, perguntou-se aos sujeitos dessa organização se esperam receber reconhecimento pelo bom trabalho no que fazem a mais. Observaram-se incidências do pecado da gula. As marcas do advérbio de afirmação (sim) e do advérbio de tempo (sempre), o uso do pronome indefinido (todo) comprova-se isso, como forma de confirmar o pecado da gula, o desejo De maneira diferente uma pessoa pode alimentar o ego da gula: a quantidade, excesso, a vontade desmedida por conseguir algo. O S11 respondeu que: “ Sim, porque poucos fazem a mais, então é bom ser valorizado” [SD89], o S18 afirmou que: “ Sim, para assim ser recompensado pela empresa” [SD90], S16 confirmou qu e: “ Sim” [SD91], S17 enunciou que: “ Sim, tento melhorar cada vez mais, para assim ajudar a empresa a crescer, e para minha pessoa crescer no profissional e no existir” [SD92] , S22 respondeu: “As pessoas rendem mais com um simples” [SD93]. S8 confirmou que: “ Sim. Acho que todo mundo gosta de ser reconhecido” [SD94], S12 assegurou que: “ Sim. Para ter a boa confiança do patrão para fazer outro serviço” [SD93], S9 atestou que: “Espero que sim, pois é muito importante saber que nosso trabalho é bom, é reconhecido” [SD95], S28 asinalou que: “ Sim, para isso há os sacrifícios junta dá trabalho” [SD96], S6 enfatizou que: “ Sempre que tenho direito e cuido dos meus deveres” [SD97], S20 asseverou que: “Acho que todo mundo procura isso ñ importando o serviço que faça” [SD98]. De outra maneira, o S27 negou no primeiro enunciado, mas no segundo enunciado, com o uso inadequado da vírgula e o emprego do advérbio de modo (necessariamente), com o propósito de afirmar que isso, muito provavelmente vai acontecer, afirmou. “Não, necessariamente” [SD99]. O S23, em um primeiro mome nto também negou, porém usou a locução adverbial a mais para contrastar sua negaçã o, “Não procuro receber sempre o reconhecimento pelo trabalho “a mais” que faço. Mas fico no desejo de receber um reconhecimento um dia” [SD100]. Assinala-se o pecad o da gula nessa SD. Outra marca foi o emprego das aspas para ressaltar e demarcar a importância do dito para o sujeito. Para Maingueneau, o sujeito ao usar as aspas atribuiu “[ ...] a um outro espaço enunciativo e cuja responsabilidade o locutor não quer assumir” (1997, p.90), e por fim, o S19 enunciou que: “Não, mas posso garantir, que, se o reconhecimento bater a tua porta, independente da maneira que isso acontecer, fará muito bem para o ego”“ da pessoa [SD101]. Ao negar, busca reconhecimento pelo bom trabalho e o fazer a mais representou com a figura de linguagem denominada prosopopeia “[...] o reconhecimento bate r a tua porta [SD101]. O sujeito atribui ação ao objeto porta e logo marca com aspas a expre ssão ego, ressaltando que seria muito bom se esse reconhecimento, depois de bater à porta entrasse. O ego é a voz que nunca está satisfeita, organiza os desejos dos seres em concordância com os valores que a sociedade 107 impõe. Para Freud (1976) o ego funciona mediante o princípio da realidade para satisfazer as tendências instintivas de maneira mais eficaz. A SDmarca o pecado da luxúria e da gula. Prosseguindo aos questionamentos, perguntou-se em que medida os colaboradores organizam o trabalho, se é de acordo com os seus interesses, sem considerar as necessidades e interesses de outros funcionários ou se pensam no grupo. Para tanto se obteve as seguintes SDs que possibilitaram as análises que seguem. O S26 afirmou que: “Uma empresa que almeja crescimento e desenvolvimento, precisa evitar, sempre, a formação de “ilhas” de trabalho. Precisamos obrigatoriamente ser parte de uma engrenagem” [SD102], o S22 afirmou que: “Prioridades...” [SD103], o S23 enfatizou: “Se os outros não se interessam pelo trabalho, eu organizo de acordo c/ meu interesse e entendimento. Agora se é interesse do grupo, a situação se inverte” [SD104], para o S6: “Sempre e stamos de acordo, nunca querendo + ou -” [SD105] e para o S 27: “Particularmente tenho espírito de colaboração e aj uda” [SD106]. As análises que se fazem dizem respeito ao uso de marcas que possibilitam deslizes para os pecados da soberba, preguiça e gula. O S26 usa aspa para destacar a palavra que se opõe aquilo que não lhe parece ideal, em oposição viver em grupo ou estar em uma ilha, so zinho cercado de água e não de pessoas. Segue respondendo que a organização dever ser uma e ngrenagem, seria dizer, peças que se encaixam e giram em uma mesma direção colocando em prática as ações e os objetivos ao qual estabelece a organização. É a união de várias ideias, pensamentos, de maneira que se relacionem entre si e formem um conjunto unitário ecoerente. Poder-se-ia analisar a empresa como uma máquina, aos moldes de Morgan (2006) que studoue metaforicamente as organizações como máquinas, que são mecânicas, metódicas. Os col aboradores passam a pensar e agir como máquinas, seguindo um padrão estabelecido. Observa-se nessa SD o deslize de sentido para o pecado da preguiça. Enqua nto máquina pode-se pensar no fato de que a organização trabalhará somente o que lhe foi determinado, nada a mais. O sujeito S22 usou as reticências para marcar seu discurso. O sujeito marca seu discurso na intenção de chamar a atenção de seu int erlocutor, passando a esse sujeito o trabalho de interpretação. Complementa-se com o con ceito de Matos (2003, p.5) “[...] as reticências são apontadas para construir uma determinada representação do universo ideológico do enunciador e conseguir a atenção na i nterpretação pretendida”. Portanto, de quem são as prioridades, do grupo, a empresa ou som ente do sujeito. A interpretação possibilita que se analise a ação pelo viés da metáfora do pecado da soberba. Esse sujeito tem preferências por fazer algo primeiro para ele e depois para os demais. O discurso de S23 enquadra-se nessa mesma análise, acrescentam-se outras marcas de individualidade e 108 superioridade, tais como o uso do pronome possessivo meu somado ao substantivo interesse. Atribui-se a algo proveitoso ou vantajoso certa relevância. Faz-se possível analisar sob o aspecto do pecada da luxúria, onde há o deslize desentido para o excesso, excedendo aos limites comuns. Destaca-se a SD do S6, onde para enunciar usa sinais matemáticos que marcam seu discurso. Esse sujeito recorre à outra FD, ao discu rso acadêmico para significar-se. O senso comum confirma que sinais matemáticos iguais resultam em positividade e os sinais opostos, diferentes, tem como resultado a negatividade. Essa representação simbólica marca que o sujeito não quer que as ações ocorram de forma nega tiva, mais ou menos. O discurso escrito opõe-se ao que pensa o sujeito. Ao mesmo instante e ste discurso marca duas possibilidades de deslize de sentido metafórico para os pecados capit ais: uma para o pecado da soberba, onde o sujeito soberbo “[...] acha-se ótimo e quer que tod os percebam isso” (LEITE, 2002, p.49). A segunda possibilidade seria o pecado da gula, esse sujeito sempre quer mais, “O guloso manifesta gestos e comportamentos exagerados, nem sempre condizentes com a dimensão dos estímulos e solicitações promovidas pelo grupo com o qual convive” (LEITE, 2002, p. 35). O S27, em seu discurso, apresenta o deslize metafór ico para o pecado da soberba. Fá-lo com o uso do advérbio de modo particularmente. De acordo com Leite “Os soberbos são reféns de um sentimento de fraqueza pessoal, que osleva a se empenharem em parecer fortes, caraterísticas pela qual exibem ostensiva admiração ” (2002, p. 50). São controladores, tem como marca a falsa modéstia, desejam o poder, querem ser vistos por todos em qualquer lugar. O que marca esse discurso é o advérbio particularmente. Por fim, perguntou-se aos sujeitos se tinham alguma outra informação a mencionar sobre os sete pecados capitais. Assim foi possível identificar nas SDs dos sujeitos a presença dos pecados capitais de soberba, de luxúria, de ira, de preguiça, de gula e de inveja. Os S5, 9 e 22 responderam que: “Toda a humanidade comete 1peca do desses por dia, só não peca a pessoa que não tem coração” [SD107], o S9 complemen tou que: “Os pecados existem em todas as organizações porém quando identificados no s funcionários devem ser logo cortados, pois afeta toda a empresa em pouco tempo” [SD108] e S22 concluiu: “Existem em todos lugar” [SD109]. Os sujeitos, ao enunciarem que toda a humanidade comete o pecado e que existem em todo lugar, evidenciam o conformismo lóg ico, ou seja, sentem-se conformado em pecar, já que isso seria uma ação natural dos seres humanos. Há uma confissão de que se pecou. O fato de justificar essa ação com a possibi lidade de não ter coração é uma representação simbólica de pessoas que não tem amor , há um deslize de sentido para a ideia de que as pessoas que não tem coração são pecadoras . 109 De outra maneira o S7 confirmou: “Que os meus coleg as não platiques eles. Que Deus nos Ajude” [SD110], assim como o S1 justificou resp ondendo: “Fiquei feliz porque não me identifiquei em nenhum deles” [SD111]. A análise identifica o pecado capital da soberba. Os sujeitos declaram que os colegas praticam o pecado, eles não. Portanto, procuram ficar acima dos demais. Identifica-se o pecado da soberba pela marca do advérbio de negação não. Para S14, os pecados “são causados muitas vezes pelo din heiro” [SD112], evidenciando o pecado capital da luxúria. O sujeito desliza o sentido para as questões financeiras, de capital. Os S25 e S21 enunciaram que: “Se não tivermos c/ o coração preparado podemos fazer mal aos demais não podemos ser dominados” [SD 113] e S21: “Que além de causa desconforto, constrangimento, e conflito entre os colegas” [SD114]. Não estar com o coração preparado leva a ações que prejudicam aos demais. O pecado da ira e a inveja podem levar a atritos, desentendimentos e mágoas. Da mesma forma, o S27 afirmou que a preguiça é “um dos pecados que atrapalha o bom andamento das atividades. Há muito tempo que poderia ser com trabalho, mas alguns preferem driblar o tempo” [SD115]. O sujeito afirma que o pecado da preguiça está presente no ambiente organizacional, e que o mesmo atrapalha o desenvolvimento organizacional. A marca que apresenta o pecado da preguiça é verbo driblar. S11, por sua vez, gostaria de pedir a gerencia para “conciderar mais nossos salários, pois trabalhamos bem, eu sei que não são todos mas muitas vezes recebemos pelos outros, deveriam avaliar cada um, o que cada um faz” [SD116 ]. Assim o fazendo, S11 desliza o sentido para vários pecados capitais, como o da gula (demonstra quer mais e mais), da soberba (advérbio bem), da inveja (na afirmação de que não são todos). A pessoa que tem inveja não tem autoconfiança, possui baixa-estima. Tem muitas dificuldades de reconhecer-se com qualidades e passa a querer ser o que não conse gue ser e o que os outros são ou tem (LEITE, 2002). Quadro 8 – As estruturas da metáfora no Caso Quatro. Marca Preguiçosas Acomodadas Desinteressado Indiferente Nada Marquei Mais Querer Às vezes Classe gramatical Adjetivo Adjetivo Adjetivo Adjetivo Pron. Indefinido VT Adv. de Int. VTI Verbo Prep. Loc. Adverbial SD 17 17 19 21 25 28 18-4246-116 18 18 FD Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Sujeito 10 10 10 27 16 15 8-19-2811 8 8 Pergunta 4.2 4.2 4.2 4.3 4.3 4.3 4.4 4.5 e 4.7 4.4 4.2 Pecado Preguiç a Preguiça Preguiça Preguiç a Preguiça Soberba LuxúriaGula Luxúria Luxúr ia Continua... 110 Continua... Dinheiro Quando Mostrar Ter Ele Também Gananciosos Danos Subst. Masc. Sing. Conj. Adv. loc. VTD. V. Pron. VT.V. Pron. Pron. Pess. 3ªp.sing. Adv. de modo Adjetivo Subst. Masc. P. 34 Profissional 14 4.4 Luxúria 35-37 39 40-42-79 12-14 17 18-19-12 4.5 4.5 4.4- 4.8 Preguiça Soberba Gula 40 Profissional Profissional Profissional familiar Profissional 18 4.5 Inveja 40 41 44 Profissional Profissional Profissional 18 8 27 4.5 4.5 4.5 Inveja Gula LuxúriaSoberba Luxúria LuxúriaGula e Soberba Soberba Luxúria Maior Subst. Fem. Sing. Adjetivo 46 46 Profissional Profissional 28 28 4.5 4.5 Abuso Subst.. Masc. Sing. Derivação Regressiva Loc. Adverbial VI Adj. Superlativo 44 Profissional 27 4.5 45 26 50 53-71-98 Profissional Profissional Profissional Profissional 18 25-26-20 4.5 4.6 4.6 4.11-6 49 Profissional 6 4.6 Em cima Crescer Máximo Todos Grande Pron. Indefinido Adjetivo Crescimento Subst. Masc. Sing. Evoluindo Tentando Cumprindo Exaltando-se Abusando Ira Irritam Dia a dia Verbo em Gerúndio E Discussões Preguiça Subst. Fem. Sing. VT Locução adverbial Conj. coordenativa Subst. Fem. Plural Subst. Fem. Sing. Troca Pouco Soberba Poderoso Dane Grito Xingamento Desgraça Não Subst. Fem. Sing. Pron. Indefinido Hierarquia Geralmente Raiva Subst. Fem. Sing. Advérbio Subst. Fem. Sing. Soberba Gula Soberba Soberba-IraGula SoberbaGula SoberbaGula 38, 48, Profissional 51 a 55, 57 10-11, Profissional 49, 50, 53 1, 8, 17, 4.6 19, 22, 24-25, 27 6-17-11-6 4.6 1-69 2 3 Profissional Profissional Profissional 1-17 8 9 4.1 4.2 4.2 Ira Ira Ira 4 Profissional 19 4.3 Ira 5-70 Profissional 24-18 4.2-4.8 Ira-Soberba 9-22-6-27 4.2-4.5 Preguiça 25 6-7 6 17 18 19 19 27 1, 6, 7, 9, 11, 18, 19, 22, 24 a 26 4.2 4.2 4.2 4.2 4.2 4.2 4.2 4.2 4.3-4.5-4.6 Inveja Gula Soberba Soberba Soberba Soberba Soberba Soberba Soberba-Ira 25 8 9-11-19 4.2 4.8 4.8 Soberba Ira Ira 3-15-36- Profissional 115 9 Profissional 7-8 Profissional 10 Religioso 11 Profissional 12 Profissional 4 Profissional 4 Profissional 13 Profissional 10-14Profissional 18-2022-2426-2736-61-88 14 Profissional 64 Profissional 65-67 Profissional GulaSoberba 111 ...continua Discutimos Sempre Irritados Mandam Sim VDIVTI/VI Advérbio Adjetivo VT Advérbio Necessariamente Ignorância Obrigação Obrigatoriamente Depende Alguns Temos Você Vai ser Meu Advérbio Subst. Fem. Sing. Subst. Fem. Sing. Advérbio Subst.. Fem. Sing. VT Pron. Indefinido VT Pron. de Trat. Perífrase Verbal 66 67-97 68 10 89, 91 a 96 99 69 75 76 77 78 79 80 80 83 Profissional Profissional Profissional Profissional Familiar 10 11-6 14 6 8, 9, 11, 12, 17, 18, 28 Profissional 27 Profissional 17 Profissional 9 Profissional 26 Profissional 23 Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional 17 12 12 12 8 4.8 4.11 4.8 4.2 4.7-4.94.10- 4.11 4.11 4;8 4.9 4.9 4.9 Ira Ira-Gula Ira Soberba Gula Gula Ira P reguiça Preguiça Preguiça 4.9 4.8 4.10 4.10 4.10 Preguiça Preguiça Luxúria Luxúria Avareza Pron. Possessivo Soberba Legenda: SD – Sequência discursiva; FD – formação d iscursiva; VI – verbo intransitivo; VT – verbo tran sitivo; VTD – verbo transitivo direto; VTI – verbo transiti vo indireto. Fonte: Dados da pesquisa. 4.5 CASO CINCO 4.5.1 Apresentação do caso A empresa familiar W foi fundada no ano de 1922, iniciando sua atuação no mercado agrícola. Consagrou-se pioneira no plantio direto na região. Atualmente exporta seus produtos para diferentes países da América Latina, três países europeus e um país africano. Está localizada em Ijuí, onde possui fábrica própria e um centro comercial. É uma empresa familiar de grande porte que conta com mais de duzentos colaboradores. A empresa prioriza o atendimento diferenciado e a atualização tecnológica de seus produtos, buscando a satisfação integral do cliente . Isso decorre do pioneirismo histórico no desenvolvimento tecnológico de novos implementos, p osicionando a empresa como um das mais importantes fabricantes do setor agrícola da América. A empresa, em sua política de respeito ao solo, além de produzir implementos orientados a sua preservação, promove cursos e encontros técnicos, discutindo as principais tendências e formando um canal de distribuição de informações úteis tanto ao agricultor, como à pr eservação do meio ambiente. 112 4.5.2 Perfil dos respondentes Considerando-se o caráter de aleatoriedade na seleção dos respondentes no que se refere ao gênero, houve somente participação de indivíduos do sexo masculino. No que tange à faixa etária, percebe-se maior incidência (6) desujeitos com idades entre 19 e 30 anos; nos estratos de 31 a 40 anos de idade há três sujeitos entre 41 a 60 anos outros três sujeitos. Quanto ao grau de instrução, cinco sujeitos possuem o Ensino Superior, quatro possuem o Ensino Médio e três possuem o Ensino Fundamental. A maioria (8) é natural de Ijuí. Os demais são de Cruz Alta, Catuípe e Augusto Pestana. Dos doze respondentes cinco são casados, cinco solteiros e dois responderam out ro tipo de situação marital. Porém, constatouse que nenhum sujeito tem relação familia r com os fundadores da empresa. Quanto ao tempo que atuam na empresa, os dados revelaram que seis sujeitos dos questionados estão na empresa acima de cinco anos, ao passo em que um afirmou estar de 3 a 5 anos, de 1 a 3 anos estão três sujeitos e há menos de 1 ano somente dois sujeitos. 4.5.3 Análise dos dados A primeira abordagem dos sujeitos foi pelo questionamento sobre o conhecimento dos sete pecados capitais, sendo que cinco deles responderam positivamente, três negativamente e quatro não conheciam ou não lembravam. Após esclare cimentos, os sujeitos foram questionados sobre quais pecados ocorriam com mais frequência no ambiente organizacional. A incidência maior foi da preguiça (5) e da soberba(5), seguidos pela inveja (3); os demais pecados obtiveram uma resposta cada um. Sobre o momento em que os pecados capitais ocorriam S2 afirmou que era nos intervalos de trabalho, quando “todos estão [...] c onversando” [SD1], evidenciando o conformismo lógico do sujeito, pois ele só vê os relacionamentos de forma negativa. O simples conversar entre os colegas é motivo de estar pecando. Para o sujeito o pecado é uma ação má e que nas relações sempre vai ocorrer. Não há uma relação de confiança com os sujeitos dessa organização. Nos discursos de sete sujeitos percebeu-se o pecado da preguiça. Para S1, isso ocorre “quando não a [há] comunicação e sim cobrança” [SD2 ] e, para S3, quando alguém “deixar algo p/ fazer depois” [SD3]. Para S4, eles ocorrem: “Quando na necessidade de mudança, adequações em relação ao cotidiano de suas atividad es/tarefas” [SD4], S7: “Quando chega a uma situação em que precisa resolver, na tomada de decisões” [SD5], S8: “Na hora de 113 executar a tarefa” [SD6], S9: “Realizar alguma tare fa nova” [SD7], S10: “Preguiça, Quando se necessita fazer uma atividade não prevista no di a-a-dia da empreza para resolver algum empecilio” [SD8]. A preguiça é a falta de ânimo, a aspiração por realizar as ações cotidianas ou novas. “É o congelamento da vontade, o abandono de nossa condição de seres ativos e empreendedores” (SAVATER, 2006, p.114). As marcas que determinam o pecado da preguiça são o substantivo feminino singular cobran ça, o advérbio depois, os verbos executar e realizar, o adjetivo “nova”, na própria expressão “preguiça” e no vocábulo “empecilho”. Outra análise recai sobre os discursos que apresentam o pecado da soberba. Como exemplo tem-se a SD do S5: “Em situações de cargo, Ex: Uma pessoa (funcionário) possui maior salário que o outro” [SD9]. As marcas que dão clareza aos pecados são o pronome indefinido outro e o adjetivo maior. O S12 afirmou: “Na superioridade dos chefes, encima dos operarios” [SD10]. As marcas “maior”, “superioridad e” e “em cima” mostram a qualidade ou estado de quem está acima das outras, ou almeja estar. Savater (2006) preconiza que o pior da soberba é justamente impossibilidade de harmonia ea convivência entre as pessoas. Na SD do S5 também há um deslize de sentido para o pecado dainveja e está marcado pelo pronome indefinido outro. O sujeito, ao ser invejoso, tem a impressão e o desejo de ter tudo o que o outro tem (SAVATER, 2006). No discurso do S6 há a ocorrência da figura de linguagem denominada pleonasmo. Dessa maneira o sujeito usa a repetição para reforç ar sua ideia inicial. A figura de linguagem, nesse caso pode ser classificada como um pleonasmo vicioso, pois em geral somente as pessoas que merecem são promovidas, com algumas exc eções pode-se imaginar que alguns são promovidos sem merecimento. Seria como entrar p ara dentro, sair para fora, subir para cima e etc., assim comprava-se essa assertiva na SD do S6: “Quando é merecida uma promoção a pessoas que merecem” [SD11]. O pecado da inveja se instaura dessa SD e está marcado pela palavra merecida. Por fim para esse questionamento o S11 respondeu que o pecado capital aparece: “No cansaço físico e mental-IRA-” [SD12] e como ele afi rmou resulta na ira entre os colegas. Tendo em vista os aspectos observados, as palavras de Leite (2002) dão suporte para a ação do sujeito, pois esse irado não consegue lidar com as situações rotineiras e, por vezes, isolamse. São avessos à mudança, não desenvolvem relações harmoniosas com o grupo e qualquer motivo/ação leva ao desequilíbrio. Nessas situações, pode-se perceber que a organizaçã o estudada tratou de forma a não deixar que essas ações de pecado capital pudessem t ornar-se rotineiras. Por vezes chamou a atenção do colaborador que tivesse cometido algum p ecado capital que resultasse em algo 114 negativo, outras vezes tratou de maneira distinta. Por outro lado em algumas SDs é possível observar que a gerência se omitiu. Comprova-se essaação nas SDs dos S5: “Há uns meses atrás, não se pronunciou” [SD13], do S4: “Por vezes houve a tentativa de conhecimento, em outras ocorre a acomodação” [SD14], do S8: “Não deu importância” [SD15], o S10 afirmou: “Acontece com frequentemente, a gerencia não encher ga tudo” [SD16] e do S1: “Para muitos são justo mas tratando dos cargos simples não dão m uita bola” [SD17]. Analisando as SDs destaca-se a presença do pecado da preguiça por par te da gerência. A preguiça afasta as pessoas de seus objetivos. “O preguiçoso não vê sen tido em nada. É procrastinador, deixa para depois, está sempre desanimado, falta-lhe vontade e determinação para agir” (LEITE, 2002, p.41). As marcas que determinam esse pecado aparecem no uso do advérbio de negação e no substantivo feminino singular acomodação. Os sujeitos consideram que os pecados capitais causam-lhes sentimentos negativos. Na visão de S9, eles refletem-se “de maneira negati va no ambiente de trabalho” [SD18], “deixa as pessoas pra baixo, sua alta estima cai” [ SD19 – S6], “causam entre os operários, que acabam ficando mais insatisfeitos com o serviço” [S D20–S12], “prejudicam a interdependência das relações e atividades” [SD21 – S4] e “tras interesse-insatifaçãodesinteresse” [SD22 – S8]. Contudo, argumenta S1, a s “pessoas não notam você sim ou quando só enchergam demais a uma pessoa” [SD22]. Nesse contexto chama a atenção a SD do S7 que apres enta, em oposição aos pecados 19 capitais, as virtudes . Assim ao contrário da avareza aparece à generosidade que é o hábito dar e compreender os outros. Generosidade é uma forma característica de altruísmo e filantropia, como visto nas pessoas anônimas que pr estam serviços em organizações sem fins lucrativos. S7: “Sim porque eles ultrapassam sentim entos como bondade solidariedade” [SD23]. Opostamente, os sujeitos foram questionados em que situações os pecados capitais poderiam ser positivos na empresa. Observou-se que a alguns acreditam que os pecados capitais no ambiente da organização não apresentam pontos positivos. Nota-se essa constatação nas SDs do S6: “Não sei se tem algo pos itivo, acho que a empresa não ganha com isso” [SD25]. Outras SDs apresentaram certa positiv idade na ocorrência dos pecados. Para o S12: “Entre a diretoria e cargos administrativos, p ode se tornar bom para o crescimento da empresa” [SD26], o S1 respondeu que: “Se forem colo cados de forma em geral quando erramos fomos considerados de acordo com o erro tudo bem” [SD27]. 19 As virtudes são consideradas as oposições aos peca dos capitais. Salienta-se que as virtudes não são t ema de estudo desta pesquisa. 115 Na opinião do S7: “Quando por exemplo são transform ados em pontos que podem ser melhorados na empresa, quando se gasta demais pode aparecer o pecado da ira, e este sentimento neste exemplo, pode possuir clima melhoramento” [SD28]. Nessa SD tem-se o pecado da avareza, marcado pelo uso do verbo “gasta ” mais o advérbio de intensidade “demais”. O S4 afirmou que: “Dependendo do seu grau de intens idade, porém acredito que o equilíbrio deles favorece” [SD29], o S8 afirmou que : “Conhecimento-elogio” [SD30] e por fim o S10 atestou que: “Muito pouco na minha visão pessoal, mas todo o chefe deve ser um pouco soberbo, para manter-se em seu lugar, todo administrador deve ser um pouco avarento e todos demais funcionários devem ter uma “inveja” boa de seus superiores [SD31]”. Os demais sujeitos apenas responderam que não. Diante do exposto, o S10, em seu discurso afirmou que há necessidade de existirem os pecados, mesmo de forma comedida e que eles podem tornar o ambiente mais propício, ou seja, é preciso ter uma dose de pecados para que haja harmonia. Marcou a palavra inveja com aspas representando a sua opinião de que aqueles qu e cometem o pecado da inveja desejam algo que alguém tem, e percebem que lhes faz falta,e, portanto, desejam o mal para os outros, e se sentem bem com isso. Também se perguntou aos sujeitos até que ponto pensam só crescimento pessoal e não no da empresa. Algumas SDs evidenciaram o pecado da gula. As marcas presentes nesses discursos são o verbo intransitivo crescer, o subst antivo masculino crescimento e o pronome indefinido tudo. Para o S12: “Em tudo, quem mais pe nsam na empresa são os ocupantes de cargos superiores, e mesmo assim são poucos” [SD32] , S10 afirmou que: “Bom, acredito que as 2 coisas se completam para o crescimento pessoal vir a existir terá de ser acompanhado de um crescimento da empresa com objetivo de aumentarem suas ambições e crescimento na empreza” [SD33], para o S9: “Olha acreditamos que c rescer, sempre motivado e inovando e aprendendo e a melhor maneira de crescer” [SD34], S 8 complementou: “Penso- em ambos” [SD35], não obstante o S7 respondeu: “Até o ponto em que o senso coletivo do grupo faça com que a empresa alcance seus objetivos” [SD35], s eguiu respondendo o S6: “Não penso em mim, quando estou bem e faço o melhor para mim, a e mpresa também está ganhando, e cresce junto” [SD36], S4 afirmou que: “Até o ponto em que não haja prejuízos pessoais e ou da empresa” [SD37], o S1 respondeu que: “Todo mundo te m que ter algo mas eu sou o contrario se eu estou numa empresa eu visto a camiseta por que é dali que sai o meu salario” [SD38] e o S3 enunciou que: “Não tem momento que pensamos no n osso crescimento, pensamos no crescimento da empresa” [SD39]. 116 Os discursos dos sujeitos são semelhantes. Acredita m que se a empresa crescer eles também crescerão. Os S6 e o S1 usam de falsa modéstia, dando ideia de sempre estar falando sobre suas próprias falhas, mas, basicamente, não e stão dispostos a mudar por esses defeitos. Há o deslize de sentido para o pecado capital da soberba. Genericamente definido como sobrevalorização em relação ao outro. O sujeito que r alcançar ou sobrepor um obstáculo ou situação para alcançar um status elevado e desvalor izar o contexto. Transforma-se na crença de que tudo o que se faz ou diz é superior. O soberbo é e que é capaz de superar tudo o que dizem ou fazem os outros. No discurso de S9 aparece a figura de construção de nominada polissíndeto, que se conceitua como sendo a repetição enfática de conjunções, nesse caso a conjunção e. Tem por objetivo repetir o mesmo conjunto de coordenação de vincular palavras, frases ou sentenças. S1, quando menciona “vestir a camiseta”, faz um des lize de sentido para outra formação discursiva, a do mundo dos esportes. O obj etivo principal é aproximar-se do enunciatário, seria dizer, associa o seu pensar (campo pessoal) ao seu fazer (campo profissional) ao usar de expressões futebolísticas, entidade que se supõe mais perto do universo dos sujeitos do grupo ou de fácil compreensão. Algumas SDs revelam o pecado da soberba é o caso doS12: “Somente pessoais, se vai se encaixar na organização não nos interessa” [SD40 ], do S1: “Muitas vezes temos projetos mas não temos o direito por que na empresa tem quem fassa mesmo que estejam errados eles não reconhecem” [SD41]. A soberba é vista como a crença de que tudo o que se faz ou diz é superior, e que é capaz de superar tudo o que eles dizem ou fazem aos outros. O sujeito orgulha-se de coisas vãs e vazias (vaidade) e parec e exaltado de si mesmo a um nível crítico e de excessiva arrogância. Complementa-se essa ideia com as palavras de Leite (2002, p. 49) que explica: “Os soberbos, [...] acham-se ótimos e querem que todos o percebam assim. No palco da vida, querem o papel principal. Em qualquer situação, veem sempre a oportunidade para demonstrar “o quanto são melhores que todos”. As marcas dessas SDs de soberba e preguiça são aos vocábulos somente e o verbo reconhecem, assim como a marca de preguiça é “(...) tem quem fassa” [SD41]. Os S4 e 9 apresentaram discursos com deslize de sentido para a metáfora do pecado capital da preguiça. S4 evidenciou que: “Sim, sempr e em que solicitados alguns colega são mais preguiçosos” [SD42] e S9: “Essa é a combinação ideal, geralmente de difícil aplicabilidade” [SD43]. A preguiça é lei do menor e sforço. O habitus que se instaurou não foi o de coletividade e busca pelos mesmos objetivos. 117 O pecado da raiva aparece em vários discursos. Quando perguntado até que ponto os sujeitos ficavam irritados violentamente ou com raiva quando cometem erros. Ocorrem evidências desse pecado nos discursos dos sujeitos2, 8, 10 e 11. Para o S2: “Sempre tem algum que se irritam não querem admitir o erro” [SD 44], o S8 afirmou que: “Não tem dialogo chefechefe- peão é peão” [SD45], o S10 respondeu q ue: “Todos tentamos manter a calma sempre, sabemos que as vezes é inevitável alguns aborrecimentos e estress, tentamos dar uma volta e esfriar a cabeça para não descontar em ning uém e afetar a relação e o vínculo de coleguismo” [SD46] e o S11: “A impaciência e a estupidez” [SD47]. A ira é um pecado capital que existe nesse ambiente e se mostra quando alguém é contrariado. Leite (2002, p.55) argumenta que os irados são: “Pessoas extremamente ativas, porém não conseguem disponibilizar a energia que possuem a favor de um fluxo consistente de tarefas, trabalhando uma coisa de cada vez”. Há marcas do pecado da ira nos vocábulos irritam, não, descontar, inevitável, impaciência e estupidez. Também é possível perceber o pecado da soberba na SD do S2 quando usa o verbo admitir antecedido pelo advérbio de negação não. Também se perguntou aos sujeitos se estão envolvidos nos detalhes de todos os projetos que são responsáveis na organização. A maioria dos sujeitos respondeu que não está envolvido nos projetos da organização, deslizando s entido para a metáfora do pecado da preguiça. Comprova-se isso no discurso do S9: “[... ] há pessoas que não se envolvem tanto, estão acomodados com preguiça” [SD48]. O preguiçoso não concebe o trabalho e suas responsabilidades com algo sério, ação que lhe obriga a ser regrado e compromissado com suas atividades e do grupo (LEITE, 2002). As marcas que determinam o pecado da preguiça são as palavras preguiça, acomodados, envolvem e nã o. Ao tratar de reconhecimento com os sujeitos da entrevista, alguns sujeitos responderam que buscam reconhecimento de seus superiores demonstrando ideia de cultura organizacional é um constituinte da organização. Para o sujeito S10: “Sim, o reconhecimento, um simples elogio as vezes, para mim pelo menos é um grande incentivo, para buscar fazer meu trabalho cada vez melhor” [SD49], o S7 responde u que: “Sim, porque gosto que o meu trabalho seja reconhecido, pois estamos ajudando no crescimento da empresa” [SD50] e o S11 afirmou que: “Apenas reconhecimento e onestidade si nceridade” [SD51]. Nessas SDs é possível identificar a metáfora do pecado capital da luxúria e da soberba. A luxúria e a soberba são estimuladas pelo desejo, os soberbos e luxuriosos não gostam de rejeitar ou restringir-se a qualquer coisa. Têm um comportament hedônico e narcísico. Querem o prazer imediato (LEITE, 2002). Algumas marcas determinam esse pecado, entre elas o adjetivo 118 grande e melhor e do advérbio de afirmação sim. O S7 também desliza o sentido de seu discurso para o pecado da gula quando usa a expressão crescimento. Como complementação da questão anterior perguntou-s e aos sujeitos se esperam reconhecimento pelo bom trabalho e no que fazem a mais. O S11 respondeu que: “Sim” [SD52], o S12 afirmou que: “Sim espero, acho que to dos esperam por reconhecimento” [SD53], segue o S10 complementando que: “No bom tra balho as vezes, mas no que faço a mais concerteza espero sempre um reconhecimento” [S D54], o S6 enunciou que: “Sim, acho que todos esperam isso, mas sem deixar de ser o que somos” [SD55], o S2 enfatizou que: “Sim espero reconhecimento pelo trabalho da melhor forma possível ” [SD56] e para o S5: “Espero receber reconhecimento, mas nem sempre afin al tenho que trabalhar para justificar o salário que ganho” [SD57]. O pecado da gula aparece no uso do advérbio de afirmação sim e no desejo de ter tudo, na vontade maior por melhores posições na empresa. A transferência de sentido para o pecado da gula se dá ao fato de que,por ocasiões quando se come algo em excesso extrapola-se, quer dizer come-se além do necessário, e isso, obviamente traz uma sensação de mal-estar, indigestão, neste caso refer indo-se à parte física. Faz-se por pura gula. O S4 respondeu que: “Faz parte da natureza humana v er seu esforço ser reconhecido” [SD58]. Neste discurso há um conformismo lógico, pois o sujeito deseja o reconhecimento, mas não quer afirmar isso, então o diz de outra for ma, como se estivesse passando a responsabilidade a alguém que criou esse enunciado,assim faz parte da natureza do homem. Aos sujeitos foi perguntado em que medida organizam o trabalho, de acordo com os seus interesses ou sem considerar as necessidades e interesses de outros funcionários. O S12 respondeu que: “Faço a minha parte no serviço, não procuro ajudar os outros” [SD59]. Ao responder que não ajuda a ninguém o sujeito ressignifica seu dizer, ou seja, há o deslize de significado para o pecado da preguiça. No mesmo ins tante, ao agir dessa maneira comete o pecado da soberba por acreditar que nem todos são r esponsáveis na empresa. Também se faz análise sobre o uso do pronome possessivo minha, indicando o pecado da avareza. O pronome possessivo indica a posse desse sujeito. Na análise seguinte o S6 enunciou: “(eu acho) que se todos se ajudassem e fisecem vista grossa seria melhor porque não haveria discuç ão” [SD60]. Há duas observações pertinentes nessa SD. A primeira diz respeito ao uso dos parênteses e a segunda análise à expressão vista grossa. Ao usar parênteses, o sujeito quer representar os demais colaboradores da organização com esse marcador de intercalação, m as não tem tanta certeza dessa ação, portanto, usa os parênteses para dizer que está alino discurso, mas não é o responsável sozinho pelo dito. No segundo momento quando usa a expressão vista grosa, metaforicamente 119 enuncia que seria melhor se não se percebesse o que os outros estão fazendo. Desse modo, o intradiscurso 20 é a sequencialização do dizer. E apresentado de maneira linear e atravessado pelo interdiscurso desse sujeito. O interdiscurso éa memória discursiva, que se apresenta no eixo vertical, onde estão localizados tudo o que já foi dito pelo sujeito ou por outros sujeitos. Esses já-ditos, que se pode denominar de dizíveis, estão num plano de esquecimentos na memória, de formulações já esquecidas de cada sujei to. Dita sobre a representação do discurso com relação a si mesmo , “[...] o que eu digo agora, com relação ao que eu d isse antes e ao que eu direi depois; portanto, o conjunto de fenômenos de “correferência” que garantem aquilo que se pode chamar o fio do discurso” (PÊCHE UX, 1997, p.166). Assim o sujeito, ao fazer vista grossa, faz ou deixa as coisas ficarem de maneira relaxada, despreocupada. Decorre dessa ação o pecado da preguiça. Sequencialmente o S2 respondeu: “Eu sempre produzo mais” [SD61]. Nessa SD há um uso do advérbio de intensidade “mais” e nesse ca so aparece designando dois papéis: um de intensificador e outro de modificador, o primeiro, intensifica a ação do sujeito- ‘Eu sempre produzo’; o segundo papel, o advérbio aparece no discurso modificando dois vocábulosproduzo e sempre- mais modifica sempre que modifica produzo no mesmo sintagma, quer dizer, há uma subordinação entre eles, uma relação de dependência. O advérbio mais intensifica o sentido do verbo produzir deslizando para pecado da gula. O guloso tem características exageradas, e que às vezes fogem da ordem correta do que é solicitado pelas pessoas com as quais ele convive (LEITE, 2002). O S4 acredita que “pela necessidade da interdependência entre as atividades o interesse pessoal não se sobrepõe ao coletivo, exce to situações isoladas” [SD62]. Quando o sujeito justifica-se usando a preposição exceto, fá-lo na intenção de dizer que ocorrem ações individuais e que deslizam para o pecado da inveja. O invejoso procura diminuir o que o outro tem de melhor e valoroso, e que ele é inferior aosdemais (LEITE, 2002). Para finalizar, destaca-se a SD63 do S8, que tambémpode ser visualizada na Figura 9: “Patrão-quer lucro- enchuga- corta. 1 -Empregado- f az trabalho de 10 empregados. 1 pessoa=sobrecarrega” [SD63]. O sujeito procurou mostrar seu pensamento com uma equação matemática, analisando a ação do patrão. Nessa SD têm-se vários deslizes de sentidos para os pecados capitais. Podese analisá-la sob a perspectiva do pecado da gula. O patrão quer lucro. O verbo querer 20 Orlandi (1999) esclarece que o interdiscurso é a memória discursiva ou todo o conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam o que já dizemos e intradiscurso é aquilo que estamos dizendo naquele momento dado. 120 associado ao substantivo masculino lucro apresenta o deslize metafórico de gula. Outra análise recai sobre o sentido do pecado da avareza.Os verbos cortar e enxugar, circulados na SD, estabelecem uma relação com a ação do sujeito-p atrão e marcam o efeito metafórico do pecado capital da avareza. Figura 9 – Sequência discursiva de S8. Fonte: Questionário de pesquisa. Nas palavras de Leite (2002, p.61): Os avarentos possuem algumas caraterísticas de personalidade que lhes são peculiares: a parcimônia com que se vestem, moram e comem estende-se aos que o cercam- exigem de todos modéstia de hábitos; o egoísmo dos avarentos revela-se de forma acentuada quando se trata de medir interesses [...] Tem obsessão por juntar sempre mais. Na SD64, expressa por S10 (“Não. Acredito que todos estamos influenciados por algum destes 7 pecados em algum momento, isto é inevitável. Ninguém é perfeito 100%, para que nunca tenha cometido um erro, caso contrario nã o seriamos humanos”), tem-se a representação simbólica de poder para afirmar que “ ninguém é perfeito”, levando a entender que busca-se o perdão para não sofrer punições. Ao enunciar que é humano, sabe que o perdão será garantido. O pecado associado às questões de poder aparecem no vamente nas palavras de S6: “Não é passando por cima de alguém ou humilhando o próximo que conseguimos algo, temos que fazer por merecer” [SD65]. Aqui a função primor dial do poder é preservar a harmonia e o equilíbrio no ambiente interno da organização. O po der organiza, quando é legítimo, e delimita fronteiras aprovando os processos organizacionais ofertando-lhes prêmios pelas ações ditas como bem desempenhadas (SCHEIN, 1994). Contudo, S1 entende que alguns sentimentos são repr imidos pelo poder no ambiente de trabalho, em especial pelo conjunto de elementos simbólicos. Nas palavras deste sujeito, “se todos ler a respeito dos sete pecados usaria no seu dia a dia; porque não é sempre que acertamos também temos defeitos mas temos que procurar concertar” [SD66]. O sujeito entende que realizações ações com pecados, incorrer á em punição, podendo ser simbólica. O sujeito vincula suas ações de certo e errado e sofr e as punições. 121 Na interpretação de S9, os pecados capitais estão “ presentes em nosso meio de trabalho e vida pessoal” [SD67], mas S4 afirma que isso não deveria ocorrer: Pela própria definição os pecados não deveriam se f azer presentes no dia a dia da organização. Como isso é impossível, a minimização de seus efeitos é a diferença entre o mau e o bom ambiente, com reflexos diretos no resultado [SD68]. Com essas SDs, confirma-se que no ambiente organizacional ocorrem pecados capitais e eles revelam-se nas estruturas da metáfora, comoapresentadas no Quadro 9. Quadro 9 – As estruturas da metáfora no Caso Cinco. Classe Gramatical Marca SD Não Advérbio 1-2-8-15a17 36-48-59 Depois Advérbio 3 Executar Empecilho Preguiça Nova Realizar Maior Outro Superioridade Em cima Merecida Ira Acomodação Demais Inveja Gastar Crescer Crescimento VT Subst.. Masc. Sing. Subst. Fem. Sing. Adjetivo VT Adjetivo Pron. Indefinido Subst. Fem. Sing. Loc. adverbial Adjetivo Subst. Fem. Sing. Subst. Fem. Sing. Adv. Adjetivo Subst.. Fem. Sing. VT/ VI/ V. prep. VI Subst.. Masc. Sing. Pron. Indefinido Loc. Adverbial Advérbio VT FD Sujeito Profissional 1-5-6 8 a 10, 12 Profissional 3 Pergunta 4.5- 4,64.74.9 4.10 4.12 4.13 4.2 Pecado Preguiça Ira Preguiça 6 Profissional 8 4.2 Preguiça 8 Profissional 10 4.2 Preguiça 8 7 7 9 9 10 10 11 12 14 28 31 28 34-36 Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional 10 9 9 5 5 12 12 6 11 4 7 10 7 9-6 4.2 4.2 4.2 4.2 4.2 4.2 4.2 4.2 4.2 4.2 4.3 4.5 4.5 4.5 Pr eguiça Preguiça Preguiça Soberba Inveja Soberba Soberba Inveja Ira Preguiça Avareza Inveja Luxúria Gula Gula 33-39-50 Profissional 10-3-7 4.6 32 38 40 41 Profissional Profissional Profissional Profissional 12 1 12 1 4.7 4.10 4.6 4.6 4.7 Gula Soberba Soberba Soberba - 41 Profissional 1 4.7 Preguiça Preguiçosos Adjetivo 42 Profissional 4 Geralmente Irritam Admitir Inevitável Impaciência Estupidez Preguiça Acomodados Advérbio VT VTD Adjetivo Subst. Fem. Sing. Subst. Fem. Sing. Subst. Fem. Sing. Adjetivo VT/. V. Preposicionado Adjetivo 43 44 44 46 47 47 48 48 Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional Profissional 9 2 2 10 11 11 9 9 4.7 4.8 4.8 4.8 4.13 48. 4.8 4.9 4.9 Preguiça Raiva Soberba Ira Ira Ira Pr eguiça Preguiça 48 Profissional 9 4.9 Preguiça 49 Profissional 10 4.10 Tudo Ao contrário Somente Reconhecem Tem quem faça Envolvem Grande 4.7 Preguiça Luxúria Continua... 122 continua... Melhor Adj. Adv. Subst. Masc. Sing. 50 Profissional 7 4.3 Luxúria soberba Sim Advérbio de afirmação 49-50-5253-54-56 Profissional 10-712-6-211 4.4 4.7 4.9 4.11 Soberba Gula 59 Profissional 12 4.12 Avareza 60 Profissional 6 4.12 Preguiça 60 Profissional 6 4.12 Preguiça Minha Vista grossa Parênteses Pronome Possessivo Expressão idiomática Sinal de Pontuação Mais Advérbio 61 Profissional 2 Sempre Advérbio 61 Profissional 2 Exceto Preposição 62 Lucro Subst. Masc. Singular 63 Querer VT/VI Cortar VT/VI Profissional 4.12 4.7 4.8 4.11 4.12 Gula Gula 4 4.12 Inveja Profissional 8 4.13 Gula 63 Profissional 8 4;13 Gula 63 Profissional 8 4.13 Avareza Enxugar VT 63 Profissional 8 4.13 Avareza Legenda: SD – Sequência discursiva; FD – formação d iscursiva; VI – verbo intransitivo; VT – verbo tran sitivo; VTD – verbo transitivo direto; VTI – verbo transiti vo indireto. Fonte: Dados da pesquisa. A fim de sintetizar e mostrar as marcas mais evidentes da metáfora, simbolicamente representadas pelos sete pecados capitais, apresenta-se a Figura 10. Nela pode-se observar a preponderância dos pecados soberba (94 ocorrências), preguiça (59 ocorrências) e gula (45 ocorrências), o que pode ser interpretado como importantes elementos simbólicos representantes da cultura organizacional. Estes não são apenas pecados capitais, mas indicações de pontos a serem considerados pelos ges tores das empresas familiares analisadas com vistas a promover ações de intervenção que prov oquem mudanças comportamentais e promovam o desenvolvimento organizacional. 123 Figura 10 – As marcas metafóricas do pecado capita l Soberba 27 Gula 5 Preguiça 12 Luxúria 7 Pecado capital CASO 1 Inveja 3 Avareza 2 Ira 1 Soberba 14 Preguiça 2 Luxúria 4 Gula 7 Inveja 4 Avareza 1 Ira 3 Pronomes, advérbios, substantivos, adjetivos, conjunções, verbos. Pronomes, advérbios, substantivos adjetivos, preposições, gerúndio, verbos. Pecado capital CASO 2 Soberba 23 Gula 12 Preguiça 18 Inveja 9 Avareza 2 Luxúria 6 Pronomes, advérbios, substantivos adjetivos, conjunções, gerúndios, locuções, verbos. Ira 2 Pecado capital CASO 3 Soberba 22 Gula 13 Preguiça 11 Inveja 3 Pronomes, advérbios, substantivos adjetivos, conjunções, locuções, verbos. Avareza 1 Luxúria 9 Ira 12 Pecado capital CASO 4 Preguiça 16 Luxúria 3 Soberba 8 Gula 8 Pecado capital CASO 5 Fonte: A Autora Inveja 4 Avareza 4 Ira 6 Pronomes, advérbios, substantivos adjetivos, conjunções, locuções, verbos. 124 5 AS EVIDÊNCIAS DOS SETE PECADOS CAPITAIS EM ORGANIZAÇÕES FAMILIARES No presente capítulo é realizada uma interpretação conjunta dos casos considerando a apresentação dos resultados referentes aos tópicos descritos e os resultados globais, os quais indicam, efetivamente, a análise das estruturas dossistemas simbólicos vigentes na cultura organizacional que representam os sete pecados capitais. A cultura é um acontecimento dinâmico, resultado da interação social (SCHEIN, 2009), ou seja, da configuração simbólica do habitus e campo, como bem descreve Bourdieu (2012). Os sete pecados capitais podem estar estruturando esses elementos simbólicos, seja em forma de regras, normas, rotinas que dão norte a o comportamento do grupo. Dessa maneira, esse capítulo abordará como os sete pecados capitais estruturam os sistemas simbólicos e se apresentam na cultura organizaciona l das organizações familiares. Nas organizações familiares pesquisadas, os element os simbólicos estão relacionados à origem étnica da família proprietária e suas crenças, como já apontados nos estudos de Grzybovski (2007), muitas derivadas do Cristianismo, como mencionados por Savater (2006). Isso conduz pensar pecado como um elemento que afeta o comportamento humano e, numa família marcada pela orientação religiosa esses pro vocam medo, apesar de não necessariamente produzirem comportamento ético. Tendo em vista os sistemas simbólicos que sustentam as organizações investigadas, com normas e regras constituídas no seio familiar e que tem os espaços organizacionais como campos de poder, é possível observar que as configurações simbólicas que norteiam o comportamento dos membros de organizações familiare s estão constituídas na trama social e nas mentes das pessoas que dela fazem parte, através de normas ou regras formais (SCHULTZ, 1994). Isso se evidenciou nos cinco casos analisados. A exemplo cita-se a sequência discursiva do S6 (Caso Um), que não participou da pesquisa justificando-se da seguinte maneira: “Estou a 2 meses na Empresa e não me senti apto a responder o questionário sem conhecer melhor meus chefes demaiscolegas de trabalho obrigado e desde já sucesso em sua profissão”. Por conseguinte, o sujeito que faz uso de marcas linguísticas, que podem ser associadas aos sete pecados capitais, fá-lo por ter em seu habitus características que identificam o seu discurso como reconhecido, carregado de poder e consequentemente aceito pelos demais. 125 A pesquisa revelou que há uma concepção homogênea obres determinados comportamentos no ambiente de trabalho e de certa forma, nas cinco organizações estudadas, os sujeitos involuntariamente firmam contratos pessoais e conformam os sistemas simbólicos pelas características dos sete pecados capitais. Os sujeitos orientam suas ações por conceitos morais e são premiados por esforços maiores e, obvi amente, como é inerente aos seres humanos buscam reconhecimento pelas ações realizada s além daquelas que lhes compete. Nas organizações familiares investigadas, os pecado s são como uma constante no cotidiano organizacional. Em diferentes momentos, os sujeitos evidenciam comportamentos contidos pela conformidade do espaço organizacional através das estruturas burocráticas, mas que se configuram como pecados. Assim aparecem marcas que determinam um conformismo lógico (DURKHEIM, 1994) em algumas ações dos sujeit os, o qual estruturam os pecados, como por exemplo, o da preguiça. É claro isso no Ca so Três e Quatro nas SDs de S1 que confirmou que os pecados aparecem “Na hora de cumprir tarefas” [SD26] e do S14 que percebe “quando precisa fazer alguma coisa alémde mandado as pessoas não fazem alémde que se diga para fazer, sempre dizem- ‘não ganho pr a isso’” [SD29]. O sujeito se adapta as circunstâncias sem muita res ignação. Isso pode ser claramente observado nas palavras repetidas pelos sujeitos e representadas de forma articulada na Fig. 11. Figura 11 – O conformismo lógico no pecado da pregu iça. Fonte: A Autora. 126 No instante em que os símbolos são criados, os ator es da organização investem nos significados. Os sujeitos criam o significado em suas ações e novos símbolos são recriados como expressões significantes e como membros organi zacionais dão sentido à vida organizacional. Portanto, os pecados aparecem em forma de marcas estruturadas como os substantivos falta, fofocas, capital, preguiça, inv eja, elogio, economia, soberba, desgraça, ira, superioridade, empecilho, grito, xingamento, discussões, troca e comparações, os pronomes indefinidos tudo, pouco e outro, as conjunções e, m as e alternativa quer, o artigo indefinido um, os verbos executar, mandar, irritam, realizar, adquire, cumprir, dane, gabar-se e invejando, a preposição sem, os adjetivos promovido , nova, maior, merecido (a), poderoso, preguiçosos, acomodados, desinteressado e elogiado, reticências e aspas, as locuções em cima, dia a dia e às vezes, o superlativo melhor, o s advérbios além e depois. O grupo social confere à “falta ao trabalho” um val or moral e conforma o espaço organizacional para que todos o considerem uma regra de comportamento, Schein (1984) define isso como uma discussão de cultura organizac ional. As expressões que denotam falta de interesse pela organização, pelo trabalho em equ ipe e que configuram preguiça, ficam evidenciadas no uso dos termos “acomodados, preguiç a, empecilho, sem, reticências, desinteressado, preguiçosos, depois, ás vezes, dane, pouco, cumprir, mandar, realizar e sem”. Observa-se, no Caso Cinco, com clareza como há a predominância de ações que caracterizam o pecado da preguiça, para S3, quando alguém “deixa r algo p/ fazer depois” [SD3]. No caso da fofoca, apoia-se no que conceitua Schultz (1994) sobre símbolos verbais (mitos, sagas e histórias) que são aquelas aconteci mentos que são originados dentro da organização e que são contadas pelos seus integrant es e que passam a fazer parte da cultura dessa organização, por vezes, podem ser aumentadas, criadas, mistificadas, e cada sujeito interpreta de sua maneira, assim como contará de sua maneira também. Tais fatos legitimam as ações dos membros, e que são narrativas comparti lhadas pelos sujeitos da organização deixando suas marcas. Complementa-se a essa argumentação o que fundamentam Deal e Kennedy (1982) sobre valores, heróis, ritos, rituai s e comunicações como elementos da cultura organizacional. Esses autores argumentam que “uma cultura forte é um sistema de regras informais que indicam como as pessoas têm que se comportar na maior parte do tempo” (1982, p. 15). Os sujeitos empregaram as palavras “poderoso, meu, melhor, maior, capital, superioridade, xingamento, tudo, além, em cima, gabar-se, adquire, aspas e discussões” na intenção de imprimir poder em seus discursos. Há uma recorrência com relação ao pecado da soberba nesses usos. Os sujeitos empregam essas marcas para significar, ou melhor, para 127 determinar, que nessa organização há o predomínio do pecado da soberba, resultando em ações de poder por parte da gerência, dos proprietários e de alguns colegas. Bertero (1996, p. 38) afirma que o poder é resultante de objetivos e “não pode deixar de ser enfatizado em seu aspecto de mantenedor, fiador e homologador da cultura organizacional e quem o possuir pode alterar estruturas e influenciar na mudança do comportamento organizacional”. O poder simbólico nessas organizações não está nos sistemas simbólicos, como afirma Bourdieu (2012), e sim, nas relações determinadas e ntre aqueles que exercem o poder e aqueles outros que estão sujeitos a isso. O simboli smo que se encontra presente no sistema de comunicação provoca ou desvela os pecados na ação e faz o poder se instaurar na linguagem que um sujeito faz a outro. O simbólico é um tipo de poder que se faz reconhecer para obter o reconhecimento, cuja eficácia não se exerce no plano da força física, mas sim no plano do sentido e do conhecimento. Das marcas ou pistas que estruturam a metáfora dospecados capitais, selecionaram-se algumas conjunções (e, pois, mas), parênteses, a digressão, as locuções adverbiais (às vezes, sem), verbos (conversando, fazer e marcar), advérbios (nem, melhor, não), o adjetivo indiferente e o substantivo acomodação. Essas pista s simbolizam o pecado da soberba. Claro está na SD do S2 que respondeu que a gerência “conversou e fez com que se resolvesse” [SD6]. No conjunto dos discursos, o pecado da soberba aparece explicitamente relacionado ao cargo, em especial conferido aos gerentes, representado na Figura 12. Figura 12 – Representação simbólica dos pecados nas ações dos gerentes Fonte: A Autora. O poder reduz as relações de força e de comunicação (BOURDIEU, 2012). Assim, afirma o autor, as relações de comunicação configur am-se também como “relações de poder 128 que dependem [...] do poder [...] simbólico acumula do pelos agentes, [que] podem acumular poder simbólico” (p. 11). Contudo, esse poder simbó lico, assim como as relações de força, os processos de comunicação, não estão visíveis aos su jeitos entrevistados. Todos são elementos simbólicos da cultura organizacional (SCHEIN, 1999) , mas que é real na fala do sujeito é o cargo ocupado pelo gerente, que provoca desejos de ser “gerente”, de “estar ocupando o cargo”. Existe uma simbologia que apresenta isso de uma forma muito maior que ele mesmo e, que se relaciona com algumas ideias conscientes e inconscientes, assim, depois dessa ação é que se pode dar o seu significado completo e seu sentido. São sistemas simbólicos sancionados, seja por religião ou por direito que l igam significados (ordens, representações) a símbolos (formas significantes) não raras vezes num sentido negativo, uma vez que ele nunca é neutro e permite estabelecer encadeamentos de significados (CASTORIADIS, 1982). Tendo em vista esses aspectos, as marcas que estruturam a metáfora dos pecados capitais para essa observância que diz respeito ao sentimento negativo que o pecado pode trazer para o ambiente organizacional, tem-se advérbios (mais, demais, sim e não), pronome indefinido (outro), os símbolos ($), verbos (querer, equilibrar e ter) e substantivo (dinheiro). Colabora para essa comprovação, de que tais marcas evidenciam que o pecado é negativo nas ações das pessoas. Tomlin (2008, p.13) confirma que os pecados capitais são “sete hábitos de pessoas extremamente destrutivas”. Observe algumas SDs ilustrativas das afirmações dos sujeitos no Quadro 10. Quadro 10 – Marcas que estruturam a simbologia da n egatividade do pecado. Organização S Caso Um 4 Caso Dois 1 Caso Três SD “Causa sentimentos negativos pelo fato em que você cria um certo “medo” sera que a empresa vai me valorizar, mas não em que eu t enha que desistir to sempre apostando pelo fato de ser responsável” . [SD16]. “Sim o nome já diz, pecado coisa boa não é”. [SD11]. 2 “Todo pecado é negativo” [SD48]. Caso Quatro 27 “Sim sendo pecados são geradores neg ativos no relacionamento social” [SD30]. Caso Cinco 9 “Sim, reflete de maneira negativa no ambiente de tr abalho”. [SD18]. Fonte: Dados da pesquisa. Tais hábitos destutivos encontram-se descritos nasrelações sociais e no espaço social, nesse caso o organizacional. Assim, nessa abordagem os grupos são constituídos por diferenças e se atraem por objetivos iguais, também têm suas respectivas histórias e suas 129 condições sociais, determinantes de seus gostos, pe rcepções, crenças e ritos. Por isso, o que se configura no ambiente das organizações não tem a me sma representação simbólica para todos os sujeitos que participam dela como agentes sociais desse campo. Soma-se a definição de cultura de Hofstede que exprime um conceito mais “s uave”, intangível e holístico, com, no entanto, presumíveis consequências “duras”, tangíveis” (1991, p.34). Cada colaborador expressa a sua opinião com relação aos pecados e pa ra marcar a positividade destes, em seus discursos usaram substantivos (bíblia, excesso, danos, luxúria, pessoa, preguiça, inveja, necessidade), verbos (pesar, crescer, mostrar e gastar), adjetivos (maior, melhor e gananciosos), artigo indefinido (uma), conjunção (s e, quando), pronome indefinido (nenhum), pronome pessoal (ele), locução adverbial (em cima) e o advérbio (nunca, também, demais e não). É preciso considerar que cada sujeito se manifesta de acordo com seu grau de pertencimento à cultura da organização que está ins erido. Observou-se que no Caso Três, os colaboradores, por prestarem serviço de manutenção e limpeza à empresa Z, passam o dia de trabalho fora de sua organização contratante, ident ificando-se mais com a cultura organizacional da empresa que prestam serviço, fato esse observado pela pesquisadora, já que a mesma trabalha na contratante. Assim, a cultura é colocada a erigir sinais manifestos de força ou fraqueza, dependendo do coeficiente de pon deração de cada um dos elementos constituintes e adesão aos valores da empresa. A ex emplo tem-se a SD do S9 “A inveja, não que exista na empresa que trabalho, mas em grandes empresas creio ser o 1º dos pecados” [SD4]. Sujeitos incorporaram a cultura da empresa à qual prestam serviços de limpeza, que é uma grande empresa, trata-se da maior empregadora da cidade, e não da sua empresa, pois não lhes foi dado oportunidade de criar laços, cren ças, hábitos e um conjunto de valores, expectativas e padrões praticados pelos membros da organizacional na qual eles pertencem. Isso decorre da estrutura organizacional fragmentada pelas características do segmento de atuação. Tal constatação vem ao encontro do pensame nto de Schein (2009): as condições que fazem com que os sujeitos se unam na busca de objetivos, condicionando seu modo de pensar, sentir e agir, para além do seu espaço organizacional. O habitus dos sujeitos da organização é gerado pelas estruturas objetivas e este, por sua vez, gera o comportamento individual resultando em esquemas práticos de percepção, pensamento e ação. O habitus sistematiza práticas e garante a coerência. Dessamaneira tende a reproduzir as condições objetivas que deram orige m a diferentes contextos, assim o sujeito pode reorganizar as práticas adquiridas e produzirações transformadoras. Complementa-se com Setton (2002, p: 19), que conceitua habitus como elemento que “auxilia pensar a relação 130 entre os condicionamentos sociais exteriores e a subjetividade dos sujeitos”. Logo os sujeitos refletem sobre crescimento pessoal ou profissional e para significarem usam as marcas linguísticas e estruturam as metáforas dos pecadoscapitais. A relação destas inclui verbos (crescer, evoluindo e melhorar), pronome oblíquo (me), advérbios (não, bem, muito e sempre), substantivos (lucro, e crescimento), pronome possessivo (meu), adjetivo (velha e grande), locução adverbial (ao contrário), adjetivo superlativo (máximo) e o pronome indefinido (tudo). Observe essas marcas representadas na Figura 13. Figura 13 – As marcas do pecado do crescimento apen as pelo crescimento. Fonte: A Autora. Há individualismo nas organizações estudadas que compõe o pecado da gula e da soberba, na SD86 do S19 o deslize de sentido para estes pecados está explicado: “Não. Faço o que posso e da melhor maneira possível, pois assim no futuro poderei colher os frutos do sucesso no meu trabalho. Depende só de mim” e na SD 166 S17: “Aqui é cada um por si e Deus por todos”. A empresa é geradora de espaços de compromisso e o colaborador necessita identificar e engajar-se nos projetos propostos. A não efetivaç ão de objetivos organizacionais e individuais integrados gera certa desmotivação, já quando ocorre este compartilhamento de ações, os sujeitos assumem, de forma mais efetiva o s objetivos próprios do negócio, implementando-se uma superação de obstáculos mais assegurada. A cultura é um processo dinâmico, que define o modo de agir de um grupo, co m uma história repleta de significados 131 construída ao longo de sua trajetória. A cultura or ganizacional nesses processos de participação e engajamentos de projetos passa a ser , de acordo com Morgan (2006, p.127): [...] um processo de criação, recriação e estrutura ção de significados e de interpretações pelo qual é estabelecida a própria e strutura organizacional. Os processos sociais, as imagens, os símbolos e rituais criam e desenvolvem, na organização, um ethos próprio consagrado através da sua estrutura formal. Para Schein (2009), as ações e comportamentos obser vados nos sujeitos, no instante da interação na organização, no ato da comunicação, po r exemplo, ou nos tipos de condutas usadas; ou até mesmo as normas que caracterizam grupo de trabalho; os valores dominantes esposados pela organização, filosofia, política que norteia a organização e seus clientes; enfim, tudo aquilo que deve prevalecer como ponto comum entre todos na organização e a maneira como os sujeitos interagem entre si e com os que não pertencem à organização refletem na cultura organizacional e precisam ser assegurados para que os sujeitos assumam de forma mais efetiva os projetos propostos pela organização para que a cultura seja um processo de aprendizagem coletiva (SCHULTZ, 1995). Dessa forma, com relação aos projetos pessoais que se encaixam nos propósitos das organizações estudadas, os sujeitos estruturaram a metáfora do pecado capital com as marcas do substantivo (maioria e crescimento), advérbio (sempre, geralmente, somente, sim, mais e não), pronome indefinido (cada), pronome pessoal (e u), verbos (encaixar e reconhecem), oração (tem quem faça), adjetivo (“preguiçosos”), e preposição (“fora”). As práticas discursivas nessas organizações familiares fazem parte de um conjunto ações que podem ou não aparecer de forma na ação. E las estruturam as interpretações de sentido, as normas, os ritos, os valores e as ações de simbologia organizacional (ROSA, et al, 2006). Assim, o sujeito usa como estratégia os ditos e não-ditos em forma de marcas linguísticas ou de silenciamento para dizer, expressar e significar, em palavras ou não. Para significar a irritabilidade ou raiva quando cometem erros, os sujeitos marcaram as estruturas estruturantes da metáfora dos pecados capitais com advérbios de negação (não), de superioridade e de intensidade (raramente, sempre, geralmente), com verbos (irritar, dever, fazer, discutir, admitir, ter, pegar), pronome pessoal (eu), adjetivo (depende, inevitável, folgados, preguiçosas), pronomes indefinidos (todos , alguém, ninguém), com substantivos (discussões, falsidade, ignorância, estupidez, impa ciência, raiva) e com pausa no discurso. Na AD o uso da pausa, também é uma maneira que o sujeito tem de dizer o não-dito, os silêncios são rompidos e o sentido passa a ser outro e não ma is aquele (SILVA, 2002). É o instante da contradição. Algumas dessas marcas expressam o peca do da ira. Com base em Savater (2006) afirma-se que a ira é algo fisiológico. Psicologicamente é algo que lhe afeta, que lhe causa 132 dano. O cuidado deve ser quando a ira passa a não s er mais uma simples reação e sim uma norma. Nesse caso há uma conversão da ira em pecado. A SD1 do Caso Quatro exemplifica a situação do pecado da ira no espaço organizacional: “Ira, quando alguma coisa de errado ou fornecedores não cumprem seus compromissos” (S1). S ua superação, ou seja, não pecar, pode se dar pelo conformismo lógico (DURKHEIM, 1994). Estar envolvido com os projetos da organização e co mprometer-se com eles significa estar alinhado com as propostas de manutenção e exp ansão da organização. Fazer parte desse processo implica na observância de alguns quesitos que permeiam a cultura da organização. Sua forma de trabalhar em equipe, seus processos de qualificação e retenção de talentos, a maneira geral de gerir a organização é o que determina como seus sujeitos vão agir. A partir desses processos é que determina os campos de podere a cultura se confirma uma variável do desenvolvimento organizacional também em organizaçõ es familiares. A cultura, apontada por Schein (2009) em seus estudos, é composta por interpretações que são compartilhadas coletivamente pelo processo social. Tais interpretações são relacionadas com a história da organização, procedi mentos, valores, formas de comunicação e a visão dela, representando a maneira de agir e pen sar da empresa. Por isso, a cultura organizacional se torna intangível, pois é internalizado pelos seus membros e tendem a persistir ao longo do tempo. Assim, os discursos colhidos nas cinco organizações familiares, revelam as estruturas estruturantes dos pecados capitais. Os sujeitos marcaram os pecados com metáforas de verbos (precisar, fazer, querer, epender, envolver e crescer), mais também com advérbios (muito, não, sim, mais, nem, obrigatoriamente e sempre), com os pronomes indefinidos (todos, cada e alguns), com a preposiçã o (além), com o adjetivo (grande), com substantivos (obrigação, preguiça e maioria) e adje tivos (acomodados, mole e depende). Comprova-se em SDs do Caso Três, Caso Quatro e Cinco respectivamente. S7 e S8 responderam: “Não participamos de projetos” [SD127 e SD 128] e S13 respondeu que: “Para aprender mais” [SD133], S26: “Obrigatoriamente. Sen ão, digo, se não fosse assim, a organização estava fadada ao fracasso” [SD76] e S9: “[...] há pessoas que não se envolvem tanto, estão acomodados com preguiça” [SD48]. Os pe cados capitais que aparecem nessas marcas são o da preguiça e o da gula. Cada um dos discursos também desvela ohabitus próprio das organizações familiares, mas também os campos de poder criados em torno da valorização de evento s sociais. O habitus é entendido nas formas de agir, pensar e sentir que são causadas pela posição que o sujeito ocupa na estrutura social e organizacional. Nesses espaços organizacionais estão os sujeitos com diferentes habitus, competindo, expressando seus sentimentos e sendo 133 representados por diferentes símbolos no campo que estão inseridos. Os sujeitos, nas organizações familiares estudadas, marcaram as estr uturas estruturantes da metáfora dos pecados capitais ao buscarem reconhecimento e aplausos com as pistas de advérbios de superioridade e de negação (melhor, sim e bem), adj etivos (grande, bom, certo, reconhecido), substantivos (tipo, crescimento, grana), pronome de tratamento (você), prerífrase verbal (vai ser) e o pronome possessivo (meu). Tais marcas e pistas referem-se a muitos pecados. A cultura, nos casos estudados aparece vinculada à inveja, à ganância (gula), à avareza, à soberba e à luxúria porque os sujeitos o cupam diferentes posições, papéis e responsabilidades, muitas vezes gerando inveja e cobiça entre eles. Isso ocorre de fato que cada função tem diferentes (melhor ou pior) condiçõ es de trabalho, a qual estimula a competição, impulsiona a inveja e gera (tendo em co nta as diferentes tarefas) a ganância pelas diferentes escalas de pagamento para cada cargo. Observe as marcas no Quadro 11. Então, esses sujeitos experimentam sentimentos de tristeza ou irritação causada pelo desejo de felicidade ou alguma outra coisa. Assim eles demonstraram ter sentimentos excessivos de possuir e valorizar o ter, o ser reconhecido e nada mais, em uma cultura organizacional metaforicamente compreensível pelos 7 pecados capitais. Quadro 11 – Marcas que estruturam a cultura através dos pecados capitais. Organização S SD Pecado Caso Um 3 “a empresa reconhecendo o desempenho do meu trabalho” [SD26] Avareza Caso Dois 4 “Quando você se empenha evoluindo para que a empresa cresça junto com você sempre temum impedindo que isso aconteça” [SD10]. Inveja Caso Três 17 “Se vier acompanhado de grana” [SD145]. Luxúria Caso Quatro 19 “Não, mas posso garantir, que, se o reconhecimento bater a tua porta, independente da maneira que isso acontecer, fará muito bem para o “ego” da pessoa” [SD101]. Gula Caso Cinco 7 “Sim, porque gosto que o meu trabalho seja reconhec ido, pois estamos ajudando no crescimento da empresa” [S D50]. Soberba Fonte: Dados da pesquisa. Levando-se em consideração os aspectos que se desen volvem nas organizações estudadas e com os colaboradores que buscam receber reconhecimento pelo bom trabalho e pelas tarefas extras realizadas, os esquemas sociais são constituidos de forma estru turada individualmente e os estruturantes, os campos, são adquiridos na prática. Por vezes, observou- 134 se que nessas organizações, não há uma prática cooperada, dividida, em que as ações não são partilhadas entre todos, não há interesse pelas necessidades dos outros na organização. Pela observação dos dados analisados, os sujeitos m arcaram as estruturas estruturantes da metáfora do pecado capital através de advérbiosde tempo, o advérbio sempre, necessariamente, de afirmação e de negação, com adj etivos (bom, bem, reconhecido), pronome possessivo (meu), pronome pessoal (eu), verbos (melhorar, aumentar), substantivo (obrigação), uso de aspas, pronome indefinido (todo s) e com locução adverbial (a mais). A representação dos esquemas sociais nas organizações familiares estudadas está na Figura 14. Figura 14 – A representação dos esquemas sociais na s organizações estudadas. Fonte: A Autora. O valor que é dado ao discurso depende da relação de força que este desenvolve entre as competências linguísticas dos sujeitos, tal comoa capacidade de apropriação dos capitais simbólicos que circunscrevem pelo campo em que se c oncretiza a interação comunicativa. Assim, o poder simbólico do discurso aparece na cap acidade que tem os distintos sujeitos que participam dele. Confirma-se com o estudo de Bourdieu (2012), que a linguagem é um fenômeno social e não particular, onde as estrutura s estruturadas são atribuídas ao habitus linguístico como estruturas estruturantes, tendo um caráter de formadora de práticas. Portanto, é possível afirmar que os colaboradores das organizações familiares estudadas estruturaram seus discursos com marcas da metáfora dos pecados apitaisc quando respondem como organizam as atividades, se considerados as necessidades e interesses individuais ou do grupo. Os discursos ficaram marcados com advérbios (não, nem, bem, particularmente, mais, sempre 135 e), conjunção (mas), substantivos (necessidades e e ngrenagem), verbo (alcançar), sinais de pontuação (reticências e parênteses), sinal matemático (+ ou -), pronome possessivo (meu/minha), pronome indefinido (cada), expressão i diomática metafórica (vista grossa) e preposição exceto. Acredita-se com isso que esses discursos foram marcados por alguns pecados. Seguem alguns exemplos: S19 afirma que: “Não, pois é difíc il que o meu projeto se encaixar nos objetivos da organização” [SD60], “Aqui é cada um p or si e Deus por todos” [SD166 – S17]; “Não organizamos, só cumprimos ordens” [SD151 – S1] ; “Eu sempre penso nos meus colegas mas nem sempre os meus colegas pensam no grupo. Eles são individualistas” [SD46 – S8]; “Se os outros não se interessam pelo trabalho, eu o rganizo de acordo c/ meu interesse e entendimento. Agora se é interesse do grupo, a situação se inverte” [SD104 – S23] e “Sempre estamos de acordo, nunca querendo + ou -” [SD105 – S6]. Para a AD, o discurso é um enunciado com muitas marcas. Essas marcas, devido à sua força expressiva veem com cargas semânticas vincula das a ideias e ações de posse, de incerteza, de possibilidade, de condição, de contig uidade dando a entender que poderão ou não ser executadas no decorrer do discurso e nas aç ões dos sujeitos. A linguagem e seu discurso, propriamente dito nas organizações dentro das organizações são mecanismos úteis. Expressam uma pluralidade persistente no que diz respeito à construção da identidade e da realidade organizacional. Estas expressões ou const ruções da realidade linguísticas, que surgem através de marcas e pistas também expressamelementos de poder e dominação entre os membros da organização. A heterogeneidade não só expressa rompimento simbólico e divergência, mas também diferentes formas de fazer pensar a organização em posições de poder (PÊCHEUX, 1997). Observe os pecados capitais metaforizados em marcas linguísticas no Quadro 12. Quadro 12 – O pecado capital metaforizado em marcas linguísticas. Organização S Caso Um 4 Caso Dois 2 SD “Fico a pensar que porque as pessoas que se acham t ão eficientes tem medo de perder assim prejudicando aquele que só quer uma oportunidade e não o seu lugar” [SD33] “Que a gula está mais presentekkk” [SD33]. “Não, porque eles existem, todos sabemos, mas depende de cada pessoa ter interesse ou não por eles.” [SD176]. “Fiquei feliz porque não me identifiquei em nenhum deles” Caso Quatro 1 [SD111]. “Patrão-quer lucro- enchuga- corta. 1 -Empregado- faz trabalho Caso Cinco 8 de 10 empregados. 1 -pessoa=sobrecarrega” [SD63]. Fonte: Dados da pesquisa. Caso Três 1 Pecado Avareza Luxúria Gula Luxúria Soberba Gula Avareza 136 Os pecados podem aparecer nos discursos dos sujeitos através de pistas ou marcas que evidenciam a presença de um sentido interpretável de outra maneira. O uso de metáforas no discurso constrói um novo paradigma de como funcion a o poder. As metáforas nesse gênero discursivo, com fins expressivos, aparecem como elementos criadores de comunicação e ditam que o poder é passível de ser transmitido através da linguagem, bem como, por outro lado acabam ocultando a forma de pensamento. Há um deslize significativo de sentido, deixando marcas e possibilitando que outros sentidos se instaurem. Em conformidade com o explicitado, apresentam-se, na Figura 15, as marcas que estruturam a estrutura estruturante a metáfora dos pecados capitais nas organizações familiares. Figura 15 – Os 7 pecados capitais como metáforas para estudos de organizacionais. Organizações familiares Sujeitos Habitus Campus D FD SS RS Legenda: SS – Sistemas simbólicos; FD – Formação Di scursiva; D – discurso; RS - Representações sociais. Fonte: Adaptado de Smircich (1983). 137 Com base na Figura 15 é possível analisar a recorrência de algumas marcas que apareceram nos discursos dos sujeitos nas empresas, nos cincos casos, evidenciando a existência dos pecados capitais nessas organizações familiares. Houve deslize de sentido metafórico para os pecados capitais. A exemplo pode -se analisar a marca “sempre” apareceu 13 vezes, a marca “não” figurou nos discursos mais de 47 vezes deslizando, por exemplo, para o pecado da avareza, da soberba, da gula, da ira e da preguiça, já as marcas “crescer e crescimento” que deslizaram sentido metafórico para o pecado da gula apareceram nos discursos mais de 20 vezes. A marca “melhor” foi identificada nas SDs por 9 vezes, deslizando sentido metafórico para o pecado da luxúria e soberba. Portanto, cabe ao gestor buscar identificar, por meio de estudos qualificativos e quantitativos, analisar palavras recorrentes que indiquem tais fenômenos linguístico s e que indiquem algumas marcas que possam estar evidenciando o não D.O., na organizaçã o. É preciso analisar o que essas marcas representam para a organização com relação à cultur a que ela possui. Essa análise faz-se pelo estudo do imaginário do sujeito, daquilo que ele construiu, deslizando para vários sentidos (CASTORIADIS, 1982). O imaginário usa o simbólico para representação do sujeito, assim como o simbólico se expressa através de imagens para significar-se. Nessa perspectiva, o discurso é considerado uma prática social, carregado de marcas em que as palavras significam diferentemente, é onde sujeito e sentido derivam, desloca-se para outras manifestações de sentido, nas diferentes posições que ocupam como ag entes sociais na organização, dentro do constante confronto entre mundo organizacional e linguagem e o que se relaciona com ela (simbólico, real, imaginário). Ocupar-se do uso da linguagem como forma de solucionar problemas existentes no ambiente organizacional é umas das formas que integra tanto o nível macro como o nível microssocial de uma organização. É através do discu rso, quando bem interpretado e analisado que o sujeito manifesta com suas intenções, crenças , percepções atuais e futuras, exprime sentimentos dos mais variados possíveis, imprime suas opiniões e como interpreta o mundo profissional e pessoal. Dessa maneira se pode identificar algumas perspectivas para estes estudos que estão relacionados com o enfoque cultural e interpretativo do discurso, no caso dessa pesquisa o uso da metáfora dos 7 pecados capitais como deslize de sentido. A relação organização e linguagem são um conjunto onde as negociações, conf rontos e debates de poder se entrelaçam no processo da trama discursiva da própria organiza ção. A linguagem, aqui representada discurso, é o veículo que conduz à realidade organizacional. CONCLUSÃO A ciência da linguagem, do discurso e da administração desenvolvem cada vez mais um vínculo de possíbilidade e descobertas que possibiltam, através de estudos interdisciplinares amenizarem e instrumentalizar novos conhecimentos para problemas existentes no ambiente interno das organizações. O papel da linguagem nas organizações está sendo amplamente discutido e suas ações utilizadas. Esses sentidos são incorporados nas ações, relações e atividades do cotidiano organizac ional e passam a ser elementos simbólicos representativos de poder, de persuação e de entendi mento de determinadas situações, que através do uso de metáforas torna-se de mais fácilcompreensão. A metáfora exerce uma influência importante sobre o desenvolvimento da linguagem, enquanto o significado está sendo transferido de uma situação para outra, novas palavras e novos significados surgem dando lugar a outras interpretações, mudando o sent ido daquilo que foi enunciado pelos sujeitos que fazem parte um grupo. O processo de concepção metafórico é um modo básico de simbolismo central de como os seres humanos moldam as suas experiências ede conhecimentos do mundo em que vivem. A metáfora é geralmente vista como nada maisque uma obra literária e descritiva e até mesmo decorativa, não mais se pode vê-la dessa maneira, pois é uma forma criativa de produzir efeito pelo cruzamento de imagens e pela linguagem. O que se pretendeu com esse estudo é mostrar que novas metáforas podem ser usadas para realizar análises organizacionais, apontando para novos olhares sobre o mesmo fenômeno organizacional. Os sete pecados capitais e nquanto nova metáfora organizacional proporcionam abordagens complementares, ou até mesmo contraditórias, nos estudos brasileiros sobre organizações familiares. O signif icado do orgulho e da confiança, tão em voga na maioria desses estudos, podem ganhar novos contornos teóricos se interpretados à luz da metáfora dos sete pecados capitais. Diante disto, constatado que há uma necessidade harmônica enquanto aspecto físico e psíquico, este estudo busca dilucidar, no âmbito pr ofissional, nas organizações de trabalho, como organizações sociais, a interação de um grupo de indivíduos que, como integrantes da mesma, estabelecem entre si relações que determinam o desempenho de papéis diferenciados. As novas formas de organização do trabalho nas empr esas estão levando os trabalhadores a inserirem-se a contínuas e cada vez mais relações i nterpessoais complexas. 139 Os aspectos abordados nos questionamentos dizem respeito às relações e o espaço social, nesse caso o organizacional. Assim, por esse ângulo, os grupos são constituídos por diferenças e se atraem por objetivos iguais, também esses membros da organização têm suas respectivas histórias e suas condições sociais, det erminantes de seus gostos, percepção, crenças e ritos. Dessa forma a cultura organizacional pode ser discutida teoricamente a partir do pressuposto da moral, a qual traduz um conjunto de crença que vão nortear à ação das pessoas nas organizações pautadas pela ética. Contudo se qu estiona quão responsáveis são as organizações em formar uma postura moral. Ainda, co mo a noção de pecado pode contribuir com isso? Será que pecado pressupõe que a pessoa vai agir mal e, orientado pela metáfora o que leva o ser humano a errar? As organizações são ambientes de significados e de símbolos materiais que se constituem de elementos físicos que por suas características estabelecem e marcam uma ordem de importância dos sujeitos dentro da organização. Foi possível observar que nem todas as organizações estudadas são grupos complexos de valores, tradições, comportamentos e crenças ess enciais que se manifestam nos símbolos, nos mitos, na linguagem e nos comportamentos e não se constitui uma referência dividida entre todos da organização. A cultura organizacional revela maior presença do p ecado da soberba, porque as negociações entre sujeitos nas formações de grupo, com seus conflitos de crenças, ocorrem constantemente. As organizações familiares estão po litizadas e centralizadas em pessoas com características soberbas, causadas porque os seus objetivos individuais confrontam-se com os objetivos organizacionais. A soberba é um exagero do sentimento de orgulho e superioridade sobre os outros, causando um trato de desprezo e de consideração com os demais sujeitos. Esse estudo evidencia essas perspectivas metafórica s dos sete pecados capitais e sua relação com a cultura organizacional. A descrição e análise dos sistemas simbólicos presentes na cultura das organizações familiares analisadas r evelou que os sete pecados capitais podem sim ser uma metáfora de estudos organizacionais, mas que requer do pesquisador tratá-lo como elemento simbólico e acessá-lo pelo discurso dos sujeitos participantes da organização. As ações de poder, que levam ao medo impedem a cria tividade, o crescimento da organização e o desenvolvimento profissional, geran do insegurança, desconforto, desalinho e sentimentos nocivos para o ambiente interno com reflexos para o externo. O ambiente pode tornar-se agressivo e entrar em uma dinâmica perigo sa que poderá resultar em: ira, inveja, luxúria, preguiça, soberba, gula e avareza. 140 As limitações do estudo residem no estudo comparati vo das virtudes capitais nas organizações e de, através da linguagem, contemplar outras áreas do conhecimento na investigação para que, de forma mais específica, se pudesse trabalhar com questões como o perdão dentro das organizações e outras marcas ling uísticas que evidenciam positividades e que devem ser disseminadas no ambiente da organizaç ão e que consequentemente produzam uma cultura de identificação e que fortaleça a orga nização como um todo. Tampouco se aprofundou no conceito do mal estudado por Paul Ricouer. O símbolo é um sinal cujo conteúdo por vezes se manifesta com um significado oculto. Seu poder específico pode revelar o lado escuro da experiência e fazer retroceder ao ponto de reflexão se deteriora no silêncio. Dar uma forma ao invisível evoz para o inefável. Cabe esclarecer em outra perspectiva semântica, pro posta por Paul Ricouer, o que se quer evidenciar é que a metáfora não se dá em um oquech semântico, mas na presença de elementos no enunciado que registrarão um novo sign ificado predicativo que surge a partir do colapso do significado literal, o qual se consigna à palavra na sua denominação usual. A metáfora não é o enigma, mas a solução do enigma (RICOUER, 1996). Outra limitação reside no tipo de estudo, explorató rio e desenvolvido pela abordagem qualitativa. Contudo, ele oferece variáveis importantes para que se conduzam investigações com abordagem quantitativa, desde que se considere que os sete pecados capitais não são conhecidos com propriedade pelos sujeitos e que o sentido precisa ser trabalhado nas diferentes religiões. Este estudo foi desenvolvido pela perspectiva da religião católica, mas nas organizações encontraram-se sujeitos de outras religiões e até mesmo ateus. Para esta pesquisa sugerem-se outros estudos relacionados à metáfora dos sete pecados capitais. Poder-se-ia estudar cada um em separado e aplicar essa mesma pesquisa em empresas não familiares. O trabalho confirmou as premissas anteriormente apresentadas por Savater (2006) que transcendem as ideias que os sete pecados servem para vetar comportamentos agressivos. No contexto da região, em que as organizações estudada s estão instaladas os elementos culturais desse contexto que os pecados capitais metaforicamente estão presentes na ação humana, portanto, seria dizer que eles podem ser usados para compreender a complexidade da cultura de organizações familiares. REFERÊNCIAS ANDRADE, M. L. C. A digressão como estratégia discursiva na produção de textos orais e escritos. Boletim da Associação Brasileira de Linguística, n. 14, p. 425-434, 1993. ALTHUSSER, L. Aparelhos ideológicos do estado . . Tradução de V. J. Evangelista e M. L. Viveiros de Castro. 8.ed. n. 25, Rio de Janeiro: Graal, 2001. ARISTÓTELES. Arte retórica, arte poética. Livro I-II-III Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. São Paulo: Tecnoprint, 1983. AUTHIER-REVUZ, J. Heterogeneidade(s) enunciativa(s). Tradução Celeme M. Cruz e João Wanderley Geraldi. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 19, p. 25-42, jul./dez., 1990. BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. 5.ed. 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APÊNDICE – Questionário semiestruturado aplicado aos funcionários UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DESENVOLVIMENTO Projeto de pesquisa OS SETE PECADOS CAPITAIS: uma metáfora para análiseda cultura de organizações familiares Prezado (a) Senhor(a), Você esta sendo convidado a responder este questionário, o qual busca levatar o ponto de vista que você tem sobre o ambiente da empresa em que trabalha. O objetivo é descrever e analisar os sistemas simbólicos presentes na cultura das organizações familiares pe la perspectiva dos sete pecados capitais. A participação é totalmente voluntária e anônima, por isso, pedimos que responda as questões com sinceridade . O tratam ento dos dados contidos nesse documento é confidencial e será usado apenas para fins de elaboração de uma dissertação de mestrado e após serão insinerados, de modo que n ão serão acessíves a outras pessoas ou organizações , exceto a pesquisadora e a orientadora abaixo assinadas. Agradecemos a sua particiapação. Dra. Adm. Denize Grzybovski Orientadora Fone: (54) XXXX-XXXX Marise Schadeck Mestranda Fone (55) XXXX-XXXX 1 Dados de identificação: Idade:______ Gênero: ( ) masculino ( ) feminino Grau de instrução: ( ) Fundamental ( ) Médio ( estado civil:______________________ ) Superior ( ) outro: ________________ Onde morou a maior parte de sua vida:____________________________________________ Qual é a sua relação familiar com o(s) fundador (es) da empresa?_______________________ 2 Relações de trabalho 2.1 Há quanto tempo você atua nessa empresa? ( ) menos de 1 ano ( ) de 1 a 3 anos ( ) de 3 a 5 anos ( ) mais de 5 anos 3 Os pecados no ambiente organizacional 3.1 Você já ouviu falar dos sete pecados capitais? ( ) sim ( ) sim, mas não lembro ( ) não 4 Agora veja os sete pecados capitais no quadro em anexo e responda 4.1 Dos pecados capitais, qual você percebe com mais frequência no comportamento das pessoas na empresa em que trabalha? 4.2 Em que situação você percebe que os pecados capitais apareceram no ambiente da empresa? Relate um exemplo. 149 4.3 Quando isso aconteceu, como a gerência tratou? 4.4 Em sua opinião, os pecados capitais causam sent imentos negativos, ou seja, como algo negativo? Escreva algo sobre isso. 4.5. Em que situações os pecados capitais podem ser positivos na empresa, em sua opinião? 4.6 Até que ponto os seus colegas e você estão olhando para o crescimento apenas pelo crescimento? Explique. 4.7 Eu e meus colegas nos dedicados a projetos pessoais em que estamos interessados e que se encaixem nos objetivos da organização? Comente. 4.8 Até que ponto os meus colegas e eu nos irritamos violentamente ou ficamos com raiva quando cometemos erros? Comente 4.9 Os meus colegas e eu estamos profundamente envolvidos nos detalhes de todos os projetos que somos responsáveis? Comente a respeito. 4.10 Você está sempre procurando reconhecimento eplausos para o que faz? Comente. 4.11 Você sempre espera receber reconhecimento pelobom trabalho e o que faz a mais? Comente a respeito. 4.12 Em que medida você e seus colegas organizam otrabalho de acordo com os seus interesses, sem considerar as necessidades e interesses de outros funcionários? 4.13 Há alguma outra informação que você gostaria ed mencionar sobre os sete pecados capitais? Pecados Luxúria Conceito Está associada a excessos, ao luxo e consum exagerado de coisas e pessoas. Autor Leite (2002) Ira É um estado emocional que varia em intensidade, pas sando de uma leve irritação à fúria e à raiva intensa. Tomlin (2008) Soberba Desejo de colocar-se acima dos demais. Torna-se negativo quando o sujeito não admite que ninguém em nenhum campo fique acima dele. Savater (2006) Avareza O sujeito tem medo de perder o que já adquiriu no decorrer da vida, guarda tudo, raramente aproveita o que possui. Encontra afeto em coisas materiais. Leite (2002) Gula Preguiça Inveja Transforma-se em pecado quando ofende o direito e as expectativas do outro ao comer aquilo que é dos demais, ao tomar conta detudo e deixá-los com pouco ou nada. Evidencia que as pessoas não necessitam aprender na da o que as leva a um comportamento “limitador de ideias e ações no cotid iano e traduzido pelo deixa para depois” (p. 6). É o desejo por atributos e coisas de outro. Sua car acterística típica é a comparação desfavorável do status de uma pessoa em relação à outra. Fonte: Elaborado pela autora. Savater (2006) Costa e Silva (2007) Herkenhoff (2007)