Ao começar o caminho da cruz,
Jesus já nos propõe o destino
último deste caminho: a sua glória e a nossa.
Texto evangélico: Mateus 17, 1-9. Segundo domingo de Quaresma –AComentário e apresentação: M.Asun Gutiérrez.
Música: Beethoven. Romance para violín.
Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João seu irmão e levou-os,
em particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou
resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz.
Monte
Tabor
Jesus convida-nos para o Tabor, para uma experiência maravilhosa de Deus, para
subir com Ele à montanha, para contemplar, sem nos deixarmos dormir, a
manifestação do Pai.
Subir à montanha, símbolo do imenso e majestoso, supõe elevação, retiro, anseio de
limpeza e beleza, silêncio gratificante, oração, paz, esforço, tensão e sacrifício na
subida, luta contra a comodidade, superação...
Sempre mais.
E apareceram Moisés e Elias a falar com Ele..
Pedro disse a Jesus:
-Senhor, como é bom estarmos aqui!
Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias.
O Tabor é o ponto de partida, não um lugar para se deixar ficar. Há que descer à
realidade. A subida, o encontro com Deus, ajuda-nos a eliminar temores, dá-nos
forças e ânimo para seguir adiante e ser coerentes e consequentes na vida com a
nossa fé.
Jesus convida-nos a não nos instalarmos nas nossas tendas de falta de
solidariedade, egoísmo, comodidade, rotina... Anima-nos a descer das nuvens e a nos
implicarmos na realidade da vida quotidiana, a seguir vivendo e anunciando a Boa
Notícia com rosto alegre e transfigurado.
Há que continuar o caminho. Seguimos Jesus, Ele nos precede e acompanha.
Ainda ele falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua
sombra, e da nuvem uma voz dizia:
- Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha
complacência. Escutai-O.
A nuvem significa a proximidade de Deus, luminoso, envolvente, maternal.
Agora o Pai não fala só a Jesus: “Tu és meu Filho”.
Dirige-Se a todos nós: “Este é meu Filho”.
Ele é a minha Palavra. O que Ele diz e faz é minha Palavra.
Vivei a Palavra de meu Filho e far-vos-eis filhos. Vivei-a, e vos tornareis palavra.
Essa será a vossa transfiguração.
Que faço para conhecer melhor e fazer vida a mensagem de Jesus?
Escuto a sua voz em cada pessoa e nos acontecimentos de cada dia?
Sinto-me filho amado em todas as circunstâncias da minha vida?
Ao ouvirem estas palavras, os discípulos caíram de rosto por terra e
assustaram-se muito.
Então Jesus aproximou-se e, tocando-os, disse:
- Levantai-vos e não temais.
Erguendo os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus.
A Lei e os Profetas desapareceram. Só fica Jesus, a sua Voz, a sua Palavra,
a sua Pessoa.
O belo gesto de Jesus, que se aproxima e toca os desconcertados, atemorizados e
torpes discípulos, mostra carinho e desejo de transmitir segurança e confiança.
Assim se aproxima de nós, nos toca e nos tira todo o temor, dissipa toda a angústia
e nos devolve a serenidade.
Nem sempre é fácil assumir e aceitar que “só Jesus basta”.
Pode resultar mais fácil dar importância à lei, ao templo, ao culto, às imagens, aos
santos, a quem se considera representações de Deus...
O fundamental é que seja Jesus, só Jesus, a luz e o motor da nossa vida.
Não ver nem ouvir nada fora d’Ele. O único a quem devemos seguir e escutar.
Ao descerem do monte, Jesus deu-lhes esta ordem:
- Não conteis a ninguém esta visão
até o Filho do homem ressuscitar dos mortos .
Jesus não quer que se divulgue o seu messianismo, até que veja os espíritos
preparados.
Só à luz da ressurreição será possível compreender a transfiguração em todo o seu
alcance e profundidade. O vislumbre da glória pascal antecipada, só se poderá
entender e anunciar a partir a Páscoa.
O deserto da Quaresma, com a sua alegria e sofrimento, saúde e doença, amizade e
solidão, êxitos e fracassos, luz e escuridão... tem como meta a alegria da Páscoa.
Sabemos que o processo termina com a vitória e a glória de Jesus e a nossa. Tudo
conduz à Vida.
Quando te esqueceste de ti mesmo,
quando te esgotaste no serviço aos últimos,
quando aceitaste o sofrimento como companheiro,
quando soubeste perder,
quando já não pretendes ganhar,
quando partilhaste o que tu necessitavas,
quando te arriscaste pelo pobre,
quando enxugaste as lágrimas do inocente,
quando resgataste a alguém do seu inferno,
quando te introduziste no coração do mundo,
quando colocaste a tua vontade nas mãos de Deus,
quando te purificaste do teu orgulho,
quando te esvaziaste de tanta coisa supérflua,
quando te sentes ferido...
brilha em ti, grátis, a luz de Deus,
sentes a sua presença irradiando frescura primaveril,
e o seu perfume te envolve e reanima.
Já não necessitas outros tesouros.
Deus te acompanha, te fala, te protege.
Sentes-te mergulhado num mar de felicidade...
E não estás nas nuvens,
é um Tabor que se te oferece grátis,
para que desfrutes já o presente
e caminhes firme e sem temores.
Ulibarri Fl.
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